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As micoses podem ser definidas como infecções Segundo Ri ppon, essas infecções podem ser classifi-
provocadas por fungos. Estes normalmente apresentam cadas como superficiais, quando limitadas à superfície
como habitat natural o solo ou as plantas, podendo pa- da pele ou pêlos. ou como cutâneas, quando envolvem
rasitar o homem e outros animais. propriamente o tegumento e/ou seus anexos.
O parasitismo fúngico depende da produção de en- As infecções superficiais compreendem:
zimas e de mecanismos de escape contra as defesas na- • pitiríase versicolor: causada por leveduras do gê-
turais do hospedeiro. A patogenicidade provocada por nero Malassezia;
estes agentes está relacionada ao oportunismo oferecido • piedra branca: causada por leveduras do gênero
pelo hospedeiro. Trichosporon (Figuras 19.1 e 19.2);
Os fungos ra ramente são transmitidos por contato • piedra preta: causada pela levedura Piedraia
interpessoal. Apenas os dermatófitos, considerados pa- hortae;
rasitos obrigatórios, são transmitidos desta forma. • tinha nigra: causada pela levedura Hortaea
A infecção fúngica, superficial ou profunda, relacio- werneckii.
na-se pri ncipalmente a fatores do hospedeiro, ao gênero
do fungo envolvido, ao tamanho do inóculo e ao sítio de
inoculação. ..
Este capítulo abordará as principais micoses superfi-
ciais e profundas de interesse médico em nosso meio.
MICOSES SUPERFICIAIS
DERMATOMICOSE
EPIDEMIOLOGIA
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
O eum1ceroma ocorre em pacientes que v1vem na
zona tropical e temperada, onde o cl ima é quente, É muito difícil diferenciar clinicamente eumiceroma,
com índices altos de pluviosidade ou quente e seco accinomiceroma e a bocriomicose. só sendo possível pe-
tipo desértico. O acrinomicetoma, entretanto, é cos- los exames laboratoriais.
mopolita. Material usado é a secreção drenada da fiscula e a
No eumiceroma, vános fungos estão envolvidos. biópsia do nódulo. O exame anaromoparológico (hema-
respeitando-se a incidência fúngica regional. No Brasil. toxilina e eosina - HE) dos eumiceromas revela presença
o actinomicetoma é predominante, sendo raro o eu- de hifas fúngicas rodeadas pelo fenômeno de Splendore-
micecoma. Hoeppil e também de grãos.
Raramente ocorre micetoma em crianças e ido- A coloração de Gram cora os grãos de accinomicecos
sos, sendo mais comum na faixa de 20 aos 50 anos e com suas estruturas fi lamentosas.
principalmente em homens (cinco homens para uma No exame direto, pode-se pesquisar canto a existência
mulher). de hifas como de grãos. que podem variar de coloração
Os principais agemes causadores de eumicetomas são: branca. rosa-amarelada, vermelha. preto-amarronzado.
Madurei/a micetomatis, Madurei/a gnsea. Acremomum Como regra geral. os fungos pretos produzem grãos
spp., Scedosponum apiospermum. entre outros. pretos e os fungos brancos grãos brancos; já as bactérias
TRATAMENTO
A denominação de cromomicose foi adocada em O fungo, após inoculado na pele, propaga-se por via
1935, sugerida por Moore e Almeida. O primeiro caso linfática e rarameme por via sanguínea, por conseguinte,
descrico com as características clínicas da doença foi em é rara a dissem inação para outros órgãos, a não ser em
1914, em Minas Gerais, na cidade Estrela do Sul, pelo mé- casos de paciemes imunodeprimidos ou portadores de
dico alemão Max Rudolph, que trabalhava numa com- doenças graves. A partir do pomo de inoculação, vão
panhia de m1neração. aparecendo as lesões características da doença.
