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Métodos de Avaliação I

3º Ano 1º Semestre
2021/2022
Métodos Quantitativos e Qualitativos
Avaliação Psicológica
A avaliação psicológica tem como objetivo principal o de aceder ao conhecimento do sujeito
psicológico, sendo que procura realizar aproximações à realidade psicológica do sujeito. Este
acesso ao sujeito psicológico através da aproximação à realidade psicológica tem o intuito de tentar
perceber o que caracteriza o ser psicológico. De uma forma resumida, a avaliação psicológica
centra-se no estudo do caso psicológico ao aceder ao sujeito psicológico e à sua própria realidade
psicológica.

Sujeito Psicológico
Refere-se às características especificas e comuns que o sujeito possui e pelas quais é definido.
É o que torna o sujeito único e diferente de outros. Desta forma, a avaliação psicológica tem
em conta a individualidade e diferença de cada um dos sujeitos.

Uma avaliação psicológica implica, assim, que o examinar:


• Dê sentido;
• Possua um quadro teórico de referência que confira sentido ao que se observa, se expressa
e que se relata;
• Possua um conjunto de estratégias definidas que permitam aprofundar o conhecimento.
Para que seja congruente com a avaliação psicológica, o examinador necessita de possuir uma
coerência e uma convergência entre a teoria e a metodologia. Isto significa que o examinador deve
construir uma metodologia que vá ao encontro não só da teoria que possui acerca de um
determinado quadro, mas também acerca do sujeito psicológico e de toda a sua realidade
psicológica.
Esta metodologia pode de ser de dois tipos: Métodos Quantitativos / Objetivos ou Métodos
Qualitativos / Subjetivos. Estes dois tipos de metodologia foram sempre alvo de tensões numa
tentativa de perceber qual deles seria o melhor para a avaliação psicológica, havendo fundamentos
inscritos na história das ciências, desde as ciências naturais até às sociais, sobre as vantagens e
desvantagens de cada um.

Métodos Quantitativos
Os métodos quantitativos são baseados no positivismo, ou seja, possuem uma lógica sustentada
na procura do estabelecimento de leis gerais que regem os objetos investigados. Estas leis gerais
surgem de critérios comprovados pela experimentação, sendo estes controláveis que utilizam o
método científico e com recurso à matemática.
Os métodos quantitativos, ou métodos objetivos, tem como características:
• Procura a precisão dos resultados;
• Estabelece os factos e as relações de causa-efeito entre eles;
• Centra-se no produto final;
• Decorre de resultados matematicamente trabalhos;
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• Utiliza a observação;
• Usa instrumentos adequados ao objetivo.

Quando se refere instrumentos adequados, está-se a referir a testes mentais que tem a função de
atingir o sujeito psicológico e a realidade psicológica parcial do sujeito – já que esta é sempre uma
realidade complexa e mutável, impossível de se compreender em toda a sua totalidade, havendo
apenas uma aproximação a esta mesma realidade através de testes que podem ser mais ou menos
sensível.
O surgimento dos testes mentais aconteceu com Catell, em 1890, quando este publicou o artigo
“Testes Mentais e as Medições” com o objetivo de medir e comparar reações e aptidões. O
desenvolvimento dos testes mentais foi continuando com Binet & Simon (1905) que utilizaram
testes para medir funções complexas, como a inteligência, com o objetivo de estabelecer
diagnósticos ao nível intelectual.
Assim, os testes mentais são instrumentos que fazem aproximações a variáveis latentes que não
podem ser observados diretamente, com o objetivo de
se chegar a globalizações acerca do funcionamento
normal e geral dos indivíduos de forma a ser possível
Variáveis Latentes
Refere-se ao que não é visível e é
a realização de comparações entre os diversos passível de ser observado
indivíduos. diretamente, mas que podem ser
reveladas indiretamente.

Testes Mentais
“Chama-se teste mental a uma situação experimental padronizada que serve de estímulo a um
comportamento. Este comportamento é avaliado por uma situação de comparação estatística
com outros indivíduos colocados na mesma situação, permitindo assim classificar o sujeito
examinado, quer quantitativo, quer topologicamente” (Pichot, 1954, 1981).
“A construção dos testes psicológicos implica a utilização de métodos estatísticos, assim como
a avaliação dos resultados obtidos por esses instrumentos. Os que aplicam testes e os
analisam os resultados têm, pois, de compreender o significado de conceitos estatístico”
(Anastasi, 1954).

A conceptualização dos testes mentais centrados numa logica fundada na matemática e na


estatística tem como objetivo atingir as constelações de sinais que revelam a especificidade do
sujeito, ou seja, procuram o padrão psicométrico (Delay e co., 1966). Esta especificidade é
encontrada pelo método da positividade do sinal que é revelado pelo instrumento numa situação
padronizada entre os sujeitos.

Padrão Psicométrico
Elementos que se destacam quando em comparação com outros indivíduos e que demonstra
a especificidade de um determinado sujeito. Desta forma, é fácil de perceber que a
especificidade de um sujeito provém da sua comparação com outros.

• Nesta comparação com os outros, é necessário que haja uma neutralidade por parte do
examinador, tanto no processo de comparação como na generalização.
• De forma a atingir essa neutralidade, o sujeito é o resultado de um conjunto de dados
quantificados e objetivos tornando o sujeito num objeto objetivado.
• A neutralidade do observador também é essencial para que haja rigor científico.
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Objeto Objetivado
O sujeito é reduzido à estatística e à matemática, algo que permite a neutralidade e a
generalização.

Métodos Qualitativos
Os métodos qualitativos, ou também designados por métodos subjetivos, surgiram após os
métodos quantitativos ao se perceber que estes possuíam muitos fatores que não levavam em
conta: O sujeito humano é um objeto complexo, ou hipercomplexo, levando a que algumas
características não consigam ser estudadas através de métodos objetivos; Ao nascer, o ser
humano, é altamente imaturo necessitando do meio social para se desenvolver. Este meio social
vai levar a que haja variáveis desconhecidas que influenciem os comportamentos passiveis de
serem estudados.
Devido aos fatores anunciados em cima serem particularidades mutáveis e interrelacionadas, existe
um questionamento acerca das generalizações universais presentes nos métodos objetivos
levando a um entendimento positivista das relações sujeito-objeto. Existem também interferências
mútuas entre o observador e o observado abrindo-se o espaço da subjetividade/intersubjetividade,
da interpretação/compreensão e do processo (como é que esse comportamento é realizado e o
porquê de o ser).
Todas estas questões que os métodos quantitativos não levaram em conta, abriram espaço e
necessidade para métodos com base na qualificação e na subjetividade – os tais métodos
qualitativos.

Assim, com os métodos tanto quantitativos como qualitativos, passou-se de uma identificação dos
fenómenos que levava à interpretação dos seus significados e de uma descrição dos fenómenos
para a atribuição de sentidos. Esta atribuição de sentidos (dar sentido a um sentimento, a um
pensamento, …) é a principal tarefa de um psicólogo já que esta é fundada na e pela interpretação,
estando baseado numa teoria rigorosa e coerente com a metodologia utilizada que permite a
compreensão do fenómeno, indo, assim, para além da sua explicação.

Identificação dos Interpretação dos


Fenómenos Significados

Descrição dos Atribuição de


Fenómenos Sentidos

Métodos Mistos
Os métodos mistos referem-se a metodologias onde se usam tanto métodos quantitativos como
qualitativos. Esta utilização mista leva a que diferentes vantagens de cada método se juntam num

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só, aumentando a eficácia da metodologia na análise e compreensão de um determinado
fenómeno:
• Possibilidade de conter a subjetividade (provinda de métodos quantitativos);
• Aproxima o observador do observado (provinda de métodos qualitativos);
• Melhor compreensão dos agentes envolvidos nos fenómenos provinda de métodos
qualitativos);
• Identificação de algumas variáveis determinantes (provinda de métodos quantitativos);
• Complementaridade entre as relações de causa e efeito e produtos finais e uma visão da
natureza dinâmica da realidade que tem em conta os processos (provinda de ambos os
métodos);
• Compreensão holística dos fenómenos (provinda da utilização de ambas as metodologias).

O facto de o objeto de estudo de avaliação ser complexo (por ser não ser constante e depender de
diferentes variáveis), leva a que se tenha que se ter em contas diversas variáveis que interatuam
de forma complexa (e não aditiva) como é o caso das variáveis (psíquicas e físicas) do sujeito que
é objeto de avaliação; das variáveis do psicólogo (tanto psíquicas como físicas) e das variáveis que
decorrem da situação de avaliação.
É importante, também, ter em conta a comunicação verbal (semântica) como é o caso dos
sinais e mensagens que expressam através da prosódia, dos silêncios, dos gestos, das expressões
faciais, do olhar, entre outros que auxiliam na compreensão da realidade psíquica do individuo. As
expectativas de ambos os intervenientes, sobretudo do sujeito, também vai facilitará ou dificultará
a situação de avaliação.
Assim, o processo de avaliação implica que a avaliação se insira no campo das lógicas da
complexidade (sistemas complexos). Desta forma, a lógica do processo de avaliação deve ser
realizada numa ligação e integração entre o explicito e o implícito, entre o dizível e o indizível e
entre o visível e o oculto. Para isso são utilizados meios (ou instrumentos) para facilitar a
expressão e a revelação e que são auxiliares de observação e de compreensão. Estes instrumentos
têm como objetivo fazer aproximações à complexidade individual e singular de cada individuo.

Intervenção de Aproximações à
Complexidade Utilização de
Diversas Complexidade
do Sujeito Instrumentos
Variáveis do Sujeito

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A Entrevista
Um dos instrumentos utilizados de forma que o psicólogo consiga fazer aproximações o mais reais
possíveis à realidade psíquica complexa do sujeito é a entrevista.

