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1. INTRODUÇÃO
1. Qual deve ser a DIB da aposentadoria por invalidez, (a) quando concedida pelo
Poder Judiciário, após indeferida na via administrativa pelo Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), bem como (b) nas circunstâncias em que a autarquia
previdenciária federal se omite do dever de processar e/ou decidir, no prazo legal,
o pleito administrativo do segurado?
2. Qual deve ser a DIB da aposentadoria por invalidez nas situações em que é
inexigível a antecedente provocação na esfera administrativa do INSS, já que
notório e reiterado o entendimento contrário da Administração Previdenciária ao
pleito do segurado-administrado-jurisdicionado?
6. Quais são os critérios para a aplicação das regras de transição divisadas nos
incisos IV e V daquele Tema de Repercussão Geral n.º 576?
Portanto, assiste razão à Marisa Ferreira dos Santos ao salientar, com base na
jurisprudência atual do STJ, que, em caso de benefício requerido do Poder
Judiciário, após indeferido na via administrativa, o termo inicial será fixado “na
data do requerimento administrativo (DER), se indeferido o benefício
administrativo e o pedido judicial for julgado procedente” (SANTOS, 2018, p.
255, grifos nossos).
[...] Caso seja ajuizada a ação sem que tenha havido prévio requerimento
administrativo e sem que este pedido tenha sido indeferido, deverá o juiz
extinguir o processo sem resolução do mérito por ausência de interesse
de agir, considerando que havia a possibilidade de o pedido ter sido
atendido pelo INSS na via administrativa. (CAVALCANTE, 2018, p. 554)
Nesse passo, com esteio na análise conjugada das atuais (ano-base: 2018)
orientações jurisprudenciais do STF e do STJ acima referenciadas, formulam-se,
para fins de exemplificação, as seguintes hipóteses:
Em outras palavras:
32. Assim, uma vez requerido o benefício, se for concedida uma prestação
inferior à devida, está caracterizada a lesão a direito, sem que seja
necessário um prévio requerimento administrativo de revisão. A redução
ou supressão de benefício já concedido também caracteriza, por si só,
lesão ou ameaça a direito sindicável perante o Poder Judiciário. Nestes
casos, a possibilidade de postulação administrativa deve ser entendida
como mera faculdade à disposição do interessado.
Fábio Moreira Ramiro, ao comentar a Súmula TNU n.º 22, clarifica que a lógica
por ela explicitamente adotada para a data do início do benefício de prestação
continuada (BPC) no âmbito da Assistência Social em face de incapacidade
também é aplicável para a data do início do benefício na seara do Regime Geral de
Previdência Social (auxílio-doença e aposentadoria por invalidez) em face também
de incapacidade:
Recapitule-se:
1. De um lado, existe a orientação jurisprudencial do STJ consolidada no
Recurso Especial n.º 1.369.165/SP, julgado em 26 de fevereiro de 2014
(Relator, Ministro Benedito Gonçalves), cujo julgamento ensejou, à
época, a Tese do Tema de Recurso Repetitivo n.º 626 (“A citação válida
informa o litígio, constitui em mora a autarquia previdenciária federal e
deve ser considerada como termo inicial para a implantação da
aposentadoria por invalidez concedida na via judicial quando ausente a
prévia postulação administrativa.”), que, por sua vez, resultou no
advento, pouco mais de dois anos depois, em 22 de junho de 2016, da
Súmula STJ n.º 576 (“Ausente requerimento administrativo no INSS, o
termo inicial para a implantação da aposentadoria por invalidez
concedida judicialmente será a data da citação válida.”) (BRASIL,
2018a; BRASIL, 2018b; BRASIL, 2018g, grifos nossos).
Tese
Obs: Redação da tese aprovada nos termos do item 2 da Ata da 12ª Sessão
Administrativa do STF, realizada em 09/12/2015. (BRASIL, 2018h, grifos
nossos)
11. Quanto aos juros, defiro parcialmente o pedido do INSS para que estes
sejam calculados nos termos do art. 1º-F, da Lei 9.494/97, com redação
dada pelo art. 5º da Lei 11.960/09, combinado com a Lei 8.177/91 e a Lei
12.703/12, que corresponde ao que é definido pelo Manual de Cálculos da
Justiça Federal.
