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Copyright © 2021 A Garota do Batom Rosa

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Diagramação│A Garota do batom rosa


Revisão │Isa Matias
Capa │A Garota do batom rosa
Título │Seduzida pelo chefe da máfia – Série: Chefe da máfia – Livro II

1ªEdição
Obra devidamente registrada na biblioteca nacional, é proibida a venda,
cópia e a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer formar ou
quaisquer meios eletrônicos, mecânicos e processo xenográfico, sem a
permissão da autora. (Lei 9.610/98)

Nenhuma parte dessa obra pode ser citada ou distribuída sem a prévia e a
expressa autorização da autora.

Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos na obra são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nome e acontecimentos reais é mera
coincidência.
PROIBIDO ADAPTAÇÕES. PLÁGIO É CRIME!
Olá, querido leitor (a),
Antes de entrar em meu mundo, eu me sinto na obrigação de alertá-lo sobre
o conteúdo que irá encontrar nesse livro. Este é um romance dark, então, eu
sugiro que leiam a obra com a mente aberta. O livro vai contar a história de duas
pessoas que sofreram bastante com o tempo, cada personagem passa por uma
guerra interna que os impedem de ter um romance de conto de fadas. A história
vai mostrar como a vida pode ser difícil e até injusta com algumas pessoas. Haverá
cenas fortes de violência, muitos trechos do passado sofrido de alguns
personagens, além de tortura física e psicológica. Para deixar bem claro, eu não
irei romantizar nada que seja tóxico e abusivo! E lembrem-se, não se prenda a
relacionamentos que causam dor, não se cale diante disso!

Com carinho, A garota do batom rosa.


O texto segue as normas vigentes da língua portuguesa, entretanto,
características do vocabulário informal foram utilizadas para deixar a leitura
mais leve e fluida.

A autora usou da linguagem informal em vários momentos, sendo


assim, é possível encontrar palavras e / ou frases que não estão em
conformidade com a gramática normativa.

Os trechos em itálico se referem a termos técnicos, estrangeirismo,


gírias, regionalismo e termos coloquiais.
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S erena Smith a muito tempo deixou para trás aquela menina sonhadora
e inocente, e se transformou, em uma assassina de sangue frio. Agora,
casada com o homem que arruinou a sua vida, Serena se vê em um impasse!
Entre matar o homem que assassinou o seu irmão, mas também matar a
única pessoa capaz de lhe despertar sentimentos, ou simplesmente, perdoá-
lo.

Ela estava disposta a revirar todos os segredos que cercavam o


assassinato do seu irmão, e precisava também, aprender a controlar o seu
coração... que insistia em bater descompassadamente pelo homem que
dormia ao seu lado. Nessa nova etapa do seu plano, Serena anseia em
descobrir a identidade de um algoz misterioso, que estava disposto a caçá-la
e que a queria a todo custo. Além de enfrentar um homem do seu passado
que a destruiu... e que protagonizava a maioria dos seus pesadelos.

Giovanni Campanaro sempre foi um homem sanguinário e sem


escrúpulos, capaz de destruir e matar qualquer um ao seu redor, mas ela... a
mulher de olhos cintilantes era diferente! Serena entrou em sua vida para
trazer o seu melhor lado à tona, e fazer com que todo o seu mundo se
modifique, de uma maneira que talvez, fosse irreversível.

Serena e Giovanni vão aprender juntos que esconder a verdade nunca é


o melhor caminho, que a mentira corrói e destrói tudo! E nem mesmo o
amor é capaz de vencer essa guerra. O passado é algo que insiste em
ressurgir, e liberar consigo todos os demônios que estavam trancafiados.
“ Ninguém sabe o monstro que carrego dentro de mim,
o pior de tudo é que não fui eu que o alimentei, e agora,
está sendo difícil parar de alimentá-lo. ”

Graciele Lima.

P asso a maior parte da noite acordado, ouvindo e sentindo a sua


respiração tranquila e ritmada bater em meu pescoço. Eu ainda não
sabia como proceder e agir com a enxurrada de coisas e sensações novas
que ela despertou em mim, a minha mente estava processando o que
aconteceu há algumas horas atrás, tentando entender o que realmente
ocorreu essa noite e o que ela significava.

Eu nunca quis permanecer ao lado de nenhuma mulher, todas elas eram


previsíveis e extremamente fúteis, mas Serena era o inverso de todas! Ela
era um turbilhão de emoções, e ao mesmo tempo, ela não era! Eu
desconfiava que o seu lado forte e o seu jeito frio eram reflexos de alguma
vulnerabilidade escondida, mas jamais passou pela minha cabeça que ela
tinha sofrido algum tipo de abuso.

Eu não sei e nem imagino o quão longe esse desgraçado chegou, mas
eu sei, que ele foi longe o suficiente para marcá-la, para deixar vivo em sua
memória aquelas lembranças ruins. Sinto o meu corpo se enrijecer com a
possibilidade de algum verme infeliz ter tocado a sua pele macia, e por
instinto, eu passo a minha mão por seus cabelos ondulados, sentindo o seu
cheiro me invadir.

Serena seria a minha perdição!


Dedilho os meus dedos por seu braço que estava escorado no meu
ombro, e acaricio as suas cicatrizes, sentindo a textura saliente de alguns
cortes em sua pele, alguns eram ásperos, e em outros pontos, a sua pele era
lisa, reluzente... como se tivesse nascido outra camada de pele para
cicatrizar. Eram feridas antigas, ferimentos já curados, que demonstravam
todo o sofrimento que foi a sua vida. Mas, apesar do seu corpo estampar
todas essas cicatrizes, ela era linda!

Eu queria beijar todas as suas marcas, curar todas as suas tormentas,


apagar da sua memória as coisas ruins que a atormentavam... e eu sei, que
isso ia contra tudo e a todos os meus ensinamentos, mas eu não me
importava, porque existia algo nela que me despertava... ela acordava um
lado meu que já estava morto, totalmente adormecido. Serena suspira ao
meu lado, ganhando a minha atenção, ela era realmente encantadora!

Eu já sabia que ela mexia comigo e de uma maneira que nem eu


mesmo sabia descrever, fazendo com que eu mudasse todos os meus planos
em relação a esse relacionamento. Eu estava disposto a quebrá-la e estava
decidido a mostrar o meu pior lado... mas vê-la naquele estado,
completamente desesperada, me desarmou... e algo dentro de mim ruiu, ela
já estava no seu limite, e ver a sua angústia me machucou! E pela primeira
vez em minha vida, eu quis consertar algo, ao invés, de destruir!

Sem perceber e sem que eu pudesse evitar, eu já estava envolvido...


totalmente envolto na sua áurea misteriosa, talvez, mais do que deveria!
Serena se move inconscientemente, se aproximando um pouco mais,
deixando claro que o seu corpo ainda estava dominado pelo cansaço e pelo
sono. Com o seu movimento suave, ela levanta ligeiramente uma de suas
pernas e se aconchega mais em meus braços, exalando toda a quentura do
seu corpo.

Os seus seios agora estavam colados em meu peito, afastados apenas


pelo tecido fino da minha camisa e a sua intimidade estava encostada na
minha coxa, e mesmo com o tecido da minha calça de moletom nos
separando, eu podia senti-la perfeitamente. Eu estava entrando em um
caminho sem volta, e ter colocado essa menina em minha vida, seria só o
começo da minha ruína! Eu estava fodido! O temido Don Campanaro estava
arruinado! Por estar entregue a uma fedelha!

— Giovanni... — Serena sussurra com a sua voz aveludada, se


movimentando manhosa e me envolvendo mais contra o seu corpo.

Fico alerta, apenas observando os seus movimentos vagarosos e


apreciando a sua beleza enquanto estava adormecida. Não dava para conter
um sorriso presunçoso que insistia em estampar o meu rosto, ao me dar
conta que ela me chamava em seus sonhos. Se eu a queria? Talvez mais do
que qualquer outra coisa que eu já desejei em minha vida! No entanto, eu já
estava decidido. Eu compreendia perfeitamente e aceitava todos os seus
medos, todas as suas feridas.

Por outro lado, eu não poderia forçar e submeter uma menina que já
demonstrou estar tão quebrada e destruída aos meus desejos obscuros. Uma
menina que só tinha vivenciado o lado cruel e ruim do prazer. Não dava
para forçá-la. Eu não queria forçar. Não mais. Não dava para destruir o que
já estava em frangalhos, e naquele momento de calmaria, sentindo o seu
perfume e o seu corpo frágil tão perto do meu, eu percebi e compreendi,
que a queria por inteiro... Eu não queria só o seu corpo... eu queria a sua
alma, e também, o seu coração.
Saio da cama antes do amanhecer, querendo organizar os meus
pensamentos e controlar o fluxo emocional que insistia em me confundir, e
que de certa forma, me desagradava. Suspiro pesadamente e olho para a
mulher de cabelos castanhos que estava deitada em minha cama. Os seus
cabelos ondulados se espalhavam pelo lençol de maneira desordenada e a
sua posição, realçava mais ainda a sua beleza natural.

Em qualquer outro momento, eu já teria mandado ela embora! Todas as


mulheres que passaram em minha vida não passavam de mero sexo! Aliás,
com qualquer outra mulher, eu sequer permitiria uma aproximação tão
íntima, eu nunca quis e jamais permiti que nenhuma delas compartilhasse a
mesma cama... Era simplesmente uma boa foda, apenas uma troca de
necessidades!

Serena era como uma criatura mística! Uma sereia desgraçada de tão
encantadora, sem falar, do seu corpo estupidamente gostoso. Ela não só
afetava o meu pau diretamente, como também, a porra do meu cérebro!
Um Don é criado para ser implacável e para jamais abaixar a guarda perante
os seus inimigos, e muito menos, diante dos seus aliados. E nesse pouco
tempo, Serena já me fez ir contra a primeira lei da Camorra! A lei da
famiglia.

— Seja bem-vindo, Don Campanaro! — Um homem de cabelos


grisalhos cumprimenta o meu pai, abaixando a sua cabeça em um gesto de
obediência e submissão.
Olho para o homem de soslaio, sem deixar transparecer em meu
semblante o medo que se enraizava em minhas entranhas. Eu já tinha
praticado vários treinamentos, eu já havia matado e torturado pessoas
inocentes, sem nem ao menos ter completado dez anos. Eu nasci para ser o
Don e já estava familiarizado com o meu destino, mas hoje, era um dia
importante! Diante de todos os membros da Camorra, eu iria selar a
primeira lei da minha organização, e provar com sangue derramado, que
eu era digno para ocupar o lugar do meu pai.

Sem falar absolutamente nada, o homem imponente e poderoso segue


em direção a uma das várias salas do lugar, e sem hesitar, eu sigo os seus
passos firmes e precisos. A sala era pequena, não havia praticamente
nenhum móvel ou qualquer adorno em suas paredes, era apenas um recinto
próximo a grande arena, onde eu receberia as instruções antes do
confronto, como de costume.

— Você vai matar uma pessoa hoje! — A sua voz grossa reverbera pelo
espaço e a sua informação não me surpreende, eu estava ciente dos meus
propósitos e estava disposto a cumpri-los em nome da famiglia. — E esse
assassinato a sangue frio, vai ser a maior prova da sua lealdade e da sua
liderança!

Capto o seu olhar escurecido e o seu sorriso cruel, mantendo sempre o


meu rosto inexpressivo. Eu aprendi bem cedo, que o meu exterior não pode
refletir o meu interior! Nunca! Isso era lei! E eu senti na minha pele, o
ardor e a aspereza dessas palavras. Apesar do meu coração estar
disparado e da minha boca estar extremamente seca, as minhas feições se
mantinham firmes e frias, sem demostrar absolutamente nada!

— A primeira lei da Camorra é da famiglia! O sangue que corre nas


minhas e nas suas veias, e que futuramente, irá correr nas do seu filho, não
pode, jamais, passar por cima das regras da nossa organização! — Meu
pai diz sério, analisando as minhas reações e buscando em meu olhar, os
meus sentimentos. — Eu sei que é difícil Giovanni, mas as tradições são a
única coisa acima do seu poder!

Observo atentamente a sua postura e os seus movimentos, da mesma


maneira como ele havia me ensinado. Um simples olhar diz muitas coisas...
e o dele era impenetrável! É tolice achar que somos diferentes dos animais!
Somos guiados por nossos instintos, pelo sangue que pulsa em nossas veias,
por nossos impulsos, da mesma maneira que eles seguem as suas intuições.

— A sua mãe cometeu um erro... — E antes que ele completasse a


frase, eu já havia compreendido o que teria que ser feito, e só de cogitar
essa ideia, a minha máscara de frieza se desarma e eu começo a recuar. —
Ela nos traiu, Giovanni! Ela não só traiu a minha confiança, como também,
iria fugir com o seu irmão! Deixando você para trás!

Balanço a minha cabeça em negação, ela jamais faria uma burrice


dessas! Olho para o meu pai em súplica, eu não poderia matá-la, eu não
conseguiria! Dou alguns passos para trás, repudiando o peso absurdo que
ele estava colocando em minhas costas. Em fração de segundos, a minha
mente projeta um flash da mulher mais importante em minha vida, caindo...
morta... sem vida... com um tiro atravessando o seu corpo.

Antonella não era a minha mãe biológica, era somente mãe de Luigi e
eu entendia perfeitamente a sua escolha em levá-lo para longe. Não havia
modos de fugir do nosso destino, simplesmente não havia escolhas no nosso
mundo! Todos já nasciam predestinados a traçar os seus caminhos
decididos pela nossa organização. Antonella apesar de ser minha
madrasta, ocupou o lugar da minha mãe, e cogitar a possibilidade de
apertar o gatilho de uma pistola em sua direção, doía...
Sinto o meu coração disparar em uma frequência absurda, fazendo
com que eu tropece em meus próprios pés e as minhas costas se choquem
no chão duro. E mesmo sabendo que eu seria punido por isso, eu deixo
escapar um soluço da minha garganta... um soluço engasgado, porque eu
sei... eu sei... que seria obrigado a fazer isso! Eu iria matar a minha
própria mãe! A mulher que deu a vida ao meu irmão!

— Levanta! E não comece a chorar! — Ele diz, sem demonstrar


nenhum vestígio de fúria ou raiva, mantendo sempre o seu autocontrole. —
Ela é a sua mãe, mas ela foi contra as regras do nosso clã, ela não só se
condenou como também condenou o seu irmão!
— Eu não vou fazer isso! — Balbucio as palavras de acordo com o
meu emocional abalado, sem forças para me erguer do piso e encarar o
homem poderoso a minha frente. — Eu não vou conseguir...

— Antonella escolheu o destino dela! Ela sempre soube das nossas leis
e decisões. Quem nasce na máfia, morre na máfia! — Meu pai fala
calmamente, estendendo a sua mão na minha direção para me ajudar. — O
seu coração não pode ditar e passar por cima das nossas tradições! Você
vai matá-la e não vai derramar nenhuma lágrima de arrependimento!

Sinto as lágrimas se acumularem em meus olhos, querendo descer por


minhas bochechas, mas se eu deixasse que uma delas escapasse, eu só iria
piorar a situação. Então, mesmo indo contra todas as minhas vontades, eu
seguro o choro e engulo em seco, sentindo o peso da minha consciência me
dilacerar por dentro. Não era difícil matar uma pessoa que você não
conhece! Talvez... na primeira vez sim, na segunda também, mas depois da
terceira... já não existe mais nada dentro de você que possa te condenar... é
como se você funcionasse no modo automático, e depois de um tempo, você
se acostuma! Mas, matar uma pessoa próxima era diferente...
— Se você derramar uma lágrima, ou se simplesmente, deixar escapar
no seu semblante qualquer resquício de tristeza ou arrependimento, eu não
vou mais perder o meu tempo com você! — Ele diz ríspido, mantendo a sua
pose superior e poderosa, deixando bem claro a veracidade das suas
palavras. — E aí... se você falhar... não vai ser só Antonella que vai
morrer! Vai ser você, ela e Luigi também! Três ao preço de um! E ao
contrário da morte rápida e digna que você poderia dar aquela miserável,
você vai transformá-la em uma viagem dolorosa... lenta... e banhada a
sangue, até os confins do inferno!

A ideia de assassinar a minha mãe era completamente absurda e o


peso dessa decisão que estava sendo colocada em minhas costas, era
dilacerante. Fito os seus olhos negros e o seu sorriso desumano, e ali,
encarando o demônio, eu tiro todas as minhas dúvidas! Ele estava se
divertindo com a minha dor... com o meu sofrimento! Eu já fui torturado, eu
já conheço a dor e as alucinações cruéis de uma alma atormentada pela
fome ou pela falta de sono, condenada a vagar entre a realidade e o que a
sua mente cria e te submete!
E mesmo não querendo levantar, eu seguro a sua mão com firmeza,
buscando apoio para me reerguer. Sem nenhum aviso, meu pai me puxa e
me levanta em um único solavanco, fazendo com que uma vertigem me
atinja. Eu não queria fazer isso... eu não queria matá-la! Mas, eu iria! Não
tinha outra saída! Porque eu nasci para isso! Esse era o meu destino!
Mesmo que talvez uma parte de mim morresse com ela! Eu iria matá-la!
Porque eu não suportaria carregar o peso da morte do meu irmão em
minhas costas!

— Está vendo Giovanni? Todo homem tem um preço, que de boa


vontade aceite as suas propostas! Mesmo que elas sejam as mais sujas
possíveis! É por isso meu filho... que um Don não pode amar e nem se
apegar a ninguém! — Ele diz, deixando transparecer em sua voz o orgulho
e a satisfação. — Essa é uma bela decisão, meu filho!

— E para que serve um Don? Se as minhas vontades não valem nada!


— Pergunto, sentindo o gosto amargo se apossar do meu paladar. — Para
que todo esse poder? Sendo que o sangue que corre em nossas veias não
nos protege das tradições!
— Há muito mais em jogo do que as suas vontades, Giovanni! Acha
que eu quero matar o meu herdeiro? As regras valem para todos! Inclusive
para os descendentes dos Campanaro! O sangue não passa por cima da
famiglia! — Meu pai diz sincero, buscando em seu sobretudo preto, o seu
coldre de couro. — A vida não é justa! Escolhas dolorosas fazem parte do
nosso mundo, e o quanto antes você aprender e entender isso, mas fácil
será o seu treinamento!

Permaneço em silêncio, apenas digerindo o fato de que em poucos


minutos, eu apertaria o gatilho na direção de Antonella e acabaria de uma
vez, com a sua vida. Sinto um bolo se formar em minha garganta, como se
algo estivesse atravessado no meio dela, me impedindo de engolir a minha
própria saliva. Olho para os meus pés rapidamente, tentando aliviar a
tensão dolorosa que se apossava da minha nuca, causando uma dor latente
em meus músculos tensos.

Eu sempre soube que a minha vida seria diferente, que o meu destino
era cruel e sanguinário! Eu nunca fantasiei ou desejei outro modo de viver,
mas, eu também não imaginava que a cada novo passo que eu dava, o meu
eu de verdade iria ser apagado, substituído, moldado de acordo com a
nossa organização. Aos poucos e com o passar dos anos, eu fui tirando o
Giovanni de dentro de mim, para dar lugar ao Don... e até eu completar os
meus dezoito anos, teria muito tempo e muito treinamento pela frente, para
eu me tornar o monstro frio e impiedoso que eu deveria ser.

— Você tem um dever Giovanni! Quando você entrar naquela arena,


uma arma estará na sua mão e a outra apontada para a cabeça do seu
irmão! Você não tem escolha! Você nasceu para isso, não existe outro
propósito, não existe livre arbítrio! — Ele diz, com toda a sua seriedade,
tirando uma pistola dourada do seu coldre e me entregando em seguida, o
objeto metálico reluzente. — Se você errar ou falhar, você vai estar
condenando três almas ao invés de uma! Essa vai ser a maior prova da sua
lealdade e da sua liderança! Você vai mostrar o quanto a famiglia significa
para você!

Sem hesitar e já resignado sobre o meu objetivo, eu seguro a pistola em


minhas mãos e destravo a trava de segurança da arma, sentindo o peso do
objeto contrastar com as minhas mãos. Olho de soslaio para o meu pai e
ele aponta com um ligeiro aceno na direção da porta. Os meus batimentos
cardíacos batiam tão rápido e tão depressa que era possível ouvir o pulsar
de cada batida em meus tímpanos. O ressoar em minha cabeça me deixava
confuso e atordoado, era como se mil tambores tocassem e brincassem com
a minha sanidade. Olho para a arma em minha mão, e constato, que as
minhas mãos se mantinham firmes, contrastando com os espasmos e
tremores que se espalhavam pela minha barriga.

— Você não pode ter sentimentos, Giovanni! — A sua voz grossa e


imponente reverbera dentro de mim, sinalizando a sua presença, e mesmo
zonzo, eu fito os seus olhos escurecidos. — Você vai ser a lei... o coração...
o juiz! Não existe nada e nem ninguém que possa ir contra as suas
decisões, meu filho! Você nasceu pela Camorra e por ela você vai morrer!
As suas palavras firmes e cortantes me invadem sem nenhum aviso, se
misturando com o caos que estava se formando em minha mente. Eu tinha
dez anos e já tinha cometido mais atrocidades que muitos adultos durante a
vida inteira, não fazia sentido relutar mais, eu já estava condenado!
Giovanni Campanaro nunca existiu de verdade! Assim que aquela bala
atravessasse o corpo de Antonella, eu seria o Don Campanaro! Eu estaria
derramando o meu próprio sangue em nome da minha famiglia!

Eu fui criado para matar...


Eu sou um assassino...

Eu seria um monstro...

Saio dos meus pensamentos com o toque insistente do meu celular, mas
antes de atender o aparelho irritante, eu observo Serena mais uma vez, e
institivamente, o meu olhar percorre as suas cicatrizes. Se sobrou algo bom
dentro de mim, depois de todos esses anos reprimindo e repudiando esses
sentimentos, eu estava disposto a mostrar para ela. Eu estava decidido a
abrir o meu coração... eu mostraria o meu mundo aos poucos, no seu
tempo... Eu não queria e não iria machucá-la, mas a queria para mim como
minha mulher... e estava disposto a ser paciente e respeitar o seu tempo.
Mas, se ela estivesse mentindo ou me traindo como Lorenzo havia me
alertado, qualquer resquício de humanidade que ela tenha trazido de volta
para mim, será enterrado! E aí, realmente... eu me tornaria um monstro sem
alma...
“ Lembre-se de quem são os seus amigos e quem são os
seus inimigos. ”
Série – The boys.

S igo em direção a uma das cômodas e atendo o maldito celular, sem me


importar de deixar transparecer em minha voz, a minha irritação. Olho
para o meu relógio de pulso que também estava no móvel e confiro o
horário, eram quatro e meia da manhã, e com toda a certeza, essa ligação
não trazia boas notícias. Antes que eu me pronunciasse, a voz conhecida e
carregada de sotaque se faz presente do outro lado da linha.

— Senhor, boa noite! Desculpa o incômodo, mas eu não estaria ligando


se não fosse algo de extrema importância. — A voz de Dante soava receosa
e a sua constante necessidade de pigarrear indicava o nível do seu
nervosismo, e isso não passou despercebido.

— Estou ouvindo... — Pergunto, tentando controlar ao máximo a


minha fúria em ser incomodado. — O que aconteceu?

— Eu acabo de ser informado que um dos primeiros caminhões já


chegou no depósito... — O homem informa, enquanto eu saio do quarto e
sigo na direção da minha suíte. — A carga, senhor... Estão todos...
Paro de andar assim que escuto o gaguejar do chefe dos meus soldados,
fazendo com que os meus músculos fiquem tensos de imediato. Suspiro
pesadamente e franzo o cenho, sentindo a raiva se apoderar de mim. As
coisas estavam fugindo do meu controle, existem traidores e infiltrados em
meu território e já estava na hora de fazer uma limpa entre os meus
homens!

— Fala logo, porra! — Esbravejo, extravasando a minha frustação em


resposta ao silêncio estúpido de Dante.

— Estão todos mortos, senhor! — Ele diz, e assim que eu processo a


informação, eu sinto algo dentro de mim aquecer e ferver. — O caminhão
foi interceptado, e a carga... é uma pilha de corpos!

— E como isso foi acontecer em nosso território!? — Rosno, cerrando


os meus punhos e batendo com força na porta que estava em minha frente.
— Eu acho bom que o motorista desse caminhão esteja sendo muito bem
tratado... porque quando eu colocar as minhas mãos nele, não vai sobrar
nada além de uma carcaça vazia e desmembrada! Encontre a família dele,
parentes próximos, cachorro, gato, qualquer maldito ser que esteja vivendo
às custas e sob a proteção desse desgraçado!

— Faremos tudo como desejar, senhor! — A voz séria de Dante se faz


presente de imediato do outro lado do telefone.

Passo a mão por meu cabelo desajeitadamente, colocando alguns fios


rebeldes para trás, em um gesto totalmente involuntário. Esse maldito
motorista havia traçado o seu destino, e também o da sua família. Me
desafiar era suicídio, e ultimamente, alguns homens estavam esquecendo
disso. Então, já estava na hora de refrescar as memórias esquecidas... e
mostrar o quão cruel o Don Campanaro pode ser com quem vai contra os
seus domínios.
— Acione o meu consigliere, eu quero ele no local o quanto antes! —
Informo sentindo a adrenalina começando a pulsar em minhas veias, me
despertando por completo. — Avise aos outros e prepare tudo para sairmos
em alguns minutos.

Sem esperar uma resposta de Dante, eu desligo a ligação e entro na


minha suíte, arremessando o aparelho celular de qualquer jeito na cama. Em
seguida, atravesso o cômodo e sigo na direção ao banheiro para tomar um
banho gelado. Antes do amanhecer, todos esses malditos estariam mortos,
em um fuzilamento em massa, ou de qualquer outra forma mais criativa e
divertida.

Depois de me vestir adequadamente, eu desço as escadas e sigo em


direção ao andar inferior, segurando em minhas mãos um envelope de cor
bege. Sem perder tempo, eu entro no elevador apressado, e em poucos
segundos, as portas metálicas se abrem, me dando uma visão ampla de toda
a garagem. A brisa fria da madrugada bate em meu rosto, bagunçando os
meus cabelos úmidos e trazendo consigo, o cheiro familiar de início de
manhã. Olho para os três veículos parados em fila e me aproximo de Dante.

— Mande entregar esse bilhete junto com o vestido que encomendei.


— Informo de maneira séria, entregando ao soldado o envelope que estava
em minhas mãos. — Reorganize a segurança, eu quero que metade dos
homens que iriam me acompanhar fiquem aqui!

— Sim, senhor! — O homem responde rapidamente, fazendo um breve


cumprimento com a sua cabeça e seguindo em direção aos outros soldados
que estavam no espaço.

Olho para os homens que estavam em suas devidas posições e analiso


cada um deles pacientemente, enquanto Dante preparava tudo. Passo o meu
olhar atento em suas posturas e um em especial me chama a atenção. Um
soldado de cabelos castanhos claros que havia passado despercebido por
mim na noite anterior. Observo a sua aparência por alguns segundos e me
aproximo, ficando bem a sua frente, tentando captar qualquer reação
evasiva em seu rosto e na sua expressão corporal.

— Qual é o seu nome soldado? — Pergunto, mantendo o meu olhar


frio sobre o dele. — Seu rosto não é familiar!

— Meu nome é Michael Davis. — O homem responde com a sua voz


firme, porém carregada de sotaque e eu quase posso sorrir com esse fato
suspeito. — Eu fui recrutado de uma das unidades de Florença, senhor.

— Então Michael... e esse sotaque? — Pergunto de maneira fria,


sentindo os meus instintos me alertarem sobre ele. — Americanos não
devem estar em meu território! Aliás, o que um soldado americano está
fazendo no meio dos meus seguranças pessoais?

— Eu sou um desgarrado! Eu estou a serviço da Camorra a bastante


tempo, em território americano. — O homem responde de imediato, sem
deixar dúvidas da veracidade das suas palavras, se ele estava mentindo, ele
era um bom mentiroso. — Eu sou um infiltrado da Camorra nos Estados
unidos, mas, por ordens de superiores, recentemente... a minha patente foi
alterada.

Realmente, essa informação era verdadeira, eu tinha um pessoal


selecionado e infiltrado em seus países de origem. Mas, algo nesse homem
me intrigava, os meus instintos não erram! Fuzilo o seu olhar e analiso as
suas feições, buscando algo que o denunciasse, mas a sua serenidade ao
responder as minhas perguntas e o seu falso controle em manter as suas
reações intactas, mesmo sob pressão, cessaram as minhas dúvidas. Era bem
provável que ele era um dos infiltrados... Mas, por hora... eu não iria fazer
absolutamente nada!
Não estava na hora de causar alarde, eu quero pegá-los de surpresa, um
inimigo próximo é muito mais útil do que um inacessível. Tudo tem uma
hora e um momento exato para acontecer, os movimentos e as estratégias
também... Olho para o chefe dos meus soldados e lanço um breve aceno,
indicando que estava na hora de partir e de resolver, de uma vez por todas,
esse novo problema.

— Você vem comigo soldado! — Informo ao americano, me afastando


e me aproximando de um dos veículos escuros. — A partir de hoje você faz
parte da minha equipe de segurança e não da equipe da minha esposa.

Sem esperar uma resposta da sua parte, eu entro em um dos carros e


aguardo o som dos motores roncarem, indicando a saída dos mesmos. Os
homens que ficaram logo voltam aos seus postos e os outros se organizam
rapidamente, entrando em seguida, nos veículos blindados. O som rouco e
grave do arranque dos carros se faz presente no espaço, e imediatamente, eu
pego o celular no bolso da minha calça social e acesso as fotos dos arquivos
mais recentes.

As imagens das novas mulheres selecionadas estampam a tela do meu


aparelho, todas elas eram jovens e algumas provavelmente nem falavam o
nosso idioma. Deslizo o meu dedo sobre o touch e observo as moças
atentamente, selecionando-as para cada clube noturno distinto. A maior
parte delas estavam vestidas com lingeries provocativas ou peças íntimas
minúsculas, que mais mostravam os seus corpos do que cobriam.

A maior parte do nosso lucro era proveniente das boates de luxo, ou


seja, da prostituição. O nosso mundo era bem criativo nos meios lucrativos,
eu devo confessar! Como a maior parte do nosso público era masculino,
colocar uma infinidade de meninas seminuas dançando, criar leilões com
elas ou vender as suas virgindades, eram métodos infalíveis de
encher os caixas com dinheiro sujo.

Passo a maior parte do percurso analisando e distribuindo as garotas


para seus novos ambientes de trabalho e praticamente, eu só finalizo esse
serviço quando eu sinto o carro desacelerar e frear sutilmente. Coloco o
celular no bolso e aguardo o sinal de um dos meus seguranças, informando
que o local estava seguro. Assim que recebo a confirmação, eu saio do
veículo, ajeitando e fechando o botão do meu paletó.

Olho ao meu redor e analiso o terreno aberto, o matagal descuidado


estava alto e na primeira passada, eu sinto os galhos secos grudarem no
tecido fino da minha calça. O local que na maioria dos seus dias era deserto
e inabitado, hoje, estava repleto de homens e de veículos estacionados de
qualquer maneira. Fito o maldito caminhão que estava parado próximo ao
galpão e me aproximo, com passos decididos e certeiros.

Os homens que estavam conversando entre si, logo se calam, quando


percebem a minha aproximação silenciosa. Lorenzo e alguns outros
soldados estavam olhando para dentro da caçamba do caminhão, e não
demora muito para o cheiro de carne podre, em estado inicial de
decomposição, chegar em minhas narinas. Já totalmente acostumado com o
odor pútrido, eu dou mais alguns passos na direção da traseira do veículo
pesado e observo a pilha de corpos jogados.

Analiso as feições pálidas e vazias, as pessoas estavam umas em cima


das outras, como se fossem arremessadas de qualquer maneira para caber
dentro da caçamba. Os corpos estavam nus e em cada pessoa havia um
corte específico e preciso na região abdominal, que formava um quadrado
perfeito, fazendo com que a pele mole caísse para o lado e revelasse o
interior... completamente vazio e oco. Eles foram abatidos como animais,
explorados até depois de mortos.

Passo o meu olhar pelas mulheres e nas poucas crianças que estavam
ali, e é impossível não notar, as diversas marcas arroxeadas que estavam
espalhadas pela região do rosto, dos braços e das coxas. É óbvio que o fato
da carne estar apodrecendo destaca mais os hematomas, mas é muito difícil
passar despercebido as escoriações e as visíveis surras que esses indivíduos
foram submetidos.
Aquela cena era ultrajante! Mas, não no sentido dos corpos desovados
estarem empilhados de uma maneira desumana e sanguinária, e sim, no ato
de desafio... Isso era claramente um ato afrontoso de um adversário que
estava disposto a me contrariar... Sinto os meus músculos reagirem
imediatamente e a adrenalina pulsar em minhas veias, em resposta a
imagem que estava estampada em minha frente.

Isso era sujo demais! As minhas ordens são claras e explícitas e eu


odeio desobediência! Sem um pingo de paciência e de autocontrole, eu
deslizo o meu olhar gélido e cruel para o filho da puta ajoelhado no chão,
que estava sendo contido por dois soldados. Olho para a minha blusa de
tecido claro, e tenho a certeza, que quando acabar com esse desgraçado, eu
vou jogá-la fora, por estar imunda e totalmente banhada no sangue desse
verme.

— Quem é esse homem? — Rosno, cerrando os meus dentes em cada


palavra pronunciada, em uma demonstração clara do meu descontrole. —
Ele é o motorista?

— Não sabemos as suas intenções, senhor! Mas foi ele que trouxe o
caminhão até aqui. — Um dos diversos homens responde, mas sou incapaz
de tirar os meus olhos do infeliz a minha frente. — O nosso motorista foi
morto e está entre os corpos empilhados e ele também foi desovado!

— EU JÁ DISSE UMA VEZ E REPITO! — Esbravejo furioso,


olhando para todos os homens ao meu redor, para deixar bem claro as
minhas intenções. — A CAMORRA NÃO CONTRIBUI PARA A PORRA
DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS!
Lanço novamente o meu olhar para o verme ajoelhado e capto o seu
semblante apavorado, e isso é o suficiente para fazer com que um sorriso
divertido apareça em meu rosto. Passo a mão no bolso interno do meu
paletó e retiro uma adaga de lâmina ondulada, com o cabo adornado com
várias caveiras douradas. A peça de aparência antiga era composta com
alguns botões retráteis em seu interior que a transformavam em um
verdadeiro artefato infernal.

Com habilidade, eu giro o objeto cortante em meus dedos e seguro na


ponta da lâmina amolada, entregando a adaga ao homem que estava mais
próximo a mim. O homem rapidamente segura o artefato e faz uma breve
reverência em concordância, entendendo as minhas intenções. Me afasto
um pouco e lanço o meu olhar sobre o desgraçado que ainda estava com a
cabeça abaixada. Eu não vou tocar nele, pelo menos não agora, por
enquanto vamos ter apenas uma conversa cordial.

— VOCÊS CONHECEM AS REGRAS! — Falo e assim que termino a


frase, eu bato um dos meus sapatos no chão, dando as ordens
silenciosamente aos meus homens. — A MINHA PALAVRA É LEI, E SE
EU DIGO QUE A CAMORRA NÃO COLABORA COM O TRÁFICO DE
ÓRGÃOS, É PORQUE ESTAMOS FORA DESSA MERDA TODA!
QUEM FOR PEGO DESACATANDO-AS VAI SER MORTO DA
MESMA MANEIRA QUE ESSE VERME!
Em resposta ao meu movimento sútil, que passou despercebido pelo
homem ajoelhado, o soldado que estava com a adaga em mãos, se aproxima
e enfia toda a lâmina na lateral da barriga do homem, fazendo com que o
seu grito esganiçado se propague pelo espaço aberto. Aguardo
pacientemente os gemidos do homem cessarem, para repetir o mesmo
movimento com o pé, e assim que finalizo a batida do solado com o chão, o
soldado retira a adaga ondulada do corpo do miserável, trazendo consigo
pele e resquícios das suas entranhas.

— Está sentindo os espinhos retráteis da adaga? — Pergunto ríspido,


sabendo muito bem que ele estava sentindo na sua pele e na sua carne, as
dilacerações brutais causadas pelo objeto cortante. — Eles são acionados
assim que o cabo da adaga se choca com alguma superfície, e nesse caso,
essa superfície é a sua carne! O estrago acontece quando esses espinhos
cravam nos seus músculos... e aí... eles não só perfuram e estraçalham tudo
que estiver ao seu redor, como também, ele trava! E quando ela é arrancada
do seu corpo, ela traz consigo todos os pedaços de tecidos que estavam
presos nesses espinhos.

— Eu nã...o vou di...zer nada, seu mise...rável! — O prisioneiro cospe


as palavras, se engasgando entre os seus próprios grunhidos. — Seu
des...graçado...

— E quem disse que eu quero que você fale? Eu não quero nomes, eu
não quero informações... eu só quero te causar dor! — Falo com
sinceridade, repetindo os comandos com o meu pé, fazendo com que mais
duas apunhaladas acertem o seu corpo, formando uma melodia harmoniosa,
unindo os seus sons engasgados e grotescos com o som do ferro se
chocando contra a sua carne. — Está vendo aquele maldito caminhão que
você trouxe!? Você vai receber o mesmo destino que aquelas pessoas, mas
não espere que eu seja tão cuidadoso quando eu arrancar o seu fígado... ou
quando eu arrancar o seu coração... porque eu não vou ser!

Olho para o semblante pálido e agonizante do prisioneiro, e sem


nenhum arrependimento, eu dou mais três batidas discretas com a sola do
meu sapato no chão, trazendo novamente, a melodia harmoniosa aos meus
ouvidos. Os urros e os sons animalescos que saiam da sua boca
combinavam perfeitamente com os meus movimentos, indicando que
estávamos em perfeita sincronia, como se tudo fosse perfeitamente
cronometrado.
O verme imundo estava em um estado deplorável, a sua camisa estava
banhada em sangue e em secreções espessas que saíam de dentro dos
buracos das perfurações, e todo esse sofrimento que ele estava passando...
era pouco! Os grunhidos que agora escapavam da sua boca eram ruídos
engasgados, um som abafado que se misturava com a sua baba e com a sua
saliva, e era um sinal claro, que a sua consciência estava perdendo para o
cansaço e para as limitações do seu corpo.

— Você vai ter o mesmo destino deles, miserável! Olhe para eles! —
Me agacho ao seu lado e agarro o seu maxilar, virando o seu rosto com
brutalidade na direção do caminhão, sem me importar de deixar a sua saliva
cair na manga do meu paletó. — Eu vou abrir a sua barriga da mesma
forma que abriram a deles, para expor toda a merda que está dentro de
você! Mas, ao contrário desses infelizes, você vai estar bem lúcido para ver
tudo isso, eu vou amarrar você com os braços para cima e a sua cabeça vai
estar presa para você ser obrigado a olhar para baixo... para você ver o
momento exato que os seus órgãos, em especial o seu intestino grosso... vão
saltar para fora da sua barriga. E antes do seu corpo morrer de hemorragia
ou do seu cérebro entrar em colapso, pelo corte enorme e pela dor extrema,
a última imagem que vai estar cravada em sua memória, vai ser dos seus
intestinos pulando para fora da sua pele flácida.

Sinto o seu corpo tremer sob o meu agarre, como se imaginar essa cena
em sua cabeça fosse o suficiente para o seu corpo entrar em colapso. Aperto
com mais força o seu maxilar, fazendo com que os meus dedos afundem em
suas bochechas e o seu olhar amedrontado encontre o meu. Sinto os seus
espasmos involuntários e olho para a poça de sangue que já se formava ao
seu redor, me alertando que a nossa conversa divertida teria que ser
prorrogada para outro momento.
— Por fa...vor... — Ele implora, fazendo com que o meu sangue pulse
com mais intensidade dentro de mim, trazendo com isso, o meu pior lado à
tona. — Eu só si...go ordens...

Eu odeio quando as pessoas apelam para o meu lado sentimental, eu


não suporto quando elas imploram, porque não existe nada dentro de mim
que me faça voltar atrás quando eu começo a torturar! O destino desse
miserável já estava traçado, ele mesmo se condenou, se ele estava disposto
a servir a um chefe sem escrúpulos e mesquinho, ao ponto de desacatar as
minhas ordens, ele teria que ter culhões para aguentar as consequências dos
seus atos. Apelar por piedade só fazia com que a sua morte se distanciasse
mais e se transformasse em um sonho distante.

— Fique calmo! Porque nada disso vai acontecer agora, antes você vai
sofrer mais um pouco. — Cuspo as palavras, sentindo o ódio se apoderar de
mim e percorrer as minhas entranhas de uma maneira obscura. — Esses
ferimentos vão infeccionar, o seu corpo vai começar a lutar para tentar se
salvar, e nossa... como eu adoro isso! Porque a dor de um corpo entrando
em estado de rejeição é muito mais alucinante do que a dor cortante de uma
lâmina afiada. E claro, você não vai morrer antes de ver a sua mulher e os
seus filhos serem abatidos!

Solto o seu maxilar e me levanto com destreza, ouvindo um soluço


engasgado escapar da sua garganta. Me afasto sem olhar para o verme
jogado no chão e o meu olhar novamente recai sobre a pilha de carcaças
vazias dentro da caçamba do caminhão. Além de todos esses que já estavam
mortos, esse desgraçado também condenou outros inocentes, a maldita
família!

Sinto o meu sangue pulsar e a adrenalina ditar os meus movimentos, e


em um gesto involuntário, eu cerro os meus punhos e avanço novamente na
direção do miserável que já agonizava no chão. Mas, antes que eu
alcançasse ele, eu sinto uma mão pesada segurar o meu braço, e no mesmo
instante, eu olho na direção do infeliz que teve a ousadia de me impedir. O
rosto carregado de expressões era familiar e bastante conhecido, era o
Lorenzo. Fito o seu olhar de repreensão e a sua cara de desaprovação e
puxo o meu braço para me soltar.

— LEVEM ESSE MALDITO PARA A SEDE DA CAMORRA,


DIRETAMENTE PARA O SUBSOLO! — Grito, ordenando que os homens
sumissem da minha frente e me deixassem a sós com o meu consigliere. —
DEIXEM ELE SE RECUPERAR UM POUCO, MAS SEJAM
CRIATIVOS NA HORA DE PRENDÊ-LO, ESSE DESGRAÇADO TEM
QUE SE ARREPENDER DE TER VINDO ME DESAFIAR!

Os soldados rapidamente obedecem, alguns seguem na direção dos


veículos e os outros preparam e levam o homem desmaiado embora,
arrastando o seu corpo mole pelo mato áspero, sem se importar de agravar o
seu estado. Aguardo impaciente, esperando todos se afastem para
finalmente olhar para aquele velho atrevido, e no mesmo instante, eu seguro
a gola da sua camisa com as minhas mãos, fazendo com que o seu corpo
fique sob as pontas dos pés.

— Que filho da puta desorganizado você é! — Rosno, apertando o


tecido envolta do seu pescoço. — Eu passo uma noite fora e você fode com
a porra toda!
— Você deixou os seus seguranças com aquela mulher? — O velho
responde, ignorando as minhas acusações e sou obrigado a intensificar o
meu agarre. — Eu espero que você não esqueça quem você foi treinado e
criado para ser!

— Eu sei muito bem quem eu sou! Eu sei o monstro que eu me tornei!


Eu quero que você me responda! Eu te respeito Lorenzo, e não só por você
ter sido companheiro do meu pai, mas também, por ter conquistado a sua
posição dentro da máfia! — Informo ríspido, fitando os seus olhos atentos e
sentindo os nós dos meus dedos adormecerem com a força do meu aperto.
— Você é quem você é, mas eu estou pouco me fodendo se um ou menos
um, vai entrar na lista que vai me condenar ao inferno!

— Giovanni... recebemos informações que a sua cobertura foi atacada!


— O homem diz, e por um momento, eu não compreendo as suas palavras.
— Todos os homens que estavam lá estão mortos! Informaram também que
levaram a Serena!

Engulo em seco, tentando processar a informação e buscando de


alguma forma, me recuperar do impacto que aquelas palavras causaram
dentro de mim. Como assim atacaram a minha esposa? Invadiram uma
fortaleza... isso não era possível! Sinto o meu coração bater
descompassadamente e o som grave dos meus batimentos ecoarem em
meus tímpanos, me deixando atordoado. Eles vão matá-la! Eles não podem
tocar nela! Ela não!
— COMO VOCÊ SABE DISSO!? — Pergunto sacudindo o seu corpo
em um movimento brusco. — SE NÃO SOBROU NINGUÉM VIVO,
QUEM TE PASSOU ESSAS INFORMAÇÕES!

Fito o meu olhar no homem a minha frente e vejo o seu rosto vermelho,
as veias começando a aparecer em sua testa. Eu estava enforcando-o,
sacudindo o seu corpo em um gesto visivelmente desesperado. Mas eu
queria respostas, respostas para as informações incoerentes que chegaram
até mim. Vendo que o seu rosto estava começando a empalidecer, eu
afrouxo um pouco o meu aperto violento e ele logo começa a tossir
descontrolado, buscando oxigênio.
— Que droga Gio...vanni! — Ele diz, enquanto tosse e aperta o meu
braço, tentando se soltar do meu aperto. — O seu irmão foi te visitar hoje
cedo, e é óbvio, que ele encontrou todo o estrago e me ligou em seguida.

— Reze para que ela esteja viva! — Falo, sentindo o meu coração
acelerar e bater descontrolado. — Se eu encontrá-la morta, a primeira
pessoa que vou caçar e mandar para o inferno, vai ser você!
“ Eu não sei o que são sentimentos, e muito menos sei,
externar o que grita dentro do meu peito, mas os meus
atos refletem o que eu sinto por você. ”

A garota do batom rosa.

O maldito caminho até o apartamento parece uma eternidade, os


minutos parecem horas, e era tempo o suficiente para a minha mente
criar situações diversas para as informações que havia chegado até mim.
Eles não podem ter levado ela, eles não podem machucá-la. Passo as mãos
em meus cabelos pela milésima vez desde que entrei dentro do carro,
externando em meus movimentos, a minha preocupação. O caminhão fazia
parte do plano! Aquela carga era uma porra de uma distração!

Toda aquela encenação foi apenas uma isca para me afastar da


cobertura, e tudo já fazia parte do esquema, onde o alvo principal era
Serena! Eles vão usá-la contra mim... eles não podem tocar nela, porque ela
já é minha! Cerro os meus punhos e me recordo das suas cicatrizes, que
demonstravam o quanto ela já estava machucada. Eu não vou permitir que
ninguém mais a faça sofrer! Eu jurei protegê-la e cumprirei a minha
promessa! Eu já estava totalmente preso a minha esposa e me sentia na
obrigação de cuidar dela.
Eu sempre blindei os meus sentimentos e sempre me mantive frio e
impassível com todas as pessoas durante toda a minha vida. Eu sempre
segui as regras com maestria, sem questionar e sem hesitar como um bom
Don deve ser. Mas, Serena tinha conseguido entrar dentro de min, em pouco
tempo, ela conseguiu o que ninguém jamais foi capaz de fazer, me
despertar... Eu não sei se era os seus olhos, o seu jeito arredio, o seu
perfume... ou a sua língua afiada, mas aos poucos, ela entrou dentro de
mim... ela me conquistou com o seu espírito selvagem e indomável!

E no próximo segundo, eu sinto o carro brecar com brusquidão,


alertando que havíamos chegado no edifício. Sem me importar de estar
quebrando os requisitos da minha segurança, eu saio do veículo apressado e
já me deparo com alguns corpos. Olho os meus homens jogados no chão e
uma nova onda de fúria começa a crescer em meu interior. Os seguranças
que ficaram estavam jogados no chão, todos eles foram abatidos com um
tiro certeiro na testa e imediatamente, eu sinto um nó se formar em minha
garganta.

Esse lugar era uma fortaleza, ninguém deveria chegar até esse ponto do
prédio, houve ajuda interna com certeza! Só existem duas pessoas que
poderiam ter confidenciado a minha localização, ou foi o Lorenzo ou o
Luigi. Um dos dois estava me traindo, e eu me recusava a acreditar que o
meu irmão, que cresceu comigo, poderia planejar algo tão minucioso ao
ponto de desobedecer às minhas ordens. Por outro lado, eu não posso
ignorar a sua presença suspeita em um ataque como esse.

Entro no elevador e pressiono os botões com rapidez, observando


alguns respingos de sangue no carpete do elevador. Eu nunca fui um
homem impulsivo, mas a única coisa que se passava na minha cabeça
agora, nesse exato momento, era em acabar de uma vez por todas com a
angústia que estava crescendo em meu peito. Um sentimento esquisito de
vazio, uma sensação ruim de não saber o que havia acontecido realmente e
o fato de que talvez, eu não tenha chegado a tempo de salvá-la.

As portas metálicas se abrem e revelam o caos que estava na sala de


estar do meu apartamento, e não consigo evitar o desespero em encontrá-la.
Ando pelo carpete com agilidade, buscando algum vestígio e algum sinal da
minha esposa entre os corpos almejados. O sangue expelido se espalhava
por todo o chão da sala, se misturando com os vários cartuchos de bala que
estavam espalhados de maneira desordenada, mostrando a inexperiência do
atirador. Foi preciso descarregar um pente inteiro para matar esses dois
miseráveis! Foi ela! Serena matou esses homens!

Observo o vestido vermelho jogado no chão, a peça que eu tinha


escolhido para hoje à noite estava parcialmente embebida em sangue, se
misturando entre os estilhaços de vidro temperado. Eu vejo Luigi de
soslaio, mas ao mesmo tempo, ele não está ali! Porque o meu maior
objetivo é encontrá-la no meio dessa cena caótica que se tornou a minha
sala de estar, e só de imaginar a minha menina no meio dessa destruição, o
meu coração dispara agoniado.

O que poderia ter acontecido? Corro o olhar pelo ambiente, buscando


alguma pista ou algum vestígio da sua presença, e o primeiro lugar que os
meus olhos caminham e percorrem, é a escadaria ensanguentada. Por um
segundo, eu sinto a minha garganta dar um nó, fazendo com que um bolo se
forme, me impedindo de engolir a minha própria saliva. Sem hesitar, eu
subo os degraus com rapidez e com pressa, seguindo a trilha de sangue e
torcendo mentalmente, que aquele líquido grosso que estava sendo
derramado em tamanha quantidade, não fosse dela. Ouço os passos
silenciosos de Luigi bem atrás de mim e a sua presença familiar me
acompanha durante todo o percurso.

— Deixe o carro preparado para chegarmos a emergência do hospital


mais próximo! — Ordeno grosseiramente, entrando dentro da minha suíte e
constatando que a trilha de sangue seguia em direção a porta do banheiro.
— Ela está ferida! Seja rápido!

Forço a maçaneta com brusquidão e percebo que ela está trancada do


lado de dentro do cômodo. Droga! Luigi desce rapidamente sem me dizer
nada, só confirmando que ele também estava tenso com a situação. Forço
novamente a fechadura da porta e não obtenho sucesso, e de imediato, a
adrenalina percorre as minhas veias, fazendo com que os meus músculos
fiquem rígidos e tencionados. Muitas teorias passam pela minha cabeça, e
em todas elas, eu vejo Serena morta. Se aqueles desgraçados ousaram tocar
nela... as coisas iriam fugir do controle!

— SERENA! — Grito, querendo escutar a sua voz suave do outro lado


da porta. — SERENA!

Sem esperar uma resposta do outro lado, eu chuto a porta do banheiro


com força, arrombando-a com brusquidão. O primeiro lugar que os meus
olhos alcançam é o box, e nesse momento, eu percebo que não estava
preparado para ver a cena que estava diante de mim. Eu sempre fui
imparcial, ninguém em minha vida era importante ao ponto de me fazer
reagir de outra maneira, mas ver Serena jogada no piso úmido, deitada em
uma poça de seu próprio sangue... fez com que o meu coração disparasse.

Me aproximo do seu corpo desfalecido e me ajoelho ao seu lado,


Serena estava deitada com a cabeça apoiada no piso, os seus olhos estavam
fechados e a sua boca estava semiaberta. Toco em seu rosto suavemente,
deslizando os meus dedos por sua pele macia, acariciando e querendo de
alguma forma captar alguma reação da sua parte. A sua pele fria contrastava
com a minha, os seus lábios que antes eram rosados, estavam secos e
arroxeados, denunciando o seu estado.

— Serena! Serena! — Digo, segurando o seu rosto com as minhas duas


mãos e apoiando a sua cabeça em minhas coxas, sem me importar de estar
me melando com o seu sangue. — Minha menina, acorde !!

Insisto em chamá-la, mas não houve resposta, então, eu começo a


analisar a sua situação. Apesar de estar inconsciente pela perda de sangue, a
sua respiração se mantinha regular, e por instinto, eu aperto o seu pulso,
buscando a sua pulsação fraca. Observo a quantidade de sangue que estava
nos rodeando e o meu olhar recai para o seu abdômen, e logo a minha
atenção se volta para a amarra improvisada que rodeava a sua barriga,
estancando a gravidade do seu ferimento.

Imediatamente, eu sinto algo dentro de mim gelar e uma sensação


inquietante se apoderar de todo o meu ser. Sem retirar o objeto improvisado
que estava preso em sua barriga, eu toco em seu abdômen, analisando o seu
ferimento. Deslizo a minha mão com suavidade até o cinto que estava
prendendo o pano em volta da sua barriga, para me certificar que o seu
corte já estava estancado, e durante esse processo doloroso, eu ouço um
gemido quase imperceptível escapar por entre os seus lábios.

Fito o seu rosto e percebo os seus olhos abrindo com dificuldade,


revelando o seu olhar distante e as suas pupilas dilatadas. Sem desviar a
atenção dos seus olhos confusos, eu ergo o seu corpo leve junto ao meu
corpo, e o meu movimento, apesar de cauteloso, faz com que escape dos
seus lábios um grunhido de dor. E esse maldito som agonizante, que
denuncia toda a sua dor, me atinge da mesma forma que uma apunhalada
nas costas, e antes que ela tentasse falar algo eu a interrompo.
— Shhhh, calma! — Digo, enquanto eu ajeito o seu corpo em meus
braços, para deixá-la mais confortável. — Você vai ficar bem!

— Sinto tanta saudade... — Ela diz em um fio de voz, deixando


escapar uma lágrima solitária que escorre por sua bochecha. — Tanta
saudade...

— Serena... olhe para mim! Não durma! — Ordeno, acariciando a pele


macia das suas bochechas e tentando de alguma forma mantê-la acordada.
— Me obedeça pelo menos uma vez na vida! Fique acordada!

— Giovanni me deixa ir por favor... deixa eu ser feliz pelo menos uma
vez... — Ela sussurra em meu peito, parando para tomar fôlego e gemendo
durante todo o processo. — Deixa eu ver o meu irmão... eu estou com tanta
saudade...

As suas palavras sinceras e dolorosas me atingem de uma maneira


estranha e um sentimento que não me perturbava a muito tempo veio à
tona! O medo... o medo de perdê-la... Ajeito a sua posição em meu colo e
seguro o seu rosto pálido com uma das minhas mãos, fitando os seus olhos
cintilantes, que antes expressavam toda a sua fúria e toda o seu espírito
indomável, e que agora, estavam totalmente sem brilho, sem a sua luz!

— Olhe para mim... e veja o estrago que você fez! — Falo com
sinceridade, mantendo o meu agarre firme em seu rosto, obrigando-a a me
encarar. — Eu não posso deixar você ir! Eu não posso deixá-la, porque você
foi feita para mim!

E eu fui verdadeiro em cada palavra, eu não podia permitir que ela


morresse, não depois do que ela havia feito comigo! Ela entrou sem pedir
licença, mudando todos os meus planos e eu não a deixaria sair da minha
vida assim... Sem esperar qualquer resposta sua, eu pego Serena no colo e
saio rapidamente em direção ao carro, descendo os degraus com cuidado
para não agravar o seu sangramento.

Atravesso o apartamento e chego até o carro sem prestar a atenção em


nada ao meu redor, eu estava atônito, totalmente entorpecido pela
adrenalina do momento, focado na mulher que gemia e vagava entre a
semiconsciência em meu colo. Luigi já tinha repassado as minhas ordens e
não havia razão para repeti-las novamente, então, eu entro no veículo e
mantenho Serena em meu colo, apoiando com cuidado o seu rosto em meu
peito e torcendo para que chegássemos logo.
Tudo parecia caminhar rápido e lento demais ao mesmo tempo, o
trajeto até o hospital parecia demorar mais do que o normal, e o meu
coração batia descompassado, causando uma sensação estranha em meu
interior, que era totalmente nova para mim. O meu dever sempre foi matar e
torturar pessoas, e não salvá-las! Aliás, eu nunca quis salvar alguém... até
ela aparecer.

— Serena, acorde! — Chamo o seu nome, enquanto o seu corpo era


apenas um peso morto em meus braços. — O que fizeram com você, bella?

Olho para o seu rosto e toco no pano que estava amarrado em sua
cintura, e no mesmo instante, eu sinto a umidade do local, e quando eu olho
para a palma da minha mão, eu vejo o sangue escuro estampar em minha
pele. Provavelmente, o balanço do veículo e movimento do trajeto
magoaram o seu ferimento, e por instinto, eu pressiono o local com a minha
mão livre.

— O seu cheiro é tão bom... — Ouço a sua voz suave e acaricio os seus
cabelos melados de sangue. — Eu deveria odiar você... eu tinha que odiar...
mas eu não consigo Giovanni... mesmo depois de você ter me machucado
tanto...
— Você sabe que eu sou incapaz de machucá-la. — Sussurro próximo
ao seu ouvido, sentido o cheiro de sangue invadir as minhas narinas. — Por
mais que eu me esforce, eu não consigo te ferir!

A perda excessiva de sangue estava fazendo com que ela delirasse, mas
só em ouvir a sua voz, mesmo que em um murmúrio, era simplesmente um
alívio. Os seus olhos estavam entreabertos e os meus dedos passeavam por
seu rosto, fazendo pequenas carícias. Ela estava visivelmente sonolenta,
mas não era falta de sono, e sim, consequência da hemorragia.

— Eu estou com frio... — Ela geme, e eu sinto o seu corpo estremecer


em meus braços, me alertando de imediato que isso não era um bom sinal.
— Eu tenho medo... medo do que eu sinto por você... medo de me
apaixonar pelo homem que matou o meu irmão...

— Eu não matei o seu irmão, Serena! — Confesso bem próximo a sua


orelha, abraçando o seu corpo contra o meu, querendo aquecê-la. — Você
acha que eu gosto de matar crianças? Eu não sou tão extravagante, bella!

— Ben você não pode me deixar... de novo não... — Ela choraminga


em meu peito, gemendo dolorosamente. — Eu te imploro para não me
deixar... eu já não tenho mais ninguém...

Sinto os meus músculos ficarem tensos com as suas palavras, ela estava
delirando, misturando a realidade com alguma lembrança do seu passado
desconhecido. A sua dor me afetava... e cada vez mais, eu me convencia
que estava louco! Completamente louco! Ela se remexe no meu colo
agoniada, mergulhada e envolvida em alguma memória ruim que a
atormentava.

— Sou eu, Serena! — Falo um pouco mais alto, beijando a sua testa,
tentando de alguma forma, trazê-la de volta a realidade. — Minha menina,
não é real! Não é real!

— Giovanni? Porque eu sinto essas coisas estranhas quando estou com


você? — Ela sussurra baixinho, com a sua bochecha encostada em minha
camisa suja de sangue. — Toda vez que eu escuto a sua voz... as minhas
pernas tremem. Eu gosto quando você me toca... eu gosto dos seus beijos...
mas eu sei que você está só brincando comigo...
Mesmo estando nessa situação, eu sorrio com a sua confissão
involuntária, essa era a confirmação que eu queria ouvir, a certeza que ela
também estava se perdendo. Serena também sentia a atração surreal que nos
rodeava, mas ela ainda relutava contra os seus sentimentos, lutava contra a
enxurrada avassaladora de sensações que nos envolvia e arrebatava.

— Você acha que eu estou brincando com você, bella? — Pergunto,


sentindo a sua cabeça balançar sutilmente em um gesto de confirmação. —
Acredite... eu não sou um homem de brincadeiras! Eu gosto e me importo
com você mais do que eu deveria! Esses seus olhos cintilantes me
enfeitiçam... me deixam louco, Serena!

Ela permanece em silêncio e imóvel em meu colo, e logo passa em


minha cabeça, a possibilidade da minha esposa ter desmaiado de exaustão.
Observo a sua respiração regular e me tranquilizo um pouco, sabendo que o
seu corpo estava lutando contra a hemorragia. Suspiro pesadamente,
sentindo as minhas mãos suadas e o meu coração bater descontrolado. Esses
desgraçados vão pagar... assim que Serena estiver fora de perigo, eu vou
atrás de cada um dos vermes que ousaram me enfrentar.

Sinto o carro frear bruscamente, e finalmente, eu vejo a entrada da


emergência do hospital. Cada minuto era essencial para salvar a vida da
minha esposa e eu não iria falhar em salvá-la, eu não poderia! Saio com
Serena desacordada em meu colo e vejo uma equipe médica nos esperando,
estava claro que Luigi já tinha providenciado todos os tramites.

Me aproximo dos homens com Serena completamente apagada em


meus braços, e rapidamente, os enfermeiros tiram ela do meu colo,
colocando-a em uma maca, levando-a para dentro do prédio em seguida.
Me coloco imediatamente ao seu lado, tentando acompanhar os
procedimentos, segurando as barras laterais metálicas com força. Um dos
homens coloca uma máscara de oxigênio no rosto de Serena e as vozes ao
meu redor começam a ficar distantes.
— A pressão dela está caindo! — Uma mulher fala bem próximo, mas
eu sou incapaz de identificar a dona da voz. — A pressão está caindo!

Uma médica se aproxima e começa os primeiros socorros, checando os


sinais vitais de Serena que permanecia desmaiada. Chamo o seu nome em
meio ao caos que se formava ao nosso redor, querendo de alguma forma,
mostrar que eu estava do seu lado. Um dos homens corta o cinto que estava
envolvendo a sua cintura fina e retira os panos ensopados de sangue,
revelando a gravidade do corte profundo.

— Paciente do sexo feminino, entre vinte e vinte cinco anos, com


hemorragia severa. — O homem que estava avaliando o ferimento informa
apressado, avisando aos outros que arrastavam a maca pelos corredores
espaçosos. — Com pressão baixa de sete por cinco.

Acompanho a movimentação até chegarmos em uma porta dupla, e


logo, eu sinto uma mão empurrar o meu peito, fazendo com que eu me
afaste de Serena, perdendo-a de vista. Olho para a mulher na minha frente e
busco respostas em seu olhar, mas eu estava perdido, completamente
atordoado em constatar a gravidade do seu ferimento. Passo as mãos em
meu cabelo, visivelmente nervoso, ignorando o fato de estar melando os
meus fios lisos com sangue.

— O senhor não pode nos acompanhar! Ela precisa de atendimento! —


A mulher repete, e dessa vez, eu consigo entendê-la. — Nos deixe fazer o
nosso trabalho, assim que tivermos informações, avisaremos!

Afirmo com a cabeça, me sentindo perdido no meio daquele corredor


imenso. A mulher percebe o meu estado e me lança um sorriso amistoso,
adentrando a porta e sumindo do meu campo de visão. Eu não queria sair
dali, eu não queria deixá-la! Eu queria ficar ao seu lado, segurando a sua
mão até ter a certeza de que tudo ficaria bem, mas, eu entendia que a
médica estava certa, era fundamental que Serena fosse atendida e que
recebesse todos os devidos cuidados.

Saio andando pelos corredores frustrado, com uma sensação sufocante


em meu peito. Depois de um tempo vagando pelo hospital, eu me sento em
uma das várias cadeiras da sala de espera e olho para as minhas mãos sujas,
aguardando notícias. A adrenalina já tinha passado, se dissipado das minhas
veias e os meus músculos já reclamavam pela tensão das últimas horas. Eu
precisava de um bom banho, porque eu estava completamente sujo de
sangue.

Sinto uma mão pesada tocar em meu ombro e fito o olhar aflito do meu
irmão mais novo. Suspiro pesadamente e repouso a minha testa em uma das
minhas mãos, completamente exausto. A espera por notícias era
enlouquecedora, e para ser sincero, eu não sabia dizer quanto tempo havia
se passado desde que eu entrei naquele maldito carro, parecia que eu estava
preso em um universo paralelo, acorrentado em uma realidade bem
diferente da minha.
— Fique calmo, Giovanni! Ela é jovem, Serena tem toda uma vida pela
frente para viver ao seu lado, irmão! — Luigi diz, se sentando ao meu lado.
— Ela vai se recuperar! Se ela sobreviveu aquele pai que ela tinha, ela
sobrevive a qualquer coisa!

Processo as suas palavras e tento de alguma maneira digeri-las, mas era


praticamente impossível! A minha cabeça latejava e eu não estava com a
mínima paciência para pensar naquele desgraçado, e muito menos, na
porra do traidor que estava envolvido nesse atentado. Essa questão seria
resolvida em outro momento... quando tudo estivesse em ordem novamente.
— Boa noite, senhor Campanaro! — Um médico mais velho e um
antigo conhecido nosso se aproxima, estendendo a sua mão. — A sua
esposa é uma mulher muito forte e determinada.

— Como ela está, doutor!? — Pergunto aflito, me levantando de


imediato da cadeira, ignorando as formalidades do homem de jaleco. — Ela
está bem?

— A paciente está estável, ela está descansando no momento por causa


do sedativo. Conseguimos conter o sangramento e já suturamos o corte. —
O homem fala tranquilamente, checando algumas informações em sua
prancheta. — A sua esposa perdeu muito sangue e foi necessária uma
transfusão sanguínea, entretanto, precisamos aguardar para saber como o
seu corpo vai reagir aos procedimentos.

— Se certifique que essa informação se mantenha em sigilo absoluto!


Eu odiaria saber que você ou a sua equipe quebrou as regras do nosso clã.
— Informo, mantendo o tom pacífico da minha voz. — Eu posso vê-la?

— Não se preocupe quanto a isso, Don. O meu pessoal já está ciente


das consequências. — O médico diz formalmente, sem deixar transparecer
em seu semblante qualquer reação negativa as minhas represálias. — Por
causa dos medicamentos, ela não deve acordar agora, e provavelmente, ela
ainda vai sentir algumas dores. A região do corte é muito sensível, mas
pode ficar tranquilo, a sua esposa é uma guerreira, ela vai reagir bem aos
medicamentos. Eu vou levá-lo até ela, me acompanhe por favor.

Olho rapidamente para Luigi que permanecia sentado, e o meu irmão,


apenas balança a cabeça silenciosamente, afirmando que havia entendido a
minha decisão. Então, eu sigo o médico pelos corredores, e depois de
alguns instantes, ele abre uma das várias portas, fazendo uma menção
discreta para eu entrar no cômodo. Adentro o quarto, sentindo o nervosismo
retornar para dentro de mim.
Olho para a minha esposa desacordada e para as suas feições
tranquilas, e sinto o peso da culpa me abater. Eu falhei em protegê-la! Era a
minha obrigação mantê-la a salvo! Me aproximo devagar do seu corpo
imóvel e observo os medicamentos que estavam sendo aplicados em suas
veias. O seu semblante estava mais tranquilo, os fios do seu cabelo escuro e
ondulado estavam espalhados pelo travesseiro de maneira desordenada.

— Eu falhei em protegê-la! Falhei em não ter conseguido evitar esse


incidente. — Digo, sentando na poltrona próximo a sua cama e tocando em
sua mão fria, sentindo a suavidade da sua pele macia. — Mas, acredite
bella... eu não vou falhar quando for atrás de cada um desses desgraçados.
“Você apareceu em um momento em que eu não estava
procurando ninguém, mas, mal sabia eu, que você era
tudo o que eu precisava naquele momento. ”

Autor desconhecido.

O meu corpo inteiro doía, as minhas pernas... os meus braços... a minha


cabeça... tudo estava dolorido. Tento me mexer, mas é em vão,
nenhum músculo me obedece. Parece que o meu corpo pesa o dobro do
peso e eu sou incapaz de movê-lo. Eu estava presa em uma nuvem escura e
nebulosa, a escuridão que me rondava era convidativa... era confortável... e
eu me entrego a ela, me deixando envolver.

Dor...

Escuridão...

Palavras distantes...

Onde eu estou? O que tem de errado comigo? Tento emergir da névoa


sufocante que me aprisiona, mas, mais uma vez, eu não obtenho sucesso.
Forço as minhas pálpebras a se abrirem, querendo desesperadamente me
localizar... buscar respostas do que realmente aconteceu... mas tudo era um
completo vazio... Eu queria lutar contra a força da neblina que me arrastava
para a inconsciência inerte, mas nenhuma parte do meu corpo responde aos
meus comandos, me deixando a mercê da dor e da confusão.

Dor...
Escuridão...

Palavras sussurradas...

A consciência me chama de novo, em mais uma tentativa de voltar a


realidade, mas tudo ainda era turvo e sem nenhuma nitidez... Sinto uma dor
aguda se espalhar por meu abdômen, indo se irradiar em meu ventre, e com
a intensidade da dor, eu sinto os meus pulmões falharem, buscando
desesperadamente oxigênio. Involuntariamente, eu tento levar as minhas
mãos até o local que latejava, buscando um pouco de alívio, mas o meu
corpo não corresponde aos meus movimentos. A dor era como uma fisgada
duradoura... era aguda... era latente... e eu simplesmente desisto de lutar
contra ela! O meu corpo estava totalmente esgotado... eu estava cansada...

Dor...
Escuridão...

Vozes confusas...

A dor que antes era alucinante agora estava mais amena, estava mais
suportável. O meu corpo ainda estava mole, exausto e relutava bravamente
em desobedecer às minhas ordens, mas pelo menos, aquela dor horrível
havia passado... Murmúrios estranhos chegam aos meus ouvidos, vozes ao
meu redor me confundem, e aos poucos, elas começam a fazer sentido, as
palavras se tornam mais nítidas e mais claras.

Eu não posso deixar você ir!

Eu não posso deixá-la, porque você foi feita para mim!


Por mais que eu me esforce, eu não consigo te ferir!

Eu não matei o seu irmão, Serena!

Era ele... era a voz dele... Sinto o meu coração falhar uma batida, e
logo, ele volta a palpitar descontrolado, descompassado. Eu queria falar...
eu queria responder... eu queria acordar... Era real? Ou era apenas um
sonho? Ele confessou... ele foi sincero... eu sinto a sua franqueza... o seu
desespero... a sua angústia... Ele estava sofrendo... ele se importava
comigo... sim... ele se importava...

Eu não matei o seu irmão, Serena!

A sua voz grossa era uma luz no meio da escuridão, onde o tempo era
infinito e vazio, mas as suas palavras me guiavam de volta para a realidade.
Sinto o seu toque em mim, dando vida a minha pele adormecida...
confirmando a sua presença... e abraço a escuridão sossegada, tranquila,
feliz... sabendo que ele estava próximo... que ele estava comigo...

Eu nunca precisei fazer isso, aliás, eu nunca quis falar sobre o que eu
sinto! Mas, a verdade? É que existe algo em você, existe algo no seu jeito
de ser, que me desarma! Não desista de mim... porque eu não vou desistir
de você!
Desperto com as suas palavras... sentindo a aspereza da sua barba tocar
o dorso da minha mão, deslizando suavemente por toda a extensão do meu
antebraço. Giovanni... ele está aqui... ele é real... não é um delírio... A sua
voz está carregada de culpa... sinto um frio em minha barriga... ele não
tinha culpa... não mais... Eu queria colocar para fora o que estava preso
dentro de mim... o sentimento sufocante que crescia em meu interior...

Eu não quero mais negar... na verdade, eu já não posso mais controlar o


que grita em meu peito... eu também o desejava. O meu corpo o
reconhecia... e eu odiava isso... mas, eu também amava... amava o que ele
despertava em mim... amava quando ele me acendia, mostrando que o meu
corpo ainda tinha vida... que ainda me pertencia... Eu queria realmente ficar
ao seu lado? Sim... eu o queria...

Tudo ao meu redor escurece novamente... a voz dele se torna distante...


o seu toque que antes era quente, se torna frio... A névoa turva e densa se
aproxima... e ela me arrasta consigo para o esquecimento... para o breu
desconhecido... para um lugar quieto e silencioso... Ainda incapaz de lutar
contra a onda avassaladora que insistia em me levar, eu me permito
descansar... sentindo de longe a presença masculina ao meu lado...

O barulho infernal do blip de algum aparelho eletrônico ecoa em minha


cabeça, causando uma dorzinha fina em minhas têmporas, que me obriga a
soltar um gemido de reprovação. Abro os meus olhos com lentidão,
tentando identificar o quarto escuro e com pouca claridade que me rodeava.
Viro o rosto vagarosamente e observo o homem que estava sentado na
poltrona ao lado da cama.

Giovanni estava dormindo, apoiando o seu rosto em uma de suas mãos


grandes, e com a outra, ele segurava a minha, entrelaçando os nossos dedos.
Ele parecia cansado... as suas feições eram inflexíveis e indecifráveis, mas
não escondiam a sua beleza. Fecho os meus olhos e os abro em seguida,
agradecendo por meu corpo finalmente obedecer aos meus comandos.

Sinto algo pressionar o meu rosto e para testar os meus movimentos, eu


tento levar a minha mão livre até o local, sentindo ainda, a moleza do meu
corpo. Com muita dificuldade, eu consigo retirar a máscara de oxigênio do
meu nariz, mas não consigo manter o peso do meu braço erguido por muito
tempo, deixando-o cair para a lateral do meu corpo em um movimento
brusco.

A força do movimento faz com que uma dor se espalhe em meu


abdômen, fazendo escapar dos meus lábios um grunhido de dor. O som
rouco chama logo a atenção do homem ao meu lado, e eu sinto o seu aperto
em minha mão se intensificar. E nesse instante, eu me recordo de tudo que
havia acontecido... a invasão ao apartamento... o russo... a luta... os
estilhaços de vidro... o Lorenzo... os tiros... o sangue...

— Obrigado! — Giovanni diz aliviado, levando a minha mão até os


seus lábios macios, e sem entender o seu agradecimento, eu franzo o cenho,
demonstrando a minha confusão. — Obrigado por não ter me deixado,
bella!

Sinto um breve sorriso se formar em meu rosto e fito o seu olhar


esverdeado, sentindo o impacto da sua beleza me atingir sem nenhum
pudor. Eu conseguia perceber em seus olhos claros, a sinceridade e a
veracidade das suas palavras. Ele beija a minha mão novamente e eu desço
o meu olhar para a sua camisa suja, percebendo só agora, o sangue seco na
sua roupa social. Giovanni tinha ficado ao meu lado o tempo inteiro...

— Eu escutei... — Sussurro, sentindo a minha voz sair embargada e


arranhada. — É verdade? Você não mandou matá-lo?

Vejo a surpresa passar por seu rosto rapidamente, dando lugar a outro
semblante em sua face, e um esboço de um pequeno sorriso surge em seus
lábios. Aguardo a sua resposta ansiosa, sentindo um frio atingir a minha
barriga. As palavras que iriam sair dos seus lábios seriam cruciais para
definir o que eu estava sentindo, seriam de extrema importância para guiar
as minhas decisões.
— Aquelas ordens não foram minhas! — Ele diz com veemência, se
aproximando e tocando o meu rosto com os seus dedos hábeis. — O seu
irmão não era uma ameaça para mim, ele nunca foi! Nunca esteve em meus
planos envolvê-lo.

Solto o ar que estava preso em minha garganta, sentindo o alívio me


dominar de imediato. Era como se ele tivesse tirado um peso das minhas
costas... um peso que me atormentava... mas, eu ainda estava dividida...
Uma parte de mim queria muito ouvir essas palavras... por outro lado, ele
tinha acabado de destruir todos os meus planos, me deixando sem um alvo!

Se Giovanni não estava por trás de tudo isso, outra pessoa estava... e
esse tempo todo, eu estava sendo manipulada como uma maldita marionete,
seguindo as pistas erradas. Levanto o meu braço e toco em seu rosto,
sentindo a aspereza da sua barba pinicar a palma da minha mão, em um
gesto silencioso de agradecimento. Os seus olhos claros estavam fixos em
mim, em cada movimento vagaroso que eu fazia, mantendo o seu olhar
atento em minhas reações.

Fito os seus olhos indecifráveis por alguns instantes, e pela primeira


vez, eu não vejo um inimigo em minha frente, e sim, um porto seguro. Eu
sei que ele disse a verdade... ele não matou o Benjamin... eu consigo
sentir... estava explícito em seu estado caótico, o quanto ele estava abatido
com o meu acidente, a ponto de deixar transparecer em seu semblante, a sua
angústia.

Giovanni é um homem frio, uma pessoa que já está acostumada com a


carnificina e com o cheiro da morte, desde pequeno eu imagino, afinal, os
chefes são criados assim... para serem monstros! Mas, eu não estava diante
de um monstro... pelo menos, não agora. Apesar dele esconder muito bem o
que sente, era perceptível a sua preocupação, era algo sútil, mas estava lá, e
essa era a maior prova da sua sinceridade.

Forço o meu corpo a se virar para deitar de lado, mas logo me


arrependo de tê-lo feito, porque a dor que se irradia no meu corpo se
intensifica, e de imediato, eu sinto os meus olhos arderem, avisando que eu
iria chorar. A dor era cortante... e um gemido doloroso escapa por minha
garganta, fazendo com que as lágrimas embacem os meus olhos, mas logo
Giovanni me interrompe com a sua voz grossa.
— Não faça mais esforço e não se preocupe com mais nada! Esse não é
o momento, minha menina! — Ele diz autoritário, passando as mãos em
meus cabelos bagunçados, em uma carícia genuína. — Nós vamos ter
tempo o suficiente para falarmos sobre isso depois.

Mordo o meu lábio inferior para suportar a dor e afirmo com a cabeça,
apreciando a sua massagem em meu couro cabeludo. Os seus dedos
adentravam as mechas do meu cabelo ondulado e trilhavam
desordenadamente um caminho relaxante entre os meus fios. Não demora
muito para o meu corpo começar a relaxar e para as minhas pálpebras
pesarem, e logo, eu sinto o sono me invadir sem nenhum pudor. Em pouco
tempo, os meus pensamentos cessam tranquilos, envoltos completamente na
névoa apaziguadora do cansaço.

Abro os meus olhos e sinto o cheiro forte do éter invadir as minhas


narinas, me recordando das péssimas lembranças da minha família, se é que
aquelas pessoas desprezíveis podem ser chamadas disso. O cheiro de
hospital era inconfundível e eu simplesmente odiava! Eu já tinha acordado
em uma cama de hospital... algumas vezes... e elas foram o suficiente para
me traumatizar.

Eu ainda era uma menina, uma criança que já conhecia as maldades do


mundo... O Ben ainda não tinha nascido, portanto, não existia nada e nem
ninguém que me importasse de verdade, que valesse a pena lutar. Eu não
tinha vontade alguma de sobreviver aquele inferno ao qual eu era
submetida! Fecho os meus olhos com pesar, sentindo o poder daquelas
memórias dolorosas, me recordando a todo o momento, do estado
deplorável que o meu corpo chegava na emergência.

O homem que se dizia ser meu pai, sempre valorizou a sua imagem
perante a sociedade que o rodeava, os seus espancamentos não poderiam vir
a público, a sua imagem tinha que ser sempre imaculada... pelo menos, a
sua relação com a sua esposa e filhos tinha que ser perfeita. E para o Maxell
chegar a me trazer em um hospital... era porque eu estava tão fodida e tão
mal, que o médico encarregado de cuidar da família não tinha os
suprimentos necessários para me manter viva.

Naquela época, eu já sentia o amargor dos abusos... as consequências


físicas e psicológicas de uma criança que era usada como um objeto sexual,
tratada como se não fosse ninguém! E por muito tempo, eu acreditei que
não era! Por muitos anos... eu alimentei esse pensamento. Serena Smith não
era nada! Eu acreditei que era apenas um ser insignificante! Eu nasci e
cresci para ser apenas um objeto inanimado, usado para dar prazer e
divertimento a um velho asqueroso e nojento.

Era muito difícil para mim confiar... dar um voto de confiança ao


Giovanni, sabendo que ele cresceu para comandar homens ardilosos e
cruéis como o Maxell e o Will. Eu conheço muito bem a sua personalidade
sanguinária, mas existe algo diferente em seu interior... no seu olhar... A
verdade é que ele demonstra sentir algo por mim que eu nunca encontrei em
nenhum membro da minha família, com exceção do Benjamin. Eu
enxergava em seus olhos verdes claros, o cuidado... o carinho... o amor...

Viro o meu rosto na direção da poltrona ao lado da cama, e sinto o


vazio me preencher por alguns instantes, o meu marido já não estava mais
no quarto, a única coisa que indicava que ele esteve aqui, era a presença do
seu paletó preto escorado no braço do móvel. Deslizo o meu olhar agora
mais atento pelo cômodo, querendo descobrir se era dia ou se já era de
noite, mas a única janela visível do quarto estava com as cortinas abertas,
bloqueando a entrada de luz.

A pouca iluminação que era emitida vinha de um abajur que estava em


cima de uma cômoda do lado oposto do quarto, e a sua luz fraca, esmaecia
os contornos dos móveis. Engulo em seco, sentindo dificuldade em engolir
por causa da secura excessiva dos meus lábios e da minha língua, que
formavam um bloqueio incômodo na minha garganta. Eu estava morrendo
de sede...

Movimento o meu braço devagar e sinto o peso dos meus músculos


reclamarem, e no mesmo instante, eu sinto o meu coração acelerar. Olho
para o meu braço e observo o acesso da intravenosa aplicando algum
medicamento desconhecido em minhas veias, e institivamente, eu retiro
todos os fios que estavam conectados a mim, sem me importar com a dor
que se alastrava por causa dos movimentos bruscos.

Camuflo os fios dentro do esparadrapo novamente, fingindo ainda que


estava recebendo aquelas substâncias. Suspiro aliviada em saber que os
meus pulsos não estavam amarrados nas laterais da cama como da última
vez... agradecendo mentalmente por não estar presa como uma
desequilibrada! Como uma louca! Eu não seria dopada propositalmente de
novo... nunca mais! Apesar de sentir a sua sinceridade, eu ainda não podia
confiar inteiramente em suas palavras, porque eu jurei que não seria
subjugada por um monstro novamente!

O barulho da porta se abrindo desperta a minha atenção, e logo, os


meus olhos encontram as íris esverdeadas do meu marido. Ele estava
impecável, o seu cabelo estava molhado e penteado para trás, as suas roupas
eram outras, totalmente limpas. Ele estava segurando uma embalagem de
comida em suas mãos, e não demora muito para que o seu perfume
inebriante invada e preencha o espaço.
Giovanni se aproxima com destreza, mantendo o seu olhar avaliativo
sobre mim, me penetrando e me invadindo sem nenhum aviso. Ele se senta
na poltrona sem falar absolutamente nada, mantendo o seu olhar
preocupado sobre mim, e em seguida, ele toca em meu rosto. Ele passa os
seus dedos por minhas sobrancelhas e desliza o seu polegar por minha
bochecha, espalhando uma sensação gostosa em meu interior vazio.

— Está sentindo alguma coisa? — Ele pergunta com a sua voz potente,
abrindo a embalagem de comida e me mostrando a sopa que estava dentro
do recipiente. — Eu trouxe algo para você comer, está com fome?

Faço uma cara feia para a ideia de colocar algo em meu estômago, eu
não sei se era efeito colateral de algum remédio ou se era culpa da perda
excessiva de sangue, mas o meu estômago estava embrulhado. A única
coisa que eu queria nesse momento, era beber água! A minha boca estava
tão seca que era difícil falar, salivo, sentindo os meus lábios rachados e
ressecados pela falta de umidade, eu queria acabar com essa sede que estava
me corroendo.

— Eu estou com sede... por favor... — Digo com dificuldade, sentindo


a minha voz embargar. — Eu estou morrendo de sede...
Giovanni coloca a sopa de lado e se levanta da poltrona, sumindo do
meu campo de visão por um tempo. Aproveito a sua ausência para tentar
me erguer um pouco, então, eu coloco os meus braços nas laterais do meu
corpo e levanto o meu tronco lentamente, sentindo a dor retornar com força.
Fecho os meus olhos e solto o ar devagar, me sentando no colchão macio.

Me ajeito como posso, tentando achar uma posição que colocasse


menos pressão em minha barriga, e por um breve instante, eu sinto uma
dorzinha fina se espalhar em minha intimidade, uma ardência estranha, e
imediatamente, o meu corpo gela. Eu não estava com vontade de fazer
xixi... aliás, em nenhum momento eu senti essa necessidade, e já dominada
pelo desespero, eu levo a minha mão até o lugar dolorido, sentindo um
outro cateter invasivo naquela região.

Era uma sonda uretral e isso significava que eu estive apagada por
muitas horas... eu tinha perdido completamente a noção do tempo. A sonda
era incômoda e eu já não aguentava mais essa situação, então, eu forço o
meu braço novamente e puxo o objeto asqueroso de dentro de mim,
sentindo um alívio enorme ao tirá-lo. Eu odeio hospital! Simplesmente não
suporto!

Eu não aguento mais ficar em um ambiente como esse, eu já não tenho


mais psicológico para isso! Aproveito o restante das minhas forças para
tirar o acesso que estava em meu braço, arrancando o pedaço de
esparadrapo com todos os fios que estavam presos em minha pele,
acabando de uma vez por todas, com aquela farsa. Eu já estava no meu
limite e eu não queria mais recordar daquele maldito passado! Eu não
suportava mais ser torturada por minhas lembranças corrosivas e
asquerosas.
— Porque você é tão teimosa, Serena!? — Giovanni fala em um tom de
repreensão, me lançando um olhar furioso por eu ter me movimentado e por
perceber que eu havia arrancado os acessos. — Você está cheia de pontos!
Você precisa tomar os remédios para esse seu maldito corte não infeccionar!
Eu não quero te ver daquele jeito de novo, está me ouvindo!?

— Eu não confio em você... eu ainda não consigo! — Falo com a voz


arranhada, forçando a minha garganta seca. — Me entenda... eu não consigo
confiar nas pessoas... não depois do que já aconteceu comigo! Eu tenho
medo de você me usar... tenho medo de você acordar um dia e esquecer
todo esse carinho! De voltar a ser aquele homem arrogante... frio... de me
abusar e me agredir como outros já fizeram comigo!
— Acha que eu estou mentindo depois de tudo o que eu falei? Depois
de tudo que eu confessei!? — Ele diz com sua voz um pouco mais alterada,
se aproximando de mim com o copo plástico na mão. — Acha que foi fácil
ver você morrendo em meus braços!? Como você acha que eu fiquei ao ver
você dizendo palavras desconexas, que é óbvio, que você nunca diria se não
estivesse tão mal! Você estava se despedindo! Você estava rendida e
disposta a morrer! E nada, absolutamente nada... me doeu mais do que isso!

Sinto os meus olhos marejarem com a dureza das suas palavras e eu


sou obrigada a virar o meu rosto para não encarar os seus olhos intensos e
carregados de fúria. Fito e observo as minhas mãos por alguns instantes,
tentando controlar as lágrimas que insistiam em cair por meu rosto. Eu não
tinha coragem de olhá-lo, eu ainda não estava pronta para assumir os
sentimentos que palpitavam em meu peito.

— Eu fiz uma promessa Serena, eu fiz uma porra de uma promessa! —


Ele diz furioso, fazendo com que um soluço abafado escape por minha
garganta. — Quando eu te vi naquele chão, jogada no meio de uma poça de
sangue, deitada naquele maldito banheiro, eu fiz uma porra de um trato! Eu
fiz um acordo com Deus... eu disse a ele que eu sentia muito... que eu era
um fodido! Um filho da puta que não tem o direito de pedir nada! Mas, eu
pedi... e prometi a ele que nunca mais pediria outra coisa... nunca mais... se
apenas pudesse ver os seus olhos cintilantes cheios de vida mais uma vez!

E no próximo instante, eu sinto a sua mão erguer o meu queixo, me


obrigando a fitar o mar esverdeado dos seus olhos. O meu coração batia
descompassado, descontrolado... com a força e com o significado das suas
palavras árduas. Eu estava confusa, indecisa... dividida... sabendo o poder e
a intensidade que as suas palavras tinham sobre mim. E eu sei... que era
difícil para ele também... as suas feições deixavam bem claro, o quão
doloroso é... lutar contra o que ele nasceu para ser!
— E como eu sou um homem de palavra, eu não vou exigir nada de
você! Se você quiser ir embora, você pode ir! — Ele diz, passando a sua
mão livre em seu cabelo arrumado. — Eu estou devolvendo a sua liberdade!
Eu estou te liberando do contrato do nosso casamento, em nome do que eu
sinto por você!
“ Não podemos voltar atrás e mudar o que já aconteceu,
mas sempre há uma oportunidade de recomeçar. ”

Autor desconhecido.

A força das suas palavras me impactaram de uma maneira inusitada, me


deixando atordoada e atônita. Era isso o que eu queria? Ir embora?
Abandonar de uma vez por todas, a minha vingança? Fito os seus olhos
escurecidos e sinto o gosto amargo tomar conta da minha boca,
confundindo ainda mais, o meu conflito interno. As coisas mudaram... a
situação se modificou por completo... e a minha vingança, já não fazia mais
sentido como antes.

Fecho os meus olhos por uns instantes e mordo o meu lábio inferior,
sentindo um esboço de um sorriso se formar em meu rosto. As lágrimas
ainda embaçavam os meus olhos e eu nunca estive tão vulnerável na sua
frente como agora, não só fisicamente, como também, emocionalmente.
Giovanni estava sério, mantendo as suas feições endurecidas e rígidas.