A doença se confunde com feohifomicose, que tam- A evolução é lema, produzindo fibrose tecidual e
bém é causada por fungos negros, porém. no tecido se prejuízo da circulação linfática, provocando elefancíase,
encontram hifas de cor castanho escuro e não "corpos geralmeme nas pernas, o que pode levar a confundir
muriformes" característicos da cromoblascomicose. Os com a filariose.
corpos muriformes (denominação dada em 1984 por
Matsumoco et a/.) eram chamados incorretameme de
"corpos fumagóides" ou corpos escleróticos. São estru- CLÍNICA
turas acastanhadas em forma de moeda, com diâmetro
de 5 a 12 e representam a forma dimorfa da hifa no As lesões são mais comuns nos membros inferiores,
tecido parasitado, onde sofrem septação celular em mais principalmente nos pés, onde o traumatismo por espi-
de um plano. nhos e gravecos é mais comum.
As formas queloidianas são mais raras. Feohifomicose pode ser considerada mais como uma
As diferences formas clínicas podem estar presentes entidade patogénica do que uma doença com caracte-
ao mesmo tem po em um paciente. rísticas clínicas próprias e produzida por uma espéc1e
de fungo definida. In icialmente. foi proposta esta deno-
minação para englobar de maneira mais fáci l a grande
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL quantidade de fungos negros causando a doença.
Segundo Sampaio (1974), é uma doença cutânea ou
O diagnóstico clínico pode ser confirmado pelo acha- subcutânea raramente sistémica, causada por vários fun-
do dos corpos muriformes no exame a fresco com KOH gos dematiáceos que se apresentam no tecido em for-
20% ou na biópsia. onde o material é mais representativo ma de hifa septada acastanhada. células leveduriformes,
por ser mais profundo. Na hora de colher o raspado da pseudo-hifas. podendo ou não aparecer os corpos mun-
lesão. deve-se procurar os pomos precos. que são micro- formes. Ajello. também em 1974, definiu feohifomicose
hemorragias chamados de pomos de "pimenta caiana" e nesses termos e em 1983 McGinn is ampliou o conceito
é onde se encontram mais corpos muriformes que são incluindo em feohifomicose todas as doenças causadas
aí drenados anavés de microfíswlas (eliminação transe- por fungos negros. inclusive as micoses ma1s superficiais
pitelial do fungo). como Piedra negra e tinha negra; as cutâneas: ceratite
O cultivo micológico poderá esclarecer a etiologia micótica, onicomicose, dermatomicose e tam bém as
da espécie fúngica envolvida. Os fungos causadores da sistém icas com quadros septicêmicos. Porém. este au-
cromomicose têm a característica de não serem inibidos ror sugere que denominações consagradas como, por
pela cicloheximida usada para inibir fu ngos saprófitas exemplo, tinha negra e P1edra negra, sejam consideradas
nos meios de culwra, diferentemente dos fungos causa- variedades de feohifomicose. Portanto, feohifomicose
dores de feohifomicose. Para classificar a espécie de de- fica quase que restrita aos cistos feohifomicóticos subcu-
mateáceo, é sempre necessário fazer o microcultivo para tâneos. Em 1991, o subcomitê de nomenclaw ra de mi-
escudo micromorfologico, devido à grande semelhança coses da Sociedade Internacional de Micoses Humanas
macromorfológica enrre eles. e Animais definiu como qualquer infecção humana ou
O exame hisrológico mostra reação granulomatosa animal causada por fungos dematiáceos, com exceção
e presença de corpos muriformes no interior de células da cromoblasrom1cose.
PATOGENIA TRATAMENTO
Tendo como foco o cisto feohifom icótico, vai Varia com a localização, quadro clínico e tipo de fun-
ocorrer por inoculação do fungo, que é geralmente go envolvido. A exérese cirúrgica é usada para nódulos
saprófita do solo, através de traumatismo com frag- e abscessos, podendo curar o paciente. O cecoconazol
mentos de vegetais ou outro instrumento de traba- tem sido considerado uma boa droga de escolha nesses
lho qualquer. casos. Para lesões extensas e formas sistêmicas, usa-se a
anforericina B. Para uso prolongado, o itraconazol está
sendo pesquisado.