6. CONCLUSÃO
1. Em geral, a data da entrada do requerimento administrativo (DER) no âmbito
do INSS é a data do início do benefício (DIB) de aposentadoria por invalidez no
RGPS, quando concedida pelo Poder Judiciário após haver sido indeferida na
via administrativa pela autarquia previdenciária (DIB=DER).
2.3 Todavia, como crítica a esse constructo pretoriano, pondera-se que, nas
situações em que o INSS se recusou a receber em seu serviço de protocolo o
requerimento administrativo, bem como nas circunstâncias nas quais se omitiu do
dever de autuar, processar e/ou decidir o pedido administrativo no prazo devido,
evidencia-se mais adequado, sob o ponto de vista da realidade fática e da proteção
da pessoa incapaz, que a data do início do benefício seja a data em que o
interessado, na via administrativa, dirigiu-se ao serviço de protocolo
do INSS, desde que haja como o jurisdicionado-administrado-segurado provar
perante o Poder Judiciário esse fato obstativo ao direito de petição administrativa,
ou seja, DIB=DER, excetuadas os casos concretos em que não for
comprovado em juízo que, antes do litígio judicial, a Administração
Previdenciária havia sido provocada a respeito (na ausência de tal comprovação,
deslocar-se-á o dies a quo da aposentadoria por invalidez da data do requerimento
administrativo para a data da citação válida em juízo da entidade previdenciária,
de sorte que DIB=DCV).
2.4 Lado outro, nos panoramas fáticos em que for inexigível a antecedente
provocação na esfera administrativa do INSS, porquanto notório e reiterado
que a Administração Previdenciária possui posicionamento contrário ao pleito
do segurado, o dia do início do benefício da aposentadoria por invalidez
concedida diretamente pelo Poder Judiciário será a data da citação válida em
juízo da autarquia previdenciária (DIB=DCV), porquanto a partir do instante em
que citada na via judicial a autarquia previdenciária federal, ela se torna
automaticamente ciente do pleito, o qual, quando legítimo, faz com que esse
momento processual da citação válida constitua em mora a entidade
previdenciária. Daí a dicção da mencionada Tese do Tema de Recurso Repetitivo
n.º 626 (“A citação válida informa o litígio, constitui em mora a autarquia
previdenciária federal e deve ser considerada como termo inicial para a
implantação da aposentadoria por invalidez concedida na via judicial quando
ausente a prévia postulação administrativa.”).
4.1 A Súmula TNU n.º 22 havia sido editada em uma conjuntura pretoriana
diferente, porque a sua redação foi baseada em julgados da época que,
promanados das Turmas Recursais dos Juizados Federais do Mato Grosso
(Processo Judicial n.º 2003.36.00.700272-7) e do Distrito Federal (Processo
Judicial n.º 2002.34.00.70.4413-7), bem como do STJ (Recursos Especiais n.os
305.245/SC, 475.388/ES e 478.206/SP), reverberaram orientação pretoriana
diversa da que hoje predomina no STJ e no STF, no que diz respeito ao termo
inicial de benefício da Seguridade Social, visto que, naquela tessitura
jurisprudencial pretérita, o laudo médico-pericial definia qual seria a data do
início do benefício a ser adimplido pelo INSS.
4.2 Em outros dizeres, os acórdãos que serviram de espeque para a redação da
Súmula TNU n.º 22 foram lavrados em uma quadra em que o laudo médico-
pericial apresentado em juízo influía na demarcação da data do início de
benefício da Seguridade Social (Assistência Social e Previdência Social), seja
quando definia a data do início do benefício como sendo a data da entrada do
requerimento (DIB=DER), na medida em que o LMP atestava que a
incapacidade era contemporânea à data em que protocolizado o pedido
administrativo, a exemplo do que alvitra, de modo expresso, a própria Súmula
TNU n.º 22, seja quando, na ausência de prévia postulação administrativa, fixava-
se a data da juntada em juízo do laudo médico-pericial como termo inicial
da aposentadoria por invalidez (DIB=DJJL), verbi gratia, o preconizado pelos
julgados dos Recursos Especiais n.os 475.388/ES e 478.206/SP, cujas ementas
foram acima reproduzidas e restaram inseridos no rol de julgados que embasou a
concepção da Súmula TNU n.º 22.
