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Polícia Militar do Estado de São Paulo

Centro de Altos Estudos de Segurança


CAES “Coronel PM Nelson Freire Terra”
Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais – CAO-I/15

Capitão Médico PM Pedro Fernando Capputti

PREVALÊNCIA DE OBESIDADE E SOBREPESO NOS POLICIAIS MILITARES DO


9º BPM-I COM ENFOQUE NAS MEDIDAS PREVENTIVAS

São Paulo
2015
Capitão Médico PM Pedro Fernando Capputti

PREVALÊNCIA DE OBESIDADE E SOBREPESO NOS POLICIAIS MILITARES DO


9° BPM-I COM ENFOQUE NAS MEDIDAS PREVENTIVAS

Dissertação apresentada no Centro de Altos


Estudos de Segurança como parte dos
requisitos para a aprovação no Mestrado
Profissional em Ciências Policiais de
Segurança e Ordem Pública.

Orientador: Major Médico PM Zamir Calamita.

São Paulo
2015
Capitão Médico PM Pedro Fernando Capputti

PREVALÊNCIA DE OBESIDADE E SOBREPESO NOS POLICIAIS MILITARES DO


9º BPM-I COM ENFOQUE NAS MEDIDAS PREVENTIVAS

Dissertação apresentada no Centro de Altos


Estudos de Segurança como parte dos
requisitos para a aprovação no Mestrado
Profissional em Ciências Policiais de
Segurança e Ordem Pública.

São Paulo, _______ de _____________________ de 2015.

Major Médico PM Zamir Calamita

Tenente Coronel PM Cenise Araujo Calasans

Major Dentista PM Mauro Fonseca Ferreira Jorge


Dedico a Deus, por ter nos dado força para vencer os obstáculos.
Por ter-nos feito fortes, não permitindo que o cansaço nos
dominasse.
Que a luz divina continue a iluminar nosso caminho! Conceda-nos,
Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que
podemos mudar; coragem para mudar aquelas que podemos;
sabedoria para distinguir umas das outras.
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família, pelo carinho e companheirismo, que sempre


recebi.
Ao Major Médico PM Zamir Calamita, meu orientador, pelo apoio, paciência e
atenção na discussão e orientação sobre o tema.
Obrigado por compartilhar suas próprias experiências, pela orientação constante,
por auxiliar a trilhar este caminho que se encerra. Meu agradecimento sincero.
RESUMO

Trata-se de um estudo transversal descritivo da prevalência de obesidade e


sobrepeso dos policiais militares do 9º BPM-I, situado na cidade de Marília Estado
de São Paulo, com revisão bibliográfica do tema. Analisamos uma amostragem por
conveniência de 108 militares da ativa, sendo 89 homens e19 mulheres. Utilizamos
os parâmetros da balança de bioimpedância, como a taxa de gordura corporal total,
gordura visceral, taxa da massa magra (músculos) e o IMC. Comparamos os
resultados com os da população brasileira em geral divulgada pelo Ministério da
Saúde (Vigitel 2014) e com estudo realizado na UIS do nono batalhão em 2006,
utilizando como parâmetro o IMC, além de confrontarmos os dados obtidos da
balança de bioimpedância com o IMC. Também avaliamos o hábito da prática de
atividade física pelos militares do nono batalhão. Os resultados demonstraram que
78,70% dos militares apresentam excesso de peso, sendo que 25% estão obesos e
53,70% apresentam sobrepeso quando avaliados pelo IMC. Ao compararmos o IMC
dos policiais dentro da faixa da normalidade com a taxa de gordura corporal total, foi
observado que 39,13% tinham a gordura corporal dentro da normalidade, 56,52%
estavam com excesso de tecido adiposo caracterizando sobrepeso e 4,34% o teor
de gordura era compatível com obesidade. Quando comparamos o IMC elevado
com gordura corporal total e com a massa magra, apenas 3,53% apresentaram a
taxa de gordura corporal total e massa magra normais, 21,18% estavam com a
gordura total em níveis de obesidade e massa magra normal, 36,47%
caracterizavam-se sobrepeso com a massa magra normal e 38,82% o teor de
gordura era compatível com obesidade, porém a massa magra estava reduzida.
Finalmente notamos que 100% dos militares com IMC normal a gordura visceral era
normal, os com IMC elevados 18,82% estavam com a gordura visceral dentro da
faixa da normalidade e 81,18% a gordura visceral estava aumentada. Concluímos
que o IMC apesar de ser um método utilizado pela OMS, quando comparado com
um método que além de qualitativo e quantitativo como a balança de bioimpedância
não reflete a realidade da taxa de gordura corporal e que a maioria dos militares do
nono batalhão apresentam-se com excesso de peso e que medidas deverão ser
tomadas para mudar deste cenário.
Palavras chaves: Obesidade. Sobrepeso. Prevalência. Militares.
ABSTRACT

This is a descriptive cross-sectional study of the prevalence of obesity and


overweight of the military police of the 9th BPM-I, located in Marilia State of São
Paulo, with bibliographic review. We analyzed a sample of convenience of 108 active
duty military, 89 men and 19 women. We use the parameters of the bioelectrical
impedance scale, the rate of total body fat, visceral fat, lean mass ratio (muscle) and
BMI. We compared the results with those of the population at large released by the
Ministry of Health (Vigitel 2014) and study in the ninth battalion UIS in 2006, using as
parameter BMI, as well as confront the data obtained from bioimpedance scale with
BMI. We also evaluated the habit of physical activity by the military of the ninth
battalion. The results showed that 78.70% of the military are overweight, and 25%
are obese and 53.70% are overweight when evaluated by BMI. When comparing the
BMI of the police within the normal band with the rate of total body fat has been
observed that 39.13% had body fat within normal limits, 56.52% had excess fat
featuring overweight and 4.34% of the fat was compatible with obesity. When
comparing high BMI with total body fat and lean mass, only 3.53% had the rate of
total body fat and lean mass normal, 21.18% had total fat in obesity levels, normal
lean body mass, 36.47% overweight were characterized with normal lean body mass
and 38.82% of the fat was compatible with obesity, but was reduced lean mass.
Finally we note that 100% of the military with normal BMI visceral fat was normal,
those with high BMI 18.82% had visceral fat within the normal range and 81.18%
visceral fat was increased. We concluded that the IMC although a method used by
the WHO, when compared with a method which in addition to qualitative and
quantitative as the bioimpedance scale does not reflect the reality of the body fat
percentage and that most of the ninth battalion present military- overweight and that
measures should be taken to change this scenario.
Keywords: Obesity. Overweight. Prevalence. Military personnel.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Prevalência de obesidade em relação a outros países Sul-


americanos ................................................................................................... 23
Figura 2 – Representação da distribuição de gordura .................................. 43
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Prevalência de obesidade e sobrepeso ................................. 22


Gráfico 2 – Prevalência de obesidade nos Brics ...................................... 23
Gráfico 3 – Prevalência de obesidade e sobrepeso na faixa etária de
10 a 19 anos............................................................................................. 24
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Síndromes genéticas associadas à obesidade ................................. 28


Quadro 2 – Fatores ambientais alimentares promotores da obesidade ............... 30
Quadro 3 – Fatores ambientais físicos promotores da obesidade ....................... 32
Quadro 4 – Classificação de acordo com a distribuição de gordura .................... 42
Quadro 5 – Diagnóstico quantitativo .................................................................... 43
Quadro 6 – Diagnóstico qualitativo....................................................................... 44
Quadro 7 – Critérios para indicação da cirurgia bariátrica ................................... 59
Quadro 8 – Contraindicações para a cirurgia bariátrica ....................................... 59
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação do peso pelo IMC segundo a OMS ............................ 38


Tabela 2 – Referência do ponto de corte da circunferência de cintura .............. 39
Tabela 3 – Características gerais dos 108 policiais analisados ......................... 66
Tabela 4 – Gênero da amostra estudada ........................................................... 67
Tabela 5 – Valores de referência da taxa de gordura corporal total ................... 67
Tabela 6 – Valores de referência dos níveis de gordura visceral ...................... 67
Tabela 7 – Valores de referência da taxa da massa magra (músculos) ............ 68
Tabela 8 – Taxas musculares e de gordura dos policiais analisados ................. 68
Tabela 9 – Taxas de gordura encontrada nos PPMM com IMC dentro da
normalidade........................................................................................................ 68
Tabela 10 – Taxa de gordura corporal total e massa muscular em PPMM
com IMC acima da faixa da normalidade ........................................................... 69
Tabela 11 – Gordura visceral nos PPMM com IMC normal e IMC elevado ....... 69
LISTA DE ABREVIATURAS

AVC Acidente Vascular Cerebral


ABESO Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome
Metabólica
BIG Balão Intragástrico
BPM-I Batalhão da Polícia Militar do Interior
Brics Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
CB Cirurgia Bariátrica
CCK Colecistoquina
CRH Corticotropina
CT Tomografia Computadorizada
DCNT Doença Crônica Não Transmissíveis
DCV Doença Cardiovascular
DM Diabetes Mellitus
EUA Estados Unidos da América
G Grama
HAS Hipertensão Arterial Sistêmica
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
IMC Índice de Massa Corpórea
K cal Kilocaloria
Kg Kilograma
KHZ Quilohertz
M Metro
MS Ministério da Saúde
NCEP National Cholesterol Education Program S Adult Treatment Panel III
NPY Neuropeptídio Y
OMS Organização Mundial da Saúde
OPAS Organização Panamericana da Saúde
PIB Produto Interno Bruto
PM Policial Militar
PPMM Policiais Militares
RNM Ressonância Nuclear Magnética
SBEM Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Sd Síndrome
SUS Sistema Único de Saúde
TCAP Transtorno de Compulsão Alimentar Periódico
UIS Unidade Integrada de Saúde
WHO World Health Organization
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................ 21
2.1 Definição .................................................................................................... 21
2.2 Prevalência ................................................................................................ 21
2.3 Etiologias ................................................................................................... 25
2.3.1 Fatores genéticos ............................................................................... 26
2.3.2 Fatores constitucionais ....................................................................... 29
2.3.3 Fatores ambientais ............................................................................. 29
2.3.4 Causas medicamentosas ................................................................... 33
2.3.5 Causas patológicas ............................................................................ 33
2.3.6 Causas psicossociais ......................................................................... 33
2.4 Doenças relacionadas com sobrepeso e obesidade.............................. 35
2.5 Diagnóstico ................................................................................................ 37
2.5.1 Métodos indiretos ............................................................................... 37
2.5.2 Métodos diretos .................................................................................. 40
2.6 Classificações da obesidade e sobrepeso quanto a distribuição de
gordura corporal ........................................................................................ 41
2.6.1 Tipo Androgênica ............................................................................... 41
2.6.2 Tipo Ginecóide ................................................................................... 42
2.7 Diagnostico da obesidade e sobrepeso por métodos quantitativos
e qualitativos .............................................................................................. 43
2.8 Políticas de Saúde ..................................................................................... 44
2.8.1 Metas do plano de enfrentamento das DCNT .................................... 44
2.8.2 Diretrizes e ações do plano de enfrentamento das DCNT ................. 45
2.9 Aspectos históricos da obesidade .......................................................... 46
2.10 Tratamento ............................................................................................... 48
2.10.1 Tratamento dietético .......................................................................... 49
2.10.2 Atividade física .................................................................................. 52
2.10.3 Terapia cognitiva comportamental..................................................... 52
2.10.4 Tratamento medicamentoso .............................................................. 54
2.10.5 Tratamentos heterodoxos e suplementos ......................................... 57
2.10.6 Tratamento cirúrgico.......................................................................... 58
2.10.6.1 Técnicas cirúrgicas e suas classificações .......................... 60

3 OBJETIVOS DO TRABALHO .......................................................................... 64


3.1 Objetivo geral ............................................................................................ 64
3.2 Objetivo específico.................................................................................... 64

4 METODOLOGIA E RESULTADOS .................................................................. 65


4.1 Tipo de estudo ........................................................................................... 65
4.2 Local do estudo ......................................................................................... 65
4.3 Critérios de inclusão ................................................................................. 65
4.4 Critérios de exclusão ................................................................................ 65
4.5 Desfechos primários ................................................................................. 65
4.6 Desfechos secundários ............................................................................ 65
4.7 Apresentação dos dados .......................................................................... 66
4.8 Análise dos dados ..................................................................................... 66
4.9 Resultados ................................................................................................. 66

5 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 70

6 CONCLUSÕES E PROPOSTAS ...................................................................... 73

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 75
15

1 INTRODUÇÃO

A prevalência de obesidade e sobrepeso vem aumentando


consideravelmente nos últimos anos, principalmente nos grandes centros urbanos,
atingindo pessoas de todas as faixas etárias, de ambos os sexos e grupos sócio
econômicos, tornando-se um grave problema de saúde pública, já sendo
caracterizada como uma epidemia mundial.
Este aumento da prevalência nas últimas décadas ocorreu em todo o mundo
inclusive nos países em desenvolvimento como o Brasil, onde anteriormente
predominavam os problemas com a desnutrição (ENES; SLATER, 2010).
O excesso de peso é o principal distúrbio de nutrição da atualidade, uma
patologia complexa que apresenta graves dimensões psicossociais.
Com o desenvolvimento sócio-econômico no Brasil, o crescimento da renda
da população, mudanças no estilo de vida, modernização, sedentarismo, êxodo
rural, a urbanização, a industrialização, com consequente maior acesso a alimentos
em geral, incluindo os processados, além da globalização dos hábitos não
saudáveis, houve uma rápida transição nutricional, expondo a população cada vez
mais.
No passado a obesidade e sobrepeso simbolizavam beleza e fertilidade na
mulher, aproximadamente há 10000 anos a.C, as deusas eram admiradas pelos
corpos volumosos, porém, na medicina Greco Romana, Hipócrates já alertava sobre
os malefícios e perigos da obesidade para a saúde humana, pois a morte súbita era
mais comum nos obesos (CUNHA et al., 2006).
Pacientes com sobrepeso e os obesos, sobretudo aqueles com obesidade
grave também chamada obesidade mórbida, apresentam um risco elevado para
desenvolver comorbidades, com o aumento expressivo da mortalidade, atingindo
índices de 250% em relação a pacientes não obesos (MANCINI et al., 2009).
As comorbidades relacionadas com o excesso de peso são chamadas
atualmente de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT).
Entre elas destacam-se o Diabetes Mellitus tipo 2 (DM), as doenças
cardiovasculares e cerebrovasculares e as neoplasias, além de outras patologias,
como as dislipidemias, os distúrbios de coagulação, a doença apnéica do sono, a
esteatohepatite, que podem até evoluir para cirrose hepática, as doenças
16