Eu jamais pensei que essas palavras iriam sair da sua boca, o homem
que estava diante de mim, estava disposto a me libertar... Giovanni estava
renunciando a tudo... a todo o seu mundo, a todos os seus princípios, a
todos os seus ensinamentos, a todas as suas regras e a toda a sua famiglia,
para abrir uma exceção para mim! Ele já não era mais o meu alvo principal
e não havia mais motivos para reprimir os meus desejos e anseios carnais.

Analiso o seu olhar e vejo a sua determinação estampada em sua face,


não havia vestígios de segundas intenções em sua postura, ele estava sendo
verdadeiro... ele estava disposto a abdicar daquela cerimônia, daquele
casamento forçado perante toda a sua gente, só para demonstrar a
veracidade das suas palavras. Era uma demonstração clara do quanto ele me
desejava e queria ficar ao meu lado, e nesse momento, eu também queria
ficar ao lado dele.
— Me tira daqui... me leva para casa... — Digo finalmente, aceitando
ficar ao seu lado, por livre e espontânea vontade, sem culpa, sem outras
intenções, a não ser a que gritava em meu peito. — Me leva para a sua
casa... para a nossa casa.

E por um ligeiro instante, eu vejo o seu olhar se modificar, fazendo


com que algo reflita em seus olhos rapidamente, me impossibilitando de
identificar o que ele escondia em seu interior. A sua mão ainda segurava o
copo plástico e novamente ele se aproxima de mim, deslizando o seu
polegar áspero sem nenhuma delicadeza por meus lábios ressecados, e com
a sua mão livre, ele segura a minha nuca e me puxa para um beijo sôfrego e
necessitado.

A sua língua macia e habilidosa me invade sem nenhum resquício de


prudência, selando as nossas palavras não ditas e assinando o nosso
contrato carnal. Giovanni não é um homem delicado, principalmente
quando está externando os seus desejos sedentos, mas, apesar de ainda estar
sentindo muita dor, eu jamais ousaria findar o nosso beijo. Pois ele
significava muitas coisas, e com certeza, a principal delas, era o recomeço...
um novo começo para mim e para ele.
A sua mão grandiosa adentra os fios ondulados do meu cabelo, me
aproximando mais dos seus lábios pecaminosos, me envolvendo e me
devorando, em uma áurea sensual paralela a nossa realidade. Ignoro as
reclamações dos meus músculos pesados e levo as minhas mãos até o seu
rosto, sentindo-o me engolir com a sua boca atrevida e com o seu corpo
quente feito brasa fervente. Os seus toques eram precisos e certeiros,
denunciando toda a sua experiência sexual, que me atordoava e me deixava
totalmente a mercê da sua dominação.

Sinto o seu corpo pesado se acomodar ao meu lado, indicando que ele
havia sentado na lateral da cama, e logo, ele finaliza o nosso beijo, puxando
suavemente o meu lábio inferior com os seus dentes. Arfo desejosa, com a
promessa silenciosa da luxúria ainda nos envolvendo e queimando
ardentemente. Ainda envolvida por seus toques sutis, eu abro os meus olhos
e me deparo com o mar esverdeado do seu olhar, enquanto ele me fitava
com as suas pupilas dilatadas.

— Ótimo, bella! — Ele diz sério, mantendo o tom da sua voz rouca e
aveludada, enquanto me solta com cuidado do seu agarre. — Está sentindo
alguma coisa?

Faço um ligeiro gesto em negação, avaliando silenciosamente o meu


estado caótico. O meu corpo e os meus músculos doíam, mesmo eu ficando
imóvel, o meu subconsciente gritava e implorava por descanso. Era uma
sensação ruim, um esgotamento físico totalmente incômodo. Salivo
inconscientemente, sentindo a secura excessiva da minha boca e da minha
língua.

E como se pudesse ler os meus pensamentos, Giovanni me estende o


copo com água que estava em sua mão, e me ajuda a levar o copo plástico
até os meus lábios secos. A sensação era que eu estava no deserto, e com
pressa, eu seguro o recipiente com rapidez, querendo desesperadamente
saciar a sede que queimava a minha garganta. Forço o copo com a mão
trêmula, derramando uma grande quantidade de água em minha boca,
fazendo com que o líquido transparente desça, levando consigo o nó que
estava se formando no meio da minha garganta.

O gosto era simplesmente maravilhoso e agradeço mentalmente por


poder saciar a minha vontade com as minhas próprias mãos, com o meu
corpo respondendo aos meus comandos. Ainda não satisfeita, eu forço o
copo outra vez contra os meus lábios, querendo tomar outro grande gole.
Mas, o meu marido segura o objeto, controlando o fluxo de água ao seu
modo, liberando em poucas quantidades para eu poder beber devagar,
dificultando todo o processo.

— Devagar, Serena! — Ele me repreende, com a sua voz autoritária e


com o seu jeito imponente. — Beba devagar.

Quase reviro os meus olhos com as suas ordens firmes e carregadas de


arrogância, e talvez... só talvez, eu não me acostume com todo esse seu jeito
dominador e possessivo, que se chocam diretamente com o meu espírito
livre e indomável. Aceitar a sua proposta seria como recomeçar... começar
do zero e reformular tudo o que já estava planejado, mas, com uma
diferença, eu teria um novo aliado ao meu lado. Um aliado poderoso e
influente!

Enquanto eu termino de engolir toda a água do copo, eu observo o seu


olhar atento sobre mim, e me pergunto se ele algum dia, vai entender os
meus motivos, as minhas razões para me tornar uma assassina de sangue
frio. Uma matadora de aluguel que matou metade dos aliados da Camorra,
deixando para atrás apenas a sua assinatura, uma pena negra na cena do
crime.
Giovanni não sabe de muitas coisas a meu respeito, e eu tenho certeza,
que quando ele souber da verdade... ele vai esquecer a sua promessa e vai
querer me matar por ser uma traidora! E realmente, era isso que eu era!
Uma traidora! Então... eu não posso contar a verdade, eu não posso revelar
o meu segredo, porque revelar a minha identidade seria como dar um tiro
em meu próprio pé! Seria como assinar a minha sentença, colocando a mira
do chefe da máfia na minha direção.

Dou um último gole, bebendo a última gota de água que estava no


copo, mantendo o meu olhar firme sobre o dele, tentando entender o que ele
via em mim para atraí-lo daquela forma. Ele era um homem poderoso,
acostumado com as mulheres rastejando aos seus pés, ele esbanjava
sexualidade e virilidade por todos os seus poros. Eu sei reconhecer os meus
defeitos, e eu sei, que no quesito sexo... eu sou danificada!

Giovanni é o primeiro a quebrar o nosso contato visual, transformando


a atmosfera em algo sufocante. Ele se levanta da cama e coloca o copo
descartável no braço da poltrona, se sentando nela em seguida. Me ajeito no
colchão, buscando uma posição menos dolorosa e mais confortável, mas era
praticamente impossível. A minha cabeça latejava um pouco, alertando
sutilmente que os efeitos dos analgésicos estavam se dissipando.

— Há quando tempo nós estamos aqui? — Pergunto curiosa, querendo


saber a quantidade de dias que eu fiquei apagada. — Foram apenas algumas
horas ou foram dias?

— Você ficou inconsciente por quase dois dias. — Ele diz calmamente,
abrindo o pote de sopa, e logo, o cheiro enjoativo invade as minhas narinas,
fazendo com que o meu estômago vazio se contorça em reprovação. —
Você precisa comer alguma coisa!
— Dois dias... — Sussurro para mim mesma, fazendo uma careta de
reprovação com o cheiro da sopa que embrulha a minha barriga. — Eu não
quero comer, eu não consigo, eu estou enjoada.

— Você vai comer, Serena! E não há discussão! — Giovanni diz


ríspido, me fuzilando com o seu olhar frio, me deixando sem saída e sem
opções. — Você vai tomar toda essa sopa e vai tomar todos os remédios!

Franzo o cenho de imediato, repreendendo-o mentalmente por ser tão


dominador e persuasivo. Desvio o meu olhar do seu e analiso os seus
movimentos precisos, Giovanni logo providencia uma colher plástica no
meio da embalagem e começa a mexer a sopa. Sem me dar chance de
recusa, ele leva a colher na direção da minha boca, espalhando a quentura
do caldo por minha língua.

— Não precisa me dar na boca! — Protesto de imediato, sentindo a


consistência da sopa líquida acalmar o meu estômago revolto, me fazendo
estranhar toda aquela atenção e carinho da sua parte. — Eu consigo comer
sozinha!

— Não, você não consegue! — Ele responde da mesma maneira


arrogante, ignorando a minha relutância e me dando mais uma colherada do
caldo quente. — Não precisa ser tão orgulhosa, Serena!

Olho para as minhas mãos, evitando o seu olhar esverdeado e sentindo


o arrependimento me invadir com rapidez, por eu ter sido tão grosseira.
Mas, era difícil para mim reagir a essa situação, sendo que eu sempre recebi
os piores tratamentos e ameaças. Engulo as próximas colheradas sem dizer
absolutamente nada, apenas apreciando o sabor salgado da refeição, que
agora era bem-vinda.
— Me desculpe! — Digo com sinceridade, sentindo o remorso ditar as
minhas palavras. — Eu cresci e vivi sozinha grande parte da minha vida, eu
nunca tive alguém de confiança para me proteger e para estar ao meu lado...
Eu só não sei como reagir a esses cuidados... por isso que... que é tão difícil
dar uma segunda chance a você...

Ele suspira pesadamente, analisando a minha resposta em silêncio, com


a sua atenção voltada para o meu pulso que estava escorado no colchão,
expondo as minhas cicatrizes salientes. Mordo o meu lábio inferior com
força, sentindo o nervoso me preencher, eu não deveria ter dito nada. A
última coisa que eu conseguiria enfrentar agora, era um Giovanni furioso, e
eu sei, que ele estava.

— Quem não te deu uma segunda chance, Serena? — Ele resmunga


entredentes, tocando levemente o alto relevo que estava cravado em minha
pele. — Quem não te deu uma segunda chance para você fazer isso?

Quase me engasgo com o seu questionamento, sentindo o meu coração


falhar uma batida por um milésimo de segundo, me deixando atordoada.
Engulo em seco, falhando miseravelmente em manter a minha respiração
regular e ritmada. Giovanni desliza o seu polegar por meu pulso,
conhecendo e tentando decifrar, o mapa caótico que eu havia escrito em
mim mesma.

Aos poucos, ele estava entrando em meu interior... invadindo sem pedir
licença, o meu passado conturbado e desconexo. Ele estava pisando em um
terreno perigoso, descobrindo coisas que estavam intocadas e que eu não
me sentia confortável para compartilhar... pelo menos, não agora. Ninguém,
jamais chegou tão perto... e Giovanni parecia ser exceção, já que ele estava
me desvendando...
— Eu mesma... — Sussurro, sentindo a minha voz embargada. — Em
vários momentos, eu não consegui me dar uma segunda chance... eu não
enxergava um novo recomeço...

Giovanni suspira, balançando a cabeça em negação, externando o seu


desapontamento. Mas, essa era a verdade! Eu não estava omitindo nada a
ele, pelo contrário, eu estava revelando coisas... coisas que eu nunca pensei
confidenciar a outra pessoa, principalmente, ao Don Campanaro. Mike que
era da minha inteira confiança, não conseguia arrancar de mim tantas
informações, como ele conseguia.

Mike também já tentou ultrapassar os meus limites, já tentou conhecer


os meus piores medos, os demônios que assombram e povoam os meus
pesadelos, mas nem com ele, eu consegui me abrir... Eu confio no Mike, aos
poucos ele conquistou a sua posição ao meu lado, porém, não era o
suficiente para contar abertamente sobre o meu passado! Eu sei que ele
deduzia ao seu modo, ele imaginava o que havia acontecido, mas, não era
nada concreto.

Fito os olhos verdes do homem que ainda acariciava a minha pele,


deslizando a sua mão grossa por toda a extensão do meu pulso fino,
apertando-o com força. Observo a sua mão cobrindo as minhas cicatrizes,
sentindo a todo instante, o calor do seu toque e das suas palavras não ditas.
Giovanni não disse nada, e nem precisava, porque eu podia sentir em seu
gesto, o que ele queria expressar.

Depois de algum tempo apreciando aquele silêncio acolhedor e


confortável, ele me ajuda a terminar de tomar a sopa, e assim que finalizo a
última colherada, a porta do quarto se abre, revelando uma figura masculina
desconhecida. Um homem de meia idade se apresenta de maneira formal,
vestindo um jaleco branco e segurando em suas mãos, um medidor de
pressão arterial, além é claro, da sua prancheta.

O médico cumprimenta Giovanni discretamente, demonstrando a sua


submissão em relação a presença imponente do meu marido. O homem se
aproxima e começa a me examinar, checando a minha pressão e analisando
a linha de pontos que juntava a minha pele. A medida que ele avançava nos
testes minuciosos, ele me perguntava algumas coisas, analisando sempre, as
anotações em sua prancheta.

Depois de alguns longos minutos, o doutor informa que eu posso ir


para casa, contanto que obedeça rigorosamente às suas recomendações.
Assim que consigo processar o significado das suas palavras, eu solto
involuntariamente o ar que estava entalado em minha garganta, sentindo o
alívio me preencher. Olho rapidamente para o homem de jaleco, que parece
ter percebido só agora, que a intravenosa não estava mais conectada a mim.

— Senhora Campanaro, você não vai poder fazer esforço por algum
tempo. Esses pontos precisam cicatrizar e eles estão um pouco inflamados.
— O médico me repreende sutilmente, mantendo o seu tom descontente e
insatisfeito. — Você precisa tomar os medicamentos se quiser melhorar!
Uma infecção nessa região não é algo fácil de se tratar!

Afirmo com veemência, querendo sair logo daquele maldito lugar, já


não suportando o cheiro forte do éter que invadia o meu nariz. E antes do
médico sair, Giovanni o intercepta e conversa algo com o homem do lado
de fora do quarto, me deixando sozinha novamente. Aproveito a deixa para
tentar me levantar e sair da cama, mordendo o meu lábio inferior com força
durante todo o processo, tentando evitar ao máximo, os gemidos e
grunhidos de dor que queriam escapar por entre os meus lábios.
Com muita dificuldade e lentidão, eu consigo erguer o meu corpo,
colocando em seguida, os meus pés no chão gelado, sentindo a minha
cabeça pesar a medida que o meu corpo se movimentava. Eu ainda estava
cambaleante e as minhas pernas estavam bambas, e para conter a minha
falta de estabilidade, eu seguro nos ferros da cama hospitalar, buscando
equilíbrio.

Respiro fundo e fecho os meus olhos, tentando suportar o meu próprio


peso sob os meus pés cansados. E depois de alguns longos instantes
tentando me recuperar, eu solto as minhas mãos do apoio, e movida pela
curiosidade, eu puxo para o lado a roupa azul do hospital, revelando a
costura em minha barriga. Os pontos estavam bem feitos, mas estavam
realmente inflamados, com a pele ao redor avermelhada e dolorida.

Deslizo os meus dedos pela linha escura que unia discretamente a


minha pele, sentindo a sensibilidade do local. A costura é bem sutil e
discreta, me dando a certeza que eu não teria feito algo melhor. Toco
suavemente toda a extensão do corte, parando bem próximo a minha virilha,
e só agora, eu percebo que estava sem calcinha, eu estava completamente
nua por debaixo dessa vestimenta hospitalar.

Olho para o quarto inteiro, buscando algum sinal de um banheiro, e


logo, o meu olhar recai sobre uma porta discreta no canto da parede, mas
antes que eu consiga pensar em caminhar até lá, Giovanni adentra o
cômodo. O homem de olhar esverdeado se aproxima rapidamente e me
entrega um copinho plástico com três comprimidos esbranquiçados. O seu
olhar imparcial não indicava qualquer resquício de retaliação por eu ter
claramente o desobedecido.

— Cadê as minhas roupas? — Pergunto, sentindo o meu rosto corar ao


fitar o seu olhar escurecido. — Foi você que tirou?
— Sim! Acha mesmo que eu deixaria outra pessoa tocar em você,
bella? — Ele diz, erguendo o meu queixo sem delicadeza alguma, me
obrigando a fitar o mar misterioso dos seus olhos. — Engula os remédios,
enquanto eu vou buscar a sua roupa!

Seguro o copo e observo ele se afastar, entrando justamente na porta


que eu imaginava ser o banheiro. Olho os comprimidos dentro do copinho e
aceito o analgésico, engolindo os três com a minha própria saliva. O meu
marido retorna com algumas peças em suas mãos, um vestido e uma
calcinha que eu nunca tinha visto, provavelmente elas foram compradas por
alguma funcionária da mansão.
Encaro os seus olhos e ergo os meus braços, em um convite tentador
para ele me despir. Sem hesitar, ele retira o roupão azulado do meu corpo e
institivamente, eu apoio as minhas mãos em seu peito, sentindo a firmeza
dos seus músculos por baixo do tecido fino da sua camisa social. O seu
olhar era uma mistura inebriante de sensações e o meu rosto responde
imediatamente ao seu jeito indecoroso de me olhar, as minhas bochechas
queimam, em uma ardência gostosa pelo meu gesto atrevido.

Observo quando o seu olhar predatório caminha até os meus lábios,


descendo lentamente até os meus seios, se fixando neles por alguns minutos
avaliativos e calorosos. Os seus olhos continuam o percurso por meu corpo,
descendo o seu foco até a minha intimidade, demorando tempo o suficiente
para me deixar nervosa e aflita. O seu olhar selvagem retorna até o meu, e
ao contrário da claridade que antes estava presente nele, agora... só havia
escuridão. As suas pupilas estavam dilatadas de desejo, ocupando grande
parte das suas íris, dando a ele um ar perigoso, que reverberava em meu
interior como um arrepio violento.
— Você é linda, esposa! — Giovanni diz, mantendo a rouquidão da sua
voz potente embebida em luxúria. — O seu corpo é lindo, bella!

O meu cérebro se prende em sua voz, processando aquele desejo que


me engolia e me devorava sem nenhum pudor, me jogando diretamente na
áurea indecente e envolvente da sua presença. A sua voz aveludada faz com
que algo dentro de mim vibre de uma forma diferente, superando qualquer
dor que o meu corpo estivesse sentindo naquele momento. Talvez, os seus
cuidados me fizessem mais fraca, ou até, o seu lado bom me deixasse mais
carente, mas nada me importava mais... porque eu o desejava! Fito os seus
olhos verdes e me perco! Eu não quero mais fugir e nem quero reprimir os
meus desejos. Eu quero ser dele! Eu quero que ele me torne a sua mulher!
“ O amor e o ódio são os dois lados da mesma moeda.
Eles andam lado a lado, mas não podem reinar juntos.
Quem ama é incapaz de odiar. E quem odeia não tem a
capacidade de amar. ”
Isabela Mota.

O percurso até chegarmos na mansão foi rápido, e para ser sincera, eu


não acompanhei nem metade do caminho, pois os medicamentos já
estavam fazendo efeito e o sono já me dominava por completo. Eu imagino
que fomos de carro, carregada talvez, eu nunca saberia, os comprimidos
para dor me deixaram grogue, totalmente dopada, a única coisa que eu
lembro com exatidão era de deitar em algo macio e quente.

Abro os meus olhos devagar, lutando contra a sonolência que insistia


em me derrubar, me mantendo fora da realidade. Estreito o meu olhar,
tentando de alguma forma me localizar naquele ambiente, até então,
desconhecido. O quarto inteiro estava coberto por uma penumbra tranquila,
que exalava calmaria e paz, foco o meu olhar na única fonte de iluminação
do cômodo, um notebook aberto em cima de uma mesa repleta de papéis.

Um vulto sentado na cadeira me rouba a atenção, fazendo com que o


meu coração palpite de uma forma diferente, alertando todo o meu corpo
para a presença masculina que dividia o mesmo cômodo escuro. Ergo o
meu corpo devagar, tentando ao máximo, não chamar a atenção do homem
que estava concentrado na tela do notebook e observo discretamente o seu
porte físico de tirar o fôlego.

Giovanni estava sem camisa, mostrando toda a sua beleza, e mesmo


com a distância que nos separava, eu conseguia ver perfeitamente os seus
ombros largos e bem esculpidos. Os seus músculos definidos desciam por
suas costas, fazendo com que o meu olhar curioso acompanhasse o desenho
bem feito do seu corpo, em um convite pervertido para conhecer aquele
corpo másculo, banhado em testosterona.
Estico um pouco o meu pescoço para ver qual roupa de baixo ele
vestia, e imediatamente, eu sinto o meu rosto ferver em chamas, ele vestia
apenas uma toalha branca. O tecido felpudo estava amarrado em sua
cintura, escondendo as outras partes do seu corpo. O seu cabelo negro
estava úmido e devidamente penteado para trás, enaltecendo ainda mais a
sua beleza surreal.

Passo algum tempo observando os seus movimentos precisos,


apreciando a imagem do seu corpo parcialmente nu, que estava disponível
para o meu deleite. Giovanni continua trabalhando, completamente imerso
em alguma informação que estava disponível na tela brilhante do seu
computador. Passo mais alguns minutos espiando o homem que o destino
traiçoeiro me enviou, e engulo em seco, sentindo o meu ventre se contrair
em um desejo súbito.

— Está gostando do que vê, bella? — A sua voz extremamente rouca e


aveludada me assusta, e eu fito sem querer, os seus olhos claros, tendo a
certeza que o meu rosto está vermelho pelo flagra.
O meu marido rapidamente se levanta, fazendo com que os seus
músculos se movimentem de acordo com os seus passos firmes, em um
espetáculo silencioso de sensualidade. Lentamente, eu me sento na cama,
ignorando por completo, as reclamações do meu corpo. O esforço indevido
era um pouco incômodo, mas a minha mente estava mais focada no show de
músculos que se aproximava, e não, na dorzinha fina que me afligia.

— Porque você não me acordou!? — Pergunto, querendo ouvir


novamente o tom da sua voz rouca. — Aqueles remédios me deixam muito
sonolenta, eu não lembro de ter chegado aqui.

— Você precisava descansar porque perdeu muito sangue! —


Giovanni diz, se abaixando ao lado da cama para nivelar os nossos olhares,
e com a sua ajuda, eu coloco as minhas pernas para fora do colchão. —
Como está o corte? Ainda está doendo?

— Está um pouco melhor, não dói como antes. — Digo hesitante,


tocando a região suavemente e testando a sensibilidade da minha pele. — O
mal-estar também melhorou.

Olho para o vestido fino que estava em meu corpo magro, e apesar do
tecido estar visivelmente limpo, eu me sinto suja. Antes de sair do hospital,
uma das enfermeiras me ajudou a tomar um banho rápido, mas, o cheiro
hospitalar ainda estava impregnado em mim, com aquele odor característico
fixo em meu cabelo sujo e oleoso. Passo a mão ligeiramente em uma mecha
ondulada e sinto os fios presos um no outro, embaraçados em meio a uma
massa corpulenta de sangue seco.

— Posso te pedir uma coisa? — Pergunto esperançosa, fitando


diretamente o seu olhar atento e indecifrável. — Você pode chamar alguma
das senhoras que trabalham aqui? Eu queria pedir um favor, pode ser
qualquer uma delas!
Um pequeno e sutil sorriso aparece em seu rosto bonito, e logo, as suas
mãos grandes e pesadas se acomodam atrás das minhas coxas nuas, me
puxando devagar em sua direção. Giovanni se abaixa um pouco mais e beija
o meu joelho, me atordoando com a sua língua quente e afoita, finalizando
o beijo molhado com uma mordida calorosa em minha pele quente.

— Eu não posso fazer essa coisa para você? — Ele pergunta, me


distraindo com uma mordida suave na parte interna de uma das minhas
coxas, roçando a sua barba áspera com avidez, por toda a extensão da
minha pele sensível.

— Não... Não pode... — Nego, incerta da minha decisão, fechando os


meus olhos para sentir com mais intensidade os seus toques atrevidos. —
Não tem como...

Eu já estava perdida... totalmente envolvida pela tentação do seu agarre


e entorpecida pelo cheiro do seu perfume inebriante. Toco o seu cabelo
úmido, deslizando os meus dedos por seus fios lisos e macios, apreciando
aquele contato tão íntimo. E movida pela tentação, eu apoio as minhas mãos
em seus ombros largos, sentindo os seus músculos firmes e rígidos
contrastarem na palma da minha mão.

Como um bom predador que ele é, Giovanni avança um pouco mais,


abrindo as minhas pernas e me deixando a sua mercê, devorando-me com a
sua língua habilidosa. Involuntariamente, as minhas pernas tremem,
reverberando um pequeno espasmo em meu ventre dolorido, denunciando a
minha aflição em senti-lo tão próximo da minha intimidade molhada. Sinto
um calor esquisito me atingir, borbulhando em meu sangue pulsante como
adrenalina, mas era algo diferente, e eu queria mais... muito mais...

— Agora eu estou curioso, Serena! — Ele fala, fazendo com que


lufadas quentes do seu hálito atinjam a minha calcinha encharcada,
arrepiando toda a minha pele. — Que coisa é essa que você tanto quer, que
eu não posso fazer?

A sua voz era uma tentação, um convite sensual para entrar em seu
mundo de extremo prazer e escuridão. Mordo o meu lábio inferior e aperto
os seus braços, buscando forças para resistir a enxurrada de sensações que
eram transmitidas diretamente para o meu psicológico e para o meu sexo
que latejava, emitindo pequenas ondas pela região pulsante.

— Eu quero que... você...— Sussurro, me perdendo com as suas


carícias, com o calor da sua boca e com a intensidade da sua língua, que
invadia cada vez mais, o meu espaço pessoal. — Eu quero que você me
ajude a tomar banho...

Reviro os meus olhos quando a sua barba áspera passa por um ponto
sensível da minha coxa, me deixando em êxtase. Mas, ao escutar as minhas
palavras incertas, ele se afasta, cessando todos os seus movimentos,
deixando apenas o seu rastro em minha pele, uma queimação torturante que
se espalhava nos lugares que ele havia tocado anteriormente.

Capto o seu olhar selvagem, analisando os seus olhos sombrios e


intensos, que se modificavam drasticamente, vagando entre o verde claro e
o breu da noite. O meu coração acelera em meu peito, martelando ansioso e
aflito, com a expectativa da sua resposta ainda não dita. Todas as células do
meu corpo estavam agitadas, gritando e implorando por alívio, para
descarregar essa tensão estranha que se acumulava dentro de mim, mas
precisamente em meu sexo.

Ainda em silêncio, Giovanni desliza os seus dedos grossos pela alça


fina do meu vestido, descendo uma de cada vez, em uma tortura deliciosa,
deixando uma expectativa gostosa nos preencher. Com as suas duas mãos
grosseiras, ele percorre os meus ombros, descendo as suas carícias por meus
braços, explorando e atiçando a minha pele com os seus dedos calorosos.

— Levante os braços! — Ele ordena ríspido, externando todo o seu


lado dominador, sem deixar esconder em sua voz, o quanto ele também
estava afetado pelo desejo. — Eu quero vê-la completamente nua!

Estremeço com o poder que a sua voz grossa tem sobre mim, sobre
todo o meu corpo, e sem hesitar, eu levanto os meus braços, aceitando o seu
convite indecoroso. Giovanni ergue o vestido e retira a roupa do meu corpo,
expondo os meus seios ao seu olhar predatório e devorador. Fito o seu rosto,
analisando o seu olhar descarado e cheio de cobiça que explorava sem
nenhum pudor os meus mamilos rosados, deixando-os tão rijos e
endurecidos de desejo que chegavam a doer.

Engulo em seco, sentindo o meu sexo latejar e pulsar, querendo


desesperadamente sentir o calor da sua pele se chocando contra a minha.
Lentamente, ele desce o seu olhar escurecido, focando sobre a única peça
que impedia a minha nudez completa, a minha calcinha. Quando os seus
olhos claros voltam para os meus, a única coisa que encontro neles é
luxúria. O Giovanni que estava diante de mim, era outro, o homem
cauteloso e protetor tinha desaparecido, dando lugar a um monstro
selvagem, que me engolia com as suas pupilas dilatadas pelo tesão.

No próximo instante, eu sinto a sua mão quente deslizar por minha


cintura, envolvendo-a em seu braço, e em um solavanco leve, ele me puxa
para a beira da cama, abrindo mais as minhas pernas. O meu ventre doía,
fazendo com que uma contração violenta atinja o meu sexo encharcado, e
sem saber como reagir a essas sensações novas, eu fecho os meus olhos,
buscando desesperadamente processar aquelas reações involuntárias.
— Abra os olhos! — A sua ordem chega até os meus ouvidos, a sua
voz era potente, mas tinha assumido um outro tom, ela estava mais rouca e
mais grave, e só com a sua voz sensual, eu deixo escapar um gemido
engasgado. — Me obedeça!

E eu o obedeço sem pestanejar, acatando as suas ordens como uma


maldita submissa, que nesse momento, eu reconheço que era. As suas mãos
quentes e afoitas deslizam até as alças finas da minha calcinha, e com um só
puxão, o tecido fino se rompe, causando uma ardência gostosa em meus
quadris, onde o tecido ricocheteou a minha pele. E sem me dar tempo para
raciocinar e processar a situação, Giovanni se aproxima da minha
intimidade, raspando a ponta do seu nariz em um ponto muito sensível,
atiçando o meu clitóris.
A minha respiração pesa, fazendo com que o ar do cômodo se torne
rarefeito e escasso, me obrigando a buscar o ar com a minha boca. Mas, eu
não consigo prestar muita atenção no quão difícil era respirar, pois, logo ele
me invade com a sua língua quente, arrepiando todo o meu corpo,
passeando a sua língua aveludada por toda a extensão da minha fenda
escorregadia, subindo e descendo, me obrigando a curvar as minhas costas.

Incapaz de me manter sentada, eu deixo as minhas costas baterem no


colchão macio, apreciando apenas, o seu trabalho minucioso e preciso em
me arrancar gemidos selvagens e carregados da mais pura libido. Um
suspiro rouco escapa por meus lábios, quando sinto aquela quentura, aquele
calor infernal... que se espalhava... que me consumia... enquanto ele
devorava e engolia a minha intimidade molhada com perfeição e
intensidade.

— Oh, Deus! — Sussurro entre gemidos grotescos, delirando com o


prazer da sua boca atrevida, fechando os meus olhos quando a sua língua
macia circula uma região vulnerável, que me obriga a arquear a coluna. —
Giovanni...

A sua barba grossa roça e atiça os meus desejos carnais,


enlouquecendo-me e me fazendo gemer descontrolada. Ele era insaciável...
e a sua língua experiente denunciava a maestria do seu trabalho em me dar
prazer. Eram tantas sensações... era tão gostoso senti-lo, que eu mal
conseguia administrar toda aquela cena. E por Deus! Nada era melhor que
aquilo... nada era melhor que sentir a sua boca me devorar sem nenhum
pudor!

Giovanni puxa o ar com força e assopra na região inchada, voltando a


me engolir com a sua boca extremamente quente, ele estava mais feroz do
que nunca, me fazendo estremecer com os seus movimentos ariscos.
Totalmente rendida aos seus toques, eu seguro o seu cabelo úmido,
apertando os seus fios sedosos com força, tentando de alguma maneira,
conter os meus gemidos abafados e animalescos, que insistiam em sair por
minha garganta.

A sua língua quente e molhada trabalha incansavelmente em espalhar a


minha excitação, ele fecha os seus lábios e os movimenta como se estivesse
me beijando na boca, forçando a sua língua úmida a entrar cada vez mais
fundo dentro de mim, atingindo pontos muito sensíveis e precisos. Ele
separa as minhas dobras com veemência, metendo a sua língua entre elas
com força, mordiscando o meu clitóris durante todo o processo.

As suas mãos grandes agarram a minha bunda, e em um só movimento,


ele me puxa para frente, abocanhando ainda mais o meu sexo, afundando o
seu rosto entre as minhas pernas trêmulas e fracas. A essa altura, eu já nem
sabia mais qual era o meu nome, e muito menos, eu lembrava que estava
me recuperando de um ferimento, a única coisa que me consumia e me
dominava era o latejar... o pulsar... o inchaço insistente da minha intimidade
escorregadia, que preenchia os meus pensamentos e ditava os meus
movimentos.

Todo o meu corpo corresponde aos seus toques, aos seus estímulos
primitivos e rudes. Cada órgão, cada célula, cada tecido, cada veia do meu
corpo trabalhava em respondê-lo, me dando prazer e me levando ao êxtase
absoluto. Ele podia estar de joelhos, em uma posição vulnerável, mas era eu
que estava rendida e desprotegida, eu estava quente e estava excitada,
totalmente entregue e a mercê das suas vontades.

Sinto os meus olhos rolarem e a minha cabeça pender para o lado,


afundando o meu rosto entre os lençóis limpos, que exalava o seu perfume
viciante. Inalo o seu cheiro, me drogando com a sua fragrância, sentindo um
pequeno espasmo percorrer o meu corpo quando um dos seus dedos longos
e grossos se junta a sua língua, acabando comigo em um jogo sujo, onde
ele, era o único ganhador.

Guiada pelos meus instintos primitivos, eu abro mais as minhas pernas


e solto um gemido longo, sentindo a sua invasão se aprofundar e se
intensificar, com a sua língua quente entrando cada vez mais fundo dentro
da minha buceta. O meu sexo estava muito inchado e escorregadio,
praticamente salivando em um desejo ardente, pulsando louco e de acordo
com o meu coração descontrolado.

Palavras desconexas saem dos meus lábios, denunciando a minha


perdição, eu estava tão indefesa e perdida em sua frente, que nem conseguia
sentir vergonha do nosso contato tão íntimo. Prendo a respiração e mordo o
meu lábio inferior com força, tentando dissipar e afastar o calor que se
alojava lentamente em meu ventre. Seu dedo firme pede passagem entre as
minhas dobras molhadas, e lentamente, de acordo com o seu vai e vem
tortuoso, eu jogo a minha cabeça para trás, choramingando dengosa.

— Eu poderia te comer inteira! — Ele diz, me matando lentamente


com os seus toques intensos e certeiros. — O seu gosto Serena... é
maravilhoso!

Ondas de prazer são enviadas até o meu cérebro confuso, e um


formigamento desconhecido começa a se concentrar e a se enraizar em
minha barriga, era um sinal sutil, mas bem preciso, era como se o meu
corpo estivesse se preparando para algo grande, para uma explosão. E como
se pudesse ler os sinais do meu corpo, Giovanni aumenta a velocidade dos
seus movimentos, e eu sofri, e eu amei.

A minha respiração fica ofegante e entrecortada, o meu corpo se


contorce suavemente na cama, indicando o quanto eu estava perto... e eu
estava acesa, eu estava viva! A minha visão escurece e as minhas costas
arqueiam involuntariamente, fazendo com que as minhas pernas
estremeçam. Perco o controle do meu corpo e sinto o meu coração pulsar
mais forte, fazendo com que a minha buceta se contorça com violência,
alcançando o orgasmo.

Aquilo era perfeito... era bom... eu estava tão atônita que nem percebo
quando Giovanni beija o meu rosto e depois toma os meus lábios para si,
espalhando o gosto do meu gozo na minha boca. Retribuo o seu beijo,
sentindo o calor do seu corpo nu e a pressão da sua mão em minha nuca,
aprofundando e aquecendo tudo dentro de mim novamente. Aquele
momento significava tantas coisas, que eu nem sinto quando uma lágrima
escapa, descendo por minha bochecha.

Hoje, ele me devolveu a liberdade... ele quebrou uma barreira que


estava erguida dentro de mim, um muro de mentiras que foi construído há
muito tempo... Eu não era mais daquele monstro... o meu corpo já não era
mais daquele desgraçado... Por muitos anos, eu fui refém dos abusos e das
memórias doentias que aquele homem sádico e cruel criou dentro de mim...
ele me acorrentou para si, me possuiu de todas as maneiras sórdidas e me
enlouqueceu com os seus gemidos asquerosos.

Ele sempre disse que eu era dele... o Will sempre finalizava os seus
atos horríveis despejando o seu sêmen em mim, me marcando com as suas
palavras e com o seu cheiro imundo, e eu realmente acreditei nele! Porque,
eu nunca fui capaz de esquecê-lo, eu nunca consegui apagá-lo da minha
memória! Agora, eu sei que pertenço a outro homem, mas por minha
própria vontade e não por imposição.

Os meus gemidos de prazer, e não de dor, eram inteiramente dele... as


minhas súplicas para continuar, e não para acabar logo com aquele
pesadelo, eram totalmente dele... tudo isso era do homem arrogante e frio
que estava me beijando. As paredes que eu construí para me proteger
estavam desabando ao meu redor, mas eu não me importava mais... não
mais...
“ Eu sou sua porque a sua pele com a minha criam o
atrito perfeito para o nosso incêndio, quando é você, eu
volto atrás, eu recomeço. Eu sou sua porque o meu
coração chama o seu nome e o meu corpo implora pelo
seu toque. ”

Autor desconhecido.

A minha respiração ainda estava irregular e o meu coração batia dentro


do meu peito em um ritmo exaltado, reverberando as suas pulsações
fortes em minha garganta, como se fosse sair por minha boca a qualquer
momento. Mantenho os meus olhos fechados por um tempo, tentando
digerir e processar aquele momento de intimidade. O que havíamos
compartilhado alguns minutos atrás não era algo que eu estava acostumada
e todas aquelas sensações eram completamente novas.

A minha mente estava limpa e o meu raciocínio estava lento, ainda


sobre os efeitos do orgasmo. O seu cheiro estava impregnado em todo o
ambiente e não havia espaço para qualquer outro perfume a não ser o dele, e
eu confesso, que eu adorava aquele cheiro masculino forte, que denunciava
a proximidade da sua presença. A sua respiração quente e pesada bate em
meu pescoço, arrepiando a minha pele sensível, mas logo, ele se afasta e sai
da cama.

Abro os meus olhos e encaro o seu corpo nu, a toalha que antes
escondia a sua nudez, agora já estava jogada no chão. Apoio o peso do meu
tronco em meus cotovelos e ergo levemente o meu corpo, analisando-o de
maneira descarada. Giovanni estava diante de mim esbanjando virilidade
por todos os seus poros, e movida pelo desejo, eu deslizo o meu olhar por
seu corpo forte, fitando-o de baixo para cima até encontrar o seu olhar
atento, mas não antes de avaliar com uma boa olhada, o seu membro
comprido e ereto.
Ele me encara de forma avaliativa, observando atentamente as minhas
expressões faciais e as minhas reações. Desço o meu olhar novamente,
agora com mais calma, apreciando a bela visão do seu corpo musculoso e
do seu pau inchado. Os seus ombros eram largos, os pelos escuros
espalhados em seu peitoral desciam harmoniosos por seu abdômen,
combinando perfeitamente com os seus músculos bem definidos.

Realmente, ele era tentador... o meu marido era um homem muito


atraente e gostoso. Deslizo o meu olhar minucioso até a sua virilha, onde
um famoso “V” se forma na frente dos seus quadris, esculpindo ainda mais
a sua pélvis. Continuo a minha exploração erótica por seu corpo, parando
quando o meu olhar se alinha com o seu membro ereto e assustador.

Mordo o meu lábio inferior com força, segurando a minha surpresa em


encarar o seu pênis tão naturalmente. O seu pau estava solto, ereto e
visivelmente rígido como uma rocha, a sua cabeça era grande e robusta,
combinando com a grossura da sua extensão grandiosa. Imediatamente, eu
sinto aquela necessidade louca no meio das minhas pernas, aquela quentura
avassaladora que se instalava em minha intimidade encharcada e
escorregadia.

Em um gesto involuntário, eu abro as minhas pernas, me expondo para


o seu bel-prazer, deixando bem claro, que eu estava gostando de observar a
sua nudez. Ainda encarando aquele monstro no meio das suas pernas fortes,
eu noto as veias salientes e saltadas ramificadas no entorno do seu membro
animalesco, a cabeça rosada do seu pau estava brilhando, indicando a sua
excitação.

O meu rosto arde e as minhas bochechas queimam com o calor daquele


quarto, e eu tenha certeza, que os seus olhos escurecidos me devoravam e
me engoliam, apenas com o mar esverdeado do seu olhar, dominado
intensamente pelo desejo cru e carnal. Umedeço os meus lábios com a
minha língua molhada e fito o seu olhar selvagem. O seu cabelo liso estava
bagunçado em uma desordem absurdamente sexy e a sua nudez era linda e
de tirar o fôlego.

— Eu quero tocar em você! — Deixo escapar o meu desejo em voz


alta, e sem esperar uma resposta da sua parte, eu me sento na cama, olhando
diretamente em seus olhos claros. — Eu quero sentir a sua pele na minha.

— Não me provoque, bela! — A sua voz estava carregada de volúpia


e o seu tom de reprovação estava rouco, denunciando todo o seu tesão. —
Eu não sei ser delicado e ainda não é o momento, Serena!

— Não me negue isso... — Provoco, ignorando o seu olhar cortante e


aproximando o meu rosto do seu abdômen, beijando sutilmente a sua
barriga definida e bem esculpida. — Por favor...

As suas mãos grandes logo tomam posse do meu cabelo, apertando o


meu couro cabeludo com força, me puxando para si com vontade, forçando
a minha boca a beijar com intensidade a sua pele aquecida. Completamente
dominada pelo clima ousado e provocativo, eu deslizo as minhas mãos até
as suas coxas firmes, fitando diretamente o seu membro pulsante e
grandioso.

Lentamente, eu caminho uma das minhas mãos até o seu pau rígido,
tocando e apertando com vontade toda a sua extensão latente. O seu pênis
era longo e grosso, e movida pelo desejo, eu pressiono um pouco mais,
conhecendo e querendo sentir com mais clareza, o seu latejar contrastando
com a palma da minha mão. Sinto quando o seu agarre em meu cabelo se
intensifica e um gemido abafado escapa por sua boca tentadora, me
alertando que ele também já estava perdido.

Volto o meu olhar para seu o rosto bonito e encontro os seus olhos
ferozes, e o seu jeito de me fitar, afeta diretamente o meu ventre, fazendo
com que a minha intimidade se contraia desejosa e ansiosa. Perdida em seu
olhar intenso, eu deslizo a minha mão por toda a sua extensão, em um vai e
vem ritmado, sentindo-o inchar e crescer cada vez mais, em minha mão.

Como se ele pudesse ler os meus pensamentos, Giovanni leva a sua


mão em cima da minha e bombeia o seu pau com intensidade, com mais
pressão, conduzindo-me durante todo o processo. Por um breve instante, ele
se perde, fechando os olhos e gemendo discreto. Ele se movimenta em
minha mão, impulsionando com força os seus quadris, fazendo com que
uma nova onda de excitação me atinja, como se aquele movimento sedento,
fosse do seu pênis me invadindo e me possuindo sem nenhum pudor.

O seu membro estava extremamente duro em minha mão, a sua


pulsação era intensa e latente, o calor que exalava do seu pau queimava a
minha pele, mas ainda não era o suficiente... eu queria muito mais... Eu
queria senti-lo latejar e se despejar dentro de mim, unindo finalmente os
nossos corpos sedentos. A sua mão ainda estava guiando a minha,
apertando o seu pênis, variando a velocidade e a pressão do meu
movimento cadenciado.

Giovanni arqueia o corpo ligeiramente, mordendo os seus lábios com


força, em uma tentativa falha de segurar os seus gemidos de prazer.
Aumento o aperto, deslizando a minha mão em um sobe e desce que fazia o
meu ventre formigar, como se estivesse recebendo e engolindo aquele
membro grosso e robusto. Aperto mais os meus dedos finos ao seu redor,
comprimindo o seu pau com fervor, roubando-lhe mais um gemido que me
levava ao êxtase puro.
Em um gesto ousado, eu deslizo o meu polegar por sua cabeça úmida,
espalhando a sua excitação espessa e viscosa, prendendo-me mais a sua
luxúria convidativa. Fecho as minhas pernas, apertando uma contra a outra,
buscando aumentar o meu prazer e saciar a minha vontade insana de me
libertar. A minha intimidade estava escorregadia e extremamente molhada,
eu sentia o inchaço dos meus grandes lábios, que pulsavam e se contraíam,
me levando a loucura.

Giovanni volta a apertar os fios do meu cabelo e acaricia os meus


lábios com o seu polegar áspero. Fito a sua mão grandiosa e os seus dedos
longos, atiçando a minha curiosidade em imaginar ele afundando um ou
dois deles dentro de mim. Me assusto com os meus pensamentos impuros e
loucos. Quem eu havia me tornado? Quem era essa mulher sedenta e
desejosa que tomou o meu corpo? Mas, antes que eu consiga formular
alguma resposta para as minhas perguntas, Giovanni me afasta do seu
corpo, me empurrando levemente e me deitando novamente no colchão
macio.
Ele apoia uma de suas mãos ao lado da minha cabeça e com a sua mão
livre, ele aperta o meu seio, pressionando o bico endurecido entre os seus
dedos hábeis. Em resposta ao seu gesto pecaminoso, eu solto um gemido
longo, e querendo urgentemente me calar, eu seguro a sua nuca, puxando-o
na minha direção, invadindo a sua boca com a minha língua molhada. O
nosso beijo era quente e caloroso, a sua língua macia e aveludada acariciava
a minha com vigor, intensificando todas as sensações, enlouquecendo todas
as minhas células.

A medida que o nosso beijo se aprofundava, a sua barba áspera


arranhava a pele sensível do meu rosto, enviando ondas de prazer por minha
pele. A sua mão que antes estava em meu seio, agora passeava por minha
bunda, e logo, ele alcança a minha coxa, puxando-a para a lateral do seu
tronco, forçando o encaixe bruto dos nossos sexos. O seu membro
enrijecido toca a minha barriga e os seus testículos quentes roçam em meu
clitóris, me obrigando a arquear as costas em busca de uma maior fricção.
Abraço a sua cintura larga com a minha outra perna, me rendendo de
uma vez por todas, ao monstro insaciável que me devorava. Giovanni volta
a sua atenção ao seu pau latejante, ajeitando e forçando a sua glande
robusta a acariciar toda a extensão dos meus grandes lábios, escorregando
toda a sua dureza por minha excitação, estimulando a minha buceta. Ele se
esfrega em meu ponto de prazer sem nenhuma piedade, alcançando pontos
sensíveis e forçando levemente a sua entrada em minha carne inchada. Os
meus mamilos estavam duros e doloridos, e ambos, encostavam
sofregamente em seu peitoral definido, em um vai e vem delicioso.

A cabeça úmida do seu pênis pincelava por toda a extensão da minha


entrada, e quando chegava perto do meu clitóris, ele segurava,
aprofundando o contato. Gemo deliciada entre os seus lábios, apertando
com ardor os cabelos molhados da sua nuca. Aquela sensação era incrível!
Era maravilhosa! O roçar da minha carne úmida em seu pau extremamente
duro e quente me levava ao êxtase puro, me fazendo revirar os olhos
quando a sua glande macia escorregava por cima do meu clitóris sensível.

— Eu quero ouvir os seus gemidos, Serena! — Ele provoca, com a sua


voz rouca e orgástica, forçando o seu membro grosso e pulsante
indelicadamente em minha intimidade. — Eu quero os seus desejos, eu
quero ouvir dessa sua boca atrevida o som do seu prazer!
Mordo o seu ombro, abafando os meus gemidos animalescos que
escapavam cada vez que ele investia contra mim. O suor salgado escorria
por minha testa e por minha lombar, deixando o clima mais quente e mais
intenso. Giovanni passa a sua língua morna por meu pescoço, finalizando o
seu trajeto tentador com uma mordida no lóbulo da minha orelha, me
atiçando e me enlouquecendo de vez. Arqueio as minhas costas, buscando
mais contato e mais fricção em seu pênis, e com esse movimento, eu escuto
o seu gemido primitivo.

— Isso, minha menina! — Ele rosna, impulsionando o seu quadril na


minha direção, afundando só a sua cabeça dentro de mim, pedindo
passagem entre os meus lábios inchados, latejando e pulsando com
violência no meu interior molhado. — Eu vou te ensinar a gozar e a sentir o
prazer mais genuíno e verdadeiro.

O meu ventre já se manifestava, formigando aflito e agoniado por


libertação. A fricção sôfrega me levaria ao paraíso em pouco tempo,
arqueio novamente as minhas costas, unindo os nossos quadris, me
esfregando nele sem reservas, imitando o seu ritmo indecoroso, e pela
primeira vez, eu sinto o seu corpo experiente fraquejar. Fito os seus olhos
escurecidos e me arrisco a rebolar os quadris, tentando engolir mais um
pouco daquele monstro vigoroso.

O meu gesto afoito faz com que labaredas reflitam em seu olhar feroz,
e logo, ele investe mais um pouco, voltando a dominar os movimentos,
afundando e saindo superficialmente da minha carne com a sua cabeça
corpulenta. A minha boca estava seca e o ar faltava em meus pulmões, os
meus neurônios não conseguiam captar nada além do calor enlouquecedor
que emanava do seu pau sedento.

Fecho os meus olhos, buscando desesperadamente algum raciocínio


concreto, mas tudo o que eu encontrava em meu subconsciente, era o seu
membro imponente deslizando e circulando profundamente em meu clitóris
escorregadio. Os grunhidos que escapavam da minha boca eram
verdadeiros, ele estava me levando ao abismo da insanidade, me queimando
com os seus toques viris e me subjugando com o seu pau duro como aço.

Sinto o primeiro espasmo percorrer o meu corpo com violência,


arrepiando a minha espinha e a minha pele. Sem nenhuma piedade,
Giovanni investe mais uma vez, escorregando a sua glande grosseiramente
em minha fenda, a sua cabeça melada entra devagar, e quando ele sai, a sua
ereção salta livre para fora, roçando em meu clitóris durante o processo, me
levando ao auge do prazer. Eu o queria ali, inteiramente dentro de mim, sem
nenhuma culpa, e eu sei, que ele também queria isso.

Fito o seu olhar felino, ele também estava suado, a sua testa estava
molhada e os fios úmidos do seu cabelo colavam em seu rosto,
intensificando a sua selvageria. Giovanni era um homem lindo, isso eu não
posso negar! Mesmo ostentando formalidade, frieza e a sua natureza cruel,
ele conseguia ser belo, mas nada se comparava a ele se entregando ao
prazer, era um verdadeiro espetáculo à parte, que potencializava ainda mais
a sua beleza, se é que isso era possível.

Sinto o seu pau se contrair em minha buceta, se apertando e se


perdendo em minhas próprias pulsações orgásticas. A adrenalina percorre e
domina as minhas veias, deixando a minha mente confusa e irracional.
Giovanni percebe a minha aflição e acaba comigo de uma vez,
pressionando e bombeando a sua ereção fervente em meu ponto de prazer.
A minha intimidade se contrai com violência, gulosa e faminta, querendo
engoli-lo todo para si, mas, o meu marido estava disposto a me torturar,
contrariando a minha vontade carnal.

Ele não iria me tomar para si completamente, não do jeito que eu


queria. Mas, antes que eu consiga reclamar, eu sinto os espasmos violentos
atingirem o meio das minhas pernas. Gemo desavergonhada, sentindo o seu
hálito quente bater em meu pescoço, me levando as alturas. Apoio a minha
testa em seu ombro suado e inalo o seu perfume másculo, sentindo as
pulsações intensas das minhas paredes inchadas enviarem ondas de prazer
até as minhas profundezas. Fecho os meus olhos com força, tentando
controlar a minha respiração sôfrega e irregular, sentindo ainda, o pulsar
incessante da sua cabeça dentro de mim, espalhando e escorregando em
meus fluídos.

Antes que eu consiga me recompor, ele se afasta totalmente, se


levantando e ficando em pé na minha frente, me dando uma melhor visão
do seu corpo nu. Choramingo confusa, apoiando o peso do meu corpo em
meus cotovelos, ainda inerte com o seu distanciamento repentino. Analiso o
seu rosto, buscando vestígios de arrependimento ou de qualquer outro
sentimento contraditório, mas não havia absolutamente nada! Ele era um
verdadeiro enigma em todos os sentidos!
— Abra as pernas! — Ele ordena, totalmente sério, me prendendo com
o seu olhar sensual, dominado pela áurea da luxúria. — Abra as pernas para
mim!

As suas palavras estavam carregadas de sensualidade, fazendo com que


um formigamento se espalhe em meu ventre, em um prelúdio do que estava
prestes a acontecer. Respiro fundo, tentando recuperar o meu fôlego, ainda
sem saber o que ele iria fazer. Acompanho os seus movimentos certeiros,
arfando quando vejo aquele homem extremamente sexy segurar o seu pênis
ereto e o manipular com vigor, deixando se levar pelo prazer.
Esqueço o seu olhar atento sobre mim e foco em sua mão grande,
bombeando majestosamente toda a extensão do seu pau inchado. Mordo o
meu lábio inferior com vontade, querendo dissipar a tensão que se instala
em meus músculos pesados, me entorpecendo completamente. O meu
coração bate acelerado, desfocando tudo ao meu redor, me fazendo
esquecer, eu não lembrava mais do meu ferimento, e muito menos, do
orgasmo arrebatador que me levou ao abismo há poucos segundos atrás. Eu
estava focada em uma única coisa, deslumbrada fielmente na visão
pecaminosa daquele homem se tocando.

Abro as minhas pernas, sentindo o meu próprio gozo escorrer por toda
a extensão da minha buceta, e assim que obedeço a sua ordem, ele geme.
Era extremamente prazeroso e excitante ouvir os seus gemidos roucos e
animalescos, era um verdadeiro espetáculo particular vê-lo assim tão à
deriva... se masturbando e buscando alívio por minha causa. Aquele homem
experiente e dominador estava totalmente entregue, se tocando e gemendo
na minha frente, enquanto me devorava com o seu olhar insaciável.

Sua mão sobe e desce em seu membro potente, bombeando a cabeça do


seu cacete com mais intensidade. O seu ritmo aumenta, e logo, os seus
gemidos se tornam mais altos, me deixando extasiada e com muito calor. A
sua desenvoltura era perfeita, esbanjando elegância em seu gesto indecente,
deixando a cena cada vez mais deslumbrante. Em alguns momentos, ele
fechava os olhos e se deixava envolver pela libido, em outros, ele capturava
o meu olhar, ou simplesmente, ele deslizava os seus olhos famintos por meu
corpo, incendiando a minha pele quente.

A sua glande estava brilhante, melada em seu próprio fluído viscoso,


que se espalhava por todo o seu pênis, de acordo com a força do seu vai e
vem ritmado. Giovanni geme mais abertamente, me fitando com os seus
olhos esverdeados, enquanto a sua mão grosseira trabalha ativamente para o
seu corpo alcançar o seu próprio prazer. Os seus movimentos estavam mais
sôfregos e os seus gemidos mais longos, fazendo com que o seu pescoço
penda para trás em busca de alívio.

Eu estava hipnotizada e não conseguia parar de admirá-lo, era


espetacular a visão do seu corpo musculoso lutando contra a rendição
iminente. Sinto a minha intimidade se contrair, ansiando por um pouco mais
do meu marido, estava óbvio que eu não estava com o meu juízo perfeito,
eu só poderia estar louca! Eu estava adorando aquela tensão sexual que só
ele era capaz de despertar em meu corpo.

— Eu vou gozar em você! — Ele rosna entre os dentes, se


aproximando de mim como um predador prestes a atacar. — Eu vou marcar
a sua buceta com o meu gozo, como a porra de um animal irracional!

E no próximo instante, ele já estava em cima de mim, afundando a sua


cabeça robusta extremamente quente em minha entrada, enterrando-a entre
os meus lábios inchados e apertados. E porra! Aquilo era muito bom!
Reviro os meus olhos, sentindo o roçar insistente do seu pau em mim de
novo, ele buscava o seu próprio prazer, mas no meio do caminho, eu
também buscava o meu.

— Eu vou lambuzar você inteira, Serena! Eu vou marcar o que é meu,


bem aqui! — Ele falava e pressionava a sua glande escorregadia em meu
clitóris, forçando o contato com o seu pau pulsante, me mostrando sobre o
que ele falava. — Eu quero cada gota bem dentro de você, escorrendo por
essa bucetinha gulosa, para você saber que já me pertence por inteira!

Deixo um gemido escapar, sentindo o meu corpo se preparar para um


novo orgasmo violento. Giovanni geme de maneira sacana e os seus
músculos se enrijecem, o seu pau se contrai dentro de mim, despejando o
seu líquido quente e espesso na minha intimidade escorregadia. Abraço o
seu corpo, ouvindo os seus gemidos e sentindo as pulsações do meu ventre,
engolindo todo aquele sêmen grosso que batia em minha carne inchada.

Os meus seios estavam esmagados contra o seu peitoral e as suas


investidas eram superficiais, mas os seus jatos potentes e vigorosos
expeliam o seu gozo para dentro de mim, me marcando e me possuindo
com o seu líquido quente. Ele demarcava o seu território, impregnando o
seu cheiro e a sua posse no meu corpo. Fecho os meus olhos, me libertando
e gozando mais uma vez. Eu já pertencia a ele, mas agora era oficial! O
meu corpo era inteiramente de Giovanni Campanaro.

O seu rosto se contrai levemente pelo prazer, suavizando as suas


feições intensas, ele arqueia o corpo e expele mais jatos dentro de mim,
gemendo em meu ouvido. A minha buceta lambuzada se contrai em
espasmos violentos, engolindo boa parte do seu sêmen e expulsando o
excesso para fora, o seu gozo quente e grosso escorrega por toda a extensão
da minha fenda, gotejando em meu ânus, me melando por completo.
— Faz outra vez... goze em mim outra vez... — Sussurro ofegante,
sentindo o impacto da sua beleza me afetar, ele era lindo demais e estava
entregue como eu nunca imaginei. — Eu sou sua... marque o meu corpo
com o seu prazer...
“ No calor do momento, eu esqueci de quem você é, e
do que você é capaz. ”

Autor desconhecido.

P or um instante, Giovanni me encara confuso, sem acreditar nas


palavras indecentes que saíram da minha boca. A adrenalina ainda
martela em minhas veias, e movida por ela, eu seguro os cabelos molhados
da sua nuca e beijo a sua boca macia, sentindo a sua língua habilidosa
acariciar e explorar a minha. Aprofundo o nosso beijo, sendo mais devassa
do que jamais imaginei ser um dia.

— Você vai ser a minha ruína, Serena! — Ele rosna, puxando o meu
lábio inferior com os seus dentes, me atiçando ainda mais. — Você
apareceu na minha vida para acabar comigo!

As suas mãos grosseiras adentram o meu couro cabeludo e se apossam


dos meus fios ondulados, beijando o meu pescoço com a sua maldita barba
deliciosa, me torturando lentamente. Em um resquício de sanidade, o meu
cérebro processa as suas palavras e uma frieza repentina se espalha por
minha espinha. Aquela frase tinha um fundo de verdade, eu não cheguei
aqui por acaso, foi tudo pensado, planejado minuciosamente, alguns
imprevistos aconteceram, mas eles não negam o fato de que a minha
intenção era foder com tudo, e por ironia do destino, quem estava sendo
fodida e da maneira mais deliciosa e sacana era eu.

— Na minha cabeça... essas palavras jamais seriam ditas por mim, e


talvez, quando esse momento passar, eu me arrependa de ter confessado que
eu quero você! — Falo com sinceridade, fitando o seu olhar esverdeado
com intensidade. — Eu quero sentir você de novo!

— Não me olhe assim. — Ele repreende, segurando o meu rosto com


as suas duas mãos grandes, balançando a sua cabeça em negação, em um
gesto silencioso. — Eu não posso dar a você tudo o que eu quero, pelo
menos não agora!

— Por que não!? — Pergunto, querendo persuadi-lo, tentando de


alguma maneira entender as suas razões para não continuar, eu sei que eu
ainda não estava bem, mas já tínhamos chegado até aqui, porque não dar
mais um passo? — Eu não consigo te entender! Na primeira vez que você
me viu, você queria me foder! Não foi isso que você me disse naquele
maldito baile? E agora, que eu estou aqui dizendo que aceito ficar com
você, você recusa...

— Cala a boca, Serena! Cala a maldita boca! — Giovanni me


interrompe bruscamente, alterando o seu tom de voz e intensificando o seu
agarre em meu rosto. — Cada apelo que escapa desses seus lábios
atrevidos, é uma tortura para mim! Eu quero te foder como dever ser! Eu
quero me afundar nessa sua buceta quente e eu quero sentir esse seu canal
apertado estrangular o meu pau, se contraindo com violência, para só
depois, lambuzar você inteira com a porra do meu gozo, marcando o que é
meu até você não aguentar mais!

Estremeço com as suas palavras duras, sentindo o impacto e a força


que elas tinham sobre o meu corpo quente. O seu olhar estava sombrio e o
seu rosto estava sério, as suas expressões faciais frias não deixavam
dúvidas! Ele iria cumprir cada ato profano e indecente! O seu sêmen
espesso ainda escorria por minha intimidade, deslizando por toda a minha
extensão molhada, enaltecendo silenciosamente as suas palavras firmes. Ele
não iria ceder. Engulo em seco e afirmo com a cabeça, sabendo que a
batalha e a discussão estavam perdidas.

— Vamos tomar banho! — Ele diz, me puxando e me levando consigo


para fora da cama, acompanhando os meus passos lentos por causa dos
pontos.

Em fração de segundos, já estávamos no box, envoltos na fumaça


morna que emanava da água quente do chuveiro. A água desliza com leveza
por meu corpo, molhando os meus cabelos sujos e arrastando consigo o
suor da minha pele. Giovanni pega o shampoo e começa a lavar os fios
ondulados do meu cabelo, esfregando o meu couro cabeludo com os seus
dedos hábeis, me levando ao paraíso com uma massagem deliciosa.

Apoio as minhas mãos em seu peito, sentindo a palma da minha mão


contrastar com os pelos que desenhavam o seu peitoral definido. O
shampoo que ele usava em meus cabelos era masculino e o seu aroma forte
se espalhava por todo o cômodo, impregnando o seu perfume em mim.
Fecho os meus olhos, aproveitando aquele momento relaxante e
revigorante.

Depois de finalizar o meu cabelo, a sua atenção se volta para o meu


corpo nu, e logo, as suas mãos ensaboadas deslizam por minha pele
molhada, esfregando os meus ombros, braços, seios, descendo o seu toque
indelicado até a minha cintura. A água morna leva rapidamente o sabão,
fazendo a espuma escorrer por meu corpo aquecido. Abro os olhos e prendo
a respiração quando sinto os seus dedos tocarem levemente os meus pontos,
avaliando a extensão e a sensibilidade do corte na minha barriga.

Em silêncio, Giovanni se abaixa na minha frente, nivelando o seu olhar


indecifrável até a altura do meu umbigo, e sem aviso, ele começa a limpar a
região com um pouco mais de sutileza. Ele passa a espuma do sabão por
meu machucado, finalizando o seu trabalho minucioso com um beijo, bem
em cima da linha escura que une a minha pele. Seguro os seus cabelos
molhados, sentindo os seus fios lisos escorregarem por meus dedos com
facilidade, me perdendo mais uma vez para a sua maldita sensualidade.

A sua mão áspera desce por trás dos meus quadris, apertando a minha
bunda durante o caminho, seguindo vagarosamente até uma das minhas
coxas. Para provocá-lo, eu apoio o meu pé em seu joelho, sentindo o seu
toque se tornar mais exploratório. A sua mão ensaboada volta a acariciar a
minha pele, descendo por minha coxa erguida, seguindo todo o trajeto até o
meu pé, explorando cada cantinho do meu corpo, e involuntariamente,
todos os meus pelos se ouriçam.

— O que você sente quando eu toco em você? — Giovanni busca o


meu olhar, erguendo uma de suas sobrancelhas em um gesto interrogativo,
enquanto a sua mão habilidosa caminha até a parte interna da minha coxa.
— Nojo? Repulsa?

— Não, é claro que não. — Falo com sinceridade, encarando o seu


olhar sério, sentindo a sua mão escorregadia avançar um pouco mais, como
se ele estivesse testando os meus limites. — Eu não sei dizer o que eu
sinto... mas quando você me toca, a minha pele se arrepia...

Sinto um arrepio percorrer a minha espinha quando os seus dedos


longos tocam a minha intimidade suavemente, experimentando as minhas
reações. Giovanni me lança um sorriso convencido e termina de me lavar,
se levantando e tomando o seu próprio banho. Aproveito a sua distração
para olhar o seu corpo molhado, enquanto ele se ensaboava e a água morna
escorria por seu abdômen esculpido. Disfarço o meu olhar curioso, focando
em meus cabelos molhados.

— O que aconteceu naquele apartamento!? — Ele pergunta, me


pegando de surpresa, mudando e pesando o clima que nos rodeava. — O
que você viu lá!?

Sinto os meus músculos se enrijecerem e evito o seu olhar perspicaz, e


todas aquelas informações que estavam esquecidas me bombardeiam de
imediato, me deixando receosa. O Lorenzo era um traidor, os russos
também eram falsos aliados, mas como eu iria contar tudo isso para ele?
Como falar a verdade e não me colocar como suspeita? Como explicar essa
minha posse de informações, informações essas, que nem ele mesmo tinha?

— Eles estavam atrás de mim, eles queriam me matar para atingir você
de alguma forma. — Digo, tomando coragem e fôlego para contar algumas
coisas, controlando o meu tom de voz a todo momento. — Todos eles
falavam em russo e os seus nomes também eram característicos do país, e
eles mencionaram um chefe... uma pessoa que era próxima a você, um
traidor!

Alerto, analisando o seu olhar esverdeado, tentando captar as suas


emoções em relação ao que eu havia dito. Apesar de aceitar a sua
companhia ao meu lado, eu ainda estava jogando sozinha, eu não podia
confiar cegamente nele, não sem saber o meu grau de importância em sua
vida. Eu sei que aos poucos eu estava conquistando e ganhando espaço, mas
se eu mencionar o Lorenzo, será que ele vai acreditar em mim? Vai ser a
minha palavra contra a do homem, que de certa forma, o criou! Eu preciso
ser extremamente cautelosa para não cometer erros.
— Você lembra de algum nome? — Ele insiste, prendendo o meu olhar
ao seu, examinando as minhas respostas com o seu jeito frio e impassível.
— Eu preciso saber, Serena! Não minta para mim, eu sei quando você está
mentindo! Eu preciso saber de tudo, PORRA!

Me assusto com o seu tom alterado, desviando o meu olhar do seu, e


imediatamente, uma de suas mãos agarram o meu maxilar, forçando o nosso
contato visual. Engulo a minha saliva, sentindo um nó se formar em minha
garganta e a adrenalina pulsar em minhas veias, mas dessa vez, era de
tensão. Agora era tudo ou nada! Eu não tinha escapatória, eu precisava
pensar rápido para escolher as palavras certas.

— Eu não lembro de muita coisa, depois que eu me cortei tudo ao meu


redor ficou turvo e distante... — Minto descaradamente, sentindo o seu
aperto se intensificar em meu rosto, fazendo com que a minha cabeça arda.
— Tudo virou uma confusão... o barulho dos tiros... o meu sangue
escorrendo... a única coisa que martelava em minha cabeça era que eu
precisava me salvar! Eu não lembro de mais nada... eu juro que não
lembro...

Sinto algumas lágrimas embaçarem e escorrerem por meus olhos, mas


elas não eram verdadeiras, eu estava forçando o choro, porque eu precisava
convencê-lo que naquele momento eu era uma mulher fragilizada e
indefesa. Sinto o seu aperto ceder, e logo, eu estava chorando em seu peito,
afundando o meu rosto em sua pele quente, sentindo o seu maldito cheiro
inebriante me invadir. Os seus braços fortes me rodeiam, intensificando o
momento, e eu quase deixo escapar um suspiro de alívio. Ele tinha
acreditado!
Os dias foram passando e aos poucos, eu me recuperava, as dores já
haviam passado e os pontos na minha pele desinflamaram e secaram.
Aquele médico que me atendeu no hospital veio aqui avaliar e retirar os
pontos do meu ferimento e também suspender os medicamentos. Com o
passar das semanas, eu ia me acostumando a minha nova vida de casada,
dividindo a mesma cama com o homem que agora era o meu marido.
Confesso que ainda é difícil dormir ao lado de alguém, a sensação que eu
tenho, é de estar vulnerável, mas não é algo de todo ruim.
Os meus pesadelos ainda me atormentavam, eles insistiam em me
transportar para aquelas lembranças infernais da minha infância, me
prendendo e me aprisionando naquele passado horroroso. Era bem provável
que Giovanni já tenha escutado os meus gemidos e grunhidos de agonia,
afinal, dormíamos juntos, mas ele nunca mencionou isso em nossas
conversas, e de certa forma, eu preferia assim.

Me ajeito na poltrona e deixo um suspiro de derrota escapar por meus


lábios. Eu estava entediada. Apoio o meu queixo em minha mão,
descansando o meu peso no braço da poltrona acolchoada, além de estar
sem celular e sem comunicação, eu obviamente, estava sem armas. Eu
observava Mike de longe, ele continuava em sua posição, esperando
pacientemente as minhas ordens, mas, Giovanni mudou o seu posto e estava
quase impossível ter contato com ele. Eu só poderia conversar mais de
perto, quando eu saísse da mansão, e infelizmente, ainda não era o
momento adequado.
A mansão Campanaro era um espetáculo luxuoso, todos os cômodos
esbanjavam elegância e soberba ao extremo. Giovanni tirou um pouco do
seu tempo para me mostrar os ambientes principais da edificação, e me
proibiu, com veemência, de sair da propriedade e de entrar em seu
escritório. Eu passava as manhãs e as tardes praticamente sozinha,
memorizando e decorando a planta baixa da casa. Os empregados eram
bastante discretos, eles mal falavam e interagiam, mesmo eu tentando puxar
assunto, eles prezavam a formalidade, sempre muito assustados e ocupados
em seus afazeres.

A verdade? Era que eu não tinha muita liberdade, viver presa e sem
poder sair para onde bem entendesse, me incomodava. Eu não nasci para
ser uma mulher troféu, e em uma coisa Giovanni tinha razão... eu conheci o
gosto da liberdade e já estava desacostumada a viver sob as leis rígidas e
machistas da máfia. Mas, por enquanto, eu não tinha outra opção, ao seu
lado eu poderia ter acesso livre aos meus inimigos, e de certa forma, eu
estaria mais protegida também.

Fecho os meus olhos, e tento recriar as saídas mais desprotegidas da


casa em minha cabeça, eu já conhecia os acessos e os cômodos
perfeitamente, mas tinha um em especial que me intrigava, e ele só vivia
trancado, escondendo algo que eu adoraria desvendar e que atiçava a minha
imaginação. O escritório... era lá que estava as informações valiosas, e na
primeira oportunidade que tivesse, eu iria explorá-lo, para só depois
encontrar Mike e repassar as novas prioridades.

Na minha cabeça, o desconhecido ainda era uma incógnita e o único


nome que se destacava dos demais, era o do desgraçado do Will Vandewall.
Solto o ar que estava preso em meus pulmões, expressando o meu
incômodo, a falta de informações era algo preocupante, e isso significava
problemas! Infelizmente, eu ainda não poderia contar com a influência e o
poder do meu marido, a nossa relação era esquisita, tínhamos intimidade
para dormir juntos, mas não para conversar abertamente sobre outras coisas.
Eu sei que isso é um reflexo da sua natureza fria, afinal, ele é um homem
inflexível e indecifrável, que ergue sempre que pode, uma barreira ao redor
desses assuntos mais delicados.

A brisa fria da madrugada adentra o quarto e o cheiro característico da


noite invade as minhas narinas, arrepiando a minha pele e deixando os bicos
dos meus seios endurecidos. Sinto as minhas pálpebras pesarem um pouco,
e me obrigo a me manter acordada, já deveria passar das duas da
madrugada e nada do meu marido aparecer. Ainda era estranho esperá-lo,
afinal, eu vivi muito tempo sozinha, sem depender de ninguém, mas nesse
pouco tempo morando juntos, eu já sentia a sua falta, sentia saudade do seu
perfume e do calor do seu corpo.
Geralmente, eu amanhecia sozinha na cama, era raro eu acordar e
encontrar o seu corpo colado ao meu, mas as vezes acontecia. Eu ainda não
sei como confessar a verdade a ele, eu não consigo enxergar uma maneira
de contar tudo sem me tornar um alvo em potencial... Saio dos meus
pensamentos com o barulho da porta se abrindo com brusquidão, Giovanni
entra no quarto sem falar absolutamente nada e me lança o seu olhar gélido
sobre mim, me analisando de longe.

Em silêncio, ele começa a se despir, retirando o seu paletó escuro, e em


seguida, ele coloca a peça fina em cima da cômoda, revelando a sua camisa
ensanguentada. O tecido claro estava banhado em sangue grosso,
respingando o líquido ferroso no carpete acinzentado, e por um ligeiro
instante, eu penso ser dele. Por impulso, eu faço menção em me levantar,
mas logo ele fecha a cara, cortando o nosso contato visual.
— Esse sangue todo é seu? — Pergunto cautelosa, mesmo sabendo que
ele não iria me responder. — Você torturou alguém?

Ele me ignora e eu quase reviro os olhos com aquele momento de


indiferença, era impressionante o quanto ele me deixava entrar em certas
situações... e em outras, ele me enxotava como uma qualquer. Observo os
seus movimentos precisos e certeiros, Giovanni tira o seu coldre e o celular
do bolso, e ambos se juntam ao paletó na cômoda de madeira, e logo, ele
segue na direção do banheiro, fechando a porta atrás do seu corpo forte.
Suspiro pesadamente, sentindo o clima tenso se dissipar um pouco. O
barulho da água caindo me desperta, e rapidamente, eu vou até os seus
pertences, deslizando os meus dedos por seu paletó preto. O tecido era liso
e muito macio, olho de soslaio em direção a porta do banheiro, e ao
constatar que ele não sairia tão cedo, eu levo a roupa até o meu nariz,
inalando o seu cheiro tentador. Depois de me drogar com o seu perfume, a
minha atenção se volta até o seu coldre, a peça de couro marrom prendia em
seus ombros largos, dando melhor acesso e agilidade na hora de puxar o
armamento.

Retiro a arma dourada que estava fixa no coldre e seguro o objeto


metálico em minhas mãos, me surpreendendo com o peso da pistola. Era
uma glock toda dourada, e apenas o seu cabo foi confeccionado na cor
preta, cravejado com adornos dourados e em alto-relevo. Com certeza não
era uma arma comum, era raríssima e muito pouco usual, aquilo era uma
verdadeira obra prima cheia de detalhes minuciosos. Observo o cabo e vejo
G. Campanaro escrito em uma letra de assinatura, indicando que essa era
uma peça feita sob encomenda.

Confiro a porta do banheiro novamente, me certificando a todo


momento, que eu não seria pega manuseando a pistola. Destravo a arma e
retiro o cartucho de munição com cuidado, a capacidade de recarga era de
dez balas, e tinha apenas oito disponíveis, todas elas fabricadas em ouro
maciço, ostentando riqueza em excesso. Não havia dúvidas, era uma arma
de família, uma pistola feita por encomenda para o herdeiro da máfia
italiana. Em um relance repentino, a tela do seu celular brilha em cima da
cômoda, alertando a chegada de uma nova mensagem, e sem hesitar, eu
seguro o aparelho com uma das minhas mãos.

Desbloqueio a tela do aparelho e visualizo o conteúdo das imagens,


sentindo a bile do meu estômago chegar a minha boca, me sentindo
nauseada com o horror que estava naquelas fotos perturbadoras. Na
primeira imagem tinha um homem pendurado pelo pescoço com uma
corrente grossa, o seu rosto estava roxo pela asfixia, e as laterais das suas
bochechas estavam dilaceradas, fazendo com que o seu maxilar pendesse,
fixo apenas por um pedaço mole de pele ensanguentada. Mas, o que era
mais perturbador, era a sua barriga... Tinha um corte enorme em seu
abdômen, uma abertura de ponta a ponta, expondo o seu intestino e as suas
vísceras reviradas, os seus órgãos internos pularam para fora, jorrando
sangue e líquidos estranhos em excesso pelo chão.

Passo para a próxima foto e deixo a arma e o celular caírem das minhas
mãos, colocando ambas em minha boca, com a tamanha barbaridade que
estava exposta naquela maldita tela...
“ Hoje, eu percebi que a mentira corrompe e devasta
tudo o que o amor constrói...”

Jean Rocha.

O barulho dos objetos se chocando com o carpete soa abafado, e


movida pelo estado de estupor, eu me abaixo, tateando o chão
atordoada, sentindo as minhas reações motoras reagirem em estado
letárgico. A imagem horripilante estava fixa em minha cabeça, abalando o
meu raciocínio e esfriando as minhas entranhas. Matar pessoas já fazia
parte da minha rotina e eu já estava acostumada a ver as expressões inertes
de um cadáver abatido, mas o que estava estampado ali... era desumano...
era cruel...

Sinto os meus dedos tocarem algo gelado e mesmo com o meu


psicológico implorando e gritando para eu me afastar daquele celular, eu
seguro o aparelho, tomando coragem para encarar aquelas fotos novamente.
Eu precisava ter certeza do quão longe ele poderia ir... e em um momento
de intrepidez, eu analiso as imagens, sentindo o impacto daquela maldade
sem tamanho. A sensação que me assolava era estranha, era como se eu
tivesse recebido um soco certeiro em meu estômago, e o meu corpo
confuso, buscasse desesperadamente algum meio para reagir aquele golpe
violento.

Tinha uma mulher... ela estava na mesma posição do homem da


primeira foto, enforcada... com as mesmas feições de agonia em seu rosto
jovem. O cenário ao redor dos corpos era o mesmo, um local escuro e
úmido, com respingos e jatos de sangue grosso espalhados pelas paredes,
completando o espetáculo infernal. Analiso as expressões de agonia da
mulher, sentindo um sufocamento se alastrar por minha garganta,
imaginando a dor que ela havia passado para fazer o seu rosto pender e se
distorcer daquela maneira perturbadora.
A sua face estava arroxeada, a sua pele clara estava com vários
machucados e feridas horripilantes, provavelmente provocadas por alguma
arma cortante. A agonia enlouquecedora que estava cravada em seu rosto,
denunciava a tortura covarde e perversa que ela havia sofrido, até perder
para a asfixia provocada pela corrente de ferro envolta em seu pescoço
destroncado e inchado.

Deslizo o meu olhar para a sua barriga exposta... sentindo o meu


estômago se contrair com força, obrigando o meu corpo a arquear em uma
ânsia involuntária, forçando um vômito inesperado e inexistente. A cena
por si só era pavorosa, mas o seu significado era muito maior... O seu
abdômen também estava aberto, cortado precisamente no seu ventre roliço,
um corte profundo... que invadia e dilacerava cada camada espessa da sua
pele... acabando com o suporte dos seus órgãos, forçando a queda das suas
vísceras ensanguentadas.

Mas, a cena era muito pior... ao contrário do outro prisioneiro, a sua


barriga estava vazia, as suas entranhas foram arrancadas grosseiramente,
fazendo com que pedaços de seus órgãos se rompessem e ficassem
divididos em partes gosmentas e irreconhecíveis. A metade de seu intestino
grosso estava dentro da sua carcaça oca, pendurado em algo que não tinha
se rompido, e a outra parte, estava caída no chão, banhada em sangue e em
líquidos desconhecidos. Mas, nada disso chegava perto do horror que
finalizava aquela cena asquerosa... não era só os órgãos... não era só o
sangue... não era os pedaços miúdos destroçados que se amontoavam no
chão... naquele monte de crueldade... tinha um embrião... um bebê em
formação... que teve a sua vida interrompida...

Ouço um barulho discreto atrás de mim, e em um movimento rápido,


eu pego a arma dourada, me levantando com agilidade e apontando a pistola
na direção do homem que agora estava na minha frente. Fito o olhar gélido
do meu marido, sentindo a diversão refletir de maneira sutil em seu rosto.
Ele ainda estava de calça social e com seus sapatos escuros, a única peça de
roupa que faltava era a sua camisa ensanguentada. Mas, o seu abdômen e o
seus braços ainda estavam sujos de sangue.

— Foi você !? — Pergunto exaltada, deixando transparecer em minha


voz o impacto que aquela maldita foto causou em mim, mantendo a minha
mira fixa em seu peito desnudo. — Me responde!!

Giovanni me analisa por uns instantes, ostentando em seu rosto frio,


um sorriso de escárnio, deixando bem claro que a minha presença não o
ameaçava nem um pouco. O meu coração estava acelerado, batendo em um
ritmo frenético que abafava os meus tímpanos, criando um ruído incômodo
em meus ouvidos. Engulo em seco, sentindo a minha boca secar com
rapidez pela falta de saliva, sentindo a adrenalina correr e pulsar por minhas
veias, atiçando os meus instintos de assassina.

— Fui eu! Eu matei eles! — Ele responde de maneia cínica, mantendo


o seu semblante frio e impassível. — Agora deixe de ser uma imbecil e
abaixe a arma!

— Ela estava grávida! Grávida! E você sabia disso... — Constato,


sentindo um nó se formar em minha garganta, à medida que, os meus
pensamentos se confirmavam. — E mesmo assim você foi capaz de torturá-
la, sabendo que tinha um bebê inocente no meio de tudo...
— NÃO FAZ DIFERENÇA, SERENA!! — Ele grita com a sua voz
potente, alterando o seu tom de maneira brusca, enquanto me fita com o seu
olhar congelado e endurecido. — Você acha mesmo que eu me importo com
isso? Acha mesmo que essa peculiaridade interfere nos atos de um
assassino!? Não existe princípios na máfia, as vezes matar não é nada
pessoal, é algo necessário!

— E se fosse a porra de um filho seu!? Han!? — Pergunto irritada,


sentindo o meu rosto esquentar pela tensão do momento. — E se fosse um
filho que tivesse o seu sangue, isso não te comove também!?

Fito o seu olhar, tentando encontrar alguma evidência ou algum


resquício de arrependimento da sua parte, mas o seu rosto e os seus olhos
não deixavam transparecer absolutamente nada. Balanço a minha cabeça
em negação, sem acreditar nas palavras que saíram da sua boca. Eu não sou
hipócrita, eu também sou uma assassina! Mas, essa situação era algo
totalmente diferente.

Matar uma pessoa por legítima defesa era uma coisa, torturar uma
pessoa desgraçada e fodida era outra, porém... torturar um inocente...
estripar e arrancar um bebê de uma barriga de uma mãe... era monstruoso!
Era doentio! Sinto a minha cabeça doer, em um aviso claro que as coisas
estavam caminhando por uma trilha indesejada, saindo de um destino
bonito para seguir por um rumo obscuro e corrompido. Talvez... esse seja o
preço! Um preço justo a ser pago, para ter a felicidade que eu nunca tive, e
que em um momento de ilusão, eu achei que a teria...

— Eu fiz o meu trabalho, eu fiz uma limpa! — Giovanni responde de


maneira ríspida, me repreendendo com o seu olhar duro e irredutível. — Eu
não posso deixar pontas soltas para trás, traidores sabem a consequência do
seu destino, e você, sabe muito bem disso!

A sua voz rouca ecoa na minha cabeça, me deixando indecisa e


atordoada, enquanto o seu olhar permanece firme e pacífico, exalando
aquela maldita áurea de superioridade que ele erguia quando se sentia
ameaçado. Mas, apesar da arma estar em minhas mãos, o seu jeito cínico
não se abalava, ele era extremamente frio e calculista, mesmo com a minha
mira apontada na direção do seu peito, as suas feições não se alteravam.
Giovanni me fuzila com o seu olhar cortante, erguendo uma de suas
sobrancelhas em um gesto provocativo, e no próximo instante, ele dá dois
passos na minha direção.

— NÃO SE APROXIME DE MIM! — Grito, erguendo e apontando a


pistola na direção do seu rosto, sentindo que ele estava me subestimando a
todo o momento. — Se você se aproximar... eu vou atirar!

— ATIRA! VAI EM FRENTE!! — Ele grita, aumentando a potência


da sua voz, me assustando com o seu jeito sombrio. — Mas eu sugiro que
você atire para não errar, porque se você apertar esse gatilho e essa bala não
atingir a minha cabeça ou o meu coração, você estará morta depois, e eu
vou estar pouco me fodendo se você me interessa ou não, porque eu não
vou te dar outra chance!

— Acha que eu não sei atirar!? — Rosno, destravando a pistola,


fazendo com que o som característico do destrave do gatilho se espalhe pelo
espaço. — Acha que eu sou uma completa idiota que não sabe manusear a
porra de uma arma!?

Giovanni sorri com as minhas palavras, ele estava me atiçando de


propósito, o seu sorriso frio demonstrava as suas intenções, ele queria me
tirar do sério, testar até onde a minha coragem iria. O clima que se
espalhava pelo cômodo estava pesado e espesso, e a sensação de
sufocamento me consumia com rapidez, roubando-me o fôlego e me
deixando em estado de alerta.

Eu sabia me comportar diante de um inimigo, eu também era fria, mas


por alguma razão, ele me desarmava... Era algo inexplicável... ele fazia com
que tudo funcionasse de maneira diferente, absolutamente tudo! Se fosse
qualquer outro, eu não hesitaria em apertar o gatilho, mas eu não
conseguia... eu estava impotente! O meu coração que era para estar
controlado, estava louco, me confundindo, querendo se sobressair a minha
razão... lutando bravamente para me enlouquecer! E o único sentimento que
passava em minha cabeça nesse instante, era que eu não estava disposta
matá-lo, porque simplesmente, eu não sou capaz de matar o único homem
que me libertou dos meus tremores.

— Inocentes estão morrendo e você não faz nada para impedir! Você
faz o contrário, você usa a tortura contra eles e da maneira mais covarde!
— Respondo, sentindo o seu olhar frio percorrer o meu rosto, arrepiando a
minha espinha de uma maneira assustadora. — As suas ordens valem mais
que as regras!

— Eu não faço as regras, Serena! Por acaso, você acha que eu estou
feliz!? — Ele pergunta, deixando claro em seu tom que não era mentira, o
peso que entoava as suas palavras era verdadeiro. — Se você me matar ou
se eu desistir, você acha que o próximo Don será melhor do que eu? Acha
que ele vai ser mais justo? Você acha que a pessoa que assumir o meu lugar,
vai ser bondosa? Eu tenho obrigações. Eu nasci para ser o Don, o meu pai
também foi, e o meu filho, também será!

Absorvo as suas palavras árduas, sentindo o impacto da força que elas


tinham sobre mim. Ele não estava mentindo, ele estava coberto de razão! A
máfia era um maldito ciclo vicioso, um círculo sem fim que não acabava
nunca! Se ele saísse, outro viria, e era capaz de ser muito pior que ele. Sinto
a dúvida se enraizar em meu interior, me deixando receosa em relação a
tudo que eu renunciei, em nome da minha vingança! Alguém matou o
Benjamin, e nesse meio tempo, eu matei muita gente pelo caminho,
alimentando esse carrossel de sangue derramado. Isso nunca iria parar, eu
nunca iria conseguir sair dessa maldição... era um maldito pesadelo!

— Sabe, Serena... eu estou sendo muito paciente com você! Eu estava


esperando você me contar, por livre e espontânea vontade, mas pelo visto,
você só vai falar quando as coisas chegarem em outro nível! — Analiso o
seu tom de voz e as suas palavras duras, querendo saber se era um blefe ou
se era uma afirmação. — Acha que eu deixei o celular desbloqueado por
um descuido!? Eu não costumo cometer esses erros, bella!

— Não me confunda! — Respondo, sentindo o seu olhar frio percorrer


o meu rosto, arrepiando a minha espinha de uma maneira assustadora. —
Eu não sei do que você está falando e não mude de assunto.

— Ah, não!? Eu mandei revistarem aquele maldito apartamento até


encontrarem alguma pista do desgraçado que ousou me desafiar... e que
também, feriu a minha mulher! Mas, para a minha surpresa, foi encontrado
algo muito mais interessante. — Giovanni diz, buscando algo no bolso da
sua calça social, e logo, ele ergue a sua mão grandiosa, mostrando a pílula
de veneno entre os seus dedos grossos. — Você não precisa se justificar, a
expressão que está em seu rosto já diz tudo! Eu imagino que você saiba do
que se trata esse comprimido, que por coincidência, foi encontrado junto
com uma pistola.

Sinto o meu coração falhar uma batida com a revelação que chega aos
meus ouvidos, e minha mente automaticamente, rebobina, tentando buscar
um sentido para o que acabou de acontecer. Aquela pílula e aquela arma
estavam escondidas embaixo da nossa cama, não era um lugar seguro, mas,
jamais passou pela minha cabeça que esses objetos ficariam para trás. Foi
um descuido! Mas não tinha como evitar, eu estava inconsciente e muito
ferida quando saí daquele apartamento e eu não tive opções!
— Foi ele que mandou você? — Giovanni pergunta, sondando as
minhas respostas e o jeito que eu segurava a arma em minhas mãos. —
Você trabalha para o desgraçado das penas negras!? ME RESPONDE,
CARALHO!

A sua voz potente e grossa faz com que o meu corpo vacile por alguns
segundos, me atordoando com a sua maneira bruta de falar, e nesse instante,
ele se aproxima e agarra o meu braço com a sua força descomunal.
Giovanni aperta o meu membro com brusquidão, derrubando a pistola das
minhas mãos e me puxando para perto de si com toda a sua raiva. Eu estava
em choque, eu não imaginei que essa informação chegaria tão cedo em suas
mãos, e para completar, a minha mente estava confusa, buscando alguma
solução para essa enrascada.

