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2022

Sumário
Introdução........................................................... 5
CAPÍTULO I-Primeiro tempo.................................. 9
Diagnóstico estrutural..................................... 10
Neurose: ..................................................... 12
Psicose:....................................................... 13
Diferença das estruturas na adolescência ........... 17
Uso da ferramenta .......................................... 19
CAPÍTULO ll-Segundo tempo ............................... 21
Transferência .................................................. 23
CAPÍTULO lll-Terceiro tempo .............................. 24
CAPÍTULO IV- ...................................................... 27
Algumas dicas de como estimular pacientes que
não falam ........................................................... 27
Como lidar com a atuação: ............................. 27
Analisando quem tem dificuldade de falar ...... 29
Paciente que só responde de forma direta ...... 30
Pacientes com instabilidade emocional ........... 31
Pacientes que tendem a fazer da análise uma
conversa informal ........................................... 33
As perguntas como proposta de intervenção .. 34
Tipos de resistência ........................................ 36
Silêncio nas sessões ........................................ 40
As quatro tentações do analista ...................... 48
Posição de aliado ............................................ 51
Posição de moralista ....................................... 51
Comunicação não verbal no setting ................ 53
Introdução

Esta ferramenta surgiu quando me


deparei com uma grande dificuldade nos
processos de análise que eu conduzia.
Pacientes com dificuldade de falar e, às
vezes, com dificuldades até mesmo de
responderem uma pergunta.

Com isso, comecei a pensar em


como estimular esses pacientes a
elaborarem mais, decidi então criar
algumas cartas baseadas em alguns jogos
que eu já havia conhecido e, com o passar
do tempo, fui aperfeiçoando até o ponto de

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criar uma ferramenta dividida em cinco
partes que atendam todas as etapas do
processo de análise, desde as análises
preliminares até as intervenções.

Para compreender o uso do material,


será necessário entender a dinâmica do
processo de análise. O processo é dividido
em três etapas que são chamadas de
primeiro tempo, segundo tempo e terceiro
tempo. Cada tempo tem sua função
específica dentro do processo de análise e
se verá isso agora.

O analista não precisa usar a


ferramenta em todas as etapas, se não for

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necessário. Exemplo: no primeiro tempo, o
paciente fala bem, mas quando chega ao
segundo tempo ele começa a apresentar
dificuldades para falar, então, o analista
começa a usar o recurso do segundo tempo
em diante, o material que corresponde ao
segundo tempo.

Primeiro tempo: análises preliminares em


que será preenchida a ficha de anamnese;
realização do manejo transferencial inicial;
gerar demanda de análise, realizar o
diagnóstico estrutural e a criação da
hipótese preliminar.

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Segundo tempo: desenvolvimento, neste
tempo, serão marcados pontos, elaboradas
boas perguntas pontuais, dissolvendo
verdades e avalizando a hipótese, no
sentido ou de legitimar ou de abandoná-la.

Terceiro tempo: no terceiro tempo, serão


elaboradas propostas de intervenção,
avaliação de resultados e essas
intervenções.

A utilização do material seguirá essa


lógica, sendo cinco ferramentas
específicas, uma para cada tempo do
processo.

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CAPÍTULO I-Primeiro tempo

1- Ficha de anamnese: são perguntas para


que o analista tenha um panorama geral
sobre questões importantes do paciente,
tais como: relacionamentos, gostos, coisas
que o deixam irritado, etc. o analista, com
as cartas em mãos, pedirá para que o
paciente escolha uma carta, então, o
analista lê a pergunta para o paciente. As
cartas precisam estar do lado em que o
analisando não consiga ver o que está
escrito antes de escolher, dessa forma, ele
não conseguirá escolher, de forma
proposital, perguntas específicas.
9
Diagnóstico estrutural

Antes de se falar sobre o uso do


material, serão olhadas as características
das estruturas clínicas.

Levando em consideração que cada


estrutura psicológica tenha as suas
características, é razoável que o mesmo
modelo de atendimento não caiba em todos
os casos, por essa razão é prudente fazer
um diagnóstico estrutural para delimitar os
caminhos do processo de análise.

No caso do neurótico, é possível


conduzir a sessão de forma mais aberta,

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pois é uma estrutura que lida melhor com a
realidade e faz associações melhores. Já o
psicótico tem características mais instáveis
e, por conta disso, está mais propenso a
desenvolver comportamentos mais nocivos
a si mesmo, em relação ao estímulo
externo. Nesse caso, o processo é feito de
forma mais indireta e menos incisiva.

