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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Departamento de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Historia

CONSENSOS E CONFLITOS SOCIAIS: O ESTADO E A SOCIEDADE CIVIL EM


MOÇAMBIQUE

Isabel Armando Cossa: 31210211

Xai - Xai, Novembro de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Departamento de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Historia

CONSENSOS E CONFLITOS SOCIAIS: O ESTADO E A SOCIEDADE CIVIL EM


MOÇAMBIQUE

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura em
Ensino de Historia.

Tutora: Mestre, Tirso Hilário Sitoe

Isabel Armando Cossa: 31210211

Xai – Xai, Novembro de 2023

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Índice
1. Introdução............................................................................................................................1
1.1. Objectivos........................................................................................................................1
1.1.1. Geral:............................................................................................................................1
1.1.2. Específicos:..................................................................................................................1
1.2. Metodologia.....................................................................................................................1
2. Consensos e conflitos sociais..............................................................................................2
2.1. O conceito de conflito na sociologia política...................................................................2
2.2. Bases teóricas dos consensos na sociedade.....................................................................2
2.3. Bases teóricas do conflito social......................................................................................4
3. Considerações finais............................................................................................................6
4. Referências Bibliográficas...................................................................................................7

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1. Introdução

As relações entre as pessoas, entre os grupos sociais e as próprias pessoas e grupos formam a
sociedade. É comum utilizar-se o termo sociedade civil para designar o conjunto de pessoas e
grupos sociais (e suas relações) que compõem um país. Esse conjunto de pessoas e grupos
sociais está sujeito a normas e regras, que podem estar escritas ou não. As normas e regras
compõem a cultura de uma sociedade. Mas há muitos outros elementos formadores da cultura:
as crenças, as artes, a música, as formas de se produzirem mercadorias e de se relacionar com
a natureza, a culinária, as maneiras de se transmitir conhecimento, entre outros. Nas relações
sociais, desenvolvem-se, por diversos motivos, situações de solidariedade e de conflito. Os
conflitos estão presentes nas relações entre as pessoas, seja porque elas são diferentes, seja
porque têm objetivos e interesses diferentes. Eles ocorrem também entre grupos sociais ou
entre sociedades de países diferentes. Frequentemente, esses conflitos são o resultado do
desrespeito às diferenças entre grupos e sociedades, da intolerância, do fato de sociedades
quererem se sobrepor a outras e explorá-las de alguma forma - essa situação foi uma constante
ao longo da história da humanidade.

1.1. Objectivos

1.1.1. Geral:

 Compreender os consensos e conflitos sociais.

1.1.2. Específicos:

 Distinguir a sociedade política da sociedade civil


 2. Identificar as bases teóricas sobre o surgimento de consensos e conflitos na
sociedade.

1.2. Metodologia

Para a realização do presente trabalho recorreu – se à pesquisa bibliográfica que segundo Gil
(1999), serve para sustentar teoricamente o estudo recorrendo à consulta de “livros de leitura
corrente, livros de referência e publicações periódicas”. Portanto, a pesquisa bibliográfica
auxiliou, especificamente, na identificação, análise e compreensão de dados considerados
úteis para o desenvolvimento e argumentação do estudo, mediante a consulta de livros.

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2. Consensos e conflitos sociais.

2.1. O conceito de conflito na sociologia política

O conceito de conflito é essencial nas teorias sociológicas, pois a confrontação contra um


adversário externo é sempre articulada no seio da sociedade através das múltiplas clivagens,
rupturas temporárias ou definitivas que nela existem. Em todos os sistemas, sociais acontece a
luta pela vida e sobrevivência dos mais aptos. Birnbaum (1995) evoca que “as antinomias
clássicas entre integração e ruptura, consenso e dissenso, estabilidade e mudança (...) a
oposição entre conflito e ordem se inscrevem no próprio fundamento do sistema social”
(p.246).

Para Spencer (1874-1875) “o conflito enquanto princípio permanente anima qualquer


sociedade e estabelece entre esta e seu ambiente um equilíbrio precário” (citado em
Birnbaum, 1995, p.248).

Por outro lado, Simmel (2011) reitera que “não existe provavelmente nenhuma unidade social
onde as correntes convergentes e divergentes entre os membros não estejam inseparavelmente
entrelaçadas” (p.570).

Segundo Miguel (2012), pensar numa sociedade harmónica onde apenas reina o consenso e
bem ordenada elimina a política, substituindo-a com a simples administração das coisas,
como é típico nas sociedades capitalistas. É assim que pode-se notar que o conflito a
desenrolar-se tanto nas sociedades industriais, como em militares, ou mesmo entre indivíduos,
como diria Barnes (1966) citado por Birnbaum (1995), “o conflito entre os homens é uma
frente de liberdade e de progresso, não devendo o Estado adoptar nenhuma legislação social
susceptível de refreá-lo, já que a liberdade é que seria questionada” (p.248).

