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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LINGUÍSTICA
GRADUAÇÃO EM LETRAS: LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA

COMPONENTE CURRICULAR: PRAGMÁTICA


PROF. DR. LEONARDO GUEIROS

TEORIA DA POLIDEZ

a. A teoria da polidez no âmbito da pragmática


b. A noção de face e de preservação da face
c. Princípios e máximas da polidez

A INTERAÇÃO COMO UM JOGO DE IMAGENS

Na conversação, entre em cena um jogo de imagens: aquele que fala, para quem fala, quais são
os papeis sociais desses indivíduos, que imagem o falante faz de si e do seu interlocutor, que
imagem o ouvinte faz do falante e que imagem o ouvinte supõe que o falante faz de si... Para
além da conversa antropológica, temos diante de nós uma questão linguística interessante: até
que ponto esse jogo de imagens afeta a construção a interação verbal? (Souza e Pagani, 2022, p.
136)

Consideremos a seguinte situação hipotética: ao término de uma aula, o estudante encaminha


um e-mail ao professor, solicitando o envio dos slides utilizados na exposição didática.
Avaliemos três diferentes condutas:

1. Me envia os slides da aula de hoje.


2. Professor, seria possível o envio dos slides da aula de hoje?
3. Bom dia, professor. Tudo bem? Não sei se o senhor costuma enviar os slides utilizados
em aula. Se sim, teria como, por favor, encaminhar para a turma?

Questões:

(i) O que levaria o estudante a escolher uma das três abordagens?


(ii) De que modo nós (e o professor, especialmente) julgamos as três diferentes
abordagens? O que levamos em conta nesse julgamento?
(iii) Qual a relação entre a escolha e a discussão acima sobre o jogo de imagens
constitutivo dos processos de interação verbal?
(iv) De que forma nossa competência pragmática é mobilizada nesse processo?

Essas questões são do interesse da TEORIA DA POLIDEZ.

 As primeiras discussões sobre o PRINCÍPIO DA POLIDEZ foram introduzidas por Brown e


Levinson (1987), a partir da noção de FACE do antropólogo canadense ERVIN
GOFFMAN (1967) e do PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO de GRICE (1975).
 FACE, para Goffman, é a imagem pública que os indivíduos projetam pra si. Em certos
contextos, buscamos preservar nossa face. Utilizamos, para tanto, certas ESTRATÉGIAS
LINGUÍSTICAS DE POLIDEZ.
 Definições de POLIDEZ:

Fenômeno referente à escolha dos meios linguísticos e das estratégias conversacionais


adequadas a preservar uma boa relação entre os participantes na comunicação, respeitando o
grau de maior ou menor distância social entre eles. A delicadeza [polidez] reflete-se, por
exemplo, na escolha adequada de pronomes pessoais e formas de tratamento (tu, você, o senhor,
doutor...), bem como na preferência por atos indiretos, no uso de implicaturas conversacionais
etc. A finalidade das estratégias de delicadeza [polidez] é preservar a face do interlocutor (e a do
próprio falante). (Lima, 2006, p. 107)

Estratégias linguísticas que os falantes de uma dada língua utilizam para evitar conflitos que
poderiam ser gerados nas interações e/ou no contato social. (...) a expressão linguística dessa
noção vai muito além de cumprimentar, se despedir, agradecer ou pedir licença. No limite, todo
e qualquer ato de fala pode ter diferentes graus de polidez e o quão polido é um ato depende
mais do como é recebido pelo ouvinte do que alguma propriedade inerente ao código, ou seja, à
gramática. (Souza e Pagani, 2022, p. 137)

 Relação entre as estratégias de polidez e o princípio da cooperação de Grice.

Em geral, segundo os estudiosos da polidez, as pessoas tendem a cooperar entre si para manter a
face na interação, agindo de modo a assegurar a autoimagem de todos os participantes. Partindo-
se desse princípio geral e universal da cooperação, vários autores formularam algumas regras de
conduta com base no tipo de interação observado e no tipo de cultura implicada (Wilson, 2008,
p. 97)

A PRESERVAÇÃO DA FACE

 Modelo advindo da teoria da polidez de Brown e Levinson (1987).