Desconsidera-se a perversão como


estrutura por dois fatores:

1. Existe um amplo debate se a


perversão é de fato uma estrutura;
2. Pessoas com estrutura perversa não
procuram tratamento.

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Como é feito o diagnóstico
estrutural?

Para isso se fará uma análise das


características que o paciente apresenta
para comparar com a compatibilidade das
características das estruturas. Seguem as
características de cada estrutura:

Neurose:
• comportamento estável;
• lida bem com a realidade;
• emocionalmente estável;
• faz associações bem elaboradas;

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• mantém um padrão de
comportamento relativamente
padronizado;
• gerencia bem suas emoções
dividindo sua energia libidinal em
diversas atividades;
• o senso de realidade é mais bem
fundamentado por se tratar de um
ego mais estruturado.

Psicose:
• apresenta comportamento
impulsivo;
• instabilidade emocional;
• comportamento pouco padronizado;

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• não cria boas articulações
linguísticas;
• não gerencia bem as suas emoções,
colocando quase tudo de si em um
só lugar;
• o senso de realidade fica
comprometido, porque o ego é mais
fraco e o id exerce uma força maior,
então há de se esperar um paciente
que viva mais pelo princípio do
prazer.

Outro ponto importante que se leva em


consideração é a natureza dos sintomas,
pois cada estrutura tem suas subestruturas.
Seguem essas:
14
Neurose:

Neurose fobia

Neurose histérica

Neurose obsessiva

Psicose:

Melancolia

Esquizofrenia

Paranoia

E o último ponto que se leva em


consideração é o mecanismo de defesa,
que é mais evidente em cada uma das
estruturas.
15
Neurose: tem o “recalque” como seu
principal mecanismo de defesa.

Psicose: tem a “foraclusão” como seu


principal mecanismo de defesa.

Seguindo essas características, será


elaborado o diagnóstico estrutural. Vale
ressaltar que tudo que foi mencionado até
aqui é parte do primeiro momento da
análise, que se chama de análises
preliminares. Não há um tempo
cronometrado ou uma quantidade de
sessões preestabelecidas para o fim desse
estágio preliminar, isso vai depender de
cada paciente.

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Obs.: as estruturas clínicas não devem ser
entendidas como algo imutável, mas sim
como um parâmetro inicial.

Após a conclusão desta etapa, entra-se no


segundo momento do processo, no início
da associação livre.

Diferença das estruturas na


adolescência
A neurose em adolescentes
apresentará características diferentes da
relação dos adultos. Em adolescentes, o
item 1 e 3 não serão considerados, tendo
em vista que são características de uma
cadeia significante madura, os outros itens

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deverão ser considerados na distinção
entre neurose e psicose. O 1 e 3 são
características comuns em adolescentes,
com psicose e neurose, logo, se irá
desconsiderar essas duas características
com adolescentes e se dará ênfase em
outras características. Como se pode
observar, o diagnóstico estrutural ficará um
pouco mais raso em relação ao diagnóstico
com adultos.

Obs.: o diagnóstico estrutural é apenas


para auxiliar o trabalho do analista, tendo
em vista que o adolescente ainda está em
formação.

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Uso da ferramenta
São perguntas e intervenções
direcionadas para a identificação das
características apresentadas pela estrutura
psicótica, isso porque as características da
psicose são opostas às características da
neurose, com isso se as características não
se encaixarem na psicose, deduz-se que se
trata de uma neurose.

1- Perguntas sobre impulsividade

O primeiro bloco de perguntas na cor azul


é sobre impulsividade, característica
bastante relevante na psicose.

2- Perguntas sobre foraclusão

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Aquilo que está fora não se inclui.

3- Subestruturas

Apresenta alguma dessas subestruturas.

4- Características da estrutura

Características simplificadas das estruturas

Observação: neste item quatro, tem uma


pergunta sobre três coisas que o paciente
gosta. O psicótico, geralmente, é apegado
a uma única coisa, sua energia libidinal é
toda investida em um único ponto e se ele
consegue apresentar três coisas que ele
gosta muito é porque sua energia libidinal
se divide bem, característica da neurose.

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CAPÍTULO ll-Segundo tempo

Associação livre

Inicia-se a livre associação, porém


com pessoas que têm dificuldade de se
expressar é pouco provável que
conseguirão produzir um discurso
linguístico aberto, com isso se utilizará a
ferramenta. A ferramenta é dividida em
duas partes, as perguntas gerais que
tratam de temas gerais, já na segunda parte
são perguntas mais específicas e
segmentadas.

