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DIREITO

CONSTITUCIONAL
Direito Material

Prof. Caroline Müller Bitencourt


Prof. Janriê Reck
Prof. Mateus Silveira
Prof. Nathalie Kuczura
Caros estudantes,

A preparação para a OAB pode ser uma jornada desafiadora,


mas também é uma oportunidade emocionante para aprender,
crescer e se preparar para a carreira jurídica. É importante lembrar
que cada um de vocês tem o potencial de se tornar um grande
advogado, e a chave para isso é o estudo constante com muito foco.
Estudar para a OAB não é apenas memorizar leis e teorias, é
também entender a prática jurídica e desenvolver habilidades
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por isso que é tão importante se dedicar a essa preparação e
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O Time CEISC está aqui para ajudá-los nessa jornada,
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juntos podemos alcançar grandes objetivos e transformar nossos
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Então, lembrem-se de manter o foco, a determinação e a
disciplina durante todo o processo de estudo. Não desistam e não
se intimidem diante dos desafios, pois eles são oportunidades para
SUPERAÇÃO e fortalecimento. O sucesso na OAB é possível, e
estamos aqui para ajudá-los a alcançá-lo.

Profª. Caroline Bitencout | @carolinemullerbitencourt


Prof. Janriê Reck | @janrie_reck
Prof. Mateus Silveira | @professormateussilveira
Prof. Nathalie Kuczura | @nathaliekuczura

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2ª FASE OAB | CONSTITUCIONAL | 39º EXAME

SUMÁRIO
Constituição....................................................................................................................... 4

Teoria Dos Direitos Fundamentais .................................................................................. 19

Direitos Fundamentais..................................................................................................... 35

Garantias Constitucionais E Direitos Sociais................................................................... 64

Direitos De Nacionalidade ............................................................................................... 76

Direitos Políticos E Partidos Políticos .............................................................................. 82

Organização Do Estado: Federalismo Brasileiro E Repartição De Competências .......... 99

Organização Dos Poderes E Poder Legislativo ............................................................. 118

Processo Legislativo...................................................................................................... 144

Poder Executivo ............................................................................................................ 162

Poder Judiciário ............................................................................................................. 172

Intervenção Federal E Defesa Das Instituições Democráticas ...................................... 182

Administração Pública E Servidor Público..................................................................... 200

Ordem Econômica E Financeira.................................................................................... 225

Ordem Social................................................................................................................. 239

Olá, Ceisquer! Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso para a 2ª
Fase do 39º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas.
Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação
pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em outubro de 2023.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

CONSTITUIÇÃO

1. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

A Constituição é o conjunto de regras e princípios que define a estrutura, o funcionamento


e os direitos fundamentais de um Estado. É considerada a lei fundamental de um país e
representa a expressão máxima da soberania popular, uma vez que é elaborada pelos
representantes eleitos pela população.
A Constituição é fundamental para garantir a organização política e jurídica de um Estado
Democrático de Direito, bem como para assegurar os direitos e garantias fundamentais dos
cidadãos, como a liberdade de expressão, o direito à vida, à igualdade, à propriedade, à
educação e à saúde.
Além disso, a Constituição estabelece as regras básicas para a organização dos poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, garantindo a harmonia e a independência entre eles. Assim,
ela é essencial para o bom funcionamento das instituições democráticas e para a proteção dos
direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos. É por meio dela que se estabelecem as bases
para uma sociedade justa e igualitária, onde os direitos são respeitados e assegurados.

2. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

As classificações propostas a seguir foram extraídas da obra Curso de Direito


Constitucional Positivo, de José Afonso da Silva (2015).

2.1. Quanto ao conteúdo:


• Constituição material:
É tida como um conjunto de normas constitucionais escritas ou costumeiras, inseridas ou
não em um texto único, que regulam a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos e os
direitos fundamentais. Refere-se apenas às matérias essencialmente constitucionais, ou seja,
aquelas que dizem respeito aos elementos constitutivos do Estado, ou seja: o povo, o território,
o governo e a finalidade.

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• Constituição formal:
É aquela contida em um documento solene estabelecido pelo poder constituinte e
somente modificável por processos e formalidades especiais previstos no próprio texto
constitucional.

2.2. Quanto à forma:


• Constituição escrita:
É aquela sistematizada e positivada, elaborada por um órgão constituinte ou imposta pelo
governante, contendo, em regra, todas as normas tidas como fundamentais sobre a estrutura do
Estado, a organização dos poderes constituídos, seu modo de exercício e limites de atuação e
os direitos fundamentais. As Constituições formais serão sempre por escritas, pois apresentam
normas constantes em um texto único. Elas podem ser codificadas, quando se acham contidas
inteiramente num só texto, com os seus princípios e disposições sistematicamente ordenados e
articulados em títulos; ou podem ser legais, quando são formadas por texto esparsos ou
fragmentados, ainda que todos escritos (exemplo: Constituição francesa de 1875).

• Constituição não escrita (ou costumeira ou ainda consuetudinária):


É a aquela cujas normas não constam de um documento único e solene, baseando-se,
principalmente, nos costumes, na jurisprudência, em convenções e em textos escritos esparsos.
Exemplo: Constituição Inglesa.

2.3. Quanto ao modo de elaboração:


• Constituição dogmática:
É a elaborada por um órgão constituinte, em que sistematiza os princípios (dogmas)
fundamentais da teoria política e do direito dominantes em uma época certa. Deverá
obrigatoriamente ser escrita.

• Constituição histórica:
Produto da formação histórica, dos fatos sociopolíticos, que se cristalizam como normas
fundamentais da organização de determinado Estado. Deverá obrigatoriamente ser costumeira.

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2.4. Quanto à origem:


• Constituições populares (ou democráticas ou promulgadas):
São aquelas que se originam de um órgão constituinte composto de representantes do
povo, eleitos para o fim de as elaborar e estabelecer. Exemplo: as Constituições brasileiras de
1891, 1934, 1946 e 1988.

• Constituições outorgadas:
São as impostas pelo governante, sem a participação popular. Exemplo: Constituições
brasileiras de 1824, 1937, 1967 e 1969.

2.5. Quanto à extensão (classificação apresentada por Bonavides):


• Constituição concisa ou breve:
Abrange apenas princípios gerais ou regras básicas de organização e funcionamento do
Estado. Em regra geral, é uma Constituição material, isto porque apresenta a matéria
constitucional, em sentido estrito. Exemplo: Constituições americanas, francesas de 1946, as
chilenas de 1833 e 1925 e a dominicana de 1947.

• Constituição prolixa:
Traz matéria alheia ao Direito Constitucional propriamente dito e, ainda, preocupa-se em
regulamentar os assuntos que tratam, deixando a legislação ordinária pouco deste papel.
Exemplo: Constituição brasileira de 1988.

2.6. Quanto à estabilidade:


• Constituição rígida:
‘É somente alterável mediante processos, solenidades e exigências formais especiais,
diferentes e mais difíceis que os de formação das leis ordinárias ou complementares. Esse é o
caso da Constituição Brasileira, pois ela só se altera mediante processo de emenda
constitucional - art. 60 da CF.

• Constituição flexível:
É a que pode ser livremente modificada pelo legislador segundo o mesmo processo de
elaboração das leis ordinárias.

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• Constituição semirrígida:
É a que contém uma parte rígida e uma flexível.

→ Em síntese, a atual Constituição brasileira é: formal, escrita, dogmática,


promulgada, rígida, analítica ou dirigente e prolixa.

3. SIGNIFICADO DE SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO

Supremacia da Constituição é um princípio fundamental do Estado Democrático de


Direito, que estabelece que a Constituição é a norma mais importante do ordenamento jurídico
de um país. Isso significa que todas as demais normas jurídicas devem estar em conformidade
com a Constituição e não podem contrariá-la.
Assim, a supremacia constitucional implica que qualquer norma que vá de encontro aos
preceitos nela contidos é inconstitucional e, portanto, não pode ser aplicada. Além disso, todas
as autoridades públicas devem respeitar e defender a Constituição, uma vez que ela representa
a vontade e os interesses do povo, expressos por meio do poder constituinte originário.
A supremacia da Constituição garante a estabilidade e a segurança jurídica de um Estado
Democrático de Direito, pois estabelece um sistema hierárquico de normas, onde a Constituição
é a norma fundamental e superior que orienta todas as demais normas e ações do Estado.

4. PODER CONSTITUINTE

4.1. Conceito
Poder constituinte é a máxima expressão da soberania popular - elemento fundamental
para a criação de um Estado”. Só é exercitado em situações muito especiais e pode ser
considerado como o poder de elaborar ou atualizar a Constituição mediante a criação ou o
acréscimo, a supressão ou ainda a modificação de normas constitucionais.

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4.2. Titularidade
A titularidade do poder constituinte pertence ao povo, que exerce essa prerrogativa por
meio de seus representantes eleitos em um processo democrático e participativo. É por meio do
poder constituinte que a sociedade expressa sua vontade política e estabelece os limites e as
regras que regerão o Estado e a convivência social.

4.3. Divisões do poder constituinte


A divisão clássica do poder constituinte é entre o poder constituinte originário e o poder
constituinte derivado. O poder constituinte originário é aquele capaz de criar uma nova
Constituição sem estar limitado por normas ou regras pré-existentes e é, geralmente, exercido
por uma Assembleia Constituinte eleita especificamente para este fim. Já o poder constituinte
derivado é o poder de revisar ou emendar uma Constituição existente, bem como de criar as
Constituições estaduais. Vejamos de forma mais detalhada:

a) Poder constituinte originário


É também conhecido como poder inicial, inaugural, cuja função é criar um estado novo,
diverso do que vigorava em decorrência da manifestação do poder constituinte que o precedeu.
• Características:
→ Formal: é um ato de criação propriamente dito, e atribui roupagem
constitucional a um complexo normativo;
→ Material: o material diz o que é constitucional, materializa e sedimente o que é
uma constituição.
→ Inicial: inaugura uma nova ordem;
→ Autônomo: terão autonomia para a instituição de uma nova ordem.
→ Ilimitado juridicamente: não tem que se preocupar com o direito anterior;
→ Incondicionado e soberano: não tem que se submeter a qualquer forma
prefixada de manifestação;
→ Poder de fato e poder político: caracterizado como uma energia, uma força
social, tem sua natureza como pré-jurídica.

• Formas de expressão:
→ Outorga: caracterizada pela expressão unilateral do agente revolucionário;

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→ Assembleia nacional constituinte: nasce com a deliberação da


representação popular.

Importante!
O Brasil não admite declaração de
inconstitucionalidade de normas constituições
originárias, justamente por serem fruto do
poder constituinte originário.

→ Decisão do STF quanto ao poder constituinte originário:

A eficácia das regras jurídicas produzidas pelo poder constituinte (redundantemente


chamado de "originário") não está sujeita a nenhuma limitação normativa, seja de ordem
material, seja formal, porque provém do exercício de um poder de fato ou suprapositivo.
Já as normas produzidas pelo poder reformador, essas têm sua validez e eficácia
condicionadas à legitimação que recebam da ordem constitucional. Daí a necessária
obediência das emendas constitucionais às chamadas cláusulas pétreas. (ADI 2.356
MC e ADI 2.362 MC, rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, j. 25-11-2010, P, DJE de 19-5-2011)

b) Poder constituinte derivado


→ É denominado como instituído, constituído, secundário ou de segundo grau;
→ O poder constituinte derivado é criado e instituído pelo poder constituinte
originário;
→ É um poder limitado;
→ Sua atuação é condicionada pelo Poder Constituinte originário;
→ Possui previsão constitucional e encontra tanto a sua forma quanto as suas
possibilidades de atuação expressas no texto constitucional.

• Subdivisão:
→ Poder constituinte derivado reformador:
Tem em capacidade de modificar a Constituição, por meio de um procedimento
específico; tem natureza jurídica, delimitado juridicamente; suas manifestações aparecem
em forma de emendas constitucionais (art. 59, I e art. 60); o poder de reforma por meio de
emendas pode, em geral, se manifestar a qualquer tempo, sofrendo limites materiais,

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circunstanciais, formais e algumas vezes temporais. Este poder consiste em alterar


pontualmente uma determinada matéria constitucional, adicionando, suprimindo,
modificando alínea(s), inciso(s), artigo(s) da Constituição;
Exemplos: no art. 60 parágrafos 4º e incisos, tem-se as cláusulas pétreas; também
há impossibilidade de emendar a Constituição na vigência do estado de defesa, de sítio e
intervenção federal.

Importante!
Pelo fato de as emendas constitucionais
decorrem da atuação do poder constituinte
derivado, as emendas encontram limitações
formais e materiais, portanto, emendas
constitucionais podem ser declaradas
inconstitucionais.

→ Poder constituinte derivado decorrente:


Também é derivado do originário e por ele limitado, também é jurídico e encontra
seus parâmetros estabelecidos pelo originário;
Sua missão é a de estruturar as Constituições dos Estados-membros –
competência que decorre da capacidade de auto-organização (característica dos sistemas
federativos);
Intervém para exercer uma tarefa de caráter nitidamente constituinte, tem um
caráter de complementaridade com relação à Constituição Federal;
Com relação ao âmbito de abrangência do território dos Estados-membros, o
exercício do poder constituinte derivado decorrente, foi concebido às Assembleias
legislativas, conforme estabelece o art. 11 dos ADCT.

→ Poder constituinte derivado revisor:


Também é limitado e condicionado, tem natureza jurídica e foi criado pelo
constituinte originário; não se trata necessariamente de um poder, mas de um processo
de revisão que está limitado pelo poder originário.

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O artigo 3º do ADCT determinou que a revisão constitucional aconteceria após 5


anos da promulgação constitucional, pelo voto da maioria absoluta dos membros do
Congresso nacional, em sessão unicameral;
A revisão poderia se dar numa única vez, não podendo passar por uma segunda
produção de efeitos; o limite material do poder de revisão é o mesmo derivado do poder
constituinte reformador, qual seja, as cláusulas pétreas do art. 60, parágrafo 4º e incisos,
da Constituição Federal.

→ Poder constituinte derivado difuso (mudança não formal da Constituição,


apenas material):
Pode ser caracterizado como um poder de fato, que se manifesta por meio das
mutações constitucionais – ou seja, por meio da hermenêutica jurídica. Se, por um lado,
as mudanças implementadas pelo poder Constituinte derivado reformador significam
formal, que por meio de emendas constitucionais alteram o texto da Constituição, o poder
constituinte difuso faz suas transformações de modo espontâneo e informal, ou seja,
através de um verdadeiro poder de fato decorrente das transformações sociais, políticas
e econômicas, das mutações constitucionais (LENZA, 2023).
O texto é o mesmo, mas o sentido que lhe é atribuído é outro. Esse ponto é
fundamental, uma vez que, destaca-se, não há alteração formal da Constituição, apenas
atua-se em uma hipótese de sentido, no qual a Constituição, enquanto elemento vivo,
também busca acompanhar a realidade a qual ela pretende retratar, razão pela qual está
em constante interpretação.

5. FENÔMENOS QUE ENVOLVEM UMA NOVA CONSTITUIÇÃO

• Recepção:
É o fenômeno pelo qual se recepciona toda a Legislação infraconstitucional anterior à
Constituição que for materialmente compatível com a ordem constitucional. O Brasil adota a
recepção material, sendo assim, não importando a forma, a espécie normativa da norma, mas
sim seu conteúdo:

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Nesse contexto, a questão central consiste em saber quando o advento de um novo Texto
Constitucional acarreta a revogação de uma norma infraconstitucional anterior. Em
resposta, cumpre ter em vista que a nova ordem constitucional inaugurada sempre
recebe a normatividade infraconstitucional que lhe é perfeitamente compatível,
ainda que tal acolhimento possa ocorrer a partir de uma nova “roupagem normativa”,
originando, pois, o fenômeno da recepção, segundo o qual a legislação
infraconstitucional produzida antes da instalação de uma nova Constituição será
considerada acolhida pelo novel Texto Magno, continuando, por princípio de economia
e segurança legislativa, a viger no âmbito próprio de sua atuação ordinária (REIS,
2020, p. 21)

• Repristinação da norma constitucional:


Ocorre quando uma legislação infraconstitucional revogada sob a égide da Constituição
anterior é revigorada pela nova ordem constitucional. No plano constitucional do Brasil não é
possível, já no plano infraconstitucional sim.

• Repristinação da norma constitucional:

No que concerne à repristinação, ou seja, a possibilidade de restauração da eficácia da


norma revogada pela perda de vigência da norma revogadora, não nos parece que o mero
advento de um novo texto constitucional tenha o condão de restaurar a eficácia de lei
ordinária revogada pela Constituição anterior. E por quê? Basicamente em virtude do fato
de tal procedimento instilar grande insegurança nas relações jurídicas, cujos efeitos já se
consolidaram, tornando, portanto, impróprio o retorno à situação antecedente (SILVA
NETO, 2009, p. 146).

• Desconstitucionalização:
Ocorreria quando a nova ordem constitucional receberia a ordem anterior, mas dando-lhe
status de norma infraconstitucional. Não é admitida no direito brasileiro. Admite-se, como
excepcionalidade, receber parte de Constituição anterior, se a nova o fizer de forma expressa,
tal como ocorreu em relação ao art. 34 dos ADCT.

6. ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO

• Preâmbulo:
O preâmbulo da Constituição é uma introdução solene que apresenta o contexto histórico,
político e social em que ela foi elaborada, bem como os valores, princípios e objetivos que
norteiam o texto constitucional. É uma espécie de declaração de intenções e de compromissos
dos constituintes em relação à sociedade e ao Estado que estão criando. O preâmbulo tem um

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importante valor simbólico e político, pois reforça os ideais e os compromissos dos constituintes
em relação à construção de um Estado Democrático de Direito.
Eis o texto do preâmbulo da Constituição Federal de 1988:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte


para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de
Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Contudo, é importante referir que ele não possui força normativa, segundo entendimento
do STF, na ADI 2076:

“O preâmbulo (...) não se situa no âmbito do Direito, mas no domínio da política, refletindo
posição ideológica do constituinte. É claro que uma Constituição que consagra princípios
democráticos, liberais, não poderia conter preâmbulo que proclamasse princípios diversos.
Não contém o preâmbulo, portanto, relevância jurídica. O preâmbulo não constitui norma
central da Constituição, de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro. O
que acontece é que o preâmbulo contém, de regra, proclamação ou exortação no sentido
dos princípios inscritos na Carta: princípio do Estado Democrático de Direito, princípio
republicano, princípio dos direitos e garantias, etc. Esses princípios, sim, inscritos na
Constituição, constituem normas centrais de reprodução obrigatória, ou que não pode a
Constituição do Estado-membro dispor de forma contrária, dado que, reproduzidos, ou
não, na Constituição estadual, incidirão na ordem local.”, ADI 2.076, julgamento em 15-8-
2002, Plenário, DJ de 8-8-2003.)

• Corpo constitucional:
Formado pelos 250 artigos da Constituição Federal, traz as regras e princípios
norteadores da organização do Estado e dos Poderes, os direitos e garantias fundamentais. Vale
lembrar que tanto as regras quanto os princípios implícitos e explícitos possuem força normativa
e vinculam todos os poderes públicos a sua concretização.

• Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:


Os Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) são um conjunto de normas
que constam nas constituições de diversos países, incluindo o Brasil. Essas normas têm como
objetivo regular situações específicas que surgem durante a transição entre uma Constituição
anterior e a nova, ou entre períodos de governo.
Os ADCT têm força normativa e são considerados parte integrante da Constituição.
Embora tenham prazos de vigência limitados, enquanto estiverem em vigor, os dispositivos dos

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ADCT têm a mesma hierarquia e força normativa que os demais dispositivos constitucionais
permanentes. Alguns deles já esgotaram seu prazo ou já cumpriram a situação que buscavam
regular, e outros ainda possuem vigência.

7. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E OBJETIVOS DA REPÚBLICA

Princípios têm caráter deontológico, ou seja, estão no campo do dever ser, possuindo
força normativa. Apesar de sua maior abstração no âmbito da interpretação e aplicação, são
também são diretamente aplicáveis (ÁVILA, 2013). O Brasil adota a ideia da força normativa das
normas Constitucionais, ou seja, todas as normas gozam de alguma eficácia constitucional,
incluindo-se, aí, os princípios.
É importante lembrarmos que a Constituição não é formada apenas por regras jurídicas,
mas também por princípios. Os princípios por mais que tenham um conteúdo mais aberto e até
mesmo mais abstrato possuem igualmente força normativa, tendo sua aplicabilidade também
direta, apara além de servir de estrutura e interpretação para as demais regras jurídicas.

Art. 1o A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
I – a soberania;

→ Está relacionada com a independência do Brasil e de suas


decisões no cenário internacional, ou seja, não há qualquer
sujeição do Brasil aos demais países.

II – a cidadania;

→ Conhecida como Constituição cidadã, a Constituição de 1988


ampliou significativamente não apenas a participação popular,
mas também os espaços de controle dos cidadãos em relação às
decisões públicas. Não se resume ao nosso direito de votar e
eleger nossos representantes, mas sim em participar ativamente
das escolhas públicas que diretamente ou indiretamente afetam
os interesses de toda coletividade.

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III – a dignidade da pessoa humana;

→ Centra-se na ideia que qualquer ser humano é um fim em si


mesmo, ou seja, não pode ser utilizado como instrumento para
obtenção de determinados fins. A integralidade da realização dos
direitos fundamentais, ou seja, sua concretização tende a garantir
um tratamento digno à nós indivíduos que convivemos em
coletividade.

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (vide Lei no 13.874/2019)

→ Nesses dois princípios expressamos nossa opção por uma


modelo liberal, através da livre iniciativa e na intervenção estatal
apenas quando houver respaldo e previsão constitucional,
contudo, também mostramos nossa preocupação e proteção com
os valores sociais, ou seja, valores que nossa sociedade deve
tutelar e que não podem ser transacionados.

V – o pluralismo político.

→ Plenamente em consonância com a proteção das liberdades, o


pluralismo protege o pensamento oposto e divergente, garante a
pluralidade de ideias e concretiza também o princípio
democrático.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 2o São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o


Executivo e o Judiciário.

→ Princípio presente desde a Constituição de 1891, é garantia da


existência do próprio Estado democrático de direito, ou seja, o
sistema de freios e contrapesos entre os poderes que exercem
mutuamente suas funções e fiscalização garante que não
tenhamos o império de autoritarismo e arbitrariedades, tendo tais
poderes a Constituição como balizadora de sua função
constitucional e de seus limites de atuação.

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Art. 3º da CF: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 4º da CF: A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais
pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica,
política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.

8. EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Classificação de José Afonso da Silva, na obra Curso de Direito Constitucional Positivo


(2015).

• Normas de eficácia plena:


Normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade direta, imediata e integral são
aquelas normas da Constituição que, no momento em que esta entra em vigor, estão aptas a
produzir todos os seus efeitos, independentemente de norma integrativa infraconstitucional.
Como regra geral, criam órgãos ou atribuem aos entes federativos competências. Não têm a
necessidade de ser integradas. Aproximam-se do que a doutrina clássica norte-americana
chamou de normas autoaplicáveis.
José Afonso da Silva (2012) destaca que as normas constitucionais de eficácia plena “[...]
são as que receberam do constituinte, normatividade suficiente à sua incidência imediata.
Situam-se predominantemente entre os elementos orgânicos da constituição. Não necessitam
de providência normativa ulterior para sua aplicação. Criam situações subjetivas de vantagem
ou de vínculo, desde logo exigíveis”.

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• Normas constitucionais de eficácia contida:


As normas constitucionais de eficácia contida ou prospectiva têm aplicabilidade direta e
imediata, mas possivelmente não integral. Embora tenham condições de, quando da
promulgação da nova Constituição, produzir todos os seus efeitos, poderá a norma
infraconstitucional reduzir a sua abrangência.
Ao contrário do que ocorre com as normas constitucionais de eficácia limitada, como será
visto no item seguinte, em relação às quais o legislador infraconstitucional amplia o âmbito de
sua eficácia e aplicabilidade, no tocante às normas constitucionais de eficácia contida, percebe-
se verdadeira limitação ou restrição à eficácia e à aplicabilidade (SARLET, 2013; SILVA, 2012).

• Normas constitucionais de eficácia limitada:


São aquelas normas que, de imediato, no momento em que a Constituição é promulgada,
não têm o condão de produzir todos os seus efeitos, precisando de uma lei integrativa
infraconstitucional. São, portanto, de aplicabilidade mediata e reduzida, ou, segundo alguns
autores, aplicabilidade diferida.
Nesse sentido, José Afonso da Silva (2012), em sede conclusiva, observa que referidas
normas têm, ao menos, eficácia jurídica imediata, direta e vinculante já que: a) estabelecem um
dever para o legislador ordinário; b) condicionam a legislação futura, com a consequência de
serem inconstitucionais as leis ou atos que as ferirem; c) informam a concepção do Estado e da
sociedade e inspiram sua ordenação jurídica, mediante a atribuição de fins sociais, proteção dos
valores da justiça social e revelação dos componentes do bem comum; d) constituem sentido
teleológico para a interpretação, integração reaplicação das normas jurídicas; e) condicionam a
atividade discricionária da Administração e do Judiciário; f) criam situações jurídicas subjetivas,
de vantagem ou de desvantagem.

Atenção!
As normas definidoras de direitos e
garantias fundamentais têm aplicação
direta e imediata. Art. 5, §1º da CF/88.

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As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais, de acordo com o art. 5º, §
1, da CF/88, têm aplicação imediata. Assim, podemos concluir que as normas de eficácia plena
e contida possuem a referida aplicabilidade imediata, não acontecendo o mesmo com as normas
de eficácia limitada, que, normalmente, precisam de lei integrativa infraconstitucional para
produzir integralmente aos seus efeitos.

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TEORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

1. DIREITOS FUNDAMENTAIS

Direitos fundamentais, no Brasil, são o conjunto de direitos eleitos pela sociedade como
uma espécie de núcleo essencial, designando gênero, isto é: abarca diferentes espécies de
direitos constitucionalmente positivados em um dado Estado em um dado momento histórico.
Logo, no Brasil, tanto de um ponto de vista técnico-jurídico quanto de um ponto de vista
dogmático-jurídico é a expressão "direitos fundamentais" que deve ser utilizada.
Esses direitos são “fundamentais” pelo seu “grau de importância”, ou, mais
concretamente: pelo fato de estarem positivados ou serem deduzíveis da norma jurídica de maior
hierarquia: a Constituição. Na Constituição Federal os Direitos e Garantias fundamentais são de
5 espécies e estão organizados e distribuídos no “Título II” da CF:

DOS DIREITOS E
DOS DIREITOS DIREITOS DE
DEVERES
SOCIAIS (Art. 6º ao NACIONALIDADE
INDIVIDUAIS E
Art. 11); (Art. 12 e 13);
COLETIVOS (Art. 5º);

DOS DIREITOS
DOS PARTIDOS
POLÍTICOS (Art. 14
POLÍTICOS (Art. 17).
ao Art. 16);

• Pontos importantes sobre os direitos fundamentais


→ Não há um rol taxativo de direitos fundamentais, dizemos que a Constituição
traz um catálogo aberto de direitos fundamentais (art. 5º, §2º da CF);

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→ Os direitos fundamentais são cláusulas pétreas, não podem ser abolidos da


constituição em hipóteses alguma, contudo, podem ser ampliados por emenda
Constitucional:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - Forma Federativa;
II - Voto secreto, direto universal e periódico;
III - Separação de Poderes;
IV- Direitos e garantias individuais.

→ Não há hierarquia em abstrato das normas de direitos fundamentais, em caso


de colisão, deve se decidir nos casos concretos qual delas deverá naquela situação
prevalecer.
→ No Brasil, foi com a Constituição de 1988 que os direitos fundamentais
receberam uma topografia diferenciada na Constituição, logo após os princípios
fundamentais.

2. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Decorre de conquistas ao longo do tempo


Historicidade revolucionárias ou não, que vão
implementando e solidificando as conquistas.

Inalienabilidade São intransferíveis, inegociáveis.

Não prescrevem, não há o decurso com o


Imprescritibilidade
tempo.

Características Irrenunciabilidade Não podem ser renunciados.

Os direitos e garantias individuais não têm


Relatividade
caráter absoluto.

Efeito Erga Omnes (para todos/contra todos),


Universalidade como exemplo, aplicam-se aos estrangeiros
que estiverem no Brasil.

As normas definidoras dos direitos e garantias


Aplicabilidade Imediata fundamentais têm aplicação imediata (CF, art.
5°, § 1°).

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3. DIMENSÕES/GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS/FUNDAMENTAIS

Os direitos humanos e fundamentais não nascem todos juntos, eles foram conquistados
em cada período histórico, a partir da luta pelo seu reconhecimento. Podemos, assim, dividir
entre distintos períodos:

3.1. Direitos Fundamentais da 1ª Dimensão


O período liberal marca a fase histórica que vai das Revolução do século XVIII até o final
do século XIX, em que havia, basicamente, duas espécies de direitos fundamentais: os direitos
individuais e os direitos políticos. Os direitos fundamentais da 1ª dimensão marcam a passagem
de um Estado autoritário para um Estado de Direito e, nesse contexto, o respeito às liberdades
individuais.
Tais direitos dizem respeito às liberdades públicas e aos direitos políticos, ou seja, direitos
civis e políticos a traduzir o valor liberdade.
Conforme anota Bonavides (2002, p. 515), “os direitos de primeira geração ou direitos de
liberdades têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou
atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico; enfim,
são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado”.

Magna Carta de 1215, assinada


pelo rei “João Sem terra”;

Paz de Westfália (1648);

Documentos históricos para


configuração dos direitos Habeas Corpus Act (1679);
humanos de 1ª geração

Bill of Rights (1688);

Declarações, seja a americana


(1776), seja a francesa (1789).

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3.2. Direitos Fundamentais da 2ª Dimensão


O fato histórico que inspira e impulsiona os direitos fundamentais de 2ª dimensão é a
Revolução Industrial europeia, a partir do século XIX. Em decorrência das péssimas situações e
condições de trabalho, eclodem movimentos como o cartista, na Inglaterra, e a Comuna de Paris
(1848), na busca de reivindicações trabalhistas e normas de assistência social. O início do século
XX é marcado pela Primeira Grande Guerra e pela fixação de direitos sociais.

Constituição do México, de 1917;

Constituição de Weimar, de 1919, na Alemanha,


conhecida como a Constituição da primeira
república alemã;
Documentos históricos para configuração dos
direitos humanos de 2ª geração
Tratado de Versalhes, 1919 (OIT);

No Brasil, a Constituição de 1934 (embora nos


textos anteriores também houvesse alguma
previsão).

Bonavides (2002) observa que tais Constituições passaram, em um primeiro momento,


por um ciclo de baixa normatividade por conta da sua natureza de direitos previstos, que exigiam
do Estado prestações nem sempre resgatáveis, seja por carência ou limitação de meios e
recursos (aquilo que, hoje em dia, se denomina “reserva do possível”). Essa juridicidade
questionada levou esses direitos à esfera programática, consoante assevera o autor, em virtude
de não conterem garantias e instrumentos processuais para sua concretização imediata. Após,
esses direitos atravessaram uma fase de observância e execução, que permitiu a formulação do
preceito de aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais.
Sobre a segunda geração, tem-se importante julgado do STF:

STF (RTJ 164/158) "Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) -
que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais - realçam o princípio da
liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) - que
se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas - acentuam o princípio da
igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade
coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da
solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento,
expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores
fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade."

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3.3. Direitos Fundamentais da 3ª Dimensão


Os direitos fundamentais da 3ª dimensão são marcados pela alteração da sociedade por
profundas mudanças na comunidade internacional (sociedade de massa, crescente
desenvolvimento tecnológico e científico), identificando-se profundas alterações nas relações
econômico-sociais.
Novos problemas e preocupações mundiais surgem, tais como a necessária noção de
preservacionismo ambiental e as dificuldades para proteção dos consumidores, só para lembrar
aqui dois candentes temas. O ser humano é inserido em uma coletividade e passa a ter direitos
de solidariedade ou fraternidade.
Os direitos da 3.ª dimensão são direitos transindividuais, isto é, direitos que vão além dos
interesses do indivíduo; pois são concernentes à proteção do gênero humano, com altíssimo teor
de humanismo e universalidade. Para Sarlet (2004, p. 56):

Dentre os direitos fundamentais de terceira dimensão consensualmente mais citados


cumpre referir à paz, à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento, ao meio
ambiente e qualidade de vida, bem como o direito à conservação e utilização do
patrimônio histórico e cultural e o direito de comunicação. Cuida-se, na verdade, do
resultado de novas reivindicações fundamentais do ser humano, geradas, dentre outros
fatores, pelo impacto tecnológico, pelo estado crônico de beligerância, bem como pelo
processo de descolonização do segundo pós-guerra e suas contundentes consequências,
acarretando profundos reflexos na esfera dos direitos fundamentais.

Direito ao desenvolvimento;

Direito à paz

Direito ao meio ambiente


Direitos de 3ª Dimensão

Direito de propriedade sobre o patrimônio comum


da humanidade

Direito de comunicação

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3.4. Direitos Fundamentais da 4ª Dimensão


Desenvolvida por Bonavides e aderida por Sarlet (2004, p. 59), a quarta dimensão
corresponderia ao direito à democracia e ao pluralismo político:

[...] sustentando que esta é o resultado da globalização dos direitos fundamentais, no


sentido de uma universalização no plano institucional, que corresponde na sua opinião, à
derradeira fase de institucionalização do Estado Social. Para o ilustre constitucionalista
cearense, esta quarta dimensão é composta pelos direitos à democracia (no caso,
democracia direta) e à informação, assim como pelo direito ao pluralismo. A proposta do
Prof. Paulo Bonavides, comparada com as posições que arrolam os direitos contra a
manipulação genética, mudança de sexo, etc., como integrando a quarta geração, oferece
a nítida vantagem de constituir, de fato, uma nova fase no reconhecimento dos direitos
fundamentais, qualitativamente diversa das anteriores, já que não se cuida apenas de
vestir com roupagem nova reivindicações deduzidas, em sua maior parte, dos clássicos
direitos de liberdade.

3.5. Dupla dimensão dos direitos fundamentais: objetiva e subjetiva


• Dimensão subjetiva:
Se refere ao direito que cada indivíduo tem de exigir do Estado a proteção e o respeito
aos seus direitos. É a dimensão que permite ao indivíduo acionar o Poder Judiciário ou outros
órgãos do estado para reclamar seus direitos.

• Dimensão objetiva:
Nessa perspectiva, os direitos fundamentais devem ser enxergados como valores,
princípios, regras que norteiam a aplicação do ordenamento jurídico. Implica em deveres de
proteção, promoção e realização desses direitos por parte do Estado, como a criação de políticas
públicas que garantem a igualdade, a liberdade e a dignidade humana. Além disso, ela também
impõe limites ao poder estatal, impedindo que o Estado viole os direitos fundamentais dos
cidadãos. Nas palavras de Sarlet (2004, p. 153):

Desde já, percebe-se que, com o reconhecimento de uma perspectiva objetiva dos direitos
fundamentais, não está se fazendo referência ao fato de que qualquer posição jurídica
subjetiva pressupõe, necessariamente, um preceito de direito objetivo que a preveja.
Assim, podemos partir da premissa de que ao versarmos sobre uma perspectiva dos
direitos fundamentais não estamos considerando esta no sentido de um mero “reverso da
medalhe” da perspectiva subjetiva. A faceta objetiva dos direitos fundamentais, significa,
isto sim, que às normas que preveem direitos subjetivos é outorgada função autônoma,
que transcende esta perspectiva subjetiva, e que, além disso, desemboca no
reconhecimento de conteúdos normativos e, portanto, de funções distintas aos direitos
fundamentais.

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• Efeito irradiante dos direitos fundamentais:


Decorre da dimensão objetiva – capacidade que eles têm de alcançar os poderes públicos
no exercício de suas atividades principais. Assim, como consequência de sua dimensão objetiva,
os direitos fundamentais conformam o comportamento do poder público, criando um dever de
proteção pelo Estado dos direitos fundamentais contra agressões (do Estado ou de particulares).
Assim, o Estado fica condicionado a adotar medidas que promovam e protejam efetivamente os
direitos fundamentais. Por exemplo: criação de Defensorias para promover o amplo acesso ao
judiciário; criação de Procons e leis de consumo para promover a proteção do consumidor.

4. SUJEITOS DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

4.1. Sujeito ativo – quem pode buscar a proteção de um direito fundamental?


• Art. 5º, caput, CF/88 e o significado da expressão "brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País":
A redação desse caput é um pouco ambígua, dando margem a diferentes interpretações.
A rigor ela é mantida por ser uma fórmula histórica e tradicional, constante desde a Constituição
de 1891. Esse dispositivo institui o princípio da territorialidade da ordem jurídica brasileira.
O núcleo do dispositivo é a expressão "residentes no País", a qual se aplica tanto aos
brasileiros quanto aos estrangeiros. Ela quer significar simbolicamente que todo aquele (nacional
ou estrangeiro) que se encontra de modo permanente sob a jurisdição brasileira ou no território
brasileiro ("residente no País"), goza dos mesmos direitos fundamentais reconhecidos pela
ordem jurídica brasileira.
Significa dizer, a contrario sensu, que o Direito brasileiro não se aplica a brasileiros e
menos ainda a estrangeiros que são "residentes fora do País". Logo, quem não se encontra de
modo permanente sob a jurisdição brasileira, isto é, em território brasileiro, não se submete à
ordem jurídica brasileira e, portanto, não pode gozar dos direitos fundamentais previstos na
Constituição brasileira.
Mas atenção para a compatibilidade adotada pelo STF quanto aos estrangeiros não
residentes no país (não-previsão expressa no art. 5º, caput, CF/88): adota-se a teoria da
compatibilidade, isto é, entende-se que são titulares de direitos fundamentais desde que
compatíveis tais direitos com a própria condição de estrangeiro não-residente:

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O estrangeiro, embora não residente no Brasil, goza do direito de impetrar mandado de


segurança (STF, MS 4706-DF, in DJU 31.7.1958).

É inquestionável o direito de súditos [sic] estrangeiros ajuizarem, em causa própria, a ação


de habeas corpus, eis que esse remédio constitucional - por qualificar-se como verdadeira
ação popular - pode ser utilizado por qualquer pessoa, independentemente da condição
jurídica resultante da sua origem nacional. A petição com que impetrado o habeas corpus
deve ser redigida em português, sob pena de não-conhecimento do writ constitucional
(CPC, art. 156, c/c CPP, art. 3º) (STF (RTJ 164/193).

Tem-se, ainda, a teoria da compatibilidade aplicada às pessoas jurídicas, que são


titulares de direitos fundamentais na medida da possibilidade, vez que uma série de direitos
fundamentais só é faticamente aplicável às pessoas físicas.
Não são compatíveis com as pessoas jurídicas, por exemplo, a proibição da tortura (art.
5º, III, CF 1988), pela impossibilidade fática de uma pessoa jurídica ser torturada; a liberdade de
crença (art. 5º, VI, CF 1988), pela impossibilidade fática de uma pessoa jurídica professar uma
crença. Por outro lado, são compatíveis a proteção à propriedade privada (art. 5º, XXII) e a
proteção a imagem de uma empresa.
Ainda, tem-se os seguintes precedentes do STF:

O Estado não pode ser titular de direitos fundamentais" (vez que os direitos fundamentais
são oponíveis exatamente contra o Estado) STF (RTJ 170/650) - Estado-membro não
pode ser titular de direitos fundamentais STF (RTJ 150/485) - Servidor público (logo: a
pessoa física agente público e investido de certas competências) goza contra o Estado do
direito a um devido processo legal.

4.2. Sujeito passivo – contra quem demandamos um direito fundamental?


• Estado - eficácia vertical:
Eficácia direta contra o Estado – é a via de regra. Aqui não há discussão de que sempre
se trataria de uma eficácia direta e imediata. Vemos com clareza essa intenção na leitura do Art.
5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 1º As normas definidoras dos
direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Exemplos: demandamos contra o
Estado para obter um tratamento à saúde previsto pelo SUS, uma vaga para meu filho em uma
escola.

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• Terceiros – eficácia horizontal:


Isto é, outros particulares, chamada "eficácia horizontal" ou "indireta" ou "eficácia perante
terceiros, que não o Estado". Refere-se à capacidade dos direitos fundamentais de regular as
relações entre particulares, ou seja, entre indivíduos e entidades privadas, e não apenas as
relações entre o indivíduo e o Estado. Isso significa que, além de garantir a proteção dos
cidadãos contra a atuação do Estado, os direitos fundamentais também podem ser invocados e
aplicados nas relações entre particulares, de modo a garantir a proteção dos direitos humanos
em todas as esferas da vida. Em outras palavras, acordos privados, atos e negócios jurídicos
firmados entre particulares deverão observar os direitos e garantias fundamentais (MENDES;
COELHO; BRANCO, 2019).
Muito embora, o fato de se reconhecer a vinculação direta e imediata dos particulares aos
direitos fundamentais não implica sua aplicação na mesma proporção nas relações privadas
quanto ocorre nas relações entre Estado e cidadão (vertical), visto que os particulares são
detentores do princípio da autonomia privada (e também detentores de direitos fundamentais).
Exemplo: uma empresa não pode escolher como critério de contratação a pessoa ser branca
(porque seria discriminatório e violador da igualdade e dignidade), um hospital particular não
pode negar prestação religiosa a um paciente porque a orientação religiosa do paciente é
diferente da orientação da unidade hospitalar, etc.

Eficácia Horizontal:
Eficácia Vertical:
Proteção do particular
Proteção do particular
em face de outro
em face do Estado.
particular.

5. LIMITAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Direitos fundamentais estão sujeitos a limites e restrições. Sempre está presente a


máxima da otimização no sentido de máxima de garantia e proteção dos direitos fundamentais

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nos estados democráticos, mas direitos fundamentais não são absolutos, poderão sofrer
relativizações face ao direito fundamental de outrem.

• Limitações internas:
Dizem respeito ao próprio direito, por assim dizer, nascem juntamente com o próprio
direito. Entre muitos os exemplos a serem arrolados, pode-se citar o art. 5º, XI, XII e XIII, da
Constituição Federal, que trata dos casos em que se restringe/limita direitos como a
inviolabilidade do domicílio, o sigilo de correspondência, o livre exercício do trabalho (mediante
a imposição de certas exceções ao exercício ilimitado destes determinados direitos).

É livre a locomoção no território nacional, EM TEMPO DE PAZ

Todos têm direito a voto, desde que possuam a idade constitucionalmente


exigida;
É livre a manifestação do pensamento, VEDADO O ANONIMATO!

ATENÇÃO!

Essas limitações poderão aparecer de forma expressa no texto


constitucional (chamamos de limitações expressas), ou poderão ser
dispostas em normas infraconstitucionais (chamadas de limitações não
expressas):
→ Por reserva legal: caso em que a Constituição autoriza a limitação a
um direito fundamental. Ex.: liberdade de profissão (onde a Constituição
autoriza criar limitações ao seu exercício); ou
→ Cláusula geral: quando aquela conduta é considerada proibida por
outras disposições legais. Ex.: a liberdade de expressão não comporta
proferir incitar a violência, pois é ilícito. Logo, não há direito fundamental
que possa ser invocado para nos proteger de algo ilícito.

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• Limitações externas:
Restrições de ordem externa, ou seja, espécies de “limitações” práticas que serão
analisadas nos casos em concreto, pois a redução deste conteúdo de direito fundamental se
realiza por força de algo que lhe é exterior ao seu próprio conteúdo. Situações fáticas as quais
poderão exigir certas restrições (ÁVILA, 2013).

