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Treinamento para Futebol

Treinamento

Visão de jogo - Parte 1

A importância de se praticar outros esportes

A prática de outros esportes, como basquete, futevôlei e tênis pelo jogador de futebol,
melhoram o reflexo, a velocidade de condução de bola e a visão de jogo. Os famosos
"games eletrônicos" tão apreciados nas concentrações também podem ser usados
como treinamento.

Além das atividades extra-campo contribuírem para amenizar o estresse dos


treinamentos do dia-a-dia, relaxam o grupo e podem aumentar a visão periférica do
atleta ao mesmo tempo em que melhoram os fundamentos.

"Quanto maior a insegurança, maior a necessidade de o jogador fixar os olhos na bola


e, conseqüentemente, perde-se a visão periférica e aumenta o risco dos desarmes da
jogada", constata o professor João Gualberto Neiva de Mesquita, pós-graduado em
nível de especialização em educação física infantil e ex-preparador físico das categorias
de base do Avaí (SC) em 1999 e auxiliar-técnico do time profissional em 2003.

O aumento da visão periférica propicia uma visão mais perfeita do campo de jogo. O
reflexo se torna mais rápido e a jogada pode ser mais criativa. "Os olhos conduzem os
músculos do corpo para verem. Pode-se dizer a eles o que olhar para que eles definam
a ação", orienta o preparador físico.

Segundo Mesquita a finalização é feita com os olhos, já que o cérebro envia


mensagens aos olhos que por sua vez comandam os músculos e determinam a ação e
quando fazê-la. "Seria recomendável que os jogadores de futebol praticassem outros
esportes que exijam rapidez no processamento visual, como o tênis de mesa e quadra
e o squash", indica.

Outras atividades como futevôlei, embaixadas e jogos eletrônicos também contribuem


para melhorar a performance visual do jogador de futebol.

Visão de jogo - Parte 2

Exercícios para aperfeiçoar os fundamentos

Alguns exercícios podem desenvolver a visão periférica de jogo e, conseqüentemente,


aperfeiçoar os fundamentos de jogo ao aumentarem o reflexo, a qualidade de passe, o
domínio e a condução de bola e a finalização dos jogadores. A outra vantagem destas
atividades é proporcionar descontração na equipe e aliviar a tensão dos treinos do dia-

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a-dia, já que estes treinos podem ser encarados como atividades recreativas entre os
jogadores.

Veja abaixo algumas sugestões de exercícios sugeridas pelo professor João Gualberto
Neiva de Mesquita:

Embaixadas: nesta atividade de treinamento é importante criar algumas dificuldades


através de obstáculos lúdicos para que o jogador não olhe para a bola.

Execução: mas para o jogador não olhar para a bola é necessário que se crie condições
e situações para que o atleta condicione esta atitude e que permita o controle do
resultado.

Então, os exercícios devem ser realizados, repetitivamente, com a execução de outras


tarefas concomitantes, de forma que atenção do jogador não seja direcionada à bola.

Exemplo: Quem receber a bola faz movimentos com a mão, abrindo-a e fechando-a
bem lentamente. E o encarregado de passar a bola deve dizer como está a mão do
companheiro, ou seja, fechada ou aberta.

Futevôlei: é recomendável para desenvolver a habilidade, a criatividade do atleta e,


claro, a visão de jogo periférica, já que o jogador precisa dominar a bola, saber onde
está o companheiro e o local em que deve passar a bola.

Basquete: os jogos pré-desportivos de movimentação para receber o passe também


auxiliam no treinamento de mobilidade e visão. A condução de bola obriga o atleta a
caminhar (batendo a bola) e dirigir a visão para o que acontece na quadra.

Aplicação nas escolinhas

"O treinamento nas escolinhas como nos clubes deve ser diversificado e reparar nas
diversidades de atividades, fazendo com que o aluno (atleta) esteja sempre motivado
para participar do trabalho", orienta o especialista em preparação física infantil,
professor João Mesquita.

Ainda na opinião de Mesquita, que teve passagem pela equipe do Avaí, de Santa
Catarina, como preparador físico da categoria infantil em 1999 e auxiliar-técnico do
time profissional em 2003, os treinadores devem ficar atentos para os recursos que os
outros esportes podem oferecer como embasamento pedagógico para os treinamentos
de suas equipes.

Eficácia e eficiência no futebol

Como ver uma partida de futebol

A eficácia se manifesta no exato instante em que se cria alguma coisa. A eficiência


surge no momento em que é colocada em prática a criação.

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No caso do futebol, podemos exemplificar a eficácia como sendo um drible que o
atacante tem a intenção de executar diante do defensor. Caso este drible não obtenha
êxito em nenhum momento da ação, a eficácia é nula.

Porém, se a ação transcorrer por algum tempo qualquer, ela estará assumindo a forma
de eficiência. A eficiência existe enquanto o movimento do drible estiver sob controle
do atacante. Este controle pode ser reduzido à medida que o defensor for se
aproximando do atacante. Essa redução ou queda de eficiência é gradativa. A
velocidade com que ocorre essa redução varia conforme o nível de suficiência gerado
pela eficácia.

A suficiência é a reserva ou estoque de algo oriundo da eficácia e que serve para


restabelece o nível de eficiência sem precisar gerar nova eficácia.

Voltando, então, ao exemplo do drible, a suficiência é o estoque de tempo (velocidade)


e espaço (distância) que separam a tentativa do defensor de desarmar o atacante. Se
o defensor começa a se aproximar do atacante ou faz com que o atacante tenha que
alterar o movimento conforme idealizado, isso significa que está ocorrendo uma
redução da eficiência do atacante e que o mesmo deve, o quanto antes, se abastecer
dos estoques que detém a fim de que não se torne uma eficácia nula.