— Você está me machucando... — Reclamo cínica, sentindo a dor se


instalar e se espalhar por meus músculos, e logo em seguida, eu fito o seu
olhar gélido, erguendo o meu queixo em sua direção, tentando nivelar os
nossos olhares. — Eu não sei do que você está falando...
— Não minta para mim! — Ele rosna, segurando e agarrando o meu
maxilar, apertando o meu rosto com a sua mão forte. — A mentirosa aqui, é
você...
“ Penso como um assassino, vivo como um psicopata,
executo as minhas ações como um bom calculista que
sou. E depois... apenas relaxo, vendo o sangue escorrer
por entre os meus dedos. ”
Música: No Heart.

A jeito o colarinho da minha camisa, sentindo os meus dedos ásperos


tocarem o tecido fino do meu traje, checando a todo o momento, o
meu olhar acastanhado no reflexo do grande espelho. As marcas da idade e
da experiência já se faziam presente em meu rosto, a roupa sofisticada e de
extremo bom gosto, completavam a imagem imaculada de um líder
perfeito, onde o seu maior triunfo, era estar ileso, no conforto do
anonimato, escondido por trás de um psicopata em potencial.

Cantarolo involuntariamente, acompanhando o ritmo doloroso de um


murmúrio engasgado, que era emitido pela garganta esganiçada de uma
criatura insignificante. Olho de soslaio para a mulher nua que agonizava no
chão do meu quarto, emporcalhando o meu tapete com o seu sangue
imundo. O seu corpo estava jogado, exaurido, cansado de lutar contra as
altas doses de entorpecentes que foram aplicadas em sua corrente
sanguínea.
Me viro em sua direção, sentindo o meu pau vibrar dentro da minha
calça social, excitado e desejoso, endurecendo de maneira firme, com
aquela imagem degradante e altamente extasiante. A sua pele clara estava
vermelha, as suas costas e pernas estavam repletas de vergões profundos,
despejando por toda a extensão das suas feridas, um rastro fino de sangue
escuro. O seu corpo estava trêmulo, entregue aos espasmos violentos da sua
agonia.

Me aproximo sorridente, apreciando a visão da desgraçada prostrada no


chão, afogada em resquícios da sua miséria. Os seus cabelos castanhos
estavam secos e os seus fios ondulados estavam duros, embebidos em meu
sêmen gosmento, fruto de um momento de diversão de algumas horas atrás.
Me abaixo ligeiramente, e seguro o seu queixo com firmeza, fitando o seu
olhar apagado e esmaecido. A maldita era deliciosa... e a sua entrega
forçada só atenuava o meu apetite predatório... Sem querer esperar mais, eu
puxo os seus cabelos com violência, erguendo o seu corpo inanimado com
brutalidade. Com a força do meu toque, alguns murmúrios de súplica
escapam por seus lábios babados e esses gemidos... eram deliciosos... a dor
que estava explícita neles... me alimentavam! Reanimavam os meus
demônios.

Eu ansiava por mais, muito mais... e totalmente movido pela áurea


obscura, eu tiro o meu pau da calça, duro e inchado, sedento por aquela
desgraçada infeliz! Sentindo a adrenalina correr por minha corrente
sanguínea, eu seguro o meu membro rígido, lambuzando a cabeça do meu
pau na sua boca melada e amolecida, mantendo sempre, o meu agarre sobre
o seu couro cabeludo, segurando o seu corpo débil.

Fecho os meus olhos, me deliciando com os seus murmúrios baixos,


com o roçar incessante do meu cacete na sua boca macia, apreciando o
maldito êxtase que aquela vagabunda me proporcionava. Sem muita
paciência, eu invado a sua boca amolecida, me afundando em sua goela,
sentindo o meu pau se afogar em sua saliva morna, causada pela sua
semiconsciência. Sinto as suas mãos frágeis empurrarem as minhas coxas,
mas logo, eu coloco as minhas duas mãos grandes em sua nuca, forçando a
minha entrada em sua garganta, afundando a sua cabeça na direção do meu
pau, até as minhas bolas serem esmagadas por seus lábios macios.

Solto um gemido longo de prazer, enlouquecido pela quentura da sua


carne, e para intensificar a sensação, eu inclino a sua cabeça e impulsiono o
meu quadril na direção do seu rosto, entrando mais fundo em sua garganta
lubrificada, segurando os seus cabelos para evitar qualquer intensão de
fuga. Repito o mesmo movimento, estocando mais fundo em sua boca,
fazendo com que um espasmo de prazer percorra a minha espinha,
irradiando até o meu membro inchado e sensível.

Em meio ao meu deleite, eu sinto o corpo da infeliz ceder, se rendendo


ao cansaço e as minhas investidas, deixando como único suporte para o seu
peso, as minhas mãos em sua nuca. A vadia tinha desmaiado, me deixando
completamente na mão! Ranjo os dentes, sentindo a fúria e uma força
descomunal tomar conta do meu ser, o ódio agora ditava os meus
movimentos, me transformando em um ser brutal e impiedoso!

Com raiva, eu puxo mais o seu couro cabeludo, obrigando os seus


malditos fios a se destacarem da sua cabeça, forçando o seu subconsciente,
a reagir as drogas que corroíam o seu organismo de maneira lenta. Seguro o
seu cabelo desgrenhado e me afundo em sua boca, pouco me importando
com a sua falta de reflexos, e com a sua baba excessiva, que banhava o meu
membro roliço. Continuo fodendo a sua goela, enfiando o meu saco em sua
boca, forçando a entrada total em seu maldito buraco. Em um relapso
momentâneo, eu escuto um grunhido escapulir por seus lábios, um gemido
afogado de quem estava sufocando e em busca por oxigênio.

O seu corpo já dava sinais de um desequilíbrio mental, as suas pernas


mal se aguentavam, ela estava trêmula e de joelhos, mas todo o seu corpo
estava apoiado apenas por minhas mãos brutas. Intensifico o meu aperto em
sua nuca, sentindo o meu cacete vibrar e se contorcer em suas entranhas, e
para alcançar o pico do meu prazer, eu levo uma de minhas mãos até o seu
nariz, prendendo a sua respiração, buscando o ápice do meu orgasmo.

Os sons que saíam da sua boca eram animalescos, ruídos brutais de


desespero, e no próximo instante, as minhas pernas falham, denunciando o
meu gozo iminente. Me aperto mais em sua garganta, sentindo o meu pau
se contrair e despejar a minha porra quente para dentro da miserável,
marcando-a com a minha depravação. Solto o seu nariz e volto a minha
mão para a sua cabeça, impulsionando uma última vez o meu quadril,
jorrando jatos grossos em sua boca, afogando a desgraçada em meus fluídos
corporais.

Gemo durante o processo, me embebedando com a sua dor e me


deliciando com a sua visível agonia. Eu estava embalado na melodia
harmoniosa que escapava da sua boca, as lufadas desesperadas e
barulhentas que buscavam oxigênio, em meio ao líquido grosso e viscoso
que escorria minimamente por entre os pequenos espaços que as minhas
bolas deixavam em seus lábios. Jogo a minha cabeça para trás, apreciando
aquele momento belo, despejando até a última gota do meu prazer em sua
garganta apertada.

Infelizmente, eu tenho que reconhecer... a vadia era apetitosa, e tudo


ficava ainda melhor... quando a minha presa já estava beirando a morte,
deixando a dominação ser mais plena e vigorosa, por causa dos dias sendo
dopada sem nenhuma piedade. Não encontrar resistência, sabendo que o seu
corpo já tinha sido sugado até o limite, era simplesmente, extasiante!
Lentamente, eu saio da sua boca, sentindo o líquido esbranquiçado escorrer
por meu cacete molhado e melado, jogando em seguida, o seu corpo mole
no chão. Tratando-a como a boneca de pano que ela era em minhas mãos.

Tiro o excesso de baba do meu pau, sentindo asco por tamanho


descuido, sacudindo e respingando a porra da sua saliva em seu corpo
encolhido no chão. O meu membro estava tão lubrificado pelo excesso de
fluídos, que quando fui colocá-lo de volta para a cueca, eu melo a minha
calça social com a sua gosma asquerosa. Passo a mão no local, tentando em
vão, limpar os resquícios da infeliz descuidada. Em um reflexo rápido, eu
pego mais uma das injeções que estavam em cima da cômoda e cravo a
agulha no pescoço da desgraçada, liberando sem nenhuma pena, mais uma
dose exagerada da toxina entorpecente em sua corrente sanguínea.

— Não é gostoso? — Sussurro próximo ao seu ouvido, ciente que ela


já estava longe demais para reagir a qualquer coisa que estivesse ocorrendo
ao seu redor, ou até mesmo, em seu próprio corpo. — Está me escutando?
Eu sei que em meio a sua dor e a sua luta para sobreviver, você ainda é
capaz de meu ouvir!

Acaricio os seus cabelos, sentindo as mechas sujas deslizarem por entre


os meus dedos, enquanto eu analiso pacientemente, os espasmos
inconstantes que percorrem o seu corpo amolecido. Sorrio satisfeito,
constatando que o efeito da droga corrosiva já estava arrancando e
obrigando o seu sistema a reagir. A essa altura, a mulher já não conseguia
lutar, os seus pedidos de socorro se calaram, dando lugar a uma espuma
esbranquiçada que escorria pela lateral dos seus lábios entreabertos. Os
movimentos do seu corpo eram involuntários, a sua agonia, agora, era
inanimada! Tudo se resumia, a sua luta interna para sobreviver, pois, o seu
corpo estava esgotado e exaurido de mais para qualquer outra coisa.

Poder salvar uma vida tinha um efeito extraordinário, a satisfação do


heroísmo, de sacrificar a si próprio, em prol, de outra vida. Mas, nada se
compara ao poder de tirar uma vida, o poder que se espalha em minhas
mãos, ao decidir o destino de outra pessoa... de acabar, de uma vez por
todas, com uma maldita alma miserável. Acordo dos meus devaneios com o
corpo da mulher convulsionando e com a sua pele opaca suando
excessivamente.

— Está sentindo esses tremores!? Logo, logo, você vai ficar com febre,
e depois, a adrenalina vai tomar conta da sua corrente sanguínea, e vai
obrigar o seu coração, a disparar em uma frequência absurda! — Digo
sorridente, sabendo que a maldita não iria me responder. — O seu corpo
está tentando decidir, se aceita ou não, mais essa dose da toxina, lutando
para não se entregar a uma overdose iminente. Mas, até lá... é só um monte
de dor...

Me levanto elegante, largando o seu corpo no chão a sua própria sorte,


limpando qualquer resquício do que acabou de acontecer do meu traje fino.
Hoje à noite, Devon estaria nos holofotes novamente... o seu nome
imaculado seria pronunciado pelos arredores de toda a Camorra! Devon...
era muito mais que um nome! Era muito mais que um assassino em massa!
Eu criei um personagem, eu dei vida a um alvo perfeito, uma mente sádica
e perversa, que não tem rosto e nem aparência.

Por muitos anos, eu fui obrigado a governar nas sombras, por trás do
conforto do anonimato... Por causa de uma falha minha, eu precisei me
esconder... e nesse tempo, eu percebi que era necessário criar uma fantasia,
uma imagem, uma idealização do vilão perfeito, do psicopata perfeito!
Antes de tudo... eu sou um ator! Eu precisava criar alguém, o desconhecido
misterioso precisava de um nome, pelo qual, as pessoas temessem!

Devon!

Era um nome falso, e obviamente, era um vilão falso! Eu precisava


criar a identidade e a patologia de um maníaco sem escrúpulos, que levasse
a culpa por toda a maldade que o meu interior anseia e deseja... para depois,
caso o pior acontecesse, eu andar confortavelmente entre os meus inimigos!
O meu mantra é governar nos bastidores... pois no instante em que se dá um
rosto ao mal, como um Bin Laden... um Gaddafi... você dá um alvo as
pessoas! E quando isso acontece... elas tendem a criar as suas próprias
teorias... e no meio das suas hipóteses equivocadas, elas esquecem de quem
realmente pode ser o vilão...
“ Eu seguro a minha mão na sua, uno meu coração ao
seu, para que juntos possamos fazer aquilo que
sozinhos, não conseguimos. ”

Autor desconhecido.

S eguro as suas mãos brutas com as minhas, cravando as minhas unhas


em sua pele, tentando afastá-lo e querendo retribuir de alguma
maneira, a dor que ele estava causando em meu maxilar. Fito o seu olhar
endurecido, sentindo a todo instante, a diferença gritante do seu tamanho e
do seu porte contrastar com o meu. Os seus olhos estavam transtornados, o
verde do seu olhar estava tão límpido que atingiam o meu corpo da mesma
maneira que uma faca cortante. Ele estava determinado, Giovanni tinha
decidido que iria me fazer falar.

— Me responde, Serena! — Ele rosna, deslizando a sua mão, que antes


estava em meu maxilar, para o meu pescoço, intensificando o seu aperto em
minha garganta. — Não me obrigue a arrancar o que eu quero ouvir de
você!

— Eu menti! Eu sou mesmo uma mentirosa! — Falo entredentes,


sentindo o seu aperto em meu pescoço roubar o meu fôlego, e movida pela
adrenalina, eu empurro o seu peitoral com força, tentando me desvencilhar
do seu agarre violento. — Eu sempre quis te matar! Eu odiava você! Eu
odiei você por muito tempo, Giovanni! Mas, as coisas não são do jeito que
você está imaginando!

Me exalto, sentindo um rompante de coragem percorrer o meu corpo,


uma corrente de ousadia que circulava por minhas veias, ditando as minhas
emoções e os meus sentimentos. O meu coração estava a mil, batendo tão
rápido que os meus ouvidos estavam abafados, o pulsar latente de cada
batida ressonava em minha cabeça, confundindo ainda mais os meus
sentidos. Sinto o seu aperto em volta do meu pescoço se fazer mais
presente, e novamente, eu empurro o seu peitoral rígido, querendo evitar
que ele me calasse. Não dava para voltar atrás... e talvez... eu não quisesse
retroceder... Eu precisava disso... e ele também!

— Por anos, eu alimentei o ódio e o rancor dentro de mim! E esse


sentimento amargo... foi o que me manteve de pé, eu me agarrei a essa dor,
a essa mágoa, e foi ela que me manteve viva... — Falo, sentindo a minha
garganta se afunilar, arranhando e travando no meio do caminho, me
impedindo de continuar.

O meu foco principal estava em abrir o jogo! Em despejar a verdade na


sua cara, falar tudo que estava entalado e preso em minha garganta, algo
que além das suas mãos grosseiras, estava me enforcando e me matando aos
poucos. Tento abrir a minha boca, para expulsar os fatos que me
estrangulavam, mas nada saía por meus lábios... Franzo o cenho, sentindo a
confusão se instalar em mim, me deixando zonza. Sacudo a minha cabeça e
respiro fundo, procurando em vão, o ar que alimentava os meus pulmões. A
sensação que estava me consumindo era que grande parte do oxigênio do
espaço tinha se dissipado, e o pouco que restou, não era capaz de me manter
consciente.

Vendo que ele não iria ceder, eu agarro o seu pescoço, imitando o seu
golpe, apertando também a sua garganta. Se ele queria a verdade, ele iria tê-
la! Porque agora, eu estava disposta a desabafar! Sinto as minhas costas se
chocarem contra algo rígido, espalhando uma dor fina por toda a região,
mas no meio daquela tensão, eu era incapaz de distinguir se era uma parede
ou um móvel qualquer. Em um instante de sanidade, eu busco e fito o olhar
do meu algoz, e no momento que os meus olhos encontram os seus, o seu
aperto se afrouxa, fazendo com que a minha garganta puxe o ar com força,
me afogando em uma tosse seca.

— Eu vou te matar, Serena! — A sua voz grossa chega até os meus


ouvidos carregada de ira, e logo, eu sinto as suas mãos saírem do meu
pescoço, deslizando lentamente para dentro dos meus cabelos, puxando os
meus fios com agressividade. — EU SEMPRE SOUBE, QUE VOCÊ
SERIA UM MALDITO PROBLEMA NA PORRA DA MINHA VIDA!

— QUER ME MATAR? ME MATA! QUER ME TORTURAR? ME


BATA, ME MACHUQUE, ME TORTURE LENTAMENTE! DA MESMA
MANEIRA MONSTRUOSA QUE VOCÊ FAZ COM AS OUTRAS
PESSOAS! — Grito com a mesma intensidade da sua voz potente, sentindo
o meu corpo dar os primeiros sinais de instabilidade. — Eu não me
importo! Eu já não tenho mais nada a perder! A única pessoa que você
poderia usar contra mim, já está morta! Eu também já estou morta a muito
tempo! Desde daquela noite!

Ele puxa o meu cabelo, erguendo o meu rosto para encará-lo,


analisando as minhas palavras com o seu olhar indecifrável, mantendo as
suas feições impenetráveis. Em um reflexo premeditado, eu estico o meu
braço e coloco a minha mão em seu peito firme, buscando os seus
batimentos e querendo descobrir de outra maneira, o que o seu olhar frio
não me dizia. O seu coração batia acelerado, o ritmo forte e potente ainda
era seu e demonstrava tudo o que ele se esforçava para esconder.

— Assume que você não consegue me matar... fala para mim que você
também sente isso que eu sinto quando estou perto de você... — Provoco,
agarrando os fios do seu cabelo, encostando o meu rosto perto do seu. —
Eu errei em não contar para você, mas como eu poderia? Se coloque no
meu lugar, na minha cabeça, você era o assassino do meu irmão! Como
você queria que eu reagisse? Que eu chegasse e morresse de amores por um
homem que só trouxe desgraça para a minha vida fodida.

Fecho os olhos, sentindo a adrenalina angustiante daquele momento,


sentindo o seu corpo quente me imprensar na parede. A sua respiração
pesada bate em meu rosto, as lufadas quentes aquecem a minha pele
entorpecida pela tensão e o seu maldito cheiro, invade e impregna as
minhas narinas. Era uma mistura de prazer com adrenalina, o odor
característico do sangue fresco ainda estava nele, mas o seu perfume
amouriscado predominava, fazendo dele uma combinação perigosa e
envolvente. Era visível a sua luta interior, ele estava tentando decidir se me
matava ou não.

— A arma era minha... — Sussurro próximo ao seu ouvido, a essa


altura, eu já não me importava com mais nada, a única coisa que martelava
na minha cabeça, era afrontá-lo e ver o que iria acontecer. — Eu roubei a
pistola de um dos seus homens, mas a pílula não era minha!

Minto descaradamente, sabendo que no futuro essa omissão poderia se


virar contra mim novamente, mas, esse era mais um risco que eu teria que
correr. Se eu falar tudo sobre a Fênix, vai ser muita coisa, muitas
informações para ele assimilar ao mesmo tempo, e esse momento de tensão,
não era o ideal. Agora, eu o queria como meu aliado, eu precisava
convencê-lo que eu não o enxergava mais como um inimigo, e sim, como
meu companheiro, meu marido, alguém em quem eu poderia confiar.
Giovanni não era só letal e influente, tinha algo mais... algo que jogava ao
meu favor... o seu coração!

— Aquela ordem veio de você! Eu estava lá, eu ouvi perfeitamente


quando aquele soldado disse que foi você que tinha dado o comando! —
Começo a falar, sentindo o pavor daquela noite me preencher aos poucos, a
medida que as lembranças se conectavam, eu sentia o meu corpo se
arrepiar. — Eu ouvi o barulho do tiro... eu vi ele cair de joelhos... baleado...
eu tentei alimentar a ilusão de que ele... de que ele conseguiria sair vivo
dali, daquele inferno em que vivíamos, mas não foi isso o que aconteceu!

Sinto os meus olhos arderem, tentando ao máximo me manter


impassível, imparcial as memórias doloridas, porque eu não queria ser
aquela Serena fraca, eu não queria mais ser aquela menina triste que se auto
mutilava. Eu não queria ceder, mas era inevitável, a dor de reviver aquilo
tudo... me massacrava e me dilacerava por dentro. Não importa quantas
horas tenham passado, quantos dias, quantos anos... a dor era sempre a
mesma, aquele sentimento de agonia era o mesmo! A sensação de
impotência... de não poder salvar alguém que você ama... é desesperador.

— Ele me pediu para fugir... para continuar sem ele... praticamente me


implorou para deixá-lo agonizar sozinho! Ele sabia que não tínhamos outra
chance de fugir do Maxell, que se eu não fugisse naquela noite, eu não teria
mais chance de escapar! — Digo, sentindo a minha voz embargar, me
perdendo entre as recordações do meu passado. — Eu não podia deixá-lo
morrer ali, sozinho... então, eu esperei... eu aguardei ele morrer aos
poucos... e mesmo no meio daquele turbilhão de emoções, eu consegui
sentir a dor dele... eu consegui ver em seu olhar perdido, o quanto ele
sofreu... Eu esperei aqueles poucos minutos que mais pareciam uma
eternidade... eu cantei... mesmo sem forças para continuar, eu cantei... por
ele! E no meio da minha própria cantiga, eu fui morrendo junto com ele!

Giovanni soca a parede atrás de mim, bem próximo ao meu rosto, e


com o susto, eu me sobressalto, vendo-o apoiar o peso do seu corpo em seu
braço. A sua respiração pesada agora batia em meu pescoço, arrepiando os
pelos do meu corpo, como se o nosso magnetismo se ligasse com a nossa
proximidade. Sabendo que ele não iria me machucar, eu encosto a minha
testa em seu ombro e abraço o seu corpo, sentindo um leve tremor se
espalhar por minhas entranhas, causado pelo impacto e pelo poder que
aquelas recordações ainda tinham sobre mim.

— Eu esperei ele dar o último suspiro... eu me certifiquei que ele


estava morto, que finalmente, o meu irmão tinha encontrado a paz... —
Sussurro, com a minha voz embargada, carregada de dor e mágoa. — Eu
fiquei com medo Giovanni... medo de deixá-lo sozinho... e eu só o deixei,
quando tive a certeza, que ninguém mais poderia fazer ele sofrer de novo.

Aperto os meus olhos com força, tentando afastar a dor latente que se
alastrava por minhas têmporas, causada pelas recordações daquele dia
miserável. Eu me lembro muito bem... da sensação de inércia que me
dominou... depois que o Ben morreu, eu saí correndo sem rumo, sem
direção... atordoada e confusa. No meio dos meus desacertos, eu acabei
deixando para trás a única esperança de uma vida melhor, eu fui obrigada a
dar as costas para a única família que um dia eu tive.

— Eu vi ele morrer nos meus braços, aos pouquinhos... e no final, eu


jurei sobre o corpo dele, eu prometi a ele que iria me vingar! Que ia fazer
justiça! — Digo, me sentindo meio perdida, lembrando e me afundando em
cada detalhe daquela noite fria e asquerosa. — Até a minha ficha cair, até o
meu cérebro processar aquela perda... eu fiquei anestesiada, eu não sentia
mais medo, não sentia mais felicidade, não sentia dor... a única coisa que
predominava era o ódio! E depois que o momento angustiante passa, você
tem que se conformar, por que não tem outro jeito, você não pode voltar no
tempo, e muito menos, você pode mudar os erros que cometeu no meio do
caminho. A única coisa que tem a fazer... é aceitar as consequências... e
perdê-lo naquela noite, foi a maior consequência que eu tive que aguentar!

Sinto a sua barba encostar em meu pescoço, e logo, eu sinto um beijo


quente acalentar a minha pele sensível, que antes, estava sendo esmagada
por suas mãos grosseiras. Suspiro aliviada, sabendo que ele tinha entendido
os meus motivos, as minhas razões para matá-lo. Deslizo os meus dedos
finos por suas costas largas, sentindo e conhecendo os seus músculos firmes
e bem desenhados. Eu sei que ele não é inocente... eu estou ciente do que
ele é capaz de fazer, das atrocidades horríveis e cruéis que ele já cometeu e
ainda comete, assim como os outros, Giovanni tinha e tem muitos defeitos.
Mas, eu também tenho os meus! Eu sou cheia de defeitos também,
assim como ele. Cada pessoa carrega as suas razões, as suas dores, os seus
motivos, cada ser humano tem a sua causa! E infelizmente, não existe o
certo e nem o errado, pois cada um é protagonista da sua própria história, da
sua própria vida. Hoje... vendo aquelas fotos... eu consigo entender... Cada
monstro, cada psicopata, cada assassino tem o seu motivo para ser como é!
Todo mundo tem as suas razões, mesmo que elas sejam erradas. Eu também
não sou inocente, eu sou uma assassina! Eu mato pessoas! Por motivos
diferentes é verdade... mas para essas minhas vítimas, eu sou a vilã! Eu
estou em busca de vingança e eu não vou parar até cumprir o meu
propósito, mas também, eu não estou disposta abrir mão do que eu sinto...
eu quero ficar ao lado dele, e eu sei, que é errado! Mas, essa é só mais uma
das minhas falhas!

— Se quiser me machucar... você vai ter que desenterrar, reviver e


matá-lo de novo na minha frente! — Desabafo, querendo me livrar do peso
que ainda estava fixo e preso em minhas costas. — Se coloca no meu
lugar... só por um instante... Você acha que é fácil transar e dormir com o
homem que na sua cabeça era o assassino do seu irmão? Não é!! O meu
plano era te matar, mas, acabou sendo tudo diferente... porque você não era
nem de longe a pessoa que eu criei na minha cabeça! Eu acabei encontrando
em você, o carinho que eu tinha com Ben! Um sentimento verdadeiro, que
achei que não poderia sentir por homem nenhum!
— Porque você não falou isso antes, Serena!? — A sua voz grossa e
potente preenche o espaço, me repreendendo e fazendo com que, o meu
estado de alerta retorne de imediato. — Porque inferno, eu sou o último a
saber!? PORRA!

Ele se afasta e bate a sua mão em cima de um móvel, fazendo com que
o barulho repentino me assuste, espalhando uma dor latente em minha
cabeça. Giovanni lança o seu olhar furioso sobre mim, me subjugando com
o seu jeito dominante e predatório, me obrigando a engolir em seco. Sinto o
clima pesar e a tensão preencher o cômodo novamente, deixando a situação
cada vez mais preocupante, causando uma variação muito grande de
sensações. Ergo o meu olhar, mostrando que não tinha medo da sua voz e
do seu jeito autoritário, demonstrando que eu tinha coragem de enfrentá-lo.

— Já que é para falar a verdade, eu vou falar tudo o que eu sei! —


Digo, sentindo a coragem ditar e dominar os meus instintos, observando e
analisando atentamente as suas expressões endurecidas. — O Lorenzo não é
seu aliado, ele está traindo você!
Deixo escapar o que estava me deixando inquieta, analisando a sua
expressão impassível e me surpreendendo com a sua frieza excessiva,
diante de uma informação tão importante. Era realmente impressionante e
intrigante ao mesmo tempo, o quanto ele era imprevisível! A sensação que
eu tinha, era que estava diante de um animal selvagem, totalmente
indecifrável. O seu olhar atento e esverdeado, não me dizia absolutamente
nada!

Eu passei todos esses dias tentando entender e juntar as pontas soltas,


as informações saltadas que chegaram até mim, mas elas não me levaram a
lugar nenhum. Era difícil ir contra a razão, mas eu precisava seguir o que o
meu coração dizia, se eu o queria ao meu lado, eu precisava ser sincera e
precisava abrir o meu jogo. Essas informações precisavam ser
compartilhadas, para só assim, nós dois nos unirmos. E sem esperar uma
reação ou uma resposta da sua parte, eu começo a falar, expondo a
realidade.

— Os russos entraram no seu apartamento por ordem direta do seu


consigliere! Ele autorizou que eles me matassem! — Falo com sinceridade,
confidenciando e confiando no homem que agora era o meu marido. —
Existe alguém muito superior a eles, uma pessoa que dá as ordens e que
comanda tudo nas sombras! Uma pessoa que está jogando comigo e com
você também!

Eu estava omitindo uma parte muito importante, a parte que eu era a


Fênix, o matador com assinatura que estava sumido e quieto, mas que por
muitos anos e até pouco tempo, esteve em sua cola, derrubando e matando
todos ao seu redor. Ouço o seu suspiro pesado, e logo, o barulho dos seus
sapatos se fazem presente, indicando a sua proximidade. O seu silêncio e a
sua falta de comunicação eram assustadores, talvez até mais, que a sua voz
alterada. Sinto um frio na barriga me invadir, indicando o meu nervosismo.

— Você não podia omitir isso de mim... — Giovanni rosna, e no


próximo instante, eu sinto a sua mão pesada agarrar o meu braço, me
arrastando com brutalidade para perto do seu corpo. — A partir do
momento, que eu assumi a responsabilidade de me casar com você naquele
maldito altar, você se tornou a minha prioridade! Você não pode esconder as
coisas de mim!
— Eu sei de muitas coisas... no dia do nosso casamento esse homem
misterioso me enviou um recado, e não parou por aí, ele manda mensagens
por seus próprios homens! — Despejo tudo o que realmente tinha
acontecido, omitindo apenas alguns fatos que não poderiam ser ditos agora.
— Ele quer me ver morta, por alguma razão que eu ainda não sei! Ele quer
atingir você e roubar o seu lugar!

— EU SOU A PORRA DO SEU MARIDO, O CHEFE DESSA


MERDA FODIDA! VOCÊ TEM QUE ME DIZER AS COISAS, SERENA!
— Ele grita, intensificando o seu aperto em meu braço. — EU FIZ UMA
PROMESSA PARA PROTEGER VOCÊ, PORQUE VOCÊ É A MINHA
ÚNICA PRIORIDADE AQUI DENTRO! MAS VOCÊ FODE COM
TUDO, QUANDO FICA CALADA, QUANDO MENTE PARA MIM,
QUANDO APONTA A PORRA DE UMA ARMA NA MINHA DIREÇÃO
E ME DEIXA NO ESCURO! EU NÃO POSSO ADIVINHAR AS
COISAS, ESPOSA...

— NÃO PRECISA GRITAR COMIGO! — Grito, intensificando o


meu tom de voz, sentindo o meu braço doer com a força do seu aperto
bruto. — VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO, EU NÃO SOU UMA
RETARDADA!
— SE VOCÊ TEM UMA DESCONFIANÇA, SE ALGUÉM
MANDOU UM RECADO, VOCÊ TEM QUE ME DIZER, VOCÊ TEM
QUE ME INFORMAR! — Ele mantém a sua postura rígida, sem se
importar com as minhas palavras e com as minhas reclamações. — PORRA,
SERENA! EU NÃO SOU O SEU INIMIGO, COLOCA ISSO NA SUA
CABEÇA, APESAR DE QUERER TE PUNIR NESSE MOMENTO, EU
NÃO TENHO A INTENÇÃO DE TE MACHUCAR!

Giovanni solta o meu braço e se afasta, a sua respiração estava alterada


e o seu olhar era fuzilador, deixando bem visível a sua irritação. Solto o ar
que estava preso em meus pulmões, sentindo a ardência se espalhar no meu
braço, observando discretamente os seus movimentos certeiros e decididos.
Ele praticamente ignora a minha presença, e sem dizer mais nenhuma
palavra, o meu marido começa a recolher as coisas que estavam espalhadas
no chão, a arma, o celular...

— Eu não quero mais ser surpreendido! Está me ouvindo!? — Ele


alerta, deixando bem claro em seu tom de voz o seu desapontamento. —
Em alguns dias, vai acontecer um baile, uma festa para apresentar a esposa
do Don ao clã! Eu exijo obediência da sua parte, porque para todas aquelas
pessoas, nós dois somos um casal legítimo!

— Não somos marido e mulher de verdade. — Provoco, jogando na


cara dele que não havíamos consumado a nossa lua de mel. — Vamos estar
mentindo para aquele bando de hipócritas!

Giovanni dá um sorriso de canto e se aproxima de mim novamente,


deslizando o seu indicador por uma mecha solta do meu cabelo, colocando-
a atrás da minha orelha. Sem nenhum aviso, ele me puxa pela cintura,
erguendo o meu corpo e me obrigando a sentar na escrivaninha, e em um
gesto indecoroso, ele abocanha a minha boca, invadindo os meus lábios
com a sua língua quente e macia. Sinto a sua barba áspera arranhar a minha
pele, enviando ondas de prazer por toda as minhas células, eriçando todos
os pelos do meu corpo. As suas mãos afoitas invadem descaradamente a
barra da minha camisola de seda, adentrando as minhas coxas com os seus
dedos calorosos.

Os meus mamilos logo correspondem aos arrepios que percorrem a


minha espinha, ficando duros e rijos, denunciando a minha perdição. As
suas mãos passeiam e apertam a minha bunda, puxando o meu quadril na
direção da sua ereção volumosa. Seguro os seus cabelos e aprofundo o
beijo, sentindo a minha intimidade molhar pelo desejo cru e carnal dos
nossos corpos.
— Cuidado com a sua língua! — Giovanni me provoca, finalizando o
beijo e mordendo o meu lábio inferior, descendo o seu olhar malicioso para
o decote da minha camisola fina, que adornava o meu corpo. — Porque no
momento que eu quiser, a mentira pode se tornar verdade!
“ O ódio cria correntes que só o amor é capaz de
quebrar. ”

Autor: Liberdade através da letra.

O barulho do chuveiro preenche o quarto e a ventania fria da


madrugada adentra pelas janelas, esvoaçando as cortinas e ouriçando
a minha pele. Eu continuava no mesmo lugar, com as costas apoiadas na
cômoda de madeira, sentindo ainda, os efeitos que o infeliz do meu marido
tinha deixado no meu corpo quente. Giovanni estava no banho e a minha
maldita mente, só pensava em uma única coisa. Qual era a sensação de ser
fodida por aquele homem tão bonito?

Passo a mão em meu pescoço, sentindo a sensibilidade que a sua barba


áspera tinha deixado pelo local. Volto os meus dedos para os meus lábios
inchados, acariciando-os como a sua boca tinha feito alguns minutos atrás,
alimentando o meu desejo secreto de beijá-lo novamente. Eu ainda
conseguia sentir o seu gosto em minha boca, e o seu maldito cheiro, estava
impregnado em meus cabelos, alimentando a minha imaginação fértil,
destruindo de vez, com a minha sanidade.

No meio das minhas carícias, eu sinto a minha intimidade protestar,


ansiando por um pouco de atenção. Eu só podia estar completamente
maluca! Sorrio sozinha com as loucuras da minha cabeça, a um tempo atrás,
eu sequer pensaria em algo desse tipo, e esse homem, estava me
transformando em um monstro sedento por ele. Porque era exatamente
assim que eu me sentia, uma mulher louca de vontade e de desejo de ser
possuída. Mordo o meu lábio inferior com um pensamento impuro, já que
eu dormia ao lado da tentação, porque não provocar a sua fome e os seus
desejos obscuros? Se ele não tinha pena de me enlouquecer, porque não
fazer o mesmo?

Ergo o meu corpo e tiro a minha camisola, deixando o tecido macio


deslizar por minhas curvas até alcançar os meus pés, ficando apenas com
uma única peça, a minha calcinha. Sinto os meus mamilos endurecerem de
imediato, quando a brisa gelada entra em contato com a minha pele exposta,
e movida pelo sentimento de luxúria, eu vou até a poltrona, sentando e
aguardando ansiosamente, o causador desse estrago.

Como o banheiro do quarto dava acesso direto ao closet, ele iria


demorar mais alguns minutos para se vestir, e esse pouco tempo, era o
suficiente para aumentar o meu nervosismo, fazendo com que as batidas do
meu coração aumentassem. Me ajeito no assento acolchoado, abrindo as
minhas pernas e distanciando os meus pés um do outro, para dar uma
melhor visão da minha calcinha molhada. Coloco as mechas onduladas do
meu cabelo para trás, deixando os meus mamilos mais expostos, em um
convite tentador e chamativo.

Não demora muito para a sua figura imponente aparecer na porta do


closet, vestindo apenas uma calça de moletom escura, por conta do clima
ameno da Calábria. O seu peitoral desnudo e definido era magnífico, os
pelos que desciam harmoniosos até o cós da sua calça, só expandiam e
afloravam a minha imaginação. E assim que os seus olhos astutos me fitam,
eu seguro a minha respiração, sentindo o seu olhar predatório me devorar,
vasculhando o meu corpo de maneira descarada.

O quarto que antes estava gelado, agora estava quente, dominado pela
tensão sexual que emanava dos nossos corpos. Para deixá-lo mais louco, eu
repouso uma das minhas pernas no braço da poltrona, ampliando a sua
visão, provocando-o da maneira mais baixa e indecente. Giovanni arqueia
uma de suas sobrancelhas, em um gesto questionador, mas logo, ele desce o
seu olhar para os meus seios nus, e depois, caminha lentamente até o meio
das minhas pernas, me devorando com os seus olhos de lobo, um lobo
faminto prestes a me devorar. E como incentivo, eu desço a minha mão até
o meu seio, acariciando-o suavemente, soltando um leve gemido, ao
imaginar as suas mãos grossas me tocando.

— Se você fazer isso mais uma vez, Serena, eu vou foder você aí
mesmo nessa poltrona. — A sua voz rouca chega até os meus ouvidos, me
deixando em estado de alerta máximo. — Se não for brincar, eu sugiro que
não me provoque...

Sorrio com as suas palavras, sabendo que ele estava sondando as


minhas reações, mas eu já estava decidida, eu queria ele, e não tinha como
voltar atrás! O que eu mais desejava nesse momento, era ser a sua mulher,
não só no papel, como também, de corpo e alma. Fito o seu olhar feroz, e
continuo o trajeto profano com a minha mão, descendo por meu seio,
umbigo e barriga, escorregando lentamente os meus dedos até a minha
calcinha pequena. Os seus olhos claros acompanhavam todo o caminho, e
sem tirar o meu foco do seu rosto, eu roço dois dedos em minha entrada
encharcada, espalhando a minha excitação no tecido rendado.

E no próximo instante, tudo acontece muito rápido, eu apenas sinto um


solavanco erguer o meu corpo. Em um minuto eu estava sentada, e no outro,
eu estava de pé, me chocando contra aquela parede de músculos. Giovanni
não era um homem delicado, e esse seu jeito bruto e animalesco, me
excitava e me atraía. Ergo o meu queixo, sendo obrigada a olhar para cima
para vencer a nossa diferença de tamanho, sentindo uma de suas mãos
adentrar os fios da minha nuca, me puxando para um beijo necessitado.

Fecho os meus olhos, me entregando ao momento e ao prazer. A sua


língua quente invade a minha boca, travando uma batalha perdida contra
qualquer resquício de sanidade que me restava. Todas as minhas células
pulsavam, ferviam, aquecendo o meu sangue, molhando a minha calcinha,
me deixando escorregadia e pronta para recebê-lo. As nossas línguas
deslizam uma na outra com fervor, saboreando, reconhecendo, em uma
sincronia inigualável. O nosso encaixe era perfeito, a minha pele reagia ao
seu toque de imediato, tudo em mim, se acendia com a sua proximidade,
com o seu cheiro e com as suas carícias, era como se o meu corpo fosse
feito especialmente para ele.

— Você é minha, Serena, só minha! — A sua voz estava mais grave,


entorpecida pelo desejo, enquanto a sua boca ávida me engole, roubando-
me as palavras. — A minha menina linda e deliciosa!

As suas mãos grandes prendem a minha cintura fina, colando os meus


seios em seu peitoral nu, causando uma fricção maravilhosa em meus
mamilos, endurecendo-os cada vez mais. Giovanni me beija com prazer, e
pela maneira que os seus lábios devoram os meus, pela forma que a sua
língua avança na minha, ditando e dominando os movimentos, eu sentia o
quanto ele ardia em desejo. Ele também estava perdido! E eu? Eu nem sabia
dizer o que se passava em meu corpo, eu só pensava em nunca mais sair dos
seus braços.
Em meio ao nosso beijo necessitado, Giovanni senta na poltrona e me
puxa com ele, me fazendo sentar em seu colo. E sem nenhum aviso, o meu
marido agarra as minhas coxas, abrindo e colocando cada uma em um lado
do seu quadril, encostando a minha intimidade em sua ereção grandiosa. As
suas mãos voltam para a minha bunda, apalpando e empurrando o meu
quadril para baixo, forçando um contato maior entre os nossos sexos,
roubando-me gemidos roucos. Movida por aquela áurea sexual, eu seguro
os cabelos úmidos da sua nuca, aprofundando o nosso beijo, sentindo a sua
língua quente e habilidosa me invadir com vontade, calando os ruídos de
prazer que insistiam em escapar por minha garganta.

Me ajeito e me acomodo em seu colo, querendo senti-lo com mais


intensidade, e como se ele pudesse ler os meus pensamentos, eu sinto os
seus quadris se mexerem, fazendo com que o seu pau encontre a minha
buceta, nos encaixando entre os tecidos, juntando os meus lábios inchados
em sua extensão grossa e robusta. Mordo o meu lábio inferior, pendendo a
minha cabeça para trás, apreciando aquela sensação maravilhosa e
extasiante.

Giovanni me cercou, me envolveu, me prendeu em uma maldita cama


de gato, me deixando sem saída e sem opção. Sinto ele se afastar,
interrompendo o nosso beijo, voltando a sua atenção para o meu pescoço,
roçando a sua barba deliciosa por minha pele, arrepiando os pelos do meu
corpo. A sua boca desceu lentamente até o espaço entre os meus seios, me
enlouquecendo durante o seu passeio erótico, deixando a expectativa me
preencher. Reviro os meus olhos assim que a sua boca úmida alcança um
dos meus mamilos, saboreando e mordiscando o bico duro e dolorido do
meu seio roliço.
A combinação da sua saliva quente e da sua barba áspera era
simplesmente perfeita, e incapaz de resistir, eu desisto de conter os meus
gemidos, deixando os meus grunhidos carregados de prazer escaparem por
minha garganta. Giovanni desliza as suas mãos grandes por minhas pernas,
alcançando as minhas coxas, correndo os seus dedos até o limite da minha
calcinha, prolongando as suas carícias por cima do tecido molhado,
espalhando a minha excitação, sem deixar de devorar em nenhum
momento, os meus mamilos sensíveis.

Com os seus dentes, ele se apodera de um bico e o puxa sutilmente, me


levando ao paraíso, com o seu hálito quente brincando com o meu juízo.
Sinto a sua língua macia e molhada deslizar para o meu outro mamilo
intumescido, sugando-o, lambendo e mordiscando, deixando-o cada vez
mais rijo. O seu beijo molhado e o roçar da sua barba baixa em minha pele
demarcavam o seu território, tomando posse do meu corpo com a sua dança
lenta e sensual. Giovanni me marca com a sua boca ávida, com a sua fome
insaciável, me deixando louca de vontade e ansiedade.

Sinto a sua mão segurar e agarrar a minha nuca, puxando os fios do


meu cabelo sem nenhuma delicadeza, eletrizando a minha pele. Fito o seu
olhar escurecido, tentando entender o que ele queria de mim, ciente que se
ele pedisse a minha alma, eu a usaria como moeda de troca, porque nesse
momento de loucura, eu já não sabia distinguir o certo do errado. Os
segundos fitando as suas íris parcialmente negras, me deixaram atordoada, e
até a sua boca encostar na minha, eu assisti a sua transformação espetacular.

Giovanni é um homem muito intenso, os seus olhos se assemelham a


de um verdadeiro felino, totalmente selvagem e imprevisível, prestes a
atacar ou a recuar com o seu jeito impreciso e arredio. Assim que os seus
lábios encontram os meus, tudo recomeça, a sua língua quente e aveludada
exige passagem, a sua respiração pesada e entrecortada bate em meu rosto,
incendiando todo o meu ser. Abro os meus lábios, sentindo o choque que os
seus estímulos enviavam para as minhas células, gemendo
desavergonhadamente em sua boca. Imediatamente, eu sinto o meu couro
cabeludo arder, em um novo puxão de cabelo, ele estava buscando um
ângulo melhor, enfiando a sua língua cada vez mais fundo, enroscando-a na
minha. Era intenso... bruto... e erótico demais.

O seu beijo era sedutor e selvagem, os seus movimentos eram precisos


e certeiros, ele tocava nos pontos certos, me desarmando por completo, com
a sua boca experiente e exigente. Giovanni era um mestre nessa arte, e o seu
simples beijo, denunciava a sua maestria, me deixando completamente
excitada e entregue as suas vontades. Por instinto, eu mexo os meus
quadris, buscando me libertar daquela sensação que me consumia, me
esfregando em seu colo, sentindo com mais clareza, o seu membro duro e
quente.
As suas mãos hábeis seguem para a minha bunda, apertando a minha
carne com volúpia, espalhando uma dor gostosa e excitante por minha
corrente sanguínea. O meu ventre dói, reclamando e implorando por
libertação, para que ele acabasse logo com essa tortura lenta e tentadora.
Gemo entre os seus lábios, sentindo os seus dedos longos me apalparem
com vontade, acomodando as suas pernas no meio das minhas, adentrando
bem devagar em meu sexo molhado.

— Giovanni... — Gemo o seu nome involuntariamente, sem conseguir


conter a vontade de chamá-lo, e sem conseguir controlar, o desejo árduo de
me perder em seu membro duro. — Pare de me torturar...

O meu marido rosna, deixando escapar um gemido de prazer assim que


sente a extensão da minha excitação. Ouço outro rosnado rouco, mas sou
incapaz de entender qualquer frase ou qualquer maldita palavra que fosse,
enquanto os seus dedos longos e ágeis, massageiam lentamente os meus
lábios inchados, se afundando em minha buceta lubrificada. Eu estava tão
molhada e tão escorregadia, que eu tenho a plena certeza, que os seus dedos
estavam lambuzados em meus fluidos.

Me perco nas sensações, gemendo em sua boca, incentivando e


atiçando o seu monstro interior. Eu não sei dizer em que momento,
enquanto estávamos nos beijando e nos devorando, ele tirou o seu pau para
fora, me pegando totalmente de surpresa, quando eu sinto a cabeça do seu
membro quente e pulsante, entrar em contato direto com a minha
intimidade escorregadia. Giovanni afasta a minha calcinha para o lado, e
coloca todo a extensão grande e robusta do seu pênis dentro do tecido
pequeno, soltando a peça elástica, apertando os nossos sexos naquele
pedaço de pano minúsculo e encharcado.

Me afasto da sua boca, soltando um gemido longo, assim que a sua


dureza roça em meu clitóris, fervendo e aquecendo o meu sangue, me
envolvendo cada vez mais em seus movimentos precisos. Agarro o seu
cabelo úmido, já com a respiração ofegante, sentindo os seus fios curtos
escaparem por entre os meus dedos, à medida que eu os apertava, querendo
dizer a ele, o quanto eu estava desesperada. Rebolo sutilmente, querendo
sentir com mais intensidade o seu pau rígido como aço, adorando saber que
ele também se excitava com o nosso beijo.

Giovanni não me dá muito tempo para pensar, porque logo ele introduz
um pouco do seu dedo grosso para dentro de mim, enquanto a sua outra
mão estava espalmada na minha lombar, forçando uma fricção maravilhosa,
arrastando a minha intimidade em seu pau volumoso, me prendendo cada
vez mais em sua selvageria. Fecho os meus olhos e encosto a minha testa
em seu ombro, buscando apoio para o meu corpo que já dava sinais de
moleza. Ofego, sentindo os seus dentes abocanharem o lóbulo da minha
orelha, me arrastando novamente para o abismo do êxtase, com aquela
maldita quentura consumindo a minha pele quente.

Ele se afunda um pouco mais, pressionando o seu pênis inchado em


minha fenda, deslizando em um vai e vem minucioso e decidido, causando
um calor estranho em minhas bochechas. O meu marido ergue os quadris,
abrindo um pouco mais da minha buceta, e o seu dedo que já estava dentro
de mim, entra mais fundo, sondando a minha entrada, o meu tamanho... Ah,
Deus! Era tão gostoso! Era delicioso! Jogo a minha cabeça para trás,
empinando a minha bunda, e consequentemente, arrastando o meu clitóris
inchado em seu pau potente, sentindo um espasmo involuntário percorrer a
minha espinha, dando os primeiros sinais do meu orgasmo.
A sua boca sedenta volta para o meu pescoço, mordendo a curva do
meu ombro, arranhando e deslizando a sua língua macia até chegar na
minha orelha, enviando ondas de tesão para o meu ventre. Giovanni me
aperta mais contra si, esfregando os meus lábios sensíveis por toda a
extensão do seu pau, até alcançar os seus testículos, e assim que sinto a sua
textura roçar em minha entrada pulsante, eu sinto outro espasmo me
dominar, percorrendo o meu corpo e abalando as minhas estruturas. Porra!
Era demais para mim!

Gemo com vontade, enquanto ele brincava com o meu corpo, repetindo
o seu movimento árduo, abrindo-me com vontade, para esfregar o seu
cacete latejante na minha fenda encharcada, mostrando toda a sua
rusticidade. Giovanni impulsiona o seu quadril para cima, e a textura das
suas veias salientes contrastam em meu clitóris, acabando com a minha
sanidade, me levando ao limite máximo. Ele buscava o seu próprio prazer, e
ao mesmo tempo, acabava comigo sem dó e sem delicadeza!

Toda vez que ele impulsiona o seu corpo para cima, a extensão do seu
pau grosso se afunda na minha entrada melada, e a cada movimento bruto,
eu perco o controle e flutuo, me perdendo em seu corpo experiente. A
minha intimidade pulsa e se contrai com vontade, cedendo as minhas forças
e deixando as minhas pernas bambas em seu colo. E sem conseguir me
segurar mais, eu beijo o seu pescoço, tentando esconder e calar os meus
sons carnais e orgásticos. Sinto o orgasmo chegar com força, escurecendo
rapidamente a minha visão, estremecendo o meu corpo, de acordo com as
contrações violentas da minha buceta gulosa.

Apoio totalmente o peso da minha cabeça em seu ombro, sentindo o


descontrole do meu coração e da minha respiração ofegante. Giovanni
respirava da mesma maneira pesada, mas era diferente... porque ele estava
muito longe de estar satisfeito. Inalo o seu cheiro gostoso, envolvendo os
meus braços em seu pescoço, sentindo o meu corpo quente e fervente tentar
recuperar o fôlego, para aguentar mais uma rodada com aquele homem
insaciável.

Tento mexer as minhas pernas, mas elas fraquejam, desobedecendo aos


meus comandos, e só agora eu consigo compreender, o poder que o seu
corpo tem sobre o meu. Giovanni consegue me render e me subjugar sem
nem ao menos me penetrar, se ele já me arremessava diretamente ao abismo
sem nem me foder de verdade, imagina quando o fizesse? Fecho os meus
olhos, sentindo o suor escorrer por minhas costas, aquecendo o meu sangue
enquanto os espasmos ainda corriam e dançavam por meu ventre.

O seu membro duro pulsava com violência, latejando em contato com a


minha entrada lambuzada, me incendiando novamente, recomeçando...
Mas, antes que eu consiga me recompor, Giovanni me puxa para mais um
beijo, me pegando desprevenida e de surpresa. O seu agarre agora era
urgente... era sufocante... era necessitado... tento correspondê-lo, sentindo o
aperto dos seus braços fortes e a sua exploração desavergonhada por meu
corpo. Tento dar toda a atenção que os seus lábios sedentos exigem e
reivindicam, mas logo o meu marido interrompe o nosso contato, mordendo
e puxando o meu lábio inferior com desejo e fervor.

A sua mão grosseira segura a minha nuca, puxando o meu cabelo com
o seu jeito imprevisível e indelicado, me afastando do seu corpo quente
contra a minha vontade. Giovanni força o nosso contato visual, me
deixando zonza com a sua mudança repentina. Fito os seus olhos,
percebendo a intensidade nova do seu olhar... ele estava muito mais
quente... muito mais selvagem, e esse seu novo lado, aquecia o meu sangue,
fazendo com que o meu coração pulsasse em meu peito, circulando
adrenalina por minhas veias.
— Olha como você me deixa, Serena! Sinta como você me deixa
louco! — A sua voz rouca lança choques em meu corpo, enquanto a sua
mão áspera arrasta a minha para a sua ereção, apertando os meus dedos
finos ao redor do seu pau, me obrigando a sentir a sua quentura abrasadora.
— Eu quero ouvir dessa sua boca atrevida, o que você quer que eu faça!

O que ele queria? Me enlouquecer? Acabar com o resto do meu juízo?


O seu polegar desliza por meu lábio, exigindo uma resposta rápida da
minha parte, mas que nesse momento, eu sou incapaz de lhe dar. Os meus
pensamentos estavam soltos e desconexos, vagando na imensidão do vazio
inerte, eu sequer conseguia formular uma única frase, e muito menos,
conseguiria externar a complexidade dos meus sentimentos. Inspiro o seu
cheiro, sentindo a fragrância do seu perfume se misturar com o seu aroma
natural, me drogando secretamente com o seu cheiro inebriante e tentador.

— Responde, bella! — Ele me repreende, aumentando o seu tom de


voz, impondo a sua dominância, investindo o seu quadril contra mim mais
uma vez, arrancando gemidos carregados de prazer da minha garganta. —
Eu quero ouvir dessa boca insolente, os seus desejos mais sujos! Me diz,
Serena, o que você quer...

— Eu quero que você me faça sua, eu quero sentir você dentro de mim!
Porque você me despertou... você me acordou de um maldito pesadelo, um
pesadelo que nunca tinha fim e que me acorrentou, me prendeu... — Me
perco em minhas próprias palavras, sentindo as suas mãos grosseiras
agarrarem a minha calcinha, rasgando a peça fina com um único puxão
violento, as alças elásticas estalam em minha pele anestesiada, afrouxando
o tecido rendado. — Você é o meu marido e é o homem que eu quero para
mim! É com o calor do seu beijo... é com o fogo do seu toque... que eu me
esqueço do que passei... Você apaga tudo, Giovanni! Todas as coisas
horríveis e ruins pelas quais eu fui submetida e obrigada a passar.

O meu coração bate rápido dentro do meu peito, descompassado,


pulsando em minha caixa torácica, refletindo em meus movimentos, as
minhas emoções alteradas. Engulo em seco, sentindo a falta de saliva
dificultar a minha fala, embargando as minhas palavras. A verdade era que
eu estava ardendo em desejo, o meu corpo estava exaltado e exasperado, em
uma expectativa tentadora e angustiante. Giovanni era um ótimo jogador,
ele me transformou com o seu jogo de espera e de sensualidade, me
mostrando algumas coisas, sem me dar o que eu realmente queria e
precisava.
— Eu nunca desejei um homem como eu desejo você! Você é o único
capaz de me despertar, eu quero que você faça amor comigo! Eu quero que
os meus gritos e gemidos sejam de prazer e não de dor ou agonia! — Digo
em meio as suas carícias, perdida e rendida aos seus encantos. — Por
favor... não me pergunte nada, não me questione sobre o meu passado
fodido, só me faça sua! Eu quero que você apague as minhas memórias e
me dê novas lembranças!

— Serena... — A sua voz rouca soava na minha cabeça como um


alerta, como um aviso claro que eu estava ultrapassando um limite,
avançando em um ponto perigoso. — Eu não quero a porra das palavras
bonitas, eu quero as mais sujas, as mais profanas... Eu quero a mulher
devassa que eu sei que você é! Eu quero o que você sente de verdade,
esposa...
Giovanni se levanta de repente e me leva consigo, jogando o meu
corpo sem cerimônia em cima do colchão macio, chocando as minhas
costas nos lençóis frios, com todo o seu jeito bruto de ser. Passo os meus
dedos no emaranhado dos meus cabelos, colocando os fios bagunçados para
trás, enquanto observava o meu marido se despir completamente, tirando a
calça escura, revelando o seu corpo majestoso e perfeito. Arfo, me
excitando com a visão do seu corpo desnudo, o seu pênis grande e grosso
não destoava do resto dos seus músculos definidos, muito pelo contrário,
aquele membro avantajado e robusto, era digno daquele homem intenso e
selvagem.

Meneio a cabeça, tentando absorver o que estava borbulhando dentro


de mim, me consumindo viva e me devorando por inteiro... mas a verdade?
É que já não cabia mais nada em mim, eu era puro tesão e desejo. O meu
corpo emanava excitação e eletricidade em excesso, uma energia louca para
ser gasta, consumida, até não existir forças em meu ser, até eu não aguentar
mais. Giovanni me come com o seu olhar, observando o meu corpo nu
descaradamente, me devorando com os seus olhos verdes indomáveis, me
deixando a mercê do seu monstro esfomeado.

— Eu quero ouvir você pedir... implorar para eu te foder! Para o meu


pau se enterrar e se afundar nessa sua buceta apertada e gulosa! Eu quero o
seu consentimento... a sua permissão crua e bem clara! — Ele diz, já em
cima de mim, mordendo e beijando o meu pescoço com as suas palavras
indecentes. — Escute... o que eu vou dizer! Porque quando eu começar,
Serena... eu não vou parar! Eu vou me afundar em você com vontade, eu
quero sentir as suas paredes pulsando e engolindo o meu cacete, como a
porra de um animal irracional! Porque eu não sei ser delicado, e se você
desistir ou mudar de ideia no meio do caminho, eu não vou ouvir você! Está
me entendendo, Serena!? Fala!
— Eu quero que você me foda, com toda essa selvageria que... — E
antes que eu possa terminar a frase, eu sinto a sua boca impiedosa tomar
posse da minha, afundando a sua língua quente em meus lábios sedentos,
enquanto a sua mão grosseira ergue a minha coxa, levando-a na direção da
sua cintura, intensificando a sua pegada forte.
“ Fazer amor é o melhor acordo de paz de uma guerra. ”

Li Azevedo.

D entro de mim tudo estava quente, intenso e fervendo. Não havia


nenhuma dúvida ou insegurança pairando em minha cabeça, e para
ser sincera, eu não me pertencia mais. Nesse momento, sentindo a sua boca
ávida e sedenta me devorar, com toda a sua ânsia e urgência, eu tive a
certeza que era dele! Que a sua frase insistente não passava da mais pura
verdade... eu era dele, inteiramente dele, e não só para satisfazer os seus
desejos impuros, como também, os meus. Porque eu também o queria, eu
desejava aquele homem bruto com todas as minhas forças!

Os seus lábios quentes me arrastam para a perdição, me puxando com


violência para um caminho desconhecido e sem volta. Sinto a sua língua
macia explorar a minha, ditando o caminho do nosso beijo caloroso,
roubando o meu fôlego e me deixando cada vez mais excitada. Nada do que
já tínhamos feito se comparavam ao que eu sentia agora, a expectativa e a
ansiedade eram inflamáveis, espalhando labaredas por minha pele quente e
me incendiando por dentro.

Giovanni estava em cima de mim, prendendo uma das minhas pernas


ao redor do seu quadril, enquanto a sua outra mão estava apoiada no
colchão, ao lado da minha cabeça, aliviando e distribuindo o peso do seu
corpo musculoso. O seu membro ereto encostava em meu abdômen,
acompanhando os movimentos das suas investidas, roçando toda a sua
extensão pesada em mim. Ele não era delicado e nem se esforçava em ser, e
talvez, essa fosse uma das características que mais me atraíam em sua
personalidade hostil.

O meu marido era uma mistura de sensações, ele era perigoso,


selvagem, intenso... era um turbilhão de emoções, uma montanha russa
inconstante. Sinto a sua mão que antes pressionava a minha coxa, se tornar
mais exigente, explorando o meu corpo com os seus dedos longos,
revezando entre ser carinhoso e ser rude. Ele me acariciava, me puxava, me
exigia... me enlouquecia... Por instinto, eu levo as minhas mãos até as suas
costas musculosas, deslizando as minhas unhas sutilmente até chegar no
limite da sua lombar, conhecendo desavergonhadamente o seu corpo firme.

O sabor do seu beijo era maravilhoso e viciante, as nossas línguas


dançavam em uma sincronia perfeita e única, acendendo e atiçando as
minhas células. Eu amava o gosto mentolado da sua boca... eu adorava a
forma certeira e experiente que ele conduzia a nossa entrega, demostrando
toda a sua maestria, quando marcava o meu corpo com os seus toques
fervorosos, com a sua língua ousada e com a sua mão indelicada. Sem
desgrudar os meus lábios dos seus, eu sinto a sua mão tocar o bico duro do
meu seio, apertando o meu mamilo sensível e espalhando automaticamente
uma corrente elétrica de prazer.

Solto um gemido manhoso, desfazendo o nosso beijo, sentindo a minha


excitação escorrer, descendo sem cerimônia por minha intimidade melada,
espalhando o cheiro da minha perdição. Os pelos grossos da sua barba
passeavam agora por meu pescoço, arranhando e intensificando todos os
efeitos, enviando ondas de eletricidade e de adrenalina por minhas veias.
Giovanni estava em todos os lugares, a sua mão faminta e sedenta me
apalpava com vontade, arrancando os meus grunhidos mais profundos e
primitivos.

O seu beijo molhado alcança o meu ombro, descendo lentamente por


meu dorso, escorregando a sua barba de maneira torturante por meus seios
já sensíveis e enrijecidos. Arfo, deixando o ar escapar por minha garganta,
assim que a sua boca quente e molhada abocanha um dos meus mamilos,
prendendo-o entre os seus dentes, devorando-o em seguida, em uma carícia
árdua e provocativa. Fecho os meus olhos, apreciando os seus toques,
deixando escapar por minha garganta os sons do meu prazer.

Eu estava entorpecida, tentando corresponder as suas investidas com


dignidade, mas a única reação que o meu corpo conseguia retribuir, eram os
meus gemidos e os meus ruídos carnais, que significavam todo o meu
descontrole, que estimulavam e incentivavam aquele homem impiedoso e
determinado, a me atirar no abismo. O meu ventre dói, recomeçando a sua
ânsia desesperada em busca de libertação, atiçando a minha imaginação,
criando a imagem clara e tentadora, daquele membro monstruoso se
enterrando e se afundando dentro de mim.

— Você é deliciosa... — O seu rosnado rouco e carregado de tesão


chega até os meus ouvidos, arrepiando e ouriçando toda a minha pele,
quando o seu hálito quente bate no bico do meu seio molhado. — Eu vou
ser bem duro com você, Serena!

Fito o seu olhar, sentindo o poder que a sua beleza e as suas palavras
indecentes tinham sobre mim, e ali, conectada a ele, eu sinto, que ele
também era meu. Os seus olhos estavam carregados do mais puro desejo,
refletindo em suas pupilas dilatadas, as labaredas que nos consumiam
lentamente e que queimavam a nossa pele. O seu cabelo liso estava
bagunçado em uma desordem muito sexy, acentuando ainda mais, o seu
rosto bonito. Éramos como fogo e pólvora, dois opostos prestes a arder em
uma explosão de sensações.

A sua boca sedenta volta para o meu pescoço, distribuindo beijos e


mordidas pelo caminho, e quando ele chega bem próximo a minha orelha,
ele prolonga as carícias, estabelecendo um ritmo torturante com a sua
língua quente. Giovanni estava marcando o seu território com os seus lábios
macios, deixando uma trilha ardente por onde a sua boca passava. Arqueio
as minhas costas, implorando por mais contato, sentindo os seus dedos
ágeis descerem por minhas costelas, passando por meu umbigo e seguindo
na direção do meu ventre, parando de repente... quando encontram a
quentura da minha intimidade escorregadia.

— Porra, Serena! — Ele pragueja, bem próximo ao meu ouvido,


enquanto os seus dedos ágeis e obstinados, exploram e se afundam em
minha buceta, espalhando faíscas por minha pele arrepiada. — Olha como
você está quente!

A sua maldita voz era deliciosamente sexy, e era a combinação perfeita


para potencializar os efeitos do seu polegar áspero em meu clitóris.
Giovanni geme em meu ouvido, e ao mesmo tempo, ele enfia dois dos seus
dedos grossos para dentro de mim, esfregando e espalhando a minha
excitação com o seu polegar firme. O meu marido era um desgraçado, um
infeliz que jogava sujo! Ele sabia muito bem o que estava fazendo!
Giovanni estava ciente que os sons primitivos que escapavam da sua
garganta iriam atiçar o meu desejo de ser sua, de me sentir completa e
preenchida.
Cravo as minhas unhas em suas costas largas, me prendendo ao seu
corpo, sentindo-o com mais fervor e intensidade. Sinto os seus dedos
escorregarem para fora de mim, fazendo com que um vazio repetindo se
espalhe em meu ventre, mas antes que eu possa falar algo, Giovanni enfia
os seus dedos novamente, roubando o meu ar, repetindo a sua tortura lenta e
gostosa. Os seus dedos iam e voltavam, ele os tirava e os colocava de volta,
causando um formigamento em meu ventre sensível, criando um ritmo
constante, e ao mesmo tempo, inconstante.

Eu estava tão quente... tão molhada... ele estava me levando ao limite


do orgasmo, me levando ao desespero, com os seus toques afoitos e
urgentes. Sinto os seus dedos se afundarem em mim novamente, abrindo os
meus lábios inchados e alargando as minhas paredes, mas logo, eles me
abandonam. E tudo recomeça de novo... em um vai e vem insistente, reviro
os meus olhos, sentindo os seus dedos entrarem e saírem, avançarem e
recuarem, aumentando a velocidade e voltando a lentidão, as vezes ele era
duro, e outras, ele era mais calmo.

Eu ansiava por ele, por sentir os nossos corpos se fundindo... se


tornando um só. Agarro os seus cabelos, puxando os seus fios lisos,
querendo dizer a ele o que estava preso em minha garganta, e que agora, eu
era incapaz de dizer. Eu estava louca para ser dele... totalmente dele. Os
seus carinhos voltam a me dominar, roubando o meu raciocínio e irradiando
uma corrente violenta de adrenalina por minhas células agitadas. Giovanni
alterna a intensidade das suas investidas, mudando de leves para potentes,
me acendendo por dentro.

O seu pau inchado roça em meu abdômen, deixando bem claro, o quão
duro e excitado ele estava. Sinto o seu polegar circular com aspereza por
meu clitóris, causando um espasmo involuntário em meu corpo, e no meio
da nossa selvageria, eu encontro os seus lábios, e sem pensar muito, eu
beijo a sua boca com vontade, espalhando o seu gosto saboroso por minha
língua desesperada. Ouço os seus gemidos se misturando com os meus,
fazendo com que, um fogo imensurável me lamba por dentro, aquecendo
todas as minhas terminações nervosas, juntando e unindo todas as minhas
células para uma grande explosão.

A sua língua quente desliza junto com a minha, invadindo a minha


mente e apagando tudo ao nosso redor, borrando qualquer resquício do
mundo lá fora. Deus... o que aquele homem estava fazendo comigo? Abro
mais as minhas pernas, me encaixando e me prendendo em volta da sua
cintura, sentindo os seus toques se intensificarem e me levarem a loucura.
Os seus dedos longos me exploram, sondando o meu tamanho e me
deixando mais úmida, oras me levando ao abismo, outras, me levando ao
ápice, oscilando com a sua maneira imprevisível.

Me contorço sob os seus dedos ásperos, sentindo a minha buceta


latejar, à medida que a sua mão impulsiona para dentro de mim, afundando
e enfiando a sua extensão na minha carne molhada, alcançando pontos
sensíveis e certeiros. Sinto a minha intimidade se contrair, alertando que o
orgasmo estava bem próximo, e que a qualquer momento, eu iria me
desfazer. Solto um gemido entrecortado, sabendo que eu não iria aguentar
por muito tempo... que o meu corpo não iria suportar a enxurrada de
sensações...

Era muita coisa para o meu cérebro processar, o meu sistema nervoso
não conseguia acompanhar a avalanche insaciável que aquele homem
selvagem desencadeava em meu ser. A sua boca quente me engole com toda
a sua fome, sugando os meus lábios com o seu desejo explícito e velado, a
sua pele arrepiada eletriza a minha, roubando o meu fôlego com os seus
toques atrevidos e sedutores. Giovanni gira o meu mundo de ponta-cabeça,
aumentando a minha ansiedade a cada segundo, espalhando uma ardência
dolorosa por meus músculos pesados.

O som rouco e primitivo que escapa por sua boca durante o nosso beijo
aflito, era um maldito gatilho para a minha insanidade, roubando qualquer
resquício de razão da minha mente nebulosa e confusa. O seu hálito quente
bate em meu pescoço, atiçando fagulhas por todos os meus poros, me
aquecendo. Eu era fogo! E ele era o combustível inflamável para essa
chama violenta! Aperto as minhas mãos em seus cabelos, sentindo a maciez
dos seus fios molhados, apreciando as suas carícias libertinas em meu sexo
escorregadio.
Mordo o meu lábio inferior, sentindo os seus dedos longos
massagearem as minhas paredes, explorando o meu íntimo sem nenhum
pudor, me atormentando com o seu vai e vem incessante e vagaroso. O meu
corpo estava sendo consumido por labaredas ferventes, concentrando em
meu ventre dolorido, um formigamento gostoso... Porra! Era muito bom!
Gemo desavergonhadamente, me perdendo... enquanto ele me marca com a
sua paixão arrebatadora, me deixando a mercê dos seus toques ansiosos e
das suas vontades impuras.

— Giovanni... — Gemo o seu nome em tom de súplica, soltando um


grunhido arranhado carregado de prazer, um pedido carnal e silencioso que
dizia tudo, tudo o que meras palavras não poderiam expressar, o som rouco
e singelo do meu êxtase. — Ahhh...

Sinto os seus lábios se fecharem nos meus, iniciando um beijo lento e


faminto, aumentando a umidade desenfreada da minha buceta. Um espasmo
involuntário e indesejado percorre a minha espinha, esquentando tudo,
aquecendo a minha pele arrepiada. Movida pelos instintos, eu deixo a
minha cabeça pender para trás, encostando-a levemente nos lençóis finos
que forravam a cama, sentindo o impacto do orgasmo iminente me afligir.
Me contorço, sentindo a sua barba grossa arranhar e se arrastar por todo o
meu pescoço, me deixando totalmente incapaz de controlar os meus
movimentos.

A dormência familiar domina o meu ventre, irradiando várias ondas de


calor na direção da minha intimidade, forçando uma contração nas minhas
paredes inchadas. Porém, antes que eu consigo me libertar, eu sinto os seus
dedos me abandonarem, me deixando inerte, em um vazio desesperador.
Respiro fundo, soltando um gemido de reprovação, externando o meu
desapontamento e o meu desespero...
Mas, antes que eu consiga abrir a minha boca, eu sinto o seu membro
enrijecido roçar em minha entrada. E puta que pariu! Arfo, sentindo a sua
extensão rígida espalhar a umidade por toda a minha fenda, escorregando a
sua cabeça melada por entre os meus lábios inchados, separando-os,
forçando a sua entrada e buscando o meu calor. Arqueio os meus quadris,
tentando me aproximar mais do seu corpo e do seu membro quente.
Giovanni estava tão perto... que em um só movimento brusco, eu poderia
senti-lo por inteiro.

A adrenalina pulsa em minhas veias, eletrizando o meu corpo e


acelerando os meus batimentos cardíacos. Aperto os seus cabelos, querendo
puni-lo por ser tão filho da puta, por me torturar da forma mais baixa e mais
suja, por me deixar tão perto e por não acabar logo com a minha aflição.
Sinto o suor escorrer por minha lombar e por minha testa, me deixando
mais quente e mais preparada para recebê-lo, e logo, a sua glande robusta se
afunda um pouco dentro de mim, arrancando um gemido rouco da minha
garganta seca.
Perco o fôlego, sentindo o seu pau latejar em minha entrada, juntando
e espalhando os nossos fluidos, me levando a loucura. Giovanni sai e entra
bem pouco, deixando a cabeça do seu pau saltar para fora naturalmente,
arrastando a sua extensão grosseira por meus lábios sensíveis. A sua glande
escorregadia desliza para lá e para cá, se afundando dentro de mim
superficialmente, em um movimento premeditado. A cada passada lenta e
vagarosa do seu membro em meu clitóris e a cada batida em minha
intimidade, eu sentia um pequeno espasmo correr por minhas entranhas,
que arrancava de mim gemidos profundos e carnais.

— Ahh, Deus... — Sussurro com a minha voz esganiçada pelo prazer,


sentindo o desespero tomar conta de mim novamente, enquanto ele continua
com as suas investidas provocantes, ignorando totalmente as minhas
súplicas. — Por favor...
Fito os seus olhos atentos, descendo o meu olhar para os seus lábios
entreabertos, analisando a sua respiração entrecortada e acelerada. Os fios
úmidos do seu cabelo liso caíam por sua testa suada em um desalinho sexy,
potencializando a sua beleza natural. Eu estava diante de um Giovanni cru,
selvagem, nu e sem reservas, e o melhor, era que essa noite, ele era
inteiramente meu. Deslizo os meus calcanhares por sua cintura, me
prendendo mais ao seu corpo forte.

— Por favor, o que!? — A sua voz rouca e potente é pronunciada bem


próximo ao meu ouvido, enquanto a sua boca sedenta saboreia o lóbulo da
minha orelha, destruindo qualquer relance de consciência da minha mente.
— Eu quero ouvir mais uma vez... eu quero escutar novamente desses
lábios deliciosos, o quão desesperada você está, para sentir a porra do meu
pau se enterrando bem fundo nessa buceta molhada...
Maldito! Ele era pervertido e intenso demais... Giovanni travava um
duelo erótico, carregado de possessividade, dominação e tesão. Aperto as
minhas mãos nos fios da sua nuca, puxando a sua boca na direção da minha,
dizendo com o meu corpo e com os meus gemidos, o que a minha boca não
conseguia externar. A sua glande grossa escorrega para fora dos meus
lábios, desencadeando mais uma onda de espasmos involuntários por minha
intimidade. Mas, antes que eu consiga processar aquela sensação gostosa, e
antes que eu chegue ao orgasmo violento, eu sinto Giovanni encaixar o seu
pau bruto na minha entrada novamente.

A sua mão grande desliza até o meu quadril em busca por apoio,
apertando a minha carne, e em uma investida só, ele entra todo dentro de
mim, acabando com a agonia dos nossos corpos. Choramingo, estranhando
a mudança repentina, ele era grande e muito grosso. Me afasto dos seus
lábios, respirando fundo e colando a minha testa na sua, soltando um
gemido longo junto com ele, que se endurecia dentro das minhas paredes
apertadas, espalhando uma dor e uma ardência insuportável na minha
intimidade.

— Caralho, Serena. — Ele geme, agarrando os meus cabelos com as


suas duas mãos, e sem esperar que eu me acostume com o seu volume
avantajado, ele aperta os fios da minha nuca e se enfia dentro de mim
novamente, empurrando com tudo o seu quadril contra o meu. — Porra de
buceta gostosa!

Rosno em aflição, sentindo o meu corpo protestar, estranhando o seu


tamanho e a sua grossura, tentando achar o prazer em meio as suas
estocadas bruscas. Sinto os meus músculos endurecerem, recusando as suas
investidas, focando a minha atenção na ardência dolorosa que aumentava e
se espalhava no meio das minhas pernas. Percebendo a minha tensão e o
meu nervosismo, Giovanni leva uma de suas mãos até a parte de trás da
minha coxa, apertando o local com força, transferindo o meu foco para a
dor que se instalava em minha perna, e então, ele investe um pouco mais
forte.

A sua boca volta a devorar o meu pescoço, atiçando as minhas células


novamente, fazendo com que, a adrenalina volte a circular por meu corpo
tenso, enquanto o seu quadril se movimenta mais uma vez, roubando o meu
fôlego. Choramingo manhosa, sentindo o seu membro rígido se enfiar por
minhas paredes estreitas, alargando o meu canal em um movimento mais
vagaroso, forçando todo o seu comprimento a adentrar por meus lábios
molhados, e assim que todo o seu pau se enterra em minha carne quente,
um gemido rouco escapa por sua boca.

O som primitivo e carregado de luxúria alcança as minhas terminações


nervosas, reverberando todo o seu desejo em minha pele ouriçada. Cravo as
minhas unhas em suas costas, sentindo mais uma investida me preencher
por completo, me obrigando a arquear as costas para recebê-lo. Solto o ar
que estava preso em minha garganta, soltando um grunhido quando a sua
barba áspera roça o meu dorso, deixando um rastro por minha pele sensível.
Giovanni repete o mesmo movimento brusco, impulsionando com força, se
enterrando fundo dentro de mim, apertando e puxando os fios do meu
cabelo a cada investida pesada.

Mordo o meu lábio inferior, sentindo o meu corpo balançar de acordo


com os seus movimentos brutos, chocando os nossos quadris com violência
e ferocidade. Sem me dar tempo para respirar, ele se afunda dentro de mim
novamente, batendo e segurando o seu pau bem lá no fundo, prolongando a
sua tortura, me deixando sentir todo o seu membro e o retirando por
completo. Giovanni não teve pena, ele repetiu esse mesmo movimento
duas... três... quatro vezes, enquanto as suas mãos exploravam o meu corpo
e a sua boca beijava a minha pele, aquecendo tudo com a aspereza da sua
barba.

Aos poucos, enquanto ele se afundava em minha intimidade com toda a


sua indelicadeza, eu começo a sentir a dor amenizar, dando lugar a um
prazer completamente novo e desconhecido. A adrenalina e o desejo
pulsavam em minhas veias, me consumindo de dentro para fora,
provocando pequenas pulsações na minha buceta encharcada. O seu
membro animalesco e faminto se expande e cresce dentro de mim,
ganhando espaço entre as minhas paredes, com cada estocada viril e
intensa. O meu marido puxa a minha coxa na direção da sua cintura e ganha
mais espaço, me fazendo estremecer com a sua investida rígida.
Porra! Ele estava tão fundo... tão duro... tão profundamente enterrado
em mim, me fazendo gemer como uma louca, espalhando sensações
estranhas e completamente novas, que nenhuma das minhas fantasias
secretas foram capazes de chegar perto da intensidade do que eu sentia
agora. Involuntariamente, eu arqueio os meus quadris, oferecendo um
pouco mais do meu corpo para o seu deleite, e com toda a sua ânsia,
Giovanni se apodera de mim, calando os meus gemidos com a sua boca
deliciosa.

Eu estava tão quente e tão molhada que a cada estocada brusca dele, eu
sentia algo escorrer por minha intimidade, descendo até a minha bunda,
melhorando o nosso encaixe. O sangue pulsa e bombeia em minhas veias,
enquanto Giovanni entra e sai repetidamente, mergulhando cada vez mais
fundo e com mais força. Tento acompanhar o seu ritmo potente, recebendo
toda a grossura do seu pau e engolindo toda a sua extensão, me perdendo
nas sensações entorpecentes.
O som dos nossos corpos se chocando ecoam por meus ouvidos,
irradiando uma onda avassaladora de tesão e selvageria por meu corpo, me
obrigando a soltar um grunhido involuntário, um ruído carregado do mais
puro desejo carnal. Era insanamente delicioso... Giovanni assume o controle
do meu corpo, me devorando com a sua boca habilidosa, ditando os nossos
movimentos com a maestria e com a experiência que os seus toques
esbanjavam. Reviro os olhos, sentindo o seu pau se enterrar com mais
seriedade, pressionando até o fim, esfregando onde ele sabia que eu
precisava.

— Goza, Serena! Goza no meu pau, porra! — Ele rosna em meu


ouvido, e embriagada pelo prazer, eu fecho os meus olhos, me deixando
levar pelo êxtase puro, sentindo as nossas peles suadas e eletrizadas
deslizarem uma na outra. — Abra os olhos! Eu quero que você olhe para
mim, eu quero ver essa sua cara de tesão!
Sinto a sua mão grosseira segurar o meu queixo, apertando o meu
maxilar, me obrigando a fitar o seu olhar profundo, e nossa... os seus olhos
eram lindos... talvez os mais lindos que eu já vi... as suas íris tinham uma
tonalidade diferente, um verde escuro penetrante, feroz e selvagem. Perco a
linha do meu pensamento com mais uma estocada forte, acelerando os
batimentos do meu coração e arrancando um som abafado da minha
garganta.

O seu pênis entra e sai com fervor, com selvageria, estocando e


segurando com violência, roçando o meu clitóris quando ele se enterrava
por inteiro, me fazendo ver pontinhos pretos em meu campo de visão.
Fecho os meus olhos, pendendo a minha cabeça para trás, buscando um
autocontrole inexistente, procurando forças para aguentar toda a sua fome
desenfreada. A minha respiração aquece, dificultando a entrada do ar, e com
mais uma investida bruta, eu sinto a minha buceta se contrair, apertando e
estrangulando o seu membro extremamente duro, contra as minhas paredes
inchadas.

Sinto o meu corpo fraquejar, atingindo o orgasmo em espasmos


intensos e involuntários. Os meus músculos que antes estavam tensos,
relaxam, deixando o meu corpo amolecido e leve. O suor escorre livremente
por minha testa e por minhas costas, fazendo uma trilha tortuosa por minha
pele, enquanto o meu ventre pulsa ao redor do seu sexo impiedoso, que
continuava mantendo o seu ritmo duro, se enfiando em mim, sem piedade
alguma.
— Giovanni... — Gemo, incapaz de identificar o que estava se
passando com o meu corpo trêmulo e suado, me contorcendo ao redor do
seu pau quente e inchado. — Aaaahh...

Tento em vão abafar os meus gritos em seu pescoço, mordendo a sua


pele com os meus dentes, mas era muito difícil me controlar... era quase
impossível me conter... sentindo o seu pau sendo engolido e tragado para o
fundo da minha intimidade, pulsando e latejando dentro de mim. Um fogo
abrasador lambia a minha pele, espalhando uma quentura por toda a minha
espinha, alastrando um calor por minha nuca. Era como se cada partícula do
meu ser se dissipasse no ar, distribuindo pequenas explosões por meu
corpo. Eu estava flutuando... eu estava no céu... nas nuvens!

Sem me dar tempo para respirar e para me recompor, eu sinto o seu pau
me abandonar, e em seguida, ele vira o meu corpo na cama com
brutalidade, fazendo com que, a minha barriga e o meu rosto batam no
colchão, me deitando de bruços. E no próximo instante, eu sinto um tapa
forte atingir uma das laterais da minha bunda, me fazendo soltar um grito
de surpresa, concentrando uma ardência e uma queimação na minha pele
sensível, enviando novas ondas de prazer para as minhas células agitadas.

Giovanni era intenso demais... e antes que eu consiga processar tudo


aquilo, eu sinto a sua mão esfregar a minha bunda, para em seguida, dar
outro tapa, me levando a loucura. Os seus lábios quentes abocanham a pele
do meu ombro, deixando uma trilha de beijos molhados e sedentos,
arrepiando todos os pelos do meu corpo com a sua respiração quente
batendo em meu pescoço. A sua boca ávida e as suas mãos grossas, agora,
trabalhavam juntas, descendo por minhas costas e lombar... me apertando,
me lambendo, me pressionando... até alcançar a minha bunda empinada,
ultrapassando os meus limites.
Suspiro, deixando o ar circular por meus pulmões desesperados, e sem
aviso prévio, Giovanni puxa os meus pés com força e me arrasta para a
ponta da cama, encaixando a minha pélvis na quina do colchão, me
prendendo entre o seu corpo e a estrutura da cama, desferindo outro tapa
com a sua mão pesada. O barulho da sua mão se chocando contra a minha
pele suada chega aos meus ouvidos, me deixando molhada mais uma vez e
me fazendo gemer palavras desconexas.

Sem muito esforço, ele volta para dentro de mim, estocando tão fundo,
que nós dois gememos ao mesmo tempo por causa da intensidade da
posição. Mordo o meu lábio inferior com força, sentindo o impacto das suas
investidas profundas. Porra! Aquilo era bom! Era gostoso! Fecho os meus
olhos, tentando controlar a avalanche de sensações que insistia em me
soterrar, unindo os nossos gemidos descontrolados e as nossas respirações
entrecortadas. Sinto a minha intimidade apertar o seu pau com mais
violência, me perdendo na sensação deliciosa de recebê-lo por inteiro.
A sua mão pesada aperta os meus cabelos, puxando os meus fios
ondulados para perto de si, espalhando uma ardência tentadora em meu
couro cabeludo, enquanto a sua outra mão faminta, agarra e aperta o meu
seio. Arfo, sentindo o seu peitoral e o seu abdômen colarem em minhas
costas, botando o seu peso em cima de mim, intercalando as suas carícias
com as suas estocadas brutas. A essa altura, eu já nem sabia quem eu era e
qual era o meu nome, eu apenas sentia o seu corpo se fundir ao meu, com
toda a intensidade e selvageria que precisávamos.

Os sons e os ruídos animalescos que saíam da sua garganta eram


emitidos bem próximo ao meu ouvido, e eu confesso, que eu amava
aquilo... eu adorava saber que ele também se satisfazia comigo. Giovanni
tira o peso de cima de mim e aperta a minha cintura fina com as suas mãos
grandes, buscando apoio em meu corpo para empurrar o seu quadril contra
a minha bunda com mais fúria. A cada investida sua, o meu corpo arqueia,
erguendo a minha bunda com o impacto dos seus movimentos, e eu chego
tão perto... que dava para sentir algo se derramar por entre as minhas
pernas.
Aperto as minhas mãos no lençol macio, sentindo o seu pau inchar,
forçando passagem em minha buceta e esquentando o meu sangue.
Giovanni repete a sua tortura, duas... três... quatro vezes... pressionando o
seu corpo contra o meu, me atirando na escuridão sem fim e me fodendo
sem piedade, enquanto eu gozava. Ele ajeita o nosso ângulo, e em uma
estocada profunda, eu sinto o seu corpo tencionar, vacilando levemente,
sendo dominado pelo prazer, e no próximo instante, eu sinto o seu gozo
quente me preencher, batendo em minhas paredes inchadas.

Ofego, sentindo o seu corpo cair parcialmente sobre o meu, urrando e


gemendo em meu pescoço, enquanto o seu pau furioso derrama o seu
líquido grosso dentro de mim, que era engolido totalmente, por minha
intimidade gulosa. O meu corpo treme descontrolado, sofrendo pequenos
espasmos involuntários, o meu peito sobe e desce em uma busca
desesperada pelo oxigênio, espalhando uma dor latente em minha cabeça
nublada. Os sons que saem da minha garganta se misturam aos urros do
meu marido, pesando os meus músculos exaustos.

A minha respiração estava entrecortada, era difícil raciocinar e voltar


ao meu estado normal, sentindo o seu membro grosso e cumprido encher a
minha buceta com o seu sêmen viscoso. Giovanni volta a respirar mais
rápido do que eu, soltando um som carnal quando o ar volta aos seus
pulmões, me envolvendo com o seu braço pesado, me arrastando e me
acomodando para mais perto do seu corpo nu e suado. O meu ventre
queima, as minhas paredes estreitas pulsam, se contraindo com velocidade,
expulsando o excesso do seu gozo para fora.
— Descanse, esposa! — Escuto a sua voz longe, enquanto os seus
lábios macios rastejam por minha nuca, pesando ainda mais, as minhas
pálpebras cansadas. — Por que a nossa noite está apenas começando!
“ Não me subestime, eu sei muito mais do que eu digo,
penso mais do que falo, e percebo mais do que você
imagina. ”

Diego Bosso.

O s primeiros raios do sol eram tímidos e quase inexistentes, e esses


pequenos feixes de luz banhavam o quarto, atravessando os tecidos
das cortinas de maneira sútil e discreta, dando indícios que o dia estava
prestes a amanhecer. O cheiro de sexo estava impregnado no cômodo, das
diversas vezes que a fiz minha e que reivindiquei o seu corpo para saciar o
monstro faminto que ela havia despertado. Coloco o meu braço atrás da
minha cabeça e me acomodo no colchão macio, sentindo a todo momento, o
calor do seu corpo pequeno atrair o meu.

Solto lentamente o ar que estava preso em minha garganta, sabendo


que não era só a porra de uma atração física, havia algo mais entre nós,
algo que se acendia como uma centelha e nos consumia até a exaustão. É
óbvio, que eu já senti essa atração sexual por algumas mulheres, mas com
Serena era diferente, eu sempre queria muito mais do que ela poderia me
dar. Eu estava muito fodido! Sinto uma movimentação ao meu lado e me
viro na sua direção, observando as suas feições cansadas. A minha esposa
era uma grande mentirosa, e as suas atitudes arredias, refletiam a sua
personalidade ardilosa e geniosa.

A sua maldita confissão não me agradou em nada, apenas confirmou as


minhas suspeitas. Eu queria puni-la por ser tão omissa! Por não confiar na
porra das minhas palavras e por não acreditar na minha promessa em
protegê-la! Ouvir da sua boca e ter a certeza das suas reais intenções com
esse casamento, me incomodou! Eu sempre soube, desde do início, que ela
estava esperando uma brecha, para vasculhar e obter informações da minha
vida e da Camorra. Todas aquelas imagens sangrentas em meu celular
faziam parte do plano, as fotos eram especialmente para ela, eu só não tinha
a certeza, se ela iria se rebelar ou não, e ela o fez, deixou a máscara cair! E
agora, eu estou disposto a ir até o fim, eu quero vê-la se enrolar em sua
própria armadilha.

Serena dormia atônita, apagada em seu esgotamento físico, ressonando


discretamente entre a sua respiração pesada. Analiso o seu rosto bonito, me
deliciando com os seus lábios vermelhos e inchados, descendo o meu olhar
por toda a extensão do seu pescoço, apreciando a sua pele arranhada e
sensível, por causa dos pelos grossos da minha barba espessa. Ela é muito
esperta... cautelosa... e eu estou ciente da sua sede de vingança, da sua
vontade louca de achar o culpado pela morte do seu irmão. Mas, apesar da
sua sagacidade, ela é incapaz de enxergar o que está bem diante dos seus
olhos, ela não vê, que por ela, eu estou disposto a matar quem quer que
seja!