• Colisão e direitos fundamentais:


Diante da multifuncionalidade dos próprios direitos fundamentais, bem como a
multiplicidade de seus titulares, na medida em que os direitos podem apresentar-se como
conflitantes em caso concreto. Nesses casos quando invocada sua proteção por seus titulares
em um caso concreto, inevitavelmente haverá uma colisão de direitos fundamentais, e
apresentar-se-á a necessidade de ponderação por parte do julgador, pois como visto
anteriormente, não há direitos fundamentais (princípios) absolutos, o que se opera é sempre uma
relação de precedência diante a fundamentalidade prima facie de um direito fundamental.
Será através da ponderação e da aplicabilidade do princípio da proporcionalidade e da
razoabilidade, que poderá mensurar os limites e restrições a estes direitos numa relação de
custo/benefício. Visto a importância e a imprescindibilidade do referido princípio para a
efetividade dos direitos fundamentais no Estado Democrático de Direito, impende elucidar os três
critérios (deveres) essenciais para o juízo da proporcionalidade.
Sendo assim, haverá situações concretas, nas quais os direitos fundamentais poderão
conflitar/colidir, nesses casos, restrições também serão possíveis visando resolver nos casos
concretos através da aplicação do princípio da proporcionalidade. Muitos autores referem-se a
reserva do possível fática, quando o direito tutelado não possui condições de ser concretizado
em sua totalidade porque os bens dispostos são finitos ou insuficientes. É relevante lembrar,
contudo, que quando o intérprete constitucional precisar decidir nessas circunstâncias, deverá
levar em conta o princípio da proporcionalidade. O princípio da proporcionalidade, enquanto
restrição externa de um direito fundamental, desdobra-se em três dimensões que deverão ser
rigorosamente respeitadas, a fim de não ultrapassar os limites dos limites e das restrições (e
passar a ser uma medida arbitrária ao invés de uma justificação aos limites e restrições de
direitos fundamentais.

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Três passos para a aplicação do princípio da proporcionalidade:

ADEQUAÇÃO: dever de adequação do meio - exige que no caso concreto


se verifique se o fim é legítimo, se era o meio mais adequado, apto, útil e
idôneo, no sentido de atingir a finalidade pretendida;
NECESSIDADE: dever de necessidade do meio - onde se exige a adoção
do meio menos gravoso, que a utilização deste meio proporcionou menos
desvantagens e afetação a um direito fundamental, seus resultados
trazem menores prejuízos;
PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO: que é a análise da
relação custo/benefício, obtida através da análise entre o resultado obtido
pelo emprego do meio eleito e a afetação desvantajosa dele decorrente
aos direitos fundamentais. Ex.: a própria legítima defesa – dano moral.
(BARCELLOS, 2003, p. 57-59)

Vejamos um exemplo da jurisprudência do STF onde teria ocorrido uma “colisão” e a


resposta foi proporcional no caso concreto:

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE. Trotes telefônicos e competência


estadual - ADI 4924/DF e não incidência de violação a intimidade e privacidade –
dados pessoais – proporcionalidade e razoabilidade da medida. É constitucional
norma estadual que determine que as prestadoras de serviço telefônico são obrigadas a
fornecer, sob pena de multa, os dados pessoais dos usuários de terminais utilizados para
passar trotes aos serviços de emergência. Sob o aspecto formal, não há se falar em
violação aos arts. 21, XI, e art. 22, IV, da Constituição Federal (CF), pois não há qualquer
regra relativa à efetiva prestação dos serviços de telecomunicações, às relações da
concessionária com o usuário, aos padrões de prestação de serviço ou ao equilíbrio
econômico-financeiro do contrato. No mesmo sentido, não há qualquer
inconstitucionalidade material por violação à intimidade, à vida privada ou ao direito de
proteção dos dados dos usuários, bem como à cláusula de reserva de jurisdição, nos
termos estabelecidos pelo art. 5º, X e XII, da CF.
O afastamento parcial desses preceitos constitucionais em casos de “trotes telefônicos”
constitui medida proporcional e necessária à garantia da prestação eficiente dos serviços
de emergência contra a prática de ilícitos administrativos, inexistindo qualquer outra
medida que favoreça a higidez dessas atividades, que envolvem o atendimento a direitos
fundamentais de terceiros, com um menor grau de afetação dos direitos contrapostos.
Destaque-se que a autorização legislativa para o acesso administrativo de dados
cadastrais não significa que o Poder Executivo estadual esteja autorizado a monitorar ou
acessar indiscriminadamente os dados pessoais de todos os cidadãos. A lei deve
estabelecer uma finalidade claramente delimitada para acesso aos dados, com hipóteses
legais específicas e a possibilidade de controle posterior que devem ser interpretadas de

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acordo com os dispositivos constitucionais indicados, de modo a se manter hígida a norma


e o objetivo previsto pelo legislador estadual.

• Possibilidade de restrição a direitos fundamentais descritas na constituição:


→ Estado de defesa
Medidas passíveis de adoção, "dentre outras" (art. 136, § 1º, da CF):
I - Restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - Ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.

→ Estado de sítio
Medidas passíveis de adoção (art. 137, I, da CF):
I - Obrigação de permanência em localidade determinada;
II - Detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes
comuns;
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das
comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão
e televisão, na forma da lei (excluída a difusão de pronunciamentos de
parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela
respectiva Mesa – art. 139, § único, da CF);
IV - Suspensão da liberdade de reunião;
V - Busca e apreensão em domicílio;
VI - Intervenção nas empresas de serviços públicos;
VII - Requisição de bens

Art. 137, II, da CF:


Cabe ao próprio decreto indicar discricionariamente quais direitos serão
restringidos, e como esses direitos serão restringidos.

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6. RELAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS COM OS TRATADOS INTERNACIONAIS

Hierarquia dos tratados – incorporados à legislação brasileira

Art. 5°, § 2°, CF 1988 diz que "Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte".
Como se vê, a Constituição, em seu art. 5°, §2°, institui um sistema constitucional aberto
- não excluindo outros decorrentes dos tratados internacionais em matéria de direitos humanos.
O catálogo dos direitos elencados no art. 5º é exemplificativo, não é taxativo, exaustivo, pois
encontra-se direitos fundamentais esparsos na Constituição
Art. 5º, § 3º da CF: "Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Ou seja, após
a EC/45 de 2004, os tratados internacionais aprovados com a votação acima, equiparam-se às
normas de direitos fundamentais, justamente por ser considerados o nível de uma emenda
constitucional.

• Tratados internacionais de Direitos Humanos com força de Emenda:


→ Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Convenção de
Nova Iorque) – Decreto nº 6.949/2009.

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→ Protocolo Facultativo à Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas


com Deficiência – Decreto nº 6.949/2009.
→ Tratado de Marraqueche – Decreto nº 9.522/2018.
→ Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e
Formas Correlatas de Intolerância – Decreto nº 10.932/2022.

6.1. Força de norma supralegal dos tratados internacionais em matéria de direitos


humanos: o caso do depositário infiel
O fato é que a Constituição, no seu art. 5º, LXVII, prevê a prisão civil em caso de
inadimplemento de prestação alimentícia e em caso de depositário infiel.
Por outro lado, a CF dispõe, como vimos, no parágrafo 2º do art. 5º, que os direitos e
garantias nela expressos “não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
Nesse sentido, existe o Pacto de São José da Costa Rica, que o Brasil ratificou em 1992,
que não prevê a prisão civil de depositário infiel, contrariando dispositivo constitucional expresso.
Após grande embates entre as teorias unista (dizendo que todo tratado quando ratificado ganhou
status de emenda constitucional – que não era a corrente adotada pelo STF) e dualista (que dizia
que os tratados internacionais entrariam com força de lei ordinária - ou seja, inferior a
Constituição - que era até então a posição adotada pelo STF), surge a Emenda Constitucional
nº 45/2004, que acrescentou o parágrafo 3º ao art. 5º para dispor que esse status (a equiparação
a dispositivo constitucional) somente será alcançado se o Congresso Nacional ratificar o
respectivo tratado ou convenção, por votação em dois turnos, em duas casas do congresso, com
maioria de três quintos. Contudo, como o tratado era anterior à emenda, a decisão do STF foi
no sentido de considerar os tratados anteriores a 2004 com força de norma supralegal
(BONAVIDES, 2016).
Em decorrência do referido tratado, o STF editou a Súmula Vinculante nº 25, no seguinte
sentido: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito”.

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HIERARQUIA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS:


 EM MATÉRIA DE DIREITOS HUMANOS:
1) Aprovados antes de 2004: força de norma supralegal (STF);
2) Aprovados após 2004 com votação do art. 5 parágrafo 3º de 3/5, em 2 turnos nas 2
casas: força de emenda constitucional = força constitucional
3) Aprovados após 2004 SEM a votação do art. 5 parágrafo 3º: força de norma supralegal

 QUE A MATÉRIA NÃO SEJA DE DIREITOS HUMANOS


1) Independente da votação terão força de LEI ORDINÁRIA.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

DIREITOS FUNDAMENTAIS

1. DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE

1.1. Direito à vida


É um direito pré-requisito, pois é ele que dá existência a todos os outros direitos. Há duas
formas ou naturezas para este direito, a primeira o direito de existência, ou seja, continuar vivo
e a segunda o direito a uma vida digna capaz de garantir uma subsistência legítima.

Dimensão vertical do direito à vida: Dimensão horizontal do direito à


da fecundação à morte, não vida: qualidade da vida, vida digna,
interrupção dos processos vitais,
alcançar o piso mínimo vital.
ESTAR VIVO.

• A “inviolabilidade do direito à vida” para o Estado resulta em três obrigações:

Obrigação de Dever dos agentes estatais não violarem,


Respeito arbitrariamente, a vida de outrem;

Dever de prevenção da violação da vida


Obrigação de por parte de 3ºs e eventual punição
Obrigações àqueles que arbitrariamente violam a vida
Garantia
de outrem;

Dever do Estado de assegurar uma vida


Obrigação de Tutela digna, garantindo condições materiais
mínimas de sobrevivência.

Em decorrência do seu primeiro desdobramento (direito de não se ver privado da vida de


modo artificial), encontra-se a proibição da pena de morte, salvo em caso de guerra declarada,
nos termos do art. 84, XIX. Assim, mesmo por emenda constitucional é vedada a instituição da
pena de morte no Brasil, sob pena de se ferir a cláusula pétrea do art. 60, § 4.º, IV.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

→ Decisões relevantes sobre o tema:


Segundo o STF (últimas decisões) o conceito de vida estaria ligado ao surgimento
do cérebro, “o zigoto seria o embrião em estágio inicial, pois ainda destituído de cérebro”.
Assim, sem cérebro não há vida! Conforme conceito definido ADI 3.510 que
analisou o art. 5º da Lei nº 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) – A utilização para
pesquisa de células tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por
fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento.
Também é importante destacar a ADPF 54 (info.661/STF), na qual se tratou o tema
da gravidez de feto anencéfalo e a possibilidade de abortamento. Tem-se que a
interrupção da gravidez do feto anencéfalo não pode ser tipificada como aborto.
Ademais, decisão no Recurso Especial nº 1.391.469, emanada pelo Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, tratou do direito à vida nos casos de transfusão de sangue
envolvendo testemunhas de Jeová. Entendeu-se pela impossibilidade de recusa de
tratamento médico quando há risco de vida de menor, caso em que a vontade dos pais foi
substituída pela manifestação judicial.

1.2. Direito à integridade física e psíquica


Art. 5º, III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano
ou degradante;

Presente também no art. 5º, XLIX e na Súmula Vinculante 11 do STF, que se referem,
respectivamente, ao direito à integridade física e moral dos presos e a excepcionalidade do uso
de algemas. Quanto a tortura, atenção ao tratamento internacional (agente estatal) x
constitucional da tortura (Lei nº 9.455/97).

1.3. Princípio da igualdade


Art. 5º, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição;

O conceito de igualdade material ou substancial recomenda, inversamente ao


pensamento liberal oitocentista, que se levem na devida conta as desigualdades concretas
existentes na sociedade, devendo as situações desiguais ser tratadas de maneira

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

dessemelhante, evitando-se assim o aprofundamento e a perpetuação de desigualdades


engendradas pela própria sociedade. O Direito, relativamente ao indivíduo, passa a percebê-lo
e a tratá-lo em sua especificidade, como ser dotado de características singularizantes.
Quando e como distinguir os desiguais dos iguais, ou, em outros termos, quando uma
nota distintiva pode ser utilizada para distinguir juridicamente os homens? Em síntese, os critérios
adotados por Celso A. B. de Mello (2010, p. 21) são: a) fator de desigualação; b) correlação
lógica abstrata entre o fator de discriminação e a disparidade no tratamento jurídico diversificado;
c) consonância desta correlação lógica aos interesses absorvidos pelo texto constitucional.

• Análise do Princípio da Igualdade:


a) igualdade não é identidade, e igualdade jurídica não é igualdade natural ou
naturalística;
b) igualdade significa intenção de racionalidade e, em último termo, intenção de
Justiça;
c) igualdade não é uma “ilha”, encontrando-se conexa com outros princípios, de
modo a ser compreendida, também, no plano global dos valores, critérios e opções
da Constituição Material Política de ações afirmativas.

Concebidas, pioneiramente, pelo Direito dos Estados Unidos da América, as ações


afirmativas consistem em políticas públicas ou privadas voltadas à concretização do princípio
constitucional da igualdade material (MELLO, 2010).

• Tríplice finalidade do princípio da igualdade:


a) legislador: não poderá afastar-se do princípio da igualdade no exercício de sua
função constitucional de edição normativa;
b) intérprete: não poderá aplicar as leis e os atos normativos de modo a criar ou
aumentar desigualdades arbitrárias/fortuitas;
c) particular não poderá pautar-se por condutas discriminatórias, sob pena de
responsabilidade civil e penal (MELLO, 2010).

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

A igualdade material é explorada pela própria constituição, no art. 5º, L; LI; art. 7º, XVIII e
XIX; no serviço militar obrigatório, nas idades e nos períodos de contribuição para a
aposentadoria.

IGUALDADE Formal IGUALDADE Material


• Todos poderão igualmente buscar os direitos • Tratar desigualmente os desiguais para reduzir
expressos na lei. as desigualdades. (COTAS NA UNB – ADF
186/STF)

Quanto à igualdade material, tem-se precedentes importantes do STF, além de legislação


infraconstitucional no que toca a ações afirmativas e a ações para a concretização desse
princípio constitucional:
→ Cotas raciais:
Discussão travada na ADPF 186, que considerou constitucional a política de cotas
étnico-raciais para seleção de estudantes da Universidade de Brasília (UnB).
Conforme ponderou o Min. Lewandowski, relator do caso, “as experiências
submetidas ao crivo desta Suprema Corte têm como propósito a correção de
desigualdades sociais, historicamente determinadas, bem como a promoção da
diversidade cultural na comunidade acadêmica e científica. No caso da Universidade de
Brasília, a reserva de 20% de suas vagas para estudantes negros e de ‘um pequeno
número’ delas para ‘índios de todos os Estados brasileiros’, pelo prazo de 10 anos,
constitui providência adequada e proporcional ao atingimento dos mencionados
desideratos. Dito de outro modo, a política de ação afirmativa adotada pela UnB não se
mostra desproporcional ou irrazoável, afigurando-se, também sob esse ângulo,
compatível com os valores e princípios da Constituição” (fls. 46-47 de seu voto).

→ Cotas raciais nos concursos públicos:


No julgamento da ADC 41/DF, estabeleceu-se a constitucionalidade da Lei n°
12.990/2014, e, portanto, definiu-se que é constitucional a reserva à pessoas negras 20%
das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e
empregos públicos no âmbito da administração pública federal direta e indireta, por três
fundamentos.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Sobre distinções em concursos públicos:


A distinções em concursos públicos só se justificam em razão da natureza do cargo
e devem estar previstas em lei. Segundo a Súmula 683, do STF, o limite de idade para a
inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição,
quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

→ Prouni:
Dentro da ideia de política de cotas, o Governo Federal, através da MP nª 213/2004,
instituiu o PROUNI — Programa Universidade para Todos, que foi regulamentado pelo
Decreto nº 5.493/2005. A Medida Provisória nº 213 foi objeto das ADIs 3.314 e 3.379,
apensadas à ADI 3.330, e, posteriormente, convertida na Lei nº 11.096/2005. O art. 1.º da
Lei, ao instituir o PROUNI, dispõe tratar-se de programa destinado à concessão de bolsas
de estudo integrais e parciais de 50% ou de 25% para estudantes de cursos de graduação
e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de ensino superior, com
ou sem fins lucrativos.
Por maioria de votos, o STF, em 03.05.2012, julgou constitucional o PROUNI, como
importante fator de inserção social e cumprimento do art. 205 da CF/88, que estatui ser a
educação direito de todos e dever do Estado e da família.

→ Lei Maria da Penha:


O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, em 09.02.2012,
julgou procedente a ADC 19, para declarar a constitucionalidade dos arts. 1.º, 33 e 41 da
Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), tendo por fundamento o princípio da igualdade,
bem como o combate ao desprezo às famílias, sendo considerada a mulher a sua célula
básica.
Na mesma assentada, por maioria e nos termos do voto do Relator, o STF julgou
procedente a ADI 4.424, para, dando interpretação conforme os arts. 12, I, e 16, ambos
da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), declarar a natureza incondicionada da ação
penal em caso de crime de lesão, pouco importando a extensão desta, praticado contra a
mulher no ambiente doméstico.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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1.4. Liberdades constitucionais


As liberdades constitucionais são fundamentais para o sistema jurídico e político de um
país, pois asseguram a garantia dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos e limitam o
poder do Estado. Na Constituição de 1988, as liberdades constitucionais foram consagradas de
maneira ampla e explícita, em diversos dispositivos, tais como a liberdade de expressão, de
associação, de reunião, de crença religiosa, de livre exercício de profissão, entre outras.
A importância dessas liberdades para o Estado Democrático de Direito é inquestionável,
pois elas garantem o exercício pleno da cidadania e a livre manifestação da vontade dos
indivíduos. Além disso, as liberdades constitucionais possibilitam a participação política, a
formação de opinião crítica e a defesa dos direitos dos grupos mais vulneráveis da sociedade,
tais como as minorias étnicas, as mulheres, os idosos, os LGBTs, entre outros.

liberdade de
liberdade de
manifestação
comunicação
do liberdade de liberdade de liberdade de
e de
pensamento expressão ensino e expressão
informação
(incluindo a artística; pesquisa; religiosa.
(liberdade de
liberdade de
“imprensa”);
opinião)

• Liberdade de expressão:
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

Ingo Sarlet (2021) afirma que a regra contida no referido art. 5.º, IV, estabelece uma
espécie de “cláusula geral” que, em conjunto com outros dispositivos, asseguram a liberdade de
expressão nas suas diversas manifestações.
Quanto à vedação do anonimato, nestes termos, refere-se à manifestação do pensamento
entre locutores presentes, como de uma pessoa a outra (conversa, diálogo) ou de uma pessoa
para com as outras (palestras, conferências, discursos).
Precedente do STF no assunto:

Anonimato — Notícia de prática criminosa — Persecução criminal — Impropriedade. Não


serve à persecução criminal notícia de prática criminosa sem identificação da autoria,
consideradas a vedação constitucional do anonimato e a necessidade de haver

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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parâmetros próprios à responsabilidade, nos campos cível e penal, de quem a implemente


(HC 84.827, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 7-8-07, DJ de 23-11-07).

Lembrar que a liberdade de expressão


jamais poderá ser invocada diante da
tipificação de um ato ilícito, a exemplo de
crimes de racismo, homofobia, etc. E que
o seu exercício tem limites, como no caso
de discurso de ódio e incitação à violência.

• Direito de resposta:
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;

Possibilidade de responder a ofensa veiculada na mídia. É o Direito de reação ao uso


indevido da mídia que visa à proteção da imagem e da honra do ofendido no exercício indevido
do direito de liberdade de expressão.
Remissão fundamental é o artigo 220 e seus parágrafos, uma vez que é possível
estabelecer duas importantes questões: 1) em face da liberdade de expressão é vedada toda e
qualquer forma de censura política, artística e ideológica; 2) isso não significa que não haverá
limitações ao exercício de tais liberdade, a exemplo de programações envolvendo crianças e
adolescente, limitações em relação a propagandas comercial de tabaco, bebidas alcoólicas,
agrotóxicos, medicamentos e terapias.

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob


qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto
nesta Constituição.
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de
informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto
no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
§ 3º Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre
a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que
sua apresentação se mostre inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se
defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que
possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
§ 4º A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e
terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e
conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.
§ 5º Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de
monopólio ou oligopólio.
§ 6º A publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de
autoridade.

→ Decisão relevante no assunto:

Biografias não autorizadas: ação direta de inconstitucionalidade. Arts. 20 e 21 da lei n.


10.406/2002 (Código Civil). Preliminar de ilegitimidade ativa rejeitada. Requisitos legais
observados. Mérito: aparente conflito entre princípios constitucionais: liberdade de
expressão, de informação, artística e cultural, independente de censura ou autorização
prévia (art. 5º incs. Iv, ix, xiv; 220, §§ 1º e 2º) e inviolabilidade da intimidade, vida privada,
honra e imagem das pessoas (art. 5º, inc. X). Adoção de critério da ponderação para
interpretação de princípio constitucional. Proibição de censura (estatal ou particular).
Garantia constitucional de indenização e de direito de resposta. Ação direta julgada
procedente para dar interpretação conforme à constituição aos arts. 20 e 21 do código
civil, sem redução de texto. (ADI 4815, relator(a): min. Cármen lúcia, Tribunal Pleno,
julgado em 10/06/2015, processo eletrônico dje-018 divulgado 29-01-2016 publicado 01-
02-2016)

• Direito à informação:
XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo
da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado

A importância desse direito é fundamental para a garantia da transparência e da


democracia, pois permite que os cidadãos tenham acesso a informações relevantes para a
tomada de decisões e o exercício da cidadania. Além disso, o direito à informação é um
importante instrumento de controle social sobre as ações dos governos e das empresas,
permitindo que a população tenha acesso a dados sobre a gestão pública, a política econômica
e social, a violação de direitos humanos, entre outros temas relevantes para a sociedade. Dessa
forma, a garantia do direito à informação é um dos pilares para o fortalecimento da democracia

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

e para o combate à corrupção, uma vez que permite que a população tenha acesso às
informações necessárias para fiscalizar a atuação dos poderes públicos e privados.

O direito à informação comporta direito de se informar, de ser informado e de passar


a informação!

→ Direito de se informar:
É uma limitação estatal em frente à esfera individual, que permite ao sujeito
pesquisar, buscar informações de seu interesse, salvo art. 5° XXXIII, da CF (matérias
sigilosas) e art. 5º, XIV, da CF (profissionais de informação quanto ao sigilo das fontes).
Observação: em se tratando de informação relativa ao próprio sujeito quanto a
informações em cadastros públicos, banco de dados ou outra de caráter público, a CF em
seu art. 5º, LXXII, a garantia do remédio constitucional do habeas data.

→ Direito de ser informado:


Enquanto forma de direito de receber informação, só pode ser investido,
reivindicado, diante quando simultaneamente atribui a outrem o DEVER de informar, que
em termos na CF, atribui-se apenas ao Poder Público, conforme art. 5º, XXXIII, e art. 37,
caput.

→ Direito de passar informação:


É o teor do caput do art. 220 da CF, no qual se admite que, por qualquer forma,
processo ou veiculação, a informação não sofrerá qualquer espécie de restrição,
observado o disposto nesta Constituição (art. 220 e parágrafos e art. 221), vedada
qualquer forma de censura de caráter político, ideológico e artístico.

Além da previsão constitucional, tem-se o regimento da Lei de Acesso à Informação, a Lei


nº 12.527/11, em que a transparência está associada à divulgação de informações que permitam
que sejam averiguadas as ações dos gestores e a consequente responsabilização por seus atos.
Na definição de transparência, são identificadas características em relação à informação
completa, objetiva, confiável e de qualidade, ao acesso, à compreensão e aos canais totalmente

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

abertos de comunicação. Engloba os seguintes atributos: acesso, abrangência, relevância,


qualidade e confiabilidade.
A partir dessa lei, a regra passou a ser o acesso à informação, enquanto que a exceção
se dá pela possibilidade de sigilo em caso de segurança do Estado e interesse público ou casos
que se justifiquem em decorrência da preservação da privacidade intimidade (segredo de justiça).
São algumas das disposições legais:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela União, Estados,
Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir o acesso a informações previsto no
inciso XXXIII do art. 5º , no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição
Federal.
Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei:
I - os órgãos públicos integrantes da administração direta dos Poderes Executivo,
Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e Judiciário e do Ministério Público;
II - as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de
economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União,
Estados, Distrito Federal e Municípios.

Art. 2o Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, às entidades privadas sem
fins lucrativos que recebam, para realização de ações de interesse público, recursos
públicos diretamente do orçamento ou mediante subvenções sociais, contrato de gestão,
termo de parceria, convênios, acordo, ajustes ou outros instrumentos congêneres.

Art. 24 A informação em poder dos órgãos e entidades públicas, observado o seu teor e
em razão de sua imprescindibilidade à segurança da sociedade ou do Estado, poderá ser
classificada como ultrassecreta, secreta ou reservada.
§ 1o Os prazos máximos de restrição de acesso à informação, conforme a classificação
prevista no caput, vigoram a partir da data de sua produção e são os seguintes:
I - ultrassecreta: 25 (vinte e cinco) anos;
II - secreta: 15 (quinze) anos; e
III - reservada: 5 (cinco) anos.

→ Decisão do STF no assunto:


Atividade parlamentar e o direito à informação. O Plenário do STF deu provimento
a recurso extraordinário e fixou a seguinte tese de repercussão geral (Tema 832): "O
parlamentar, na condição de cidadão, pode exercer plenamente seu direito fundamental
de acesso a informações de interesse pessoal ou coletivo, nos termos do art. 5º, inciso
XXXIII, da Constituição Federal e das normas de regência desse direito".
O Tribunal entendeu que o parlamentar, na qualidade de cidadão, não pode ter
cerceado o exercício do seu direito de acesso, via requerimento administrativo ou judicial,
a documentos e informações sobre a gestão pública, desde que não estejam,
excepcionalmente, sob regime de sigilo ou sujeitos à aprovação de Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI). O fato de as casas legislativas, em determinadas situações, agirem de

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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forma colegiada, por intermédio de seus órgãos, não afasta, tampouco restringe, os
direitos inerentes ao parlamentar como indivíduo. RE 865401/MG, rel. Min. Dias Toffoli,
julgamento em 25.4.2018. (RE-865401) (Informativo 899).

• Liberdade de reunião e manifestação em praça pública:


XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos
ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas
exigido prévio aviso à autoridade competente;

Esse direito garante que as pessoas possam se reunir pacificamente, sem armas, em
locais públicos ou privados, desde que não prejudiquem a ordem pública. A importância desse
direito é inegável, pois a reunião pacífica é uma forma legítima de expressão da opinião pública
e uma forma de participação política, além de ser um meio efetivo de pressionar as autoridades
para que atuem em prol dos interesses da população. É por isso que a liberdade de reunião é
um dos pilares da democracia, permitindo que as pessoas se organizem e se mobilizem em prol
de suas causas, sem medo de retaliações ou censuras. Além disso, a garantia da liberdade de
reunião é um indicador de que o Estado Democrático de Direito está consolidado e respeito os
direitos e garantias fundamentais previstos da Constituição.
Este é um direito, notadamente marcado pelo repúdio ao regime militar, anos de repressão
a direitos, especialmente, liberdades. O foco principal é a garantia da manifestação coletiva do
pensamento.

→ Requisitos essenciais para a “liberdade de reunião”:


− Ser pacífica;
− Sem armas;
− Não frustrar outra reunião agendada;
− Locais abertos ao público;
− Prévia comunicação das autoridades competentes;
− Fim lícito e determinado.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Decisão do STF sobre a comunicação das autoridades em relação a


liberdade de reunião:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO


CONSTITUCIONAL. DIREITO DE MANIFESTAÇÃO. DIREITO DE REUNIÃO E DE
EXPRESSÃO. AVISO PRÉVIO. DESNECESSIDADE. PROVIMENTO DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. 1. Em uma sociedade democrática, o espaço público não é apenas
um lugar de circulação, mas também de participação. Há um custo módico na convivência
democrática e é em relação a ele que eventual restrição a tão relevante direito deve ser
estimada. 2. O aviso ou notificação prévia visa permitir que o poder público zele para que
o exercício do direito de reunião se dê de forma pacífica e que não frustre outra reunião
no mesmo local. Para que seja viabilizado, basta que a notificação seja efetiva, isto é, que
permita ao poder público realizar a segurança da manifestação ou reunião. 3.
Manifestações espontâneas não estão proibidas nem pelo texto constitucional, nem pelos
tratados de direitos humanos. A inexistência de notificação não torna ipso facto ilegal a
reunião. 4. A notificação não precisa ser pessoal ou registrada, porque implica reconhecer
como necessária uma organização que a própria Constituição não exigiu. 5. As
manifestações pacíficas gozam de presunção de legalidade, vale dizer, caso não seja
possível a notificação, os organizadores não devem ser punidos por sanções criminais ou
administrativas que resultem multa ou prisão. 6. Tese fixada: A exigência constitucional
de aviso prévio relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de
informação que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de forma
pacífica ou para que não frustre outra reunião no mesmo local.

Atenção! Não confundir liberdade de reunião com liberdade de associação.

• Liberdade de associação:
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de
caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de Cooperativas
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu
funcionamento;

É um direito fundamental para a garantia da autonomia e da diversidade de pensamento,


permitindo que as pessoas se organizem em grupos para defenderes seus interesses,
expressarem suas opiniões e participarem ativamente da vida política e social do país. A
liberdade de associação também é um importante instrumento de fortalecimento da sociedade
civil, possibilitando a criação de organizações não governamentais, sindicatos, associações de
bairro, grupos de defesa dos direitos humanos, entre outas, que têm como objetivo a promoção
do bem comum e a defesa dos direitos e interesses dos cidadãos.

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Vale tanto para associações como para cooperativas. O art. 5º, XIX, da CF/88 trata do
encerramento e suspensão das atividades das associações:

→ Suspensão: é temporária, provisória;

→ Dissolução: é definitiva e só ocorre após o trânsito em julgado de sentença


judicial que decretar a dissolução.

A regra geral é a garantia de permanência e funcionamento até a desconstituição por seus


associados. Mas, tem-se a possibilidade de a decisão judicial, como única e exclusiva forma que
pode mandar impedir, mandar fechar, encerrar as atividades (não cabe processo administrativo).
O art. 5º, XXI, da CF trata do direito de representação da associação: as entidades
associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente”. No tema, tem-se a Súmula nº 629, do STF: "A impetração
de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe
da autorização destes".

→ A representação, assim, tem as seguintes características:


− Judicial;
− Extrajudicial;
− Autorização deve ser expressa;
− Procuração;
− Decisão em assembleia;
− Conformidade com o estatuto.

Atenção! Cuidado com a finalidade da representação, pois a representação


somente autoriza fazer aquilo que tiver relação com aquilo que se propõe a
associação.

→ Decisões importantes do STF:


Quanto à contribuição confederativa, o STF editou a Súmula Vinculante nº 40, que
estabelece: “A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo”. Já no que toca à contribuição


sindical, houve mudança recente quanto a sua obrigatoriedade. Entendeu-se compatíveis
com a CF/88 os dispositivos da Reforma Trabalhista que extinguiram a obrigatoriedade
da contribuição sindical e condicionaram o seu pagamento à prévia e expressa
autorização dos filiados.
O STF asseverou que a Constituição assegura a livre associação profissional ou
sindical, de modo que ninguém é obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato,
consoante art. 8º, V, da CF/88. O princípio da liberdade sindical garante tanto ao
trabalhador quanto ao empregador a liberdade de se associar, passando a contribuir
voluntariamente com essa representação.
Ademais, nos autos do Recuso Extraordinário nº 820.823-DF, o STF estabeleceu
que o condicionamento da desfiliação de associado à quitação de débitos e/ou multas
constitui ofensa à dimensão negativa do direito à liberdade de associação, isto é, o direito
de não se associar, cuja previsão constitucional é expressa.

• Liberdade de consciência e liberdade religiosa:


VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias;

O Brasil é um Estado laico, que se define por ser um “estado separado da religião”, isto é,
que não possui uma religião oficial. A opção por laicidade do vem desde a Constituição de 1891,
e no texto da Constituição de 1988 está expresso no seguinte dispositivo:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;

José Afonso da Silva (2002, p. 240) explica que: “na liberdade de crença entra a liberdade
de escolha da religião, a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito)
de mudar de religião, mas também compreende a liberdade de não aderir a religião alguma,
assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo”.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ No tema, tem-se as seguintes decisões do STF:

Repercussão geral do RE 611.874 DF – Rel. Min. Dias Toffoli. MANDADO DE


SEGURANÇA. PRETENDIDA AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE ETAPA DE
CONCURSO PÚBLICO EM HORÁRIO DIVERSO DAQUELE DETERMINADO PELA
COMISSÃO ORGANIZADORA DO CERTAME POR FORÇA DE CRENÇA RELIGIOSA.
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EM CONFLITO. MATÉRIA PASSÍVEL DE
REPETIÇÃO EM INÚMEROS PROCESSOS. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.

Posição provisória do STF (STA 389): Agravo Regimental em Suspensão de Tutela


Antecipada. 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que
possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM) em data alternativa ao Shabat 3. Alegação de inobservância ao direito
fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação. 4. Medida acautelatória que
configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa. 5. Em mero juízo de delibação,
pode-se afirmar que a designação de data alternativa para a realização dos exames não
se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um
determinado grupo religioso 6. Decisão da Presidência, proferida em sede de
contracautela, sob a ótica dos riscos que a tutela antecipada é capaz de acarretar à ordem
pública 7. Pendência de julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 391 e
nº 3.714, nas quais este Corte poderá analisar o tema com maior profundidade. 8. Agravo
Regimental conhecido e não provido.

Atenção! ADI 3714 - Lei Paulista Data alternativa motivos religiosos.

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa


nas entidades civis e militares de internação coletiva;

É relevante referir que mesmo em locais de internação e confinamento particulares e


pertencentes a determinada orientação religiosa, o direito garantido no art. 5 VII deverá ser
assegurado, uma vez que se sabe que os direitos fundamentais também incidem nas relações
interprivadas. Assim, sejam tais locais públicos ou privados, esse direito fundamental estará
assegurado pela Constituição de 1988.

• Escusa de consciência:
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Aquele que alegar afronta a convicção religiosa para não prestar serviço militar receberá
uma prestação alternativa - em caso de não cumprimento tem como punição a perda dos direitos
políticos, conforme art. 15, IV.

→ Decisões importantes do STF quanto à liberdade religiosa:


 Ensino confessional nas escolas públicas: O Estado, observado o
binômio Laicidade do Estado (art. 19, I) / Consagração da Liberdade
religiosa (art. 5º, VI) e o princípio da igualdade (art. 5º, caput), deverá
atuar na regulamentação do cumprimento do preceito constitucional
previsto no art. 210, §1º, autorizando na rede pública, em igualdade de
condições, o oferecimento de ensino confessional das diversas crenças,
mediante requisitos formais e objetivos previamente fixados pelo
Ministério da Educação. Dessa maneira, será permitido aos alunos que
voluntariamente se matricularem o pleno exercício de seu direito
subjetivo ao ensino religioso como disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental, ministrada de acordo com os
princípios de sua confissão religiosa, por integrantes da mesma,
devidamente credenciados e, preferencialmente, sem qualquer ônus
para o Poder Público. STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig. Min. Roberto
Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/9/2017
(Info 879).
 Quanto à difusão de conteúdo religioso em emissoras de radiofusão
comunitária, o Plenário do STF julgou procedente pedido formulado em
ação direta para declarar a inconstitucionalidade do § 1º do art. 4º da Lei
9.612/1998. O dispositivo proibia, no âmbito da programação das
emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, isto é,
a transmissão de conteúdo tendente a converter pessoas a uma
doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia.
Prevaleceu o entendimento do ministro Edson Fachin no sentido de que
a norma impugnada afrontava os artigos 5º, IV, VI e IX, e 220, da CF/88.
Dessa forma, a liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo, o
uso de argumentos críticos, o consenso e o debate público informado e

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

pressupõe a livre troca de ideias e não apenas a divulgação de


informações.
 Outro tema relevante é o sacrifício de animais em rituais religiosos,
em que o STF se manifestou pela constitucionalidade material e formal
de leis estaduais que garantam o exercício de liberdade religiosa. Assim,
entendeu-se como constitucional lei de proteção animal que, a fim de
resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em
cultos de religiões de matriz africana. A laicidade do Estado, no caso,
veda o menosprezo ou a supressão de rituais, principalmente no tocante
a religiões minoritárias ou revestidas de profundo sentido histórico e
social. A CF/88 promete uma sociedade livre de preconceitos, entre os
quais o religioso. A cultura afro-brasileira merece maior atenção do
Estado, por conta de sua estigmatização, fruto de preconceito estrutural.
 No que toca à imunidade tributária de templos, tem-se a garantia
constitucional de que templos não necessitam pagar IPTU aos
municípios, vez que possuem imunidade, e que esta foi ampliada,
incluindo não apenas os proprietários, mas também os locatários. A
Emenda Constitucional nº 116, acresceu ao artigo 156 da Constituição o
§ 1º-A, que estabelece: “§ 1º-A O imposto previsto no inciso I do caput
deste artigo não incide sobre templos de qualquer culto, ainda que as
entidades abrangidas pela imunidade de que trata a alínea "b" do inciso
VI do caput do art. 150 desta Constituição sejam apenas locatárias do
bem imóvel”.

• Liberdade de locomoção:
Esse direito garante que todos os indivíduos possam se deslocar livremente pelo território
nacional, sem sofrer restrições arbitrárias ou abusivas por parte do Estado. Além disso, a
liberdade de locomoção é fundamental para o exercício de outros direitos, tais como o direito ao
trabalho, à educação, à saúde, à cultura, entre outros.
No entanto, a Constituição também prevê que essa liberdade pode ser restrita em casos
específicos, a exemplo da prisão em flagrante delito ou em decorrência de sentença criminal
transitada em julgado. Nesses casos, a restrição deve ocorrer de forma fundamentada e com

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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respeito aos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório, da ampla


defesa e da presunção de inocência. Assim, a liberdade de locomoção é um direito fundamental
importante para a garantia da liberdade individual e do Estado Democrático de Direito, mas que
pode ser restringido em situações específicas previstas em lei e em conformidade com a
Constituição.

→ Dispositivos relacionados:
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair
com seus bens;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à
pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão
ou por seu interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade
judiciária;

• Direitos Constitucionais da pessoa presa (privada da liberdade):


LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir
a liberdade provisória, com ou sem fiança;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel;

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Direito à comunicação do local de


Direito ao silêncio;
sua prisão;

Direito à assistência da família e Direito à identificação dos


de advogado; captores e dos interrogadores.

O Direito a não ser obrigado a se autoincriminar compõe o direito à defesa.

→ Decisão do STF em habeas corpus preventivo e CPI:

MEDIDA CAUTELAR NO HABEAS CORPUS 204.422 DISTRITO FEDERAL RELATOR:


MIN. ROBERTO BARROSO. Comissão parlamentar de inquérito do senado federal - cpi
da pandemia constitucional. Habeas corpus preventivo. “cpi da pandemia”. Nemo tenetur
se detegere. O direito de permanecer em silêncio é constitucionalmente garantido ao réu
ou indiciado, não à testemunha. Dever de comparecer, de depor e de dizer a verdade
quanto aos fatos em tese criminosos que não incriminem a paciente. Liminar parcialmente
deferida.

• Liberdade laboral:
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas
as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

A Constituição assegura a liberdade de exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,


atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Trata-se, portanto, de norma
constitucional de eficácia contida, podendo lei infraconstitucional limitar o seu alcance, fixando
condições ou requisitos para o pleno exercício da profissão.
É o que acontece com o Exame de Ordem (art. 8.º, IV, da Lei nº 8.906/94), cuja aprovação
é um dos requisitos essenciais para que o bacharel em direito possa inscrever-se junto à OAB
como advogado e que, inclusive, foi declarado constitucional pelo STF no julgamento do RE
603.583 (Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26.10.2011, Plenário, DJE de 25.05.2012, com repercussão
geral, Inf. 646/STF).
Em outro precedente interessante, o STF entendeu que a profissão de músico não exige
a inscrição em conselho de fiscalização, deixando claro essa necessidade apenas quando
houver potencial lesivo na atividade. A regra, portanto, é a liberdade, e, ademais, a atividade de

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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músico encontra garantia na liberdade de expressão, enquanto manifestação artística (cf. RE


414.426, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 1.º.08.2011, Plenário, DJE de 10.10.2011).

1.5. Direito à intimidade e vida privada, honra e a imagem


X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

A tutela constitucional visa proteger as pessoas de atentados particulares: ao segredo da


vida privada e à liberdade da vida privada. A privacidade está relacionada com a vida privada em
sentido amplo e, portanto, com todas as relações pessoais, tanto aquelas de caráter íntimo como
aquelas de cunho profissional, comercial, entre outras.
Engloba, entre outros a proteção em geral da:
→ Interferência na vida familiar e doméstica;
→ Integridade física e moral;
→ Ataques a honra e a reputação;
→ Comunicação dos fatos relevantes/ embaraçosos relativos à privacidade;
→ Utilização do nome, identidade e ou retrato;
→ Sigilo das comunicações;
→ Intervenção de correspondência – internamente;
→ Espionagem;
→ Má utilização de informações escritas e orais;
→ Transmissão de dados em virtude de sigilo profissional, nos casos em que a
profissão; exige resguardo de sigilo;
→ Dados bancários e outras informações;
→ Proteção do domicílio.

• Conceito e conteúdo:
A Constituição declara invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas (art. 5o, X); portanto, erigiu, expressamente, esses valores humanos à condição de
direito individual, considerando-os direitos conexos ao da vida.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Obs.: A privacidade está relacionada com a vida privada em sentido amplo e, portanto,
com todas as relações pessoais, tanto aquelas de caráter íntimo como aquelas de cunho
profissional, comercial, entre outras. Assim, outros direitos fundamentais funcionam como
garantias do direito à privacidade:
→ a inviolabilidade do sigilo de correspondência;
→ a inviolabilidade do lar e local de trabalho;
→ a proteção dos dados pessoais.

1.6. Proteção do domicílio


XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;

Como a proteção ao domicílio está relacionada sob o manto constitucional a proteção da


intimidade e vida privada, é importante que se diga que pela perspectiva constitucional domicílio
é um conceito alargado, ou seja, não apenas o local em que o sujeito reside, mas qualquer local
onde desenvolve sua privacidade, intimidade, ainda que, provisoriamente.
• Conceito de casa:
Para fins constitucionais, casa possui um conceito extremamente amplo, incluindo locais
provisórios, como quartos de hotéis, casas de praia etc., bem como o local de trabalho.

• Conceito de dia:
Das 6h às 18h.

Obs.: A prova coletada sem o respeito à proteção do domicílio, por violar a


intimidade ou privacidade, constitui prova ilícita.

1.7. Proteção ao sigilo das comunicações


XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

Engloba a proteção de todo o tipo de comunicação, reservado o seu direito de não ser
violado, com exceção de determinação judicial.

• Âmbito de proteção:
Engloba a proteção de todo tipo de comunicação, reservado o seu direito de não ser
violado, com exceção de determinação judicial. Ex.: telefônico; telégrafos (entende-se o e-mail
por analogia); dados; correspondência.