Características da Entrevista
• Método Qualitativo
• Técnica de recolha de informação (semelhante aos testes mentais)
• Técnica estandizarda que tem subjacente o resultado da estatística, a
comparação entre grupos e a generalização de resultados (dos testes
mentais).

A entrevista consiste numa conversa entre duas pessoas, ou mais, e tem o objetivo e o proposto
de realizar avaliação e intervenção psicológica, havendo uma relação assimétrica entre psicólogo
e individuo. Esta relação é caracterizada pela confidencialidade – o que é dito durante a entrevista
não pode, nem deve, ser divulgado e partilhado com terceiros, de forma absoluta. Esta
confidencialidade garante que o sujeito possui a confiança, o à-vontade e a liberdade para se
revelar, mostrar-se e conversar. Juntamente à confidencialidade, é necessário que haja uma
relação livre de julgamento.
Estas características descritas anteriormente é o que difere a entrevista psicológica de
uma conversa e o que permite que o individuo mostre a sua realidade psicológica.
Os temas da entrevista são decididos pelo individuo, sendo um processo comunicacional e
relacional que tem o objetivo de chegar a conclusões que permitam que haja uma intervenção
psicológica eficaz e que vá ao encontro nas necessidades do individuo.
Esta possui um trabalho de reflexão que pode ser única – por parte do individuo sobre os assuntos
que traz através de novas perspetivas, novos pensamentos que surgem com a intervenção
psicológica, etc – ou mútua – que envolve não só a reflexão por parte do sujeito, mas também do
terapeuta através de interações que acontecem junto do individuo que faz com que este reflita
sobre algum assunto ou sobre a maneira como irá prosseguir com a intervenção.

Única
Entrevista Trabalho de
Clínica Reflexão
Mútua

A entrevista clínica é um processo complexo já que necessita da utilização de diversas técnicas,


de uma escuta ativa, compreensiva e empática por parte do terapeuta para que consiga atingir a
realidade do individuo.

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Técnicas de Entrevistas
Existem diversos critérios que classificam as entrevistas. O contexto é o fator que determinará a
classificação das entrevistas já que, perante o contexto que é apresentado ao terapeuta, este irá
determinar qual o melhor meio de entrevista a utilizar. A profundidade também é outro fator que
difere de contexto para contexto – por exemplo, num contexto de psicologia clínica é necessário
que a entrevista seja profunda de forma que se consiga aceder à realidade psíquica do individuo,
enquanto num contexto de psicológica organizacional onde o objetivo é o de recrutamento, é
apenas necessário que se perceba se determinado individuo se adequa às necessidades da
empresa.

Estrutura da Estrutura da Entrevista


Entrevista
• Não Estruturada
Critérios de Direção e ➢ Interação vai determinar a ordem das perguntas;
Classificação Condução ➢ Desenvolvimento em linhas gerais.
➢ Exemplo – Contexto clínico
Fases da • Estruturada
Entrevista ➢ Perguntas pré-estabelecidas;
➢ Formato pré-definido, existência de um guião;
➢ Organização de perguntas pré-estabelecidas.
➢ Permitem que haja um método quantitativo ao comparar resultados.
➢ Exemplo – contexto organizacional.
• Semiestruturada
➢ Perguntas com algum tipo de orientação;
➢ Guião em áreas especificas, ou seja, existe uma estruturação em determinadas
alturas da entrevista.

Direção e Condução
• Diretivas
➢ Psicólogo é ativo ao formular perguntas;
➢ A formulação de perguntas por parte do psicólogo é frequente;
➢ Tem o objetivo de obter informação para que se consiga formular uma hipótese.
• Não Diretivas
➢ Criação de um clima que favorece a entrada em contacto com as experiências
emocionais, procurando a reflexão e elaboração de pensamento;
➢ Existência de um clima relacional de forma que o sujeito expresse profundamente as
suas experiências, pensamentos e emoções;
➢ Incentiva a que o sujeito reflita sobre os assuntos.

Fases da Entrevista
• Fase Inicial
➢ Estabelecimento de um clima sereno e confiável;
➢ Facilitador de expressão;

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• Fase Intermédia
➢ Obtenção de informação relevante (em função do objetivo que depende do contexto
em que o terapeuta se encontra);
➢ Importância do saber escutar (para além de perguntar);
➢ Fase que ocupa a maior parte do tempo da consulta.
• Fase Final
➢ Visão geral do entendimento do que se falou;
➢ Importância da despedida;
➢ Entendimento se o objetivo foi atingido ou não.

Nota – É importante que o psicólogo seja quem tenha o controlo da entrevista de forma a
promover a direccionalidade da mesma. Deste controlo é de onde provém a relação
assimétrica existente entre terapeuta-paciente.

Em suma, a entrevista clínica é um instrumento que é utilizada pela avaliação psicológica. Esta
técnica pode ser a única que é utilizada de forma a chegar à realidade psíquica do individuo, como
pode ser utilizado outras técnicas de forma a auxiliar o aprofundamento do conhecimento psíquico
individual e complexo.
Este conhecimento aprofundado da realidade psíquica leva a que o psicólogo formule uma
hipótese que, por vezes, apenas consegue ser confirmada pela utilização de outras técnicas de
avaliação. Uma dessas técnicas, e que vai ser aprofundado de seguida, é o Teste de Rorschach.

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Teste de Rorschach
O teste de Rorschach é um teste que faz parte de um grupo diversificado de testes, designado de
Técnicas Projetivas. As técnicas projetivas podem ser de duas categorias diferentes: Técnicas de
Manchas – onde o principal é o teste de Rorschach – e as Técnicas Temáticas – onde o principal
teste é o TAT. Estas duas categorias possuem testes protagonistas que foram os primeiros a serem
desenvolvidos e que são os mais importantes sendo as bases para o desenvolvimento de outros
testes nas suas categorias.

Técnicas de Teste de
Técnicas Mancha Rorschach
Projetivas Técnicas
TAT
Temáticas

História do Teste de Rorschach


Rorschach foi um psiquiatra que trabalhou num hospital psiquiátrico e desenvolveu esta técnica
devido à sua indecisão entre duas áreas de conhecimento: a arte e a medicina, sendo que foi para
medicina por influência do tio. Como psiquiatra nunca conseguiu esquecer o seu interesse pela arte
– para além de gostar de a apreciar, adorava observar as reações das pessoas às diferentes peças.
Com esse interesse começa a mostrar diversos borrões de tinta, tanto aos pacientes do hospital
psiquiátrico onde trabalhava como pessoas do exterior, aplicando e analisando centenas de
borrões. Com a sua análise, vai reduzindo o número dos cartões até chegar a 10.
Esta técnica é, de seguida, exposta e explicada no seu único publicado “Psicadiagnóstico” (1921).
Contudo, a sua morte prematura sem o estabelecimento claro dos aspetos teóricos e interpretação
do método de Rorschach leva a que haja uma proliferação de escolas e de sistemas numa tentativa
de aprofundar a base teórica, os métodos e a interpretação da técnica desenvolvida por Rorschach.
Algumas destas escolas têm vindo a sobrepor-se a outras, levando a que haja a instalação de dois
blocos predominantes de base teórica e de interpretação do teste de Rorschach: a perspetiva
psicométrica – que constitui um sistema integrativo de Exner - e a perspetiva centrada na
dinâmica do funcionamento mental – que constitui uma perspetiva psicanalítica.

Perspetiva Psicométrica Perspetiva Psicodinâmica


• Inscreve-se numa dimensão ateorica, ou • Nesta perspetiva, a perceção é vista como
seja, não possui qualquer base teórica interpretação, ou seja, existe uma
como base e sustenta-se nos racionais de aperceção que leva à ligação entre a
teste e medida; perceção e a interpretação, enquanto
• Radica-se no positivismo: mecanismos organizadores do processo-
➢ Dá um valor central à perceção do resposta Rorschach;
sujeito empírico, ou seja, o foco desta • É a encontrada no livro de Rorschach e
perspetiva é que a base das defende que o sujeito não apenas integra a
interpretações do teste são as imagem pela sua perceção e pela descrição
interpretações do sujeito; das imagens, tendo em conta que o sujeito

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➢ Acredita na transparência e objetividade perceciona e interpreta a imagem levando a
das suas perceções, como se o uma aperceção;
individuo não fosse influenciado pelo
meio e/ou pelo próprio psicólogo; Nota – Perceção e interpretação = Aperceção.
➢ Defende a absoluta dominância da
consciência, ou seja, não existe • Defende que a interpretação e a perceção
variáveis que influenciam as diversas estão na base do teste de Rorschach –
interpretações, sendo que os sujeitos sendo que uma delas pode prevalecer
estão equiparados pela sua própria perante a outra, mas nunca pode haver a
consciência. anulação de uma delas.
• Tem como projeto a elaboração de uma
psicologia científica através da utilização da
psicometria e pela crença total no princípio
da objetividade;
• A perspetiva psicométrica possui um
alcance muito restrito, sendo que é
essencial para algum tipo de investigação e
não para a intervenção, já que é necessário
um mínimo de 15 interpretações para que
possa haver uma análise psicométrica.

Dentro da perspetiva psicodinâmica – que é a de mais interesse e importante – foram diversos os


autores que, ao longo do tempo, tentaram definir de uma forma mais eficaz o que acontece no
processo do teste de Rorschach.
De acordo com Lagacha (1943/1977), a situação Rorschach convida a uma “rêverie
imageante” (um espaço de sonho e de imaginação).
Por outro lado, para Rausch de Traubenberg (1983) a situação Rorschach é um espaço de
interações entre o percetivo e a atividade fantasmática: “A hipótese aqui proposta é a de que o
Rorschach é um espaço de interações entre a atividade percetiva e a atividade fantasmática, entre
a realidade externa do objeto conhecido e a realidade interna do objeto vivenciado” (Traubenberg,
1983). Isto é apenas possível devido ao que decorre da situação Rorschach:
• Características do estímulo (material);
• Instrução;
• Dinâmica relacional existente entre o psicólogo e o sujeito.