Saber identificar a diferença de eficácia, suficiência e eficiência, sua relações de causa


e efeito, é fundamental para entender como devemos trabalhar para melhorar o nível
de preparação dos atletas de futebol.

Treinamento em espaço reduzido

Método pode estimular a criatividade dos jogadores

O desenvolvimento da capacidade física dos jogadores de futebol, nas últimas décadas,


permitiu maior ocupação dos espaços dentro de campo. Diante desta realidade, o
futebol atual exige que os jogadores modernos sejam capazes de tomar decisões em
segundos.

Para estimular os jogadores na rapidez das decisões, o treinamento em espaço


reduzido é um método de treinamento adotado em várias equipes de todo o mundo.
Sua aplicação consiste na redução do tamanho do campo de jogo, o que permite aos
atletas vivenciarem todos os componentes do jogo de forma mais intensa.

Desta forma, ao treinarem num espaço menor de campo, os atletas pegam mais na
bola, aumentando assim sua participação no exercício ministrado. Com isto, o jogador
se vê em situações em que é obrigado a improvisar, fazendo com que sua criatividade
seja exercitada.

De acordo com o professor Cyro Garcia Leães (2003), assim como o drible, a
criatividade é dependente da individualidade do jogador, não havendo regras para o
seu desenvolvimento. Para tanto, ela deve ser estimulada no treinamento através da
repetição sistemática desituações complexas que necessitem ser solucionadas.

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Portanto, o treinamento em espaço reduzido pode ser uma alternativa metodológica
interessante como forma de aperfeiçoar a capacidade de improvisação por parte dos
atletas e o pensamento rápido.

Fisiologia e planejamento no futebol

Alguns elementos para o planejamento da alta performance

É sabido que, em termos fisiológicos, o glicogênio é a principal fonte de energia para a


atividade física. A completa recuperação de seus estoques é fundamental para o ótimo
rendimento esportivo. Neste sentido, portanto, conseguir uma reserva ideal de
glicogênio se faz necessário para desempenhos de excelência.

Glicogênio + Oxigênio = Energia Muscular

Estudos demonstram que, no futebol profissional, é necessário algo entre 48 e 72


horas (dois a três dias) para completa recuperação dos estoques de glicogênio
dependendo da estrutura biológica, do nível de condicionamento atlético do jogador e
de sua situação anímica ou predisposição e determinação para a atividade competitiva.
Assim sendo algumas providências são indicadas para a recuperação dos atletas após
os jogos:

• (Re) Hidratação;
• Alimentação orientada;
• Repouso;
• Processos complementares de desintoxicação (hidroginástica, ioga, acupuntura,
meditação etc.);
• Treinos leves (que acelerem o processo de recuperação)

Alguns efeitos colaterais advindos do esforço continuado sem respeitar padrão de 72


horas entre um jogo e outro:

• Nível de energia muscular diminuído;


• Risco maiores de lesões e acidentes;
• Estafa, esgotamento nervoso (a médio e longo prazos);
• Decréscimo na energia psíquica: poder de concentração, motivação etc.;
• Queda geral do rendimento esportivo.

Em se tratando do futebol competitivo é preciso destacar que não basta limitarmos


nossas preocupações aos aspectos puramente fisiológicos ou biológicos. Um
planejamento que aborde a perfomance em seus aspectos mais amplos se faz
necessário.

Abaixo, apresento alguns elementos que devem ser observados ao se elaborar um


planejamento aplicado ao futebol, visando uma ótima performance:

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• Qualidade e quantidade dos treinamentos compatíveis com calendário de jogos;
• Orientação nutricional e dieta adequada às diversas fases da performance
(incluindo-se suplementação individualizada: ingestão de vitaminas, anti-
oxidantes, carboidratos etc.);
• Repouso e processos de desintoxicação compatíveis com os esforços
despendidos;
• Trabalho e orientação psicológica adequados ao estágio do grupo e perfis
individualizados dos atletas.

A eliminação desportiva precoce

Desporto escolar é uma alternativa ao problema

Segundo Teotónio Lima, a eliminação desportiva precoce é a "reprovação antecipada


dos candidatos a atletas", impossibilitando crianças e jovens de conquistarem seus
espaços com potenciais nas áreas físicas e desportivas. Cita exemplos dos clubes que
ao fazerem o chamamento nos períodos de treinos, para captarem novos atletas, criam
duas equipes da mesma categoria, após seleção excludente da grande maioria dos
interessados.

Ao fazer esta referência, o autor mostra que a grande maioria jamais terá
oportunidade, até porque os testes, via de regra, são na mesma data e assim ficam
alijados do desporto.

Devido às questões fisiológicas, as crianças da faixa etário dos sete aos 13 anos, estão
no processo de crescimento e desenvolvimento, características que são individuais e
não respeitadas pela seleção. A eliminação aos 12 anos, pode mostrar que foi um erro,
quando aos 15 anos a criança se mostrar excelente atleta.

A questão vai mais além. Existe ainda a dispensa dos atletas que no julgamento

técnico, deixaram de "ser suficientemente bons", para a representarem seus clubes.

A auto-exclusão, que está também relacionada com o insucesso escolar, passa a fazer

parte deste processo.

O ato de excluir é tão preocupante que o autor, refere-se dizendo que

academicamente deveria ser enfrentado e modificado.

O texto aborda de maneira responsável, sinalizando para o fato de que a eliminação

precoce traz problemas que irão refletir no futuro daqueles que foram subjulgados,

pois sequer irão apoiar os desportos.

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Explicações para a eliminação precoce

Começamos pelos esportes federados. Nos clubes o objetivo principal é o de detectar

os atletas mais dotados para competirem e lograrem êxito nos eventos. Olímpio Coelho

(1985) e Francisco Sobral (1988), falam que neste processo pressupõe-se dois

sistemas: de preparação desportiva e o outro de seleção de valores.