Volto a minha atenção para a sua silhueta, uma de suas mãos estava
embaixo do seu rosto, e a outra, estava repousada em sua cintura fina, me
dando uma visão privilegiada dos seus seios roliços, que estavam
pressionados um contra o outro, por causa da sua posição. Deslizo o meu
olhar predatório por seu corpo nu, até alcançar as suas pernas torneadas e
macias, sentindo a porra do meu pau corresponder de imediato ao estímulo
visual. Os seus cabelos bagunçados estavam jogados para trás, descendo em
cascatas pelo lençol, intensificando ainda mais a sua beleza!

Serena é uma maldita tentação! A sua pele estava corada e com uma
fina camada de suor, havia algumas marcas dos meus dentes em suas
costelas, em seu pescoço e em seus seios, e também, alguns vestígios do
meu gozo e do sangue da sua virgindade em sua barriga e nas suas coxas.
Eu ainda quero entender muitas coisas, não só sobre o que ela me disse,
mas também, o que ela fez questão de esconder, porque eu sei, que ela ainda
mente! Serena só me diz o que lhe convém, o que ela acha interessante que
eu saiba, mas ela se engana, achando que eu sou um homem manipulável.

Quando você cresce torturando pessoas, arrancando a verdade através


da dor... você sabe reconhecer o sabor da mentira, o olhar de um farsante,
porque os sinais corporais entregam... denunciam... até a pessoa mais
dissimulada e astuta. Serena esconde muitas coisas ao seu respeito e eu
preciso unir as pontas soltas de tudo isso, para saber até que ponto, essa
vingança a corroeu. É claro que eu estava furioso com a sua atitude, com o
seu silêncio e com a sua brincadeira de achar que estava no comando, mas
os dias sem dormir com uma mulher, se uniu ao excesso de tensão da minha
rotina, e as suas malditas provocações, forçaram o meu autocontrole!

Estico o meu braço e envolvo a sua cintura pequena, puxando-a com


força para perto de mim, colando a sua pele quente contra a minha,
tomando posse do seu pescoço sensível com os meus lábios famintos,
espalhando o seu gosto delicioso em minha boca. Coloco o meu peso em
cima do seu corpo, e imediatamente, eu escuto o seu choramingo manhoso,
externando a sua breve relutância. Serena travava uma batalha inútil entre o
desejo e o cansaço, enquanto eu beijava e mordia o lóbulo da sua orelha,
odiando a necessidade louca que ela me fazia sentir e a vontade
avassaladora de me enterrar mais uma vez naquela buceta apertada, e
despejar cada gota da minha porra em suas paredes inchadas.

Os seus mamilos duros se espremem em meu peito, roçando e


espalhando uma onda de adrenalina por minhas veias, borrando e
consumindo os meus pensamentos. Agarro a sua nuca com uma das minhas
mãos, e puxo com força, os fios do seu cabelo para o lado, obrigando-a a
me dar um ângulo melhor do seu pescoço, e movido pela minha vontade de
foder, eu raspo a minha barba em sua pele já irritada e sensível, arrepiando
o seu corpo, querendo arrancar dos seus lábios macios, os seus gemidos
dolorosos.

Serena suspira, gemendo e prendendo os meus cabelos com as suas


mãos, me puxando para mais perto. E porra! Nada era melhor do que os
sons intensos que saíam daquela boca apetitosa e saborosa, eu a detestava
por me enfraquecer, na mesma medida que a desejava. Me repreendo
mentalmente, por permitir que a luxúria dite e domine o meu lado racional,
me transformando em um animal selvagem, sem pensamentos e sem
controle, induzido apenas por um único desejo, devorar e comer a sua presa.

Os sons de prazer que ela deixava escapar por sua garganta eram
inebriantes, e rapidamente, se transformavam em combustível para o frenesi
que estava prestes a acontecer. Debaixo de mim, eu sinto o seu corpo
estremecer e o seu coração bater acelerado, pulsando na veia do seu
pescoço. Eu não iria parar até ela sentir o que era ser fodida de verdade, eu
me sentia como a porra de um viciado, sempre esperando pela próxima
dose, e no meu caso, era sentir a sua buceta gulosa me engolindo com
violência.
Envolvo os seus lábios nos meus, calando aquele maldito som
entorpecente, sentindo um calor se alastrar por minhas costas, espalhando
uma pulsação latente por toda a extensão do meu pau ereto. Intensifico o
meu agarre, apertando os fios da raiz do seu couro cabeludo, sentindo a sua
língua macia explorar a minha com desespero e habilidade. Com um
movimento certeiro, eu desfaço o nosso beijo e inverto as nossas posições,
chocando as minhas costas no colchão macio e puxando o seu corpo leve
para cima do meu.

Abro as suas pernas, forçando-a a se sentar e a se encaixar em cima do


meu cacete enrijecido, enquanto as minhas mãos exploram as suas curvas e
pressionam o seu quadril para baixo, roçando deliciosamente a sua buceta
contraída contra o meu pau latente, obrigando-a a se abrir para me receber,
nos encaixando com ardor. Serena coloca as suas duas mãos em meu
abdômen, buscando apoio e fechando os olhos quando a minha glande
inchada se arrasta por cima do seu clitóris sensível, fazendo as suas costas
arquearem e um gemido rouco escapulir por minha garganta. Coloco as
minhas mãos em sua cintura e repito a investida com mais intensidade,
querendo sentir a sua umidade me melar, por causa da fricção.

Com o movimento brusco, os seus seios empinados balançam, mas


logo, eles se chocam contra o meu peitoral firme, fazendo com que um
arrepio suba por sua espinha, arrepiando a sua pele já ouriçada. Eu estava
tão duro e tão inchado que podia sentir o meu pulso reverberando por meu
pênis, obrigando o sangue a circular e a esquentar toda a região, expelindo o
líquido pré-gozo para fora da cabeça robusta. Serena ainda estava perdida
pelo cansaço, afinal, a nossa noite tinha sido longa e estava bem longe de
terminar!
Deslizo o meu membro quente por suas dobras macias, sentindo a cada
passada, o seu corpo estremecer e sofrer um pequeno espasmo,
denunciando a sua excitação. Por um breve momento, os seus olhos azuis
esverdeados encontram os meus, as suas pupilas estavam dilatadas, mas o
seu olhar estava turvo, expondo o quanto ela estava exausta. A sua
respiração se mantém ofegante e sôfrega, e eu nem ao menos havia
começado a nossa brincadeira. Solto as mãos do seu quadril e seguro o seu
rosto, acariciando o seu lábio inferior com o meu polegar áspero, sentindo o
seu olhar atento me analisar, tentando de alguma maneira, me decifrar.

— Porra, Serena! Você fica linda em cima de mim! — Confesso,


fitando os seus olhos claros, me perdendo naquela cor cintilante, que
refletiam em suas íris todo o seu jeito indomável. — Eu quero deixar bem
gravado na sua memória, que você me pertence!

Merda! Ela era linda! Serena era gostosa demais! E sem esperar uma
atitude sua, eu puxo a sua boca deliciosa para perto da minha, saboreando e
devorando a sua língua aveludada, encaixando no meu corpo, as suas curvas
bem-feitas. Sinto os seus dedos adentrarem e apertarem os fios do meu
cabelo, me puxando e exigindo-me, para saciar a sua própria necessidade.
Por instinto, eu volto uma das minhas mãos para a sua lombar, acariciando a
sua pele suada, apertando a sua bunda e seguindo na direção da sua
intimidade.

Durante o percurso, eu pressiono dois dos meus dedos em seu ânus,


apenas provocando e conhecendo as suas reações, sentindo os seus
músculos ficarem tensos e rígidos de imediato. Era um dos seus limites, e
eu precisava conhecê-los! Por um breve instante, Serena tenta se afastar,
mas eu a impeço, prendendo o seu cabelo com a minha mão livre, enquanto
devorava a sua boca com indelicadeza e rigidez, sugando os seus lábios
macios. Avanço os meus dedos ágeis por sua buceta inchada, deslizando
por entre seus lábios úmidos e sentindo a sua entrada estreita, parcialmente
fechada.

Assim que eu insiro um dos meus dedos para o seu interior, eu sinto o
seu corpo estremecer em meu colo, enquanto o meu pau pulsa e esquenta
cada vez mais, implorando para se enterrar na sua fenda, até ela nem saber
dizer qual era a porra do seu nome! Me afundo mais em sua carne quente,
sentindo o quanto ela estava apertada, e logo, as suas costas arqueiam e a
sua boca se afasta da minha, para deixar escapar um gemido carregado de
prazer e luxúria. Caralho! Eu queria devorá-la de todas as formas
indecentes e baixas possíveis.
— Você vai aguentar o meu pau se enfiando na sua buceta, esposa? —
Pergunto em um sussurro rouco, bem próximo ao seu ouvido, deslizando a
minha língua pelo lóbulo da sua orelha, enquanto mais um dedo era inserido
em sua entrada, fazendo com que os seus músculos se contraíssem e me
apertassem. — Eu quero ouvir a sua voz, a voz safada que sai desses lábios
deliciosos, enquanto a sua bucetinha gulosa está sendo bem fodida.

Serena arfa, soltando o ar que estava preso em seus pulmões, assim que
compreende o significado das minhas palavras sacanas. Como incentivo, eu
mexo os meus dedos com mais força e rapidez, enfiando mais fundo,
pressionando o meu polegar áspero em seu clitóris sensível, fazendo
movimentos circulares cada vez menores para torturar o seu corpo esguio.
Fito o seu rosto e sorrio com o seu descontrole, vendo os seus olhos se
fecharem e os seus dentes apertarem o seu lábio inferior, tentando esconder
os seus gemidos entrecortados.

Tiro os meus dedos da sua entrada, ignorando totalmente as suas


reclamações, traçando uma linha molhada com a minha língua, arranhando
e arrastando a minha barba do seu queixo até o seu pescoço, sentindo o
sabor incrível da sua pele. Os seus lábios se abrem num suspiro demorado,
mas logo, ela afunda o seu rosto em meu pescoço, sussurrando palavras
incompreensíveis e abafadas em meu ombro desnudo. Levo os meus dedos
para a minha boca e cuspo, voltando ambos para a sua entrada quente,
espalhando a minha saliva por seus grandes lábios, preparando-a para me
receber, sabendo que as suas paredes já estavam doloridas pela quantidade
de vezes que a penetrei hoje.

Ao sentir os meus dedos retornarem, Serena solta um gemido


engasgado, enquanto eu escorregava com vontade por suas dobras, sentindo
o seu sexo macio e úmido, aproveitando um pouco mais da sua
sensibilidade convidativa. Os seus gemidos eram roucos e se misturavam
com os resmungos de dor da sua fadiga muscular, aumentando a minha
vontade de me afundar naquela buceta apertada e permanecer bem lá no
fundo. Cubro a sua boca com a minha, apertando o seu cabelo com força,
enquanto a minha outra mão invadia e explorava o seu sexo comprimido.

— Você é um... um... um desgraçado sabia... — Serena fazia questão


de gemer daquela maneira orgástica na porra do meu ouvido, me
provocando com a sua voz embargada pelo tesão. — Giovanni...

Cuspo novamente em meus dedos e espalho a minha saliva por toda a


extensão do meu pau, lubrificando o meu pênis rígido. Em seguida, agarro
os seus quadris, erguendo levemente o seu corpo, e seguro na base do meu
membro latejante, ajeitando a minha cabeça inchada na sua entrada
umedecida. Lentamente, eu puxo o seu corpo para baixo, deslizando a
minha glande para dentro, abrindo as suas paredes bem devagar, sentindo o
meu pau entrar com relutância, sendo sugado e apertado, à medida que o
seu comprimento era engolido por sua buceta contraída. Caralho! Solto um
gemido rouco, sentindo-a se abrir, estrangulando-me com a sua carne
lacerada.

Serena solta um grunhido doloroso, e ao ouvir aquele som cru,


carregado de selvageria, eu sinto os meus pensamentos se tornarem um
completo borrão, me transformando em um ser primitivo e impiedoso. Com
um movimento violento, eu me impulsiono completamente para dentro da
sua buceta, sentindo-a se contrair com força, pressionando a cabeça do meu
pau. Seguro os seus quadris, apertando a sua carne com a ponta dos meus
dedos, me colocando mais fundo e sentindo a minha respiração pesar,
enquanto o meu pênis pulsa dentro do seu corpo.

O sangue corre e martela em minhas veias, reverberando um calor


latente na glande robusta do meu membro, pesando e dificultando a minha
respiração. Envolvo os meus braços ao redor da sua cintura, buscando um
apoio melhor para as minhas estocadas brutas, me movendo para dentro
com rigorosidade, encontrando o ritmo perfeito, sabendo que amanhã ela
iria sentir o impacto das minhas investidas bruscas. Eu sei que ela já estava
dolorida, mas o meu desejo era prolongar essa sua ardência, para ela saber
quem foi o responsável por fodê-la a noite inteira.

Saio quase inteiramente de dentro, socando o meu pau de volta, sem


pena e sem pausa, espalhando o barulho do impacto das nossas peles se
chocando, enfiando até a base, sentindo os meus testículos se apertarem em
sua entrada melada. Mordo a sua orelha e beijo o seu pescoço suado, vendo-
a pender a cabeça para o lado, apoiando o peso da sua testa em meu ombro.
Porra! Ela estava perto! Sinto as suas coxas tremerem e as suas costas
flexionarem toda vez que o meu pau se afunda inteiramente em seu calor,
denunciando a proximidade do seu orgasmo.
Agarro os seus cabelos, e com rigidez, eu forço a sua cabeça a se
levantar, enquanto a minha outra mão circula a sua cintura e aumenta o
ritmo das investidas. Ela era apertada e deliciosamente quente, fecho os
meus olhos por um instante, sentindo o meu pau se contrair, enquanto eu
entrava e saía repetidamente, apreciando as suas paredes estreitas se
alargando para me receber. Serena treme, soltando pequenos sons
desesperados, então, eu diminuo o ritmo, vendo-a gemer frustrada,
torturando-a um pouco mais.

Os nossos corpos estavam úmidos, banhados por uma fina camada de


suor, colando os fios do meu cabelo em minha testa em uma desordem
feroz. Sinto os seus seios roçarem e baterem em meu peitoral definido,
arrancando sons guturais da sua garganta seca, me dando a certeza, que
agora, eu estava determinado a fazê-la gozar, de novo e de novo, até eu me
perder dentro do seu corpo. Os gemidos que ela deixa escapar são
deliciosos, mas, os pequenos grunhidos de dor misturados ao seu prazer, me
enlouquecem, me incentivando a mergulhar mais fundo e com mais
violência em sua intimidade molhada, encaixando e forçando a sua buceta a
engolir e a sugar inteiramente o meu pau.

Ajeito a sua posição, apertando a sua bunda gostosa, investindo o meu


quadril contra o seu em um movimento grosseiro. Repito a estocada, indo e
vindo com brusquidão, sentindo o meu pau saltar para fora da sua entrada,
batendo levemente em seu clitóris inchado, por causa do movimento bruto e
intenso. Aperto a sua bunda, esfregando a sua entrada em meu membro,
sentindo a sua umidade escorrer pelo comprimento do meu pênis duro, em
um vai e vem cadenciado. Eu era apenas instinto, eu me sentia faminto,
desesperado, ansiando por mais e mais, querendo devorar e comer a minha
presa apetitosa e suculenta, que sucumbia mole em meus braços.
— Eu quero que amanhã você se lembre que o meu pau esteve bem
enfiado nessa buceta gostosa! — Rugi entre dentes, pegando o meu pênis e
enfiando em sua carne, aumentando o ritmo das minhas estocadas, beijando
os seus lábios e sugando a sua língua com a mesma intensidade, engolindo
os sons animalescos que saíam por sua boca. — Eu acho que você ainda
não entendeu, que agora você é uma Campanaro! Que você finalmente é
minha! Que eu te marquei e vou marcar sempre, com a porra do meu gozo!

Bato em sua bunda, apertando e abrindo as bandas, ouvindo o estralo


alto do tapa em sua pele suada, fazendo-a soltar um grito manhoso. Sinto os
meus quadris ficarem tensos, e com mais uma estocada profunda, eu sinto o
seu corpo estremecer, se preparando para gozar em cima do meu cacete.
Seguro a sua cintura e repito o movimento, uma... duas... três vezes...
fazendo a sua bunda bater na minha virilha, forçando-a para baixo, sem
pausa e sem interrupção. Deslizo as minhas mãos por seu corpo e aperto a
sua pele, ouvindo os seus gemidos descontrolados, sentindo as suas paredes
se contraírem e se apertarem ao meu redor.
Sinto o seu corpo se enrijecer e o seu fôlego sumir, e com um grunhido
rouco, as suas pernas estremecem e a sua buceta me aperta com violência,
pulsando e me sugando para dentro, enviando ondas de prazer por toda a
extensão do meu pau. Solto um gemido longo e sinto as sensações
extasiantes do seu prazer, sentindo o líquido quente do seu gozo melar e
escorrer pela cabeça inchada e latejante do meu membro. Porra! Serena era
deliciosa! Mantenho o meu ritmo impiedoso, fodendo as suas paredes com
investidas firmes, estocando dentro dela enquanto ela gozava e se contorcia
em cima de mim, sofrendo espasmos involuntários intensos

As minhas pernas queimam e a minha cabeça lateja, refletindo as


pulsações do meu pau em cada célula do meu corpo. Serena desaba em
cima de mim, apoiando o seu corpo totalmente em cima do meu, enquanto
eu me enfio com rigorosidade e com vontade, na sua entrada inchada,
observando o subir e descer da sua respiração exasperada, em busca de
oxigênio. As suas lufadas quentes e afogadas batem em meu pescoço,
fazendo o orgasmo se acumular entre as minhas pernas, espalhando uma
ardência dolorosa em minhas costas.

O meu pênis incha e infla em seu interior, a minha glande lateja e se


contrai, se preparando para explodir e se despejar em sua buceta. Solto a
porra do meu autocontrole, quando as suas paredes se contraíram, sugando
e apertando a minha cabeça sensível. Entro mais fundo e com mais força,
prolongando o seu orgasmo, aumentando o ritmo das minhas investidas,
sentindo a minha visão ficar nublada e o meu pau pulsar de acordo com a
adrenalina, invadindo-a com toda a minha fome e necessidade.

Estoco mais duas vezes, apreciando a familiar tensão se acumular em


minha barriga, o meu orgasmo represado não aguenta por muito tempo, e
logo, eu gozo com um urro em seu ouvido. Os jatos potentes esguicham por
meu pau, jorrando toda a minha porra grossa para dentro dela, a minha
glande inchada se contrai, à medida que o líquido é expelido para fora,
liberando todo o sêmen dos meus testículos. Enterro o meu rosto em seu
pescoço, abafando o meu gemido entrecortado, enquanto gozava forte
dentro da sua buceta, apertando a sua bunda firme com as minhas mãos.

O silêncio domina o quarto, deixando apenas o som das nossas


respirações descontroladas e ofegantes reverberando pelo espaço. Serena se
remexe em cima de mim e solta um gemido, estremecendo, enquanto eu
ainda estava dentro do seu canal apertado, me perdendo no seu calor
convidativo. Passo as mãos em seus cabelos e ajeito o seu corpo em cima
do meu, deitando a sua cabeça em meu peito, sentindo os tremores do seu
corpo aumentarem.

— Está com frio? — Pergunto, envolvendo os meus braços ao seu


redor, sentindo o seu cheiro familiar me invadir.
— Não... — Ela sussurra, mantendo o seu tom de voz baixo e distante.
— Eu só estou completamente exausta.

Sorrio rapidamente, satisfeito com a sua resposta, sabendo que ela


estava tão envolvida nisso, quanto eu. Puxo o seu corpo trêmulo para mais
perto, cobrindo-a com o cobertor macio, observando o seu peito subir e
descer com rapidez. Me ajeito na cama, acariciando os seus cabelos e
sentindo a maciez dos seus fios ondulados deslizarem por entre meus dedos.
Em um movimento leve, Serena passa a sua coxa por cima da minha, se
acomodando melhor em meu corpo, buscando o meu calor.

Porra! Eu estava realmente fodido! A verdade é que eu esperava que o


sexo se tornasse menos intenso com o passar do tempo, porque só assim, eu
poderia superar a minha obsessão por ela. Porque agora, eu sempre a
deixaria acordada por horas, gozando e enchendo a sua buceta apertada.
Sinto o seu corpo relaxar e ouço um suspiro pesado, indicando que ela já
estava dormindo. Tiro as mãos do seu cabelo e coloco os meus próprios fios
para trás, ajeitando a desordem que ela havia começado.

— Não vai embora, por favor... — Ouço a sua voz suave, me


surpreendendo com o seu pedido, enquanto os seus braços finos circulavam
a minha cintura. — Fica aqui comigo!
— Eu não vou a lugar nenhum! — Digo, sabendo e sentindo a sua
insegurança, enquanto eu beijava os seus cabelos e inalava o seu cheiro
doce e familiar. — Agora, descanse!
“ A vida é um caminho inesperado, imaginamos trilhar
determinados rumos, mas o imediato se estabelece a
nossa frente, caminhamos e não fazemos a menor ideia
de onde vamos chegar. ”

Afonso Cláudio de Meireles.

M e remexo na cama, buscando uma posição mais confortável, e


instantaneamente, eu me arrependo de ter me movido, o meu corpo
inteiro estava dolorido e pesado. Deixo a exaustão me consumir por mais
alguns longos minutos, sentindo as minhas pálpebras pesarem e
desobedecerem aos meus comandos. Eu sabia que precisava levantar, o meu
subconsciente me alertava que era necessário acordar, mas o meu corpo
simplesmente não me obedecia.

Tento abrir os meus olhos, gemendo durante o processo, sentindo o


incômodo da claridade embaçar a minha visão, me forçando a piscar várias
vezes, em uma tentativa falha de me acostumar com a luminosidade. A luz
do sol já entrava pelas janelas, batendo de maneira sútil em meu rosto, mas,
nem isso era capaz de me despertar totalmente, eu estava acabada! E os
meus músculos refletiam isso, eles imploravam e gritavam
desesperadamente por mais um pouco do calor e da maciez da cama.
Bocejo silenciosamente, esticando o meu corpo nu entre os lençóis frios, me
permitindo e aproveitando o silêncio confortável para descansar mais um
pouco.

O que foi que aconteceu ontem à noite? O que foi a minha primeira
vez? Para ser sincera, eu não sei nem como descrever a intensidade do que
eu senti... tudo o que aconteceu foi real... e eu amei cada detalhe! Eu estava
feliz por ter conseguido ir em frente e por não ter recuado, e por não
lembrar daquele infeliz... De certa forma, Giovanni me ajudou a quebrar
uma barreira que me acorrentava e me aprisionava no passado, uma ligação
cruel que sempre me impediu de seguir em frente.
E não, não havia cicatrizado! Já tinham se passado muitos anos desde
da última vez que eu vi aquele desgraçado, mas eu ainda me sentia violada
e usada, por todas as vezes que ele me quebrou e destruiu. Will sabia muito
bem o que estava fazendo, ele se enraizou em mim e se infiltrou em meu
interior, tomando conta das minhas memórias, invadindo a minha alma e
transformando tudo em um inferno doentio! Era praticamente impossível
apagá-lo das minhas lembranças, até porque, ele se associou as recordações
da minha infância, ele me feriu e me machucou, enquanto eu ainda era uma
menina, e isso era muito pior... porque se um adulto não tem psicológico
para suportar aquelas atrocidades, imagine uma criança...

Eu levei muito tempo para erguer e construir as minhas barreiras,


porque eu precisava separar de alguma maneira, esse lado turbulento e
confuso da minha mente. Eu levantei tijolo por tijolo, erguendo um muro
com muita precisão e cautela, bloqueando todas aquelas lembranças
indesejáveis e asquerosas, impedindo que elas me alcançassem em algum
momento inoportuno. No entanto, eu, apenas eu, sei muito bem o estrago e
o poder que elas têm sobre mim, e por mais que eu as esconda e mascare as
minhas feridas, eu ainda sei que elas existem... Os meus machucados não
estão mais sangrando, mas eles doem... eles latejam...

E todo esse meu esforço se desfez... essa barreira bem construída se


deteriorou como um castelo de areia, como uma estrutura sem uma
fundação resistente, e Giovanni foi o único causador desse
desmoronamento. Ele chegou e colocou o meu trabalho de anos no chão!
Giovanni me viu no meu pior estado, ele presenciou um ataque de
desespero e de pânico... me viu caída e extremamente frágil, revivendo um
dos diversos pesadelos que vivem e se alimentam do meu subconsciente. E
eu me odiei por isso, por permitir que o meu inimigo me visse tão
vulnerável.

Mas, o destino não é previsível, ele prega peças... quem eu achava que
era inimigo, se tornou um aliado, uma âncora de sustentação, que me
impediu de me afogar em um mar tempestuoso, que era o meu passado. A
minha vingança me cegou, me fez focar em outras prioridades, me fez
chegar até aqui, me trazendo para um beco sem saída e sem respostas... e
talvez, esse seja o meu caminho. E quem sabe, se o acaso não me fez
cometer esse engano, apenas para encontrá-lo? Para achar quem eu
precisava e para encontrar o meu porto seguro.

Porque sim... ele é um porto seguro, alguém que eu podia contar, e até,
confiar, um apoio sincero que eu nunca encontrei na minha família de porta-
retratos. Mas até quando? Isso, eu não sei... talvez, até ele descobrir sobre a
Fênix e me conhecer verdadeiramente. Eu sei que em algum momento, eu
vou ter que dizer a verdade, até porque, se eu quero viver ao seu lado, eu
preciso ser eu mesma, e a Fênix faz parte de mim... ela me ajudou a
sobreviver e a me manter de pé!
Suspiro pesadamente, sentindo o turbilhão de emoções bagunçarem o
meu interior, deixando bem claro, que eu estava metendo os pés pelas mãos,
que eu estava nutrindo coisas que talvez ele não sentisse de volta. Mas,
agora estava mais claro, estava mais nítido... no calor do seu corpo, eu
percebi o quanto eu gostava dele... não só da sua presença, como também,
dos seus toques, dos seus beijos, do seu cheiro... Eu jamais me entregaria se
não sentisse confiança, se não acreditasse em suas palavras, a verdade é
que, ele me conquistou, mesmo com aquele jeito bruto e grosseiro, ele
conseguiu se infiltrar em meu coração.

Giovanni cumpriu a sua promessa, ele não exigiu e não me forçou a


nada, ele esperou e aguardou o meu pontapé inicial, e isso, de certa forma,
me surpreendeu. Ele é acostumado a ter tudo o que quer aos seus pés, na
hora que ele determinar e ordenar, afinal, ele foi criado com todas as
regalias de um herdeiro legítimo da máfia, com toda a riqueza ao seu dispor.
Ele era muito diferente do monstro que eu havia criado em minha cabeça,
pelo menos comigo, esse lado cruel e impiedoso não se sobressaía, ao seu
lado humano de ser.

Me movimento novamente, sentindo uma dor se espalhar por minhas


costas e por minhas pernas, me fazendo gemer. Porra! Eu estava destruída,
parecia que um caminhão tinha me atropelado e moído todo o meu corpo.
Com muito esforço, eu consigo me afastar dos lençóis e me sentar na cama,
sentindo a minha intimidade inchada doer, me obrigando a apertar o local,
para tentar amenizar a ardência que se alastrava rapidamente. Giovanni era
intenso demais, tudo com ele é vivido com a mais pura emoção e
adrenalina, e com o sexo não foi diferente, muito pelo contrário, tudo só se
aflorou mais.
A nossa noite foi intensa e deliciosa... mas, aguentar todo o seu ritmo
vigoroso seria um desafio pessoal. O meu marido era insaciável, ele me
acordou diversas vezes durante a noite, me fazendo sua de várias maneiras,
e eu confesso, que depois da terceira vez, o meu canal estava dolorido
demais para me proporcionar prazer. Mas, eu não quis parar e nem tinha
intenção de impedi-lo, muito pelo contrário, eu também queria que ele se
satisfizesse comigo.

Coloco os meus fios bagunçados para trás, e em um gesto involuntário,


eu olho para o outro lado do colchão, confirmando a minha suspeita de que
Giovanni já não estava mais ao meu lado. Em algum momento da manhã,
ele saiu e o barulho do banheiro preencheu o quarto, mas eu nem me
esforcei para despertar, a minha mente estava em estado de inércia, um
borrão, uma tela vazia. Aguentar toda a sua fúria e o seu membro
implacável dentro de mim, me fez desabar, e eu só consegui dormir de
verdade, quando já estava claro. Eu sei que ele ficou boa parte do tempo
comigo, mas, depois que eu apaguei, eu não me lembro do que aconteceu e
nem sequer imagino.

Bocejo lentamente, tentando me orientar e me localizar, sem saber ao


certo, o que eu iria fazer a partir de agora. Estávamos tão envolvidos que eu
não pensei em como ficaríamos depois do que compartilhamos, e o pior, o
que seria desse casamento? Como ficaria essa união fadada ao fracasso?
Essa seria outra pergunta que ficaria sem resposta... Solto o ar que estava
preso em minha garganta e observo as suas roupas em cima da poltrona,
ciente que antes elas estavam jogadas no chão, juntamente com o que restou
das minhas.

Suspiro e levanto devagar, sentindo o meu corpo protestar de imediato,


as minhas costas e as minhas pernas doíam muito, mas o que mais me
incomodava, era a minha intimidade. Dou a primeira passada com
dificuldade, sentindo o seu gozo morno escorrer por minha entrada, o
líquido esbranquiçado descia por minhas pernas, serpenteando por minha
pele, me dando um choque de realidade. Sinto um frio percorrer a minha
espinha, fazendo com que os meus pensamentos se alinhem.

— Ai, ai... — Reclamo, sentindo o impacto da nossa noite a cada


passada leve que eu dava na direção do banheiro. — Meu Deus! Isso não
pode acontecer!

Eu não posso ficar grávida! Nunca! Eu não quero ter filhos... não nesse
meio cruel em que vivemos. Olho o meu reflexo sério no grande espelho do
banheiro e coloco os meus cabelos desordenados para trás, sentindo o seu
perfume forte me invadir. Como eu poderia ser mãe no meio de tudo isso?
Como eu posso criar uma criança com a mente fodida que eu tenho? Cubro
o meu rosto com as minhas mãos por um momento, temendo as
consequências do que havia acontecido.

E eu ri! Solto uma risada silenciosa, carregada de desespero, enquanto


a minha mente criava a situação absurda de uma possível gravidez na minha
cabeça. Eu não seria uma boa mãe e Giovanni... muito menos! Uma mulher
cheia de traumas... uma assassina por encomenda... eu não posso ser mãe,
eu não posso colocar mais um inocente no meio desse inferno. Isso era algo
totalmente fora da minha realidade, até porque, eu não suportaria perder
mais uma criança... o meu psicológico não iria aguentar.

Uma parte de mim queria forçar uma culpa que eu não queria tomar,
um sentimento de arrependimento que já não cabia em mim, porque eu
amei senti-lo e eu adorei me tornar a sua mulher, e não havia nada de errado
nisso! Não mais! Respiro fundo e sigo na direção do box, porque depois do
que aconteceu, eu precisava de um bom banho, era necessário lavar a minha
alma e a minha pele da sua essência masculina, para só assim, eu me
resolver e me encontrar.

Abro o registro e deixo a água morna se chocar contra a minha pele,


sentindo os meus músculos sofrerem e agradecerem a massagem suave dos
jatos de água do chuveiro, que desencadeavam um choque doloroso em
meu corpo, para só depois, acalmar os meus ânimos. Tomo todo o tempo
necessário, relaxando e aproveitando esse momento de quietude, enquanto
eu colocava os meus cabelos para trás e lavava o meu suor e o de Giovanni
do meu corpo, deixando a água levar os seus fluidos de mim e o excesso de
sangue que estava seco e colado na parte interna das minhas coxas.
Depois de um bom banho e de lavar e pentear os meus cabelos, eu
escovo os meus dentes e busco uma roupa confortável no closet gigantesco,
optando por um vestido solto e um casaco jeans, dispensando o uso da
calcinha. O meu corpo ainda estava dolorido, a minha pele estava cheia de
marcas vermelhas espalhadas, que provavelmente, só sairiam com o
decorrer do dia. As minhas olheiras estavam marcadas pelo cansaço, sem
mencionar, a minha intimidade que além de estar vermelha e inchada,
estava irritada, causando um desconforto doloroso. Vou até o banheiro e
tateio as gavetas, buscando alguma pomada ou algum óleo que aliviasse a
dor causada pelo atrito das minhas pernas, no entanto, as únicas coisas que
encontro são comprimidos.

Analiso o nome dos remédios em italiano, procurando entre eles, um


analgésico que abrandasse e amenizasse a dor do meu corpo, e assim que eu
encontro, eu pego duas pílulas e engulo, sentindo a secura da minha
garganta dificultar o processo. Ótimo! Agora, eu só precisava de uma pílula
do dia seguinte e de um anticoncepcional decente! Fácil e simples! Sorrio,
sabendo que sair dessa mansão seria extremamente difícil, e se eu fosse
pega nos arredores, seria um pouco complicado explicar a minha fuga, já
que o meu marido está mais do que desconfiado.

Volto até o quarto e procuro uma caneta, escrevendo em um pedaço de


papel qualquer o que eu precisava comprar em uma farmácia próxima.
Termino de anotar e saio do quarto, seguindo a passos lentos, na direção da
escadaria que dava acesso ao andar de baixo, sentindo a ardência se enraizar
em meus grandes lábios. Porra! Eu estava péssima! Amasso o papel em
minha mão, em uma tentava falha de dissipar a dor invasiva, agradecendo
mentalmente por Giovanni não estar presente, eu odiaria que ele me visse
tão acabada. Ele ficaria mais convencido do que já é, quando perceber no
meu jeito desajeitado de andar, o estrago que ele fez comigo.
Desço os degraus no meu tempo, chegando na sala luxuosa que dava
acesso direto ao jardim bem cuidado da mansão. Provavelmente, Giovanni
estava na sede da Camorra e só voltaria a noite. Ser o capo dos capos
também não é muito vantajoso, ele precisa ter controle de tudo e de todos,
saber o que está acontecendo com as outras máfias e quais são as suas
posições sobre certos assuntos. O chefão precisa controlar e organizar toda
a hierarquia, se mantendo sempre na posição superior, ou seja, no topo da
pirâmide. Com certeza, esse cargo não é para qualquer um, o meu marido
precisa se posicionar e criar estratégias para sempre se manter no controle
de tudo.

Analiso o silêncio ensurdecedor que predominava no ambiente, me


certificando que ninguém estava me observando, e com um andar mais
firme, eu sigo até a área da piscina, disfarçando a dor muscular que insistia
em se sobressair. A área externa da casa era belíssima, a piscina era rodeada
por um deck de madeira envernizado, ao redor do espaço havia um
paisagismo bem construído, priorizando a vegetação característica dessa
região da Itália. Caminho devagar, analisando os dois seguranças que
vigiavam essa área da casa, observando o grande espaçamento das suas
posições.

Cada um estava em um lado, afunilando o perímetro com os outros


seguranças que estavam encarregados de proteger a mansão. Ambos
estavam sérios, envoltos e concentrados em suas obrigações, e os dois
estavam sob o meu comando, eles eram infiltrados. Me aproximo devagar
do homem mais próximo, disfarçando a todo o momento, o meu interesse
em interceptá-lo. Olho o azul esverdeado da piscina e me abaixo, tocando a
água fria, deslizando a minha mão para lá e para cá, em um gesto casual de
quem estava apenas explorando.

— Olá, Ethan! — Cumprimento o homem loiro de maneira discreta,


sem olhar diretamente para seu rosto, mantendo o meu interesse na minha
mão. — Como estão as coisas?

— É muito bom saber que a senhora está bem! — Ele responde,


mantendo a sua pose esguia e formal, abaixando o seu tom de voz para um
sussurro. — Todos ficamos assustados e sem respostas quando a senhora foi
levada para o hospital.

— Cadê o Mike? Por que eu não o vejo nas rondas entre os


seguranças? — Pergunto, observando o conjunto de sofás que ficavam
próximos à porta de madeira que dava acesso direto a sala, por onde eu
havia passado anteriormente. — Tivemos alguma baixa?

— Nenhuma senhora! — O homem me responde de imediato,


analisando e observando as redondezas, como se nada estivesse
acontecendo. — O Michael não faz parte dessa equipe, ele faz parte da
equipe encarregada pela segurança pessoal do Don Campanaro.
Então, praticamente estava tudo da mesma maneira, e isso, era um
ótimo sinal. Sem sermos descobertos, nós poderíamos descobrir e ter acesso
a muito mais coisas, e só o Mike, poderia me informar sobre as novidades.
Eu precisava encontrá-lo o quanto antes, para saber dos detalhes e para
passar as novas ordens, porque agora, o nosso alvo era outro! Uma pessoa
desconhecida entrou no meio do nosso jogo, alguém que estava brincando
de manipular ambos os lados, colocando um contra o outro, e estava mais
do que na hora, desse desgraçado dar as caras.

A situação mudou... e a chave para esse labirinto estava nas mãos do


Lorenzo! Ele era a resposta e ele era a saída! Haveria uma festa em poucos
dias, um evento de gala que iria reunir os membros importantes da Camorra
e os seus aliados, e o Lorenzo estaria morto antes mesmo do brinde
começar. Chegou a hora de eliminar um por um, cada peão desse jogador
desconhecido seria morto, em uma sequência precisa de jogadas e avisos!
Eu precisava matar e exterminar os meus inimigos, até chegar no mandante
de tudo isso, e eu espero contar, com o apoio e com a influência do meu
marido.

— Preste muita atenção no que eu vou te dizer! Eu tenho um trabalho


direto para você, Ethan! — Sussurro, apoiando a minha mão no chão e
deixando o papel no piso, próximo a piscina. — Não olhe para mim, eu vou
deixar uma lista aqui no chão e eu preciso de todas essas coisas antes que o
meu marido chegue em casa, ouviu bem?

— Sim, senhora! — Ele confirma, enquanto eu continuo mexendo na


água, sentindo a frieza do tempo arrepiar a minha pele. — Eu entendi
perfeitamente.

— Eu não posso sair daqui, não ainda, a casa é muito isolada e seria
impossível chegar na área mais movimentada da cidade sem ser vista.
Ethan, você tem livre acesso à rua, e pode conseguir facilmente o que eu
quero! — Informo, observando os arredores e analisando a movimentação
discreta do outro segurança. — Além desses medicamentos, eu preciso de
um celular via satélite, um aparelho descartável e sem registro! Eu estarei
por perto, eu vou comer alguma coisa e volto para o jardim. Eu quero sigilo
absoluto, ninguém pode saber disso, nem mesmo o Mike! Assim que você
retornar, você vai deixar tudo atrás de uma das almofadas daquele sofá,
aquele próximo a porta de vidro, entendeu?

— Sim! — Ethan confirma os meus comandos, dando um singelo


aceno com a sua cabeça, deixando bem claro que havia compreendido as
minhas ordens. — Entendido!

Me levanto devagar e retorno para dentro da casa, deixando para trás o


pequeno pedaço de papel, confiando totalmente no sigilo e na destreza do
meu soldado. O meu marido jamais poderia saber da existência dessa
conversa, Giovanni não poderia nem sonhar com essa história de
anticoncepcional, afinal, ele se casou comigo enfatizando o seu desejo de
ter um herdeiro, e para ser sincera, eu nem me preocupei com isso! Eu não
imaginava que chegaríamos a esse ponto, que eu conseguiria superar os
meus traumas... e quem diria, que eu estaria totalmente errada...
“ A pior dor do mundo é obrigar a cabeça a esquecer
aquilo que o coração lembra a todo instante, porque o
tempo não é capaz de curar a dor da alma, ele apenas,
adormece. ”

A garota do batom rosa.

M e aproximo bem devagar do guarda – corpo que dava acesso ao


grande lance de escadas da casa, tomando todo o cuidado para não
fazer nenhum barulho ou algum ruído que denunciasse a minha presença.
Pisco os meus olhos, tentando deixar a minha visão nítida, enquanto os
meus pés se embolavam um no outro a cada passada minha. Tudo ao meu
redor rodava em um ritmo retardado, oscilando entre cores vivas e mortas,
me fazendo recordar das imagens marcantes da noite anterior, trazendo à
tona, todos os meus demônios.

“As suas mãos asquerosas me tocam, me acariciam... os seus dedos


ásperos deslizam por minha pele, embrulhando o meu estômago... fazendo
com que a minha bile suba até a minha boca, espalhando o sabor amargo
das minhas entranhas...”

“Ele me explorou por anos, e ainda, me explorava... sempre me


arrastando e me forçando a mais uma sessão torturante e agonizante de
abusos...”

Me agacho no chão, sentindo os meus joelhos perderem as forças e


baterem no piso gelado, fazendo um barulho abafado por causa do impacto
brusco. A minha cabeça dói e lateja, criando a imagem infernal daquele ser
diabólico, daquele monstro doentio que protagonizava os meus piores
pesadelos, e que infelizmente, também povoava a minha realidade. Movida
pela sensação dilacerante que me rodeava, eu fecho os meus olhos e puxo
os fios do meu cabelo com toda a minha força, segurando a vontade louca
de gritar e externar tudo o que me corroía de dentro para fora.
“A sua língua quente passeia por meu rosto, descendo lentamente por
todo o meu corpo... ditando as suas vontades nojentas... me encurralando...
me deixando sem saída...”

“A sua respiração pesada chega até os meus ouvidos, intensificando a


vontade enlouquecedora de desaparecer... de querer sumir dali, de me
desintegrar e me desfazer, só para não ter que sentir o seu corpo sobre o
meu novamente...”

Eu sou uma idiota! Eu sou uma maldita prisioneira! Eu nasci nesse


inferno, e infelizmente, eu vou morrer nele! Eu já não aguento mais lutar...
eu já não tenho mais forças para vencer o monstro incansável que me
devorava... E sem me importar com o barulho, ou, que alguém da casa me
encontre nesse estado caótico, eu bato a minha testa em meus joelhos,
apertando os fios finos entre os meus dedos, sentindo a dor do meu couro
cabeludo se sobressair a dor que se alastrava por toda a minha alma
doente e vazia.

“A sua mão grandiosa se choca contra o meu rosto, e com a força do


impacto, parte do meu tronco cai para fora da cama, e o seu movimento
brutal, espalha uma ardência imediata em minha face, adormecendo a
minha pele...”

“Eu estava grogue, ele havia me dopado... sinto a sua boca nojenta
engolir a minha, e no próximo instante, eu sinto o seu membro rígido e
asqueroso se enfiar em minha entrada... não... não... As lágrimas salgadas
escorrem por meu rosto, embaçando ainda mais, a minha visão turva...”
Eu estou no meu limite... completamente esgotada, exausta! Cansada
de lutar contra algo que é muito superior a mim... eu simplesmente não
aguento mais, eu não tenho mais forças! A minha esperança de fugir desse
pesadelo estava cada vez mais distante e fora do meu alcance. Era
doloroso demais... era dilacerante! Eu estava presa em um constante
pesadelo, acorrentada em uma aflição que nunca tinha fim! Eles me
quebravam... e quando eu tentava me recuperar, juntando os pedaços do
que restou... eles me arrastavam de volta para o fundo do poço, me
quebrando e me destruindo novamente, e isso se repetia... de novo e de
novo... Ouço a minha voz e a do maldito ecoarem em minha cabeça, me
obrigando a me encolher e a me acomodar de qualquer jeito no chão frio.

“— Por fa..vor não. — Começo a suplicar em desespero, implorando


por misericórdia, já sabendo que o meu fim estava próximo, e ao mesmo
tempo, muito longe de terminar. — Por fa..vor me deixe ir...

— Ahhh, minha Serena, esse seu medo me excita tanto! — Ele diz,
apertando a minha garganta, me asfixiando com as suas mãos grosseiras,
fazendo o meu coração acelerar em um ritmo desenfreado, sendo
consumido pelo pavor e pela aflição. — O seu corpo me reconhece... ele
sabe a quem pertence! Você sempre será inteiramente minha! O seu corpo,
a sua alma, os seus pensamentos, todos eles, são e sempre serão meus! ”
Aperto os meus cabelos com toda a minha força e grito em desespero,
soltando um som estridente e ininterrupto da minha garganta arranhada,
me afogando em minha própria agonia. Eu quero silenciar a sua voz... eu
quero calar o maldito som rouco que saía dos seus lábios asquerosos, os
mesmos lábios que me causavam nojo e uma onda avassaladora de ânsias
de vômito. Ao mesmo tempo que eu gritava, gastando o resto da minha
energia, eu sentia o meu corpo tremer sem controle, sofrendo pequenos
espasmos involuntários, sucumbindo ao truque sádico da minha mente
corrompida.

Assim que eu nasci, eu fui condenada a pagar... a sofrer... a cumprir


uma sentença agonizante que nunca tinha fim! A minha cabeça pulsa,
reverberando as batidas fortes do meu coração em meu cérebro, me
deixando zonza e desnorteada. A medida que o meu grito ecoa e se esvai no
ar, se tornando um ruído esganiçado e baixo, eu sinto o meu fôlego
desaparecer, deixando os meus músculos moles e sem firmeza alguma. E no
próximo instante, eu me encolho no chão, sentindo a minha baba escorrer
por minha boca, enquanto eu me desfazia em um choro enraizado, tentando
fugir de algo que eu já não conseguia mais lutar.

Eu sabia que ainda estava sob efeito de alguma droga pesada, que as
minhas células estavam obedecendo aos comandos insanos de algum
entorpecente forte que dispersava a dor do meu corpo, porque era assim
que ele fazia! Ele me dopava! Depois de uma certa idade, eu comecei a
reagir... e aí... as consequências se tornaram mais cruéis, mais brutais e
mais devastadoras! Com o apoio do Maxell, Will me transformou em um
animal acuado, em um ser humano refém do seu próprio corpo, porque sim,
era isso que ele usava contra mim!
Essa era a sua maldita arma, Will usava o meu corpo para o seu
próprio prazer, e como consequência, o usava contra mim mesma! E quanto
mais o tempo passava, mais as coisas se complicavam... as suas visitas se
tornaram mais frequentes... as torturas do homem que se dizia ser meu pai,
eram mais destrutivas... mais invasivas... e cada vez mais, ficava difícil
fugir e escapar de ambos! Eles eram criativos, não só no modo de me
submeter as suas loucuras, mas também, nas ameaças! Aos poucos, e com
bastante dedicação, eles me moldaram ao seu modo, mudaram a minha
personalidade, o meu jeito de pensar e o meu jeito de agir!

Me encolho um pouco mais, sentindo uma brisa fria e horripilante


arrepiar os pelos do meu corpo, desencadeando uma série de calafrios em
minha espinha, abalando qualquer resquício de lucidez da minha mente. Os
dois eram monstruosos... eles me bateram, me espancaram, me usaram, me
humilharam e me feriram de todas as formas possíveis, arrancando
lentamente cada pedaço de quem um dia eu fui realmente, e me
transformaram nisso! Em um farrapo! Sinto os meus olhos arderem e ouço
um soluço engasgado escapar por minha garganta, refletindo toda a minha
agonia acumulada.

A minha sentença é sofrer e pagar por algo que eu não faço ideia do
que se trata! Eu já estava condenada e o Benjamin também! Não há mais
para onde correr e nem para onde fugir! Já não vale mais a pena viver
assim... para quê e por quem lutar? Se no fim, éramos apenas peças de um
jogo cruel, comandado por um rei perverso e manipulador, um líder que
era muito superior a nós dois e a toda essa merda. E esse mesmo rei, o
Maxell, me fragmentou de diversas maneiras... me usando durante anos...
em nome da sua glória! Ele não se importou em acabar com a minha vida,
com a de minha mãe, e provavelmente, não se importará em destruir a do
Benjamin.
Sinto um tremor percorrer o meu corpo e um frio anormal corroer os
meus ossos, enquanto eu balanço a minha cabeça em um sinal de negação,
tentando desesperadamente afastar os pensamentos ruins do meu
subconsciente. Mas, antes que eu consiga me recuperar, eu sinto uma dor
cortante se instalar em minha perna, me obrigando a gritar de dor e a
pressionar o local com as minhas mãos. Com medo e com receio, eu deslizo
lentamente os meus dedos por toda a extensão da minha coxa, e assim que
eu sinto algo molhado banhar a minha pele, eu paro, analisando a textura
espessa do líquido quente que melava a minha mão.

Instantaneamente, eu abro os meus olhos, observando tudo ao redor


rodopiar, em um carrossel colorido e opaco. Sem ter tempo de raciocinar,
eu sinto mãos grossas me tocarem, puxando os meus ombros e agarrando
os meus cabelos, arrancando gemidos e grunhidos de dor da minha boca.
Institivamente, eu agarro os seus pulsos com as minhas duas mãos,
tentando de alguma maneira me desvencilhar do meu agressor. Sem
sucesso e movida pelo ímpeto do pavor, eu me debato, achando que era o
desgraçado do Will novamente, mas assim que fito os olhos frios e
cortantes do homem que me arrastava, o meu corpo e a minha alma
congelam.

— Você é uma vadia! — A sua voz rouca chega até mim como um soco
no estômago, confirmando os meus piores medos, era ele... aquele tom de
voz era inconfundível, e antes que eu consiga formular uma linha de
raciocínio em minha cabeça, eu sinto uma bofetada violenta atingir o meu
rosto, fazendo o meu corpo se chocar contra o chão duro novamente. —
Você é uma vagabunda!

— Você é um des...graçado... — Sussurro, sentindo o gosto de ferro se


espalhar em minha boca com rapidez, impregnando a minha saliva com
aquele gosto ruim. — Você quer me deixar louca, seu maldito!

— Olha a sua língua, Serena! — Ele diz, enquanto se aproxima e pisa


em minha perna machucada, enfiando o seu sapato imundo em minha
carne aberta, intensificando e provocando ainda mais, a minha dor. — Eu
ainda sou o seu pai!

Cerro os meus dentes, soltando um som abafado por entre os meus


lábios, sentindo a minha cabeça pulsar e a minha perna latejar. A minha
barriga estava embrulhada e o gosto forte de sangue fresco não ajudava,
apenas atiçava o meu estômago revolto, fazendo a minha bile amarga subir
até o limite da minha garganta, espalhando um gosto repulsivo em meu
paladar. O meu corpo se contrai e as minhas costas arqueiam, forçando um
vômito azedo a ser expelido por minha boca, e sem conseguir segurar mais,
eu coloco tudo para fora, me melando inteira com o líquido amarelado.

— Você é um monstro... Eu te ode...io! — Falo entre espasmos e


golfadas, sentindo o meu corpo enfraquecer e sucumbir à exaustão. — Você
pode ser qual...quer coisa, mas nunca... nunca será o meu pai, você não
tem o direito de me cha...mar de filha!

A sua risada cruel chega até os meus ouvidos, arrepiando a minha pele
sensível, me lembrando do quão assustador o Maxell era. Ele era um
maldito sádico, ele sempre foi! Sinto mais uma onda de náusea me abater,
me forçando a me encolher no chão, e assim que termino de colocar tudo
para fora, Maxell agarra os meus cabelos e me ergue com violência do
chão frio. As suas mãos grosseiras apertam o meu maxilar com
brutalidade, afundando as pontas dos seus dedos em minhas bochechas, me
fazendo choramingar.

A minha cabeça dói de uma maneira insuportável, irradiando


pulsações latentes em minhas têmporas, me deixando anestesiada e
paralisada pela dor. Em meio a minha aflição, eu busco o seu olhar furioso,
me sentindo tonta e entorpecida demais para fugir, incapaz de lutar contra
ele e contra a sua força. Ele era um desgraçado, um infeliz! E no próximo
instante, tudo acontece rápido demais, ele me abraça contra o seu corpo,
chocando as minhas costas nuas em seu peito, tapando a minha boca com a
sua mão, calando os meus soluços.

Os seus dedos forçam as minhas bochechas, abrindo a minha boca, e


logo, ele coloca um comprimido em minha goela, enfiando o seu dedo
indicador em minha garganta, empurrando aquele remédio até o fim. Não...
Não... choro, sentindo as minhas lágrimas descerem sem controle por meu
rosto sujo. Eu não iria aguentar mais uma dose de droga, o meu corpo já
não aguentava mais! Os efeitos eram corrosivos e me transformavam em
uma morta viva, em uma boneca inerte prestes a ser usada até a exaustão.
— Você vai engolir, porra! Ou por bem ou por mal! — Ele diz bem
próximo ao meu ouvido, enquanto a sua mão se mantinha em minha boca,
me impedindo de cuspir a medicação. — Você não vai envergonhar a nossa
família ficando grávida de um bastardo qualquer! Eu não quero outra
porra de criança nojenta! Seria uma desonra a minha imagem!

Seguro os seus braços, apertando a sua pele com as minhas unhas,


querendo machucá-lo de alguma maneira. Tento me soltar, mas acho que o
meu esforço tem o efeito contrário, porque em um instante, eu sinto o meu
corpo ficar mole e as suas mãos me apertarem com mais firmeza.
Involuntariamente, eu tusso, me afogando em meio aos resquícios de
sangue, vômito e baba, engolindo a pílula desconhecida. As lágrimas
salgadas embaçam os meus olhos, caindo em uma desordem caótica por
meu rosto imundo, me dando a certeza, que eu estava mesmo no inferno!
— Psiii! Fique calma! A sua noite está apenas começando... — Maxell
diz, mantendo o seu tom de voz distinto, me provocando e me assustando
com a sua gargalhada divertida. — Você é uma garota profana! Uma
pecadora imunda! Uma vagabunda que fode com qualquer um! Uma
completa vadia!

Aquelas palavras eram cruéis demais... e elas me doíam... me


apunhalavam... como uma faca afiada e pontiaguda. Como ele podia me
acusar assim? Como ele era capaz de me chamar de vadia? Sendo que eu
era estuprada, abusada e usada por ele e por seu comparsa! Por culpa
dele, eu perdi a minha inocência... eu perdi a minha essência... e perdi a
minha alma... Ele não tinha e não tem esse direito... principalmente, vindo
de alguém que sabe sobre meu passado, e que conhece muito bem, a minha
realidade. Sinto o meu coração murchar, se desintegrando com tamanha
maldade... o Maxell era desumano! Ele sempre soube que eu não tive
escolha, que eu nunca pude decidir o meu destino, e muito menos, trilhar o
meu futuro. Ele era um doente! E talvez... eu também fosse...

— VOCÊ VAI PAGAR POR TUDO, SUA MISERÁVEL INSOLENTE! —


Ouço o seu grito estridente, enquanto as suas mãos pesadas me
empurravam para longe, me arremessando de volta ao chão. — A SUA
MALDITA MÃE ERA UMA VADIA INFELIZ, IGUAL A VOCÊ!

Sinto o impacto do chão duro confortar o meu corpo, espalhando uma


dor tão forte, que o meu cérebro era incapaz de processar, me fazendo
apenas me encolher em volta de um grito inanimado. Pontos pretos já se
manifestavam em meu campo de visão, me fazendo perder a noção do
tempo e do espaço, e até mesmo, qual era o meu nome. Sorrio sem saber o
que eu estava fazendo, ciente apenas, que eu estava prestes a morrer...
Encaro rapidamente aqueles olhos frios e congelados, antes de me esvair
em minha própria fraqueza...

— NÃO ME OLHE ASSIM... — A sua voz horripilante ressonava ao


longe, me perseguindo, tentando se sobrepor a escuridão. — VOCÊ NÃO
TEM NADA DE MIM, VOCÊ É UMA VERGONHA! ATÉ O SEU OLHAR É
DAQUELE MALDITO!
Uma série constante de imagens aleatórias passam por minha cabeça,
se misturando a vozes desconexas, transformando aquele pesadelo
horripilante em um sonho vazio. Tudo passa em câmera lenta, em uma
espécie de transe silencioso e contemplativo, como se eu estivesse em outra
dimensão... como se eu estivesse morrendo... eu me sinto presa dentro da
minha própria mente. É como se eu estivesse esquecido como controlar e
comandar o meu próprio corpo.

Depois de um longo tempo revivendo e recriando aquelas imagens


confusas em meu subconsciente, eu abro os meus olhos, me sentindo
completamente perdida. A verdade é que eu estava perdendo o juízo!
Perdendo a noção do que era real e o que era alucinação! Com muito
esforço, eu olho ao meu redor, sentindo o alívio me preencher ao saber que
o infeliz já não estava mais ali. Olho para o meu corpo e tomo um susto, eu
estava apenas de calcinha, jogada e encolhida no chão, praticamente nua.
Observo a minha mão e solto um grito de pavor, era sangue, muito sangue!

Analiso o líquido quente e vivo escorrendo por minha pele, gotejando


no chão de acordo com os meus movimentos. Fecho os olhos com força, e
quando os abro, não havia sangue nenhum! Meu Deus! Meu Deus! Isso é
loucura! Eu estava completamente louca! Rastejo até a ponta das escadas,
querendo acabar de uma vez por todas com esse inferno, com essa tortura
doentia, torcendo que a queda até o andar inferior fosse o suficiente para
me fazer apagar para sempre.

Tateio os degraus em desespero, puxando com o resto das minhas


forças, o meu corpo para a beirada da grande escadaria, me atirando e
rolando escada abaixo. A dor foi instantânea, e se alastrava com muita
facilidade por todo o meu corpo, se intensificando na área das costelas e na
minha cabeça, me deixando atônita e desnorteada. O impacto nas quinas
dos degraus eram dilacerantes e escureciam a minha visão, os meus
pulmões estavam falhos, dificultando a minha respiração. Sorrio ao ver a
escuridão me tomar... me consumir... e me levando para o desconhecido...
Olho o comprimido redondo e esbranquiçado em minhas mãos e o
engulo de uma só vez, bebendo em seguida um longo gole de água,
sentindo o amargor da lembrança se impregnar em minha boca. São tantas
prioridades... que eu não faço a mínima ideia de por onde começar... Eu
preciso fechar aquele ciclo, porque durante a minha fuga dos Estados
Unidos, eu acabei deixando tudo de maneira inacabada. O Giovanni tinha
matado e torturado o Maxell, mas eu precisava ouvir da sua boca essa
confirmação.

Olho para a caixa de anticoncepcional em minhas mãos e tenho a


certeza que fiz a escolha certa. Ainda não era o momento de engravidar... e
talvez, nunca fosse! Ethan foi fiel e muito discreto, cumpriu as ordens com
maestria e provou a sua lealdade. A parte mais difícil já tinha sido feita, que
foi providenciar a solução para o grande problema que eu arrumei com o
meu marido, agora, era só torcer e cuidar para que ele nunca descobrisse a
existência desses remédios, e muito menos, desconfiasse do celular que
estava sob a minha posse.
Ando até a cômoda do quarto e coloco o copo em cima da mesma,
retirando a gaveta do meio com um pouco de dificuldade. Se os empregados
faziam a limpeza diariamente, eu precisava de um esconderijo perfeito, eu
não podia cometer o mesmo erro da primeira vez. Escondo a caixa dos
remédios no fundo do móvel, mas, antes de colocar o celular junto com a
caixa, eu envio uma mensagem de texto para um grande amigo que estava
sem notícias minhas a muito tempo.

Olá, Sky! Eu estou de volta! Espero que nos encontremos em breve, no


lugar de sempre e no horário combinado!

. Ass. Fênix.
“ A maior fraqueza do homem, corresponde ao
sentimento mais honesto e sincero, o amor. ”

Kadija Furlam.

O lho o meu reflexo no espelho do closet e me surpreendo com o


resultado, eu estava impecável. O vestido casou muito bem com o
meu corpo, ele era justo e a sua cor era espetacular. A tonalidade de
vermelho era uma mistura entre vinho e bordô, o tecido escuro contrastava
perfeitamente com a minha pele clara, destacando as minhas curvas, que
ficavam mais expostas por causa dos decotes provocativos da peça fina.
Fazia tempo que a Fênix não aparecia, e muito menos, se sobressaía na
imagem de esposa perfeita. Mas agora, encarando a minha imagem, eu
percebo que estou bem diante dela.

De certa forma, casar com o Giovanni me deixou um pouco mal-


acostumada, em partes, isso era culpa exclusivamente dele. Eu sempre me
virei sozinha, arrumei aliados e soldados por conta própria, em nome de
algo que me manteve viva e sã durante anos. Por muito tempo, eu vivi uma
vida nômade, sem país fixo, sem identidade, sem morada certa e sem
sossego, praticamente, vivendo como um fantasma. O meu futuro sempre
foi incerto, afinal, com a vida que eu tenho, eu nunca sei se vou estar viva
no outro dia, e muito menos, respirando, e isso para mim nunca foi um
problema, até eu conhecê-lo melhor...

Dormir com o meu marido era reconfortante, e eu odeio admitir, mas as


minhas noites estavam mais leves, muito mais tranquilas e os meus
pesadelos estavam mais espaçados e bem menos frequentes. A nossa rotina
era bem diferente do que eu estava acostumada, principalmente, porque eu
não tinha muito acesso ao mundo exterior, ficar trancafiada nessa casa, era
horrível! Sem falar nas refeições, eu sinto falta de uma boa pizza e de uma
boa lata de refrigerante, eu era americana, estava no meu sangue gostar de
comer besteiras.
Eu sei que tudo leva tempo... e talvez, essa fosse a chave para esses
pequenos problemas, afinal, tudo ainda era muito recente. Eu ainda estava
me habituando a compartilhar a minha cama com ele, a ceder o meu corpo
ao seu, a levar uma vida sexualmente ativa, mas, isso não era nenhum
sacrifício. Agora, eu estava me cuidando melhor e estava bem menos tensa
com essa questão de gravidez, pois estava tomando os remédios
regularmente, escondido, é claro.

Passaram-se poucos dias desde a minha primeira vez, mas com certeza,
eu estava mais tranquila em relação ao que esperar do Giovanni, não
éramos nenhum casal apaixonado, não casamos por amor, e sim, por
conveniência. Ele não era o meu príncipe encantado, assim como eu não era
a sua princesa indefesa, a nossa trajetória tinha muitos defeitos e tinha
muitas chances de dar errado, de fracassar no meio do caminho, no entanto,
até agora estava dando certo.

Giovani prometeu me curar, prometeu sarar as minhas feridas, e aos


poucos, ele me conquistou, ele conseguiu ganhar a minha confiança. Ele
arrancou coisas de mim, que eu jurei não sentir por mais ninguém... Eu jurei
não confiar... mas, ele me fez mudar de ideia, me fez voltar atrás. Sem pedir
licença, ele se infiltrou em meu coração e me transformou em alguém que
eu não reconhecia, porque essa era a mais pura verdade! Eu não sei
distinguir o que o meu interior quer me dizer e eu não sei diferenciar o que
eu sinto em relação a sua presença.

Viver ao lado dele não era ruim, nem de longe era... ao seu lado, eu
acabei me encontrando novamente. Giovanni não era o monstro que eu criei
em minha cabeça, pelo menos, não comigo, mas alguém... queria que eu
achasse que ele era. Aquele tiro era para mim, não era para o Benjamin,
mas o mandante do crime era tão sagaz e tão esperto, que previu os
possíveis erros, ele sabia que se o tiro não me matasse, eu iria voltar e
cobrar a minha perda. E por isso, ele forjou aquela cena, ele criou uma
encenação com o soldado e me manipulou, me colocando contra o Don
Campanaro, me botando atrás da pessoa errada.

Hoje à noite seria o palco para o showzinho triunfal do meu retorno,


onde o Lorenzo seria morto, se tornando mais uma das vítimas da Fênix.
Provavelmente, seria um escândalo! Um membro de alto nível da Camorra
sendo alvo de um assassino misterioso, e o pior, morto em seu próprio
território, isso seria um verdadeiro alvoroço. As capas e as manchetes dos
jornais iriam estampar essa fatalidade, possivelmente, encobrindo muitas
coisas da máfia e me colocando como a vilã da história.

Seria como dar um tiro no escuro, a minha jogada vai ser incerta e sem
precisão alguma, porque eu vou estar às cegas essa noite. Se o Giovanni me
escutou, ou pelo menos, levou em consideração a minha confissão, o
Lorenzo não estaria nessa festa, ele já deveria estar morto ou amarrado em
alguma maldita cadeira. Por outro lado, eu duvido muito, que as minhas
palavras tivessem todo esse poder, afinal, eu estou chegando agora e eu não
acho, que o Giovanni se afete tanto com a minha presença.

Observo rapidamente o anel brilhante em meu dedo e termino a


maquiagem em meu rosto. Essa festa era oficialmente para apresentar a
esposa do Don ao clã, um evento importante que tinha sido adiado, já que
dá outra vez, o desgraçado russo tentou me matar antes. Me viro de costas e
de relance, eu analiso o decote traseiro do vestido, que deixava as minhas
costas completamente nuas até a base da minha bunda. Eu não escolhi esse
modelo, e muito menos, os adereços, todos eles foram trazidos e deixados
por uma das empregadas da casa.

Tudo era de muito bom gosto e combinavam com a minha


personalidade, possivelmente, as minhas escolhas seriam similares. Passo as
mãos no tecido fino, apalpando e ajeitando o pano ao meu corpo, mas,
assim que eu deslizo as mãos na minha bunda, eu sinto a saliência da minha
calcinha se sobressair a peça. Mordo o meu lábio inferior, impedindo um
sorriso travesso de aparecer em meu rosto, e sem pensar duas vezes, eu
retiro a minha calcinha rendada, ficando completamente nua embaixo do
vestido. Hoje, a noite seria minha, e ela, promete!

Eu estive perdida a maior parte da minha vida e muito longe de


qualquer resquício de carinho e de empatia, mas ele... ele me deu tudo
isso... tudo o que eu nunca encontrei. Isso é amor? Eu não faço a mínima
ideia, porque um monstro não pode e não é capaz de amar! Assim como eu,
que desaprendi e me vi forçada a esquecer esse sentimento. Porque, a partir
do momento que você ama, você não é mais apenas você, agora, você
carrega essa outra pessoa, e isso, é um fardo!

Pelo Ben, eu vivi os piores anos da minha vida, eu me sacrifiquei para


protegê-lo, sendo que eu podia ter fugido, escapado, ou até mesmo,
morrido, deixando-o para trás. Mas o amor e o sentimento forte que eu
sentia por aquele pirralho, me impediu! E eu não me arrependo de ter ficado
ao seu lado, nem por um segundo, eu só me arrependo de uma única coisa...
a de não ter salvado a sua vida! Porque no meu coração, ele foi, e ainda é, a
minha maior fraqueza, o meu ponto fraco.

Coloco o meu cabelo para trás, dispersando os meus pensamentos,


espalhando as mechas em cascatas pelo decote traseiro do vestido. Os meus
fios estavam praticamente soltos, apenas duas mechas laterais estavam
presas, se encontrando e sendo fixadas por uma presilha de pedras brancas.
Sem demorar muito, eu calço os meus saltos altos e volto para o quarto, me
assustando e dando um pequeno sobressalto, ao perceber a presença
imponente e repentina do meu marido. Arfo, sentindo o seu olhar astuto e
totalmente sério me fitar, analisando-me e me devorando com os seus olhos
claros.

Porra! Por que ele tem que ser tão bonito? Giovanni estava com os
ombros apoiados no batente da porta, vestindo o seu smoking elegante,
mantendo as suas duas mãos dentro dos bolsos da sua calça social. Me viro,
quebrando o nosso contato visual, voltando a minha atenção para o único
adereço que ainda estava em cima da cama, um colar de brilhantes. Mesmo
ignorando a sua presença, eu sinto a sua aproximação silenciosa e precisa, e
esse mínimo movimento da sua parte, era o suficiente para disparar os
batimentos do meu coração e para me paralisar.

Ele entra no quarto sem nada dizer, pegando a peça em cima do


colchão e se colocando atrás de mim. Sinto as suas mãos ásperas tocarem o
meu pescoço, deslizando suavemente os seus dedos por minha pele macia,
afastando o meu cabelo e expondo o meu pescoço para a sua apreciação.
Institivamente, eu seguro a minha respiração, aguardando ansiosamente, ele
colocar a peça fria em contato direto com a minha pele, mas, o meu marido
gosta de torturar... e ao invés de colocar o colar em meu pescoço, ele roça
os pelos grossos da sua barba na minha nuca.

Fecho os meus olhos, sentindo um arrepio enraizado ouriçar os pelos


do meu corpo, enquanto os seus lábios quentes acariciam levemente a
minha pele, beijando o encontro do meu pescoço com o meu ombro. Ah,
meu Deus! Isso era tão bom... seu perfume familiar me invade sem aviso,
me consumindo com a sua fragrância inebriante, e involuntariamente, eu
inclino o meu pescoço, oferecendo um pouco mais de mim, enquanto a sua
boca sensual embaralha os meus pensamentos. Mas, antes que eu consiga
reagir, ele se afasta abruptamente, me abandonando para colocar o colar.

Engulo em seco, abalada e impressionada com a facilidade que ele


possui em me entorpecer. A verdade é que Giovanni era como uma droga
viciante, e eu, sempre estava atrás de mais uma dose, pronta para me dopar.
Assim que ele fecha o fecho da peça, eu me viro, fitando diretamente o mar
esverdeado do seu olhar indecifrável, odiando a nossa diferença de
tamanho. Ele era um homem muito lindo e a sua beleza se realçava ainda
mais com o smoking elegante. Mordo o meu lábio com força, sentindo os
meus desejos impuros me invadirem, tomando conta de qualquer resquício
da minha sanidade.

Giovanni encara os meus lábios como se os desejasse mais do que


qualquer coisa, descendo o seu maldito olhar penetrante para os meus seios,
apreciando o decote avantajado do vestido. Me atrevo a colocar as minhas
mãos em seu peito, sentindo a quentura da sua pele sobre a camisa fina,
sondando as suas reações. No entanto, eu sou surpreendida com a sua mão
quente e indelicada deslizando por minha espinha, escorregando até a
minha lombar, explorando a minha pele nua e me puxando contra o seu
corpo forte.

— Bella... — Ele sussurra próximo demais, arrastando e esfregando o


seu polegar sofregamente por meus lábios, me atiçando e me envolvendo
com os seus toques afoitos. — Eu quero que você se comporte hoje à noite!
Está me ouvindo, Serena!? Eu não vou tolerar nenhum deslize da sua parte!

— Por que você está me dizendo isso? — Pergunto ofegante, sentindo


os seus lábios roçarem os meus, em uma provocação premeditada, enquanto
o seu corpo viril tomava todo o espaço que nos separava. — Não confia em
mim, capo?

E as minhas poucas palavras foram o suficiente para desencadear o seu


desejo desenfreado, os seus olhos que antes eram claros, ficam sombrios, e
um sorriso discreto e malicioso surge em seus lábios, eletrizando o meu
corpo. Sinto a minha boca secar, enquanto o seu olhar selvagem me devora
com toda a sua sensualidade explícita. Ofego, me dando conta do quanto eu
estava ferrada com esse casamento! Eu estava fodida nas mãos desse
homem! Totalmente perdida em sua beleza e em seu jeito persuasivo, sem
mencionar, o quão erótico ele era.

— Você está linda, esposa! — Giovanni desconversa e eu me afasto um


pouco, querendo raciocinar e encontrar sinceridade em suas palavras. —
Você me enlouquece... mas eu não sou um homem de brincadeiras, ouviu
bem!

Franzo o cenho, tentando capitar as suas intenções, dando alguns


passos para trás até sentir as minhas costas se chocarem contra a cômoda do
quarto. Giovanni era misterioso demais... e talvez, ele estivesse me
testando. Sinto o meu coração dar uma batida errada, ao imaginar, que
existe a mínima possibilidade de ele já saber de toda a verdade e estar
apenas brincando comigo. Observo as suas expressões frias, vendo a sua
boca se curvar em um meio sorriso, algo incomum em sua personalidade
hostil, mas que o deixava ainda mais assustador.

— Perdeu a voz, bella? — O meu marido pergunta, suspirando e se


aproximando com as suas passadas silenciosas e elegantes, e logo, ele me
imprensa contra o móvel rígido, colando os nossos corpos com brusquidão.
— Acha mesmo que eu não enxergo mais do que você demonstra, esposa?

Era um blefe! Giovanni era explosivo, a sua personalidade era


impiedosa e violenta, se ele soubesse de algo concreto, ele já teria vindo
para cima de mim, ele já teria me agredido e me forçado a falar. Ele não
sabia de absolutamente nada! Ele podia desconfiar... mas, não havia
encontrado nada contra mim, pelo menos, por enquanto. Movida pelo
instinto, eu solto o ar que estava preso em meus pulmões e ergo o meu
queixo para fitar o seu olhar atento, aguardando a sua avaliação minuciosa
das minhas emoções, me sentindo encurralada e sem saída.

Os seus olhos felinos passeavam por meu rosto, se demorando em


minha boca, criando uma expectativa enlouquecedora entre nós dois. Eu
podia sentir as batidas do meu coração se apressarem, se descontrolando em
um ritmo frenético e irracional, espalhando e enraizando em todo o meu ser,
a necessidade de senti-lo completamente. Porque as únicas coisas que se
passavam em minha cabeça, eram os seus lábios, o seu corpo e o seu
gosto... Eu queria sentir o seu beijo quente e saborear o seu sabor
inconfundível, eu o queria só para mim...

— Não me olhe assim... — Sussurro em tom de súplica, colocando as


minhas mãos em sua nuca, sentindo os seus fios lisos deslizarem com
facilidade por entre os meus dedos. — A gente vai se atrasar para a festa...
— E você se importa? — Ele rosna, envolvendo e apertando a minha
cintura com o seu braço forte, erguendo com rapidez o meu corpo e me
forçando a sentar em cima do móvel de madeira, enquanto as suas coxas
firmes se encaixavam entre as minhas pernas. — Entenda! Que a porra da
minha vontade de foder você está pouco se importando com esse maldito
evento!

Arfo, apenas com o seu jeito sujo de falar, me excitando com a sua
maneira bruta de me agarrar e com as suas palavras indecentes, sentindo
elas me invadirem e me incendiarem por dentro. As suas mãos apertam a
minha cintura, me puxando para um beijo necessitado e carregado de
luxúria. E porra! O meu corpo gritava por mais... muito mais... eletrizando
e dispersando as minhas células agitadas, a cada movimento árduo da sua
língua e a cada fricção gostosa que a sua ereção fazia sobre os tecidos da
nossa roupa. Eu estava sedenta, e movida pelo desejo, eu abro mais as
minhas pernas, segurando o seu quadril com aflição, puxando o seu corpo
quente para mais perto, me perdendo em um gemido sufocante entre os seus
lábios.

O nosso beijo era seguro e ao mesmo tempo sôfrego, buscando saciar a


fome e a vontade que lambia e corroía as nossas peles. Me perco com os
seus toques, sentindo a todo instante, as suas mãos ágeis se movimentarem
com destreza por todo o meu corpo, marcando o seu território e
demonstrando a sua experiência. A sua respiração estava pesada e quente,
batendo em meu rosto entre o fim de um beijo e o início de outro, e quando
eu achei não ser capaz de respirar, as suas mãos se enterram em minha
nuca, me puxando para mais perto.

— Eu esperei você por muito tempo... — Giovanni rosna, mantendo o


seu tom rouco e embebido pelo prazer, mordendo e puxando o meu lábio
com os seus dentes. — Eu não estou disposto a perdê-la!

Giovanni me sufoca e me exige novamente, me beijando com fúria,


enquanto a sua outra mão alterna entre o meu pescoço, a minha bunda, os
meus seios e as minhas coxas, trilhando um caminho perigoso que
despertava todo o meu corpo. Me entrego totalmente a sensação inebriante,
me rendendo a sua sensualidade e ao seu fogo, sentindo tudo o que ele
podia me dar, gemendo desavergonhadamente em sua boca. No entanto,
havia algo errado... eu conseguia sentir perfeitamente o quanto ele me
desejava e o quanto ele me queria, mas havia algo mais... tinha algo
diferente... que me fez quebrar o nosso beijo para buscar os seus olhos.

— Você odeia isso! Não é? — Pergunto e semicerro os meus olhos,


fitando diretamente o seu olhar esverdeado, já sabendo qual seria a sua
resposta. — Você odeia o quanto eu mexo com você!

As suas mãos agora deslizam por minhas coxas, levantando o tecido do


meu vestido, enquanto o seu olhar se mantinha fixo ao meu, demonstrando
toda a sua intensidade. Um arrepio conhecido se alastra por minha espinha,
se espalhando e se instalando em meu ventre, formando um formigamento
familiar em meu sexo sedento. A tensão que nos rodeava era desconhecida,
mas, ao invés de me afastar, eu queria me aproximar, sentindo o meu desejo
aumentar de maneira crescente.

— Eu odeio! — Ele diz, voltando a beijar o meu pescoço e a me puxar


contra o seu corpo. — E não ache, nem por um segundo, que você é capaz
de me enganar, Serena!

As suas palavras tinham muitos significados, mas, eu não consegui


captar nenhum deles, porque a sua boca tomou a minha com violência, me
engolindo e me sugando com força. Gemo, sentindo o seu corpo arrancar
qualquer fio de pensamento que o meu subconsciente poderia criar e
desenvolver. A sua língua úmida avança de maneira impiedosa, com mais
vontade, unida de maneira fiel, a raiva explícita que estava subtendida em
seu modo de dizer. E para ser sincera, eu não me importava com nada
disso... porque eu também odiava o que ele me fazia sentir... mas ao mesmo
tempo, eu amava...
“ Confiar nas pessoas é um erro que só se comete uma
vez. ”

Filme: Frankenstein.

B eijo a sua boca macia, retribuindo a mesma intensidade e


necessidade, sentindo a todo instante, a sua língua quente deslizar
junto com a minha, me fazendo me perder no espaço e no tempo. A medida
que a sua mão grosseira me puxava para mais perto, aprofundando a nossa
entrega, a sua barba áspera e grossa raspava e arranhava o meu queixo,
pinicando a minha pele sensível. Sem me dar tempo para respirar, Giovanni
aperta os meus cabelos com força, espalhando uma ardência gostosa em
meu couro cabeludo, afastando a minha boca da sua, mas, antes que eu
consiga sentir os seus lábios novamente, eu ouço o toque do seu celular
ecoar pelo ambiente abafado, e imediatamente, eu fito o seu olhar
escurecido.

— Desgraçado! — Ele pragueja, pegando o aparelho insistente do


bolso da sua calça, e logo, ele se afasta de mim, seguindo na direção da
porta com os cabelos desalinhados. — Ajeite o maldito vestido antes de
descer!

Afirmo com a cabeça em um gesto silencioso, observando todo o seu


porte físico enquanto ele sai, me deixando completamente sozinha e
ofegante. Porra! Isso era um grande problema! O que esse homem estava
fazendo comigo? Ou melhor, no que, ele estava me transformando? Apoio
lentamente os meus pés no chão, sentindo as minhas pernas bambas e sem
firmeza alguma em cima dos sapatos altos. Institivamente, eu respiro fundo,
tentando me recompor, controlando aos poucos a minha respiração sôfrega.

Arrumo o tecido do meu vestido, descendo o pano e tentando


desamassar os pequenos frises que se formaram no caminho, por causa do
modo desajeitado e brusco, que o meu marido me fez sentar. Sigo até o
espelho mais próximo e arrumo a minha maquiagem, retocando o batom
borrado, tentando ao máximo, consertar a bagunça que ele havia feito em
meus lábios inchados e na minha pele vermelha. Dou uma última olhada na
minha imagem refletida e saio do quarto, pegando uma pequena bolsa
brilhante e dourada, que só continha o essencial.

Desço as escadas com rapidez, tomando todo o cuidado para não


tropeçar e cair em meus próprios pés. A última coisa que eu queria, nesse
exato momento, era um pé quebrado ou mais um ferimento que servisse de
pretexto para eu não comparecer a essa maldita festa. Atravesso a sala
vazia, observando aquele lugar extremamente grande e monótono,
constatando apenas o que eu já sabia, isso aqui, era uma prisão. Era uma
verdadeira cela de luxo, e nem de longe, passava o conforto e a
familiaridade de uma casa.

Passo pela porta principal e me deparo com Giovanni passando ordens


aos seus homens, e de certa forma, aos meus também, já que estavam todos
misturados. Ao todo eram seis soldados, todos vestidos adequadamente e
extremamente sérios, sem contar os que estavam nos veículos blindados.
Havia vários deles por todo lado, vigiando e controlando tudo, eu sei que é
algo necessário, afinal, Giovanni é um alvo valioso e a sua cabeça deve
valer muito dinheiro, mas, viver assim... não é viver. Analiso os homens
discretamente, buscando os rostos conhecidos, mas, a maioria eram
soldados da Camorra.

Ethan não estava entre eles, e eu espero, que Mike esteja no local e na
hora combinada. Observo a postura firme e implacável do meu marido,
enquanto nenhum deles tinham notado a minha presença, nem mesmo os
homens que ouviam e mantinham as suas poses de submissão e respeito,
sem fazer nenhum contato visual com o chefe. Dou mais alguns passos,
fazendo barulho com os meus sapatos, e assim que eles me percebem, as
suas posturas mudam. Imediatamente, Giovanni se cala e me analisa da
cabeça aos pés, da maneira mais descarada que só ele sabia fazer, checando
o meu vestido e o meu rosto.

Olho na direção dos homens e percebo os seus olhares dispersos, todos


eles disfarçando e sem querer me olhar diretamente, certamente, cobiçar a
mulher do chefe era morte na certa. Me aproximo um pouco mais do meu
marido e sinto a sua mão desproporcional segurar a minha com firmeza,
entrelaçando os nossos dedos. Seja lá o que eles estavam conversando, era
algo estritamente sigiloso, que pedia discrição, e isso, não me cheirava bem.
Giovanni me puxa e me guia na direção de um dos carros, enquanto faz um
sinal silencioso com a sua cabeça para os soldados, e todos,
automaticamente retornam as suas posições.

Sinto a brisa fria da noite bater em minha pele, ouriçando todos os


pelos do meu corpo e endurecendo os meus mamilos, deixando-os visíveis
sobre o tecido fino do vestido. Meu Deus... era uma péssima ideia provocá-
lo dessa maneira, eu não iria aguentar mais uma noite em claro como
aquela, sendo fodida duramente! Engulo em seco, sabendo perfeitamente
dos riscos que as nossas brincadeiras sexuais traziam. Observo os três
veículos alinhados em uma fileira, todos pretos e idênticos, era
praticamente impossível identificá-los um do outro sem olhar a numeração
das placas. Giovanni me guia até o carro do meio e me ajuda com o vestido,
se sentando e se acomodando ao meu lado.

Fazemos o trajeto em um silêncio confortável, desfrutando da paisagem


iluminada e urbana dessa região da Calábria. O seu perfume amoriscado
domina o ambiente interno do carro, e sem perceber, eu deixo um pequeno
sorriso aparecer em meu semblante, sentindo uma sensação estranha esfriar
a minha barriga, mas não era algo ruim... muito pelo contrário, era uma
sensação boa e reconfortante! Esse passeio de carro era bem diferente das
outras vezes em que estive com ele, aliás, tudo ainda era muito recente,
novo e desconhecido.

— Posso lhe perguntar uma coisa? — Digo, encontrando e segurando a


sua mão, passando o polegar nos nós dos seus dedos, sentindo a sua pele
áspera contrastar com a minha. — Eu vou entender se você não quiser
responder.

Observo as nossas mãos, disfarçando o meu ligeiro incômodo com


aquela conversa que eu mesmo iniciei. Mas, para ser sincera, o meu
desconforto era outro... era com o conflito que se instalava em meu peito e
que se enraizava em meu coração indeciso. Eu não queria estar com outra
pessoa nesse momento, e muito menos, dividir esses instantes raros de
calmaria, com outro alguém, e era exatamente isso, que me desestabilizava.
Eu não queria aceitar o que talvez estava bem diante dos meus olhos, eu não
podia estar me apaixonando por um homem como ele... não é? E eu não
queria que ele enxergasse em mim, essa fragilidade.

— Olhe para mim! — Giovanni diz ríspido, enquanto aperta e ergue o


meu queixo, me obrigando a olhá-lo nos olhos. — Você nunca foi tão
obediente e medrosa assim, Serena! O que está acontecendo com você!? Eu
nunca proibi você de fazer nada, e muito menos, de me perguntar alguma
coisa!

— Isso não é bem verdade, mas... — Digo com sinceridade,


interrompendo a sua fala e deixando uma risada abafada escapar, mesmo
sabendo que em partes, ele dizia a verdade. — É exatam...

— Não me interrompa! — A sua voz grossa se faz presente, em um


tom mais elevado e cortante, me dando um choque de realidade, me
lembrando a todo instante, que ele estava no comando e que ele era o
dominante. — Porque você não me diz a verdade? Porque você insiste em
se esconder? Eu não tenho intenção de machucar você, Serena! Seria
covardia ferir alguém que já está toda fodida!

Engulo em seco, sentindo o seu aperto se intensificar em meu rosto e


aquela familiar sensação me sufocar e me corroer. A minha garganta estava
entalada, travada com a quantidade de coisas ruins que tinha acontecido no
meu passado e que estavam enterradas a anos, inacabadas e sem respostas.
Como falar a verdade? Como ele não iria me machucar? Depois de saber de
tudo... sendo que eu estava sendo uma filha da puta! Uma covarde! Uma
mentirosa! Eu estava traindo a confiança da pessoa mais próxima que eu
tinha, eu estava enganando e mentindo na cara dura, eu simplesmente
estava fazendo o que eu sei fazer de melhor, o que eu aprendi com a minha
vida desgraçada... eu estava sendo traiçoeira e ardilosa.

— Se eu contar, você nunca mais vai me olhar da mesma maneira! —


Falo, sentindo a minha voz embargar, travando no meio do caminho. —
Você vai ficar com nojo de mim...

— Isso foi o que eles colocaram na sua cabeça... — Giovanni rosna,


deixando a sua raiva transparecer, dando a entender que ele já sabia de
muita coisa sobre o meu passado, não me dando escolhas, e muito menos,
escapatória. — Eu não vou forçar você a nada! E nem quero arrancar nada a
força, porque aqueles vermes já fizeram isso... não é? Quantos anos você
tinha quando aconteceu pela primeira vez?

Ele me puxa para mais perto, colando a sua testa na minha e fazendo
com que, a sua respiração quente e pesada bata em minhas bochechas, de
acordo com o ritmo da sua respiração. O meu coração estava indeciso,
batendo em tantas frequências que eu não sabia qual escutar? Eu gostava
dele? Eu o amava? Ele era confiável? As suas palavras eram sinceras? Eu o
odiava? Ou tudo era apenas uma ilusão? Uma fantasia que a minha mente
desesperada construiu e desenvolveu? Fecho os meus olhos e suspiro
pesadamente, sentindo as suas mãos segurarem o meu rosto, me prendendo
e me fazendo sentir o calor do seu corpo.

— Me conta a porra da verdade, e eu prometo, que nada vai mudar! —


Ele diz, e a cada palavra reconfortante que saía da sua boca, ele me
confundia mais, me deixando atônita e perdida. — Confie em mim!
Acredite nas minhas palavras, Serena!

— Eu gosto tanto de você... — Sussurro em um fio de voz, sem nem


saber ao certo o que estávamos fazendo, sem nem saber, o que eu iria falar.
— Mas, eu não consigo... eu desaprendi a confiar... eu não sei o que é amar
mais... eles me tiraram tudo! Eles me mataram aos poucos... eles diziam
que eu era louca... que tudo era alucinação da minha cabeça doente...
Giovanni, não era para eu estar viva... não depois de tudo... por favor, não
me faça lembrar deles! Não me faça reviver aquilo, justamente hoje...

Sinto os meus olhos arderem e a minha voz sumir, eu não queria


continuar... eu não queria lembrar daquilo... A minha cabeça estava doendo
e a minha noite estava apenas começando, o meu plano estava sendo um
fracasso antes mesmo de ter começado. Apoio uma das minhas mãos em
seu peito, sentindo o seu abdômen firme por cima da camisa social,
aquecendo-me com o seu calor abrasador. Repito o mesmo movimento,
tocando-o desavergonhadamente e sem medo, deixando transparecer em
meu gesto afoito, que é ele que eu quero ao meu lado, e é dele, que eu
preciso.

— Tudo bem... — Giovanni diz, beijando a minha boca, enquanto fita


novamente os meus olhos. — O que você queria me perguntar?

Ouço a sua respiração pesar e os seus dedos afrouxarem o aperto em


meu maxilar, me deixando mais livre, e sem querer, eu esbarro em seu
coldre, sentindo a frieza do metal encostar minha pele, me lembrando do
que ele era capaz de fazer e das atrocidades que ele carregava em suas
costas. Ele nunca me perdoaria se soubesse da verdade! Ele ia me matar e
me torturar, sem saber e sem dar a mínima, aos meus motivos e as minhas
razões. E eu nem posso julgá-lo, porque eu agiria da mesma forma.

O que eu queria perguntar já não vinha mais ao caso, eu queria saber se


ele mesmo tinha matado o Maxell, eu precisava ter a certeza que aquele
miserável realmente estava morto. As informações e as fotos que eu analisei
não poderiam ser forjadas, ou pelo menos não pareciam ser, mas se o
Giovanni não tivesse matado toda aquela corja com as próprias mãos, isso
me deixaria em dúvida. Aquele homem era mais perigoso do que eu
imaginava, ele sempre foi manipulador e venenoso. Mas, infelizmente, essa
pergunta seria feita em outro momento, em um local mais oportuno e mais
conveniente.

— Foi você que escolheu esse vestido? — Pergunto, fingindo interesse,


tentando convencê-lo das minhas palavras. — Ou foi outra pessoa?

— Fui eu! E espero que até o fim dessa noite, você fique
completamente sem ele! — Giovanni diz bem próximo ao meu ouvido, e a
sua maldita voz rouca, era o suficiente para me deixar louca. — Lembra do
que eu falei a você?

