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MEMBRANAS BIOLÓGICAS

A membrana plasmática é o único invólucro celular presente


em todos os tipos celulares. Tem como função primordial a
separação do meio intracelular do extracelular.

A membrana está formada basicamente por lípidos, proteínas


e, em menor proporção, por hidratos de carbono. Apresenta
propriedades de fluidez e de impermeabilidade que a capacitam para
isolar à célula do meio (embora permita a passagem seletiva de
substâncias) e para realizar determinadas funções.

As membranas biológicas são, sob o ponto de vista estrutural,


bicamadas de lípidos anfipáticos, isto é, apresentam uma
extremidade hidrofílica ou polar e uma extremidade hidrofóbica ou
não polar, onde se intercalam moléculas proteicas. São estruturas
termodinamicamente estáveis cuja manutenção não requer hidrólise
de ATP.

Por ME de transmissão de secções finas de membrana tratadas


com tetróxido de ósmio, revela a estrutura de camada dupla
formadas por duas linhas eletrodensas (negras) paralelas, separadas
entre si por um fino intervalo eletrotransparente (claro). Esta linha
clara intermédia corresponde, pelo menos em parte, à região
hidrofóbica da bicamada lipídica. No seu conjunto, este perfil
trilaminar é denominado por “unidade de membrana”, a sua
espessura varia entre 6 a 9 nm.

Funções da membrana plasmática

As membranas não são simples barreiras, já que:

1. Definem a extensão da célula e estabelecem os seus limites.

2. Constituem barreiras seletivamente permeáveis.

3. Controlam as interações da célula com o meio extracelular.


4. Estão envolvidas nas respostas a sinais externas à célula.

Estrutura geral das membranas

Apesar de serem componentes da célula que estão sujeitos a


grande especialização, todas as membranas biológicas apresentam
uma estrutura geral que lhes é comum: una camada muito fina de
moléculas lipídicas e proteicas, que permanecem unidas
fundamentalmente por forças não covalentes (van der Waals) que
lhes confere ESTABILIDADE. O seu elemento fundamental é a
bicamada de fosfolípidos, todos de natureza anfipática, os quais
fazem com que a membrana seja impermeável à água e a moléculas
solúveis em meio aquoso.

É fácil de ver com o ME, mas para revelar detalhes da sua


organização são necessárias técnicas especializadas, como a difração
de raios X e a criofratura.

Lípidos da membrana

Uma biomembrana típica está formada a partir de


glicerofosfolípidos, esfingolípidos e esteroides. Embora estas três
classes de lípidos são anfipáticos, diferem nas suas estruturas
químicas, abundância e funções da membrana.

Glicerofosfolípidos

Os lípidos de membrana mais abundantes são os


glicerofosfolípidos. Os glicerofosfolípidos da membrana são ésteres
do glicerol em que dois radicais alcoólicos se encontram esterificados
com ácidos gordos (16 a 18 carbonos), estando um dos álcoois
primários sempre esterificado com ácido fosfórico. Além disso,
possuem sempre um amino álcool esterificado a um dos oxidrilos do
ácido fosfórico. Em geral, uma das caudas apresenta uma ou mais
ligações duplas cis (insaturada) e a outra normalmente não
apresenta duplas ligações (saturada). Cada dupla ligação cis gera uma
suave curvatura da cadeia. As diferenças de comprimento e grau de
saturação entre as caudas hidrocarbonadas são importantes porque
afetam à capacidade das moléculas de glicerofosfolípidos para
empacotar-se, determinando por tanto a fluidez da membrana.

Os glicerofosfolípidos das membranas são, em geral, ricos em


ácidos gordos polinsaturados, pelo que, em vez de constituírem
estruturas rígidas e altamente ordenadas dão origem a estruturas
menos ordenadas e mais flexíveis.

A extremidade dos glicerofosfolípidos de membrana de


natureza hidrocarbonada é apolar, hidrofóbica enquanto a
extremidade contendo os radicais de fosfato e a base azotada é
polar, hidrofílica (transportando em geral carga elétrica quando em
solução aquosa).