Material do teste de Rorschach


O Rorschach é composto por 10 cartões sobre os quais estão impressas manchas de tinta. Estas
manchas de tinta podem ser de três tipos:
1. Manchas Ambíguas – Suscetíveis de levarem à infinitude de significados;
2. Manchas que têm que uma estrutura que está ordenada por uma simetria, mais ou
menos explicita ou implícita – Manchas compactas, fechadas, coesas, suscetíveis de
evocarem um corpo vivido e sentido, com manchas bilaterais, (entre)abertas, suscetíveis de
evocarem as dinâmicas relacionais consigo próprio e com os outros;
3. Manchas com Qualidades Cromáticas – Suscetíveis de causarem “experiencias estéticas”
ao comoverem os objetos internos desencadeando experiências emocionais.

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Desta forma, existem 7 manchas em tons de cinza (que
remetem mais para questões relacionadas com a
depressão), 3 manchas bicolores (cinza e vermelho, sendo
que o vermelho remete para uma dimensão afetiva) e 3
manchas com cores pasteis (que remetem para a
sensibilidade e a ternura) – embora sejam ambíguos,
existem estímulos diretos que dão valores simbólicos a
cada mancha, ou seja, existem estímulos que iniciam
processos internos referentes a imagens de corpo e que
permitem a perceção e a interpretação.
A interpretação destas manchas pelo individuo dará ao
psicólogo, tendo este por base o protocolo de Rorschach,
a possibilidade de aceder, mais profundamente, a aspetos
e informações que, durante a entrevista, não foram
passiveis de serem abordadas com a mesma
profundidade. Estas informações podem ser, então, as
emoções predominantes no individuo (exemplo – se numa
mancha o individuo disser que vê dois elefantes a lutarem
e que está cheio de sangue, percebe-se que as emoções
predominantes não são as mais positivas), a relação do
individuo consigo próprio e com os outros ou a organização
e dinâmica interna.

Instruções do teste de Rorschach


“Diga-me o que estes cartões lhe fazem pensar, o que se pode imaginar a partir deles”

Existe, com a presença desta instrução, uma dupla mobilização – mobiliza-se a imaginação e a
expressão do que pertence ao sujeito, à sua realidade interna, relativamente à sua perceção das
manchas dos cartões, isto é, à sua realidade externa. Assim, o sujeito, ao dar uma resposta
Rorschach e ao atribuir um sentido às manchas, como resultado desta dupla mobilização, está a
falar sobre si e de si.

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Dinâmica Relacional
É importante entender que, a situação Rorschach é uma situação de interação dado que o contexto,
que é constituído por dois intervenientes, leva à criação de uma intersubjetividade – ou seja, a
situação Rorschach vai depender da relação que
é estabelecida entre o psicólogo e o paciente. Isto
também é refletido na necessidade das Intersubjetividade
A interação entre o analista e o paciente
instruções e da situação Rorschach ser adaptado
leva à modificação dos participantes desta
às características obtidas do sujeito durante a
interação, sendo que depende do que
fase da entrevista é importantíssimo para que a ocorre ou efetiva entre dois sujeitos.
aplicação seja o mais fiel e eficiente do teste. Relativo ao que se pode estabelecer ou ser
Como esta adaptação depende diretamente da
estabelecido entre dois ou mais sujeitos.
intersubjetividade criada entre os dois
intervenientes, o que significa que nunca vai ser igual para qualquer outro paciente, leva a que não
seja possível a comparação dos testes de Rorschach devido às diversas variáveis que influenciam
a intersubjetividade e a aplicação do teste.
Para alem do mais, o material apresentado é ambíguo e a instrução convida à oscilação entre o
imaginário e a realidade, entre os processos inconscientes e conscientes levando a que haja a
revelação da capacidade do sujeito em estabelecer ligações e relações entre as diferentes “partes”
de si e entre si e a realidade (constituído pelo outro). Assim, devido a esta ambiguidade existe a
inclusão das diversas partes que constituem o individuo para que este possa identificar e interpretar
os diversos estímulos apresentados, contudo estas “partes” que constituem um individuo e que são
necessárias mobilizar para que este consiga realizar o teste, nunca são iguais a outro individuo,
levando, novamente, à impossibilidade de haver comparação entre indivíduos.

Intersubjetividade
Dinâmica
Teste de Rorschach
Relacional
Ambíguidade

Em suma, devido à existência de uma dinâmica relacional na situação de Rorschach devido à


intersubjetividade e à ambiguidade, as diferentes situações são impassíveis de replicação e de
comparação sendo que é necessário a adaptação do protocolo de Rorschach aos diferentes
indivíduos.

Interpretação do Teste de Rorschach


A interpretação do teste Rorschach tem por base uma simples premissa:
A forma como o individuo funciona no teste revela o funcionamento mental e o
funcionamento mental é revelado durante o funcionamento do teste.
Sendo que a passagem da forma do funcionamento do teste para o funcionamento mental acontece
através da teoria psicanalítica e uma leitura psicodinâmica, ou seja, com a intervenção de

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diversas áreas da psicologia que auxiliam no entendimento profundo e mais subjetivo do
funcionamento mental, da realidade psicológica do individuo.
Como nenhuma situação Rorschach é igual devido aos fatores que se viu anteriormente
(intersubjetividade, ambiguidade e uma relação dinâmica entre psicólogo e paciente) é necessário
que haja rigor e eficácia na realização de todo o processo e fases do teste de Rorschach de forma
que a análise do modo de apreensão, dos determinantes e dos conteúdos seja realizada de
forma eficaz de forma a distinguir determinado individuo de todos os outros.
Este rigor e eficácia apenas são possíveis de serem alcançados através da compreensão
completa da resposta do sujeito a todos os estímulos presentes na situação Rorschach sendo que
estes são os referidos anteriormente – o modo de apreensão, os determinantes e os conteúdos –
sendo que cada um deles distinguem cada um dos sujeitos e possui fatores de cotação através de
um valor interpretativo.

Modo de
Apreensão

Individualização do
Teste de Rorschach Individuo através Determinantes
da Interpretação

Conteúdos

Modo de Apreensão Determinantes Conteúdos


Estratégia percetiva que o Porquê é que o individuo vê o O quê que o sujeito vê nas
individuo utiliza ao abordar a que ê em determinada diferentes manchas sendo que
mancha através da localização mancha, como é que o este conteúdo pode ser
– como os localiza – e os individuo vê o que vê em qualquer coisa (contudo, as
estímulos que remeteram para determinada mancha – respostas mais comuns são os
aquela interpretação durante a balanceamento entre a animais, humanos e vísceras).
interpretação da mancha. projeção e a perceção;
Perceber como é que cada
estímulo leva à perceção de
determinado conteúdo.

Análise do Protocolo do Rorschach

Escuta Atenta das


Respostas e Análise do
Leitura Inicial Análise do Psicograma Discussão Integrativa
Processo de
Construção

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Para que possa haver uma análise do protocolo Rorschach é necessário que, num primeiro passo,
haja uma leitura inicial do protocolo que permite revelar a impressão do conjunto que abre hipóteses
referentes à multidimensionalidade dos fatores e às significações diversas juntamente com a
captação do clima emocional e afetiva que está subjacente às diferentes respostas e imagens
dadas aos diversos cartões.
A apresentação destes cartões leva a que haja uma ativação de uma experiência emocional do
individuo, sendo que, posteriormente, esta experiência emocional é transformada numa imagem.
Este clima que é possível criar com a situação Rorschach dá a capacidade ao psicólogo perceber
se existe uma capacidade de transformação, de interpretação de estímulos que são dados pelas
imagens – sendo que esta transformação e esta interpretação por parte do individuo dá acesso à
realidade psicológica do individuo.
Assim, a cotação que é feita depois da realização da situação Rorschach pelo individuo não
dá um significado linear a um determinado elemento da resposta do individuo – esta cotação pode
dar apenas conta de uma determinada característica, mas não é e nem deve ser algo linear sendo
que deve ser comparado com um valor normativo e com os outros valores de cotação.
Posteriormente, é realizado uma análise das respostas do individuo. Nesta fase é importante que
haja uma escuta ativa por parte do psicológica de forma a entender, em todas as áreas, as
respostas dadas pelo individuo através do processo de construção de imagens, do processo de
resposta dentro e entre cada cartão e elaboração da imagem (inter e intra cartões) – Desta forma,
é entre a interceção entre todos estes processos que se tem acesso ao interdito (ou seja, do que
o sujeito não se permite dizer porque não sabe que sabe).
Durante as respostas do individuo que possui a sua construção de imagens e do processo
de resposta dentro e entre cada cartão leva a que haja a utilização e a respetiva observação da
perceção e da projeção e da respetiva dinâmica entre estes dois – observada pela dominância de
uma pela outra, ou até mesmo o equilibiro entre ambas embora seja mais difícil. Adicionalmente,
permite observar as potencialidades emergentes do individuo que podem vir ou não a revelar-se
no futuro, bem como o passado relacional (as relações e as suas dinâmicas que estão interiorizadas
dentro do individuo). Por fim, mostra a forma como o eu consciente se encontra organizado.
É entre a interceção destes processos que se tem acesso ao interdito
Desta forma, de forma resumida, a escuta atenta das respostas e a análise do seu processo de
construção no cartão e entre cartões (intra-dito e o inter-dito) permite:
• Revelar o percurso que sustem o trabalho de ligação, transformação e recriação entre o
interno e o externo;
• Revelar a organização relativa ao mundo interno (presente) num processo interrelacional de
aproximação, também relativa, com o espaço-tempo que estruturaram a natureza e a
qualidade das ligações (passado), permitindo, ao mesmo tempo, vislumbrar as
potencialidades que poderão emergir (futuro);
• Revelar, através da cotação, o reencontro entre a externalidade objetiva do código apoiado
pela estatística e pela experiência subjetiva do psicólogo;
➢ Entre o fechamento e a rigidez que impede a abertura à experiência até ao
escancarado e à desorganização que ameaça a queda no caos, à abertura a graus
diversos de entreaberto.
Esta cotação possui regras que permite a realização de um psicograma sendo que este permite
se funda em critérios estatísticos e de populações que permitem que haja a comparação entre
valores normativos e do individuo. A realização deste psicograma dá a possibilidade de ir ao
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encontro de algo mais subjetivo, ou seja, dá a possibilidade de ir ao encontro de uma externalidade,
de uma linearidade com a interpretação subjetiva.
O psicograma permite que haja a comparação, assim, dos valores normativos, ou seja,
valores que provêm de populações referência, com os traços salientes, ou seja, com tudo o que
se afasta da norma e que demonstra a individualidade e a singularidade do sujeito.
Esta análise do psicograma que envolve os valores normativos e os traços salientes
permite um processo de balanceamento ao mesmo tempo que organiza os dados reunidos durante
a situação Rorschach.