4.3 Portanto, em verdade, a Súmula TNU n.º 22 foi uma tentativa de definir, no
seio da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, o
papel a ser exercido pelo laudo judicial médico-pericial como pilastra para se
demarcar a data do início do benefício da Assistência Social, em um momento da
jurisprudência em que o LMP tinha um papel influente para definir o termo inicial
do benefício da Seguridade Social de forma geral (não apenas da Assistência Social
como também do Regime Geral de Previdência Social), quer apontando a data do
início do benefício como sendo a data da entrada do requerimento
administrativo no âmbito do INSS (DIB=DER), caso a incapacidade já fosse
existente à época do pedido administrativo, quer servindo de reforço para a
orientação jurisprudencial de que, na ausência de antecedente requerimento
administrativo, a data da juntada em juízo do laudo médico-pericial
consubstanciaria a data do início do benefício (DIB=DJJL).
5.1 Levando-se em conta que, segundo preconiza o inciso V daquela Tese do Tema
de Repercussão Geral n.º 350, “tanto a análise administrativa quanto a judicial
deverão levar em conta a data do início da ação como data de entrada do
requerimento, para todos os efeitos legais”, depreende-se que, nos casos elencados
nas alíneas a, b e c do inciso IV da Tese do Tema de Repercussão Geral n.º 350, (a)
caso haja a postulação administrativa a posteriori (por força de intimação judicial)
e, em consequência, (b) exista a necessidade de se estabelecer a data do início da
aposentadoria por invalidez como sendo a data da entrada do requerimento
administrativo na autarquia previdenciária (DIB=DER), a posterior DER será,
como ficção jurídica, a prévia data do início da ação previdenciária (DER=DIA),
assim considerada, de acordo com a Tese do Tema de Recurso Repetitivo n.º 626 e
a Súmula STJ n.º 576, como sendo a data da citação válida em juízo do INSS
(DIA=DCV).
5.4 Por conseguinte, a data do início do benefício será a data da citação válida do
INSS, quando a aposentadoria por invalidez houver sido concedida pelo Poder
Judiciário no bojo de ação previdenciária ajuizada até 3 de setembro de 2014
(dia em que concluído o julgamento do Recurso Extraordinário n.º 631.240/MG),
em relação à qual seria exigível o prévio requerimento administrativo perante o
INSS, mas não o é em face da subsunção a alguma das regras de transição
previstas nas alíneas a a c do inciso IV, c/c inciso V, ambos da Tese do Tema de
Repercussão Geral n.º 350, o que afasta, em tais circunstâncias específicas, a
extinção do processo judicial por ausência de interesse processual.
5.5 Caso a ação previdenciária (a) tenha sido ajuizada no âmbito do Juizado
Itinerante até o dia 3 de setembro de 2014, (b) sem haver sido instruída com
prévio requerimento administrativo, (c) quando exigível que assim fosse
instruída, a data do início do benefício da aposentadoria por invalidez será a data
da citação válida em juízo do INSS, a título de data do início da ação judicial
previdenciária (DIB=DCV=DIA), de molde que a data da citação válida da
entidade previdenciária desempenhará o papel, em regra, incumbido à data da
entrada do requerimento administrativo no INSS.
5.6 Do mesmo modo, caso a ação judicial previdenciária, (a) desacompanhada de
prévio requerimento administrativo, tenha sido ajuizada (b) até o dia 3 de
setembro de 2014 e, por outro lado, até a referida data, o INSS haja apresentado
perante o Poder Judiciário (c) contestação de mérito, a data do início do
benefício da aposentadoria por invalidez será também a data da citação válida
em juízo do INSS, na qualidade de data do início da ação judicial previdenciária
(DIB=DCV=DIA), desincumbindo-se, mais uma vez, a DCV da função de dies a
quo, em regra, conferida à data da entrada do requerimento administrativo no
INSS.
REFERÊNCIAS
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 23. ed. Niterói, RJ:
Impetus, 2018. 868 p.
Autor
Hidemberg Alves da Frota