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GNE341 – Operações Unitárias III

Profa. Isabele Cristina Bicalho (DEG/UFLA)


GNE341 – Operações Unitárias III

• Conteúdo
3. Destilação
3.1. Destilação Flash
3.2. Destilação contínua com refluxo
3.2.1. Balanços materiais em colunas de pratos
3.2.2. Linhas de operação
3.2.3. Número de pratos ideais
3.2.4. Razão de refluxo: total, mínima e ótima
3.2.5. Produtos de elevadas purezas
3.3. Balanços entálpicos
3.4. Projeto de colunas de pratos perfurados
3.4.1. Queda de pressão e velocidade máxima do vapor
3.5. Eficiência de pratos/estágios
3.6. Destilação batelada
3. Destilação

• Introdução
É o processo de separação mais utilizado na indústria química. Nesta
operação acontece a separação de componentes mais voláteis de
outros menos voláteis de uma mistura líquida por vaporização
parcial seguida por condensação.

Fase líquida
Mistura de
componentes Aquecimento em
na fase líquida equilíbrio
Fase vapor
(+ rica nos comp. + voláteis)

Requerimento básico para a separação por destilação: a composição


do vapor formado deve ser diferente da composição do líquido
residual com o qual ele está em equilíbrio.
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3. Destilação
Assim, esse método só será aplicável quando os componentes da
mistura (no mínimo dois deles) apresentarem certa volatilidade e
assim possam estar presentes na fase vapor.
Ex: Soluções água-amônia, água-etanol, etc.

Note a diferença com a operação de evaporação, onde somente


um dos componentes da solução é volátil.

A destilação pode ser utilizada para:


 Separar produtos de uma mistura
 Recuperar um produto
 Aumentar a pureza de um produto

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3. Destilação

Dutta, 2009

Uma grande vantagem da destilação está em não precisar se


adicionar um outro componente para realizar a separação*. Muitos
processos de separação requerem a adição de outro componente
que deverá ser removido, numa etapa posterior do processo.
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3. Destilação
A destilação pode se conduzida segundo dois métodos principais:
O primeiro método baseia-se na produção de vapor a partir de
uma mistura líquida em ebulição, que será separada em um único
estágio. Esse vapor formado será recuperado e condensado, e não
retornará para o interior do único estágio.
No segundo método tem-se o reciclo, refluxo ou retorno de
parte do condensado para o interior da coluna, assegurando-se o
contato íntimo do vapor ascendente com o líquido que desce em
contracorrente em uma série de estágios ou pratos.
Os dois métodos podem ser conduzidos de forma contínua ou em
batelada. Como a separação da mistura é baseada na distribuição
dos componentes entre as duas fases, vapor e líquido, será
necessário examinarmos as relações de ELV.
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3. Destilação

• Equilíbrio líquido-vapor
Para soluções ideais, as quais são compostas por substâncias muito
similares, vale aplicar a lei de Raoult para as fases líquido-vapor em
equilíbrio (válida para pressões baixas a moderadas):

pi = pressão parcial do comp. i na fase vapor


pi  Pi xi (1) Pi = pressão de vapor do comp. i puro, Pi = f (T)
xi = fração molar do comp. i na fase líquida

Ex: Soluções benzeno-tolueno, hexano-heptano, metanol-etanol...

Na realidade poucas misturas líquidas obedecem rigorosamente


a lei de Raoult.

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3. Destilação
Solução IDEAL Desvios da Lei Raoult

Mistura promove
contração das moléculas Mistura promove
(ponte hidrogênio) expansão das moléculas

Vale lembrar que muitos sistemas não-ideais seguem a lei de


Henry em soluções diluídas.
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3. Destilação
Obtenção do diagrama de equilíbrio para misturas binárias
Para uma mistura binária (A + B), a pressão total do sistema (P) pode
ser escrita como:
P  p A  pB  PA x A  PB xB  PA x A  PB 1  x A  (2)

Assim, para uma dada pressão P, substituímos os valores de pressão


de vapor dos comp. puros (PA e PB) a uma determinada T e
encontramos a fração dos componentes na fase L, xA e xB=1− xA.
Então, a composição da fase vapor pode ser obtida por:
p A PA x A (3)
yA   e yB =1− yA
P P
Fazemos esse cálculo para diversas temperaturas e encontramos o
diagrama de equilíbrio que pode ser plotado como yi−xi ou T− xi,yi.
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3. Destilação
• Diagrama T vs x−y • Diagrama y vs x