Devido à sua forma cilíndrica, num ambiente aquoso a maioria


dos glicerofosfolípidos de membrana formam espontaneamente
bicamadas. Nesta distribuição energeticamente mais favorável, as
cabeças hidrofílicas estão em contacto com a água na superfície da
bicamada e as caudas hidrofóbicas estão protegidas da água no
interior da estrutura.

Da composição glicerofosfolipídica das membranas das células


eucarióticas destacam-se em termos quantitativos, 4 moléculas:
fosfatidilcolina, fosfatidilserina, esfingomielina e
fosfatidiletanolamina. Alguns dos glicerofosfolípidos que se
encontram em pequena concentração na membrana plasmática
podem ter, no entanto, grande relevância na fisiologia da célula. É
este o caso dos fosfolípidos de inositol, que são elementos cruciais
em mecanismos de transmissão de sinal para o interior da célula.

Os plasmalogénios são um grupo de fosfolípidos que contêm


uma cadeia de ácidos gordos, unida ao glicerol por uma ligação éster
e uma longa cadeia de hidocarboneto, unida ao glicerol por uma
ligação éter (C-O-C). Estas moléculas constituem a volta do 20% do
conteúdo total de fosfoglicéridos nos seres humanos. A sua
abundância varia conforme os tecidos e as espécies, mas é
essencialmente alta no cérebro humano, na mielina encontramos
plasmalogénios de etanolamina, e no tecido do coração,
plasmalogénios de colina.

Esfingolípidos

Uma segunda classe de fosfolípidos de membrana apresenta


uma estrutura análoga à dos glicerofosfolípidos (uma cabeça polar e
duas caudas apolares) mas não contêm glicerol e, no seu lugar está
composta por esfingosina, um aminoálcool com uma cadeia de 18
carbonos hidrocarbonada. Apresentam um ácido gordo de cadeia
longa aderido ao grupo amino da esfingosina, o conjunto é chamado
de ceramida. Existem com ou sem grupo fosfato: fosfoesfingolípidos
e glucoesfingolípidos (com hidratos de carbono). A esfingomielina é
o esfingolípido mais abundante.

Outros esfingolípidos são glicolípidos anfipáticos cujas cabeças


polares são açúcares. Estes lípidos não contêm ácido fosfórico. O
glucosilcerebrósido, o glucoesfingolípido mais simples, contém uma
unidade de glucose única ligada à esfingosina. Nos gangliosídeos,
uma ou duas cadeias de açúcares que contém grupos de ácido siálico
(confere carga negativa) estão aderidas à esfingosina. Os glicolípidos
constituem 2-10% do total de lípidos nas membranas plasmáticas e
são mais abundantes no tecido nervoso. Localizam-se na
monocamada externa das membranas; especialmente, nas das
células nervosas. A fração glucídica forma parte do glicocálice. São os
que apresentam maior assimetria. Esta completa assimetria dos
glicolípidos na bicamada deve-se ao facto dos resíduos sacarídeos
serem adicionados às moléculas lipídicas no lúmen do complexo de
Golgi, o qual topograficamente, é um espaço exoplasmático.

Têm importantes funções nas interações da célula com o


entorno. Estes compostos formam parte dos recetores moleculares.
Auxiliam a proteção da membrana e participam no reconhecimento
celular. A porção glucídica de determinados glicolípidos e
glicoproteínas define os grupos sanguíneos humanos.

❖ Seja qual for a sua função normal, alguns glicolípidos são locais
de entrada de certas toxinas bacterianas. Assim, o gangliosídeo
GM1 atua como recetor de superfície celular para a toxina
bacteriana que provoca a diarreia debilitante característica da
cólera. A toxina colérica une-se e penetra só nas células que
têm GM1 na sua superfície, entre elas as células epiteliais
intestinais. A entrada na célula produz um aumento prolongado
na concentração de AMP cíclico, que pela sua vez provoca uma
grande saída de Na+ e de água do intestino.

Colesterol

A seguir aos fosfolípidos é a molécula lipídica que se apresenta


em maior abundância, até a proporção de mais de uma molécula de
colesterol por cada molécula de fosfolípido. O colesterol é distribuído
equitativamente nos dois lados da bicamada.

