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FECHAMENTO

1- Entender as características vocais que cada estilo musical apresenta


O canto exige diferentes técnicas, treinamentos e ajustes musculares para ser executado.
Dessa forma, as técnicas e abordagens variam de acordo com o estilo musical do cantor.
No canto popular brasileiro os ajustes fonatórios se aproximam muito com os ajustes da
fala.
Os estilos musicais de canto popular mais encontrados no Brasil são MPB, Bossa-Nova,
samba, rock, sertanejo, pagode, axé e rap.
O MPB e a Bossa-Nova possuem características vocais com pequeno volume, exigindo
mais melodia e métrica do que projeção e ajustes laríngeos específicos.
O samba e o pagode podem exigir rápidas variações rítmicas e de qualidade com alguns
desvios vocais de natureza interpretativa podendo levar a um fonotrauma, possuindo voz
tensa e esforço vocal.
O Forró abrange um conjunto de estilos musicais relacionados com vários ritmos
nordestinos diferentes, atualmente os cantores utilizam vibrato vocal, voz tensa, melodias
agudas e realizam esforço vocal.
Já o rock requer tensões e constrições laríngeas com uma qualidade vocal que pode ser
intensamente desviada, áspera ou rouca, por vezes tensa e comprimida, marcada pelos
excessos na produção dos sons, principalmente em agudos e em forte intensidade.
O cantor sertanejo pode apresentar um maior grau de compressão laríngea mediana e
muitas vezes, voz aguda, com mudanças rápidas de registro, alta intensidade, ataque vocal
brusco, ressonância laringofaríngea com presença de nasalidade e excesso de vibrato; a
constrição supraglótica ântero-posterior é um gesto motor frequentemente observado, com
qualidade vocal que pode ser tensa e comprimida, com objetivos interpretativos, porém,
com menos grau de rouquidão e aspereza.
O axé utiliza muito o canto com a dança podendo haver um maior desgaste vocal e
corporal.
O rap apresenta um falar cantado, acompanhado de marcação corporal rítmica definida e
repetitiva. É importante se atentar às variações de frequência e coordenação
pneumofonoarticulatória, tanto no axé quanto no rap, por apresentarem dança.
FONTE: voz: o livro do especialista II, artigo ADEQUAÇÃO DA SAÚDE VOCAL AOS
DIVERSOS ESTILOS MUSICAIS.

2- Compreender a presbifonia
As modificações vocais e laríngeas decorrentes do processo de envelhecimento são muito
variáveis ao se comparar um indivíduo com o outro, o que depende das condições
genéticas, de saúde geral, de uso vocal ao longo da vida, entre outros aspectos. Em
decorrência desses fatores, os idosos podem apresentar graus variados de modificações
vocais decorrentes da idade. Em diversos casos, apresentam um conjunto de
manifestações considerado típico de envelhecimento vocal, o que é denominado
presbifonia.
Um dos fatores que contribui para as manifestações de presbifonia é as modificações que a
laringe sofre com o avanço da idade. Dentre elas, algumas são:
- O discreto abaixamento da laringe
- A ossificação e calcificação das cartilagens
- Desgaste das articulações, o que reduz a amplitude do movimento
- Redução do muco que lubrifica a laringe, a mucosa é mais densa e apresenta
menos fibras elásticas e colágenas
- Pregas vocais atrofiadas, com menor massa e edema, além dos outros músculos
que podem apresentar atrofia
Essas modificações fazem com que um idoso apresente características de presbilaringe,
que é a configuração glótica de uma laringe onde a prega vocal encontra-se arqueada, isso
ocorre quando a prega perde massa muscular, e atrófica o que dificulta o fechamento da
glote durante a fonação, saliência dos processos vocais das aritenóides e fenda fusiforme
membranácea durante a fonação, além de maior ocorrência de constrição supraglótica.
Essa constrição, principalmente a aproximação das pregas vestibulares, pode ocorrer por
causa de um ajuste compensatório devido às alterações vocais ou/e a ineficiência glótica.
Além disso, como os idosos podem possuir diversos tipos de dificuldades por causa da
idade, essas construções podem ser realizadas como proteção das vias respiratórias
durante a deglutição.
Essas características são mais encontradas em homens, já nas mulheres é mais comum o
edema de prega vocal.
Com o avanço da idade, além de modificações estruturais, a capacidade respiratória diminui
devido à diminuição da força dos músculos respiratórios, reduzindo, consequentemente, os
tempos máximos de fonação.
Pode ocorrer uma voz mais fraca, com menor intensidade e frequência fundamental mais
baixa nas mulheres e mais alta nos homens, soprosidade, fraqueza, tremor, instabilidade,
pouca projeção vocal, rouquidão e dificuldade para sustentar a fonação.
As manifestações de alterações vocais no idoso também podem ocorrer por causa de
doenças, algumas delas frequentes nessa fase da vida, tais como: processos infecciosos,
refluxo laringofaríngeo, doenças neoplásicas, além de fonotraumatismos. As alterações
neurológicas são causas que também podem proporcionar alterações vocais. Entre elas,
podem ocorrer: tremor, síndromes parkinsonianas, esclerose lateral amiotrófica, AVC.
As principais queixas e sintomas vocais relatados por uma pessoa idosa podem ser de
alteração na qualidade vocal, como a rouquidão e a afonia, cansaço associado à produção
da voz, esforço para melhorar a projeção vocal, soprosidade, falta de modulação vocal, voz
trêmula, dificuldade no controle da intensidade vocal, dor na região da cintura escapular
sensação de ardor, queimação ou corpo estranho na laringe.
FONTE: Voz: o livro do especialista, tratado das especialidades de Fonoaudiologia,
envelhecimento vocal em idosos institucionalizados.