Permite revelar a predominância


de certos fatores (traços salientes),
Análise do Psicograma cuja articulação permite revelar
uma determinada configuração
estrutural ("atrator")

Psicograma
Permite a reorganização dos dados quantitativos da cotação, sendo que o objetivo posterior é
o de comparar estes dados com os dados normativos. Dá acesso à informação acerca dos
traços salientes, ou seja, as características que distinguem o individuo dos outros.

Por fim, existe uma discussão integrativa que permite revelar as complexas inter-relações entre a
emoção (experiência emocional) e o pensar (o trabalho do pensamento – sendo que o trabalho do
pensar é o mais relevante e consiste, então, na capacidade de transformar as emoções, os
sentimentos, os comportamentos, etc. em pensamentos que revelam a sua relação interna consigo
mesmo e com os outros. Resumidamente, consiste no funcionamento mental do sujeito). Existe,
então, a discussão das ligações e das inter-relações complexos do individuo.
Assim, a discussão integrativa permite revelar o funcionamento mental do sujeito e do
desenvolvimento do eu consciente – o eu consciente de mim (como é que vivo em relação comigo,
em relação com os outros, como me organizo perante os outros, diferenciando ou indiferenciando
com os outros e o mundo exterior) e como o individuo se relaciona e se organiza conscientemente.

Cotação do Teste Rorschach


O teste Rorschach aplica-se em contexto clínico com o objetivo de tentar realizar uma aproximação
ao funcionamento mental do sujeito sendo que procura regular o ser psicológico indo ao encontro
de entender como o sujeito se relaciona consigo e com os outros. Assim, para que a situação
Rorschach seja aplicada, é necessário que o individuo se encontre, sensivelmente, à frente do
clínico, ao lado esquerdo ou direito com o objetivo de facilitar a toma de nota pelo psicólogo do que
o sujeito diz e da forma como se comporta ao longo da aplicação do teste Rorschach.
Adicionalmente, é necessário que exista um cronómetro de forma que haja a medição do tempo de
latência e do tempo da resposta e que os cartões estejam posicionados da ordem especifica,
direitos e para baixo – sendo que a ordem é obrigatória.

15
O cronómetro é acionado assim que o primeiro cartão é entregue e, assim que o sujeito dá
uma imagem que é suscetível de ser cotada, o tempo da resposta é cotado. Esta situação ocorre
em todos os cartões.
• Tempo de Latência – Tempo que decorrente entre a entrega do cartão até uma
resposta suscetível de cotação;
• Tempo de Cartão – Tempo decorrente entre a entrega do cartão ao sujeito e a
entrega desse cartão ao clínico.
É importante saber que, até à entrega do segundo cartão, o clínico pode realizar pequenas
intervenções de forma a tentar dar a entender ao sujeito que o este não é algo tão linear e direto
como pode dar a entender. A partir da entrega do segundo cartão, o clínico já não pode fazer
qualquer tipo de intervenção. No final da situação Rorschach, dá-se a entrega dos 10 cartões de
Rorschach ao paciente e pede-se para que este escolha os cartões favoritos e justificar essa
mesma escolha – sendo que esta justificação deve atingir as dimensões emocionais e afetivas
possíveis.

Inquérito
Tem como objetivo levar o clínico a compreender e a aceder ao processo de resposta de
Rorschach. Isto significa, compreender como é que o sujeito criou a resposta para cada cartão
Rorschach. O inquérito, assim, remete para a cotação dos determinantes.
• Estes processos nunca são iguais para indivíduos diferentes;
• Este processo realiza-se ao mostrar os cartões ao paciente e ao perguntar o porquê de este
ter visto a imagem que viu (“Neste cartão disse-me que tinha observado um morcego. Pode-
me explicar como e onde é que o viu?”);
• Se o paciente, durante este processo, deixar cair uma imagem (“Eu disse que era a minha
madrinha? Não, eu vejo é a minha avó!”), deixamos cair essa primeira imagem e substitui-
se pela nova – assim, a resposta posterior do paciente irá dar-nos a entender o como é que
essa mudança ocorreu;
• Inquérito de Limites – Se o sujeito der uma resposta especifica, como por exemplo ver
apenas dois elefantes, pode-se perguntar se, nos limites do cartão, não consegue ver mais
informação (se as manchas vermelhas podem formar uma imagem);
• No cartão 3 e 5, as respostas normativas são o der ver duas pessoas ou uma borboleta ou
morcego. Quando o sujeito não nos dá uma dessas respostas nesses cartões, deve-se
perguntar se, nesses cartões, não se pode ver uma dessas figuras;
➢ Isto é um passo importante, já que estes cartões estão ligados com as relações
sociais e a ligação do próprio sujeito com os outros a nível social;

Ao fim da complementação destas fases, tem-se um protocolo Rorschach que consiste na


passagem e na completação de todas as fases do teste de Rorschach.

Nota Em crianças de 4 anos, o inquérito não se faz no final da análise de todos os cartões,
mas sim ao fim de cada um dos cartões. Isto acontece porque as crianças desta idade
não aguentam a passagem por uma segunda vez dos cartões.

Após a realização do protocolo Rorschach, deve passar-se à fase da realização da cotação do


protocolo. Esta cotação está dividida em três tipos de cotação: os modos de apreensão, os
determinantes e os conteúdos.
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Modos de Apreensão
Refere-se à estratégia percetiva que o sujeito utiliza ao abordar a mancha. Esta revela-se na
localização, do “onde” – se é em toda a dimensão do cartão, no canto, no meio, etc. Esta forma
de abordar a mancha dá acesso à forma como o individuo se situa na realidade.
• Resposta Global – Resposta que compreende a totalidade da mancha;
➢ G Primários
▪ G Simples (G) – Abordagem direta e imediata da mancha, destaca a forma do
fundo e destaca a figura; Exemplo – “É uma borboleta”;
• Quando é uma resposta normal na população e que é comum, designa-
se por banalidade – quando isto acontece o individuo encontra a
relacionar-se com o meio e bem inserido na realidade;
• Relaciona-se com a identidade do próprio sujeito, principalmente com a
sua imagem corporal; Exemplo – “É uma borboleta desfragmentada”);
▪ G Barrados (G/) – Quando o sujeito do todo, tira uma parte da mancha;
Exemplo – “É uma borboleta, mas estas manchas de lado não fazem parte da
borboleta”;
• Estas partes possuem para o sujeito uma dimensao sexual ou
agressiva;
▪ Sincréticos – Relacionados com dificuldades relacionais e de diferenciação e
que são necessárias para o bom funcionamento psiquico. É caracterizado por
haver um esmagamento da projeção sobre a perceção. Podem ser de
diferentes formas:
• Confabulados – Generalização abusiva a partir de um detalhe da
mancha (DG) ou uma generalização abusiva a partir de um pequeno
detalhe da mancha (DdG). Pode ainda ser uma generalização abusiva
a partir de um detalhe que inclui o branco (DblG);
• Contaminados – Quando há proposição de imagens, fusões de
realidades distintas, sendo que o resultado final é uma confusão
absoluta; Exemplo – “Uma aranha na barriga da mosca” (D/G, Dd/G,
Dbl/G);
• Informulados – Enuncia os diferentes elementos do todo, mas não
anuncia o todo. Assim, é como se o todo fosse constituído por partes
que se colam, o que denuncia uma fragilidade muito grande ao nível da
identidade; Exemplo – “Há aqui umas asas e um corpo” sendo que era
suposto ser uma borboleta (D(G), Dd(G));
▪ Imprecisos – Respostas onde as formas associadas pelo sujeito não são
precisas;
• Vagos – Imagens imprecisas, mas com sensibilidade à mancha onde o
sujeito introduz o vago para não ver coisas significativas e para não ter
que se revelar, ou seja, este tipo de respostas aparece associado ao
recalcamento ((F±)G);
• Impressionistas – Imagens imprecisas, mas com sensibilidade às
cores, ou seja, o sujeito deixa impressionar-se pela cor ((C)G, (C’)G,
(E)G)
➢ G Secundários – Estas respostas são o resultado de uma articulação e combinação
dos diversos elementos da mancha até que o sujeito tem em conta a totalidade da
mesma através de um processo de elaboração. Assim dá conta de um pensamento