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É interessante que o analista realize
as perguntas gerais de forma integral para
compreender bem a estrutura dos
sintomas, através de padrões de
comportamento ou processo de repetição,
identificação de mecanismos de defesa,
variação discursiva, identificação de lapsos
de memória, incoerências no discurso, atos
falhos. Após isso, o analista terá uma
hipótese sobre as possíveis causas dos
sintomas, então para fortalecer essa
hipótese, o analista utilizará as perguntas
segmentadas, ele selecionará sem que o
paciente saiba as perguntas que fazem
mais sentido com as possíveis causas dos

22
sintomas com intuito de gerar reflexão e
fortalecer as hipóteses para a parte final do
processo. Não há a necessidade de fazer
todas as perguntas, somente aquelas que
fazem parte da padronização do paciente,
aqueles aspectos que o analista julgar
pertinente para o processo.

Transferência
O material sobre transferência
envolve perguntas que são iguais para o
analista e o paciente responderem,
parecem perguntas sobre curiosidade, mas
são segmentadas para que o analista
possa identificar qual a posição que o
paciente o coloca, e com isso ele terá uma
23
ferramenta a mais para compreender os
padrões de repetição comportamentais do
paciente. São duas perguntas de cada
tema, o analista irá segurar metade e o
paciente segurará a outra metade e sem
que ambos vejam quais são as perguntas
um do outro, irão tirar uma por uma e
respondê-las.

CAPÍTULO lll-Terceiro tempo

Intervenções clínicas

Após uma ampla e criteriosa


avaliação, desde a identificação de padrões
até a legitimação da hipótese, o analista
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iniciará um processo de intervenção clínica
e, para isso utilizará: diversas perguntas
pontuais, cartas de desafios. O analista irá
através das suas observações clínicas
selecionar perguntas e desafios que
estejam relacionados com a psicopatologia
do paciente, sem que ele saiba que essas
cartas tenham sido selecionadas, por essa
razão as cartas da intervenção não terão
numeração.

Este produto é recomendado para


pacientes que já têm a linguagem formada
e são capazes de compreender as

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perguntas. É recomendável que seja
aplicado a pacientes que saibam ler.

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CAPÍTULO IV-

Algumas dicas de como estimular


pacientes que não falam

Como lidar com a atuação: a atuação segue


dois caminhos. No primeiro, essa tentará
gerar efeito terapêutico rápido para agradar
o analista e o segundo, essa concordará e
verá sentido em tudo que o analista fale.
Para contornar isso, primeiro o analista
precisa não se posicionar no lugar de
mestre e não realizar interpretações
diretas, pois assim ficaria muito mais
provável o surgimento das atuações. Caso

27
a atuação já esteja no processo, o analista
precisará ter um olhar crítico em relação a
essa suposta melhora e manter esse
mesmo olhar sobre a lógica impregnada em
tudo. Dessa forma, a resposta do analista
para a atuação não será recíproca e o
analisando sentirá essa ausência de
resposta e a atuação tenderá a diminuir e,
então, começará a análise de fato, pois
esse processo transferencial de atuação é
desfavorável, com este o analista não
consegue dar sequência por se tratar de
uma modalidade de resistência. É bem
comum, nesses casos nos quais a atuação
é dissipada, o analisando experimentar

28
uma frustração, pois as questões que a
atuação visava sublimar agora estarão
expostas para serem trabalhadas.

Analisando quem tem dificuldade de falar


O analisando com esta dificuldade está
resistindo ao processo e o analista pode
manejar isso gerando identificação. O
analista olha nas informações coletadas o
que o analisando gosta e não gosta, então
o analista pergunta sobre isso que ele
gosta. É recomendável que o analista
pergunte sobre o que ele gosta para gerar
estímulo.

29
Paciente que só responde de forma direta
Alguns analisandos respondem apenas
usando: sim, não, bem, mal, não sei. Nessa
situação, o analista pode adotar uma
postura mais antecipada. Exemplo: como
foi sua semana? Bem! E o que é estar
bem? Qual a diferença entre estar bem e
estar mal? O analisando responde que foi
normal. O que é normal e anormal? Como
você reage a situações normais? Dessa
forma, será menos provável que o
analisando manterá essa postura tão
direta.