Forma parte das membranas celulares das células animais, e


nelas regula a sua fluidez. As membranas das células procarióticas, e
também as membranas internas de mitocôndrias e cloroplastos, são
totalmente desprovidas de colesterol. Em células eucarióticas de
plantas e fungos predominam os fitoesteróis estigmaesterol e
ergosterol, respetivamente.

É una molécula anfipática, com uma região hidrofílica pequena,


representada pelo grupo hidroxilo, e uma região hidrofóbica, o resto
da molécula.

A molécula de colesterol é volumosa e rígida, formada por 4


anéis hidrocarbonados. Situa-se entre os fosfolípidos da bicamada
com o grupo polar junto às cabeças dos fosfolípidos, enquanto a
estrutura anelar, rígida e hidrofóbica, interatua com as caudas
hidrocarbonadas e as imobiliza. Reduz a sua mobilidade, pelo que
diminui a fluidez imobilizando os primeiros carbonos das cadeias
hidrocarbonadas. Torna a membrana menos deformável e menos
fluida, a estabiliza.

O colesterol, às elevadas concentrações que se apresenta na


maioria das membranas plasmáticas das células eucariotas, também
não permite que as cadeias hidrocarbonadas se juntem e cristalizem
a baixas temperaturas. Assim, o colesterol inibe possíveis transições
de fase.

As moléculas de colesterol têm também maior facilidade de


saltarem entre os dois folhetos da membrana (movimento de flip-
flop) do que os fosfolípidos.

Características da membrana

Selagem e fusão

As mesmas forças que levam os fosfolípidos a formar


bicamadas lhes conferem propriedades de selagem. Uma pequena
rotura da bicamada cria um extremo livre em contacto com a água;
os lípidos reorganizam-se imediata e espontaneamente, eliminando
este extremo livre energeticamente desfavorável. Nos sistemas
biológicos, esta propriedade é crucial, pois a existência de aberturas
nas membranas celulares poderia ser letal. Esta capacidade de
selagem é essencial para manter a integridade das células numa série
de processos que envolvem a fusão de membranas, como a divisão
nuclear, endocitose ou exocitose.

As membranas têm uma elevada capacidade para unir-se. Por


exemplo, quando uma vesícula se aproxima à membrana plasmática,
a uma cisterna ou, inclusive, a outra vesícula, ao entrar em contacto
ambas superfícies, as duas membranas fusionam-se, constituindo a
partir de esse momento uma única membrana. É este o princípio no
qual se baseia a administração de fármacos dentro de lipossomas,
que são vesículas fosfolipídicas artificiais. Quando o lipossoma se
aproxima à célula alvo, a membrana do lipossoma fusiona-se com a
membrana plasmática libertando o seu conteúdo diretamente no
citoplasma da célula.

Assimetria

A assimetria da bicamada lipídica é importante para a sua


função.

A assimetria expressa-se pela diferente composição molecular


observada nas duas metades da membrana: os fosfolípidos e
proteínas não se encontram distribuídos de forma equivalente nos
dois folhetos da membrana, estando os glicolípidos presentes apenas
no folheto exoplasmático da bicamada fosfolipídica.

Em muitas membranas a composição lipídica das duas


monocamadas da bicamada lipídica é muito diferente. A assimetria
estrutural dos lípidos manifesta-se através de uma assimetria
funcional.

As células animais aproveitam a assimetria de fosfolípidos das


suas membranas para distinguir entre células vivas e células mortas.
Quando as células animais morrem, a fosfatidilserina, que costuma
estar na monocamada citosólica da bicamada lipídica, passa
rapidamente à monocamada extracelular. A fosfatidilserina exposta
na superfície da célula atua como um sinal que induz às células
vizinhas a fagocitar e digerir a célula morta.

Fluidez

As membranas celulares são estruturas dinâmicas, fluidas e a


maioria das suas moléculas são capazes de se mover no plano da
membrana.

Mobilidade dos componentes das membranas

As moléculas de fosfolípidos das bicamadas artificiais


raramente migram de um lado a outro da bicamada. Este fenómeno
denominado difusão transversal ou flip-flop ocorre menos de uma
vez por mês para qualquer molécula lipídica, devido à dificuldade que
possui a cabeça polar para atravessar o meio hidrofóbico do interior
da membrana e para que ocorra deve estar mediado por enzimas
denominadas flipases. Os glicolípidos não têm capacidade de fazer
movimento de flip-flop.