ortopédicas degenerativas também chamadas de artroses, a síndrome metabólica e


os distúrbios de ordem psiquiátrica.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (2011), a mortalidade atribuída
às principais DCNT representa 60% de todas as mortes e 43% da carga total de
doenças existentes no mundo e há a expectativa destes índices atingirem 73% e
60% respectivamente em 2020, sendo que quase, 80% das mortes ocorridas devido
a estas doenças ocorrem em países em desenvolvimento (WHO, 2011).
Estas condições citadas acima representam 8% do total de gastos em saúde
pública no Brasil, além dos gastos indiretos, ou seja, relacionados ao afastamento
do trabalho, absenteísmo e aposentadoria precoce (MANCINI et al., 2009).
Perdas da força de trabalho e diminuição das economias familiares
resultantes das DCNT levarão uma perda na economia brasileira de 4,18 bilhões de
dólares entre 2006 e 2015 (SCHMIDT et al., 2011).
A obesidade acarreta um aumento considerável dos recursos destinados à
saúde com elevados custos econômicos, uma vez que contribui para o
desenvolvimento das DCNT, não raramente evoluindo com sequelas incapacitantes.
O custo financeiro do Sistema Único de Saúde (SUS) com a obesidade e
com os cuidados de doenças a ela relacionadas foram de 488 milhões de reais em
2011, segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2013).
Em recente estudo internacional conduzido pelo McKinsey Global Institute,
divulgado pela BBC Brasil (2014), os gastos com obesidade no mundo podem ser
comparados àqueles em decorrência do tabagismo e perdas por consequência de
conflitos armados; já no Brasil, a obesidade ocupa o terceiro lugar em uma lista de
doenças relacionadas à saúde pública, que mais pesam na economia, ficando
apenas atrás das causas externas (violência) e alcoolismo.
Esta mesma pesquisa revelou que a obesidade custou 2.4% do Produto
Interno Bruto (PIB) no Brasil em 2013, o que equivale a 110 bilhões de reais,
considerando PIB a soma de todas as riquezas produzidas no país.
No mundo, 2,8% de todas as riquezas (PIB) são gastos no enfrentamento da
obesidade; isso equivale a cerca de 5,2 trilhões de reais.
A morbimortalidade causada pela DCNT é maior em populações mais
pobres e com menor nível de escolaridade, embora houvesse um decréscimo em
relação às Doenças Cardiovasculares (DCV) e doenças respiratórias crônicas, em
17

consequência a implantação de políticas de saúde bem sucedidas, que levaram à


redução do tabagismo e expansão do acesso à atenção primária de saúde. Em
contrapartida a prevalência de DM e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) estão
aumentando paralelamente as taxas de obesidade e sobrepeso, associados a
mudanças desfavoráveis na dieta e atividade física das pessoas.
Devemos lembrar que o excesso de peso é um importante fator de risco
para as DCNT, ou seja, as DCV, o câncer, as doenças respiratórias crônicas e o DM.
Portanto, a obesidade se tornou um paradigma não somente porque ela traz
prejuízo para a saúde, gerando custos elevados ao sistema público, mas também
porque ela é o oposto do ideal de corpo perfeito, trazendo sentimentos de
inferioridade e culpa, fazendo com que as pessoas recorram muitas vezes a
tratamentos invasivos e infrutíferos.
Nos últimos anos, as mulheres atingiram um patamar social elevado,
ocupando cada vez mais atividades públicas, fazendo com que as preocupações
com o peso ocupassem maior importância entre elas.
Hoje a magreza é difundida como beleza e sucesso, e a obesidade parece
ter uma representação negativa no âmbito social; o obeso é discriminado; mesmo
assim, a sua prevalência vem se elevando a cada ano (STENZEL, 2002).
Levando-se em consideração que a atividade fim do policial militar (PM)
requer que o mesmo esteja em condições físicas e psicológicas adequadas, um PM
com excesso de peso, na grande maioria dos casos, além de correrem risco de
saúde, principalmente quando necessitar do uso da força ou um bom preparo físico,
apresentará dificuldades em realizar a sua função plenamente.
Além do mais, a própria imagem do PM acima do peso perante a sociedade
pode ficar comprometida, gerando desconfiança quanto à sua capacidade
profissional.
Não é raro, do mesmo modo como na população em geral, depararmos com
policiais militares (PPMM) que estão com excesso de peso sofrerem bullying, tanto
no seu ambiente de trabalho como do público externo, fato que poderá resultar
transtornos emocionais significativos, comprometendo ainda mais a sua
desenvoltura laborativa.
O reconhecimento da obesidade e sobrepeso é fundamental, pois medidas
terapêuticas devem ser instituídas imediatamente.
18

É evidente que mais importante seria a adoção de medidas profiláticas.


Os indivíduos com mais de um fator de risco ou mais de uma DCNT têm
uma situação mais grave, o consumo de alimentos altamente energéticos com alto
teor de açúcar, gordura saturada e excesso de sal somados ao sedentarismo são
fundamentais para o desenvolvimento das DCNT.
Mudanças nos hábitos alimentares e na atividade física resultariam em um
impacto substancial para a redução das taxas dos agravos não transmissíveis,
dentre elas a obesidade e sobrepeso, não raro em um período de tempo
relativamente curto (OPAS, 2003).
O diagnóstico de obesidade e sobrepeso pode ser realizado por métodos
diretos ou indiretos.
Entre os métodos diretos destacam-se os exames de imagem como a
ultrassonografia, a tomografia computadorizada, a ressonância nuclear magnética e
a absorciometria com raios-X de dupla energia, considerados padrão ouro, porém
são de custos elevados reservados para grandes pesquisas.
Como alternativa, podemos utilizar a balança de bioimpedância, com custo
mais acessível, não invasivo, sem exposição à radiação e pode ser realizado em
qualquer situação decorrente da sua portabilidade.
Bioimpedância ou biorresistência e a capacidade do organismo de resistir ou
atrasar a passagem de uma corrente elétrica através dos diferentes tecidos do
corpo, como o tecido adiposo (gordura) e a massa magra (composta principalmente
pelos músculos), apresentam um teor de água e eletrólitos distintos. O estímulo
elétrico se conduz facilmente pelos músculos e lentamente pelo tecido adiposo, que
é um tecido de baixa condutividade elétrica, possibilitando a mensuração da taxa de
gordura, massa magra e água corporal.
O aparelho de bioimpedância envia uma corrente elétrica extremamente
fraca (50KHZ) através do corpo, imperceptível pelo indivíduo.
Os métodos indiretos compreendem as medidas antropométricas, tabelas de
peso e altura, a relação cintura/quadril, a medida da prega cutânea e o Índice de
Massa Corpórea (IMC).
19

O IMC é o parâmetro mais utilizado para determinarmos o excesso de peso


e classificá-lo; é obtido dividindo-se o peso em quilogramas pelo quadrado da altura
em metros:
IMC = peso (kg) / altura² (m)

A obesidade também pode ser classificada de acordo com a distribuição de


gordura pelo corpo, tipo andróide, mais comum nos homens e relaciona-se com
maior risco cardiovascular e ginecóide, mais frequente nas mulheres,
proporcionando alterações estéticas.
O Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais nos possibilitou o desenvolvimento
de um trabalho com os policiais militares (PPMM) do 9° batalhão de Policiamento
Militar do Interior (BPM-I).
O problema estudado neste trabalho é a prevalência de obesidade e
sobrepeso nos militares do 9° BPM-I, com importante fator de risco para várias
doenças conhecidas como DCNT.
A delimitação cronológica do estudo compreende o período de fevereiro a
setembro de 2015, realizado na Unidade Integrada de Saúde (UIS) do 9° BPM-I.
A hipótese levantada foi que os dados encontrados venham ou não de
encontro com os já existentes na literatura para a população em geral, e com os
obtidos em trabalho realizado em 2006, onde foram analisados os fatores de risco
para DCV, entre eles a taxa de obesidade e sobrepeso dos policiais do 9° BPM-I e,
de acordo com os resultados, propor medidas específicas ou consolidar as já
existentes.
O objetivo geral do estudo foi feito um levantamento epidemiológico da
prevalência da obesidade e sobrepeso dos policiais militares do 9° BPM-I, e com
base aos dados encontrados propor melhorias para a saúde dos policiais militares,
principalmente no que tange a prevenção.
O objetivo específico foi avaliar o hábito da prática de atividades físicas nos
policiais militares do 9° BPM-I, paralelamente realizamos uma revisão da literatura
do tema, bem como citar estatísticas realizadas em outros grupos de policiais
militares, além de comparar os resultados obtidos com a balança de bioimpedância
com o IMC.
20

A justificativa para esta pesquisa é a melhor elucidação de dados obtidos em


trabalho anterior com policiais militares do 9° BPM-I em 2006, onde os índices de
obesidade e sobrepeso foram respectivamente 18% e 50%, além de comparar com
dados da literatura com relação à população em geral.
Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, onde a metodologia
aplicada analisou uma amostragem de policiais militares através de questionários
preenchidos pelos mesmos e médicos da UIS do 9° BPM-I, durante a inspeção
anual de saúde realizada no mês do aniversário dos policiais.
21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Definição

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo


corporal que traz prejuízo a saúde.
Trata-se de um estado de excesso de massa de tecido adiposo, portanto
não pode ser definida apenas pelo peso corporal, visto que indivíduos com a massa
magra aumentada (músculos) podem estar com excesso de peso sem aumento da
adiposidade (LONGE et al., 2013).

2.2 Prevalência

O número de adultos com sobrepeso e obesidade tem aumentado


dramaticamente nos últimos anos.
Nos Estados Unidos da América (EUA), estima-se que 60% dos americanos
adultos estão com sobrepeso ou obesidade.
Aproximadamente 60% dos homens e 51% das mulheres têm sobrepeso ou
estão obesos. Um maior percentual de mulheres em relação aos homens é obeso,
enquanto um maior percentual de homens em relação às mulheres tem sobrepeso
(JENSEN, 2005).
Estudo realizado recentemente pelo Ministério da Saúde (2014), através do
levantamento da Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por
inquérito telefônico (Vigitel), realizado em 26 capitais brasileiras e no Distrito
Federal, onde 40.853 pessoas com mais de 18 anos foram entrevistadas,
demonstrou que mais da metade da população brasileira está acima do peso,
segundo a pesquisa 52,5% apresentam sobrepeso e 17,9% são obesos. Realizada
desde 2006, pelo MS, ao medir a prevalência de fatores de risco e proteção para
doenças crônicas não transmissíveis, na população brasileira, serve para subsidiar
as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.
Estes números revelam que o índice de sobrepeso segue em crescimento
no Brasil. Houve um aumento de 23% nas taxas de sobrepeso nos últimos nove
22

anos, enquanto a taxa de obesidade não sofreu grande alteração comparada aos
últimos três anos.
Da mesma forma que nos EUA, o estudo brasileiro revelou que o sobrepeso
nos homens é maior; 56,5% deles estão acima do peso ideal; entre as mulheres este
valor é de 49,1%; já a taxa de obesidade é 17,6% para o sexo masculino e de 18,2%
para o sexo feminino.
Em 2006, o total de indivíduos com sobrepeso era 42,6% e de obesos
11,8%; em 2013, a pesquisa revelou que 50,8% apresentavam sobrepeso e 17,5%
eram obesos, e, como citado acima, em 2014, 52,5% apresentam sobrepeso e
17,9% obesidade.

Gráfico 1 – Prevalência de obesidade e sobrepeso

60,00%

50,00%

40,00%
2006
30,00%
2013

20,00% 2014

10,00%

0,00%
sobrepeso obesidade

Fonte: Ministério da Saúde (2014).

Os jovens registram menor prevalência, enquanto a população de 35 a 64


anos tem índices mais elevados. Outra constatação é que quanto menor a
escolaridade, maior o índice de excesso de peso.
Em comparação com países subdesenvolvidos, rotulados como emergentes
e integrantes dos Brics, ou seja, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brasil
ocupa o quarto lugar no ranking de obesidade com 17,9%, sendo a África do Sul o
primeiro com 65,5%, seguido da Rússia com 59,8%, China com 25%, à frente da
Índia com 11% de obesos.
23

Gráfico 2 – Prevalência obesidade nos Brics

70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
África do Rússia China Brasil Índia
Sul

Fonte: Ministério da Saúde (2014).

Em comparação com outros países Sul Americanos, o Brasil tem menor


índice de obesidade.

Figura 1 – Prevalência de obesidade em relação a outros países Sul-americanos

Fonte: Ministério da Saúde (2014).

Manaus, Porto Velho e Fortaleza são as capitais que possuem o maior


índice de pessoas com sobrepeso, 56%, seguidas de Porto Alegre, Cuiabá, Rio
Branco e Campo Grande com 55%. Já São Paulo, apresenta 52%, Distrito Federal,
50%, e São Luís é a capital com menor índice, 46%.
Quanto aos índices de obesidade, Campo Grande lidera com 22%, seguida
por Cuiabá, Belém e Porto Alegre, todas com 21%. São Paulo apresenta 17%,
Distrito Federal, 16%, e Florianópolis é a capital com menor índice,14%.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), os
índices de sobrepeso e obesidade na faixa etária de 10 a 19 anos, no sexo
24

masculino, no período de 1974/1975, foram 3,7% e 0,4%; já em 1989, foram 7,7% e


1,5; no período de 2002/2003, foram 16,7% e 4,1% e, em 2008/2009, foram 21,7% e
5,9%, respectivamente (IBGE, 2010).
No sexo feminino, a prevalência de sobrepeso e obesidade, na mesma faixa
etária, no período de 1974/1975, foram 7,6% e 0,7%, em 1989, 13,9% e 2,2%, no
período de 2002/2003, 15,1% e 3%; e, em 2008/2009, de 19,4% e 4%,
respectivamente.

Gráfico 3 – Prevalência obesidade e sobrepeso na faixa etária 10 a 19 anos

Fontes: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010).

Estudos realizados por Wang et al. (2002), em países com diferentes


estágios de desenvolvimento sócio-econômico revelou aumento significativo na
prevalência de sobrepeso entre crianças e adolescentes nas últimas décadas
(ENES; SLATER, 2010).
Entre os adolescentes, foram observados incrementos de magnitude
importante, 62% nos EUA (de 16,8% para 27,3%) e 240% no Brasil (de 3,7% para
12,6%) (ENES; SLATER, 2010).
A adolescência é um período onde ocorrem mudanças físicas, psicológicas e
socioambientais, influenciadas pela genética e fatores étnicos, momento de grande
suscetibilidade, inclusive quanto ao aspecto nutricional. As necessidades calóricas
25

aumentadas nesta fase de crescimento os tornam vulneráveis, sendo considerado


um grupo de risco nutricional ocorre o consumo de alimentos não saudáveis
altamente calóricos, com alto teor de gordura saturada, açúcar e sal; são fregueses
assíduos dos fast-food. É fundamental uma consolidação de hábitos saudáveis
nesta fase, pois poderão perpetuá-los para toda vida adulta. São considerados
estilos de vida saudáveis os bons hábitos alimentares e a pratica de atividade física
regular.
Classes sócio-econômicas mais baixas apresentam maior probabilidade de
ser obesas do que as de patamar mais elevados.
Devemos destacar dois trabalhos realizados na Corporação; em 2006, nos
policiais militares do 9° BPM-I, o índice de sobrepeso e obesidade foi de 50% e 18%
respectivamente; em síntese 68% dos policiais militares estavam com excesso de
peso. Em relação à faixa etária, foi observado que 62% dos policiais com idade
abaixo de 35 anos e 72% com 35 anos ou mais se apresentavam acima do peso.
Quando comparado com a população brasileira em geral, a prevalência de
excesso de peso foi maior nos policiais militares do 9° BPM-I, 68% contra 59%
(CALAMITA, 2007).
Já o estudo realizado em 2007 na cidade de São Paulo, durante a inspeção
de saúde com 800 PPMM, a taxa de obesidade entre eles também foi maior quando
comparada com a população brasileira em geral, 15,25% contra14% (MATSUO,
2007).
Devemos salientar que, em ambos os trabalhos, o método utilizado foi o
índice de massa corpórea.