30
Pacientes com instabilidade emocional
Esses pacientes podem apresentar
algumas alterações de humor de forma
brusca e isso pode ser muito desagradável,
tanto para o analista quanto para o
analisando, por isso se adotará um método
no qual são geradas perguntas que ele
identifique de forma positiva e perguntas
mais longas e detalhadas. Exemplo: a
pergunta comum seria: por que você tem
medo de perder sua esposa? A proposta
aqui será: quando uma pessoa termina seu
relacionamento e fica triste, antes desse
relacionamento ela era feliz e agora não
será mais. Com o que você acredita que

31
esse relacionamento esteja ligado para
gerar esse efeito na pessoa? Observem
que aqui a pergunta foi direcionada a um
terceiro e o fato de não ser uma pergunta
direta para o analisando já reduz, e muito,
a probabilidade de um surto. Outro fato de
a pergunta não ser curta e direta é que abre
margem para o analisando gerar sua
própria interpretação e, com isso, o analista
poderá avaliar o comportamento do
analisando. O analisando ficará um pouco
confuso com a pergunta e dirá: “você está
querendo dizer isso?” Se o analisando
disser de uma forma calma, o analista pode
confirmar, mas se ele estiver alterado o

32
analista tem a possibilidade de dizer: Não
foi isso que eu quis perguntar e, então, o
analista reformula sua pergunta.

Pacientes que tendem a fazer da análise


uma conversa informal
Alguns analisandos tendem a levar a
análise para uma conversa formal e, com
isso, a análise começa a perder seu
sentido, isso ocorre por causa da
resistência e, também, por transferência de
querer se sentir mais próximo do analista.
Quando isso acontece, o analista precisa
reestabelecer o foco e gerar perguntas
relacionadas aos sintomas do analisando,
isso seria uma forma de não responder ao
33
analisando do lugar que ele o coloca e isso
gera a frustração necessária.

As perguntas como proposta de


intervenção
Este modelo de perguntas está
relacionado com a geração de elaboração.
Para isso, será necessário que esta
pergunta esteja associada e
contextualizada em um amplo processo.

Como já observado, a
contratransferência indireta possibilita ao
analista criar hipóteses sobre a possível
causa do sintoma, logo, as perguntas serão
geradas baseadas nessa hipótese. Não é
possível que o analista não crie nenhuma
34
hipótese, pois ele é um sujeito social e, com
isso, fica inevitável, mas a diferença é que
ele terá a certeza de que essa hipótese não
representa a verdade do paciente e sim e a
sua.

Então, ao invés de falar, ele irá


contextualizar tudo que o analisando falar e
criará uma proposta de intervenção que,
nesse caso, será uma pergunta.

A pergunta como intervenção será


mais pontuada e quando se diz pontuada,
se refere a uma pergunta baseada em
todas as evidências de repetição coletada
no processo de análise.

35
Tipos de resistência
Saber identificar as resistências é
um fator essencial ao processo clínico
psicanalítico, dessa forma o analista
conseguirá visualizar quando ocorrerem
processos que estejam diretamente
relacionados aos processos de alienação.
No texto teoria das neuroses de Fenichel,
ele descreve alguns tipos de resistência,
sendo essas:

1- Esquecimentos.

2- Críticas aos comentários do analista.

3- Pode sentir-se antagônico ou não se


sentir à vontade.

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4- Focar no presente.

5- Na forma inversa, só fala das lembranças


da infância.

Além dessas, Freud descreve outras


como: atos falhos, lapsos de memória,
lapsos de fala, chistes.

Conceitualmente, a resistência é um
mecanismo psíquico que atua para que o
sujeito não sofra com conteúdo danosos e
por mais que sua origem seja inconsciente,
essas resistências se manifestam de forma
consciente, dificultando o processo de
análise. Para dar sequência ao processo de
análise, o analista terá que identificar,
37
“compreender” e quebrar essas
resistências.

Alguns psicanalistas classificam o


processo de análise como uma
interpretação da resistência, pois
teoricamente o que gera o sintoma é a
resistência que mantém conteúdos
recalcados no inconsciente, mas já outros
psicanalistas consideram a resistência não
como algo na ordem “intencional”, mas
como a inexistência daqueles processos
que levaram a geração dos sintomas. Para
entender essa teoria, o louco estaria na
organização inconsciente de uma vertente
mais lacaniana. O inconsciente associativo
38
não considera as experiências passadas
como algo intacto na psique, essas são
associadas com as experiências do agora
e não existem mais no sentido de estarem
guardadas como um hd de computador.