Pelo contrário as moléculas lipídicas trocam facilmente o seu


lugar com as moléculas vizinhas “dentro” de cada monocamada (1
m/segundo) (velocidades de difusão bicamada lipídica). Isto
provoca uma rápida difusão lateral, com um coeficiente de difusão
(D) de aproximadamente 10-8 cm/sg (velocidade de difusão na
membrana plasmática), o que significa que uma molécula lipídica
média difunde o comprimento de uma grande célula bacteriana (~1
m) em, aproximadamente, 1 segundo. Esta velocidade de difusão
indica que a viscosidade da bicamada é 100 vezes maior que a da
água; aproximadamente a mesma viscosidade do azeite. Além disso,
estes estudos indicam que as moléculas de lípidos rodam
rapidamente em torno de seus eixos longitudinais (rotação) e as suas
cadeias hidrocarbonadas são flexíveis (flexão).

A capacidade dos lípidos para difundir lateralmente numa


bicamada indica que podem comportar-se como um fluido. O grau de
fluidez depende da sua composição lipídica, a estrutura das caudas
hidrófobas e a temperatura. O comprimento das cadeias de ácidos
gordos, assim como a percentagem de ácidos gordos insaturados,
determinam, em grande parte, a fluidez das membranas.

As forças de van der Waals e o efeito hidrófobo provocam a


agregação das caudas não polares dos fosfolípidos. As cadeias
saturadas longas dos ácidos gordos tendem a agrupar-se, apertando-
se firmemente até adquirir um estado semelhante ao de um gel. Os
fosfolípidos com cadeias de ácidos gordos curtas, que têm menos
superfície de interação, formam bicamadas mais fluídas. De igual
forma, devido às curvaturas das cadeias de ácidos gordos
insaturadas, formam-se interações de van der Waals menos estáveis
e, por consequência, mais fluidas com outros lípidos que as das
bicamadas de cadeias saturadas. Por tanto, quanto maior seja o grau
de insaturação, maior é a fluidez da membrana. Quando é aquecida
uma bicamada altamente ordenada tipo gel, a mobilidade cada vez
maior das caudas dos ácidos gordos faz com que sofram uma
transição a um estado mais fluido e desordenado.

A fluidez das membranas celulares deve ser regulada com


precisão. Algumas atividades enzimáticas e alguns processos de
transporte podem parar quando a viscosidade da bicamada aumenta,
experimentalmente, para além de um nível limiar.

As cadeias hidrocarbonadas dos fosfolípidos e glicolípidos de


membrana são os principais determinantes dessa fluidez de
membrana, embora também a modulam o tamanho e a carga dos
grupos polares destas moléculas e o teor em esteróis da membrana.

Às temperaturas fisiológicas habituais, o interior hidrófobo das


membranas naturais apresenta baixa viscosidade e consistência
líquida mais do que consistência de gel. O colesterol é também um
importante regulador da fluidez da membrana. Devido às suas
características estruturais, o colesterol pode inserir-se na bicamada
lipídica com o seu longo eixo perpendicular ao plano da membrana, a
sua estrutura angular, rígida e hidrofóbica, interatua com as caudas
hidrocarbonadas e as imobiliza, tornando as membranas mais rígidas
e aumentando a sua estabilidade. No entanto, a concentrações
baixas de colesterol, o anel esteróide separa e dispersa as caudas
fosfolipídicas, o que provoca que as regiões internas da membrana se
tornem ligeiramente mais fluidas.
❖ Bactérias, leveduras e outros organismos cujas temperaturas
flutuam com a do entorno controlam a composição de ácidos
gordos dos seus lípidos de membrana mentando uma fluidez
relativamente constante. Se a temperatura diminui são
sintetizados ácidos gordos com mais duplas ligações cis, para
evitar uma perda de fluidez da bicamada devido à diminuição
da temperatura.

