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DIREITO

PREVIDENCIÁRIO:
ORIGEM, EVOLUÇÃO
HISTÓRICA E
PRINCÍPIOS
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Profª FERNANDA ARRUDA

@fernandatalcoelho
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL
➢ PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (ARTIGO 1º, III, DA
CF/88)
➢ “[...] o termo 'dignidade' vem do latim dignitas, que designa tudo aquilo que merece
respeito, consideração, mérito ou estima. A dignidade da pessoa humana é, acima de
tudo, uma categoria moral; significa a qualidade ou valor particular que atribuímos
aos seres humanos em função da posição que ocupam na escala dos seres. [...] A
dignidade é atributo do que é insubstituível e incompatível, daquilo que, por possuir
um valor absoluto, não tem preço” (Rabenhorst).
➢ Por esse princípio fundamental, o homem deve ser considerado não como meio para
a obtenção de alguma coisa, mas como um fim em si mesmo – um valor absoluto, e
não relativo. É intrínseco, próprio do ser humano. Não tem preço e não pode ser

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substituído por algo equivalente. E, por ser o homem racional, não obedece a
nenhuma lei que não seja instituída, criada por ele mesmo.

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL

➢ PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (ARTIGO 1º, III, DA CF/88)


➢ STF: fundamento nos casos de gratuidade de transporte às pessoas com deficiência;
pesquisas com células tronco embrionárias, união homoafetiva, interrupção da gestação do
feto anencéfalo, prestações concretas em matéria de saúde, matrícula em creche, etc.
➢ STJ: possibilidade de comprovação do desemprego, por outros meios, para prorrogação do
“período de graça” (art. 15, § 2º, da Lei nº 8.213/91)
➢ § 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses para o segurado
desempregado, desde que comprovada essa situação pelo registro no órgão próprio do Ministério do
Trabalho e da Previdência Social.
➢ “Mínimo existencial”: não apenas um dever de abstenção, mas um dever de oferecer

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prestações mínimas essenciais à subsistência com dignidade (LOAS).

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL
➢ PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (ARTIGO 1º, III, DA CF/88)
➢ Dever do INSS e do Poder Judiciário de levar em consideração as condições pessoais daquele
que pretende a concessão de um benefício por incapacidade
➢ Avaliação global da extensão das limitações postas à pessoa com deficiência, pretendente ao
benefício assistencial (BPC) da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS).
➢ Como critério de interpretação da condição de “miserabilidade”, também para efeito de
concessão do benefício assistencial (BPC) ao idoso ou à pessoa com deficiência.
➢ Exame de situações concretas que, apesar de não previstas no Regulamento da Previdência
Social, submetam o segurado a condições de trabalho potencialmente prejudiciais à sua saúde,
para fins de concessão de aposentadoria especial (artigo 201, § 1º, da Constituição Federal;
artigos 57 e 58 da Lei nº 8.213/91).
➢ Ponderação da extensão do conceito de “dependência econômica”, para fins de concessão de

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pensão por morte a pais ou mães de segurados falecidos (artigo 16, II e § 4º, da Lei nº
8.213/91).

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL
➢ PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (ARTIGO 1º, III, DA CF/88)
➢ Para afirmar a tese da irrepetibilidade de benefícios previdenciários ou assistenciais
recebidos de boa-fé, ainda que irregularmente
➢ Como parâmetro para verificação de efetiva ocorrência de danos morais indenizáveis, em
razão da demora excessiva na análise do pedido administrativo do benefício.
➢ Para autorizar, em conjunto com o princípio da persuasão racional (art. 371 do CPC), que
o Juiz desconsidere as conclusões da perícia judicial e conceda o benefício por
incapacidade (aposentadoria por invalidez, auxílio-doença ou auxílio acidente) ou o
benefício assistencial à pessoa com deficiência com base em outros elementos trazidos
aos autos.
➢ Para admitir em matéria previdenciária, em hipóteses excepcionais, a tutela provisória de

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urgência de ofício, isto é, mesmo sem pedido expresso do autor