3- Descrever o refluxo gastroesofágico e os impactos na qualidade vocal (edema


retrocricóide)
O Consenso Brasileiro em Refluxo Gastroesofágico a definiu como uma desordem crônica
relacionada ao fluxo retrógrado do conteúdo gastroduodenal ao esôfago e/ou estruturas
adjacentes, resultando em diferentes sintomas, associados ou não a prejuízo da mucosa
das estruturas inerentes a esse sistema e aos sistemas adjacentes.
A DRGE, apesar de ser causada pelo mesmo mecanismo, tem duas manifestações clínicas
distintas: sua forma clássica, que cursa com esofagite e é denominada doença do refluxo
gastroesofágico; e sua forma atípica, que pode cursar apenas com sintomas altos, sendo
denominada refluxo laringofaríngeo (RLF). A explicação para a ocorrência de sintomas
altos, sem sintomas digestivos, é dada pela anatomia e fisiologia do trato digestório e
respiratório.
Queixas comuns dos pacientes adultos que procuram o otorrinolaringologista são tosse
seca, pigarro, globus faríngeo e rinorreia posterior, e muitas vezes esses sintomas podem
estar relacionados ao refluxo gastroesofágico. Os mecanismos que causam esses sintomas
não estão completamente esclarecidos, mas aparentemente estão relacionados ao
processo inflamatório local causado pela agressão química e por reflexo vagal.
No entanto, vários outros fatores podem estar associados à sua ocorrência, como fumo,
abuso vocal, ingestão alcoólica, exposição a químicos ou alérgenos, faixa etária e atividade
profissional. Todos esses fatores devem ser considerados na interpretação dos achados
clínicos, e boa parte deles, além de servirem como agressores primários, também
contribuem para aumentar a secreção gástrica e relaxar o esfíncter inferior do esôfago,
facilitando o refluxo.
O pigarro, sintoma mais comum apresentado pelos pacientes com RLF, é ocasionado pelo
edema da região retrocricóidea, bem como pela estase salivar nessa região e nos seios
piriformes, que causam a sensação de globus faríngeo, o segundo sintoma mais comum.
Infelizmente, o próprio ato de pigarrear aumenta a inflamação local perpetuando o processo
e podendo até levar à formação de úlceras ou granulações causadas pelo contato na região
dos processos vocais.
Durante a deglutição, os esfíncteres superior e inferior do esôfago apresentam um
mecanismo sincronizado de abertura e fechamento. Esses esfíncteres têm duas funções:
em primeiro lugar, prevenir o escape do alimento do estômago ou esôfago para as regiões
superiores, ou seja, para a faringe, cavidade da boca e nariz; e, em segundo lugar, bloquear
a entrada anormal de ar no esofago e no estômago.
Para prevenir o refluxo gastroesofágico, o esfíncter inferior deve manter uma pressão maior
do que o estômago. Quando essa pressão não é mantida, a pressão gástrica torna-se maior
do que a do próprio esfíncter, ocorrendo então o refluxo. A diminuição da pressão do
esfíncter esofágico inferior pode ocorrer por afrouxamento muscular do esfíncter, hérnia de
hiato, ou ainda ainda, por relaxamento transitório deste esfíncter. Há fatores exógenos que
também podem diminuir a pressão do esfíncter, tais como fumo, chocolate, álcool e
medicamentos como tranquilizantes, anti-histamínicos e levodopa.
Além disso, a redução dos movimentos peristálticos do esofago e uma velocidade mais
lenta nos esvaziamentos esofágico e gástrico também são a causa do refluxo
gastroesofágico.
De acordo com o Consenso, a doença do refluxo gastroesofágico é um transtorno crônico,
relacionado com a presença de fluxo gastroduodenal retrógrado para dentro do esôfago
e/ou órgãos adjacentes, resultando em um espectro variado de sintomas com ou sem lesão
