Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Norma Culta e Variação Linguística
Norma Culta e Variação Linguística
PROPÓSITO
Apresentar os diferentes casos de variação linguística e as implicações do conceito de norma
culta no uso adequado da língua portuguesa.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer diferentes tipos e manifestações da variação linguística no português
MÓDULO 2
MÓDULO 1
INTRODUÇÃO
O professor Luís Cláudio Dallier faz uma breve contextualização deste tema.
INTRODUÇÃO
Vídeo com libras.
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: O QUE É?
A língua sofre variações ao longo do tempo, conforme o espaço geográfico, a estrutura social e
a situação ou o contexto de uso. Isso significa dizer que uma língua está sujeita a passar por
modificações no tempo e no espaço a fim de satisfazer às necessidades de expressão e
de comunicação, individuais ou coletivas, de seus usuários.
Podemos abordar a variação linguística sob diversas perspectivas. Se levarmos em conta uma
situação de comunicação qualquer, teremos alguns elementos que vão apontar para
variedades no uso da língua.
Essas perguntas evidenciam que nossa fala pode variar de acordo com a situação ou com
o contexto, conforme o falante e as pessoas que ouvem (interlocutores), o assunto tratado ou
a intenção da mensagem. Perceba que a variação linguística corresponde a diferentes
ocorrências de uma mesma língua.
Sociolinguística é uma área da Linguística que trata das relações entre linguagem e
sociedade, estudando a função social da linguagem e a influência dos fatores sociais
sobre a língua.
REGIONAL
DIALETOS
Imagem: Shutterstock.com
Imagem: Shutterstock.com
Nossinhora! Esse curso é bom demais da conta, sô!
Imagem: Shutterstock.com
Imagem: Shutterstock.com
O professor Luís Cláudio Dallier explora mais essas diferenças entre as cidades do Rio de
Janeiro e São Paulo.
Vídeo com libras.
ATENÇÃO
Não podemos afirmar que determinada região do país fala “o português mais correto”. Tal
afirmação é falsa, pois o que há são variações da língua portuguesa. A pronúncia do cearense
ou do carioca, por exemplo, não é errada ou certa, mas, simplesmente, o modo próprio de
articular os sons numa determinada comunidade linguística.
Sendo o português uma língua falada por diversas nações, em diferentes continentes, é
interessante lembrar que a língua também varia de um país para outro, tanto na fala quanto
na escrita. Ainda que o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa procure padronizar a
grafia das palavras, há alguns aspectos na escrita que são peculiares em Portugal e outros no
Brasil.
Imagem: Shutterstock.com
Imagem: Shutterstock.com
DE REGISTRO
De acordo com Coseriu (1980, p. 110-111), os registros linguísticos, ou estilos, são diferentes
porque as situações e os interlocutores diferem muito, bem como as expectativas sociais,
influenciadas pela cultura. Por isso, podemos perceber que, além dos registros individuais, há
aqueles que expressam a identidade de grupos profissionais ou biológicos (homens, mulheres,
jovens, crianças).
GRAU DE FORMALISMO
Representa uma escala de formalidade no uso dos recursos da língua. Podemos ir de um estilo
muito informal e popular (troca despretensiosa de mensagens no WhatsApp, por exemplo) até
um excessivo grau de formalidade no uso da língua (redação de um ofício, por exemplo).
Simplificando, podemos afirmar que há pelo menos dois registros alusivos à
formalidade: formal e informal. Logo, os diferentes estilos corresponderão ao grau de
formalismo do contexto comunicativo, determinando as diferentes maneiras de usar a língua.
MODO
Representa as duas modalidades da língua: a oral e a escrita. A língua falada pode usar
recursos como entonação, ênfase de termos ou sílabas, duração dos sons, velocidade em que
se dizem as sequências linguísticas etc. Além disso, a oralidade se caracteriza pelas
hesitações, repetições, retomadas, correções e outras marcas que não são comuns à escrita. A
escrita tende a ser mais formal e a fala mais informal, embora existam exceções; há textos
altamente formais na língua falada e outros extremamente informais na língua escrita.