→ Quebra do sigilo telefônico:


Sempre como última medida. A Lei no 9.296/1996, estabelece que somente é
permitido em processos penais, nos crimes punidos com pena de reclusão quando houver:
fortes indícios de autoria (para reforçar a prova); insuficiência de provas para a
comprovação da autoria.

→ Quem poderá pedir a quebra de sigilo telefônico ao juiz competente?


Autoridade policial do inquérito; Ministério Público em inquérito e processo penal;
juiz de ofício (somente se o processo estiver em andamento); o art. 58, § 3o, traz o
entendimento de que a CPI poderia pedir.

→ Prazo:
O prazo legal é de 15 dias – prorrogáveis por mais 15 dias (art. 5o da Lei no
9.296/1996). Em casos extraordinários, a jurisprudência tem entendido e admitido a
extensão do prazo.

Tema 661 - Possibilidade de prorrogações sucessivas do prazo de autorização


judicial para interceptação telefônica. Repercussão geral no recurso extraordinário:
RE 625263: Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 5º; 93, IX e 136,
§ 2º, da Constituição federal, a possibilidade de se renovar sucessivamente a autorização
de interceptação telefônica, sem limite definido de prazo — seja de 30 (trinta) dias, previsto
no art. 5º da Lei 9.296/1996, seja de 60 (sessenta) dias, nos moldes do art. 136, § 2º, da
Constituição Federal —, por decisão judicial fundamentada, ainda que de forma sucinta.
São ilegais as motivações padronizadas ou reproduções de modelos genéricos sem
relação com o caso concreto. Tese: São lícitas as sucessivas renovações de interceptação

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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telefônica, desde que, verificados os requisitos do artigo 2º da Lei nº 9.296/1996 e


demonstrada a necessidade da medida diante de elementos concretos e a complexidade
da investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações sejam devidamente motivadas,
com justificativa legítima, ainda que sucinta, a embasar a continuidade das investigações.

→ Sigilo bancário e fiscal:


Só podem ser relativizados, com a devida fundamentação, por: decisão judicial; ou
CPI (do legislativo federal e estadual (autorizadas pelas CE) e Administração Tributária.
Não podem quebrar o sigilo bancário, devendo solicitar autorização judiciária:
Ministério Público (RE 215.301) e a Polícia Judiciária. O MP foi autorizado no MS 21.729
a obter diretamente os dados por tratar-se de empresa com participação no erário público
(patrimônio e interesse público).

1.8. Proteção de Dados


LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos dados
pessoais, inclusive nos meios digitais.
Art. 22 Competência privativa da União para legislar sobre: (...) XXX -
proteção e tratamento de dados pessoais.

A fiscalização e a regulação da LGPD ficarão a cargo da Autoridade Nacional de Proteção


de Dados Pessoais (ANPD) e será vinculada à Presidência da República, e com autonomia
técnica garantida pela lei.
A Lei no 13.709/2018 é a norma que regulamenta o tratamento de dados pessoais
coletados ou compartilhados, inclusive por meios digitais.

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais,
por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de
proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento
da personalidade da pessoa natural.
Parágrafo único. As normas gerais contidas nesta Lei são de interesse nacional e devem
ser observadas pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
Art. 2º A disciplina da proteção de dados pessoais tem como fundamentos:
I - o respeito à privacidade;
II - a autodeterminação informativa;
III - a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião;
IV - a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem;
V - o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;
VI - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
VII - os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o
exercício da cidadania pelas pessoas naturais.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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A amplitude e a forma como a Lei organiza como deve se dar o tratamento dos dados,
trabalha criteriosamente a distinção que deve se dar ao tratamento de dados “sensíveis”, deveres
dos responsáveis pelo armazenamento dos dados e sua correta forma de manuseio,
transparência no trato do dado, a exemplo das informações relativas ao compartilhamento,
direitos dos titulares dos dados, responsabilizações e sanções, bem como, inova ao criar a
chamada Autoridade Nacional de Proteção de Dados.
Sua intencionalidade é abrangente, conforme anuncia em seu art. 1º, com intuito de
proteger a liberdade e privacidade, garantido o desenvolvimento da personalidade humana em
condições de respeito à dignidade. Sua abrangência é, portanto, de regular todo: (..) o tratamento
de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de
direito público ou privado (...)”. Dessa forma, pode afirmar que a legislação é clara e contundente
ao afirmar que todos os dados pessoais tratados por pessoas jurídicas de direito público e
privado, coletados no Brasil e que seus titulares estejam em território nacional, estendendo-se
aqueles que tenham oferta de produtos no território nacional, estão albergados pela Lei. A
contrário sensu, não se aplica o disposto na Lei, aos dados realizados por pessoa natural para
fins exclusivamente particulares e não econômicos ou com a finalidade jornalísticas e artísticas
ou acadêmicas. Também aqueles dados segurança pública, defesa nacional, segurança do
Estado ou atividades de investigação e repressão de infrações penais.

1.9. Direito de propriedade


Esse direito garante que as pessoas possam ter a posse, o uso, a disposição e o gozo de
seus bens de forma plena, desde que respeitem a função social da propriedade e as limitações
previstas em lei. A importância desse direito é fundamental para a garantia da segurança jurídica
e da estabilidade econômica, pois permite que as pessoas possam investir em seus bens e
utilizar seus recursos de forma produtiva.
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e
prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá


usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização
ulterior, se houver dano;
XXVI - a pequena propriedade rural (4 módulos fiscais), assim definida em
lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a
lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

• Função social da propriedade na Constituição:

Art. 185 da CF: São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário
não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará
normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social.
Art. 186 da CF: A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

→ Desapropriação:
É a perda da propriedade privada para o Estado. A constituição prevê as formas de
desapropriação:
 Necessidade, utilidade e interesse social: Art. 5º, inciso XXIV, da CF:
a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade
ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;
 Interesse social para fins de reforma agrária: Ocorre apenas nas
médias e grandes propriedades improdutivas, sendo que a Indenização
é em títulos da dívida agrária resgatáveis em 20 anos, excetuando-se a
indenização pelas benfeitorias úteis e necessárias que serão
indenizáveis de forma prévia e em dinheiro.

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As hipóteses estão previstas na Constituição:

Art. 184 da CF: Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma
agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real,
resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja
utilização será definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária,
autoriza a União a propor a ação de desapropriação.
§ 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito
sumário, para o processo judicial de desapropriação.
§ 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como
o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício.
§ 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de
transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária.

Atenção ao caso de propriedade urbana:

Art. 182 da CF: A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

Política urbana é executada pelo Município, porém as diretrizes de


desenvolvimento urbano estão em lei da União (art. 22 da CF + Estatuto da Cidade, Lei
nº 10.257):

§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais
de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de
expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

Conceito de função social: atender ao plano diretor

§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no
plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado,
subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,
sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão
previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros
legais.

→ Expropriação:
É a perda da propriedade para o Estado sem qualquer indenização ao proprietário

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Art. 243 da CF: As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo
na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de
habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. Parágrafo
único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado
e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.

Necessidade ou utilidade pública ou interesse social (indenização:


justa prévia e em dinheiro);

Solo urbano, não edificado ou subutilizado (pelo município, lei


específica municipal nos termos da lei federal e a indenização é
Desapropriação
em títulos da dívida pública, com prazo de resgate de até 10
anos) – art. 182, §4º, CF;

Interesse Social para fins da Reforma Agrária (pela União,


indenização, justa, prévia em títulos da dívida agrária
resgatáveis em até 20 anos) – art. 184, CF;

1.10. Direitos Autorais


É importante destacar que a CF/88 também prevê a proteção da propriedade intelectual,
garantindo que as pessoas possam ter direitos sobre suas criações e invenções.
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação
ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que
a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à
reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que
criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas;

61
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio


temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais,
à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País;

Nota-se que a Propriedade Industrial é um privilégio temporário, já o direito autoral é um


privilégio vitalício, podendo ser transmitido aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar (em regra 70
anos após a morte do autor).

1.11. Defesa do Consumidor


XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Além da previsão no rol do art. 5º, há outras menções ao direito do consumidor no texto
constitucional:

Art. 24: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre: (...) VIII — responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”.
Art. 129: “São funções institucionais do Ministério Público: (...) III — promover o inquérito
civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
e de outros interesses difusos e coletivos”.
Art. 150, § 5.º: “A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos
acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”.
Art. 170: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre-
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: (...) V — defesa do consumidor”.
Art. 48 (ADCT): “O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da
Constituição, elaborará código de defesa do consumidor”.

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GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E DIREITOS SOCIAIS

1. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS

O Título II da CRFB/1988 refere-se aos direitos e garantias fundamentais motivo pelo qual,
é preciso ter em mente a diferenciação de direitos de garantias, para melhor compreensão do
sentido e das obrigações expressas pelo legislador constituinte nesse título. Por sua vez, Miranda
(1998, p. 88-89) esclarece a diferenciação entre direitos e garantias:

Os direitos representam por si só certos bens, as garantias destinam-se a assegurar a


fruição desses bens; os direitos são principais, as garantias são acessórias e, muitas
delas, adjetivas (ainda que possam ser objeto de um regime constitucional substantivo);
os direitos permitem a realização das pessoas e inserem-se directa e imediatamente, por
isso, nas respectivas esferas jurídicas, só nelas se projetam pelo nexo que possuem com
os direitos; na concepção jusracionalista inicial, os direitos declaram-se, as garantias
estabelecem-se.

Em sentido restrito, vislumbram-se três espécies de garantias que na CRFB/88 se


atribuem aos direitos fundamentais. A primeira espécie de garantia diz respeito às garantias
limite, defesas postas aos direitos especiais, são proibições que visam prevenir a violação de um
direito. Para proteger a liberdade de expressão, a proibição da censura; para garantir a liberdade
pessoal e de locomoção; a proibição das prisões (salvo exceções). Servem de limite ao poder.
A segunda, denominada garantias institucionais, refere-se ao sistema de proteção organizado
para a defesa desses direitos, e no caso brasileiro, fala-se é claro, do sistema judiciário. A
terceira e última espécie de garantia é, na verdade, um elo entre a primeira e a segunda, são as
garantias instrumentais. É a defesa de direitos específicos, e ao mesmo tempo é o meio de
provocar o sistema jurisdicional, com a finalidade de realizar sua proteção. Compreende as ações
previstas pela CRFB/1988 para a defesa dos direitos fundamentais, os chamados remédios
constitucionais, tais como: habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção,
habeas data, entre outros.

Art. 5º da CF:
(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

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XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática
da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar
o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza
do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus
filhos durante o período de amamentação;
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas
hipóteses previstas em lei;
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no
prazo legal;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada
de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei;

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LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados


imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado,
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança;
LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive
nos meios digitais.

1.1. Princípio da legalidade


Traz sempre consigo a Noção de segurança jurídica, previsibilidade, anterioridade. É a
garantia individual da liberdade e uma garantia institucional de estabilidade das relações
jurídicas. A norma jurídica sempre ou obriga, ou proíbe, ou permite, pois sempre indicará um
comando, algo a ser feito, ou deixado de fazer, ou ainda permitido.

Art. 5º, inciso II, da CF: “Ninguém pode ser compelido a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei”. Ou seja: os comandos de proibição (deixar de fazer) ou de
obrigação (fazer) só podem ser veiculados por meio de uma lei, na falta desta, está
permitido. Excluem-se por exemplo desta noção: a tradição e o costume.

Além da previsão legal é necessária que a lei me obrigue a algo e para isso, necessita: a)
aspecto formal: regular procedimento (iniciativa, aprovação, promulgação, sanção, publicação,
vigência); b) adequado conteúdo (ser constitucional); c) ideia do devido processo legal.

• O Princípio da Estrita Legalidade:


Posto no art. 37, caput, da CF, que dirá que o administrador só poderá fazer algo em
virtude lei, exclusivamente em virtude de lei – é o princípio da legalidade voltado a administração
pública e sua responsabilidade para com seus administrados, cidadãos.

• Princípio da reserva legal:


É mais restrito, trará exigências especiais, específicas no trato de algumas matérias legais
por estarem reservadas ao trato da lei em sentido formal, não podendo ser disciplinadas por
medidas provisórias ou leis delegadas.
→ Absoluta: traz detalhamentos e especificações da matéria;
→ Relativa: se satisfaz com leis que criem regras e parâmetros gerais;

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Exemplo: art. 62, parágrafo 1º, I; art. 68, parágrafo 1º, art. 167, parágrafo 3º, ambos da
CF. "O princípio constitucional da reserva de lei formal traduz limitação ao exercício das
atividades administrativas e jurisdicionais do Estado”.

1.2. Princípio do devido processo legal


• Ampla defesa e contraditório:
A ampla defesa e o contraditório são princípios fundamentais do processo judicial,
garantidos pela Constituição Federal de 1988. A ampla defesa significa que toda pessoa tem o
direito de se defender de acusações ou processos judiciais, apresentando suas razões e provas
em sua defesa. Já o contraditório refere-se ao direito das partes envolvidas no processo de
apresentar seus argumentos e contestar as alegações da outra parte. Dessa forma, a ampla
defesa e o contraditório asseguram a possibilidade de defesa das partes envolvidas em um
processo judicial, garantindo que não haja decisões tomadas de forma arbitrária ou unilateral. É
um importante mecanismo de garantia dos direitos fundamentais, assegurando o direito à justiça
e à proteção contra possíveis abusos ou violações de direitos.

Súmula Vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso


amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do
direito de defesa.

Súmula vinculante nº 5: A falta de defesa técnica por advogado no processo


administrativo disciplinar não ofende a Constituição.

Súmula vinculante nº 3: Nos processos perante o Tribunal de Contas da União


asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação
ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação
da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

1.3. Juiz natural


A causa a ser julgada por um juiz imparcial, competente e pré-constituído pela lei, isto é,
constituído antes do fato ser constituído. Fica vedada a convocação ou substituição de juízes
somente para o julgamento do fato. Deve-se analisar qual o juiz competente para apreciar a
demanda só podendo haver julgamentos pelos órgãos jurisdicionais constituídos. A ordem de
competência é taxativa, não pode ser alterada. Exceção: observar os casos de desaforamento
ou continência ou conexão.

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1.4. Publicidade dos atos processuais


Acesso a quem tiver interesse, controle público das decisões, transparência em favor da
ordem democrática. Essa regra decorre do dever de publicidade expresso no art. 37 da CF/88.

1.5. Motivação das decisões


As decisões necessitam ser fundamentadas e fundamentadas por elementos jurídicos, de
acordo com a coerência das considerações apresentadas – engloba a garantia de atuação
imparcial e equilibrada. STF: Diz que, para a fundamentação das decisões, o juiz não necessita
considerar todos os argumentos levantados pelas partes, pode ater-se aos essenciais ao
processo para fundamentar sua decisão.

1.6. Inafastabilidade de controle jurisdicional


Completo acesso à justiça. A inafastabilidade do acesso à justiça é um princípio
fundamental do direito brasileiro, previsto na Constituição Federal de 1988. Esse princípio
significa que toda pessoa tem o direito de recorrer ao Poder Judiciário para defender seus direitos
e interesses, independentemente de sua condição social, econômica ou política.
Em outras palavras, a inafastabilidade do acesso à justiça garante que ninguém pode ser
impedido de buscar a tutela jurisdicional para solucionar seus conflitos ou reivindicar seus
direitos. Esse princípio é considerado fundamental para a garantia da igualdade de todos perante
a lei e para a efetivação dos direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição.
No entanto, é importante destacar que o acesso à justiça não se limita apenas ao acesso
formal ao Poder Judiciário, mas também compreende outras formas de resolução de conflitos,
como a mediação e a conciliação. O objetivo é garantir que as pessoas tenham a possibilidade
de resolver seus conflitos de forma mais rápida e eficiente, sem a necessidade de uma longa e
custosa batalha judicial. Assim, a inafastabilidade do acesso à justiça é um importante princípio
que assegura a proteção dos direitos e garantias fundamentais de todos os cidadãos,
contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.

1.7. Princípio da inadmissibilidade de provas ilícitas


a) Provas ilícitas: adquiridas por meios ilícitos;
b) Provas ilegítimas: vício processual – apresentada em momento inadequado.

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As provas obtidas por meios ilícitos contaminam as que são exclusivamente delas
decorrentes; tornam-se inadmissíveis no processo e não podem ensejar a investigação criminal
e, com mais razão, a denúncia, a instrução e o julgamento (CF, art. 5º, LVI, da CF), ainda que
tenha restado sobejamente comprovado, por meio delas, a autoria e materialidade dos fatos.

→ Decisão do STF no assunto:

Ação penal. Prova. Gravação ambiental. Realização por um dos interlocutores sem
conhecimento do outro. Validade. Jurisprudência reafirmada. Repercussão geral
reconhecida. Aplicação do art. 543-B, § 3º, do CPC. É lícita a prova consistente em
gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem o conhecimento do outro. (RE
583.937 QO-RG, rel. min. Cezar Peluso, j. 19-11-2009, P, DJE de 18-12-2009, Tema 237).

→ Posições importantes do STF:


 Impossibilidade de prisão em face de condenação criminal em segunda
instância (antes do Trânsito em julgado da Sentença); ADC 43/DF,
ADC 44/DF e ADC 54/DF: Último posicionamento do STF quanto a
possibilidade de prisão antes do trânsito em julgado da sentença;
 O Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, julgou
procedentes pedidos formulados em ações declaratórias de
constitucionalidade para assentar a constitucionalidade do art. 283 do
CPP (1);
 O relator afirmou que as ações declaratórias versam o reconhecimento
da constitucionalidade do art. 283 do CPP, no que condiciona o início
do cumprimento da pena ao trânsito em julgado do título condenatório,
tendo em vista o figurino do art. 5º, LVII, da CF (2). (Informativo 957);

Assim, de acordo com o referido preceito constitucional, ninguém será considerado


culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. A literalidade do preceito não
deixa margem a dúvidas: a culpa é pressuposto da sanção, e a constatação ocorre apenas com
a preclusão maior. O dispositivo não abre campo a controvérsias semânticas.
Portanto, após a decisão do STF nas ADC’s ficou estabelecido a impossibilidade da prisão
para cumprimento antecipado de pena após uma decisão de 2º instância, pois tal ato fere o
princípio da presunção da inocência fixada pela constituição federal que requer o trânsito em
julgado.

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2. DIREITOS SOCIAIS

Art. 6º da CF: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)

A doutrina, quanto à positivação dos direitos sociais na CF/88, tem sido, de certa forma,
quase unânime no reconhecimento dos direitos sociais como direitos fundamentais,
especialmente, em se considerando a topografia desses direitos no bojo da CF/88, bem como
tem sido no campo doutrinário o reconhecimento da tese da indivisibilidade dos direitos
fundamentais, que, por sua vez, leva a considerar os direitos sociais como extensão dos direitos
de liberdade ou como uma nova categoria de direitos que carregam as mesmas características
ou fundamentos dos direitos fundamentais de 1ª dimensão.
Apesar dos direitos sociais serem classificados como direitos fundamentalmente voltados
à coletividade, ao menos atualmente, não há razões suficientes que sustentem o argumento que
os mesmos não são sindicalizáveis via individual. Entende-se que se trata de diferentes espécies
de direitos subjetivos. Mais ainda, a tese da indivisibilidade, da unicidade desses conteúdos e,
em se considerando a tratativa da positivação constitucional dos mesmos, não resta dúvida que
são direitos que impõem ao poder público o dever de executar programas para sua realização
coletiva, mas que em face de seu conteúdo, torna-se impossível retirar-lhe sindicabilidade
individual. Portanto, serão também direitos subjetivos dispostos aos cidadãos. Para além,
acredita-se que, materialmente, não se pode cogitar a possibilidade de direitos como, por
exemplo, saúde e educação, ficarem à mercê da atuação do Legislador ou do administrador,
tanto pela sua estreita vinculação com conteúdo como dignidade e vida, bem como ante a própria
preocupação com a força normativa da Constituição, que revela um dever com a efetividade e a
vinculação dos Poderes aos seus conteúdos.

• Alguns temas que estão costumeiramente associados à implementação dos


direitos sociais:
→ Reserva do possível:
Tem sido utilizada na jurisprudência e doutrina brasileira, mais voltada a teoria dos
custos do direito, de que o Estado não pode ser obrigado a custear demandas sociais sem
que haja condição orçamentária para isso. Sempre que invocada a questão da escassez

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dos recursos, através do argumento da reserva do possível, em que o principal referencial


é o orçamento público, o “contra-argumento” levantado refere-se ao dever constitucional,
o comprometimento do Estado Democrático de Direito com a realização do mínimo
existencial.

→ Mínimo existencial:
O mínimo existencial está estritamente relacionado à dignidade da pessoa humana,
pois é o princípio fundante tanto dos direitos de defesa quanto dos direitos à prestação e
porque se abre para o jogo de ponderações com os demais princípios constitucionais, com
uma grande função hermenêutica, um grupo menor e mais preciso de direitos sociais
formado pelos bens e utilidades básicas imprescindíveis a uma vida humana digna. Na
formulação e execução das políticas, o “mínimo existencial” deve nortear o
estabelecimento das metas prioritárias do orçamento.

→ Políticas Públicas:
A política pública é um instrumento de promoção de direitos disposto à
Administração, ao Legislativo e à própria sociedade para construir diretrizes, metas,
objetivos para obtenção de um resultado voltado ao social/coletivo que se protrai em um
espaço de tempo.

→ Justiça distributiva:
Justiça distributiva é um conceito da filosofia política que se refere ao princípio de
que os bens e recursos de uma sociedade devem ser distribuídos de forma justa e
equitativa entre seus membros. Esse princípio parte da premissa de que todos os
indivíduos têm direito a uma distribuição justa dos bens e recursos da sociedade, como a
riqueza, o poder, a educação, a saúde, entre outros. Isso implica que as oportunidades e
as cargas da vida social devem ser distribuídas de forma igualitária, considerando as
necessidades e capacidades de cada um. A justiça distributiva pode ser alcançada por
meio de políticas públicas que busquem reduzir as desigualdades sociais e garantir o
acesso igualitário aos bens e serviços essenciais.

→ Os dispositivos constitucionais que tratam dos direitos sociais

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→ Art. 6º da CF: apresenta o rol dos direitos sociais, sendo muitos deles, igualmente tratados
no âmbito do Título VIII da Constituição Federal que trata sobre a ordem social. É o caso,
por exemplo, do direito à saúde e à educação.
→ Art. 7º da CF: apresenta direitos individuais do trabalho

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem
à melhoria de sua condição social:
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa,
nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre
outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a
suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem
remuneração variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da
aposentadoria;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos
termos da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e
quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de
revezamento, salvo negociação coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;

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XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta


por cento à do normal;
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do
que o salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração
de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos,
nos termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta
dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou
perigosas, na forma da lei;
XXIV - aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco)
anos de idade em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 53, de 2006)
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com
prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até
o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 2000)
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério
de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de
admissão do trabalhador portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os
profissionais respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição
de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício
permanente e o trabalhador avulso

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Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os


direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI,
XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em
lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais
e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos
nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência
social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 72, de 2013)
Importante quanto à licença-gestante, prevista no art. 6º, XVIII, da Constituição Federal,
verificar a diferença no que tange à estabilidade gestante prevista no art. 10, II, b, do ADCT:

Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição:
II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa:
b) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

→ Art. 8º ao art. 11 da CF: apresenta rol de direitos coletivos do trabalho constitucionalizados

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:


I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o
registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na
organização sindical;
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa
de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos
trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive
em questões judiciais ou administrativas;
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será
descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva,
independentemente da contribuição prevista em lei;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo
de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do
mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de
colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade
de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

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§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade.
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos
públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e
deliberação.
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.

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DIREITOS DE NACIONALIDADE

1. BRASILEIRO NATO

O Brasil adotou como primeiro critério para firmar nacionalidade o local onde a pessoa
nasceu – ius solis – CF/88 artigo 12, I, da CF – hipóteses taxativas para adquirir nacionalidade
brasileira.

Art. 12. da CF: São brasileiros:


I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde
que estes não estejam a serviço de seu país;

• Requisitos:
Nascer em território brasileiro. Se os pais estrangeiros estiverem a serviço do país de
origem, em princípio, o indivíduo que nascer no Brasil não será brasileiro nato. Neste caso, para
saber sua nacionalidade deveremos analisar as peculiaridades de cada situação
A Constituição também adotou um segundo critério, o sanguíneo, para conferir
nacionalidade brasileira para filhos nascidos no estrangeiro de pai OU mãe brasileiros E
quaisquer dos pais esteja a serviço do Brasil.

Art. 12 da CF: São brasileiros:


I - natos:
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer
deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

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Atenção!
A expressão “serviço do Brasil” há de ser
entendida não só como atividade diplomática,
mas também como qualquer função
associada às atividades do Poder Público
(três esferas) bem como suas autarquias.

Outro critério sanguíneo adotado pelo texto da CF/88 refere-se aos casos em que os pais,
quaisquer deles brasileiros, não estão a serviço o Brasil (estão viajando de férias, por exemplo)
e o filho nasce no estrangeiro.

Art. 12 da CF São brasileiros:


I - natos: (primeira parte alínea c)
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que
sejam registrados em repartição brasileira competente.

Ou seja: deve ser registrado em repartição brasileira competente.

Art. 12 da CF: São brasileiros:


I - natos: (parte final alínea c)
c) ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer
tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

Trata-se da nacionalidade potestativa, em que a aquisição se dá no momento da fixação


de residência, mas fica sujeita à opção confirmativa, pois o texto da CF/88 refere casos em que
os pais, quaisquer deles brasileiros, não estão a serviço o Brasil (moram em outro país, por
exemplo) e o filho nasce no estrangeiro e vem residir no Brasil.

2. AQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE SECUNDÁRIA

O processo de naturalização é de competência da Justiça Federal, bem como as causas


referentes à opção de nacionalidade – art. 109, X da CF/88. A naturalização depende tanto da
vontade da pessoa quando da aquiescência do Estado.

77
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Agora, devemos lembrar que o Estado é soberano, portanto, discricionariamente decidirá


se concederá ou não a cidadania brasileira por solicitação do estrangeiro ou apátrida.

Não existe naturalização tácita. só existe naturalização expressa que se divide em


ordinária ou extraordinária.

2.1. Naturalização ordinária


Art. 12, II, “a”, da CF/88 – a naturalização ocorrerá segundo critérios estabelecidos em lei.
Estatuto do Migrante – Lei nº 13.445/17, artigo 65: são condições para a concessão da
naturalização: (matéria estudada no direito internacional):

Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes
condições:
I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;
II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos;
III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e
IV - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

2.2. Naturalização extraordinária


Art. 12, II, “b”, da CF: “os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República
Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeiram a nacionalidade brasileira. Requisitos:
→ Qualquer nacionalidade;
→ Residentes no Brasil há mais de 15 anos ininterruptos;
→ Sem condenação penal;
→ Solicitação pelo estrangeiro.

Atenção!
A naturalização extraordinária é intransferível,
isto é, sua concessão não importa na aquisição
da nacionalidade brasileira pelo cônjuge e
filhos do naturalizado nem autoriza estes a
entrar ou radicar-se no Brasil, sem que
satisfaçam as exigências legais.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Distinção entre brasileiros natos e naturalizados admitidas na Constituição


Federal de 1988:
Regra geral, a lei não poderá estabelecer tratamento diferente entre brasileiros natos e
naturalizados, salvo nos casos taxativos expressamente previstos pela CF/88. São eles:

→ Extradição
Art. 5º, LI, da CF: “Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em
caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”;
Critérios:
− Crime cometido no estrangeiro e deve ser requerido pelo Estado Estrangeiro;
− Brasileiro nato jamais será extraditado;
− O naturalizado será extraditado em 2 (duas) situações:
a) Crime comum: apenas se cometido antes da naturalização;
b) Tráfico de Entorpecentes: em qualquer tempo, desde que reste
comprovado seu envolvimento no tráfico de drogas.

O Brasil, segundo entendimento do STF, não admite extradição se houver aplicação de


pena de morte ou perpétua: nestes casos, o país requerente deve se comprometer a comutar a
pena. Ademais, não haverá extradição em casos de crime político ou de opinião (art. 5º, LII, da
CF:)

→ Cargos privativos de brasileiro nato


Art. 12, §3º, da CF: São privativos de brasileiro nato os cargos [...] § 3º - São
privativos de brasileiro nato os cargos:
− I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
− II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
− III - de Presidente do Senado Federal;
− IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
− V - da carreira diplomática;
− VI - de oficial das Forças Armadas.
− VII - de Ministro de Estado da Defesa

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Conselho da República
Art. 89 da CF: VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco
anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo
Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três
anos, vedada a recondução.

→ Propriedade de empresa jornalística ou de radiodifusão


Art. 222 da CF: A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons
e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de
pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.

• Perda da nacionalidade:
Art. 12, § 4º - § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de fraude
relacionada ao processo de naturalização ou de atentado contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 131, de 2023)
II - fizer pedido expresso de perda da nacionalidade brasileira perante autoridade brasileira
competente, ressalvadas situações que acarretem apatridia (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 131, de 2023)
a) revogada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 131, de 2023)
b) revogada. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 131, de 2023)

→ Observação:
Brasileiro nato também pode perder a nacionalidade! Quando? Aquisição de outra
nacionalidade: atinge tanto o brasileiro nato quanto o naturalizado. Poderá se concretizar
por decreto presidencial, mediante procedimento administrativo, quando se tratar de
reconhecimento de nacionalidade originária (primária); Quando brasileiro for obrigado a
se naturalizar por força de norma impositiva estrangeira a fim de continuar residindo no
Estado em questão ou para o exercício de direitos civis (por exemplo, herança).

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Em 03 de outubro de 2023 ocorreu a promulgação da Emenda Constitucional 131/2023,


que trás um novo entendimento sobre a perda da nacionalidade brasileira, contudo está
emenda não poderá ser cobrada nas questões do 39° Exame em razão de ser posterior a
publicação do edital.

ATENÇÃO
Emenda Constitucional nº 131. Altera o art. 12 da Constituição Federal
para suprimir a perda da nacionalidade brasileira em razão da mera aquisição
de outra nacionalidade, incluir a exceção para situações de apatridia e
acrescentar a possibilidade de a pessoa requerer a perda da própria
nacionalidade.

3. SÍMBOLOS NACIONAIS:

Art. 13 da CF: São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as


armas e o selo nacionais. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos
próprios.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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DIREITOS POLÍTICOS E PARTIDOS POLÍTICOS

Os direitos políticos são instrumentos pelos quais a Constituição Federal consegue garantir
o exercício da soberania popular, pois através deles a CF atribui poderes aos cidadãos para
atuarem na esfera pública de forma direta ou indireta.
Quanto ao Regime Democrático no Brasil temos:
→ Democracia Direta: sem representantes o povo exerce o poder sem
intermediários;
→ Democracia Representativa: o povo de forma soberana elege seus
representantes, outorgando poderes para que os representantes em nome do povo
governem o país;
→ Democracia Semidireta ou Participativa: Sistema Híbrido: mistura
características do Sistema da Democracia Direta e da Democracia Representativa.
A CF/88 prevê a democracia semidireta no art. 1º, parágrafo único, assim como no
seu art. 14.

1. DEMOCRACIA DIRETA (Art. 14, I, II e III da CF)

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.

A soberania popular é a qualidade máxima do poder extraída da soma de atributos de


cada membro da sociedade estatal, encarregado de escolher os seus representantes no governo
por meio do sufrágio universal e do voto direto, secreto e igualitário (BULOS, 2000).
Nesse sentido, o voto é meio pelo qual se exerce o sufrágio ativo, tem as seguintes
características que se configuram em cláusula pétrea: direto, secreto, universal e periódico (art.
60, § 4º, da CF/88). Com valor igual para todos, que se trata de uma cláusula pétrea implícita na
CF/88, assim como o povo sendo o titular do poder constituinte e o próprio art. 60, da CF/88.

1.1. Conceitos e exemplos da Democracia Direta (Previstos no Brasil):

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Plebiscito:
Manifestação da vontade popular, expressa por meio de votação acerca de assunto de
vital interesse político ou social, antes de publicação da lei. Revela-se a deliberação direta do
povo, em que reside o poder soberano do Estado sobre matéria que é submetida a seu veredicto.
O Congresso Nacional convoca plebiscito (art. 49, XV da CF); o instrumento utilizado para
convocação é o Decreto Legislativo; e quanto ao momento da consulta o plebiscito é convocado
com anterioridade ao ato legislativo ou administrativo colocado em aprovação ou denegação.

→ Exemplos:
 Plebiscito da Forma (república ou monarquia) e Sistema de Governo
(presidencialismo ou parlamentarismo) no Brasil: era para ter
acontecido no dia 07/09/1993, nos termos do Art. 2º do ADCT, mas foi
antecipado para o dia 21/04/1993 pela EC nº 2/92;
 Plebiscitos do Estado do Pará para Reorganização Territorial:
possibilidade do Desmembramento - Formação do Pará em mais dois
estados (Carajás e Tapajós); Decreto Legislativo nº 136/2011 e nº
137/2011.

• Referendo:
É uma forma de consulta popular sobre um assunto de grande relevância, na qual o povo
manifesta-se sobre uma lei - seja ordinária, complementar ou emenda à Constituição - após
aprovada pelo Legislativo. Assim, o cidadão apenas ratifica ou rejeita o que lhe é submetido.
O Congresso Nacional autoriza referendo (Art. 49, XV da CF), por meio de Decreto
Legislativo, e o referendo é convocado de forma posterior ao ato legislativo ou administrativo,
cabendo ao povo a rejeição ou ratificação do mesmo.

→ Exemplos:
 Referendo do Estatuto do Desarmamento sobre a manutenção ou
rejeição da proibição da comercialização de armas de fogo e munição
em todo o território nacional (23/10/2005). A discussão se centralizou
na aplicação do Art. 35 da Lei nº 10.826/2003. E a pergunta realizada

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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foi: “o comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no


Brasil?”. Venceu o “Não” com 63,94% dos votos válidos;
 Referendo no Estado do Acre para decidir sobre o fuso horário em
2010. Decreto Legislativo nº 900/2009. Estado do Acre, que teve a hora
legal alterada pela Lei n. 11.662/2008 para menos 1 hora em relação a
Brasília e a população foi consultada se concordava com a alteração,
pois o fuso do Acre era de -2h. A pergunta realizada foi: “Você é a favor
da recente alteração do horário legal promovida no seu Estado?” A
maioria da população, representada por 56,87% dos votos válidos
decidiu pelo retorno do fuso horário antigo de 2h de diferença do horário
de Brasília e aí foi feita a Lei nº 12.876/2013 para retomar o horário
anterior.

• Iniciativa Popular:
Projetos de lei que têm a iniciativa de propositura sendo feita pelo povo, como no Art. 61,
§2º da CF. Atenção à novidade das consultas populares sendo realizadas junto com as eleições
municipais: A EC nº 111/2021 estabeleceu “consultas populares” sobre questões locais
aprovadas pelas Câmaras Municipais com o acréscimo do § 12 do Art. 14 da CF. As Consultas
Populares citadas na EC nº 111/2021 deverão se configurar em plebiscitos e referendos a serem
realizados pelos municípios.

• Outros Institutos de Democracia Direta ou participativa:


→ Recall:
Revogação popular do mandato eletivo, o professor José Afonso da Silva chama
de “revogação popular”;

→ Veto popular:
O povo pode vetar projetos de lei, determinando o arquivamento deles, mesmo
contra a vontade popular.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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2. DIREITOS POLÍTICOS

Os direitos políticos podem ser classificados basicamente em “positivos” e “negativos”.


→ Direitos Políticos Positivos:
São as normas que falam sobre a ação política do cidadão no país, ou seja, voto,
condições de elegibilidade etc.

→ Direitos Políticos Negativos:


São aquelas disposições normativas que inviabilizam a participação da pessoa na
vida política, são os casos de perda e suspensão de direitos políticos e os casos de
inelegibilidades.

2.1. Capacidade eleitoral


→ Capacidade eleitoral ativa: direito de votar;
→ Capacidade eleitoral passiva: direito de ser votado.

→ Observar:
→ Inalistável: se refere à capacidade ativa, que se reflete na passiva;
→ Inelegível: se refere à capacidade passiva, que pode ser absoluta
(inelegível para qualquer cargo) ou relativa (referente a alguns cargos).

• Capacidade eleitoral ativa:


Exercita-se o sufrágio ativo através do voto. São pressupostos do voto:
→ Alistamento eleitoral na forma da lei (título eleitoral);
→ Nacionalidade brasileira – estrangeiros não podem se alistar como eleitores
(art. 14, §2º, da CF).
→ Idade mínima de 16 anos (art. 14, §1º, II, “c”, da CF);
→ Não ser conscrito durante o serviço militar obrigatório.

O Voto direto, secreto, universal e periódico é cláusula pétrea (art. 60, §4º, II, da CF),
sendo: obrigatório para os maiores de 18 e menores de 70 anos de idade e facultativo para
maiores de 16 e menores de 18 anos de idade, analfabetos e maiores de 70 anos de idade

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Capacidade eleitoral passiva:


São condições de elegibilidade, dispostos no art. 14, §3º, da CF/88:
→ Nacionalidade brasileira;
→ Pleno exercício dos direitos políticos;
→ Alistamento eleitoral;
→ Domicílio eleitoral na circunscrição;
→ Filiação partidária.

Observação:
precisa-se observar na capacidade passiva
não apenas as condições de elegibilidade,
mas as que não podem incorrer nas hipóteses
de inelegibilidade – somente inelegibilidades
relativas poderão ser acrescidas por lei
complementar.

2.2. Inelegibilidades
• Inelegibilidades absolutas:
Não podem concorrer a nenhum cargo:
→ Inalistável: estrangeiros (LC 64/90 e LC 81/94 e LC 135/2010) e os conscritos
durante o serviço militar obrigatório;
→ Analfabeto: tem capacidade eleitoral ativa, mas não possui capacidade
eleitoral passiva.

• Inelegibilidades relativas:
Previstas no art. 14 da CF/88 e nos seus parágrafos. São elas:

§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os


Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser
reeleitos para um único período subseqüente.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Presidente da República, Governador do Estado e do Distrito Federal, Prefeitos


não poderão ser reeleitos para o 3º mandato subsequente e sucessivo. Aquele que tiver
exercido dois mandatos consecutivos no mesmo cargo do Poder Executivo, não poderá
concorrer a outro cargo, mesmo que seja em outra jurisdição. Informativo 921 do STF –
vedação de três mandatos consecutivos ao mesmo núcleo familiar. Veja:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. REELEIÇÃO. PREFEITO.


INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO. MUDANÇA DA
JURISPRUDÊNCIA EM MATÉRIA ELEITORAL. SEGURANÇA JURÍDICA. I.
REELEIÇÃO. MUNICÍPIOS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO.
PREFEITO. PROIBIÇÃO DE TERCEIRA ELEIÇÃO EM CARGO DA MESMA NATUREZA,
AINDA QUE EM MUNICÍPIO DIVERSO. O instituto da reeleição tem fundamento não
somente no postulado da continuidade administrativa, mas também no princípio
republicano, que impede a perpetuação de uma mesma pessoa ou grupo no poder. O
princípio republicano condiciona a interpretação e a aplicação do próprio comando da
norma constitucional, de modo que a reeleição é permitida por apenas uma única vez.
Esse princípio impede a terceira eleição não apenas no mesmo município, mas em relação
a qualquer outro município da federação. Entendimento contrário tornaria possível a figura
do denominado “prefeito itinerante” ou do “prefeito profissional”, o que claramente é
incompatível com esse princípio, que também traduz um postulado de
temporariedade/alternância do exercício do poder. Portanto, ambos os princípios –
continuidade administrativa e republicanismo – condicionam a interpretação e a aplicação
teleológicas do art. 14, § 5º, da Constituição. O cidadão que exerce dois mandatos
consecutivos como prefeito de determinado município fica inelegível para o cargo da
mesma natureza em qualquer outro município da federação.

→ O vice, tendo ou não sido reeleito, se sucedeu o titular, poderá candidatar-se à


reeleição por um período subsequente, mas para candidatar-se para cargo diverso deverá
observar o art. 1º, §2º da Lei complementar nº 64/90.

→ Para concorrer a outros cargos Art. 14, §6º da CF/88 – Presidente,


Governadores dos Estados e do Distrito Federal e Prefeitos, para concorrer a outros
cargos deverão renunciar aos respectivos mandatos até 6 meses antes do pleito, O
candidato se desvencilha de uma situação que o incompatibiliza p/ ser eleito (O STF
entende que a expressão “outros cargos” não se aplica nos casos de reeleição para o
mesmo cargo)

6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de


Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até
seis meses antes do pleito.

→ Parentesco: procura dar eficácia e efetividade aos postulados republicanos e


democráticos da constituição, evitando-se a perpetuidade ou alongada presença de

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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familiares no poder. Art. 14, §7º, da CF - são inelegíveis no território da circunscrição do


titular o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção
do: Presidente da República; Governador de Estado, Território ou do D.F.; Prefeito; Ou
quem os haja substituído dentro dos 6 meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de
mandato eletivo e candidato a eleição.

§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes


consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República,
de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato
eletivo e candidato à reeleição.

Súmula vinculante nº 18: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso


do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição
Federal.

Em caso de morte do cônjuge não é aplicável a súmula vinculante nº 18: RE 758461 – A


Súmula Vinculante 18 do STF não se aplica aos casos de extinção do vínculo conjugal pela morte
de um dos cônjuges.

→ O que devo observar:


 As restrições são relativas a parentes consanguíneos e afins do chefe
do executivo que é titular de mandato, não são aplicadas no caso de
ocupantes do cargo de legislativo
 Jurisdição do titular: Prefeito - município; Governador: território do
Estado-Membro; Presidente - todo o território nacional;
 Salvo se já titular de mandato: ou seja, se o parente já for ocupante de
mandato eletivo e candidato à reeleição, não se aplica!

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Quem são os parentes em 2º grau?


Demonstração do grau de parentesco – para fins de nepotismo
Graus de parentesco
Formas de parentesco
1º grau 2º grau 3º grau 4º grau
Ascendentes Pai e mãe Avô, Avó Bisavô, Bisavó Trisavô
Descendentes Filho, Filha Neto, Neta Bisneto, Bisneta Trinetos
Parentes Tio, Tia
Primos(as), Tio(a)-
consanguíneos Em linha (maternos e
Irmaõ, Irmã Avô(ó), Sobrinho(a)-
colateral paternos),
neto(a)
Sobrinhos
Sogro,
Pais dos Avós dos
Sogra,
sogros (avô, sogros (bisavô,
Ascendentes Padrasto e
avó do bisavó do
Madrasta do
cônjuge) cônjuge)
cônjuge
Parentes por Filho(a)
Filho do(a)
afinidade do(a)
esposo(a) Bisneto, Bisneta
Descendentes enteado(a)
(enteado), do cônjuge
(neto ou neta
Genro, Nora
da esposa)
Em linha Cunhado,
colateral Cunhada

Marido e mulher (cônjuges), companheiro e companheira não são parentes. “Cada


cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.”
(art. 1.595, CC). “O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos
descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.” (Art. 1.595, §1º, CC). Para
fins de nepotismo, à luz do princípio da moralidade, o cônjuge (ou companheiro),
Cônjuge, deve ser tratado em primeiro grau, vedando a nomeação para o provimento de
companheiro(a) cargos em comissão ou de funções de confiança. Art. 2º, da Resolução nº 7, de 18
de outubro de 2005, do Conselho Nacional de Justiça – CNJ: “Art. 2º Constituem
práticas de nepotismo, dentre outras: I – o exercicio de cargo de provimento em
comissão ou de função gratificada, no âmbito da jurisdição de cada Tribunal ou
Juízo, por cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade,
até o terceiro grau, inclusive dos respectivos membros ou juízes vinculados.”