Fração do benzeno no vapor yA


T (ºC) b V L.E.
Incremento da
Linha de temperatura
vapor saturado (orvalho)

vapor +líquido
yA1 T1
y=x
Linha de
líquido saturado
(bolha) a
y = fração molar (m.v.c.) no vapor
L

xA1
Fração molar do benzeno no líquido, xA Fração molar do benzeno no
ou no vapor yA líquido, xA

a = temperatura de ebulição do comp. A puro (+ volátil)


b = temperatura de ebulição do comp. B puro (− volá l)

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3. Destilação

Tmax

Tmin

Ex: sistema etanol-água Ex: sistema acetona-clorofórmio

Líquido (L) equilíbrio Vapor (V)


75% (molar) B 20% (molar) B
Nesses casos temos no equilíbrio
25% (molar) A 80% (molar) A em Tmin ou Tmax,
yA = xA

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3. Destilação
No diagrama de equilíbrio yi−xi para a mistura binária quanto maior
a distância entre a L.E. e a reta y = x, maior a diferença entre a
composição do vapor yi e do líquido xi, e assim, maior a facilidade
de separação por destilação.
Define-se a volatilidade relativa (a) para uma mistura binária (A+B):
yA xA xA = fração molar do comp. A no líquido
α AB  (4) yA = fração molar do comp. A no vapor
y B xB xB = fração molar do comp. B no líquido
yB = fração molar do comp. B no vapor

Escrevendo a Eq. (4) em termos das frações do comp. A, temos:


yA xA
a AB  (5)
(1  y A ) (1  x A )
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3. Destilação
Assim, com a composição de A nas fases líquida e vapor, calculamos
da Eq. (5), a volatilidade relativa αAB, que pode ser constante numa
faixa de temperaturas.
A volatilidade relativa seria uma medida da facilidade/dificuldade
de separação de dois componentes A e B:
A separação por vaporização só será possível para αAB > 1.
Quanto maior o valor de a AB, mais fácil é separar a mistura.

Rearranjando a Eq. (5), teremos:


ax ou x 
y
y (6)
1  (a  1) x a  (a  1) y
Conhecendo-se o valor de a e variando x (0 ≤ x ≤ 1) tem-se o
diagrama de ELV.
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3. Destilação
Podemos usar a lei de Raoult para expressar a volatilidade relativa
em termos de pressão de vapor dos componentes:
PA x A
yA xA P xA PA (T )
a AB   a AB  (7)
yB xB PB xB PB (T )
P xB pi Pi xi
yi  
P P
Lei de Raoult

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3.1. Destilação Flash

• Destilação Flash
A destilação flash é uma operação de separação contínua em um
único estágio de equilíbrio.
Uma mistura líquida de 2 ou mais componentes é parcialmente
vaporizada através da passagem por uma válvula de expansão de
tal forma que o vapor produzido encontra-se em equilíbrio com
o líquido residual.
As fases líquida e vapor são então separadas e o vapor
condensado.
Usualmente um grande degrau de separação não é alcançado. Por
isso, é usada na indústria como uma pré-separação ou operação
auxiliar de preparação de correntes.
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3.1. Destilação Flash

Nomenclatura:
a: bomba de deslocamento positivo
V, y (aumentar pressão da alimentação)
Hy b: fornalha de aquecimento do
TT ,PT líquido
c: válvula redutora de pressão
d: coluna de separação de fases
F ,xF (tambor flash)
TF ,PF e: corrente de vapor que deixa o
F , xF HF topo da coluna
L, x g: corrente de líquido que deixa o
T 1, P 1 fundo da coluna
Hx

F = taxa molar (mol/h) da mistura líquida alimentada


xF = fração molar do componente + volátil na alimentação
V = taxa molar (mol/h) do vapor formado
y = fração molar do componente + volátil no vapor produzido
L = taxa molar (mol/h) de líquido residual
x = fração molar do componente + volátil no líquido residual
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3.1. Destilação Flash
Destilação Flash de uma mistura binária
Fazendo um balanço de massa para o componente + volátil, temos:
FxF  Lx  Vy (8)

Agora vamos definir a fração da alimentação vaporizada como:


V
f  (9) V  fF
F
Assim, a fração da alimentação não vaporizada (que permanece
como líquido) será:
L
1 f  (10) L  (1  f ) F
F
Substituindo L e V das Eqs. (9) e (10) na Eq. (8), temos:
FxF  (1  f ) F x  f F y 17
3.1. Destilação Flash