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rico, ricamente elaborado levando a que, quando associado a boas imagens, dá conta
a uma das maiores articulações mentais;
▪ DG – Se parte de um detalhe;
▪ DdG – Se parte de um detalhe raro;
▪ DblG – Se parte de um detalhe onde o branco se sobrepõe à mancha;
▪ DoG – Se parte de um detalhe oligofrénico;
▪ G bl
• Respostas de Detalhe (D) – Relacionados com os detalhes da imagem e relacionam-se
com a frequência na população (exemplo – “Em cima nas duas manchas, vejo um homem”).
Assim, a análise do individuo vai para parte da mancha, não a sua totalidade;
➢ D – Detalhes da imagem que são normalmente interpretados na população;
▪ Existe uma investigação da mancha por parte do sujeito, levando a querer que
o sujeito tem uma atitude de explorar a própria realidade, tanto que esta seja
exterior ou interior → Assim, os D possuem uma relação estreita com a
socialização, com a vontade de conhecer a realidade e os seus objetos;
▪ Pode ser (Dbl)D, (Dd)D ou D bl.
➢ Dd – Detalhes da imagem que são raramente interpretados na população;
▪ Existe uma exploração ainda mais ao pormenor da mancha, sendo que isto
leva, então, à vontade do sujeito de pensar exaustivamente e detalhadamente
sobre a realidade e os seus objetos – sendo que isto acontece quando os
detalhes acontecem no final da resposta;
▪ Quando existe Dd no início da resposta, principalmente em cartões compactos
como o da borboleta, leva a querer que existe um evitamento da imagem;
➢ Dd bl – São raramente interpretados na população e existe uma inclusão do branco;
➢ Dbl – Resposta de detalhe branco, que é frequentemente interpretado e que se
sobrepõem à mancha (exemplo – Quando, no cartão 2, o paciente diz “Parece-me um
foguetão aqui no meio”);
▪ De forma a evitar partes da mancha que o sujeito lida com dimensões ligadas
a algo específico como a sexualidade. Contudo, quando perguntado
diretamente, é capaz de as referir;
▪ Demonstra uma atitude de contradição, com atitudes de oposição com
dinâmicas de confrontação;
▪ Dá acesso a experiências de vazio afetivo do sujeito.
➢ Do – Detalhe oligofrénico que é frequente em indivíduos com deficits cognitivos
profundos, mas também podem ser encontrados em indivíduos com depressão;
▪ Demonstra uma inibição da pessoa;
▪ Este detalhe acontece de uma restrição da mancha e do conteúdo; Exemplo –
Quando no cartão 5 (onde é frequente surgir a imagem de um morcego ou de
uma borboleta) acontece uma Do quando o sujeito diz que, em baixo, vê duas
asas;
• Neste exemplo existe uma restrição percetiva porque é parte da
mancha, mas também de conteúdo porque o normal é ver um animal
inteiro e não parte do animal, neste caso, as asas;
▪ Isto acontece quando vem como primeira resposta do sujeito → Quando isto
acontece depois de uma G, só será uma D;
▪ Normalmente associados a partes humanas ou de animais e que estão no meio
de um todo;
➢ Ddbl – Resposta de detalhe branco que é raramente interpretado e que se sobrepõe
à mancha.

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determinantes
Refere-se ao “como” e ao “porquê” da perceção da imagem numa determinada localização.
Assim, pode haver mais que um e a cotação tem de refletir os vários momentos da resposta.
• Eixo +Percetivo – Refere-se às formas (F), à cor (C) e ao esbatimento (E);
➢ Respostas das Formas (F) – Centradas nas formas e o critério a dar-lhes é
estritamente estatistico, ou seja, pela sua frequencia. Assim, é dada por percentagem
sendo que, quando esta é alta, o individuo encontra-se bem adaptado à realidade;
▪ F+ - Forma adequada e frequentemente dada;
▪ F- - Forma inadequada e raramente dada;
▪ F± - Incapacidade de formar uma forma, não há precisão de forma.
➢ Respostas das Cores (C) – Respostas dadas exclusivamente pela cor e relaciona-
se com a sensibilidade do sujeito à realidade. No protocolo de adulto, espera-se que
haja um maior número de respostas FC > C+CF → Se isto acontecer mostra que o
individuo tem uma maturidade emotiva porque a emoção está inserida numa
racionalidade demonstrada pela forma. Ainda se encontra associada ao afeto e que
consegue mobilizar o afeto;
▪ C – Respostas dadas exclusivamente pela cor branca, preto e cinzento;
• Preto – Relacionado com afetos mais depressivos como é o exemplo
do luto ou da morte;
• Branco – Relacionado com afetos que dão conta da inexistência
(interpretação do branco como cor associada a tema de frio DBL), às
vezes a pureza é de tal forma puta e imaculada que no limite toca no
nada e não é nada, sendo que o branco remete para o vazio;
• Cinzento – Relacionado com afetos depressivos (mais ou menos
negro);
▪ C’ – Respostas dadas exclusivamente pela cor vermelha e pastel;
• Vermelho – Relacionado com pulsões sexuais ou agressivas, as quais
podem surgir em contextos de castração ou separação;
• Pastel – Relacionado com sensibilidade ao meio, tendências ligadas à
ternura, etc.
▪ CF – Determinadas maioritariamente pela cor, mas que incluem uma forma
imprecisa;
▪ FC – Determinadas maioritariamente pela forma, mas que incluem a cor;
➢ Respostas de Esbatimento (E) – É um determinante mais complexo sendo que está
relacionada com a nuance da cor, ao detalhe e à perspicácia;
▪ E – Resposta dada exclusivamente pelo esbatimento;
▪ EF – Resposta dada exclusivamente pelo esbatimento, mas com a presença
de uma forma; Exemplo – “Farrapos de nuvens pela diferença de tonalidades”;
▪ FE – Resposta dada pela forma especifica, mas com presença de esbatimento;
Exemplo – “Cabeça duma mulher desenhada numa nuvem”;
▪ E Textura – Existe uma dimensão tátil associada à imagem;
▪ E Difusão – Como é o caso do nevoeiro;
▪ E Tridimensionais – Existência de uma tridimensionalidade; Exemplo –
“Estrada que vai dar ao infinito”)
• Eixo +Projetivo
➢ Clob – Refere-se a uma sensação de ameaça, perigo ou destruição, ou seja, a
resposta reflete uma sensação sem a presença de nenhuma imagem remetendo para
a angústia livre; Exemplo – “Algo de diabólico, algo de terrível”;
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➢ FClob – Refere-se a uma sensação de ameaça, perigo ou destruição com a presença
de uma imagem especifica, remetendo para a angústia inibida; Exemplo – “O diabo”,
“A bruxa”;
➢ ClobF – Associação de sensações a uma determinada imagem remetendo para a
existência de angústia e uma tentativa de a conter; Exemplo – “É algo horrível, peluda,
nojenta, como uma ratazana”;
➢ K – Atribuição de movimento a uma forma especifica; Exemplo – “Homem a rir”,
“Homem a correr”;
▪ K – Se este conteúdo for humano sendo que estas podem estar em relação ou
não;
• Está associado à representação de si (como o sujeito se representa
perante a realidade) e da relação (como o sujeito se representa perante
as relações que possui);
▪ Kan – Se este conteúdo for animal;
• Está associado, também, à representação de si e da relação;
▪ Kob – Se este conteúdo for um objeto ou um fenómeno da natureza;
• Está associado a dimensões sexuais ou de agressividade;
▪ Kp – Se este conteúdo for partes da figura humana ou se for o corpo humano
inteiro em Dd

Conteúdos
Refere-se ao que é visto pelo sujeito. Assim, as respostas mais frequentes são os A e os H,
sendo que existe uma participação no pensamento coletivo, havendo socialização. A
profundidade desta socialização faz-se com o detalhe, sendo que quando aparece associado
a um grande detalhe existe um grande desejo de estabelecer relações profundas e
conhecedores de outros em profundidade.
• A – Animal inteiro;
• Ad – Parte de um animal;
• (A) – Animal ideal, de lenda, imaginário, mas não histórico;
• (Ad) – Parte de animal ideal;
• H – Humano inteiro;
• Hd – Parte de figura humana inteira;
• (H) – Humano inteiro imaginário, ideal;
• (Hd) – Parte da figura humana ideal ou imaginário;
• Obj – Objetos;
• Nat – Tudo relacionado com a natureza;
• Sg – Relacionado com sangue;
• Anat – Relacionado com anatomia;
• Alim – Tudo relacionado com alimentos;
• Sx – Conteúdo sexual específico;
• Geo – Relacionado com geografia;
• Abs – Relacionado com a abstração;
• Emb – Relacionado com emblemas; Exemplo – “Parece o emblema do sporting”;
• Bio – Tudo relacionado com a biologia;
• Vest – Relacionado com vestuário.

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TAT – Thematic Apperception Test
História do TAT
O TAT (Thematic Apperception Test) foi criado por Henry Murray em 1935 sendo que, à
semelhança do que aconteceu com o teste Rorschach, alcançou uma teoria e um método limitado
devido à morte prematura do autor. Assim, Bellack (1954) centra o TAT numa teoria psicanalítica
ao mesmo tempo que, nos Estados Unidos da América houve contribuições importantes ao nível
do método por parte de Rapaport (1952), Hartmann (1954), Holt (1958), Shafer (1958) e Lagache
(1966).
Mais recentemente, em França, os trabalhos de Shentoub (1954) que foram continuados por
Debray (1970), expõem a técnica de análise e de interpretação do material e os pressupostos
teóricos. Posteriormente, estes trabalhos foram continuados por Brelet, Chabert e Peruchon (entre
outros) sendo que os conhecimentos acerca deste teste foram copilados no livro “Manual de
Utilização do TAT” (1990/1999).
O TAT é uma técnica temática já que envolve a direção para um tema onde cada cartão remete
para uma determinada história e o sujeito tem a tarefa de descrever essa história. Adicionalmente,
é necessário pré-selecionar cartões (dos 16 cartões totais que existem) segundo o género do
paciente já que cada sexo possui um conjunto de cartões diferentes.
Isto é uma característica que o difere do teste de Rorschach já que neste último todos os 10
cartões são apresentados, distribuídos e analisados pelo participante, independentemente do seu
sexo.