Nesse sentido, a resistência não


seria mais um mecanismo e sim o fluxo
normal do processo de desenvolvimento.
Dessa forma, a análise não visaria
encontrar após a resistência o lugar
originário dos sintomas, porque o sintoma
estaria na própria consciência, nas ações,
nos comportamentos, a consciência seria o
lugar do inconsciente.

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Nessa perspectiva, o analista
entenderia as resistências citadas apenas
como conceitos e usaria para relacionar,
contextualizar suas propostas de
intervenção.

Silêncio nas sessões


O silêncio é algo que ocorre de
maneira não tão frequente, mas quando
acontece, é algo muito complexo de lidar.
Não existe uma única causa para o silêncio,
mas sim diversas, serão mapeadas aqui as
possíveis causas.

1- Adolescentes que são levados pelos pais:


nesse caso, é muito comum não haver

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interesse por parte do adolescente em
realizar o processo de análise e isso pode
gerar aquelas respostas indesejadas do
tipo sim, não e talvez.

2- Analisandos introvertidos: analisandos


que não estabelecem relação transferencial
e apresentem grande dificuldade em
associar livremente e isso acaba por gerar
silêncio nas sessões.

3- Analisando descrente de que o processo


funcione: nesse caso, o analisando pode
apresentar uma grande falta de interesse
pelo processo e isso fará com que ele não
fale muito.
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4- Analisando com grau elevado de
depressão: algumas pessoas com grau
elevando de depressão apresentam uma
característica de tanto faz. Nada para eles
faz sentido e, desse modo, fazer ou não as
sessões é um tanto faz. Isso pode ser
relacionado ao ponto 3, que gera um
desinteresse por parte do analisando em
continuar o processo.

5- Falta de identificação com o analista: aqui


o analista pode gerar transferência
negativa no analisando fazendo com que
seja inviável o processo de análise com
aquele analista.

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Como visto, existem diferentes
formas de silêncio e, com isso, existem
diferentes formas de lidar com cada uma
dessas. O primeiro passo é realizar uma
identificação de qual tipo de silêncio seu
analisando faz. O silêncio diz muito, mas
essa frase não deve ser usada para
legitimar um comportamento passivo do
analista em relação ao silêncio, o analista
precisa ter técnica para lidar com essa
situação dentro do processo de análise.
Serão analisados caso a caso:

1- Primeiro é preciso identificar se o


paciente realmente precisa de ajuda ou se
são os pais que precisam, isso porque
43
alguns pais consideram um problema filhos
que não respondem exatamente do lugar
ao qual os pais os colocam e aqui não se
refere a comportamentos ilícitos e sim de
um filho que não quer cursar direto e sim
medicina. Quando algo semelhante ocorre,
será fundamental que o analista converse
sobre isso com os responsáveis.

2- O analista consegue estimular o


analisando gerando identificação, isso
pode ser feito através de compreensão
sobre assuntos que o analisando domine
ou goste e, então, o analista demonstrará
interesse por aquele assunto, mas vale se
atentar para o fato que essa prática, muitas
44
vezes, precisará ser realizada com mais
frequência para gerar resultados.

3- Quando ocorre a descrença, é preciso


compreender o que levou o analisando a
buscar uma análise, pois se ele não
acredita na eficácia do método não faz
sentido ter procurado, pelo menos um
sentido direto. Compreender o sentido
indireto é a chave para o analista conseguir
gerar identificação no analisando e gerar o
engajamento ao processo.

4- como nada faz sentido é inviável pensar


que o analisando vá associar livremente.
Aqui, se torna interessante o analista

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identificar coisas que o analisando antes
gostava e agora não gosta mais, assim será
possível que o analisando expresse
resquícios de sentimentos relacionados
com aquilo que antes ele gostava.
Teoricamente, dentro da psicanálise a
depressão seria o mesmo que a
incapacidade do ego de direcionar a
energia libidinal para algum ponto, logo
essa energia libidinal estaria canalizada ou
reprimida e, com essa técnica pode ser
possível que o analista traga resquícios ou
melhor gere ligação intrapsíquica no
analisando.

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5- Mesmo realizando todo o processo de
manejo transferencial, o analisando ainda
transfere para o analista um sentimento
que torna inviável o processo e, dessa
forma, caberá ao analista se posicionar de
forma ética e encaminhar o analisando a
outro analista, pois dessa forma o
analisando não perde seu dinheiro, seu
tempo com algo que não gerará progresso.

