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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO 6ª

VARA CRIMINAL DA CAPITAL

Processo n° ____._____.._____

CAIO, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por intermédio de seu


advogado infra-assinado, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência apresentar a
sua RESPOSTA À ACUSAÇÃO, nos termos dos arts. 396-A e seguintes do Código de
Processo Penal, pelos fundamentos a seguir expostos:

Nestes termos, pede deferimento


São Paulo, __ de ____ de 2023

Advogada
OAB/SP ____.__
RESPOSTA ACUSAÇÃO
(art. 396 e art. 396-A do CPP)

I. DOS FATOS

Narra os fatos da inicial que,


Sem recursos financeiros e necessitando saldar uma dívida contraída junto a uma
instituição bancária, cujas taxas de juros eram consideravelmente elevadas, José solicita a
Caio um empréstimo no valor de R$5.000,00 (cinco mil reais). Como forma de garantia, ele
assina uma nota promissória pelo mencionado montante, com vencimento marcado para o dia
15 de novembro de 2022.

No começo de dezembro daquele mesmo ano, em um encontro com José na


presença de Paulo, Caio cobra a quantia devida, sendo que José assegura que liquidará o
débito até as celebrações do ano novo. Já em janeiro, em outra ocasião na presença de
Juventino, Caio volta a cobrar o pagamento, mas José, lamentavelmente, declara não dispor
de qualquer quantia para quitar o débito, mencionando a perda do emprego e a ausência de
fonte de renda.

Entretanto, Caio descobre que José inaugurou uma barbearia e desfruta de boa
clientela. Indignado, Caio localiza o endereço da barbearia e confronta José. Este esclarece
que precisaria de apenas mais alguns dias, afirmando que boa parte do montante devido já
estava reservada, faltando apenas reunir mais R$1.000,00 (mil reais).

Desconfiado da veracidade das alegações de José, Caio permanece à espreita,


aguardando o fechamento do estabelecimento. Assim, ao final de um dia de trabalho, na tarde
do dia 25 de fevereiro de 2023, enquanto José se dirige para casa, Caio, ao arrombar a porta
do local, invade a barbearia. No interior, encontra R$4.000,00 (quatro mil reais) guardados
em uma gaveta, apropria-se do dinheiro como quitação parcial da dívida e deixa um bilhete
confessando ter levado a quantia devida, além de manifestar a expectativa de receber o
restante até o próximo mês. A autoria é confirmada pelas filmagens da câmera de vigilância
instalada na barbearia.

No dia seguinte, ao descobrir seu estabelecimento comercial arrombado e com o


bilhete de Caio e as gravações em mãos, José dirige-se imediatamente à Delegacia de Polícia
mais próxima e registra um Boletim de Ocorrência. Iniciado o Inquérito Policial e realizadas
as diligências necessárias, confirmou-se a materialização do evento delituoso. O Ministério
Público, então, denunciou Caio pelas infrações descritas no art. 155, §4º, inciso I, do Código
Penal (furto qualificado pelo rompimento de obstáculo). A denúncia foi oferecida e aceita
pelo juízo da 6ª Vara Criminal da Capital, sendo Caio devidamente citado em 08 de setembro
de 2023.

II. DO DIREITO

2.1. Atipicidade do Crime de Furto Qualificado

A postulação sumária de absolvição com base na alegação de que "o evento


narrado claramente não configura um crime", conforme previsto no art. 397, III do Código
de Processo Penal (CPP). Isso se fundamenta na inexistência do elemento essencial do tipo
penal descrito no art. 155 do Código Penal, uma vez que o réu não estaria subtraindo um
objeto "alheio" móvel. Portanto, faz-se necessário pleitear a atipicidade da conduta
relacionada ao crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo.

Adicionalmente, cabe destacar que a defesa sustenta que os elementos narrados


não configuram de forma alguma a prática de um crime, reforçando a fundamentação para a
absolvição sumária do réu.

Nisto, a defesa sustenta a absolvição sumária pelo "fato narrado evidentemente


não constituir crime", nos termos do art. 397, III do CPP. Argumenta-se que a ausência de
elementar do tipo penal do art. 155 do Código Penal, por não estar o réu subtraindo "coisa
alheia" móvel, configura a atipicidade do crime de furto qualificado pelo rompimento de
obstáculo.

2.2. Do erro na Capitulação Jurídica do Fato

A conduta descrita, em tese, está inserida no âmbito do crime tipificado no art.


345 do Código Penal, configurando o exercício arbitrário das próprias razões. Isso justifica a
subsequente solicitação de rejeição da denúncia. Vale ressaltar que o referido crime é de ação
penal privada, conforme disposto no parágrafo único do mencionado artigo, o que implica na
ilicitude da atuação do Ministério Público como parte legítima para instaurar a ação penal
(art. 100, §2º do Código Penal), configurando a ausência da condição da ação (art. 395, II).

Nesse contexto, a defesa argumenta que a classificação jurídica inadequada da


conduta compromete a legitimidade do Ministério Público, tornando-o parte ilegítima para a
proposição da ação penal, o que justifica a rejeição da denúncia.

Nisto, a defesa alega um equívoco na capitulação jurídica do fato, propondo a


rejeição da denúncia. Sustenta que a conduta, em tese, subsume-se ao crime do art. 345 do
Código Penal, exercício arbitrário das próprias razões, de ação penal privada. Argumenta a
ilegitimidade do Ministério Público para propositura da ação penal, conforme parágrafo único
do referido artigo, configurando falta de condição da ação (art. 395, II).

2.3. Do Reconhecimento da Decadência

No contexto deste crime de Ação Penal Privada, a apresentação da Queixa-crime


está sujeita a um prazo decadencial de 6 (seis) meses, contados a partir do momento em que
se tem conhecimento da autoria. Portanto, considerando que o delito ocorreu em 25 de
fevereiro de 2021 e a autoria foi identificada no dia subsequente, mediante a confissão de
Caio por meio de um bilhete, além da filmagem de sua ação captada por uma câmera de
vigilância, o prazo para a oferta da Queixa-Crime se encerraria em 25 de agosto de 2021.
Assim sendo, é imperativo o reconhecimento da extinção da punibilidade de Caio em virtude
da decadência.

A defesa invoca o reconhecimento da decadência com base no art. 103 e art. 107,
IV do Código Penal. Salienta que, tratando-se de crime de Ação Penal Privada, o prazo
decadencial para oferecimento da Queixa-crime é de 6 meses a contar do conhecimento da
autoria. Argumenta que, diante da confissão de Caio por meio de um bilhete e da filmagem
de sua ação por câmera de vigilância, o prazo para oferecimento da Queixa-Crime
encerrou-se em 25 de agosto de 2021, extinguindo a punibilidade de Caio pela decadência.

III. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Diante do exposto, requer a defesa do requerente:

a) O reconhecimento da atipicidade do crime de furto qualificado (art.


397, inciso III do CPP);

b) A rejeição da denúncia (art. 395, inciso II do CPP);

c) O reconhecimento da extinção de punibilidade pela decadência do


direito de queixa com relação ao crime de exercício arbitrário das
próprias razões (art. 397, inciso IV do CPP).

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