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Arqueiro Núbio

POSTADO EM 20 DE NOVEMBRO DE 2015 ATUALIZADO EM 27 DE DEZEMBRO DE


2015

Sendo um dos arqueiros mais tradicionais da África na idade do bronze, os arqueiros


núbios trabalharam não só para seus vizinhos egípcios, mas também ajudaram a manter a
soberania de seus reinos ao lutar contra os mais diversos oponentes ao longo de sua história.
Reconhecidos com sua proeza no arco, os arqueiros núbios, dessa forma, se estabeleceram como
uns dos arqueiros mais precisos da África antiga.
A Núbia é uma região ao longo do Nilo, correspondente ao atual Sudão e o sul do
Egito. A Núbia foi uma das primeiras civilizações africanas, com registros desde 2000 a.C., e
teve uma relação extremamente próxima com a civilização egípcia, que ficava ao norte. O
contato entre ambas as civilizações, muitas vezes de forma belicosa, acabou afetando
diretamente o desenvolvimento da Núbia.
O Reino de Kush, um dos reinos mais duradouros da Núbia, criado após o fim da
ocupação egípcia do norte da região, possuía em sua cultura vários aspectos similares à cultura
do Egito Antigo, notavelmente a construção de pirâmides. A Núbia também era chamada, pelos
egípcios, de Ta Seti, a “terra do arco”, devido ao uso popular do arco e flecha pelo povo da
região.
Vista aérea das pirâmides núbias em Meroe
Os núbios eram muito usados como mercenários, principalmente pelos egípcios. Uma
das tropas mercenárias núbias utilizadas pelos egípcios eram os medjay, vindos da tribo
homônima da região, que estavam na ativa no exército egípcio desde o período do médio
reinado, em aproximadamente 2000 a.C. Os medjay eram nativos da Núbia, empregados
principalmente como batedores do deserto e também como protetores de áreas de interesse
faraônicos, principalmente em guarnições na fronteira com a Núbia.
O equipamento dos arqueiros núbios, independente de seu serviço para com os
egípcios, era uma simples tanga de linho ou de pele de animal, acompanhada de um arco
simples, diferente do arco composto egípcio. Entretanto, os núbios frequentemente
envenenavam a ponta de suas flechas, algo que era feito para compensar a falta de força do arco
em si. A grande vantagem dos núbios com os seus arcos e flechas era simplesmente porque
viviam disso. A caça, praticada com o arco, era uma das características do estilo de vida núbio e
a principal fonte de renda de suas tribos, através do comércio de peles e marfim.
Portanto, por mais que o equipamento dos núbios fosse menos avançado que o dos
egípcios, a sua prática e precisão com o arco os tornaram renomados em seu ofício. No período
do Reino de Kush, a partir de 1070 a.C., é possível que os arqueiros tenham formado boa parte
do seu grande exército. O uso de uma arma secundária entre os arqueiros de Kush era ocasional,
mas geralmente, caso usassem, era um porrete ou uma adaga.
Figuras de arqueiros núbios encontradas na tumba do governador Mesehti, da 11ª dinastia
Por mais que a Núbia, inicialmente, estivesse dividida em um conjunto de tribos
desunidas que constantemente guerreavam entre si, sendo usados pelos egípcios inclusive para
expulsar os Hyksos, governantes estrangeiros provavelmente semitas que se apoderaram do
trono em 1650 a.C., durante o período do Reino de Kush elas finalmente foram unificadas em
uma potência africana, rivalizando com o próprio Egito, inclusive em proeza militar. Um dos
embates entre o Egito e Kush, no entanto, acabou concretizando em sua anexação e na formação
da 25ª dinastia do Egito, na conquista núbia do Egito.
Apesar de que núbios provavelmente já estivessem estabelecidos como reis do Alto
Egito desde o reinado de Kashta, em cerca de 760 a.C., foi seu filho, Piye, que estendeu uma
conquista militar pelo Baixo Egito, aproveitando-se de conflitos internos na região. Tefnakht,
príncipe de Sais, formou uma coalizão entre os reis locais para tentar impedir o avanço de Piye
sobre a região, sitiando a cidade de Herakleopolis. Piye respondeu rapidamente à ameaça,
montando uma força de invasão ao Médio e Baixo Egito. Como Piye comandava seus soldados