2.3 Etiologias

O tecido adiposo é um importante depósito energético, do qual os seres


vivos laçam mão em períodos de reduzido suprimento calórico (CHACRA;
ZANELLA, 2007).
A obesidade e sobrepeso têm etiologia multifatorial e é determinado por
ação de fatores genéticos e ambientais, que atuam isoladamente ou interagindo
entre si, o aspecto psicossocial, político, histórico, ecológico, econômico e cultural
26

também deve ser considerado. Os fatores ambientais têm sido fortemente


relacionados com a prevalência aumentada do sobrepeso e obesidade.
Alterações do equilíbrio entre ganho e gasto de energia estão intimamente
relacionados com o excesso de peso, principalmente em decorrência de dieta
energética e sedentarismo, embora outras variáveis ambientais pudessem exercer
influência sobre o apetite e equilíbrio de energia; neste contexto, o sono tem sido
apontado como importante fator.
A leptina é uma substância protéica produzida pelo tecido adiposo, descrita
pela primeira vez em 1994, com atividade direta sobre o sistema nervoso central,
alterando o comportamento alimentar (ZAJDENVERG, 1998).
Quando o aporte for maior que o gasto, ocorrerá acúmulo de gordura no
fígado e no tecido adiposo (lipogênese) sendo a insulina o principal hormônio
envolvido.
A geração de energia proporciona a síntese de proteínas, hormônios,
enzimas, coenzimas, transporte através de membranas, a condução nervosa, a
secreção glandular, a contração muscular, atividades secretoras, a regulação
térmica, etc.
Os macros nutrientes, ou seja, os aminoácidos, carboidratos e lipídios
reagem com o oxigênio gerando energia utilizada nos processos vitais de
sustentação da vida, esta é a chamada reação de oxidação que ocorrem altas
temperaturas constituindo a combustão.
Nesta reação ocorre o consumo de oxigênio e a formação de gás carbônico
e um gasto energético basal de 24 horas, ou seja, o requerimento calórico
necessário para um período de 24 horas.

2.3.1 Fatores genéticos

Há fortes evidências de que fatores hereditários são responsáveis pela


regulação do peso corporal, no entanto os mecanismos não são totalmente
esclarecidos (JENSEN, 2005)
É reconhecido que o apetite e comportamento alimentar sofrem influência
genética, e há indícios de que o componente genético atue sobre o gasto energético,
27

notadamente sobre a taxa metabólica basal (TMB) (WANDERLEY; FERREIRA,


2010).
Provavelmente, a herança poligênica é determinante na gênese da
obesidade. Quando nenhum dos genitores é obeso, o risco de obesidade é 9%,
sobe para 50% quando um genitor é obeso e chegam 80% quando ambos são
obesos (ABESO, 2009).
O peso corporal é regulado por uma interação complexa entre hormônios e
polipeptídios, sob controle principalmente do hipotálamo. Mutações nos genes de
hormônios, neuropeptídios, dos seus receptores ou de seu mecanismo regulatório,
têm sido associadas à obesidade.
Os genes intervêm na manutenção do peso e gordura corporal, através de
vias aferentes que correspondem a leptina, nutrientes e sistema nervoso,
mecanismos centrais (neurotransmissores, entre eles a serotonina e a
noradrenalina) e de vias aferentes que correspondem à insulina, catecolaminas e
sistema nervoso autônomo (estímulo vagal). Alterações genéticas e mutações nos
genes produtores de leptina e que regulam a síntese de neuropeptídios, ligados ao
apetite, estão relacionados com o desenvolvimento do excesso de peso (JENSEN,
2005).
A leptina é secretada pelos adipócitos em resposta ao armazenamento
exagerado de gordura ou ao excesso de ingestão alimentar, sendo um importante
marcador da quantidade de tecido adiposo do organismo, ou seja, quanto mais
obeso o indivíduo maior nível plasmático de leptina (WANDERLEY; FERREIRA,
2007).
A leptina reduz o apetite e ativa à saciedade, por inibir a formação de
neuropeptídios relacionados à fome (neuropeptídio Y o maior estimulante central do
apetite), levando a um aumento dos neuropeptídios anorexígenos como dos
hormônios estimulantes de alfa-melanócitos (alfa-MSH) e o hormônio liberador de
corticotropina (CRH), promotores da saciedade (FONSECA-ALANIZ et al., 2006).
Outros fatores envolvidos na gênese da obesidade são a colecistoquinina
(CCK), peptídeo glucagon-like e os peptídeos YY que são liberados pelo trato
gastrointestinal e a nível cerebral, inibem a ingestão de alimentos, promovendo a
saciedade após uma refeição (WANDERLEY; FERREIRA, 2010).
28

O Neuropeptídio Y (NPY) é sintetizado no sistema nervoso central e estimula


a ingestão alimentar. A redução dos níveis de insulina e leptina ativa os neurônios
produtores do NPY no hipotálamo. A grelina é um hormônio gastrointestinal
estimulador do apetite e faz parte do sistema regulador do peso corporal, sua
produção excessiva pode levar à obesidade. Conclui-se que alterações no controle
da liberação dessas e de outras substâncias envolvidas no balanço energético
podem provocar um ganho excessivo de peso corporal (WANDERLEY; FERREIRA,
2010).
Os aspectos genéticos e metabólicos representam uma pequena parte da
grande variedade de fatores responsáveis pelo desenvolvimento da obesidade e
merecem maior atenção dos pesquisadores para esclarecimentos futuros destes
mecanismos complexos.

Quadro 1 – Síndromes genéticas associadas à obesidade


Nome Fenótipo
Baixa estatura
Hipogonadismo
Prader-Willi
Retardo mental
Hipotonia precoce
Retardo mental/ Polidactilia
Retinopatia pigmentar
Bardel-Biedi
Hipogenitalismo masculino
Anomalias renais/ DM
Microcefalia /Baixa estatura
Anormalidades faciais
Cohen
Retardo mental
Hipogonadismo
Retardo mental
Hipogonadismo Masculino
Carpenter
Acrocefalia
Polidactilia/Sindactilia
Obesidade Truncal
Alstrom
Hipogonadismo Masculino
Fonte: Vaisman (1998).
29

O quadro 1 demonstra os defeitos genéticos isolados responsáveis por


Síndromes Genéticas clássicas que se associam com obesidade.

2.3.2 Fatores constitucionais

Os fatores constitucionais podem influenciar ao longo prazo não só a


regulação do peso corporal, como também proporcionar uma tendência a problemas
de saúde relacionados à obesidade.
Desnutrição materna nos dois primeiros trimestres associa-se a um aumento
da probabilidade de obesidade na vida adulta, enquanto que no último trimestre e
período pós-natal, resultará no decréscimo do risco de obesidade no futuro
(JENSEN, 2005).
Crianças de mães diabéticas tendem a ser mais obesas que crianças de
mães não diabéticas, além de apresentarem maior tendência à obesidade no
período de 5 a 19 anos e um risco aumentado para desenvolverem Diabetes Mellitus
(JENSEN, 2005).
Estes efeitos metabólicos não só comprometem a regulação do peso, mas
há possibilidades de traços genéticos que serão passados para futuras gerações
(JENSEN, 2005).

2.3.3 Fatores ambientais

Alimentares

Ingestão de alimentos altamente energéticos, como os com alto teor de


gordura, a tendência de servir porções aumentadas de alimentos e bebidas,
consumo de carboidratos e doces, associam-se a um aumento da gordura corporal.
Os baixos preços dos alimentos, maior disponibilidade e melhora da
palatabilidade, também devem ser levados em consideração no desenvolvimento da
obesidade.
Com a industrialização e urbanização houve um aumento da disponibilidade
de alimentos processados com alto teor de gordura, sal e açúcar, além do
crescimento dos fast-food.
30

Com o êxodo rural os indivíduos que até então eram habituados a uma
alimentação natural passaram a seguir os costumes das cidades, consumindo
alimentos altamente energéticos e processados.
Segundo o Ministério da Saúde (2011), 34,6% dos brasileiros comem carne
gordurosa em excesso, 56,9% bebem leite integral diariamente, 29,8% consomem
refrigerantes no mínimo cinco vezes na semana e apenas 20,2% ingerem o
recomendado pela OMS, no tocante a frutas e hortaliças, ou seja, cinco ou mais
porções por dia (SBEM, 2014). Os hábitos alimentares inadequados dos brasileiros
ocorrem a muitos anos em relação ao consumo de carne gordurosa e pequena
quantidade de frutas e hortaliças, o que tem mudado ao longo dos anos é o aumento
da ingestão de alimentos industrializados e produtos prontos com alto teor calórico.
Os fatores ambientais causadores da obesidade estão enraizados na
estrutura e funcionamento da sociedade capitalista, no sistema de organização
social, onde o lucro é o objetivo final do trabalho humano (BARBIERI; MELLO,
2012).

Quadro 2 –Fatores ambientais alimentares promotores da obesidade

Fatores ambientais alimentares promotores da obesidade


Aumento do teor energético dos alimentos
Aumento do tamanho das porções
Aumento da variedade e palatabilidade
Maior poder aquisitivo da população
Aumento da disponibilidade
Menor custo dos alimentos
Maior variedade de doces, entradas e lanches
Fonte: Jensen (2005).

Atividade física

O sedentarismo é considerado o quarto maior fator de risco de mortalidade


global, 3,2 milhões de mortes por ano no mundo são atribuídas à atividade física
insuficiente, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)
(BRASIL, 2014).
31

A OMS faz recomendações para quantidades ideais de atividade física aos


grupos etários diversos, os inativos devem iniciar com pequena quantidade de
atividade física e aumentar gradualmente a duração e a frequência ao longo do
tempo.
Em 2013, a OMS e os Estados membros concordaram em reduzir o
sedentarismo em 10% até 2025, através do plano de ação global para a prevenção e
controle de DCNT 2013-2020.
A baixa ou falta total de atividade física com consequente diminuição do
gasto energético é um fator fundamental no desenvolvimento da obesidade e
sobrepeso.
A urbanização proporcionou trabalhos que diminuem a atividade física além
da grande variedade de conveniências, como uso de automóveis ou coletivos,
escada rolante, controle remoto, televisão, vídeo games, uso de computador,
compras por internet, entre outros hábitos sedentários que foram introduzidos no
ambiente moderno.
O êxodo rural não só contribuiu com os hábitos alimentares das cidades,
mas também com atividades sedentárias. Portanto o decréscimo das atividades
físicas relacionadas com o trabalho e mudanças no estilo de vida da população
proporcionaram o desenvolvimento do excesso de peso.
Em 2011, 14,1% dos homens eram sedentários, segundo o Ministério da
Saúde o sedentarismo aumenta com a idade. Entre homens na faixa etária de 18 e
24 anos; 60,1% praticam exercícios, este número desaba para 27,5% aos 65 anos.
Entre as mulheres de 25 a 45 anos, 24,6% se exercitam regularmente, após os 65
anos apenas 18,9% fazem exercícios (SBEM, 2014)
Em 2014, os homens se exercitaram mais do que as mulheres, 42% fizeram
exercícios com regularidade e apenas 30% das mulheres se exercitavam (BRASIL,
2014).
É cultural os homens utilizarem seu tempo de lazer para realizar atividade
física no Brasil, este fato não significa que se exercitam com regularidade. As
mulheres com maior escolaridade são as mais adeptas a realizarem atividades
programadas, e mais conscientes dos problemas relacionados ao peso (SBEM,
2014).
32

Quadro 3 – Fatores ambientais físicos promotores da obesidade

Fatores ambientais físicos promotores da obesidade


Diminuição da prática de exercícios físico
Maior comportamento sedentário
Diminuição da atividade na vida diária/trabalho
Fonte: Jensen (2005).

Sono

Indivíduos com sono reduzido têm maior possibilidade de adquirir peso, o


encurtamento do sono aumenta a razão de grelina/leptina, gerando um aumento do
apetite e da fome, portanto um padrão adequado de sono torna-se fundamental para
o controle da massa corporal (CRISPIM et al., 2007).
O sistema fisiológico que controla a massa corporal envolve, tanto
componentes centrais como periféricos, os quais interagem com aspectos
ambientais, como dieta e atividade física.
Existem vários estudos que correlacionam a curta duração do tempo do
sono com o aumento do IMC. Duração do sono inferior a 6 horas é associada a um
IMC elevado e obesidade. Os mecanismos prováveis estão relacionados com as
alterações nos horários do sono/vigília influenciando o apetite, a saciedade e
ingestão alimentares. Um maior tempo acordado promove alterações hormonais
capaz de aumentar a ingestão calórica, maior oportunidade para se alimentar, além
do cansaço gerado e consequente diminuição da atividade física (CRISPIM et al.,
2007).
A falta de sono pode levar a uma diminuição de leptina, hormônio
anorexígeno produzido no tecido adiposo e o aumento da grelina, hormônio
orexígeno, resultando em fome e maior ingestão alimentar.
O ritmo e sincronismo da secreção de grelina e leptina são importantes para
ingestão alimentar; esse padrão rítmico e recíproco entre estes hormônios
estabelece a ritmicidade no sistema neuropeptídio Y, que é o caminho final comum
para expressão do apetite no hipotálamo (CRISPIM et al., 2007).
33

Os indivíduos com perda do sono apresentam um padrão hormonal


predisponente para uma ingestão calórica aumentada. O preenchimento destas
calorias tende a ser feito por alimentos de baixa qualidade nutricional.
A redução do tempo do sono comum na sociedade moderna é um fator
predisponente para o aparecimento da obesidade.

