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Universidade Federal de Juiz de Fora

Instituto de Ciências Humanas

Departamento de Psicologia

Disciplina “Introdução à Psicologia Comunitária”

RESUMO SOBRE O DOCUMENTÁRIO “PAULO FREIRE CONTEMPORÂNEO”

O documentário “Paulo Freire Contemporâneo” é composto de gravações da


participação do educador Paulo Reglus Neves Freire em palestras e entrevistas, depoimentos de
pessoas que trabalharam diretamente com ele e leituras de textos da sua obra para ilustrar seus
pensamentos sobre como seria uma educação libertadora. O maior objetivo desse documentário
não é só apresentar a importância de Paulo Freire para a educação brasileira, mas também para
o resto do mundo.
É mostrado o impacto da sua vida fora do país e, posteriormente, a repercussão da sua
contribuição para a educação com o estabelecimento de uma “comunidade freiriana”
internacional. Também foram mostrados os moradores e educadores populares que viveram a
experiência de Angicos, para um registro audiovisual de memória da realização de Paulo Freire
na cidade. Outra ação importante no documentário foi a realização de entrevistas com pessoas
das instituições de ensino e movimentos sociais que hoje dialogam com esse legado freiriano.
As ideias pedagógicas de Paulo Freire tiveram origem a partir de observações sobre as
necessidades do adulto trabalhador analfabeto, e na década de 60, ele se inseriu no Movimento
de Cultura Popular em Recife, com temas relacionados à movimentos sociais populares e lutas
democráticas, em busca de transformações sociais e políticas. A partir de experiências
adquiridas por essa educação popular, a caracterizada “Educação Libertadora” (que não era
apenas um sistema de alfabetização), onde seria possível se despir da alienação e se tornar livre,
construindo novas sociabilidades democráticas e justas, sendo afetivas e solidárias, ou seja, a
educação popular atua transformando sujeitos ativos. Segundo Freire, educar-se é encher de
sentido cada ato cotidiano.
A Psicologia Comunitária no Ceará surgiu em meados da década de 1980, assumindo o
compromisso de se colocar à serviço da população menos favorecida, tendo como objetivo o
desenvolvimento do indivíduo morador da comunidade que atua em sua própria história,
mediante a conscientização. A psicologia comunitária estuda os significados, os sentidos e os
sentimentos (pessoais e coletivos) sobre a vida comunitária, assim como esses elementos se
apresentam na comunidade e para os seus moradores.
É possível observar uma relação entre a Educação Libertadora e a Psicologia
Comunitária, pois em ambas as abordagens, o ser humano é visto como um sujeito que se
desenvolve por meio de seu contexto histórico-cultural e “inacabado”. A noção de que o sujeito
tem um compromisso de transformação da realidade em que vive, a ponto de mudar a si mesmo
e o ambiente externo, é outra correlação a ser apontada. Também é possível perceber que ambas
as abordagens são direcionadas para a práxis de construção, fortalecimento e desenvolvimento
do sujeito, estimulando o indivíduo a se tornar um sujeito histórico, superando as acomodações
da realidade, fortalecendo sua identidade pessoal e atuação comunitária.
A educação libertadora está amplamente ligada às propostas de educação de Paulo
Freire, pois tem como princípio a certeza de que a educação também é um ato político, que
busca construir conhecimento e um pensamento crítico que leva a construção de uma sociedade
mais ética, mais justa, mais humana e solidária. Ainda em relação ao seu livro mais conhecido,
“Pedagogia do Oprimido”, no título já tem um indicativo da sua compreensão da problemática
mais ampla do poder na sociedade (se existe o “oprimido”, existe também o “opressor”) e da
necessidade de assumir um ponto de vista como condição para problematizar com real
propriedade a educação, transformá-la e mudar assim as condições mais gerais da própria
existência (o ponto de vista do “oprimido”).
Logo, a educação facilita o aprofundamento da tomada de consciência da comunidade,
assim como o psicólogo comunitário atua. Ambas permitem que os sujeitos se tornem seres
conscientes, e que possam mudar a comunidade no qual estão inseridos. Como a educação
libertadora estimula o aluno a ter uma participação ativa na sua aprendizagem e a questionar a
sua realidade, promovendo o diálogo e o debate, aproximando-o cada vez mais, do mundo em
que vive. A psicologia comunitária também se faz presente neste contexto, uma vez que a
mesma busca a participação ativa do sujeito como pessoa pensante, criativa, detentora de
conhecimentos e capaz de transformar a sua realidade, respeitando suas diferenças.
A obra de Paulo Freire é receptiva a novos encontros, podendo ser muito bem
aproveitada por uma nova geração de educadores, também interessada em novas práticas e
“frescor” no pensamento. Ler Paulo Freire parece ainda contribuir para essa brisa intelectual
que de tempos em tempos tanto sentimos falta. Podemos conjugar tal proposta de educação
como sendo um processo que tem por objetivo criar, transferir conhecimento, fornecer
condições que permita ao sujeito criar o seu próprio aprendizado com uma consciência crítica e
realista da comunidade em que vive e permitindo-o melhorar sua condição de vida e
aumentando o seu bem-estar.

Referências
de Oliveira, F. P., Ximenes, V. M., Coelho, J. P. L., & da Silva, K. S. (2008). Psicologia
comunitária e educação libertadora. Psicologia: teoria e prática, 10(2), 147-161.

Davi Franco. (2016). DOCUMENTÁRIO: Paulo Freire - Contemporâneo. [ Link ]

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