Você está na página 1de 12

Metodologia Científica

Bibliografia: Metodologias qualitativas na sociologia. Teresa Maria Frota Haguette. Petrópolis, RJ.
Vozes. 12ª ed., 2010.

A entrevista

Profº Mauricio Pinto de Godoy


2023

1
A entrevista pode ser definida como um processo de interação social entre duas pessoas
na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por
parte do outro, o entrevistado.
As informações são obtidas através de um roteiro de entrevista constando de uma lista
de pontos ou tópicos previamente estabelecidos de acordo com uma problemática
central e que deve ser seguida.

O processo de interação contém quatro componentes:


a. o entrevistador;
b. o entrevistado;
c. a situação da entrevista;
d. o instrumento de captação de dados, ou roteiro de entrevista.

OBS.: nenhum desses elementos faz sentido separado da totalidade. Cada um está em
relação a um outro.
2
Enquanto instrumento de coleta de dados, a entrevista, como qualquer outro
instrumento, está submetida aos cânones do método científico, um dos quais é
a busca de objetividade, ou seja, a tentativa de captação do real, sem
contaminações indesejáveis nem da parte do pesquisador nem de fatores
externos que possam modificar aquele real original.
Pontos que merecem esclarecimentos
O fato de não crermos que a ciência tenha sido historicamente neutra, não nos
convence de que a objetividade como um ideal não deva ser perseguida.
Segundo, estamos cônscios de que a objetividade é um ideal inatingível, mas
que, mesmo assim, o cientista deve tentar a aproximação.
Terceiro, não acreditamos que o real possa ser captado "como num espelho",
ao contrário, assumimos a postura relativista, ou seja, a postura de que
fazemos "leituras“ do real.
OBS.: Esta postura não nos exime de dedicar atenção a todas as possíveis
limitações inerentes ao método científico nas ciências sociais porque que é a
partir da aceitação de cada limite do método que o cientista social pode ter
condição, também, de entender os limites do dado que ele colhe do real.

3
Na entrevista, a fonte de viés se localiza tanto nos
fatores externos ao observador, tais como o próprio
roteiro e o informante ou entrevistado, como na
situação interacional entre entrevistador e entrevistado,
acrescidos dos vieses já mencionados e que se originam
na pessoa do pesquisador.

Estes últimos, irão influir na forma e no conteúdo da


entrevista, exercendo ora o papel de coator seletivo, ora
o de coator omitivo na construção do instrumento
formal de captação de dados, o roteiro de entrevista
4
Com relação às fontes de vieses que provém do informante, é
preciso distinguir entre as informações de caráter subjetivo e
aquelas de caráter objetivo.

As duas são igualmente importantes, mas é preciso ter em mente


que as afirmações do informante representam meramente sua
percepção, filtrada e modificada por suas reações cognitivas e
emocionais e relatadas através de sua capacidade pessoal de
verbalização.

Ou seja, temos que reconhecer que estamos recebendo o retrato


que o informante tem de seu ponto de vista, cabendo a nós,
pesquisadores, avaliar o grau de correspondência de suas
afirmações com a "realidade objetiva“.
5
As afirmações de natureza subjetiva estão sempre imersas em
reações que devem ser levadas em conta: o estado emocional do
informante, suas opiniões, suas atitudes, seus valores que devem
ser confrontados ou complementados com comportamentos
passados e expressões não verbais.

A constatação de afirmações conflitantes não deve levar o


pesquisador a considerar o depoimento inválido, uma vez que
estas contradições podem levar a importantes descobertas.

6
Os aspectos que podem interferir na qualidade dos dados por
parte do informante podem ser relacionados com:

a) motivos ulteriores, ou seja, quando ele pensa que suas


respostas podem influenciar positivamente sua situação futura
(dentro de uma fábrica ou de uma organização, por exemplo);

b) quebra de espontaneidade, como a presença de outras pessoas


por ocasião da entrevista ou inibições ocasionadas por certas
características do entrevistador, como sexo, raça, educação ou
classe social;

c) desejo de agradar o pesquisador, especialmente quando ele


percebe suas orientações ou posicionamentos;
7
d) fatores idiossincráticos tais como fatos ocorridos no intervalo
entre as entrevistas, que eventualmente alteram a atitude do
entrevistado com relação ao fenômeno observado;

e) conhecimento sobre o assunto da entrevista, habilidade de


relatar os eventos, que pode estar relacionados tanto à
capacidade de lembrar (memória) os fatos passados como à
fluência ou facilidade de expressão.

8
Especificidades da situação da entrevista que podem levar os
entrevistados a um estado de nervosismo e ansiedade:

1) As entrevistas representam situações psicológicas novas para o


entrevistado. Como tal, ele não percebe bem seus objetivos nem
sabe bem como se comportar;

2) embora conhecendo os mecanismos de uma entrevista, alguns


entrevistados não gostam da natureza autoritária do
relacionamento entre ele e o entrevistador, pois se sentem de
alguma forma subjugados;

9
3) outros entrevistados, especialmente aqueles que fazem parte
de organizações como comunidades, sindicato etc., percebem a
entrevista como uma armadilha para "fazê-los falar" sobre coisas
ou pessoas, o que pode comprometê-los;

4) os pesquisadores, na maioria vinculados a universidades, são


muitas vezes percebidos como indivíduos sofisticados e de alta
educação, o que pode criar uma reação de defesa por parte dos
entrevistados.

Dependendo do tipo de percepção, os entrevistados podem


recorrer a mecanismos de defesa, tais como: colaboração
aparente, recusa em responder, silêncios ostensivos, desvios no
direcionamento da entrevista, esquecimento, ou preparação
antecipada para a entrevista através de informações colhidas
junto a outros entrevistados anteriormente. 10
Distinção entre diferentes tipos de entrevista:
a) a entrevista dirigida ou padronizada - consiste na aplicação de um
questionário predeterminado com uma maioria de perguntas fechadas
e sem nenhum papel ativo do entrevistador;
b) a entrevista semiestruturada, aplicada a partir de um pequeno
número de perguntas abertas;
c) a entrevista centrada – na qual, dentro de hipóteses e de certos
temas, o entrevistador deixa o entrevistado descrever livremente a sua
experiência pessoal a respeito do assunto investigado;
d) a entrevista não diretiva, ou entrevista aprofundada – na qual a
conversação é iniciada a partir de um tema geral sem estruturação do
problema por parte do investigador;
e) a entrevista clínica – eventualmente conduzida de maneira não
diretiva cuja especificidade está na sua orientação em função do
objetivo da interpretação sociopsicológica da situação ou da
personalidade dos sujeitos através de suas verbalizações.
11
Referências bibliográficas

HAGUETTE, Teresa Maria Frota. 12ªed. Petrópolis, RJ.


Editora Vozes. 2010

12

Você também pode gostar