Contexto do TAT
O TAT é utilizado em clínica, mais especificamente no contexto de avaliação psicológica sendo que
este contribui para uma investigação aprofundada do funcionamento mental. Como disto
anteriormente, é uma prova temática que apresenta a particularidade de ser figurativo (porque
mobiliza a perceção) e ambíguo (porque necessita da presença da projeção).
Desta forma, de maneira semelhante com o que acontece com Rorschach, o TAT envolve
tanto a perceção como a projeção, sendo que existe sempre a possibilidade de predominar uma
sobre a outra.
Embora o TAT seja uma técnica projetiva, não avalia os mesmos domínios que o teste de
Rorschach. Enquanto o teste de Rorschach é mais sensível aos distúrbios mentais e à própria
estrutura mental, o TAT é mais sensível aos domínios que se relacionam com as dinâmicas
relacionais. Assim, ambos os testes são complementares levando a que haja, com a aplicação de
ambos, um conhecimento aprofundado do funcionamento mental do individuo.
Assim, o TAT é uma prova projetiva porque é figurativa e ambígua mobilizando processos
percetivos/objetivos e projetivos/subjetivos. Esta mobilização de ambos os processos revelam a
capacidade do sujeito em se situar num espaço e tempo intermediário entre o real e o imaginário
(espaço e tempo transicional) e mostra a faculdade do sujeito se deixar ir numa atividade de fantasia
a partir de uma realizada percetiva.

21
As histórias descritas ao longo do TAT é assimilada como fantasia consciente induzida,
sendo que a fantasia sob a forma de história é diferente da fantasia inconsciente e fantasma já que
a primeira se trata de uma fantasia induzida a pedido de outrem (diferente de fantasia espontânea),
a partir de um material relativamente estruturado – existindo, assim, uma oscilação entre a fantasia
e a realidade.
“A fantasia consciente, quer seja induzida ou espontânea, é uma transposição da fantasia
inconsciente” (Shentoub & Col., 1990/1999).

Processo do TAT
O processo do teste de TAT é o conjunto de mecanismos mentais envolvidos na situação TAT e
que compreende três parâmetros:
• Material
➢ As imagens TAT representam situações humanas clássicas ou situações que se
reportam aos conflitos universais. Assim, a análise clássica considera que, para uma
das imagens TAT tem-se que considerar que existe:
▪ Conteúdo Manifesto – Informação que o sujeito retira diretamente da imagem,
sem que haja o envolvimento de mecanismos cognitivos;
▪ Conteúdo Latente – A própria historia que o sujeito conta que tem por base o
seu processo mental
➢ O conteúdo manifesto fixa os limites da fantasia, ao fazer apelo à realidade, enquanto
as solicitações latentes reativam traços mnésicos individuais, relacionados com os
fantasmas primitivos.
• Instrução – “Imagine uma história a partir do cartão”;
➢ Esta instrução leva a que haja uma injunção paradoxal da realidade da imagem /
imaginação e da emoção/pensamento.
• O Próprio Clínico – O clínico deve manter uma conduta que traduza a dualidade do seu
papel que consiste em estar presente de forma recetiva e de mostrar o material, dar a
instrução e transcrever as histórias do sujeito. Assim, permite que haja a existência de
movimentos transferenciais e contratransferenciais.

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Processo de Elaboração da História
A solicitação induzida ao nível
consciente de "contar uma
As solicitações latentes e a história", permite observar o
instrução "imaginar" mobilizam complexo que emerge da
Perceção da Imagem (Conteúdo representações inconscientes
Manifesto) ligação/articulação entre as
(traços mnésicos) e afetos que lhe
representações/afetos
estão ligadas
inconscientes e a imagem
(conteúdo manifesto)

A história TAT revela o trabalho de


ligação entre a emoção e o
pensamento, expressa o trabalho
do pensar

Teste de Rorschach e o Teste TAT


Ambos estes testes mobilizam, de forma ativa e sincrónica, de forma alternada de dominância e/ou
de equilíbrio:
• O inconsciente e o consciente;
• A personalidade psicótica e a personalidade não psicótica;
• O modo de ser homogénio/indivisível e o modo de ser heterogénio/divisor e respetivas lógica
simétrica e lógica assimétrica.
Estes dois testes revelam a interação dialógica destas duplicidades inerentes ao sujeito humano,
que se inscrevem num imenso continuum e que expressam o nível de desenvolvimento da
consciência de si. Assim, as interações dialógicas mobilizadas pelo Rorschach e pelo TAT
expressam e revelam o desenvolvimento do “Eu” (com consciência de si e do outro).
Este é um Eu que mantem uma relação complexa com o corpo (vivido e sentido) levando à
importância de analisar a forma como o sujeito se vive (a representação de si) e do que se sente
(sentimento de si). Para alem disso, é um Eu que, para além de se fundar no “inconsciente
genómico”, se desenvolve na e pela relação dai a importância de se analisar a natureza e a
qualidade das relações (a representação da relação).

23
CAT e PN (Pata Negra)
Existem dois tipos de técnicas – as técnicas de mancha (onde o principal teste
Quadro-Resumo é o de Rorschach) e as técnicas temáticas onde já foi explorado o teste
até agora principal que é o TAT.

O TAT representa uma técnica temática para crianças crescidas (a partir dos
7 anos), jovens e adultos. Este foi a primeira técnica temática a surgir, levando
que houvesse o desenvolvimento de outras diversas técnicas.

Uma dessas técnicas que surgiram a partir da adaptação do TAT, é o CAT que
é, na sua essência, o TAT, mas adaptado a crianças com menos de 7 anos.
Devido à sua constituição de 10 cartões que possuem animais que remetem
para as mesmas problemáticas e figuras que o TAT, este teste é facilitador de
projeção.

À semelhança do que acontece com o TAT, é pedido às crianças que contem


uma história a partir da visualização dos cartões.

O CATH é uma variação do CAT que, em vez dos cartões possuírem figuras
de animais, apresentam figuras humanas. Contudo, este já é raramente
utilizado.

História do CAT
O CAT foi elaborado, inicialmente, por Leopoldo e
Sonya Bellack, em 1950. Este é um teste que é
aplicado a crianças entre os 3 e os 8/10 anos, sendo
constituído por 10 cartões sobre os quais estão
desenhados, a preto e branco, mais ou menos
esbatidos, animais familiares e selvagens cuja espécie
varia ao longo dos cartões. Estas figuras de animais,
através da sua familiaridade à criança, levam a que
sejam facilitadores da projeção. Posteriormente, o CAT
foi objeto de revisões, na década de 80, que inscreveu
este teste na perspetiva psicanalítica e na escola
francesa (devido a Chabert e Anzieu).
Esta inscrição na perspetiva psicanalítica foi
semelhante à que foi desenvolvida pro Shentoub e
Debray no TAT, levando a concentração da análise do
CAT sobre os conteúdos manifestos e latentes – assim,
devido à existência de uma análise baseado nos
conteúdos manifestos e latentes provém a importância
de a criança contar histórias na proximidade dos
suportes figurativos e latentes. Ou seja, é necessário
que a história que a criança se encontra a contar se
centre tanto em conteúdos manifestos, como em
conteúdos latentes.

24
As diferentes figuras que constituem os 10
cartões demonstram diversos problemas e
situações na qual a criança é confrontada
durante o seu dia-a-dia, já que o que é mais
próximo e familiar dela não auxilia tanto à
existência de projeção – existindo, assim, a
necessidade de realizar este teste com
figuras de animais.

À semelhança com o que acontece com o


TAT, através do CAT é possível mobilizar
fenómenos transitivos já que a criança é
convidada a contar uma história a partir dos
cartões.
Estes cartões possuem imagens com
personagens que remetem para diversas
situações capazes de:
• Mobilizar modalidades diversas de
relação que vão desde a dependência à
autonomia, permitindo ainda apreciar a
capacidade de estar só;
• Favorecer a expressão das diferencias
experiências emocionais (afetos de
agressividade e de ternura) e a sua
capacidade de transformação, permitindo
ainda perceber a capacidade de tolerância à
frustração;
• Revelar os processos do pensamento.

Assim, a complementaridade entre as técnicas de mancha (o teste de Rorschach) com as


técnicas temáticas (TAT e CAT, dependendo da idade do sujeito), levam à compreensão dos
processos do pensamento.

Técnicas de Mancha – Mais sensíveis a aspetos estruturais do sujeito;


Nota Técnicas Temáticas – Mais sensíveis a aspetos relacionais do sujeito.

História da Pata Negra (PN)


As “Aventuras de Pata Negra” (PN) é um teste pertencente às técnicas temáticas que foi elaborado
por Corman (1961) e que assenta na teoria psicanalítica do desenvolvimento libidinal, sendo que,
mais tarde, em 1982, foi objeto de reformulações por Chabert. Este é aplicado a crianças entre os
4 e os 15 anos (preferencialmente aplicado até aos 10 anos).

25
A situação apresentada pelo teste da pata negra é comparável à do CAT (e, subsequentemente, à
do TAT), mas tem a particularidade de, na sua aplicação, ser a criança a escolher a organização
sequencial dos 17 cartões. Estes cartões têm desenhos a preto num fundo branco e são designados
por um título e por um número de ordem alfabética, sendo pedido que, após a sua observação,
conte uma história a partir dos mesmos.
A sua análise clássica, de forma semelhante ao que acontece com o CAT e o TAT, comporta o
conteúdo manifesto e o conteúdo latente – este último abre a discussão sobre os fundamentos da
identidade, a elaboração da posição depressiva e o estabelecimento do eixo edipiano. Assim, tem
como objetivo explorar a personalidade infantil e a sua conflitualidade em relação às tendências e
defesas psíquicas numa tentativa de compreender os seus conflitos pessoais e com os outros. Esta
prova permite obter informação a respeito da fixação aos principais estádios da infância, temas
oral, anal e edipiano, a respeito da agressividade, conflitos dependência-independência e
culpabilidade, e, ainda, da perceção que o sujeito tem das figuras materna e paterna e das relações
com eles.