CLÍNICA
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
CLÍNICA
A pesquisa direta a partir da biópsia normalmente
A espororricose pode causar crês tipos de quadros não demonstra o fungo, porém, raramente podem ser
clínicos: encomradas leveduras em forma de charuto ou disfor-
• forma cutânea localizada; mes. Quanto à cultura, é de fácil recuperação do fungo
• linfangire crônica (Figura 19.5); e pode ser feira em raspado profundo, ou melhor, ainda
• dissemi nada. do tecido biopsiado. O fungo tem esrerigmas e hifas finas
semelhantes aos fios de cabelo, o que deu origem ao seu
Forma cutânea localizada: ocorre em 40% dos casos nome (trichum = pêlo). O Sporothrix cresce em torno de
de esporocricose. Forma uma lesão cutânea única no lo- quatro dias e a cicloheximida não inibe seu crescimento.
cal da inoculação, sem nódulos na via linfática. A lesão A colônia é aderente ao meio de cultura, com aspecto
clínica é wtalmeme inusitada, podendo ter lesão pápulo- coreáceo e vai se cornando marrom e depois preta com
nodular. úlcero-vegerame e verrucosa, placas escamosas, o envelhecimento.
lesão abscedada e outros tipos clínicos, confundindo-se, No exame histopacológico corado com hemaroxilina-
às vezes, com doenças de várias etiologias e levando a eosina aparecem os corpos asteróides que são caracterís-
um diagnóstico diferencial muico difícil. ticos, porém não parognomônicos da esporotricose.
Linfangite crônica: ocorre em 60% dos casos. A Dos restes imunológicos, a soroaglurinação do látex
parcir da lesão inicial onde se forma o cancro de ino- é o de primeira escolha, por ser de realização fácil, rápido
culação, vão se formando nódulos firmes seguindo o e muiro sensível e específico.
rrajeto linfático. que normalmente formam canais para
drenagem da linfa e do pus e se cronificando. Haverá
formação de uma cadeia de nódulos e gomas ascen- TRATAMEN TO
dentes. À medida que os nódulos ficam com a epider-
me fina e cheios de pus, pode-se aspirá-lo com seringa Após um século de uso, o iodeco de potássio conti-
para fazer os exames micológicos. nua sendo o mais usado para as formas cutâneas locali-
Disseminada: é muico rara, ocorrendo em menos zada e de linfangire. Em caso de esporotricose dissemi-
de 1% dos pacientes. Geralmente são imunodeprimidos nada (cutânea ou outro orgão), usa-se o itraconazol ou
ou possuem facores facilitadores do ripo: diabetes, alco- a anfotericina B.
olismo, etc. Pode atingir qualquer órgão, mas geralmen-
te é a pele a mais acometida e depois os ossos. Quando
atinge a pele, é chamada de "cutânea disseminada"; e PARACO CCIDIODOMICOSE
quando envolve outro órgão, é chamada de "extracu-
rânea". A porta de entrada não está bem estabelecida, A paracoccidiodomicose (antiga blasromicose sul-
sendo mais aceita a disseminação hematogênica após americana) é causada pela inalação de propágulos infec-
a inoculação traumática, e aí não se descobre a lesão tantes do solo.
PATOGENIA
EPIDEMIOLOGIA
EPIDEMIO LOGIA
Quadro 19.1 - Apresemações clínicas da htsroplasmose Geralmente, é indicado nos casos progressivos da
doença em que a anforericina B é sempre usada como
Pulmona r terapia primária durante 6-12 meses. Nos casos sem
Assrntomótico comprometimento geral e sem disseminação sistémica
Pacientes imunocompetentes ou de manutenção prolongada, é usado o itraconazol.
Agudo
com eficácia de 90%. Nos episódios em que não pos-
Disseminado sa ser administrado o itraconazol. por ser oral. ou nas
Agudo
formas disseminadas crónicas. usa-se a anfotericna B por
1-2 semanas e, após esse período, faz-se a manutenção
Subagudo Pacientes imunocompetentes com irraconazol.
Crónico Nas formas pulmonares agudas, a droga de escolha é
a anfmericina B na dose de 0,6 a 1,0 mg/Kg/dia até 250
Opor tunrsto Pacientes com comprometimento rmunológrco
a SOO mg/Kg, dias alternados durante sers semanas. Hi-
drocortisona venosa é sempre prudente para evitar crise
addisoniana.