Os clubes visam simplesmente a renovação da elite desportiva, não contemplando

aqueles que gostariam de fazer simplesmente um desporto, não tendo que

submeterem-se ao rigor dos treinos.

Diante deste quadro, o autor indaga: "Que razões levam o clube a ser uma
instituição que não tem paciência para esperar pelo natural desenvolvimento das
crianças? E que razões justificam as pressões sobre os atletas? Por que relegam a
função social em proporcionarem a seus associados atividades desportivas"?

Estas perguntas podem ser respondidas se, primeiramente, soubermos se está


certa ou errada a ação desportiva do clube. O autor diz que os clubes estão
certos pois seus objetivos primeiro são os de preparar atletas para suas equipes
de competição e assim sendo a exclusão é inevitável. Pelo lado social está errado,
pois ao eliminar crianças que ainda não chegaram nos seus níveis de maturação
ideal, não cumprem com o papel de educador, o que é conflitante com os
interesses das crianças.

Por outro lado não podemos culpar os dirigentes e treinadores dos clubes pela
eliminação das crianças e jovens, pois as condições de trabalho, tempo de
quadra, bolas, etc., que lhes são apresentadas e o número excessivo de atletas,
dificultam o trabalho e sua ação fica limitada a um grupo reduzido de atletas.

Diante destes fatos, Teotónio Lima, justifica dizendo que a natureza dos clubes
federados é a de buscar os melhores em cada desporto, uma vez que a própria
sociedade exerce pressão sobre os resultados.

O erro está no fato dos clubes não oferecerem mais possibilidades desportivas
aos menos dotados, excluindo assim os que não podem chegar aos primeiros
lugares.

Fatores que agravam a eliminação precoce

As finalidades educativas e formativas não valorizam o homem nas funções


sociais e culturais. Usam o desporto como um bem de consumo. Por outro lado o
profissionalismo dos desportos, faz com que haja uma busca pelo atleta
excepcional. O professor Moniz Pereira, costuma dizer que "nunca conseguimos
presenciar uma competição entre juvenis da terceira divisão como um verdadeiro
espetáculo desportivo".

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É neste contexto que a especialização entra em cena obrigando cada vez mais
que se busque a performance através de grandes volumes de trabalho. Na busca
de novas "estrelas" a eliminação precoce ocorre onde os jovens mais dotados têm
seu espaço e os demais são eliminados, como se fosse um "funil".

Erros pedagógicos na iniciação

O tratamento dispensado às crianças quando de sua apresentação para os


treinamentos, são fatores decisivos para o início de suas atividades. O autor
relata que se a primeira experiência for boa, poderá ficar presa à modalidade
para o resto de sua vida, caso contrário, poderá ocorrer de nunca mais voltar a
ter outra experiência. A imposição, dos treinadores é outro ponto negativo. Com
o intuito de serem conhecidos como "criadores de campeões", traçam objetivos
inatingíveis para as crianças e conseqüentemente eliminadas do treino. Cria-se
assim um clima de intranqüilidade para as demais, que não sabem quando será o
momento de serem também eliminadas.

Com erros desta ordem, pedagogicamente os treinadores reforçam um desajuste


na criança entre aquilo que ela faz por prazer e o que lhe é imposto pelos
adultos.

Orlick e Botterill (Chicago, 1975), fazem referência aos excessos de atividades


nos desportos feitos pelos adultos. Crianças de 8-10 anos respondem um
questionário onde visivelmente relatam os trabalhos exigidos nos desportos e as
cobranças feitas pelos adultos, que via de regra são rejeitadas.

Por outro lado os adultos, reforçando o que a sociedade organizada usa como
pressão, transferem para a criança em nome da promoção social toda esta
"angústia", não respeitando os valores dela, que será a grande perdedora.

Conclusão

É possível solucionar parcialmente a questão da eliminação precoce. O desporto


escolar passa a ser a grande saída, uma vez que não reproduz os modelos
competitivos dos desportos realizados nos clubes.

Fazer com que a criança participe de desportos fundamentados na personalidade


infantil, no interesse lúdico e nas necessidades motoras da terceira infância,
passa a ser a grande pedida, liberando assim os clubes desta missão em
promover a formação desportiva da criança.

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Aspectos gerais do treinamento de goleiros

Estado emocional também merece atenção

Bracali durante treinamento

A preparação de goleiros realizada com um especialista da área ganhou força a partir


dos anos 80, quando os primeiros profissionais começaram a despontar, como Valdir
de Moraes, um dos precursores da atividade no país. Atualmente, todas as equipes dão
atenção especial ao treinamento de goleiros, reconhecendo a importância que a função
desempenha no time e suas características diferenciadas dos demais atletas.

Há vários tipos de treinamentos e metodologias, que variam de acordo com a linha de


trabalho adotada pelos profissionais. Para Armando Bracali, profissional com 15 anos
de experiência, o treinamento é ministrado de acordo com a necessidade de cada
goleiro, através de um trabalho específico que envolve aspectos físicos, técnicos,
táticos e psicológicos. Segundo Bracali, "o emocional do goleiro representa de 30% a
40% do seu desempenho".

Tão importante quanto o treinamento dentro de campo, o relacionamento com os


atletas não se limita ao gramado. Bracali orienta os goleiros sobre a carreira e alerta
sobre os cuidados que devem ter com a vida pessoal. "Eu converso a respeito de
qualquer tipo de procedimento fora de campo que possa ser prejudicial à sua carreira,
como alimentação, noites mal dormidas e também mostro os estudos que realizo dos
adversários e saber as características de quem vai enfrentar".

Fã do goleiro Henao, que atua no Santos, Bracali diz que a altura ideal para um goleiro
deve ser de 1m88 e a mínima 1m82. Depois de 14 anos de clube, sente-se orgulhoso
de goleiros treinados por ele despertarem o interesse de outros clubes, como Cristiano
(Atlético Paranaense), Artur (Cruzeiro), Marcos (Goiás), Márcio (Grêmio) e César, de
32 anos, negociado com o Fluminense.