Se pensarmos em situações de possível confronto como a de reclamar, por exemplo, podemos


perguntar: o que leva a pessoa a reclamar? Ou a reclamar usando estratégias diferenciadas? Ou
mesmo a não optar por uma reclamação? Certamente, essa pessoa pensará na relação custo-
benefício na ocasião de reclamar. Valerá mesmo a pena fazer uma reclamação? O que é
colocado em risco? O que se ganha ou se perde em termos de face? Ao agir desse modo, a
pessoa está preocupada com sua própria face (sua imagem pública positiva) e também
preocupada em não ferir ou ameaçar a face do outro (dependendo da situação, dos riscos e
custos que isso envolveria) para não ter depois a sua própria face atingida (Wilson, 2008, p. 98)
- PRINCÍPIOS DA POLIDEZ, segundo Lakoff (1973)

 Não imponha – depende do tipo de relação entre os interlocutores (de maior ou menor
proximidade/distanciamento) e do tipo de contexto (mais ou menos formal). Sugere-se
que e espera-se que o falante não seja impositivo.

“Olá, tudo bem? Você poderia, por gentileza, me informar qual a senha do Wi-fi do
estabelecimento?”

 Dê opções – também depende do tipo de relação entre os interlocutores (de maior ou


menor proximidade/distanciamento) e do tipo de contexto (mais ou menos formal).
Sugere-se e espera-se que o falante não seja excessivamente categórico, deixando o
interlocutor livre para tomar decisões.

“Faz tempo que a gente não se vê, não é? Bem que poderíamos marcar algo qualquer dia. O
que você me diz? Se estiver com muito trabalho, podemos ver outro dia. Abraço!”

- Algumas MÁXIMAS DE POLIDEZ, segundo Leech (1983).

[Leech] compreende a polidez em termos de adequação às normas de comportamento de uma


determinada comunidade. Segundo o autor, o julgamento de um indivíduo quanto à polidez ou
falta de polidez só é válido com base nas normas de um grupo social. A polidez manifesta-se
tanto no conteúdo da informação quanto no modo como as pessoas a administram (Wilson,
2008, p. 103).

 Máxima do tato1
a. Minimize o custo do outro
b. Maximize o benefício do outro

1. “Queria te pedir um pequeno favor. Nada que vá tomar muito do teu tempo. Então...”
2. “Vamos ao shopping amanhã? A gente poderia aproveitar e procurar aquele livro pelo
qual você estava interessada!”

 Máxima da aprovação
a. Minimize a aprovação do outro
b. Maximize a honra do outro

1. “Se Zico não foi campeão do mundo, azar da Copa do Mundo.” (Fernando Calazans,
jornalista, revista Língua Portuguesa)

 Máxima da modéstia
a. Minimize seu orgulho, sua vaidade
b. Maximize sua modéstia

1
Alguns exemplos são de Wilson (2008), com algumas adaptações.
1. A: Nossa, você está tão linda!
B: Ah, gentileza a tua! :)
2. A: Belíssimo o teu vestido!
B: Foi tão baratinho...
3. A: Como você consegue aprender com tanta facilidade conceitos tão complexos?
B: É que tenho mais tempo disponível que vocês pra estudar.

 Máxima da simpatia
a. Minimize a antipatia
b. Maximize a simpatia

1. (Situação hipotética: o interlocutor recebeu uma mensagem pelo WhatsApp, mas


demorou muitos dias para respondê-la)

“Oi! Me desculpa pela demora na resposta! As coisas aqui andam meio turbulentas:
muitas demandas de trabalho e muitas coisas pra resolver aqui em casa. Acho que você
se lembra que fiz mudança há poucos dias. Mas, então, sobre o que você perguntou...”

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