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UNIVERSIDADE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

PROJETO U.C - CENOGRAFIA E FIGURINO

“ESPAÇO CENOGRÁFICO PARA UMA NARRATIVA POÉTICA”

MÁRIO CESARINY

Docente: Ângela Maria Gonçalves Cardoso


Discentes: Inês Mateus
Madalena Bentes

2023/2024
QUEM SOMOS NÓS NO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ?

Introdução:

Neste projeto, o nosso principal objetivo é explorar elementos que compõem formas de

expressão artística, mergulhando assim na interseção entre a criatividade visual e a narrativa.

A arte da cenografia e do figurino desempenha um papel crucial na construção de narrativas

visuais marcantes, enriquecendo assim a experiência teatral e cinematográfica. Vamos

analisar as técnicas, as influências históricas e o impacto contemporâneo da cenografia e do

figurino, vamos também tentar compreender como é que essas componentes essenciais

contribuem para a construção de mundos imaginários e personagens emblemáticas. Para

além disso, analisaremos as complexidades por trás da arte de dar vida a cenários e

personagens, revelando as nuances que tornam a cenografia e o figurino uma parte

indispensável do universo da representação artística.

Contextualização:

O Surrealismo encontrou-se com Mário Cesariny “por volta de 1945 ou 1946”, quando

Alexandre O’Neill e o artista português descobriram um livro História do Surrealismo, de

Maurice Nadeau, que a censura das fronteiras deixou passar.

Foi através das palavras deste livro que tomaram a decisão de se tornarem surrealistas, pois a

corrente artística “representava a realização total do nosso estado de espírito, a defesa do

amor, da liberdade e da poesia”.

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LEITURA DO POEMA ESCOLHIDO:

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!

Supor o que dirá

Tua boca velada

É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor

Do que o dirias.

O que és não vem à flor

Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!--

Do que tu. Não digas nada. Sê

Alma do corpo nu

Que do espelho se vê.

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"Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada" foi escrito por Mário

Cesariny.

Neste poema, o eu lírico pede ao interlocutor para se abster de falar, alegando

que compreende o que ele diria mesmo sem palavras. A sugestão é que o

verdadeiro significado e a essência de uma pessoa podem ser entendidos

através de uma comunicação não verbal, transcendendo a linguagem

convencional.

Na segunda estrofe, o eu lírico reforça a ideia de que compreende o

interlocutor melhor do que se ele falasse. O poeta ressalta que a verdadeira

natureza de alguém não se revela imediatamente através de suas expressões

faciais ou das experiências diárias.

Na terceira estrofe, Cesariny expressa a ideia de que a identidade do

interlocutor vai além de sua própria percepção. O eu lírico sugere que o

interlocutor é intrinsecamente melhor do que ele próprio acredita ser. O apelo

para que ele se abstenha de falar é um convite para que ele se torne a

essência pura e verdadeira, despojada de máscaras sociais ou

convencionalismos.

A última estrofe enfatiza a necessidade de se conectar com a essência mais

profunda e autêntica do interlocutor. O eu lírico convida o interlocutor a ser a

"alma do corpo nu", a verdadeira essência que se reflete no espelho, uma

metáfora para a autoconsciência e a autenticidade. A mensagem subjacente é

que a verdadeira identidade de alguém é revelada não por palavras faladas,

mas por uma autodescoberta silenciosa e intuitiva.

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Mário Cesariny de Vasconcelos

Mário nasceu em Lisboa e estudou na Escola António Arroio e na Escola Superior de

Belas Artes de Lisboa. Foi um dos fundadores do Grupo Surrealista de Lisboa, juntamente

com António Maria Lisboa e Pedro Oom. Através da poesia e das artes visuais, explorou

temas como o inconsciente, o amor, a liberdade, a política e a revolução. A sua obra é

marcada pela originalidade e pela fusão entre elementos surrealistas e expressionistas. Além

da sua atuação como poeta e artista, Cesariny também foi professor e ativista cultural.

Ele foi um crítico implacável do regime ditatorial do Estado Novo em Portugal, o que lhe rendeu

enfrentamentos e censura por parte das autoridades. Mário Cesariny é considerado uma figura

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essencial no desenvolvimento do surrealismo em Portugal. A sua escrita poética e sua visão

artística abriram caminhos para a renovação da literatura e das artes no país. Ele deixou um

legado de relevância não apenas para a arte surrealista, mas para o panorama cultural

português como um todo. A sua obra é marcada pela experimentação, pela transgressão e

pela abordagem de temas como a liberdade, o amor, a morte e a linguagem.

Informações importantes:

Foi um dos fundadores do Movimento Surrealista em Portugal, juntamente com António Maria

Lisboa e Pedro Oom. Cesariny inspira-se com o pintor catalão Salvador Dalí, que considerava

seu mentor | ídolo. Ele foi um dos participantes do histórico "Auto de Génova" em 1949, onde

os surrealistas portugueses enfrentaram um tribunal de artistas, defendendo a liberdade de

expressão artística. "Auto de Génova" é uma obra teatral escrita por Mário Cesariny de

Vasconcelos e encenada em 1956. O auto é uma sátira que critica a sociedade portuguesa da

época, abordando temas como a censura, a repressão e a hipocrisia. A peça segue um enredo

caótico e surreal, com personagens absurdos e situações absurdas, questionando as normas

estabelecidas e desafiando as convenções teatrais. É considerada uma das obras mais

importantes de Cesariny e é um marco do teatro experimental português. Cesariny escreveu o

primeiro manifesto surrealista em Portugal, o "Manifesto Anti-Dantas", em 1951, no qual

criticava o conservadorismo cultural da época. Além de poeta, era também pintor e artista

gráfico, e a sua obra abrange várias formas de expressão artística. Foi um dos primeiros

poetas em Portugal a explorar temas como a liberdade sexual e a crítica à religião, o que lhe

valeu sérias acusações de obscenidade e blasfêmia. Além disso, a sua obra influenciou várias

gerações de artistas, poetas e escritores em Portugal, deixando um legado duradouro no

campo da poesia experimental e surrealista. Em 2005, foi lançado o documentário "Não És Tu

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Que Disfarças a Vida, É a Vida Que Te Disfarça a Ti", sobre a vida e a obra de Mário Cesariny.

Recebeu várias premiações ao longo de sua carreira, incluindo o Prémio de Poesia

Internacional Pier Paolo Pasolini em 2001. Faleceu em 2006, deixando um legado artístico

significativo e sendo lembrado como um dos grandes poetas surrealistas portugueses. Na sua

época, ele desafiou as normas estabelecidas e introduziu novos conceitos estéticos e

temáticos na sua poesia e arte, que influenciaram várias gerações de artistas e escritores. Ele

foi pioneiro no uso de linguagem e imagens chocantes, questionando as convenções literárias

e sociais de sua época. Em suma, Mário Cesariny de Vasconcelos foi um agente de mudança

no panorama cultural português, trazendo novos conceitos artísticos, desafiando as normas

estabelecidas e defendendo a liberdade de expressão. A sua obra continua a ser referência e

inspiração para artistas e escritores em Portugal até hoje.

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