Armando Bracali formou-se em Educação Física ainda como jogador e depois fez pós-
graduação em Treinamento Desportivo. Diz que é importante, mas não imprescindível
o treinador de goleiros ter sido um ex-jogador, acrescentando que o profissional da
área deve ser modelo para os seus atletas, seja no comportamento, no caráter e em
sua conduta profissional.

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Categorias de base: seleção e desenvolvimento

Busca de futebolistas é permanente

O processo de seleção de desenvolvimento técnico predominante nas categorias de


base envolve duas etapas específicas, inter-relacionadas, que são: a fase de seleção e
identificação dos atletas e a fase com vistas à formação e desenvolvimento.

Seleção de jogadores para formação nas categorias de base

A busca de futebolistas para as categorias de base é um processo permanente de


seleção realizado nos clubes para preencher necessidades coletivas e individuais que
se adaptem às exigências das categorias. Os parâmetros gerais de seleção mais
freqüentes, orientados pelos treinadores são: destreza, leitura de jogo, visão,
interpretação, nível de potência, velocidade, estado emocional e combatividade.

As características específicas prioritárias, observadas na triagem de futebolistas para


as categorias de base, com a finalidade de triunfar no futebol moderno, são:

- Goleiros - altura, envergadura e dimensão da palma da mão;


- Zagueiros - estatura, imposição funcional, capacidade de recuperação e
antecipação;
- Laterais - velocidade, saída com a bola e capacidade cognitiva;
- Volantes - força, capacidade de lançamento e capacidade de marcação;
- Meias - criatividade, domínio técnico e finalização;
- Atacantes - velocidade, drible e finalização;
- Atacantes de área - estatura, imposição funcional e finalização.

Seleção de talentos para o futebol

Os futebolistas de talento são sistematicamente descobertos com idade precoce, entre


aquelas que participam de jogos em diferentes classes, várzea, bairros, ligas,
federações, comunidades, municípios, escolas, região etc. e que apresentam grau de
habilidade elevada e potencial de melhoria para serem encaminhados aos clubes
aparelhados para o máximo desenvolvimento técnico. O talento deverá apresentar
uma combinação de variáveis genéticas em condições privilegiadas, orientadas para a
prática do futebol.

Fase formativa do futebolista

A formação de um futebolista compreende o adiantamento das qualidades


psicomotoras e coordenativas adquiridas na infância e na adolescência. É
representada, também, pelo desenvolvimento dos componentes físico, técnico, tático,
mental e psicológico, somado às condições naturais que o indivíduo traz ao nascer, em
seu código genético, tudo potencializado pelas atividades que ele realiza no meio social
e cultural, mesmo que sem a intervenção consciente de pessoas.

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Treinamentos para crianças precisam ser diferenciados

Algumas abordagens de estudiosos do assunto

Crianças, atletas em formação nas diversas categorias de base dos clubes e jogadores
profissionais podem ser treinados de diversas formas. Particularmente, acredito que é
importante haver diferença nos métodos de treinamentos nas chamadas "escolinhas de
futebol", em relação aos trabalho empregado nas equipes voltadas para o aspecto
competitivo dos campeonatos que disputam.

Estudiosos do assunto contribuíram, de alguma forma, para o enriquecimento do tema,


os quais cito pequenos trechos:

De acordo com BARBANTI (1994), os meios de treinamento são todos os auxílios aos
métodos aplicados, que servem ao desenvolvimento das capacidades de rendimento.
Muitos podem imaginar que o treinamento de futebol é restrito aos gramados, mas
precisam considerar, também, os exercícios físicos, os recursos audiovisuais,
autógenos, psicológicos e as várias formas de avaliação relativas à atividade de um
jogador de futebol (cit. por FRISSELLI e MANTOVANI, 1999)

Futebol na infância

Para FILGUEIRA (2004), o futebol na infância deve deixar de ser uma cópia de futebol
profissional em todos os aspectos. Para as crianças, jogar futebol pode ser uma forma
de desenvolvimento físico e sociabilidade, desde que sejam orientadas de acordo com
a idade.

Em sua tese de doutorado, a psicóloga REGINA BRANDÃO (2000), afirma que a


dinâmica do jogo de futebol exige que o atleta lide com uma série de situações que
podem provocar reações de estresse. Ao pensarmos na estrutura psicológica da
criança, indagamos que a mesma é vulnerável a situações inerentes ao ambiente
esportivo e competitivo (cit. por FILGUEIRA, 2004).

Por isso, é importante que na idade infantil se evite competições com alto grau de
exigência dos pequenos jogadores (desempenho, disciplina tática, obtenção de
resultados positivos etc.), devido aos problemas gerados por esforços físicos muito
intensos e, principalmente, das solicitações psico-emocionais que, muitas vezes,
podem ser negativas às crianças (FILGUEIRA, 2004).

Pedagogia da rua

O futebol aprendido na rua tem aspectos positivos e negativos. Ao levarmos para a


escola de futebol o jogo de futebol da rua, devemos aproveitar apenas aquilo que é
bom, ou seja, a preservação do lúdico, algo produtivo para a aprendizagem. O
preenchimento do cotidiano das aulas de futebol para crianças deve ser com
brincadeiras, com diversão, com carinho, com atenção, com liberdade (FREIRE, 2003).

Para ensinar futebol é preciso adaptar as habilidades existentes na criança, no jovem.


Devemos socializar a motricidade de cada um. Na aprendizagem desportiva, as
questões sociais é que orientam o exercício das ações de cada um; em seguida, o

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exercício social das habilidades motoras exigirá o aperfeiçoamento e a integração,
entre si, de diversas habilidades individuais (FREIRE, 2003).