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Decisões importantes em matéria da inelegibilidade do art. 14, § 7, da CF:


 Informativo 921 do STF – vedação de três mandatos consecutivos ao
mesmo núcleo familiar:

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à


conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo
núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder
Executivo. Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse
três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente. A vedação ao
exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se
também na hipótese em que tenha havido a convocação do segundo colocado nas
eleições para o exercício de mandato-tampão. Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade
era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições,
Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para
Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em
2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefeito porque seria o
terceiro mandato consecutivo deste núcleo familiar. (STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel.
Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018).

 Súmula vinculante nº 18: A dissolução da sociedade ou do vínculo


conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no §
7º do artigo 14 da Constituição Federal.
Em caso de morte do cônjuge não é aplicável a súmula vinculante nº 18:
RE 758461 – A Súmula Vinculante 18 do STF não se aplica aos casos de
extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges.

• Militares:
O alistável será elegível, segundo art. 14, parágrafo 8º, mas:
→ Com menos de 10 anos de serviço, deverá afastar-se das atividades;
→ Com mais de 10 anos, será agregado pela autoridade superior e, se eleito,
passará, automaticamente com a diplomação, à inatividade.

Já que ao militar da ativa é proibido filiação político partidária, conforme art. 142, parágrafo
3º, V, como ele poderá concorrer nas eleições?

Consulta. Militar da ativa. Concorrência. Cargo eletivo. Filiação partidária. Inexigibilidade.


Res.-TSE nº 21.608/2004, art. 14, § 1º. 1. A filiação partidária contida no art. 14, § 3º, V,
Constituição Federal não é exigível ao militar da ativa que pretenda concorrer a cargo
eletivo, bastando o pedido de registro de candidatura após prévia escolha em convenção
partidária (Res.-TSE nº 21.608/2004, art. 14, § 1º). (Res. nº 21.787, de 1o.6.2004, rel. Min.
Humberto Gomes de Barros.)

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Recurso especial. Eleições 2016. Vereador. Registro de candidatura.


Desincompatibilização. Militar sem função de comando. Desnecessidade. Arts. 14, § 8º e
142, § 3º, v, da cf/88. Arts. 98, parágrafo único, do código eleitoral e 82, xvi e § 4º, da lei
6.880/80. Precedentes. Doutrina. Deferimento do registro. [...] Militares sem função de
comando 11. Diante da lacuna da Lei de Inelegibilidades e, de outra parte, da disciplina
constitucional e legal sobre a matéria, entende-se que o militar sem função de comando
deve afastar-se apenas a partir do deferimento de seu registro de candidatura, não se
sujeitando ao prazo de três meses do art. 1º, II, l, da LC 64/90. [...] (Ac. De 25.10.2016 no
respe nº 30516, rel. Min. Herman Benjamin.)

2.3. Perda e suspensão dos direitos políticos


• Perda:
→ Cancelamento de naturalização (caso do brasileiro naturalizado): Art. 15, I
e IV, art. 12, §4º, II da CF/88 – cancelamento da naturalização por sentença transitado em
julgado, pois o indivíduo volta à condição de estrangeiro;
→ Descumprimento de obrigação a todos imposta (serviço militar obrigatório,
p.e., seja a obrigação propriamente dita, seja a alternativa (fixada em lei) no caso da
escusa por força do artigo 5º, VIII, da CF;
→ Perda da nacionalidade pela aquisição de outra (o que ocorre no caso do
brasileiro nato), pois a nacionalidade brasileira é pressuposto para adquirir direitos
políticos.

• Suspensão:
→ Art. 15, II, III e V; art. 17-3 Dec. 3.927/2001 (Tratado de Amizade) e art. 55, II,
e §1º, c/c art. 1º, I, “b” da L.C. 64/1990;
→ Incapacidade Civil Absoluta: casos de interdição;
→ Condenação criminal transitada em julgado: enquanto durarem os efeitos da
condenação;
→ Improbidade Administrativa: Art. 37, §4º, CF/88, sendo declarada apenas
através de Processo Judicial;

Fique ligado! Alteração das regras eleitorais:


Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação,
não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.

91
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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O princípio da anualidade eleitoral (também chamado de anterioridade eleitoral) foi criado


em 1993 com a aprovação da Emenda Constitucional nº 4, que deu nova redação ao art. 16 da
CF/88. O objetivo da emenda foi garantir que mudanças na legislação eleitoral somente entrem
em vigor se aprovadas até um ano antes do pleito, impedindo alterações casuísticas nas regras
legais.
Situação atual: foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça o texto da proposta
de Emenda à Constituição nº 67/2016, que propõe alteração:

Ementa: Dá nova redação ao § 1º do art. 81 da Constituição Federal para determinar a


realização de eleição direta aos cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, na
hipótese de vacância desses cargos nos três primeiros anos do mandato presidencial.

Determina que, ocorrendo a vacância no último ano do período presidencial, a eleição


para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na
forma da lei. Caso se compreenda que o art. 16 se trata de uma Cláusula Pétrea, tal proposta
deverá ser declarada inconstitucional caso venha ser votada e aprovada a referida emenda.

Fique ligado! A Constituição Federal prevê regras específicas para o


servidor público de cargo efetivo que queira exercer mandato eletivo.

Art. 38 da CF. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no


exercício de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições:
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu
cargo, emprego ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-
lhe facultado optar pela sua remuneração;
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá
as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo
eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu
tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por
merecimento;
V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão
determinados como se no exercício estivesse.

3. PARTIDOS POLÍTICOS

Representam os interesses e ideologias dos cidadãos e têm a função de disputar o poder


e governar em nome do povo. Eles são responsáveis por articular as demandas e anseios da
sociedade e apresentar propostas de políticas públicas que atendam aos interesses coletivos.

92
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Os partidos políticos são importantes porque proporcionam o pluralismo político e a


liberdade de escolha dos cidadãos, permitindo a expressão de diferentes opiniões e visões de
mundo. Além disso, são essenciais para a representação política e para a participação dos
cidadãos no processo democrático, promovendo a alternância de poder e a fiscalização das
ações dos governantes.
Os partidos políticos também têm um papel fundamental na construção da cidadania e na
conscientização política dos cidadãos. Eles podem mobilizar a população em torno de questões
relevantes e promover a educação política, estimulando o debate e o diálogo entre diferentes
grupos e setores da sociedade.

Art. 1º da CF: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito
e tem como fundamentos:
(...)
V - o pluralismo político.
Art. 17 da CF: É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos,
resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos
fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros
ou de subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, ou seja, não


necessita de autorização do Congresso Nacional. Contudo a Constituição exige o respeito aos
seguintes valores e princípios: 1) a soberania nacional, 2) o regime democrático, 3) o
pluripartidarismo, 4) os direitos fundamentais da pessoa humana.

§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e
estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e
provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha
e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas
eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em
âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer
normas de disciplina e fidelidade partidária.

Não é obrigatório os partidos políticos formarem as mesmas coligações no âmbito


nacional, estadual e municipal; ou seja, os diretórios terão liberdade de formar suas coligações,
razão pela qual diz-se que há uma horizontalização das coligações partidárias.
Ainda, não é possível formar coligações entre partidos políticos para os cargos da
proporcional, ou seja, os partidos não podem coligar para buscar eleger seus vereadores,

93
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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deputados federais e deputados estaduais, cada legende deverá apresentar os seus candidatos.
Contudo, a Constituição permite coligação para eleição dos cargos da majoritária, logo, podem
os partidos coligarem para eleger senadores e chefes do poder executivo (Presidente,
Governador e Prefeito).
→ Segue o texto constitucional:

§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil,


registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à
televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente:
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento)
dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com
um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos
um terço das unidades da Federação.
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º deste artigo é
assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que
os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos
recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão.
§ 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os
Vereadores que se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o
mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa
estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, a migração de partido para fins
de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros fundos públicos e de acesso
gratuito ao rádio e à televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)

Trata-se da fidelidade partidária, aplica-se ao sistema proporcional, caso em que os


mandatos de deputados e senadores pertencem ao partido/legenda e não ao candidato eleito,
mas não se referem ao sistema majoritário:

Inaplicabilidade da regra de perda do mandato por infidelidade partidária ao sistema


eleitoral majoritário. (...) As decisões no MS 26.602, no MS 26.603 e no MS 26.604 tiveram
como pano de fundo o sistema proporcional, que é adotado para a eleição de deputados
federais, estaduais e vereadores. As características do sistema proporcional, com sua
ênfase nos votos obtidos pelos partidos, tornam a fidelidade partidária importante para
garantir que as opções políticas feitas pelo eleitor no momento da eleição sejam
minimamente preservadas. Daí a legitimidade de se decretar a perda do mandato do
candidato que abandona a legenda pela qual se elegeu. O sistema majoritário, adotado
para a eleição de presidente, governador, prefeito e senador, tem lógica e dinâmica
diversas da do sistema proporcional. As características do sistema majoritário, com sua
ênfase na figura do candidato, fazem com que a perda do mandato, no caso de mudança
de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere a soberania popular (CF, art. 1º, parágrafo
único; e art. 14, caput). [ADI 5.081, rel. min. Roberto Barroso, j. 27-5-2015, P, DJE de 19-
8-2015.]

O parágrafo 7º traz o seguinte texto:

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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§ 7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco por cento) dos recursos do
fundo partidário na criação e na manutenção de programas de promoção e difusão da
participação política das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários.

Sobre a reserva de recurso para candidaturas femininas no fundo partidário, o STF


considerou que, se o princípio da igualdade material admite ações afirmativas, utilizar para
qualquer outro fim a diferença estabelecida com o objetivo de superar a discriminação, ofende o
mesmo princípio da igualdade, que veda tratamento discriminatório fundado em circunstâncias
que estão fora do controle dos indivíduos, como a raça, o sexo, a cor da pele ou qualquer outra
diferenciação arbitrariamente considerada.
Quando da edição da Lei 9.504/1997, os partidos passaram a ser obrigados a preencher,
do número de vagas de candidaturas, o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas
de cada sexo. Essa desequiparação é compatível com a Constituição. Seja por força do art. 5º,
§ 2º, da CF, seja pela adoção do princípio “pro homine”, o conteúdo do direito à igualdade é muito
semelhante ao direito previsto no art. 2º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.
Nesse sentido, determinadas diferenciações, se usadas para corrigir a discriminação, são
legítimas. Em outras palavras, é próprio do direito à igualdade a possibilidade de uma
desequiparação, desde que pontual e tenha por objetivo superar uma desigualdade histórica.

• Posicionamentos do STF: vedação de doação de pessoas jurídicas para partidos


políticos fomentarem suas campanhas nacionais:

Limites de doação por naturais e uso de recursos próprios pelos candidatos.


Compatibilidade material com os cânones democrático, republicano e da igualdade
política. (...). Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para
assentar apenas e tão somente a inconstitucionalidade parcial sem redução de texto do
art. 31 da Lei 9.096/1995, na parte em que autoriza, a contrário sensu, a realização de
doações por pessoas jurídicas a partidos políticos, e pela declaração de
inconstitucionalidade das expressões "ou pessoa jurídica", constante no art. 38, III, e "e
jurídicas", inserta no art. 39, caput e § 5º, todos os preceitos da Lei 9.096/1995. [ADI 4.650,
rel. min. Luiz Fux, j. 17-9-2015, P, DJE de 24-2-2016.]

• Doação eleitoral e proibição de ocultação dos doadores:

INFORMATIVO DO STF: Doação eleitoral e sigilo. O Plenário, por maioria, julgou


procedente o pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da
expressão "sem individualização dos doadores", constante da parte final do § 12 do art.
28 da Lei 9.504/1997 (Lei das Eleições), acrescentada pela Lei 13.165/2015 (1), para
considerar que a indicação dos doadores deve ser feita tanto na prestação de contas dos
partidos quanto dos candidatos.
A norma impugnada dispõe sobre regras para a prestação de contas de partidos e
candidatos com relação a valores oriundos de doações. De um lado, os valores

95
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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transferidos pelos partidos aos candidatos serão registrados na prestação de contas dos
candidatos como “transferência dos partidos”. De outro, essas mesmas operações serão
registradas na prestação de contas dos partidos como “transferência aos candidatos”. Em
ambas, a legislação prevê que os registros serão realizados “sem individualização dos
doadores”.
Por fim, o caráter oculto das doações eleitorais importa violação ao art. 17, inciso III, da
CF (2), segundo o qual a gestão dos partidos políticos pressuporá “a prestação de contas
à Justiça Eleitoral”. É imprescindível a individualização dos doadores tanto na prestação
de contas dos partidos quanto na dos candidatos, como exigência de transparência e
efetividade da própria prestação de contas.
Nesse contexto, o Colegiado ressaltou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao regular
as eleições de 2014 pela Resolução TSE 23.406/2014, já havia reconhecido a exigência
de identificação dos doadores de forma individualizada, com fundamento na Lei
12.527/2011 (Lei do Acesso à Informação). Desse modo, a inovação legislativa que
permitiu a “doação oculta” teve nítido propósito de contrariar a jurisprudência do TSE.

• Diferença entre fundo eleitoral e fundo partidário:


Para o TSE, o Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos,
denominado Fundo Partidário, é constituído por dotações orçamentárias da União, multas,
penalidades, doações e outros recursos financeiros que lhes forem atribuídos por lei. Os valores
repassados aos partidos políticos, referentes aos duodécimos e multas (discriminados por
partido e relativos ao mês de distribuição), são publicados mensalmente no Diário da Justiça
Eletrônico. Já o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) é um fundo público
destinado ao financiamento das campanhas eleitorais dos candidatos, previsto nos artigos 16-C
e 16-D da Lei nº 9.504/1997. As diretrizes gerais para a gestão e distribuição dos recursos do
FEFC são regulamentadas pela Resolução-TSE nº 23.605/2019.
O texto constitucional estabelece:

§ 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e da parcela do fundo


partidário destinada a campanhas eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita
no rádio e na televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas, deverão
ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional ao número de candidatas, e a
distribuição deverá ser realizada conforme critérios definidos pelos respectivos órgãos de
direção e pelas normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse partidário.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022).

4. FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS

Regidas pela Lei nº 14.208/2021, que alterou a Lei dos Partidos Políticos (Lei nº
9.096/1995) e a Lei das Eleições (Lei nº 9.504/ 1997), para instituir as federações de partidos
políticos.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Pontos importantes:
→ As federações devem ser registradas na Justiça Eleitoral. Antes, os partidos
precisam constituir uma associação, que deve ser registrada em cartório de registro civil
de pessoas jurídicas;
→ Dois ou mais partidos políticos poderão reunir-se em federação, a qual, após
sua constituição e respectivo registro perante o Tribunal Superior Eleitoral, atuará como
se fosse uma única agremiação partidária;
→ Instrumento que permite a união de dois ou mais partidos que têm afinidade
programática por pelo menos quatro anos, sem possibilidade de separação nesse período;
→ Em tese, o STF entendeu que não é igual à da fusão de partidos, quando eles
passam a ter um único registro no TSE. Ou seja, continuam pessoas jurídicas separadas,
mas unidas na sua atuação.

Qual seria a vantagem então? Em tese, para partidos pequenos isso permitiria o acesso
ao fundo partidário e ao tempo de televisão, que poderiam ficar prejudicados diante da cláusula
de barreira.

→ Decisão do STF na Medida Cautelar nº 7.021, ADI DISTRITO FEDERAL:

DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA CAUTELAR. FEDERAÇÃO DE PARTIDOS
POLÍTICOS. LEI Nº 14.208/2021. DISTINÇÃO EM RELAÇÃO À COLIGAÇÃO.
CAUTELAR DEFERIDA APENAS QUANTO AO PRAZO DE REGISTRO, PARA
PRESERVAÇÃO DA ISONOMIA. 1. A lei questionada – Lei nº 14.208/2021 – alterou a
redação da Lei nº 9.096/1995, criando o instituto da federação partidária. Essa nova figura
permite a união entre partidos políticos, inclusive para concorrerem em eleições
proporcionais (para deputado federal, estadual e vereador). Alegação de vícios de
inconstitucionalidade formal e de inconstitucionalidade material. 1. Trata-se de ação direta
de inconstitucionalidade, proposta pelo Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, tendo por
objeto os arts. 1º, 2º e 3º, da Lei nº 14.208/2021, que dispôs sobre a formação de
“federações partidárias” de caráter nacional, aplicáveis às eleições majoritárias e
proporcionais. De acordo com o requerente, sob a denominação de federação partidária,
o que a norma pretende é restabelecer a figura da “coligação partidária” proporcional,
providência expressamente vedada pelo art. 17, § 1º, da CF, com a redação dada pela
Emenda Constitucional nº 97/2017. (...) 4. Pede, em sede de liminar, a suspensão dos
dispositivos atacados, assinalando que já há partidos em processo de negociação para a
formação de federações, conforme noticiado pela imprensa, e que a sua criação interferirá
na dinâmica da campanha para as eleições de 2022 e na formação da vontade dos
cidadãos, gerando um quadro de insegurança e confusão. No mérito, postula a
confirmação da cautelar, com a declaração de inconstitucionalidade das normas. (...) 28.
Há, ainda, perigo na demora quanto à apreciação da cautelar, uma vez que a incerteza

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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quanto à constitucionalidade da norma pode comprometer a segurança do pleito de 2022,


que se aproxima, ou gerar prejuízo ao cumprimento dos prazos já indicados. Nessa linha,
é imprescindível que haja uma sinalização, por parte do Supremo Tribunal Federal, com a
maior brevidade possível, para que os partidos possam efetivamente se movimentar para
constituir as federações, planejar suas estratégias de campanha, construir programas
comuns, assim como para que os eleitores tenham tempo para compreender o novo
instituto, conhecer tais programas e avaliar seus votos com adequado nível de informação.
29. Diante do exposto, defiro parcialmente a cautelar apenas para adequar o prazo para
constituição e registro das federações partidárias e, nesse sentido: (i) suspendo o inciso
III do § 3º do art. 11-A da Lei nº 9.096/1995 e o parágrafo único do art. 6º-A da Lei nº
9.504/1997, com a redação dada pela Lei nº 14.208/2021; bem como (ii) confiro
interpretação conforme à Constituição ao caput do art. 11-A da Lei nº 9.096/1995, de modo
a exigir que “para participar das eleições, as federações estejam constituídas como pessoa
jurídica e obtenham o registro de seu estatuto perante o Tribunal Superior Eleitoral no
mesmo prazo aplicável aos partidos políticos”. 30. Determino a imediata inclusão desta
cautelar em Plenário Virtual, para a ratificação do seu teor. Brasília, 8 de dezembro de
2021.

Ficou determinado, assim, o prazo de 31 de maio para que as federações sejam formadas
pelos partidos – excepcionalmente no ano 2022. Nas próximas eleições, o prazo será de 6 meses
antes do pleito.

• Diferença entre coligação e federação:

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: FEDERALISMO


BRASILEIRO E REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Estado unitário Estado federal

Não possui poder constituinte decorrente, ou Possui poder decorrente, podendo, assim, elaborar
seja, não pode fazer uma Constituição local, sua própria Constituição sem precisar pedir
podendo, apenas, fazer um Estatuto local que autorização ao governo federal.
precisará ser aprovado por órgão central.

Não é prevista nenhuma participação específica Os Estados federados participam, através de seus
das regiões autônomas. representantes, na elaboração e revisão da
Constituição Federal.

No Estado unitário, não existe qualquer segunda No Estado Federal, existe uma segunda Câmara
Câmara Parlamentar de representação das Parlamentar, cuja composição é definida em função
regiões autônomas ou cuja composição seja dos Estados federados (Câmara dos Deputados).
definida em função delas.

Estado confederal Estado federal

Surgiu através de pacto, de um tratado. Surgiu por meio de uma Constituição.

É uma união que permite que a qualquer É uma união indissolúvel dos Estados-Membros.
momento seja quebrado o pacto e que um dos Não há direito de secessão.
Estados se retire da Confederação.

Permite ao pacto o direito de nulificação pelo O Estado-Membro, por atuar nas decisões do
qual o Estado pode opor-se às decisões do órgão Estado Federal através dos senadores, não admite
central. discrepância em relação às suas decisões.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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O federalismo brasileiro foi adotado desde a Constituição de 1891, inspiração no modelo


norte-americano.

1. CONCEITO

A partir da obra de Gilmar Mendes (2012), é correto afirmar que o Estado Federal expressa
um modo de ser do Estado (daí se dizer que é uma forma de Estado) em que se divisa uma
organização descentralizada, tanto administrativa quanto politicamente, erigida sobre uma
repartição de competências entre o governo central e os locais, consagrada na CF/88, em que
os Estados federados participam das deliberações da União, sem dispor do direito de secessão.
No Estado Federal, de regra, há uma Suprema Corte com jurisdição nacional e é previsto um
mecanismo de Intervenção federal, como procedimento assecuratório da unidade física e da
identidade da Federação.
Com base em de Lucio Levi (2004, p. 481) Federação é uma “pluralidade de centros de
poder, coordenados e autônomos entre si, de tal modo que ao Governo Federal que tem
competência sobre o inteiro território da Federação, seja conferida uma quantidade mínima de
poderes, indispensável para garantir a unidade política e econômica, e aos Estados federados,
que têm competência cada um sobre o próprio território, sejam assinalados os demais poderes”.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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2. COMPOSIÇÃO

União
(autônoma)

Estado- Distrito
Membro Estado Federal Federal
(soberano- art.
art. 25 da CF art.32 da CF
1o da CF)
(autônomo) (autônomo)

Município
art.30 da CF
(autônomo)

Para distinguirmos com maior clareza o que significa o Estado Federal (representado pela
União) e o que significa Estado-Membro, estes dois conceitos são fundamentais. Diz-se que a
soberania é atributo do Estado Federal, que detém o poder/dever de manter a unidade federativa
como um todo, o que lhe confere “poder” – soberania sobre os demais membros do pacto
federativo. Já a autonomia é nota características dos demais entes, haja vista que reflete e
representa a ideia de descentralização, nos limites, é claro, da própria soberania. Assim, a
autonomia é a possibilidade de coordenação desses entes, tanto administrativa, como política e
financeiramente.

• Exemplos de autonomia:
Poder Constituinte decorrente, que é o poder de cada Estado-membro de ter uma
Constituição (CF, art. 25, caput, c/c art. 11, ADCT, CF 1988);

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Impossibilidade de um ente federativo criar obrigações contra o outro, que não aquelas já
estabelecidas na Constituição federal (art. 18 e 19, CF 1988);
A possibilidade de intervenção federal é excepcionalidade e necessitam estar
expressamente previstos na Constituição federal (“intervenção” – arts. 34 e 36, CF 1988);
Participação igualitária de todos Estados-membros na formação da "vontade" legislativa
federal/nacional Senado Federal (art. 46, § 1°, CF 1988), e paralela à Câmara legislativa de
representantes do povo (Câmara dos Deputados, art. 45, caput, CF 1988).

• Secessão:
Secessão seria a possibilidade de um Estado desligar-se da Federação, contudo, como
os Estados–Membros são autônomos e não soberanos, não existe tal possibilidade, que
somente poderia ser vislumbrada numa confederação. Daí de ser dizer que a União dos Estados
é indissolúvel e constitui-se cláusula pétrea na CF/88.

Art. 18 da CF: A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil


compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos,
nos termos desta Constituição.
§ 1º - Brasília é a Capital Federal.
§ 2º - Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado
ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.

Atenção!
Os territórios integram a federação brasileira,
mas não são entes autônomos, justamente
porque integram a União. Atualmente não
temos mais territórios, mas os mesmos
podem ser criados. Exemplo: Fernando de
Noronha foi um território e se agregou ao
Estado de Pernambuco.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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3. ENTES FEDERATIVOS

3.1. União Federal


A partir da obra de Gilmar Mendes (2011, p. 832/833) tem-se que: “A União é fruto da
junção dos Estados entre si, é a aliança indissolúvel destes. É quem age em nome da Federação.
No plano legislativo edita tanto leis nacionais – que alcançam todos os habitantes do território
nacional e outras esferas da federação – como leis federais- que incidem sobre os jurisdicionados
da União, como servidores federais e o aparelho administrativo da União. Possui bens próprios
definidos nano art. 20 da CF”.

Art. 20 da CF: São bens da União:


I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e
construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental,
definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias
fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas;
as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de
Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental
federal, e as referidas no art. 26, II;
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

• Participação dos entes na exploração:


§1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração
de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de
outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona
econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Espaço de defesa do território nacional:


150 km - § 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das
fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa
do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.

3.2. Estados-membros
Na forma do artigo 1º, CF 1988, a união dos Estados-membros é indissolúvel, e, portanto,
inexiste possibilidade jurídica de um Estado-membro separar-se do restante do Brasil para
constituir um novo Estado, soberano e independente. Constitucionalmente só são possíveis
alterações na atual estrutura político-territorial dos Estados-membros. Assim, é vedada a
secessão dos Estados brasileiros.
Os Estados brasileiros terão Constituições Estaduais, conforme prevê art 25 da
Constituição Federal e o art. 11 do ADCT.

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:


I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,
ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas
aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.

3.3. Municípios
No caso brasileiro, Municípios integram o Estado (art. 1º, caput, c/c art. 18, caput, CF
1988), e como tal, possuem competências constitucionais próprias e originárias, tanto legislativas
quanto de auto-organização político-administrativa, detenho competências em se tratando de
"interesse local" (art. 30, I, CF 1988).
Daí uma grande peculiaridade do federalismo brasileiro: os municípios são entes
federativos e gozam de autonomia.
Poder de organização por lei orgânica, conforma art. 29 da CF/88.

3.4. Distrito Federal


Possui características ora de estado – membro, ora de município. Exemplo: possui
Governador e Senador Distrital, chamamos de Câmara Legislativa, possui Lei orgânica e não
Constituição Distrital;
Nas competências legislativas, terá tanto as dos estados- membros como as de município;

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Não poderá ser dividido em municípios.

Art. 32 da CF: O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-á por lei
orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois
terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos
nesta Constituição.
§ 1º - Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos
Estados e Municípios.

4. PROCEDIMENTOS PARA ALTERAÇÃO DE ESTADOS–MEMBROS E MUNICÍPIOS

4.1 Estado-membro:

Art. 18, § 3°, CF 1988: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou
desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios
Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de
plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.

• Incorporação:
União de dois ou mais Estados-membros para formação de um novo e único Estado-
membro – nasce nova personalidade jurídica e desaparecem as anteriores;

• Subdivisão:
Seccionamento do território de um Estado-membro para criação de dois novos Estado-
membros, desaparece a personalidade jurídica do estado anterior e nascem duas novas;

• Desmembramento:
Caso 1: desmembramento de parte do território de um Estado-membro para anexação a
outro Estado-membro já existente – no caso não se alteram as personalidades jurídicas;

105
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Caso 2: desmembramento de parte do território para formação ou criação de novo


Estado-membro ou Território nessa porção desmembrada- permanece a personalidade jurídica
do estado-membro que foi desmembrado e cria-se uma nova personalidade jurídica.

• Procedimento - Art. 18, § 3°, da CF/88:


→ Necessidade da prévia "aprovação da população diretamente interessada,
através de plebiscito" (Caráter vinculativo).
→ Devem ser "ouvidas as respectivas Assembleias Legislativas" (art. 48, VI, CF
1988) antes da promulgação da lei complementar federal pelo Congresso Nacional.
Devendo apenas ser ouvidas, não têm as Assembleias um poder de veto ou de proibição,
caráter meramente político, a fim de legitimar a futura decisão do Congresso Nacional
→ Promulgação da lei complementar federal pelo Congresso definindo a
incorporação, subdivisão ou desmembramento.

4.2 Municípios

Art. 18, § 4°: A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-


se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e
dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios
envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e
publicados na forma da lei.

• Criação ("emancipação"):
Secção de parte do território de um Município para constituição de novo Município. O
Município anterior permanece existindo no território remanescente e cria-se nova personalidade
jurídica;

106
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Fusão:
Dois Municípios se unem, constituindo um novo Município (e desaparecendo os
anteriores) e se cria nova personalidade jurídica;

• Incorporação:
um município é absorvido por outro município, desaparecendo aquele - não se altera a
personalidade jurídica daquele que incorpora e desaparece daquele que foi incorporado;

• Desmembramento:
Secção de parte do território de um Município para inclusão dessa parte no território de
outro Município. Não se alteram as personalidades jurídicas.

ATENÇÃO!

Procedimento mais complexo para municípios tipos de estado


Estudos de viabilidade técnica municipal – Sua regulamentação também deve ocorrer
na lei complementar federal, trata-se de comprovar que o novo Município tem de fato
viabilidade (autonomia financeira, sobretudo). A comprovação desses estudos deverá ser
feita previamente ao plebiscito, logo não haverá plebiscito se os estudos não comprovam
a possibilidade de viabilidade.
Consulta Prévia das "populações dos Municípios envolvidos" – Conforme já se viu
acima, trata-se de uma consulta que envolve a população inteira e não somente aquela
que integra a área de criação, incorporação, fusão ou desmembramento (art. 7°, Lei n°
9.709/98 – Lei de plebiscitos e referendos).
Lei Complementar Federal - O texto originário da CF 1988 nada dispunha sobre a
necessidade de uma lei complementar federal, mas alteração constitucional em 1996
trouxe essa exigência. Contudo, até hoje não foi editada a lei, logo, na prática inexiste a
possibilidade de criação de novo município.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Lei Estadual determinando a "criação, incorporação, fusão ou desmembramento" de


Município, isto é: conferindo personalidade e capacidade jurídica ao novo ente municipal.
Atenção ao art. 96 do ADCT – regra de transição: Ficam convalidados os atos de
criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido
publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na
legislação do respectivo Estado à época de sua criação."

5. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA

No âmbito da repartição de competência, é fundamental compreender a nomenclatura


para entender o que enuncia o dispositivo constitucional, sendo assim precisamos atentar a
esses significados:

COMPETÊNCIAS COMPETÊNCIAS
LEGISLATIVAS: referem-se ADMINISTRATIVAS:
à competência de criar leis referem-se à execução de
ações

EXCLUSIVA
EXCLUSIVA

PRIVATIVA

REMANESCENTE COMUM

CONCORRENTE

DELEGADA

108
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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5.1 Tipos de competência – Nomenclaturas


• Competência comum:
A competência nesse caso é administrativa, significa que todos os Entes recebem
atribuição sobre aquela matéria, a exemplo do art. 23 da CF/88.
União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Parágrafo único. Lei complementar 140.
Competência comum regulamentada por lei complementar.

Art. 23 da CF: É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

• Competência exclusiva:
Não há delegação, pertence somente aquele ente que recebeu a competência. Ela poderá
ser tanto uma competência exclusiva administrativa, ex: art 21 e art 30, III a IX da Constituição,
quanto uma competência exclusiva Legislativa, ex: art 30, I e II. Porém, o uso dos potenciais de
energia hidroelétrica será em conjunto com os Estados-membros.

• Competência privativa:
A competência privativa é uma competência legislativa, e sobre ela há possibilidade de
delegação de competência para outro ente federativo. No caso brasileiro, temos a competência
privativa sendo da União, mas podendo ser delegada aos Estados, matéria específica, mediante
Lei complementar federal. Lei complementar nº 103/2000 – piso salarial. Ex: art22 da
Constituição.

Art. 22 da CF: Compete privativamente à União legislar sobre:


Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo.

• Competência concorrente:
Sobre a matéria os entes recebem diferentes competências legislativas, que podem ser
pela e suplementar. art. 24 da CF. A legislação concorrente, apenas União, Estados e Distrito
Federal e combinado com o art 30 II, também se estende aos municípios.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Art. 24 da CF: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
§ 1º - União Legisla sobre normas gerais, sendo que os Estados suplementarão a União
(§2º). Exemplo: custas dos serviços forenses. CTN estabelece o que é taxa, Estados
estabelecem as hipóteses de incidência, contribuinte e alíquotas.
§1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais. Nesse caso dizemos que exerce competência plena!!
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Nesse caso, dizemos que os estados e o distrito federal
exercem a chamada competência suplementar.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Lembrar que nesse caso os estados
e o Distrito Federal poderão exercer competência plena em matéria de normas gerais!
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei
estadual, no que lhe for contrário.

Aqui se estabelece a relação entre competência plena e competência suplementar. A


competência plena, como regra será da União para legislar sobre normas gerais, enquanto os
Estados poderão suplementar tal legislação. Contudo, na ausência de norma geral da União, os
Estados poderão exercer a competência plena sobre normas gerais.
Na competência concorrente, prevalece a preponderância de interesse (União: interesse
geral; Estado: regionais; e Município: local) em relação a legislação sobre normas gerais e
normas suplementares).

Atenção!
Nesse caso, legislação de normas gerais
criadas pela União após a criação de normas
gerais pelo Estado em face da inexistência
anterior de norma da União, apenas
suspende no que for contrária, ou seja,
mantém validade as normas gerais estaduais
desde que sejam compatíveis com a
legislação federal! Exemplo: normas sobre a
proteção do idoso.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Vejamos um exemplo em que extrapolar a competência suplementar


gerará uma inconstitucionalidade da Lei Estadual:

Concessão de descontos em farmácias e competência legislativa concorrente -


ADI 2435/RJ - É formalmente inconstitucional lei estadual que concede
descontos aos idosos para aquisição de medicamentos em farmácias
localizadas no respectivo estado. Ao determinar a concessão de desconto de até
30% nas medicações destinadas aos idosos com idade superior a 60 (sessenta)
anos, a legislação estadual viola a regulação do setor estabelecida pelas Leis
federais 10.213/2001 e 10.742/2003 e pelas medidas provisórias que as
antecederam, pois altera a linha condutora do equilíbrio do mercado
farmacêutico traçado pela política pública de preços e acesso a medicações
desenhada pela União.

A lei estadual, portanto, extrapola a sua competência supletiva e invade a


competência da União para legislar sobre normas gerais de proteção e defesa da saúde,
direito econômico e proteção do consumidor (art. 24, XII, da Constituição Federal). Com
esse entendimento, o Plenário, por maioria, declarou a inconstitucionalidade formal da Lei
3.542/2001 do estado do Rio de Janeiro. ADI 2435/RJ, relator. Min. Cármen Lúcia, redator
do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 18.12.2020 (INF 1003).
No entanto, em algumas matérias do art. 24, a Jurisprudência do STF vem
consolidando a possibilidade do Município legislar concorrente para atender o interesse
local, a exemplo da matéria da saúde no caso Covid 19 e, principalmente, consolidada do
STF está a matéria ambiental.

→ Exemplo em matéria ambiental:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 194.704 MINAS GERAIS - EMENTA: RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. LEI MUNICIPAL 4.253/85 DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE.
PREVISÃO DE IMPOSIÇÃO DE MULTA DECORRENTE DA EMISSÃO DE FUMAÇA
ACIMA DOS PADRÕES ACEITOS. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE POR
OFENSA À REGRA CONSTITUCIONAL DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
FEDERATIVAS. INOCORRÊNCIA. NORMA RECEPCIONADA PELO TEXTO VIGENTE.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Nos casos em que
a dúvida sobre a competência legislativa recai sobre norma que abrange mais de um tema,
deve o intérprete acolher interpretação que não tolha a competência que detêm os entes
menores para dispor sobre determinada matéria (presumption against preemption). 2.
Porque o federalismo é um instrumento de descentralização política que visa realizar
direitos fundamentais, se a lei federal ou estadual claramente indicar, de forma adequada,
necessária e razoável, que os efeitos de sua aplicação excluem o poder de
complementação que detêm os entes menores (clear statement rule), é possível afastar a
presunção de que, no âmbito regional, determinado tema deve ser disciplinado pelo ente
menor. 3. Na ausência de norma federal que, de forma nítida (clear statement rule), retire
a presunção de que gozam os entes menores para, nos assuntos de interesse comum e
concorrente, exercerem plenamente sua autonomia, detêm Estados e Municípios, nos

111
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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seus respectivos âmbitos de atuação, competência normativa. RESSALTA-SE


CONTUDO, QUE NÃO PODERIA DIMINUIR O ÂMBITO DA PROTEÇÃO AMBIENTAL!
EXEMPLO STF - É inconstitucional a legislação estadual que, flexibilizando exigência legal
para o desenvolvimento de atividade potencialmente poluidora, cria modalidade mais
simplificada de licenciamento ambientaL -ADI 6672/RR, relator Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual finalizado em 14.9.2021

→ Exemplo em direito à saúde:

ADI 6132/GO, relatora Min Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 26.11.2021
(sexta-feira), às 23:59 (INF 1039) Covid-19: imunização de adolescentes por estados,
municípios e DF - ADPF 756 TPI-oitava-Ref/DF Resumo: A decisão de promover a
imunização contra a Covid-19 em adolescentes acima de 12 anos, observadas as
evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, insere-se na competência dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios. Os entes federados possuem competência
concorrente para adotar as providências normativas e administrativas necessárias ao
combate à pandemia. Nos termos do art. 3º, § 1º, da Lei 13.979/2020[2], a decisão sobre
a inclusão ou a exclusão de adolescentes entre as pessoas a serem vacinadas deve levar
em consideração as evidências científicas e as análises estratégicas em saúde. Com base
nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, referendou medida cautelar deferida
em arguição de descumprimento de preceito fundamental. ADPF 756 TPI-oitava-Ref/DF,
relator Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 8.10.2021 (sexta-feira),
às 23:59 (INF 1033)

→ Mais um exemplo:
Outra jurisprudência interessante em termos de competência concorrente é a
Regulamentação de publicidade dirigida às crianças em estabelecimentos de educação
básica - ADI 5631/BA. Base legal: CF/1988: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao
Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) V - produção e consumo; (...) IX -
educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e
inovação;”

Resumo: É constitucional legislação estadual que proíbe toda e qualquer atividade de


comunicação comercial dirigida às crianças nos estabelecimentos de educação básica. Os
estados federados têm competência legislativa para restringir o alcance da publicidade
dirigida à criança enquanto estiverem nos estabelecimentos de educação básica. Essa
restrição promove a proteção da saúde de crianças e adolescentes, dever que a própria
Constituição Federal (CF) define como sendo de absoluta prioridade. ADI 5631/BA, relator
Min. Edson Fachin, julgamento em 25.3.2021

→ Recente decisão do STF, em temas polêmicos de competência,


especificamente sobre usurpação de competência da União:

É inconstitucional lei estadual que impõe aos prestadores privados de serviços de ensino
a obrigação de estender o benefício de novas promoções aos clientes preexistentes.”

112
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Resumo: É indevida a inclusão de serviços privados de educação no rol de fornecedores


obrigados a conceder, a seus clientes preexistentes, os mesmos benefícios de promoções
posteriormente realizadas. Isso porque, nos termos do art. 22, I, da Constituição Federal
(CF) (1), há usurpação da competência privativa da União para legislar sobre direito civil.
Ademais, a norma estadual, ao impor aos prestadores de serviços de ensino a obrigação
de estender o benefício de novas promoções a clientes preexistentes, promove ingerência
em relações contratuais estabelecidas, sem que exista conduta abusiva por parte do
prestador. Além disso, a Lei federal 9.870/1999 estabelece normas gerais para fixação de
anuidades escolares em âmbito nacional. No caso, o legislador estadual contrariou as
normas gerais editadas legitimamente pelo Congresso Nacional sobre o tema, o que
caracteriza afronta ao art. 24, §§ 1º e 2º, da CF (2). Com base nesse entendimento, o
Plenário, por maioria, julgou procedente ação direta e declarou a inconstitucionalidade do
art. 1º, parágrafo único, e, da Lei 7.077/2015, do Estado do Rio de Janeiro. Vencidos os
ministros Rosa Weber (relatora), Edson Fachin e Alexandre de Moraes. (1) CF: “Art. 22.
Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal,
processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;” (2) CF: “Art.
24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais
não exclui a competência suplementar dos Estados.” ADI 6614/RJ, relatora Min. Rosa
Weber, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em
12.11.2021

→ Sobre interrupção de fornecimento de energia elétrica, competência da


União:

Interrupção de fornecimento de energia elétrica e competência privativa da União - ADI


5798/TO. Resumo: Compete à União definir regras de suspensão e interrupção do
fornecimento dos serviços de energia elétrica. Cabe à União, de forma privativa, legislar
sobre energia (1), bem como dispor acerca do regime de exploração do serviço de energia
elétrica, aí incluídas as medidas de suspensão ou interrupção de seu fornecimento (2).No
caso, a norma impugnada não se restringiu à proteção do consumidor, pois, ao estipular
regras pertinentes à suspensão do fornecimento dos serviços de energia elétrica, interferiu
efetivamente no conteúdo dos contratos administrativos firmados entre a União e as
respectivas empresas concessionárias.Com base nesse entendimento, o Plenário, por
maioria, julgou procedente o pedido formulado em ação direta para declarar a
inconstitucionalidade da expressão “de energia elétrica” constante do art. 1º da Lei
3.244/2017 do Estado do Tocantins (3). Vencido o ministro Edson Fachin. (1) CF: “Art. 22.
Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão;” (2) CF: “Art. 21. Compete à União: (...) XII - explorar,
diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: (...) b) os serviços e
instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;” (3) Lei
3.244/2017 do Estado do Tocantins: “Art. 1º É proibida, no âmbito do Estado do Tocantins,
a suspensão do fornecimento de energia elétrica e água tratada pelas concessionárias,
por falta de pagamento de seus usuários: I - entre 12h de sexta-feira e 8h da segunda-
feira; II - entre as 12h do dia útil anterior e 8h do dia subsequente a feriado nacional,
estadual ou municipal.” ADI 5798/TO, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual
finalizado em 3.11.2021

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ STF- Viola a Constituição leis municipais que legislem sobre autorização


e exploração de rádios comunitárias -ADPF: lei municipal, rádios
comunitárias e competência privativa da União - ADPF 335/MG

Tese fixada: “É inconstitucional lei municipal que dispõe sobre a autorização e exploração
de serviço de radiodifusão comunitária.” Resumo: Por tratar de matéria de competência
reservada à União, apresenta vício de inconstitucionalidade formal lei municipal que: a)
institui direitos e obrigações das rádios comunitárias, b) autoriza seu funcionamento e
exploração no âmbito de seu território, e c) estabelece infrações, sanções e o pagamento
de taxa de funcionamento. As normas constitucionais são claras ao dispor que cabe à
União legislar privativamente a respeito da radiodifusão, assim como explorar os serviços
de radiodifusão sonora [Constituição Federal (CF), art. 21, XII, a; art. 22, IV; art. 223[1]].
Dentro do esquema constitucional de competências, não há espaço para a atuação do
legislador municipal. Principalmente quando se observa que o ato normativo local não está
de acordo com a disciplina nacional sobre o tema (Lei 9.612/1998).Com esse
entendimento, o Plenário julgou procedente pedido formulado em arguição de
descumprimento de preceito fundamental para declarar a inconstitucionalidade formal da
Lei 9.418/2004 do município de Uberaba/MG.ADPF 335/MG, relator Min. Roberto Barroso,
julgamento virtual finalizado em 27.8.2021 (INF 1027).

• Competência remanescente:
O que não pertence a outro ente federativa, pertence àquele que será então o
remanescente. No caso brasileiro, as competências legislativas remanescente pertencem aos
Estados, pois a União e Municípios receberam competências enumeradas na Constituição,
conforme regra do art. 25°, parágrafo 1º:

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição.