2.2. Bases teóricas dos consensos na sociedade

As teorias sociais apresentam pontos de vista distintos no que se refere às relações dentro das
sociedades. Por exemplo, na teoria funcionalista, “a continuidade e o consenso são
características mais evidentes das sociedades, por mais que estas se transformem com o
tempo” (Giddens, 2005, p. 530). Sob esse ponto de vista, o acento recai sobre a harmonia nas
sociedades. O consenso pode ser definido como “acordo explícito ou tácito dos membros de
um grupo ou de uma sociedade sobre certas instituições sociais […] representa a dimensão
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coersiva dos sistemas sociais” (Johnson, 1997, p.93). Sua manifestação incide particularmente
sobre a partilha de regras, valores ou decisões comuns.

A base teórica do consenso social pode ser encontrada em Thomas Hobbes (1588-1679). Ele
divide a sociedade humana em Estado natural (negativo) e Estado contratual (positivo). Em
sua teoria, descreve a sociedade natural como sendo marcada pelo desaparecimento do
conflito e a criação de uma ordem social, através do domínio absoluto e controle social.
Todavia, a competição, a desconfiança a busca pelo poder e pela glória seriam os principais
alicerces dos conflitos (Silva, 2011; Birnbaum, 1995).

Os homens [são] capazes, por si só de refrear suas paixões para constituirem juntos uma
ordem social em que se abandonam ao poder absoluto do Leviatã, instaurando também entre
eles a paz civil, só ela susceptível de aumentar sua prosperidade coletiva. (Birnbaum, 1995,
p.250).

Em 1651, ao publicar Leviatã, Thomas Hobbes busca soluções para os problemas políticos da
sociedade Inglesa de então, marcada pelo acelerado desenvolvimento comercial, manufactura,
ascensão política da classe burguesa e combate à monarquia absoluta, propõe um modelo de
comunidade – Estado ou sociedade política, que seja, como diria Silva (2011), “onipotente,
onipresente e absorvente das vontades individuais” (p.1), da qual viria a solução para os
conflitos. Portanto, a incapacidade dos seres humanos de encontrar soluções poderia ser
resolvida pela existência de um contrato como um modo de garantia da ordem.

Desse modo, na sociedade natural, apesar de existência do que Hobbes denomina da “luta de
todos contra todos”, predomina a harmonia, a concórdia, a solidariedade e de algum modo,
isso impede as relações conflituosas pois “os homens não têm naturalmente interesses
contraditórios que conduziriam inevitavelmente a confrontos” (Birnabaum, 1995, p.250).

Um dos sociólogos que aceitou as premissas de Thomas Hobbes foi August Comte (1798-
1857), que também aponta que a solução dos conflitos é a partir de elementos externos. Seu
sistema filosófico-social seria composto por: (i) uma filosofia de história que prevê a evolução
da sociedade humana em três estados designadamente: teológico, metafísico e positivo ou
científico; (ii) uma classificação das ciências a partir do método positivo, também conhecido
pelo científico e; (iii) uma sociologia positiva (Silva, 2011).

Ele introduz a ideia de progresso na sua conhecida teoria positivista, que permite ver uma
evolução mais pacífica que favorece ao advento de uma sociedade em que ordem social, não é

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vista como coação externa. Em vez disso, é vista como crescimento em que são afastados os
conflitos sociais para a criação de comunidades pacificadas (Birnabaum, 1995; Johnson,
1997). Estas seriam as características do ápice da sociedade humana – o seu ponto mais alto
da evolução – o Estado positivo, o cientificismo – que “anula a competição e as ieias
incopatíveis” (Silva, 2011, p.5).

Nesse modo de pensar as sociedades baseadas na razão e ciência, seriam pacíficas e


harmoniosas, pois haveria uma distribuição equitativa dos bens do progresso, o que anularia
os conflitos sociais. Ou seja: “Só a filosofia pode ser considerada a única base sólida da
reorganização social que deve terminar o estado da crise na qual se encontram há tanto tempo
as nações mais civilizadas” (Comte, 1983, citado em Silva, 2011, p.5).

Entre os que defendem o consenso social está o sociólogo Émile Durkheim. Este faz uma
analogia com a fisiologia do corpo humano e reitera que as várias partes (boca, língua,
cabeça, coração, etc.) que o constituem sustentam a continuidade da vida do organismo e
trabalham em harmonia, tal como acontece com a sociedade. As instituições especializadas, a
exemplo do sistema político, religião, família, bem como o sistema educacional, agem em
harmonia para a continuidade da sociedade. Desse modo, a sociedade é vista como um
conjunto de elementos interdependentes “um modo integrado, composto de estruturas que
estão em harmonia entre si” (Durkheim, citado em Giddens, 2005, p.532).

A análise de Durkheim acenta sobre a divisão de trabalho que, na sua visão, pode ser normal
ou patológica/conflituosa. Essa anomia pode ser causada pelas crises comerciais, conflitos de
capital e de trabalho ou pela especilização do trabalho científico, “a medida que se rompe essa
coesão baseada na solidariedade mecânica das sociedades simples, ou primitivas em direção à
divisão do trabalho” (Silva, 2011, p.6).