Método experimental participativo (construtivista) aplicado ao


futebol

Uma proposta para reflexão de alguns conceitos pedagógicos

Mudar o atual paradigma de treinamento do futebol é um desafio de técnicos,


auxiliares técnicos, preparadores físicos e demais profissionais que têm influência
direta ou indireta nas atividades que buscam o rendimento máximo dos atletas neste
início de século 21. Para isso, proponho uma reflexão sobre alguns conceitos
pedagógicos.

O que é o Método Experimental Participativo?

O Método Experimental Participativo é uma proposta pedagógica de trabalho aplicado


ao futebol, baseado em conhecimentos sobre aprendizagem desenvolvidos nas últimas
décadas por Piaget, Reich, Paulo Freire etc.

O método é experimental porque todos devem trazer suas próprias experiências,


aprender com as experiências dos demais componentes do grupo, comparar suas
concepções com as realidades, condições e circunstâncias da situação concreta do
momento.

O método é participativo porque junto com a experimentação, exige-se a


participação efetiva e interessada de todos os envolvidos no processo educativo do
treino, isto é: os que ensinam, os que criam as condições, os que exercem as funções
de apoio e serviços e, enfim, os que aprendem (atletas).

A aplicação prática deste método, embora respeite os níveis hierárquicos de comando,


deve ocorrer de forma democrática, pois todos os envolvidos no processo têm
oportunidade de oferecer sugestões, apontar correções, participar dos testes
probatórios e, de alguma forma, poder participar das decisões.

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Para que se busque uma unidade teórica da metodologia é importante que as decisões
sejam tomadas pela unanimidade dos componentes do grupo (comissão técnica e
jogadores), tendo em vista que serão eles mesmos que testarão na prática as
conclusões teóricas, considerando que o processo metodológico em andamento, na sua
formação científica, é o próprio método.

Tendência atual do treinamento desportivo no futebol

Aplicação de metodologias que ajudem a ampliar o potencial mental-emocional dos


atletas, que permitam o desenvolvimento da criatividade e da habilidade
paralelamente a uma boa preparação atlética e a uma planificação tática eficiente e
eficaz.

Motricidade Desportiva

É uma nova maneira de entender o treinamento e a performance desportiva. Envolve


uma compreensão não só da preparação física (aptidão física), mas também de outros
elementos fundamentais para o rendimento, como qualidade do gesto técnico (passe,
drible, controle e proteção da bola, chute, marcação, posicionamento etc.), atitude
psicológica no treino e no jogo, relacionamento do grupo, cuidados com a saúde
esportiva e geral (alimentação, repouso, processos de recuperação e desintoxicação).

Algumas características do trabalho na perspectiva da Motricidade Desportiva:

• Procura entender e levar em conta o perfil global dos atletas em aspectos como
experiências, temperamento, personalidade, perfil psicológico (geral e
desportivo), grau de treinabilidade, deficiências, dificuldades, traumas,
resistências, história recente e remota de treinamento e competitividade,
conquistas, fracassos, grau de receptividade ao aprendizado geral e motor,
capacidade de definir metas esportivas e existenciais, capacidade de
compartilhar metas (individuais e coletivas) etc.
• Contribui para a formação do atleta inteligente.
• Entende que o atleta não é uma máquina de correr, passar, chutar, driblar, mas
um indivíduo norteado por sentimentos, pensamentos e ações.
• Procura mostrar que o atleta inteligente deve ter objetivos individuais e
coletivos claros, empenhar-se com afinco para a sua realização e
aperfeiçoamento, desenvolvendo seu potencial ao máximo, suas qualidades e
pontos fortes, ao mesmo tempo em que corrige suas deficiências, fraquezas ou
pontos fracos.

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• Equilibra e adequa suas metas individuais com as metas coletivas (do grupo):
não basta participar mecanicamente do grupo. É preciso avaliar
permanentemente sua contribuição como membro da equipe no processo de
crescimento individual e coletivo (busca da unidade do grupo).
• A Motricidade Esportiva precisa ver o atleta como um todo e não apenas como a
soma de partes.
• Deve perceber as dimensões bio-fisiológicas, técnicas, táticas e emocionais-
psicológicas do atleta de forma global e não fragmentada ou
departamentalizada.

Treinamento de goleiros na pré-temporada

Preparando o atleta em vários aspectos

A pré-temporada é fundamental, pois é nessa fase que a base para o desempenho


técnico é construída. Uma pré-temporada bem feita reduz os ricos de lesões, além de
garantir mais confiança ao goleiro, já que o aspecto emocional é tão importante
quando a parte física e técnica.

Planificação do trabalho para 2003


Início da pré-temporada: dezembro de 2002, com balanço da temporada anterior
(parte técnica)

Estruturação da pré-temporada

Fase 1 : dezembro (segunda e terceira semanas):


- Avaliações fisiológicas
- Base para resistência aeróbia
- Base para força muscular

Fase 2 : janeiro (primeira e segunda semanas):


- Desenvolvimento da resistência aeróbia
- Força muscular

Fase 3 : janeiro (segunda e terceira semanas):


- Desenvolvimento das variáveis específicas
- Potência e agilidade com gestos específicos
- Trabalho com bola

Fase 4 : janeiro (terceira e quarta semanas):


- Concessão dos gestos técnicos
- Situação real de jogo

No meu trabalho procuro mesclar tudo aquilo que vivenciei como atleta e tudo que
aprendi nos estágios que fiz na Europa. Acredito que desenvolvo uma mescla da escola

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européia baseada no trabalho de força em aparelhos e agilidade no campo, com estilo
brasileiro de trabalhos técnicos mais específicos.

Para a temporada de 2003, primeiramente, realizamos o balanço da temporada de


2002. Nessa fase, observamos os pontos positivos e negativos no desempenho técnico,
físico e psicológico dos atletas.

O planejamento anterior também foi avaliado e estudou-se o que deveria ser mantido
e/ou reestruturado na metodologia de trabalho para 2003.