— É claro que eu lembro, eu ainda não sou uma retardada! — Falo


com desdém, provocando-o, enquanto a sua postura muda drasticamente. —
Aliás, o que eu poderia fazer? Além é claro, de tentar escapar... eu já fiz
isso uma vez, porque não fazer de novo?
Lanço um sorriso de vitória em sua direção, sondando as suas reações e
o seu autocontrole. Fito os seus olhos, sentindo a sua mudança repentina
refletir nas suas íris esverdeadas, ocultando a claridade do seu olhar para
dar lugar a escuridão da sua áurea tenebrosa, confirmando o que eu já sabia.
Com apenas uma provocação, a sua postura se transformou em outra
totalmente diferente, o seu carinho e compreensão deu lugar ao ser hostil e
intimidador que ele realmente era.

— Cuidado com a sua língua afiada, eu exijo respeito, principalmente


na frente de toda aquela gente! — Giovanni rosna, descendo a sua mão do
meu maxilar até o meu pescoço, apertando-o levemente. — Eu sei muito
bem que você não vai fugir, porque você não está do meu lado a força, você
está comigo, porque é do seu interesse essa posição! Eu comando esse jogo
a muito tempo, esposa... eu nasci para isso, então, não ache que é a rainha
do jogo, só porque você escapou da máfia uma vez. Porque sou eu que dito
as regras por aqui!

Desgraçado! Giovanni era um maldito jogador, e ele sabia ler com


perfeição e maestria, as minhas jogadas. E só agora, eu pude enxergar o que
estava bem diante dos meus olhos, Giovanni não só estava jogando comigo,
mas também, me manipulando e me pondo a prova. Eu estava cega demais
para ver... para enxergar as suas verdadeiras intenções... O Lorenzo vai estar
sim nessa festa, e não havia mais dúvidas quanto a isso, o meu marido o
deixou vivo e ileso para ver se eu iria atacá-lo durante a festa.

Se antes eu estava afim de ser discreta, agora, a minha posição mudou,


todos vão saber que a Fênix agiu e matou essa noite, eu não só iria matar o
Lorenzo, como também, eu iria torturá-lo. Ele vai saber do que eu sou
capaz e eu só vou deixá-lo morrer, quando eu descobri a porra da verdade.
E se o Giovanni desconfiar ou descobrir a minha farsa, será ótimo! O seu
apoio e a sua influência seriam muito bem-vindos, mas, se eu não os
conseguisse, não haveria problema! Estava mais do que na hora de sair do
seu lado e começar a agir sozinha.

— Isso só prova que eu não posso falar qualquer coisa a você! Que eu
não posso confiar na sua compreensão! — Encaro o seu olhar endurecido e
ergo o meu queixo, deixando bem claro, o meu descontentamento com as
suas palavras ridículas. — E sabe de uma coisa? Se eu quiser ir embora, eu
vou! E não importa que você seja o dono da porra toda, eu fujo e você
nunca mais vai me encontrar novamente!
“ Confio em todas as pessoas, só não confio no demônio
que existe dentro delas! ”

Filme: Uma saída de mestre.

S into o seu aperto ao redor do meu pescoço se intensificar, alertando-me


e me avisando que ele não estava para brincadeiras. Por reflexo, eu
seguro o seu pulso com força, cravando as minhas unhas em sua pele,
reivindicando o domínio da situação, enquanto os seus olhos atentos não se
desviavam nem por um segundo dos meus. Ele estava muito equivocado, se
estava achando que era fácil me subjugar, porque me subestimar, era um
grande erro!

— Você não ousaria fugir... — Giovanni rosna, deixando toda a sua


frieza se sobrepor ao seu tom de voz, enquanto a sua mão grosseira puxa os
cabelos da minha nuca, forçando a nossa aproximação. — Você sabe muito
bem que isso seria uma traição e eu não tolero traições, Serena!

Fuzilo o seu olhar rígido, sem me deixar abalar com a frieza crua que
ele deixava transparecer em seu rosto bonito. A cor dos seus olhos era
simplesmente linda, e eu me perdia facilmente dentro daquela imensidão
esverdeada. Eu já passei por muita coisa, por diversas situações
desagradáveis e degradantes, para não dizer, infernais! E ao decorrer das
minhas viagens, eu conheci muitas pessoas... a maioria delas tinham almas
podres e ruins... corrompidas pelo poder da máfia e deslumbradas pelo
dinheiro sujo.

As pessoas sempre tiveram tendências a esse lado obscuro, o mundo


sempre foi assim... e é um leigo engano achar que ele vai mudar! Todo
mundo começa com uma ideia pura, com algo empolgante, mas no meio do
caminho, você acaba se tornando outro ser humano totalmente diferente.
Comigo foi assim... o meu plano era escapar, era fugir de toda essa merda,
para no futuro viver uma vida comum ao lado do meu irmão, e isso, nos
manteve de pé e nos deu forças para lutar. No entanto, os erros e as
concessões chegaram... atropelando e virando tudo de cabeça para baixo.

O meu grande erro aconteceu naquela maldita noite, e infelizmente, eu


não posso consertá-lo. No meio da minha própria trajetória, eu me
corrompi! Em nome da minha vingança, eu fiz coisas inimagináveis, porque
a vida me obrigou a ser assim! E quando você vive muito tempo na
defensiva, buscando sempre uma razão para não confiar e para questionar o
interesse de uma pessoa, você sabe quem realmente está ao seu lado, você
sente o que o outro quer te dizer, e eu sei, que apesar de tudo, Giovanni é o
meu melhor aliado, talvez no início as coisas sejam um pouco difíceis, mas,
ele vai acabar me entendendo.

A sua raiva e a sua fúria eram reais, e elas estavam ali, mas por trás
delas, por baixo daquela rusticidade, existia outro sentimento... Eu sei que
ele não estava mentindo sobre me machucar, ele já me ofendeu com
palavras, mas jamais tocou em mim sem o meu consentimento ou foi capaz
de me agredir, e isso... foi mais do que eu esperava, sendo que nem o meu
próprio pai me respeitou dessa maneira. Giovanni era uma pedra no meu
sapato! Ele causava uma mistura complexa de sensações e emoções em meu
interior, criando uma relação que oscilava e variava entre o amor e o ódio.

É claro que eu posso estar enganada sobre ele, sobre nós dois, possa ser
que tudo o que vivemos tenha sido uma encenação barata, e na realidade,
ele não sinta nada por mim, afinal, monstros não tem sentimentos e não se
apegam a ninguém! E eu achei que também não me apegaria, mas, eu me
apeguei, e não é só isso, eu também gosto muito dele! Os seus beijos podem
ser falsos... tudo pode ser apenas parte de um grande engodo, mas os seus
malditos olhos não negam o quão fraco ele se permitiu ser, apenas para
conquistar a minha confiança. Ele estava arruinado e vulnerável, da mesma
maneira que eu! Traí-lo seria um erro, que ocasionaria ou o meu fim ou o
nosso recomeço.

E aqui, encarando o seu olhar gélido, eu tiro todas as minhas dúvidas,


Giovanni está perdido em suas desconfianças, mas nem de longe, ele sabe
que eu sou a Fênix. O meu marido nem imagina quem eu sou de verdade,
ele vê o meu rosto e o meu semblante, mas nenhum deles é real, porque eu
criei uma máscara de autodefesa, para me proteger e para me esconder...
enquanto o meu coração grita e diz outra coisa bem diferente do que o meu
corpo transmite.

Ao contrário de mim, Giovanni nunca negou quem ele realmente é! Ele


nunca omitiu o seu monstro interior e nem fazia questão de escondê-lo,
sempre deixando bem claro quais eram as suas intenções, e isso, era algo
invejável! O seu jogo era claro e límpido, não era muito do seu feitio ficar
de joguinhos, ele era sempre direto e sem muitos rodeios. Aproveito a nossa
proximidade e deslizo a minha mão para dentro do seu smoking, sentindo o
calor do seu corpo chegar até as minhas mãos frias. E sem esperar uma
reação da sua parte, eu seguro o cabo da pistola que estava em seu coldre,
puxando o objeto metálico e encostando a ponta do cano em seu peito.

— Ops! Parece que você não está mais no comando... — Provoco,


mordendo o meu lábio inferior de maneira travessa, enquanto me aproximo
mais do seu corpo e afundo mais a arma no tecido da sua camisa. — Para
quem disse que não se deixava manipular, você está muito fácil, capo!

Um pequeno esboço de sorriso aparece em seu rosto, ele estava se


divertindo com o meu atrevimento, ou, ele estava achando que a minha
atitude era uma verdadeira piada. E sem desviar o seu olhar do meu, eu
beijo os seus lábios, virando o nosso jogo, mostrando que eu também podia
e sabia dominar, e que as suas atitudes não me intimidavam. Aprofundo o
nosso beijo, sentindo um leve gosto alcoólico se espalhar por minha boca,
provavelmente era de um bom whisky, afinal, essa era uma das bebidas
favoritas do meu marido.

— Qualquer outra maldita mulher já estaria morta, Serena! Se


contorcendo e se engasgando em seu próprio sangue! — Ele diz, puxando o
meu rosto para mais perto, sem nem se importar com a arma que estava
colada em sua pele. — Mas, você...

— Mas eu não sou qualquer uma... — Interrompo novamente a sua


fala, concluindo a sua frase e querendo desesperadamente escutar essa
confirmação da sua boca, só para ter a certeza dos seus sentimentos. — Não
é? Eu vejo isso em seus olhos, então, confesse o que sente por mim! Acabe
logo com as minhas dúvidas e com as minhas incertezas!

Me afasto um pouco, forçando o meu corpo a recuar e a sair do calor


dos seus braços, apenas para fitar aqueles olhos misteriosos, que nada
diziam ou transmitiam. Abaixo a arma e coloco em seu colo, sem medo e
sem hesitar, sabendo perfeitamente que ele não iria fazer absolutamente
nada, e se ele tentasse, eu saberia como me defender e me desvencilhar do
seu agarre. Sob o seu olhar enigmático, eu seguro a sua mão e coloco em
meu peito, fazendo-o sentir o que o meu coração louco queria falar!

— Você disse que eu não sou a rainha, então... me torne uma! Me faça
a sua rainha! — Falo, sentindo o meu sangue pulsar com mais força,
reverberando em meu coração confuso, enquanto ele me analisa sem deixar
nenhuma expressão escapar por seu rosto. — Quando eu fugi, eu larguei
tudo para trás! Deixei o meu passado e eu só sobrevivi por causa da
vingança do meu irmão, ela me manteve viva durante todos esses anos!
Giovanni, eu escapei daquele tiro por alguma razão... mas eu só posso
resolver isso, quando você me ajudar! Eu não posso e não consigo fazer
isso sozinha! Eu preciso de você!

Abrir parcialmente o jogo era a minha melhor opção no momento. É


claro que eu estava mentindo descaradamente, e bem na sua cara, omitindo
boa parte das coisas. Mas, era isso que ele queria ouvir, o meu marido
precisava acreditar que eu estava ao seu lado, porque eu precisava de todo o
seu poder e de toda a sua influência. Para tirar toda a sua desconfiança de
cima de mim, era necessário que ele acreditasse na minha inexperiência e
na minha incapacidade de matar uma pessoa, e essa, era a jogada perfeita!
Eu não só o teria como meu aliado, como também, eu não colocaria em
risco o meu disfarce.

— Você vai ter que ser mais convincente que isso, Serena! — Giovanni
diz, mantendo a sua pose inabalável, deixando a sua personalidade
arrogante se sobressair em seu tom de voz grosseiro. — Colocar você na
porra da linha de frente, está fora de questão! Entenda! Você se tornou uma
maldita prioridade, e perder você, não está em meus planos!
— Você não vai me colocar em risco! Não em mais do que eu já corro
sendo casada com você! — Digo, querendo convencê-lo a me inserir em
sua vida obscura, querendo usar da sua posição para ter mais acesso aos
meus inimigos. — É uma decisão minha, eu não me importo em morrer!

— MAS EU ME IMPORTO, PORRA! ME IMPORTO MAIS DO QUE


EU GOSTARIA, SERENA! — Ele grita, me assustando com a sua
mudança repentina e com a sua irritação evidente enraizada em seu
semblante. — EXPOR A SUA IMAGEM COMO MAFIOSA AO MEU
LADO, VAI SER COMO DAR MAIS UM ALVO AOS MEUS
INIMIGOS, E ISSO, NÃO É UMA OPÇÃO!

— EU JÁ SOU UM ALVO, GIOVANNI! — Grito com toda a minha


raiva, imitando o seu tom arrogante e grosseiro, sentindo a minha garganta
doer com a intensidade da situação. — EU JÁ ESTOU NA MIRA DELES
MUITO ANTES DESSE CASAMENTO ACONTECER! ISSO NÃO É DE
AGORA, ISSO É COISA ANTIGA!

E era a mais pura verdade... eu era um alvo! E ele estava ciente disso!
Giovanni suspira pesadamente, soltando o ar que estava preso em sua
garganta, ponderando as minhas palavras. Era muito arriscado o que eu
estava fazendo, as chances de ele aceitar a minha proposta eram mínimas,
mas, eu precisava despistá-lo! Fecho os meus olhos, tentando controlar a
raiva que estava se instalando dentro de mim, por ele ser tão cabeça dura, e
também, por ele não ser capaz de se colocar no meu lugar.

— Se quer que eu confie em você, você vai ter que me dar um voto de
confiança primeiro! Me dê uma arma e me ensine a me defender! — Falo
decidida, observando as suas reações. — Só assim, eu posso acreditar nas
suas promessas e confiar cegamente em você! Eu prometo que não vou ser
um fardo para você!
— E o que você está sendo agora!? — Giovanni diz ríspido, enquanto
coloca a sua arma de volta ao coldre e arruma a sua vestimenta, sem nem
olhar na minha direção. — A resposta continua sendo não! E não tente me
convencer do contrário. Eu não quero ouvir mais nenhuma maldita palavra
sobre isso!

Bufo de ódio e reviro os meus olhos, irritada com a sua teimosia,


sabendo que a nossa conversa tinha chegado ao fim, e que provavelmente,
eu não conseguiria mais nada dele. Me encosto no banco e suspiro, sentindo
o peso das suas palavras se acumularem em minhas costas, me sentindo
sufocada por aquela sensação horrível de impotência. Porra! Porque ele não
conseguia enxergar que nós dois juntos era muito melhor? Depois de alguns
minutos, o carro finalmente para, entrando em uma fila de veículos em
frente a uma grande edificação antiga.

Olho rapidamente para a janela e me surpreendo com a arquitetura


belíssima do lugar, as colunas e as ornamentações da fachada davam a
entender que o local era um antigo teatro, e que provavelmente, foi fechado
especialmente para esse evento. Observo a iluminação e sorrio de maneira
discreta, até o final dessa noite, isso aqui iria se transformar em uma cena
de crime. E se tudo ocorresse como o planejado, hoje teríamos mais uma
pista para desvendar essa cama de gato, na qual, eu estava envolvida até o
pescoço.

Eu só espero que Mike tenha seguido à risca o nosso combinado,


afinal, esse plano foi traçado a muitos meses atrás, e grande parte dos
detalhes, dependiam da sua capacidade em ser um bom chefe de soldados.
Os seguranças do meu marido circulavam e averiguavam tudo, ao meu lado,
Giovanni aguardava o sinal dos seus homens pacientemente, para só assim
saímos do veículo blindado. O seu esquema de segurança era muito bem
feito, mas tinha uma pequena falha que passava despercebida... e essa falha,
era justamente eu! A Fênix estava bem ao lado do Don, e eles nem
sonhavam que um dos seus piores adversários, já estava infiltrado e inserido
na Camorra.

Giovanni abre a porta e sai com elegância para fora do carro,


estendendo a sua mão na minha direção, oferecendo a sua ajuda. Mas, antes
de aceitar o seu convite, eu pego a minha bolsa ao meu lado, segurando a
sua mão e apoiando os meus saltos no tapete verde que traçava um caminho
linear até a entrada. Ajeito a cauda do meu vestido, sentindo o calor do seu
braço forte rodear a minha cintura, me puxando para perto. Para ser sincera,
eu não sei bem o que seria essa cerimônia de apresentação, isso não era algo
comum na máfia americana.
— Já que você deixou bem claro que eu não sou ninguém por aqui,
além é claro, de ser a sua esposa troféu, que concorda com absolutamente
tudo. Será que eu posso saber o que me espera lá dentro? — Pergunto em
um sussurro debochado, enquanto andamos juntos até a entrada do lugar. —
O que significa me apresentar oficialmente como sua esposa? O casamento
não foi o suficiente?

— Antes de nos casarmos, o conselho havia escolhido uma esposa para


mim! Uma escolhida nascida em outro clã, e essa união, formaria uma
aliança vantajosa com outra máfia. — Ele diz próximo ao meu ouvido,
apertando a minha cintura com um pouco mais de força, à medida que nos
aproximávamos da pequena escada que dava acesso ao lugar. — Me casar
com você me fez ir contra algumas regras da Camorra, e como você não é a
minha escolhida por direito, e ainda por cima, carrega o sangue de um
maldito traidor, o nosso casamento me fez quebrar um pacto importante.
Ouço tudo com bastante atenção, digerindo aquelas informações e
sentindo um frio familiar se espalhar por minha espinha, arrepiando as
minhas entranhas de uma maneira assustadora. Isso não era bom! Inclino o
meu pescoço e espio os seguranças que nos seguiam, é claro que os
brutamontes nos acompanhavam a uma distância segura, mas, essa sensação
era incômoda demais. Atravessamos a porta, e logo de cara, nos deparamos
com uma recepcionista, a mulher era jovem e estava vestida com um
terninho social.

Observo a prancheta em suas mãos trêmulas, e eu quase reviro os meus


olhos com o excesso de formalidades. Isso era totalmente desnecessário, era
óbvio, que ninguém conseguiria entrar de penetra em uma festa cheia de
seguranças e mafiosos armados até os dentes, a não ser é claro, que fosse
um inimigo em potencial, mas esse com certeza passaria despercebido. A
mulher sequer nos olhava nos olhos, estava tão envolta em seu nervosismo,
que apenas fez um sinal desengonçado com a cabeça, enquanto passávamos
por ela.

Chegamos a um salão enorme, onde o meio era reservado para as


pessoas dançarem e para as crianças correrem, enquanto as extremidades do
grande espaço estavam repletas de grandes mesas decoradas com flores e
organizadas com os aperitivos da noite. Ando ao lado do meu marido com
passos decididos e elegantes, e a cada passada, os olhares curiosos se
voltavam para nós dois. Engulo em seco, observando a quantidade absurda
de pessoas dentro daquele lugar, e todas elas nos cumprimentavam com
submissão e admiração. Meu Deus! Giovanni era como um maldito rei...

— Como assim não é você que dita as regras? Quer dizer... olha como
eles veneram você! — Falo em um fio de voz, ficando surpresa com a
maneira dos convidados nos encarar, era algo muito além de poder e
influência... era como se Giovanni tivesse conquistado eles. — Eles olham
para você como se você fosse um rei!

— E eu sou! Mas existe um conselho acima de mim, e é exatamente


por isso, que essa cerimônia está acontecendo. — Giovanni diz, enquanto
me guia até um local mais reservado da festa. — Só há uma coisa mais forte
do que o nosso casamento, e para selar a minha decisão, nós dois vamos nos
unir com sangue!
— O quê!? — Pergunto incrédula, me virando na sua direção e fitando
o seu rosto inexpressível, sem me importar de estar sendo vigiada por
algumas daquelas pessoas esnobes. — Eu não vou fazer isso!

Olho para ele com a surpresa estampada em meu semblante, a ideia de


me unir ao Don dessa maneira tão intensa e permanente, me deixava em
choque. Balanço a cabeça em negação, tentando achar algum sentido em
toda essa merda! Isso era loucura! Giovanni agarra o meu braço com uma
de suas mãos e me puxa para uma das varandas que dava acesso ao jardim
aberto. Tropeço em meus próprios pés por causa da rapidez das suas
passadas firmes, e sem se importar com a maneira cambaleante e
desajeitada que eu estava andando, ele me imprensa contra uma das
paredes.

— Acho que eu não fui claro com você, esposa! — Ele diz com o seu
tom ríspido, me arrastando para longe dos olhares de toda aquela gente. —
Você vai fazer tudo o que eu mandar, Serena!
“ Cuidado para com a fogueira que acendes contra teu
inimigo, ela poderá chamuscar a ti mesmo. ”

William Shakespeare.

A sua mão bruta torce o meu braço com força, prendendo-o em minhas
costas, fazendo com que a minha bolsa escorregue da minha mão e
caia no chão. Eu estava sem saída, mas se eu quisesse, eu poderia me
desvencilhar do seu agarre facilmente, mas, não era bem isso que eu queria.
Essa noite era muito importante para o meu disfarce ser revelado agora,
afinal, o anonimato ainda era a chave para o meu xeque-mate. Fuzilo o seu
olhar enfurecido, tentando decifrar o que estava acontecendo e o que ele
tinha descoberto para estar assim tão desconfiado.

— E eu já cansei de dizer a você, que eu não sou essa mulher


submissa! Eu não sou e nunca serei essa esposa perfeita! — Rosno,
erguendo o meu queixo, sem demonstrar fraqueza e sem me importar com o
seu comportamento agressivo. — Me solta! Você está me machucando!

— E é exatamente isso que me atrai em você! — Giovanni me


responde com toda a sua frieza, apertando o meu maxilar com a sua mão
livre, cravando os seus dedos na lateral das minhas bochechas, enquanto o
seu corpo pesado me encurrala e me espreme contra a parede. — Essa sua
maldita língua atrevida é a porra do meu problema!
— Quando você coloca essa máscara de frieza e se transforma nesse
monstro distante e impenetrável, eu te odeio! — Cuspo as palavras,
deixando as minhas emoções se sobreporem a minha razão, sem nem saber
ao certo, o que viria à tona. — Mas, quando você tira e me trata com
carinho, me mostrando o seu outro lado, eu te amo!

Engulo em seco, me assustando com as minhas próprias palavras,


porque para ser sincera, era exatamente isso o que eu temia sentir por ele.
Ao seu lado, eu era uma pessoa confusa e inconstante, a sua presença estava
me transformando justamente na Serena que eu matei e enterrei junto com o
meu passado. E eu não quero mais ser aquela menina que tinha medo de ser
feliz e que tinha receio de recomeçar... que se assustava com a ideia de
perder mais uma pessoa próxima...

Declarar o que eu sinto para o Giovanni pode ser uma jogada perigosa,
e ele pode usá-la contra mim, no momento que ele quiser. A vida é cheia de
momentos decisivos, as escolhas são necessárias e obrigatórias, e não tem
para onde fugir, você tem apenas que decidir por qual caminho seguir. Mas,
se escolhermos a opção errada, teremos que viver com as consequências
para sempre... porque não dá para mudar. Por isso, para mim, eu te amo,
eram as palavras mais difíceis de se dizer! Porque elas significavam tudo o
que eu já perdi durante a minha vida... e eu não estava disposta a passar por
tudo aquilo de novo...

— Você não pode me amar, Serena! — Ele diz, balançando a cabeça


em um sinal silencioso de negação, enquanto volta as suas duas mãos para o
meu rosto. — Você não pode amar um monstro!

— Isso não é verdade! — Aflita, eu estico a minha mão para tocar o


seu rosto, mas logo, os seus músculos se retesam e ele desvia o nosso olhar,
se afastando de mim. — Você diz que eu sou sua prioridade, então, me
demonstre isso! Me deixa entrar no seu coração...

Toco a sua barba suavemente, sentindo toda a sua relutância, mas ao


invés dele ir embora, ele permanece ao meu lado. Deslizo os meus dedos
por seu rosto, tocando a sua pele macia, observando a sua respiração pesada
e controlada reverberar em seu peito. Essa união com sangue era uma
novidade para mim, mas, eu não posso recusar e simplesmente ir embora,
porque as coisas na máfia são mais complicadas do que deveriam.

— Eu não vou mudar, Serena! — Ele diz finalmente, sem me olhar nos
olhos, e movida pelo instinto, eu seguro e viro o seu rosto, sentindo parte da
sua tensão se dissipar. — Eu sou um fodido! E se você acha que eu tenho
um lado bom, você está muito enganada!

— Somos tão diferentes... e ao mesmo tempo, eu sinto o quanto nós


dois somos parecidos, e isso me confunde! — Confesso, sentindo a
intensidade das emoções me abaterem, fazendo com que o ritmo do meu
coração acelere. — Eu não consigo confiar inteiramente em você, e é óbvio,
que você também não confia em mim! Eu já fui muito machucada
Giovanni, e enquanto você não for você por inteiro, eu não vou conseguir
ser quem eu sou verdadeiramente!

Eu não sei e nem consigo imaginar o que ele passou para finalmente se
tornar quem ele é hoje, mas, eu suponho que não tenha sido nada fácil
sobreviver com o peso de se tornar o Don da Camorra. Analiso o seu olhar
indecifrável, no entanto, antes que o meu marido possa responder ou fazer
alguma coisa, o som de uma tosse forçada ecoa pelo espaço, chamando a
nossa atenção. Involuntariamente, eu olho na direção do intruso, me
surpreendendo com a figura que vestia um smoking formal e elegante.
— Desculpe interromper o casal apaixonado! — Luigi diz, se
aproximando e nos cumprimentando com um singelo aceno de cabeça,
mantendo o tom divertido em sua voz grave. — Se me permite dizer, você
está muito linda nesse vestido, cunhada!

— O que você quer, Luigi!? — Giovanni interrompe, voltando com o


seu jeito agressivo. — Eu espero que seja algo realmente importante para
você vim até mim.

Até onde eu sei, Giovanni não tinha pais e nenhum familiar próximo, a
não ser é claro, o seu irmão, e mesmo assim, eles não pareciam ser tão
unidos. Como dois irmãos poderiam ser tão diferentes? Isso era
inacreditável, porque um era completamente o oposto do outro e as
personalidades eram muito distintas. Luigi tem um ar de diversão e
serenidade, que nem de longe, Giovanni possui, e talvez, isso seja reflexo
dos treinamentos no qual ele foi submetido. Mas, mesmo assim, era
estranho... ele não parece ter se afetado da mesma maneira que o irmão, e é
praticamente impossível viver nesse inferno e manter a sua essência intacta.

— Giovanni, nós temos um problema! — Luigi informa, ficando


totalmente sério, deixando bem claro a gravidade da situação. — Você
precisa ver uma coisa!

Isso não é bom! Sinto um frio percorrer a minha espinha, me deixando


em estado de alerta máximo com o que poderia estar acontecendo em
paralelo com os meus planos. Uma intromissão de terceiros poderia
interferir e modificar o rumo de tudo! O meu marido suspira e volta o seu
olhar astuto para o meu rosto, investigando e sondando as minhas reações.
Desvio o meu olhar, olhando diretamente para Luigi, que me lança um
pequeno sorriso cínico.
— Tome cuidado! Essas pessoas não são confiáveis, mas todas elas são
leais a mim! — Giovanni me repreende, deixando bem claro as suas
desconfianças. — Não faça nenhuma besteira! Eu estarei vigiando você!

Seguro a minha vontade louca de sorrir, Giovanni estava muito


enganado se achava que eu iria cometer alguma besteira, muito pelo
contrário, eu sempre fui muito profissional em meus trabalhos. Eu não vou
só matar aquele velho asqueroso, como também, eu vou sair ilesa de tudo
isso. E sem esperar que eu lhe responda, os dois se afastam e me deixam
completamente sozinha, a mercê daquelas pessoas patéticas. Encosto as
minhas costas nuas na parede fria, soltando o ar que estava entalado em
minha garganta, sentindo o peso e a tensão daquela conversa se acumular
em meus ombros.

Giovanni está me dando espaço e liberdade para ver o que eu iria


aprontar... ele não é ingênuo, apesar da minha confissão, ele ainda tem um
pé atrás. Eu sei que ele estava querendo me proteger, mas a minha decisão
já estava tomada e a minha vingança era inevitável. Observo os dois se
afastarem lentamente, e assim que eles somem do meu campo de visão, eu
me abaixo e pego a minha bolsa que estava no chão, agradecendo
mentalmente por ela não ter se aberto com a queda brusca.

Em seguida, eu me levanto e arrumo uma mecha rebelde do meu


cabelo, e com passos decididos, eu retorno ao grande salão, buscando o
chefe dos meus soldados para acabar de uma vez por todas, com essa
palhaçada. Passo por algumas pessoas dispersas, sentindo os olhares
curiosos me seguirem durante todo o trajeto até o outro lado do grande
salão. Algumas mulheres me olhavam com certo desprezo, outras, me
analisavam de cima abaixo, buscando algo que despertasse o interesse do
Giovanni em mim, enquanto a minoria, me olhava com pena.
Os olhares dos homens eram bem diferentes... a cobiça estava na
maioria deles, e eles me despiam e me devoravam com aqueles olhares
atrevidos e desinteressantes. E provavelmente, a falta de acompanhante
contribuía para isso, afinal, se Giovanni não estava ao meu lado, eles não
tinham com o que se preocupar. Esses bailes e festas eram sempre iguais,
pode ser um país diferente, mas as pessoas eram praticamente as mesmas,
deslumbradas e completamente cegas pelo dinheiro, submissas e reféns do
maldito poder da máfia.

Observo atentamente alguns seguranças distribuídos pelo espaço,


reconhecendo de maneira discreta, os meus aliados e os que eram meus
inimigos, ou seja, os que estavam a serviço e sob o comando do Giovanni.
Todos os meus homens estavam cientes do que iria acontecer, além de saber
perfeitamente, quais eram as suas posições durante a cerimônia. Se Mike
cumpriu o nosso plano, ele não estaria trabalhando hoje à noite, ele estaria à
paisana, totalmente empenhado em exercer todos as fases minuciosas do
nosso grande show.

Dou mais alguns passos entre aquelas pessoas elegantes e me aproximo


de um pequeno grupo de mulheres que conversavam entre si, totalmente
envoltas em alguma conversa aleatória. Me disfarço e me camuflo entre
aquelas moças, sabendo que tinha câmeras de segurança espalhadas por
todo o lugar, e que realmente, Giovanni poderia estar me monitorando por
uma delas. Essa festa é maior do que eu esperava, e isso é bom! Quanto
mais gente, melhor! A confusão e a correria são ótimas maneiras de
encobrir os rastros, caso, algo dê errado!

— Com licença, Serena! — Uma voz familiar e feminina me chama, e


logo, eu sinto uma mão suave tocar em meu braço, atrapalhando a minha
linha de raciocínio. — Serena... não é?
Observo aquele ser desprezível em minha frente, vestindo um longo
vestido preto com um decote extremamente exagerado, que demonstravam
toda a sua vulgaridade. Os seus peitos volumosos estavam praticamente a
mostra, por causa do tamanho gigantesco do corte do tecido fino do seu
vestido. Essa mulher era uma maldita abusada, que não perdia a
oportunidade de se vangloriar por ter tido o Giovanni em sua cama, sabe lá
quantas vezes. Lanço um sorriso debochado na sua direção, afim de testar o
seu autocontrole.

— Sim, é Serena! Mas, você não precisa fingir que não sabe o meu
nome, Mikaela! — Provoco, analisando-a dos pés à cabeça, e infelizmente,
eu tenho que admitir o quanto essa miserável é corajosa para ter vindo me
abordar. — Não é fácil de esquecer o nome da rival que roubou o homem
da sua vida, não é mesmo?

— Realmente, mas você também não é fácil de engolir. — Ela rebate,


entonando em suas palavras todo o seu desprezo. — Eu estou atrapalhando
alguma coisa? Parecia que você estava procurando por alguém? É algum
homem?

— Atrapalhando? Nunca! — Falo, lançando um sorriso em sua direção,


sentindo o clima pesar com as suas malditas insinuações. — Você sempre
escolhe os momentos mais oportunos, querida.

A sua risada incômoda chega até os meus ouvidos, espalhando uma


estranha sensação em meu interior, uma raiva quase que instantânea. Isso
era ultrajante! Como ela pode ser tão atrevida? E que tipos de liberdades, o
miserável do meu marido tem dado a essa mulherzinha vulgar? Para ela se
achar no direito de vim me importunar sempre que tem a chance. Ignoro a
sua presença e continuo a vasculhar de maneira sutil os arredores, buscando
o meu alvo.
— Eu só vim até aqui para te dar os parabéns, afinal, eu tenho que
reconhecer a grande adversária que você é! — Mikaela continua com o seu
discursinho ridículo, sem chegar direto ao ponto, e eu sou obrigada a revirar
os olhos com o tamanho do seu atrevimento. — Mas, tirando isso, em que
mais você pode me superar? Em absolutamente nada! Porque até o seu
nome é patético!

— Como sempre você é tão encantadora! — Falo de maneira irônica,


sentindo o seu veneno se destilar e se espalhar em meu sangue. — Mas
pode parar com a falsidade, eu sei muito bem quem você é! Agora, me diga
logo o que você quer? Eu não tenho a noite inteira para aturar as suas
insinuações baratas!
Nada melhor do que começar a noite com uma conversa amigável, e
justamente, com uma das últimas pessoas que você gostaria de fazer isso.
Suspiro pesadamente, sentindo a minha garganta secar e a minha vontade de
bater na cara dessa vadia aumentar de maneira gradativa. Eu precisava de
uma porra de um drink! E como se adivinhasse os meus pensamentos, um
garçom jovem aparece com uma bandeja cheia de taças de champanhe, e
sem nem pensar duas vezes, eu pego uma, bebendo um longo gole da
bebida alcoólica, sentindo a ardência queimar a minha garganta.

— Você tem razão, eu preciso falar com o Giovanni com urgência, mas
ele se recusa a falar comigo. — Ela diz, e imediatamente, eu sinto um
sorriso vitorioso se alargar em meu rosto, enquanto ela pega uma taça igual
a minha e dispensa o garçom. — Eu tenho uma notícia maravilhosa para dar
para ele, mas pelo visto, eu vou ter que me contentar com você!

Dou mais um gole do meu champanhe e dou as costas para ela,


seguindo na direção do banheiro feminino, querendo despistá-la antes que a
minha paciência para as suas brincadeiras ridículas se esgotasse. Eu não
quero ser agressiva com essa maldita mulher, e muito menos, eu quero me
descontrolar e partir para cima dela, ou, qualquer outra coisa que
denunciasse o meu disfarce. Pelo visto, o universo estava afim de me
sacanear e de colocar a minha paciência a prova, já que o dia foi cheio de
revelações desagradáveis.

Atravesso a porta do banheiro e me surpreendo com a beleza da


antessala, um cômodo adjacente que dava acesso direto ao banheiro. O
ambiente era muito chique e requintado, repleto de adornos dourados que
combinavam com a decoração do resto da arquitetura do teatro. As paredes
estavam decoradas com grandes espelhos, que iam do teto até o chão,
ampliando propositalmente o tamanho do local. Caminho até o centro,
tocando e sentindo o tecido acolchoado do grande sofá vermelho, que
ficava localizado no meio do espaço.
— Eu estou grávida! — A voz melosa e irritante daquela mulherzinha
chega até os meus ouvidos novamente, espalhando um frio em minha
barriga. — Eu estou esperando um filho do Giovanni!

Puta. Que. Pariu. As suas palavras chegam até mim como um soco no
estômago, me chacoalhando e me trazendo de volta a realidade. Sinto os
meus órgãos se revirarem em meu interior, espalhando uma ânsia e um bolo
em minha garganta. Isso não pode ser verdade! A tensão me congela por
dentro, enquanto ela joga um teste de gravidez no sofá, confirmando o meu
pesadelo. Eu quero a paz que encontrei nos braços do meu marido, eu quero
acreditar em suas promessas... mas, agora... tudo foi por água a baixo!
“ A dor muda as coisas, e dependendo de como você
encara, te muda e te deixa mais forte. ”
Rosmary Krasinski.

Positivo! Positivo! Positivo!

A s palavras dela voltam para me assombrar, martelando em minha


cabeça como um maldito aviso do que eu acabei de perder...
Giovanni não me merecia, ele não merecia o que eu sentia por ele! Meu
Deus! Isso não pode estar acontecendo! Engulo em seco, sentindo algo
travar bem no meio da minha garganta, me impedindo de engolir a minha
própria saliva. Ela ia dar a ele o filho que ele tanto queria... e porquê isso
me doía tanto? Sinto o meu coração falhar uma batida, com a mínima
possibilidade daquela mulherzinha roubar a minha vida, a vida que eu nem
queria até alguns dias atrás.

Reúno as minhas forças, sentindo um buraco gigantesco se formar


embaixo dos meus pés! Ele me traiu! Me traiu com essa vadia! E o pior de
tudo, é que eu não quero abrir mão dele, não quero abandonar a nossa vida
juntos e não quero acabar com o nosso casamento, mesmo sabendo que a
nossa união era fruto de uma vingança. No entanto, eu sou uma completa
idiota, por ter acreditado nas suas palavras bonitas e por ter confiado no que
o meu coração sentia por ele.
Sem ainda olhar no rosto daquela mulher, eu me forço a me recompor,
colocando uma máscara que eu aprendi a moldar, uma máscara que
escondia o quanto eu estava ferida e magoada. Por que era exatamente
assim que eu me sentia, traída e apunhalada, pelo único homem que
conquistou o meu coração e o meu corpo. Era como se alguém estivesse
abrindo uma ferida em minha pele, um machucado inflamado que doía e
pulsava, acabando com as minhas expectativas. Giovanni pisoteou a minha
confiança e me magoou miseravelmente, e não havia espaço para mais
nada, a não ser, para essa maldita criança que nos separava.

— Era só isso o que você queria me dizer? — Pergunto, fingindo uma


calma que já não cabia mais em mim. — Não se preocupe, eu vou dar a
notícia a ele!

— Agora que Giovanni está fora do nosso caminho, eu espero que


possamos conviver em paz! — A sua voz insuportável chega até mim,
acabando com qualquer resquício de paciência e autocontrole. — Afinal,
ele vai ter que se responsabilizar por esse bebê, que é o fruto do nosso
amor!

Me viro na sua direção, sentindo a minha raiva aumentar assim que eu


fito os seus olhos claros, percebendo um quase imperceptível sorriso em seu
rosto, um esboço de um sorriso vitorioso. Ah... se ela não estivesse
grávida... Infelizmente, eu teria que me contentar com a minha imaginação,
e em tudo o que eu adoraria fazer com ela. Mikaela não era só arrogante,
como também, ela era astuta, uma verdadeira cobra peçonhenta, que se
disfarçava na pele de boa moça, disposta a enganar qualquer um.

— Você quis dizer que ele está fora do seu caminho, não é? Porque
agora, eu encontro com ele até na cama! — Provoco, saboreando as
reações do seu rosto confuso, acabando com o seu maldito sorriso. — Essa
gravidez não vai interferir em absolutamente nada! E duvido muito que ele
aceite você, aliás, eu adoraria que você fosse junto comigo dar essa grande
notícia a ele, o que você acha?

Sorrio cínica, me deliciando com a sua expressão assustada e surpresa,


observando a sua doçura e a sua delicadeza se desfazerem. Essa pose de
mulher recatada pode enganar a qualquer um, menos a mim, porque eu sei
do que ela é capaz, ela era baixa o suficiente para dar o golpe da barriga só
para nos infernizar. O seu jogo era perspicaz, Mikaela achava as
fragilidades da pessoa e as usava a seu favor, ela sabia o quanto eu mexia
com o Giovanni e queria me atingir. Mas, eu não vou dar esse gostinho a
ela, porque o sabor da minha derrota, ela nunca vai sentir.

— Desgraçada! Enquanto você estiver na vida dele, ele não vai me


querer! — Ela se descontrola, aumentando o seu tom de voz, enquanto se
aproxima e puxa o meu braço, cuspindo as palavras com toda a sua raiva
incontida, desencadeando o meu descontrole. — ESSA VIDA ERA
MINHA! MINHA! EU CONHEÇO ELE A MINHA VIDA INTEIRA E
VOCÊ SURGE DO NADA PARA DESTRUIR TUDO!

— É claro que ele me ama! E é exatamente por isso que você tem tanta
raiva de mim, porque você não suporta conviver com esse fato! Você odeia
saber que ele me escolheu! — Falo, sentindo o meu sangue ferver com
tamanha ousadia daquela vadia, e por instinto, eu aperto o seu braço, vendo
a sua boca se entortar para segurar um gemido de dor. — É o meu nome que
ele chama quando alcança o prazer, é o meu nome que ele geme no meu
ouvido quando estamos fazendo amor, não é o seu!

E na mesma hora, ela avança para cima de mim, e imediatamente, eu


seguro o seu outro braço, deixando cair a taça e a minha bolsa no chão,
sentindo o impacto do seu corpo se chocar contra o meu, me fazendo
tropeçar para trás com os meus saltos altos. Ela estava completamente
louca! Ouço o barulho do vidro se estilhaçando no chão, espalhando o resto
do champanhe que ainda restava no meu copo, mas, antes que eu possa
assimilar o que está acontecendo, eu sinto as minhas costas baterem no piso
duro e Mikaela vim para cima de mim.

— ELE NÃO TE AMA! ELE NÃO TE AMA! — Ela grita, tentando


segurar os meus cabelos de um jeito desesperado, mas eu sou mais rápida e
imobilizo os seus braços, sentindo o seu peso sobre a minha barriga. —
GIOVANNI ESTÁ APENAS USANDO VOCÊ!

Empurro o seu corpo para longe, sem me importar com mais nada,
sentindo uma descarga de adrenalina circular por minhas veias, pulsando
por todo o meu corpo. Apoio as minhas mãos no chão, tentando me
desvencilhar e me afastar daquela mulher desequilibrada, querendo acabar
com a raça daquela ordinária. Ergo o meu corpo rapidamente e me levanto,
sentindo uma de suas mãos agarrarem um dos meus pés, e sem nem pensar
nas consequências, eu sacudo o meu pé e piso em sua mão, ouvindo o seu
maldito choramingo me trazer de volta a realidade.

— CALA A BOCA! — Grito, agarrando os seus cabelos curtos e me


agachando até a sua altura, e no próximo instante, eu puxo os seus fios com
toda a minha raiva, forçando o seu rosto assustado a me encarar. — Eu
quero que você suma da minha frente! Eu não quero ver essa sua cara de
vadia a noite toda, porque se eu te pegar, eu vou resolver esse problema que
vocês dois criaram bem rapidinho!

— Você merece tudo o que passou! — Mikaela berra, deixando


algumas lágrimas caírem por seu rosto, rangendo os dentes enraivada. —
Você merece sofrer muito mais!
— Você não me conhece! — Rosno, dando um tapa forte em seu rosto,
mostrando que eu não estava brincando em relação as minhas ameaças. —
Giovanni pode ser ruim, ele pode ser a porra do chefe que comanda tudo
isso, mas acredite, eu sou bem pior que ele! Some daqui! Agora!

Fuzilo os seus olhos arregalados, vendo o medo percorrer por seu rosto
transtornado e sem aguentar mais essa situação degradante, eu largo o seu
cabelo e me afasto, dando espaço para ela desaparecer e levar consigo todo
esse pesadelo. Mordo os meus lábios, sentindo os meus olhos arderem, isso
é muita humilhação... e eu não mereço mais isso... Espero o barulho da
porta sendo batida ecoar pelo ambiente fechado, tentando controlar as
batidas descontroladas do meu coração, e quando eu o ouço o ruído
característico, que me dá a certeza que eu estou sozinha, eu desabo no chão,
escorando as minhas costas no sofá.

Mikaela é uma peste invejosa e fingida, ela pode ter ido embora hoje,
mas ela vai voltar, porque ela está mordida e contrariada! Puxo o ar com
força, sentindo dificuldade para respirar, perdendo por um breve instante, a
coragem e a capacidade de reagir. Como ele pôde fazer isso comigo?
Sabendo o quanto eu já sofri... olho para as minhas mãos trêmulas e
cortadas pelo vidro, vendo o quanto eu estava abalada com aquela notícia,
sem coragem de me levantar e de encarar a minha missão.

Com muito esforço, eu pego aquele maldito objeto que é a


concretização de um dos meus pesadelos, o exame de gravidez com dois
traços, indicando o resultado positivo. Giovanni me traiu... como ele foi
capaz? Eu já deveria saber... porque eu alimentei a ilusão de que a minha
vida poderia ser diferente? Se ela sempre foi um inferno! Como olhar para
aquele teste e manter a calma necessária? Para ser sincera, eu não sei como!
E eu apenas fiquei ali... sentada por um bom tempo... inerte, parada... não
querendo acreditar no que via e no que aquilo significava.

Passo os meus dedos nos meus fios bagunçados, sem me importar com
o sangue que escorria por minhas mãos, sabendo que uma decisão precisava
ser tomada. Mesmo que essa gravidez fosse uma grande mentira, Mikaela
tem intimidade o suficiente com o Giovanni para colocar essa ideia em
prática, e isso significa que em algum momento ela transou com ele.
Imediatamente, o meu sangue congela, só em imaginar essa possibilidade
dos dois juntos, e aí, eu começo a me sentir realmente mal.

Sinto o meu estômago embrulhar, fazendo com que a ânsia chegue até
a minha garganta, demonstrando a minha repulsa por toda aquela merda. Eu
precisava pensar melhor e juntar as peças, para só assim, agir. Eu não quero
passar por essa situação, aliás, eu não precisava! Porque eu não estou
disposta a sofrer por um filho da puta como o meu marido. Me apoio no
sofá e me levanto lentamente, agradecendo mentalmente por ninguém ter
aparecido e ter presenciado essa cena patética e deprimente.

Recolho os meus pertences, deixando por último aquele maldito teste


de gravidez, sentindo o meu sangue ferver e a humilhação dessa noite me
atingir, com a mesma intensidade de um tapa bem forte na minha cara.
Aperto as minhas mãos, sentindo uma dor fina se espalhar por minha pele,
alertando e implorando por cuidados, ou ao menos, que eu tirasse alguns
resquícios do vidro que ficaram cravados em minha carne, mas, essa dor era
mínima em relação ao que eu sentia por dentro.

Coloco tudo dentro da bolsa com rapidez, querendo ganhar o tempo


que eu havia perdido com aquela mulher mal-amada, e assim que finalizo,
eu encaro o meu reflexo no espelho, me assustando com a desordem do
meu cabelo. Porra! Eu estava uma bagunça completa, o meu vestido estava
molhado de champanhe, os meus cabelos desgrenhados, o meu rosto estava
levemente suado, sem mencionar, o sangue em minhas mãos machucadas.
Céus! Eu precisava dar um jeito nisso, mas antes que eu consiga atravessar
a porta que dava acesso aos banheiros, eu escuto uma voz familiar que me
chama a atenção.

— Que diabos aconteceu com você? — Mike pergunta incrédulo, me


olhando dos pés à cabeça, se aproximando de mim ao lado de uma mulher
loira de vestido azul. — Meu deus, você está horrível!
Reviro os meus olhos com o seu comentário ridículo, é obvio que eu
estava péssima, eu acabei de rolar no chão com uma das vadias do meu
marido. Cumprimento ambos com um sorriso sincero, era muito bom ver
rostos conhecidos, principalmente, de um amigo próximo como Mike. A
mulher que estava ao seu lado era a minha sósia, era uma das nossas, é claro
que ela não era idêntica a mim, apenas alguns traços eram parecidos, como
o corpo, a altura e o cabelo, e isso seria usado ao meu favor.

Ela tem um papel fundamental hoje à noite, por um pequeno espaço de


tempo, essa mulher vai tomar o meu lugar, não ao lado do Giovanni ou de
alguém que me reconheça, e sim, sob as lentes das câmeras de segurança,
comprovando a minha presença no local indicado e na hora certa, enquanto
eu estaria dando fim ao desgraçado do Lorenzo. Dentro de alguns minutos,
as coisas nesse teatro ficariam com um clima bem diferente do que estava
reinando agora.

— Eu também estou feliz em te ver, Mike! É bom saber que você


também está bem! — Respondo com sarcasmo, retribuindo o seu sorriso
bonito, que de certa forma, me fazia falta. — Está tudo pronto para o show?

— Só estamos aguardando a Fênix! — Mike diz, se aproximando e


tirando do seu coldre uma pistola de cano longo na cor preta, acoplada com
um silenciador em seu cano. — Tome! O cartucho está completo, assim
como foi planejado e solicitado!

— Ótimo! Então já podemos começar! — Falo, segurando a arma e


seguindo na direção dos banheiros. — Eu quero acabar logo com isso!
Aliás, como está indo no seu novo emprego? A Camorra paga bem?
— Você não vai querer saber! — Ele responde com um tom cansado e
maçante, mas logo, ele tenta disfarçar com uma risada áspera e aguda,
falhando miseravelmente em sua mentira. — Digamos que trabalhar com o
seu mestre... não é algo fácil!

Franzo o cenho, não entendendo o que ele queria dizer com a palavra
mestre, até porque, Giovanni não era o meu mestre, e sim, o meu marido.
Ignoro o seu jeito de falar e adentro o cômodo, sendo acompanhada por
ambos, que me seguiam sem questionar. Sento em um dos puffs e coloco a
arma ao meu lado, retirando os meus sapatos, enquanto a loira tira a peruca
e começa a se despir em nossa frente, ficando somente de roupa íntima, sem
se importar com o olhar atento de Mike. Imediatamente, eu solto o ar que
estava preso em minha garganta, me lembrando que eu estava
completamente nua por baixo desse vestido, e que eu vou ter que ir para um
dos boxes para me trocar.

Apesar de adorar a ideia de retribuir a humilhação que ele me fez


passar com aquela vadia, eu seria incapaz de me expor dessa maneira.
Entrego os meus saltos a mulher a minha frente e antes de calçar os seus
sapatos, eu prendo os meus cabelos em um coque, e como se ele pudesse ler
os meus pensamentos, Mike me entrega um elástico de cabelo, me ajudando
a fixar os meus fios ondulados com mais firmeza. Mike era fiel e um ótimo
soldado, além de ser prestativo, ele pensava nos mínimos detalhes, e eu
aposto que ele estava sendo bem útil para o desgraçado traidor do
Giovanni.

Finalizo o meu penteado, enquanto a mulher segura a peruca, ajeitando


com os seus dedos finos, os fios lisos e loiros da franja do meu disfarce.
Com a ajuda da sósia, eu coloco a peruca longa em minha cabeça,
arrumando e escondendo o meu cabelo escuro por baixo daquelas mechas
claras, e sem nem mesmo me olhar no espelho, eu já me sinto uma pessoa
totalmente diferente. Era provável que Giovanni estava monitorando as
câmeras de segurança, ou simplesmente, ele iria achar um local com uma
ampla visão no andar superior, apenas para me vigiar. Eu sei que ele ia me
dar tempo e espaço o suficiente para agir, só que ele nem desconfiava e
imaginava, todas as minhas artimanhas.
Calço os saltos novos e me levanto, pegando o vestido azul na mão de
Mike e seguindo na direção de uma das divisórias do banheiro. Eu
precisava ser rápida para liberar a mulher para a festa, para ela cumprir a
sua parte do plano e se manter distante dos rostos que me conheciam, e
talvez, essa briga com a Mikaela tenha sido bem útil. Essa seria a desculpa
perfeita para eu me isolar, afinal, nada melhor do que ficar em algum canto
inóspito desse maldito teatro, escondendo o meu sofrimento por algo que
aquela desgraçada me disse. Seria perfeito! Com certeza, eu usaria a nossa
briga a meu favor.

Termino de me trocar e abro a porta, com um visual totalmente


diferente e fora de suspeitas. Me aproximo da mulher seminua e lhe entrego
o meu vestido, junto com os meus adereços, incluindo o meu colar de
brilhantes, o meu anel e os meus brincos. A minha sósia imediatamente se
arruma, me mostrando os seus enfeites em cima da bancada da pia, e no
automático, eu os coloco, me transformando naquela completa
desconhecida. Hoje era mais do que um teste, era uma prova decisiva que
decidiria o nosso destino, portanto, não poderíamos cometer nenhum erro,
tudo tinha que seguir perfeitamente o combinado.

— Você as trouxe? — Pergunto eufórica, enquanto termino de ajeitar o


tecido do vestido, tentando esconder a minha animação em rever a minha
querida marca registrada.
Mike se aproxima de mim com uma caixa mediana na cor preta,
coberta por uma camada de veludo negro. A embalagem se parecia com a
de um colar fino e extremamente caro, e assim que ele abre a tampa retrátil,
os meus olhos brilham e o meu coração acelera. Havia cinco penas negras
arrumadas uma do lado da outra, devidamente organizadas. Lentamente, eu
passo os meus dedos por cima delas, sentindo a textura macia deslizar e
acariciar a minha pele. A partir de agora, nada e nem ninguém é capaz de
me segurar! Não existe amor... não existe gravidez... não existe
absolutamente nada e nem ninguém que me impeça de me tornar a Fênix!
“ Não me culpe, foram vocês que arrancaram o meu
livre arbítrio, apontaram uma arma na minha cabeça e
me condenaram a morte! Mas, eu decidi no último
momento, que eu prefiro matar do que morrer. ”

A garota do batom rosa.

S ob o olhar atento de Mike, eu termino de checar a munição da pistola,


me certificando se o pente estava realmente cheio. A mulher que antes
nos fazia companhia, já tinha saído, e a essa altura, ela já estava cumprindo
o seu papel de distração no meio da festa. Encaixo o cartucho em seu
devido lugar e acoplo o silenciador no cano da arma, colocando-a na cinta
liga em minha coxa, um acessório escolhido pela sósia. Rapidamente, eu
seleciono uma das cinco penas negras que estavam dentro da caixa e guardo
na bolsa.

— Eu achei que tinha perdido você... — Mike corta o silêncio que nos
rodeava, deixando transparecer em sua voz, o seu cansaço. — Aqueles dias
em que você esteve no hospital me lembraram da minha família.

Observo o seu rosto bonito, me surpreendendo com o seu olhar abatido,


não era fácil para ele falar dos seus parentes, durante todo esse tempo que
trabalhávamos juntos, foram poucas às vezes que ele se referiu a eles. O
destino tinha sido cruel com Mike da mesma forma que foi comigo, além de
tirar tudo o que mais amávamos, ele nos presenteou com uma amarga
lembrança, deixando bem vivo em nossa memória... o instante em que tudo
o que construímos, ruiu... bem diante dos nossos olhos.

— Eu também achei que você estava morto! — Desabafo, sendo


sincera em cada palavra, enquanto ele me fita com os seus olhos claros. —
O que aconteceu naquele apartamento foi uma retaliação! Uma prova
concreta que o Giovanni não está por trás da morte do Benjamin. Portanto,
ele está fora dos nossos planos, o inimigo agora é outro!

Mike investiga o meu rosto por uma rápida fração de segundos e depois
solta uma lufada pesada de ar, demonstrando mais do que desapontamento,
era como se ele estivesse com raiva. Ele suspira e passa a mão em sua testa,
visivelmente incomodado com as minhas palavras, sem nem se dar ao
trabalho de disfarçar a sua mudança de humor repentina. Observo o seu
jeito, analisando os seus olhos esverdeados e as feições frias que se
enraizavam em seu rosto, ele tinha mudado bastante, não só na sua
aparência, como também, na sua personalidade. Era como se eu estivesse
olhando para um desconhecido, era estranho... porque era o Mike, mas
havia algo diferente... algo mais rústico e áspero.

— Você é feliz com ele, Serena? — Mike dispara, me pegando de


surpresa com a sua pergunta, enquanto investiga as minhas reações com o
seu olhar atento. — Você gosta dele, não é?

— Você não entenderia! — Rebato, me defendendo das suas palavras


duras, não querendo confirmar o óbvio, que além de estar gostando daquele
maldito traidor, talvez, eu estivesse me apaixonando por ele. — Aliás, você
não pode imaginar o que tem sido viver trancafiada dentro daquela casa.

Mike bufa e revira os olhos, dando uma risada cansada e sem nenhum
humor, demonstrando um lado seu que eu não conhecia. Imediatamente, eu
semicerro os meus olhos, querendo entender essa sua reação adversa e
arredia, além da sua insubordinação absurda e totalmente fora de contexto.
Mike sempre foi um bom soldado, ele era leal e nunca ultrapassou os meus
limites, e para mim, ele era mais do que um amigo, Mike não era só o meu
braço direito, ele era alguém em quem eu podia contar. Apesar da sua
mudança e da sua irritação estampada em suas narinas dilatadas, eu sei que
ele não seria capaz de me trair.

— Não precisa nem me responder, o jeito que você olha para ele já me
diz tudo! — Ele fala com indiferença, me dando as costas e apoiando as
suas mãos na bancada da pia. — Eu vi como ele olha para você! Eu vi o
desespero dele... aliás, não deu para passar despercebido o quão louco ele
ficou quando encontrou você ferida. Eu analisei o seu marido, Serena! Me
dê um crédito!

— Você está com ciúmes? — Pergunto, interrompendo a sua linha de


raciocínio, me aproximando o suficiente para ver o seu reflexo abatido no
espelho. — É isso? Você está com ciúmes da minha relação com o
Giovanni?

— Foi um dos piores dias da minha vida, Serena! — Mike sussurra,


apertando as suas mãos em volta da pedra de mármore da pia, fechando os
olhos com força até formar um vinco em sua testa, que se escondia entre os
seus cabelos desalinhados. — O primeiro, foi quando eu recebi a notícia
que a minha família havia desaparecido, o segundo, foi quando eu os
encontrei... ou o que tinha restado deles... Eu perdi a minha mulher, eu perdi
os meus filhos, eu perdi tudo o que eu tinha! E eu não estou disposto a
perder a mulher que eu amo novamente!

Toco o seu braço suavemente, sentindo o impacto das suas palavras me


atingirem como um solavanco brusco. Realmente, eu não tinha noção do
quão pesada essa noite seria... não era mais só o peso das minhas decisões,
era também, o fardo das emoções e das revelações que estavam chegando...
eram muitas informações para a minha mente processar e digerir, em um
pequeno espaço de tempo. Balanço a minha cabeça em um gesto silencioso
de negação, isso era um pesadelo!

Mike não pode me amar! Se ele acha que eu sou a saída para o seu
coração ferido, ele está muito enganado, porque eu não sou a solução nem
para a minha própria vida, quanto mais para a dele. Abro a minha boca e
tento falar alguma coisa, mas simplesmente, nada sai! Engulo em seco,
ciente que não há nada que eu possa dizer que se assemelhe ao turbilhão de
emoções que se amontoam e se acumulam em meu interior. Aperto o seu
braço com força, sentindo o tecido do seu paletó escorregar por meus
dedos.

— Me diz a verdade... — Mike diz, enquanto se vira na minha direção,


prendendo o seu olhar ao meu. — O que sente por ele, Serena?

— Eu me apaixonei! Eu sei que é errado, que vai contra tudo o que eu


acreditei e defendi, mas eu não lamento, nem por um segundo, ter me
casado com ele. — Respondo, sentindo o gosto amargo daquela confissão
tomar conta do meu paladar, e de imediato, eu sinto o meu rosto esquentar,
por causa da adrenalina que insistia em circular por minhas veias. — Ele é
uma pessoa horrível! Mas ao lado dele, eu me sinto viva de novo! E de
todas as escolhas erradas que eu já fiz, eu sei que essa é a pior de todas, mas
eu não me arrependo! E não me sinto mal por isso! Não me sinto mal por
poder abaixar a guarda e viver um pouco.

— Você parece um troféu ao lado dele! Nem parece a Serena que eu


conheço! — Ele me repreende, aumentando o seu tom de voz e torcendo os
seus lábios em um sorriso cínico. — Como pode gostar daquele miserável!?
Como pode dormir ao lado dele todas as noites e não sentir nojo das
atrocidades que ele comete!?

— A sua posição aqui não é essa, Mike! — Falo com aspereza,


deixando bem claro, que aquela conversa estava mais do que desagradável.
— Você mais do que ninguém sabe o quão difícil foi a minha vida, e apesar
de considerar você como minha família, esse assunto está fora de discussão.

Fuzilo o seu olhar e solto o seu braço, dando as costas para um dos
meus melhores soldados. Mike só pode estar louco! Como ele foi capaz de
jogar tudo isso em cima de mim, em um momento tão delicado como esse?
Suspiro pesadamente, soltando o ar que estava me sufocando, isso é
loucura! Primeiro, foi aquela mulherzinha com a história da gravidez e
depois essa, era só o que me faltava! Eu sei que Giovanni era um infeliz,
mas eu não controlo os meus sentimentos, assim como não consigo mandar
na porra do meu coração.

Ainda sem olhar para Mike, eu ajeito a peruca em minha cabeça, me


certificando que o meu disfarce não iria me deixar na mão bem no meio da
matança. Involuntariamente, eu solto uma risada sem graça, como assim ele
me amava? Isso é ridículo! Passo uma das minhas mãos em minha nuca
suada, limpando as gotículas insistentes que escorriam por minha pele,
sentindo a ardência em minhas mãos me trazer de volta a realidade, me
lembrando do que eu ainda tinha que enfrentar.

— Olhe para você, mas olhe bem! — Mike cospe as palavras,


segurando o meu braço e me arrastando até o espelho, me forçando a
encarar o meu reflexo. — Eu não estou falando do seu disfarce, eu estou
falando do seu jeito e do seu olhar! Olhe o quanto você mudou, as roupas
novas que ele deu a você e que não fazem o seu estilo, as joias que você
usa! Você nem precisa falar nada, a sua aparência já diz que você pertence a
ele!

— E daí? Você não pode me julgar! Você não tem esse direito! —
Rosno, puxando o meu braço e me desvencilhando do seu agarre, me
surpreendendo com o seu atrevimento. — Volte a sua posição ou eu vou
começar a ter dúvidas da sua lealdade! Entendeu, soldado!?

— Como você não enxerga que eu te amo? Eu sempre amei! — Mike


se aproxima e coloca as suas mãos em meu rosto, me puxando para perto do
seu corpo forte. — Jamais duvide da minha lealdade!

E antes que eu possa fazer algo, eu sinto os seus lábios tomarem os


meus, em um beijo calmo e cheio de posse. A sua língua macia desliza
sobre a minha e a quentura da sua boca me invade, pedindo e roubando
passagem de maneira discreta e suave. Era diferente... o ritmo era outro... a
sua posse é mais carinhosa e não bruta como a do Giovanni. Seguro os seus
braços e aperto os seus músculos, querendo relutar, mas ao mesmo tempo,
querendo saborear o seu beijo, para me vingar do desgraçado do meu
marido, ou pelo menos, retribuir um pouco da sua maldita traição.

Eu queria machucá-lo por ser tão filho da puta! Por ser tão mentiroso,
por me seduzir e me deixar a sua mercê como uma cadelinha apaixonada.
Aperto os fios sedosos do cabelo de Mike e aprofundo o nosso beijo,
sentindo o meu coração doer, à medida que ele retribuía e me devorava com
necessidade. Sinto as suas mãos grossas circularem a minha cintura e o seu
corpo rígido me imprensar contra a pia, e imediatamente, a minha mente se
encarrega de criar a cena repugnante do Giovanni transando com aquela
miserável, beijando-a e a tomando como sua, da mesma maneira que ele fez
comigo.
Eu o odiava por ser tão mentiroso, por ter me tratado como mais uma
em sua vida, como uma qualquer! E movida pela raiva, eu fecho os meus
olhos e me deixo levar pelo beijo, sentindo o calor das mãos de Mike
ouriçarem a minha pele, mas, de uma maneira bem diferente. Finalizo o
nosso beijo e olho para aqueles olhos esverdeados, observando as suas
pupilas dilatadas se retraírem por conta da claridade e a sua respiração
ofegante bater em meu rosto. Não era a mesma coisa! Para ser sincera, as
sensações não chegavam nem perto das que eu sentia com o Giovanni.

— Eu te amo, Serena! — Mike sussurra e desliza o seu nariz sobre o


meu, em uma carícia singela. — Amo até a parte de você que ama ele...
— Eu não posso corresponder a esse amor! — Respondo com pesar,
me afastando um pouco do calor do seu corpo. — Mesmo que eu lute contra
esse sentimento, e por mais que eu tente odiá-lo, o meu coração pertence a
ele! De certa forma, conhecer o Giovanni, foi como me conhecer! Eu me
encontrei ao lado dele, e com ele, eu sinto que me encaixo em algum lugar.

— E esse beijo? — Ele pergunta, voltando a tocar em meu rosto,


descendo o seu olhar para os meus lábios. — Você não sentiu nada!?

— É diferente... — Falo, desviando o meu olhar e focando em outro


ponto do cômodo, evitando olhar em seu rosto. — Muito diferente!

E era a mais pura verdade! Não era igual e nem poderia ser, afinal,
eram pessoas totalmente diferentes, com personalidades distintas e
completamente opostas. Mike é bondoso e carinhoso... e eu não sinto nada
por ele. Já o meu marido, é o inverso, Giovanni é um monstro que gosta de
matar por esporte, mas tudo com ele, é mais do que eu possa esperar.
Conhecê-lo foi uma forma de me reencontrar, de ter acesso aquela Serena
frágil que eu deixei para trás, aquela garota que eu escondo com unhas e
dentes, por ter sido humilhada, subjugada, torturada e usada covardemente
por anos a fio, sem ter nenhuma chance de revidar! Mas que ao lado dele,
encontra o conforto que ela nunca achou, porque as nossas diferenças, ao
invés de nos afastar, nos une! Nos completa!

— O alvo está em um local isolado, senhor! — Uma voz masculina


ecoa pelo rádio portátil de Mike, nos tirando daquele transe e daquela áurea
tensa que nos engolia a cada segundo. — Aguardando confirmação!
Mike retira o aparelho eletrônico do bolso e confirma o seguimento do
nosso plano, enquanto eu aproveito a sua distração para colocar as luvas de
proteção em minhas mãos. O material era da cor da minha pele e com uma
espessura bem fina, para evitar qualquer suspeita. Com um pouco de
dificuldade, eu termino de colocar a proteção em minhas mãos, ignorando a
dor dos cortes do vidro em minha pele, porque era de extrema importância
proteger as minhas digitais e a minha presença da cena do crime.

— Ele foi para um dos corredores do andar superior! — Mike informa,


me analisando e me entregando um ponto eletrônico de ouvido. — Tome
cuidado!

— Vamos acabar logo com isso! — Falo determinada e coloco o


aparelho em sua posição, escondendo-o por baixo da peruca loira, enquanto
eu sigo na direção da porta e dou uma última olhada para Mike. —
Certifique-se que tudo saia como o planejado!

E sem esperar uma resposta ou qualquer indício de seu entendimento,


eu saio em direção ao salão, fazendo de tudo para me camuflar entre
aquelas pessoas. Passo o meu olhar rapidamente por um grupo de homens
bem vestidos ao longe, tentando encontrar o meu marido, mas não havia
nenhum sinal do temido Don. Com passos decididos e com o nariz e queixo
empinados, eu atravesso o ambiente, passando pelos convidados sem hesitar
e sem ter medo de ser reconhecida.
Em poucos instantes, eu já estava diante de uma das escadas laterais
que davam acesso direto ao andar superior, mas antes de subir os degraus de
mármore, eu dou uma breve olhada nos arredores, só para ter certeza que
não estava sendo seguida. Observo algumas câmeras de segurança fixas nas
quinas do teto e evito um sorriso presunçoso, ao lembrar que todo o sistema
de segurança deles já estava manipulado e alterado, uma pessoa em
específico estava encarregada de apagar todos os meus rastros nessa
cerimônia.

— Está tudo limpo! — A mesma voz masculina que havia falado com
Mike em seu rádio chega até o meu ponto de escuta. — Não tem ninguém
atrás de você!

Faço um breve aceno em confirmação e subo com rapidez os degraus,


dando de cara com um andar inóspito e bem menos movimentado. A pouca
iluminação e a decoração sombria do ambiente eram completamente
diferentes da do salão inferior, transformando a arquitetura do antigo teatro
em algo mais tenebroso. E isso era para lá de suspeito... um lugar perfeito,
escuro e afastado, e o melhor, sem nenhuma testemunha presente! Se não
fosse arquitetado por mim e pela minha equipe, eu diria que isso era uma
grande armadilha.

— Ele está na segunda varanda! — O homem que estava encarregado


por monitorar as câmeras de segurança informa no ponto eletrônico do meu
ouvido. — Na sacada a sua esquerda!

Atravesso o lugar observando tudo com atenção, escutando apenas, o


barulho dos meus saltos altos se chocando contra o piso polido,
denunciando a minha presença nesse andar. Tentando ao máximo abafar o
som dos meus saltos, eu caminho na direção da grande varanda em
específico, sentindo um calafrio estranho percorrer toda a minha pele,
causando um arrepio esquisito em minha espinha, que se espalha com
facilidade por minhas entranhas.

A poucos metros de distância, eu vejo uma silhueta masculina escorada


no guarda corpo rústico do lugar, mas logo percebo, que apesar de estar de
costas e da escuridão que insiste em nos rodear, eu o reconheço. O seu
cabelo meio grisalho e o seu porte robusto o denunciava. Era Lorenzo
Ricci! Sem cerimônia, eu pego a arma em minha cinta liga e aponto na
direção do desgraçado, dando mais alguns passos, e por causa da
proximidade, eu consigo analisar melhor os seus trajes formais.
Engatilho a pistola e faço questão de fazer barulho durante o processo,
chamando a sua atenção e obrigando-o a se virar na minha direção. Movida
por uma energia esquisita, eu fito o seu olhar, vendo as suas expressões
faciais mudarem rapidamente, alternando entre o tom surpreso para o seu ar
inabalável de superioridade. Lorenzo me lança um sorriso carregado de
sarcasmo, denunciando que me reconheceu por baixo do meu disfarce. Ele
era um velho carregado de experiência e a sua maneira fria de agir, deixava
bem nítido essas características da sua personalidade hostil.

— Lembra de mim? — Pergunto, retribuindo o seu ar de deboche,


erguendo uma das minhas sobrancelhas, enquanto eu fuzilo o seu olhar. —
É... você lembra de mim!

— Você não vai atirar, você não teria coragem. — Ele diz confiante,
analisando a pistola em minhas mãos. — Se fizer isso, você vai chamar
atenção de todos os soldados, e eles vão vim correndo para cá!

— Eles podem vim, mas você morre de qualquer jeito! — Falo,


lançando um sorriso vitorioso na sua direção. — Sabe... as pessoas
costumam me subestimar, elas pensam que só porque eu sou uma mulher,
eu sou incapaz de ser cruel. Mas elas estão enganadas, porque a menina
frágil, ou até mesmo, a coitadinha que perdeu o irmão, que foi obrigada a se
casar com o Don, se corrompeu em um ser pior do que ele.

Desço a mira da pistola na direção do seu ombro e aperto o gatilho,


ouvindo o barulho abafado do silenciador amenizar o som do disparo. Com
o impacto da bala, Lorenzo cai de joelhos no chão, e os seus gemidos de
dor, logo preenchem o espaço vazio, espalhando uma satisfação por todo o
meu ser. Observo o sangue espesso jorrar pelo buraco que se formou em seu
paletó, transbordando o líquido quente por sua ferida exposta. Ele era um
desgraçado, e com certeza, a sua morte não seria digna das maldades que
ele já cometeu.
— Sua vadia... — Lorenzo rosna e aperta o seu ferimento com a sua
mão, tentando estancar o sangramento. — Eu sabia que você iria vim me
procurar, só não sabia que ia ser tão...

— Profissional? — Interrompo a sua linha de raciocínio e completo a


sua frase, me aproximando e encostando o cano quente da arma na sua
cabeça. — Agora que você já sabe do que eu sou capaz, eu espero que
colabore comigo. Eu só quero um nome, e se você me falar, eu acabo logo
com isso.

— A gente podia ter matado você, desgraçada. — Ele diz entre dentes,
mordendo o seu lábio e exalando o ar de maneira cansada. — Mas você
sempre foi uma praga, escapando de todas as armadilhas como uma maldita
rata!

— Deveriam ter me matado mesmo, ou melhor, deveriam ter deixado a


gente escapar naquela noite, e nada disso estaria acontecendo! — Respondo
com amargor, sentindo a adrenalina pulsar em minhas veias, me forçando a
empurrar a pistola com mais força em sua testa. — Eu quero a porra de um
nome!
O homem de meia idade volta a me olhar, e como se entendesse a
origem de toda a minha raiva, ele simplesmente sorri, brincando com a
minha cara e com a minha paciência. Ele sabia que o Ben era o meu ponto
fraco, que ele era, e sempre seria, a minha maior fraqueza... A sensação que
eu tinha era que eu estava presa em um maldito jogo, um jogo onde os meus
adversários já sabiam o lugar exato onde me bater, para me ferir e para me
fazer sangrar!

— Você ainda ouve os gritos dele? — Ele pergunta, mantendo e


alargando o seu sorriso nojento. — Eu ouço toda noite... os pedidos de
socorro de vocês... os gemidos de dor dele... é... vocês tiveram o que
mereciam! Ele mereceu aquele tiro!
— Seu desgraçado! — Rosno, sentindo a raiva crescer dentro de mim,
e movida pela ira, eu atiro em sua coxa, só para ouvir os seus malditos
gemidos. — Se você acha que eu vou perder o controle e atirar na merda da
sua cabeça, você está muito enganado!

A sua risada rouca e doentia chega até os meus ouvidos, enquanto ele
se engasga entre os seus próprios grunhidos afobados de dor. Eles eram
doentes, todos os que estavam envolvidos nessa operação eram, e não havia
exceção! Sinto o meu corpo estremecer, indicando o meu estado furioso e
instável, desejando ardentemente, vê-lo cuspir essas malditas palavras junto
com os seus dentes imundos.

— Acha que a gente desperdiçou a oportunidade de usar os órgãos


dele? — A sua maldita voz continua, se misturando com a sua gargalhada
sádica, transformando o meu interior em algo confuso, vazio e cheio de
ódio. — Acha mesmo que o seu querido irmão foi enterrado inteiro?
“ Como um bom assassino que se preze, eu vivo da
morte e me alimento do sangue abundante que escorre
das almas das minhas vítimas. ”

A garota do batom rosa.

O bservo de longe aquela garotinha de cabelos penteados e de olhos


claros, ela brincava distraída e absorta com as suas bonecas no
jardim da enorme casa. Apesar de estar no andar de cima, eu tenho a visão
perfeita dos seus movimentos e dos seus passos travessos, e o melhor, é que
eu tenho a certeza que ela não estava me vendo observá-la. Analiso o seu
jeitinho meigo, os seus olhares carregados de inocência junto com o seu
sorriso angelical, ela era linda!

Serena seria perfeita... a sua personalidade já dizia o quanto ela era


especial, e ela seria uma líder escolhida a dedo, se não fosse uma maldita
bastarda! O medo não a corrompe da mesma maneira que as outras
pessoas, o pavor, ao invés de fazê-la recuar, faz ela ter mais forças para
lutar, e isso era uma característica digna de grandes líderes. A excelência
da hierarquia e do sistema de máfias, era a obediência e a aceitação de sua
posição perante o seu próprio clã.
Não existe saída para o nosso mundo, uma vez nascido dentro dele,
não há outra opção senão exercer o seu papel dentro de sua família.
Porém, existem aqueles que insistem em exercer o seu livre arbítrio e lutam
contra esse sistema, e eu não posso negar, que existe uma certa beleza
nessa resistência, mas infelizmente, é uma beleza que não podemos ter! A
máfia precisa de membros que não questionem a sua posição, que sejam
obedientes e fiéis a nossa causa, porque quem exerce as suas próprias
vontades é uma ameaça nociva a nossa hierarquia, e essas pessoas,
precisam ser neutralizadas.

Observo a garota por mais algum tempo e solto o ar que estava preso
em meus pulmões. Serena seria uma dessas pessoas, o seu jeito arredio lhe
entrega, o ódio que eu enxergo em seus olhos era o combustível perfeito
para torná-la e moldá-la em quem eu queria que ela se tornasse, para no
futuro, ela jogar e lutar ao meu favor. Era realmente uma pena ela ser filha
de quem é, a primogênita de um traidor miserável, que a essa altura, já
estava sendo consumido e devorado pelos vermes.

Cerro os meus punhos, sentindo uma fúria descomunal tomar conta do


meu ser, me fazendo querer torturá-lo e matá-lo novamente, aquele
desgraçado teve o fim que mereceu, por ousar atravessar o meu caminho e
atrapalhar os meus planos. E agora, a sua única filha ou o seu próprio
sangue, iria pagar pelos erros e pela ousadia do seu pai, Serena não só iria
matar por mim, como também, ela iria se tornar uma das minhas melhores
armas!

Realmente foi um equívoco infeliz ter tirado a sua vida de maneira tão
precoce, mas eu não me culpo por isso, afinal, eu estava cego pelo ódio e
completamente consumido pela fúria avassaladora da sua traição. É uma
pena! Eu adoraria ter visto as suas expressões de raiva e de impotência, ao
ver a sua própria cria ser leal a minha causa, ao ponto de destruir
inocentes em nome do seu pior inimigo. Esse seria o castigo perfeito para
aquele que um dia ousou me enfrentar, mas infelizmente, aquele desgraçado
já estava morto.

Observo aquela garotinha por mais alguns minutos, me convencendo


que ela era a cobaia perfeita, Serena seria treinada desde criança, e nada
me impediria de corrompê-la! Porque não tínhamos laços afetivos, e caso a
minha experiência desse errado, o preço a ser pago era só mais uma vida
sem importância, e eu estava disposto a sacrificar milhões de vidas por
essa causa!

Envolto em meus pensamentos, eu deslizo o meu dedo indicador sobre


a borda do copo de whisky que estava diante de mim. As coisas não saíram
como eu havia planejado, muito pelo contrário, a rata de laboratório tinha
escapado, e agora, ela estava ao lado do inimigo. Giovanni Campanaro não
tinha noção do valor que aquela vadia possuía, o sangue sujo que ela
carregava em suas veias, era mais valioso do que ele imaginava, porque ela
era a única herdeira viva que podia arruinar os meus planos...
“ Você pensa que me engana, e eu... finjo que estou
sendo enganado. ”

Matheus Carmezim.

C om passos decididos, eu sigo o meu irmão pelos corredores mais


isolados do teatro, evitando a área movimentada do salão e a maioria
das pessoas que estavam entretidas com o evento importante da Camorra.
Luigi era um desgraçado inoportuno, e eu espero, que essa informação
importantíssima que ele havia descoberto, seja realmente de caráter urgente,
para não poder esperar até o final dessa maldita cerimônia. Depois de
percorrermos todo o corredor, finalmente, chegamos em uma das salas
vazias do lugar.

— O que tem aí!? — Pergunto impaciente, observando Luigi buscar a


chave da porta no bolso da sua calça. — Acho bom que seja importante
para me fazer adiar os meus planos para hoje à noite!

O meu irmão nada diz, apenas coloca a chave na maçaneta e abre a


porta, me dando passagem para o cômodo escuro e vazio. Essa noite seria
decisiva para o futuro do meu casamento, por isso era essencial deixar a
minha querida esposa circular livremente, isso fazia parte do esquema, até
porque, a minha presença ao seu lado poderia impedi-la de fazer qualquer
movimento mais brusco e insensato. Serena é uma incógnita que precisa ser
desvendada o quanto antes, além de ter dúvidas da sua lealdade, eu sei que
tem homens americanos na minha área e dentro da minha própria casa.

Adentro o espaço, enquanto Luigi acende as luzes da sala, e a primeira


coisa que eu sinto, é o cheiro incômodo do mofo invadindo as minhas
narinas. Observo de relance os móveis antigos que compõem a decoração
do ambiente, e apesar de serem antiguidades, eles eram muito bonitos. No
centro, tem uma grande mesa de madeira junto com duas cadeiras
acolchoadas, e o resto do ambiente era composto por guarda arquivos, que
iam do chão até o teto.

Me aproximo da mesa e deslizo os meus dedos pela borda de madeira,


para em seguida, esfregá-los um no outro, constatando que apesar do cheiro
forte, não havia muitos resquícios de poeira. Desabotoou o meu smoking e
me sento em uma das cadeiras, escorando as minhas costas no encosto,
aguardando sem muita animação, o meu irmão começar com o seu falatório.
Luigi mexe em alguma gaveta atrás de mim, fazendo um barulho
característico ecoar, e logo, uma pasta de documentos na cor mostarda é
arremessada na mesa a minha frente.

Pego o documento e volto a me escorar na cadeira, sem me dar o


trabalho de olhar para a cara de Luigi, que permanecia fora do meu campo
de visão. Sem muita paciência, eu abro a pasta e analiso a papelada que ali
continha, avaliando as informações e algumas fotos antigas da minha
esposa e da sua família. Folheei alguns laudos de exames e franzo o cenho
com a quantidade absurda de documentos relacionados a Serena e o seu
estado de saúde. Seguro um dos papéis e leio com afinco, sentindo uma
raiva incontida me consumir de dentro para fora, só em ler a porra das
palavras chaves que estavam escritas naquele pedaço de papel.

“A paciente foi socorrida desacordada, ao fazer os exames foram


encontradas lesões corporais externas e internas, originadas de um
possível espancamento, além de visíveis hematomas gravíssimos por toda a
região corporal. Há vestígios de violência sexual não consensual, onde foi
relatado por um dos mentores, a ocorrência de sexo anal sem proteção,
ocasionando lesões, rupturas e feridas contusas na área do ânus. ”

“A paciente Serena Smith, de doze anos de idade, foi submetida a


relações sexuais forçadas, onde foi detectada, a presença de secreção
espessa e esbranquiçada na região anal e na genitália externa, não
ocorrendo o rompimento do hímen. Ao realizar os exames específicos e
solicitados pelo mentor legal, foi constatado que não há vestígios de
desvirginamento recente, apenas rompimento de tecidos da região anal e
sangramentos que ocasionaram debilidade momentânea a paciente, além
de confusão mental e perda dos sentidos. ”

Ela era uma criança... a porra de uma garotinha! Involuntariamente, eu


trinco os meus dentes, forçando e raspando os meus molares, sentindo o
meu autocontrole se esvair em uma fração de segundos. Cerro os meus
punhos com força, sem me importar de amassar o maldito papel, me
levantando e me virando na direção do meu irmão. Eu sempre desconfiei
que Serena tinha sido violentada, mas nem de longe, a minha mente foi
capaz de imaginar, o quão desgraçada foi a vida da minha menina.

— Durante todo esse tempo juntos, você não percebeu que ela era
problemática? — Luigi fala em um tom desagradável, carregando em suas
palavras as suas gracinhas imbecis. — Mulheres abusadas costumam ter a
mente perturbada, Serena não deu nenhum indício de instabilidade quando
vocês foram transar?!

— Que porra é essa? — Pergunto ríspido, esmagando a papelada em


minhas mãos, enquanto eu lanço um olhar feroz na sua direção. — Ou
melhor, onde você conseguiu essas informações!?
— Fica calmo, irmão! — Luigi tenta falar, mas antes que eu processe
as suas palavras, as minhas mãos já estão envoltas do seu pescoço e o seu
corpo imprensado na parede. — Se acalma...

Aperto o seu pescoço com força, afunilando a sua garganta com os


meus dedos rígidos, totalmente incapaz de controlar a fúria que me
consumia e se alastrava com violência pelo meu interior. Desde menina...
sofrendo abusos constantes por aqueles que deveriam protegê-la!
Desgraçados! Sinto o meu sangue borbulhar, aquecendo as minhas veias e
o meu corpo, espalhando uma ardência dolorosa por minha nuca, que me
forçava a esquecer quem eu era e onde eu estava, tornando tudo ao meu
redor nebuloso, apenas deixando nítido a minha sede de matar!

— Eu estou esperando a sua maldita explicação! — Esbravejo


rudemente, apertando o seu pescoço e puxando o seu corpo para frente com
todo o meu ódio, apenas para empurrá-lo contra a parede novamente e com
mais força. — Comece a falar! Porra!

— Fica tran...quilo, irmão! — Luigi se engasga com as suas palavras,


incapaz de fugir da brutalidade do meu agarre. — Ter...mina de ler o que
tem no ar...quivo, Giovanni!

Tento buscar a calma que ele tanto pronunciava dentro do meu interior
fodido, mas, a única coisa que gritava dentro de mim, era que eu deveria
matá-lo e destruí-lo. É impossível encontrar o meu ponto de equilíbrio
novamente, não enquanto aquela descarga pesada de adrenalina pulsava em
minhas células, fazendo com que, a minha mente perturbada criasse todas
aquelas cenas repugnantes em minha cabeça. Fecho os meus olhos, vendo
aquele maldito olhar cintilante da minha esposa tomar conta dos meus
pensamentos.

Respiro fundo e solto o ar que estava me sufocando, fechando as


minhas mãos em volta do seu colarinho amassado, e sem resquício algum
de sanidade, eu cravo os meus dedos em sua pele, apertando-o e
estrangulando-o de maneira bruta e violenta. Movido inteiramente por meus
instintos animalescos, eu encaro o olhar azulado do meu irmão, observando
as suas órbitas aumentarem e a sua boca abrir em uma busca desesperada
por oxigênio.

— Po...rra, Giovanni! — Ouço o sussurro de Luigi ao longe, o som da


sua voz abafada pelo barulho pesado da minha respiração entrecortada e
falha. — Se con...trole!

Sem me importar e pouco me fodendo, se ele estava ficando vermelho


ou prestes a morrer asfixiado, eu solto uma das minhas mãos do seu
pescoço e mantenho o meu apoio em uma só. Cerro o meu punho livre, e
com força, eu o impulsiono para trás, para em seguida atingir o seu rosto
com um soco violento e certeiro. Com a força do meu golpe e do impacto
seco dos nós dos meus dedos em seu maxilar, um corte se abre
instantaneamente em seus lábios, fazendo-o soltar um gemido de dor.

As cenas de Serena sendo submetida a transar forçadamente com um


miserável qualquer, sem nem ter chances de se defender, bombardeiam o
meu cérebro, me fazendo repetir o mesmo movimento brusco, socando-o
novamente. Agora eu entendo as suas reações, o pavor cru que estava
estampado em seus olhos no dia da nossa lua de mel, o mesmo medo que eu
vejo quando ela revive os seus pesadelos, e que involuntariamente, a faz
tremer e gritar enquanto dorme. E essas malditas recordações, é o pânico
enraizado de passar por aquilo novamente! É o temor de voltar para a porra
da sua infância e ter que servir e alimentar, o prazer asqueroso de um
verme.

Com impulsividade e descontrole, eu dou outro soco em sua face,


atingindo o osso rígido do seu queixo, sentindo a minha mão doer por causa
do choque. Ela era indefesa! Uma criança inocente que não teve chances
contra um miserável asqueroso e repugnante. Fecho os meus olhos e respiro
fundo, tentando me controlar, ou ao menos conter, o monstro que ruge
dentro de mim, enfurecendo-me e me ferindo por dentro. Sem conseguir
parar, e movido pelo instinto visceral que insiste em me devorar, eu repito o
meu golpe, socando o rosto de Luigi com mais violência.

Trinco o meu maxilar e ranjo os meus dentes de ódio, travando uma


luta interna entre terminar o serviço ou deixá-lo concluir a merda que ele
mesmo iniciou! Inspiro profundamente e inalo o cheiro de sangue fresco,
soltando as minhas mãos da porra da sua garganta só para ter o prazer de
vê-lo desabar contra o piso rígido. E assim que eu solto o seu corpo pesado,
Luigi cai no chão cuspindo sangue, com o seu rosto desfigurado, já inchado
e banhado no líquido ferroso.

— Isso... é para você aprender a deixar de ser tão debochado! —


Respondo ofegante, sentindo o inferno da minha mão latejar. — Como o
seu líder, eu exijo respeito! E antes de tudo, respeite a porra da minha
mulher!

— Po...rra! — Luigi geme de dor, enquanto toca o seu rosto e avalia o


estrago em sua face. — Eu só que...ro ajudar você!
— Vamos deixar umas coisas bem claras aqui... eu não quero mais
piadinhas com a minha esposa, eu não gosto de brincadeiras, e você mais do
que ninguém sabe disso! — Falo de maneira cortante, observando-o se
arrastar e tentar se levantar do chão. — Insultá-la é a mesma coisa que me
desafiar! Você entendeu? Filho da puta!

Lanço um olhar endurecido na sua direção, enquanto ele apenas


confirma em silêncio, tossindo descontrolado pelo excesso de sangue que
era expelido por algum corte fundo em sua boca. Ainda sentindo a raiva
ditar os meus movimentos, eu vou até a pasta que estava no chão e recolho
a porra dos papéis espalhados, sem me importar de sujá-los com o sangue
que escorria por minha mão esfolada e em carne viva.
Rapidamente, eu volto a me sentar naquela maldita cadeira, e antes de
abrir novamente aquela papelada, eu aperto os meus dedos um no outro,
observando o quão fodida ficou a minha mão. A pele não estava só solta,
como também, tinha uns pedaços pendurados e o sangue em excesso descia
até os meus punhos, e por reflexo, eu sacudo o excesso do líquido espesso e
rubro, fazendo os respingos grossos se espalharem pela mesa. Ainda
relutante, eu volto a minha atenção para aqueles malditos documentos na
minha frente, ouvindo os gemidos e resmungos de dor do meu irmão, que
ainda não estava de pé, e muito menos, recomposto.

— TERMINA A PORRA QUE VOCÊ COMEÇOU! AGORA! —


Grito com a minha voz áspera e potente, querendo finalizar e dar um fim a
essa palhaçada ridícula. — LEVANTA, CARALHO!

— O seu humor é realmente encantador. — Luigi diz sem emoção,


finalmente se aproximando e mexendo nos documentos em minha mão, e
sem demorar muito, ele seleciona duas páginas em específico que estavam
no final do arquivo, e aponta alguns trechos destacados. — Termine de ler a
porra dos papéis, e depois que você tirar as suas próprias conclusões, você
tira as suas dúvidas comigo!