SINTONIA
Representa o ajustamento na estruturação das mensagens do falante, com base em
informações específicas acerca do ouvinte ou leitor (status do interlocutor, tecnicidade do
conteúdo da mensagem, necessidade de cortesia no trato com o outro, norma a ser seguida
etc.).
Imagine que um profissional da saúde, ao preparar ou orientar uma criança para determinado
procedimento, usará um registro ou estilo de linguagem distinto da linguagem usada com um
paciente adulto. Com a criança, por exemplo, o vocabulário será mais simples, com algumas
palavras no diminutivo, e o tom de voz mais afetivo.
Pense em outra situação: você precisa recusar dois convites que recebeu, um da pessoa que
você namora e outro do diretor da empresa em que trabalha. Faz sentido usar as mesmas
expressões ou estilo ao responder a pessoas com as quais você tem diferentes graus de
intimidade? Certamente vamos usar estilos ou registros diferentes.
Imagem: Shutterstock.com
SOCIAL
As diferentes formas de falar marcam os grupos sociais ou, até mesmo, a faixa etária de
determinado conjunto de pessoas. Ao ouvir alguém falando “percurá” (no lugar de procurar),
“iorgute” (em vez de iogurte), “os hôme” (e não os homens) ou “pra mim fazer” (no lugar de
para eu fazer), certamente você associará esse falante a um grupo social com baixa ou
nenhuma escolaridade.
As gírias usadas por um falante podem revelar também a que grupo social e à qual faixa etária
ele pertence. Do mesmo modo, os jargões técnicos podem indicar a atividade profissional de
quem os utiliza.
JARGÕES TÉCNICOS
Jargão é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à profissão. Daí que
podemos falar em jargão dos médicos, jargão dos militares etc.
SAIBA MAIS
Ao ouvir expressões típicas do juridiquês ou do economês, por exemplo, você deve concluir
que os falantes são adultos, com alta escolaridade e pertencentes a determinado grupo
profissional.
JURIDIQUÊS
Juridiquês é uma palavra criada para designar o uso rebuscado e exagerado de jargão e
termos técnicos da área jurídica.
ECONOMÊS
Note que o poema apresenta construções da língua portuguesa que são típicas de falantes de
classes sociais menos escolarizadas, revelando pronúncias contrárias à ortoepia, ou seja,
distintas do que a norma gramatical determina. As pronúncias fora da norma gramatical, no
entanto, não impedem a comunicação e muito menos a construção dos telhados.
ORTOEPIA
A LINGUAGEM DA INTERNET
Além das variações linguísticas que você acabou de conhecer, também é importante prestar
atenção às alterações que a língua portuguesa apresenta nos meios digitais.
Com a Internet e os diversos recursos para escrever e falar usando um computador ou celular,
surge uma variedade linguística que recebeu o nome de Internetês.
Criação de palavras novas e uso de gírias, com mais liberdade para expressar novos conceitos
ou adaptar termos de outras línguas.
Imagem: Shutterstock.com
Imagem: Shutterstock.com
Uso de caracteres especiais (@, #) e emoticons (ou emojis) para adequação aos códigos
utilizados em meios digitais ou como alternativa para expressar emoções e intuitos.
Imagem: Shutterstock.com
Integração ou hibridismo entre escrita, sons, imagens e outras linguagens (hipertexto, por
exemplo) para maior expressividade.
SAIBA MAIS
LEIA MAIS
A invasão de palavras inglesas, ligadas à informática e à Internet, é vista como ameaça à
língua portuguesa, levando os usuários a incorporarem expressões e valores culturais
estrangeiros que redundariam em prejuízo à cultura nacional e local.
Conforme diz Saldanha (2001, p. 35), deve-se ter o cuidado de não se impor um único
registro da língua, elegendo-se determinada variação ou modalidade linguística padrão
para a Internet, nem tampouco fechar-se temerariamente a qualquer tipo de contribuição
linguística vinda de fora.
(BECHARA, 2000)
Constatar que a língua varia, seja em seu uso na Internet ou na diversidade de espaços e
situações comunicativas, deve nos levar a reconhecer a legitimidade das diferentes linguagens
e evitar o preconceito ou a estigmatização de falares, dialetos ou qualquer variedade
linguística. Ao mesmo tempo, precisamos reconhecer que a língua aprendida na escola
constitui a norma para comunicação e convívio no ambiente acadêmico e profissional, além
daqueles espaços e das interações sociais em que a língua padrão é a mais adequada.