Metodologia de trabalho

Fase 1 - Condições fisiológicas

Variáveis fisiológicas observadas:


- Composição corporal
- Perfil nutricional
- Resistência Aeróbia
- Potência Aeróbia
- Avaliação Isocinética de força e resistência muscular - membros superiores e
membros inferiores
- Testes de Potência Anaeróbia específicos

Base para Resistência Aeróbia:

Trabalho de corrida: Método Intervalado - oito sessões com uma intensidade na


velocidade do Limiar Anaeróbio, até uma velocidade do Limiar Anaeróbio + 3km/h, o
volume é de 6.000 metros por sessão (tiro de 1.000 metros), com uma freqüência de
quatro vezes por semana.

Base para força (musculação): trabalho a 80% da carga máxima para membros
superiores e inferiores, com uma freqüência de três vezes por semana.

Fase 2 - Bases

Base para Resistência Aeróbia - trabalho de corrida: Método Intervalado, oito sessões,
com um volume de 4.200 metros (tiros de 700 metros), na intensidade entre 90% e
100% do pico de VO 2 , quatro vezes por semana.

Base para Força (musculação) - trabalho a 80% da carga máxima para membros
superiores e inferiores, com uma freqüência de três vezes por semana.

Fases 2 e 3 - Desenvolvimento de variáveis específicas

Oito sessões de Potência (musculação), duas vezes por semana, com carga de 70% e
carga máxima, potência e agilidade a partir de gestos específicos com bola e correção
dos gestos técnicos via exercícios educativos em situações de jogo.

Fases 3 e 4 - Desenvolvimento das habilidades específicas

A partir de situações reais de jogo, seis sessões. Situações desenvolvidas:

- Reposição de bola (com as mãos e com os pés)

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- Saída de gol e suas variações
- Posicionamento dentro do gol e suas variações
- Treinamento para definição de queda

É importante salientar que o novo calendário proporcionou um tempo maior de

trabalho para a base, equilibrando melhor o trabalho e a recuperação. Lembro que em

minha época de jogador treinávamos tudo em 15 dias e logo em seguida o jogo. Era

muito desgastante, só me sentia bem após o terceiro ou quarto jogo. Agora, minha

preocupação é equalizar a recuperação pós-jogo com a carga semanal de trabalho

durante todo o ano, mas com suporte da Fisiologia, da Nutrição e dos demais membros

da comissão técnica que discutem e tomam atitudes em conjunto, sem invasão de

espaço, garantindo uma boa qualidade de rendimento.

A evolução do futebol e do conceito de talento esportivo

Craque não é mais apenas o atleta que reúne algumas habilidades específicas

Aos poucos a comunidade que trata as questões do futebol, de forma séria e


profissional, vai se distanciando do senso comum e entendendo que o jogador
talentoso, o craque, o "fora de série" não é mais aquele que apenas reúne algumas
habilidades motoras específicas para a prática do esporte.

Até a década de 60 o futebol era baseado essencialmente na técnica e, portanto,

aquele que dominava alguns fundamentos tais como drible, chute, passe, cabeceio etc.

conseguia se destacar em sua equipe e em relação aos demais jogadores, sem

necessitar de outras qualidades.

Passado este período de predomínio da técnica, tivemos uma fase onde a preparação
física passou a ocupar, literalmente, quase todos os espaços. O futebol se tornou mais
veloz, mais corporal, com disputas físicas mais intensas. A Copa do Mundo da
Inglaterra em 1966 foi um marco neste sentido. O mundo do futebol, através de seus
especialistas, começou a investir neste fator. Grandes transformações começaram a
ocorrer. Os jogos, a certa altura, passaram a ser demasiadamente violentos, tal a
importância que se deu ao empenho físico aplicado pelos jogadores. Já a partir da

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década de 80 notou-se uma evolução acentuada em relação aos esquemas táticos, as
estratégias de jogo. Por conseqüência os treinadores começaram a ter maior
importância na performance das equipes. Estes, juntamente com suas comissões
técnicas, cada vez mais multidisciplinares*, começaram a buscar uma integração dos
fatores físicos, técnicos e táticos para conseguirem melhores resultados.

Neste alvorecer do século 21, sem desprezar estes fatores físicos, técnicos e táticos,
vivemos um momento onde se destaca a necessidade de cuidadosos planejamentos de
curto, médio e longo prazos e, sobretudo, de investimentos na atitude (psicológica,
emocional, social) dos atletas, que devem ser cada vez mais profissionais sem, porém,
perderem seu potencial técnico criativo. Este parece ser um dos grandes desafios dos
especialistas interdisciplinares nestes tempos atuais.
Os grandes clubes do Brasil e do mundo, que possuem técnicos e profissionais
qualificados, estão procurando superar a visão ainda espontânea e empírica de
formação do atleta de futebol, substituindo-a por um novo modelo, ainda em
construção, apoiado na interdisciplinaridade*, entendida aqui como a integração
das diversas áreas científicas (técnica, motricidade, fisiologia, nutrição, biomecânica,
psicologia etc.).

Nesta perspectiva, o entendimento sobre o que seja o talento esportivo começa a


sofrer alterações, em relação ao sentido mais tradicional que vínhamos dando a ele.
Não podemos mais continuar considerando talentoso o atleta que apenas possui a
virtude de realização de alguns movimentos técnico-motores de inegável plasticidade.
O verdadeiro craque ou talento, mais do que nunca, passa a ser aquele que é capaz de
transformar suas qualidades não só técnicas, mas também físicas, psicológicas,
emocionais, espirituais e sociais em resultados práticos em termos de ganho de
performance da equipe da qual faz parte.

(*) Sobre este assunto sugiro a leitura do texto Interdisciplinaridade,


transdisciplinaridade e futebol, no Centro de Estudos Transdisciplinares da Cidade do
Futebol.