Observação:
As competências tributárias dos entes políticos são exercidas de forma exclusiva. Assim,
o Legislador Constituinte Originário, com o intuito de preservar a própria federação,
especialmente a capacidade de autonomia administrativa dos entes políticos, distribuiu a
tais entes determinada parcela de fatos econômicos tributáveis exclusivamente por eles.
Por conseguinte, foram distribuídos, de forma exclusiva, os impostos da União (CF, art.
153, I), os impostos dos Estados e do Distrito Federal (CF, art. 155) e os impostos dos
Municípios (CF, art. 156).

114
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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5.2. Esquema de repartição de competências

TIPOS DE DISTRITO
UNIÃO ESTADOS MUNICÍPIOS
COMPETÊNCIAS FEDERAL

ADMINISTRATIVA

Exclusiva
Art.25 parágrafo 2º

Remanescente Que
sobrou – não
Exclusiva
pertence a ninguém
Exclusiva Exclusiva NÃO ATRIBUI!
será do Estado):
Art.21 Art 30, III – IX Obs: art 32 da
Aquelas que não
CF/88
estejam no art 21
Comum
(união que não
Art.23
estejam no art 23
Comum Comum
todos– que não
Art.23 Art.23
estejam no art 30, III-
IX- porque é do
municípios)

Comum
Art.23

LEGISLATIVA
ENUMERADA
Art 30. Criar Lei Lei
/EXCLUSIVA Art 48-49-51 e 52 obs: At 25 caput
orgânica Mesma do Estado
todos com sentido de Criar Constituição
Art 30, I- interesse e do Município
exclusiva Estadual
local

Art. 22
PRIVATIVA
Parágrafo único
1.Lei complementar
(delegável) Não tem! Não tem Não tem!!
federal
2. Matéria específica
(parte do conteúdo)

REMANESCENTE
Art 25 parágrafo 1º
Art 25 parágrafo 1º -
- não é da União e
não é da União e
Não tem!! Não tem! nem dos
nem dos municípios
municípios será do
será do Estado
Estado/DF –art 32
DELEGADA

(recebida de outro Não tem! Art. 22 parágrafo Art. 22 parágrafo


Não tem!
entre) único - único –art 32

CONCORRENTE
Art. 30, I e II – se
(atuam for interesse local
legislativamente na Art. 24 STF entendeu que
Art. 24 Art.24
mesma matéria em razão do
- preponderância de interesse local,
interesses) poderia

115
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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suplementar a
norma federal e
estadual conforme
competência do art
24

Art. 24 parágrafo 3º Art. 24 parágrafo


PLENA PARA diz que não existindo 3º diz que não
NORMAS GERAIS Art.24 – parágrafo 1º – norma geral da Art. 30, I existindo norma
normas gerais União, Estados terão Interesse local geral da União,
competência plena Estados terão
competência plena

Art 30 , II
SUPLEMENTAR
(de acordo com o
Não tem!! Art 24 parágrafo 2º Art 24 parágrafo 2º
interesse local)

TRIBUTÁRIA Art. 153


Art.154, Art. 155 Art.156 Art 156
I- residual

Tarefa: Ler com atenção do art. 21 a 32 da Constituição.

Em face da extrema complexidade do sistema de repartição de competências legislativa


e administrativa na Constituição de 1988, um primeiro e fundamental problema de caráter
eminentemente prático-jurídico que se apresenta é como proceder em face de cada caso
concreto para identificar qual entidade é competente para atuar nesse caso concreto. Para tanto,
propõe-se aqui uma ordem predeterminada a ser seguida. Cabe referir previamente que a
competência comum, por tratar (somente) de possibilidades de cooperação entre as entidades
federativas, não entra nessa sistemática de busca. Isso posto, propõe-se que a ordem lógica a
ser seguida nesse procedimento de identificação seja a seguinte:

a) Menção em dispositivo esparso na Constituição de uma competência exclusiva


em favor da União, do Estado, ou do Município? Em caso negativo:
b) Menção em dispositivo esparso na Constituição de uma competência
“autenticamente concorrente”? Em caso negativo:
c) Menção como competência legislativa exclusiva da União (art. 48)? Em caso
negativo:

116
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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d) Menção como competência administrativa exclusiva da União (art. 21)? Em


caso negativo:
e) Menção como competência legislativa privativa da União (art. 22)? Em caso
negativo:
f) Menção como competência legislativa para diretrizes gerais da União? Em caso
negativo:
g) Competência legislativa exclusiva de Município em face de interesse local (art.
30, I)? Em caso negativo:
h) Menção como competência administrativa exclusiva de Município (art. 30, III a
IX)? Em caso negativo:
i) Menção como competência concorrente da União ou de estado-membro (art.
24)? Em caso negativo:
j) Menção como competência administrativa estadual (art. 25, § 2º)? Em caso
negativo:
k) Competência legislativa residual de Estado-membro (art. 25, § 1º) e, por
consequência, também administrativa residual do Estado-membro.

117
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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ORGANIZAÇÃO DOS PODERES E PODER LEGISLATIVO

→ Separação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, independentes e


harmônicos entre si;
→ Dizemos que é um princípio constitucional, sendo que a divisão de três poderes
vem desde a Constituição de 1981;
→ É cláusula pétrea;
→ Cuidar a distinção de funções, ou seja, na verdade trata-se de uma separação
de funções, sendo que cada poder exerce funções típicas (Exemplo: Poder Legislativo é
de legislar) e atípicas (exemplo: Poder Legislativo julgar como ocorre no processo de
impeachment).

1. PODER LEGISLATIVO

• No âmbito federal sistema bicameral:


Art. 44, CF 1988 - "O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se
compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal."

118
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Deputados Deputados
Senadores Vereadores
Federais Estaduais
O número de
Dependerá do
vereadores seguirá
número de Deputados
conforme a
Federais. Art. 27
quantidade de
Entre 8 (mínimo) e determina o seguinte
habitantes, tratando
70 (máximo) cálculo: até o número
de número máximo.
Observação: o de 12 deputados
Como a EC alterou
Tribunal Superior Será número fixo de federais, multiplica-se
esses números, tal
Eleitoral encaminha 3 Senadores por por três. Acima de 12
situação foi objeto
Número aos Tribunais Estado e DF – deputados federais, a
de votação nas
Regionais eleitorais elege-se com dois fórmula mais simples
casas legislativas, a
e aos partidos suplentes é a seguinte: y
favor ou não da
políticos o número (número dos dep.
ampliação do
de vagas a serem Estaduais) = x
número de
disputadas. (número de dep.
vereadores dentro
Federais acima de 12)
do permitido pela
+ 24
Constituição;
Ver art. 29 da CF.
8 anos- será
4 anos – não renovada de quatro 4 anos – não havendo 4 anos – não
Mandato havendo limites em quatro anos, limites para havendo limites
para recondução alternadamente, por recondução para recondução
um e dois terços.
Proporcional Proporcional
Proporcional
(depende da Majoritário (mais (depende da
(depende da legenda
Sistema legenda partidária- votado entre os legenda partidária-
partidária-
quoeficiente candidatos) quoeficiente
quoeficiente eleitoral)
eleitoral) eleitoral)
Idade 21 anos 35 anos 21 anos 18 anos

→ Lembrar sobre as competências:


 Art. 48 traz a Competência do Congresso Nacional que depende de
sanção do Presidente da República;
 Art. 49 (Congresso), 51 (Câmara dos Deputados) e 52 (Senado) sem
sanção do Presidente da República;
 As competências dos arts. 51 e 52 apesar de trazer o termo privativa,
é importante lembrar que são na verdade exclusivas, ou seja, não
podem ser delegadas.

119
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

2. CONCEITO

Período
Sessão legislativa Sessões
legislativo
Ordinárias: São aquelas já previstas na ordem
regular.

Extraordinárias: ocorre quando houver convocação


Art. 57 da CF: O Congresso Cada um dos dois
extraordinária do Congresso Nacional e somente
Nacional reunir-se-á, períodos que
para deliberar sobre matéria objeto da convocação.
anualmente, na Capital compõem a sessão
§ 6º A convocação extraordinária do Congresso
Federal, de 2 de fevereiro a legislativa. O
Nacional far-se-á:
17 de julho e de 1º de primeiro período
(...)
agosto a 22 de dezembro; legislativo
II - pelo Presidente da República, pelos Presidentes
compreende
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal ou
→ Sessão legislativa é aquele entre 02 de
a requerimento da maioria dos membros de ambas
então o período ANUAL de fevereiro a 17 de
as Casas, em caso de urgência ou interesse público
reuniões do Congresso julho. O segundo
relevante, em todas as hipóteses deste inciso com a
Nacional; período legislativo
aprovação da maioria absoluta de cada uma das
compreende
Casas do Congresso Nacional.
→ Cada sessão legislativa aquele entre 1º de
se compõe de DOIS agosto a 22 de
§ 7º Na sessão legislativa extraordinária, o
períodos legislativos. dezembro.
Congresso Nacional somente deliberará sobre a
matéria para a qual foi convocado, ressalvada a
hipótese do § 8º deste artigo, vedado o pagamento
de parcela indenizatória, em razão da convocação.

3. FUNCIONAMENTO E ESTRUTURAS INTERNAS DO PODER LEGISLATIVO

Cada casa legislativa deverá elaborar seu regimento interno.


→ Art. 57, § 3°, II, CF 1988 "Além de outros casos previstos nesta Constituição, a
Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão em sessão conjunta para (...)
elaborar o regimento comum e regular a criação de serviços comuns às duas Casas"
→ Art. 51, III, CF 1988 "Compete privativamente à Câmara dos Deputados (...)
elaborar seu regimento interno"
→ Art. 52, XII, CF 1988 "Compete privativamente ao Senado Federal (...) elaborar
seu regimento interno.

120
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Importante:

a) Atos interna corporis são os atos baseados exclusivamente nos três


Regimentos do Congresso Nacional, não são atos apreciáveis pelo Poder
Judiciário, ante o princípio da auto-organização do Poder Legislativo que
lhe foi conferido pela Constituição, sendo assim, os conflitos derivados da
aplicação de norma regimental devem ser dirimidos exclusivamente pelos
órgãos competentes do próprio Congresso Nacional.
→ Exceção: só cabe controle judicial dos atos do regimento interno se
os mesmos afrontarem à Constituição. Exemplo: o regimento prevê uma
votação por maioria simples quando a Constituição exige maioria
qualificada.
b) O Plenário do STF tem reiteradamente advertido que atos emanados
dos órgãos de direção das Casas do Congresso Nacional, quando
praticados nos estritos limites da competência da autoridade apontada
como coatora e desde que apoiados em fundamentos exclusivamente
regimentais, sem qualquer conotação de índole jurídico-constitucional,
revelam-se imunes ao judicial review, pois - não custa enfatizar - a
interpretação incidente sobre normas de índole meramente regimental, por
qualificar-se como típica matéria interna corporis, suscita questão que se
deve resolver, "exclusivamente, no âmbito do Poder Legislativo, sendo
vedada sua apreciação pelo Judiciário" (...).(MS 23.920 MC, rel. min. Celso
de Mello, decisão monocrática, j. 28-3-2001, DJ de 3-4-2001) Vide MS
25.579 MC, rel. p/ o ac. min. Joaquim Barbosa, j. 19-10-2005, P, DJde 24-
8-2007

• Mesas da Câmara Federal, do Senado Federal e do Congresso Nacional:


Cada uma das casas legislativa terá composta sua mesa e terão funções administrativas
e de condução/direção dos trabalhos legislativos. As Mesas têm um papel importante porque
podem propor Ação direta de inconstitucionalidade, ação declaratória de constitucionalidade e
arguição de descumprimento de preceito fundamental, no caso do legislativo federal.

121
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

São eleitas para um mandato de 2 anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na
eleição posterior. Não se considera recondução a eleição para o mesmo cargo em legislaturas
diferentes, ainda que sucessivas.
Na constituição das Mesas, deverá ser assegurada a representação proporcional dos
partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa. Conforme determina
a Constituição, a Mesa do Congresso Nacional será presidida pelo Presidente do Senado Federal
e os demais cargos serão exercidos, alternadamente, pelos ocupantes de cargos equivalentes
na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

Sobre a reeleição ou recondução dos membros da Mesa das Assembleias Legislativas


dos estados, o STF decidiu:

STF - Reeleição ou recondução de membros de Mesa Diretora de Assembleias


Legislativas - ADI 6688/PR, ADI 6698/MS, ADI 6714/ PR, ADI 7016/MS, ADI 6683/AP, ADI
6686/PE, ADI 6687/PI, ADI 6711/PI e ADI 6718/AP. TESES FIXADAS: “(i) a eleição dos
membros das Mesas das Assembleias Legislativas estaduais deve observar o limite de
uma única reeleição ou recondução, limite cuja observância independe de os mandatos
consecutivos referirem-se à mesma legislatura; (ii) a vedação à reeleição ou recondução
aplica-se somente para o mesmo cargo da mesa diretora, não impedindo que membro da
mesa anterior se mantenha no órgão de direção, desde que em cargo distinto; (iii) o limite
de uma única reeleição ou recondução, acima veiculado, deve orientar a formação da
Mesa da Assembleia Legislativa no período posterior à data de publicação da ata de
julgamento da ADI 6.524, de modo que não serão consideradas, para fins de
inelegibilidade, as composições eleitas antes de 7.1.2021, salvo se configurada a
antecipação fraudulenta das eleições como burla ao entendimento do Supremo Tribunal
Federal.”

• Das Comissões Parlamentares:


As comissões estarão previstas nos regimentos internos de cada casa legislativa e
poderão ser:
→ Comissões Temporárias:
Art. 22, II, Regimento Interno da Câmara dos Deputados - são criadas "para
apreciar determinado assunto, que se extingue ao término da legislatura, ou antes dele,
quando alcançado o fim a que se destinam ou expirado o prazo de sua duração";

→ Comissões Temporárias Especiais:


Art.34 Regimento interno da Câmara dos Deputados- São criadas para dar
pareceres a respeito de: a) Proposta de Emenda à Constituição e projeto de código; b)
Proposições que versarem matéria de competência de mais de três Comissões que devam

122
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

pronunciar-se, quanto ao mérito, por iniciativa do Presidente da Câmara ou a requerimento


de Líder ou de Presidente de Comissão Interessada;

→ Comissões Parlamentares Mistas:


Composta por ambas as casas sobre temas em comuns.

→ Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI´s):

Atenção especial!

Art. 58, § 3°, CF/88 "As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos
das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal,
em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros,
para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o
caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou
criminal dos infratores."

Regulada pela Lei nº 13.367/2016:

Art. 1o As Comissões Parlamentares de Inquérito, criadas na forma do § 3o do art. 58 da


Constituição Federal, terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais,
além de outros previstos nos regimentos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
com ampla ação nas pesquisas destinadas a apurar fato determinado e por prazo certo.
Parágrafo único. A criação de Comissão Parlamentar de Inquérito dependerá de
requerimento de um terço da totalidade dos membros da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, em conjunto ou separadamente.” (NR)
Art. 2o No exercício de suas atribuições, poderão as Comissões Parlamentares de
Inquérito determinar diligências que reputarem necessárias e requerer a convocação de
Ministros de Estado, tomar o depoimento de quaisquer autoridades federais, estaduais ou
municipais, ouvir os indiciados, inquirir testemunhas sob compromisso, requisitar da
administração pública direta, indireta ou fundacional informações e documentos, e
transportar-se aos lugares onde se fizer mister a sua presença.” (NR)

Somente poderes investigatórios e não jurisdicionais – somente pode quebrar sigilo


bancário e de dados, sendo que os demais deverão pedir ao juiz competente. A denúncia
ou não depende do MP, note que é uma espécie de “inquérito”, eis sua função, instruir um
possível futuro processo judicial.
Quais seus requisitos?
 Requerimento, o objeto determinado e o prazo certo.
 Quórum de requerimento: 1/3. Não é possível rejeição da instalação da
CPI;

123
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

 Fato certo e determinado (Regimento interno Câmara dos Deputados:


35, § 1º: § 1° Considera-se fato determinado o acontecimento de
relevante interesse para a vida pública e a ordem constitucional, legal,
econômica e social do País, que estiver devidamente caracterizado no
requerimento de constituição da Comissão);
 Não podem ser fatos privados;
 Fatos de competência do ente;
 Pode fatos conexos;
 Não pode fatos genéricos;
 Prazo certo: constituição não diz o que é prazo certo. Deixou para o
regimento interno. 120 dias.

O que pode e o que não pode em uma CPI?


 Determinar o comparecimento de testemunhas, tomar-lhes
depoimento, promover diligências, requisitar documentos, certidões,
pedir informações a qualquer repartição pública, ou órgão federal,
estadual, municipal, distrital ou territorial, pode determinar a quebra do
sigilo bancário e fiscal. Pode acessar sigilo telefônico;
 Investigado e não réu ou indiciado;
 Não pode determinar a interceptação telefônica e de dados;
 Não pode determinar busca e apreensão violando domicílio;
 A testemunha e o investigado podem ser conduzidos coercitivamente;
 Possuem direito ao silêncio;
 Possuem direito a se fazerem acompanhar por um advogado;
 CPI não pode determinar a prisão de ninguém;
 CPIs e princípio da Simetria: Possibilidade de CPIs nas Assembleias
legislativas e nas Câmaras de Vereadores;
 Não há obrigatoriedade na conclusão da CPI. Pode ser entregue a
quaisquer autoridades, muito embora a CF mencione apenas o
Ministério Público.

124
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Atenção a jurisprudência do STF

Fiscalização de atos do Poder Executivo por parlamentar no âmbito dos


estados-membros — ADI 4700/DF: Norma estadual ou municipal não pode
conferir a parlamentar, individualmente, o poder de requisitar informações
ao Poder Executivo. A Constituição Federal (CF) é taxativa quanto à
atribuição exclusivamente conferida às Casas do Poder Legislativo para
fiscalizar os atos do Poder Executivo (CF, art. 49, X) (1). EDIÇÃO
1041/2021 | 11 INFORMATIVO STF SUMÁRIO Nesses termos, não se
admite que constituição estadual ou legislação infraconstitucional, a
pretexto de fiscalizar ou controlar atividades de outro poder, disponham
sobre outras modalidades de controle ou inovem em fórmulas de exercício
dessa atividade que ultrapassem aquelas previstas pela CF, sob pena de
violação ao princípio da separação dos poderes (CF, art. 2º). Fica
ressalvada, no entanto, a possibilidade de o parlamentar atuar na condição
de cidadão, nos termos constitucionais e legais aplicáveis a matéria (CF,
art. 5º, XXXIII).

4. ATRIBUIÇÕES DO LEGISLATIVO

125
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Atribuições fiscalizatória:

Art. 50, CF 1988 "A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas
Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos
diretamente subordinados à Presidência da República para prestarem, pessoalmente,
informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de
responsabilidade a ausência sem justificação adequada.
[...]
§ 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão encaminhar
pedidos escritos de informações a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas
referidas no caput deste artigo, importando em crime de responsabilidade a recusa, ou o
não - atendimento, no prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas.

Convocação de outras autoridades ou cidadãos:

Art. 58, § 2º, CF 1988 "Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:
III - convocar Ministros de Estado para prestar informações sobre assuntos inerentes a
suas atribuições; (...)

Art. 58, § 3°, da CF: Comissões parlamentares de inquérito.

Fique ligado! Norma estadual ou norma municipal pode conferir ao parlamentar, o


poder de requisitar informação ao Poder Executivo?
Para o STF, a CF/88 é taxativa quanto à atribuição exclusivamente conferida
às Casas do Poder Legislativo para fiscalizar os atos do Poder Executivo (CF,
art. 49, X).
Nesses termos, não se admite que Constituição estatual ou legislação
infraconstitucional, a pretexto de fiscalizar ou controlar atividades de outro
poder, disponham sobre outras modalidades de controle ou inovem em
fórmulas de exercício dessa atividade que ultrapassem aquelas previstas pela
CF, sob pena de violação ao princípio da separação dos poderes (CF, art. 2º)

Fica ressalvada, no entanto, a possibilidade de o parlamentar atuar na condição de


cidadão, nos termos constitucionais e legais aplicáveis a matéria (CF, art. 5º, XXXIII)
(4). Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente
a ação direta, para declarar a inconstitucionalidade da expressão “A qualquer
Deputado” constante do caput do art. 101 da Constituição do Estado do Rio de
Janeiro (5).(1) CF: “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
(…) X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos
do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;”(2) CF: “Art. 2º. São
Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo
e o Judiciário.”(3) Precedentes: ADI 3046 e RE 865401.(4) CF: “Art. 5º Todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,

126
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)


XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;”(5) Constituição do Estado
do Rio de Janeiro: “Art. 101 - A qualquer Deputado ou Comissão da Assembleia
Legislativa é permitido formular requerimento de informação sobre atos do Poder
Executivo e de suas entidades de administração indireta, até o limite de doze
requerimentos por ano e por requerente, constituindo crime de responsabilidade,
nos termos da lei, o não atendimento no prazo de trinta dias, ou a prestação de
informações falsas.” ADI 4700/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual
finalizado em 13.12.2021

Contudo, essa prerrogativa de convocar autoridades públicas não pode


implicar a violação da separação de poderes, ou seja, não pode por exemplo
convocar Presidente da República ou Governador de Estado.

• Atribuições de julgamentos:
→ Julgamento das contas do Presidente:
Art. 49, IX, CF/88: "É da competência exclusiva do Congresso Nacional: julgar
anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios
sobre a execução dos planos de governo" combinado com art. 84, XXIV, da CF (Cabe ao
Presidente Prestar).

→ Tribunal de Contas da União:


Art. 71, I, CF/88: Compete ao Tribunal de Contas da União apenas aprecia as contas
prestadas anualmente pelo Presidente da República, emitindo parecer prévio. O
julgamento das contas se dá pelo Congresso Nacional.

→ Crimes de responsabilidade:
Atribuições de julgamento de crimes de responsabilidade (impeachment):
autorização pela Câmara dos Deputados e julgamento pelo Senado Federal, nos
seguintes termos:

Art. 51 Compete privativamente à Câmara dos Deputados:


I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o
Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado.

Art. 52, CF 1988 "Compete privativamente ao Senado Federal:

127
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de


responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;
II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, o Procurador-Geral da
República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;

→ Distinção entre crimes comuns e crimes de responsabilidade:


Pode-se simplificar afirmando que os crimes comuns referem-se aos previstos na
legislação penal, seja no Código Penal seja na legislação extravagante ou especial, tendo
sua competência de julgamento pelo Poder Judiciário, enquanto que crimes de
responsabilidade são graves infrações de caráter político-constitucional cometidas pelas
mais altas autoridades constitucionais dos demais Poderes do Estado, tem sua natureza
jurídico-políticas, e sua sanção está prevista no art. 52, parágrafo único, CF/88, que
regulamenta as linhas básicas dos processos de crimes de responsabilidade:
"Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal
Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos
do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de
função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis”

Observação: no caso Dilma Roussef, a sanção foi desmembrada, ou seja, a


votação incidiu sobre cada uma das sanções, restando aprovada apenas a
votação pela cassação do mandato e não para inabilitação para o exercício de
função pública.

→ Atenção a jurisprudência:
Governador e normas sobre crimes de responsabilidade — ADI 4811/MG. É
inconstitucional norma de constituição estadual que disponha sobre o processamento e
julgamento de governador e vice-governador nos casos de crime de responsabilidade.
Isso porque a tipificação dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento de normas
relativas ao processamento e julgamento desses delitos são de competência privativa da
União (1). Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente
o pedido formulado na ação direta para declarar inconstitucionais os arts. 62, XIII e XIV;
91, § 3º; e 92, § 1º, II, da Constituição do Estado de Minas Gerais.

128
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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5. TRIBUNAL DE CONTAS

Aparecem dentro do Poder Legislativo como órgãos independentes de extração


constitucional. O Tribunal de Contas da União, auxilia, no ambiente federal, o Congresso
Nacional na sua missão de controle externo, conforme art. 70 da CF/88:

Art. 70 da CF: A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial


da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade,
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será
exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle
interno de cada Poder.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou
pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza
pecuniária.

• Quem será fiscalizado e em quais dimensões?


Nos termos do parágrafo único do art. 70 da Constituição Federal, os órgãos da
Administração Direta serão fiscalizados, assim como as entidades da Administração indireta
(autarquias, fundações, consórcios públicos, empresas públicas e sociedades de economia
mista) e inclusive particulares, sejam pessoas jurídicas ou físicas, que de algum modo gerenciam
dinheiro público.
→ Dimensões: dinheiros e patrimônio;
→ Aspectos: legalidade, economicidade e legitimidade;
→ Não só despesas, também subvenções e renúncia de receitas.

→ Composição TCU

Art. 73 da CF: O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no
Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional,
exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96.

• Critérios de nomeação:

Artigo 73 da Constituição Federal: [...]


§ 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros que
satisfaçam os seguintes requisitos:
I - mais de trinta e cinco e menos de setenta anos de idade; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 122, de 2022)
II - idoneidade moral e reputação ilibad a;
III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de
administração pública;

129
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos
mencionados no inciso anterior.
§ 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão escolhidos:
I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, sendo dois
alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal,
indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e
merecimento;
II - dois terços pelo Congresso Nacional.

Resumo
 9 ministros;
 1/3, ou seja, 3, serão escolhidos pelo Presidente da República. Um será escolhido
livremente. O outro será escolhido alternadamente entre auditores e membros do
ministério público de contas, a partir de critérios de merecimento e antiguidade, e a partir
de lista tríplice elaborada pelo Tribunal;
 2/3 escolhidos, ou seja, 6, livremente pelo Congresso Nacional;
 Os Ministros do Tribunal de Contas da União possuem as mesmas prerrogativas de
Ministro do STJ;
 Os mesmos percentuais se aplicam aos tribunais de contas dos Estados. Ocorre,
contudo, que os Tribunais de Contas Estaduais são formados por Conselheiros, e não
Ministros, e são em número de 7, e não 9, conforme parágrafo único do art. 75 da
Constituição Federal.

• Competência:
Artigo 71 da Constituição Federal:

I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante


parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;

Elaborar parecer prévio sobre as contas de governo, anualmente. As contas serão


aprovadas ou reprovados pelo Congresso Nacional, mediante decreto legislativo (maioria
simples). No caso específico dos Municípios há um quórum maior, quórum de 2/3 dos vereadores
para não aprovar o parecer (art. 31, § 2º, da CF).

II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e


valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades
instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa
a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;

130
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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O inciso II se refere às contas de gestão. Possibilidade de imputação de multa e de débito


diretamente pelo Tribunal de Contas. A quem quer que cause prejuízo ao erário. Como o Tribunal
de contas, neste caso, julga, poderá imputar multa ou de débito diretamente.

III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a
qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e
mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões,
ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato
concessório;

No inciso III trata-se legalidade das admissões e aposentadorias, salvo aumentos simples
no último caso. Há, pois, duas situações, no referido inciso: a) apreciar a legalidade de atos de
admissão de pessoal, salvo cargos em comissão (livre nomeação e exoneração); b) apreciar os
atos de concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias
posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório.

IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de


Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;

O inciso IV estabelece as tomadas de contas especiais, que podem ser ex officio ou


mediante provocação.

V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a


União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;

Inciso V trata das contas nacionais das empresas públicas supranacionais, como no
caso da Itaipu.

VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante


convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal
ou a Município;

O inciso VI aborda a fiscalização de recursos repassados pela a União ao Distrito


Federal e Municípios.

VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas
Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e
inspeções realizadas;

131
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Este inciso delimita a prestação de informações pelo Congresso Nacional.

VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de


contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa
proporcional ao dano causado ao erário;

Pelo inciso VIII, tem-se a competência do TC na aplicação direta de sanções. A aplicação


das penalidades pelo Tribunal de Contas da União não afasta a possibilidade de serem aplicadas
outras sanções pelos órgãos respectivos, em razão das mesmas irregularidades. As decisões
do Tribunal de que resultem imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo.

IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao


exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

No inciso IX tem-se que em caso de irregularidades, o tribunal apontará o erro, dando


prazo para a correção.

X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à


Câmara dos Deputados e ao Senado Federal; [...] § 1º No caso de contrato, o ato de
sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato,
ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar
as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia
de título executivo.

O inciso X estabelece a competência de sustar diretamente a execução dos atos


impugnados.

→ Exemplo:
Admissão sem concurso público. O Tribunal de Contas pode sustar qualquer ato.
Importante ler este inciso em conjunto com os § 1 e 2º, do art. 71 da CF. No caso de
contrato administrativo, o Tribunal de Contas primeiro vai informar ao Congresso Nacional
e este vai notificar ao Executivo para que tome providências. Se em 90 dias o Congresso
Nacional ou o Poder Executivo nada fizerem, poderá o Tribunal de Contas agir. Deve-se,
portanto, diferenciar o ato administrativo (unilateral) do contrato administrativo (bilateral).

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Dica!
Aparecem dentro do Poder Legislativo como órgãos independentes de extração
Constitucional. Cuidado com a distinção:
A) No caso do art. 71, I, da CF: Elaborar Parecer prévio sobre as contas de governo,
anualmente. As contas serão aprovadas ou reprovados pelo Congresso Nacional,
mediante decreto legislativo (maioria simples). No caso específico dos Municípios há um
quórum maior, quórum de 2/3 dos vereadores para não aprovar o parecer (art. 31, § 2º, da
CF);
B) No caso do inciso II, a palavra é julgar: Se refere às contas de gestão. Possibilidade de
imputação de multa e de débito diretamente pelo Tribunal de Contas a quem quer que
cause prejuízo ao erário.

→ Entendimentos do STF quanto aos TCs:


 Súmula vinculante nº 3: Nos processos perante o Tribunal de Contas
da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da
decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo
que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do
ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.
 Súmula nº 347: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições,
pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder
Público. Contudo, o STF vem revendo o seu posicionamento
entendendo que órgãos administrativos autônomos, tais como CNJ e
TCU, não possuem função jurisdicional (Pet 4.656), razão pela qual não
lhes cabe realizar controle de constitucionalidade. Tais órgãos tem
função de controlar a validade dos atos administrativos e ao fazê-lo
poderão afastar, no caso concreto, a aplicação de lei ou ato normativo
que afronte a Constituição, mas tal não se confunde com o controle de
constitucionalidade (RMS 8.372). Importante, contudo, pontuar que a
análise quanto à superação ou não da Súmula em questão está
sob análise do STF.
 Competência para o julgamento de contas dos Poderes estaduais
e simetria federativa - ADI 6981/SP. É inconstitucional — por
contrariar o princípio da simetria e o que disposto no art. 71, II, da
CF/1988 — norma de Constituição estadual que atribui à

133
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Assembleia Legislativa competência exclusiva para tomar e julgar


as contas prestadas pelos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário. O art. 75 da CF/1988 determina expressamente que o
modelo federal de controle orçamentário e financeiro se aplica aos
Tribunais de Contas dos estados, vinculando, assim, o constituinte
estadual. Em âmbito federal, apenas as contas da Presidência da
República são julgadas pelo Congresso Nacional. Nas demais
hipóteses, inclusive quanto aos Poderes Legislativo e Judiciário, a
competência é do Tribunal de Contas da União. Desse modo, em
atenção ao postulado da simetria, compete à Assembleia Legislativa
estadual, tão somente, o julgamento das contas do governador e a
apreciação dos EDIÇÃO 1079/2022 | 13 INFORMATIVO STF
SUMÁRIO relatórios sobre a execução dos planos de governo. Caso
contrário, haveria restrição indevida da competência do Tribunal de
Contas local. Com base nesses entendimentos, o Plenário, por
unanimidade, julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade das expressões “pela Mesa da Assembleia
Legislativa” e “e pelo Presidente do Tribunal de Justiça,
respectivamente, do Poder Legislativo, do Poder Executivo e do Poder
Judiciário”, constantes do art. 20, VI, da Constituição do Estado de São
Paulo.
 Controle de constitucionalidade e Tribunal de Contas: Descabe a
atuação precária e efêmera afastando do cenário jurídico o que
assentado pelo Tribunal de Contas da União. A questão alusiva à
possibilidade de este último deixar de observar, ante a óptica da
inconstitucionalidade, certo ato normativo há de ser apreciada em
definitivo pelo Colegiado, prevalecendo, até aqui, porque não
revogado, o Verbete nº 347 da Súmula do Supremo. De início, a
atuação do Tribunal de Contas se fez considerado o arcabouço
normativo constitucional." (MS 31439 MC, Relator Ministro Marco
Aurélio, Decisão Monocrática, julgamento em 19.7.2012, DJe de
7.8.2012).

134
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Pensando criticamente:
O Supremo Tribunal Federal não revogou o verbete da Súmula 347 que reconhece
a competência para declaração de constitucionalidade por parte do Tribunal de
Contas. Contudo, às manifestações em decisões via Mandado de Segurança tem
ressaltado a impossibilidade de um Tribunal não jurisdicional declarar a
inconstitucionalidade de Lei, isso porque é incompetente para o exercício do
controle repressivo de constitucionalidade.
Tais compreensões estão também relacionadas à natureza do órgão, concluindo-
se que sua função é de natureza administrativa no auxílio técnico do Poder
Legislativo na função fiscalizadora e julgadora das Contas do Executivo. Não
pairam dúvidas quanto à impossibilidade desta declaração ser compreendida sob
a ótica do controle abstrato, pois haveria uma usurpação de competência
originária do Supremo Tribunal Federal. Parte da doutrina e dos julgados tratam
de uma possível declaração de constitucionalidade pela via incidental, o que não
restou pacífico.

• Tribunais de Contas Municipais.

No que tange aos Tribunais de Contas Municipais, o §4º do art. 31 da Constituição Federal
determinou que é vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.
De forma aparentemente paradoxal, o §1º do mesmo artigo dispõe que o controle externo da
Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do
Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

A partir de uma leitura sistemática da Constituição Federal, compreende-se que, com o


advento da Constituição Federal de 1988, não poderão ser criados novos Tribunais de Contas
Municipais, mas os já existentes serão mantidos, caso dos Tribunais de Contas dos Municípios
do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Além disso, é possível que, em âmbito estadual, seja criado um órgão estadual
denominado Conselho ou Tribunal de Contas Municipal do Estado X para auxiliar no âmbito da
fiscalização contábil, financeira e orçamentária dos Municípios localizados naquele Estado, o que

135
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

ocorre no Pará. Assim, a vedação constitucional é no sentido de que não podem ser criados
Tribunais de Contas na estrutura do Município apenas, não alcançando a criação de órgão
estadual com atribuições direcionadas ao âmbito municipal. Estes serão, portanto, órgãos
estaduais, que atuam como órgãos auxiliares e de cooperação técnica com as Câmaras
Municipais. Nesse sentido, é o entendimento do STF: ADI 687.

Assim, em âmbito municipal, o controle externo das contas do Prefeito é realizado pela
Câmara Municipal auxiliada pelo Tribunal de Contas do Estado ou Tribunal de Contas do
Município, instituído antes de 1988 ou Tribunal de Contas do Município, órgão estadual,
constituído para atuar no Município. O Tribunal respectivo emitirá parecer prévio que apenas
poderá ser rejeitado por dois terços dos membros da Câmara Municipal.

6. IMUNIDADE PARLAMENTAR

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ As imunidades parlamentares são de ordem formal e material;


→ A Constituição regula o âmbito federal, sendo que as imunidades formais e
materiais se aplicam ao caso dos Deputados Estaduais;
→ Não há imunidades formal para o caso de vereadores municipais;
→ No caso da imunidade material, cuidar que para os vereadores a circunscrição
do município é quem determinará seu âmbito de incidências.

6.1. Imunidade material


Também chamada de inviolabilidade (freedom of speach), trata-se de imunidade por
opinião e palavras. Pode se dar nos âmbitos civil e penal.

• Inviolabilidade no âmbito civil:


As quaisquer opiniões, palavras e votos proferidos não constituem dano civil, isto é: não
geram direito à indenização por perdas e danos (sejam danos morais sejam danos causadores
de sanção acessória por prática de crime).

• Inviolabilidade no âmbito penal:


As quaisquer opiniões, palavras e votos proferidos não tipificam crime, isto é: não tipificam
injúria, calúnia ou difamação ou outros crimes similares.
→ Teoria da “conexão”:
→ Depois da Emenda 35/01 - Âmbito espacial de proteção.

Importante!
Aplica-se a Senadores e Deputados Federais
e Estaduais, independentemente de onde se
encontrem, desde que tal manifestação tenha
conexão com o mandato e, obviamente, não
se qualifique como crime. Aos vereadores, tal
imunidade está restrita ao âmbito da
circunscrição municipal.

137
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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6.2. Imunidade Formal


A imunidade formal possui duas variantes:

• Garantia do parlamentar de não ser preso (freedom from arrest):


Texto atual da Constituição: Art. 53, § 2° (redação da Emenda n° 35, de 20/12/2001):
"Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos,
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte
e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva
sobre a prisão."

• Garantia de sustação de ação penal:


Art. 53, caput, CF 1988: “Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e
penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”.

6.3. Foro privilegiado

Art. 53, § 1° - A competência para julgamento de membros do Congresso Nacional pela


prática de infrações penais comuns é do Supremo Tribunal Federal (e não dos juízes
ordinários de primeira instância).

Nova posição do Supremo Tribunal a partir da interpretação restritiva do foro privilegiado:


Principais somente crimes que possuírem relação com o mandato de parlamentar; cometidos
após a diplomação.

Pontos de restrição, para o ministro Luís Roberto Barroso:

1) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o
exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.”
I) fixar a competência do STF para processar e julgar os membros do Congresso Nacional
exclusivamente quanto aos crimes praticados após a diplomação, independentemente de
sua relação ou não com a função pública em questão;
II) serem inaplicáveis as regras constitucionais de prerrogativa de foro quanto aos crimes
praticados anteriormente à diplomação ou nomeação, conforme o caso, hipótese em que
os processos deverão ser remetidos ao juízo de 1ª instância competente,
independentemente da fase em que se encontre;
III) reconhecer a inconstitucionalidade de todas as normas previstas em constituições
estaduais, bem como na lei orgânica do DF, que contemplem hipóteses de prerrogativa
de foro não previstas expressamente na CF, vedada a invocação de simetria. Nestes
casos, os processos deverão ser remetidos ao juízo de 1ª instância competente,
independentemente da fase em que se encontram;

138
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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IV) estabelecer, quando aplicável a competência por prerrogativa de foro, que a renúncia
ou a cessação, por qualquer outro motivo da função pública que atraia a causa penal ao
foro especial após o encerramento da fase do art. 10 da lei 8.038/90 com a determinação
de vista às partes para alegações finais, não altera a competência para o julgamento da
ação penal.
Sendo assim, interpretação constitucional do artigo 53, parágrafo 10: importante decisão
da ação penal 937 - aplicação para crimes cometidos durante o exercício do cargo e crimes
relativos a função que exerce. STF - MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL. Ademais, viola o
princípio da igualdade proteger, com foro de prerrogativa, o agente público por atos
praticados sem relação com a função para a qual se quer resguardar sua independência,
o que constitui a atribuição de um privilégio. A Corte registrou que essa nova linha
interpretativa deve ser aplicada imediatamente aos processos em curso, com a ressalva
de todos os atos praticados e decisões proferidas pelo STF. AP 937 QO/RJ, rel. Min.
Roberto Barroso, julgamento em 2 e 3.5.2018. (AP-937) (Informativo 900)

Duas teses podem ser extraídas da decisão, segundo Márcio André Lopes Cavalcante:
→ Tese 1:
As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por
prerrogativa de função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos
crimes que tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele. Assim,
por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado
Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância
mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal.
Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no
mandato, se o delito não apresentar relação direta com as funções exercidas, também
não haverá foro privilegiado.
Foi fixada, portanto, a seguinte tese: O foro por prerrogativa de função aplica-se
apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas.

→ Tese 2:
Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação
para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações
penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou
deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.

139
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Ademais, tem-se pronunciamento do STF quanto à prerrogativa de foro e


Constituições Estaduais:

Foro por prerrogativa de função e membros da Defensoria Pública e de Procuradorias


estaduais - ADI 6501/PA, ADI 6508/RO, ADI 6515/AM, e ADI 6516/AL
Tese fixada: “É inconstitucional norma de constituição estadual que estende o foro por
prerrogativa de função a autoridades não contempladas pela Constituição Federal de
forma expressa ou por simetria.”
Resumo: As constituições estaduais não podem instituir novas hipóteses de foro por
prerrogativa de função além daquelas previstas na Constituição Federal. As normas que
estabelecem o foro por prerrogativa de função são excepcionais e devem ser interpretadas
restritivamente, não cabendo ao legislador constituinte estadual estabelecer foro por
prerrogativa de função a autoridades diversas daquelas listadas na Constituição Federal,
a qual não cita defensores públicos nem procuradores. RE 1313494/MG, relator Min. Dias
Toffoli, julgamento em 14.9.2021 (INF 1030)

STF - EM CASO DE PARLAMENTAR RENUNCIAR PARA EXIMIR-SE DO


JULGAMENTO, OU EM CASO DE MANOBRAS PARA DESLOCAR A COMPETÊNCIA E
ASSIM POSTERGAR O JULGAMENTO:
RENÚNCIA NA VÉSPERA DO JULGAMENTO- NÍTIDO INTUITO DE DESLOCAR
COMPETÊNCIA - DECISÃO DO STF: Deputado federal. Renúncia ao mandato. Abuso de
direito: reconhecimento da competência do STF para continuidade do julgamento da
presente ação penal. (...) Renúncia de mandato: ato legítimo. Não se presta, porém, a ser
utilizada como subterfúgio para deslocamento de competências constitucionalmente
definidas, que não podem ser objeto de escolha pessoal.

6.4. Incompatibilidades e perda de mandato de Parlamentar

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:


I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões
ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;
VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
§ 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento
interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a
percepção de vantagens indevidas.
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos
Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da
respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada
ampla defesa.
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa
respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
§ 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou possa levar à perda do
mandato, nos termos deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as deliberações finais
de que tratam os §§ 2º e 3º.

O art. 54 da CF/88 estabelece incompatibilidade, como proibições para Deputados e


Senadores:

140
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Desde a expedição do diploma:


a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa
pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo
quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes;
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam
demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior;

• Desde a posse:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente
de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades referidas
no inciso I, "a";
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o
inciso I, "a";
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.

→ Quebra de decoro parlamentar:


Já o art. 55 da CF/88 estabelece as hipóteses de perda de mandato parlamentar.
O decoro parlamentar está previsto no regimento interno, sendo apreciado pelo Comitê
de Ética de cada casa legislativa. Conferir Resolução 25 de 2001.

DECISÃO DO SUPREMO – DEPUTADO OU SENADOR ELEITO QUE ESTEJA


NOMEADO MINISTRO DE ESTADO PODERÁ INCORRER EM QUEBRA DE DECORO
PARLAMENTAR: O membro do Congresso Nacional que se licencia do mandato para
investir-se no cargo de ministro de Estado não perde os laços que o unem, organicamente,
ao Parlamento (CF, art. 56, I). (...). (...) ainda que licenciado, cumpre-lhe guardar estrita
observância às vedações e incompatibilidades inerentes ao estatuto constitucional do
congressista, assim como às exigências ético-jurídicas que a Constituição (CF, art. 55, §
1º) e os regimentos internos das casas legislativas estabelecem como elementos
caracterizadores do decoro parlamentar. [MS 25.579 MC, rel. p/ o ac. min. Joaquim
Barbosa, j. 19-10-2005, P, DJ de 24-8-2007.]

Na prática, tem-se o caso de José Dirceu, que foi Ministro de governo, mas perdeu
o mandato por quebra de decoro parlamentar.