Semicerro os olhos e fito o seu olhar receoso, observando as suas


feições mudarem drasticamente, ao perceber a escolha errada das suas
palavras. Respiro fundo e volto a minha atenção para o arquivo, segurando
a minha frustração e a minha vontade louca de colocar toda a minha fúria
para fora. Me esforçando para não colocar tudo a perder, eu encaro aquele
maldito pedaço de papel melado de sangue, que destoava do resto da cor
das folhas anteriores, deixando bem claro, que eram documentos mais
antigos, não só pela escrita manual, mas também pelo estado degradado do
material.
“ O soldado Ian Willians, ao invés de ser condenado e torturado por
traição, foi devidamente dopado e morto, sem o uso de nenhum instrumento
ou material que pudesse causar hematomas, traumas ou fraturas em seu
corpo, e muito menos, foi utilizado substâncias que pudessem danificar os
seus órgãos vitais, visando assim, a utilização do seu corpo, para benefício
próprio da nossa organização. Gerando novos lucros e receitas, com a
morte de prisioneiros e traidores do nosso sistema. ”

“ O paciente Benjamin Smith, encontrado em circunstâncias adversas,


onde acarretou o seu falecimento precoce, é compatível com as
características solicitadas pelo mentor legal, ao finalizar o serviço de
necropsia em seu corpo desfalecido, foi constatado, que não poderia ser
feita a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo do falecido, devido ao
excesso de pólvora e substâncias químicas desconhecidas encontradas em
seu corpo e na sua corrente sanguínea, danificando assim, a extração da
mercadoria. ”
— Que merda é essa!? — Pergunto, realmente surpreso com as
informações que estavam descritas naquele laudo. — Eles praticam o
tráfico de órgãos em seus próprios membros! Que filhos da puta!

Analiso os registros técnicos, constatando que não eram documentos


hospitalares, e sim, laudos de médicos clandestinos, eram profissionais
contratados para forjar e encobrir as merdas que aconteciam em nossos
sistemas. A Camorra não é diferente nesse quesito, mas essas práticas
sujas, ultrapassavam qualquer limite das nossas regras. A máfia americana
estava traficando órgãos em massa, e o pior, estavam criando registros e
dados sobre essas transações imundas, utilizando-se de qualquer vida
ceifada, inclusive, a dos seus próprios familiares, para usurpar cadáveres e
alimentar esse sistema podre, passando por cima da minha autoridade.
— Ainda não entendi qual é a finalidade desses documentos! — Luigi
diz e se senta meio cambaleante na outra cadeira, buscando o seu celular no
bolso da sua calça. — Porquê se preocupar e ter tanto trabalho com esses
registros? Ou melhor, porquê juntar provas contra o seu próprio sistema?

— Isso deveria ser sigiloso, é a documentação que comprova o modo


de operação deles. — Respondo e analiso as minhas próprias palavras,
sentindo o rumo e a gravidade que aquela conversa estava tomando. —
Caralho! Isso é um estudo... para passar para a geração futura e para o
próximo líder, o histórico da sua organização!

Desgraçados! Eles estavam burlando as minhas leis e as minhas regras,


traindo o nosso acordo! O Maxell era um filho da puta, aquele verme
desgraçado mesmo depois de morto era uma pedra em meu sapato, aquele
ser repugnante sempre quis roubar o meu lugar e a minha posição. Essa
organização estava cercada por traidores, e Lorenzo, era o pior de todos...
porque estava traindo a sua própria famiglia, e por uma breve fração de
segundos, eu sinto os meus músculos se enrijecerem, com a mínima
possibilidade daquele infeliz americano ainda estar respirando.

Passo as mãos em meus cabelos, sentindo a minha cabeça latejar e a


minha nuca queimar, em decorrência da tensão e daqueles pensamentos
ardilosos. Serena não pode estar ciente disso, eu me recuso a acreditar que
ela é a porra de uma infiltrada, visando me trair na primeira oportunidade.
Apesar de existir essa mínima possibilidade, eu duvido muito que a minha
esposa fosse capaz de aceitar, e de bom grado, trabalhar sob o comando dos
vermes que usaram e abusaram da sua inocência, os mesmos seres
abomináveis que ela foi obrigada a conviver durante a sua vida miserável.

— Olhe o que tem escrito no último documento! — Luigi fala e aponta


para outro papel envelhecido. — Giovanni, aí diz que o Benjamin Smith
nunca foi cotado para ser realmente um Capo, ele não foi treinado para
tomar o lugar do pai, ou seja, o garoto não tinha futuro ali!

Analiso os documentos finais, ouvindo as conclusões do meu irmão e


tirando as minhas. Realmente, eles não tinham interesse no garoto, o que
era para lá de estranho! Pego as duas certidões de nascimento que estavam
ali e observo os nomes apagados, segundo a papelada, o Benjamin era filho
legítimo do casal, já Serena, não tinha o nome do pai visível, o que não
fazia o menor sentido! Por que sacrificar um herdeiro autêntico que
carregava o seu sangue, em prol de uma bastarda fruto de uma possível
traição? Essas informações não batiam, e muito menos, se encaixavam.

Deslizo os meus dedos pelas próximas linhas até chegar em uma série
de exames clínicos e psicológicos da minha esposa, as datas dos
documentos eram espaçadas, era mais um avanço dos estudos que
analisavam as suas reações em idades diferentes e em situações diferentes.
Que propósito doentio era esse? Por que o interesse nela? Não fazia o
menor sentido! Analiso novamente as datas e me surpreendo que a última
testagem feita, foi um ano antes dela ter escapado.

— O maior interesse deles estava em Serena, olhe isso, os testes, os


exames... porque a preocupação em manter a integridade física dela? —
Pergunto em voz alta, envolto em minhas próprias conclusões, sentindo a
minha raiva borbulhar novamente em minhas veias. — Porque não matá-la
de uma só vez?

— Eu não sei... — Luigi responde pensativo, passando a mão em seu


rosto para avaliar o estrago em sua face. — Eu não tive acesso a todas as
informações...

— Por falar nisso, como você conseguiu ter acesso a tudo isso!? —
Pergunto, pressionando-o e querendo ouvir a sua justificativa, para saber se
era plausível ou não. — Você ainda não me respondeu!

— Você mesmo me deu as ordens, me deixou encarregado de vasculhar


tudo sobre o passado da sua mulher! E realmente, eu não cheguei em lugar
nenhum pesquisando e tentando invadir o sistema operacional deles. —
Luigi diz, enquanto busca em seu paletó amassado, um pequeno chip preto
e o coloca em cima da mesa. — Dentro de alguns dias, capturamos um
prisioneiro americano, um dos homens responsáveis pelos transportes dos
corpos desovados em nosso território. Torturamos ele por dias... até ele
finalmente abrir a boca e confessar que dentro do organismo dele, estava
esse objeto.

Escuto atentamente as suas palavras, juntando e ligando as


informações, enquanto eu pego o objeto minúsculo e o observo mais de
perto. Luigi não é um traidor, disso, eu tenho a mais absoluta certeza, afinal,
sempre fomos muito sinceros um com o outro, e ele jamais foi capaz de
quebrar a minha lealdade ou a minha confiança. Me enfrentar seria tolice da
sua parte, e uma traição dessa magnitude, seria uma coisa imperdoável! Por
experiência própria, eu não tolero traições, afinal, uma vez traidor, sempre
traidor...

— E porque eu estou sabendo disso só agora!? — Rosno furioso,


largando com força, os malditos documentos em cima da mesa. — Eu sou o
líder, Luigi! Então, porque diabos você escondeu essa informação?

— Eu te conheço, você o mataria antes mesmo de deixá-lo falar! — Ele


diz e eu meneio com a cabeça, avaliando as suas palavras. — O seu
temperamento não é fácil! O cara estaria incapacitado de falar qualquer
merda! Eu sei que você adora quebrar os ossos do maxilar com o seu jeito
bruto, e a minha cara, é a prova disso! Esse homem não era só responsável
por trazer os corpos vazios para o nosso território, como também, ele foi
designado para fazer o transporte desse chip até o líder deles! Esse homem
desconhecido, que comanda essa rede gigantesca de tráfico de órgãos está
em nosso território atualmente. E graças a esse chip, eu tive acesso a todas
essas informações, mas, eu não consigo vasculhar o sistema completamente
estando em território italiano.

— Isso não será um problema! Eu, você e Serena vamos estar


pessoalmente nos Estados Unidos dentro de três dias! — Informo de
imediato, mudando os meus planos, e de certa forma, me adaptando as
novas informações. — Esse mentor legal... foi mencionado várias vezes nos
documentos... as assinaturas eram do Maxell ou da vagabunda da mulher
dele?

— Dos dois! Ambos assinavam os laudos médicos, existe registros da


assinatura dos dois, os pais dela sabiam e colaboravam com tudo! — Luigi
diz, enquanto se levanta e começa a recolher a papelada. — Acredite,
Serena não é quem você pensa que é, e talvez, nem ela mesma saiba de todo
esse esquema.

Me levanto e fecho os botões do meu smoking, sabendo que as coisas a


partir de agora ficariam feias. Se esse desgraçado sem nome presar pelo
sigilo dos seus planos imundos, e se ele não quiser que toda essa podridão
venha à público, ele vai colaborar comigo, a não ser é claro, que ele queira
que uma guerra de poderes se forme. Mas, pela sua índole covarde, eu sei
que ele vai colaborar e aceitar as minhas imposições, porque um fantasma,
só é um fantasma enquanto está escondido nas sombras!

— Matem o Lorenzo! — Ordeno, e de imediato, Luigi assente,


confirmando as minhas ordens. — Que ele sirva de exemplo para os outros,
e além disso, que seja menos um na porra do meu caminho!

E assim que eu termino de falar, o toque característico de uma nova


mensagem ecoa pelo espaço, propagando uma série de ruídos agudos
contínuos, indicando que havia chegado várias notificações em nossos
celulares. Mas, antes que eu possa destravar e acessar o meu telefone, o
meu irmão visualiza o seu primeiro, e seja lá o que ele tenha visto, a sua
expressão se modifica drasticamente.

— Giovanni... eu acho que não vai ser mais preciso... — O meu irmão
diz um pouco abalado, enquanto observa uma foto na tela do seu aparelho.
— Olhe isso!

Tomo o aparelho de suas mãos e visualizo a imagem enviada pelo


celular do meu consigliere, onde Lorenzo estava deitado de bruços, com o
que restou da sua cabeça apoiado em seu queixo. O efeito do tiro dilacerou
o seu crânio, espalhando pedaços do seu cérebro e tufos grotescos do seu
couro cabeludo por toda a sua roupa, banhando o chão com uma massa
grossa de sangue fresco. E assim que eu vejo aquela maldita pena negra
embebida no líquido grosso, eu sinto a porra da minha fúria me dominar,
me transformando novamente, em um animal irracional.
“ Não me desafie, pois você conhecerá o quão forte eu
posso ser, mesmo em meio a tempestade, eu vou te
achar, para te derrubar e te vencer sem dó, então... não
me provoque, eu não tenho controle da minha ira…”
Edmilton Pedroso.

L orenzo é repugnante! Ele era pior do que eu imaginava! Observo a sua


aflição em tentar conter o sangue que escorria livremente por seus
ferimentos, e sinto o nojo tomar conta das minhas expressões, porque era
isso que eu sentia... Nojo! O seu desespero era cru e estava estampado em
seus olhos frios, e talvez, esse sentimento visceral seja a única coisa
verdadeira que esse verme foi capaz de externar durante toda a sua vida
podre e fingida. Ainda com a arma apontada para a sua cabeça, eu me
aproximo do seu corpo ajoelhado, querendo vê-lo se afogar e perecer de
maneira amarga.

Porque vê-lo se esvaindo em seu próprio veneno, não era o suficiente


para aplacar a sede de vingança que me corroía. Eu quero ver o sangue e a
morte desse desgraçado, eu quero feri-lo da mesma maneira injusta que
todos eles fizeram comigo, sem sentir remorso, e muito menos, pena!
Matá-lo seria um alívio, uma certeza única que eu só sentia quando apertava
o gatilho, era a confirmação clara, que mais uma alma desgraçada estaria
fora do meu caminho e da vida de algum inocente.

— Você é um monstro! Todos vocês são doentes! — Cuspo as palavras,


deixando transparecer em minha voz toda a minha raiva e a minha repulsa.
— Ele era só uma criança, um inocente que teve o azar de nascer no meio
de toda essa merda! Mas vocês escolheram assim, não é? Vocês começaram
essa maldita guerra e me forçaram a entrar nela, mas acredite, agora que eu
estou dentro, eu vou matar cada um de vocês!

— Você está fa...zendo exata...mente o que queríamos! — Ele rosna, se


contorcendo em sua dor dilacerante. — Não se ache a do...na do jogo,
sendo que você é ape...nas uma peça dele!

E dessa vez foi a minha vez de gargalhar, chamando a sua atenção para
o meu rosto sarcástico. É realmente impressionante o quanto ele me
subestimava, sendo que ele mal me conhecia, e muito menos, se deu ao
trabalho de me analisar profundamente enquanto eu estive em seu território!
Lorenzo não tinha noção de quem eu era, e nem sequer desconfiava, do
quão amarga e corrompida era a minha alma. Eu não cheguei até aqui por
acaso, eu vim disposta a saciar a minha ânsia de fazê-los pagar e perecer,
em nome da minha vingança!

— Não seja tão burro, Lorenzo! — Falo com rigidez, mantendo o meu
queixo erguido e o olhando de cima para baixo, como o maldito inseto que
ele era. — Eu sei que o seu chefe usa o anonimato para se esconder, e eu o
compreendo, afinal, o conforto de não ser visto como um alvo é algo
realmente agradável!

— Quem é você? — Ele pergunta, deixando a sua instabilidade


transparecer ao seu orgulho e ao seu ego ferido. — Sua vadia mentirosa!
— Ligue os pontos, seu desgraçado! — Respondo, mantendo o sorriso
em meu rosto, apenas para provocá-lo um pouco mais. — Para a porra de
um conselheiro você não é muito inteligente! E para um velho mafioso,
você também não aguenta muita coisa! Achei que você me daria mais
trabalho, mas pelo visto, você não vale nada!

Observo o seu olhar apagado, percebendo que a sua respiração estava


mais ofegante e cansada, por causa da perca excessiva de sangue, e logo,
ele muda a sua posição, sentando no chão e intercalando a sua atenção em
parar o sangramento do seu ombro ou o da sua coxa. Sem muita paciência,
eu me abaixo e agarro a gola da sua camisa branca com uma das minhas
mãos, e com a outra, eu pressiono a pistola em sua garganta, nivelando os
nossos olhares frios.

— Eu disse que quero um nome! — Rosno entredentes, afundando a


arma em sua pele, em uma ameaça clara de atirar em seu pescoço. — Quem
é esse chefe misterioso!? Quem é esse maldito miserável!? Fala o nome
dele, desgraçado!

— Está bem! Eu falo um nome! — Lorenzo diz, enquanto fecha os


olhos e tenta recuperar o fôlego, e quando finalmente ele se recompõe, ele
se vira na minha direção e sorri, brincando com o meu autocontrole. —
Serena Smith... Você é o problema, Serena! Era para você estar morta,
então... aonde quer que você vá, a morte vai seguir você! E não adianta se
esconder por trás da sombra do seu marido, porque ele também está na
nossa mira!

Lorenzo meneia a cabeça por um breve segundo e me encara com os


seus olhos brilhantes novamente, se alimentando das minhas feições
geladas e da minha falta de reação. Sem desviar o meu olhar do seu, eu tiro
a arma da sua garganta e pressiono em seu abdômen, sabendo muito bem
em qual órgão vital atirar, para acabar com os seus joguinhos sem graça e
para espalhar uma dor muito mais dilacerante. Porque pelo visto, perfurar
apenas os seus músculos não eram o suficiente, e sem nem sentir a pressão
do gatilho sob o meu dedo, eu escuto o barulho da bala ricochetear o ar,
criando um som abafado por causa do silenciador.

Lorenzo que já estava no chão, solta um grito engasgado, contorcendo


o seu rosto em uma agonia sôfrega, por causa da dor cortante e da
queimação que atravessava os tecidos do seu pulmão. Seus dentes mordem
e se afundam em seu lábio inferior, em uma busca perdida por um pouco de
alívio, forçando-o a exalar o ar de maneira trêmula e falha. Ele inala e
expira da mesma maneira entrecortada, como se estivesse perdendo os
sentidos e o controle dos movimentos básicos do seu corpo.

— Eu perfurei o seu pulmão! — Falo, apertando o metal gelado da


pistola em sua ferida, fazendo-o grunhir com mais força, aumentando a
minha vontade de querer arrancar dos seus lábios ressecados, o que eu
queria ouvir. — O meu irmão se afogou em seu próprio sangue, agora, me
fala a porra do nome! E eu acabo logo com isso!

— Wil...liam.... — Ele sussurra com dificuldade, abrindo a boca em um


grito agudo, que morre antes mesmo de se iniciar. — William
Van...derwall... ele é um dos chefes...

E assim que ele termina de pronunciar aquele maldito nome, eu sinto a


minha garganta ser invadida por um gosto amargo. O sabor asqueroso da
bile do meu estômago revolto sobe até a minha boca, e por uma ligeira
fração de segundos, eu sinto como se tudo dentro de mim estivesse entrando
em colapso, ruindo com o meu psicológico e com a minha estabilidade.
Ouvir o nome daquele desgraçado em voz alta era como ter a confirmação
dos meus piores pesadelos, onde ele, era o meu pior algoz.
Will... Will... William... ouço a pronúncia clara do seu nome ecoar em
meu subconsciente, criando ondas confusas que me deixavam inerte, à
medida que, se propagavam em meu interior vazio e oco.
Involuntariamente, eu sinto as minhas pernas falharem e eu me agacho
junto do meu prisioneiro, vendo a minha guarda desabar pelo efeito nocivo
daquele homem miserável, sem nem me importar em sujar as minhas
roupas com sangue.

— Ele está aqui...ele está atrás de você... — Lorenzo sussurra,


enquanto se contorce ao meu lado, tossindo e se afogando em sua própria
baba. — Eu posso ajudar...
Franzo o cenho e analiso aquele infeliz agonizando, sentindo um
calafrio percorrer a minha espinha, espalhando um arrepio enraizado por
todo o meu ventre, fazendo as minhas entranhas se revirarem e se
contorcerem. Balanço a cabeça em negação, me recusando a acreditar que
aquele monstro estava aqui, bem próximo a mim... e ele me queria... ele
sempre quis... aquele desgraçado queria me enlouquecer... queria me fazer
sofrer novamente...

Em um rompante de adrenalina, eu sinto o meu coração acelerar,


reverberando as suas batidas potentes em minha cabeça, me lembrando a
todo momento, que a cada minuto que se passava, menos tempo eu tinha
para encobrir os meus rastros. E movida pelo meu instinto, eu vasculho os
bolsos do paletó do verme que estava ao meu lado, apontando a arma
novamente para a sua cabeça, sabendo que ele não tinha condição alguma
de revidar.

— Se vo...cê atirar... você sa...be que não vai ter mais volta... —
Lorenzo fala em um fio de voz, com os seus lábios ressequidos e sem
nenhuma cor. — Giovanni jamais vai perdoá-la... você vai perdê-lo...
Suspiro pesadamente, ponderando e pesando as suas palavras, e pela
primeira vez, a ideia de perder o meu marido não me doeu tanto quanto
costumava doer, e provavelmente, essa sensação de vazio fosse
consequência daquele maldito teste de gravidez. Giovanni não era
totalmente honesto comigo, ele nunca foi... e isso era uma coisa recíproca,
ambos escondiam segredos, e não havia razões para eu falar sobre a Fênix,
sendo que ele transava com quem bem entendesse, sem nem ao menos, se
importar comigo.

Eu nunca fui muito boa com sentimentos, e talvez, eu esteja metendo


os pés pelas mãos, mas, eu nunca estive apaixonada antes, eu nunca deixei
um homem entrar em meu coração ferido e eu nunca senti metade das
coisas que ele foi capaz de me proporcionar. Esse furacão de sentimentos...
esse turbilhão de sensações... essa carência desmedida... são coisas
totalmente novas para mim, e essa gravidez repentina, foi como um choque
de realidade, que veio em forma de um tapa bem dado em minha cara,
como uma lembrança cruel de como eu fui uma tola! De como eu fui uma
completa idiota!

E essa era a mais pura verdade! Eu me apaixonei... eu me permiti ser


levada pela experiência e sagacidade do meu marido, e eu não me
arrependo! Mas como eu posso reagir diferente? Vendo o meu futuro ir por
água baixo por causa daquela vadia... e daquela criança que nem tem culpa
de estar envolvida nisso tudo! E mesmo que toda essa gravidez não passe de
uma farsa, ela era a confirmação nítida de que ele deu ousadia a ela, ou que
no mínimo, ele transou com ela! E eu simplesmente, não consigo ser fria
em relação a isso! Porque eu passei anos treinando para lutar e matar, mas
eu nunca me dediquei, a aprender e a controlar, a dor do amor.
— Eu já perdi pessoas mais importantes e continuo de pé, não acha? —
Respondo amargamente, fitando os seus olhos esmaecidos e já sem vida. —
Giovanni seria apenas mais uma dessas pessoas, que infelizmente, eu tive o
desprazer de enterrar junto com o meu passado! E caso ele se volte contra
mim, eu mato ele, da mesma maneira que eu vou fazer com você!

— Eu posso ajudar... se você me dei...xar ir... — Lorenzo tenta me


persuadir, mesmo com a sua voz já fraca e sem emoção. — Tenha pie...dade
de um velho...
— Pena? De você? — Falo e não consigo evitar um sorriso debochado,
me surpreendendo com a sua nova personalidade repentina. — A mesma
piedade que vocês tiveram comigo? Você tem noção do que está falando,
Lorenzo? Eu acho que você está delirando, seu desgraçado nojento! Como
eu posso ter piedade de um monstro!? Não tem como!

E assim que ele escuta as minhas palavras, o seu semblante abatido


muda, como se a sua última esperança de me fazer recuar se dissipasse no
ar, se desintegrando bem diante dos seus olhos mortos. Mas, de uma coisa
ele tinha razão, depois dessa noite, eu não seria mais a mesma, hoje seria
uma nova fase para a Fênix, uma nova era... onde eu não estava disposta a
perder mais tempo! Porque os meus alvos estavam em desvantagem, eles
alimentavam a ilusão de que eu continuo sendo aquela garotinha indefesa, e
isso, seria a sua maior ruína.

— Você não é uma assa...ssina, Serena! — Ele geme e se contorce em


volta da poça gigantesca de sangue que nos rodeava. — Eu sei que vo...cê
não é capaz...

— Você tem razão! Eu não sou uma assassina de sangue frio! —


Desabafo, fazendo uma cara de decepção, enquanto eu observo atentamente
o alívio tomar conta do seu olhar arregalado. — A Fênix é que é!
E no mesmo instante, eu sinto uma descarga de adrenalina percorrer as
minhas veias, eletrizando todas as minhas células. E em um reflexo de
autodefesa, eu coloco o meu antebraço na frente do meu rosto, para me
proteger dos respingos e dos pedaços encefálicos que iriam voar pelos ares,
e sem pensar duas vezes, eu aperto o gatilho, ouvindo apenas, o barulho
característico do estrago sendo feito no crânio do infeliz, rasgando e
espatifando tudo de dentro para fora, fazendo com que, pequenas partes do
seu corpo voem e colem em meu braço, espalhando uma quentura nojenta
em minha pele.

Com cautela, eu tiro o braço do meu rosto e observo o estrago


irreversível que estava bem diante de mim, havia sangue por toda parte,
inclusive em boa parte do meu vestido e da minha mão. Engulo em seco,
respirando pela boca para não sentir o cheiro excessivo de sangue fresco em
abundância, e para me proteger, do odor característico dos miolos
explodidos do homem. Faço uma careta de nojo, sentindo a ânsia voltar
com força, e isso era para lá de estranho, porque eu nunca fui tão sensível
assim.
Cubro a minha boca com a minha mão mais limpa, deixando a arma de
lado, para aplacar o bolo azedo de vômito que aumentava em minha
garganta. De certa forma, eu passei dos limites, o meu plano não era esse,
eu não precisava ser tão visceral, mas, as circunstâncias me levaram a isso,
a me deixar embebida e ensopada em resíduos pútridos do corpo de
Lorenzo. Ainda sem fôlego e enjoada, eu sacudo a minha mão com força,
tentando me livrar do excesso de pedaços moles e quentes, que estavam
grudados em meu braço.

Lorenzo já estava praticamente estirado no chão, tremendo e se


esvaindo em espasmos involuntários, perdendo para a luta avassaladora
contra a hemorragia severa, que fazia o seu corpo convulsionar, em uma
tentativa falha de mantê-lo vivo. Tentando controlar a minha própria
respiração, eu inspiro e expiro profundamente, passando a minha mão livre
pelo tecido melado do seu traje fino, buscando o seu aparelho celular, e
assim que eu sinto a frieza da tela do seu telefone, eu tiro o objeto da sua
roupa e destravo a tela, buscando entre os contatos salvos, o número do meu
marido.

Com pressa e com um pouco de dificuldade de digitar, por causa das


luvas sujas e escorregadias, eu digito o nome Campanaro na busca, e assim
que eu encontro o contato do Giovanni e do Luigi, eu abro a janela de
mensagens, deixando tudo preparado para enviar uma foto simultaneamente
para os seus aparelhos. Com tudo pronto, eu deixo o telefone de lado e
busco a minha bolsa no meio daquele caos, achando-a totalmente banhada
no líquido vermelho com o cheiro forte de ferro. Sem perder mais tempo, eu
pego uma das lindas e famosas penas negras e jogo em cima do cadáver,
bem próximo ao crânio explodido e irreconhecível do maldito traidor.

Rapidamente, eu tiro uma foto bem nítida da cena do crime e envio


para o meu querido Don Campanaro, encaminhando a mesma mensagem
para o meu cunhado, sabendo que assim que ele recebesse essa foto, ele
ficaria furioso, e provavelmente, essa cerimônia patética seria cancelada.
Aguardo por mais alguns segundos, apenas para ter a confirmação que as
mensagens já tinham chegado em seus aparelhos celulares, e assim que eu
percebo que Luigi visualizou primeiro, eu deixo o celular no chão e recolho
os meus pertences, deixando apenas a minha assinatura para trás.

Me levanto e seguro a pistola em minha mão, sentindo o peso do tecido


do vestido dobrar, por causa do sangue grosso que se destacava no tecido
azulado. Não tinha como eu passar despercebida assim, algum convidado
iria desconfiar, afinal, eu estava toda ensanguentada! Solto o ar que estava
em minha garganta e cravo o meu salto no aparelho que estava no chão,
pisando com toda a minha força, me certificando que ele estaria danificado
para qualquer futuro acesso.

— Saia do segundo andar! — A voz masculina do soldado que estava


responsável pelas câmeras chega até o ponto eletrônico em meu ouvido, me
deixando em estado de alerta máximo. — O seu marido e mais três homens
estão subindo as escadas, eles vão te alcançar, Serena.
Olho de relance para as minhas roupas, sentindo o meu coração bater e
pulsar em minha garganta, não tinha como eu passar despercebida ou como
me camuflar no meio daquelas pessoas do andar inferior, o meu disfarce
estava comprometido e eu estava sem saída. Eu precisava pensar rápido e
achar uma maneira de desaparecer, mas não tinha outro acesso ao salão
inferior se não fosse pela escadaria principal.

Movida pelo instinto de sobrevivência, eu guardo a arma em minha


cinta liga e atravesso o corredor a passos largos, chegando no grande espaço
central que ia de encontro aos homens e ao meu marido. Disfarço ao
máximo o meu jeito de andar, controlando a aflição que me atingia e que
fazia com que as minhas pernas bambeassem, espalhando um ritmo
frenético por toda a extensão dos meus músculos.

— Saia daí! — O homem repete em meu ouvido, com a voz afobada e


aflita. — Saia daí! Agora!
“ Eu estou cansada e eu não tenho mais sanidade para
suportar todo esse fardo sozinha, e muito menos,
suporto conviver com essa dor dilacerante a todo
instante. Eu preciso de você, porque você, é a parte que
me faltava para me sentir completa. ”

A garota do batom rosa.

A travesso o grande salão, chegando próximo ao guarda corpo que dava


visão ao andar inferior, controlando ao máximo, o barulho que os
meus saltos altos faziam no piso polido de mármore. Com cautela, eu me
aproximo e apoio os meus braços no parapeito, observando o pavimento de
baixo, e assim que visualizo a imagem do Giovanni no início da escada, o
meu sangue gela, ouriçando todos os pelos da minha pele e espalhando uma
sensação estranha por meu corpo.
De relance, eu vejo o meu marido passando ordens para os outros
homens, que prestavam bastante atenção nos seus comandos, enquanto
subiam os primeiros degraus da grande escadaria. Meu deus! Eu estava
perdida! Com rapidez, eu me agacho e me escondo atrás do guarda-corpo,
encostando as minhas costas na parede e agradecendo mentalmente por não
ter nenhuma brecha ou algum elemento vazado, que de alguma forma,
denunciasse a minha presença para quem estivesse subindo ou descendo as
escadas.

Sinto a frieza e a tensão se entranharem em minha barriga, me


deixando em estado de alerta máximo, me dando aquela maldita sensação,
que a qualquer momento, eu iria ser pega ou descoberta. Ouço o barulho
dos passos entonarem mais alto, indicando que eles estavam se
aproximando do topo da escada, e involuntariamente, eu prendo a minha
respiração, aguçando os meus sentidos por causa da adrenalina. Me encolho
um pouco mais no canto escuro, observando aquelas silhuetas fortes
atravessarem o salão com uma tranquilidade que me assombrava.
Engulo em seco, observando Giovanni e aqueles soldados andarem até
a porta de acesso aos corredores, com passos muito precisos e calculados.
Seguro a bolsa em minhas mãos com força, observando atentamente cada
movimento que o meu marido fazia, torcendo para ele não olhar para esse
canto do salão, porque se ele resolvesse virar o rosto, ele me veria, e aí, eu
estaria em uma situação bem complicada. Fecho os meus olhos e
simplesmente aguardo ser descoberta, apertando os meus dedos contra o
tecido macio da bolsa, até sentir a dureza dos meus músculos se dissipando
lentamente.

Tudo parecia passar em câmera lenta, os segundos que se sucederam


pareciam levar uma eternidade, e apesar de ter a certeza que eles passariam
e iriam de encontro ao corpo do Lorenzo, existia uma pequena parcela
dentro de mim, que temia que eles descobrissem sobre a Fênix. Ainda não
era o momento, e se eu fosse descoberta hoje, nessas circunstâncias,
Giovanni jamais me perdoaria, ele não iria aceitar um deslize como esse, ou
melhor, uma traição como essa. Bem devagar, eu abro os meus olhos,
observando o espaço completamente vazio, e como se um peso de mil
toneladas saísse das minhas costas, eu suspiro aliviada, sentindo o ar preso
sendo expelido pelos meus pulmões.

Toco o meu vestido e sinto o sangue fresco melar a minha mão. Meu
deus! Não tem como eu passar despercebida tão suja assim... não ia dar para
passar pelos convidados sem chamar atenção dos olhares curiosos para todo
esse sangue. Giovanni já está ciente que a Fênix está dentro do seu
território, e ele sabe também, que existe uma mínima chance do assassino
do Lorenzo ainda estar na cena do crime, ou seja, ele iria vasculhar os
rastros, e com isso, ele poderia facilmente chegar até mim. Eu preciso trocar
de roupa com a sósia, e ela teria que usar outro vestido reserva, porque esse
aqui, estava inutilizado, e quem tivesse o azar de ser pego com ele, estava
condenada a ser capturada e torturada.

Não era o que eu queria, e também, não era o que havíamos planejado,
mas teríamos que colocar o plano B em ação, porque não havia como eu
passar por aquelas pessoas lá embaixo, sem ser vista como a culpada da
morte daquele desgraçado. Aproveito a chance que eu tenho e retiro os
meus sapatos com pressa, sabendo que teria que correr feito uma louca
depois que todo o alvoroço estivesse se iniciado. Procuro o ponto de escuta
no meu ouvido e seguro o objeto pequeno em minha mão, para ter certeza,
que o homem que antes falava comigo, me escute com clareza e precisão.

— Plano B! — Sussurro, aproximando o aparelho bem rente aos meus


lábios, para não correr o risco de ter que aumentar o meu tom de voz e ser
descoberta de alguma maneira. — Eu estou autorizando o início do plano
B!

— Entendido! — O homem da voz rouca me responde de imediato, e


sem nem esperar qualquer outro comando, eu me levanto descalça e analiso
a entrada do corredor, me certificando que ninguém estava me ouvindo, e
muito menos, me vendo. — A sósia já está em posição, apenas aguardando
você para fazer a troca!

Me aproximo das escadas com cautela, deslizando e apoiando os meus


dedos cobertos pela luva, por toda a superfície gelada do guarda-corpo, e a
cada passada, ficava mais nítido as vozes dos homens se misturando com a
voz potente do Giovanni, naquela parte não muito afastada do segundo
andar. Umedeço os meus lábios, sentindo o meu estômago apertar de uma
maneira estranha, se contorcendo em um espasmo forte que me roubava o
ar, me deixando um pouco atordoada. Que diabos estava acontecendo
comigo? Engulo com dificuldade, sentindo uma coisa estranha se enraizar e
crescer em minha garganta, como se fosse um nó que me atrapalhava de
engolir a minha própria saliva.

Isso não é normal! E mesmo contra a vontade do meu corpo, eu me


forço a continuar, ignorando totalmente as sensações estranhas que estavam
me deixando nervosa e aflita. Com passos discretos, eu passo pela abertura
em formato de arco, que separava os ambientes distintos, e assim que vejo
que a área está limpa, eu desço os degraus correndo, segurando a barra do
meu vestido com a minha mão livre, para não cair e tropeçar no meio do
caminho.

Desço os degraus o mais rápido que posso, e assim que chego no


patamar que dividia os grandes lances da escada, eu escuto um barulho
estrondoso ecoar pela estrutura do teatro, e logo na sequência, uma gritaria
em uníssono começa, espalhando o pânico por toda a edificação antiga.
Continuo o meu percurso, sentindo ainda, uma vontade incontrolável de me
contorcer e colocar alguma coisa que não me caiu bem para fora do meu
organismo. Sinto uma nova onda de ânsia aplacar a minha vontade de
prosseguir com o plano, me fazendo parar no meio do caminho, apenas para
recuperar um pouco do meu fôlego.

Tinha algo errado comigo, eu não estava bem, eu estava me sentindo


realmente mal! Porra! Por que tinha que ser justo hoje? Sem nem saber ao
certo o que eu estava fazendo, eu chego ao primeiro andar, me deparando
com o caos total. Os convidados corriam desesperados, cada um indo para
um lado, tropeçando em coisas quebradas e estilhaçadas no chão, enquanto
um barulho desesperador de contínuos disparos de armas, ecoam de
maneira ensurdecedora ao fundo, fazendo com que uma nova onda de gritos
angustiados se inicie.
Corro no meio daquelas pessoas afobadas, me misturando no meio
daquela multidão caótica, seguindo na direção da porta do banheiro e
evitando ao máximo, colidir em algum convidado ou tropeçar em algum
objeto no chão. Olho de relance para as mesas e me assusto com o estrago
que a multidão havia feito, tinha garrafas jogadas no chão, cadeiras
quebradas, alguns vidros de decoração do próprio teatro espatifados e
totalmente destruídos no piso molhado, transformando o cenário da
cerimônia em um filme de terror.

Fazia parte do nosso plano causar o pânico entre os convidados, dessa


forma, todo mundo se mistura e ninguém se encontra com facilidade,
tornando a missão de encontrar o suspeito do crime, praticamente
impossível. Assim era fácil se livrar das provas que nos comprometiam,
como esse vestido que eu estava usando e a arma em minha cinta liga. Além
é claro, de facilitar a fuga dos meus homens, porque no meio de tantas
pessoas correndo envoltas em seu próprio desespero, criando um frenesi por
causa do tiroteio premeditado, era mais fácil despistar a atenção dos
guardas.
Sem muita dificuldade, eu atravesso a porta que dava acesso ao
banheiro, chegando na mesma antessala que eu havia brigado anteriormente
com aquela vadia infeliz. A sósia que só estava me esperando, já vestia
outro vestido igualzinho ao que era dela, e já tinha preparado e deixado
todas as minhas coisas em cima do sofá. Sem perder tempo, eu largo tudo
que eu estava segurando no acolchoado do móvel e retiro as luvas sujas das
minhas mãos, e assim que eu me livro da peruca e dos acessórios, eu
começo a me despir no automático, sem me importar de ficar
completamente nua na frente de Laura, que me olha estática com os seus
olhos assombrados.

— O que aconteceu!? Você está machucada? — Ela pergunta aflita,


visivelmente chocada com a quantidade de sangue que ensopava o tecido
azulado do vestido. — Porque o plano B, senhora!?

— Eu estou bem, o sangue é do desgraçado! — Respondo sem olhá-la,


terminando de colocar o meu vestido em meu corpo, ouvindo uma nova
onda de tiros e gritos ressonar em minha cabeça, me confundindo um
pouco. — Não perca tempo comigo, Laura! Mike passará todas as
informações para você e para os outros depois, eu já estou com telefone e
posso fazer contato com ele! Agora, você precisa sair daqui!

— Mas, e você!? — Ela insiste nervosa, colocando a peruca loira em


sua cabeça, enquanto eu me sento no sofá e começo a tirar os sapatos dos
meus pés doloridos. — O seu rosto está pálido! Você está sentindo alguma
coisa!?

— Eu não estou sentindo nada! Me escuta, Laura! — Minto


descaradamente, colocando os meus saltos e omitindo boa parte do que me
afligia, para não a deixar preocupada e para não causar alarde entre os meus
homens. — Suma com as provas e não deixe ninguém ver você, essa é a
chance de todos sumirem sem deixar rastros, não perca essa oportunidade!
Vai logo!

Laura hesita um pouco, mas logo ela compreende a seriedade e


importância das minhas ordens. Ela rapidamente recolhe tudo e sai pela
porta aflita, correndo e se misturando no meio daquele inferno barulhento.
Respiro fundo e termino de colocar os novos sapatos, me levantando de
maneira brusca para colocar os acessórios que faltavam para completar o
meu visual, e assim que eu termino de ficar de pé e endireitar a minha
coluna, eu sinto uma dor latente se enraizar em minha nuca, espalhando e se
irradiando até as minhas têmporas, me obrigando a me sentar novamente
para me recompor.
Bem devagar, eu coloco os malditos acessórios, sem fazer menção de
me levantar para não piorar a dor fina que se espalhava por toda a região da
minha cabeça. Termino de colocar o colar em meu pescoço e fecho os meus
olhos com força, soltando o ar bem devagar, inspirando e expirando,
concentrando-me em me manter calma, imaginando o ar enchendo os meus
pulmões para simplesmente ser expelido depois. Essa noite é um pesadelo
completo, só pode ser!

Abro os meus olhos, e sem querer, o meu olhar se prende nos pedaços
de vidro daquela taça de champanhe que a Mikaela me fez quebrar, e
involuntariamente, eu estremeço, sentindo o meu coração falhar uma batida
e o meu sangue gelar. Porra! Será que alguém me envenenou? Será que
aquela desgraçada colocou algo em minha taça, antes do garçom me
entregar? Com esse pensamento, a minha frequência cardíaca acelera,
fazendo as batidas baterem dolorosamente em meu peito, forçando a minha
caixa torácica a subir e a descer em uma agonia silenciosa.
Meu Deus! Não! Não! Isso não pode acontecer! Eu não posso morrer
agora, ainda mais estando tão perto dos meus objetivos... Meu corpo
amolece e eu sinto uma fraqueza generalizada percorrer todos os meus
músculos, espalhando o medo cru e real, temendo que aquele pensamento
se torne realidade, que eu morra envenenada por culpa daquela vadia
peçonhenta. O embrulho no meu estômago retorna, mas dessa vez, a ânsia
toma uma proporção diferente, e assim que o gosto amargo e enjoativo do
regurgito chega até a minha boca, uma nova onda involuntária se forma, me
forçando a engolir aquele bolo pesado que atravessava a minha garganta.

Sobressalto assustada com um novo estrondo do lado de fora, e guiada


pelo meu instinto, eu saio porta afora, sem nem saber para onde ir ou com
quem me encontrar... Mike? Giovanni? Deus! Se ela tivesse me envenenado
realmente, como eu ficaria? Ouço a gritaria se tornar mais potente e o
barulho infernal dos alarmes de incêndios ecoarem em minha cabeça,
intensificando a dor que eu já estava sentindo. Observo os convidados
correndo para todas as direções, alguns se atiram, outros desabam no chão,
enquanto poucos se escondem em algum móvel caído e quebrado no meio
do salão.
Os barulhos altos de disparos começam novamente, se juntando a
gritaria persistente e aos apitos enlouquecedores do sistema contra incêndio,
formando uma combinação de ruídos desesperadores, que atordoavam ainda
mais as pessoas. Os tiros começam a aumentar e a se tornar mais contínuos,
e a minha única reação é correr, e eu corro sem sentido, sem saber para
onde seguir. A adrenalina que antes me faltava retornou com toda força, me
fazendo correr para o outro lado do salão em busca de algum rosto
conhecido.
No meio da minha agonia, eu vejo alguns homens bem vestidos
atirarem em outros, mas não os reconheço, não são os meus homens,
porém, por causa da minha confusão mental, eu não tenho certeza... Meus
pensamentos começam a se embaralhar, colidindo dentro do meu cérebro,
criando uma briga entre a razão e a insanidade. Ainda correndo por reflexo,
eu sinto as minhas pernas reclamarem por causa dos saltos altos, sentindo
uma dor fina subir dos meus tornozelos até as minhas coxas, tentando me
impedir de continuar com o meu percurso árduo.

No próximo instante, tudo começa a se misturar... os sons... os gritos...


o alarme... as vozes desesperadas... os tiros... as pessoas... o chão... tudo ao
meu redor começa a rodar, ficando turvo e desconexo. Eu não quero passar
por isso! Eu não aguento mais! Eu já estou no meu limite! Minha mente
grita, implorando para que esse inferno acabe! Mas, antes que eu consiga
gritar, eu sinto um solavanco brusco se chocar contra o meu ombro, ao
mesmo tempo que os meus pés doloridos tropeçam em algo duro, me
fazendo desabar e cair sob alguma coisa no chão, que diminui o efeito do
impacto do meu tombo violento.

Olho para o que amorteceu a minha queda e seguro um grito abafado


de dor, vendo as minhas mãos espalmadas em um cadáver de um homem
jovem. Um grito sufocado arranha a minha garganta, quando eu visualizo o
rosto do homem se transformar no rosto do Benjamin. Eles mataram ele de
propósito... eles queriam me ferir... me enlouquecer... Por um momento, eu
sinto como se tudo dentro de mim desmoronasse, me afundando e me
sufocando nos escombros das lembranças do meu maldito passado, que
nunca iria me abandonar, e jamais, me deixaria seguir em frente.

Giovanni nunca iria me compreender, e muito menos, me aceitar,


porque ninguém é capaz de entender, a dor e o sentimento amargo que eu
carrego dentro de mim, e não é só em relação ao meu irmão, como também,
em relação a toda a minha vida fodida. Me afasto com muito esforço,
saindo de cima daquele corpo rígido com lentidão, sentindo o medo me
apavorar, me recordando de tudo, de todos os momentos ruins... cruéis... em
uma busca desesperada e frenética, por uma resposta digna... por uma
solução... ou qualquer coisa que justificasse o porquê de tanto sofrimento, e
porque razão, eu fui obrigada a passar por tudo aquilo?

— Wil...liam.... — Lorenzo sussurra com dificuldade, abrindo a boca


em um grito agudo, que morre antes mesmo de se iniciar. — William
Van...derwall... ele é um dos chefes...

Tudo mudou... as coisas perderam o rumo... eu estava apaixonada pelo


homem que eu deveria odiar, estava envolvida demais em um
relacionamento incomum, incerta sobre as minhas certezas, sem rumo e
sem direção. A minha ficha cai, me fazendo questionar toda a minha
trajetória, a minha vida foi uma grande mentira, rodeada de mistérios
obscuros, onde os homens que deveriam me proteger, se transformaram nos
próprios demônios, dispostos a me atirar no próprio inferno.

— Ele está aqui...ele está atrás de você... — Lorenzo sussurra,


enquanto se contorce ao meu lado, tossindo e se afogando em sua própria
baba. — Eu posso ajudar...

A dor atravessa o meu corpo com uma rapidez avassaladora, enquanto


tudo o que eu acredito ser, desmorona, bem diante dos meus olhos,
rodopiando o meu universo e destruindo as minhas convicções. Engulo a
minha própria saliva, sentindo dificuldade durante o processo por causa da
minha boca seca e amarga, como um maldito presságio de que esse gosto
estranho e corrosivo, me acompanharia por um longo tempo. A minha
cabeça dói e uma vertigem me atinge, trazendo aquela sensação de que
tinha algo muito errado acontecendo comigo.

A minha visão escurece e uma tontura forte embaça os meus sentidos,


calando os meus pensamentos contraditórios, amolecendo os meus
músculos tensos e me deixando completamente mole. Tento manter os meus
braços firmes no chão, mas eu me sinto zonza e atônita demais para
suportar o peso do meu corpo. Sinto as pálpebras pesadas e o zumbido alto
reverberar em meu ouvido, me deixando presa em uma sensação horrível,
de que a qualquer momento, eu vou desmaiar e apagar. E quando eu acho
que tudo está perdido, eu sinto mãos ásperas tocarem os meus ombros, me
fazendo encarar aqueles olhos verdes que eu tanto amava.

— Ele veio me buscar, ele veio atrás de mim! — Falo desesperada,


sentindo a minha voz falhar e as minhas mãos tremerem com mais
intensidade. — Não deixa ele tocar em mim, Giovanni, não deixa ele fazer
tudo aquilo comigo! Eu não vou aguentar passar por aquelas coisas
horríveis de novo, eu não aguento! Eu não estou me sentindo bem, eu estou
vendo tudo rodando! Ele me envenenou, ele me envenenou...

O meu marido me puxa com força para perto do seu corpo, me


colocando em seu colo com rapidez, e eu simplesmente, encosto a minha
cabeça em sua blusa, me permitindo ser amparada por ele, incapaz de lutar
contra qualquer mágoa que eu estivesse alimentando contra aquele homem.
Inalo o cheiro da sua camisa, sentindo o alívio imediato me preencher, e só
de saber que ele estava comigo, todos os meus músculos relaxam e eu
consigo respirar com facilidade outra vez.

— Se acalme, minha menina! Isso não vai fazer bem a você! — Ouço a
sua voz rouca próximo ao meu ouvido, sabendo que ele estava reclamando
dos tremores do meu corpo, que denunciavam o meu nervosismo e o meu
pavor de encontrar aquele infeliz novamente. — Acha que eu não monitorei
as bebidas que chegaram até você? Ninguém ousaria colocar nada em seu
champanhe. O que você está sentindo?

— Por favor... não deixa ele chegar perto de mim... eu tenho nojo...
repulsa das coisas asquerosas que ele fez comigo... da pessoa que ele me
transformou... — Insisto agoniada, envolvendo as minhas mãos em volta do
seu pescoço, sentindo os seus músculos fortes tencionarem à medida que eu
desabafava. — Eu não vou suportar ser violentada novamente, eu não tenho
mais psicológico para ser usada como eles faziam... eu não tenho mais
forças para lutar contra um estupro, eu não consigo... porque dói, dói na
minha alma, todos aqueles momentos... quando eles me drogavam... quando
aquele desgraçado me marcava como sua, sendo que eu era apenas uma
criança!

— Ninguém vai tocar em você! Nunca mais! — Giovanni rosna em um


tom transtornado, deixando transparecer em sua voz sombria o quanto ele
estava furioso com a minha confissão. — Pela primeira vez, eu percebi que
sou capaz de morrer para proteger você!

Pressiono o meu rosto em seu peito quente, ainda me sentindo tonta,


enquanto ele me leva para algum lugar longe de toda aquela confusão, que
eu nem faço questão de saber para onde é. Eu apenas queria sentir o calor
do seu corpo junto ao meu, me passando confiança e a certeza que tudo
ficaria bem. Suspiro um pouco mais calma, sabendo que a nossa noite seria
longa, e que assim que eu melhorasse, eu teria que contar toda a verdade
sobre os horrores do meu passado...
“ Por trás das máscaras, eu escondo as dores e o
sofrimento que vivem dentro de mim. ”

Honório Nunes.

E ncosto a minha nuca na parede do box e fecho os meus olhos com


força, sentindo o peso daquela noite interminável esmurrar as minhas
costas, me fazendo estremecer cada vez que uma maldita lembrança vinha à
tona. A água morna escorria por minha pele adormecida, levando consigo
todo aquele sangue grosso e os resquícios asquerosos desse dia miserável.
Os respingos pesados do chuveiro potente, ricocheteavam de uma maneira
que deveria ser dolorosa, os arranhões e os vergões recém-abertos em
minha carne, mas, eu não conseguia sentir nada... absolutamente nada...

Giovanni me trouxe de volta para casa junto com os seus homens, e eu


confesso, que o trajeto até a mansão foi apenas uma extensão daquele
inferno, no qual, eu estava estirada e inerte no chão. As imagens cruéis do
meu irmão sendo mutilado, do seu corpo já morto e sem vida, do seu
abdômen pequeno sendo aberto e dos seus órgãos sendo revirados por
algum desgraçado infeliz, me atormentavam e me feriam. Era como se a
minha mente estivesse me sabotando, me destruindo com esses flashes
assustadores e altamente nocivos.
— Acha mesmo que a gente desperdiçou a oportunidade de usar os
órgãos dele? — Lorenzo provoca, com a sua maldita voz rouca se
misturando com a sua gargalhada sádica, transformando o meu interior em
algo confuso, vazio e cheio de ódio. — Acha mesmo que o seu querido
irmão foi enterrado inteiro?

Coloco as mãos em meus cabelos e aperto os fios entre meus dedos,


querendo esquecer a voz daquele homem miserável, que insistia em me
assombrar. Me encolho no piso molhado, envolvendo e puxando as minhas
pernas com os meus braços, até encostar as minhas coxas em meu peito nu,
querendo espantar de alguma forma, os tremores involuntários dos meus
músculos exauridos. Sinto o meu estômago revolto se contrair, me forçando
a abrir a minha boca e mudar a minha posição rapidamente, para finalmente
colocar para fora, aquele bolo pesado que estava atravessando a minha
garganta e que me fazia mal. O meu corpo se contrai e se retesa com
violência, forçando uma onda sequencial de vômito amargo, que me
enfraquecia ainda mais.

O líquido azedo e a pouca coisa que eu havia comido antes de sair, é


expulsa a força do meu corpo, fazendo a minha respiração ficar ofegante e
entrecortada. Espero a última golfada sair e cuspo, tentando em vão, tirar o
gosto nojento da bile recém expelida da minha boca, que ficou impregnada
na minha língua e na minha saliva. Respiro fundo e sinto um calafrio
percorrer a minha espinha, e com muito esforço, eu volto a me sentar no
chão, querendo me recompor para não chamar a atenção do Giovanni, que
logo voltaria para o quarto. Mas assim que o cheiro azedo chega as minhas
narinas, uma nova ânsia se inicia, me obrigando a me contorcer novamente,
levando o meu estômago até o seu limite, forçando-o a expulsar até a minha
alma.
Demoro mais alguns longos segundos assim, até me certificar que só
saía saliva e um líquido transparente da minha boca, o que significava que
já não tinha mais nada no meu estômago irritado, e mesmo assim, a
sensação pesada permanecia. Eu estava péssima! Giovanni tinha me
garantido que ninguém colocou nada na minha bebida, então, eu me forço a
acreditar que esse mal-estar só poderia ser resultado do estresse acumulado
e da tensão desses últimos dias, e que logo, essa fraqueza iria passar.

Prendo a minha respiração e recupero um pouco do meu fôlego, me


forçando a levantar para terminar o meu banho e ir enfrentar os
questionamentos do meu marido. Lavo os meus cabelos e o meu corpo no
automático, completamente desnorteada, confusa e com a mente em outro
lugar. Com ele... com o meu irmãozinho... que não teve chance de se
defender... e que mesmo depois de morto, não tinha paz... porque ele
sempre estava comigo em pensamentos... e por causa da sua memória que
sempre era denegrida, por aqueles seres monstruosos e desalmados que nos
criaram...

— Quem você pensa que é, Serena? Você não passa de uma vadia
qualquer, igualzinha a vagabunda da sua mãe! — O meu pai grita comigo,
enquanto eu seguro as lágrimas que estavam presas a muito tempo, e que
agora, ardiam em meus olhos. — Mas você vai fazer algo por mim... vai
fazer em nome da nossa organização!

— Eu prefiro morrer! Você matou ela... — Respondo com amargura,


sentindo a raiva se enraizar dentro de mim, me consumindo aos poucos. —
Você matou ela na nossa frente, porque não me mata também? Acaba
comigo, exatamente como fez com ela!

A sua risada assustadora atravessa as barreiras do capuz preto que


estava sob o meu rosto, arrepiando todos os pelos do meu corpo e
espalhando o pânico por minhas entranhas, me deixando em estado de
alerta. Maxell é um monstro! Um doente! Escuto os seus passos precisos e
minuciosos fazerem um ruído característico, um som abafado de quando a
sola entra em contato com algo molhado, e não demora muito para eu
sentir as suas mãos grosseiras deslizarem suavemente pela pele exposta dos
meus braços.

— É realmente tentador essa sua proposta, querida filha! — Ele


sussurra, fazendo com que, as lufadas de ar quente do seu hálito asqueroso
batam bem rente ao meu pescoço, indicando a sua aproximação repentina.
— Eu adoraria acabar com essa sua insolência miserável!

E antes mesmo que eu consiga processar as suas palavras, eu sinto as


suas mãos apertarem a minha garganta, cravando os seus dedos violentos
na minha pele já machucada, pelos constantes dias aprisionada nesse
maldito lugar imundo. A força do seu aperto se une ao seu jeito bruto,
fazendo com que o meu corpo impulsione para trás, tencionando e puxando
as amarras que me prendiam e me forçavam a ficar de pé, mesmo que as
minhas pernas estivessem sem forças para suportar o meu peso.

Sem ar, eu solto um grunhido engasgado, me sufocando com a minha


própria baba, enquanto buscava oxigênio desesperadamente e tentava
respirar pelas pequenas brechas da minha garganta comprimida. Envolta
em minha agonia, eu puxo os meus pulsos esfolados para baixo, tentando
me desvencilhar do seu agarre forte, sentindo a dor crua da minha pele
solta esfregar na aspereza da corda, arrancando os pedaços moles e
afundando as fibras afiadas do cordão grosso na minha ferida em carne
viva, piorando o estado caótico dos meus pulsos.

A sua mão firme se afunda mais em minha garganta, me obrigando a


soltar um chiado agudo por minha goela afunilada, que espalha
instantaneamente uma dor latente por minha cabeça nublada, causada pela
demorada privação do oxigênio. Sinto os meus músculos amolecerem,
enquanto o meu pai explorava os limites dos meus pulmões falhos e
cansados. Sem forças e já sem vontade alguma de lutar, eu sorrio, achando
que enfim, ele acabaria comigo, e daria fim a esse inferno em vida que ele
me condenou a viver, me prendendo e me torturando.

Mas, quando eu acho que finalmente estava perto do fim, o ar retorna


com violência para dentro do meu sistema respiratório, invadindo sem
nenhum pudor a minha boca e nariz, me trazendo de volta a vida com uma
respiração afobada que expandia os meus pulmões em minha caixa
torácica, espalhando uma ardência dilacerante por minhas costas.
Involuntariamente, eu começo a tossir, buscando o ar que ainda era
escasso por causa do capuz que estava preso em minha cabeça, me
forçando a ver tudo escuro, me impedindo de saber se era dia ou noite, me
deixando no ápice da loucura e da insanidade.

— Serena... Serena... — Maxell sussurra suavemente, e mesmo sem


fitar os seus olhos gélidos e cruéis, eu sei que ele está sorrindo, pela
simples maneira de pronunciar o meu nome. — Ele vem visitar você hoje à
noite... e posso garantir, que você vai ter uma longa noite pela frente,
filhinha!

Solto o ar em desespero, sabendo que o que ele dizia era verdade,


sentindo as lágrimas salgadas já beirarem as minhas bochechas, em um
soluço preso e entalado. Me forço a dispersar os meus pensamentos
desesperados, me distraindo e ignorando a sua mão quente e peluda, que
tocava sem nenhum pudor, a minha pele sensível, explorando a parte do
meu corpo que estava exposta. Sabendo da minha tática sagaz de focar a
minha atenção em outra coisa, Maxell desliza os seus dedos ásperos por
meu pescoço, descendo lentamente até o bico de um dos meus seios,
circulando-o por cima da minha blusa, apertando-o com precisão para me
fazer gemer angustiada.

E como nada era o suficiente para aquele monstro, ele aperta com
mais violência, forçando-o até ficar intumescido de dor. Soluço, sabendo
que se eu chorasse seria pior... muito pior... ciente que se eu esboçasse
qualquer reação, as coisas tomariam outro rumo e outra proporção... que
ele não só iria me bater com toda a sua vontade de acabar com a minha
raça, como também, ele me espancaria e iria me torturar, e as
consequências eram inevitáveis, onde eu ficaria de cama por dias a fio...

O pior não era apagar... era passar pelas mãos daquele médico de
novo... Não! Não! Não! Eu não queria passar por aqueles exames invasivos
de novo... onde outro homem me explorava com a justificativa de me
medicar... com o pretexto que iria curar as minhas feridas, quando na
verdade, ele iria criar outras... outras muito piores... e irreversíveis!
Prendo a minha respiração e sufoco o meu sofrimento velado, tentando
controlar a minha vontade de gritar e de chorar, de colocar para fora todo
o meu sofrimento, que era sempre calado e sufocado, crescendo dentro de
mim como uma bomba relógio prestes a me destruir por dentro.

— É assim que eu quero você, sua vadia ordinária! — Ele rosna com
raiva, repetindo o seu movimento asqueroso em meu outro seio, como se
estivesse enraivado por meu autocontrole. — Eu não quero ouvir nenhum
resmungo seu, sua miserável! Você já deveria estar acostumada, porque já
está treinada para foder! Se você aceitar o seu destino de bom grado e
cumprir as exigências do Will sem relutar, todo esse sofrimento acaba!
Pense bem, não é tão difícil dar prazer a um homem, ainda mais,
carregando em seu sangue o gene de vadia da sua mãe.
— Eu tenho nojo de vocês! Nojo... — Respondo agoniada, sentindo as
lágrimas escorrerem por meu rosto e serem absorvidas pelo pano grosso do
capuz que cobria a minha face. — Eu nunca vou aceitar... nunca!

— Psiii! Fique calma! — Maxell debocha, beliscando o meu mamilo


com mais força, espremendo até me fazer gemer de dor. — Essa decisão é
inteiramente sua! É você que escolhe se é do jeito fácil ou do difícil!

Lixo, eu sou um lixo! Essa é a sensação doentia que eu sinto crescer


em meu peito, que eu não tenho valor algum... que não sou digna nem para
ter um pouco de paz e sossego... porque eu sou um farrapo humano! Algo
descartável... que foi destruído e explorado até não sobrar nada... uma
menina que foi usada até a exaustão... condenada a implorar pelo conforto
da morte nos pés daqueles homens sádicos e cruéis. Mordo o meu lábio
inferior, tentando segurar aquele sentimento desesperador de impotência
que crescia em meu peito, sufocando-me como se mãos fortes me
subjugassem.

Eu estava amarrada como um animal prestes a ser morto, com fome e


com sede, como se fosse uma cobaia em estudo... apenas para saberem até
que ponto, o meu corpo e a minha mente suportaria! E assim que eles
alcançassem o meu limite, eles parariam e me deixariam descansar, apenas
para alimentar a minha esperança... me deixando acreditar que eu poderia
escapar dessa vida medíocre e tóxica, uma vida que nunca foi inteiramente
minha! E assim que eu estivesse mais forte, eles começariam tudo de novo e
de novo, até o meu corpo perder para a completa exaustão.

Me contorço enraivada, sentindo os seus dedos asquerosos deslizarem


por minha barriga e alcançarem rapidamente o cós da minha calça suja.
Engulo em seco, sabendo muito bem onde isso iria acabar, e antes que eu
consiga raciocinar, ele abre os botões e desce a peça grossa até o pano
alcançar os meus tornozelos, espalhando uma frieza nas minhas coxas
nuas. Fecho os meus olhos em vão, sabendo que não há diferença alguma
entre abri-los e fechá-los, por que o pano preto tapa o meu rosto, mas o
meu gesto é mais por vergonha... por não acreditar nas atrocidades
horrendas que o meu próprio pai é capaz de fazer comigo.

— Me sol...ta... Por favor... — Sussurro em um fio de voz, sentindo as


suas mãos impiedosas tocarem a minha calcinha, arrastando suavemente,
em uma tortura lenta e dilacerante, o tecido pequeno para o lado, expondo
a minha intimidade para o seu deleite. — Me solta...

E antes que eu termine de implorar, eu sinto o impacto de um tapa


violento atingir a minha face, e mesmo com o pano amortecendo o efeito do
golpe, o gosto ferroso de sangue fresco se espalha por meus lábios
rachados, indicando que ele partiu a minha boca. Sufoco um choro
desesperado, sabendo que o meu fim estava muito longe, e se eu
fraquejasse agora, ele iria me violar ainda mais... me destruir com mais
lentidão... porque era assim que ele gostava de fazer... ele sentia prazer em
se alimentar da minha dor... da minha agonia!

— CALA A BOCA! SUA VADIA! — Ele berra próximo ao meu ouvido


sensível, me fazendo estremecer com a potência e com a força da sua voz
alterada. — CALA A PORRA DA BOCA, SERENA! PORQUE SE NÃO, O
GAROTO VAI SOFRER AS CONSEQUÊNCIAS DOS SEUS ATOS
COVARDES!

Soluço aflita, sabendo que ele não estava brincando, e que apesar do
Benjamin ser o seu sucessor, ele não hesitaria em machucá-lo só para me
ferir ainda mais. Estremeço e começo a sentir os efeitos do choro entalado
e contido em minhas entranhas, e sem ter controle do meu corpo, eu
desmancho, em um choro agoniante e torturante. Eles podiam fazer tudo
isso comigo, mas com ele não... ele não merece sofrer tanto... ele não vai
suportar... ele é só uma criança indefesa, que não sabe a má sorte que teve
em ter nascido nessa maldita família.

O Benjamin é tudo o que me restou, ele é tudo o que eu tenho... e é ele,


que me mantém sã... ele me dá forças e me impede de enlouquecer de vez,
suportando o peso e as coisas insensatas da minha mente fodida e
adulterada. Mesmo que seja inconscientemente, o meu irmão é tudo o que
eu preciso, e sem ele... eu não sou nada! Eu devo a minha vida ao Ben, por
ele ter me mantido de pé todos esses anos e por ter me mostrado o amor... e
eu estou disposta a tudo para defendê-lo, até me sacrificar... me condenar e
me submeter a esses seres imundos... por que é isso que o amor faz, não é?
Faz as pessoas cometerem loucuras, em nome de um sentimento muito
maior... muito mais bonito, que transcende qualquer outro.
— O garoto... o garoto é chave para o seu fracasso, sua desgraçada!
— Ele diz, enquanto o seu dedo longo toca a pele nua da minha intimidade
exposta, fazendo com que um calafrio amedrontador percorra a minha
espinha e uma vontade de vomitar me atinja. — O Benjamin vai ser o
incentivo perfeito para que você faça tudo o que eu quero e tudo o que eu
mandar, sua imprestável!

Com a alma espatifada em milhões de pedaços, eu faço que sim com a


cabeça, afirmando as suas palavras nocivas com um aceno silencioso. E
sem aviso, o seu dedo me invade um pouco mais, me fazendo chorar e
despejar da maneira mais silenciosa possível, a dor que estava apunhalada
e empalada em meu coração. Eu achei que estava no fundo do poço, eu
acreditei que já tinha passado por tudo... mas eu nunca estive tão
enganada... o fundo daquele poço não estava perto, muito pelo contrário,
ele era infinito e eu estava sendo engolida por um buraco sem fim,
condenada a morrer em uma queda constante e duradoura.

— Isso mesmo! Boa garota... — A sua voz rouca e distante ecoa em


minha cabeça vazia, me lembrando a todo instante, da minha triste
realidade, enquanto o meu pai me tocava livremente, me violentando e me
destruindo de várias outras maneiras. — Acho que ele vai gostar de foder
você amarrada, assim é mais fácil ter controle da sua personalidade
horrorosa! Eu não quero usar mais drogas em você, eu quero você bem
lúcida e consciente, para se lembrar de cada mínimo detalhe dessa noite.
Me contorço e sinto a dor dos meus pulsos me lembrarem do meu
estado caótico e degradante. Eu queria implorar para que tudo aquilo
acabasse de uma vez por todas, ou que ao menos, ele me torturasse de uma
outra maneira, de uma forma menos íntima... Eu preferia mil vezes, que ele
me batesse, que ele me cortasse, ou até mesmo, que enfiasse uma faca em
minha carne, porque essas torturas eram menos dolorosas do que os seus
toques nojentos... Era devastador ser obrigada a aceitar tudo isso... vendo
e sentindo o meu desespero se juntar e crescer dentro do meu interior, se
expandindo aos poucos, em algo incontrolável... em uma agonia
silenciosa.

— Ele vai tocar e fazer o que quiser com o seu corpo, e você, não vai
fazer nada! Porque se eu ouvir uma reclamação... o garoto morre! — Ele
ameaça, deixando toda a sua maldade transparecer em seu tom de voz frio
e cortante. — Eu quero que essa sua mente perturbada se lembre do quão
delicioso foi violar essa bunda gostosa e deliciosa.

E tudo o que aquele miserável disse... aconteceu! Eu continuei presa e


inerte até o momento que eles decidiram que era o suficiente... e cada
maldito detalhe ficou gravado em mim... assim como o Maxell havia
prometido. Eu me lembro de tudo! Das risadas... dos gemidos... do cheiro...
das palavras sujas... da dor insuportável que as investidas fortes e
impiedosas do Will me causaram... Fecho os meus olhos e cuspo a espuma
da pasta de dente que estava em minha boca, finalizando esse movimento
da mesma maneira robótica que eu penteei os meus cabelos e enrolei a
toalha em volta do meu corpo magro.

Sigo para o closet, incapaz de continuar aquela linha tortuosa de


pensamento... com medo de colocar tudo para fora... com receio de me abrir
e nunca mais conseguir calar e trancafiar os meus demônios em algum lugar
isolado dentro de mim. Eu já passei por muita coisa... eu tenho uma
bagagem gigantesca de sofrimento que é só minha, e que não é fácil de
conter... mas de alguma maneira, que eu não sei explicar, eu aprendi a
controlar essa dor insistente que me rasga de dentro para fora.

Visto uma calcinha e escolho a primeira roupa que estava na minha


frente, um vestido qualquer que estava na gaveta, uma peça solta e leve que
eu não escolhi e que nem fazia o meu estilo. Mike tem razão, as minhas
roupas já dizem a quem eu pertenço! Por isso... eu tinha medo de
compartilhar todo o meu passado, porque assim que eu o fizesse, ele iria ter
acesso a tudo o que eu sou... e não tinha como voltar atrás!
Involuntariamente, eu estremeço, me sentindo devastada e confusa demais
para raciocinar direito.

Apoio as minhas mãos na peça de madeira e respiro fundo, querendo


estabilizar o tornado violento que pairava na minha cabeça e que trazia
aquela dor profunda de volta, aquela dor forte e absurda, me fazendo me
questionar como eu ainda estava de pé... resistindo a tudo aquilo... Aperto o
móvel e sinto um ligeiro incômodo nas palmas das minhas mãos, me
lembrando que eu tinha me cortado durante a conversa com aquela
miserável, e que eu deveria ao menos, sentir o ardor dos meus ferimentos,
mas ao invés disso, eu não sentia nada! Parecia que nem era eu que habitava
aquele corpo vazio...

Me sobressalto assustada, sentindo o peso de uma mão quente tocar o


meu ombro frio, e por reflexo, eu recuo, me afastando do toque invasivo do
meu marido. Eu não tive coragem de olhar em seus olhos imediatamente,
porque eu não tenho certeza, se tenho força o suficiente...para ver refletido
em seu olhar esverdeado, o sentimento de pena! O mesmo olhar pesado que
a minha mãe me lançava quando vinha me ajudar a me limpar, depois que
eles terminavam o serviço... Era um momento delicado, e apesar de já ter
compartilhado com ele a minha agonia, eu queria ficar sozinha, porque eu
não queria falar em voz alta e confirmar todos os meus pesadelos...
— Serena? — Giovanni me chama com a sua voz grave e tenta se
aproximar novamente, e de novo, eu me afasto, abraçando o meu próprio
corpo com os meus braços arranhados. — Eu não posso ajudar você se você
não me deixar entrar! Eu sempre deixei bem claro, que eu não quero e não
vou forçá-la a nada, e que apesar de ir contra a porra da minha natureza, eu
respeito o seu espaço!

Escuto as suas palavras, ainda me mantendo afastada da sua presença,


pensando em como eu deveria reagir diante daquela situação, e sem saber
ao certo o que fazer... enquanto a dor se encarregava de me sufocar e me
engolir, me atirando em uma escuridão sufocante, que me deixava cada vez
mais, sem escapatória. A essa altura, o meu raciocínio estava
completamente louco, e eu não sabia distinguir o que era certo e o que era
errado, eu apenas queria esquecer... apagar tudo o que me rodeava, das
pessoas que atravessavam o meu caminho, e até, esse maldito casamento.
— Há quanto tempo você tem se sentido assim? — Giovanni insiste em
me perguntar, se referindo as minhas náuseas e a tontura repentina que eu
senti durante a festa. — Me responda!

— Eu não sei! — Falo com mágoa e sinceridade, sentindo o peso da


sua falsa preocupação se acumular em minhas costas, e em rompante de
coragem, eu me viro e fito os seus olhos claros. — Talvez, desde o
momento que uma de suas amantes veio jogar na minha cara, a sua relação
com ela, além é claro, de debochar do nosso casamento com um teste de
gravidez!

Lágrimas indesejáveis surgem em meus olhos, enquanto eu vejo um


vinco se formar em sua testa e o seu olhar se transformar em algo sombrio e
confuso, indicando a sua surpresa. Limpo as minhas bochechas com as
costas da minha mão, esfregando com raiva a pele molhada do meu rosto, e
sem esperar qualquer explicação sua e sem aguentar mais o peso daquele
silêncio, eu saio do quarto às pressas. Desço a escada com rapidez, porque
esse foi a único comando que o meu subconsciente conseguiu fazer, e logo,
eu atravesso a porta do seu escritório, batendo-a em seguida atrás do meu
corpo, ciente que ele iria me alcançar em breve. Mas, até isso acontecer, era
o tempo que eu precisava... o tempo que eu necessitava para digerir tudo
aquilo... e para ficar longe dele.
“ Eu estaria mentindo para mim mesmo, se eu dissesse
que a sua dor não me machuca…”

A garota do batom rosa.

L inda, orgulhosa e corajosa, mas completamente destruída por dentro!


Era assim que eu enxergava a minha esposa, e infelizmente, não havia
muita coisa a ser feita em relação a isso, o que ela passou não vai ser
apagado da sua memória, assim como a sua inocência roubada não vai ser
devolvida. Fecho os meus punhos, sentindo o meu desejo desenfreado de
matar reverberar em meu sangue quente. Não havia nada a ser feito, a não
ser, matar e torturar cada um desses vermes miseráveis, era o que Serena
precisava para ter um pouco de paz, e eu pessoalmente já estava
providenciando isso! Cada um desses filhos da puta iria se arrepender
amargamente por terem ousado tocar nela.

Aproveito um pouco do silêncio do quarto de hóspedes para tomar um


bom banho quente, eu precisava me limpar de toda a sujeira dessa noite
repugnante, como também, eu gostaria de relaxar os meus músculos que
estavam tensos e rígidos. Confesso que eu me decepcionei com Serena, eu
esperava que tomássemos essa ducha juntos, mas, ela implorou por um
pouco de espaço, dizendo que conseguia fazer isso sozinha e que não
precisava da minha ajuda.

É obvio, que eu não acreditei em nenhuma palavra que saiu da sua boca
deliciosa, mas achei prudente respeitar o seu espaço, até porque, ela insistiu
que já estava melhor e que o enjoo já tinha passado, o que era desmentido
pelo seu semblante abatido e pálido, característico de uma pessoa que não
estava se sentindo bem. Mas mesmo contra a minha vontade, eu dei esse
voto de confiança a minha esposa, eu sei que não é fácil para ela se abrir,
afinal, eu conheço muito bem as suas inseguranças. Serena acha que eu vou
sentir nojo do seu corpo depois que ela me confessar toda a verdade, e não
tem como esse pensamento ser mais do que equivocado!

Com paciência e querendo dar a ela o tempo necessário para se


recompor, eu tiro toda a minha roupa ensanguentada, colocando o smoking
caro e de grife em cima da pia, sentindo o seu perfume suave se sobressair
ao cheiro inóspito do sangue fresco. Eu estava realmente fodido com essa
mulher, além de ser teimosa ao extremo, ela era geniosa e sabia muito bem
como dobrar a minha fúria. Suspiro pesadamente, me lembrando das suas
mãos feridas e dos arranhões profundos em sua pele clara, sentindo a raiva
me consumir e o meu sangue borbulhar, Serena estava tão desnorteada que
nem estava sentindo os machucados. Eu imagino que não seja fácil para ela
confessar tudo o que passou, mas de hoje, ela não me escapa! Essa conversa
está fadada a acontecer! E apesar da sua relutância, ela vai ter que se abrir
comigo.

Depois de receber aquela maldita foto onde o desgraçado do Lorenzo


estava visivelmente abatido, as coisas e os acontecimentos que se
sucederam fugiram do controle, confirmando todo as minhas suspeitas. Os
infiltrados começaram uma confusão premeditada, e apesar de não estarem
com armamento pesado, o que se sucedeu posteriormente, foi uma
retaliação em massa. Existia dois grupos distintos... o assassino por
assinatura que usava o codinome Fênix liderava um deles, e o outro, era
comandado pelo desgraçado da máfia americana, um velho substituto do
Maxell que não escondia as suas raízes apodrecidas.

William era um invasor em meu território, um verme igual ao seu


antigo líder, uma cobra que serpenteava sem deixar rastros e que adorava
me desafiar, descumprindo ordens bem claras do que era e o que não era
permitido em nosso sistema. O desgraçado russo que antes estava liderando
a máfia nos Estados Unidos, já tinha sido abatido, Anthony Vanko não só
invadiu o meu apartamento, como também, feriu a minha mulher, ousou
tocar abertamente em Serena e quase me fez perdê-la. Nada de bom vem
daquele antro de cobras, e já está mais do que na hora, de fazer uma boa
limpeza naquela corja miserável.

Serena me pediu uma prova dos meus sentimentos, e eu não sou


ingênuo, eu sei que ela espera ouvir da minha boca, que eu a amo, mas
como eu posso externar um sentimento que eu nunca aprendi e fui treinado
arduamente para não sentir? Não havia como! E apesar de lutar contra isso,
eu tenho que admitir que ela é o meu único elo fraco. A minha menina era
perfeita, e apesar do seu passado destrutivo, ela foi forte o suficiente para
dar a volta por cima, para no final, vim até mim em busca de vingança, e
isso, era ainda mais surpreendente. É verdade que a minha esposa tinha
algumas pequenas falhas em sua personalidade, como os gatilhos e os
ataques de desespero que eu já havia presenciado, mas eu estou disposto a
ajuda-la com isso, nada que um bom treinamento não ajude a amenizar as
suas lembranças dolorosas e indesejáveis.
Serena me agrada em todos os sentidos, apesar de me deixar louco com
a sua insolência e com o seu atrevimento, eu estou satisfeito com a minha
escolha e com a mulher que divide a cama comigo. Apesar de eu nunca ter
me interessado por um relacionamento monogâmico, as fodas de uma única
noite já não estavam mais me satisfazendo como de costume, e tudo isso se
juntava, com a insistência das vadias por uma formalização de um
relacionamento onde eu apenas visava me satisfazer sexualmente. E isso era
algo intolerável e completamente fora da minha realidade!

Serena é a minha mulher em toda a extensão da palavra, e nenhum


maldito miserável que ousou machucá-la, iria ficar vivo e andando sobre a
terra. Por que agora as coisas eram bem diferentes... se antes ela não tinha
ninguém para protegê-la, agora, ela tinha a mim e um clã inteiro disposto a
matar quem quer que seja por ela. Já estava na hora da minha esposa sentir
o sabor da sua vingança, e não há nada mais satisfatório, do que ver os seus
planos cruéis se concretizando contra todos aqueles que causaram o seu
mal. E eu vou garantir pessoalmente, que cada maldito verme sofra
lentamente... com as piores e mais criativas torturas possíveis.

O William não poderia ter chegado em momento mais oportuno ao


poder, porque assim que chegássemos em território americano, a minha
mulher tomaria o seu lugar de direito, a única herdeira viva daquele maldito
lugar ia tomar a sua posição de líder, sob as minhas ordens e sob toda a
minha proteção. E quem ousar questionar a sua legítima liderança, vai ser
executado junto com todos os insubordinados e com todos os vermes
traidores. E o infeliz do William ia ser o primeiro deles... por ter invadido o
meu território sem pedir autorização, e por ser o principal suspeito de
conspirar e agir junto com o desgraçado do Maxell, compactuando e
colaborando com as más intenções do filho da puta contra a minha esposa.
Nenhum líder de outra máfia pode chegar em território comandado por
outra organização sem antes pedir licença, a não ser é claro, que seja o Don,
somente eu tenho esse livre arbítrio, afinal, eu estou no comando de tudo! E
a sua presença hoje à noite, não me agrada em absolutamente nada, para
não dizer, que me incomoda bastante. Como de costume, o desgraçado das
penas negras desapareceu sem deixar rastros, e devo confessar, que dessa
vez, ele fugiu dos padrões... ele não veio sozinho, o assassino de assinatura
trouxe e colocou, uma equipe inteira em campo.

Um grupo bem perspicaz e com um número desconhecido de


participantes, mas, todos eles seguiram o plano esquematizado com
maestria, escapando no meio do fogo cruzado sem deixar nenhuma pista
para trás. Eles tiveram acesso direto as câmeras de segurança e boicotaram
todas as imagens que poderiam denunciar a presença do seu líder
misterioso, apagaram os vídeos salvos e limparam tudo! Um belíssimo
serviço, se não fosse a pequena falha na equipe encarregada pelo disfarce,
uma mulher de peruca que estava tão desnorteada e confusa, que acabou
sendo ferida e abatida no meio da correria.

Realmente, a sua morte era uma pena, ela poderia ser muito útil para
passar informações confidenciais e revelar quais eram as reais intenções do
seu líder em meu território. Além da mulher de peruca loira, muitas outras
pessoas morreram no meio do fogo cruzado, muitos convidados e membros
da Camorra estavam entre os mortos, mas, a maior parte, eram invasores
americanos sob o comando do desgraçado do William. Por ordens diretas, a
maioria dos seus soldados foram executados no combate, sem pena e sem
piedade. Eu não quero interrogatórios e não quero perder o meu tempo com
homens cumprindo meras ordens, agora, é hora de matar... eles já foram
longe de mais, se infiltrando em minha área e ousando me desafiar
diretamente.
O teatro virou uma verdadeira chacina, repleto de corpos, sangue e
cartuchos de diversos calibres de bala, obviamente, de armamentos
diferenciados, tanto de armas leves, como pistolas e revolveres, como
também, havia munição de fuzis de elite. Parecia um cenário de guerra,
havia corpos estirados por todo o salão, homens e mulheres agonizando e se
arrastando por toda parte, enquanto os barulhos característicos dos tiros
cortavam o ar e ecoavam ao longe, se juntando aos sons guturais dos gritos
e gemidos de dor, formando uma verdadeira melodia harmoniosa, que me
agradava muito.

Havia americanos distribuídos e jogados por vários lugares, era como


se eles fossem uma maldita infestação de ratos, e sem sombra de dúvidas,
esse acontecimento inusitado iria chegar até os jornais. Provavelmente, a
Camorra seria taxada como a responsável pelos atos hediondos e
inescrupulosos, e o governo como de costume, negaria o seu envolvimento
e qualquer relação com a nossa organização. E já que a culpa recairia sobre
nós, que seja um serviço digno da máfia, um abate de elite e com o maior
número de inimigos subjugados e derrotados.

Assim que eu terminei de eliminar alguns miseráveis que atravessavam


o meu caminho, eu escorei as minhas mãos sujas de sangue no guarda corpo
do andar superior, e olhei para o pavimento de baixo, e toda a minha ideia
de retaliação morreu ali, quando a vi caída e atordoada no meio de toda
aquela porra. Serena não tem noção da sua importância em minha vida, e
eu nem sequer pensei nas consequências de ter ido até o seu encontro, me
expondo e colocando a minha vida em risco, somente para salvá-la. Eu não
hesitei, e muito menos, eu faria diferente, ela é a única pessoa que merece a
minha inteira proteção, e só de cogitar a ideia de perdê-la, eu sinto uma
frieza incontrolável preencher o meu corpo, criando e alimentando um ser
incontido e selvagem dentro de mim.
Depois que peguei Serena no colo e me certifiquei que ela não estava
com nenhum ferimento, eu passei ordens diretas ao meu chefe de soldados,
para ele repassar para todos os meus homens que estavam em campo. A
limpeza no teatro era dispensável, o estrago já estava feito, e nesse
momento, eu não fazia questão de abafar as notícias, muito pelo contrário,
seria muito proveitoso que esse massacre se espalhasse para todas as outras
máfias ao redor do mundo, assim, eles estariam avisados que no meu
território ninguém entra.

A minha fama precisa correr... e nada mais justo do que associar o meu
nome a esse incidente em específico, onde americanos foram abatidos em
um evento social realizado em um espaço de conhecimento público. Sem
cogitar a ideia de permanecer ali por mais tempo, eu deixei tudo para trás e
segui direto para a minha casa. Serena passou o caminho inteiro em meu
colo, repetindo que não estava se sentindo bem e me pedindo
incansavelmente, que não deixasse aquele verme encostar nela novamente,
o que me fazia acreditar, que talvez, houvesse a possibilidade de ela ter
visto aquele desgraçado hoje à noite.
Solto o ar que estava preso em minha garganta, sentindo a sua pele fria
contrastar com a minha, ela não estava bem e isso era evidente. Serena tinha
gatilhos emocionais fortíssimos, que desencadeavam nela um descontrole
generalizado, e apesar dela ser muito forte e de tentar esconder esses
sentimentos contidos, ela precisava de ajuda para aprender a controlar o seu
psicológico. Passo as mãos em seus cabelos, tirando os fios lisos do seu
rosto e acaricio o seu couro cabeludo suavemente, observando a sua beleza
singela se sobressair, mesmo ela estando em um momento tão vulnerável.

O seu corpo apesar de ainda estar meio trêmulo, estava bem mais
relaxado, os seus músculos estavam bem menos retesados, enquanto os seus
braços finos envolviam a minha cintura e o seu rosto repousava em meu
peito. Quando eu a encontrei, Serena estava tão confusa e envolta em seu
sofrimento, que não tinha noção do que falava, ela afirmava com uma
certeza absurda, que tinha sido envenenada e que estava sentindo os efeitos
colaterais de alguma substância tóxica, dizendo que estava tonta e com
náuseas. E logo depois, ela começou a se abrir... confessando entre as
palavras desconexas que tinha sido estuprada e abusada, enquanto tremia
em meu colo, totalmente alterada e presa em seu sofrimento.

É óbvio, que eu sabia que ela tinha sido violentada, antes mesmo de ter
acesso aos documentos, eu já desconfiava que havia algo errado com a
minha esposa, por causa das suas cicatrizes. A convivência também
denunciava essa parte obscura da sua personalidade arredia, mas, ter a
confirmação das minhas suspeitas por um relato desesperado de uma pessoa
presa em uma dor tão crua e tão avassaladora, era bem diferente. E de certa
forma, o seu sofrimento era meu também, e vê-la tão agoniada, me deixava
completamente louco e com sede de descontar a minha raiva no primeiro
filho da puta que aparecesse.
Termino de tomar banho e enrolo uma toalha em minha cintura,
seguindo na direção do nosso quarto, querendo ver se a minha esposa já
tinha terminado de se arrumar, e se estava pelo menos, mais tranquila. Mas,
assim que eu atravesso a porta do cômodo, eu escuto o som característico
de quem está vomitando, já sabendo muito bem, do que se tratava os
barulhos. Serena não tinha sido envenenada, e disso, eu tenho plena certeza,
então, eu sigo para o closet, querendo respeitar o seu tempo e optando por
me manter afastado.

Estávamos transando sem proteção há alguns dias, mas, antes de


fazemos sexo pela primeira vez, as nossas brincadeiras já aconteciam sem o
uso do preservativo, e até onde eu sei, ela não estava tomando nenhuma
medicação para controlar uma futura gestação. Sinto o esboço de um sorriso
aparecer em meu rosto com o pensamento de Serena carregando um filho
meu, é verdade que nunca conversamos sobre esse assunto, mas um filho,
de certa forma, colocaria as coisas em seus devidos lugares. Porém, eu não
sei se seria o momento adequado, por conta de toda a sua insegurança e do
seu emocional abalado.

Eu nem sequer imagino como seria a sua reação diante de uma possível
gravidez, Serena carrega tanta mágoa dentro de si e tanto medo por ter
perdido o seu irmão, que eu não acredito que ela reagiria bem logo de
início. O garoto partiu cedo e em uma situação bem desagradável, e eu sei,
que isso ainda a machuca e mexe com o seu lado sentimental. Apesar de
tudo, eu tenho certeza que ela seria uma ótima mãe e defenderia essa
criança com unhas e dentes, e esta poderia ser a solução para colocá-la de
volta ao caminho certo. Ser mãe exigiria muito dela, e com certeza, a
impediria e a faria pensar duas vezes antes de tomar decisões impensadas.

Quanto a mim, não existia dúvidas, um herdeiro ou uma herdeira seria


muito bem-vindo. Mas, tudo isso é só suposições, talvez, o seu corpo esteja
reagindo as emoções da situação, ou simplesmente, era algum reflexo do
peso e da força das suas lembranças indesejáveis. Sabendo que ela estava se
recompondo, eu visto uma calça de moletom e sigo para o quarto,
verificando algumas mensagens importantes do meu irmão e do andamento
da operação que ainda estava acontecendo no teatro. Vendo que tudo estava
dentro das normalidades, eu me informo dos novos carregamentos que
estavam prestes a chegar, e das remessas de mercadorias que precisavam ser
despachadas até amanhã de manhã.
Poucos minutos depois, eu vejo uma movimentação no closet, e assim
que eu me aproximo do cômodo, eu escoro o peso das minhas costas no
batente da porta, observando os movimentos suaves da minha esposa,
enquanto ela se veste completamente atônita, sem nem se dar conta da
minha presença. Serena é linda, e involuntariamente, eu analiso a sua
barriga lisa, um filho é algo sério e eu não sei se ela teria estruturas para
enfrentar uma situação como aquela. Espero Serena terminar de se vestir e
analiso o seu rosto abatido, os seus lábios e o seu nariz estavam vermelhos
por conta do choro, e aí, eu me dou conta, será que ela já suspeitava?

Sem conseguir conter a minha vontade de tocá-la, eu me aproximo e


acaricio a sua mão delicada, apenas para sentir as suas reações, e
imediatamente, ela se afasta de mim, se mantendo longe o suficiente para
deixar bem claro, o quanto ela estava sentida. Puxei o ar com força,
tentando me controlar e buscando uma paciência que eu não possuo,
pensando em como tratar esse assunto com ela, para só depois, chamar a
sua atenção e insistir em saber como ela estava se sentindo. E sem me
responder da maneira adequada, Serena finalmente despeja o que está
entalado em sua garganta, sussurrando e me questionando com um fio de
voz, sobre um teste de gravidez de uma das minhas amantes.

Encarei Serena até me dar conta de que porra ela estava falando, no
entanto, assim que ela termina de me acusar, lançando um olhar de desprezo
na minha direção, ela sai correndo, Serena simplesmente foge de mim, indo
embora e me deixando para trás. Franzo o cenho confuso, querendo
entender que merda era essa que estava acontecendo, e não demora muito
para eu ligar os malditos pontos... Mikaela era a resposta para esse surto
repentino! Aquela vagabunda insistente insinuou e colocou coisas na
cabeça da minha esposa, ela aproveitou a minha ausência, enquanto eu
estava conversando com o meu irmão, para plantar ideias absurdas na
mente já desnorteada da minha mulher.

Eu não acredito que aquela vadia ordinária teve a coragem de me


desafiar, testando o meu autocontrole mesmo me conhecendo como ela me
conhecia. Desgraçada! Cerro os meus punhos, sentindo que em breve, a
garganta daquela infeliz estaria jorrando sangue, porque Mikaela não era só
uma maldita traidora, ela estava interferindo em minha vida pessoal,
manipulando quem estava próximo a mim, e consequentemente, jogando
contra o seu Don.
“ Os opostos se atraem porque as diferenças os
completam. ”
Autor desconhecido.