Brasileiros aprendem futebol brincando

Pelada, bobinho, controle e rebatida

Acho que todos nós, em algum momento de nossas vidas, já jogamos uma pelada no
meio da rua ou brincamos de controle e bobinho. Calma! Não estou falando que você
deva jogar sua vizinha no meio da rua, assim que ela sair do banho. Para quem não
sabe, 'pelada' é aquele joguinho de futebol que é disputado pela molecada (ou até
marmanjos) no meio da rua, na praia (até mesmo sem goleiro, com gol caixote)...
Bem, melhor você consultar o livro do João Batista Freire - 'Pedagogia do Futebol'.
Tem tudo lá.

Mas, o papo lá é um pouco mais sério, pois o que está sendo discutido é a metodologia
do futebol, a começar pelas escolinhas, que 'não vão ensinar ninguém a jogar, se não

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deixarem as crianças brincar' (FREIRE). E essa prática, ainda segundo o prezado
mestre, deve começar por essas quatro brincadeiras.

Tem razão! Acho inconcebível alguém tentar 'ensinar' futebol para uma criança como
se ela estivesse num treinamento militar. Há quem chega ao absurdo de aplicar alguns
treinamentos físicos e técnicos que só vemos em jogadores profissionais ou adultos.

Mais uma vez concordando com Freire, isto não tem nada a ver com cursos, dada a
precariedade de vários deles. 'Há competentes e incompetentes diplomados e sem
diplomas'.

O que o mestre quer dizer é que para alguém querer ensinar futebol é preciso que haja
organização, experiência prática, teoria, técnica etc. Ou seja, método! No livro citado,
Freire mostra os procedimentos que os professores têm de adotar ao ensinar o esporte
mais popular do país, caso você queira se aprofundar no assunto.

O futebol fora das quatro linhas

O técnico Odair, ex-lateral do Palmeiras e da seleção brasileira, mostra o que os brasileiros podem
aprender com os europeus

Após um estágio de 13 meses na Europa, nas equipes da AS Roma, da Itália, Bayer


Leverkusen e Bayern de Munique (Alemanha), constatei que a forma de treinar, dentro
de campo, é semelhante ao trabalho que é realizado no Brasil. No entanto, a diferença
é enorme quando analisamos tudo aquilo que é feito nos bastidores.

Os treinamentos da Roma, para o campeonato italiano e os jogos da Copa Uefa, sob


comando do técnico Allenatore Zeman, consistiam em:

Treino tático de aproximação


Treino técnico (mini-campo)
Treino de marcação (mini-campo)
Treino de posse de bola (atacando)
Treino de marcação (sendo atacado)
Treino físico de resistência com bola
Treino de força com saltos (barreiras)
Treino de resistência e velocidade curta
Treino intercalado de velocidade com bola
Treino de posicionamento dos zagueiros
Treino de cobranças de faltas (bola parada)
Treino de finalização (sempre com triangulações)
Treino coletivo de 25 minutos (campo reduzido)

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Os treinamentos táticos da Roma eram no esquema 4-3-3 e os atletas eram divididos
em dois grupos para os trabalhos físicos. Esses treinos eram repetidos durante toda a
semana.

A maior diferença nos treinamentos coletivos realizados pelos italianos está nas
dimensões do campo, sempre reduzido, e na sua duração: no máximo 25 minutos. Vi,
com muita alegria, que os brasileiros Paulo Sérgio, Cafu, Antonio Carlos e Aldair (todos
titulares da equipe italiana, na época) estavam bem adaptados ao estilo de
treinamento europeu.

Já na Alemanha, o Bayer Leverkusen (comandado por Christoph Daum), adotava o 3-


5-2 e o Bayern de Munique, dirigido por Ottmar Hitzfeld, realizava algumas variações
táticas durante um jogo, mas o esquema que iniciava as partidas era o 5-2-3. Usava
um líbero, Lottar Matheus, mas durante o próprio jogo poderia atuar no 4-3-3, 5-4-1
(defensivo) e 3-5-2 (ofensivo).

Durante as competições da Pokal, Champions League e Bundesliga, acompanhei os


treinos e jogos do Bayern Munique (onde fiquei sete meses) que, basicamente,
possuíam a seguinte rotina:

Aquecimento - começa com algumas voltas no campo, três voltas no centro de


treinamento, durante 17 minutos e, ainda como parte do aquecimento, os atletas
treinam domínio de bola, passes, uma roda com dois no meio e controle de bola.

Ao mesmo tempo, no outro lado do campo, o treinador de goleiros, Zepp Maier, aplica
o seguinte treinamento:

Chutes frontais ao gol


Batida de bola no chão
Virada de trás e de frente
Jogada de bola no ângulo
Jogada de bola no contra-pé
Potência nas pernas com giro
Cruzamentos de bola pelo chão e pelo alto

Posteriormente ocorre a parte tática, jogadas com atacantes e variações pelos lados
(esquerda, direita) e pés trocados. Pelo meio, enfrentando o goleiro, partem para o
campo reduzido, dois toques na bola e desta forma repetem os treinos durante toda a
semana.

No dia seguinte após os jogos, todos fazem um trabalho de desintoxicação: 20 minutos


de corrida para quem jogou e trabalhos normais da semana para quem não jogou:
bola e velocidade.

No Bayern de Munique, pelo fato da equipe, na época, estar em três competições, os


trabalhos durante a semana eram feitos em um só período. Quando isto não ocorria,
os treinamentos aconteciam em dois dias da semana e em dois períodos.

Corpo e mente

Uma das coisas interessantes que observei no Bayern, que me marcaram muito, e que
não é feito nos clubes brasileiros, é um exercício de coordenação de corpo e mente,

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com duração de 12 minutos, realizado dentro de uma sala, com toda a privacidade e
que não é mostrado para ninguém, nem mesmo para a imprensa. Todos participam,
inclusive o treinador e o co-treinador.