2.3.4 Causas medicamentosas

Os medicamentos podem promover o ganho de peso relacionado com o seu


mecanismo de ação ou devido seus efeitos colaterais.
Dentre os medicamentos que promovem o ganho de peso, destacam-se os
antipsicóticos (zyprexa, clozaril), antidepressivos (inibidores da recaptação de
serotonina, tricíclicos, inibidores da Mao), anticonvulsivantes (gabapentina, valproato
e carbamazepina), estabilizadores do humor (lítio), hormônios esteróides
(contraceptivos, corticosteróides, esteróides e progestacionais), antidiabéticos oral
(sulfuniluréia), insulina, anti-hipertensivos (bloqueadores dos receptores alfa e beta),
anti-histamínicos e terapia antiretroviral.

2.3.5 Causas patológicas

Menos de 1% dos obesos tem uma doença subjacente para explicá-la,


podemos citar a Doença de Cushing, lesão hipotalâmica (após cirurgia que podem
levar a um aumento da ingestão alimentar), insulinoma e hipotireoidismo.

2.3.6 Causas psicossociais

Os indivíduos obesos não raramente apresentam baixa autoestima,


resultando em um quadro depressivo. Esta situação pode se agravar por não poder
se alimentar como outras pessoas, privando-se de muitos alimentos palatáveis.
A própria dieta pode ser um mecanismo para depressão, por não conseguir
manter a recomendação nutricional por tempo necessário para que sejam
alcançadas gratificações estéticas.
34

A força de vontade esgota-se e as recompensas de autoestima ainda não


chegaram; neste ponto ocorre a quebra do regime.
O fato de estar deprimido faz com que estes indivíduos aumentem a
ingestão de alimentos voltando a ganhar mais peso. O obeso usa a comida como
remédio para depressão e por sua vez esta é resultado da infelicidade com a própria
aparência e da incapacidade de emagrecer (GIKOVATE, 2005).
A população de obesos não apresenta maior nível de patologias psiquiatras
que a população de não obesos (SEGAL, 2003).
No entanto, como citado acima, apresentam maior nível de sintomas
depressivos, ansiedade, transtorno alimentar, de personalidade e descontentamento
com a imagem corporal, não se faz necessário uma psicopatologia para se
desenvolver obesidade, porém, poderá existir uma patologia psiquiátrica a um grupo
específico. Existem subgrupos de indivíduos obesos que possuem padrão anormal
de alimentação. Estamos nos referindo ao transtorno da compulsão alimentar
periódica (TCAP) e a síndrome de comer noturno.
O TCAP ocorre em episódios de compulsão com ingestão excessiva de
alimentos em curto período de tempo, é acompanhado de sentimentos de
desconforto físico, angústia, vergonha e culpa. Ocorre com maior frequência na
população obesa, sendo que estes indivíduos apresentam imagem corporal
negativa, baixa autoestima depressão, ansiedade, síndrome do pânico e transtorno
de personalidade (WANDERLEY; FERREIRA, 2007).
A síndrome de comer noturno apresenta como característica anorexia
matutina e hiperfagia vespertina ou noturna, além de insônia e ocorrem em pessoas
com alto nível de estresse, primariamente em obesos, mas podem incidir em
pessoas com peso adequado. Os portadores deste transtorno apresentam
obesidade, depressão e baixa autoestima (WANDERLEY; FERREIRA, 2007).
A obesidade relaciona-se a fatores psicológicos como o controle, a
percepção de si, ansiedade e o desenvolvimento emocional, entretanto ser obeso
não significa ter problemas psicológicos, crença que necessita ser desmistificada,
pois é muito utilizada para explicar o excesso de peso.
O excesso de peso é mais prevalente nas classes mais pobres e com menor
nível de escolaridade, provavelmente ocorre um consumo aumentado de alimentos
de com teor exagerado de açúcar e gordura.
35

Várias fases da vida como infância precoce e adolescência podem


influenciar no desenvolvimento da obesidade, como a fase intrauterina, o peso de
nascimento, amamentação e a fase de rebote do peso que ocorre entre 5 e 7 anos
de idade. Ganho de peso excessivo durante a gestação e não perder peso após o
parto é importante preditor de obesidade em longo prazo (ABESO, 2009).
O estresse psicológico, principalmente em mulheres que sofreram abuso
sexual, abuso físico ou emocional na infância ou na adolescência, se correlaciona
com excesso de peso (JENSEN, 2005).
O desemprego e a precarização do trabalho também é reportado como um
fator relacionado com o ganho de peso, pois levou o crescimento da incidência entre
os trabalhadores, de doenças como depressão, Sd do pânico, tabagismo e uso
nocivo ou exagerado do álcool, os quais contribuem de forma significativa para
aspectos psicológicos e psiquiátricos envolvidos com a gênese do excesso de peso
(NAVARRO, 2006).
O abandono do tabagismo, principalmente em mulheres, devido o aumento
da ingestão calórica e em muitas ocasiões acompanhada da não realização
adequada de atividades físicas, também se relaciona com o ganho de peso.
Interromper a prática de esportes, a diminuição do gasto energético diário e
férias contribuem para o desenvolvimento do excesso de peso.

2.4 Doenças relacionadas com sobrepeso e obesidade

O excesso de tecido adiposo poderá ocorrer em consequência da hipertrofia


ou hiperplasia dos adipócitos que correspondem respectivamente ao aumento do
tamanho e número das células.
A obesidade encontra-se entre os oito fatores de risco para DCNT
reconhecidos pela OMS, ou seja, tabaco, uso nocivo do álcool, alimentação
inadequada deixando de consumir frutas e vegetais, excesso de peso, aumento da
pressão arterial, colesterol elevado, sedentarismo e diabetes mellitus.
A obesidade central também chamada visceral ou androgênica associa-se
com a hipertrofia dos adipócitos, enquanto a obesidade da parte inferior, ou seja,
concentrada nos quadris, glúteos e coxas, também chamada ginecóide, associa-se
com a hiperplasia dos adipócitos.
36

Enquanto a obesidade central é mais comum nos homens e está relacionada


com inúmeras complicações metabólicas e um maior risco de doença
cardiovascular; a obesidade ginecóide é mais comum em mulheres e relaciona-se
com doença venosa periférica dos membros inferiores e problemas de ordem
estéticos.
Há uma maior liberação de ácido graxo e glicerol na lipólise dos adipócitos
hipertrofiados, fator esse que explica a relação da obesidade central com DCV.
As complicações metabólicas relacionadas à obesidade incluem a
resistência a insulina gerando um hiperinsulinismo, fator de risco para as DCV e
eventualmente podem levar ao surgimento do DM tipo 2.
Outra patologia intimamente relacionada com a obesidade é a hipertensão
arterial sistêmica, muito provavelmente devido ao aumento da resistência vascular
periférica.
As dislipidemias, principalmente o aumento dos triglicérides, diminuição da
fração HDL do colesterol e aumento da fração LDL e VLDL do colesterol.
O ovário policístico caracterizado por hirsutismo, irregularidade menstrual ou
amenorréia. O aumento da produção de andrógeno em mulheres; níveis de
estrógeno elevados na pós-menopausa e a diminuição dos níveis de testosterona no
homem são alterações hormonais que podem ocorrer no excesso de peso.
Outra complicação que pode surgir em decorrência do aumento do peso é a
apnéia obstrutiva do sono, mais comum em homens e ocorre em consequência do
aumento de tecidos moles nas vias aéreas superiores, causando compressão
durante o sono levando à apnéia com diminuição dos níveis de oxigênio no sangue e
aumento da taxa de dióxido de carbono; consequentemente ocorrerá liberação de
catecolaminas em resposta ao estresse. O sono será interrompido e de má
qualidade. Apnéia obstrutiva do sono poderá levar a HAS, insuficiência cardíaca
direita e morte súbita.
A obesidade e o sobrepeso apresentam uma relação com o câncer. O risco
de câncer de mama e endométrio encontra-se aumentado nas mulheres obesas,
muito provavelmente devido os níveis de estrógenos persistirem aumentados após a
menopausa. Há um aumento da taxa de câncer de próstata e colo retal em homens
obesos.
37

Outra patologia comum no obeso é o refluxo gastresofágico, cálculos biliares


e esteatohepatite.
O excesso de peso é o principal determinante da Sd Metabólica,
caracterizada por obesidade, hipertensão arterial sistêmica, hiperinsulinismo,
intolerância a glicose e hiperlipidemia com níveis elevados de triglicerídeos e baixos
de HDL colesterol, sendo um importante fator de risco para doença coronariana.
Portanto a identificação das consequências da obesidade ou sobrepeso na
saúde deve ser rotina na avaliação do paciente.

2.5 Diagnóstico

O diagnóstico de obesidade e sobrepeso poderá ser realizado por métodos


diretos e indiretos.

2.5.1 Métodos indiretos

Compreendem as medidas antropométricas, tabelas de peso/altura, o índice


de massa corpórea, medida da cintura abdominal, relação cintura/quadril e medidas
das pregas cutâneas.
Índice de massa corpórea, também chamado de índice de Quetelet
(proposto por Lambert Adolphe Jaques Quetelet em 1835, matemático e astrônomo
belga), é um critério utilizado pela OMS para aferir a obesidade, de grande aplicação
na clínica diária, é obtido dividindo-se o peso em quilogramas pela altura ao
quadrado em metros, porém existem algumas limitações para seu uso, quando
utilizada isoladamente não diferencia a massa magra da gordura corporal e pode
superestimar o valor em indivíduos mais musculosos, por outro lado o IMC poderá
estar subestimado em indivíduos mais velhos, pois os idosos tendem a perder
massa muscular com o passar dos anos, além de não refletir a distribuição da
gordura corporal, fundamental para determinarmos o risco cardiovascular.
A utilização do IMC combinado com um método que avalia a distribuição de
gordura corporal é a melhor opção para preencher a necessidade de avaliação
clínica.
38

No Brasil é preconizada a tabela proposta pela Organização Mundial de


Saúde (OMS).

Tabela 1 – Classificação do peso pelo IMC segundo a OMS

Classificação IMC (Kg/M²) Risco de


comorbidades
Baixo peso < 18,5 Baixo
Peso normal 18,5 – 24,9 Médio
Sobrepeso 25,0 –29,9 Aumentado
Obesidade grau I 30,0 – 34,9 Aumento moderado
Obesidade grau II 35,0 – 39,9 Grave
Obesidade grau III ≥ 40,0 Muito grave
Fonte: ABESO (2009).

A medida da circunferência abdominal reflete também o conteúdo de


gordura visceral e associa-se a gordura corporal total.
A OMS estabelece a medida da circunferência abdominal igual ou superior a
94 cm para homens e igual ou superior a 80 cm para mulheres, valores acima da
faixa da normalidade, sendo um bom preditor de risco para doenças metabólicas e
cardiovasculares. Segundo a National Cholesterol Education Program’s Adult
Treatment Panel III (NCEP-ATP III), o ponto de corte para homens é 102 cm e para
as mulheres 88 cm, nesta circunstância a chance de existir um fator de risco
aumenta consideravelmente. Porém, devemos lembrar que a relação entre medida
da cintura abdominal e gordura corporal total difere segundo a idade e grupos
étnicos.
39

Tabela 2 – Referência do ponto de corte da circunferência de cintura

Grupos étnicos Sexo Medida cintura (cm)

Europeus Homem ≥ 94 cm
Mulher ≥ 80 cm
Sul Asiáticos Homem ≥ 90 cm
Mulher ≥ 80 cm
Chineses Homem ≥ 90 cm
Mulher ≥ 80 cm
Japoneses Homem ≥ 85 cm
Mulher ≥ 90 cm
Sul americano Usar medidas sul asiáticas
Centro americano Usar medidas sul asiáticas
Africanos subsaarianos Usar medidas europeias
Fonte: ABESO (2009).

A medição da espessura das pregas cutâneas relaciona à gordura localizada


abaixo da pele com o teor de gordura interna, tecnicamente ela é avaliada medindo-
se a espessura do tecido adiposo em alguns locais como o bíceps, tríceps e
subescapular, este método hoje em dia é pouco utilizado, pois exige treino e
instrumentos apropriados.
A relação da cintura abdominal/quadril apresenta valores de corte de 0,9
para homens e 0,85 para mulheres e está associada com o risco aumentado de
comorbidades, porém podem ser menos válida após perda de peso com maior
diminuição das medidas do quadril, sendo utilizado como critério para caracterizar a
síndrome metabólica (ABESO, 2009).
A relação cintura/quadril acima de 0,7 é considerada anormal e a morbidade
se eleva nos homens quando esta relação é superior a 1 e nas mulheres superior a
0,9 (CHACRA; ZANELLA, 2007).
A medida da circunferência deverá ser realizada com o indivíduo deitado, na
altura da cicatriz umbilical, enquanto a medida do quadril deverá ser realizada na
altura do trocanter.
Balança Bioimpedância é um ótimo método para avaliar a massa gordurosa
e sua distribuição, ou seja, trata-se de um método quantitativo e qualitativo, é um
40

procedimento não invasivo relativamente barato, não expõe as pessoas à radiação e


pode ser feita praticamente em qualquer local devido à facilidade de transportá-la.
É apropriada para indivíduos saudáveis ou portadores de doenças crônicas,
são utilizados os parâmetros de idade, altura e gênero.
Em indivíduos com IMC extremos ou anormalidades de hidratação não é
recomendado seu uso, também não convém ser utilizada em indivíduos com
dispositivo eletrônico implantável (marca-passo) e com supervisão médica em
mulheres grávidas e indivíduos com problemas cardíacos.
A balança de bioimpedância poderá fornecer com segurança a medida real
dos diferentes compartimentos.
Neste método ocorrerá o fluxo de uma corrente elétrica através do corpo, de
50KHZ, imperceptível pelo ser humano, podendo determinar as propriedades físicas
do mesmo, portanto a sua utilização para avaliar a massa e compartimentos de
fluidos do corpo.
Os diferentes tecidos do organismo, ou seja, a massa magra que
corresponde principalmente aos músculos e vasos contém um grande teor de água
e eletrólitos conduzindo a eletricidade facilmente; já o tecido adiposo corporal
(massa gorda) é um tecido de baixa condutividade elétrica, apresentando elevada
resistência a passagem da corrente, portanto estes tecidos apresentam diferentes
bioimpedâncias proporcionando o fracionamento da composição corporal,
fornecendo a taxa de gordura, massa magra e água corporal.
No estudo em questão foi utilizada a balança de bioimpedância Omron HBF-
510LA.