tecidual. Assim, na doença do refluxo ocorre um retorno do conteúdo ácido do estômago
para o esôfago, que não possui mucosa adequada para recebê-lo.
O paciente com a doença do refluxo gastroesofágico típica apresenta dor epigástrica,
pirose, azia e sensação de fluxo retrógrado no trato digestivo. Descrita como queimação e
ardência na região retroesternal que se propaga por meio de ondas até a região superior do
trato digestivo, a pirose é considerada o sintoma cardinal do refluxo.
Assim, além das manifestações típicas podem ser observadas manifestações atípicas do
refluxo classificadas em esofágicas, pulmonares, otorrinolaringológicas e Orais. As
manifestações otorrinolaringológicas podem incluir rouquidão, pigarro, laringite crônica
posterior, sinusite crônica e otalgia.
Quando não há comprovação de que as alterações sejam decorrentes da doença do
refluxo, utiliza-se o termo síndrome do refluxo gastroesofágico ou, mais especificamente,
síndrome laringofaríngea do refluxo, porque nesta situação, não existe a doença do refluxo
gastroesofágico propriamente dita, mas uma série de sintomas laringofaringe (tais como
rouquidão, pigarro, tosse crônica, halitose e garganta irritada), além de alguns sinais
observados no exame da laringe (edema ou espessamento na região posterior da laringe,
hiperemia das cartilagens aritenóides, edema e/ou hiperemia de pregas vocais, além de
leucoplasias).
Tais pacientes não apresentam pirose, o sintoma cardinal da doença do refluxo
gastroesofágico, nem esofagite e apresenta refluxo na posição vertical durante o dia,
exatamente porque não há a presença da doença do refluxo. Enquanto o paciente com
refluxo gastroesofágico apresenta pirose, dores estomacais e na região retroesternal,
esofagite e refluxo na posição horizontal, importante saber para caso seja necessário
encaminhar o paciente para um gastro.
Nesta situação de ausência da doença do refluxo, as hipóteses etiológicas que explicam as
alterações laríngeas e vocais observadas podem incluir vários fatores tais como: a presença
de refluxo gastroesofágico fisiológico (porém com insuficiência dos mecanismos de
neutralização, como alterações da saliva e muco, e também motilidade esofágica alterada);
fatores agressivos laringofaringeos exógenos (tabagismo, alcoolismo, aspiração de
substâncias tóxicas e/ou irritantes); e fatores agressivos laringofaringeos endógenos
(fonotrauma, alergias, infecções de vias respiratórias, alterações dos receptores sensitivos e
sensoriais do trato vocal).
Vários são os sintomas vocais de pacientes com refluxo laringofaríngeo, que são: disfonia
Crônica ou intermitente, rouquidão fadiga vocal, quebras de sonoridade, pigarro,
aquecimento vocal prolongado, sensação de muco espesso, boca seca, halitose, globo
faríngeo (sensação de bolo na garganta), disfagia, regurgitação, dor de garganta crônica,
odinofagia, tosse noturna, tosse crônica, aspiração, dificuldade de respirar, pneumonia,
dispepsia e azia.
Diversas alterações laríngeas podem ser associadas a presença de refluxo; as mais
comuns são o edema difuso, ou edema concentrado na mucosa retrocricóide, e o eritema
de laringe (inflamações ou irritações). Além dessas, o refluxo tem sido apontado como
causa ou co-fator causal de uma série de outras alterações, das quais podemos ressaltar:
laringite posterior, granuloma, úlcera, leucoplasia, laringoespasmos, estenose glótica
posterior (um fechamento da laringe), estenose subglótica, fixação uni ou bilateral de
aritenóide, edema de Reinke, nódulos vocais e laringomalácia (amolecimento das estruturas
supraglóticas da laringe).
Voz: o livro do especialista II, novo tratado de fonoaudiologia