Imagem: Shutterstock.com
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) Que menino lindinho, vamos abrir a boquinha para a tia ver se o dentinho já está nascendo?
B) Existem variedades regionais para nomear uma mesma espécie de planta, exemplificando a
ocorrência da variação linguística.
De acordo com o texto, há no Brasil uma variedade de nomes para a Manihot utilissima,
nome científico da mandioca. Esse fenômeno revela que:
A variedade de nomes para a mesma planta revela a existência da variação linguística, mais
especificamente, a variação produzida pelos regionalismos.
MÓDULO 2
Esclarecer o conceito de norma culta e suas implicações no uso da língua
portuguesa
CONTEXTUALIZAÇÃO
Quando constatamos que a língua portuguesa varia em função da diversidade dos falantes, do
espaço, do tempo, da situação de comunicação e de outros fatores, podemos nos perguntar se
toda forma de usar a língua é válida, desde que as pessoas se entendam; ou indagar se esses
diferentes usos da língua não seriam desvios e incorreções da língua padrão, da norma culta.
Tais questionamentos são importantes porque todos nós aprendemos na escola a chamada
língua culta, mas convivemos boa parte do tempo com usos da língua distantes ou diferentes
da norma padrão, que estudamos nos livros de gramática.
Imagem: Shutterstock.com
NORMA CULTA
A norma culta é aquela formada por um conjunto de estruturas concebidas como corretas, que
podem ser usadas tanto para falar quanto para escrever. Trata-se da chamada variante padrão
ou norma padrão. Ela é tão valorizada socialmente que, quando estão em um ambiente mais
formal, os indivíduos com alto nível de escolaridade procuram monitorar sua fala.
Vamos entender melhor como funciona a norma culta da língua, que tem prestígio social.
Vídeo com libras.
Como você pôde perceber, os registros informais e distintos da norma culta caracterizam o
papel social do falante da língua. Se o falante tem baixa escolaridade e pertence a uma
comunidade linguística que se comunica dessa forma, o uso que ele faz da língua evidencia
exatamente o grupo social ao qual pertence. Nesse caso, não deve haver uma expectativa de
uso da língua padrão.
Por outro lado, se o falante teve acesso à educação formal e possui alto grau de escolaridade,
a expectativa é de que ele utilize a norma culta como a opção mais adequada para se
expressar em situações formais de comunicação. Caso isso não aconteça, ele frustrará a
expectativa em função da classe social e comunidade linguística às quais pertence.
ATENÇÃO
Usar o pronome oblíquo A substituindo um substantivo é algo formal, mas, uma boa alternativa
seria optar pelo uso de um termo equivalente ou sinônimo: “A exposição foi encerrada, mas eu
vi as obras de arte no ano passado”.
A língua pode ser comparada a um guarda-roupa, com vestimentas para diversas ocasiões e
finalidades. A norma culta seria comparada a vestuários convenientes em situações formais,
com diferentes graus de formalidade, como cerimônia de casamento, audiência num tribunal,
entrevista de emprego, ambiente de trabalho, ambiente acadêmico etc.
Terno, gravata, vestido longo, tailleur, terninho e alguns acessórios e adereços seriam
adequados a algumas dessas situações. Não é adequado comparecer a esses ambientes ou
participar dessas situações como se fôssemos à praia, usando sunga ou biquíni, por exemplo.
SAIBA MAIS
Quem faz uma analogia similar é o linguista brasileiro Marcos Bagno (2005), que compara a
língua padrão ao molde de um vestido. Leia mais.
É preciso cuidado com as escolhas linguísticas que fazemos para que nosso interlocutor não
as interprete como erro ou grosseria. Também devemos atentar para a escrita, pois algumas
liberdades ou licenças numa fala mais informal podem ser inadequadas na escrita. Por
exemplo, não fica bem escrever nas redes sociais ou num e-mail expressões ou incorreções
gramaticais muito comuns na fala coloquial ou descuidada.