2.5.2 Métodos diretos

São aqueles realizados através de exames de imagem, considerados padrão


ouro na avaliação da obesidade e sobrepeso, entre eles podemos citar a tomografia
computadorizada (CT), ressonância nuclear magnética (RNM), a absorciometria com
raios-X de dupla energia e a ultrassonografia, porém são métodos de alto custo
reservados para as grandes pesquisas.
A tomografia computadorizada é um método preciso e confiável para
quantificar o tecido adiposo subcutâneo, em especial o intra-abdominal, o
41

inconveniente é o alto custo como já foi citado, além dos aparelhos convencionais
não acomodar alguns indivíduos obesos.
A RNM é um método não invasivo, não expõe o paciente a radiações,
utilizado para o diagnóstico e avaliação da gordura visceral, como já citado o alto
custo não permite o seu uso rotineiramente, também podem não acomodar parte
dos indivíduos obesos quando utilizados aparelhos convencionais.
Tanto a RNM como a CT medem com precisão a quantidade de gordura
corporal medida pela área do nível de L4-L5 (nível da 4° e 5° vértebras lombares ou
por avaliação volumétrica por múltiplos cortes abdominais).
A ultrassonografia vem sendo cada vez mais utilizada, pois apresenta
excelente correlação com a medida de pregas cutâneas, avalia a espessura do
tecido adiposo subcutâneo e tecidos mais profundos; é um bom método para
quantificar o tecido adiposo intra-abdominal com menor custo que a CT e RNM. É
mais preciso que a medida de pregas cutâneas.

2.6 Classificação da obesidade e sobrepeso quanto à distribuição de gordura


corporal

A distribuição da gordura corporal pode ser dividida em tipo andróide ou tipo


ginecóide.

2.6.1 Tipo andróide

Também chamada central, aspecto em maçã ou visceral é caracterizada


pela distribuição do tecido adiposo no tronco; é mais comum em homens, mas não
exclusiva, e está intimamente relacionada com doenças metabólicas e proporciona
um maior risco para as doenças cardiovasculares.
42

2.6.2 Tipo ginecóide

Conhecido também como obesidade inferior periférica ou subcutânea,


também chamada com aspecto em pêra, mais frequente nas mulheres, porém não
exclusiva, ocorre concentração de gordura nos quadris, glúteos e coxas, está
associada a complicações como doenças vasculares periféricas, problemas
ortopédicos por sobrecarga nos membros inferiores e fundamentalmente a aspectos
estéticos.
Se a relação cintura/quadril for superior a 0,8 em mulheres e 0,9 em homens
definem a distribuição central de gordura, estatisticamente correlacionando-se com
maior quantidade de gordura visceral.

Quadro 4 – Classificação de acordo com a distribuição de gordura

Tipo Andróide (central) Ginóide (inferior)


Local gordura Tronco/abdômen Quadril, coxas e glúteos/pêra
Visceral/maçã

Sexo Homens Mulheres

Doença vascular periférica


Complicações DCV Sobrecarga dos joelhos e coluna
Doenças metabólicas estéticos
Fonte: ABESO (2009).
43

Figura 2 – Representação da distribuição gordura corporal

Maça Pêra

2.7 Diagnóstico da obesidade por métodos quantitativos e qualitativos

Quadro 5 – Diagnóstico quantitativo

Diagnóstico quantitativo
Tabela peso versos altura
Índice de massa corpórea
Somatório das medidas das pregas cutâneas
Balança de bioimpedância
*Condutividade elétrica corpórea total
*Espectroscopia bioelétrica de frequência múltipla
*Absorciometria dual de raios-X
*CT/RNM
*Potássio corpóreo total / *água duplamente marcada
*Métodos de uso experimental, custo elevado, uso limitado na prática clínica

Fonte: Mancini et al. (2009).


44

Quadro 6 – Diagnóstico qualitativo

Diagnóstico Qualitativo
Medida da circunferência abdominal
Relação cintura/quadril
Balança de bioimpedância
*Absorciometria dual de raios-X
*Ultrassonografia
*CT/RNM
*Métodos de uso experimental, custo elevado, uso limitado na prática clínica
Fonte: Mancini et al. (2009).

2.8 Políticas de saúde

O plano de ações estratégias para o enfrentamento das DCNT no Brasil


2011-2022 do Ministério da Saúde definiu e priorizou batalhas no intuito de preparar
a nação para o combate e controle das DCNT (BRASIL, 2011).
O plano aborda as quatro principais doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT), as quais compreendem a doença cardiovascular, o câncer, doenças
respiratórias crônicas e o diabetes melittus, e seus fatores de riscos comuns e
mutáveis, o tabagismo, o uso nocivo do álcool, inatividade física, alimentação
inadequada (não saudável) e a obesidade/sobrepeso.
O objetivo do plano, vem promovendo, desenvolvendo e implantando
políticas públicas, efetivas, sustentáveis e integradas baseada em evidências para
prevenção e o controle das DCNT e seus fatores de risco e fortalecer os serviços de
saúde.

2.8.1 Metas do plano de enfrentamento das DCNT

- Reduzir a taxa de mortalidade prematura (menor que 70 anos) 2%/ano;


- Reduzir a prevalência de obesidade em crianças e adolescentes;
- Reduzir o crescimento da obesidade em adultos;
- Reduzir a prevalência do consumo de álcool;
- *Aumentar a prevalência de atividades físicas;
45

- *Aumentar o consumo de frutas e hortaliças;


- *Reduzir o consumo de sal;
- Reduzir a prevalência de tabagismo;
- Aumentar a cobertura de mamografia em mulheres entre 50 e 60 anos;
- Aumentar a cobertura de exames preventivos contra câncer de colo uterino
em mulheres de 25 a 64 anos;
- Tratar 100% das mulheres com diagnostico de lesões precursoras de
câncer.
*itens fundamentais no controle da obesidade e sobrepeso

2.8.2 Diretrizes e ações do plano de enfrentamento das DCNT

Este plano fundamenta-se no delineamento de três diretrizes e ações:


- Vigilância, informação, avaliação e monitoramento;
- Promoção da saúde;
- Cuidado integral.
O tópico promoção da saúde desenvolvido em parceria com diversos
ministérios, secretaria especial dos direitos humanos, secretaria pública,
organizações não governamentais, empresas e sociedade civil, com a intenção de
viabilizar intervenções para redução destas doenças e seus fatores de risco.
No que se refere o propósito deste trabalho, foram realizadas ações como
programas de atividade física onde se destacaram:
- Academias da saúde que compreendem espaços saudáveis para
realização de atividade física e práticas corporais são pólos com infra-estrutura,
equipamentos e profissionais qualificados;
- Saúde na escola, onde foram realizadas avaliação nutricional,
antropométrica, promoção de atividade física, corporal e estimulação de alimentação
saudável;
- Praças do Programa de Aceleração do Crescimento que compreendem a
construção de praças para práticas esportivas e lazer;
- Reformulação dos espaços urbanos saudáveis onde foi criado o programa
nacional de calçadas saudáveis, construção de ciclovia e pistas de caminhada;
46

- Promoção de Campanhas de comunicação onde foram estimulados a


atividade física e hábitos saudáveis;
- Quanto à alimentação houve a realização de ações as quais podemos citar;
- A alimentação saudável com programas nas escolas;
- Aumento da oferta de alimentos saudáveis, através de parcerias com
sociedade civil, agricultores e pequenas associações para o aumento da produção e
ofertas de alimentos saudáveis, apoio as iniciativas inter setoriais para o aumento da
oferta de alimentos básicos minimamente processados;
- Regulação da composição nutricional dos alimentos processados, através
de acordo com o setor produtivo, com o intuito de diminuir o sal o teor de açúcar e
gordura trans.
- Adoção de medidas fiscais como redução dos impostos, taxas e subsídios,
com o objetivo de reduzir o preço dos alimentos saudáveis, como frutas e hortaliças,
para estimular o seu consumo;
- Regulamentação da publicidade de alimentos, principalmente aqueles
destinados às crianças;
- Plano intersetorial de controle e prevenção da obesidade, visando à
redução da obesidade na infância e adolescência e a detenção do crescimento da
obesidade em adultos.
Estas medidas foram adotadas para confrontar as mudanças de hábitos, a
industrialização, urbanização e o êxodo rural, como citado neste trabalho,
contribuíram para redução da compra de alimentos tradicionais como arroz, feijão,
hortaliças e frutas, influenciando o consumo de alimentos processados, como
bolachas, sorvetes, biscoitos, refrigerantes, carnes processadas e pratos prontos.
Houve aumento na proporção de gordura saturada e trans nos alimentos,
tornando-os mais palatáveis, o consumo de sódio é o dobro da ingestão máxima
recomendada, o mesmo, pode-se dizer do açúcar, extrapolando-se em 60 a 80%
das necessidades diárias.

2.9 Aspectos históricos da obesidade

No início da década de 1900 a obesidade era considerada como resultado


da falta de atividade física, alimentação inadequada e devido um metabolismo lento
47

ou alterações hormonais, principalmente da tireóide. O sedentarismo e a dieta


hipercalórica eram tidos como fatores externos, ou seja, relacionados com o
ambiente, o metabolismo e as disfunções hormonais eram devido fatores internos.
A teoria dos fatores externos prevalecia, mas já surgiam dúvidas de que
somente ela elucidasse todos os casos.
Na década de 1930, o conceito de metabolismo lento começou a ser
desacreditado, pois foi demonstrado que não havia diferenças entre o metabolismo
de magros e obesos.
Nos anos cinquenta estudos demonstraram que ao perder peso o
metabolismo torna-se mais lento, para economia de energia, pois um indivíduo que
emagrece necessitará menos calorias diárias, para manter o peso constante, em
relação a outro indivíduo do mesmo peso, voltando à tona novamente os fatores
metabólicos.
Experiências realizadas com prisioneiros com peso normal que receberam
dieta hipercalórica por um determinado período e posteriormente foram submetidos
a dietas com baixas calorias, a maioria deles retornou ao seu peso normal, e apenas
alguns indivíduos com histórico familiar de obesidade tiveram dificuldades para
retomarem o peso anterior, levando a interpretação de que o índice metabólico
difere entre determinados indivíduos.
Em 1986, outro estudo mencionou sobre fatores genéticos no excesso de
peso, onde foi observado que indivíduos adotados com uma idade aproximada de
um ano, e quando adultos tiveram seu peso e altura comparados com os dos pais
adotivos e biológicos, foi constatado que tinham IMC mais próximos aos dos pais
naturais e quando pai e mãe eram obesos, 80% dos filhos apresentavam obesidade,
contra 14% dos que tinham pais naturais de peso normal, neste caso prevalecendo
o fator genético sobre o ambiental. Outro trabalho comparou gêmeos idênticos que
cresceram juntos com aqueles que foram adotados, por famílias distintas e
cresceram separadamente; na vida adulta foi observado que tinham virtualmente o
mesmo peso, reforçando a teoria genética.
Mais recentemente foi isolado a leptina, hormônio responsável pela
sensação de saciedade, e os estudos estão sendo direcionados para a biologia
molecular; posteriormente outro hormônio, a grelina, ligado a sensação de fome e
peptídeos que agem no cérebro e aparelho digestivo promovendo o equilíbrio entre
48

calorias ingeridas e gastos energéticos foram detectados. Diversos genes que


codificam estes fatores têm sido clonados e suas variantes e mutações
sequenciadas, revelando os mecanismos reguladores do balanço energético,
demonstrando que o controle de peso é complexo, e não depende exclusivamente
da força de vontade (VARELLA, 2015).
A obesidade é a doença metabólica mais antiga registrada na história. Na
pré-história representava beleza e fertilidade. No período neolítico simbolizava
beleza e agricultura, através das figuras místicas e deusas. As mesmas evidências
foram observadas no Egito, em múmias egípcias. Na China, foram encontradas
pinturas e porcelanas referenciando a obesidade. Já na Grécia, eram representadas
em esculturas, mais recentemente nos vasos Astecas, Maias e Incas. Na idade da
pedra foram encontrados indícios da obesidade glútea e abdominal, sendo que
desde aquela época esta última já se relacionava com outras enfermidades. Há
2500 anos Hipócrates já chamava atenção para os perigos da obesidade. Porém no
período do império romano os padrões de beleza se modificaram, sendo valorizados
os corpos magros e esbeltos. No século XVII surgiu a primeira monografia sobre
obesidade, relatando como uma mistura de doença e do caráter. No inicio do século
XVIII, surgiu o grande catálogo clínico das doenças, onde já figurava a obesidade.
Em 1853 foi lançado o primeiro livro de dietas (BRASIL, 2010).

2.10 Tratamento

O tratamento da obesidade e sobrepeso é complexo e envolve várias


disciplinas, principalmente médicos, nutricionistas, psicólogos e educador físico
sendo que as abordagens devem ser individualizadas (ABESO, 2009).
Fazem parte do tratamento a orientação nutricional, atividade física, terapia
cognitiva comportamental, o tratamento medicamentoso e em certas situações o
tratamento cirúrgico para os graus II e III de obesidade, no entanto mudanças no
estilo de vida são fundamentais.
Podemos dizer que o tratamento da obesidade foi bem-sucedido quando
ocorre redução do peso e controle das doenças associadas, como diabetes mellitus
tipo 2, HAS e dislipidemias que surgem quando há perda de 5 a 10% do peso
corporal (ABESO, 2009).
49

Quando ocorrer perda de peso de 1% ao mês, nos três primeiros meses,


atingindo 5% do peso corporal em três a seis meses, haverá melhora dos fatores de
risco presentes no início do tratamento e manutenção sustentada desta perda de
peso com variação igual ou menor a 3% do peso, atingido durante o tratamento,
podemos dizer que houve boa resposta terapêutica (SBEM, 2010).
Torna-se evidente que, além da dieta adequada e atividade física, o apoio
social familiar é muito importante.
A obesidade e sobrepeso são doenças crônicas que podem recorrer após a
perda de peso, pois devem ser monitorados por profissionais da saúde por longo
prazo (ABESO, 2009).
A adesão ao tratamento do excesso de peso, como de qualquer doença
crônica é baixíssimo.
Trabalho realizado com PPMM da região de Presidente Prudente, onde
foram analisados 320 prontuários, sobre a adesão ao tratamento para os fatores de
risco cardiovascular, foi identificado que apenas 5,9% dos militares aderiram ao
tratamento da obesidade (BAVARESCO, 2009).