Como analista, sempre levo comigo


o sentimento e o pensamento de que a
melhora do paciente sempre estará acima
de qualquer capricho.

47
As quatro tentações do analista
O psicanalista, apesar de estar
embasado em sua prática por teorias e
suas próprias análises, ainda é um ser
humano e como todo ser humano não está
isento de suas características subjetivas, e
com isso é natural, principalmente, em
analistas iniciantes, a tendência a deixar as
suas características pessoais interferirem
nas análises. Isso está relacionado com a
identificação que gera a
contratransferência que, por sua vez, pode
ser originária da ausência de análises ou
mesmo análises que se pode dizer não
terem sido bem conduzidas ao psicanalista

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no momento em que era aspirante a
psicanalista.

São listadas aqui as quatro


tentações dos analistas.

1 - Posição de professor

O analista pode acabar por se deixar


seduzir pela transferência do analisando
que o coloca na posição de mestre e se
sente tentado a ensinar um caminho ao
analisando, algo que é completamente fora
do processo de análise, isso porque a
realidade do analista nunca será igual
àquela do analisando, e com isso há a

49
possibilidade de aparecer um resultado
negativo.

Características dessa posição:

*Tendência a dar conselhos

*Dar direcionamentos

*Ensinar o que o analisando deve ou não


fazer

2- Posição de salvador

O analista contagiado pela posição


de mestre não deve responder desse lugar,
pois é recomendável que o analisando se
posicione como sujeito que produz
subjetividade. Desse lugar de salvador, o
50
analista o retira dessa posição e
impossibilita a produção de elaboração.

Posição de aliado
Nessa posição, o analista se
identifica com alguma coisa trazida pelo
analisando e gera a contratransferência e,
então, se inicia uma relação isenta de
neutralidade por parte do analista, o que
acarreta a ineficácia da análise,
transformando-a em uma conversa
informal, que é algo muito improdutivo para
o processo.

Posição de moralista
Aqui se depara com uma posição, na
qual o analista se identifica com algo e essa
51
identificação gera no analista
comportamentos que reprimem o
analisando e isso faz com que essa
repressão dificulte ainda mais o processo
de análise, que por si só, já enfrenta uma
série de dificuldades.

O analista precisa manter uma


posição de constante policiamento para
não se deixar levar pelo seu desejo primário
e conduzir não uma análise, mas sim um
diálogo que remova o paciente do centro e
o analista ocupe essa posição.

52
Comunicação não verbal no setting

Quando se pensa em livre


associação, assimila-se quase que de
maneira automática a linguagem verbal,
mas a linguagem não verbal não deve ser
desconsiderada e ser analisada da maneira
correta servirá de grande auxílio no
processo clínico. A linguagem não verbal
deverá ser entendida dentro de um
contexto, isso porque são gestos que
podem ter diferentes significados e o
analista não conseguirá ter exatidão em
sua interpretação, portanto, será
necessário o auxílio da linguagem verbal
53
para introduzir essa forma indireta ao
discurso e avaliá-la de maneira
relacionada. Uma das principais formas
que se encontra de usá-la no processo de
análise é compreendê-la como um
processo de repetição, exemplo: sempre
que o analisando fala sobre algo ou
alguém, ele utiliza um mesmo gesto, seja
um gesto com as mãos, seja uma
expressão fácil, ou mesmo um toc. Dessa
forma associativa, o analista conseguirá
associar o comportamento a um elemento
psíquico e gerar o que se chama de
suposição de análise.

54
A fundamentação da linguagem não
verbal dentro da prática psicanalítica
remete para a vertente lacaniana, em que
aquilo que se repete se organiza como um
ganho secundário do sintoma, o gozo e ao
que se chama de psicossomatismo. O
psicossomático, dentro da psicanálise, vem
de um processo de desenvolvimento que
antecede o surgimento do eu, algo que
inicialmente está relacionado a não
percepção de si mesmo. Em Freud se
pensa nas fases do desenvolvimento da
libido em que a energia libidinal dá sentido
para diferentes partes do corpo, já em
Lacan se pensa no desenvolvimento que

55
surge através do desejo do outro, que
nomeia os objetos e propicia sentido para
minha própria existência.

Desse modo, existe uma conexão


entre o intrapsíquico e o corpo e essa
vinculação permite contextualizar o
comportamento expresso de forma não
verbal, e compreender tudo isso, de
maneira contextualizada, dentro do
processo de análise é fundamental.

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