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dossiê

O mapa não é o
território: o redesenho
da fronteira. Quão
desimpedido é o acesso
à fronteira brasileira?

Gabriel Kozlowski
Laura González Fierro
Marcelo Maia Rosa
Sol Camacho
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dossiê
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ContraTiempos
[Contratempos],
Runo Lagomarsino,
2010. Projeção de
27 imagens originais
em loop de carrossel
para slides Kodak
com timer. Cortesia
do artista e Mendes
Wood DM, São O termo "território" foi introduzido pela botânica e pela Fundamentais para entender as áreas de fronteira, as
Paulo; “O mapa
não é o território:
zoologia como sinônimo de área de dominância de deter- chamadas cidades gêmeas ou de tríplices fronteiras são
o redesenho da minada espécie. Com a evolução das ciências humanas, aquelas onde populações de diferentes origens, cultu-
fronteira”, 2017. incorporou-se a campos diversos do conhecimento, ga- ras e economias se somam, criando uma realidade plu-
nhando construções distintas. ral. Como Krenak pontua, precisamos entendê-las como
Muros de Ar. Foto O uso do conceito pela geografia humana e urbana é áreas de interação de fluxos5, baseados na experiência
interna do Pavilhão a chave para entender seu uso em estudos de arquite- indígena da troca, e não nas experiências de captura de
do Brasil na 16ª tura e urbanismo no Brasil. Território relaciona-se a uma identidade. A linha, mais que um limitante físico, pode ser
Mostra Internacional
de Arquitetura formação socioeconômica: uma população em um es- um local de concentração e irradiação de atividades; ou,
La Biennale di paço determinado1, assim como a outras variantes que como afirma Duarte, não um abismo, mas um centro6.
Venezia. Imagen trazem aspectos políticos importantes para a discussão Para além das barreiras conceituais, constituir territó-
Subliminal, 2018.
sobre territorialidade nas áreas de fronteira2. Na con- rios fronteiriços enquanto unidades de esferas maiores re-
cepção do geógrafo Friedrich Ratzel (1990), um território quer um entendimento profundo. Lidamos com evoluções
está submetido à atuação de um Estado, que exerce o históricas distintas. Em alguns locais mais antigos, enfren-
papel de defesa. Para Stuart Elden (2013), professor de tamentos resultaram na edificação de elementos físicos
Ciências Políticas e Geografia, território é uma tecnolo- de proteção territorial, como fortalezas e muros. Outros
gia política. Assim, um território necessariamente impli- locais são territórios recentes: cidades isoladas e cidades-
ca uma questão de limite e fronteiras. ‑empresa, desgarradas de seu contexto maior. Coloniza-
Um território, no entanto, não necessariamente está ção, base produtiva e infraestrutura, entre outros, impac-
atrelado às características físicas de um sítio, mas sim tam sua estrutura organizacional, política e morfológica7.
às dinâmicas políticas entre ele e países, estados e ci- São 558 municípios fronteiriços (brasil, 2005), ou seja,
dades; como afirma Celma Chaves Pont Vidal em seu mais de 10% das cidades brasileiras. Eles se diferenciam
ensaio3, as fronteiras perpassam o ambiente físico, rela- por seu papel em relação ao Brasil e também à Améri-
cionando-se a questões simbólicas e subjetivas. ca do Sul, com a qual compartilhamos pouca permeabili-
Exploramos nessa oportunidade o modo como pode- dade e conhecimento comum.
mos entender esses conceitos frente à escala continen- Se os territórios estão em constante transformação,
tal da fronteira política do Brasil. A divisa do país com podem ser vistos como fluxos e, então, devem ser trata-
seus vizinhos da América do Sul tem 16.886 quilômetros dos como tais, através de propostas dinâmicas e valores
de extensão e foi construída por portugueses e espa- coletivos. Quem sabe, assim, as fronteiras não passam
nhóis durante o processo de colonização sem considerar a ser momentos enriquecedores para os que lá estão ou
as dinâmicas sociais e fluxos espaciais dos primeiros ha- a elas estão conectados.
bitantes dessas terras. Interesses políticos e, sobretudo,
comerciais esculpiram a fronteira, que era traçada se-
guindo limites e obstáculos físicos, ignorando os povos
existentes. A aleatoriedade do traçado em relação a O mapa
esses outros componentes faz com que se pergunte se
aquele desenho não poderia ter sido encontrado pronto, “O Mapa não é o Território” é baseado no princípio que
a exemplo da obra de Runo Lagomarsino, que acha ra- representações cartográficas tradicionais não represen-
chaduras similares ao mapa da América do Sul no con- tam a complexidade das condições territoriais. Ainda que
creto da marquise do parque Ibirapuera. resultado de decisões políticas e históricas, é impossível
Entre constituição da fronteira e concepção dos ter- entender a relação entre territórios baseando-se somen-
ritórios brasileiro e vizinhos é necessário tratar das di- te em linhas de fronteiras. Fronteiras não definem onde
nâmicas socioeconômicas dessas áreas. Abordado por começam ou terminam identidades. Como alternativa
Vidal (2018) e Duarte (2018), esse aspecto traz o que a assumir um papel restritivo, de contenção, a fronteira
Krenak (2018) chama de fronteira fluida4, aquela que deve ser representada como uma coleção de sistemas,
não diz respeito ao físico, mas à cultura de uma socie- ecossistemas naturais, grupos sociais, conflitos, pontos
dade. A instituição física de limitações territoriais não de cruzamento e outros elementos que a cercam. A fron-
reflete, em definitivo, as relações sociais desses espaços, teira deve ser vista através de lentes que apontam as
que permanecem em constante modificação. possibilidade de intercâmbio, e não de divisão. A frontei-
dossiê