2.10.1 Tratamento dietético

Devemos proporcionar um balanço energético negativo, ou seja, a ingestão


deverá ser menor que o gasto energético, sendo necessárias e fundamentais
modificações comportamentais, a fim de que os novos hábitos saudáveis de vida,
em termos de dieta e atividades físicas, deverão ser mantidos por toda a vida.
Nos programas de emagrecimento devemos levar em consideração o tempo.
As mudanças comportamentais em longo prazo devem ser valorizadas. Também o
aspecto financeiro, o estilo de vida e as preferências dietéticas devem ser levados
em consideração.
Dietas de baixas calorias de 1000 a 1500 kcal/dia levam a perda de peso e
diminuição da gordura abdominal.
Deitas com baixíssimas calorias de 400 a 800 Kcal/dia produzem maior
perda de peso em curto prazo, porém em longo prazo a perda é semelhante às
dietas de baixa caloria.
50

Estudos demonstraram maior perda de peso nos pacientes com


acompanhamento em longo prazo, principalmente quando se combina dieta com
terapia de grupo (ABESO, 2009).
Uma grande porcentagem de pacientes recupera o peso perdido, metade
volta a adquirir o peso pré-tratamento em um ano.
Existem inúmeras dietas sem evidências científicas promovida pela mídia ou
porque famosos estão fazendo, dietas milagrosas algumas vezes são perigosas,
sendo fundamental que as dietas sejam nutricionalmente adequadas.
A dieta deverá apresentar baixo teor de sal, açúcar e gordura saturada, ser
isenta de gordura trans, além de proporcionar um balanço energético negativo. A
utilização de frutas e hortaliças deve ser estimulada, lembrando que a OMS
recomenda um consumo de pelo menos cinco porções, cinco vezes na semana.
Segundo a ABESO nas suas diretrizes de 2009, as dietas podem ser
balanceadas, dietas hipocalóricas, dietas de baixíssimas calorias, dietas com
gorduras modificadas, dietas ricas em gorduras e escassas em carboidratos, dietas
escassas em gorduras e dietas muito escassas em gorduras.
Dietas balanceadas são compostas por 20 a 30% de gordura, 55 a 60% de
carboidratos e 15 a 20% de proteínas, têm a vantagem da escolha de maior
variedade de alimentos adequados nutricionalmente, porém proporcionam pequena
perda de peso sustentada.
Dietas de 1000 a 1200 Kcal/dia geram uma perda de peso de 7 a 13 kg,
reduzem medida da circunferência abdominal no período de 6 semanas a 6 meses.
Com a diminuição da gordura destas dietas, ocorrerá redução do LDL
colesterol, triglicerídeos e diminuição da pressão arterial.
Dietas de baixíssimas calorias são administradas de 400 a 800 Kcal/dia,
devem conter de 0,8 a 1 g/kg de peso de proteínas, suplementação de minerais,
vitaminas e ácidos graxos essenciais. São utilizadas para pacientes que não
responderam a outros tratamentos ou que apresentam comorbidades importantes,
geram maior perda de peso no início com diminuição de 9 a 26 Kg em quatro a seis
semanas, porém em longo prazo (período de 1 a 2 anos) ocorrerá perdas
semelhantes as dietas convencionais. A modificação comportamental e o uso de
fármacos podem ser úteis quando associados a essa dieta. Como citado levam a
rápida perda de peso, fato que pode motivar o paciente.
51

Dieta com gorduras modificadas onde ocorre a substituição de gordura


saturada por monoinsaturadas (azeite de oliva, abacate e nozes) podem melhorar o
perfil lipídico, o controle glicêmico, além de auxiliar na perda de peso. São eficientes
na perda de peso podendo ser utilizadas em substituição nas dietas hipocalóricas.
Dieta rica em gordura e escassas em carboidrato é composta de 55 a 65%
de gordura, 20% de carboidratos e 25 a 30% de proteínas, são muito populares e
ignoram que as reduções calóricas são importantes para a perda de peso. Os
adeptos desta dieta acreditam que refeições ricas em carboidratos não diminuem a
saciedade, levando a uma maior ingestão de carboidratos com aumento da insulina
e menor liberação da serotonina cerebral, com consequente aumento do apetite.
Os autores desta dieta acreditam que ela cause cetose, fato que diminuiria o
apetite, teoria não comprovada. A redução da PA, glicemia, insulina e LDL colesterol
se devem pela redução do peso e não devido à composição da dieta.
Todas as dietas hipocalóricas em longo prazo levam a redução de peso.
Esta dieta é deficiente em vitamina A, B6, E, folato, cálcio, magnésio, ferro,
potássio e fibras que devem ser suplementadas.
Dietas escassas em gordura e muito escassas em gordura (menos de 19%)
são constituídas de vegetais, grãos integrais, feijão, ovos em moderada quantidade,
laticínios pobres em gordura, soja e pequena quantidade de açúcar e farinha, são
ricas em carboidratos e pobre em gordura, por ser hipocalóricas proporcionam perda
de peso, enfatizando que a quantidade de colorias é mais importante que a
composição da dieta. Levam também a redução da gordura corporal, diminuem
significativamente o colesterol total, o LDL colesterol e o HDL colesterol, porém
aumentam os triglicerídeos quando o objetivo é manter o peso, no entanto quando
se faz necessário a perda de peso, a diminuição do teor de carboidratos da dieta
promoverá a queda dos níveis de colesterol com manutenção das taxas de
triglicerídeos.
São ótimas dietas para o controle da pressão arterial, redução da glicemia e
dos níveis de insulina no indivíduo diabético obeso, em virtude muito mais a
restrição de colorias e a perda de peso corporal do que a composição da dieta.
As dietas muito pobres em gordura são deficientes em vitaminas E, B12 e
zinco, que deverão ser suplementados.
52

2.10.2 Atividade física

A atividade física regular é fundamental para a perda de peso, ainda mais


quando associada à alimentação saudável.
Há recomendação mínima de trinta minutos diários de atividade física
aeróbica de intensidade moderada pelo menos cinco vezes na semana, totalizando
cento e cinquenta minutos, ou setenta e cinco minutos de atividade vigorosa por
semana, preferencialmente dividida em várias ocasiões com duração mínima de dez
minutos por sessão. Os exercícios são fundamentais no tratamento, principalmente
na fase de manutenção. É evidente que as atividades devem ser individualizadas e
adaptadas para cada indivíduo, sendo fundamental uma avaliação cardiovascular
prévia, principalmente após os quarenta anos, em portadores de fatores de risco
como tabagismo, sedentários, históricos significativo de doença cardiovascular nos
familiares, o próprio excesso de peso e doenças crônicas como o DM, HAS e
dislipidemias.
As atividades físicas podem ser desenvolvidas no emprego envolvendo ou
não atividade braçal, no transporte de bicicleta ou caminhando, durante a rotina de
trabalho doméstico como afazeres diários do lar e nas horas de lazer realizando
práticas esportivas e recreativas.
Na impossibilidade de práticas de exercícios físicos, deverá haver uma
conscientização para realização de atividades físicas, como por exemplo, evitar
automóveis ou coletivos e quando for usá-los descer dois ou três pontos antes da
chegada, evitar esteiras rolantes ou elevadores, uso do controle remoto, etc.

2.10.3 Terapia cognitiva comportamental

Trata-se de modificação de comportamentos inadequados associados ao


estilo de vida do indivíduo, tem o objetivo de traçar estratégias que auxiliam no
controle de peso, incentivar e motivar o tratamento e evitar recaídas com ganho de
peso.
São utilizadas técnicas cognitivas associadas à intervenção comportamental.
As estratégias cognitivas comportamentais são utilizadas no sentido de
modificar hábitos prejudiciais ao paciente, fazendo com que o indivíduo identifique
53

os estímulos que antecedem o comportamento compulsivo e situações que


comprometam a aderência ao tratamento.
O paciente deverá registrar sobre sua ingestão alimentar diariamente,
momentos compulsivos e os motivos, este monitoramento combinado com as
técnicas cognitivas poderá elucidar ideias erradas a respeito da alimentação e do
peso (ABESO, 2009).
O comportamento inadequado, como alimentação excessiva e inatividade
física podem ser controlados através de algumas estratégias, como por exemplo,
programar uma lista de alimentos saudáveis, retirando os alimentos proibidos antes
de realizar compras no supermercado. Realizar atividades físicas, evitando recursos
como controle remoto, esteiras rolantes, elevadores, uso demasiado do carro, evitar
lanches ou se alimentar ao estar assistindo TV ou no cinema, manter os alimentos
em local específico. Durante as terapias são utilizadas estratégias para programar
novo comportamento que auxiliem na perda de peso, desfazer crenças e ideias
disfuncionais com relação ao peso e a alimentação, como por exemplo, achar que
não tem controle, perder o domínio perante a comida, evitar dividir os alimentos em
duas únicas categorias, proibidos e os permitidos, pois a ingestão de um alimento
tido como proibido poderá gerar uma interpretação de fracasso, evitar pensamentos
supersticiosos, como por exemplo, ir até o shopping ou algum bar significa que sairá
da dieta (ABESO, 2009).
O suporte social da família, amigos e cônjuge pode auxiliar no tratamento do
excesso de peso, em certas ocasiões apoio de um grupo terapêutico com psicólogo
se faz necessário, grupos de alta ajuda como os comedores compulsivos anônimos
também são úteis.
A intervenção comportamental obteve melhores resultados quando
associados à abordagem familiar, provisão do alimento, orientação de dieta ou
medicamento, além do mais a terapia comportamental pode consolidar a
manutenção da dieta e atividade física. Houve redução do nível da PA, melhora do
quadro depressivo, bem-estar psicológico e da qualidade de vida mesmo quando
relacionada com pequenas reduções de peso corporal (ABESO, 2009).
Vale a pena citar que as intervenções comportamentais para o controle de
peso, deverão ser mantidas por longo tempo, e mesmo após o tratamento, contatos
com o terapeuta favorecem maior perda de peso em longo prazo.
54

Obesos com compulsão alimentar invariavelmente apresentam sintomas


depressivos, pois responde favoravelmente a tratamento dietético, exercícios físicos,
tratamento comportamental associados a medicamentos antidepressivos (ABESO,
2009).
Os exercícios físicos podem promover abstinência na compulsão alimentar.
A promoção da melhor aceitação individual poderá influenciar positivamente em
mudanças no estilo de vida e melhoras em longo prazo na saúde física e mental de
obesos com compulsão alimentar (ABESO, 2009).
O estresse é um fator importante de falha na manutenção da perda de peso,
além de contribuir para o desenvolvimento de gordura visceral, provavelmente
relacionado com o cortisol. A combinação do controle do estresse com mudanças na
dieta e atividade física produzem perda de peso.
Cabe aos médicos ajudar os indivíduos obesos a desenvolver metas
realistas, a estabelecer um plano de tratamento para atingir metas pequenas no
tocante a dieta e atividade física, incentivar o monitoramento diário dos alimentos
ingeridos e atividades físicas realizadas, ajudá-los a solucionar problemas que
dificultam sua perda de peso e fazer com que mantenham contato regular com a
equipe multidisciplinar para análise do peso, registro da alimentação e oferecer mais
apoio psicológico (CHACRA; ZANELLA, 2007).
Fazem-se necessários novos estudos em longo prazo no tocante a terapias
comportamentais para melhor análise da modificação do estilo e hábitos de vida,
com a intenção de se obter resultados favoráveis na perda de peso.

2.10.4 Tratamento medicamentoso

Deve-se estabelecer o grau de obesidade para utilização de fármacos.


Segundo a ABESO o tratamento medicamentoso deverá ser instituído para
os indivíduos com IMC acima de 30 kg/m² ou de 25 a 29,9 kg/m² na presença de
comorbidades (HAS, DM, dislipidemias, apnéia do sono, artroses e tabagismo), falha
em perder peso com o tratamento não medicamentoso e medida da circunferência
abdominal igual ou superior a 102 cm para homens e igual ou superior a 88 cm para
mulheres.
55

As únicas drogas disponíveis para o tratamento da obesidade e sobrepeso


no Brasil são a sibutramina e o orlistate (drogas de primeira linha no tratamento do
excesso de peso), pois a amfepromona, manzidol e o femproporex (anfetaminicos)
foram retirados do mercado pela ANVISA (agencia nacional de vigilância sanitária)
em outubro de 2011.
A Sibutramina pode-se dizer que é o principal fármaco disponível no Brasil
para o tratamento do excesso de peso, age no sistema nervoso central, inibindo a
receptação de noradrenalina e serotonina, aumentando a saciedade.
A dosagem habitual é de 10 a 20 mg por dia, preferencialmente antes do
café da manhã, sendo que a perda de peso já pode ser notada após um período de
quatro semanas (CHACRA; ZANELLA, 2007).
Os principais efeitos colaterais são o aumento da pressão arterial e da
frequência cardíaca, além de causar boca seca, cefaléia, náusea e obstipação
intestinal e está contraindicada na doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca
congestiva, arritmia cardíaca, doença arterial periférica, acidente vascular cerebral e
HAS não controlada (SBEM, 2010).
Em diabéticos tipo 2 em uso de metformina houve pequena redução da
glicose plasmática, hemoglobina glicosilada e dos triglicerídeos com aumento
discreto do HDL colesterol (ABESO, 2009).
Homens obesos com apnéia do sono a perda de peso se acompanha de
melhora da severidade do quadro (ABESO, 2009).
Não há evidências para determinar o perfil risco/ benefício além de dois
anos.
Orlistate é um medicamento não absorvido no organismo, atua inibindo a
lípase intestinal impedindo a absorção da gordura em 30% no intestino delgado,
proporcionando perda e manutenção da perda de peso em obesos com ou sem
fatores de risco definidos. Também levam a mudanças favoráveis nos fatores de
risco cardiovascular, melhora o controle glicêmico, reduzem o LDL colesterol e o
colesterol total independemente da perda de peso. Reduzem a progressão de
tolerância para intolerância a glicose e ao DM (ABESO, 2009; SBEM, 2010).
Os principais efeitos colaterais relacionam-se a distúrbios funcionais do
tracto gastrointestinal.
56

A dosagem preconizada é de 120 mg antes ou durante a refeição, com


duração da ação até uma hora após (CHACRA; ZANELLA, 2007).
A combinação do uso de medicamentos pode aumentar a eficácia da perda
de peso por sinergismo ou adição entre as drogas, possibilitando o uso de doses
mais baixas com redução de efeitos colaterais ou combinar drogas de efeitos
colaterais antagônicos, reduzindo a intolerância a medicações.
A associação de Sibutramina e Orlistate levaram à diminuição da resistência
a insulina e dos achados ultrassonográficos nos indivíduos com esteatose hepática,
porém os estudos existentes não demonstram superioridade a sibutramina em
monoterapia na perda de peso, porém se faz necessário um maior tempo de uso, o
que ainda não foi estudado em ensaios clínicos (CARRA; HALPERN, 2014).
A primeira combinação de drogas aprovadas para o tratamento do excesso
de peso é a fentermina e o topiramato, drogas de ação catecolaminérgica e
anticonvulsivantes/estabilizador de humor, respectivamente. O efeito emagrecedor
do topiramato é pouco conhecido, porém reduz a preferência por alimentos doces e
a compulsão (CARRA; HALPERN, 2014)
A fentermina tem como efeitos colaterais insônia, irritabilidade e taquicardia,
enquanto o topiramato apresenta sonolência e diminuição da capacidade de
concentração.
Estudos realizados são animadores tanto na perda de peso como na
melhora do controle glicêmicos em diabéticos.
A bupropiona combinada com a naltrexona, sendo que o primeiro é um
antidepressivo inibidor da receptação da dopamina e noradrenalina, também usada
para cessação do tabagismo, com modesta ação anorexígena, enquanto o segundo
é um antagonista opioide, usado no alcoolismo, porém, ambos inibem a
betaendorfina que exerce atividade que aumenta a ingestão e o gosto por alimentos
mais palatáveis, os resultados foram inferiores com os da combinação fentermina
com o topiramato, e o principal efeito colateral foram náuseas (CARRA; HALPERN,
2014).
Outras combinações estão em estudo, destacam-se a bupropiona com a
zonisamida (anticonvulsivo), o pramlintide análogo da amilina que aumenta a
saciedade e a metreleptina análogo da leptina e finalmente a combinação de
peptídeos intestinais anorexígenos que são utilizados em indivíduos que se
57

submeteram a cirurgia bariátrica determinando perda de peso e melhora do perfil


metabólico.
Fluoxetina e Sertralina, que são antidepressivos inibidores da recaptação de
serotonina podem levar a perda de peso. A fluoxetina demonstrou- se levar a perda
de peso nos seis primeiros meses, após ocorre recuperação do peso perdido, por
isso, não sendo indicada para o tratamento da obesidade em longo prazo (ABESO,
2009).