Envolve postura, alongamentos e fortalecimento para as costas. É um tipo de exercício


com movimentos diferenciados dos alongamentos normais, realizados durante o
aquecimento, que tem como objetivo o fortalecimento dos músculos que serão
exigidos no treino pré-estabelecido na programação do dia, seja ele de resistência,
velocidade ou fundamentos com a bola. É feito em silêncio e todos seguem os
movimentos passados pelo preparador físico.

Esta coordenação do corpo é bem aceita pelo grupo, porque os atletas passam a
conhecer mais sobre si mesmos, pois ficam sabendo exatamente o que está sendo
fortalecido. Em seguida, os atletas vão direto para o campo e começam o
aquecimento, dando voltas ao redor do gramado e repetindo todos os movimentos.

No entanto, por tudo aquilo que é realizado nos treinamentos pelos europeus, de uma
forma geral, posso afirmar que somos a 'Universidade da Bola', o país do futebol, pois
aqui no Brasil trabalhamos todos os aspectos nos atletas para atingir o mesmo
propósito, mas com movimentos diferenciados.

As maiores diferenças que notei, entre a Europa e o Brasil, estão nas atividades fora
de campo. Organização, profissionalismo e planejamento são aspectos marcantes dos
europeus em todos os setores, inclusive nas categorias de base. O relacionamento com
a imprensa e tudo aquilo que diz respeito ao futebol é executado nos moldes
empresariais.

Os europeus preocupam-se com todos os detalhes, desde o estabelecimento de regras


aos torcedores que assistem os treinos do time, o momento adequado e o local correto
para se pedir um autógrafo e, principalmente, o respeito que têm com as pessoas. O
público sempre fica sabendo da programação da equipe e quais os jogadores que
estarão disponíveis para entrevistas.

Esses cuidados eu vi de perto e senti a diferença daquilo que acontece no futebol


brasileiro. Vejo que nos bastidores estamos longe de sermos pentacampeões, fato que
fizemos por merecer nos gramados, mas acredito que temos todas as condições de
revertermos o atual estágio, desde que sejamos humildes em reconhecer que os
clubes europeus têm muito para nos ensinar como se joga fora das quatro linhas.

O longo caminho do aprendizado

O futebol, como produto da motricidade humana, pode ser aprendido e aperfeiçoado

O futebol é uma construção histórica. Não foi criado de repente, por alguma entidade
que reuniu pessoas e combinou estrutura e regras. É fruto da interação do homem

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com o meio. Sendo assim, constitui-se legado cultural passado de geração em
geração, alcançando o posto de maior manifestação de jogo produzida em nossa
cultura.

Após esse preâmbulo, é possível entender os objetivos que o Instituto de Pedagogia e


Educação Esportiva assume como missão, ou seja, apresentar à comunidade
futebolística as principais e inovadoras teorias e metodologias que compõem uma
ofensiva pedagógica mundial em prol do desenvolvimento do esporte em geral, e do
futebol em particular.

Ou seja, o Instituto de Pedagogia e Educação Esportiva tem por função discutir sobre
métodos de ensino aprendizagem, bem como princípios pedagógicos que devem
nortear as condutas dos profissionais envolvidos com todo o processo
pedagógico/educacional do futebol.

Há inúmeros estudos no Brasil e ao redor do mundo que permitem alicerçar nosso


trabalho. Pois, é notório o avanço dos estudos pedagógicos e com eles suas
conseqüências, sendo, dessa forma, impossível encontrar justificativas para a
manutenção da pedagogia Tradicional/Tecnicista, nem mesmo se se quiser valer do
título de pentacampeão ou de maior celeiro de craques do mundo.

O futebol no Brasil tem o grave problema de ser extremamente conservador, e alguns


resultados alcançados encobrem uma série de fracassos e acabam por justificar seu
conservadorismo. Porém, os estudos dizem que quem não acompanha os avanços
tecnológicos ou não observa que o mundo mudou, corre o grande risco de, do dia para
noite, perder todo o seu reinado.

O meio industrial sabe muito bem disso, como exemplo clássico, podemos citar os
relógios suíços que, até pouco tempo atrás, eram hegemônicos (campeões) no mundo,
porém cegos às inovações, não deram valor às pesquisas e invenções realizadas em
seus próprios laboratórios. E foi exatamente um de seus pesquisadores que inventou o
relógio digital, e sendo desprezado em seu país (onde seus relojoeiros nunca
acreditavam que o paradigma do relógio tradicional com suas engrenagens poderia um
dia mudar), acabou vendendo a patente para os japoneses, e o resto é história e lição.

Enfim, o Instituto de Pedagogia e Educação Esportiva quer contribuir na perspectiva de


que o futebol pode ser aprendido e aperfeiçoado, ao passo que entendido como
produto da motricidade humana (e não adestramento motor e técnico). Aprender
futebol deve pressupor ficar mais inteligente de corpo inteiro a cada novo problema
resolvido em ambiente de jogo. Logo, ser jogador passa agora ser entendido como
sujeito/histórico no processo educacional e não apenas marionete/objeto nas mãos de
técnicos, dirigentes, empresários e outros possíveis exploradores.

Portanto, o Instituto de Pedagogia e Educação Esportiva viabilizará o acesso aos mais


inovadores estudos a respeito da pedagogia do esporte (futebol) e,
concomitantemente, abrirá espaço para discussões e reflexões relativas a todo o
processo educacional (dentro e fora dos campos) que envolve a iniciação, a
especialização e o profissionalismo no futebol. Para tanto, estaremos disponibilizando
informações através de texto científicos, crônicas esportivas, sites especializados sobre
o tema e, iniciaremos a construção do maior acervo possível de referências
bibliográficas sobre futebol.

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