"A fronteira
não deve limitar,
ra pode ser o lugar em que diferentes estruturas cultu- mas irradiar" (2018),
rais, sociais, físicas, geográficas, ambientais e econômi- Gabriel Duarte e
Barbara Graeff.
cas se encontram e se complementam.
Como citado, a zona fronteiriça foi construída pelos
colonizadores espanhóis e portugueses, de acordo com in- "A continuidade
das paisagens
teresses principalmente comerciais. Guiada por obstácu-
transfronteiriças"
los físicos, incluindo rios, lagos e elevações topográficas, o (2018), Gabriel
traçado da fronteira ignorou os habitantes e biomas que Duarte e Barbara
já existiam nas regiões. Finalmente, essa linha, parcial- Graeff.

mente arbitrária, carrega significados simbólicos e políti-


cos desconectados das caraterísticas físicas do território. "Itinerário hiopotético
O mapa ilustra as muitas camadas que formam a costurando a
fronteira através
verdadeira fronteira do Brasil. A rotação de 90 graus de caminhos
do mapa enfatiza a imagem da fronteira como muro e verdadeiros" (2018),
transforma o formato familiar do continente sul-ameri- Gabriel Duarte e
Barbara Graeff.
cano. Linhas vermelhas representam as possíveis rotas
— via rodovias, hidrovias ou acesso aéreo — pelas quais é
possível chegar o mais próximo possível da fronteira po-
lítica oficial do Brasil; demonstram a dificuldade (e em
alguns casos, a impossibilidade) de acesso à fronteira, ex-
pondo o modo em barreiras que existiam muito antes da
fronteira desenhada. A divisão administrativa interna do
Brasil e de países vizinhos é substituída por fatores que
determinam a experiência desses lugares: a interseção
entre biomas e cursos de água; estações de fiscalização
da fronteira; cidades-irmãs e aglomerações urbanas; re-
servas indígenas; áreas de proteção ambiental; missões
históricas jesuítas; e portos e aeroportos.
Além de dados populacionais sobre as principais ci-
dades nas fronteiras, o mapa também apresenta a in-
tensidade das relações entre alguns desses locais, refle-
tindo diferentes níveis de permeabilidade. Finalmente, o
diagrama na parte inferior do mapa representa as rotas
mais plausíveis para viajar a fronteira, baseado em ques-
tões como distância, tempo, custo e acessibilidade de
cada uma das seções ao longo do caminho.
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autores e curadores 3. Segundo Vidal “Pensar as fronteiras na de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Gabriel Kozlowski é arquiteto pela PUC-RJ Amazônia hoje significa estabelecer vínculos Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
(2011) e mestre em Urbanismo pelo MIT (2015). com as dimensões que compõem as diversas ______. Na linha da fronteira. Colóquio
Atualmente leciona como Teaching Fellow escalas espaciais do urbano e do rural, com os Internacional Sobre o Comércio e Cidade:
no Departamento de Arquitetura do MIT e valores coletivos e subjetivos, com as atividades uma relação de origem, 2015. Disponível
trabalha como pesquisador associado no e políticas econômicas, com as formas de em: <www.labcom.fau.usp.br/wp-content/
Leventhal Center for Advanced Urbanism. inserção das empresas nacionais e corporações uploads/2015/05/1_cincci/041.pdf>.