P asso as mãos em meus cabelos, colocando os fios úmidos para trás, em


um gesto enraivado que demonstrava todo o meu descontentamento
com aquela situação. Porra! Serena não podia ser tão imatura para acreditar
naquela infeliz, e ainda por cima, ter uma crise de ciúmes em uma hora
dessas! Bufo de ódio, pegando o meu celular e discando o número do
telefone do meu irmão, e assim que concluo a ligação, não demora muito
para eu ouvir a sua voz abafada do outro lado da linha. Provavelmente, ele
ainda estava agilizando e resolvendo algumas pendências do incidente do
teatro.

— Mais problemas? — Luigi pergunta ofegante, como se estivesse


fazendo um esforço enorme para controlar a sua respiração entrecortada. —
Eu sinceramente espero que não!

— O que aconteceu com você? — Pergunto alterado, querendo saber


como estava a situação naquele maldito edifício. — Até o conselho eleger o
meu próximo Consigliere, você é o substituto escolhido por mim para
ocupar o cargo do desgraçado do Lorenzo.

— Eu estou bem! Estou com um ferimento de bala, mas não foi nada
grave. — Luigi responde e o barulho de vozes masculinas ao seu redor se
intensifica, era os meus soldados recebendo suas ordens. — Um dos
infelizes me acertou um tiro, mas eu também consegui atingi-lo, e eu tenho
absoluta certeza, que você vai adorar saber quem ele é!

— Você que é o responsável pela administração das casas noturnas, eu


preciso que você me passe os horários de todas as dançarinas especiais de
todos os clubes. — Ordeno, sem nem me dar ao trabalho de me inteirar
sobre o miserável que ele estava falando, no entanto, era inevitável que essa
informação chegasse em minhas mãos no próximo relatório diário. — Eu
preciso dessas informações o quanto antes.

E assim que eu escuto a sua confirmação, indicando que o meu irmão


já estava ciente e que já tinha compreendido as minhas novas ordens, eu
desligo o telefone. Se Mikaela for esperta o suficiente, ela vai desaparecer
do clube por esses dias, imaginando que Serena deu com a língua nos
dentes, mas se for burra e iludida como eu sei que ela é, ela vai aparecer
normalmente, como se nada estivesse acontecendo. Mikaela sempre foi uma
ótima foda, ela me conhecia o suficiente para não fazer perguntas, e de certa
forma, era uma das poucas que gostavam do sexo mais intenso e bruto.

Mas a sua maldita obsessão por um compromisso mais sério me


enfurecia, fazendo com que, eu buscasse outras para ocupar o seu lugar. No
entanto, a chegada da minha prometida atravessou os meus planos, e apesar
da sua relutância em se entregar a mim e da sua língua afiada, aos poucos
ela se deixou envolver, se permitiu deixar de lado os seus traumas, para
recomeçar ao meu lado. E Serena é perfeita, ela não só me satisfaz em
vários quesitos que outras sequer preenchiam, como também, ela tem a
personalidade forte o suficiente para aguentar ficar ao meu lado durante as
torturas. E para isso acontecer, era só questão de tempo para ela se
estabilizar emocionalmente.

Antes de sair do quarto para ir atrás da minha esposa, eu tento controlar


a minha frustração, pensando nas consequências das mentiras que aquela
vadia infeliz tinha trazido para a porra da minha vida. Essa história de
gravidez não combina em nada como aquela miserável, ela é egoísta demais
para cogitar a ideia de gerar uma vida em seu ventre, e a sua personalidade
crua e oca, com certeza a impediria de prosseguir com uma possível
gravidez. Mikaela só quer interferir em meu casamento, ela está ferida
porque Serena conseguiu ocupar uma posição ao meu lado, que ela jamais
ocuparia, mesmo se estivesse esperando um filho meu, um herdeiro
ilegítimo que não me interessaria em nada.

Desço as escadas atrás de Serena, me controlando a todo o momento,


para não explodir do jeito que eu sei fazer e acabar descontando a porra da
minha raiva, em cima da única pessoa que não a merecia. Atravesso o
corredor e vou até a sala, apenas para ter a certeza que ela não estava lá,
seguindo rapidamente para a cozinha e para um dos quartos vazios do andar
de baixo, e como o único lugar que faltava era o meu escritório, eu vou até
lá, ponderando os meus passos certeiros, sabendo que ela estava escondida
naquele cômodo tão pessoal e unicamente meu.

E assim que eu abro a porta, eu vejo o seu corpo deitado e encolhido


entre as almofadas do grande sofá de couro preto, bem do lado da minha
mesa. Dou mais alguns passos e vou até o balcão do lado oposto ao sofá,
pegando um copo e me servindo de uma boa dose de whisky puro. Observo
as suas costas e a sua respiração pesada, já ciente que a minha esposa estava
acordada, e por instinto, eu desvio o meu olhar para a pasta amarela em
cima da minha mesa, a mesma, que continha todas as atrocidades do seu
passado sombrio. Eu sei que ela tem direito a todas aquelas informações
que estão ali dentro, porém, seria insensato colocar mais esse peso em suas
costas, sabendo que ela estava tão machucada.

Serena não tinha notado a minha presença ou estava se fazendo de


desentendida, mantendo o seu rosto virado para o outro lado, permanecendo
quieta e se escondendo do meu olhar predatório. A minha esposa merece
saber a verdade, nada menos do que isso, a depender do rumo que a nossa
conversa teria, e é claro, se ela se mostrar mais calma, eu vou lhe entregar o
dossiê, porque é um direito dela saber que foi usada! Assim como o seu
irmão foi, por um propósito que só aqueles vermes sabiam. Levo o copo até
os meus lábios e bebo um bom gole da bebida alcoólica, sentindo a
queimação descer por minha garganta, espalhando um alívio e um
relaxamento instantâneo.

— Acha mesmo que eu traí você com aquela mulher? — Pergunto


imparcial, mantendo a minha atenção na bebida que estava em minhas
mãos, tentando me manter calmo. — Você acha que eu sou tão filho da puta
assim? Eu jurei fidelidade a você, Serena! Ou você acha que eu não respeito
as minhas próprias regras!? Eu sei cumprir a porra da minha palavra!

— Eu não quero falar com você! — Ela sussurra com a sua voz rouca
pelo choro, se mexendo e se acomodando no sofá. — Eu não quero ouvir
nenhuma desculpa!

— Não fale besteiras! — Esbravejo com raiva, elevando o meu tom de


voz, sentindo o meu autocontrole começar a se esvair com o seu ciúme
besta. — Não seja tão ingênua, acreditando nas mentiras daquela
dissimulada!
— Besteira? — Serena eleva a sua voz, se sentando e lançando o seu
olhar acusatório sobre mim, me obrigando a fitar os seus olhos claros
carregados de mágoa e de raiva. — Foi você que transou com ela! E ela
ainda teve a ousadia de jogar na minha cara, que está esperando um filho
seu! Você me traiu, mesmo sabendo de tudo o que eu passei, Giovanni! E
sabe do que mais, eu beijei outro homem, eu senti outra boca preencher a
minha, porque eu queria que você sentisse a dor que eu estou sentindo!

Solto o ar que estava preso em minha garganta e semicerro os olhos na


sua direção, incapaz de conter a fúria que estava crescendo e se espalhando
dentro de mim, enquanto uma ardência enlouquecedora se concentrava em
minha nuca, me deixando totalmente transtornado. E sem nem pensar, eu
largo o copo na mesa e avanço na sua direção, agarrando o seu braço e
puxando o seu corpo com força contra o meu. Como ela pode ser tão ousada
e tão geniosa? Agarro o seu rosto com a mão livre e aperto o seu maxilar,
vendo os seus olhos embaçados e confusos me pegarem de surpresa.

— VOCÊ NÃO OUSARIA! OLHE AQUI, SE ISSO FOR


VERDADE, SERENA, NÃO ESPERE QUE EU TENHA PENA DE
VOCÊ! PORQUE UMA TRAIÇÃO SUA, EU NÃO VOU PERDOAR!
ESTÁ ME OUVINDO!? — Grito irritado, demonstrando toda a minha
frieza em meu tom de voz cortante. — VOCÊ É UMA PORRA DE UM
GRANDE PROBLEMA EM MINHA VIDA!

— VOCÊ MATOU A NOSSA HISTÓRIA! — Ela responde com ódio,


aumentando o seu tom de voz até se igualar ao meu. — VOCÊ DESFEZ
DE MIM... DO AMOR QUE EU DISSE QUE SENTIA POR VOCÊ!

Eu sou um homem acostumado a causar dor, e eu gosto de ferir... mas


ela, a dor dela era diferente, a angústia de Serena me machucava também!
Que inferno estava acontecendo comigo? Porque aquela mulher era tão
difícil? E ainda alimentando a minha raiva e a minha vontade de puni-la, eu
beijo a sua maldita boca, querendo calar a sua língua atrevida e saciar a
minha vontade de sentir o seu gosto. Ela queria descontar todo o seu
desespero em mim, me provocando da maneira mais suja, mentindo
descaradamente em minha cara.

— Não existe mais ninguém na minha vida além de você! — Rosno


entre um beijo e outro, roçando a minha língua na sua, enquanto aperto a
sua cintura com a minha mão livre. — Tire isso da sua cabeça!

— Mentiroso! — Ela rebate, enquanto inclina a cabeça e se aproveita


das minhas carícias, puxando o meu cabelo com força. — O seu beijo, os
seus toques, o sexo... tudo foi uma grande mentira!

Sorrio convencido, sabendo que ela estava presa em uma crise de


ciúmes, logo ela, que disse que nunca ia se entregar e se apaixonar, estava
completamente entregue e rendida. Por instinto, eu agarro os fios molhados
do seu cabelo e puxo sua cabeça para acomodar melhor o meu beijo
sedento, saboreando a sua língua deliciosa e cheia de desejo. Eu precisava
dela por inteiro, o nosso beijo já não era mais suficiente, não era capaz de
saciar a vontade desenfreada de me afundar nela, de sentir o calor da sua
buceta apertada, enquanto éramos engolidos por aquela atração doentia.

Inverto nossas posições e me sento no sofá, chocando as minhas costas


no couro macio, fazendo-a se sentar em meu colo com as suas pernas
abertas, esmagando o meu pau com a sua buceta quente. Sem separar a
minha boca da sua, eu deslizo a minha mão da sua nuca por toda a extensão
das suas costas, arrancando do fundo da sua garganta, suspiros e gemidos
carnais, até alcançar a base da sua lombar, sentindo o seu corpo arrepiado
começar a reagir ao meu. Serena é uma maldita tentação... e ainda com
raiva da sua insolência e do meu descontrole, eu aperto a sua bunda,
forçando o seu quadril para baixo, roçando a sua intimidade úmida em meu
colo, em uma tentativa falha de racionalizar as minhas ações.

Serena se afasta sem fôlego, inalando o ar com aspereza, ofegante e


cansada, encostando a sua testa na minha, enquanto eu me empenhava em
torturá-la com a minha barba áspera, arrastando-a por todo o seu pescoço,
subindo e descendo, intercalando as carícias com beijos molhados em sua
pele, fazendo a minha esposa suspirar de maneira pesada. Caralho! Os seus
gemidos eram tentadores, enviando comandos diretos para o meu pau
sedento e extremamente duro, fazendo-o inchar dentro da minha calça de
moletom, e expelir por sua glande robusta, o líquido pré-gozo, em uma
vontade desesperada de se aliviar nas paredes apertadas e molhadas daquela
mulher teimosa e ciumenta.

Com a minha cabeça fervilhando de uma maneira estressante, eu


passeio as minhas mãos por suas coxas trêmulas, subindo bem devagar o
tecido do seu vestido solto, até alcançar as alças finas da sua calcinha
pequena, sentindo todo o calor da sua pele aquecida nas palmas das minhas
mãos grosseiras. Enrosco os meus dedos nas laterais do tecido fino e puxo
lentamente para baixo, sentindo o cheiro sutil da sua excitação me
enlouquecer, e nesse momento, toda a minha raiva se dissipa, me dando
conta que não dava para machucá-la, sendo que ela é a porra da minha
perdição.

Tiro a calcinha por seus tornozelos desajeitados, enquanto ela se agarra


em meus ombros nus, apoiando o peso do seu corpo em minhas coxas
firmes. Fito o seu olhar escurecido por alguns instantes, mas logo volto a
minha atenção para a peça delicada em minha mão, apertando-a entre meus
dedos, sentindo a umidade chegar até a minha pele, me melando e me
lambuzando. E movido pelo desejo desenfreado, eu levo o tecido até o meu
nariz, ciente que Serena estava me analisando e seguindo os meus
movimentos com o seu olhar atento e envergonhado, enquanto eu inalo com
vontade o seu aroma natural, sabendo que agora não dava mais para me
afastar, e que eu só iria conseguir parar... quando eu me despejasse
inteiramente dentro dela.

Puxo a sua nuca com selvageria e beijo o encontro do seu pescoço com
o seu ombro, forçando-a a soltar um gemido alto e prolongado, antes de
devorar a sua boca macia e deliciosa com toda a minha fome. Com a mão
livre, eu puxo a sua cintura contra mim, trazendo o seu corpo para mais
perto, colando os bicos duros dos seus seios em meu peitoral desnudo,
sentindo a rigidez dos seus mamilos se arrastarem em um vai e vem
tentador em minha pele, através do tecido solto do seu vestido. Aperto os
fios do seu cabelo e saboreio o gosto da sua língua macia, sentindo o
deslizar suave e cadenciado da sua entrega.

Solto a minha mão que estava em suas costas e enfio a mesma entre as
suas pernas, explorando sem aviso toda a região sensível, ouvindo Serena
gemer entre os meus lábios famintos. Arrasto dois dos meus dedos por seu
clitóris inchado, sentindo a sua entrada apertada e melada se contrair, e para
acabar com a sua sanidade, eu espalho a umidade por seus grandes lábios,
melando-a e lubrificando-a para me receber. Sob o meu toque afoito, eu
sinto o corpo da minha esposa se remexer e se contorcer em meu colo,
implorando em um gesto silencioso, para eu me enterrar naquela buceta
quente, e acabar de uma vez por todas, com a sua vontade.

Involuntariamente, eu solto um gemido em sua boca e o meu membro


inchado se contrai violentamente, deixando bem claro, que eu também
estava louco para me perder em seu calor. Sem finalizar o nosso beijo, eu
afasto o seu corpo, puxando o seu quadril levemente para cima, enquanto a
minha outra mão se encarrega de tirar para fora, o meu pênis da calça com
um único puxão, fazendo com que, o meu pau rígido salte livre da última
peça de roupa que me impedia de me enterrar bem fundo dentro daquela
buceta gulosa.

E mesmo sabendo que quando tudo acabasse, eu me odiaria por isso, eu


seguro a base do meu membro com firmeza, sentindo a minha glande
sensível latejar, e com a outra mão, eu puxo seu quadril para baixo, sendo
recebido por suas dobras macias e escorregadias. Sinto toda a extensão do
meu cacete ser tragado para dentro da sua intimidade, com tanta
intensidade, que imediatamente um espasmo involuntário percorre o meu
pau, me fazendo rosnar de prazer. Serena geme junto comigo, me melando
inteiramente com a sua excitação quente, enquanto a sua buceta estreita
suga o meu membro pulsante, pressionando-o contra as suas paredes
inchadas.
Movido pela selvageria, eu mudo as nossas posições, deitando as suas
costas no sofá e me acomodando em cima do seu corpo, sentindo as suas
pernas acompanharem o meu movimento ágil, envolvendo e se fechando
em torno dos meus quadris. E em um único movimento certeiro, eu estoco
com força, sentindo o primeiro choque das nossas peles reverberarem em
minhas células agitadas, forçando os meus testículos a baterem e a roçarem
em sua intimidade. E porra! Ela era gostosa demais, o seu corpo era
delicioso e os seus gemidos... eram o meu inferno!

Eu a odiava por me deixar tão vulnerável, e me odiava também, por ser


tão irracional e por me deixar envolver por meus instintos primitivos.
Repito a investida dura, e por causa da mudança e do privilégio da posição,
eu me afundo mais e mais em sua carne quente, enterrando o meu pescoço
em seu ombro para conter um gemido rouco e incontrolável do fundo da
minha garganta. Imediatamente, Serena rosna e ofega, arqueando as suas
costas e me recebendo sem reclamar, pendendo a sua cabeça para trás,
enquanto me engolia com toda a sua vontade. E assim que eu aumento a
velocidade das minhas estocadas, eu sinto o seu corpo se enrijecer e as suas
mãos empurrarem o meu peito com força.

— Para... Para... — Serena geme e me empurra novamente, me fazendo


olhá-la com confusão. — Eu vou vomitar!
Analiso o seu rosto confuso e pálido, e vendo que ela não estava
mentindo, eu volto a nossa posição inicial, sentando e puxando-a comigo,
ainda completamente enterrado em sua buceta apertada, sentindo o meu pau
se contrair dentro dela por causa da nossa movimentação indevida. Serena
grunhi desconfortável e encosta a sua testa em meu ombro, respirando
fundo e expelindo o ar com força, em uma tentativa de controlar a sua
ânsia. Passo as mãos em seus cabelos úmidos, esperando ela se recompor e
mantendo a minha respiração ofegante, querendo terminar o que tínhamos
começado.

Deslizo as minhas mãos por suas costas, inchando ainda mais dentro da
sua intimidade extremamente úmida, sentindo o meu pênis expandindo e
forçando as suas paredes inchadas, mantendo-as separadas para comportar
todo o meu volume. Serena geme novamente e eu solto uma risada sem
nenhum humor, isso não deveria estar acontecendo, e como se o meu gesto
chamasse a sua atenção, a minha esposa se afasta um pouco e fita os meus
olhos, querendo encontrar a razão e o motivo para os seus sintomas e para a
minha reação. Aliso o seu rosto pálido, vendo-a engolir em seco e me
abraçar novamente.

— Acho que é você que deveria fazer um teste de gravidez, minha


menina! — Sussurro em seu ouvido, e imediatamente, eu sinto o seu corpo
se enrijecer em meu colo. — Antes de viajarmos, eu providencio um para
você!

— Isso não pode acontecer... isso é impossível. — Escuto ela


murmurar baixinho, envolta em seus pensamentos confusos, enquanto eu
suspiro pesadamente e saio de dentro dela. — Eu não estou grávida... eu
não posso ter um bebê! Eu não quero passar por aquilo de novo... eu não
quero mais ter a preocupação de ter que proteger outra vida, sendo que eu
não consigo nem dar conta da minha! Me entenda... por favor... eu não
quero passar por aquilo de novo, de novo não...
— Você não está mais sozinha, ninguém nunca mais vai tocar em você!
— Rosno com firmeza, deixando claro que ela não tinha porque temer,
enquanto eu seguro o seu rosto com as minhas duas mãos. — Eles
trancafiaram e manipularam você, Serena! Eu sei que você é forte, mas
você vai morrer aos poucos se não se libertar disso, se não se livrar desse
sentimento corrosivo! Eu quero ajudar... mas eu não consigo, se você não
permitir! Então, não fique com medo de me falar, porra!

Me afasto do seu corpo e arrumo a minha calça, tirando o seu corpo


leve de cima do meu, apenas para observar as suas feições abaladas e
desestabilizadas, me alertando que o clima mudou drasticamente. E em
fração de segundos, o seu temperamento se modifica, os seus músculos
ficam tensos e ela se encolhe do outro lado do sofá, se mantendo afastada o
suficiente para quebrar o nosso contato visual de propósito. Puxo o ar com
força, tentando me controlar.

— Olhe para mim! — Ordeno com firmeza, sem dar a ela a opção de
recuar, e querendo acabar de uma vez por todas com aquela maldita
situação. — Quantos anos você tinha quando aconteceu pela primeira vez?
— Dez... — Serena sussurra em um fio de voz, virando o seu rosto para
outro lado, desviando de propósito o seu olhar do meu. — Eu tinha dez
anos quando ele me abusou...
“ Sou só mais uma alma corrompida, perdida em um
mundo de demônios, onde lembranças me atormentam e
memórias me destroem... sofrendo em meu quarto
vazio, eu busco por aquilo que nunca tive…”
Celso Junior.

A perto a barra do meu vestido, sentindo os meus dedos se


entrelaçarem no tecido sem nenhum entusiasmo, refletindo em meus
movimentos, a confusão que se instalava em meu interior. Engulo em seco e
fixo o meu olhar em qualquer objeto daquele lugar, evitando encarar as
feições imparciais do meu marido, sabendo que se eu olhasse em seus olhos
esverdeados, jamais poderia continuar com o que estava prestes a fazer. E
por força do hábito, eu mordo o meu lábio inferior com força, sentindo a
magnitude da luta interna que começava a se travada dentro de mim, sem
coragem de colocar para fora o que estava prestes a vir à tona, e que nunca
mais poderia ser calado novamente.

— Eu sempre gostei de olhar as estrelas no céu, eu sempre fui muito


curiosa, e toda noite, eu esperava... aguardava todo mundo da casa dormir
para eu sair do quarto e ir até a varanda da sala... sempre fazendo o máximo
de silêncio possível, geralmente... eu ia na pontinha dos pés... com medo do
Maxell acordar e me encontrar no meio do caminho. — Sussurro quase sem
voz, dando uma risada sem graça e sem nenhuma emoção, me recordando e
quase me imaginando fazendo aquele percurso tão pequeno e que me dava
calafrios. — Eu tinha medo... muito medo do meu pai me pegar no flagra,
porque se ele me visse ali, ele não iria me poupar... muito pelo contrário, ele
adorava arranjar uma desculpa para me bater... para me espancar...

Paro de falar, sentindo um calafrio amedrontador percorrer a minha


espinha, arrepiando toda a minha pele, enquanto o sorriso daquele
desgraçado me vem à mente, aquela satisfação doentia que ele nem se
esforçava em esconder... o prazer cru e verdadeiro de me ver subjugada e
ferida! Uma reação que eu nunca entendi e que sempre me trouxe vários
questionamentos... porque não entrava na minha cabeça, como um pai podia
fazer aquelas atrocidades com a sua própria filha, sabendo que o mesmo
sangue que percorria em suas veias, corria no meu!

— Eu me lembro da sua risada diabólica... do seu jeito cruel... ele


sempre fazia questão de demonstrar que gostava de me ver daquele jeito...
arruinada e destruída! Ele sentia prazer em me ver banhada em meu próprio
sangue... E por muito tempo, eu acreditei que o problema era comigo...
porque ele jogava na minha cara, que eu era uma rata miserável, uma
maldita desobediente... um verme que merecia ficar no chão. E ouvir todas
aquelas coisas... me doía tanto... me machucava mais que as suas agressões
físicas! — Desabafo, sentindo as palavras embargarem no meio do
caminho, como se elas estivessem lutando para não sair, e quando eu
conseguia finalmente expulsá-las, elas rasgavam a minha garganta,
desencadeando uma dor dilacerante em minha alma. — As pessoas acham
que as palavras não têm poder, mas elas têm, elas têm sim! E tudo se torna
mais doloroso quando você ainda é uma criança... porque você não
consegue compreender a razão daquele sofrimento... eu não conseguia
entender aquele ódio que o meu pai sentia por mim... e na minha inocência,
eu fui questionar a ele o porquê que ele fazia aquelas coisas comigo, e
porque razão, eu tinha que sofrer, enquanto as outras crianças eram
normais... e ele sempre me dizia que o problema foi eu ter nascido! Que eu
era defeituosa... que era para eu ter morrido... mas, já que eu estava viva, eu
tinha que pagar... pagar... pagar...

Por instinto, eu abraço o meu próprio corpo, sentindo o impacto


daquelas lembranças e daquela confissão reverberar em meus músculos, me
fazendo estremecer de frio e de medo, já sabendo o que viria a seguir.
Giovanni respira de uma maneira mais pesada, e só aí, eu me lembro da sua
presença, me recordando que ele estava ali, ouvindo tudo o que eu tinha a
dizer em silêncio, querendo de alguma forma me ajudar... e
definitivamente, eu não estava preparada para aquilo, para colocar para
fora, aquela quantidade absurda de momentos ruins e destrutivos, no qual
eu fui obrigada a passar.

— E tudo aquilo que ele me disse, todas aquelas atrocidades que eles
fizeram comigo... ficaram marcadas... e eu sinto cada uma dessas cicatrizes
até hoje... eu sinto a dor de cada ferida aberta que ele fez questão de deixar
em minha alma. — Falo ofegante, sentindo as lágrimas arderem os meus
olhos, embaçando a minha visão desfocada e atônita, denunciando o meu
descontrole iminente. — E na quietude daquela noite, tudo se transformou
em algo muito pior... a minha vida que já era um inferno, se modificou... a
minha infância e adolescência virou uma série de castigos e penitências sem
fim... porque antes mesmo que eu chegasse a varanda, eu senti mãos
grandes e grossas taparem a minha boca, me imobilizando, me prendendo...
me levando para o meu quarto... e ali eu soube que eu estava perdida! Que
era o meu fim! Eu tentei com todas as minhas forças me debater, me soltar...
mas o homem que me carregava era muito mais forte... e era desesperador...
era angustiante... porque eu queria fugir, mas não tinha como! Não tinha
como...

Incapaz de me conter, eu permito que as lágrimas salgadas caíam


livremente por minhas bochechas, sentindo o abalo avassalador do meu
desespero, forçar o meu sistema nervoso a desencadear um reflexo
involuntário, obrigando as minhas mãos a tremerem sem controle. Prendo a
respiração, tentando em vão me controlar, me acalmar... mas era
praticamente impossível, quando tudo, absolutamente tudo, vinha à tona na
minha mente, me bombardeando como tiros certeiros, me fazendo reviver e
voltar para o meu passado inquietante...

Ouço os gemidos carnais... os sons do seu corpo grande batendo contra


o meu... o cheiro asqueroso do seu gozo que impregnava o meu nariz... que
se instalava em minha pele... a sua voz grossa... a dor... a agonia... a
confusão... a minha vontade de sumir... o seu gosto nocivo... a minha
ânsia... os tapas... os chutes... os puxões de cabelos... os beliscões... o
sangue... o cheiro forte de ferro... o seu membro me invadindo... os beijos
nojentos... a sua barba arranhando a minha pele... a sua língua áspera
forçando a entrada em minha boca... os cortes... os ossos quebrados... o
pânico... o pavor...

Eu me lembro de tudo... de cada coisinha... era como se estivesse


assistindo a minha morte lenta novamente, e a sensação que eu tinha, era
que eu era uma mera expectadora que assistia tudo de longe, sem poder
fazer e impedir nada, resumida a sua impotência e insignificância. Me
encolho, ouvindo as batidas desesperadas e descompassadas do meu
coração reverberando em meu sangue, espalhando uma ardência
enlouquecedora por minha nuca e uma dor forte em minha cabeça. E por
causa do impacto daquelas recordações infernais, eu me sinto tonta e
completamente atordoada, como se eu estivesse caído de um precipício.

— E tudo se intensificou quando ele me jogou de bruços na cama e se


deitou em cima de mim, forçando o seu peso sobre o meu corpo pequeno,
me imprensando... esfregando algo duro em minha bunda... eu era só uma
criança... eu não sabia o que era aquilo, e muito menos, eu entendia... mas a
minha consciência gritava que era errado... que aquilo não podia
acontecer... — Falo soluçando, chorando em completo desespero, com a
voz totalmente embargada e travada pela minha agonia. — Ele apoiou as
suas mãos em cada lado do meu corpo e suspirou em meu ouvido... dizendo
que era para eu ter aproveitado a minha inocência, que a partir daquela
noite... eu era dele... inteiramente dele... eu não consigo mais... eu não
aguento mais... dói... dói...

Desabo no sofá, me sentindo um nada novamente, uma completa


boneca inanimada nas mãos daquele ser monstruoso... e incapaz de
conseguir me manter sã no meio daquele turbilhão de recordações
desgraçadas, eu me desmancho e me contorço em uma sequência dolorosa
de lágrimas, me sentindo muito mal... me sentindo um lixo! Balanço a
cabeça e boto as minhas mãos em meu rosto, tentando me lembrar de como
se respira, mas, eu estava tão imersa e presa naquele maldito pesadelo, que
eu não conseguia pensar em meio aquele caos, eu não conseguia achar e
inalar o ar.

Era como se todos os meus músculos estivessem congelados, e como se


aquele medo que me travava antes, estivesse me prendendo agora, era
indescritível e sofrido demais... desesperador... assistir a sua própria
desconstrução diante de seus olhos, o seu desequilíbrio e a sua loucura
lutando contra a sua sanidade. E no ápice do meu descontrole, eu sinto o
meu corpo ser puxado e pressionado contra o seu peito firme, me dando a
certeza que eu não iria passar por aquilo sozinha novamente, nunca mais...
Envolvo os meus braços ao redor do seu corpo e o abraço com força,
confirmando se ele estava realmente ali, me certificando se a sua presença
não era mais um truque maléfico da minha cabeça confusa e perturbada.

— Fique calma, eu estou aqui com você! — Giovanni fala sem alterar
o seu tom de voz, me apertando mais contra os seus músculos tensos e
retesados, enquanto eu coloco para fora todo o meu sofrimento. — Eu não
vou embora!

Balanço o meu rosto, afirmando em um gesto silencioso as suas


palavras reconfortantes, ainda sem acreditar que eu finalmente tinha
encontrado o meu porto seguro... alguém em quem me apoiar. E em um
gesto inconsciente, eu inalo o seu cheiro familiar, sentindo o oxigênio
invadir os meus pulmões cansados, causando uma ardência dolorosa em
minhas costas, se misturando a minha exaustão física devastadora. Sinto o
meu coração encolher e apertar, me impedindo de agir e de continuar com
aquele relato cru e desumano, sendo atropelada sem nenhum aviso, por um
choro incontrolável, enquanto eu permanecia abraçada ao único homem que
foi capaz de me desarmar por completo.

— Ele começou a me tocar... a acariciar as minhas pernas... e foi


subindo... subindo... lambendo o meu pescoço, enquanto tirava as suas
roupas de maneira desajeitada junto com o seu cinto. E o meu medo era tão
grande, que eu não conseguia reagir... era como se eu estivesse presa em
meu próprio corpo, aguardando... esperando sem ter controle de nada...
rezando para que ele acabasse logo com aquilo. Eu chorava em silêncio,
sentindo o pavor me dominar... — Me contorço, voltando para aquele dia
miserável, para aquela noite que ficou marcada em mim. — Ele me virou na
cama, e de relance, eu pude ver o seu rosto, e assim que eu o identifiquei, o
meu desespero tomou proporções inimagináveis, Giovanni... porque ele era
alguém presente em minha vida, em minha casa... Ele gemia em meu
ouvido, se esfregando em mim, e mesmo estando vestida, eu o sentia
perfeitamente... eu conseguia sentir a sua excitação dura roçar em minha
intimidade...

Afundo mais o meu rosto em seu peito, sentindo as lágrimas molharem


as minhas bochechas e a sua pele, e me permiti chorar como uma criança,
como a menina indefesa que eu era quando tudo aconteceu... uma criança
que não teve o colo nem de sua própria mãe para chorar e desabafar, e
muito menos, alguém para proteger. E como se pudesse ler os meus
pensamentos, o meu marido desliza a sua mão áspera por minhas costas,
afagando os meus músculos doloridos com toda a sua indelicadeza, em um
gesto reconfortante e apaziguador. Sem me importar de expor as minhas
fraquezas e as minhas feridas extensas, eu me forço a continuar, querendo
colocar para fora aquele peso que me arrastava para o fundo de um abismo
sem fim.
— Eu gritei... eu implorei... eu pedi socorro com todas as minhas
forças... esperando em um estado deplorável que alguém aparecesse para
me ajudar, desejando que a minha mãe, ou até mesmo o meu pai, me
escutasse e me defendesse. Mas, ninguém apareceu... e já cansada de gritar
e sem nenhuma esperança, eu me calei, eu fiquei presa em meu próprio
corpo, aguardando... rezando para que ele acabasse logo com aquilo... e
quando ele finalmente acabou de se satisfazer comigo, ele urrou no meu
ouvido, dizendo um monte de coisas sujas que eu não entendia na época...
falando que ia voltar, que depois de ter provado do meu corpo, ele jamais
iria me deixar ir... que era só questão de tempo para ele começar a me
explorar e me conhecer. — Falo entre soluços, com a voz fraca e baixa,
refletindo a bagunça completa que se instalava em meu interior vazio. —
Ele pegou a minha essência, ele roubou quem eu era, o meu sorriso, a
minha felicidade e me transformou nisso... nessa pessoa que as vezes eu não
reconheço! Eu era livre, e de repente, eu virei refém de vários algozes,
pessoas que deveriam cuidar de mim, mas que na verdade, queriam me
humilhar, me destruir, me subjugar, me torturar e me corromper... todos eles
eram cúmplices! Todos sabiam! Todos! Até a minha mãe...

Abraço o meu marido com mais intensidade, sentindo o calor do seu


corpo passar segurança ao meu, e sem vontade nenhuma de me controlar, eu
permito que os soluços me invadam, seguido por um choro forte, que
espalha instantaneamente uma dor latente em minha cabeça, por causa do
esforço e pelo pânico desenfreado. Sinto o meu corpo inteiro tremer e deixo
o meu choro ganhar força, sabendo que o medo contido e a amargura que
estava entalada a minha vida inteira em minha alma, eram o combustível
perfeito, para essa explosão de emoções que estava prestes a vir à tona.

Deixo as lágrimas caírem livremente por meu rosto bagunçado, sem


pensar em mais nada e sem ter medo de ser julgada por isso, porque
simplesmente, era um direito meu... um direito que eu tinha de desabafar, de
colocar para fora o peso enorme que estava acoplado em minhas costas, um
fardo gigantesco que eu não aguentava mais carregar sozinha, e que até para
compartilhá-lo, era doloroso e corrosivo. Eu não estava confortável com
aquela conversa, muito pelo contrário, eu estava muito incomodada, porque
me machucava novamente e me fazia sangrar.

Mas, nesse momento, eu era incapaz de mentir e de inventar qualquer


coisa para esconder as reais razões do meu sofrimento, e tudo se tornava
mais difícil, quando eu via nos gestos e nos olhos do Giovanni, o amor e o
carinho que eu sempre quis ter. E apesar das nossas diferenças e das
adversidades que nos uniram, ele foi o único que sempre me enxergou de
verdade... ele via algo em mim, que passava despercebido por qualquer
outra pessoa. Giovanni não só passava por minhas barreiras e por minhas
máscaras de imparcialidade, como também, ele me via como eu realmente
era, uma pessoa machucada, presa e acorrentada a um passado violento e
miserável.

Em tão pouco tempo, o homem que eu tanto odiei preencheu um


espaço gigantesco e oco em meu peito, me mostrando sempre, que apesar
de tudo ao nosso redor estar em um completo caos, nós estávamos bem, a
nossa relação estava sólida e firme. Mas, até quando? Eu sinceramente não
sei... deixo um suspiro pesado escapar por entre meus lábios secos e me
aconchego um pouco mais nos braços do Giovanni, sem me importar com a
posição incômoda e com o longo tempo que eu levei até me controlar
novamente, sentindo a todo momento, aquela ferida que nunca ia se fechar,
ser magoada por minha própria mente.

— Além do desgraçado do Maxell, quem era o outro homem? Quem


era o miserável que abusava de você? — Giovanni rosna bem próximo ao
meu ouvido, sem deixar passar despercebido o seu jeito sombrio e toda a
sua frieza. — Eu quero nomes, Serena...

Sinto a sua respiração pesada bater em meu pescoço, e


involuntariamente, eu sinto um frio percorrer a minha espinha, me alertando
que eu estava entrando em um campo minado, ciente que o que eu dissesse
a partir de agora, poderia ser usado ao meu favor. Mas, antes que eu consiga
raciocinar direito, as suas mãos grossas adentram o meu couro cabeludo,
massageando e me passando uma segurança, que relaxava todos os meus
músculos tensos e rígidos. Ah, Deus... como eu gostava dele!
— Era o conselheiro do Maxell, eles dois juntos... — Respondo com a
minha voz áspera pelo choro e respiro fundo, para que as lágrimas não
continuem caindo. — Eles dois juntos transformaram tudo em um inferno e
me condenaram a levar uma vida de escravidão e dor.

Paro para recuperar o meu fôlego, sentindo o impacto do cansaço em


meu corpo pesado e dolorido. Durante a minha vida, eu já passei por várias
crises e por diversos momentos de descontrole, que me abalaram e me
deixaram perturbada, não só mentalmente, como fisicamente também, e
todas elas, sem exceção alguma, desencadeavam uma exaustão extrema,
como se as minhas energias fossem sugadas e usadas para me manter
acordada para reviver tudo aquilo. No entanto, definitivamente, dessa vez
era diferente, porque contar com clareza e com riqueza de detalhes o meu
desespero, me deixava exaurida de uma maneira torturante.
Era como se algo intocado estivesse sendo violado e remexido
indevidamente, revirado com violência, me devastando de um jeito
desesperador e angustiante. Porque de certa forma, relembrar é como
reviver novamente, é como voltar para aquele maldito pesadelo e enfrentar
todos aqueles demônios, só que com uma única diferença, que dessa vez,
você já sabe como tudo vai terminar... que você vai perder de maneira
sôfrega e vai ter que sucumbir aos desejos insanos daqueles desgraçados. E
além de eu estar extremamente fodida psicologicamente, eu me sentia como
se alguém estivesse tocando novamente nos meus machucados, enfiando
uma faca afiada em um lugar inflamado que nunca foi cicatrizado
realmente.

— Eu me sentia suja... usada como algo descartável, como um ser


insignificante, sem poder e sem nenhum controle. O cheiro dele sempre
ficava preso em mim... os sons e gemidos que saíam da sua boca ficaram
gravados em minha cabeça... — Fecho os meus olhos e diversas imagens do
rosto do Will cruzam aleatoriamente o meu subconsciente, enquanto soluço
em seu pescoço. — Mas a pior parte... era saber que os meus pais sabiam e
colaboravam com tudo, eu conseguia ver nos olhos da minha mãe, quando
ela vinha limpar a sujeira que aquele imundo deixava em mim, e era
insuportável... era doloroso... ter que olhar em seus olhos e ver... o quanto
ela sofria em me ver naquele estado, e mesmo assim, ela tinha medo e era
incapaz de proteger a própria filha! Ela nunca me defendeu dos abusos!

— Me diz que isso parou quando você ficou mais velha... — Giovanni
fala e eu sinto o seu corpo ficar tenso, à medida que, eu colocava para fora
o que estava preso e entalado em minha garganta embargada pelo choro. —
Me fala que isso não se estendeu por anos, Serena!

— Não! Não! As coisas só pioraram... porque veio as mutilações, e


esses cortes profundos em meus pulsos, se transformaram na minha válvula
de escape, me automutilar foi a forma que eu encontrei de suportar aquela
dor que me matava lentamente... porque a agonia que crescia e se expandia
dentro de mim, era muito pior que a minha dor física. E assim que eles
terminavam... eu me cortava, buscando a paz que eu não encontrava em
lugar nenhum! Eu queria que eles me deixassem morrer... que acabassem
com o meu sofrimento logo, e como eles nunca me matavam, eu mesma
providenciava o meu próprio fim. Eu sentia o sangue grosso escorrer por
minha pele, levando consigo o meu sofrimento, e só aí, eu finalmente sentia
a minha dor se dissipar... — Desabafo desesperada, ainda sem coragem de
fitar os seus olhos claros, enquanto eu me afundava cada vez mais, em seu
abraço quente. — E isso se tornou um vício incontrolável, porque eu me
sentia leve e me sentia feliz de novo, contente em acreditar que a escuridão
ia me levar para longe daquilo... Você sabe o que é viver desejando morrer?
Era exatamente assim que eu sobrevivia... eu não amava e não amo, a
minha vida o suficiente para temer a morte, muito pelo contrário, eu
enxergava ela como solução! Como a minha única saída!

Pauso exasperada, tentando controlar a tempestade avassaladora que


rodopiava tudo dentro de mim, me confundindo e me deixando atônita a
tudo que acontecia ao meu redor. A minha boca estava seca e o gosto
amargo da minha bile se misturava ao salgado das minhas lágrimas, criando
um misto de sensações ruins e fervorosas, que refletiam um pouco do meu
desespero inconstante. No entanto, o meu marido era o oposto, totalmente
controlado e impassível, permanecendo a maior parte do tempo em silêncio,
contendo com maestria e com habilidade, as suas emoções e reações,
mesmo deixando passar de maneira sutil, o quanto ele estava furioso com
tudo isso, deixando passar por seus músculos rígidos e travados, o quanto
ele estava imerso em seu modo mais frio e sombrio possível.
“ A mulher desde o princípio do mundo, foi criada como
sendo o maior desejo e a maior fraqueza do homem. ”

Anderson Claro.

P asso a mão em meu rosto, limpando as lágrimas insistentes que


teimavam em escorrer por minhas bochechas, e mesmo relutante, eu
me afasto de Giovanni e fito os seus olhos claros, temendo ver o que eu iria
encontrar refletido neles. Mas, para minha surpresa, o seu olhar permanece
o mesmo, não havia nada em seu semblante que denunciasse o sentimento
de pena ou de nojo, que eu temia que estivesse preso em seu olhar. Engulo
em seco e sinto suas mãos grossas repetir o mesmo gesto que eu tinha feito
anteriormente, passando os seus polegares por meu rosto vermelho.

— Eu não vou julgar você por isso, eu jamais faria isso! — Ele diz,
mantendo o seu tom sério e o seu maxilar travado, analisando o meu
semblante abatido. — Eu escolhi você, Serena, e eu fui contra as regras dos
fundadores do meu próprio clã para me unir a você! Sem hesitar e sem
pensar nas consequências dos meus atos! Você não era a minha prometida, a
sua irmã adotiva é que era! Eu escolhi você, e o peso do seu passado não
vai mudar a minha decisão!
Franzo o cenho, tentando entender e processar aquelas informações
totalmente novas, e que de certa forma, não faziam o menor sentido,
enquanto sinto as suas mãos colocarem as mechas soltas do meu cabelo
para trás da minha orelha. Giovanni Campanaro e Carolyn West eram os
noivos prometidos daquela época? Mas porque ela e não eu? Isso não se
encaixava... porque eu era a filha legítima do verdadeiro capo da máfia
americana, e não ela! As nossas vidas eram um verdadeiro quebra cabeças
dos mais complexos, onde o destino traiçoeiro gostava de brincar com a
nossa sorte. E com esse pensamento, eu me forço a me lembrar das poucas
vezes que eu conseguir escutar algo relacionado a esse noivo misterioso,
que a minha querida irmã adotiva iria se casar.

Ouço vozes de homens se aproximando, e rapidamente, eu me abaixo,


me escondendo atrás de um dos armários da cozinha. Com cautela, eu me
aproximo de uma das portas que davam acesso direto a sala, e me agacho
próximo ao batente de madeira, escorando as minhas costas na parede,
querendo ouvir com mais clareza, a conversa que estava vindo daquela
direção. Presto bastante atenção em cada voz grossa, querendo reconhecer
as características e os donos de cada uma delas, que conversavam
distraidamente, sem se dar conta da minha presença.

— Precisamos de um novo plano, senhor. — O chefe dos soldados do


meu pai aconselha, mantendo o seu jeito frio e imparcial de sempre, como
se nada fosse capaz de abalá-lo. — Perdemos muitos homens no ataque de
hoje! Acho melhor recuarmos!

— Cale a boca, imbecil! Quem tem que achar alguma coisa aqui, sou
eu! — Maxell fala visivelmente alterado, aumentando gradativamente o seu
tom de voz. — SE EU DIGO QUE VAMOS CONTINUAR COM A PORRA
DO PLANO! VOCÊS TÊM QUE ME OBEDECER SEM QUESTIONAR!
Estremeço involuntariamente, tomando susto com o seu grito
repentino, sentindo toda a minha pele se arrepiar, me deixando em estado
de alerta. O Matteo é um homem muito bonito, mas, o que ele tem de
beleza, ele tem de crueldade, o que não o difere dos outros malditos que
vivem por aqui. Afinal, para ser um bom soldado, você precisa ser
sanguinário e possuir um estômago forte, esses são alguns dos atributos
necessários para ocupar um cargo e ingressar na máfia. Além é claro, de
uma mente aberta, porque suportar ver todas as atrocidades que a máfia
pratica e comete, não é para qualquer um

— Mas senhor... estamos em desvantagem... — Matteo insiste, mas


antes que ele consiga concluir o seu pensamento, o meu pai arremessa o
copo de whisky que estava em sua mão na parede, bem ao lado da sua
cabeça, fazendo com que o vidro se estilhace para todos os lados.

— Está afim de morrer, soldado? — Maxell ameaça de maneira fria,


pegando a pistola do coldre da sua calça e apontando na direção do
homem. — A depender da sua resposta, eu posso resolver isso para você
agora!

Engulo o nó que estava se formando em minha garganta, com receio


do que aconteceria naquele ambiente, caso eu fosse descoberta. O meu pai
sempre foi um desgraçado desalmado, e matar um dos seus homens a
sangue-frio em sua própria casa, realmente, não significava nada. Para
quem já matou a própria esposa na frente de seus filhos, isso, não chegava
nem perto do que ele era capaz de fazer. Com todo cuidado, eu vou
engatinhando devagar para chegar um pouco mais perto e observar tudo
com mais atenção, mas, antes que eu consiga concluir o meu trajeto, eu sou
surpreendida com outro corpo bem ao meu lado, e eu sou a obrigada a
segurar um grito de susto. O meu coração dispara pela adrenalina... era
Carolyn! Quando vejo que ela ia gritar, eu tampo a sua boca
imediatamente, e ela me olha assustada.

— Você quer morrer? Porque se quer, é só gritar. — Sussurro, tirando


a minha mão da sua boca, me certificando a todo momento, que só ela
estava me escutando. — Ele nos mataria sem nem hesitar!
— O que você está fazendo aqui? — Ela pergunta baixinho, levantando
uma das suas sobrancelhas em um questionamento silencioso. — Está
espionando eles?

— Eu vim comer alguma coisa e eles chegaram, e você? Que merda


está fazendo aqui? — Pergunto impaciente, fitando o seu olhar, enquanto
ela analisa a minha resposta, e por uma breve fração de segundos, eu vejo
o alívio percorrer em seus olhos. — Eu vou me casar, Serena. Por isso eu
vim até aqui, eu quero descobrir para quem eu fui prometida, e só espero,
que seja um homem muito bonito!

Quase reviro os olhos com o seu comentário fútil, porque um homem


feio era o menor dos problemas em um relacionamento arranjado dentro da
máfia, afinal, todos os homens envolvidos nesse meio possuem o hobbie de
matar e torturar como passa tempo favorito. Era fácil perceber a animação
em seu tom de voz e o brilho estonteante em seu olhar vazio, e aí, eu me
dou conta... era isso que a nossa madrasta sussurrava com ela escondida,
elas estavam falando desse casamento arranjado, então, a Carolyn
finalmente ia desencalhar e com um noivo desconhecido pelo visto.

— Porra, Maxell! — Outro homem de voz grossa se descontrola,


chamando novamente a minha atenção para a conversa que acontecia bem
do nosso lado. — Se controla, caralho!
Sinto um arrepio assustador percorrer a minha espinha, assim que eu
reconheço a voz do terceiro homem, uma voz que eu reconheceria em
qualquer lugar, era o infeliz que me atormentava, o maldito do Will.
Desgraçado! Se ele estava por aqui, era bem capaz que hoje à noite ele iria
me visitar no meu quarto... Maldito miserável! Eu não vejo a hora de fugir
dessa merda de vida e de estar bem longe de toda essa corja de cobras. Me
encosto um pouco mais na parede, querendo saber onde aquela conversa
iria chegar, e como eles estavam distraídos, eu chego um pouco mais perto
da porta, sabendo que o ângulo do nosso esconderijo não permitiria uma
visão nítida de onde estávamos, e consequentemente, eles não conseguiriam
nos ver com facilidade.

— Vai ter uma festa importante daqui a sete dias, com todos os homens
influentes de todas as máfias. — O infeliz do Will informa, sorrindo
daquela maneira nojenta e asquerosa. — O chefão vai se apresentar diante
de todos! Prestem bem atenção e não se enganem com ele! O miserável é
um sádico, e apesar de ser jovem, ele conquistou o seu império banhando
as suas mãos com o sangue de muitos líderes antigos! Ele é esperto o
suficiente para comandar essa porra toda!

— A maldita fama dele corre por todos os soldados, eles temem


enfrentá-lo, e por causa disso, nós não vamos ter gente o suficiente lutando
ao nosso lado. — Acrescenta outro homem que não reconheço. — Dizem
por aí, que ele é o próprio demônio!

Um bolo pesado logo se forma em minha garganta, só em imaginar as


atrocidades que esse homem era capaz de fazer para estar no topo dessa
cadeia alimentar desgraçada. Se esses soldados que eram cruéis falavam
assim do chefão, eu nem quero pensar nas maldades que esse homem fazia
para ter essa fama toda! Todos eles eram uns filhos da puta, e me davam
nojo por causa das suas atitudes mesquinhas e sádicas, apenas para lucrar
com o sofrimento alheio.

— Será que é esse o homem que eu vou me casar? — Carolyn pergunta


bem próximo ao meu ouvido. — Será que eu vou ser a rainha da máfia?

— Eu quero ele fora! — A voz do Maxell corta o silêncio do espaço,


transformando o ambiente rapidamente, criando um clima pesado e tenso.
— Ele é uma ameaça em potencial para os nossos planos e precisa ser
eliminado!

— Não podemos simplesmente matá-lo Maxell, nós estamos em menor


número, e ir contra a Camorra e os seus aliados, é suicídio! — Will fala e
observa as reações do meu pai, sabendo que a luta já estava perdida. —
Você está louco!

— Não se enfrentarmos uma Camorra enfraquecida, com um líder


disperso e imerso em outros problemas! — Maxell fala e volta a sua
atenção para a garrafa de whisky em cima da mesa, enchendo metade de
um dos copos com o líquido de cor âmbar. — Todo mundo sabe que a
fraqueza de um homem é uma bela mulher, o plano é bem simples, vamos
dar uma a ele! Uma infiltrada perfeita, que com o incentivo certo, jogue ao
nosso favor, e o melhor de tudo, que deixe o nosso querido capo dos capos
vulnerável, fazendo ele se ocupar tanto com os seus problemas, que ele vai
deixar tudo para segundo plano. E é exatamente aí, que nós entramos,
vamos atacar onde mais dói, no calcanhar de Aquiles dele! Porque ferindo
ela, nos machucamos ele!

Meu Deus! Eu sou essa mulher... eu sou a infiltrada perfeita! Olho para
o meu marido e sinto as minhas têmporas arderem, me dando conta do
labirinto sem fim onde eu estava metida até o pescoço. Eles planejaram
tudo... tudo fazia parte do plano deles! Eu sou apenas mais uma das peças
moldadas para esse jogo doentio, uma escrava que foi usada para matar em
seu nome, fazendo o trabalho sujo sem nem me dar conta, matando homens
do Giovanni que atrapalhavam o caminho deles também. Passo as mãos em
meus cabelos e sinto meus olhos arderem, me sentindo uma estúpida!

— Eu me lembro que o noivo da minha irmã desistiu da união, mas eu


nunca soube o porquê! Então, foi por isso... — Falo e desvio o meu olhar,
imersa em meus próprios pensamentos nebulosos. — Mas, uma coisa não se
encaixa... como você me escolheu se nunca nos vimos antes?
— O maldito do seu pai me ofereceu você de última hora, ele mostrou
uma foto sua, e esses seus olhos misteriosos me deixaram... intrigado. —
Giovanni diz e desliza o seu polegar por meu lábio inferior, enquanto a sua
outra mão se encarregava de apertar os fios da minha nuca. — Eu observei
você algumas vezes, você que nunca prestou atenção, mas já nos
encontramos antes. Você estava tão focada em fugir junto com o seu irmão
que não se deu conta que eu a analisava de longe, sempre muito esperta e
muito sagaz, arredia e arisca como um animal selvagem.

— Eu odeio quando você faz isso, quando me compara a um animal!


— Respondo de maneira seca, fitando o seu olhar impenetrável e me
mantendo presa ao seu corpo forte. — Eu não sou um bicho selvagem!

— Mas se comporta como um! Essa é a verdade! — Giovanni rebate


com o mesmo tom, me fazendo encará-lo com raiva, em um misto de
sensações e sentimentos indescritíveis. — Você só deixa eu chegar perto
quando está machucada ou quando quer algo de mim! Não consegue confiar
cegamente, a menos, que precise de ajuda!

Ele suspira e eu pondero as suas palavras árduas, sabendo que eu não


podia negá-las, porque de certa forma, ele tinha razão. Eu realmente agia
dessa maneira e era natural, porque era um reflexo involuntário e uma
consequência do meu passado. Mas, em um argumento ele estava enganado,
eu confiava nele, apesar do incidente inconveniente da gravidez daquela
mulher ter me colocado em dúvida, eu confiava nele, ele só não precisava
saber disso. Cansada de sustentar o meu próprio corpo, eu me encosto em
seu peito, respirando fundo para tentar controlar a minha luta interna.

— Eu ainda não contei tudo! — Sussurro, querendo adiar o que era


inevitável, e apesar de querer desistir daquela conversa, eu o conhecia o
suficiente para saber que o meu marido não iria desistir facilmente de saber
a verdade. — Quando o Benjamin nasceu, as coisas melhoraram um pouco,
a atenção do Maxell se voltou para o futuro chefe da máfia americana e eu
fiquei um pouco de lado, até as visitas daquele desgraçado diminuíram, era
como se eles estivessem esquecidos de mim, e isso me deu um pouco de
tempo para colocar a cabeça no lugar e para não enlouquecer
completamente.

— Mas isso não durou muito tempo, não é? — Giovanni pergunta e eu


escondo o meu rosto em minhas mãos, fechando os meus olhos, em uma
tentativa falha de evitar a sequência insistente e os relances das lembranças
enlouquecedoras. — Você não precisa continuar se não quiser! Eu consigo
imaginar o resto sozinho!

— Não, você não consegue! Você não consegue imaginar, e mesmo


que você tente, a sua mente não vai chegar nem perto do que realmente
aconteceu! — Falo alterada, sentindo o meu descontrole voltar a me tomar,
me obrigando a parar para recuperar o meu fôlego. — Eu não sei bem o que
aconteceu, mas o Benjamin não atendia as expectativas do nosso pai, eu não
sei se era nos treinamentos ou se era o seu temperamento que não
correspondia aos seus testes, e aí... aí... ele começou a bater nele também!
Eu me lembro dos gritos dele... do choro angustiado... e eu fiquei tão
desesperada, e ao mesmo tempo, com medo... com receio de ir defendê-lo e
acabar chamando a atenção novamente para mim... Eu sei que eu fui uma
covarde, que eu fui cruel, mas o que eu podia fazer? Eu nunca consegui me
defender, como eu iria conseguir defender ele naquela noite? Eu também
era uma criança, eu era tão nova... e isso se juntou ao pavor crescente
daquele outro miserável, e sem opção, eu me calei essa noite, eu me encolhi
em meu quarto e me escondi embaixo da minha cama, fingindo que não
tinha visto ou ouvido nada! Eu tapei os meus ouvidos e chorei a noite toda...
sentindo raiva de mim... com medo do que eu iria encontrar no outro dia...
temendo encontrar o meu irmãozinho morto pela manhã, já sentindo o peso
da culpa e da minha omissão me abater... porque se ele morresse naquele
dia, seria minha culpa! Seria minha culpa, Giovanni!

— É claro que não seria culpa sua, Serena! — Escuto a sua voz grossa
próximo ao meu ouvido, enquanto a sua mão indelicada aperta os fios
longos do meu cabelo. — Vocês dois foram usados!

Confirmo com a cabeça, me dando conta que essa era a mais pura
verdade, nós dois fomos usados, manipulados como peças primordiais de
um jogo cruel e desgraçado. Flexiono os meus joelhos e abraço aquele
homem que se tornou o meu suporte, sabendo que ainda tinha muita coisa
para ser exposta e para ser expurgada de dentro de mim. Era doloroso
assistir o meu próprio desespero, enquanto as lembranças que estavam
arquivadas e esquecidas retornavam com violência, forçando o meu
subconsciente a chegar ao seu limite. Com a cabeça doendo e já sentindo os
tremores do meu corpo retornarem, eu me obrigo a terminar o que eu havia
começado, abrindo todo o meu inferno particular para aquele homem que
estava bem diante de mim, sentindo a mágoa e a dor que estavam cravadas
em minha alma.
— Depois daquela noite terrível, eu fiz uma promessa... eu jurei que ia
protegê-lo, e não importava mais as circunstâncias e nem o quanto custasse!
E foi o que eu fiz, eu me sacrifiquei pelo Benjamin em vários momentos,
colocando sempre a sua vida como prioridade, mas, não demorou muito
para eles perceberem que o Ben era o meu ponto fraco. Eles me testavam...
dava para sentir que eles queriam saber até que ponto eu iria interferir para
proteger o meu irmão, e para fazer isso, eles acabaram com o meu
psicológico, me destruíram... e começaram a usá-lo contra mim, me
ameaçando, dizendo que se eu não ficasse quieta ou se eu não aceitasse as
torturas de maneira pacífica, eles iriam matá-lo. — Desabafo, pigarreando
para consertar o tom da minha voz que estava totalmente embargado pelo
choro e pelo bolo que atravessava a minha garganta. — O Maxell gritava
que se eu chorasse, enquanto aquele homem nojento me tocava e me
estuprava das maneiras mais sórdidas e asquerosas possíveis, ele ia cortar a
garganta do Benjamin na minha frente, mas não antes de fazê-lo sofrer e
pagar por toda a minha desobediência.

Paro ofegante, sentindo a minha garganta seca reclamar e chiar em um


choro desesperado, sendo bombardeada a cada segundo, por uma imagem
daquele meu passado desgraçado. Era como se o meu cérebro inconstante,
estivesse desbloqueando todas as minhas memórias mais sórdidas e sujas
possíveis, me recordando e me levando direto para todos aqueles episódios
infernais, onde a dor era a única protagonista. Sinto os braços do meu
marido me apertarem com mais intensidade e a sua respiração pesada bate
em meu pescoço, espalhando um alívio apaziguador, como se fosse um
bálsamo em minhas feridas abertas.

— A medida que eu fui crescendo, eu comecei a entender como


funcionava aquilo, a compreender como a minha vida podia acabar... e
todas as minhas suspeitas foram confirmadas durante uma das minhas aulas
particulares, quando a professora entrou no assunto sobre sexualidade... e
eu não consegui me controlar... eu fiquei com medo de me aprofundar
naquilo, e por causa do meu desespero, eu não consegui conter um dos
meus ataques de pânico e acabei falando tudo para aquela mulher, para
aquela inocente que nada podia fazer! Eu causei a morte dela, Giovanni...
— Soluço descontrolada, me lembrando daquela maldita cena
traumatizante, do Maxell matando aquela pobre mulher a sangue-frio bem
no meio da nossa sala, dos livros sujos e manchados de respingos de sangue
e da cara assustada do Benjamin ao ver tudo aquilo. — Quando eu descobri
que os estupros podiam resultar em uma gravidez, eu fiquei sem chão e em
estado de choque! Eu morria de medo de engravidar e de ter um filho
daquele ser miserável! Eu sentia o pavor se espalhar por minhas estranhas,
só em imaginar conceber uma criança fruto daqueles abusos, e o pior, ter
que ser obrigada a cuidar e a olhar para a cara daquele bebê... e ver... o
mesmo rosto daquele maldito! Eu preferia mil vezes morrer, a ter que dar à
luz a um filho fruto daquilo! Não! Não! Eu não ia suportar olhar para
aquela criança! Nunca! Por isso, eu não quero engravidar... eu não quero ter
mais um fardo para cuidar e proteger...

— Não faça essa comparação absurda! A nossa relação é muito


diferente daquilo! Você não sabe o que está falando, Serena! — Giovanni
rosna em um tom agressivo, mudando completamente o seu temperamento
e me assustando com a sua brutalidade, me fazendo recuar de imediato. —
Não tenha medo de mim... eu não vou machucar você! Entenda, você não
está mais sozinha, minha menina!
— Eu sei... — Sussurro em um fio de voz, sentindo os seus músculos
tensos e rígidos por causa da minha confissão. — Eu confio em você... se
eu não confiasse, eu não estaria falando todas essas coisas... contando que
assim que eu cresci e comecei a prever o que eles iriam fazer comigo, as
coisas pioraram... porque o Maxell começou a aplicar drogas em mim, ele
enfiava alguma substância forte por uma injeção em meu braço, e não
demorava muito para eu perder completamente a noção de tudo. Eu ficava
vagando entre a realidade e a fantasia... como uma drogada, refém de uma
substância desconhecida... e como se não fosse o suficiente todo aquele
inferno, eles começaram a querer que eu ficasse sóbria... e então, eles
tiraram as injeções e praticavam tudo o que queriam comigo... na última
vez, o Maxell me prendeu na cadeira da cozinha, me deixou sem comer e
sem beber por três dias inteiros... eu me lembro muito bem da dor latente
em minha cabeça, dos meus músculos moles e cansados pela inanição. Sem
força para nem ficar de pé por causa das surras, o Will apareceu para
finalizar o serviço, cuspiu em seu membro nojento e se enfiou em mim sem
pena... e depois disso, eu só lembro da dor insuportável... da ardência... e
não me lembro de mais nada, só da escuridão...

Engulo em seco e mordo o meu lábio inferior com força, sentindo o


meu coração disparar, batendo descontrolado em um ritmo que me deixava
sufocada. Giovanni permanece em silêncio e se mexe desconfortável, me
mantendo firme em seus braços fortes, oferecendo o seu apoio para que eu
pudesse chorar sem medo. E antes de ser jogada e arremessada naquela
realidade de dor e sofrimento, eu me permito sentir o seu cheiro familiar,
me certificando que ele estava ali e que ficaria comigo naquele momento de
descontrole.

— A minha vida toda foi uma mentira e até a morte dele foi
planejada... — Solto uma lufada de ar, sentindo as minhas costas arderem,
enquanto os meus pulmões expandem em um movimento cadenciado. —
Eu fiquei tão perdida, sem rumo... eu não conseguia entender, como alguém
que estava vivo até poucos segundos atrás não estava mais! E com muita
dor, eu deixei o corpo dele lá e fui embora sem rumo, acreditando que foi
você que deu aquela ordem, alimentando o meu ódio por você ter me tirado
tudo! Tentando suportar e colocar na minha cabeça, que aquela presença
constante do meu irmão jamais voltaria, e era insuportável, porque eu não
conseguia aceitar... por isso eu vim atrás de você.

— Você foi usada para chegar até mim! Eles planejaram isso! —
Giovanni rosna visivelmente furioso, colocando a sua mão de volta em
minha nuca e puxando os meus cabelos com toda sua indelicadeza, me
obrigando a olhá-lo. — Eu sei que é muita coisa para você entender agora,
mas antes de mostrar a você tudo o que eu sei, nós dois precisamos fazer
uma coisa.

Giovanni se afasta um pouco e abre uma gaveta da cômoda mais


próxima, voltando rapidamente para o meu lado com uma adaga prateada
na sua mão. Prendo a minha respiração e observo a lâmina afiada, para
depois, fitar os seus olhos claros, sem entender o que ele ia fazer com
aquilo. Em silêncio, Giovanni pega a minha mão trêmula e abre, expondo a
minha palma arranhada, e sem hesitar, ele desliza a ponta cortante na minha
pele macia, fazendo um corte fundo bem no centro, cortando as linhas da
minha mão. Respiro fundo e sinto de imediato a ardência, e logo, uma trilha
de sangue escuro começa a escorrer por entre os meus dedos, serpenteando
por minha pele. Em seguida, ele repete o mesmo movimento certeiro em
uma de suas mãos, para depois jogar os pingos grossos do seu sangue no
meu, misturando-os um no outro.

— Estamos bem, você e eu! Nada mais pode estar, mas nós dois
estamos. — O meu marido fala e aperta a sua mão na minha, selando
aquelas palavras e aquela promessa. — Não duvide do que nós temos! Se
aquela mulher estiver grávida, o filho não é meu! E para isso, você precisa
confiar na minha palavra!
“ São necessárias muitas verdades para se ganhar a
confiança, mas basta apenas uma mentira para perdê-la.

Autor desconhecido.

A cordo pela milésima vez naquela madrugada, com uma sensação


horrível de que alguém estava me sufocando e esmagando o meu
pescoço, e por reflexo, eu me aproximo um pouco mais do homem que
dormia ao meu lado, sem acreditar ainda, em que ponto havíamos chegado.
Depois daquela longa conversa desgastante, Giovanni me mostrou uma
pasta com uma enxurrada de informações perturbadoras que eu
desconhecia, e que eu nem sequer imagino, como ele conseguiu obtê-las. E
meu Deus... aquilo era inacreditável e muito doloroso de se ler.

Confesso, que eu não conseguir chegar nem na metade do que estava


escrito naqueles arquivos, a minha mente já estava tão devastada e o meu
corpo tão exausto, que eu preferi me abster dos horrores que provavelmente
estavam relatados ali. Nesse momento, o meu psicológico está sobrelotado,
carregado de lembranças ruins e de momentos assustadores que me fazem
muito mal, e tudo isso se junta, as coisas horríveis que aquele miserável do
Lorenzo me disse antes de morrer. Giovanni não me obrigou a ler aquilo, e
eu sei que ele entende as minhas razões, está bem visível que eu não tenho
condições e que eu não quero reviver coisas que foram engolidas e
trancafiadas em algum lugar perturbado da minha mente.

Olho rapidamente para a janela, rezando em silêncio para que o dia


amanheça logo, e que o calor da manhã, leve consigo toda essa angústia que
cresce com a frieza da madrugada, causando um aperto incômodo em meu
peito. Me remexo na cama e viro o meu rosto para onde Giovanni dorme,
observando a sua beleza e o seu jeito intimidador até mesmo enquanto
descansa, o seu maxilar travado e o vinco em sua testa denunciavam um
pouco da sua personalidade forte e ameaçadora. Ele estava deitado com as
suas costas coladas no colchão, com um dos seus braços embaixo da sua
cabeça, servindo de apoio para a sua nuca, enquanto a sua respiração
controlada e pesada se refletia em todo o seu corpo másculo.

Sem querer acordá-lo e com toda a minha sutileza, eu chego um pouco


mais próximo do meu marido, encostando a minha testa na lateral do seu
peito e repousando o meu braço em torno do seu peitoral, querendo roubar
um pouco da quentura do seu corpo. Suspiro pesadamente e sinto os meus
músculos reclamarem, cobrando o desgaste emocional e implorando por um
pouco de sossego. Fecho os meus olhos e tento afastar aquele frenesi
insistente que tomava conta do meu subconsciente, acabando com a pouca
energia que me restava, me fazendo perder o sono por causa daquelas cenas
degradantes que retornavam para a minha cabeça.

Apesar do meu corpo esgotado, era praticamente impossível dormir,


porque simplesmente a minha mente não permitia. Bocejo sem muita
vontade, evitando me movimentar demais para não chamar atenção do
Giovanni, sabendo que quando eu conseguia fechar os olhos por alguns
minutos a mais, um relance de algum daqueles momentos infernais me
despertava, me trazendo de volta a minha realidade e me forçando a ficar
acordada, pensando e refletindo coisas que se eu estivesse presa em um
sono profundo, jamais pensaria.

Fico por um bom tempo acordada, encarando o vazio da madrugada e


lutando bravamente contra o peso do sono, evitando reviver mais um
pesadelo. Olho para o teto e fico encarando aquele quarto escuro, ouvindo
apenas um zumbido irritante em meus ouvidos, causado pelo silêncio
extremo do ambiente. A quem eu quero enganar? Eu amo ele... e por mais
que eu tente esconder, eu não posso e eu não consigo, fugir do que eu
sinto! Eu preciso da segurança do seu corpo quente e dos seus braços
fortes, eu quero ouvir de novo e de novo, que o que tínhamos é real, e que
amanhã de manhã tudo vai permanecer da mesma maneira.

Respiro fundo e inalo o seu perfume forte, sabendo que estava


cometendo mais um grande erro, eu estava traindo a confiança dele...
porque eu não tive coragem de falar a verdade, de confessar que eu sou a
Fênix, que o assassino misterioso que matou vários homens importantes da
sua organização, estava deitado e envolvido no conforto dos seus braços. E
sem querer, eu deixo uma risada sem graça e sem emoção aparecer em meu
rosto, eu estava perdida! Porque não havia momento certo para eu confessar
uma coisa dessas, e apesar de saber que estávamos bem um com o outro,
essa confissão nunca seria bem-vinda.

Como eu iria justificar isso? Como eu ia encontrar argumentos que me


defendessem, em um estado tão crítico como o que eu me encontrava? Não
tinha como! Eu estou tão fodida e tão abalada psicologicamente, que a
última coisa que eu quero, é ser escorraçada para fora de casa, ou pior,
enxergar nos olhos do meu companheiro, a decepção... a raiva crua... e o
ódio por eu ter sido tão ardilosa. Além de me confrontar, Giovanni
provavelmente iria me pressionar, e eu não estou me sentindo bem para
encontrar uma solução para mais esse problema, um conflito que pode ser
evitado, pelo menos, por enquanto.

Qual seria a minha explicação para isso? O que Giovanni sabia era que
eu tinha sido usada contra ele, que eu cheguei em seu território para matá-lo
e que eu fracassei no meio do caminho, outra coisa bem diferente, é ele
descobrir que eu fui bem-sucedida nessa missão que eu nem fazia ideia que
era minha, e que eu matei homens da sua máfia em nome de um inimigo
sem rosto. E além de tudo isso, como eu iria explicar que eu tenho homens
infiltrados entre os seus? Que sob o meu comando existe soldados dispostos
a morrer para derrubar todo esse sistema.

Ele acha que eu sou essa mulher indefesa, Giovanni não sabe que por
debaixo desses traumas e desses gatilhos infernais, existe uma mulher que
mata e tortura igual a ele, que não hesita em apertar o gatilho e que sabe
manusear várias armas. Involuntariamente, eu aperto a palma da minha
mão, sentindo o ardor do corte e me lembrando da nossa promessa recente.
Porque tudo na minha vida tem que ser tão complicado? Porque as coisas
não podem simplesmente funcionar e trilhar o rumo normalmente? Solto o
ar que estava preso em minha garganta, sentindo o peso da minha traição.

Eu sei que estou quebrando o nosso acordo mais recente, mas não é
como se fosse algo fácil de se confessar... é complicado! E já imaginando e
criando a cena da sua reação explosiva em minha cabeça, vendo-o furioso
ao descobrir toda a verdade, eu passo a minha perna sob a sua e me abraço a
ele, chamando a sua atenção. E no próximo segundo, eu sinto a sua mão
adentrar o meu cabelo, apertando os fios e fazendo uma massagem que só
ele sabia fazer, causando um arrepio gostoso em minha pele. E minha
nossa... eu nunca iria me acostumar com aquilo, com o poder que aquele
homem tinha sobre o meu corpo e sobre mim.

— Não consegue dormir? — Giovanni pergunta próximo ao meu


ouvido, espalhando o seu hálito quente em meu pescoço, enquanto me puxa
para mais perto. — O que foi?

— Me desculpe... — Sussurro baixinho, me deixando envolver pelo


seu agarre, querendo me desculpar pela minha traição e pela minha mentira,
sabendo que estava ferindo o único homem que foi capaz de quebrar as
minhas barreiras. — Me desculpe... por reagir daquela forma em relação a
gravidez...

Mudo de assunto de última hora, querendo despistá-lo em relação aos


meus verdadeiros sentimentos e ao meu pedido de desculpas. Eu estava
sendo sincera em cada palavra, eu só não estava deixando claro, o porquê
delas... naquele momento em específico, o que realmente estava me
incomodando não era a possibilidade de estar esperando um filho dele, e
sim, o fato de eu ser a assassina por assinatura, responsável por várias
mortes ao redor do mundo, onde o meu alvo principal foi por muito tempo,
o seu clã. Respiro fundo e beijo a sua pele, sabendo que esse momento de
calmaria não iria durar muito.

Giovanni desliza a sua mão por minha coxa que estava entre as suas
pernas, subindo devagar até chegar na minha cintura, onde envolve o seu
braço e me puxa para cima, me prendendo ao seu tronco. Me ajeito e apoio
a minha cabeça em seu peito, aproveitando a nossa posição cômoda para
acariciar o seu rosto e para tocar em sua barba, sentindo os pelos ásperos e
grossos pinicarem a ponta dos meus dedos. Eu sei que estava sendo
egoísta... e que de certa forma, eu estava traindo a mim mesma, porque eu
estava quebrando o elo que me unia ao meu marido, a única pessoa capaz
de entender as minhas dúvidas e incertezas, as minhas recusas e os meus
temores, sem nem que eu precisasse dizer nada, porque ele simplesmente
me lia.

— Serena, se o exame der positivo, o que você pretende fazer? —


Escuto a sua pergunta e estremeço com essa mínima possibilidade, me
dando conta desse outro problema. — Eu não vou permitir que você cogite
a ideia de abortar um filho meu! Está me ouvindo?

— Eu não estou grávida! — Respondo no automático, quer dizer, o


anticoncepcional tem que estar fazendo efeito, porque uma criança agora é
uma coisa totalmente ilógica, que não se encaixa em meu estilo de vida, e
muito menos, no dele. — Os enjoos e as tonturas foram reflexos do estresse
e da carga emocional da noite, só isso! Esse exame vai dar negativo, ele tem
que dar...

Sinto um calafrio passar por minhas entranhas, esfriando a minha


barriga e todo o meu interior, me deixando insegura. Mas, antes que eu
consiga raciocinar e alimentar essa sensação angustiante, eu sinto a mão do
meu marido retornar para a minha coxa, serpenteando por minha pele já
arrepiada e causando uma descarga inconsequente de reações. A medida
que Giovanni explora o meu corpo, passeando a sua mão grande por baixo
do meu vestido, eu sinto todos os meus pelos se eriçarem, enrijecendo
automaticamente os meus mamilos, deixando-os tão duros que chegavam a
doer, denunciando todo o meu desejo desenfreado por seus toques
atrevidos.

Solto um gemido baixo, assim que ele alcança uma parte sensível da
minha coxa, e eu não me importo de demonstrar todo o meu interesse, se
cada vez mais, eu tenho a certeza que ao seu lado, é o meu lugar. Deslizo a
minha mão por seu peito rígido, me permitindo ficar mais relaxada,
sentindo os pelos curtos do seu abdômen descerem até o cós da sua calça,
trilhando um caminho que era a minha perdição ou o meu paraíso. Desço
um pouco mais a minha mão e sinto a sua ereção já se sobressair pelo tecido
do moletom, e logo, eu sinto o meu rosto arder.

— E se der positivo? — Giovanni insiste novamente, querendo sondar


as minhas reações, e de imediato, eu sinto um desconforto em meus
músculos, me sentindo coagida e imprensada com o peso da sua pergunta.
— O que vai fazer?
— Eu não sei... — Falo receosa, inspirando e soltando o ar dos meus
pulmões com mais intensidade. — Isso mudaria muita coisa...

Sinto o seu aperto em meu cabelo se tornar um pouco mais presente,


mas logo, o meu marido retorna as suas carícias em meu couro cabeludo,
dispersando um pouco da minha tensão e da minha rigidez muscular. Me
aproximo um pouco mais, encostando a minha pele na sua, aproveitando a
nossa intimidade e o avanço que demos na nossa relação. Fecho os meus
olhos e me deixo envolver pelo sono, esperando escutar a sua voz grossa e
imponente novamente, mas como não a escuto, eu me permito descansar,
sentindo finalmente, o meu corpo perder para o cansaço.

Acordo com uma sensação estranha em meu peito, um vazio


inexplicável e crescente, e sem ainda abrir os olhos, eu tateio
desajeitadamente o outro lado da cama, sentindo a frieza dos lençóis
contrastarem com a quentura da minha pele. Ainda no piloto automático, eu
rolo para o lado e abraço um dos travesseiros, gemendo descontente durante
todo o processo, sendo dominada pelo cansaço e pela preguiça. Encosto o
meu rosto na maciez do tecido, buscando aquele conforto que eu já estava
acostumada, sentindo o cheiro do meu marido se tornar bem mais intenso,
mas a frieza desse lado da cama, me alerta e me diz, que eu estava sozinha e
que ele não estava mais ali.

Involuntariamente, eu olho na direção do banheiro, tentando escutar


algum barulho que denunciasse a sua presença, enquanto a minha mente
nublada recriava alguns relances da noite anterior. Sem ouvir ou perceber
qualquer movimentação no banheiro, eu volto a deitar a minha cabeça no
travesseiro e fecho os meus olhos, sem conseguir imaginar que horas são
pela luminosidade do quarto. Me ajeito entre os cobertores, sentindo um
peso nas minhas pálpebras cansadas, e logo, uma sonolência deliciosa e
bem-vinda me invade, deixando a minha mente turva e distante.
Adormeço novamente, caindo em um sono pesado e irrequieto. Algum
tempo depois, eu acordo, mas dessa vez, eu desperto muito mais disposta e
bem menos sonolenta. Me sento na beira da cama e passo as mãos em meus
cabelos bagunçados, sentindo a frieza do dia arrepiar a minha pele sensível,
estava muito frio, mais do que deveria para a estação do ano em que
estávamos. Com relutância, eu me levanto e vou até o banheiro, pensando
em como uma simples noite foi capaz de mudar a minha vida
completamente.

Tudo estava estranhamente quieto e silencioso, o clima que me rodeava


estava tão inóspito, que eu cheguei a pensar, que Giovanni foi apenas um
sonho bom no meio daquela confusão sem fim da noite anterior. Tiro o meu
vestido com facilidade, me lembrando e imaginando onde provavelmente a
minha calcinha estava, sob o domínio dele... Sorrio com aquela ideia
absurda pairando em minha cabeça, querendo entender, como um homem
como o meu marido, se sentia saciado ao meu lado. Eu não sou ingênua, eu
sei que ele é um homem sexualmente ativo e que gosta muito de sexo, e sei
também, que ele se segura muitas vezes para não ultrapassar os meus
limites, mas, até quando isso vai durar? Será que eu sou mesmo o
suficiente?

Tomo um banho rápido e visto um roupão que estava dobrado em uma


das prateleiras do balcão do banheiro. Saio do cômodo descalça e vou até o
nosso closet, passando a minha mão pelas roupas caras que estavam
devidamente penduradas e organizadas no armário, sentindo a maciez dos
tecidos acariciarem os meus dedos, e como se eu voltasse no tempo, as
palavras e a imagem de Mike retornam para a minha cabeça. Realmente...
essas roupas não são minhas... e esse estilo com certeza não é meu! A
maioria das peças eram vestidos, saias e blusas, e provavelmente, deveriam
custar uma fortuna, deslizo os meus dedos sobre elas, procurando uma calça
jeans no meio daquele guarda-roupa formal e comportado.

Troco de roupa em silêncio, vestindo uma calça justa de tom escuro e


uma camisa de lã na cor creme, como estava bastante frio, a minha escolha
de roupa era justificável. Opto por uma das várias sandálias rasteiras, e em
seguida, eu retorno ao banheiro, estranhando a quietude e o silêncio da casa.
A essa altura do dia, os funcionários estavam todos ocupados em seus
afazeres, mas, ainda assim era estranho, já era para alguma das senhoras
que trabalhavam por aqui ter aparecido. Olho para a bancada da pia e
enquanto escovo os meus dentes, eu vejo de relance uma caixa azul entre os
objetos, e instantaneamente, o meu sangue gela, me deixando em estado de
alerta máximo.

É um teste de gravidez... cuspo a espuma da pasta de dentes e lavo a


minha boca, e mesmo com receio, eu seguro a caixa e leio as malditas
instruções em italiano. O meu estômago que até o momento estava bom, na
mesma hora, revira, disparando um alarme em minha cabeça como se eu
estivesse entrando em um terreno perigoso. Com vontade de protelar o que
estava prestes a acontecer, eu respiro fundo e tomo coragem para fazer
aquele teste, seguindo todas as instruções que estavam descritas na caixa,
colocando o bastão azulado no copinho com o meu xixi.

Coloco tudo em cima da pia e pego uma escova de cabelo que estava
próxima, me sentando no chão e torcendo para que o resultado saia como o
esperado. É impressionante como certos momentos se tornam
extremamente difíceis, e esse com certeza, era um deles, a depender do
resultado, a minha vida iria mudar completamente, e sinceramente, eu não
estava pronta para uma criança em minha vida. Um filho... esse momento
deveria me deixar feliz, mas só de cogitar essa ideia, um frio esquisito e
incômodo se enraíza em minha barriga, porque depois da experiência
traumática com o Benjamin, eu não conseguia desvincular um fato do outro,
e era praticamente impossível, me sentir tranquila diante disso.
Eu estava assustada e com o coração martelando dentro do meu peito,
em uma agonia descompassada. Giovanni queria esse filho, agora, resta
saber se eu o queria? Ajeito a minha coluna meio desconcertada, sentindo
um leve desconforto com essa pergunta. Abortar... interromper essa vida no
meio do seu curso... eu sinceramente não sei, se eu estiver realmente
grávida, esse bebê vai ser responsabilidade minha, e de certa forma, foi um
descuido meu, e eu jamais seria tão egoísta e desumana a esse ponto. Passo
a escova em meus fios devagar, e em um gesto involuntário, eu acaricio a
minha barriga por cima da camisa, tentando me convencer daquilo,
principalmente porque foi por amor... esse bebê seria fruto da nossa relação,
que não era nada parecida com aquele pesadelo que eu fui obrigada a
passar.
Cinco minutos se transformaram em cinquenta minutos, que mais
pareciam uma eternidade sem fim, respiro fundo e termino de pentear o
meu cabelo molhado, esperando o tempo do resultado sair. Fico mais algum
tempo parada, sentada e envolta em meu próprio mundo, querendo me
convencer que se desse positivo, eu ficaria bem, nós ficaríamos bem! Tomo
coragem para me levantar, sentindo as minhas pernas fraquejarem naquele
pequeno percurso, querendo evitar o inevitável, e sem querer olhar para
aquele objeto colorido, eu coloco a escova no lugar e tiro o bastão do
recipiente, jogando o meu xixi e a embalagem fora, evitando olhar o local
em específico que dava o resultado.

Suspiro pesadamente e olho a tarja onde deveria aparecer os traços, e


como se um peso enorme tivesse saído das minhas costas, eu solto o ar
aliviada, ao ver a existência de apenas um traço, indicando que deu
negativo. Eu não estava grávida! Meu coração perde uma batida, deu
negativo! Negativo! Eu poderia viver a minha vida sem esse peso em meu
subconsciente, sem ter que proteger mais um inocente desse mundo cruel e
desumano, os remédios enfim, tinham resolvido... ainda bem!
— Deu negativo... — Sussurro em um fio de voz, mordendo o meu
lábio inferior em um gesto de nervosismo, sentindo um alívio gritante
percorrer o meu corpo. — Deu negativo!

Volto para o quarto e deixo o teste em cima da bancada de mármore,


afinal, se Giovanni quisesse conferir a veracidade das minhas palavras, ele
poderia, até porque, eu não tenho nada a esconder em relação a isso, pelo
menos, sobre esse assunto... E assim que atravesso a porta, eu encontro ele,
a sua figura imponente e máscula tirando o nó da sua gravata elegante e
distinta. Observo o meu marido sem me importar de fitar os seus olhos
claros, analisando as suas vestimentas de maneira descarada, ele vestia um
terno completo e havia um sobretudo em cima da nossa cama. O seu cabelo
liso estava devidamente arrumado em um desalinho sexy, e o seu cheiro,
como sempre, era impecável. Giovanni era a personalização do pecado,
colocado diretamente em minha vida para me fazer enlouquecer.

— Vejo que você já está bem melhor! — A sua voz grossa chega até os
meus ouvidos de uma maneira única, espalhando um arrepio em algum
lugar específico dentro de mim. — Fez o teste?

— Ainda não fiz. — Minto, não querendo lidar com esse assunto
agora, com toda a minha atenção voltada para a pistola prateada que estava
em cima do seu casaco grosso. — Quer dizer, eu ainda não tive coragem!

Giovanni me analisa por alguns breves segundos, enquanto desabotoa


os primeiros botões da sua camisa social, mantendo o seu olhar intimidador
e sagaz sobre o meu. Ele era lindo... e talvez, eu nunca me acostumasse com
esse fato, porque minha nossa... ele era de tirar o fôlego. Observo a sua
postura enquanto ele pega a pistola em cima da cama, exalando toda a sua
habilidade em manusear o armamento, e logo, ele se aproxima de mim e
estende a arma na minha direção. Sem entender o que aquilo significava, eu
franzo o cenho, deixando a minha confusão transparecer em meu rosto.

— Tome, é sua! — Giovanni fala e me entrega a pistola pesada,


colocando em minhas mãos aquela arma de pequeno porte. — Você me
pediu uma prova dos meus sentimentos, e essa, pode ser a maior de todas,
Serena! Significa que confio em você o suficiente para te ensinar a usá-la.

— O que é isso? — Pergunto, ainda tentando processar aquilo tudo e


sem acreditar no que ele estava falando, enquanto eu sinto a frieza do metal
na palma da minha mão, ciente que aquela arma não era dele, porque o seu
gosto para armamentos era bem mais peculiar. — Porque isso agora?
— Isso é uma pistola noventa e dois F, é uma arma muito precisa a
curta distância, ela tem quinze balas no total, se tiver uma mira boa, ela
rende quinze mortes. — Giovanni diz totalmente sério, me deixando ainda
mais receosa, enquanto coloca uma mecha do meu cabelo para trás da
minha orelha, sem nem se importar da arma estar bem próximo ao seu
corpo. — Eu não quero ver você jogada no chão em completo desespero
novamente, por isso, eu vou ensiná-la a controlar e a dominar esses
gatilhos.

E sem aviso, Giovanni beija o meu ombro e arrasta a sua barba áspera
por toda a extensão do meu pescoço, mordendo a minha orelha e me
fazendo perder completamente o juízo. Como se o meu corpo funcionasse e
dependesse do seu, eu sinto a minha pele se ouriçar, me entorpecendo a
medida que o seu beijo quente avança sobre o meu corpo. Ainda segurando
a pistola, eu envolvo os meus braços ao redor do seu pescoço, me unindo
mais a ele, querendo sentir tudo o que aquele homem podia me
proporcionar, sem pensar em minhas mentiras e nos problemas que se
sucederiam, assim que a verdade viesse à tona.
“ Não fomos feitos para dar certo, mas fomos feitos para
ficarmos juntos. ”

Bruno Fontes.

S olto um gemido manhoso assim que a sua barba áspera alcança uma
parte sensível da minha pele, disparando uma reação em cadeia por
todo o meu corpo, atiçando todas as minhas células. Sinto a sua mão
grosseira se apoderar do meu pescoço, fazendo com que, a manga do seu
paletó raspe em meu queixo, desencadeando um frio gostoso em minha
barriga, e antes que eu possa assimilar qualquer coisa, ele agarra a minha
cintura e me empurra contra a parede mais próxima, me espremendo com o
seu corpo forte. A força do impacto me faz largar a arma no chão, e o
barulho abafado do metal se chocando contra o carpete fica para segundo
plano, quando eu sinto a sua boca quente encontrar a minha.

Fecho os meus olhos, sentindo tudo ficar mais intenso, e por causa da
nossa diferença de altura, eu sou obrigada a ficar na ponta dos pés, para
tentar nivelar os nossos corpos. Mas, como se o meu marido fosse capaz de
ler os meus pensamentos, eu sinto uma de suas mãos irem de encontro a
minha cintura fina, erguendo o meu corpo em uma necessidade e uma
destreza que eram só dele. E por Deus... aquilo era maravilhoso... e movida
pelo instinto, eu aperto os seus cabelos com as minhas mãos, querendo
senti-lo com mais intensidade, enquanto o meu coração bate acelerado,
despertando um misto de sensações por todo o meu corpo entorpecido pelo
prazer.

O seu beijo indelicado é a combinação perfeita entre o suave e a


firmeza, oras ele me beija com fervor, arrancando o meu fôlego, e em
outras, ele diminui o ritmo, me torturando lentamente. A sua língua quente
se encaixa perfeitamente na minha, espalhando o sabor mentolado da pasta
de dentes em nossa saliva, enquanto ele me explora com toda a sua fome
desenfreada, criando uma dança frenética cheia de luxúria e banhada em
desejo. Com os seus lábios esquentando o meu corpo e espalhando um
formigamento familiar em meu ventre, eu aperto os seus fios com mais
força, querendo sentir mais, muito mais... deixando bem claro, que eu
queria tudo dele. Gemo entre seus lábios e agarro o seu pescoço, puxando-o
contra mim, intensificando o nosso beijo sedento, demonstrando todo o meu
desespero e toda a minha necessidade em tê-lo dentro de mim.

Giovanni me imprensa mais contra a parede, encostando o seu membro


extremamente rígido em minha barriga, em uma promessa silenciosa do
quanto ele estava pronto para me devorar. Ouço um gemido discreto
escapar por entre os nossos beijos, se misturando com facilidade com os
meus, e quando eu abro a minha boca para buscar o ar que me faltava, eu
sou invadida por outro som rouco, tão carnal e tão carregado de tesão, que
eu sinto de imediato, um fervor dentro de mim, causando uma inflamação e
um incêndio em cadeia em todas as minhas células furiosas. E porra, eu
queria ouvir todos os seus gemidos e todos os seus ruídos de desejo puro, e
com os meus pulmões reclamando pela falta de oxigênio, eu me afasto um
pouco, sendo engolida por aquela perdição sem fim.
Ofego necessitada, podendo sentir claramente o seu sorriso vitorioso ao
me ver tão ansiosa, um esboço silencioso de uma risada discreta e maliciosa
sendo esmagada contra a minha boca, mas logo, o meu marido se encarrega
de me distrair, deslizando a sua mão ágil para a minha bunda, apertando a
minha cintura durante o processo, e sem aviso, ele solta a mão que segurava
a minha nuca, voltando toda a sua atenção para os botões da minha calça
jeans. Giovanni os desabotoa com habilidade, e sem retirar a peça do meu
corpo, ele arrasta a sua mão por minha intimidade, roçando os seus dedos
sofregamente por entre as minhas pernas apertadas, onde era exatamente o
lugar que eu queria que ele me tocasse.