Balsas de lípidos (Lipid rafts)

De acordo com o modelo de mosaico fluido, a fluidez da


membrana permite uma rápida difusão lateral dos lípidos e
proteínas. No entanto, a sua distribuição não é aleatória, podendo
estar organizada em domínios distintos, microdomínios ou balsas
lipídicas, nas quais a acumulação de determinados lípidos de
membrana retém proteínas envolvidas na sinalização celular. Estes
microdomínios apresentam uma composição diferente em lípidos e
proteínas, e não se misturam entre si, como é o caso do domínio
apical e basolateral das células epiteliais da membrana plasmática
das células eucariotas.

Um destes microdomínios denominado lipid raft consiste na


associação entre moléculas de esfingolípidos (que se encontram,
predominantemente, na face externa da membrana plasmática) e de
colesterol. Os lipid raft são pequenos domínios (10 a 200 nm),
heterogéneos e altamente dinâmicos, e compartimentalizam
processos celulares. Devido à sua composição e empacotamento
(interações das cadeias longas e saturadas dos esfingolípidos com os
anéis do colesterol), os lipid rafts de esfingolípidos-colesterol
apresentam uma maior espessura e um arranjo mais ordenado
(menos fluido), em comparação com outras regiões da membrana
ricas em fosfolípidos.

Relativamente às suas propriedades dinâmicas, os lipid rafts


podem também apresentar um movimento de difusão lateral na
membrana, comportando-se como balsas de esfingolípidos líquidos
ordenados, à deriva num mar de fosfolípidos líquidos mais
desordenados. Por outro lado, as proteínas de membrana podem
entrar e sair dos lipid rafts. Deste modo, a presença transiente destas
proteínas nos rafts permite o agrupamento necessário para que
ocorram alguns processos celulares importantes, tais como
endocitose e sinalização transmembrana mediada por recetores.

❖ Alguns vírus como o vírus influenza, o vírus da imunodeficiência


humana (VIH), parecem utilizar os lipids rafts como locais de
entrada e saída nas células não infetadas e infetadas,
respetivamente.

Proteínas da membrana

Estima-se que cerca de 30% do genoma dos organismos


codifica para proteínas membranares, o que ilustra a sua importância
em inúmeros processos essenciais para as células.

A massa de uma proteína de tamanho médio é 40 a 60 vezes


superior à massa de um fosfolípido. Na maioria das membranas
celulares, as proteínas contribuem para cerca da metade da sua
massa total, o que permite concluir que as proteínas estão como que
dissolvidas num mar de pequenas moléculas lipídicas que, em
número, lhes são dezenas de vezes superiores.

A massa relativa da membrana devida às proteínas tem um


largo espectro de variação segundo o tipo celular e também entre as
membranas dos vários organelos intracelulares. Assim, as proteínas
são escassas na superfície mielínica (menos de um 25% da massa da
membrana), já que esta membrana tem como função isolar a célula
nervosa de modo a que a condução elétrica se dê com a maior
eficácia. Pelo contrário, as proteínas apresentam-se em elevada
densidade na membrana interna das mitocôndrias e cloroplastos
(aproximadamente, 75% da sua massa), já que esta membrana está
envolvida no transporte de energia.
As proteínas de membrana podem classificar-se em 2 tipos:

Integrais ou transmembranares: com 3 domínios. Associam-se


fortemente à membrana através de interações hidrofóbicas. Na
maioria, a cadeia polipeptídica atravessa a bicamada lipídica sob a
forma de hélice  ou por várias folhas  Só podem ser extraídas da
membrana com a utilização de solventes orgânicos, agentes
desnaturantes ou detergentes que rompem a estrutura da bicamada
lipídica.

Exemplos de proteínas transmembranares: glicoforina A, hélice


alfa unipasso; bacteriorrodopsina, hélice alfa de multipasso (7
vezes); canais iónicos também multipasso; porinas, lâmina beta
multipasso (16 lâminas).

Muitas destas proteínas são glicosiladas do lado externo da


membrana (em células eucariotas).

Periféricas: unem-se de maneira indireta mediante ligações


fracas com proteínas integrais de membrana ou diretamente
mediante interações com as cabeças dos lípidos. Estas ligações
envolvem, normalmente, interações eletrostáticas e pontes de
hidrogénio, que podem ser quebradas com concentrações crescentes
de sal ou alterações de pH.