Instruções da pata Negra

“Estas são as imagens onde estão representadas as aventuras do pequeno porco Pata Negra.
Vês? Pata Negra está aqui, é o pequeno porque que se vê debaixo do título. Porque é que se
chama Pata Negra?”

“Nestas imagens das aventuras do Pata Negra não há uma história escrita. Gostaria que
contasses tu a história. Mas antes, vais dizer-me se Pata Negra é um porquinho ou porquinha e
dar-lhe uma idade. Vamos lá ver. Que vamos fazer? Um porquinho ou uma porquinha? Que idade
lhe vamos dar?”

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“Agora vou mostrar-te os cartões e vais observá-los e depois dizes-me os que gostas mais, as
que não quiseres põe a parte. Coloca as que te interessam por ordem e conta-me uma história.
Se quiseres a qualquer altura podes recorrer aos outros cartões.”

CAT e Pata Negra


Desta forma, tanto o CAT e a Pata Negra possuem objetivos comuns que é o de revelar o
desenvolvimento e a organização dos processos psíquicos que se podem manifestar através da
capacidade de pensar, da organização conflitual e dos recursos defensivos sendo que todas
estes aspetos se encontram interligados.

Capacidade de Pensar Organização Conflitual Recursos Defensivos


Tem como objetivo avaliar a Tem como objetivo apreciar os Inerente ao desenvolvimento
interação dialógica entre os processos de delimitação psíquico, existe
processos inconsciente e entre o interno e o externo, reorganizações qualitativas e
consciente (ou diferentes
dentro e fora, eu e o outro quantitativas ao longo do
“modos de ser” e as respetivas
sendo que é importante que desenvolvimento.
lógicas, ou distintas
haja uma constituição de uma
“personalidades”). membrana delimitadora, Na criança pequena
percursora de “eu-pele” predominam as chamadas
Como é que, (continente psicossomático). defesas primitivas do Ego,
simultaneamente, estas implicadas nos
dualidades se articulam e se Adicionalmente, verifica a desenvolvimentos identitários
diferenciam? capacidade de estabelecer a – recusa (da realidade interna
diferenciação entre o e externa), clivagem (do ego e
Como é que o continuum continente e o conteúdo, dos objetos) e a projeção.
oscilante entre a emoção e a organizando o espaço
razão se organizam? entreaberto e hierarquizando No período de latência
os diversos objetos nos instalam-se as modalidades
diferentes espaços. Assim, é mais elaboradas – o
importante que haja a recalcamento, o isolamento, a
constituição de um continente formação reativa e a anulação
e da organização de um bom retroativa, sendo que a riqueza
objeto interno (em relação com do funcionamento psíquico
outros objetos, corolário(s) de reside na capacidade de
uma boa relação com o integrar harmoniosamente os
objeto). registos defensivos diferentes.

Por fim, verifica a constatação


do reconhecimento das
diferenças de sexo (corporal e
simbólico) e de gerações
sendo um reflexo da
importância das
representações da relação que
veiculam.

27
Ceno-Teste
O ceno-teste é um teste que utiliza a observado do clínico da forma como a criança brinca com os
brinquedos apresentados e, adicionalmente, a história que a criança lhe conta como técnica
temática que, tal como todos os outros testes analisados até agora, tem como objetivo de acender,
de forma aproximada, à realidade psíquica do individuo.

História do Ceno-teste
Melanie Kline foi a primeira a usar a técnica de brincar como técnica de avaliação e técnica
interventiva. Desta forma, Kline foi a pioneira da utilização da técnica de brincar para desenvolver
a teoria psicanalítica relativa às crianças sendo que, a técnica de brincar é, para as crianças, o
que a associação livre de ideias é para os adultos.

Associação Livre de Ideias


Método psicanalítico onde o próprio paciente percebe os processos psíquicos em jogo e acede,
da mesma forma, ao inconsciente, mais precisamente às memórias recalcadas. Isto significa
que o sujeito sabe o sentido dos sonhos e dos atos falhados, mas não sabe que sabe. Este
método tem como objetivo trazer para a consciência os pensamentos latentes → É através do
discurso que o inconsciente se revela, se acha e se encontra.

Associação Livre de Ideias é o método psicanalítico que permite o acesso ao inconsciente sendo
que, o equivalente deste método para as crianças foi criado por Kline e se refere ao ceno-teste,
ou seja, ao brincar. É possível comparar os dois processos já que, tanto na associação livre de
ideias como na brincadeira, o individuo exprime física e verbalmente o que lhe “passa pela
cabeça”.

O brincar, desta forma, leva a que aconteça, no espaço de tempo transicional (o tempo em que a
criança se encontra a brincar) a revelação da matriz relacional pelos processos criativos → Desta
forma, o ceno-teste remete para o espaço de
tempo transicional. Matriz Relacional
Refere-se aos princípios organizadores da
O teste em si foi criado por Staabs (1938) e
experiência, ou seja, aos esquemas mentais de
tem como objetivo a exploração do
um individuo. Estes esquemas mentais são
funcionamento mental através do jogo. É um
criados no espaço físico e interpessoal em que
teste temático já que a manipulação de
nasce e vive a criança durante os seus primeiros
objetos figurativos é suscetível de remeter
anos de vida. Esta matriz inclui as dimensões
para a experiência vivida e sentida (ou seja,
intrapsíquicas e interpessoais do ser humano.
é subjetiva).
Ao escolher e manipular os objetos, ao se identificar com determinados bonecos e através
do estabelecimento de relações entre os bonecos e a sua relação com a vida real, permite observar
como é que a criança se sente na relação consigo e com os outros. Assim, esta técnica inscreve-
se no espaço intermediário / espaço de tempo transicional entre os processos conscientes e
inconscientes possibilitando a identificação da predominância de determinados processos sobre os
outros ou da existência de um equilíbrio entre ambos.

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Material do Ceno-Teste
Apresenta-se como caixa de brinquedos com vários divisões e subdivisões que contém 16
marionetas flexíveis e que são diferentes segundo o sexo e gerações (i.e., que as dezassete
marionetas apresentam géneros e idades diferentes) que ajudam na distribuição de diferentes
papeis por parte da criança durante a brincadeira e, juntamente, na história subjacente que cria e
conta com a brincadeira.
Assim, existem diversos personagens que podem ser atribuídos papeis diversos (e.g. mãe,
pai, avós, tios, irmãos, etc.) levando a que haja a distribuição de diferentes papeis às diferentes
marionetas e, tanto a atribuição de papeis como a história criada pela criança dão informação ao
psicólogo acerca da sua relação com os outros, consigo mesma e com o ambiente que a rodeia e
que se encontra inserida.
Para além das marionetas, na mala existem elementos de construção em madeira vermelha, azul,
amarela e verde com formas e tamanhos variados, juntamente com peças figurativas de madeira
pintada que incluem árvores de tamanho variado, canteiros floridos, dois carros com rodas móveis,
um comboio de madeira, dois recipientes, diversos animais de madeira domésticos e selvagens
(e.g. pássaros, porco, raposa) e figuras para-humanas (e.g. anão, boneco de neve, anjo), e, ainda,
objetos correntes (e.g. louça, biberão, fruta, mobiliário diverso, acessórios para cultivar).

Indicações para a realização do Ceno-Teste


O ceno-teste é indicado para crianças a partir dos 3 e até aos 10-12 anos de idade sendo que este
é dos únicos testes que permite sem apelar, obrigatoriamente, à linguagem verbal através da
manipulação do material padronizado.
Isso é algo que difere este teste de outros já que, os testes analisados até agora, apelam,
obrigatoriamente para o uso da linguagem e da fala. Assim, o ceno-teste não obriga à utilização de
nenhuma das duas, mas sim à análise do comportamento que é observado através do brincar.
Devido a essa característica, é indicado, especialmente, para crianças que manifestem dificuldades
de comunicação verbal quer sejam devidas a uma imaturidade (quer da linguagem, quer da fala)
e/ou dificuldades instrumentais – como é o caso de deficiências auditivas ou dificuldades
articulatórias diversas.

Instrução do ceno-teste
Para que se inicie o ceno-teste é necessário que, ao mesmo tempo que a mala é apresentada e
mostrada à criança que se convide a criança a construir alguma coisa ou se convide a brincar um
bocadinho com tudo o que se encontra na mala.
Esta instrução é, assim, um convite à revelação de si através da expressão corporal e/ou através
da simbolização da linguagem.

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Permite revelar os processos de construção e de desconstrução;
O
Brincar... Permite perceber os processos de ligação e de desligação;

Permite a expressão de problemáticas e a organização ou


manifestação dos mecanismos defensivos.

O clínico tem de perceber que o brincar joga-se num espaço e tempo partilhado por protagonistas
distintos (o próprio psicólogo e a criança) sendo que estar com a criança permite observar a forma
como a criança se situa no espaço e no tempo (vivências relacionais de estar próximo, de estar
longe, de estar fora de, de estar sozinha ou vivências de relações de fusão e confusão de espaços
e de tempos, vivências de inclusões recíprocas).
Assim, o clínico tem a função de mostrar e apresentar os objetos (o jogo) e uma função de
contenção, ou seja, de regular a atividade da criança através da autorização ou da proibição dando
uma figura mais permissiva e que favorece o jogo livre ou mais rigoroso com o estabelecimento de
regras.
Estes fenómenos acontecem devido aos processos de transferência e de
contratransferência que existem na relação terapêutica, ou seja, o facto de a criança atribuir ao
clínico características das relações vividas por si que vai fazer com que esta (a criança) possua
uma opinião do clínico de este ser permissivo ou não / rigoroso ou não.
Resumidamente, o clínico ao longo do tempo de realização do ceno-teste:
• Tem de ter um papel recetivo. Isto significa que deve receber as informações que a criança
lhe proporciona através do brincar e, adicionalmente, através da história associada à
brincadeira;
• Tem de definir o tempo e o ritmo de progressão do teste. Isto acontece, de igual modo, no
teste de Rorschach com a distribuição dos cartões ao individuo e pode designar-se como
função de contenção.