2.10.5 Tratamentos heterodoxos e suplementos

Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),


os tratamentos não convencionais e uso de suplementos não devem ser usados
para o tratamento do excesso de peso, pois estes procedimentos e substâncias não
foram efetivos e apresentam fracas ou nenhuma evidência cientifica.
A Hipnose não demonstrou ser efetiva para a redução e manutenção do
peso perdido nas revisões realizadas.
A acupuntura e a aromaterapia também se revelou ineficientes na redução
de peso; não existem evidências científicas ou eficácia.
Os Fitoterápicos como Ephedra Sinica, além de efeito apenas modesto na
perda de peso causam efeitos colaterais gastrointestinais, psiquiátricos e cardíacos,
portanto não são recomendados.
Quanto a Erva de São João (Hypericum perforatum), não existem evidências
científicas da sua utilização para reduzir o peso.
A garcínia cambogia, extraída da casca de uma fruta exótica (Brindall Berry);
não há dados convincentes para seu uso no tratamento do excesso de peso.
A Iombina, planta nativa da África Central; não existem evidências clínicas
que possa indicá-la para redução de peso. O Psylcium (Plantago), uma fibra
hidrossolúvel; não houve diferença na perda de peso de indivíduos obesos usando
até 30 gramas ao dia, quando comparados com o placebo, além de gerar inúmeros
efeitos colaterais gastrointestinais.
O ácido linoléico conjugado que é um suplemento nutricional (ácidos graxos
tipo trans), encontrado na carne bovina, manteiga e queijos, foi submetido a estudos
58

que demonstraram até o momento que sua utilização no tratamento da obesidade


não se justifica.
A cafeína encontrada naturalmente no café, chás, cacau, guaraná, bebidas a
base de cola e chocolates estimulam a liberação de adrenalina, resultando em
lipólise; em um único estudo realizado, não houve perda de peso significativa
quando comparada com o placebo.
A capsaicina presente nas pimentas e pimentões; nos poucos estudos
existentes, não foi convincente para redução do peso corporal.
O cromo, mineral essencial; não há suporte para seu uso no tratamento da
obesidade.
A quitosana, componente do exoesqueleto de caranguejos, camarões e
lagostas, não demonstrou efeito na perda de peso.
Hidroximetilbutirato (metabolito da Leucina), naturalmente encontrados em
peixes, frutas e no leite humano também; não foi efetivo no tratamento da
obesidade.
O piruvato presente em composto de alguns suplementos nutricionais
apresenta evidências fracas na perda de peso.

2.10.6 Tratamento cirúrgico

O IMC igual ou superior a 45 kg/m² associa-se a diminuição da expectativa


de vida e aumento da mortalidade cardiovascular.
A cirurgia bariátrica (CB) é um recurso consistente no caso de obesidade
grave, com falha de tratamento clínico proporcionando redução da mortalidade e
melhora das comorbidades clínicas.
Existem critérios adotados pelo Ministério da saúde (MS) e ABESO para
indicação da cirurgia bariátrica e são válidos para indivíduos na faixa etária que
compreende dos 18 aos 65 anos.
Nos obesos submetidos à cirurgia bariátrica ocorrerá melhora da
sensibilidade a insulina contribuindo para restauração da tolerância a glicose,
principalmente quando se utiliza as técnicas de derivação biliopancreática e bypass
gástrico em Y de Roux (ZEVE et al., 2012).
59

Quadro 7 – Critérios para indicação da cirurgia bariátrica

Critérios para indicação da cirurgia bariátrica


Adultos com IMC igual ou superior a 40 Kg/m² sem comorbidades
Adultos com IMC igual ou superior a 35 kg/m² com um ou mais
comorbidades
Resistência aos tratamentos conservadores realizados regularmente há
pelo menos dois anos (dieta, atividade física, psicoterapia e medicamento)
Motivação, aceitação, ciência dos riscos do procedimento
Ausência de contraindicações
Fonte: ABESO (2009).

Não se indica cirurgia bariátrica com IMC inferior a 35 kg/m², nem para
controle glicêmico nos diabéticos.

Quadro 8 – Contraindicações para a cirurgia bariátrica

Contraindicações para a cirurgia bariátrica


Causas endócrinas tratáveis
Dependência de drogas ilícitas e álcool
Doenças psiquiátricas grave sem controle
Pacientes com dificuldades de compreender riscos, benefícios, resultados
esperados, alternativas de tratamento e mudanças no estilo de vida requerida
com a CB.
Risco cirúrgico anestésico ASA IV
Fonte: ABESO (2009).

Os pacientes que perdem aproximadamente 10% do peso antes da CB


poderão apresentar melhor perda ponderal no primeiro ano de pós-operatório.
Os indivíduos deverão cessar o tabagismo pelo menos com oito semanas de
antecedência para profilaxia de fenômenos tromboembólicos (ABESO, 2009).
Mulheres em idade fértil deverão usar um método contraceptivo seguro, pelo
menos, por um ano no pós-operatório, até que se estabilize o peso no pós-
operatório (ABESO, 2009).
60

2.10.6.1 Técnicas cirúrgicas e suas classificações

TÉCNICAS RESTRITIVAS

 Bandagem gástrica

A banda gástrica é ajustada por via laparoscópica; trata-se de uma cinta de


silicone que é posicionada em torno do estômago na sua porção alta, tornando-o
com o aspecto de uma ampulheta; a distensão gástrica na presença de alimentos
promove a sensação de saciedade. Não compromete a anatomia gástrica ao ser
retirado. Apresenta baixa mortalidade e bons resultados; a perda do excesso de
peso pode chegar a 50%, porém a longo prazo pode ocorrer recidiva do ganho de
peso; os pacientes passam a se alimentar com mais frequência com alimentos
líquidos calóricos (GALVÃO et al., 2015).
Em nosso meio é uma das cirurgias bariátricas mais utilizadas.

 Balão Intragástrico (BIG)

BIG é inserido por via endoscópica no lúmen gástrico com o objetivo de


restringir o espaço do estômago forçando o indivíduo diminuir a ingestão de
alimentos, trata-se mais de um procedimento do que uma cirurgia propriamente dita.
Poderá permanecer por até seis meses e há possibilidades de ganho de peso após
a sua retirada (GALVÃO et al., 2015).
Está indicada para pacientes com IMC superior a 27 kg/m², IMC superior a
35 kg/m² que não responderam ao tratamento clínico, para superobesos como
preparo para outro procedimento, para pacientes com comorbidades para a redução
dos riscos cirúrgicos e redução de riscos em pacientes com doenças graves
causadas pela obesidade.
Também existem relatos da indicação do BIG em casos de infertilidade e
crianças e adolescentes com obesidade mórbida.
Esta técnica foi desenvolvida em 1982, e a perda do excesso de peso pode
chegar até 40% (GALVÃO et al., 2015).
61

Só se pode utilizar o BIG por até 6 meses; caso houver necessidade de


recolocá-lo, deve-se aguardar um intervalo de 30 dias (ABESO, 2009).

 Gastroplastia vertical com bandagem (Cirurgia de Mason)

Trata-se de técnica simples prática com baixos índices de complicações,


promove a redução gástrica, grampeando-se a porção superior do estômago;
coloca-se uma banda fixa sintética no conduto recém-formado, retardando o
esvaziamento gástrico provocando a sensação de saciedade a pequena quantidade
de alimento ingerido. Existem grandes possibilidades da recidiva de ganho de peso
após dez anos, pois os indivíduos passam a ingerir líquidos hipercalóricos que
apresentam rápida passagem pelo estômago estreitado. Esta técnica tem sido
substituída pela banda gástrica ajustável.
Podem promover até 30% de perda do peso inicial após os primeiros anos
(GALVÃO et al., 2015).

 Gastrectomia vertical

Também chamada de gastrectomia de Sleeve gastrectomy, proposta como


parte de uma derivação bilioprancreática sem gastrectomia distal, onde é retirada a
grande curvatura do fundo gástrico, confeccionando-se um tubo vertical.
Trata-se de um procedimento aprovado pelo conselho federal de medicina
em 2010; é de grande utilização como primeiro tempo cirúrgico nos superobesos
com o IMC superior a 50 e até 60/kg/m², reduzindo assim, o risco para o segundo
tempo cirúrgico (GALVÃO et al., 2015).
Funciona proporcionando restrição gástrica e não compromete o sítio de
absorção. Podem ocorrer complicações como fístulas digestivas.

TÉCNICA MISTA PREDOMINANTEMENTE RESTRITIVA

 Derivação gástrica em y de Roux com ou sem anel de contenção


62

É a técnica de cirurgia bariátrica mais utilizada no mundo, conhecida


também como técnica de Fobi-Capela. É criada uma pequena câmara gástrica junto
à pequena curvatura e exclusão do restante do estômago, duodeno e parte inicial do
jejuno. Leva a saciedade precoce e a perda do excesso de peso pode chegar até
70%. Pode ser usado um anel de contenção para reduzir o esvaziamento da
pequena câmara gástrica (ABESO, 2009).
No pós-operatório ocorrerá a diminuição da grelina (hormônio orexigêno e
adipogênico), diminuição do glucagon like peptídeo (hormônio que reduz o
esvaziamento gástrico, aumenta a secreção de insulina e promove a saciedade
central), ocorrendo também o aumento do polipeptídio Y responsável pela
diminuição da motilidade intestinal e aumento da saciedade (GALVÃO et al., 2015).
Faz-se necessário a reposição de vitaminas e sais minerais como a
vitamina B12, monitoramento do ferro, cálcio e vitamina D (ABESO, 2009).

TÉCNICAS MISTAS PREDOMINANTEMENTE MAL ABSORTIVAS

 Derivação biliopancreática com gastrectomia horizontal com ou sem


preservação gástrica distal

Foi descrita em 1976 por Nicola Scopirano, trata-se de técnica complexa e


compreende 20% das CB realizadas no mundo (GALVÃO et al., 2015).
Nesta técnica realiza-se uma gastrectomia horizontal, exclusão de todo o
jejuno e parte do íleo com criação de uma alça comum. Portanto ocorre redução da
capacidade gástrica e má absorção levando a perda de peso, possui maior risco de
desnutrição e deficiências de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). A perda do
excesso de peso pode chegar a 80% (ABESO, 2009).

 Derivação biliopancreática vertical com preservação do piloro

Também conhecida como técnica duodenal switch, em que é realizado uma


gastrectomia vertical subtotal e anastomose entre o íleo e a primeira porção do
duodeno, com grande redução da alça alimentar, portanto trata-se de técnica pouco
restritiva e extremamente disabsortiva, também sendo necessária a reposição das
63

vitaminas lipossolúveis. A perda de peso oscila entre 75 e 80% do excesso de peso


(ABESO, 2009).
A alça alimentar passará a medir em torno de 2 a 2,5 metros do estômago
até o intestino grosso (GALVÃO et al., 2015).
64

3 OBJETIVOS DO TRABALHO

Compreendem os objetivos geral e específico.

3.1 Objetivo geral

Neste trabalho foi feito um levantamento epidemiológico da prevalência de


obesidade e sobrepeso nos policiais militares do 9°BPM-I (região de Marília), os
militares durante a inspeção anual de saúde, realizada no mês do aniversário
preencheram uma ficha juntamente com os médicos da unidade integrada de saúde
(UIS) do batalhão. Foram pesados por balança de bioimpedância, medimos o peso
corporal, o índice de gordura visceral, a massa gorda (porcentagem de gordura
corporal), a massa magra (músculos) e foi calculado o IMC. De acordo com os
resultados encontrados propomos melhorias para a saúde dos PPMM,
principalmente no que se refere à prevenção.

3.2 Objetivo específico

Comparamos os parâmetros obtidos na balança de bioimpedância com o


IMC, tendo em vista que este é utilizado para avaliar o excesso de peso, também foi
avaliado o hábito de realização de atividades físicas por parte dos PPMM.
65

4 METODOLOGIA E RESULTADOS

4.1 Tipo de estudo

Trata-se de um estudo transversal descritivo no qual utilizamos os dados


obtidos de fichas previamente preenchidas, durante a passagem do policial militar,
na inspeção de saúde (no mês de aniversário) durante os meses de março, abril e
maio no ano de 2015. Foi dado um enfoque especial aos dados obtidos por meio da
balança de bioimpedância.

4.2 Local do estudo

Unidade Integrada de Saúde do 9º BPM-I.

4.3 Critérios de inclusão

Policiais militares da ativa de ambos os sexos.

4.4 Critérios de exclusão

Policiais afastados do serviço por problemas de saúde.

4.5 Desfechos primários

Parâmetros obtidos por meio da balança de bioimpedância: peso, altura,


IMC, massa magra, massa gorda, gordura visceral.

4.6 Desfechos secundários

Dados demográficos como sexo e idade.


66

4.7 Apresentação dos dados

Os dados quantitativos como a idade, peso, altura, etc., serão apresentados


por meio de médias e desvios padrões.
Os dados qualitativos como sexo será apresentado em números absolutos e
percentagens.

4.8 Análise dos dados

Os desfechos primários foram analisados de acordo com duas


possibilidades: 1ª) Estarem dentro dos limites da normalidade ou 2º) acima do limite
da normalidade. Por exemplo, ao tomarmos o IMC como variável, será verificado o
número de pacientes que estão dentro dos parâmetros normais do IMC e os que
estão acima dos valores considerados adequados, repetindo-se o mesmo
procedimento para os demais desfechos primários.
Foi analisada uma amostragem por conveniência de 108 policiais militares
de ambos os sexos. Para a obtenção das taxas de massa magra (músculos),
gordura corporal total e gordura visceral foram inseridos a balança de bioimpedância
a idade, o gênero e a altura do indivíduo.