4- Estudar os tipos de fendas de prega vocal


As fendas glóticas estão incluídas no grupo de inadequações funcionais e são
caracterizadas como alterações posturais da prega vocal.
Um fechamento glótico normal, ou coaptação glótica completa, é aquele que não deixa
nenhum espaço a amostra entre as pregas vocais,
O tamanho da fenda e sua configuração variam de acordo com a qualidade vocal, a
frequência e a intensidade da emissão. Nem todas as fendas provém de inadaptações
funcionais, muitas podem ser puramente orgânicas, mesmo que a maioria esteja associada
a uma inadaptação ou desequilíbrio muscular da laringe. Por isso, somente a observação
da fenda não é o suficiente para fechar o diagnóstico, já que é preciso analisar, também,
outros parâmetros.
Os tipos de fenda glóticas são: triangular, fusiforme, dupla, ampulheta, paralela e irregular.
As fendas triangulares apresentam um formato de triângulo e podem ser
classificadas em: posterior, médio-posterior e ântero-posterior.
A fenda triangular posterior está localizada no processo vocal das cartilagens aritenóides,
na glote cartilagínea. Em alguns casos, percebe-se o aumento de ar na produção vocal e
tempos máximos de fonação reduzidos.
A fenda triangular médio-posterior ocorre no terço médio das pregas vocais e é causada
por um contração excessiva dos músculos intrínsecos da laringe. Outras alterações
associadas é a hiperconstrição do vestíbulo laríngeo, fazendo com que as pregas
vestibulares se encostem. A voz é soprosa, podendo também ser rouca. Pode estar
associada ao surgimento de nódulos vocais.
A fenda triangular ântero-posterior é a menos comum, estende-se da parte posterior até
a anterior da prega vocal. É causada por uma hipocontração muscular da laringe, ou seja,
apresenta uma dificuldade para se movimentar e gerar a coaptação glótica adequada. Tem
como característica uma voz soprosa, de baixa intensidade, projeção vocal restrita, tempos
máximos de fonação curtos e ataque vocal soproso.
As fendas fusiformes possuem um formato oval por a parte mediana ser mais
separada. São classificadas em: anterior, ântero-posterior e posterior.
A fenda fusiforme anterior possui um fuso na região anterior da glote, com fechamento
completo na região posterior. Ocorre devido a uma deficiência na atividade dos músculos
cricotireóides. A voz apresenta frequência fundamental um pouco elevada, soprosa ou
áspera.
A fenda fusiforme ântero-posterior encontra-se ao longo da glote, sem região de contato.
Ela ocorre por causa de alterações estruturais e estão associadas à hiperconstrição do
vestíbulo laríngeo, ou seja, uma aproximação das pregas vestibulares para compensar a
falta de coaptação glótica das pregas vocais. Além disso, pode causar o aparecimento de
nódulos ou pólipos, como também alterações estruturais mínimas como sulco vocal uni ou
bilateral nas doenças de parkinson e na presbifonia. A voz apresenta características de
soprosidade, rouquidão, aspereza e bitonalidade.
A fenda fusiforme posterior é uma variação da fenda fusiforme ântero-posterior com
menor rigidez na região anterior, onde ocorre primeiramente o fechamento glótico.
As fendas paralelas são caracterizadas por uma falta de coaptação uniforme, como
se realmente tivesse duas linhas em paralelo. Elas resultam de adaptações orgânicas e
miodinâmicas, como também uma situação de pouco muco. Elas são incomuns e podem
ser confundidas com as fendas triangulares ântero-posteriores. Elas geram pouco impacto
vocal, podendo ou não haver voz com discreta redução de intensidade.
As fendas duplas apresentam duas regiões de coaptação insuficiente, formando um
fuso na região anterior e um triângulo na região posterior. Geralmente, elas são fendas
triangulares médio-posteriores com lesão de mucosa, normalmente nódulos, o que produz a
abertura fusiforme anterior, tornando-se uma fenda dupla. Além disso, também pode
apresentar uma contração excessiva da faringe que contribui com a aproximação da parte
central das pregas vocais. Apresenta uma qualidade vocal rouco-soprosa, com fadiga vocal,
diminuição de potência e projeção.
As fendas em ampulheta também apresentam duas regiões de abertura glótica,
porém, nesta, a região posterior apresenta aproximação dos processos vocais das
cartilagens aritenóides. Essa é a mais comum nos casos de alteração estrutural mínima
com lesão de massa secundária, porém, essas lesões são úteis no fechamento glótico.
No caso dos nódulos vocais, quando o aspecto muscular predomina para a origem da
fenda, é uma fenda dupla, já quando o aspecto estrutural predomina, tem-se uma fenda em
ampulheta.
As fendas irregulares não apresentam movimentos da borda livre definidos e nem
uma coaptação glótica eficiente, produzindo uma configuração geométrica na fenda.
Podem ser encontradas em casos de inadaptação fônica, de diferença de tamanho entre as
pregas vocais, ou orgânicos, como refluxo gastroesofágico, atrofias de pregas vocais,
laringites crônicas, placas leucoplásicas, carcinoma, pós-operatório de lesões laríngeas,
radioterapia ou pessoas da terceira idade. A qualidade vocal varia de acordo com a causa
da fenda.

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