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➢ PREVIDENCIÁRIO. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI FEDERAL. MANUTENÇÃO DA QUALIDADE DE
SEGURADO. ART. 15 DA LEI 8.213/91. CONDIÇÃO DE DESEMPREGADO. DISPENSA DO REGISTRO PERANTE O MINISTÉRIO DO
TRABALHO E DA PREVIDÊNCIA SOCIAL QUANDO FOR COMPROVADA A SITUAÇÃO DE DESEMPREGO POR OUTRAS PROVAS
CONSTANTES DOS AUTOS. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO JUIZ. O REGISTRO NA CTPS DA DATA DA
SAÍDA DO REQUERIDO NO EMPREGO E A AUSÊNCIA DE REGISTROS POSTERIORES NÃO SÃO SUFICIENTES PARA COMPROVAR
A CONDIÇÃO DE DESEMPREGADO. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DO INSS PROVIDO. 1. O art. 15 da Lei 8.213/91 elenca as
hipóteses em que há a prorrogação da qualidade de segurado, independentemente do recolhimento de contribuições previdenciárias. 2. No
que diz respeito à hipótese sob análise, em que o requerido alega ter deixado de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência
Social, incide a disposição do inciso II e dos §§ 1o. e 2o. do citado art. 15 de que é mantida a qualidade de segurado nos 12 (doze) meses
após a cessação das contribuições, podendo ser prorrogado por mais 12 (doze) meses se comprovada a situação por meio de registro no
órgão próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social. 3. Entretanto, diante do compromisso constitucional com a
dignidade da pessoa humana, esse dispositivo deve ser interpretado de forma a proteger não o registro da situação de
desemprego, mas o segurado desempregado que, por esse motivo, encontra-se impossibilitado de contribuir para a
Previdência Social. 4. Dessa forma, esse registro não deve ser tido como o único meio de prova da condição de desempregado do
segurado, especialmente considerando que, em âmbito judicial, prevalece o livre convencimento motivado do Juiz e não o sistema de
tarifação legal de provas. Assim, o registro perante o Ministério do Trabalho e da Previdência Social poderá ser suprido quando for
comprovada tal situação por outras provas constantes dos autos, inclusive a testemunhal. 5. No presente caso, o Tribunal a quo considerou
mantida a condição de segurado do requerido em face da situação de desemprego apenas com base no registro na CTPS da data de sua
saída no emprego, bem como na ausência de registros posteriores. 6. A ausência de anotação laboral na CTPS do requerido não é suficiente
para comprovar a sua situação de desemprego, já que não afasta a possibilidade do exercício de atividade remunerada na informalidade.

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7. Dessa forma, não tendo o requerido produzido nos autos prova da sua condição de desempregado, merece reforma o acórdão recorrido
que afastou a perda da qualidade de segurado e julgou procedente o pedido; sem prejuízo, contudo, da promoção de outra ação em que se
enseje a produção de prova adequada. 8. Incidente de Uniformização do INSS provido para fazer prevalecer a orientação ora firmada. ( Pet
7.115/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/03/2010, DJe 06/04/2010) Sample Footer Text 6
➢ PJe - SEGURIDADE SOCIAL. RECURSO CONTRA SENTENÇA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. IMPEDIMENTO DE LONGO
PRAZO COMPROVADO. MISERABILIDADE. HIPOSSUFICIÊNCIA ECONÔMICA COMPROVADA. 1. Trata-se de apelação
interposta pelo INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL contra a sentença de fls. 86/90 (rolagem única processual)
que julgou procedente o pedido para condenar o INSS a conceder o BPC ao Apelado, no valor de um salário mínimo, desde
o ajuizamento da ação. 2. Recorre a parte ré sob o fundamento de que o Apelado não preenche os requisitos para a
concessão do benefício, seja porque a renda per capita do seu núcleo familiar suplanta ¼ do salário mínimo, seja porque
não restou demonstrado que o Apelado é portador de deficiência nos moldes da LOAS, eis que sua incapacidade se limita
ao exercício de trabalho. 3. A teor do que dispõe o art. 203, inciso V da CF, é garantido o benefício de um salário mínimo à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover sua própria manutenção ou de tê-
la provida por sua família. A matéria foi regulamentada pela Lei n. º 8.742/93, de modo que, para fazer jus ao benefício,
indispensável a comprovação da condição de idoso ou portador de impedimento de longo prazo, além da renda per capita
familiar inferior a ¼ do salário mínimo. 4. Da vulnerabilidade social: O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento
dos REs 567.985 e 580.963 verificou a ocorrência do processo de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças
fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos
utilizados como critérios de concessão de outros benefícios assistenciais) com relação ao § 3º, art. 20, Lei 8.742/93 (que
vinculava a miserabilidade à renda mensal per capita inferior a ¼ do salário mínimo), tendo reconhecido a
inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do mencionado dispositivo. 5. No ponto, impera destacar recente
posicionamento da TNU quanto à caracterização da miserabilidade, ao qual me filio: ... Neste contexto, a análise da
miserabilidade deve ser feita à luz do caso concreto, com amparo nos elementos que constam dos autos. Não há um
critério fixo que, independentemente da real situação vivenciada pela parte, lhe garanta a percepção do benefício.
Miserabilidade, por definição, é a condição de miserável, aquele digno de compaixão, que vive em condições deploráveis ou

