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HEGEL, G.W.F. Filosofia da História. Brasília: Ed. UnB, 1999, p. 53-72.

1. Reconhecer através de trechos do texto a explicação dialética de


Hegel, do em si, por si e para si.

Para Hegel, o pensamento precisa demonstrar a gênese da realidade; o


que o pensamento capta é o movimento de exteriorização do ser ou Espírito, esse
movimento é chamado de Dialética e consiste em três momentos: Em si (o ser), por si
( a Natureza) e para si ( o Espirito). Nos seguintes trechos destacados é possível ver
esses movimentos:

Por si

“A evolução aplica-se também aos objetos naturais orgânicos. A existência


destes não se apresenta apenas como forma mediata, modificável pela ação exterior,
e sim como uma existência que deriva de um principio interior imutável, de uma
essência simples, cuja existência, como germe, é, inicialmente, simples, mas que
produz por si mesma diferenças que entram em relação com objetos“(p.53)

Em si
“O indivíduo orgânico produz a si mesmo: Faz-se o que ele é em si,
igualmente o espírito é somente o que ele se faz, e ele se faz o que é em si.
No espírito, a passagem de sua determinação para sua realização faz-se mediante a
consciência e a vontade, as quais são desde logo mergulhadas em sua vida natural
imediata.” (p.54)

Por si
“A evolução, calma produção da natureza, é para o espírito uma luta árdua
e infinita contra ele próprio. O que o espírito quer é realizar o seu conceito, mas ele
oculta de si mesmo, e nessa alienação de si próprio sente-se orgulhoso e satisfeito. A
evolução não é uma mera eclosão inocente e sem conflitos, como na vida orgânica,
mas trabalho duro e ingrato contra si mesmo, para a produção de um fim: que é o
espírito e o conceito de liberdade. Ele é o principio diretor da evolução, o que lhe dá
sentido e importância.” (p.54)
Em si
“Na história universal, grandes períodos transcorrem sem que a evolução
parece ter ocorrido. Nesses períodos, toda a imensa cultura acumulada foi destruída.
Depois de tais períodos, infelizmente, tem sido preciso recomeçar do nada para tentar
recuperar uma das regiões dessa cultura já há muito tempo conquistada.” (p.54)

Em Si, Por Si e Para si

“A história universal representa, pois, a marcha gradual da evolução do


principio cujo conteúdo é a consciência da liberdade (...) O primeiro estágio consiste
na imersão do espírito no natural. O segundo é o seu avanço em direção à
consciência de sua liberdade. Entretanto, essa primeira separação é imperfeita, já que
provem imediatamente do estado natural. O terceiro estágio consiste na elevação
dessa liberdade, á sua pura universalidade, à consciência de si ao sentimento de sai
própria espiritualidade.” (p.55)

Em si
“O espírito começa como embrião de sua possibilidade infinita (mas
apenas possibilidades) que ele só alcança em sua concretização na realidade.” (p.55)

Por si
“Assim, na existência real, o progresso surge como um avanço do
imperfeito para o mais perfeito – o que não deve ser entendido abstratamente como
apenas o imperfeito, mas como algo que é, igualmente, o contrario de si mesmo (o
assim chamado perfeito), como um embrião e como um instinto.” (pag.55)

Por si

“Imagina-se que a natureza tenha assumido no início, perante os olhos


humanos, o papel de um claro espelho da criação divina, revelando-lhes, de forma
nítida e transparente, a verdade de Deus. O fato de que, nesse primeiro estado o
homem já possuía em si um conhecimento indeterminado e extenso de verdades
religiosas imediatamente reveladas por Deus chegou a ser aludido, mas foi deixado de
certa forma obscuro” (p.56).

Para si
“Considera-se, sob o aspecto histórico, que todas as religiões surgiram
desse estado, assim como acredita-se que essas religiões profanaram e ocultaram a
primeira verdade como fruto do equívoco e da perversão.” (p.56)

Em si

“Essa situação do conhecimento divino, como se tal situação se


encontrasse na origem da história universal, ou as religiões dos povos tivessem
partido da mesma situação e progredido na cultura por meio de aperfeiçoamentos e
deterioração, tudo isso são pressupostos que nem possuem uma fundamentação
histórica nem podem consegui-la.” (p.57)

Por si
“Houve povos que persistiram sem Estado numa longa vida antes de terem
atingido a própria determinação, e antes mesmo de terem realizado importante cultura
em certas direções. Aliás, essa “pré-história” está fora do nosso propósito.” (p.57)

Para si

“A história universal representa a evolução da consciência do espírito no


tocante à sua liberdade e a realização efetiva de tal consciência. (...) Na história, tal
princípio á a determinação do espírito, um espírito particular daquele povo. É nela eu
se expressam concretamente todas as facetas da consciência e do querer, da
realidade total desse povo.” (p.60)

2. Reconhecer no texto a divisão característica entre povos históricos


e povos não históricos.