a realizarem uma limpeza ritualística, além de oferecer pessoalmente sacrifícios à Amun, ele
considerava essa campanha contra Tefnakht e sua coalizão como uma guerra santa.
Chegando em Herakleopolis, Piye conseguiu uma vitória total no subsequente cerco,
vitória essa registrada na Stela de Vitória de Piye. Por mais que Piye tivesse vencido seus
oponentes no delta do Nilo, seu controle não estava completamente consolidado, principalmente
porque alguns dos líderes do Baixo Egito simplesmente possuíam uma grande autonomia, e
estavam livres para se auto-governarem. Essa situação, entretanto, mudaria com o sucessor de
Piye, Shabaka, que conquistou todo o vale do Nilo em 710 a.C., finalmente estabelecendo os
faraós núbios no controle não só de toda a região do Egito, mas também da Núbia, consolidando
o maior império egípcio já visto desde o Novo Império, em 1550 a.C., além de efetivamente
reunificarem o Egito, dividido desde a morte do faraó Ramssés XI em 1069 a.C., no fim do
Novo Império. Os principais rivais da 25ª dinastia egípcia eram os assírios, que estavam em
processo de expansão de seu império. O confronto com os assírios acabou marcando o reinado
de um século da 25ª dinastia, além da construção de várias pirâmides na região do Sudão.
Arqueiros núbios no cerco de Herakleiopolis
A tentativa núbia de ganhar territórios no Oriente Médio durante os reinados de Sargão
II e Sennacherib da Assíria acabou se transformando em um fracasso, o que acabou levando a
uma retaliação por parte dos assírios a partir do reinado de Assaradão e Assurbanipal. Os
assírios usavam armas de ferro contra os egípcios e núbios, que usavam principalmente o
bronze, menos resistente, e não tinham transitado para o uso do ferro.
As ofensivas dos reis assírios contra os faraós núbios foi altamente eficaz, o que
acabou não só concretizando a expulsão dos núbios do Egito, no reinado de Tantamani, mas
também consolidou a 26ª dinastia em 656 a.C., que era submissa aos líderes assírios. A 26ª
dinastia seria a última dinastia nativa a governar o Egito antes da anexação pelos persas. Os
núbios que fugiram do Egito acabaram estabelecendo um novo reino em Napata, e, em 590 a.C.,
Meroe.
O reino de Meroe prosperou na região e tinha muitas similaridades com a cultura
egípcia, além de possuírem traços de uma cultura própria. Após conflitos com os romanos em
23 a.C., resultados de sucessivos saques em cidades do recém-anexado Egito, a segunda cidade
mais importante do reino, Napata, foi saqueada por Publius Petronius e, após o saque e a fuga
do príncipe, o reino se dividiu em várias facções que lutavam pelo controle da região. A luta
entre as facções finalmente acabou quando um reino estrangeiro, o Reino de Axum, ancestral da
Etiópia, controlaria a região, pondo um fim na independência dos núbios. Os arqueiros núbios,
entretanto, continuaram sendo usados pelos persas e inclusive chegaram a lutar contra os
islâmicos, no século VIII, ainda mostrando sua supremacia com o arco.
Soldado assírio lutando contra um arqueiro núbio
Baseando seu alto renome apenas em sua proeza com o arco e flecha, os arqueiros
núbios foram fundamentais no reconhecimento e estabelecimento militar da Núbia como uma
potência singular na África. Servindo tanto aos faraós nativos do Egito quanto aos faraós
conterrâneos, os arqueiros da Núbia lutaram pela sua soberania e pela expansão do seu já
territorialmente extenso império e, com a sua exímia habilidade, se tornaram um símbolo
designatório de toda a sua região.
Fontes:
WISE, T. Ancient armies of the Middle East. Reino Unido: Osprey Publishing, 1981. 48 p.
TÖRÖK, L. The kingdom of Kush: handbook of the napatan-meroitic civilization. Países
Baixos: Brill Academic Publishers, 1997. 586 p.
EMBERLING, G. Nubia: ancient kingdoms of Africa. Estados Unidos: Princeton University
Press, 2011. 64 p.
DRAPER, R. The black pharaohs. Disponível em
< http://ngm.nationalgeographic.com/print/2008/02/black-pharaohs/robert-draper-text >
Acessado em 20 de Novembro de 2015.

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