→ Deixar de comparecer à sessão legislativa:

141
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Deixar de comparecer, em cada sessão legislativa: À terça parte das sessões


ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;

→ Perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

→ Quando o decretar a Justiça Eleitoral nos casos previstos na


Constituição;

ATENÇÃO!

O STF, por ocasião do julgamento dos MS 26.602, 26.603 e 26.604


reconheceu a existência do dever constitucional de observância do
princípio da fidelidade partidária:

(...) As decisões no MS 26.602, no MS 26.603 e no MS 26.604 tiveram como pano


de fundo o sistema proporcional, que é adotado para a eleição de deputados
federais, estaduais e vereadores. As características do sistema proporcional, com
sua ênfase nos votos obtidos pelos partidos, tornam a fidelidade partidária
importante para garantir que as opções políticas feitas pelo eleitor no momento da
eleição sejam minimamente preservadas. Daí a legitimidade de se decretar a perda
do mandato do candidato que abandona a legenda pela qual se elegeu. O sistema
majoritário, adotado para a eleição de presidente, governador, prefeito e senador,
tem lógica e dinâmica diversas da do sistema proporcional. As características do
sistema majoritário, com sua ênfase na figura do candidato, fazem com que a perda
do mandato, no caso de mudança de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere
a soberania popular. CF, art. 1º, parágrafo único; e art. 14, caput). [ADI 5.081, rel.
min. Roberto Barroso, j. 27-5-2015, P, DJE de 19-8-2015.
O reconhecimento da justa causa para transferência de partido político afasta a
perda do mandato eletivo por infidelidade partidária. Contudo, ela não transfere ao
novo partido o direito de sucessão à vaga. [MS 27.938, rel. min. Joaquim Barbosa,
j. 11-3-2010

→ Sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

MUITA ATENÇÃO!

Decisão versus Declaração: Nos casos de incompatibilidade, quebra de


decoro e condenação penal transitada em julgado, a perda do mandato

142
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por
maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
CF/88: “Art. 55. (...) § 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda
será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante
provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político
representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.” (AP
694/MT, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 2.5.2017).
→ Observação:
Alterado por Emenda Constitucional em 2013, pois a redação anterior trazia voto
secreto, em face das polêmicas relacionada aos deputados envolvidos com o mensalão.
Sobre perda de mandato de parlamentar art. 55 da CF/88, nova interpretação sobre o art.
55, III - perda automática:

Se o STF condenar um parlamentar federal e decidir que ele deverá perder o cargo, isso
acontece imediatamente ou depende de uma deliberação da Câmara dos Deputados ou
do Senado Federal respectivamente? • Se o Deputado ou Senador for condenado a mais
de 120 dias em regime fechado: a perda do cargo será uma consequência lógica da
condenação. Neste caso, caberá à Mesa da Câmara ou do Senado apenas declarar que
houve a perda (sem poder discordar da decisão do STF), nos termos do art. 55, III e § 3º
da CF/88. • Se o Deputado ou Senador for condenado a uma pena em regime aberto ou
semiaberto: a condenação criminal não gera a perda automática do cargo. O Plenário da
Câmara ou do Senado irá deliberar, nos termos do art. 55, § 2º, se o condenado deverá
ou não perder o mandato. STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
2/5/2017 (Info 863). STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
23/5/2017 (Info 866).

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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PROCESSO LEGISLATIVO

Manoel Gonçalvez Ferreira Filho José Afonso da Silva


Para o autor existe uma fase: 1) Introdutória ou de iniciativa;
1) Introdutória (que se refere a iniciativa), 2) Exames de projetos nas comissões;
2) Uma fase constitutiva (que compreende a 3) Deliberação – discussões dos projetos em
deliberação e sanção), e plenário;
3) Fase complementar (na qual está contida a 4) Decisória;
promulgação e publicação) 5) A revisão.
Observação: note-se que o autor exclui a
promulgação e publicação

No âmbito Federal, como é um sistema bicameral (Senado + Câmara dos Deputados), é


a iniciativa que vai condicionar em qual das Casas será cada uma das deliberações, a saber, a
principal e a revisional. Assim, os projetos de lei enviados a membros do Senado começam
nesta. Em todos os demais casos, a deliberação principal ocorrerá na Câmara dos Deputados,
incluindo a iniciativa do Presidente da República. Por Excelência a Câmara dos Deputados é o
local onde se iniciam as propostas legislativas.

→ Observação: Usurpação de iniciativa é vício de inconstitucionalidade formal,


consistente na apresentação de projeto de lei versando sobre determinada matéria por
quem não tem legitimidade para tal, nesse caso não há como convalidar esse vício de
constitucional.

Lembrete:
É preciso conectar a matéria do processo legislativo com as questões relativas às
competências legislativas, ou seja, é preciso ver a quem cabe a competência para cada
espécie legislativa dependendo da matéria que está em questão (logo, ver com atenção
art. 21, art. 22, art. 24, art. 25, art. 30, art. 32, art. 49, art. 51, 52, ambos da CF.)

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• O que compreende o Processo Legislativo na Constituição?


O Art. 59 da CF/88 estabelece que o processo legislativo compreende a elaboração de:
− I - emendas à Constituição (atuação do Poder Constituinte derivado);
− II - leis complementares (complementam conteúdo que a Constituição lhes
autoriza);
− III - leis ordinárias (também chamadas de leis federais /infraconstitucionais);
− IV - leis delegadas (É uma lei equiparada à lei ordinária. A competência para a
sua elaboração é do Presidente da República, desde que haja pedido e
delegação expressa do Congresso Nacional. A delegação é efetivada por
resolução, na qual conste o conteúdo juntamente com os termos do exercício
desta atribuição);
− V - medidas provisórias (função atípica do Presidente da República em casos
onde houver urgência e relevância da matéria em questão;
− VI - decretos legislativos (regulam matérias de competência exclusiva do
Congresso, tais como: ratificar atos internacionais, sustar atos normativos do
presidente da República, julgar anualmente as contas prestadas pelo chefe do
governo, autorizar o presidente da República e o vice-presidente a se
ausentarem do país por mais de 15 dias, apreciar a concessão de emissoras
de rádio e televisão, autorizar em terras indígenas, etc). Obs: ainda existem os
decretos autônomos e decretos regulamentares, que serão de competência do
Poder Executivo e serão estudados mais adiante.
− VII - resoluções (são uma norma jurídica destinada a disciplinar assuntos do
interesse interno do Congresso Nacional.

Ainda, o ato normativo abrange tanto a produção de normas gerais como individuais.
Entretanto, o uso comum quando se fala em ato normativo é que se trate de normas gerais.

• Diferença entre atos normativos primários x atos normativos secundários:


Os atos normativos primários são aqueles que possuem o maior grau de hierarquia dentro
do ordenamento jurídico, sendo responsáveis por estabelecer as normas e princípios
fundamentais que regem a organização do Estado, a estruturação do poder e a relação entre as

145
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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instituições. Referem-se diretamente à Constituição, portanto, podem possuir vício de


constitucionalidade.
Já os atos normativos secundários são aqueles que se encontram em um nível hierárquico
inferior, sendo responsáveis por regulamentar as normas estabelecidas pelos atos primários,
definindo detalhes e regras específicas para sua aplicação. Guardam relação de dependência
em relação aos atos primários e podem possuir vícios de ilegalidade (e não de
inconstitucionalidade).

ex: art. 59 e incisos e


primários
art 84, VI

Atos normativos
ex: art. 84, Iv -
decretos
secundários:
regulamentares,
portarias

• Normas de reprodução obrigatória e princípio da simetria no âmbito do processo


legislativo:
O processo legislativo federal é uma norma de reprodução obrigatória para os Estados e
Municípios, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF). Isso significa que as
normas estabelecidas no processo legislativo federal devem ser observadas pelos Estados e
Municípios na elaboração de suas próprias leis.
Além disso, o princípio da simetria exige que as leis e normas estaduais e municipais
sejam semelhantes às leis federais em relação aos seus objetivos e finalidades. Dessa forma,
as leis estaduais e municipais devem seguir os mesmos princípios e regras estabelecidos na
legislação federal correspondente, garantindo a uniformidade e coerência do ordenamento
jurídico em todo o território nacional.

• Processo Legislativo Estadual STF:


Processo legislativo dos Estados-membros: absorção compulsória das linhas básicas do
modelo constitucional federal entre elas, as decorrentes das normas de reserva de iniciativa das
leis, dada a implicação com o princípio fundamental da separação e independência dos poderes:

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal (ADI 637, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 25-8-
2004, P, DJ de 1º-10-2004)

1. EMENDAS CONSTITUCIONAIS

1.1. Quem pode propor?

Art. 60 da CF: A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação,
manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

→ No STF:
A eficácia das regras jurídicas produzidas pelo poder constituinte
(redundantemente chamado de "originário") não está sujeita a nenhuma limitação
normativa, seja de ordem material, seja formal, porque provém do exercício de um poder
de fato ou suprapositivo. Já as normas produzidas pelo poder reformador, essas têm sua
validez e eficácia condicionadas à legitimação que recebam da ordem constitucional. Daí
a necessária obediência das emendas constitucionais às chamadas cláusulas pétreas
(ADI 2.356 MC e ADI 2.362 MC, rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, j. 25-11-2010, P, DJE de
19-5-2011).

• Vedação à emenda:

§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de


estado de defesa ou de estado de sítio.

• Votação:

§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional (logo,


Senado + Câmara dos Deputados), em dois turnos (em duas votações), considerando-se
aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros (é o
maior quórum de votação – lembrar que nossa Constituição é rígida).

147
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

A Constituição Federal de 1988 não fixou um intervalo temporal mínimo entre os dois
turnos de votação para fins de aprovação de emendas à Constituição (CF, art. 60, § 2º), de sorte
que inexiste parâmetro objetivo que oriente o exame judicial do grau de solidez da vontade
política de reformar a Lei Maior. A interferência judicial no âmago do processo político,
verdadeiro locus da atuação típica dos agentes do Poder Legislativo, tem de gozar de lastro forte
e categórico no que prevê o texto da CF. [ADI 4.425, rel. p/ o ac. min. Luiz Fux, j. 14-3-2013,
P, DJE de 19-12-2013.]

• Cláusulas Pétreas:
Não podem ser abolidas, ou seja, produz inconstitucionalidade, bem como pode ser objeto
de mandado de segurança interposto por parlamentar ainda durante o processo legislativo:

§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados


e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

O STF admite a legitimidade do parlamentar – e somente do parlamentar – para impetrar


mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de
lei ou emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o
processo legislativo. (Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Min. Moreira Alves; RTJ99/1031rel.
p/ o ac. min. Teori Zavascki, j. 20-6-2013, P, DJE de 18-2-2014)

→ Matéria rejeitada não pode ser reapresentada na mesma sessão legislativa


(ano legislativo)

§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não


pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.

→ A emenda não está sujeita a veto ou sanção, pois é atuação do Poder


Constituinte derivado.

→ As Emendas podem sofrer limitações formais, materiais, temporais.


Exemplo: não pode emendar à Constituição da vigência do Estado de defesa e sítio;

148
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

→ Emendas Constitucionais podem ser declaradas inconstitucionais.

→ No STF:
o Tribunal já assentou o entendimento de que é admissível a ação direta de
inconstitucionalidade de emenda constitucional, quando se alega, na inicial, que esta
contraria princípios imutáveis ou as chamadas cláusulas pétreas da Constituição originária
(art. 60, § 4º, da CF). (Precedentes: ADI 939 (RTJ151/755); ADI 1.946 MC, rel.
min. Sydney Sanches, j. 29-4-1999, P, DJ de 14-9-2001).

2. LEIS COMPLEMENTARES E LEIS ORDINÁRIAS

2.1. A quem cabe?


Segundo o art. 61 da CF/88, a iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a
qualquer:
− membro ou Comissão da Câmara dos Deputados;
− do Senado Federal ou;
− do Congresso Nacional;
− ao Presidente da República;
− ao Supremo Tribunal Federal;
− aos Tribunais Superiores;
− ao Procurador-Geral da República; e
− aos cidadãos.

• Casos privativos ao Presidente da República (parágrafo 1º - reserva de lei):


Em razão do princípio da simetria algumas dessas disposições são aplicadas também ao
Governador do estado e ao Prefeito Municipal.
→ I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
→ II - disponham sobre:
− criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração
direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;

149
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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− organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária,


serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios;
− servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico,
provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
− organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União,
bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da
Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
− criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI, da CF;
− militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de
cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência
para a reserva

ATENÇÃO!

→ Leis Complementares:
Maioria absoluta = metade dos membros + 1 – tem sua autorização para
edição quando à constituição expressamente prever – não podem ser
tratadas por medidas provisórias ou leis delegadas!
→ Leis Ordinárias:
Maioria simples: metade mais um dos presentes, respeitada a regra do art.
47 da constituição (ou seja, presentes na sessão a maioria absoluta dos
membros) – conhecida como lei comum tem incidência justamente quando
não há previsão específica!
Além disso, destaca-se que não há hierarquia entre lei ordinária e lei
complementar, pois ambas têm objetos distintos.
→ Iniciativa Popular
Somente de leis ordinárias ou complementares, não cabe no caso de
emenda à Constituição. Requisitos:
 1% do eleitorado nacional (5% em caso de município);
 Distribuído em pelo menos 5 Estados da federação;

150
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

 3/10 dos eleitores em cada um desses Estados;


 Inicia na Câmara dos Deputados;
 § 2º - A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à
Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo,
um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos
eleitores de cada um deles.

Atenção!
Emenda a Constitucional Estadual poderá
ser de iniciativa popular, em havendo
previsão. Esse caso concreto aconteceu
no Estado do Amapá, o qual por Emenda
acrescentou a Iniciativa Popular a proposta
de Emenda à Constituição Estadual.

STF- ‘A iniciativa popular de emenda à Constituição Estadual é compatível com a


Constituição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e
III e no art. 49, VI, da CF/88.
Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emendas
ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedimento para
que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência
constante da Carta Federal. STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 25/10/2018 (Info 921).

→ Importante: O caso de rejeição de proposta apresentada em lei ordinária


ou lei complementar, devemos observar a regra disposto no art. 67 da Constituição
Federal:

Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de
novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos
membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional.

151
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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3. MEDIDAS PROVISÓRIAS

Regidas pelo art. 62 da CF/88, sinalizam uma função legislativa do Presidente da


República.

§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:


I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus
membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e
suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro
ativo financeiro;
III – reservada a lei complementar;
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de
sanção ou veto do Presidente da República.

3.1. Pressupostos constitucionais: relevância e urgência da matéria


O Presidente do Congresso Nacional, em até 48 horas após a publicação da MPV, designa
uma Comissão Mista formada por 12 Senadores e 12 Deputados titulares (com igual número de
suplentes), responsável por analisar previamente os pressupostos constitucionais de relevância
e urgência, o mérito e a adequação financeira e orçamentária.
Após instalada a comissão, são eleitos o Presidente e Vice-Presidente, pertencentes a
Casas diferentes, e designados Relator e Relator-Revisor da matéria, o último para exercer as
funções na Casa diversa da do Relator. O Presidente da Comissão Mista possui a prerrogativa
de indeferir liminarmente as emendas apresentadas que forem estranhas ao texto original da
MPV.
• Emenda constitucional nº 32/2001:
Foi um divisor de águas em matéria de medida provisória, haja vista que vedou a edição
automática e indefinida de medidas provisórias, visando coibir o uso abusivo por parte do poder
executivo.

§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os


previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro
seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Atenção!
Postura do pelo STF em relação à Medida
Provisória no âmbito Estadual e Municipal:
poderão Estados e Municípios adotar medidas
provisórias, se houver previsão expressa na
Constituição do Estado e na Lei Orgânica do
município e desde que seja respeitado o
princípio da simetria Constitucional, ou seja,
necessária a observância do tratamento da
matéria na sistemática constitucional!

• Perda da eficácia da Medida Provisória:


O § 3º do art. 62 estabelece que as medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11
e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta
dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional
disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes. Tem-se o prazo de
60 dias + 60 dias.

→ Observação: As medidas provisórias não convertidas em lei no prazo


constitucional perdem sua eficácia desde sua edição e não a partir do ato que decreta
encerramento do prazo de sua vigência.

§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida provisória,


suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso Nacional.
§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das
medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos
constitucionais.

3.2. Pressupostos constitucionais: relevância = urgência da matéria


Prazo para apreciação da Medida Provisória: 45 dias entrará em regime de urgência, logo,
os demais processos ficam suspensos até que seja apreciada à medida:

§ 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de
sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das
Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as
demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.

153
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Interpretação do Art. 62, § 6º, da CF e limitação do sobrestamento:

O Plenário retomou julgamento de mandado de segurança impetrado contra decisão do


Presidente da Câmara dos Deputados que, em questão de ordem, formalizara, perante o
Plenário dessa Casa Legislativa, seu entendimento no sentido de que o sobrestamento
das deliberações legislativas, previsto no § 6º do art. 62 da CF (“§ 6º Se a medida
provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação,
entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do
Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais
deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando”), só se aplicaria,
supostamente, aos projetos de lei ordinária — v. Informativo 572. Em voto-vista, a Ministra
Cármen Lúcia acompanhou o relator e denegou a segurança. Destacou que seria não
apenas da competência do Presidente da Câmara valer-se da interpretação conforme,
como também seria compatível com princípios e regras da Constituição. Nesse ponto, a
interpretação conforme seria instrumento que poderia ser exercido tanto pelo Poder
Judiciário quanto pelo Poder Legislativo no exercício da interpretação constitucional.
Assim, na decisão questionada, ficara consignado que o regime de urgência, previsto no
§ 6º do art. 62 da CF, a impor o sobrestamento das deliberações legislativas das Casas
do Congresso seria referente somente às matérias que se mostrassem passíveis de
regramento por medida provisória. Estariam excluídos do âmbito de incidência das
medidas provisórias, como dispõe o art. 62, § 1º, da CF, em consequência, as propostas
de emenda à Constituição, os projetos de lei complementar, os projetos de decreto
legislativo, os projetos de resolução e, até mesmo, tratando-se de projetos de lei ordinária,
aqueles que veiculassem temas pré-excluídos, por determinação constitucional. Em
seguida, pediu vista o Ministro Roberto Barroso. MS 27931/DF, rel. Min. Celso de Mello,
18.3.2015. (MS-27931)

As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados, e uma vez
que a medida provisória for rejeitada no Congresso Nacional, ou perder sua eficácia pelo
transcurso do prazo sem que ocorra a sua votação, nesse caso ela somente poderá ser
reapresentada na próxima sessão legislativa, ou seja no outro ano posterior aquele da rejeição.

§ 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados.


§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa (ano em que houver sido
rejeitada), de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia
por decurso de prazo.

As relações jurídicas que foram regidas por Medida Provisória serão conservadas, serão
reguladas por Decreto Legislativo. Em caso de rejeição ou não edição de Decreto Legislativo
regulando:

§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a
rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e
decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.
§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória,
esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.

3.3. Tramitação da Medida Provisória

154
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

As Medidas Provisórias (MPVs) são normas com força de lei editadas pelo Presidente da
República em situações de relevância e urgência. Apesar de produzir efeitos jurídicos imediatos,
a MPV precisa da posterior apreciação pelas Casas do Congresso Nacional (Câmara e Senado)
para se converter definitivamente em lei ordinária.
O prazo inicial de vigência de uma MPV é de 60 dias e é prorrogado automaticamente por
igual período caso não tenha sua votação concluída nas duas Casas do Congresso Nacional. Se
não for apreciada em até 45 dias, contados da sua publicação, entra em regime de urgência,
sobrestando todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.
O art. 62 da Constituição Federal traz as regras gerais de edição e apreciação das MPVs,
definindo inclusive os assuntos e temas sobre os quais não podem se pronunciar. Já o
disciplinamento interno do rito de tramitação dado pela Resolução do Congresso Nacional n° 1
de 2002 exige, por exemplo, sobre emendas, a formação da comissão mista e prazos de
tramitação.
As fases relativas à tramitação de uma Medida Provisória no Congresso Nacional estão
detalhadas logo a seguir, com a disponibilização dos principais documentos produzidos nas
várias instâncias de deliberação, incluindo emendas apresentadas, parecer aprovado e quadros
comparativos que demonstram as modificações promovidas no texto principal da matéria.

• Publicação:
O texto da Medida Provisória é publicado no Diário Oficial da União quando, então,
passam a ser contados os prazos relativos à vigência e à sua tramitação no Congresso Nacional.
Nesse momento, e nos seis dias subsequentes, podem ser oferecidas emendas à MPV perante
a Comissão Mista destinada a emitir parecer sobre a matéria.

• Comissão mista:
O Presidente do Congresso Nacional, em até 48 horas após a publicação da MPV, designa
uma Comissão Mista formada por 12 Senadores e 12 Deputados titulares (com igual número de
suplentes), responsável por analisar previamente os pressupostos constitucionais de relevância
e urgência, o mérito e a adequação financeira e orçamentária.
Após instalada a comissão, são eleitos o Presidente e Vice-Presidente, pertencentes a
Casas diferentes, e designados Relator e Relator-Revisor da matéria, o último para exercer as
funções na Casa diversa da do Relator. O Presidente da Comissão Mista possui a prerrogativa

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

de indeferir liminarmente as emendas apresentadas que forem estranhas ao texto original da


MPV. Apresentado e discutido, o texto do Relator é submetido à votação pelo colegiado,
passando a constituir parecer da Comissão Mista ao ser aprovado. O parecer pode concluir, no
mérito:
− pela aprovação total da MPV como foi editada pelo Poder Executivo;
− pela apresentação de Projeto de Lei de Conversão (PLV), quando o texto
original da MPV é alterado; ou
− pela rejeição da matéria, com o parecer sendo obrigatoriamente encaminhado
à apreciação do plenário da Câmara dos Deputados.

• Câmara dos Deputados:


Analisada pela Comissão Mista, a MPV segue para o Plenário da Câmara dos Deputados,
Casa iniciadora. O quorum para deliberação é de maioria simples (presente em Plenário a
metade mais um dos deputados). As conclusões da deliberação da matéria incluem:
− Rejeitada, a matéria tem a sua vigência e tramitação encerradas e é arquivada,
aprovação na íntegra (nos termos da MPV editada),
− Se aprovada (na íntegra ou na forma de PLV), é remetida ao Senado Federal.

• Senado Federal:
O quórum para deliberação no Senado Federal também é de maioria simples (presente a
metade mais um dos senadores) e o resultado da votação apresenta-se com as seguintes
opções:
→ Rejeição: a matéria tem sua vigência e tramitação encerradas e é arquivada;
→ Aprovação na íntegra (nos termos da edição original): MPV é enviada à
promulgação e se torna lei;
→ Aprovação do PLV recebido da Câmara dos Deputados sem alterações de
mérito: o texto é remetido à sanção do Presidente da República;
→ Aprovação do PLV recebido da Câmara dos Deputados com emendas de
mérito: a matéria retorna à Câmara dos Deputados, que delibera, exclusivamente, sobre
as emendas;

156
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

→ Aprovação da Medida Provisória, em decorrência de preferência sobre o PLV


da Câmara dos Deputados: a matéria retorna à Câmara dos Deputados, que deliberará,
exclusivamente, sobre a Medida Provisória;
→ Aprovação de novo PLV: a matéria retorna à Câmara dos Deputados, que
delibera, exclusivamente, sobre o PLV oferecido pelo Senado Federal.

• Retorno à Câmara dos Deputados:


Se o Senado aprova com modificações o texto recebido da Câmara, as propostas
retornam à análise da Câmara dos Deputados. As alterações promovidas pelo Senado são
acatadas ou rejeitadas pela Câmara dos Deputados, sendo a matéria remetida à sanção (se
aprovado o PLV) ou à promulgação (se aprovado o texto original da Medida Provisória).

• Promulgação da Medida Provisória:


No caso de aprovação da MPV, a matéria é promulgada e convertida em lei ordinária pelo
Presidente da Mesa do Congresso Nacional, não sendo sujeita à sanção ou veto, como ocorre
com os projetos de lei de conversão.

• Aprovação de Projeto de Lei de Conversão:


Quando a MPV é aprovada na forma de um Projeto de Lei de Conversão, este é enviado
à sanção do Presidente da República, que poderá tanto sancioná-lo quanto vetá-lo. Caberá ao
Congresso Nacional deliberar sobre o veto e, assim, concluir o processo de tramitação da
matéria.

• Rejeição da Medida Provisória:


Tanto a Câmara dos Deputados quanto o Senado Federal podem concluir pela rejeição
da Medida Provisória, quando então a sua vigência e tramitação são encerradas e ela é
arquivada.

• Edição de Decreto Legislativo:


Se houver a aprovação de PLV, rejeição ou perda de eficácia da MPV, o Congresso
Nacional detém a prerrogativa de disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas
decorrentes de sua edição. Não se materializando a edição do referido decreto legislativo no

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

prazo de 60 dias, as relações jurídicas constituídas durante o período de vigência conservam-se


regidas pela MPV. Cabe destacar, ainda, que aprovado um PLV, a MPV mantém-se
integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.

→ Medidas provisórias convertidas em Lei podem sofrer emendas?


Projeto de conversão de medida provisória e emenda parlamentar – ADI 6928/DF.
O Poder Legislativo pode emendar projeto de lei de conversão de medida provisória
quando a emenda estiver associada ao tema e à finalidade original da medida provisória.
A exigência de correlação de conteúdos entre a medida provisória e o projeto de lei de
sua conversão não tem força para afastar a atribuição de, no curso do processo legislativo,
propor emendas às medidas provisórias. Essa faculdade do legislador é inerente ao
controle democrático dos atos do Poder Executivo e pode eventualmente resultar em
acréscimos ou modificações em seu texto. Com efeito, o poder de emenda é prerrogativa
institucional inerente ao exercício do Poder Legislativo e importante atividade de controle
democrático dos atos do Poder Executivo. Além disso, no caso das medidas provisórias,
há previsão expressa da Constituição Federal (CF/88). Entretanto, as emendas
parlamentares apresentadas durante a análise de medidas provisórias devem
guardar pertinência temática com a matéria originalmente versada O objetivo da
análise da pertinência temática é evitar que matérias dissociadas do tema cuidado
na medida provisória, com tramitação diferenciada, sejam aprovadas sem o debate
democrático pertinente.

4. DECRETOS

Decretos são atos normativos editados tanto pelo Poder legislativo (no caso dos decretos
legislativos) ou pelo Poder Executivo (no caso dos decretos autônomos ou regulamentares). Eles
possuem diferentes funções no ordenamento jurídico brasileiro, conforme podemos observar
abaixo:

• Decreto Regulamentar (que visa a complementar a lei):


Uma espécie de ato administrativo que busca dar fiel cumprimento a execução de uma lei

158
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

– chamados de decretos de mera execução – sendo atos secundários pois não inovam na ordem
jurídica - art. 84, IV, da CF/88.

→ Observação: Não pode ser objeto de Controle de Constitucionalidade


Abstrato, pois se o Decreto contrariar a Lei, trata-se de caso de ilegalidade (ou
inconstitucionalidade reflexa).

• Decreto Legislativo:
Exercido pelo congresso nacional conforme suas competências do art. 49 da Constituição,
constituindo ato normativo primário passível de ação direta de inconstitucionalidade

• Decreto Autônomo:
Eles tratariam de temas que inovam, ou seja, não foram objetos de abordagem pela lei,
que silencia sobre as questões reguladas no decreto. (art. 84, VI EC 32/2001).

O Supremo Tribunal Federal admite o


controle, por via de ação direta de
inconstitucionalidade, do decreto autônomo,
revestido de conteúdo normativo, mas não o
admite quando se tratar de decreto de
regulamentação da lei.

5. LEIS DELEGADAS

• A quem compete e como é a delegação:


O Presidente da República solicita ao Congresso Nacional a delegação. A delegação é
feita através de resolução do Congresso Nacional, devendo expressamente indicar o conteúdo
e sua forma de exercício (lembrando que no art. 49, V – cabe ao Congresso Nacional - sustar os
atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de
delegação legislativa).

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

• O que não pode ser objeto de delegação:


→ I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
→ II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
→ III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.

6. DISPOSIÇÕES IMPORTANTES DO PROCESSO LEGISLATIVO

O Presidente da República e os projetos da sua iniciativa: os projetos de Lei de iniciativa


do Presidente da República iniciam na Câmara dos Deputados a sua votação. Importante
também ressaltar que o Presidente poderá pedir urgência nos projetos de sua iniciativa.

Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República,
do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos
Deputados.
§ 1º - O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de
sua iniciativa.
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se
manifestarem sobre a proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco
dias, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com
exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até que se ultime a votação.

• Regra geral para votação no Processo Legislativo Ordinário:

Art. 66 da CF: A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao
Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte,
inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo
de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta
e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.

Após o projeto de Lei ser aprovado nas casas legislativas, o mesmo é encaminhado para
veto ou sanção do chefe do Poder Executivo. O veto é a manifestação expressa de sua
discordância, total ou parcial em relação ao conteúdo da proposta. Já a sanção é a concordância
com o projeto apresentado.

160
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

• Sobre a sanção:
→ A sanção poderá ser tácita, se decorrido o prazo de 15 dias sem que haja
manifestação expressa do chefe do Poder Executivo.

Art. 66 (...) § 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República


importará sanção

• Sobre o veto:
→ O veto deverá ser expresso e fundamentado, ou seja, não há voto tácito;
→ O veto poderá ser total (quando incidir em toda proposta legislativa) ou parcial
(quando incidir sobre parte do texto, lembrando que não é possível vetar palavras ou
expressões isoladas);

§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou


de alínea.

→ Poderá ser por questões de interesse público e ou jurídicas, no caso o chefe


do Poder Executivo entenda que há um vício de inconstitucionalidade;
→ Apreciado pelo Congresso Nacional (pois é sessão conjunta) e pode ser
rejeitado pela maioria absoluta.

§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu
recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e
Senadores.
§ 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente
da República.
§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na
ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação
final.

• Consequência de não ser apreciado em 30 dias:


Sobrestar os demais atos legislativos

§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da
República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este
não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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PODER EXECUTIVO

Órgão Monocrático ou Unipessoal: Art. 76, CF 1988 "O Poder Executivo é exercido
(somente) pelo Presidente da República, (sendo) auxiliado pelos Ministros de Estado."
No caso do presidencialismo brasileiro, lembrar que o chefe do executivo exerce as
funções de chefe de governo, chefe de estado e chefe da administração pública (todas funções
descritas no art. 84 da CF).
Mandato de 4 anos, alterado pela emenda Constitucional de revisão nº 5/94, pois o
mandato era de 5 anos, permitida uma recondução ao cargo em período subsequente, por
emenda constitucional nº 16/97.

Presidente da república Governador do estado Prefeito municipal


Idade 35 anos 30 anos 21 anos
mínima
4 anos permitida uma 4 anos permitida uma 4 anos permitida uma
Mandato recondução recondução recondução

Eleição Majoritário - caso não atinja Majoritário - caso não Majoritário – contudo, 2º
MAIORIA ABSOLUTA - atinja MAIORIA turno haverá apenas nas
mais que 50% dos votos no ABSOLUTA - mais que cidades maiores que 200 mil
1º turno (não computados 50% dos votos no 1º turno eleitores
brancos e nulos) haverá 2º (não computados brancos
turno e nulos) haverá 2º turno

1. VACÂNCIA

Art. 79, CF 1988 "Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no


de vaga, o Vice-Presidente.

→ Importante! Se, decorridos 10 (dez) dias da data fixada para a posse, o


Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo,
este será declarado vago.

162
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Ocorre em caso de Presidente e Vice-Presidente não poder exercer o cargo, por


impedimento ou morte.
Quem assume temporariamente nesse caso é (sucessivamente):
− Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados;
− Presidente do Senado Federal;
− Presidente do Supremo Tribunal Federal.

1.1. Hipóteses de vacância


• Cuidar o tempo!
Se ocorrer a vacância do cargo de prefeito e de vice nos dois primeiros anos de mandato,
realizar-se-ão novas eleições, em 90 dias após a abertura da última vaga (art. 81, caput). Nesse
caso, a eleição será direta.
Se a vacância se der nos últimos 2 anos de mandato, então terão o prazo de 30 dias após
a abertura da última vaga. Nesse caso, a eleição será indireta.
Observação: os novos ocupantes do cargo permanecem até completar o período restante do
mandato.

• Caso de morte antes do 2º turno:


§ 4º - Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento
legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação (se houver
empate, o mais idoso)

• Caso de morte de candidato após 2º turno:


Será chamado a concorrer para o 2º turno o remanescente que tiver feito maior votação
no 1º turno.

2. FUNÇÕES DO CHEFE DO EXECUTIVO

Lembrar que as funções dispostas no art 84 e incisos, por simetria também devem ser
aplicadas quando compatíveis aos Governadores e Prefeitos Municipais. Ainda, importante
atentar ao parágrafo único que ressalta que algumas delas podem ainda ser delgadas Ministros

163
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão


os limites traçados nas respectivas delegações.

Art. 84 da CF: Compete privativamente ao Presidente da República:


I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração
federal;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e
regulamentos para sua fiel execução;
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI – dispor, mediante decreto, sobrea) organização e funcionamento da administração
federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos
públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; VII - manter relações
com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos;
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do
Congresso Nacional;
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
X - decretar e executar a intervenção federal;
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da
abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências
que julgar necessárias;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos
instituídos em lei;
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para
os cargos que lhes são privativos; XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal,
os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores
de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco
central e outros servidores, quando determinado em lei;
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União;
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral
da União;
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional;
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso
Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e,
nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem
pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes
orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição;
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a
abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.

164
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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3. MINISTROS E MINISTÉRIOS

Artigos 87 e 88, CF 1988:


→ pelo menos 21 anos e em pleno gozo dos direitos políticos;
→ trata-se de cargos em comissão, ou seja, de livre provimento por parte do
Presidente;
→ basicamente são organismos responsáveis em coordenação, muitas vezes
uma matéria demanda a ação conjunta de mais de um ministério.

→ Importante!
Decisão do STF (MP 207 2004 e MP 2.409-11 de 2000,
respectivamente): A advocacia Geral da União e a Presidência do Banco
Central possuem status de Ministro, porquanto, gozam também da
prerrogativa de foro privilegiado.
Súmula Vinculante nº 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou
parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o
exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função
gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a
Constituição Federal.
RE 1041210: Em decisão de repercussão geral o STF reafirmou - Súmula
Vinculante nº 13 - sobre o nepotismo – não se aplica aos cargos de Ministro
de Estado, Secretários Estaduais e Municipais.
a) A criação de cargos em comissão somente se justifica para o
exercício de funções de direção, chefia e assessoramento, não se
prestando ao desempenho de atividades burocráticas, técnicas ou
operacionais;
b) tal criação deve pressupor a necessária relação de confiança
entre a autoridade nomeante e o servidor nomeado;

165
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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c) o número de cargos comissionados criados deve guardar


proporcionalidade com a necessidade que eles visam suprir e com o
número de servidores ocupantes de cargos efetivos no ente federativo
que os criar; e
d) as atribuições dos cargos em comissão devem estar
descritas, de forma clara e objetiva, na própria lei que os instituir.

4. CRIME DE RESPONSABILIDADE

Os crimes de responsabilidade distinguem-se em infrações políticas (art. 85, I-IV), e


crimes funcionais (art. 85, V-VIII, da CF).

I — a existência da União;
II — o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos
Poderes constitucionais das *Unidades da Federação;
III — o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV — a segurança interna do País;
V — a probidade na administração;
VI — a lei orçamentária;
VII — O cumprimento das leis e das decisões judiciais

4.1. Natureza dos crimes de responsabilidade


Ferreira Filho (Curso, 18ª ed., p. 143):

Em primeiro lugar…, impõe-se o exame do fundamento do impeachment. A consulta à


Constituição de 1988, art. 85, revela ser ele uma conduta contrária à Constituição. A lei,
todavia (n. 1079, de 10-4-1950), define as figuras que dão ensejo ao impeachment. Sem
dúvida, a maior parte dessas figuras retrata comportamentos politicamente indesejáveis e
não condutas antissociais. Essas figuras, pois, não são crimes, no sentido que a ciência
penal dá a esse termo. Todavia, a ocorrência de fatos que se enquadram exatamente na
descrição da figura da Lei nº 1079 [isto é: a tipicidade], é indispensável para que possa
desencadear-se o impeachment. Assim, o fundamento deste em sua substância é político,
mas em sua forma é um crime (em sentido formal).

4.2. Fases do processo


• Regulamentação do processo:
Art. 85, parágrafo único, CF 1988 c/c Lei nº 1.079/50. Lembrar que a Lei foi recepcionada
pela Constituição, conforme manifestação do STF no caso Collor de Mello.

166
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Fase do juízo de admissibilidade ou pronúncia:


Art. 51, I c/c art. 86, parte inicial, CF 1988, compete à Câmara dos Deputados por votação
de 2/3 dos seus membros.

• Fase do julgamento:
Art. 52, I e parágrafo único c/c art. 86, parte final, CF 1988. Ao Senado compete julgar se
houve ou não crime de responsabilidade, também por votação de 2/3.

4.3. Responsabilidade penal do Presidente da República


• Foro privilegiado:
Art. 51, I, CF 1988 - Necessidade de prévia autorização da Câmara dos Deputados para
a instauração de qualquer ação judicial contra o Presidente da República, inclusive a ação penal.
Art. 102, I, "b" - Competência originária do STF para o processamento e julgamento do
Presidente da República pela prática de crime comum.
Foro privilegiado vale somente para agentes públicos que ainda estejam no exercício do
cargo, assim, ao término do mandato, cessa o exercício do cargo cessa também o foro
privilegiado, deslocando-se a competência para exame da causa ao juiz singular de primeira
instância;
Contudo, temos que ler conjuntamente ao fato que o Presidente da República, na vigência
de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Art. 86 da CF: Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da
Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal
Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de
responsabilidade.

→ Quando o presidente poderá ficar suspenso de suas funções?


 Infrações penais comuns: se recebida a denúncia ou queixa-crime
pelo Supremo Tribunal Federal;
 Crimes de responsabilidade: após a instauração do processo pelo
Senado Federal.

§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído,
cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do
processo.

167
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Questão interessante:

§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente


da República não estará sujeito à prisão;
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

4.4. Impeachment de Prefeitos Municipais


Decreto-lei nº 201- o caso de impeachment de Prefeitos Municipais

Atenção!
No aspecto punitivo, tem-se feito confusão entre crimes de responsabilidade e infrações
político-administrativas. É que, conforme doutrina e jurisprudência do STF, os
denominados crimes de responsabilidade do Prefeito, tipificados no art. 1º, do Decreto-
Lei nº 201/67, e julgados pelo Poder Judiciário, são crimes comuns, a (pena mais grave-
inclusive, prisão)
§1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos itens I e II, com
a pena de reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a pena de detenção, de três
meses a três anos.
§ 2º A condenação definitiva em qualquer dos crimes definidos neste artigo, acarreta a
perda de cargo e a inabilitação, pelo prazo de cinco anos, para o exercício de cargo ou
função pública, eletivo ou de nomeação, sem prejuízo da reparação civil do dano causado
ao patrimônio público ou particular.
As infrações político-administrativas, tipificadas no art. 4º do mesmo Decreto-Lei, na
tradição de nosso direito, são crimes de responsabilidade.

168
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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4.5. Competência
• Competência legislativa:
Somente a União detém competência para legislar sobre crimes de responsabilidade. O
Município no Brasil não possui competência constitucional para definir os tipos político-
administrativos de infrações passíveis de serem apuradas pelo devido processo legal do
Impeachment, assim como para dispor sobre as regras do processo e do julgamento de Prefeito,
isto porque é a União (art. 22, inciso I, da Constituição Federal de 1988) que detém a
competência para legislar sobre crimes de responsabilidade (que são infrações político-
administrativas, não-penais), e sobre o direito processual.

→ Lembretes relacionados ao tema:


 Aplicam-se tanto a Lei nº 1.079 quanto ao Decreto-lei nº 201,
subsidiariamente as regras do CPP;
 ADPF 378 - discutiu-se em 2015 sobre o impeachment, importantes
decisões:
 Reforçou a recepção da Lei;
 Prazo de defesa de 10 sessões (reforçou a decisão do caso Collor de
Mello (MS 21564)
 Decidiu que não se aplica suspeição;
 Competência do STF apenas na garantia do devido processo legal, não
cabendo discussão de mérito;
 Aplicação do regimento interno do Congresso Nacional;
 Não cabe ao Senado revisar a decisão de da Câmara pela
admissibilidade ou não do processamento);
 A divisão da sanção do crime de responsabilidade no caso Dilma
Roussef.

• Competência nos casos de improbidade administrativa:


→ Senado Federal
Julga o Presidente da República, o Vice-Presidente da República, o Procurador-
Geral da República (Chefe do Ministério Público Federal), Ministros do STF, o Advogado-
Geral da União e Senadores (arts. 52, I e II, CF 1988 + art. 51, I, CF 1988)

169
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Supremo Tribunal Federal


Julga Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica,
membros de Tribunais Superiores, membros do Tribunal de Contas da União e chefes de
missão diplomática em caráter permanente (art. 102, I, “c”, CF 1988)

→ Superior Tribunal de Justiça


Desembargadores de Tribunais de Justiça dos Estados e DF, membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e do DF, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do
Trabalho, membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Estados e do DF, os dos
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, membros
dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União
que oficiem perante tribunais (art. 105, I, “a”, CF 1988)

→ Tribunais de Justiça Estaduais


Julgam Prefeitos (art. 29, X, CF 1988) c/c art. 1º, Decreto-lei nº 201/67 (dispõe sobre
a responsabilidade dos prefeitos e vereadores)

→ Jurisprudência
Crimes de responsabilidade cometidos por Governador de Estado e o papel
das Assembleias Legislativas:

Processamento de governador: autorização prévia da Assembleia Legislativa e suspensão


de funções.
STF, informativo 863: Não há necessidade de prévia autorização da assembleia legislativa
para o recebimento de denúncia ou queixa e instauração de ação penal contra governador
de Estado, por crime comum, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), no ato de
recebimento ou no curso do processo, dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de
medidas cautelares penais, inclusive afastamento do cargo.
Com base nessa orientação, o Plenário, em conclusão e por maioria, julgou parcialmente
procedente pedido formulado em ação direta para: a) dar interpretação conforme ao art.
92, § 1º, I, da Constituição do Estado de Minas Gerais para consignar não haver
necessidade de autorização prévia de assembleia legislativa para o recebimento de
denúncia e a instauração de ação penal contra governador de Estado, por crime comum,
cabendo ao STJ, no ato de recebimento da denúncia ou no curso do processo, dispor,
fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive
afastamento do cargo; e b) julgar improcedente o pedido de declaração de
inconstitucionalidade da expressão “ou queixa” do art. 92, § 1º, I, da Constituição do
Estado de Minas Gerais — ver Informativos 851 e 855.
O referido dispositivo prevê que o governador será submetido a processo e julgamento
perante o STJ nos crimes comuns e será suspenso de suas funções, na hipótese desses
crimes, se recebida a denúncia ou a queixa pelo STJ.