Segundo Hegel o Estado é a mais alta realização do Espírito com relação


a um povo. Um povo sem Estado é considerado um povo sem História, para ele “É na
história que uma nação encontra o cunho comum de sua religião, de sua contribuição
política, de sua moralidade objetiva, de seu sistema jurídico, de seus costumes e
também de sua ciência, arte e habilidade técnica.” (HEGEL, 1999 p.60). Se um povo
não atinge o Estado que é o Espirito, logo ele não “atingirá” a História, tão pouco a
liberdade, já que para Hegel, História é o Espirito do tempo.
Os trechos a seguir destacam essa divisão proposta por Hegel:
Povos Históricos

“A liberdade consiste somente no saber e querer objetos universais,


substancias, como o direito e a lei, produzindo uma realidade que lhes é conforme: o
Estado” (pag.57)

“Uma sociedade que se fixa e se eleva à condição de Estado exige no


lugar de ordens subjetivas, imperativos, leis e decisões abrangentes e universalmente
válidas, produzindo tanto uma exposição quanto um interesse em compreender ações
e acontecimentos em si determinados e duráveis em seus resultados. Com vistas ao
fim perene de formar e constituir o Estado, é induzida a conferir o perdurar da
recordação. (p.58)

“Apenas no Estado, com a consciência das leis, ocorreram as ações


claras, e com elas a claridade de sua consciência, conferindo a capacidade e
mostrando a necessidade de registros duradouros.”(pag.59)

“O rápido desenvolvimento da língua, o pregresso e a dispersão das


nações só ganham importância e interesses por razoes concretas pelo contato com os
Estados, ou por começares a constituir organizações estatais por conta própria” (p. 60)

“Na vida dentro do Estado, reside a necessidade de uma estrutura formal,


e com isso do surgimento das ciências, poesia, arte e também da filosofia. Se, no
desenvolvimento do Estado, são necessários períodos que forcem o espírito das
naturezas superiores a buscar refugio do presente em regiões ideais, para nelas
encontrar a reconciliação consigo mesmo que ele não pode mais desfrutar na
desequilibrada realidade, o pensamento é compelido a se tornar razão pensante e
tentar, com seus próprios elementos, fazer a restauração dos seus princípios a partir
das ruínas às quais haviam sido reduzidos.” (p.64)
“Certamente todos os povos da história universal tem uma arte poética,
artes plásticas, ciência e também uma filosofia. Entre eles não apenas o estilo e as
tendências que diferem, mas, principalmente, o conteúdo.” (p.65).
“Para os chineses, suas leis morais são como leis naturais, mandamentos
exteriores, positivos, direitos e deveres impostos pela força, obrigações ou regras de
cortesia recíproca. Falta-lhe a liberdade pela qual as determinações essenciais da
razão realmente se tornam uma atitude moral. A moral é a para eles, um assunto de
Estado, e é administrada pelos funcionários do governo e pelos tribunais. Também na
doutrina hindu da a abdicação dos sentidos, dos desejos e interesses terrenos, o
objetivo não é uma liberdade afirmativa e moral, e sim a aniquilação da consciência,
anulação da existência espiritual e até mesmo física. (p.66)

Povos Não Históricos

“Houve povos que persistem sem Estado nem longa vida antes de terem
atingidos a própria determinação, e antes mesmo de terem realizados importante
cultura em certas direções. Aliás, essa “pré-história” está. Conforme já disse, fora do
nosso proposito. Que tenha havido uma historia real ou que tais povos não tenham
jamais chegado a formar um Estado é uma grande descoberta histórica – como a de
um novo mundo – que foi feita, há vinte e poucos anos, acerca do sânscrito e de sua
conexão com as línguas europeias.” (p.56-57).
“Ainda nos dias correntes, conhecemos populações que mal constituem
uma sociedade, quanto mais um Estado. Em nossa língua, história une o lado objetivo
e o subjetivo, significando tanto fato quanto narrativa. Recordações de família e
tradições patriarcais encontram interesse apenas no seio da família e da tribo. O
Estado produz um conteúdo que além de ser apropriado à prosa da história ainda
contribui para reproduzi-la” (p.58)
“Mesmo que as epopeias hindus” possam ser comparadas as homéricas,
resta mesmo assim, a infinita diferença de conteúdo; uma diferença de importância
substancial, envolvendo o interesse da razão, que se ocupa diretamente da
consciência do conceito de liberdade e de sua expressão nos indivíduos. Não existe
uma forma clássica, mas também um conteúdo clássico. Forma e conteúdo estão tão
intimamente ligados em uma obra artística que a primeira só pode ser clássica quando
a ultima também for. (p.65)

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