Boa parte das proteínas de membrana, principalmente as que


se expressam em espaços exoplasmáticos, contém resíduos
sacarídeos e são, portanto, glicoproteínas. Tal como as moléculas
lipídicas da membrana, as proteínas estão sujeitas a movimentos de
rotação e de deslocamento lateral e, tal como acontece com os
glicolípidos, não lhes é permitido movimento de flip-flop entre os
dois folhetos da bicamada.

Enquanto os lípidos exercem, principalmente, uma função


estrutural, as proteínas não desempenham apenas um papel
estrutural já que também são responsáveis das funções específicas
das membranas biológicas.

As proteínas integrais estão envolvidas numa série de


processos celulares:

1. Servem de transportadores e canais iónicos.

2. Servem como recetores de hormonas, neurotransmissores e


fatores de crescimento.

3. Essenciais nos processos de fosforilação oxidativa e


fotossíntese.

4. Essenciais no reconhecimento entre célula-célula e


antigénio-célula no sistema imunitário.

5. Desempenham um papel importante na fusão de


membranas que acompanha a exocitose, endocitose e
entrada de alguns vírus na célula hospedeira.

Algumas proteínas periféricas desempenham um papel


importante numa série de processos biológicos que envolvem
membranas, tais como:

1. Transmissão de sinais através da membrana.

2. Regulação de enzimas membranares.

3. Ligação a matrizes extracelulares na face exterior da


membrana e a elementos do citoesqueleto na sua face
interior.

4. Restrição da difusão de componentes membranares.

A membrana do glóbulo vermelho

Existe mais informação da membrana plasmática do glóbulo


vermelho humano que de qualquer outra membrana de células
eucariotas. Os glóbulos vermelhos podem ser obtidos em grande
número relativamente pouco contaminados por outros tipos
celulares. Dado que não têm núcleo nem organitos intracelulares, a
única membrana que apresentam é a membrana plasmática que
pode ser isolada sem contaminação de membranas internas.

Glóbulos vermelhos tratados com um meio hipotónico


permitem preparar membranas celulares de eritrócitos vazias ou
“fantasmas”.

As proteínas da membrana plasmática do glóbulo vermelho


humano estudadas mediante eletroforese em gel de poliacrilamida
com SDS mostram aproximadamente 15 bandas proteicas principais,
cujos pesos moleculares oscilam entre 15.000 e 250.000 daltons. Três
dessas proteínas, a espectrina, a glicoforina e a banda 3, constituem
mais do 60% (em peso) da proteína total. Cada proteína encontra-se
situada de maneira diferente na membrana.

Glicoforina A: é a mais abundante proteína de membrana do


eritrócito. É uma proteína transmembrana que possui só uma hélice
. Uma hélice  típica inserida na membrana composta de 20-25
aminoácidos hidrófobos. A maior parte dos hidratos de carbono da
superfície do eritrócito estão unidos a moléculas de glicoforina.

Proteína banda 3: é uma proteína transmembrana de múltipla


passagem, que atravessa umas 12 vezes a membrana, altamente
dobrada. A sua função principal é de grande importância na função
de transportar CO2 desde os tecidos até os pulmões. Atua como um
transportador de aniões, que permite que o bicarbonato (HCO3-)
atravesse a membrana, em troca com o Cl-.

Espectrina: proteína periférica de membrana unida ao lado


citosólico da bicamada lipídica. É o principal componente da rede
proteica (o citoesqueleto) do interior da membrana celular. Mantem
a integridade estrutural e a forma bicôncava do eritrócito. Este
citoesqueleto permite ao eritrócito resistir o estresse que sofre a sua
membrana quando é empurrado pelos capilares sanguíneos. Os seres
humanos com anomalias genéticas na síntese de espectrina
apresentam anemia e glóbulos vermelhos esféricos e frágeis.

BIBLIOGRAFIA

Alberts, et al, 2004 – Biología Molecular de la Célula. 4ª ed. Omega

Azevedo, C, & C.E. Sunkel, 2012 – Biologia Celular e Molecular. 5ª ed.


Lidel

Calvo, A., 2015 – Biología celular biomédica. 1ª ed. Elsevier

Lodish et al, 2005 – Biología Celular y Molecular. 5ª ed. Médica


Panamericana

Plaza, C. et al. 2009. Biología. Bachillerato 2. Anaya

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