2.3. Bases teóricas do conflito social

Por outro lado, existem teóricos que acentuam a existência de conflitos nas relações sociais.
Em termos conceituais, os confltos são “manifestações de antangonismos abertos entre dois
actores (individuais ou colectivos) de interesses momentaneamente incompatatíveis quanto à
posse ou à gestão de bens raros – materiais ou simbólicos” (Johnson, 1997, p.86). E, em geral,
esses surgem quando um dos actores sociais quer impor sua vontade – política, económica,
social ou até científica - contra a resistência do outro.

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Nesta perspectiva, tal como afirma Giddens (2005, p.530), “as sociedades [seriam] como se
estivessem infectadas por divisões, tensões e lutas (...) mesmo quando não há confrontos
abertos (...) continuam existindo profundas divisões de interesses que, em certo ponto, estão
sujeitas a rebentar em vigorosos conflitos”.

Um dos expoentes dessa perspectiva teórica é Karl Marx, que considera a sociedade como um
agrupamento de antagónicos, cheia de tensões e, desse modo, inverte a dicotomização
proposta por Hobbes. Desse modo, a origem dos conflitos estaria relacionada às alterações nas
relações económicas, na propriedade privada – uma anormalidade social/histórica -, inscrito
na natureza social das contradições das relações soiciais de produção. Sendo assim, pode ser
caracterizado como conflito de classe, da propriedade ou não dos meios de produção
(Johnson, 1997; Silva, 2011). Marx frisa que “as sociedades dividem-se em classes que
possuem recursos desiguais (...) diante da existência dessas desigualidades visívies, surgem
divisões de interesse que se ‘incorporam’ ao sistema social” (citado em Giddens, 2005,
p.532).

O conflito é o alicerce das mudanças ativas e em sua evolução histórica pela qual as
sociedades passam da ordem justa à desordem conflitual entre os indivíduos. A sociedade não
é, então, essa comunidade harmoniosa de concórdia e consensos, mas, diz Marx, é “lugar
privilegiado dos conflitos entre os protagonistas sociais isolados entre si, opostos pela busca
desenfreada do lucro absoluto e extensão ilimitada de propriedade pessoal” (Birnbaum, 1995,
p.250).

Ele considera o espaço urbano, a cidade, como sendo o germe da sociedade marcada pelas
lutas de classe, de poder político, de interesses dominantes ou então a sociedade de massas
recheada de rivalidades dos autores atomizados. Já antes de Marx, Nicolau Maquiavel (1469-
1527) entendia também que a realidade social não é homogênea, mas composta de dissenso,
de forças conflitantes, originados por desejos e humores não conciliáveis. Sendo assim,
segundo este pensador os conflitos na sociedade, ou seja, a oposição entre humores e desejos
dos grandes (governantes) e do povo (governados) não é determinada por fatores económicos,
como pensava Marx. É, sim determknada “pela maneira distinta como se posicionam em
relação à liberdade: para os grandes ser livre é poder dominar e comandar, para o povo é não
ser dominado nem comandado” (Ames, 2008, p.58).

Na perspectiva de Maquiavel, o conflito instaura-se nas sociedades, porque tanto os grandes,


como o povo, quer impôr sua maneira de ser livre. Se os grandes desejam a dominação total, o
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povo aspira a liberdade plena e cada uma das partes quer obrigar a outra a submeter-se ao seu
regime de humor. Todavia, “a maneira como grandes e o povo querem ser livres é diferente”
(Ames, 2008, p.58), daí que essas contradições não possam ser resolvidas porque a disputa
não é pelo mesmo objetivo. Na tese de Maquiavel, o conflito pode ser positivo ou negativo.

3. Considerações finais

À luz dos assuntos tratados pôde-se entender que todos os sistemas sociais verificam-se lutas
pela vida e a sobrevivência dos mais aptos. Referimos que o consenso é a capacidade dos
indivíduos ou grupos em conter suas paixões para constituírem juntos uma ordem social e,
desse modo, aumentar sua prosperidade coletiva. E suas premissas estão baseadas em Thomas
Hobbes, August Comte e Emile Durkheirm. E o conflito social é a manifestação dos
antagonismos entre indivíduos e/ou grupos para a imposição ou manutenção de suas vontades
contra a resistência de outros, estando suas premissas teóricas baseadas na teoria marxista. Em
termos históricos, mostramos que os conflitos são mais evidentes nas sociedades em que as
desigualdades sociais são mais nítidas.

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4. Referências Bibliográficas

Abreu, J.L.N. (2004). Sociedade urbana e conflitos sociais na idade Média. Mneme, 5 (11),
643-657.

Ames, J. L. (2008). Uma teoria do conflito: Maquiavel e Marx. Educere et Educare 3(6), 55-
66.

Filho, H.L.L. (2012). As teorias do conflito uma aplicação prática à cultura da


consesualidade. Direitos Culturais, 7 (12), 225-245.

Giddens, A. (2005). Sociologias. (4ª ed). Porto Alegre, Brasil: Artmed.

Silva, M.J.d. (2011). O conflito social e suas mutações na teoria sociologia. Qualit@s, 1 (2),
1-12.

Touraine, A. (1989). Os novos conflitos sociais: para evitar mal-entendidos. Lua Nova, 17, 5-
18

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