(1  f ) xF
y x (11) L.O.
f f
y = a x + b
Normalmente são conhecidos ou definidos os valores de xF e f
(ajustando o calor fornecido na fornalha e a redução de pressão na
válvula).
As frações x e y são desconhecidas, entretanto, sabemos que as
correntes efluentes do tambor Flash encontram-se em equilíbrio, o
que vale dizer (x, y) são pontos da L.E.. Assim devemos conhecer a
L.E. para resolver a Eq. (11).
Um método conveniente para solucionar este problema consiste em
plotar a Eq. (11) no diagrama de equilíbrio y−x do sistema e verificar
o ponto de interseção da Eq. (11) com a L.E..
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3.1. Destilação Flash
Este procedimento é genericamente ilustrado no esquema a seguir:
1 f Solução desejada
xF f f

y
(1  f ) xF
L.O. y x (11)
f f
L.E.
Plote a Eq. (11) sobre o
y=x diagrama de equilíbrio
do sistema binário!

x
Observe que a Eq. (11) é a eq. de uma reta com inclinação − (1− f )/f , intercepta o
eixo y em y = xF / f e passa no ponto (xF, xF), pois quando x = xF → y = xF.
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3.1. Destilação Flash
OBS: A fração vaporizada f no tambor flash não é ajustada ou fixada
diretamente, mas depende da entalpia do líquido quente à entrada
do tambor de separação flash (adiabático) e também das entalpias
do vapor e líquido que deixam o separador.

FH F  VH y  LH x F

H F  f H y  (1  f ) H x (12)

HF = entalpia molar da corrente de alimentação líquida (feed)


Hy = entalpia molar da corrente de vapor no tambor flash
Hx = entalpia molar da corrente de líquido no tambor flash

Para uma dada condição de alimentação, pode-se incrementar f


reduzindo a pressão na válvula (c).
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Exemplo 1

• Exemplo 1) Destilação flash de uma mistura benzeno-tolueno.


Uma mistura com 50% (molar) de benzeno e 50% (molar) de tolueno
é submetida a uma destilação flash numa coluna à pressão de 1
atm. O diagrama de ELV é representado nas Figuras a e b. Calcular as
seguintes quantidades em função da fração vaporizada f:
a) a temperatura no separador (TT)
b) a composição da corrente líquida que deixa o separador (x)
c) a composição da corrente de vapor que deixa o separador (y)

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Exemplo 1
Dados: Diagrama de ELV para o sistema benzeno-tolueno à 1 atm.

Figura a − Diagrama y vs x Fração molar de benzeno


Figura b − Diagrama T vs x−y

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Exemplo 1
• Solução
Para cada valor de f, calcula-se o intercepto em y = xF/f. Plota-se a
reta passando pelo ponto (0, xF / f ) e por (xF, xF).
Onde a L.O. interceptar a L.E. lê-se os valores das frações em
equilíbrio x e y.

y
(1  f ) x
x  F (11) L.O. y
f f f=1
x

Figura a − Diagrama y vs x
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Exemplo 1
A temperatura de operação para cada valor de f, pode ser obtida
do diagrama de T vs x−y.

x y

Fração molar de benzeno


Figura b − Diagrama T vs x−y

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Exemplo 1

f xF/f = 0,5/f x y T (ºC)


0 ∞ 0,5 0,71 92,2 P.B.
0,2 2,5 0,455 0,67 93,7 y
0,4 1,25 0,41 0,63 95
x
0,6 0,83 0,365 0,585 96,5
0,8 0,625 0,325 0,54 97,7
1 0,5 0,29 0,5 99 P.O.

Figura a − Diagrama y vs x

OBS: Na destilação flash, se desejar obter um destilado mais concentrado a


fração vaporizada terá de ser baixa (f ≈0), porém quase não obtém nenhum
destilado. Se vaporizar quase tudo obtém uma boa quantidade de destilado,
porém diluído.

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Exemplo 2

• Exemplo 2) Destilação flash de uma mistura benzeno-tolueno.


Uma mistura equimolar (50% molar de benzeno e 50% molar de
tolueno) é submetida à destilação num separador que opera à 1
atm. O líquido que será “flasheado” é aquecido na fornalha de tal
forma que 40% da alimentação vaporiza no tanque de separação.
Calcular:
a) Qual a composição do vapor e do líquido que deixa o tambor?
b) Qual a temperatura do líquido à saída da caldeira/fornalha?

V, y
Hy
TT ,PT

F ,xF
TF ,PF
F , xF
HF
T 1, P 1 L, x Hx 26
Exemplo 2
Dados: Diagrama T vs x−y.
• Equação de Antoine:
B
ln Pi (bar )  A 
T (K )  C
Benzeno: A = 9,2806, B = 2788,51, C = -52,36
Tolueno: A = 9,3935, B = 3096,52, C = -53,67

• Calores específicos do líquido (cp) e


calores latentes de vaporização (l):
Benzeno: cp = 33 cal/mol·ºC, l = 7360 cal/mol
Fração molar de benzeno Tolueno: cp = 40 cal/mol·ºC, l = 7960 cal/mol

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