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lastimáveis... (PEDILEF 50041721020134047205, JUIZ FEDERAL DANIEL MACHADO DA ROCHA, TNU, DOU 06/03/2015
PÁG. 83/193)
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➢ 6. Revendo detidamente os autos, forçoso convir que o núcleo familiar do requerente, composto por quatro pessoas (o
Requerente, sua esposa e duas filhas em idade estudantil) é mantido com o salário da esposa do Requerente que trabalha
como cozinheira e auferia, em março de 2018, renda bruta no importe de 1.075,00. Em exame ao laudo social, ademais,
percebo que grande parte da renda familiar é direcionada ao tratamento médico do Requerente, que utiliza muitos
medicamentos para controle da hipertensão, da cardiopatia, da glicose e do Mal de Parkinson, demandando, também,
alimentação balanceada em virtude da necessidade do controle da diabetes. 7. A família, ainda, reside em zona rural em
casa de madeira, servida por água de poço e guarnecida de móveis pouco diversificados, o que autoriza a ratificação da
situação de vulnerabilidade aferida pelo Juízo a quo. 8. Do impedimento de longo prazo: Quanto à deficiência apta ao
deferimento do benefício, tem-se que como é cediço, no que toca a seguridade social, não pode o juiz olvidar da
realidade subjacente à aplicação do direito, especialmente diante do que dispõe o art. 5º da LICC (Na aplicação da lei,
o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum), e do princípio essencial da
dignidade humana (art. 1º, inciso III da Lei Maior), que na visão do Supremo Tribunal Federal representa significativo
vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em
nosso País e traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e
democrática consagrada pelo sistema de direito positivo (HC 85.237, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 17-3-2005,
Plenário, DJ de 29-4-2005.). 9. Neste cenário, tenho por plenamente autorizada a ponderação das conclusões do perito
oficial quanto à capacidade laboral da parte com suas condições pessoais, em especial grau de instrução, natureza da
limitação física/mental e idade, com intuito de estabelecer a verdadeira possibilidade de inserção ao mercado e à
sociedade. 10. Resta evidenciado, da perícia realizada, que o Requerente, com 63 anos de idade, sofre de mal de Parkinson,
além de ser hipertenso e diabético, restando esclarecido que o mesmo, morador de zona rural e com baixa instrução, não
possui condições físicas de exercer trabalho que lhe garanta a subsistência. 11. Recurso desprovido.

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➢ (AC 1022692-78.2018.4.01.0000, JUÍZA FEDERAL OLÍVIA MERLIN SILVA, TRF1 - PRIMEIRA TURMA, PJe 29/07/2019
PAG.)
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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL
➢ PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (ARTIGO 5º, II; ARTIGO 37 DA CF/88)
➢ Art. 5º, II CF - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei;
➢ Art. 37 CF. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
➢ INSS é autarquia – parte da Administração Pública Indireta.
➢ Poder regulamentar/competência regulamentar (art. 84, IV, CF/88):
➢ Presidente da República tem competência privativa para “sancionar, promulgar e fazer
publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; (...)”.

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➢ Decreto nº 3.048/99 (alterações do Decreto nº 10.410/2020) - Regulamento da
Previdência Social
➢ IN PRES/INSS nº 128/2022
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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL

➢ PRINCÍPIO DA IGUALDADE OU ISONOMIA (ART. 5º, “CAPUT”, I, 3º,


III, 4º, V, 5º, CAPUT (POR DUAS VEZES) E I, 7º, XXXIV, 14, 37, XXI,
43, CAPUT E § 2º, I, 150, II, 165, § 7º, 170, III, 196, 206, 226, § 5º,
227, § 3º, IV, ETC.)
➢ Repetição “inútil”?
➢ O legislador é “discriminatório”: ex.: pensão por morte dos filhos não inválidos deve
cessar quando completarem 21 anos de idade, a Lei nº 8.213/91 (art. 77, § 2º, II).
➢ Rui Barbosa: “a regra da igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente

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os desiguais, na medida em que se desigualam” (Oração aos Moços)

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL
➢ PRINCÍPIO DA IGUALDADE OU ISONOMIA
➢ Celso Antonio Bandeira de Mello:
➢ É preciso identificar qual é o fator utilizado com critério discriminador, isto é, qual o
discrímen, qual o elemento discriminador incidente sobre o caso concreto (a idade, o
gênero, a altura, a riqueza, etc.)
➢ É necessário verificar, em seguida, se há uma correlação lógica entre o elemento
discriminador e o tratamento jurídico atribuído ao caso concreto, considerando a
desigualdade verificada (há uma razoabilidade nessa discriminação?).
➢ Por fim, impõe-se verificar se existe afinidade entre essa correlação lógica já

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assinalada e valores prestigiados pela ordem constitucional

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL
➢ PRINCÍPIO DA IGUALDADE OU ISONOMIA
➢ “Discriminações” feitas pela própria Constituição Federal:
➢ 1) Fixação de prazos e idades diferentes, entre homens e mulheres, para a aposentadoria por tempo de
contribuição (artigo 201, § 7º, I e II);
➢ 2) Seleção prévia das “contingências” sociais ou eventos merecedores de proteção previdenciária (artigo
201, I a V);
➢ 3) Possibilidade de concessão de aposentadoria em condições diferenciadas para os segurados com
efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
agentes, ou quando se tratar de segurados com deficiência (artigo 201, § 1º); - redação da EC nº
103/2019 – despareceram os agentes perigosos.
➢ 4) Autorização para que as contribuições para o custeio da Seguridade Social tenham alíquotas
diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de-obra, do porte da
empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho; também bases de cálculo diferenciadas no
caso da COFINS e da CSLL (artigo 195, § 9º).

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➢ Em outras situações, é a própria Constituição quem determina um tratamento legislativo igualitário, como
é o caso dos benefícios devidos a segurados urbanos e rurais. Mais adiante, faremos uma melhor análise
da norma do artigo 194, II, da Constituição Federal de 1988.
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➢ EMEN: DIREITO PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO MENOR SOB
GUARDA À PENSÃO POR MORTE DO SEU MANTENEDOR, EMBORA A LEI 9.528/1997 O TENHA EXCLUÍDO
DO ROL DOS DEPENDENTES PREVIDENCIÁRIOS NATURAIS OU LEGAIS DOS SEGURADOS DO INSS.
PROIBIÇÃO DE RETROCESSO. DIRETRIZES CONSTITUCIONAIS DE ISONOMIA, PRIORIDADE ABSOLUTA
E PROTEÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE (ART. 227 DA CF). APLICAÇÃO PRIORITÁRIA
OU PREFERENCIAL DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (LEI 8.069/1990), POR SER
ESPECÍFICA, PARA ASSEGURAR A MÁXIMA EFETIVIDADE DO PRECEITO CONSTITUCIONAL DE
PROTEÇÃO. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO EM RECURSO ESPECIAL REPETITIVO, RESP 1.411.258/RS,
REL. MIN. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. RECURSO ESPECIAL DO IPAJM A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Nos termos do art. 227 da CF, foi imposto não só à família, mas também à sociedade e ao Estado, o dever de,
solidariamente, assegurar à criança e ao adolescente os direitos fundamentais com absoluta prioridade. Além
disso, foi imposto ao legislador ordinário a obrigação de garantir ao menor os direitos previdenciários e
trabalhistas, bem como o estímulo do Poder Público ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou
adolescente órfão ou abandonado. 2. A alteração do art. 16, § 2o. da Lei 8.213/1991, pela Lei 9.528/1997, ao
retirar o menor sob guarda da condição de dependente previdenciário natural ou legal do Segurado do
INSS, não elimina o substrato fático da dependência econômica do menor, e representa, do ponto de vista
ideológico, um retrocesso normativo incompatível com as diretrizes constitucionais de isonomia e de
ampla e prioritária proteção à criança e ao adolescente. 3. Não se deve perder de vista o sentido finalístico
do Direito Previdenciário e Social, cuja teleologia se traduz no esforço de integração dos excluídos aos
benefícios da civilização e da cidadania, de forma a proteger as pessoas necessitadas e hipossuficientes que
se encontram em situações sociais adversas; se assim não for, a promessa constitucional de proteção a tais

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pessoas se esvai em palavras sonoras, que não chegam a produzir qualquer alteração no panorama jurídico.