D IAGNÓSTI CO LABORATO RIAL Nas formas disseminadas - anfotericina B intravenosa
0,6 a 1,0 mg/Kg em dias alternados por seis meses (cumu-
lativo de 30 a 40 mg/Kg). Em pacientes sem meningite ou
Raros casos de hiswplasmose têm sido diagnosti- endocardtte, fazer cobenura com corttcóide. Pacientes
cados pelo lavado broncoalveolar e escarro. Apesar da com menrngtte e tntolerame à anfmenctna B. usar itraco-
pesqursa de antígenos polissacarídeos no soro e na urina nazol (100 a 200 mg/dia) por seis a 12 meses nas formas
ser útil. a punção medular com pesquisa direta do fun- agudas e subagudas. Na forma crónica. usar 200 a 400
go corado é sempre feira, seguida pela mielocultura para mg/Kg divididas em duas doses por dia por 12 meses.
confirmação diagnóstica. O hisroplasma pode ser tam-
bém encontrado no sangue periférico corado pelo May
Grunwald. A hemocultura é pouco útil. porque, apesar CRIPTOCOCOSE
de positiva na maioria dos casos, é muiro demorada (no
mínimo 3-5 dias). O Cryptococcus neoformans é o único fungo encap-
Para estudo epidemiológico e nos casos de infecção sulado capaz de causar infecção humana. A criptococo-
assimomática, usa-se reste de sensibilidade tardia, com se ocorre pela resistência capsular à fagocirose e princi-
hisroplasmina. palmente pela queda de linfócitos T. o que é comum na
No exame histopawlógico, usa-se coloração de Grocott. síndrome da AIDS.
HE(células aparecem pequenas devido à rerração) e o PAS, O Cryptococcus neoformans apresenta cinco soroti-
que ajuda a diferenciar de Letshmama. pos: A, B, C De AD. Os sororipos A. De AD pertencem
Exames imunológicos como o látex, reação de fixa- à variedade neoformans e os sororipos Be C à variedade
ção de complemento e imunodifusão (adsorvidas com gattl. Recentemente, as variedades foram promovidas
pronase) são muiro úteis para diferenciar doença ativa à espécie, sendo denominadas então de Cryptococcus
e inariva e para o prognóstico. A imunodifusão é a mais neoformans e Cryptococcus gattii
Invasão
Aspergillus clavatus
No exame direw do escarro pode-se encomrar eOSI-
Macromorfologia: cresomemo rápido da colônia nofdia e cristais de Charcor-Leyden.
que tntoalmeme é branca e vai se wrnando esverdeada
com o tempo.
Aspergillus jwmgat us
Micro morfologia: sua vesícula parece com um cow-
nere. Tem as fiálides unissenadas. Macromorfologia:colónias verde-azuladas ou c1nzas.
Crescem bem a 4s·c o que faohra seu 1solamemo. Algu-
Aspergillus Jlavus mas cepas podem suportar tempera curas de até 6s·c.
Micromorfologia: suas ftáhdes têm disposição colu-
Macromorfologia: colônia verde amarelada com o nar e nascem do meio para cima das vesículas com for-
reverso branco ou róseo. Pode crescer a 37°C. O aparecl- mação un1sseriada. Possuem coníd1os pequenos (3 J.lm).
menro de gotículas acastanhadas na superfíoe da coló-
nia geralmeme coincide com a presença de esclerómos.
Aspergillus 111get
Micromorfologia: seu micélio é f1no, mas de rexcura
densa. Tem predominância de fiálides radiadas, porém al- Macromorfologia: sua colônia rem a superfície da
gumas podem ser colunares, semelhame ao A.jum1gatus. cor de carvão e o reverso é branco (não é demáceo).
Fiáltdes un1 e b1ssenadas podem ocorrer stmulcaneamen- Micromorfologia: rem a cabeça de forma radiada,
re. Seu con1d1óforo é longo e rugoso (parede espessa). podendo ter fiálides uni ou bisseriada. Seus conídios são
com alguns coníd1os que vão se wrnando rugosos com grandes (5.5 a 8,0 J.lm) e alguns podem ser rugosos.
o envelheomemo. A vesícula, quando jovem, rem forma No exame direro do escarro. podem-se encomrar
de cabaça ou btlha. assim como o A jumigatus. porém cristais de oxalaw de cáloo (produz áodo oxáhco). prin-
quando maduras são globosas. Seus conídios são grandes cipalmeme quando o pacieme é d1abér1co e faz aodose
(média de 4 J.Jm). metabólica.