30
Desenho
O desenho constitui a forma da criança expressar e comunicar a sua experiência subjetiva sendo
que esta projeta, através do desenho, os seus pensamentos, o seu imaginário, os seus conflitos,
as suas emoções e os seus sentimentos.
Muitos autores referem diferentes estágios de desenvolvimento do desenho, ou seja, o desenho
possui diferentes características consoante o estágio que a criança se encontra. No caso de
Lowenfeld (1977) este defende que através da observação do desenho da criança se pode obter
dados sobre o seu desenvolvimento geral, assim como levantar hipóteses de comportamento
afetivo-emocional, percetivo e motor em suas múltiplas interferências. Assim, a criança ao adquirir
habilidade motora passa a desenhar rabiscos primeiramente e, conforme o seu desenvolvimento
avança, o desenho também evolui. Enquanto desenha, experimenta diferentes traços, materiais ao
mesmo tempo que brinca ao faz-de-conta, podendo verbalizar narrativas que exprimem as suas
capacidades imaginativas, emoções, fantasias e vontades o que, posteriormente, amplia a sua
forma de sentir e pensar sobre o mundo no qual estão inseridas. Ao considerar tudo isto, este refere
a existência de 4 estágios do desenho:

1. Garatujas (2-4 anos) – Rabiscos e início do controle da forma. Assim, a criança vai fazendo
experiências com o traço que aparece desorganizado, sem que seja possível distinguir
grande controle do traço;

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2. Pré-Esquemático (4-7 anos) – Existe, já, o controle da forma e este controle dá início à
representação do real. Assim, existe um certo controle da forma levando a que haja o
entendimento de algumas dimensões formais levando a crer que a criança se encontra a se
esforçar para formar certos limites às diferentes formas;

3. Esquemática (7-9 anos) – Desenvolvimento do conceito da forma o que leva a que haja
uma descrição simbólica do meio, podendo, assim, observar-se um domínio progressivo da
forma e da representação simbólica;

4. Realismo (9-12 anos) – Domínio da simbolização.

Pode-se concluir, então, que o desenho é um progresso gradual que acompanha os processos de
desenvolvimento e de crescimento da criança do ponto de vista mental. Isto leva a que seja
possível, através da análise dos desenhos e da própria historia/narrativa que a criança pode contar
durante ou depois da realização do desenho, perceber os pensamentos, o imaginário, os conflitos,
as emoções e os sentimentos em relação a si mesma, aos outros, a forma como se sente de si
mesma e a como se sente em relação aos outros.
A entrevista inicial pode ser acompanhada tanto por desenhos como pelo brincar já que estas
técnicas são facilitadoras de comunicação → Isto porque a criança não comunica a sua história
autobiográfica de forma espontânea e facilmente como o adulto.
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Da mesma forma que o brincar é o equivalente da associação livre de ideias às crianças, o
desenho também pode ser considerado como uma técnica equivalente à da associação livre de
ideias.
Método
Associação
Psicanálitico
Livre de Ideias
no Adulto

Brincar
Método
Psicanalítico
na Criança
Desenho

Adicionalmente ao desenho livre – onde se pede à criança para desenhar simplesmente o que
quiser – o clínico pode pedir à criança para desenhar um determinado cenário – o designado
desenho a pedido – sendo que este tem o objetivo de entender determinadas características do
seu psíquico. Este desenho a pedido pode ser desenho de família ou pode ser o HTP (Casa-
Árvore-Pessoa).
No caso do desenho de família
é solicitado à criança que
Desenho Livre desenhe uma família sendo que,
Tipos de Desenho de no contexto de uma avaliação
Desenho Família psicológica, procura-se
Desenho a compreender a forma como a
Pedido HTP (Casa- criança se vê e sente na família
Árvore- e vê e sente as relações entre os
Pessoa) diversos membros.
Corman (1979) faz uma análise
do desenho da família segundo três planos – O grafismo, as estruturas formais e o conteúdo.
• A análise do traço da criança (carregado ou leve, com linhas curvas ou angulosas), o espaço
ocupado na folha e os lugares ocupados pelos diferentes personagens, como ocorre o
processo de desenhar os diferentes personagens (quem desenha primeiro e como é
desenhado, se há omissão de personagens, quem ocupa o lugar central, o investimento que
é feito nos diversos personagens, etc.) são alguns elementos que permitem perceber, na
ótica da criança, a forma como vive e se vive na relação consigo e com os outros membros
da família e, ainda, as dinâmicas relacionais entre estes membros;
• Personagem que Aparece (+) Carregado ou (-) Carregado
➢ Os menos carregados, onde dificilmente aparecem na folha, leva a entender que este
personagem aparece muito esfumaçado no seu mundo interior;
➢ Por outro lado, os personagens que aparecem mais carregados, aparecem com muita
intensidade, de forma quase tirânica, no mundo interior da criança;
• Espaço Ocupado na Folha
➢ Se ocupa apenas um canto da folha, se ocupa a folha toda, a ordem que as
personagens aparecem, umas mais afastadas que outras indica que,
independentemente dos personagens, pode haver um conflito ou um afastamento;

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• Analisar a forma como o processo do desenho ocorre também é importante. Isto significa
que é necessário perceber quem é o primeiro a ser desenhado, quem é o último e quem
pode não aparecer;
• Investimento como Indicador Importante
➢ Um personagem com um maior investimento que é expresso através do cuidado dos
traços, da pintura com cuidado revela a importância desse determinado personagem
na vida da criança;
➢ Pelo contrário, os personagens que são desenhados com um menor investimento
indicam a não importância dessa figura na sua vida.
• Os elementos – como é o caso das cores utilizadas, o facto de as nuvens serem negras ou
claras, existir flores ou não – pode dar a entender a relação entre a família, como se vê na
própria estrutura familiar e a forma como se sente nela.

Por outro lado, em relação ao HTP (Casa-Árvore-Pessoa) é um teste criado por Buck (1948) onde
é pedido que a criança desenhe, de forma sequencial e em folhas separadas e utilizando papel e
lápis, uma casa, uma árvore e uma pessoa.
O facto de ser sequencial e em folhas em
separado é necessário para que haja a
concentração e a centração da criança apenas num
determinado elemento. Assim, a criança não se
distrai com os diversos elementos que lhe foi
pedido para desenhar, implicando um investimento
maior do que se fosse pedido para desenhar os três
elementos simultaneamente.
Assim, durante a realização deste teste e
posteriormente, é necessário que o psicólogo análise as três
figuras consoante as seguintes características:
• H – O tamanho da casa, a configuração das paredes,
a presença da porta e de janelas, o telhado e outros
elementos, como o jardim, o caminho, a posição que
ocupa na folha;
➢ Relaciona-se com a abertura para o mundo
exterior e o mundo interior e a permeabilidade
entre ambos;
• T – A
estabilidade do
tronco da árvore, a
presença de raízes, a
forma dos ramos, a posição que ocupa na folha;
➢ Relaciona-se com a falta de afetividade, problemas
enfrentados pela criança;
• P – Quem é que a criança desenha, a posição que
ocupa na folha, o tamanho da pessoa desenhada, a cara,
os membros, o investimento feito nos pormenores, a
posição que se encontra na folha.

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Assim, com a realização destes testes, compreendem-se diversos aspetos relacionados com a
forma como o sujeito se representa e se insere na realidade. Contudo, é importante que estes
testes se realizem numa lógica de complementaridade com outras técnicas de forma a chegar, o
mais próximo possível, da realidade psicológica do indivíduo.

Resumo de Métodos de Avaliação I


Todas as técnicas que foram dadas este semestre pertencem aos métodos qualitativos. As
técnicas referentes aos métodos quantitativos serão dadas no próximo semestre.
A entrevista é como tudo começa e, a maior das maneiras, como tudo acaba sendo que é o
local onde é referido os dados que foram recolhidos com os testes qualitativos. Contudo,
estes resultados também podem ser dados através de um relatório (sendo que este é
adaptável ao destinatário, ao contexto em que o sujeito se encontra, etc.), sem a realização
de uma entrevista.
A entrevista, juntamente com todas as técnicas, permite a aproximação da realidade
psicológica do sujeito através da sua história autobibliografica. A entrevista é a única técnica
que permite aceder à história transgeracional. Assim, dá acesso a um problema que inicia
uma investigação psicológica que permite a formulação de uma hipótese que,
posteriormente, permite a criação de uma metodologia adequada, convergente, coerente
que permite aceder à informação pretendida a partir da informação recolhida e da hipótese
criada.
Esta metodologia permite a introdução das diferentes técnicas dadas durante o semestre.
Estas técnicas, por serem técnicas qualitativos permitem atribuição de sentido através da
interpretação dada aos dados retirados das diferentes metodologias. Esta interpretação é
permitida tendo por base uma teoria → Esta teoria, nesta cadeira em particular, é
proporcionada pela psicanálise.
Os diferentes testes possuem diferentes sensibilidades a diversas características da psique
humana. Devido a este facto, é necessário que haja, perante a hipótese criada e a
metodologia criada, utilizar metodologias coerentes com essas duas características de forma
a complementar a aproximação à realidade psicológica.
É ter em atenção que, no teste Rorschach é possível analisar o presente que tem por base
um passado realizado, mas também permite o acesso a características potenciais futuras
que o individuo pode, ou não, vir a desenvolver. → Estas características potenciais do
individuo não são do conhecimento do sujeito (é por isso que este não as desenvolveu), mas
que, a partir do Rorschach é possível aceder a elas.

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