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➢ 4. Deve-se proteger, com absoluta prioridade, os destinatários da pensão por morte de Segurado do INSS
no momento do infortúnio decorrente do seu falecimento, justamente quando se vêem desamparados,
expostos a riscos que fazem periclitar a sua vida, a sua saúde, a sua alimentação, a sua educação, o seu
lazer, a sua profissionalização, a sua cultura, a sua dignidade, o seu respeito individual, a sua liberdade e a
sua convivência familiar e comunitária, combatendo-se, com pertinácia, qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (art. 227, caput da Carta Magna). 5.
Considerando que os direitos fundamentais devem ter, na máxima medida possível, eficácia direta e
imediata, impõe-se priorizar a solução ao caso concreto de forma que se dê a maior concretude ao direito.
In casu, diante da Lei Geral da Previdência Social que apenas se tornou silente ao tratar do menor sob guarda e
diante de norma específica que lhe estende a pensão por morte (Lei 8.069/1990, Estatuto da Criança e do
Adolescente, art. 33, § 3o.), cumpre reconhecer a eficácia protetiva desta última lei, inclusive por estar em
perfeita consonância com os preceitos constitucionais e a sua interpretação inclusiva. 6. Nesse cenário, a
jurisprudência desta Corte Superior, no julgamento do Recurso Especial 1.411.258/RS, representativo da
controvérsia, consolidou a orientação de que o menor sob guarda tem direito à concessão do benefício de
pensão por morte do seu mantenedor, comprovada a sua dependência econômica, nos termos do art. 33, § 3o.
do Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda que o óbito do instituidor da pensão seja posterior à vigência
da Medida Provisória 1.523/1996, reeditada e convertida na Lei 9.528/1997. 7. Recurso Especial do IPAJM a que
se nega provimento. ..EMEN:
➢ (AIRESP - AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - 1542353 2015.01.64266-9, NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, STJ - PRIMEIRA TURMA, DJE DATA:26/03/2019 ..DTPB:.) SCES - Lote 09 Trecho 3, Polo 08, 2º

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andar, Salas 210 e 211. - Setor de Clubes - CEP: 70.200-003 - Brasília - DF - Telefone: (61) 30227300
Conselho da Justiça Federal© 10/08/2023 16:28:19 (rev 3da2a24d) Seu IP: 138.121.131.243

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GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DECORRENTES
DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

➢ CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA, JUIZ NATURAL, PROIBIÇÃO DAS PROVAS


OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS, RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO
➢ Devido processo legal processual e material (substancial).
➢ Forma de controle de conteúdo das decisões
➢ Mecanismo de controle axiológico da atuação do Estado e de seus agentes
➢ Processo judicial ou administrativo.
➢ Cancelamento de benefício ou revisão do ato de concessão sem a participação do beneficiário;
➢ Súmula 473 do STF: “A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que
os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação

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judicial”. .

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GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DECORRENTES
DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

➢ CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA, JUIZ NATURAL, PROIBIÇÃO


DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS, RAZOÁVEL
DURAÇÃO DO PROCESSO
➢ Súmula nº 160 do TFR: “A suspeita de fraude na concessão de benefício
previdenciário não enseja, de plano, a sua suspensão ou cancelamento, mas
dependerá de apuração em procedimento administrativo”.
➢ Art. 69 da Lei nº 8.212/91.
➢ Art. 69. O INSS manterá programa permanente de revisão da concessão e da
manutenção dos benefícios por ele administrados, a fim de apurar

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irregularidades ou erros materiais.

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL

➢ PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA


➢ Segurança jurídica é o “conjunto de condições que tornam possível às pessoas o
conhecimento antecipado e reflexivo das consequências diretas de seus atos e de
seus fatos à luz da liberdade que lhes é reconhecida”.
➢ Exemplos: do princípio da anterioridade em matéria tributária (artigo 150, III, “b” e
“c”), do princípio da irretroatividade da lei tributária (artigo 150, III, “a”), da
irretroatividade da lei penal incriminadora (artigo 5º, XXXIX e XL) e do princípio da
anterioridade da lei eleitoral (artigo 16 da CF e ADIn 3.685/DF, Rel. ELLEN GRACIE).

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➢ “Previsibilidade” dos comportamentos humanos.

