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Disse um filósofo certa vez que a natureza é boa e a sociedade é que corrompe o
homem. Esse filósofo poderia ter sido Rousseau. Disse um teórico da administração
certa vez que a sociedade corrompe o homem e que a disciplina da fábrica o torna
novamente útil para a sociedade. Esse teórico poderia ter sido Taylor.
Vamos agora às imagens que podem deixar de ser comuns. O administrador é antes de
tudo um legislador. Ora, segundo Nietzsche, este é o papel do filósofo: colocar novos
valores no mundo, teses normativas. Contrariamente aos que viam a filosofia como
contemplativa, John Dewey de um lado e Karl Marx de outro advogaram o papel
intervencionista da filosofia. John Dewey, em favor do que pode haver de bom na
administração de empresas, disse que preferia que os filósofos agissem menos como
padres e mais como advogados e engenheiros. Pois o padre, uma vez que acredita em
uma teleologia, já sabe tudo o que tem de dizer para todo e qualquer problema.
Engenheiros e advogados, tendo de resolver caso por caso, são obrigados a ouvir,
pensar, refletir e solucionar caso por caso. Se é assim, o filósofo de John Dewey estaria
mais próximo do administrador do que da figura comum de filósofo. Marx, por sua vez,
advogou que as revoluções até o tempo dele tinham sido feitas mais ou menos
espontaneamente, mas que a partir dele elas seriam mais planejadas. De fato, até mesmo
nas revoluções mais espontâneas, nos nossos tempos, houve alguém que administrou
perdas e danos, vidas e mortes.
É certo que a maioria dos administradores são imbecis. Os filósofos, apesar de serem
filósofos, uma boa parte deles é mais imbecil que a parte imbecil dos administradores.
Onde são imbecis? O filósofos são imbecis quando pensam que ao pensarem não estão
administrando ¾ no mínimo estão tentando uma auto-administração. Os
administradores são imbecis quando administram acreditando que não filosofam ¾ no
mínimo estão filosofando coletivamente: uma empresa filosofa na medida em que
define para muitas vidas "o que é que é e o que é que não é" ¾ às vezes uma empresa
faz mais ontologia que Heidegger!
A filosofia é hoje, contra muitos do que pregaram seus fundadores, um saber técnico,
uma capacidade especial de pensar problemas especiais. Quem lidaria, preferivelmente
sem dogmas, com a questão de se podemos ou não desligar os aparelhos de alguém em
coma ¾ a eutanásia ¾ senão o filósofo? Quem arcaria com a responsabilidade da
tomada de decisão de colocar uma regra desse tipo em prática senão os administradores
de uma nação e, por conseguinte, os administradores dos hospitais? Quem lidaria,
preferivelmente sem dogmas, sobre que tipo de conhecimento é válido, verdadeiro,
senão o filósofo? Quem arcaria com a responsabilidade de disseminar ou não um tipo de
conhecimento dito válido senão os administradores de uma nação e, por conseguinte, os
administradores das escolas? Isso repete a regra que diz que o filósofo pensa e o
administrador age? Não! Segundo Hegel, a Coruja de Minerva só levanta voo ao
entardecer. Se a Coruja de Minerva é a Sabedoria, a Razão, então o que Hegel disse é
que a Razão vem depois do fato, e não antes. Talvez o administrador pense a aja antes
de tudo, e o filósofo, então, venha correndo apenas para dizer que deveria mesmo ter
sido assim ou que não deveria nunca ter sido assim, que haviam outras opções.
A Escola dos Pragmatistas ensinou algo mais do que a verdade contida na teses da
Escola de Frankfurt. Ensinou que os administradores de seus corpos, de suas empresas
particulares, podem criar uma nova estética em função de uma nova ética e essa nova
ética não necessariamente gera uma moral da intolerância, da violência e da maldade.
Se isso é verdade, então, nossa sociedade substituiu os filósofos por administradores,
sim, mas ainda não se deu conta que esses administradores são novos e bons filósofos.
Essa relação entre a indução que a estética produz na ética talvez fosse o melhor tema
para se começar a falar em "filosofia na administração de empresas – pontos comuns e
pontos divergentes". Se assim for, há muito o que se discutir entre Frankfurtianos e
Pragmatistas, e há muito o que fazer daqui para a frente na academia.
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