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Resumo:

O texto “Recomendações ao médico que pratica a Psicanálise”, elaborado por Freud


(1912/2013), apresenta algumas considerações sobre o exercício do fazer analítico,
decorrentes da experiência do autor. Ressalta-se a riqueza teórica deste artigo, o qual,
ainda
hoje, contribui significantemente com a formação daqueles que se deparam com a
prática clínica.
A seguir, serão apresentadas algumas das recomendações presentes no referido texto.
Primeiramente, Freud discorre sobre a necessidade do analista recordar os relatos dos
pacientes, enfatizando a eficácia da técnica da atenção flutuante, na qual o
médico deve
“manter toda influência consciente longe de sua capacidade de observação e
entregar-se
totalmente à sua “memória inconsciente”, ou, expresso de maneira técnica: escutar e não
se
preocupar em notar alguma coisa” (FREUD, 1912/2013, p. 113). Mesmo que tenha
que
atender muitos pacientes, o autor recomenda que os analistas evitem fazer diversas
anotações,
durante as sessões, pois esta ação se constitui numa seleção prejudicial dos conteúdos
trazidos
pelo cliente. Destarte, a fixação do analista em determinados conteúdos da associação
livre
pode atrapalhar o percurso do tratamento, já que “seguindo nossas expectativas,
corremos o
perigo de nunca achar senão o que já sabemos; seguindo nossas inclinações, com
certeza
falsearemos o que é possível perceber. Não devemos esquecer que em geral escutamos
coisas
cujo significado será conhecido apenas posteriormente” (FREUD, 1912/2013, p. 112-
113).
Nesse contexto, que procedimentos o analista deve tomar para lembrar-se dos
elementos da associação livre, tendo em vista que não é indicado fazer nota destes
nas sessões? Freud sugere que as anotações dos conteúdos verbalizados pelo analisando
sejam
feitas após as sessões, não durante. Ao longo do tratamento, cabe ao médico
escutar
atentamente as verbalizações do paciente sem preocupar-se em anotar coisa
alguma,
entregando-se à sua memória inconsciente. Os conteúdos ordenados da associação
permanecerão na memória do médico, enquanto os desordenados emergem a
posteriores, na
medida em que o paciente traz novos conteúdos ligados a estes. Além dos fatos
supracitados

ressalta-se que as notas podem constranger o paciente, inibindo suas associações


durante o
processo.
Mais adiante, Freud (1912/2013) ressalta que a elaboração de trabalhos científicos
sobre os casos clínicos devem ser feitos somente ao final do tratamento. Ao tentar
prever o
percurso da análise, o médico pode prejudicar o êxito do tratamento. Ademais, o autor
aponta
a necessidade de abordarmos os casos de modo despreconcebido, permitindo que este
ocorra
livremente. “A conduta correta, para o analista, está em passar de uma atitude psíquica
para
outra conforme a necessidade, em não especular e não cogitar enquanto analisa, e
submeter o
material reunido ao trabalho sintético do pensamento apenas depois que a análise
for
concluída” (FREUD, 1912, 2013, p. 115).
Em seguida, o autor compara a postura dos cirurgiões com a dos analistas, ressaltando
que estes devem deixar de lado seus afetos e concentrarem sua energia em tornar o
processo
mais competente possível. Além disso, empreende uma analogia entre a escuta do
analista e
os receptores de telefone, afirmando que:
(...) ele (o analista) deve voltar seu inconsciente, como órgão receptor,
para o inconsciente emissor do doente, colocar-se ante o analisando
como o receptor do telefone em relação ao microfone. Assim como o
receptor transforma novamente em ondas sonoras as vibrações
elétricas da linha provocadas por ondas sonoras, o inconsciente do
médico está capacitado a, partindo dos derivados do inconsciente que
lhe foram comunicados, reconstruir o inconsciente que determinou os

pensamentos espontâneos do paciente . (FREUD, 1912/2013, p. 116;


grifo do autor).

Freud afirma que os analistas não devem passar atividades aos pacientes, bem como
assumir uma postura pedagógica diante deles. Além disso, acredita que a aprendizagem
pessoal dos pacientes, isto é, a vivência dos efeitos do tratamento se constitui em um
saber
superior ao que é exposto na literatura psicanalítica. Por isso, preferia que seus
analisados
não lessem suas obras, enfatizando que a experiência pessoal, decorrente da análise,

garantirá um saber mais fértil do que o que toda a literatura psicanalítica poderia

ensinar-lhes

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