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Laura González Fierro é arquiteta (2002) pela das fronteiras internacionais. O compromisso VIDAL, Celma Chaves Pont. Amazônia múltipla
Universidad Iberoamericana no México, mestre deve ser, sobretudo, com os grupos que vivem e os significados da fronteira. In: CAMACHO, S.;
em Design Arquitetônico Avançado (2008) e constroem suas histórias no território real da GONZÁLEZ FIERRO, L.; KOZLOWSKI, G.; ROSA, M.
pela Columbia University. Fundou o LED (Long região amazônica, mais do que com as linhas, Maia. Muros de Ar: Pavilhão do Brasil 2018.
Distance Experimental Lab), um laboratório planos e manchas que compõem os mapas São Paulo: Bienal de São Paulo, 2018, p.190-197.
de pesquisa experimental que funciona em de suas representações.” (2018, p.196).
paralelo à prática. 4. “É fronteira fluida; não é física, é cultural. Bases/ Referências: O Mapa não é o Território
Os hábitos mudam totalmente com essa The Nature Conservancy, 2003. Ecoregiões
Marcelo Maia Rosa é arquiteto e urbanista pela interação entre culturas. Tem gente que terrestres. [Acesso em: dez. 2017]. Disponível
Universidade Mackenzie e TU/e de Eindhoven acha uma tendência natural nos em: <maps.tnc.org/gis_data.html#TerrEcos>.
Holanda (2005). Cursos complementares constituírmos todos numa espécie de World Database on Protected Areas (WDPA),
pela Université Paris Sorbonne (2012) e pós- comunidade global, onde as diferenças 2016. Áreas de proteção terrestres e marinhas.
graduado pelo curso Arquitetura, Educação são diluídas.” (KRENAK, 2018, p.176). [Acesso em: jan. 2018]. Disponível em:
e Sociedade da Escola da Cidade (2017), onde 5. “A melhor maneira de diminuir o <www.protectedplanet.net>.
é professor atualmente. conflito é fazendo interação de fluxos, U.S. Geological Survey, Earth Explorer,
o que é muito diferente de fazer 2017. Vegetação monitorada por
Sol Camacho é arquiteta pela Universidade integração.” (KRENAK, 2018, p.177). eMODIS NDVI V6. [Acesso em: fev. 2018].
Ibero-americana da Cidade do México e Paris 6. “No atual cenário conturbado de integração Disponível em: <earthexplorer.usgs.gov/>.
Val de Seine (2004), e mestre em Arquitetura regional sul-americana, é crucial reconhecer Fundação Nacional do Índio (FUNAI),
e Urbanismo pela Universidade Harvard e identificar o modo como as fronteiras e 2017. Terras indígenas no Brasil.
(2008). Atualmente é professora da Escola suas cidades alimentam as redes regionais. [Acesso em: nov. 2017]. Disponível em:
da Cidade e diretora Cultural do Instituto Esse argumento motivou a criação de uma <www.funai.gov.br/index.php/shape>.
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ela não é uma margem, mas um centro.” 2008. Ecoregiões fluviais. [Acesso em: dez.
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Notas Carlos Robert. Ratzel. São Paulo: Editora Google, 2017. América do Sul / tempo e rotas
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década de 1970 (moraes, 2013). compartilhada como espaço de integração maps/@-13.8326385,-53.8151095,4.75z>.
2. O termo “fronteira” vem do latim frons na fronteira Ponta Porã (Brasil) e Pedro
ou frontis e pode significar também in Juan Caballero (Paraguai). 2013. Tese
fronte, na frente (TORRECILHA, 2013). (Doutorado em Geografia) — Faculdade

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