— Giovanni... — Gemo sem nem saber se ele estava realmente me


escutando, querendo deixar claro, o quanto ele estava jogando sujo comigo,
denunciando em meu tom de voz engasgado, o quanto eu estava excitada.
— Você é um cretino...

Arqueio as costas, assim que eu sinto o seu dedo forçar o tecido grosso
do jeans, arrastando-o e consequentemente, causando uma fricção deliciosa
que espalhava uma sensação dolorosa em meu ventre, me deixando cada
vez mais molhada. Já completamente perdida e envolta em seus dedos
impiedosos, eu aperto os seus ombros com as minhas unhas e inclino a
minha cabeça para trás, procurando o apoio que as minhas pernas já não
eram capazes de dar. E antes de unir os nossos lábios novamente, Giovanni
volta a sua atenção para o meu pescoço, beijando e pressionando o meu
queixo com a sua barba tentadora, enquanto um dos seus dedos circulam em
cima do meu clitóris sensível, me provocando da maneira mais baixa,
arrastando o tecido duro e o forçando contra a minha intimidade sedenta e
aflita.
— Vamos terminar o que não acabamos ontem à noite! Eu quero te
foder e eu preciso sentir o calor dessa buceta gulosa! — Ele fala com o seu
tom grave carregado de prazer, me imprensando com brutalidade contra a
parede, empurrando os seus dedos grosseiros com mais intensidade,
fazendo com que, um choque de adrenalina pulse e percorra em minhas
veias, e antes que eu consiga processar as suas palavras, ele me beija com
todo o seu jeito furioso e incontrolável. — Você é um maldito vício...

Solto um gemido alto e descontrolado quando ele finaliza o nosso beijo


sugando e puxando o meu lábio inferior com os seus dentes, encostando em
seguida, a sua testa na minha. Abro os meus olhos e observo o seu rosto
bonito, passando a minha mão em sua barba áspera, ouvindo e sentindo, as
lufadas pesadas das nossas respirações ofegantes e falhas atrapalharem
qualquer linha de raciocínio que tentava se formar em minha cabeça.
Giovanni olha para baixo e volta as suas mãos para o zíper da minha calça,
abaixando-a por minhas coxas lentamente, descendo o tecido e deixando
espaço suficiente para os seus dedos longos retornarem para o lugar que
estavam, forçando a entrada entre os meus grandes lábios úmidos e
inchados. E assim que ele descobre que eu não estava usando calcinha, ele
arfa.

— Caralho, Serena! Como essa buceta está molhada, porra! — O meu


marido rosna próximo ao meu ouvido, mordendo o lóbulo da minha orelha
com todo o seu desejo, e em sincronia, ele afunda os seus dedos para dentro
da minha carne, me fazendo ofegar e me contorcer em busca de mais
contato, no entanto, antes que eu consiga desfrutar do seu toque afoito e
certeiro, ele retira a sua mão, e imediatamente, eu choramingo contrariada,
me sentindo vazia e frustrada por ele ter interrompido o meu prazer. —
Você é uma safada!
Resmungo impaciente e fecho os meus olhos, forçando a minha mente
a controlar esse desejo louco que cresce dentro de mim, sabendo que ele
queria me torturar e me levar ao limite. Respiro fundo e solto o ar que
estava preso em minha garganta, porém, toda a minha concentração se
dissipa quando as suas mãos grosseiras retornam, e eu sinto a minha calça
cair por minhas pernas, liberando o acesso para o seu olhar e para os seus
toques atrevidos. Se fosse em outras circunstâncias, provavelmente, eu
ficaria envergonhada em ficar tão exposta, mas Giovanni não deixava
espaço para dúvidas, da mesma maneira que ele dizia que queria me foder,
ele me fazia desejar ser fodida e devorada por ele. Nada mais passava em
minha cabeça, a não ser, a vontade insana que ele me possuísse e que
acabasse comigo ali mesmo, me dando prazer como só ele era capaz de dar.

E no próximo instante, Giovanni aperta a minha coxa com força e


levanta a minha perna, fazendo com que o vento frio do quarto bata
diretamente em minha intimidade aberta, espalhando um arrepio delicioso
por meu corpo quente. Solto um gemido rouco quando ele prende o meu
joelho ao redor da sua cintura e me pressiona com grosseria contra a sua
ereção rígida. E meu Deus... eu amava aquele homem bruto e não existia
mais dúvidas quanto a isso. E movida por minha ansiedade, eu seguro os
seus ombros fortes, tentando suportar a sua tortura sôfrega, sentindo o seu
pau endurecido sobressair e se destacar sobre o tecido da sua calça,
friccionando e espalhando a minha umidade, e provavelmente, melando a
sua roupa com a minha excitação abundante.

Giovanni volta a beijar o meu pescoço, e por causa da nossa


proximidade, eu ouço o seu gemido abafado em meio a sua respiração
pesada, enquanto ele pressiona o seu membro contra mim, esfregando toda
a sua rigidez em minha abertura inchada, me deixando alheia a qualquer
coisa que estivesse acontecendo ao meu redor. A verdade era que eu estava
fodida com aquele homem e com as suas provocações! Deixo a minha
cabeça encostar na parede, me sentindo no paraíso com aquela fricção
deliciosa, e quando eu acho que aquela sensação não podia melhorar, ele
beija a minha pele com mais vontade, chupando e lambendo, mordiscando a
minha orelha e descendo com a sua língua experiente por toda a extensão
do meu pescoço, alcançando por fim, o meu queixo.

Sem conseguir pensar em mais nada, eu solto as mãos dos seus ombros
largos e desço por seu tórax musculoso, sentindo a firmeza dos seus
músculos e a sua barba grossa arranhar o meu pescoço, enquanto eu tateava
em uma busca desesperada para encontrar a fivela do seu cinto, e assim que
a frieza do metal contrasta com a quentura dos meus dedos, eu desafivelo-o,
querendo liberar o seu membro quente e pulsante. Devagar, eu abro o botão
da sua calça social e encontro a sua cueca box, e com o coração batendo
freneticamente, reverberando em minha buceta molhada, eu tiro o seu pau
pesado, deixando todo o seu comprimento e grossura saltar livre para fora.
Aperto e deslizo a minha mão por sua extensão poderosa, sentindo as
veias salientes e grosseiras darem a ele um aspecto animalesco, e a medida
que eu avançava, pressionando-o e tocando em sua cabeça robusta, eu
sentia a sua respiração falhar. Abro os meus olhos e fito o seu olhar
escurecido, me dando conta do quão intenso ele estava, as suas pupilas
estavam enormes e dilatadas, ocupando praticamente todo o espaço das suas
íris claras, dando a ele um aspecto ainda mais selvagem. Com cautela e
sondando as suas reações, eu deslizo o meu polegar por sua glande melada,
observando as expressões que passavam ligeiramente por seu semblante
sério, descontrolando a sua respiração ofegante. E sinceramente, eu não sei
se já o encarei tão duro, porque a sua rigidez se parecia como a de um aço, e
apesar de desejá-lo todo dentro de mim, eu estava um pouco receosa com a
sua dureza.
Giovanni não me deixa muito tempo no comando, e logo, ele toma o
controle para si, apertando a minha mão envolta do seu pau, para depois,
guiá-lo até a minha entrada, arrastando-o e misturando os nossos fluidos,
fazendo a sua calça cair um pouco abaixo da sua cintura, deixando-o ainda
mais irresistível. Tremo involuntariamente, sentindo a sua glande grosseira
pulsar em minha buceta quente, desencadeando um arrepio involuntário por
meu corpo, em uma promessa silenciosa do que aconteceria com toda a sua
indelicadeza e selvageria. E sem pena, ele repete e intensifica o seu
movimento tentador, enfiando toda a grossura da cabeça do seu membro em
minha fenda escorregadia, alargando os meus grandes lábios para abrir
passagem para o seu comprimento avantajado.

— Giovanni... Por... favor... — Gemo o seu nome de maneira


entrecortada, e o que começou como uma simples provocação, se torna algo
inexplicável, com uma proporção tão grande que é difícil conter as reações
do meu corpo. — Eu preciso de você... Oh, Deus...
E ao ouvir os meus gemidos e como se aquilo fosse o estopim para a
sua fúria incontrolável, ele estoca e introduz de uma só vez, o seu membro
grosso para dentro de mim, forçando o meu corpo a balançar em um
solavanco violento para conter a força da sua investida. Solto um som
abafado por minha garganta arranhada, sentindo a pele macia do seu pênis
bater bem fundo, não sendo capaz de amortecer a rigidez do seu pau
inchado e grosseiro. E em um momento rápido de lucidez, eu vejo um
esboço de um sorriso em seus lábios, dando a ele, as características
perfeitas de um predador sádico prestes a devorar a sua presa.

Não houve mais espaço entre nós para nenhuma conversa, apenas se
sucedeu o barulho alto das suas estocadas brutas, os sons abafados que
escapavam das nossas bocas e os ruídos das nossas respirações pesadas,
enquanto Giovanni aumenta a velocidade e a intensidade dos seus
movimentos. Arfo, sentindo-o tão fundo e tão profundamente enterrado
dentro de mim, que eu sou incapaz de raciocinar, principalmente, enquanto
o meu marido se encarrega de mexer os quadris assim que os seus testículos
alcançavam o limite da minha entrada, causando uma fricção entre a sua
pélvis e o meu clitóris inchado, me fazendo delirar de desejo e suplicar por
mais.

Os seus cabelos colam em minha pele levemente suada, os seus dentes


raspam com suavidade em meu pescoço e eu aperto os seus braços, sentindo
a minha perna que estava apoiada no chão fraquejar, não tendo forças para
aguentar a virilidade daquele homem forte. Giovanni aperta a minha cintura
e se inclina um pouco para trás, retornando com uma investida mais
potente, para depois, desacelerar o ritmo, entrando demoradamente. Por
instinto, eu escondo o meu rosto e as minhas reações do seu maldito olhar
predatório, afundando-o em seu pescoço perfumado. E como se ele fosse
capaz de ler os meus pensamentos, eu sinto a sua mão enrolar em meus
cabelos molhados, puxando os fios com brutalidade para trás, me fazendo
erguer o queixo para fitar os seus olhos negros.
Ofego desejosa, me desfazendo em sua frente, enquanto era observada
atentamente pelo seu olhar felino, nos fazendo chegar juntos, a um novo
nível de intimidade. Giovanni é espetacular... observo o vinco em sua testa
e a sua respiração controlada, ciente que ele analisava com prazer os traços
que percorriam o meu rosto, toda vez que o seu pau se afundava em minhas
profundezas, reduzindo todo aquele quarto a apenas nós dois. E meu deus...
ele sabia o que fazer... assim que o seu pênis encontrava o meu limite, ele
esfregava com aspereza o seu quadril contra o meu, onde a pele quente da
sua cintura ultrapassava o tecido da sua camisa e pressionava a minha coxa
sensível.
Passo as mãos em seus braços, querendo tirar o seu paletó e aumentar o
nosso contato, colando as nossas peles, enquanto ele continuava entrando e
saindo da minha buceta, com uma perfeição e uma sincronia de dar inveja.
Mordo o meu lábio inferior com força, sentindo-o circular os quadris e
aumentar a velocidade novamente, em um ritmo cadenciado que balançava
os meus peitos cada vez que ele enfiava o seu pênis inteiramente dentro de
mim. Aperto os seus músculos e arfo ofegante, vendo os seus cabelos lisos
grudarem em sua testa, por causa do suor e pelo calor das nossas peles.

Giovanni me tortura em um vai e vem cadenciado, me castigando de


maneira lenta e gostosa, e cada vez que a sua glande inchada bate e se
contrai em um ponto mais profundo da minha intimidade, eu solto um
gemido sôfrego que me faz estremecer, obrigando o meu ventre a formigar,
em uma agonia ensaiada em busca de libertação. Com a sua boca e o seu
rosto tão perto do meu, eu agarro os seus cabelos, puxando-o para um beijo
necessitado, querendo sentir o seu gosto e o seu sabor inebriante, que me
entorpeciam e me levavam a loucura. O meu marido arremete com mais
força, rosnando em minha boca e alargando as minhas paredes estreitas com
o seu membro faminto, sendo recebido e engolido por minhas paredes
gulosas.
Sinto quando o seu pau bate em um ponto sensível do meu ventre,
espalhando uma onda involuntária que faz a minha buceta se contrair
envolta do seu membro rígido, arrancando um gemido cru da sua garganta,
deixando os meus músculos moles e sem nenhuma firmeza. Por causa da
falta de oxigênio, eu sou obrigada a me afastar dos seus lábios, sentindo o
ar entrar e sair dos meus pulmões com dificuldade, acelerando o meu ritmo
cardíaco e nivelando as batidas do meu coração de acordo com cada entrada
dura e funda em meu canal inchado. E sem pena alguma, Giovanni repete a
sua estocada uma, duas, três, quatro vezes... me levando ao êxtase puro,
fazendo o meu ventre formigar.

Com uma nova investida brusca, o meu joelho que apoia o meu peso,
flexiona, abaixando levemente, sem forças para me manter de pé. Ao ver a
reação do meu corpo, Giovanni levanta a minha outra perna e coloca em
sua cintura, soltando a mão que estava em meu cabelo para me prender no
seu corpo forte e inabalável. E aí... as coisas se tornam uma imensidão de
confusão e sentimentos... A minha respiração falha e os meus cabelos
molhados batem em minhas costas, enquanto as suas mãos ásperas me
seguram com firmeza pelos quadris, forçando o meu corpo em uma fricção
dolorosa contra a parede. E por vários perfeitos segundos, ele mete com
vontade, rápido e com urgência, deixando os seus próprios gemidos de
libertação escaparem por sua boca deliciosa.
— Eu quero ouvir desses lábios orgulhosos, esposa... — Ouço a sua
voz rouca e sedutora bem próxima ao meu ouvido, mas o meu raciocínio e a
minha fala se liquefazem, se resumindo a gemidos profundos e a sons
grotescos e carnais. — Eu quero ouvir dessa boca gulosa que você é toda
minha... inteiramente minha, porra!

Deixo a minha cabeça rolar para trás e arqueio as minhas costas, dando
ao meu marido um ângulo mais profundo da minha entrada faminta, que o
recebe com as suas investidas fortes e pesadas, espalhando o estralar
grotesco do choque seco dos nossos sexos. Giovanni arqueja, arfando
duramente, enquanto o seu pau é engolido e tragado para dentro de mim, de
uma maneira insana e inquietante, afastando e separando os meus grandes
lábios com a grossura do seu membro robusto. Abro os meus olhos
rapidamente, e de relance, eu vejo o seu cenho franzido e os seus lábios
entreabertos, dando a ele uma beleza única e selvagem, que casava com
perfeição com os seus cabelos lisos e desgrenhados.

— Eu sempre fui sua... — Gemo ofegante, sentindo as minhas pernas


falharem e estremecerem, totalmente envolta em sua dominância e em sua
possessividade. — Só sua...

Eu o sentia tão duro... tão inchado... pulsando e se expandindo em meu


canal apertado, crescendo e endurecendo em minha buceta estreita. Fecho
os meus olhos e me permito senti-lo com mais intensidade, me perdendo em
cada estocada profunda e certeira, sentindo os meus mamilos duros e
extremamente sensíveis se arrastarem e roçarem em seu peito firme, me
fazendo choramingar desejosa. E no próximo instante, o meu ventre se
comprime, espalhando uma angústia crescente e uma necessidade
desesperadora, que aumentava de acordo com os seus movimentos,
principalmente, quando o seu quadril impiedoso imprensava o meu com
virilidade, friccionando o meu clitóris contra a sua virilha.

Um calor violento desce por minhas costas, se instalando em minha


lombar até encontrar o meu ventre e explodir em meu sexo, fazendo a
minha buceta se contrair ao redor do seu pau rígido, envolvendo-o com
fervor contra a minha carne. Sinto os seus quadris perderem o ritmo, se
entregando para aquelas contrações e para aquele aperto anelar que a minha
intimidade propagava, comprimindo e prendendo toda a sua extensão em
minhas paredes úmidas. Arranho os seus ombros sobre o paletó, querendo
cravar as minhas unhas em sua pele, enquanto o meu marido solta um
gemido grave e deliciosamente sexy em meu ouvido.

Com os seus dedos presos em meu quadril, Giovanni investe mais uma
vez, fazendo a minha cabeça bater na parede e eu me desfaço em seus
braços, gemendo e gozando descontrolada, sentindo os espasmos
involuntários tomarem conta do meu corpo, ditando os meus reflexos
lentos. Sinto as suas mãos grandes me apertarem com mais força,
demarcando o seu território, e com um rugido selvagem, eu sinto o seu
membro pulsar e inchar dentro de mim, e em seguida, os seus jatos potentes
me preenchem, me lambuzando inteira, espalhando os nossos gozos por sua
extensão grossa e corpulenta.

Encosto a minha cabeça em seu ombro e suspiro pesadamente,


ofegando e respirando com dificuldade, enquanto sentia o seu sêmen
espesso batendo em minha buceta, sendo expelido esporadicamente em
minhas paredes. Giovanni me ajeita em seu colo, e de imediato, o meu
corpo se contrai, por causa das pulsações latentes do seu pau que
desencadeavam tremores secundários em minha intimidade, denunciando a
sua vulnerabilidade, e consequentemente, a minha também. E mais uma vez
eu estava me deixando levar por aquele sentimento novo e profundo, que
não me permitia me afastar dele nem mesmo se eu quisesse.

Passo as minhas mãos em seu pescoço e ergo o meu rosto para fitar o
seu olhar, enquanto ele ainda estava dentro de mim, liberando todo o seu
prazer em minha entrada inchada. Giovanni passa o seu polegar áspero em
meus lábios sensíveis, arrastando-o de maneira grosseira, com os seus olhos
famintos me olhando como se eu fosse a sua presa favorita. Beijo o seu
lábio inferior com a minha boca, mordendo-o com os meus dentes,
descendo as minhas carícias até o seu maxilar trincado, sentindo o seu pau
ainda duro dentro de mim. Solto um gemido carregado de luxúria quando
sinto as suas mãos grossas passarem por minhas pernas, subindo por minha
cintura e abdômen, alcançando os meus mamilos rijos e doloridos de prazer.

— Eu quero você nua, Serena! — Ele fala com a sua voz potente,
raspando a sua barba tentadora na curva do meu pescoço, enquanto as suas
mãos habilidosas me invadem por baixo da minha camisa de lã, espalhando
um calor fervoroso que denuncia o nosso fogo puro. — Nua e de joelhos,
implorando para eu foder essa boca atrevida!

Arfo com as suas palavras sujas, imaginando a cena quente em minha


mente nublada, ainda presa a seu corpo forte e mantendo o nosso contato
visual. Giovanni passa o dorso da sua mão em minha bochecha, me fazendo
um carinho indelicado e me devorando com o seu olhar faminto de desejo,
que me invade sem nenhum pudor. Passo a mão em seu peito, deslizando os
meus dedos nos botões da sua camisa, perdida nas suas promessas
silenciosas e naquele mar esverdeado que se tornou o meu porto seguro.
Inalo profundamente e sinto o seu perfume familiar me preencher, me
passando segurança, e quando eu sinto ele se mover, fazendo menção em
sair de dentro de mim, eu reclamo.
— Não, não saia... — Peço em um tom de súplica, me segurando em
seus ombros largos, querendo prolongar aquela sensação de tê-lo
completamente enterrado em minha intimidade, me completando. — Por
favor... não saia!

Giovanni me olha com os seus olhos escurecidos, e por uma breve


fração de segundos, eu capto uma tensão estranha, que reverbera em seus
músculos tensos e enrijecidos, mudando rapidamente a áurea que nos
envolvia. Fito os seus olhos e sinto o meu coração acelerar novamente,
como se eu soubesse que algo estava errado e que alguma coisa estava
estranha. Solto o ar preso em minha garganta e ao ver o seu silêncio, eu
confirmo as minhas suspeitas. Sinto as minhas pernas estremecerem, por
causa da adrenalina que corre e pulsa em minhas veias, enquanto nos
olhávamos até nossas respirações voltarem ao normal.
— O que tem de errado? — Pergunto, olhando e analisando os traços
do seu rosto, sentindo a sua mão prender em minha nuca, se emaranhando
nos fios úmidos do meu cabelo. — Porque você mudou de repente? Me
fala!

— Eu quero que você pare de mentir! — Giovanni diz, mantendo o seu


tom sério e seco, deixando transparecer em seu semblante o quanto ele
estava se segurando para não alterar a sua voz. — Eu quero que você me
prometa... aqui e agora, que nunca mais vai omitir e esconder coisas de
mim, mesmo que sejam mínimas e insignificantes! Eu conheço o sabor da
mentira, esposa... eu sei reconhecer os sinais de quem está me apunhalando
pelas costas... e eu também sei, que você está fazendo isso! Não ache que é
capaz de me manipular, porque para eu estar na posição de Don, eu matei,
estripei e torturei, e não só por obrigação, mas por prazer! Eu nasci
conhecendo a mentira, crescendo e aprendendo a reconhecer um maldito
traidor!
Com um pequeno gemido entrecortado, Giovanni se retira
completamente de dentro de mim, me colocando no chão e dando um passo
para trás para ajeitar as suas roupas bagunçadas, sem quebrar o nosso
contato visual em nenhum momento. Respiro fundo e sinto o excesso do
seu gozo escorrer por minhas pernas, alcançando com facilidade o tecido
limpo da minha calça, e por reflexo, eu passo uma das minhas mãos no seu
sêmen grosso, desviando o meu olhar para tentar me limpar, levantando em
seguida a minha calça jeans, ciente que o meu marido me observava com o
seu olhar acusatório.

— Eu não estou grávida, se é isso que você quer saber! — Respondo


cansada, já sabendo que era sobre esse assunto que ele estava me
pressionando. — Eu não quis esconder isso de você, eu apenas não quis
falar porque eu não sei bem como reagir a isso...

— Prometa! — Ele rosna, me fuzilando com o seu olhar endurecido,


ignorando totalmente as minhas palavras. — Prometa que você não vai
esconder as coisas de mim!
— Eu prometo! — Falo sem emoção, franzindo o cenho, sem entender
o porquê das suas desconfianças, sendo que há poucos instantes, estávamos
fazendo sexo da maneira mais depravada possível. — Eu não vou esconder
nada de você! Satisfeito?

— Eu passei por cima de muitas coisas para ficar ao seu lado, Serena.
Não que isso seja um sacrifício, porque não é! Mas, eu estou sempre
cedendo por você, e por isso, eu exijo a verdade! — Ele diz ríspido,
mudando drasticamente o seu jeito, como se estivesse travando uma
violenta luta interna. — Vamos descer! Eu quero mostrar a você uma coisa!

Suspiro irritada, reavaliando a minha situação e o futuro do meu


casamento, sabendo que o caminho não iria ser fácil. Eu estava apaixonada
pelo meu marido, e isso, eu já não podia mais negar, mas tudo se
complicava quando ele quebrava a sua própria promessa, ele não confiava
inteiramente em mim, da mesma maneira, que eu sabia que não podia
contar sobre a Fênix a ele, porque ele jamais me entenderia. Existe muita
coisa além do meu amor pelo Giovanni, e eu não sei se o que nós temos é
capaz de suportar o que estava por vim.

— Antes, eu preciso me limpar. — Informo, mostrando a ele o seu


gozo grosso em minha mão, ignorando totalmente, o fato de que eu ainda
não tinha nem tomado café da manhã e que o meu estômago implorava por
um belo pedaço de pizza. — Você vai almoçar em casa?
Falo sem saber qual foi a última vez que almoçamos juntos, afinal, não
era algo que acontecia com muita frequência, Giovanni era um homem
muito ocupado e extremamente atarefado. Muitas vezes, ele saía cedo e
retornava quase de madrugada, e aos poucos, essa rotina já estava se
acomodando a minha nova vida monótona. Eu fazia as minhas refeições
praticamente sozinha, ao contrário da minha vida antiga, onde eu sempre
estava acompanhada, seja por algum dos soldados ou simplesmente por
Mike. Antes, eu tinha minha independência e a minha liberdade, agora,
praticamente eu dependo dele para tudo, e até eu me acostumar com isso,
vai demorar um pouco. Ergo a minha sobrancelha em uma pergunta
silenciosa, na esperança de convencê-lo a matar a minha vontade de comer
uma pizza italiana, e sem perceber a sua proximidade, eu sinto a sua mão
indelicada tocar novamente o meu rosto.

— Eu não quero que se limpe! — Giovanni diz, enquanto desliza o seu


polegar por meus lábios e observa o trajeto que o seu dedo faz em minha
boca. — Eu quero você lambuzada com a porra do meu gozo, marcada
como minha! Para que você se lembre, que eu me afundei e fodi essa buceta
gostosa.
Suspiro com as suas palavras, sem estar preparada para ouvir todas as
suas indecências e toda a sua possessividade, desencadeando uma nova
onda calorosa que lambia a minha pele. E por Deus... esse seu jeito
grosseiro e a sua indelicadeza acabavam comigo, me deixando necessitada e
ansiosa por seus toques atrevidos. E sob o seu olhar felino, eu vou até o
banheiro e lavo as minhas mãos, e à medida que eu andava, eu sentia o seu
sêmen se espalhando em minha entrada, umedecendo os meus grandes
lábios. Retorno ao quarto e seguro a minha vontade de revirar os olhos com
essa sua possessão desmedida, enquanto Giovanni pega a pistola que estava
jogada no chão.
Antes de comermos alguma coisa na cozinha, eu sigo o meu marido até
a parte dos fundos da casa, evitando deixar transparecer em meu jeito de
andar, o quanto eu estava molhada por entre as pernas. Durante o percurso,
eu vejo alguns soldados ao longe, mas, eu nem me dou o trabalho de
reconhecê-los, sabendo que qualquer movimento em falso ou alguma troca
de olhares estranha, chamaria logo a atenção do homem imponente ao meu
lado. Acompanho Giovanni até uma área isolada da casa, uma parte que eu
nunca tinha ido antes, e muito menos, visto.

Sem cerimônia, o meu marido abre o galpão e me dá passagem para o


local vazio, e assim que eu atravesso a porta de ferro, o cheiro fresco de
sangue invade as minhas narinas, fazendo o meu estômago vazio se revirar
e se contorcer. Prendo a respiração e inspiro discretamente pela boca, não
querendo me deixar afetar pelo cheiro que era tão corriqueiro em minha
vida, mas que ultimamente, estava se tornando um empecilho dos grandes.
Adentro o galpão e observo aquele ambiente estranhamente familiar, as
correntes enferrujadas estavam espalhadas por todo lugar, presas no teto,
nas paredes e até no chão, dando um aspecto sombrio ao galpão.
Os respingos e as manchas vermelhas do líquido pútrido em
decomposição demarcavam aquele cômodo especialmente criado e
desenvolvido para as mais diversas torturas, e movida por minha
curiosidade, eu avanço mais alguns passos, observando a grande mesa de
metal que estava no centro, expondo uma infinidade de instrumentos
afiados e cortantes. Havia algumas cadeiras sujas e banhadas em sangue
espalhadas nos arredores, completando o visual macabro daquela sala.
Passo o meu olhar para o outro lado e vejo outra mesa próxima à parede,
com uma largura um pouco menor, e ao invés de estar com instrumentos,
essa tinha dez garrafas enfileiradas e arrumadas bem no centro.
Olho na direção do meu marido e ele me entrega a pistola noventa e
dois F, me lançando um olhar desafiador, como se quisesse conhecer a
minha mira. Imediatamente, eu seguro a arma pesada em minhas mãos,
observando os alvos espaçados bem na minha frente. Ainda relutante e
receosa, eu destravo a pistola, sem saber se demonstrava a minha habilidade
em manusear armamentos, ou se simplesmente, fingia ser iniciante nessa
arte. Suspiro pesadamente e sinto a sua mão colocar uma mecha do meu
cabelo para trás da minha orelha.

— Você já abriu um cartucho antes, não se faça de desentendida,


esposa! — Giovanni me repreende com o seu tom autoritário, se
posicionando ao meu lado. — Confira o cartucho e destrave a arma
novamente!

Aperto o botão ejetor e seguro o pente em minha mão, conferindo se


estava com as exatas quinze balas que completavam o cartucho, e assim que
confirmo essa informação, eu o coloco de volta, ouvindo o barulho
característico da trava da arma. É um mecanismo simples, quando o pente
esvazia, a trava de segurança é acionada, e para recarregá-la é preciso
apertar o botão de destrave, automaticamente, o pente sai, e aí, coloca-se
um novo, acionando a trava novamente. Fecho um dos meus olhos para
mirar, sabendo que isso é um erro leigo que prejudicava bastante o percurso
do tiro, querendo saber se Giovanni iria perceber e me alertar.

— Não! Não, Serena! Mantenha os dois olhos abertos! Você precisa


usar o olho dominante, se você fechar o olho errado você não vai conseguir
enxergar o alvo corretamente. — Ele me repreende, indo para trás do meu
corpo e me puxando contra o seu peitoral forte, mordendo levemente a
minha orelha. — Esvazia!
E com a sua ordem, eu disparo o gatilho, ouvindo apenas o barulho das
garrafas sendo estilhaçadas pelas balas metálicas, sentindo a adrenalina
pulsar e correr em minhas veias, espalhando uma sensação indescritível por
todo o meu corpo.
“ Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte,
mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma
vez. ”

William Shakespeare.

“C aro amigo, há muito tempo nós dois não fazemos negócios, você
sabe que eu tenho um apreço gigante por você e por seu estilo
de vida! Pelas notícias, eu soube que a Fênix está em território italiano,
como sempre, o seu trabalho é impecável. Tenho informações do seu
interesse, caso queira entrar em contato comigo, nos encontramos no lugar
e no horário de sempre, no dia vinte e cinco desse mês. ”

. Ass. Sky.

Leio a mensagem que estava piscando na tela do meu celular e a apago


de imediato, memorizando a data de encontro com o meu velho amigo. Sky
sempre foi um dos meus melhores contatos externos, ele é uma das poucas
pessoas confiáveis, que sempre prezou a discrição e o anonimato na maioria
dos nossos encontros. Apesar de nos encontrarmos raramente, o nosso
contato pelos meios digitais era bastante frequente, geralmente, era um ou
dois encontros durante o ano, apenas para nos certificar se ambos estavam
vivos e com as identidades preservadas. De certa forma, ele era um amigo
muito querido, uma figura que foi essencial para o meu desenvolvimento e
crescimento nesse mundo sombrio.

Para entrar no submundo da máfia você precisa de contatos, apesar de


no início eu achar que isso era uma coisa dispensável, hoje, eu percebo que
é essencial. Você não pode simplesmente sair matando por si só, existem
táticas e estratégias específicas para sair ilesa de tudo isso, para ter acesso
às informações e as localizações dos seus alvos, você precisa saber onde e
como encontrá-las, precisa estudar e esquematizar todo o seu plano,
verificar todas as falhas possíveis, para só depois, atacar e meter uma bala
no coração de uma pessoa. E sem contatos, é praticamente impossível ter
sucesso em seus esquemas.

Sky foi a minha porta de acesso para os holofotes, a Fênix é a minha


identidade pessoal, mas boa parte do meu marketing e da minha
popularidade por assim dizer, foi graças a ele. Conhecê-lo foi a chave para o
meu pseudônimo circular pelas mídias mundiais, e eu não nego, que ele me
ajudou a me tornar o que eu sou hoje, sempre selecionando alvos
específicos e distintos, que eram escolhidos especialmente para aumentar a
minha fama. A nossa relação sempre foi muito profissional, o pouco que ele
conhecia da minha vida, é o mesmo que eu conheço sobre a sua vida
anônima, afinal, entre as nossas transações não havia muito espaço para
perguntas. Era uma troca de serviços justa e sem criação de laços, onde eu
oferecia o meu trabalho e ele se resumia em fazer o pagamento.

Antes de esconder o aparelho celular, eu mordo mais um pedaço da


torrada e tomo um longo gole de café preto, dispersa em meus pensamentos
e envolta em minhas prioridades. Estávamos em um apartamento luxuoso
no centro de San Diego, nos Estados Unidos, exatamente no último lugar do
planeta onde eu gostaria de estar. Já tinham se passado exatas três semanas
desde a morte do Lorenzo e do fatídico incidente do teatro, e sem muitas
explicações, Giovanni me informou sobre essa viagem repentina, mas por
causa do estado deplorável no qual eu me encontrava, eu consegui
convencê-lo e persuadi-lo há esperar mais alguns dias, tentando adiar o
inevitável.

Mordo mais um pedaço do pão que estava na bandeja e observo a


paisagem do lado de fora da varanda do nosso quarto, onde a vista da rua
pouco movimentada me trazia lembranças indesejáveis. O clima e a
sensação ameaçadora que esse lugar me passava não eram bem-vindos, e
talvez, nunca fossem. A viagem até aqui foi tranquila, viemos no conforto
do seu avião particular, evitando a maioria das burocracias irritantes dos
aeroportos, mas, no entanto, uma coisa me preocupava e me deixava
inquieta, por causa das restrições da viagem, metade do meu pessoal não
estava em território americano, e consequentemente, eles ficaram presos em
seus afazeres em terras italianas.

Como a quantidade de soldados do meu marido também está reduzida,


a minha circulação se torna muito mais fácil, afinal, escapar de um
apartamento em rua pública e em território desconhecido é muito mais
simples do que em uma mansão no meio do nada. Então, assim que eu tiver
uma oportunidade perfeita, eu vou me encontrar com Sky, porque é muito
importante ter acesso as suas informações. Eu não sei bem quais são as
intenções do Giovanni com a máfia americana, mas, com toda certeza, a sua
visita não é amistosa, pela quantidade absurda de armamentos que foi
despachada junto com as nossas malas, eu sei que vai ter um confronto
violento. E para ser sincera, eu não me sinto bem em relação a isso e não
possuo a mínima intenção de me envolver nessa guerra, porque eu não
quero nada que venha desse maldito lugar.
Giovanni estava bem tenso esses dias, e era nítido, o quanto ele estava
mais atarefado e envolvido no desfecho dessa viagem. O meu marido não
estava distante ou indiferente, muito pelo contrário, sempre que podíamos
estávamos juntos e a nossa relação estava fluindo e se desenvolvendo bem a
cada dia, mas desde que chegamos aqui, havia uma áurea estranha pairando
no ar. A minha terra natal é um antro de memórias infernais e dolorosas, e
tudo nesse maldito lugar me lembra do que eu perdi, e estar tão próxima do
cemitério onde o Benjamin está enterrado, simplesmente não ajuda, criando
um verdadeiro martírio.

Seguro o celular via satélite em minhas mãos e disco o número de


telefone de Mike, já com o seu contato memorizado em minha cabeça. O
chefe dos meus soldados estava sumido e sem dar notícias, ele não estava
respondendo as minhas mensagens, e muito menos, ele me atualizou sobre
as novidades e sobre os arquivos que estavam sob a sua posse, o que me
levava a crer que havia algo de muito errado acontecendo. Não é do seu
feitio desaparecer assim sem aviso, afinal, trabalhamos juntos a anos e isso
nunca tinha acontecido antes, alguma coisa tinha acontecido e o
interceptado, e sem dúvidas, não é uma coisa boa.

Coloco o aparelho no ouvido e aguardo os primeiros toques, mas ao


invés de escutar o seu tom de voz, a secretária eletrônica responde,
informando que o seu telefone está desligado e fora da área de cobertura.
Bufo irritada, o aparelho via satélite é um equipamento muito preciso e útil,
que leva sinal até em regiões florestais, mas, Ethan não conseguiu um dos
melhores aparelhos, o que podia influenciar perfeitamente nas minhas
ligações, principalmente porque eu também estava em território
internacional, o que exigia uma troca urgente de chip. Sem opção, eu dou
mais uma mordida na torrada e volto para dentro do quarto, sem me
importar de ainda estar de roupão.
Eram quase dez horas da manhã e eu nunca me senti tão preguiçosa,
nesses últimos dias eu estava uma lesma, extremamente cansada e sempre
com sono. Giovanni tinha saído cedo e como o meu dia era praticamente
viver enfurnada e sozinha dentro de casa, eu não corria o risco de ser pega
fazendo algo indevido, como por exemplo, estar com esse aparelho
eletrônico e portátil. Abro a gaveta da cômoda e a retiro até o fim, dando de
cara com a minha cartela de anticoncepcionais. Já era o meu segundo dia de
pausa com os comprimidos e até agora nada da minha menstruação descer,
o que sinceramente não me preocupava, afinal, o teste de gravidez tinha
dado negativo, tirando um peso enorme da minha consciência.

Desligo o celular e coloco o objeto entre os remédios, me certificando


se ele estava realmente com a tela apagada para preservar o máximo da
bateria. E com habilidade, eu coloco a gaveta de volta no lugar, escondendo
aquele meu pequeno mundo de mentiras. Sigo na direção do closet, e assim
que eu fico diante do espelho, eu deixo o meu roupão cair até os meus pés,
ficando apenas de calcinha. Olho o meu reflexo e me sinto um pouco
abatida, realmente eu estava dormindo muito esses dias, e talvez, as minhas
olheiras fossem consequência disso. Passo alguns segundos analisando a
minha cintura e era perceptível que as curvas do meu corpo estavam mais
torneadas e desenhadas.

Deslizo os meus dedos por meus seios, acariciando os meus mamilos


doloridos e inchados, percebendo a existência de algumas veias esverdeadas
ao redor das auréolas, que se destacavam com facilidade sob a minha pele
clara. Respiro fundo e afasto algumas ideias da minha cabeça, tentando me
convencer que esses efeitos são consequências do período pré-menstrual e
não efeitos de uma gravidez indesejada. Pego uma calça na cor preta, um
sutiã de renda, uma blusa de gola alta na cor branca e um sobretudo
marrom, me vestindo em seguida com rapidez. Seleciono uma botinha de
cano curto entre os meus sapatos e pego um dos relógios do Giovanni,
conferindo o horário e me dando conta que já estava na hora de me
encontrar com o meu velho amigo.

Sem levar nada nas mãos, eu apoio o meu corpo para fora da janela do
nosso quarto, observando os soldados que estavam fazendo a ronda no
perímetro do lugar, reconhecendo dois dos meus homens. Se existe uma
coisa útil nas edificações americanas são as escadas de incêndio, e com todo
cuidado e sutileza, eu passo pela janela e apoio os meus pés na plataforma
metálica que dava acesso direto ao beco lateral e pouco movimentado do
edifício. Em seguida, eu fecho o vidro da janela e desço as escadas devagar,
chegando à rua adjacente sem deixar nenhum vestígio da minha presença.

O meu plano é arriscado? Com toda certeza! Mas, eu já tinha mapeado


o meu trajeto várias vezes mentalmente, e o fato, de Giovanni estar
extremamente ocupado e chegando tarde da noite em casa, me deixava
ainda mais confiante de que as coisas iriam funcionar e que ninguém iria
notar a minha falta, já que ultimamente, eu nem estava saindo muito do
quarto. Passo por toda a extensão do beco vazio, e assim que eu chego à rua
movimentada, eu levanto as golas do meu casaco, escondendo o meu rosto,
sendo vista apenas por um dos meus homens, ciente que ele encobriria os
meus rastros e se encarregaria de alimentar o meu álibi.

Com bastante facilidade, eu atravesso a rua e me misturo entre as


pessoas dispersas que circulavam pela calçada, já reconhecendo aquele
local. Passo a mão em meu cabelo e ignoro um pouco do meu nervosismo,
tentando aproveitar um pouco do ar e da brisa fresca que batiam em meu
rosto. Ainda era início da manhã e o clima que rodeava a cidade já era
pesado e espesso, me trazendo uma sensação de ameaça iminente, que
deixava a minha pele ouriçada e o meu coração apertado. Aliás, nada nessa
cidade me agrada, a maioria das minhas lembranças relacionadas a esse
território são perturbadoras e hostis, apagando todos os míseros momentos
bons que eu consegui passar com o Benjamin.

Coloco as mãos nos bolsos do meu sobretudo e viro a esquina,


observando as lojas movimentadas e o fluxo inconstante do comércio, que
criava um frenesi entre as pessoas apressadas, que nem sequer imaginavam,
que existia um submundo do crime tão perto delas. Sem ter controle da
minha mente, eu sinto aquele velho pensamento me invadir sem aviso,
afinal, como seria a minha vida se eu tivesse nascido em uma família
normal? Uma vida longe de toda essa aberração que me rodeava, onde a
única preocupação seria morrer de velhice ou de causas naturais, e não
estilhaçada em vários pedaços por um maldito traficante de órgãos.

É claro que não seria perfeita... nunca é... mas com certeza, os riscos de
entrar em uma cilada do destino seriam bem menores, porque os que já
nasceram no meio dessa merda fodida já estavam praticamente condenados.
Ando por mais alguns minutos, sabendo muito bem que caminho seguir,
sentindo a familiaridade me preencher à medida que eu avançava os
quarteirões. Apesar dos Estados Unidos ser a minha terra de origem e de ter
passado um bom tempo vivendo na Suíça, eu não me encaixava em ambos
os países, a minha casa já era na Itália ao lado do Giovanni, e é com ele,
que eu quero ficar.

Ando pelas ruas com bastante atenção, sempre olhando para os


arredores e me certificando se alguém estava me seguindo ou me
observando de longe. Afinal, não poderia haver espaço para erros e para
nenhum deslize, porque agora, as coisas precisavam ser concretizadas, e
esse maldito ciclo que estava há muito tempo aberto em meu peito,
precisava ser fechado e costurado, para só assim, cicatrizar. Com esse
pensamento, eu paro em frente ao grande portão carregado de adornos
sombrios e confiro as horas no relógio em meu pulso, dando início a
contagem do cronômetro.

A partir de agora, eu tenho menos de trinta minutos para terminar o que


eu estava prestes a fazer, e essa pequena fração de tempo, é mais do que
necessária para eu concretizar a minha despedida com aquele pirralho.
Respiro fundo e com passos vacilantes, eu adentro aquele lugar horripilante,
já sentindo um arrepio em minha espinha e um desconforto invasivo em
meu interior. Vim até aqui não fazia parte dos meus planos, eu queria
concluir a minha vingança primeiro, para só depois, me despedir dele... mas
agora, eu percebo que se realmente eu quero fechar esse ciclo, eu preciso
começar pelas coisas que estão ao meu alcance, e essa, é uma delas.
Caminho pelo ambiente monótono de maneira robótica, sentindo
pequenos calafrios percorrerem a minha coluna, me fazendo recordar do seu
jeito inocente e do seu rostinho lindo. Involuntariamente, eu solto o ar que
estava entalado em minha garganta e continuo o meu trajeto, observando as
árvores enormes que compunham a paisagem sinistra daquele local. Os
galhos extremamente secos e retorcidos transformavam o ambiente em algo
tortuoso e sombrio, me fazendo reavaliar a minha decisão. Engulo em seco,
seguindo a estreita trilha de pedras, tomando cuidado para não tropeçar em
nenhuma saliência daquele chão inconstante.

Com os pés vacilando, eu me forço a continuar, sabendo que as minhas


pernas não obedeciam aos comandos do meu subconsciente no tempo certo,
me deixando atônita e meio fora de órbita. Olho ao meu redor e fito as
diversas lápides acinzentadas, me fazendo crer, que aquele caminho
ameaçador me levaria direto para o meu inferno particular, onde todos os
demônios assustadores habitavam e davam vida aos meus pesadelos. O
cheiro doce das flores velhas se torna mais forte e persistente, atenuando o
meu temor crescente em continuar com aquele maldito percurso infinito.

O Benjamin está enterrado aqui há alguns anos, e durante todo esse


tempo, eu só estive aqui uma única vez, e mesmo assim, eu não tive
coragem de chegar até o seu túmulo, porque eu não estava preparada para
encarar a sua última lembrança. Perder alguém é uma coisa inexplicável,
uma sensação avassaladora de um vazio tão profundo e intenso que
transcende qualquer linha de raciocínio lógico, porque simplesmente, não
existe nada que explique essa ausência tão repentina, não há uma equação
que solucione o porquê que essa pessoa que antes estava viva, num piscar
de olhos, não está mais...

A dor que eu carrego em meu peito é imensurável, e tudo piora por


causa das circunstâncias de como a sua morte aconteceu... é verdade que o
tempo amortece o impacto desse golpe, mas ele não é capaz de apagar da
minha mente, o quão cruel e sanguinário foi a sua partida precoce. Eu nunca
vou esquecer e apagar da minha memória a imagem do meu irmão, e eu
também não consigo me perdoar por não ter conseguido salvá-lo daquele
tiro inoportuno. Infelizmente, esse é um peso que eu vou sempre carregar
na minha consciência.

Eu queria ter ficado com ele até o fim... até o último momento... mas,
eu não pude... Alguns meses atrás, eu fiz esse mesmo percurso, mas falhei
miseravelmente, sem nem conseguir chegar na metade do caminho. Talvez
uma parte dentro de mim não quisesse fazer aquilo, ou simplesmente, eu
não conseguia colocar um fim em nossa história. A minha vida sempre foi
difícil, e o Ben foi essencial para eu estar aqui hoje, afinal, éramos parceiros
e seríamos sempre inseparáveis, mesmo que estivéssemos separados por
uma imensidão de mistérios e planos diferentes.
Sem me dar conta de que eu estava diante da sua lápide, eu permaneço
ali, parada, inerte, olhando para o seu nome escrito no bloco de cimento,
sem ser capaz de processar e compreender o que aquela imagem
significava. Alguns minutos se passam e eu continuo ali, tentando entender
o mecanismo da vida, sabendo que era a hora da despedida... e mesmo
depois de tanto tempo, isso me doía de um jeito inimaginável. Sinto a
minha mão gelar, e sem aviso, eu me ajoelho na grama, chegando bem
próximo a uma foto sua que estava presa ao seu túmulo, adornada por uma
moldura dourada.

Observo a sua imagem e passo a minha mão no capim ao redor da sua


lápide, presa em meu próprio mundo, me lembrando de todos os nossos
momentos juntos que me deram forças para eu chegar até aqui. Sinto os
meus olhos embaçarem, e apesar de estar firme por fora, eu sofria em
silêncio, tentando sufocar aquela imensidão de sentimentos amargos. Eu
não sabia o que dizer e nem o que fazer, eu apenas queria acordar daquele
pesadelo horrível e me deparar com uma vida diferente, onde dividíamos
ela juntos de novo.

Foram muitos momentos ruins, tristes e de aflição, mas houve vários


outros, onde o companheirismo e a cumplicidade protagonizaram. A morte
levou ele, aquele tiro tirou ele de mim, mas não foi capaz de tirar todas as
lembranças da minha cabeça, eles tiraram apenas o que era físico, mas a sua
presença em espírito sempre ficaria comigo e na minha memória. O que ele
é e o que ele sempre representou, vai ficar marcado em mim, porque ele é a
minha força, o meu incentivo para permanecer viva e para sobreviver dia
após dia. Passo a mão em meu rosto e limpo uma lágrima solitária que
escorre por minha bochecha.
— Eu vou sentir a sua falta, pirralho! — Sussurro e passo a mão com
carinho sobre a sua foto, percebendo o quanto a morte era algo estranho e
inexplicável. — Obrigada por tudo, por me dar forças até quando não está
mais aqui!

O que aconteceu depois, eu não sei explicar, talvez quem já tenha


passado por uma situação parecida, me entenda. Eu não vi nada... a minha
mente se fechou em meu próprio mundo, me prendendo nele por um longo
tempo. No piloto automático, eu me afasto, antes que o choro me domine
mais uma vez, sabendo que se eu entrasse nele, eu não sairia com muita
facilidade, então, eu concentro toda a minha energia e me forço a me
levantar, encarando um ponto distante ao fundo, evitando olhar a sua foto
novamente.

— Sabe, Serena... — Benjamin começa a falar me pegando de surpresa


com o seu tom de voz suave. — Você é a minha melhor amiga!

— E você é o meu também, Ben! — Falo sorrindo, olhando em sua


direção e fitando o seu olhar singelo. — Você é a única pessoa com quem
eu me importo de verdade!

Sorrio na sua direção e puxo o seu corpo pequeno para um abraço


apertado. Apesar da nossa vida ser repleta de mentiras e da nossa família
ser infernal, o que tínhamos era verdadeiro, único... e nada seria capaz de
nos separar! Tivemos o azar de nascer em meio a tudo isso, mas, por outro
lado, nós tínhamos muita sorte, por termos um ao outro, um bálsamo em
meio a tanta dor e angústia. Abraço o seu corpo e suspiro pesadamente,
pensando em como sairíamos desse inferno.

— Nós vamos ser amigos para sempre, não vamos? — Ele pergunta e
aperta os seus braços ao redor da minha cintura, demonstrando todo o seu
interesse na minha resposta. — Jura para mim que nunca mais vai fazer
aquelas coisas no seu braço?

— É claro que vamos! — Falo e sinto ele se afastar apenas para


encontrar os meus olhos e ver se eu estava falando a verdade. — Em
relação as cicatrizes... você sabe que eu não...
— Por favor, promete para mim? — Benjamin pede, enquanto desliza
os seus dedos suaves pelas saliências da minha pele. — Promete...

— Eu prometo! — Falo incerta, soltando uma lufada de ar pesada, e


logo, eu faço um aceno silencioso, confirmando as minhas próprias
palavras. — Eu prometo!

Deslizo o meu olhar pelo ano do seu nascimento e pela data da sua
morte, e apesar de não ter participado daquela cerimônia forjada, que
provavelmente foi o enterro do meu irmão, eu sabia que as pessoas que
participaram não sentiam nada por ele. Com os olhos ardendo e já
marejados, eu sinto o cheiro das flores velhas e o frescor da brisa gelada me
levarem direto para o meu passado. Mas pela primeira vez, me fazendo
recordar das lembranças boas... dos melhores momentos... e não dos piores
instantes, onde a dor e o medo prevaleciam.

Olho de relance para a porta levemente aberta do quarto do bebê e


tomo coragem para entrar naquele cômodo. Depois de um tempo parada
no corredor, eu finalmente me forço a passar por aquela fresta, entrando no
ambiente a passos lentos, com receio do que eu iria encontrar ali dentro.
Observo o quarto ao meu redor e vejo o capricho na decoração azulada,
indicando a animação dos nossos pais em tê-lo na nossa família de porta-
retratos. Ainda me mantendo afastada, eu olho o berço branco e os
brinquedos presos em um mobile giratório em cima do móvel de madeira.
Respiro fundo e observo os brinquedos espalhados no ambiente, que
dispersavam a minha atenção do novo membro da família. Me aproximo do
berço do bebê e analiso aquele ser tão pequenino de perto, vendo-o se
entreter com os ursinhos que giravam e giravam, em um movimento
circular contínuo e divertido. Fito o seu rostinho e toco os seus dedos
pequenos, analisando a sua boca bem-feita e os seus olhos acinzentados
arregalados. Aperto suavemente a sua mão, ganhando a sua atenção de
imediato, e assim que ele me vê, ele sorri, me lançando uma risada
carregada de alegria, enquanto ele brincava com os seus próprios pés,
fazendo o seu corpo balançar de um jeito engraçado.

Sem que eu perceba, eu sorrio, respondendo a sua demonstração


verdadeira de alegria e carinho, me sentindo realmente feliz pela primeira
vez em muito tempo. Olho de relance para a porta, e sem hesitar, eu pego
ele no colo, com medo de machucá-lo com a minha falta de experiência. E
movida pela minha curiosidade, eu passo a minha mão em seu rosto bonito
e faço um carinho suave, pegando a sua mãozinha e comparando a nossa
grande diferença de tamanho. Sinto os seus dedinhos se apertarem nos fios
ondulados do meu cabelo, puxando-os em uma brincadeira inocente,
sentindo o meu coração se tornar mais quente e completo como ele nunca
foi.

— Você é tudo o que eu tenho! — Sussurro e olho para aquele


bebezinho tão lindo, tocando em sua mão e sentindo os seus dedinhos
apertarem o meu indicador com força, me dizendo com aquele pequeno
gesto, que ele seria uma peça importante em minha vida. — Oi, Benjamin,
eu espero que você seja muito feliz! Eu prometo que vou proteger você...

Cerro os meus punhos e sinto a raiva crescer dentro de mim, invadindo


e se instalando em cada célula agitada do meu corpo. Passo o dorso da
minha mão em meus olhos, enxugando de maneira brusca, as lágrimas
insistentes e revoltadas, sem me importar de estar com as mãos sujas de
terra. Engulo o bolo crescente em minha garganta e olho de relance para as
lápides próximas ao túmulo do meu irmão. De imediato, eu franzo o cenho,
sem entender o que aqueles miseráveis nojentos estavam fazendo aqui,
observo as fotos daqueles vermes e reconheço cada um deles. Eram os
túmulos da nossa mãe, do Maxell, da Anna e da Mikaela...

Analiso os arranjos de flores murchos que estavam ao lado de cada um


dos nomes, inclusive na lápide do Benjamin, sentindo um arrepio
assustador ouriçar a minha pele sensível. Porque eles estavam enterrados
em solo americano!? Isso não fazia o menor sentido, sendo que foi o
próprio Giovanni que se encarregou de matá-los! Os seus restos mortais não
deveriam nem ter saído da Itália! Passo o meu olhar rapidamente pelos
arredores, me sentindo estranha em ver aqueles seres horríveis novamente,
mesmo sendo apenas fotos, eles faziam o meu pior lado vir à tona.
Ergo o meu queixo e me aproximo do túmulo daquele desgraçado,
notando as rosas brancas e frescas em um buquê perfeitamente arrumado,
bem ao lado da sua imagem. Imediatamente, eu sinto o meu corpo inteiro
gelar e o meu coração falhar, isso significa que alguém estava vindo aqui
trazer flores... Olho com mais atenção para o arranjo e vejo um pequeno
papel preso no caule de uma das rosas brancas, e sem medo, eu me agacho e
seguro o bilhete, lendo-o com rapidez.

“ Eu sabia que cedo ou tarde você voltaria para casa... o seu lugar é
ao lado da sua família... morta!

. Ass. Devon.
Olho ao meu redor e procuro por alguém que estivesse me observando,
e sem nem pensar, eu deixo aquele papel cair no chão, sentindo o meu ritmo
cardíaco acelerar. Me sobressalto assustada com o barulho do meu relógio,
seguido por um chiado alto do vento atravessando os galhos das árvores
secas, transformando aquele ambiente assustador em algo aterrorizante. Há
quanto tempo aquele desgraçado esteve aqui? Um dia? Uma hora? Ou
simplesmente minutos? Com esse pensamento infeliz, eu saio correndo para
fora daquele lugar infernal, ouvindo os gritos de um corvo ao longe, e o
som esganiçado do animal sombrio, dispara uma corrente de adrenalina em
minhas veias.

Atravesso a trilha inóspita com os pulmões ardendo e implorando por


oxigênio, sentindo os músculos das minhas pernas doerem pela corrida e
pelas pedras que estavam no meu caminho atrapalhando o meu trajeto. Com
todo mundo morto, só sobrava um único inimigo... Will! Agora, só me
restava saber até quando ele iria se manter escondido entre as sombras, se
esgueirando como um maldito fantasma perturbado. Ofegante e cansada, eu
vejo as silhuetas dos grandes portões de entrada, e para evitar suspeitas, eu
desacelero, tentando manter o ritmo cadenciado da minha respiração. Com
um movimento ligeiro, eu capto uma movimentação sutil entre as lápides,
me obrigando a virar a cabeça bruscamente naquela direção para encontrar
quem me seguia na espreita.
“ Existem pessoas que dizem que a verdade machuca,
pois é exatamente ao contrário, a verdade nos poupa
muita dor, a verdade nos poupa a dor da mentira! ”

Maria Eduarda.

O lho para todos os lados e não encontro ninguém, o lugar e toda a sua
áurea mórbida eram sinistros, e provavelmente, aquele vulto escuro
foi apenas um resultado do meu golpe de vista. Inspiro o ar gélido e expiro
lentamente, observando com bastante atenção aquele espaço aberto, me
certificando que não havia nada e nem ninguém ali, a não ser, um monte de
túmulos e árvores mortas. Levanto novamente as golas do meu sobretudo e
coloco as minhas mãos nos bolsos, sentindo uma frieza monótona me
envolver, como se fosse um mau presságio.

Antes de sair daquele maldito cemitério, eu dou uma última averiguada


no perímetro, me sentindo uma supersticiosa estúpida. Solto o ar que estava
aprisionado em meus pulmões e com as mãos nos bolsos, eu saio dali,
enquanto a minha cabeça cansada martela incansavelmente a ideia de que
tinha algo errado acontecendo e que as coisas estavam fugindo do meu
controle novamente. Sinceramente, eu não sei bem o que poderia estar se
passando... Mike estava sumido, e agora, eu recebo essa carta tão pessoal...
e como de costume, as peças desse quebra-cabeça não estavam mais se
encaixando, deixando vazios e lacunas em branco.

Bufo frustrada e irritada, passando pelos portões de ferro e dando de


cara com uma calçada completamente vazia, sentindo um calafrio
perturbador e uma sensação angustiante assolarem o meu peito. O meu
destino agora é um edifício antigo, para ser mais precisa, um banker com
armamentos e utensílios de guerra, um armazém camuflado bem no centro
da cidade. Sky é um homem de muitos negócios e de ampla influência no
mercado negro, e com toda a certeza, a venda de armas está no topo da sua
lista seleta. A cidade de San Diego é gigantesca e é perfeitamente
esquematizada para suprir as necessidades de uma evacuação em massa, e
isso para o submundo do crime, é perfeito!

Movimentos e estratégias movem um jogo de xadrez, e é essa mesma


filosofia, que move o mundo da máfia! Apesar da minha antiga casa ficar
localizada em uma área um pouco mais afastada, eu não estranho a escolha
do Giovanni em alugar um apartamento no coração da cidade, afinal, é o
bairro onde se tudo desse errado, existia uma infinidade de possibilidades
para um escape rápido e de emergência. Um bairro central dá acesso a
vários outros, e essa, é uma das características que influencia na escolha de
um mafioso, porque simplesmente, não dá para fechar todas as saídas ao
mesmo tempo.

Depois de um tempo caminhando pelas ruas, eu finalmente chego ao


meu destino, lançando um olhar discreto para a placa verde que estava
exposta na esquina. Apesar de estar com a mente toda fodida, eu reconheço
esse lugar com bastante facilidade, confirmando as minhas suspeitas assim
que eu termino de ler o nome da rua, e o associo, as minhas lembranças das
poucas vezes que eu estive aqui. Os pedestres andam e circulam ao meu
redor envoltos em seus próprios problemas, dispersos e presos em seus
próprios mundos, atônitos a qualquer realidade paralela.

Mantenho a minha postura firme e atravesso mais um quarteirão, e não


demora muito, para que os meus olhos deslizem pela fachada discreta e
comum de um prédio na esquina. A edificação apesar de antiga é bem
conservada, com a arquitetura padronizada com as construções dos
arredores, tornando aquele lugar perfeito para um encontro casual de
negócios, sem jamais levantar suspeitas. A única entrada de acesso ao
prédio estava sendo protegida por dois grandalhões posicionados em
lugares estratégicos, fazendo a ronda costumeira do meu sócio misterioso.
Imediatamente, eu ajeito as golas do meu sobretudo, escondendo mais as
laterais do meu rosto, passando por entre os homens sem ser abordada, e
muito menos, notada.

Subo as escadas com cautela, tentando não deixar transparecer em meu


semblante, a minha preocupação sobre os acontecimentos recentes, afinal, a
última coisa que eu queria agora, era dar explicações a Sky sobre o grande
mistério que rodeava a minha vida, além é claro, do grande desastre que era
a minha relação amorosa. Em pouco tempo de casada, eu passei de esposa
que queria se vingar, para uma mulher completamente apaixonada pelo
marido, e isso, é tudo culpa do Giovanni! Para ser sincera, eu estou fodida
com isso, porque eu me deixei envolver... e eu fui seduzida pelo chefe da
máfia.

Subo os degraus rapidamente e avanço entre os andares com bastante


agilidade, parando no quinto pavimento que fica localizado bem no meio da
grande edificação. Tudo estava vazio, e aparentemente, não havia
moradores por ali, era tudo um engodo e uma grande rede de mentiras. A
enorme escadaria de acesso era ampla e circular, com um grande vão
vazado no centro, que dava uma boa visão de todos os andares para a
pessoa que se esgueirasse no peitoril de segurança da mesma. Com passos
mais calmos, eu avanço pelo corredor vazio e observo as duas alas de
direções opostas, os pequenos vãos de circulação davam acesso a dois
apartamentos, totalizando quatro por andar, e como de costume, o ponto de
encontro estava sem nenhuma iluminação.

Me aproximo com cuidado do corredor indicado e analiso o bocal da


lâmpada que estava completamente vazio. Imediatamente, eu olho para o
chão, observando os pedaços e os cacos de vidros espalhados pelo piso
polido, percebendo logo de cara, a existência da armadilha de som. Quem
quer que seja essa pessoa que está trancada do lado de dentro, está com
medo de ser encontrada ou está em apuros, então, com cuidado, eu passo
pela armadilha e me aproximo da porta, evitando pisar nos estilhaços com a
minha bota, não querendo alarmar e alertar o indivíduo que está escondido
no apartamento.

Forço a maçaneta esperando encontrá-la fechada, mas, para a minha


surpresa, a porta estava aberta, me dando conta que provavelmente, as
coisas não estavam trilhando o rumo que deveriam estar. Abro a porta
devagar e me assusto com o que eu vejo, sentindo uma onda de adrenalina
percorrer o meu corpo, atiçando os meus instintos de sobrevivência e de
assassina. Tudo estava revirado, os móveis quebrados e espedaçados, e o
pior de tudo, uma poça enorme de sangue serpenteava pelo assoalho de
madeira, trilhando um caminho com o líquido grosso e avermelhado até a
poltrona que estava no meio da sala. Assustada, eu coloco as minhas mãos
sob a minha boca, reconhecendo as feições estáticas do cadáver que estava
bem diante dos meus olhos.
Sky está morto! O seu corpo está amarrado na cadeira de um jeito
perturbador, o seu semblante horrorizado e endurecido está praticamente
irreconhecível, porque a sua boca está totalmente dilacerada e despedaçada,
envolvida em uma baba grossa e gosmenta de tom bordô. O seu rosto está
inchado e bastante ferido, com várias perfurações e buracos em sua carne,
indicando o quanto ele tinha apanhado e sido mutilado de maneira covarde,
desencadeando uma reação adversa em seu corpo, fazendo com que, um
tom azulado e esverdeado se destaque ao redor dos seus cortes,
transformando o seu rosto em algo digno de um filme de terror. Engulo em
seco e prendo a minha respiração, olhando para a sua barriga aberta e para
os seus órgãos internos expostos, e essa imagem sombria, me faz ter uma
ânsia involuntária.

Checando a movimentação do apartamento, eu dou alguns passos para


frente e adentro o espaço, assustada com a selvageria que estava estampada
naquela cena horripilante. Avalio a sala sem nem prestar atenção em nada,
chocada com a quantidade de sangue que respingava e gotejava livremente
do corpo abatido e esfolado. Olho para os seus sapatos e faço uma careta de
nojo, vendo alguns órgãos jogados em cima dos seus pés, enquanto outros
ainda estavam presos em suas entranhas, tencionando as suas tripas moles,
se movimentando em pequenos reflexos involuntários, indicando que essa
tortura tinha sido recente.

Sinto o meu estômago se contrair, trazendo aquela velha sensação de


volta, a mesma que vinha me atormentando a algum tempo, uma maldita
sensibilidade ao cheiro de sangue que não fazia o menor sentido. Ainda
com as mãos em minha boca, eu observo a faca ensanguentada que estava
jogada no chão próximo ao seu corpo, e como se os meus pulmões não
suportassem inspirar e expirar pela boca, eu solto todo o ar que estava
preso, sem acreditar no que eu estava vendo. O que tinha acontecido aqui?
Um dos homens mais espertos que eu já conheci e um dos meus melhores
aliados, estava morto!

Chego mais perto e vejo algo vibrar no meio das suas entranhas, me
fazendo ter uma nova ânsia violenta, que me obriga a tossir engasgada,
trazendo o gosto azedo e amargo até o limite da minha garganta. Me curvo e
tento prender o vômito, ainda ouvindo o som molhado e asqueroso do
vibrar de algum aparelho envolto em uma massa úmida de restos de tecidos
humanos. Olho novamente para aquela papa nojenta que estava apoiada em
seus pés rígidos e analiso a vibração insistente de um celular se
movimentando no meio daqueles órgãos revirados, provavelmente, era o
mesmo aparelho que ele utilizou para entrar em contato comigo. Sem
conseguir me segurar, eu coloco tudo para fora, despejando o meu café da
manhã no chão daquela sala, vendo aquele bolo azedo se misturar a toda
aquela merda que já estava ali.

Espero toda a minha ânsia passar, mas antes disso acontecer, eu coloco
tudo o que eu tinha e o que eu não tinha para fora, e assim que eu sinto o
meu estômago melhorar, aliviando o seu aperto violento, eu limpo a minha
boca com o dorso da minha mão e tiro o excesso de saliva que escorre pela
lateral dos meus lábios e pelo meu queixo. Respiro fundo e tento me
recompor, mas antes que eu consiga me reerguer, eu escuto o barulho de
passos sutis atrás de mim, e logo em seguida, o som estrondoso da porta de
entrada sendo batida com toda a força. Por reflexo, eu me viro bruscamente,
e assim que eu vejo a figura imponente e máscula, uma onda fria e gelada
desce por minha espinha como uma gotícula de suor, enrijecendo todo o
meu corpo e me deixando em estado de choque.

O meu coração acelera e as minhas pernas ficam moles, assim que eu


olho as mãos e as roupas banhadas em sangue do meu marido,
transformando a sua figura em um ser visceral. Engulo em seco e congelo,
sentindo uma agonia me estrangular, sufocando-me e impedindo a entrada
de oxigênio em meus pulmões falhos, me forçando a arquejar nervosa. Fito
o seu rosto e o seu semblante transtornado, a sua respiração estava
entrecortada e os seus olhos estavam tão crus e tão sombrios que me doíam
fitá-los. Aquele homem que estava diante de mim não era ele... não era o
Giovanni que eu amava, e sim, o monstro que habitava dentro dele...

Ele já sabe da verdade, ele descobriu tudo! Tento encarar o seu olhar
rígido novamente, mas assim que os seus olhos negros me encontram, as
suas sobrancelhas se contraem e um vinco ameaçador se forma entre elas,
fazendo os meus olhos arderem de imediato, me dando a certeza que eu não
tinha mais saída. Ele descobriu a verdade e da pior maneira possível... Na
defensiva, eu me afasto, dando alguns passos para trás, observando o seu
jeito robótico e a calma excessiva que a sua postura exalava. As suas
passadas eram calculadas e precisas, e não expressavam nem metade da
fúria que estava cravada em suas pupilas dilatadas do mais puro ódio.
— Ah, Serena... — Giovanni rosna com a sua voz endurecida, e o seu
tom rígido, corta o ar e me atinge como uma lâmina afiada, me dilacerando
como um punhal pontiagudo. — Sua vadia mentirosa...

Me sobressalto assustada, sentindo o meu corpo sofrer um espasmo


involuntário, em resposta a adrenalina repentina que foi despejada em
minha corrente sanguínea, enquanto os seus olhos frios me analisam de
maneira acusatória, fazendo toda a minha coragem murchar. Com as
lágrimas já beirando as minhas bochechas, eu tento falar, balbuciando em
meio ao meu queixo trêmulo, o quanto eu estava arrependida de ter omitido
aquela verdade. Desvio o meu olhar do seu e fito o sangue que goteja
livremente por suas mãos, escorrendo em uma avalanche de sensações
estranhas, dando a ele, um ar selvagem.

— Giovanni... — Sussurro em um fio de voz, sentindo as minhas


palavras embargarem no meio do caminho, por causa do desespero. —
Tenta me entender...
— CALA A PORRA DA BOCA! EU NÃO QUERO OUVIR AS
SUAS MENTIRAS E A SUA MALDITA VOZ! — Ele grita e eu
estremeço, observando enquanto ele passa as mãos em seu cabelo, sem se
importar de se banhar no sangue que escorre pelo seu braço, transformando
a sua imagem em algo ainda mais tenebroso. — VOCÊ NÃO VAI
CONSEGUIR ME ENGANAR!

Em meio ao seu ímpeto furioso, ele avança na minha direção, me


fazendo recuar e dar passos errôneos para trás em um movimento de
autodefesa totalmente desesperado. Sem saída, eu sinto as minhas costas se
chocarem contra a pedra gelada de mármore da cozinha americana,
reduzindo a nossa arena a um pouco mais que dois passos de distância, me
condenando a enfrentar o seu lado mais destrutivo. E como se tudo
funcionasse em câmera lenta, eu fito o seu rosto sombrio, antes de ser
atingida por suas mãos grosseiras, que avançavam em meu pescoço com
uma rapidez e um fervor indescritível.

De imediato, um nó pesado se forma em minha garganta, enquanto o


meu coração dispara, me fazendo tremer de pânico, totalmente dominada
pelo pavor e pelo medo cru da sua descoberta repentina. Antes que eu
consiga processar aquela situação, eu sinto os seus dedos tomarem conta do
meu pescoço, afundando-se na gola da minha camisa com uma fúria
impiedosa, me melando com o sangue quente do homem que já estava
abatido do outro lado do cômodo. Por reflexo, eu agarro os seus pulsos com
as minhas mãos falhas, tentando em vão, conter o monstro que o corroía.

O seu aperto se intensifica em minha garganta e os meus olhos


embaçam ligeiramente, indicando que a sua força estava ultrapassando
todos os limites do meu corpo, cortando a circulação de oxigênio para o
meu cérebro, me deixando grogue. Fito as suas íris negras, vendo o seu
olhar ameaçador e de desprezo se igualar ao do Maxell, me levando
diretamente para a minha infância, onde aquele miserável me tratava como
um verme insignificante e invisível. Engasgo, em uma busca desesperada
pelo ar, querendo suprir de alguma forma a necessidade básica do meu
corpo mole.

— Por favor... — Tento novamente, querendo encontrar em meio


aquele mar tempestuoso, o homem que eu conhecia. — Olhe para mim...

Toco em seu rosto e aperto o seu queixo, encarando o seu olhar vazio e
o seu maxilar trincado, forçando a minha garganta arranhada a grunhir
alguma palavra no meio daquela compressão violenta e insuportável. Luto
com o meu olhar arregalado, tentando argumentar em um silêncio
angustiante, enquanto algo dentro de mim me alertava que seriam apenas
palavras jogadas ao vento, porque ele era incapaz de me ouvir. Me forço a
falar, e assim que ele vê o meu desespero, ele sorri de maneira cínica.
Giovanni me enxergava como um alvo, como a porra de um inimigo que
ele precisava eliminar, e consequentemente, ele não podia me ver e nem
mesmo era capaz de me reconhecer.

Labaredas de ódio ardem atrás dos seus olhos, e finalmente, eu sinto o


meu corpo corresponder aos meus comandos, me fazendo agarrar os seus
pulsos com firmeza, sentindo os seus músculos se contraírem, enquanto ele
afunda mais os seus dedos em minha carne, me obrigando a arquejar pela
falta de ar. Por instinto, eu cravo as minhas unhas em sua pele, querendo
acordá-lo daquele transe e daquele modo ameaçador que o deixava cego, e
com os pulmões chiando em desespero, eu aperto a sua garganta, tentando
retribuir de maneira falha, a mesma intensidade do seu agarre bruto.

— Você teve todas as chances de ser sincera comigo, mas mesmo


assim, você escolheu me trair, escolheu apunhalar uma faca nas minhas
costas! — O meu marido cospe as palavras, e sem conseguir abalá-lo com o
meu contragolpe, ele puxa o meu corpo para frente e bate a minha cabeça
com toda força contra a coluna mais próxima. — Você é uma maldita
traidora!

Gemo de dor, sentindo a força daquele impacto seco se espalhar por


minha nuca como uma descarga pulsante de sofrimento. Giovanni está
disposto a me matar e não há mais dúvidas quanto a isso, e com o meu peito
martelando com as batidas duras do meu coração, eu sinto as minhas mãos
adormecerem e a minha cabeça arder, indicando que o meu corpo está
perdendo miseravelmente para a sua força incontrolável. A suas mãos se
afundam com mais vontade em minha garganta, e de imediato, a minha
visão periférica embaça e escurece, me deixando tonta e completamente
zonza.

Sem nenhum resquício de pena, ele repete o mesmo movimento


violento, obrigando as minhas costas doloridas a baterem contra a parede
dura, mantendo firme o seu aperto em meu pescoço, me deixando perdida e
inerte no espaço. Antes que a escuridão me domine, Giovanni me arremessa
no chão com toda a sua força, fazendo os meus joelhos e os meus braços se
chocarem no piso duro, ao mesmo tempo que o ar rasga e preenche os meus
pulmões, trazendo o meu fôlego de volta e espalhando uma dor dilacerante
durante o processo.
— ME EXPLICA, O QUE É ISSO! ME EXPLICA, SUA VADIA! —
Ele grita furioso, andando de um lado para o outro visivelmente
transtornado, buscando algo no bolso do seu casaco e arremessando os
objetos em mim, sem se importar em me machucar. — Eu encontrei isso no
nosso quarto... eu desconfiava de você, Serena! Eu sempre tive as minhas
suspeitas! Então, eu resolvi pôr a prova, eu aproveitei que você estava
desesperada para não voltar para esse maldito lugar, e mandei instalar
câmeras por todos os cômodos da nossa casa provisória, sabendo que você
estava tão perdida e imersa em sua própria agonia, que jamais desconfiaria
de nada!

Olho de relance para o meu celular e para as cartelas de


anticoncepcionais que estavam bem diante dos meus olhos, enquanto eu
ainda tentava me recompor, passando a minha mão por toda extensão do
meu pescoço, ganhando tempo para lutar contra esse homem irredutível.
Me engasgo com a minha própria saliva, respirando com dificuldade,
sentindo o meu ar escapulir, enquanto a pressão que os seus dedos fizeram
em minha garganta, arranham e afunilam as minhas cordas vocais,
transformando os meus grunhidos em algo animalesco.

— EU QUERO QUE VOCÊ FALE NA MINHA CARA QUEM


VOCÊ É DE VERDADE! — Giovanni grita e me lança um olhar carregado
de raiva e de decepção, me fazendo estremecer só de olhá-lo, deixando bem
nítido toda a sua dor crua e perversa. — FALA, PORRA!

Sinto os meus olhos ficarem turvos, não conseguindo suportar a


angústia que se instalava em meu peito, e sem aguentar mais a pressão
psicológica que espalhava um latejar doloroso em minha cabeça, eu grito.
Sem pensar duas vezes, Giovanni pisa na minha mão, a mesma que apoiava
o peso do meu corpo, esmagando com os seus sapatos, os meus dedos finos,
me fazendo choramingar de aflição, ultrapassando os limites da minha
paciência, enquanto ele prende e comprime por um longo tempo, a minha
mão na sua sola suja de sangue e vômito.

— Eu deixei você se enforcar em suas próprias mentiras, porque eu


queria ver até onde você iria com isso, sua maldita! — Ele rosna furioso,
transtornado e envolvido em seu instinto assassino, forçando o seu peso
contra a minha mão dolorida. — Eu fui contra a porra da minha própria
natureza, só para dar a você o meu melhor lado! Eu estava disposto a matar
e a morrer por você, Serena!
Mordo o meu lábio inferior com força, tentando abafar a dor e as suas
acusações cortantes, sentindo o meu mundo desabar sobre as minhas costas,
me derrubando e me dando uma rasteira violenta. Giovanni sai de cima da
minha mão e se afasta impaciente, indo na direção da poltrona onde Sky
está morto, e em seguida, ele derruba o móvel com a sua ira, fazendo um
barulho pesado e abafado ecoar contra o piso de madeira, criando uma
verdadeira cena de guerra naquele apartamento, onde órgãos e sangue se
espatifam para todos os lados, espalhando uma onda de tremedeira por todo
o meu corpo e uma descarga emocional degradante em minha mente
perturbada.

— EU FUI UM ESTÚPIDO! UM COMPLETO IMBECIL! —


Giovanni grita e o barulho alto de coisas se quebrando tomam conta do
espaço, denunciando toda a sua insanidade e o quanto ele está fora de si. —
LEVANTA! LEVANTA, PORRA!

Antes que eu consiga reagir, eu sinto as suas mãos ásperas invadirem


os fios do meu cabelo, e sem pena alguma, ele ergue o meu corpo, cravando
os seus dedos em minhas bochechas, com um agarre extremamente
violento. Giovanni esfrega os nós esfolados dos seus dedos e a sua palma
cortada em meu rosto, me sujando de sangue, e consequentemente,
tornando aquele odor ferroso em um cheiro forte e enjoativo. Fito o seu
rosto transtornado e sinto a sua respiração pesada bater em minhas
bochechas ensanguentadas, enquanto as lufadas de ar espessas e grosseiras
dilatam as suas narinas, transformando-o em um ser irracional.

— Eu sei que eu que errei! Eu sei que eu tomei decisões erradas! —


Confesso com a voz abatida, parando para recuperar o fôlego, tentando
chegar de alguma maneira em seu lado racional, enquanto eu sinto a minha
boca secar. — Giovanni... se coloca no meu lugar... eu estava em um beco
sem saída, me perdoa, me perdoa!

— Você sabe o que eu faço com as pessoas que me traem, Serena? —


Giovanni rosna furioso e solta o ar preso em sua garganta, apertando com
mais intensidade, os fios dos meus cabelos e as minhas bochechas,
mantendo firme, o seu semblante completamente assustador e totalmente
dominado pelo ódio. — Eu mato... eu torturo...

Ele é um monstro... igualzinho a todos os outros... eu estava


enganada... muito enganada... ele não é capaz de mudar... Seguro os seus
pulsos e aperto a sua pele, sentindo o meu coração bater descontrolado,
enquanto ele me empurra com força contra a parede novamente, fazendo a
minha cabeça bater contra algo duro. E com a mesma força que ele me
segura, eu sinto uma ardência se espalhar por meu rosto, o impacto da sua
mão forte atinge a minha bochecha com tanta fúria, que os meus olhos
lacrimejam de imediato, espalhando uma dor enraizada em minha face.

Por reflexo, eu toco o meu rosto machucado e fito os seus olhos


sombrios, sem acreditar que ele tenha sido capaz de me bater... mesmo
depois de ter ouvido tudo o que eu falei e das coisas horríveis que eu
passei... Analiso o seu olhar impenetrável e sinto uma raiva incontrolável
crescer dentro de mim, mas antes que eu tenha a oportunidade de devolver
o tapa, eu sou agarrada pelos cabelos e arrastada para fora, com os meus
joelhos sendo esfregados contra o chão ensanguentado. Por instinto, eu
tateio o piso com as mãos, buscando a faca afiada que estava no meio
daquele caos completo, mas no meio da minha aflição, eu não a encontro,
sentindo apenas a minha mão encostar em pedaços molhados de alguma
massa nojenta.

— EU CONFIEI EM VOCÊ, SUA MALDITA! EU CONFIEI,


PORRA! — Giovanni grita ríspido e me joga no chão novamente, me
fazendo cair de mau jeito contra um pedaço de algum móvel quebrado,
fazendo com que uma dor lancinante percorra por minha barriga. — VOCÊ
NÃO NEGA O SANGUE QUE CORRE EM SUAS VEIAS, VOCÊ É
IGUALZINHA A TODO O RESTO DA SUA FAMÍLIA, UMA MALDITA
TRAIDORA!
Giovanni dá mais um passo na minha direção e eu me afasto, me
sentando e me arrastando de uma maneira patética pelo chão, tocando o
meu abdômen que se contraía em um reflexo violento. Me afasto o máximo
que eu posso até sentir as minhas costas encostarem em uma das paredes da
sala, passando o meu olhar rapidamente pelo espaço, buscando algo para
me defender daquele homem descontrolado. Giovanni se agacha diante de
mim e eu sinto uma breve hesitação passar em seu rosto, sinalizando que
era a chance que eu precisava para contra-atacar.

— Saia de perto de mim! — Falo com todo o meu desprezo, sentindo a


mágoa crescer em meu peito, e de soslaio, eu vejo o cabo de uma pistola
dentro do coldre do seu casaco ensanguentado. — Eu odeio você! Eu nunca
vou perdoá-lo! Nunca...
A sua risada cínica e de escárnio preenche os meus ouvidos, e de
imediato, eu lanço um olhar de nojo na sua direção, me sentindo uma idiota
completa, por ter um dia acreditado e alimentado a ideia de viver ao seu
lado, querendo compartilhar uma vida inteira juntos. Me encolho no chão
de propósito, ignorando as dores do meu corpo, esperando ele avançar para
eu ter um acesso melhor a arma que estava escondida em sua vestimenta.
Giovanni pega o meu maxilar e aperta, forçando o osso do meu rosto de
uma maneira insuportável, me fazendo gemer pelo incômodo invasivo.

— Tudo fazia parte do plano, não é? Me enganar... com toda aquela


história de abusos... com aquelas palavras mansas e sentimentais, falando
de amor... — Ele diz de maneira fria, me machucando com a sua
indiferença, e eu só queria que aquele inferno todo acabasse, porque eu já
não aguentava mais. — Sabe quanto tempo eu fiquei atrás do desgraçado
das penas negras? Muito tempo esposa... então, imagine a minha surpresa
ao saber que ele e você, são a mesma pessoa!
— Eu não traí você... não da forma que você está imaginando, porque
eu te amo! Eu me apaixonei por você! — Falo ofegante, sentindo o seu
aperto em meu rosto se tornar tão forte e intolerável, que eu sou obrigada a
parar para soltar um gemido entrecortado. — Eu te amo...

Fito os seus olhos furiosos e vejo os seus lábios tremerem, como se ele
estivesse tentando se controlar ou lutando contra a sua natureza obscura,
mas ele não consegue se conter por muito tempo, explodindo e me
empurrando em um solavanco brusco. Giovanni levanta e se afasta de mim,
deixando tudo vir à tona como uma avalanche de fúria e insanidade, e eu
aproveito o distanciamento, para me levantar do chão imundo, sentindo a
adrenalina corroer os meus ossos, me dando forças de onde eu não tinha,
para suportar o peso do meu próprio corpo.
— EU TE AMEI, FUI EU QUE TE AMEI! EU! EU! EU! — Giovanni
grita e se vira na minha direção, batendo em seu peito com ódio e me
lançando um olhar enfurecido, com os seus olhos vermelhos e com as veias
da sua testa se sobressaindo em uma raiva incontrolável. — A PORRA DO
MONSTRO SEM ALMA AMOU VOCÊ!!

Mordo o meu lábio inferior e sinto os meus olhos arderem, em um


aviso claro que eu estava prestes a chorar por causa da sua confissão.
Observo ele se afastar um pouco, como se estivesse tentando decidir o que
fazer, enquanto eu abraço o meu próprio corpo, me sentindo mal por ter
omitido e escondido a verdade. Olho para o estrago ao nosso redor e sinto
os meus músculos reclamarem, já sentindo os efeitos da nossa briga nos
meus membros tensos e rígidos.
— Eu nunca menti para você, Serena! Muito pelo contrário, eu tentei
ser o que eu não sou! Eu sempre vou ser um monstro, e isso, nunca vai
mudar, porque eu sou um fodido de merda! Pela primeira vez, eu quis
consertar algo ao invés de destruir, mas você acabou com qualquer parte
maleável que existia dentro de mim. — Giovanni diz gélido sem me olhar
diretamente, encarando qualquer outro ponto da sala, menos o meu rosto.
— Antes que eu enfie uma bala na sua cabeça, eu quero que você vá
embora! Suma daqui!

Balanço a minha cabeça em negação, sem acreditar no que eu estava


ouvindo, que por fim, ele me deixaria ir. Dou mais um passo vacilante para
frente, e assim que ele percebe a minha movimentação, Giovanni avança e
me puxa pelo braço, com toda a sua raiva e com toda a sua ignorância,
aproximando os nossos corpos e os nossos rostos. O meu marido me fuzila
com o seu olhar ameaçador, soltando o ar preso em lufadas pesadas, que
batem diretamente em meu rosto, e sem aviso, ele segura o meu maxilar e
me obriga a olhá-lo, me fazendo engolir em seco.

— Ah, Serena... como eu quero matar você... — Ofego ao ouvir as suas


palavras duras, enquanto ele aproxima mais os nossos rostos de maneira
grosseira. — Some daqui! Some daqui, sua miserável! E tire todos aqueles
vermes do meu território, todos... até aquele seu maldito cão de guarda que
deve estar se rastejando sem nem saber a porra do seu próprio nome! Em
nome do que tivemos, eu vou dar a você dois dias de vantagem para
desaparecer no mundo... mas suma sem deixar rastros! Porque, se eu
encontrar você outra vez, eu te mato! E não vou hesitar em apertar o gatilho
para acabar com a sua vida desprezível, mesmo que isso me destrua por
dentro!

Observo o seu maxilar trincado e sinto o solavanco brutal quando ele


me empurra para longe do seu corpo, e sem hesitar, eu saio porta afora, sem
nem saber para onde estava indo, descendo as escadas no piloto automático,
sentindo o peso de tudo cair sobre as minhas costas, como um choque de
realidade brusco. Saio pelas ruas sem rumo, correndo exasperada e sem
olhar para trás, sentindo as veias do meu pescoço se alterarem e doerem,
reverberando em minha cabeça dolorida. Mike está ferido... Giovanni
capturou e feriu ele...

O meu coração aperta, se comprimindo envolta da minha dor


dilacerante, e em um choro incontrolável, eu corro sem destino, sentindo o
peso das minhas escolhas me soterrarem e me enterrarem viva! Tudo
acabou! A nossa história chegou ao fim! O meu romance, o meu amor, nada
disso existe mais... fecho os meus olhos e continuo o meu caminho,
sabendo que a vida que em pouco tempo eu construí, desmoronou... me
deixando apenas na ilusão do passado...
Seis meses tinham se passado... seis malditos meses...

Deslizo os meus dedos sobre a frieza da pistola que estava em minhas


mãos e me recordo da última vez em que nós dois nos encontramos,
sentindo a raiva me consumir por dentro, como se esse tempo todo
separados não fosse o suficiente para aplacar a minha fúria incontrolável, e
muito menos, capaz de amenizar toda a porra da minha frustração. Serena é
uma desgraçada mentirosa! Uma maldita filha da puta! Trinco o meu
maxilar, assim que eu me lembro daqueles seus olhos misteriosos e
enigmáticos, carregados de traição e mentiras.

Aperto com força os meus dedos envolta do cabo da arma metálica,


aplicando toda a minha tensão naquele gesto enraivado, até sentir as
junções da minha mão adormecerem por causa da falta de circulação.
Respiro fundo e fecho os meus olhos, encostando a pistola em minha testa,
batendo-a levemente em minha cabeça, sentindo aquele objeto frio e
dilacerante me transformar novamente naquele ser incontrolável e
destrutivo. Eu vou encontrá-la... não importa quanto tempo passe... não me
interessa se vão ser dias, horas e muito menos anos... eu estou disposto a
encontrar aquela infeliz ...

O temido Don se transformou em um ser totalmente descontrolado,


com uma sede exacerbada por sangue fresco e por morte... Serena foi
crucial em minha evolução, afinal, a sua traição me modificou de uma
maneira drástica... destruindo-me e me envolvendo em uma áurea obscura
de insanidade, onde o único antídoto que era capaz de me conter, era
matar... estripar... torturar... Nesses últimos meses, eu me tornei um chefe
impiedoso e implacável , deixando um maldito rastro por onde eu passava,
marcando tudo ao meu redor com o sangue grosso e em abundância.

Antes, eu matava por necessidade, agora, eu mato por esporte... eu tiro


vidas simplesmente para sentir o prazer... o êxtase puro... apenas para
aplacar os meus anseios violentos e os demônios insaciáveis que se
alimentam da minha alma corrosiva. Saio dos meus pensamentos com o
barulho do meu celular apitando, e assim que eu leio a mensagem que
brilha na tela, eu sorrio satisfeito, sentindo o monstro incontrolável que
habita dentro de mim retornar com tudo, incapaz de se manter imparcial
diante daquela informação.

“ Senhor, me perdoe o incômodo, mas eu acredito que essa informação


seja de muita importância. Nós já encontramos ela... ”

Continua...
Quem é A garota do batom rosa?
Hum... pergunta interessante... isso, ninguém nunca saberá! Muitos ao
meu redor sequer sabem que eu escrevo... maldade? Talvez... mas, eu gosto
dessa minha vida anônima, é mais gostosa!

Quem eu sou de verdade?

Eu sou uma garota que sempre gostou de inventar histórias, mas


sempre preferiu deixá-las trancafiadas em uma gaveta. Recentemente, eu
tomei coragem para mostrá-las ao mundo... então, eu espero que entrem
nesse meu universo cheio de história mirabolantes!

Um beijo, da Garota do batom rosa.

Para as pessoas que avaliarem esse livro, entre em


contato comigo via Instagram, eu tenho um mimo especial para vocês!

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