Imagem: Shutterstock.com
A seguir, reunimos dois jeitos de comunicar a mesma coisa: de acordo com o Registro culto (ou
seja, a norma culta da língua) e de acordo com o Registro coloquial, que representa os usos
mais comuns na oralidade, mas que têm que ser evitados – principalmente em textos escritos.
O QUE DEFINE A NORMA CULTA DA
LÍNGUA?
De acordo com o professor e linguista Luiz Travaglia (2001, p. 25-26), os argumentos ou as
justificativas para o estabelecimento da norma culta são os seguintes:
ESTÉTICOS
Uso de critérios como elegância, colorido, beleza, finura, expressividade. Rejeição de vícios
como a cacofonia, colisão, eco, pleonasmo etc.
ELITISTAS OU ARISTOCRÁTICOS
Opção pelo uso da língua pertencente à classe de prestígio em detrimento do uso das classes
populares.
POLÍTICOS
Critério de purismo e vernaculidade. Rejeição de estrangeirismo ou qualquer aspecto que
“ameace” a identidade ou soberania da nação ou da cultura nacional.
COMUNICACIONAIS
Critérios relacionados com a facilidade de comunicação e compreensão. As construções e o
léxico devem resultar na “expressão do pensamento”.
HISTÓRICOS
Recorre-se à tradição para critérios de exclusão e permanência de usos da língua.
Imagem: Shutterstock.com
A NORMA CULTA OU LÍNGUA PADRÃO É
DEPENDENTE DA OBSERVÂNCIA E USO DAS REGRAS
ESTABELECIDAS PELA GRAMÁTICA NORMATIVA.
POR ISSO, VALE ENTENDER UM POUCO MELHOR O
QUE É E COMO ELA FUNCIONA.
GRAMÁTICA NORMATIVA
A gramática normativa é a gramática da escola, por meio da qual você aprendeu as principais
regras ou normas da língua padrão, principalmente da modalidade escrita. Ela prescreve o que
é considerado correto e reprova o que é errado de acordo com a norma culta, a única
considerada como válida. Por isso mesmo, a gramática normativa também é denominada
“gramática prescritiva”.
DÊ-ME UM CIGARRO
REGISTRO FORMALO
Ênclise
Norma culta: não se inicia frase com pronome átono antes do verbo (próclise), pois o correto é
o pronome átono após o verbo (ênclise).
ME DÁ UM CIGARRO
REGISTRO INFORMAL
Próclise
ÊNCLISE
PRÓCLISE
Segundo Travaglia (2001, p. 24), a gramática normativa pode ser entendida, também, como
“um manual com regras de uso da língua a serem seguidas por aqueles que querem se
expressar adequadamente”. Assim, somente é abonado ou aceito pela gramática o que
obedece às normas do bom uso da língua, configurando o falar e o escrever corretamente. Por
isso, todas as outras formas de uso da língua são consideradas desvios, erros, deformações
ou degenerações.
SAIBA MAIS
GABARITO
A língua pode ser comparada a um guarda-roupa que dispõem de peças para usarmos em
qualquer situação. Quando dominamos a norma culta, teremos vestimenta adequada para
qualquer situação formal. A alternativa A está incorreta porque as situações informais e os
interlocutores não letrados podem exigir eventualmente de nós um uso coloquial da língua para
que a comunicação aconteça. A opção B está incorreta porque a imagem da língua como um
guarda-roupa deve incluir peças para qualquer situação, tantos as formais quanto as informais.
A opção D está incorreta porque o domínio da norma culta não frustra uma comunidade
linguística altamente letrada ou escolarizada.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como temos visto, a gramática normativa está mais voltada para a variedade escrita da língua
e se ocupa com a manutenção de regras consideradas próprias da língua culta ou de prestígio.
Há, sem dúvida, uma tradição em se prestigiar a língua escrita. Possivelmente por ter
características mais conservadoras, transformar-se mais lentamente e estar sob a proteção da
ortografia.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2005.
BECHARA, E. 3 questões sobre língua portuguesa. In: Folha de S. Paulo. São Paulo, 2 jul.
2000. Mais!, p. 3
EXPLORE+
Sobre variação linguística regional, leia: Português do Brasil e português de Portugal.
robertokroll.com.br
CONTEUDISTA
Luís Cláudio Dalier
CURRÍCULO LATTES