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL

➢ PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA


➢ Proteção ao direito adquirido
➢ Proibição do retrocesso social
➢ Princípio da proteção da confiança
➢ Segurança e regras de transição

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL

➢ DIREITO ADQUIRIDO
➢ Art. 5º, XXXVI, da Constituição: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada”.
➢ O direito adquirido é aquele que, decorrente de um fato ou ato praticado de acordo com
a ordem jurídica, se incorporou definitivamente à pessoa ou ao patrimônio de seu
titular.
➢ Ex.: homem que completou 35 anos de contribuição; alteração da Constituição para
instituir idade mínima de 65 anos (promovida pela EC nº 103/2019).
➢ STF: direito adquirido ao benefício mais vantajoso possível, nos casos em que o

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segurado poderia ter direito a mais de um benefício (RE 630.501, Rel. p/ acórdão Marco
Aurélio, DJe 26.8.2013).
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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL

➢ DIREITO ADQUIRIDO
➢ STF: “Os servidores públicos, que não tinham completado os requisitos para a
aposentadoria quando do advento das novas normas constitucionais, passaram a ser
regidos pelo regime previdenciário estatuído na Emenda Constitucional nº 41/2003,
posteriormente alterada pela Emenda Constitucional nº 47/2005” (ADI 3.104, Rel.
Carmen Lúcia, DJe 09.11.2007, p. 29).

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL

➢ PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL


➢ Os direitos previstos na Constituição que já estejam assegurados e concretizados
por meio de medidas legislativas não podem ser suprimidos.
➢ Não se trata de proteger o direito adquirido (que já se incorporou à pessoa ou ao
patrimônio de seu titular), mas da estabilização da própria perspectiva de
aquisição do direito já legislado.
➢ “Direito adquirido social” (Marcus Orione)

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL
➢ PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL
➢ O princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de
caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão
ou pela formação social em que ele vive. - A cláusula que veda o retrocesso em matéria
de direitos a prestações positivas do Estado (como o direito à educação, o direito à
saúde ou o direito à segurança pública, v.g.) traduz, no processo de efetivação desses
direitos fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de concretização
de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou
suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em consequência desse princípio, o Estado, após
haver reconhecido os direitos prestacionais, assume o dever não só de torná-los
efetivos, mas, também, se obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a
preservá-los, abstendo-se de frustrar - mediante supressão total ou parcial - os

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direitos sociais já concretizados” (ARE 639.337 AgR, Rel. Celso de Mello, Segunda
Turma, DJe 15.9.2011).
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PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO
SOCIAL

➢ EC 103/2019 contém diversos dispositivos que representam claro retrocesso na


proteção ao direito fundamental à previdência social.
➢ Idade mínima de 65/62 anos para aposentadoria (homens e mulheres).
➢ Possibilidade de “privatização” de benefícios não programados (inclusive
acidentários)
➢ Revogação das regras de transição já vigentes para os servidores públicos;
➢ Cálculo do valor das aposentadorias, etc.

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL
➢ PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA CONFIANÇA
➢ “Dimensão subjetiva da segurança jurídica”.

➢ Obriga o Poder Público ao dever de respeito e tutela das expectativas que cria em razão de
uma conduta sua.
➢ São os casos em que atos do Poder Público fazem emergir para o Administrado uma justa
expectativa quanto à permanência dos efeitos dos atos praticados. São expressões da
proteção da confiança, por exemplo, a existência de regras de transição entre regimes
jurídicos, a impossibilidade de retroação de novos entendimentos, assim como o dever de
coerência do Poder Público, impedindo mudanças caprichosas de critérios decisórios
(Luís Roberto Barroso, prefácio em ARAÚJO, Valter Shuenquener, O princípio da proteção da

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confiança, 2ª ed., Niteroi: Impetus, 2016, s/ p.).

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL
➢ PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA CONFIANÇA
➢ CPC : "a modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de
tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de
fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança
jurídica, da proteção da confiança e da isonomia" (art. 927, § 4º).
➢ A pacificação da jurisprudência em determinado sentido faz nascer para o
jurisdicionado uma justa expectativa de que se deve comportar nos termos já
decididos. Assim, uma revisão daquele entendimento pacificado não pode ser feito
de modo a colher de surpresa o jurisdicionado, ao contrário, deve ser cercada de
todas as cautelas.

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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS
APLICÁVEIS À SEGURIDADE SOCIAL
➢ PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA CONFIANÇA
➢ Recurso Extraordinário (RE) 636553, com repercussão geral
reconhecida.
➢ Tema 445: “Os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de cinco
anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à
respectiva Corte de Contas, em atenção aos princípios da segurança
jurídica e da confiança legítima”.

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