4.9 Resultados

Tabela 3 – Características gerais dos 108 policiais analisados

Dados Média Desvio Padrão


Idade 41,33 anos 5,71
Peso 85,35 Kg 12,60
Altura Homens 1,76 0,058
Mulheres 1,64 0,044
IMC 28,01 Kg/m² 3,33
Massa magra (músculos) Homens 34,14% Homens 2,94
Mulheres 25,42% Mulheres 2,01
Gordura Corporal Homens 27,09% Homens 5,18
Total Mulheres 39,84% Mulheres 4,62
Gordura Visceral Homens 11,48 Homens 3,37
Mulheres 7,05 Mulheres 1,50
67

Tabela 4 – Gênero da amostra estudada

Sexo Porcentagem
Masculino 89 (82,40%)
Feminino 19 (17,60%)

As taxas de gordura corporal total e músculos variam com a idade e gênero.

Tabela 5 – Valores de referência da taxa de gordura corporal total

Sexo Idade Muito baixo Saudável Excesso Obeso


Fem. 20 a 39 anos <21% 21 a 32,9% 33 a 38,9% ≥ 39%
Fem. 40 a 59 anos <23% 23 a 33,9% 34 a 39,9% ≥ 40%
Fem. 60 a 79 anos <24% 24 a 35,9% 36 a 41,9% ≥ 42%
Masc. 20 a 39 anos <08% 08 a 19,9% 20 a 24,9% ≥ 25%
Masc. 40 a 59 anos <11% 11 a 21,9% 22 a 27,9% ≥ 28%
Masc. 60 a 79 anos <13% 13 a 24,9% 25 a 29,9% ≥ 30%
Fonte: Gallagher et al. (2000)

Tabela 6 – Valores de referência dos níveis de gordura visceral

Nível Classificação
≤9 Normal
10 a 14 Alto
≥15 Muito Alto
Fonte: Omron Healthcare.
68

Tabela 7 – Valores de referência da taxa da massa magra (músculos)

Sexo Idade Faixa Normal


Feminino 18 a 39 anos 24,3 a 30,3%
Feminino 40 a 59 anos 24,1 a 30,1%
Feminino 60 a 80 anos 23,9 a 29,9%
Masculino 18 a 39 anos 33,3 a 39,3%
Masculino 40 a 59 anos 33,1 a 39,1%
Masculino 60 a 80 anos 32,9 a 38,9%
Fonte: Omron Healthcare.

Tabela 8 – Taxas musculares e de gordura dos policiais analisados

Desfechos Primários Dentro da Acima da Abaixo da


Faixa Normal Faixa Normal Faixa Normal
IMC 21,30% 78,70% 0,00%
Gordura total 10,20% 89,80% 0,00%
Gordura total Homens 11,23% 88,77% 0,00%
Gordura total mulheres 5,26% 94,74% 0,00%
Gordura visceral 36,10% 63,90% 0,00%
Gordura visceral homens 24,70% 75,30% 0,00%
Gordura visceral mulheres 89,47% 10,53% 0,00%
Massa muscular 64,81% 3,70% 31,48%
Massa muscular homens 60,67% 4,49% 34,83%
Massa muscular mulheres 84,21% 0,00% 15,79%

Tabela 9 – Taxas de gordura encontrada nos PPMM com IMC dentro da


normalidade

Taxa de gordura corporal total %


Normal 39,13%
Excesso (sobrepeso) 56,52%
Aumentada (obesidade) 4,34%
69

Tabela 10 – Taxa de gordura corporal total e massa muscular em PPMM com IMC
acima da faixa da normalidade

Taxa de gordura corporal total e massa muscular %


Gordura total e massa muscular normal 3,53%
Gordura total em excesso (sobrepeso) e massa muscular normal 36,47%
Gordura total aumentada (obesidade) e massa muscular normal 21,18%
Gordura total aumentada (obesidade) e massa muscular diminuída 38,82%

Tabela 11 – Gordura visceral nos PPMM com IMC normal e IMC elevado

Taxa de gordura visceral %


IMC normal com gordura visceral normal 100,00%
IMC aumentado com gordura visceral normal 18,82%
IMC aumentado com gordura visceral aumentada 81,18%
70

5 DISCUSSÃO

Foram calculados as médias e desvios padrões dos dados quantitativos,


enquanto o dado qualitativo será apresentado em números absolutos e
porcentagem.
A média de idade dos policiais militares do 9ºBPM-I demonstrou um efetivo
experiente, de 41,33 anos e o desvio padrão de 5,71.
A altura média dos policiais foi de 1,64 e 1,76 metros com desvio padrão de
0, 044 e 0, 058 respectivamente para o sexo feminino e masculino; um discreto
aumento em relação à média nacional para ambos os gêneros.
A média do peso dos militares do nono batalhão foi de 85,35 Kg e o desvio
padrão de 12,60.
O IMC médio foi de 28,01 Kg/m² com desvio padrão de 3,33 caracterizando
um efetivo com sobrepeso.
Como as taxas de massa magra, gordura corporal total e gordura visceral
apresentam valores de referências distintos entre os gêneros, foram calculados
também separadamente.
Para estes cálculos, são inseridos a balança de bioimpedância, o sexo, a
idade e a altura do indivíduo.
Em relação à média da massa magra, que reflete os músculos, foi de
34,14% para os homens com desvio padrão de 2,94; já a média da massa magra
das mulheres foi de 25,42% com desvio padrão de 2,01, sendo que ambos os sexos
apresentam média dentro do considerado normal para as faixas etárias analisadas.
Quanto à gordura corporal total a média para o sexo masculino foi de
27,07% com desvio padrão de 5,18 enquanto as mulheres apresentaram uma média
de 39,84% com um desvio padrão de 4,62, devemos observar que ambos os
gêneros apresentam médias acima da faixa de normalidade, para o segmento etário
estudado.
A gordura visceral demonstrou média de 11,48 em relação aos homens com
desvio padrão de 3,37, já as mulheres apresentaram uma média de 7,05 com desvio
padrão de 1,50. Devemos observar que estes números veem de encontro com o
citado nas literaturas referentes ao tema, ou seja, a gordura visceral também
chamada de central é muito mais frequente no sexo masculino. Nesta pesquisa a
71

média masculina está acima do valor considerado normal, enquanto a média


referente ao sexo feminino encontra-se normal.
Quando analisamos a taxa de gordura corporal total através da balança de
bioimpedância foi observado que 42,59% apresentam sobrepeso e 47,22%
obesidade, enquanto apenas 10,2% estão dentro da faixa da normalidade. Em
relação ao dado qualitativo, foram estudados 108 policiais militares sendo que 89 do
sexo masculino e 19 do sexo feminino, que correspondem a 82,4% e 17,6%
respectivamente.
No tocante a prática de atividade física, 75,92% dos policiais responderam
que são adeptos, contra 24,07% sedentários.
Segue a análise dos desfechos primários, ou seja, aqueles fornecidos pela
balança de bioimpedância como o IMC, a massa magra, a taxa de gordura corporal
total e a gordura visceral.
Em relação ao IMC, foi notado que 21,30% dos militares avaliados
apresentam-se dentro da faixa de normalidade, enquanto 78,70% estão com
excesso de peso, ou seja, 25% apresentam obesidade e 53,70% sobrepeso.
Portanto, levando-se em consideração apenas o IMC, pode-se dizer que a
prevalência de obesidade e sobrepeso nos PPMM do 9ºBPM-I é de 25 e 53,70%
respectivamente, e ao compararmos com trabalho realizado em 2006 na UIS do
mesmo batalhão onde os índices encontrados foram de 18% para obesidade e 50%
para sobrepeso, concluímos que houve um aumento de 7% na taxa de obesidade e
de 3,70% nos índices de sobrepeso.
Ao compararmos com dados da literatura em relação à população em geral,
notamos que o índice de obesidade e sobrepeso nos policiais do 9ºBPM- I também
está acima do divulgado pelo Ministério da Saúde através do Vigitel 2014, onde as
taxas de obesidade e sobrepeso eram de 17,9% e 52,5% respectivamente, ou seja,
os militares do nono batalhão apresentam valores de 7,1 e 1,2% acima da
população brasileira em relação à obesidade e sobrepeso.
No tocante a gordura visceral, os valores encontrados, da mesma forma
como citado na literatura, estão mais elevados nos homens em comparação as
mulheres; de um modo em geral, apenas 36,10% dos PPMM apresentam níveis
dentro da faixa de normalidade, 63,90% demonstraram valores acima do normal.
Quando foram comparados homens e mulheres, somente 24,70% do sexo
72

masculino apresentavam-se dentro da faixa da normalidade, contra 75,30% acima


dos níveis adequados. Já as mulheres apenas 10,53% estão acima dos valores de
referência, contra 89,47% com resultados dentro da faixa da normalidade.
Foi realizada a comparação do IMC normal (18,5 a 24,9 Kg/m²) com a taxa
de gordura corporal total e observado que 39,13% apresentavam taxa de gordura
total dentro da normalidade, 56,52% estavam com excesso de tecido adiposo
caracterizando sobrepeso e 4,34% tinham teor de gordura corporal total compatível
com obesidade.
Devemos lembrar que os indivíduos com IMC normal e taxa de gordura
corporal total aumentada, não necessariamente apresentam valores reduzidos da
massa magra, pois o intervalo de referência saudável (faixa de normalidade) para
gênero e idade apresenta variação de seis pontos percentuais, segundo referências.
Ao compararmos os policiais militares com IMC elevado (≥ 25 Kg/m²) com a
gordura corporal total e com a massa magra (músculos), foi notado que apenas
3,53% apresentavam a taxa de gordura corporal total e massa muscular normais,
21,18% estavam com a gordura corporal total aumentada caracterizando obesidade
e com a massa muscular normal, 36,47% tinham gordura corporal total em excesso
indicando sobrepeso e massa muscular normal e a situação menos favorável,
38,82% apresentam níveis de gordura corporal total compatível com obesidade e a
massa muscular estava abaixo da faixa da normalidade.
Devemos observar que os militares com IMC elevado, porém com a taxa de
gordura corporal total e massa muscular normais, apresentaram valores do teor de
gordura corporal próximo do limite superior da normalidade e massa muscular muito
próximo do limite superior da normalidade para este parâmetro, levando-se em conta
o sexo e faixa etária.
E, finalmente, foi comparado o IMC com a gordura visceral; foi notado que
100% dos militares com IMC normal apresentavam gordura visceral normal; já os
policiais militares com IMC elevados, 18,82% estavam com a gordura visceral
normal e 81,18% tinham níveis de gordura visceral aumentados.
73

6 CONCLUSÕES E PROPOSTAS

Após análise dos resultados encontrados, concluímos que a prevalência de


obesidade e sobrepeso nos policiais militares do 9°BPM-I está elevada quando
comparada com as taxas da população brasileira em geral, segundo dados
divulgados pelo Ministério da Saúde através do Vigitel 2014.
Houve um aumento das taxas de obesidade e sobrepeso em relação aos
dados encontrados no trabalho realizado na UIS do 9º BPM-I em 2006.
Ao utilizarmos a balança de bioimpedância, foi notado que a taxa de gordura
corporal total compatível com obesidade era maior quando o IMC foi utilizado como
parâmetro, demonstrando que, mesmo sendo o método de referência da OMS para
o diagnóstico do excesso de peso, não reflete o real teor de gordura corporal total.
Outra constatação é que a gordura visceral encontra-se mais elevada nos
homens em relação às mulheres, vindo de encontro com dados estatísticos da
literatura.
Foi observado que a maioria dos militares do 9º BPM-I com IMC dentro da
faixa de normalidade, quando submetidos à avaliação da balança de bioimpedância,
apresentavam a taxa de gordura corporal total elevada. Os policiais com IMC
elevado também na sua grande maioria tinham um teor de gordura corporal
aumentado, contra uma minoria com o nível de gordura corporal dentro da
normalidade, refletindo uma massa muscular elevada. A afirmação do grande
número de policiais que praticam atividades físicas nos leva obrigatoriamente
durante as inspeções médicas de saúde a rever com maiores detalhes como têm
sido realizadas estas práticas.

6.1 Propostas

É fundamental que o indivíduo com sobrepeso ou obesidade conscientize-se


que é muito importante a mudança no estilo e hábitos de vida, principalmente em
relação à dieta e atividade física.
Algumas medidas devem ser propostas para prevenção e combate do
excesso de peso, pois o policial militar, devido sua atividade fim, deve estar
74

preparado não só psicologicamente, mas também fisicamente, além de estarmos


evitando várias patologias que se relacionam com a obesidade e sobrepeso.
Uma prática regular de atividade física deverá ser proposta, evidentemente
respeitando-se as limitações de cada indivíduo, lembrando que a OMS recomenda
no mínimo 30 minutos de atividade aeróbica moderada diariamente totalizando 150
minutos semanais ou 75 minutos semanais de atividade mais vigorosa realizada em
várias ocasiões de pelo menos 10 minutos, ou ainda a critério do instrutor físico,
individualizando estas recomendações. Que estas práticas sejam realizadas no
horário do serviço, no início ou final, tanto para os policiais da administração como
para os das atividades operacionais e para uma maior adesão, determinadas por
ordem de serviço pelo comandante.
Aqueles policiais com limitações físicas seriam submetidos a uma avaliação
médica possibilitando recomendações personalizadas.
Uma orientação e educação alimentar são fundamentais, tanto para perda
do excesso de peso como para sua manutenção; as dietas devem ser hipocalóricas,
com baixo teor de açúcar, gordura saturada, gordura trans e sal, ou seja, deveremos
impor um balanço energético negativo, o gasto deverá ser maior que a oferta;
portanto, para aqueles com excesso de peso uma avaliação com nutricionista será
importante, sendo que o policial poderá ser orientado e encaminhado pelo médico
da UIS, pois o tratamento do excesso de peso requer abordagem multidisciplinar.
Outra possibilidade seria pactuar acordos ou convênios com as faculdades
de nutrição da cidade, onde os cozinheiros realizariam estágios para adquirir
conhecimentos técnicos na elaboração de dietas saudáveis, além da realização de
palestras em datas oportunas para os policiais e familiares.
Palestras realizadas nos cursos de formação, estágios de aperfeiçoamento
profissional demonstrando os números do excesso de peso na população brasileira
e em pesquisas realizadas dentro da corporação com o intuito preventivo e
educador.
Maior rigor por parte dos comandantes de companhia na apresentação do
policial militar no mês do aniversário na UIS para realização da inspeção de saúde,
pois esta tem caráter preventivo.
75

REFERÊNCIAS

ABESO. Diretrizes brasileiras de obesidade 2009/2010. 3. ed. Itapevi: AC


Farmacêutica, 2009.

BARBIERI, A. F.; MELLO, R. A. As causas da obesidade: uma análise sob a


perspectiva materialista histórica. Revista da Faculdade de Educação Física da
Unicamp, Campinas, v. 10, n. 1, p. 133-153, jan./abr. 2012.

BAVARESCO, J. M. Adesão ao tratamento para os fatores de risco


cardiovascular: um dilema atual. 2009. 84 f. Monografia (Aperfeiçoamento) –
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