170
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Quanto a impossibilidade de afastamento do governador do estado em caso


de recebimento da denúncia por crime de responsabilidade ou comum:

O afastamento do presidente da República é medida excepcional, e, no caso de crime


comum, seu processamento e julgamento devem ser precedidos de autorização da
Câmara dos Deputados (CF, arts. 51, I; e 86, caput e § 1º, I). Essa exigência foi
expressamente prevista apenas para presidente da República, vice-presidente e ministros
de Estado. Essa é uma decorrência das características e competências que moldam e
constituem o cargo de presidente da República, mas que não se observam no cargo de
governador. Diante disso, verifica-se a extensão indevida de uma previsão excepcional
válida para o presidente da República, porém inexistente e inaplicável a governador.
Sendo a exceção prevista de forma expressa, não pode ser transladada como se fosse
regra ou como se estivesse cumprindo a suposta exigência de simetria para governador.
As eventuais previsões em Constituições estaduais representam, a despeito de se
fundamentarem em suposto respeito à Constituição Federal, ofensa e usurpação das
regras constitucionais.
Segundo o relator, afastado o argumento de suposta obediência à simetria, a
consequência da exigência de autorização prévia de assembleia legislativa para
processamento e julgamento de governador por crime comum perante o STJ é o
congelamento de qualquer tentativa de apuração judicial das eventuais responsabilizações
dos governadores por cometimento de crime comum. Essa previsão afronta a
responsividade exigida dos gestores públicos, o que viola o princípio republicano do
Estado. ADI 5540/MG, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 3.5.2017. (ADI-5540)

Crimes de responsabilidade e improbidade administrativa:

O foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal (CF) em


relação às infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade
administrativa
Ação de improbidade administrativa: ministro de estado e foro competente: Os agentes
políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a duplo regime
sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de
improbidade administrativa quanto à responsabilização político-administrativa por crimes
de responsabilidade. Em relação ao duplo regime sancionatório, a Corte concluiu que não
há qualquer impedimento à concorrência de esferas de responsabilização distintas. Assim,
carece de fundamento constitucional a tentativa de imunizar os agentes políticos das
sanções relativas à ação de improbidade administrativa a pretexto de que essas seriam
absorvidas pelo crime de responsabilidade. Em realidade, a única exceção ao referido
regime sancionatório em matéria de improbidade se refere aos atos praticados pelo
Presidente da República, conforme previsão expressa do art. 85, V (1), da CF. Já no
concernente à extensão do foro especial, o Tribunal afirmou que o foro privilegiado é
destinado a abarcar apenas as ações penais. A suposta gravidade das sanções previstas
no art. 37, § 4º (2), da CF, não reveste a ação de improbidade administrativa de natureza
penal. O foro especial por prerrogativa de função submete-se a regime de direito estrito,
já que representa exceção aos princípios estruturantes da igualdade e da República. (...)
. Ademais, a fixação de competência para julgar a ação de improbidade no primeiro grau
de jurisdição, além de constituir fórmula republicana, é atenta às capacidades
institucionais dos diferentes graus de jurisdição para a instrução processual. Pet 3240
AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
10.5.2018. (Pet-3240) (Informativo 901)

171
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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PODER JUDICIÁRIO

1. ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO

Art. 92 da CF: São órgãos do Poder Judiciário:


I - o Supremo Tribunal Federal (órgão de Cúpula com jurisdição em todo território nacional
– conhecido como guardião da Constituição);
I-A o Conselho Nacional de Justiça; (não é órgão jurisdicional, mas sim de caráter
administrativo)
II - o Superior Tribunal de Justiça (conhecido como Tribunal cidadão, nasceu com a
Constituição de 1988, tem jurisdição em todo território Federal e tem competência em
relação às legislações infraconstitucionais)
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho (justiça especializada, tem jurisdição em todo
território nacional)
III - os Tribunais Regionais Federais (compõem-se por regiões e terá no mínimo sete
integrantes) e Juízes Federais;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais (temos uma justiça especializada, mas caudatária, ou
seja, não existe carreira para juízes eleitorais, pois os mesmos são apenas nomeados
entre magistrados de outras justiças);
VI - os Tribunais e Juízes Militares (também é uma Justiça especializada regida inclusive
por Código próprio, com princípios de disciplina e hierarquia);
VII - os Tribunais (localizados nas capitais dos Estados também conhecidos como
Tribunais de apelação) e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

2. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

• Jurisdição:
Todo juiz tem jurisdição, que nada mais é do que o poder que lhe é investido para dizer o
direito quando provocado.

• Competência:
É a medida da jurisdição, ou seja, cada juiz é competente para determinada demanda.

1) A competência em 2) A competência em 3) A competência em


razão da pessoa razão da matéria razão do lugar

172
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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2.1. A competência em razão da pessoa pode ser subdividida em:


a) Causas de interesse da União: Art. 109, I, CF 1988. "Aos juízes federais compete
processar e julgar as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal
forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência,
as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho".
Quando a União Federal estiver envolvida no litígio (ou interesse seu estiver envolvido), a
competência será da Justiça Federal. Inexistindo esse envolvimento ou interesse, a competência
será (residualmente) da Justiça Estadual ou "Justiça ordinária" ou "Justiça comum".

→ Súmula nº 150 STJ: "Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de


interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou
empresas públicas.”

b) Agente Público (pessoa física) envolvido no litígio: determinados agentes do


Estado gozam de “foro privilegiado”, isto é: a competência originária para o julgamento das mais
altas autoridades constitucionais está (especialmente: crimes comuns e crimes de
responsabilidade) atribuída analogamente aos Tribunais Superiores, e não aos Tribunais e juízes
de instâncias inferiores.

2.2. Em razão da matéria


Parte do Poder Judiciário tem sua competência estatuída com base em matérias ou temas
específicos. Exemplo: Justiça Militar, Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral.

2.3. Em razão do lugar


A competência se define em função de um dado território geográfico. Juízes de Direito
têm competência em razão da Comarca em que atuam, Tribunais de Justiça estaduais em razão
do território do Estado, Tribunais Regionais Federais em razão de determinadas regiões
(Exemplo: o Tribunal Regional Federal da 4ª Região possui competência sobre o território dos
estados do RS, SC e PR).

173
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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3. GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO

Com o objetivo de assegurar a independência do Poder Judiciário, têm-se as garantias


institucionais e as garantias funcionais. As garantias institucionais do Poder Judiciário. São
aquelas que protegem o órgão Poder Judiciário ou a "instituição" Poder Judiciário como um todo.
Dividem-se em:
→ Autonomia administrativa - art. 99, caput c/c art. 96, CF 1988.
→ Autonomia financeira - art. 99, §§ 1° e 2°, CF 1988.

Já as garantias funcionais ou de órgão garantem a independência e a imparcialidade dos


membros do Poder Judiciário.

Vedações (art. 95, parágrafo


Garantias (art. 95, CF)
único, da CF)

I - vitaliciedade [ao contrário dos servidores públicos civis, que


têm somente direito à estabilidade], que no primeiro grau [isto é: I - exercer, ainda que em
na primeira instância ou entrância], só será adquirida após dois disponibilidade, outro cargo ou
anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse função, salvo uma de magistério;
período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado,
e, nos demais, casos, de sentença judicial transitada em julgado;

II - inamovibilidade [impossibilidade de o juiz ser removido do


cargo que ocupa], salvo por motivo de interesse público, na II - receber, a qualquer título ou
forma do ar. 93, VIII, da CF, ou seja, pelo voto da maioria pretexto, custas ou participação em
absoluta dos membros do Tribunal ou do Conselho Nacional de processo;
Justiça;

III - dedicar-se à atividade político-


partidária.

IV - receber, a qualquer título ou


III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts.
pretexto, auxílios ou contribuições
37, X e XI, 39, § 4°, 150, II, 153, III, e 153, § 2°, I da CF.
de pessoas físicas, entidades
públicas ou privadas, entidades
públicas ou privadas, ressalvadas
as exceções previstas em lei;

174
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

V - exercer a advocacia no juízo ou


tribunal do qual se afastou, antes de
decorridos três anos do
afastamento do cargo por
aposentadoria ou exoneração.

→ Observação: Art. 93 da Constituição Federal determina que Lei complementar,


de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
trazendo alguns princípios que devem ser observados, princípios estes que versam sobre
a forma de ingresso, das promoções, subsídios, remoções, etc. Nesse ponto, merece
destaque a quarentena de entrada: “ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz
substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem
dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no
mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de
classificação”

4. COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS

Art. 96. Compete privativamente:


I - aos tribunais:
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das
normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem
vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira da respectiva
jurisdição;
d) propor a criação de novas varas judiciárias;
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido o disposto no
art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à administração da Justiça, exceto os de
confiança assim definidos em lei;
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores
que lhes forem imediatamente vinculados;
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça
propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos
juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e
dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;

ATENÇÃO!

175
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

A decisão do STF Transformação de juízos e juizados e definição de suas


respectivas competências - ADI 4235/RJ: É constitucional — por não violar
o princípio da legalidade — lei estadual que prevê que o Órgão Especial do
Tribunal de Justiça pode transformar, instalar juizado em substituição a
adjunto e fixar a competência dos juizados especiais. Na linha da
jurisprudência desta Corte, a matéria relativa à organização e ao
funcionamento dos órgãos jurisdicionais e administrativos não está
submetida à disciplina exclusiva da lei (CF/1988, art. 96), uma vez que a
Constituição Federal conferiu aos tribunais essa competência. No caso, as
normas impugnadas não criaram órgãos jurisdicionais, mas somente
dispuseram sobre a competência de juízos já existentes, sobre a instalação
progressiva dos juizados, a fim de permitir melhor organização e
economicidade para a implantação do sistema de juizados introduzido pela
Lei 9.099/1995.
4.1. Supremo Tribunal Federal e suas competências

STF

Julgamento das altas


Guardião da Constituição- autoridades
Guardião da Federação
controle difuso (art.102, III) e art. 53 da CF,
art. 102, I, f
concentrado art.102, II, a)
art. 86 § 1º , I

• 11 Ministros
• Indicados pelo
Presidente da
República
STF • Ter noo mínimo 35
anos o e menos de 70
• escolha aprovada anos
• 2 Turmas com 5 ministros • reputação ilibada
maioria absoluta do
cada turma
Senado federal • notório saber jurídico
• vitalício
• aposentadoria
STF compulsário aos 75 anos critérios

176
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Atenção!
A Constituição Federal, através da emenda
122 de maio de 2022, elevou para setenta anos
a idade máxima para a escolha e nomeação de
membros do Supremo Tribunal Federal, do
Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais
Regionais Federais, do Tribunal Superior do
Trabalho, dos Tribunais Regionais do
Trabalho, do Tribunal de Contas da União e
dos Ministros civis do Superior Tribunal Militar.

DICA!
• Criação de órgãos judiciários:
 Qualquer órgão Judiciário (Tribunal, Vara, e os cargos que irão preenchê-los) será
criado por lei, bastando lei ordinária;
 Caso refira a qualquer órgão do judiciário estadual, será criado pelo legislativo
estadual, através das Assembleias Legislativas;
 Se tratar de outras justiças, como justiças da União, sempre será criado pelo
Congresso Nacional;

• Então é isso:
 Poder Judiciário Estadual = Assembleia Legislativa;
 Tribunais Superiores, Justiça Militar, do Trabalho e Federal = Congresso Nacional;
 Estabelecido este esclarecimento, temos as iniciativas de projeto de lei.

177
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Órgão especial Função


Quinto constitucional Juizados especiais
de substituir o pleno

Art. 93, XI, CF 1988 "Nos Art. 94 da CF: "Um quinto dos lugares Art. 98, I, CF 1988 "A União, no
tribunais com número dos Tribunais Regionais Federais, dos Distrito Federal e nos Territórios, e
superior a vinte e cinco Tribunais dos Estados, e do Distrito os Estados criarão: juizados
julgadores poderá ser Federal e Territórios será composto de especiais, providos por juízes
constituído órgão especial, membros, do Ministério Público, com togados, ou togados e leigos,
com o mínimo de onze e o mais de dez anos de carreira, e de competentes para a conciliação, o
máximo de vinte e cinco advogados de notório saber jurídico e julgamento e a execução de
membros, para o exercício de reputação ilibada, com mais de dez causas cíveis de menor
das atribuições anos de efetiva atividade profissional, complexidade e infrações penais
administrativas e indicados em lista sêxtupla pelos de menor potencial ofensivo,
jurisdicionais da órgãos de representação das mediante os procedimentos oral e
competência do tribunal respectivas classes. Aplica-se também sumaríssimo [isto é: simplificado],
pleno." ao TRT (art. 115, I, CF), TST (art. 111- permitidos, nas hipóteses
Ou seja, requisitos: mais A, I, CF) e STJ (neste caso, contudo, previstas em lei, a transação e o
que 25 integrantes, poderá será um terço dos Ministros, nos julgamento de recursos por
constituir órgão entre 11 e termos do art. 104, parágrafo único, II, turmas de juízes de primeiro grau
25 membros. CF). ‘’Poderá ser composto por juízes
Observação: Tem relação com a leigos, ou seja, não são
formação desses tribunais, logo, os magistrados, muito embora a
tribunais são compostos por juízes de homologação da sentença
carreira promovidos por antiguidade e ocorrerá por juízes togados. Tem-
merecimento, por membros da OAB e, se os juizados cíveis e criminais.
também, do Ministério Público.
Após recebidas as indicações, o
Tribunal forma uma lista tríplice e o
chefe do Poder Executivo escolhe um
para nomear.

5. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (Emenda nº 45/2004)

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é uma instituição pública que visa aperfeiçoar o
trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle e à
transparência administrativa e processual. Tem como missão contribuir para que a prestação
jurisdicional seja realizada com moralidade, eficiência e efetividade em benefício da Sociedade
e como visão ser um instrumento efetivo do Poder Judiciário.
O STF, na ADIn nº 3.367, teve questionada a constitucionalidade a criação do Conselho
Nacional de Justiça, sendo declarada constitucional.

178
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

5.1. Formação e funções do Conselho Nacional de Justiça


O CNJ é composto por 15 (quinze) conselheiros, sendo nove magistrados, dois membros
do Ministério Público, dois advogados e dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação
ilibada. Os conselheiros têm mandato de dois anos.
Entre os direitos e deveres dos conselheiros, estabelecidos pelo Regimento Interno do
CNJ, estão, entre outros:

• Na Política Judiciária:
Zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura,
expedindo atos normativos e recomendações.

• Na Gestão:
Definir o planejamento estratégico, os planos de metas e os programas de avaliação
institucional do Poder Judiciário.

• Na Prestação de Serviços ao Cidadão:


Receber reclamações, petições eletrônicas e representações contra membros ou órgãos
do Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de
serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializado.

• Na Moralidade:
Julgar processos disciplinares, assegurada ampla defesa, podendo determinar a remoção,
a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de
serviço e aplicar outras sanções administrativas.

• Na Eficiência dos Serviços Judiciais:


Melhores práticas e celeridade: elaborar e publicar semestralmente relatório estatístico
sobre movimentação processual e outros indicadores pertinentes à atividade jurisdicional em
todo o País.

179
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Atenção!
O prazo de 1 ano previsto no art. 103-B, § 4º, V
da CF/88 incide apenas para revisões de PADs,
não se aplicando para atuação originária do
CNJ. A competência originária do CNJ para a
apuração disciplinar, ao contrário da revisional,
não se sujeita ao parâmetro temporal previsto no
art. 103-B, § 4º, V da CF/88 (STF. 2ª Turma. MS
34685 AgR/RR, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
28/11/2017 (Info 886))

5.2. Composição detalhada:


O Presidente do Supremo Tribunal Federal (redação dada pela Emenda constitucional nº
61, 2009); Um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, que será o Corregedor Nacional de
Justiça; Um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho; Um Desembargador de Tribunal de
Justiça; Um Juiz Estadual; Um Juiz do Tribunal Regional Federal; um Juiz Federal; Um Juiz de
Tribunal Regional do Trabalho; Um Juiz do trabalho; Um Membro do Ministério Público da
União; Um Membro do Ministério Público Estadual; Dois advogados; Dois cidadãos de notável
saber jurídico e reputação ilibada.

6. FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

6.1. Ministério Público

Art. 127 da CF: O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático
e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

• Garantias institucionais e impedimentos:

Art. 128 da CF: O Ministério Público abrange:

180
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

§ 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos


respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto
de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros:
I - as seguintes garantias:
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por
sentença judicial transitada em julgado;
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão
colegiado competente do Ministério Público, por voto de dois terços de seus membros,
assegurada ampla defesa;
c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos
arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I;"
II - as seguintes vedações:
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas
processuais;
b) exercer a advocacia;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de
magistério;
e) exercer atividade político-partidária, salvo exceções previstas na lei.

6.2. Advocacia Pública


A Advocacia Pública, é o órgão ao qual cabe a defesa judicial e extrajudicial das pessoas
jurídicas estatais (União, Estados, Distrito Federal e suas entidades administrativas: autarquias
e fundações públicas) está prevista nos arts. 131 e 132 da Constituição Federal. Não foi prevista
constitucionalmente uma carreira específica da Advocacia Pública no âmbito dos Municípios.

6.3. Advocacia

Art. 133 da CF: O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável


por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

6.4. Defensoria Pública

A Defensoria Pública está prevista nos artigos 134 e 135 da Constituição Federal e lhe
cabe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial,
dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita aos necessitados, na forma
do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal.

181
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

INTERVENÇÃO E DEFESA DAS INSTITUIÇÕES


DEMOCRÁTICAS

1. CONCEITO

Para José Afonso da Silva (2013, p. 483), "Intervenção é a antítese da autonomia. Por ela
afasta-se momentaneamente a atuação autônoma do Estado, Distrito Federal, ou Município que
a tenha sofrido. Uma vez que a Constituição assegura a essas entidades a autonomia como
princípio básico da Forma de Estado adotada, decorre daí que a intervenção é medida
excepcional, e só há de ocorrer nos casos nela taxativamente estabelecidos e indicados como
exceção, conforme o art. 34: "A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto
para [...]", e o art. 35: "O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios
localizados em Território Federal, exceto quando: [...]", arrolando-se em seguida os casos em
que é facultada a intervenção estreitamente consagrados."

Assim, a regra é a autonomia dos entes da federação e a intervenção é a exceção. Tendo


em vista se tratar de medida excepcional apenas poderá se operar nos casos taxativamente
previstos na Constituição Federal. Quando se opera a intervenção, a autonomia do ente
federativo que sofreu a intervenção, encontrar-se-á suprimida temporariamente. Isso ocorre em
nome da soberania do Estado – e também, como forma de garantia das próprias autonomias dos
entes federativos.

182
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

• O procedimento padrão a ser observado é:


1) Presidente da República ouve o Conselho da República (art. 89, caput, da
Constituição Federal e art. 90, I, da Constituição Federal) e o Conselho de
Defesa (art. 91, §1°, II, da Constituição Federal);
2) Presidente da República edita o decreto de intervenção art. 36, §1°, da
Constituição Federal;
3) Presidente da República submete ao controle do Congresso Nacional,
conforme art. 36, §1, da Constituição Federal, controle político imediato ou
também chamado de a posteriori. A única hipótese de dispensa do Congresso
Nacional é o caso do controle jurídico previsto no art. 36, §3°, da Constituição
Federal.

DECRETO:

Oitiva do Conselho da República e de Presidente da República decreta 1. a amplitude,


Congresso Nacional, em 24 horas -
Defesa Nacional (órgãos consultivos) - (espontaneamente, por solicitação ou por 2. o prazo e
CONTROLE POLÍTICO POSTERIOR
NÃO vincula requisição, a depender do caso) 3. as condições de execução e
4. se couber, nomeará o interventor

2. QUEM PODERÁ INTERVIR?

A União somente poderá intervir nos Estados membros e no Distrito Federal (Art. 34, CF);
estados poderão intervir nos municípios de seus territórios (Art. 35, CF).
Caso especial: A União poderá intervir diretamente nos Municípios, se estes estiverem
dentro do Território Federal, que, atualmente, inexistem (Art. 35 da CF).

3. HIPÓTESES DE INTERVENÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988


(Excepcionalidade ao princípio da autonomia)

183
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Art. 34 da CF – Federal (nos Estados Art. 35 da CF – Estadual (nos


ou no Distrito Federal) Municípios)
Art. 34 da CF: A União não intervirá nos Estados Art. 35 da CF: O Estado não intervirá em seus
nem no Distrito Federal, exceto para: Municípios, nem a União nos Municípios localizados
I - manter a integridade nacional; em Território Federal, exceto quando:
II - repelir invasão estrangeira ou de uma I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior,
unidade da Federação em outra; por dois anos consecutivos, a dívida fundada;
III - pôr termo a grave comprometimento da II - não forem prestadas contas devidas, na forma
ordem pública; da lei;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da
Poderes nas unidades da Federação; receita municipal na manutenção e
V - reorganizar as finanças da unidade da desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
Federação que: públicos de saúde;
a) suspender o pagamento da dívida fundada por IV - o Tribunal de Justiça der provimento a
mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de representação para assegurar a observância de
força maior; princípios indicados na Constituição Estadual, ou
b) deixar de entregar aos Municípios receitas para prover a execução de lei, de ordem ou de
tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos decisão judicial.
prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou
decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes
princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e
regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública,
direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita
resultante de impostos estaduais, compreendida
a proveniente de transferências, na manutenção
e desenvolvimento do ensino e nas ações e
serviços públicos de saúde.

É medida excepcional e só deve ocorrer nos casos previstos expressamente na


Constituição (arts. 34 a 36 da CF/88). Materializa-se, conforme referido, por decreto do
Presidente da República.

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


X - decretar e executar a intervenção federal;

184
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

É preciso dividir as hipóteses entre aqueles que requerem provocação e aquelas que não
necessitam de provocação, ou seja, dependem exclusivamente do juízo discricionário do
Presidente da República:

3.1. Modalidade padrão:


As hipóteses de juízo discricionário do Presidente (ou seja, depende exclusivamente de
sua vontade a decretação):
− I - Manter a integridade nacional;
− II - Repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
− III - Pôr termo a grave comprometimento da ordem pública
− V - Reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
− A) Suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos
consecutivos, salvo motivo de força maior (art. 98, Lei n° 4.320/64: "A dívida
fundada compreende os compromissos de exigibilidade superior a 12 (doze)
meses, contraídos para atender a desequilíbrio orçamentário ou a financeiro de
obras e serviços públicos")
− B) Deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta
Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;

Importante!
"Fundo de Participação dos Municípios"
(art. 158, III e IV c/c art. 159, § 3º c/c art.
160 c/c art. 161, II e III, CF 1988). O art.
160 é expresso ao proibir a retenção dos
valores respectivos. Consequência: art. 34,
VI, "b", CF 1988.

Nessas hipóteses, o controle do decreto será político, exercido pelo Congresso Nacional,
na forma do art. 36:

185
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de


execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do
Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro
horas.

3.2. Modalidades que necessitam de provocação/requisição, ou seja, o Presidente


da república será chamado a decretar a intervenção federal nas seguintes hipóteses:

• Art. 34, IV, da CF sobre o caso de coação aos poderes legislativa, executivo ou
judiciário:
• No caso de garantia do livre exercício do Poder Legislativo ou Executivo –
Provocada por solicitação do Poder coato ou impedido.
• No caso de garantia do livre exercício do Poder Judiciário – Provocada por
Requisição do STF. Tal se denota do art. 36, I, da Constituição Federal.

• Art. 34, VI - Prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial:


Nesse caso, tem se entendido que se trata de recusa, intencionalidade de desrespeito à
decisão, ou seja, mero descumprimento não geraria a intervenção federal. Aqui se trata de
decisão judicial em sentido amplo, podendo, inclusive ser de caráter liminar. Esse dispositivo
deve ser lido em conjunto com o art 36, II, da Constituição federal, o qual pode ser assim
esquematizado:

1. Desobediência de ordem ou decisão judicial (Inciso VI, segunda parte): Provocada por
requisição do STF, do STJ ou do TSE
2. Prover a execução de lei federal (Inciso VI, primeira parte): Provocada dependendo de
provimento de representação (deve ser precedida de Representação Interventiva,
ajuizada pelo PGR no STF).

Intervenção federal. Inexistência de atuação dolosa por parte do Estado.


Indeferimento. (...) Decisão agravada que se encontra em consonância com a orientação
desta Corte, no sentido de que o descumprimento voluntário e intencional de decisão
judicial transitada em julgado é pressuposto indispensável ao acolhimento do pedido de
intervenção federal.” (IF 5.050-AgR, rel. min. Ellen Gracie, julgamento em 6-3-2008,
Plenário, DJE de 25-4-2008.)

• Art. 34, VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:

186
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;


b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
Obs: Aqui fala-se em prestar, não é o caso de prestar e ter reprovada as suas
contas. Novamente a conotação de recusa.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento
do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

→ Art. 6º Lei complementar 141/2012:


Os Estados e o Distrito Federal aplicarão, anualmente, em ações e serviços
públicos de saúde, no mínimo, 12% (doze por cento) da arrecadação dos impostos a que
se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam o art. 157, a alínea “a” do inciso I e
o inciso II do caput do art. 159, todos da Constituição Federal, deduzidas as parcelas que
forem transferidas aos respectivos Municípios.
Com a educação o gasto é de 25 %.

Importante!
Esses são os casos de Ação Direta Interventiva proposta pelo Procurador – Geral
da República.
Quem pode provocar o Presidente da República para decretar a Intervenção Federal:
Nesse caso, deve-se observar o disposto no art. 36, III, da Constituição Federal: “de provimento,
pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na
hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal.”

§ 3º - Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo
Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a
execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.

4. INTERVENÇÃO ESTADUAL

Art. 35 da CF: O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios
localizados em Território Federal, exceto quando:

187
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida
fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; (Municípios estão
obrigados a aplicar um percentual mínimo da arrecadação de impostos em ações e
serviços de saúde (art. 198, § 2º, II e III, CF/88) e de educação (art. 212, CF/88). Estamos
falando em 15 % em saúde e 25 % em educação).
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância
de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de
ordem ou de decisão judicial.

4.1. Modalidade padrão


As hipóteses de juízo discricionário do Governador (ou seja, depende exclusivamente de
sua vontade a decretação):
− I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos,
a dívida fundada;
− II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
− III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de
saúde;

Nessas hipóteses, o controle do decreto será político, exercido pela Assembleia


Legislativa na forma do art. 36, § 1°, da Constituição Federal:

§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de


execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do
Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro
horas.

4.2. Modalidades que necessitam de requisição:


Ou seja, o Governador será chamado a decretar a intervenção estadual nas seguintes
hipóteses:

Art. 35. (...) IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a
observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução
de lei, de ordem ou de decisão judicial.

Aqui é o caso de Ação Direta Interventiva Estadual, proposta pelo Procurador de Justiça
no Tribunal de Justiça Estadual, para garantir a observância dos princípios sensíveis previstos
na Constituição do Estado, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.

188
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Nesse, deve-se igualmente observar o disposto no §3º do art. 36 da Constituição Federal, que
trata sobre a dispensa de análise do Decreto pela Assembleia Legislativa, o controle é jurídico,
ou seja, dispensa a apreciação da Assembleia Legislativa.

→ STF QUANTO Á TAXATIVIDADE DAS HIPÓTESES DO ART 35 DA CF/88.


→ ADI 6619/RO. Relator Gilmar Mendes. É inconstitucional — por violação aos princípios
da simetria e da autonomia dos entes federados — norma de Constituição estadual
que prevê hipótese de intervenção do estado no município fora das que são
taxativamente elencadas no artigo 35 da Constituição Federal. A Constituição Federal
esgota por completo o assunto, não deixando qualquer margem para que as
Constituições estaduais disciplinem a matéria, dada a característica taxativa do rol
constitucional. Nesse contexto, esta Corte possui julgados recentes no sentido da
inconstitucionalidade de dispositivos de Constituições estaduais que estabeleçam
hipóteses inéditas de intervenção estadual no município.
→ ADI 336
“As disposições do artigo 35 da CB/88 também consubstanciam preceitos de
observância compulsória por parte dos Estados-membros, sendo inconstitucionais
quaisquer ampliações ou restrições às hipóteses de intervenção." (ADI 336, voto do rel.
min. Eros Grau, julgamento em 10-2-2010, Plenário, DJE de 17-9-2010.)

→ Súmula nº 637 do STF:


‘’Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que defere
pedido de intervenção estadual em Município.’’

→ Súmula 637 do STF.


“Intervenção estadual em Município. Súmula 637 do STF. De acordo com a
jurisprudência deste Tribunal, a decisão de Tribunal de Justiça que determina a
intervenção estadual em Município tem natureza político-administrativa, não ensejando,
assim, o cabimento do recurso extraordinário.” (AI 597.466-AgR, rel. min. Joaquim
Barbosa, julgamento em 27-11-2007, Segunda Turma, DJE de 1º-2-2008.)

189
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Compreendendo o que não pode faltar em uma Ação Direta Interventiva

FEDERAL: Originária do Supremo Tribunal Federal (artigo 36, III, Constituição


Competência Federal).
ESTADUAL: Tribunal de Justiça

Excelentíssimo Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal


ou
Endereçar
Excelentíssimo Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do
Estado....

Legitimidade ativa – Procurador-Geral


Legitimidade
Legitimidade passiva - FEDERAL: Estados ou distrito federal. ESTADUAL:
ativa e passiva
municípios

FEDERAL: violação dos princípios sensíveis do artigo 34, VII, da CF ou prover


O que devo
a execução de lei prevista no art. 34, VI, primeira parte, da CF;
suscitar?
ESTADUAL: art. 35, IV, da CF.
Intimação do Advogado-Geral da União;
A Intimação do órgão ou entidade responsável pela violação ao princípio
constitucional sensível ou pela recusa à aplicação de lei federal para sua
Pedido manifestação no prazo de dez dias;
da Ação Direta A procedência da ação para declarar o descumprimento de princípio
Interventiva constitucional sensível ou recusa à aplicação de lei federal;
A determinação para que o Presidente da República por decreto limite a
suspender o ato impugnado, ou caso a suspensão não restabeleça a
normalidade, que decrete a intervenção.

Lei nº 12.562/11 - Art. 3° A petição inicial deverá conter:


I - a indicação do princípio constitucional que se considera violado ou, se for o
caso de recusa à aplicação de lei federal, das disposições questionadas;
II - a indicação do ato normativo, do ato administrativo, do ato concreto ou da
omissão questionados;
Outros III - a prova da violação do princípio constitucional ou da recusa de execução
de lei federal;
IV - o pedido, com suas especificações.
Parágrafo único. A petição inicial será apresentada em 2 (duas) vias, devendo
conter, se for o caso, cópia do ato questionado e dos documentos necessários
para comprovar a impugnação.

190
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

RETOMANDO
Existem 5 procedimentos de intervenção:
 Juízo discricionário do Presidente (art. 34, incisos I, II, III e V, da CF), com aprovação
do Congresso Nacional (art. 36, § 1º e § 2º, da CF);
 Solicitação do Poder Coacto ao Presidente (art. 34, IV, primeira parte, da CF), com
aprovação posterior do Congresso Nacional (art. 36, I e § 1º e § 2º, da CF);
 Requisição do STF ao Presidente no caso de coação ao Poder Judiciário (34, IV,
segunda parte, da CF), com aprovação posterior do Congresso Nacional (art. 36, I e
§ 1º e § 2º, da CF);
 Requisição do STF, STJ, TSE ao Presidente (art. 34, VI, segunda parte), SEM
necessidade de aprovação posterior do Congresso, nos termos do art. 36, §3º, da
CF (art. 36, II, combinado com § 3º, da CF);
 Representação Interventiva (ou ADIn Interventiva) (art. 34, VI primeira parte, da CF
– recusa à aplicação de lei federal – e art. 34, VII, da CF – princípios constitucionais
sensíveis), SEM necessidade de aprovação posterior do Congresso, nos termos do
art. 36, §3º, da CF (art. 36, III, combinado com § 3º, da CF).

5. DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

• Sistema constitucional de crises, defesa do país e defesa da sociedade:


Na defesa do Estado e das Instituições democráticas tem-se dois grandes grupos de
atuação:
a) Instrumentos e Medidas excepcionais: sistema constitucional de crises, que é
composto pelo estado de defesa e o estado de sítio;
b) Defesa do país (forças armadas) ou Defesa da sociedade (segurança pública).

• Das Características importantes do Estado de exceção constitucional:


→ Excepcionalidade:
Só pode ocorrer estado de defesa ou estado de sítio se não existirem outras
medidas menos graves para atacar o problema estabelecido;
→ Taxatividade:
Todas as exigências constitucionais para o estabelecimento do sistema devem
estar presentes;

191
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Temporariedade:
O sistema constitucional de crises deve ter um tempo de duração, diante da sua
legalidade extraordinária;

→ Delimitação geográfica:
As medidas de restrição devem ter um espaço de atuação tanto no estado de
defesa quanto no estado de sítio sempre quando for possível;

→ Publicidade:
A situação excepcional deve ser explicitada e publicizada, há esta previsão
inclusive em tratados internacionais que o Brasil é signatário como o Pacto Internacional
dos Direitos Civis e Políticos – 1966 (Decreto nº 592/92) e a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Decreto nº 678/92);

→ Proporcionalidade:
É necessária uma análise rigorosa, pois estas situações só se justificam diante de
uma grande excepcionalidade;

→ Sujeição a controles:
As medidas previstas no “sistema constitucional de crises” serão submetidas a
controle do legislativo: o estado de defesa (controle político posterior à decretação) e o
estado de sítio (controle político anterior à decretação);
• Decretar, aprovar ou autorizar o “sistema constitucional de crises” são atos
político:

Poder Executivo: Art. 84, IX, da CF


Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;

Poder Legislativo: Art. 49, IV, da CF


Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou
suspender qualquer uma dessas medidas;

• Da possibilidade de Controle Judicial no Sistema Constitucional de Crises:

192
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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− Controle Judicial do mérito político da Decretação: a doutrina majoritária


entende não ser possível ao Judiciário adentrar no mérito da discricionariedade
do Poder Executivo e do Legislativo para a decretação, aprovação ou autorização;
− Em tese o Poder Judiciário poderá controlar apenas a existência de desvio de
finalidade ou abuso de poder, verificando as situações de cumprimento de todos
os requisitos constitucionais necessários para a decretação.

5.1 Estado de Defesa

Art. 136 da CF: O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o


Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou
prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a
paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas
por calamidades de grandes proporções na natureza.
§ 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração,
especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as
medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade
pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.
§ 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias,
podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que
justificaram a sua decretação.

Art. 136 da CF: § 3º Na vigência do estado de defesa:


I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por
este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal,
facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;
II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e
mental do detido no momento de sua autuação;
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias,
salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
§ 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República,
dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao
Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.
§ 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado,
extraordinariamente, no prazo de cinco dias.

Em suma, verificada qualquer das hipóteses de cabimento previstas do art. 136 da CF, o Presidente da
República, ouvirá o Conselho de Defesa Nacional (art. 91, §1º, II, da CF) e o Conselho da República (art. 90, I, da
CF) (pareceres opinativos), e elaborará decreto, determinando o início do estado de defesa.

Após submeterá ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta (controle político posterior ou imediato).

193
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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5.2 Estado de Sítio

Art. 137 da CF: O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o


Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para
decretar o estado de sítio nos casos de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a
ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o
estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido,
devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta.
§ 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu
recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa.
§ 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.

Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias
a sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de
publicado, o Presidente da República designará o executor das medidas específicas
e as áreas abrangidas.
§ 1º O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de
trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá
ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada
estrangeira.
§ 2º Solicitada autorização para decretar o estado de sítio durante o recesso parlamentar,
o Presidente do Senado Federal, de imediato, convocará extraordinariamente o
Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato.
§ 3º O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento até o término das
medidas coercitivas.

Assim, observada alguma das hipóteses de cabimento, previstas nos incisos I e II do art. 137 da CF, o
Presidente da República, ouvirá o Conselho de Defesa Nacional (art. 91, §1º, II, da CF) e o Conselho da República
(art. 90, I, da CF) (pareceres opinativos) e pedirá autorização do Congresso Nacional, que decidirá por maioria
absoluta. Se este não autorizar, não poderá o Presidente da República decretar o estado de sítio.

Autorizada a decretação, o Presidente da República, com discricionariedade política, poderá ou não elaborar o
decreto instituidor do estado de sítio.

5.3. Possibilidades de restrição a direitos fundamentais descritas na constituição:

ESTADO DE SÍTIO (com fulcro no art. 137,


ESTADO DE DEFESA
I, da CF)
Art. 136, § 1º, CF Art. 139 da CF
I - restrições aos direitos de: I - obrigação de permanência em localidade
a) reunião, ainda que exercida no seio das determinada;
associações; II - detenção em edifício não destinado a
b) sigilo de correspondência; acusados ou condenados por crimes comuns;

194
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; III - restrições relativas à inviolabilidade da


II - ocupação e uso temporário de bens e serviços correspondência, ao sigilo das comunicações, à
públicos, na hipótese de calamidade pública, prestação de informações e à liberdade de
respondendo a União pelos danos e custos imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da
decorrentes. lei;
IV - suspensão da liberdade de reunião;
V - busca e apreensão em domicílio;
VI - intervenção nas empresas de serviços
públicos;
VII - requisição de bens.

No caso de decretação de estado de sítio com fundamento no Art. 137, II, da CF, qualquer
garantia constitucional poderá ser suspensa em tese. Contudo, é necessário respeitar o binômio
necessidade e proporcionalidade; a prévia autorização do Congresso Nacional; e de acordo com
o art. 138, “caput”, da CF tenham sido indicadas no decreto de estado de sítio a sua duração, as
regras para a sua execução e expressamente citadas as garantias constitucionais que ficarão
suspensas.

6. FORÇAS ARMADAS

Art. 142, CF 1988 “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base
na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
qualquer destes, da lei e da ordem.”

6.1. Lei geral das Forças Armadas (Lei Complementar nº 97/99), finalidades e
características:
− Diretas: Defesa da Pátria e garantia dos Poderes constitucionais;
− Indiretas: Por requerimento dos Poderes constitucionais, manutenção da lei e da
ordem (v.g. Lei nº 8.071/90, que regula as atividades do Exército em tempos de
paz).
− Instituição permanente: De existência necessária, não podendo ser extintas;
− Instituição regular: Art. 8º, LC 97/99: Existência real e concreta “de efetivos de
pessoal militar e civil, fixados em lei, e dos meios orgânicos necessários ao
cumprimento de sua destinação constitucional e atribuições subsidiárias”;

195
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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− Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares


(Cuidado! Deve ser lido como legalmente impostas!). O STF, contudo, tem
entendimento no sentido de que pode ser impetrado HC perante o Judiciário
tratando de questões atinentes aos pressupostos de legalidade (hierarquia, pena
suscetível de ser aplicada disciplinarmente etc.), sendo, assim, excluídas
questões de mérito da sanção administrativa (HC 70.648).

6.2. Princípios de organização


• Hierarquia:
Elos de subordinação do superior para o inferior hierárquico; sendo a autoridade máxima
o Presidente da República (art. 84, XIII c/c art. 142, caput, ambos da CF), seguida pelo Ministro
de Estado da Defesa (art. 3º, Lei complementar nº 97/99) e de um Comandante de cada uma
das 3 Forças armadas (art. 4º, Lei complementar nº 97/99);
• Disciplina:
Ordens superiores não podem ser objeto de qualquer questionamento por parte de
inferiores hierárquicos, sob pena de sanção disciplinar, com impossibilidade de discussão quanto
à sua legalidade ou validade. Somente os superiores ao militar que deu a ordem podem
questionar a ilegalidade. Ademais, ao militar são proibidas a sindicalização e a greve.

→ Serviço militar é obrigatório, sob pena de perder os direitos políticos:

Art. 143 da CF: O serviço militar é obrigatório nos termos da lei


§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em
tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como
tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem
de atividades de caráter essencialmente militar.
§ 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo
de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.

6.3. Distinções conceituais básicas:


Órgãos de polícia:
• Militar:
Tem atuação basicamente preventiva, com vistas a impedir a prática de crimes e
contravenções;

196
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Civil:
Tem atuação basicamente repressiva, com vistas a identificar os responsáveis pela prática
de crimes e contravenções, preparando via inquérito policial, o conjunto de informações
necessárias para a instauração do devido processo penal.

Art. 144 da CF: A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas,
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional
e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas
áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
rodovias federais.
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
ferrovias federais.
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada
a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
exceto as militares.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos
corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução
de atividades de defesa civil.
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do
Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus
bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste
artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 19, de 1998)
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras
atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana
eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos
órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na
forma da lei.

6.4. Do rol fechado e/ou taxativo do art. 144 da CF:

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Impossibilidade da criação, pelos Estados-membros, de órgão de segurança pública


diverso daqueles previstos no art. 144 da Constituição. (...) Ao Instituto-Geral de Perícias,
instituído pela norma impugnada, são incumbidas funções atinentes à segurança pública.
Violação do art. 144, c/c o art. 25 da Constituição da República. [ADI 2.827, rel. min. Gilmar
Mendes, j. 16-9-2010, P, DJE de 6-4-2011.] Vide ADI 1.182, voto do rel. min. Eros Grau, j.
24-11-2005, P, DJ de 10-3-2006.

Os Estados-membros, assim como o Distrito Federal, devem seguir o modelo federal. O


art. 144 da Constituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da segurança pública.
Entre eles não está o Departamento de Trânsito. Resta pois vedada aos Estados-membros
a possibilidade de estender o rol, que esta Corte já firmou ser numerus clausus, para
alcançar o Departamento de Trânsito. [ADI 1.182, voto do rel. min. Eros Grau, j. 24-11-
2005, P, DJ de 10-3-2006.] Vide ADI 2.827, rel. min. Gilmar Mendes, j. 16-9-2010, P, DJE
de 6-4-2011

O Pleno desta Corte pacificou jurisprudência no sentido de que os Estados-membros


devem obediência às regras de iniciativa legislativa reservada, fixadas
constitucionalmente. A gestão da segurança pública, como parte integrante da
administração pública, é atribuição privativa do governador de Estado. [ADI 2.819, rel. min.
Eros Grau, j. 6-4-2005, P, DJ de 2-12-2005.]

ADPF 995: Guardas Municipais são integrantes do Sistema de Segurança Pública

“O Tribunal, por maioria, conheceu da arguição, convolou o julgamento da medida cautelar


em julgamento definitivo da ADPF e, no mérito, julgou procedente a presente ADPF, para,
nos termos do artigo 144, § 8º, da CF, conceder interpretação conforme à Constituição ao
artigo 4º da Lei 13.022/14 e ao artigo 9º da 13.675/18 declarando inconstitucional todas as
interpretações judiciais que excluem as Guardas Municipais, devidamente criadas e
instituídas, como integrantes do Sistema de Segurança Pública.”

ADI 6621: Interpretação menos restritiva do art. 144 da CF, sendo constitucional a criação
pelos entes federativos de polícias científicas autônomas que, do ponto de vista da
organização administrativa, não estejam vinculadas à Polícia Civil.

“Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL.


DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO.
LEGISLAÇÃO QUE CONSIDERA AGENTES DE NECROTOMIA, PAPILOSCOPISTAS E
PERITOS OFICIAIS COMO SERVIDORES DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO
TOCANTINS, E QUE DISCIPLINA ATRIBUIÇÕES DA SUPERINTENDÊNCIA DE
POLÍCIA CIENTÍFICA DO ESTADO. NATUREZA REGULAMENTAR DO DECRETO Nº
5.979/2019. CONHECIMENTO DA AÇÃO DIRETA. COMPREENSÃO
CONSTITUCIONALMENTE ADEQUADA DO ROL CONTIDO NO ARTIGO 144 DA
CRFB/88. AUTONOMIA DA POLÍCIA CIENTÍFICA. POSSIBILIDADE DE O ENTE
FEDERADO CRIAR SUPERINTENDÊNCIA DE POLÍCIA CIENTÍFICA NÃO
SUBORDINADA À POLÍCIA CIVIL. AÇÃO DIRETA JULGADA IMPROCEDENTE. 1. A
Associação Nacional dos Delegados de Polícia Judiciária apresenta-se como entidade
apta a, nos termos do art. 103, IX da CRFB/88, ajuizar ação direta de inconstitucionalidade
que questiona desenho institucional da segurança pública com possíveis reflexos sobre a
atuação de Delegados da Polícia Civil. 2. A despeito da consolidada jurisprudência deste
Supremo Tribunal Federal sobre a impossibilidade de conhecer, em ação direta, da
incompatibilidade entre decretos secundários e a legislação ordinária, o Decreto nº 5.979
/2019, do Estado do Tocantins, revela suficiente generalidade, abstração e independência
normativa para permitir a fiscalização abstrata de sua constitucionalidade. 3. A tradicional
compreensão sobre a taxatividade do rol do art. 144 da Constituição da República cedeu
lugar a interpretação menos restritiva, permitindo aos entes federativos criarem polícias
científicas autônomas que, do ponto de vista da organização administrativa, não estejam

198
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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vinculadas à Polícia Civil. 4. Não ofende a Constituição da República legislação estadual


que considera agentes de necrotomia, papiloscopistas e peritos oficiais como servidores
da polícia civil de Estado-membro, remetendo o poder de controle e supervisão exercido
sobre eles a Superintendência de Polícia Científica. 5. Ação direta julgada improcedente”.

6.5. Greve e os órgãos de Segurança Pública


A atividade policial é carreira de Estado imprescindível à manutenção da normalidade
democrática, sendo impossível sua complementação ou substituição pela atividade privada. A
carreira policial é o braço armado do Estado, responsável pela garantia da segurança interna,
ordem pública e paz social. E o Estado não faz greve. O Estado em greve é anárquico. A CF não
permite. Aparente colisão de direitos.
Prevalência do interesse público e social na manutenção da segurança interna, da ordem
pública e da paz social sobre o interesse individual de determinada categoria de servidores
públicos. Impossibilidade absoluta do exercício do direito de greve às carreiras policiais.
Interpretação teleológica do texto constitucional, em especial dos arts. 9º, § 1º; 37, VII; e 144.
(...) tese de repercussão geral: 1 – O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou
modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente
na área de segurança pública. 2 – É obrigatória a participação do poder público em mediação
instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165
do CPC, para vocalização dos interesses da categoria (ARE 654.432, rel. p/ o ac. min. Alexandre
de Moraes, j. 5-4-2017, P, DJE de 11-6-2018, Tema 541).

199
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E SERVIDOR PÚBLICO

1. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Art. 37 da CF: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

Ver também a Lei nº 9.784 – Lei do Processo Administrativo Federal, art. 2º:

Art. 2° A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,


finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

1.1. Princípio da legalidade


Tem a ver com os valores liberdade e igualdade defendidos na Revolução Francesa. É o
principal princípio da Administração Pública. Serve para proteger a liberdade, a igualdade e a
moralidade administrativa. É a lei que impõe à Administração o poder de fazer certas coisas, o
dever de fazer estas coisas.

A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de ilegalidade (Súm.
473), não podendo ser invocado o princípio da isonomia com o pretexto de se obter
benefício ilegalmente concedido a outros servidores. (AI 442.918-AgR, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julgamento em 4-5-04, DJ de 4-6-04).

Em face do princípio da legalidade, pode a Administração Pública, enquanto não concluído


e homologado o concurso público, alterar as condições do certame constantes do
respectivo edital, para adaptá-las à nova legislação aplicável à espécie, visto que, antes
do provimento do cargo, o candidato tem mera expectativa de direito à nomeação ou, se
for o caso, à participação na segunda etapa do processo seletivo. (RE 290.346, Rel. Min.
Ilmar Galvão, julgamento em 29-5-01, DJ de 29-6-01).

Bolsa de estudos para dependentes de empregados da Fundação de Assistência ao


Estudante-FAE. Mandado de segurança impetrado contra decisão do Tribunal de Contas
da União, que suspendeu a concessão do benefício. Alegação de direito adquirido e
invocação do princípio da irredutibilidade de vencimentos. Artigos 5º, inc. XXXVI, 7º, inc.
VI, e 39, § 2º, 39, caput, 37 e 169, parágrafo único, da Constituição Federal. Lei n. 8.112,
de 11-12-1990 (Regime Jurídico Único). (...) Outros princípios constitucionais estariam a
impedir a observância, também, do alegado direito adquirido, em casos como o da
espécie. Um deles, o do art. 37, segundo o qual a administração pública direta, indireta ou
fundacional obedecerá ao princípio da legalidade. E, no caso, a vantagem não terá sido
estabelecida por lei. (MS 22.160, Rel. Min. Sydney Sanches, julgamento em 22-2-96, DJ
de 13-12-96).

200
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Processo administrativo tributário. (...) A circunstância de inexistir previsão específica para


a interposição de recurso hierárquico em favor do sujeito passivo não afasta o poder -de-
ver da administração de examinar a validade do ato administrativo que implica a
constituição do crédito tributário, ainda que não provocada, respeitadas a forma e as
balizas impostas pelo sistema jurídico (Súmula 473/STF). (RE 462.136-AgR, Rel. Min.
Joaquim Barbosa, julgamento em 31-8-2010, Segunda Turma, DJE de 1º-10-2010.).

Ato decisório contrário à Súmula Vinculante 13/STF. Nepotismo. Nomeação para o


exercício do cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Paraná. Natureza
administrativa do cargo. Vícios no processo de escolha. Votação aberta. Aparente
incompatibilidade com a sistemática da CF. Presença do fumus boni iuris e do periculum
in mora. (...) A vedação do nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir a prática,
uma vez que decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF. O cargo
de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Paraná reveste- se, à primeira vista,
de natureza administrativa, uma vez que exerce a função de auxiliar do Legislativo no
controle da administração pública. Aparente ocorrência de vícios que maculam o processo
de escolha por parte da Assembleia Legislativa paranaense. (Rcl 6.702-AgR-MC, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgamento em 4-3-2009, Plenário, DJE de 30-4-2009.).

• São exemplos de aplicação do princípio da legalidade no Brasil:


→ Criação de entes federativos;
→ Criação de órgãos públicos;
→ Competências dos órgãos públicos;
→ Criação de cargos públicos;
→ Requisitos dos cargos públicos (incluindo psicotécnico e idade);
→ Remuneração dos cargos públicos;
→ Competência dos cargos públicos;
→ Criação de entidades da administração indireta (universidades);
→ Orçamentos;
→ Processo Administrativo;
→ Forma do gasto público;
→ Forma de aquisição de bens públicos (licitação);
→ Forma de estabelecimento de parcerias com entidades privadas (delegação,
concessão, autorização, parcerias público-privadas);
→ Forma de alienação dos bens públicos (licitação);
→ Limitações à propriedade privada (áreas de preservação permanente);
→ Organização dos serviços públicos;
→ Tipos administrativos ou pelo menos sua abertura geral;
→ Sanções administrativas.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

1.2. Princípio da Supremacia do interesse público


Como a Administração Pública serve para buscar o bem comum, e como o seu agir está
condicionado pela lei, a Administração Pública possui uma posição de supremacia por sobre o
particular. Exemplo: condicionamentos à propriedade, restrições à liberdade, tombamento,
desapropriação, etc.

Transação. Validade. Em regra, os bens e o interesse público são indisponíveis, porque


pertencem à coletividade. É, por isso, o Administrador, mero gestor da coisa pública, não
tem disponibilidade sobre os interesses confiados à sua guarda e realização. Todavia, há
casos em que o princípio da indisponibilidade do interesse público deve ser atenuado,
mormente quando se tem em vista que a solução adotada pela Administração é a que
melhor atenderá à ultimação deste interesse. (RE 253.885, Rel. Min. Ellen Gracie,
julgamento em 4-6-02, DJ de 21-6-02).

1.3. Princípio da Publicidade


Um dos princípios mais importantes. Significa que os atos da Administração são públicos,
isto é, devem ser abertos à população e divulgados. Ver, por exemplo, o art. 5º, LX, da CF que
determina que os atos jurisdicionais são em regra públicos, exceto quando ofender a intimidade
ou o interesse pessoal. Ver também o inciso XXXIII, que estabelece a possibilidade de o
interessado obter informações de seu interesse dos poderes públicos, bem como o inciso XXXIV,
que assegura a obtenção de certidões para a defesa de direitos.
Lei da transparência, Lei nº 12.527/11, se aplica também a entidades privadas.

Art. 2° da Lei nº 12.527/11: Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, às


entidades privadas sem fins lucrativos que recebam, para realização de ações de interesse
público, recursos públicos diretamente do orçamento ou mediante subvenções sociais,
contrato de gestão, termo de parceria, convênios, acordo, ajustes ou outros instrumentos
congêneres.
Parágrafo único. A publicidade a que estão submetidas as entidades citadas no caput
refere-se à parcela dos recursos públicos recebidos e à sua destinação, sem prejuízo das
prestações de contas a que estejam legalmente obrigadas.

1.4. Princípio da Igualdade/isonomia


Tratar iguais, como iguais e desiguais como desiguais. Desigualdade permitida: aquelas
em leis constitucionais. Direcionada ao cidadão. Não importa a quem a Administração se dirige,
todos devem ser tratados de igual maneira, artistas, políticos, cidadãos comuns, etc. A lei deverá
ser aplicada a todos igualmente a todos que estejam nas condições de igualdade descritas em
lei; ou seja, a administração não pode dar tratamentos discriminatórios.

(...) é consentânea com a Carta da República previsão normativa asseguradora, ao militar


e ao dependente estudante, do acesso a instituição de ensino na localidade para onde é

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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removido. Todavia, a transferência do local do serviço não pode se mostrar verdadeiro


mecanismo para lograr-se a transposição da seara particular para a pública, sob pena de
se colocar em plano secundário a isonomia — artigo 5º, cabeça e inciso I —, a
impessoalidade, a moralidade na Administração Pública, a igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola superior, prevista no inciso I do artigo 206, bem como a
viabilidade de chegar-se a níveis mais elevados do ensino, no que o inciso V do artigo 208
vincula o fenômeno à capacidade de cada qual. (ADI 3.324, voto do Min. Marco Aurélio,
julgamento em 16-12-04, DJ de 5-8-05)

1.5. Princípio da Impessoalidade


Quem se relaciona com o cidadão é a Administração Pública, não a pessoa do funcionário
ou gestor. O administrador não pode se valer de motivações pessoais, tanto positivas, como
negativas, para agir. Uniformidade de funcionamento da Administração Pública, não importando
quem é o agente público. Relativo ao agente público. Por outro lado, a própria Administração
deve ser impessoal, de modo a não idolatrar a pessoa do governante. Ver, para tanto, o art. 37
da Constituição:

§ 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos


públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não
podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de
autoridades ou servidores públicos.

O Tribunal retomou julgamento de mandado de segurança impetrado contra ato omissivo


do Procurador-Geral da República e da Procuradora-Geral da Justiça Militar, consistente
na negativa de nomeação da impetrante, aprovada em concurso público para o cargo de
promotor da Justiça Militar, não obstante a existência de dois cargos vagos — (...)
Considerou, por fim, que essa autoridade teria incorrido em ilegalidade, haja vista a ofensa
ao princípio da impessoalidade, eis que não se dera a nomeação por questões pessoais,
bem como agido com abuso de poder, porquanto deixara de cumprir, pelo personalismo e
não por necessidade ou conveniência do serviço público, a atribuição que lhe fora
conferida. (MS 24.660, Rel. Ellen Gracie, julgamento em 14-9-06, Informativo 440)

1.6. Princípio da Moralidade administrativa


Um dos princípios mais importantes. Significa que a Administração Pública deve, para
além do Direito, também se pautar por critério morais. A probidade na Administração é protegida,
em tese, pelas leis dos crimes de responsabilidade federais e estaduais (art. 1.079) e municipais
(Decreto-Lei nº 201), além da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429).

Servidora pública da Secretaria de Educação nomeada para cargo em comissão no


Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região à época em que o vice-presidente do
Tribunal era parente seu. Impossibilidade. A proibição do preenchimento de cargos em
comissão por cônjuges e parentes de servidores públicos é medida que homenageia e
concretiza o princípio da moralidade administrativa, o qual deve nortear toda a
Administração Pública, em qualquer esfera do poder. (MS 23.780, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, julgamento em 28-9-05, DJ de 3-3-06)

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Lei estadual que autoriza a inclusão, no edital de venda do Banco do Estado do Maranhão
S/A, da oferta do depósito das disponibilidades de caixa do tesouro estadual (...) Alegação
de ofensa ao princípio da moralidade administrativa — Plausibilidade jurídica (...). O
princípio da moralidade administrativa — enquanto valor constitucional revestido de
caráter ético-jurídico — condiciona a legitimidade e a validade dos atos estatais. A
atividade estatal, qualquer que seja o domínio institucional de sua incidência, está
necessariamente subordinada à observância de parâmetros ético-jurídicos que se refletem
na consagração constitucional do princípio da moralidade administrativa. Esse postulado
fundamental, que rege a atuação do Poder Público, confere substância e dá expressão a
uma pauta de valores éticos sobre os quais se funda a ordem positiva do Estado. (ADI
2.661-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 5-6-02, DJ de 23-8-02)

1.7. Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade


Aparecem mencionados na Lei nº 9.784/99. As decisões da Administração Pública devem
ser razoáveis, não absurdas. Do mesmo modo, devem proporcionais, isto é, deve existir uma
ligação proporcional entre o fim buscado e a medida tomada.

Art. 2º da Lei 9.784/99: A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios
da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
critérios de:[...]
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e
sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do
interesse público;

Cabe ao Poder Judiciário verificar a regularidade dos atos normativos e de administração


do Poder Público em relação às causas, aos motivos e à finalidade que os ensejam. Pelo
princípio da proporcionalidade, há que ser guardada correlação entre o número de cargos
efetivos e em comissão, de maneira que exista estrutura para atuação do Poder Legislativo
local. (RE 365.368-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 22-5-07, DJ de
29-6-07)

Cláusula que determina que conste nos comunicados oficiais o custo da publicidade
veiculada. Exigência desproporcional e desarrazoada, tendo-se em vista o exagero dos
objetivos visados. Ofensa ao princípio da economicidade (CF, artigo 37, caput). (ADI
2.472-MC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 13-3-02, DJ de 22-11-04)

Discrepa da razoabilidade norteadora dos atos da Administração Pública o fato de o edital


de concurso emprestar ao tempo de serviço público pontuação superior a títulos referentes
a pós-graduação. (RE 205.535-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 22-5-98, DJ
de 14-8-98)

1.8. Princípio da motivação


Significa que a Administração Pública deve motivar seus atos. Motivar tem dois
significados. O primeiro significado tem por conteúdo a ideia de que a Administração Pública só
deve praticar atos se existirem motivos para tanto. Por exemplo, uma exoneração por falta de
assiduidade só será válida se realmente existirem os motivos, isto é, o servidor faltou o serviço.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Motivar também significa que o Administrado tem direito de saber as razões que levaram
determinado ato a ser realizado.

Art. 2° da Lei 9784/99: A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios
da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
critérios de: [...]
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;

CAPÍTULO XI
DO DEVER DE DECIDIR
Art. 48 da CF: A Administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos processos
administrativos e sobre solicitações ou reclamações, em matéria de sua competência.
Art. 49 da CF: Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o
prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente
motivada.
Art. 50 da CF: Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e
dos fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres,
laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
§ 1° A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração
de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou
propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.
§ 2° Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico
que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia
dos interessados.
§ 3° A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais
constará da respectiva ata ou de termo escrito.

1.9. Princípio da eficiência


Mencionado no art. 37, foi inserido pela Emenda Constitucional nº 19. Princípio de algum
modo despiciendo, uma vez que é óbvio que a Administração Pública deve ser eficiente.

1.10. Princípio da Presunção de legitimidade e veracidade


Presume-se que os atos da Administração Pública são conforme a lei (legítimos) e
verdadeiros (conforme a um estado de fatos atual ou passado). Justifica-se devido à supremacia
do Interesse Público.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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2. ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

De volta ao conceito de Administração Pública: um conjunto de órgãos, pessoas e


entidades, realizando a função administrativa de satisfação das necessidades coletivas –
necessidades estas dedutíveis da lei.
É importante dizer que, apesar das dificuldades conceituais, Estado, governo e
Administração Pública não são conceitos equivalentes.

→ Estado: povo, poder soberano e governo por sobre um território;

→ Governo: O Estado é comandado pelo exercício (governo) do poder. O poder,


nos Estados modernos, para fins de controle recíproco, é dividido em 3: Judiciário,
Legislativo e Executivo.

Há Administração Pública nos três poderes. Porém, tanto no Poder Legislativo quanto no
Judiciário, a Administração Pública é meramente instrumental, isto é, serve para apoiar a função
daqueles poderes. Assim, a função do Judiciário é julgar. A Administração Pública no Judiciário
serve meramente de apoio a isto, consubstanciando-se em uma atividade de contratação de
funcionários, elaboração de orçamentos, etc. Também é assim no Legislativo. Não há dúvidas,
deste modo, de que o grosso da Administração Pública se encontra no Poder Executivo, vez que
é deste a atividade de execução da lei.
Entretanto, a atividade do Poder Executivo não se resume à Administração Pública. A
doutrina consente que existe uma distinção entre atos de governo, realizados pelo poder
Executivo que expressam a soberania do país, como é o caso da sanção, do veto, do decreto
autônomo, da declaração de regra, etc., que são diferentes dos atos de mera administração.

Art. 99 da CF: Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira.


§ 1º - Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados
conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.

É importante dizer que os poderes não são pessoas jurídicas. Quem é pessoa jurídica é
a União, os Estados-membros, os Municípios e o Distrito Federal.

Art. 41 do CC: São pessoas jurídicas de direito público interno:


I - a União;

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;


III - os Municípios;

Assim, uma demanda, por exemplo, contra o Congresso Nacional será dirigida contra a
União. Do mesmo modo, se for contra a Câmara de Vereadores, será dirigida ao Município.

3. CENTRALIZAÇÃO OU DESCENTRALIZAÇÃO

A Administração Pública pode ser centralizada ou descentralizada. Na Administração


Pública Centralizada, tudo acontece dentro do âmbito da própria pessoa jurídica. A
Administração Pública centralizada chama-se Administração Pública direta.

Art. 4° do Decreto-Lei 200/67: A Administração Federal compreende:


I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura
administrativa da Presidência da República e dos Ministérios.

Na Administração Pública descentralizada criam-se novas pessoas jurídicas.

Art. 4° do Decreto-Lei 200/67: A Administração Federal compreende:


II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades,
dotadas de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista.
d) fundações públicas.

Em realidade veremos que a Administração Pública compreende ainda outras pessoas


jurídicas.

4. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA

Na Administração direta, aplica-se quase sempre o regime jurídico-administrativo, em sua


forma integral. Afinal de contas, a Administração direta é o núcleo da Administração Pública.
Dentro da Administração Pública se aplicam os conceitos de concentração e desconcentração.
Concentração significa “concentrar” atribuições a um determinado órgão. Desconcentração

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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significa distribuir atribuições a diversos órgãos. Como é nítido, a Administração Pública brasileira
possui diversos órgãos.
Exemplo de Administração direta:
→ Presidente - Ministérios - demais órgãos públicos
→ Governador - Secretarias - demais órgãos públicos
→ Prefeito - Secretarias - demais órgãos públicos

A desconcentração pode ser em razão de grau (Superintendência, Delegacia Regional,


etc.), matéria (secretaria do desporto, saúde, etc.) ou territorial (Comitês de Bacia de tal região,
subprefeitura de tal local, etc.).
Todos os órgãos públicos da Administração Pública brasileira estão estruturados de
maneira hierárquica, uns ligados aos outros. Os órgãos públicos não têm personalidade jurídica.
Se não têm personalidade jurídica, não são titulares de direitos e obrigações. Os órgãos públicos
se constituem por serem partes da estrutura da Administração e enfeixam competências. No
dizer de Hely Lopes Meirelles, compõem um órgão uma função, competência, cargos e agentes.

• O que é um órgão?

Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999.


§ 2° Para os fins desta Lei, consideram-se:
I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da
estrutura da Administração indireta;

Existem três teorias para explicar como um órgão atua:


→ Teoria do mandato:
O Estado outorga um mandato para o servidor atuar em nome do órgão. Isto não
acontece na prática, por óbvio.

→ Teoria da representação:
Assim como na tutela e na curatela, o servidor representa o órgão público.

→ Teoria do órgão:
Do Alemão Otto Gierke. Por força do Direito, a vontade do servidor é atribuída ao
órgão.

208
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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4.1 Hierarquia
A Administração Pública direta (e usualmente também a indireta) rege-se por uma lógica
de hierarquia, entendendo-se esta como o “vínculo de autoridade que une órgãos e agente,
através de escalões sucessivos, numa relação de autoridade, de superior a inferior, de hierarca
a subalterno” (MELLO, 2016).
A autoridade superior, em regra, tem poder de comando, poder de fiscalização, poder de
revisão, poder de punir, poder de delegar atribuições ou de as avocar e poder de definir
atribuições. A hierarquia será vista com mais detalhe no chamado “poder hierárquico”.

4.2. Classificação dos órgãos


• Quanto à importância:
→ Órgãos independentes:
São os órgãos de topo da Administração Pública, e tem nenhuma ou pouca relação
hierárquica com outro órgão. Exemplo: Presidente da República e ministérios, Cúpula do
Ministério Público, Cúpula da Defensoria Pública, Senadores, Deputados, juízes, TCU;

→ Órgãos autônomos:
Imediatamente abaixo dos órgãos independentes: exemplo: receita federal,
imediatamente abaixo do Ministério da Fazenda; Polícia Federal em relação ao Ministério
da Justiça. Apesar dos órgãos autônomos serem subordinados aos independentes, eles
possuem a prerrogativa de defender em juízo seus interesses;

→ Órgãos superiores (exemplo: gerências, órgãos de controle, etc.);

→ Órgãos subalternos

• Quanto à existência de órgãos internos:


→ Simples:
Sem órgãos internos;

→ Compostos:
Subdivididos em outros órgãos. Secretaria de educação municipal.

209
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Quanto à composição:
→ Unipessoal:
Um titular e auxiliares deste titular por uma só pessoa. Exemplo: Ministério e seus
auxiliares, juiz e servidores;

→ Colegiados:
Conselhos.

• Quanto à função:
→ Ativos:
Fazem coisas: licitações, atos materiais (asfaltar, etc.), cobrar tributos;

→ De controle:
Fiscalizam os outros órgãos;

→ Consultivos:
Aconselhamento e emissão de pareceres. A peculiaridade é que o parecer jurídico,
se errôneo, por causar a responsabilização solidária, muito embora ainda a questão seja
controversa.

4.3. Competência
A competência é um poder-dever, imposto pela Lei, para cumprir uma finalidade prevista
nesta mesma lei. A competência é:
→ Obrigatória: não pode o agente deixar de cumpri-la;
→ Irrenunciável: não pode o agente público renunciá-la;
→ Intransferível: não pode ser transferida a título permanente;
→ Imodificável: não pode ser modificada pelo titular do órgão;
→ Imprescritível: a não utilização da competência não gera a caducidade ou
prescrição da competência.

Art. 51 da CF: Compete privativamente à Câmara dos Deputados:

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou


extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação
da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias;

Art. 84 da CF: Compete privativamente ao Presidente da República:


II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração
federal;

Art. 87 da CF: Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte
e um anos e no exercício dos direitos políticos.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas
nesta Constituição e na lei:
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da
administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos
assinados pelo Presidente da República;

Art. 96 da CF: Compete privativamente:


I - aos tribunais:
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem
vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;

4.4. Personalidade judiciária


Excepcionalmente, a Jurisprudência conferiu personalidade de comparecer, como autor
ou ré, a certos órgãos, como os conselhos, Receita Federal, Câmara de Vereadores, etc, desde
que seja para a defesa de seus próprios interesses constitucionais. Exemplo: Prefeito que não
repassa verba à Câmara.

4.5. Criação de órgãos públicos


Só por lei. Interessante é que hoje, mediante decreto, é possível modificar a estrutura dos
órgãos públicos, desde que não implique aumento de despesa.

Art. 48 da CF: Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República,


não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias
de competência da União, especialmente sobre:
IX - organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública
da União e dos Territórios e organização judiciária e do Ministério Público do Distrito
Federal
X - criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas, observado
o que estabelece o art. 84, VI, b;
XI - criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública;

Art. 84 da CF: Compete privativamente ao Presidente da República:


VI - dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento
de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;

Art. 61 da CF: A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro
ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional,

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao


Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta
Constituição
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o
disposto no art. 84, VI.

4.6. Hierarquia e competência


A Administração Pública rege-se por uma lógica hierárquica e piramidal, indo desde o
funcionário mais subalterno até o seu centro neural, que o presidente do Poder Executivo no
âmbito do poder executivo, o Tribunal no âmbito do poder judiciário e as mesas no âmbito do
Poder Legislativo.
A estrutura hierárquica é baseada na competência. Cada órgão possui uma competência
prevista em lei. A Administração Pública tem o poder de se organizar de maneira hierárquica.
Trata-se de um poder introverso, voltado à própria Administração Pública. Tal existe para a
racionalização das atividades da Administração Pública.
O poder hierárquico dá poderes ao superior para dar ordens, rever atos, avocar
atribuições, delegar competências e fiscalizar a atividade dos subordinados. Coordenação e
subordinação da Administração Pública. Deste poder decorrem as possibilidades de:
− Editar atos normativos para organizar o serviço;
− Dar ordens a subordinados;
− Controlar a atividade dos órgãos inferiores;
− Delegar atribuições;
− Avocar atribuições, isto é, concentrar nas mãos do superior poderes dos
inferiores.

Entretanto, a ideia de avocação e de delegação de competências não são triviais.

Art. 12 da Lei nº 9.784/99: Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver
impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda
que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em
razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência
dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes.

Art. 13 da Lei nº 9.784/99: Não podem ser objeto de delegação:


I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.

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Art. 14 da Lei nº 9784/99: O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no
meio oficial.
§ 1° O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da
atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo
conter ressalva de exercício da atribuição delegada.
§ 2° O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante.
§ 3° As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade
e considerar-se-ão editadas pelo delegado.

Art. 15 da Lei nº 9.784/99: Será permitida, em caráter excepcional e por motivos


relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a
órgão hierarquicamente inferior.

5. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA

Art. 4° do Decreto-Lei 200/67: A Administração Federal compreende:


II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades,
dotadas de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista.
d) fundações públicas.

5.1. Administração indireta em espécie


São características das pessoas jurídicas criadas pelo Estado para a Administração
Pública Indireta:
→ Personalidade jurídica própria;
→ Criação ou autorização para criação por Lei, ao contrário das pessoas privadas;
→ Finalidade não é o lucro, mas a busca do interesse público;
→ Ao contrário das pessoas jurídicas de direito privado, seus fins são postos em
lei, e não podem ser modificados.
→ Só por lei podem ser extintas;
→ O Estado exerce algum tipo de controle;
→ Possuem prerrogativas (exemplo: imunidade de impostos) e sujeições
(concurso, licitação) que os particulares usualmente não dispõem;
→ Para todas as entidades da Administração indireta, exige-se concurso, bem
como proíbe-se a acumulação. Os celetistas das empresas públicas, de economia mista
e fundações de caráter privado não tem estabilidade, apesar de entrarem por concurso.
Devem ter direito à defesa na despedida, contudo, que não pode ser arbitrária, conforme
a jurisprudência;

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Os bens das autarquias e fundações de direito públicos são bens públicos


(inalienáveis). O das empresas públicas poderá ser se prestarem serviço público;
→ A responsabilidade de todos os entes da administração indireta é objetiva, isto
é, independe de culpa. Mesmo as concessionárias e permissionárias respondem
objetivamente, muito embora ainda exista discussão judicial sobre o assunto;
→ Na esfera federal, com exceção das empresas de economia mista e falências,
todas as causas são julgadas pela justiça federal. CF, art. 109, I;
→ As empresas públicas, fundações de direito privado e sociedades de economia
mista são executadas judicialmente como empresas normais, tendo seus bens
penhorados. Algumas delas, por prestarem serviços públicos (exemplo: Correios,
Companhias de Docas), pagam por precatórios, como a administração direta e as
autarquias. Art. 100 da CF;
→ Existirá tanto um controle administrativo interno ao Poder Executivo, quanto um
externo pelo Tribunal de Contas. Arts. 70 e 71 da CF;
→ As entidades de Direito público possuem privilégios de ordem processual;
→ Prazo em quádruplo para contestar e em dobro em geral (art. 188 do CPC).
Não se aplicam ao JEC Federal;
→ Reexame necessário;
→ Inaplicabilidade dos efeitos materiais da revelia;
→ Impossibilidade de liminar em desfavor da Administração Pública em certos
casos.

5.2. Entes da Administração Pública


• Autarquias:
Criadas por lei; de direito público, semelhante à Administração Direta; autoadministração
(mas não auto legislação ou autonomia); especialização. Exemplo: INSS.

Art. 5º do Decreto-Lei 200/67: Para os fins desta lei, considera-se:


I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e
receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram,
para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.

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Existem autarquias corporativas. Exemplo: OAB, CREME, etc. Neste último caso, adotam
um regime mais privado. Exige-se delas concurso e licitação, à exceção da OAB, que tem um
regime mais “especial”.

• Fundação:
Patrimônio afetado a algum fim, podendo ser de direito público ou privado; quando de
direito público, são muito semelhantes às autarquias (às vezes chamados de Fundações
Autárquicas).
Fundação Pública de Direito Público: aparecia na Constituição. Sumiu a menção após a
Emenda Constitucional nº 19. O que não significa que não mais exista Fundação Pública de
Direito Público, uma vez que a jurisprudência continua reconhecendo sua existência. O STF
entende que as fundações públicas de direito público se equiparam às autarquias. Fundação
Biblioteca Nacional, IBGE, as Universidades Públicas, etc.
Fundação Pública de Direito Privado: Hospitais Públicos, Fiocruz, Fundação Banco do
Brasil, algumas fundações de apoio às universidades públicas (aberração jurídica).

Art. 5º do Decreto-Lei 200/67: Para os fins desta lei, considera-se:


IV - Fundação Pública - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado,
sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento
de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com
autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção,
e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes.

• Sociedade de economia mista:


Pessoa jurídica de direito privado com conjugação de capital público ou privado, mas
mesmo assim criada por lei, e sob controle do Estado e necessariamente assumindo a forma de
S.A. Autorizada por lei. Executam a atividade econômica do Estado, conforme o art. 173 da CF,
e, por isso, não podem ter privilégios não extensíveis ao setor privado, se concorrerem no
mercado. A Constituição prevê um estatuto de licitação simplificado para as empresas públicas
e sociedades de economia mista, tal estatuto não existe ainda, de modo que a eles se aplica
ainda a Lei nº 8.666 em sua inteireza.

Art. 5º do Decreto-Lei 200/67: Para os fins desta lei, considera-se:


III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito
privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a forma de
sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou
a entidade da Administração Indireta.

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• Empresa pública:
Direito privado, mas capital inteiramente estatal, com organização sob qualquer forma
admitida em Direito (exemplo: LTDA). Autorizada por lei. Executam a atividade econômica do
Estado, conforme o art. 173 da CF, e, por isso, não podem ter privilégios não extensíveis ao setor
privado, se concorrerem no mercado. A Constituição prevê um estatuto de licitação simplificado
para as empresas públicas e sociedades de economia mista, tal estatuto não existe ainda, de
modo que a eles se aplica ainda a lei nº 8.666 em sua inteireza. Empresas públicas e sociedades
de economia mista não falem (Lei nº 11.101, art. 2º). Um exemplo é a Caixa Econômica Federal.

Art. 5º do Decreto-Lei 200/67: Para os fins desta lei, considera-se:


II - Empresa Pública - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com
patrimônio próprio e capital exclusivo da União, criado por lei para a exploração de
atividade econômica que o Govêrno seja levado a exercer por fôrça de contingência ou de
conveniência administrativa podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em
direito.

• Agências:
São autarquias ou fundações com um pouco mais de liberdade para os administradores.
Existem agências executivas e agências reguladoras. Apareceram na onda neoliberal,
quebrando a tradição brasileira de inspiração no direito europeu.

• Agências executivas:
Qualificação dada à autarquia ou fundação que celebre contrato de gestão com o órgão
da administração pública direta a que se acha vinculada, para a melhoria da eficiência e redução
de custos. Trata-se de uma entidade preexistente que recebe esta qualificação (Decretos
Federais nº 2.487 e 2.488). Único caso no Brasil: INMETRO.

• Agências reguladoras:
Já existiam entidades com funções reguladoras, mas sem denominação de agência
(exemplo: instituto do açúcar e do álcool, Bacen, CVM, etc.). Regular significa organizar
determinado setor afeto à agência, bem como controlar as entidades que atuam nesse setor.
Exercem, ao mesmo tempo, poder de polícia, bem como controlam concessões e permissões.
Neste último caso, exercem a importante de função de manter o equilíbrio econômico-financeiro
dos contratos.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Não existe lei geral para as agências reguladoras, elas são criadas por leis esparsas,
adquirindo cores diversas. Um aspecto comum é que são todas autarquias de regime especial.
Este regime especial refere-se, usualmente, à estabilidade de seus dirigentes através de um
mandato fixo, além do caráter final de suas decisões, que não podem ser revisadas pela
Administração Direta.

• Consórcio Público:
São também entidades da Administração indireta, criados a partir da Lei federal nº 11.107.
Tem personalidade jurídica, e são formados pela contratação entre os diferentes entes
federativos. Eles proceder à chamada gestão associada. Os entes irão se associar e formar uma
associação, que poderá ser de direito público ou privado. Para se criar um consórcio, será
necessário, primeiramente, um protocolo de intenções do Executivo, após, lei dos entes
federativos, depois um contrato, e, após, formalização, através de estatutos.
O consórcio público, independentemente de ser de natureza pública ou privada, poderá
promover desapropriações e servidões, ser contratado com dispensa de licitação pela AP, limites
mais elevados para a necessidade de licitação e para as modalidades previstas. Os entes
consorciados firmarão um contrato de rateio e um contrato de programa. O primeiro versará
sobre a repartição das despesas, com a devida inclusão destas nas leis orçamentárias. Já o
contrato de programa tem a ver com a cooperação do consórcio com algum ente federativo.

5.3. Controle administrativo das entidades da administração indireta


As entidades da Administração Indireta têm autoadministração, mas nos limites da lei.
Alguns órgãos fazem o controle das atividades da Administração Indireta, trata-se geralmente de
secretarias ou ministérios. O nome deste vínculo é tutela ou supervisão, e não hierarquia, uma
vez que há uma ligação funcional, e não uma cadeia de ordens, como a hierarquia.
Existe controle administrativo tanto na hierarquia como na tutela ou supervisão, mas a
primeira é característica da Administração Direta, e a segunda da Indireta. Obviamente, este é o
controle administrativo. Existe, ainda, o controle externo, realizado pelos órgãos legislativos, com
auxílio do tribunal de contas, e o judiciário, realizado pelos tribunais.

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6. SERVIDORES PÚBLICOS

• Agentes públicos:
Todos aqueles que prestam serviços de maneira pessoal ao Estado:

• Agentes políticos:
Primeiro escalão: chefes do poder executivo, ministros, parlamentares, juízes, membros
do MP. São regidos por regras constitucionais e leis próprias;

• Militares:
Bombeiros, PMs, membros das forças armadas;

• Particulares em colaboração com o poder público:


Cônsules honorários, tabeliães, notários, jurados, fiscais de urna, etc.)

• Servidores públicos:
Em sentido amplo, são todos aqueles que trabalham para a Administração Pública. Em
sentido estrito, todos aqueles que trabalham para a Administração Pública direta, autarquias e
fundações públicas. Possuem vínculo com Estado, sendo por este remunerado. Compreendem:
→ Servidores públicos estatutários:
Sujeitos ao regime estatutário e ocupantes de cargos públicos. Contratados por
concurso, exceto os Cargos em Confiança. Cada ente federativo pode seus estatutos
gerais ou próprios de cada categoria.

→ Empregados públicos:
São contratados pelo regime da CLT (Com concurso, obviamente), ocupando
emprego público. Os entes federativos devem respeitar a CLT.

→ Servidores temporários:
Contratados por tempo determinado para atender à necessidade temporária de
excepcional interesse público. (37, IX, da CF). Leis Federais 8.745 e 10.667.

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6.1. Diferença entre cargo, emprego e função


• Cargo:
Unidade de atribuições, imposta por lei, que exige concurso público para preenchimento.
O servidor tem seu estatuto na Lei do ente federativo.

• Emprego:
Unidade de atribuições, imposta por lei, que exige concurso público para preenchimento.
O servidor tem seu estatuto na CLT.

• Função:
Tanto o servidor temporário quanto o efetivo quando em direção(confiança). Os cargos
em comissão na verdade preenchem uma função pública.

6.2. Regime jurídico do servidor em sentido amplo


O serviço público é acessível a brasileiros e estrangeiros. Nestes últimos, deve haver
expressa menção na lei que regulamento o cargo, emprego ou função (37, I, CF).
• Ingresso:
Concurso público em todas as hipóteses, exceto para temporários e cargo em comissão.
Art. 37, III, da CF, diz que os concursos terão dois anos de validade, prorrogáveis por mais dois
anos. Passar e estar entre os classificados não gera direito à nomeação, mas gera prioridade
sobre novos concursados. Pessoas portadoras de deficiência terão reserva de vagas (37, VIII da
CF). São vedadas as restrições de idade, exceto para determinados cargos óbvios, como
soldado;

• Remuneração:
Isonomia entre poderes, proibida a vinculação, evitando os gatilhos (art. 37, XIII), aumento
só se dá se houver previsão orçamentária, sendo que os chefes dos poderes atuam
independentemente, neste sentido (o Legislativo, por exemplo, não pode aumentar os salários
do Executivo), fixação por lei, teto previsto no art. 37, XI + 397, § 9º + § 12. Vige a irredutibilidade,
salvo o teto;

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Limites com gastos de servidores:


(Lei Complementar nº 101): União, 50%, Estados e Municípios 60% da receita líquida.

• Direito de greve e associação sindical:


É livre a associação sindical entre os servidores públicos. Já o direito de greve deverá ser
regulamentado em lei (art. 37, VI e VII). Tal lei ainda não existe, de modo que se controverte
acerca de sua possibilidade hoje.

• Acumulação de cargos:
É vedada a acumulação de cargos, empregos e funções públicos remunerados, exceto
(37, XVI):
→ Dois cargos de professor;
→ Professor + técnico ou científico;
→ Dois cargos como profissional da saúde.
→ Em outras partes da Constituição, permite-se outras acumulações:
→ Vereador + serviço público;
→ Juízes e MP + magistério/docência.

6.3. Remuneração dos servidores


Alguns servidores recebem subsídio, cuja principal característica é serem pagos em
parcela única, isto é, não recebem quaisquer adicionais, exceto os constitucionais do art. 7º da
Constituição (13º salário, horas extras, adicional noturno, salário família, adicional de férias e
licença gestante).
Recebem subsídio os agentes políticos e outros servidores de alta qualificação (AGU,
procuradores de Estado, defensores públicos, policiais, membros dos Tribunais de contas).
Facultativamente, os outros servidores poderão receber subsídios, muito embora isto ainda não
aconteça. Os outros servidores recebem remuneração

6.4. Teto remuneratório do serviço público


Informativo 862, do STF:

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos, empregos e


funções, a incidência do art. 37, XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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cada um dos vínculos formalizados, afastada a observância do teto remuneratório quanto


ao somatório dos ganhos do agente público.
Logo, o teto deverá ser considerado especificamente para cada cargo, sendo permitido
que ele receba acima do limite previsto no art. 37, XI da CF se considerarmos seus ganhos
globais, situação essa que pode ocorrer por exemplo de um Ministro do STF ser professor
Universitário de uma Universidade Federal e somado ao que recebe como Ministro do
Supremo. (STF. Plenário. RE 612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgados em 26 e 27/4/2017)

→ Lembre-se: acumulação de cargo público e teto remuneratório:


A CF/88 (art. 37, XVI) proíbe a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto:
dois cargos de professor; um cargo de professor com outro técnico ou científico; dois
cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas.
Nessas hipóteses o teto deverá ser considerado para cada um dos vínculos, de forma
separada. É uma interpretação além da literalidade do art. 37, XI.
Reforçou nesse sentido o entendimento que o Superior Tribunal de Justiça já tinha
a respeito dessa matéria:

(...) A jurisprudência desta Corte orienta-se no sentido de que em se tratando de


cumulação legítima de cargos, a remuneração do servidor público não se submete ao teto
constitucional, devendo os cargos, para este fim, ser considerados isoladamente. (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 45.937/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
05/11/2015

Não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o


fundamento de isonomia:

A decisão judicial que concede a servidor público a gratificação de 13,23% prevista na Lei
nº 10.698/2003 afronta a súmula vinculante 37, mesmo que o julgador fundamente sua
decisão no art. 37, X, da CF/88 e no art. 6º da Lei nº 13.317/2016. Não cabe ao Poder
Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos
sob o fundamento de isonomia.
STF. 1ª Turma. Rcl 25927 AgR/SE e Rcl 24965 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 31/10/2017 (Info 884). STF. 1ª Turma.
Rcl 24965 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 28/11/2017 (Info 886).

6.5. Processo administrativo disciplinar


É um dos meios de apuração de ilícitos administrativos, junto às sindicâncias e a verdade
sabida. Os dois últimos são aplicáveis em casos de pequenas transgressões (em realidade, a
verdade sabida já não mais existe, em face do princípio da ampla defesa).

221
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

• Sindicância:
Trata-se de um procedimento sumário, onde, no nível federal, pode resultar arquivamento
do processo, aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 dias, e instauração
do processo disciplinar.

• Processo administrativo:
Vai existir quando houver risco de perda do cargo, aposentadoria ou pena de suspensão
por mais de 30 dias.

6.6. Aposentadoria dos servidores públicos


O servidor público pode aposentar-se tanto no regime geral (INSS) quanto em um regime
próprio (organizado pelos entes federativos, com regime jurídico específico). Nos dois casos, os
regimes hoje são contributivos, isto é, existe contribuição ao regime de previdência. Os
servidores públicos em regime próprio inclusive contribuem depois de aposentados.
Submetem-se ao regime do INSS os temporários, os empregados públicos, os CCs, e em
alguns casos, os Vereadores e Prefeitos. Tem regime próprio os estatutários e os agentes
políticos.
Para o futuro, a norma constitucional planeja que os servidores estatutários terão um
regime próprio, sujeito aos limites de valor da previdência privada, em conjunto com uma
previdência complementar, também organizada pelo Estado, mas a parte do regime próprio.
A aposentadoria compulsória no poder público se dá aos 70 anos.
− Estabilidade: 3 anos de exercício (estágio probatório). Só para quem ocupa
cargo público.
− Perda do cargo: procedimento administrativo de avaliação de desempenho,
com ampla defesa; limite de despesa com pessoal; sentença judicial.

6.7. Improbidade administrativa


Quem quer dê prejuízo à Administração Pública pode ser punido civilmente,
administrativamente e criminalmente. Existe ainda uma quarta modalidade, que são os atos de
improbidade administrativa. A redação da norma dava-se pela Lei nº 8.429/92, atualizada pela
Lei nº 14.230, de 2021.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Elementos do ato de improbidade administrativa:


→ Sujeito passivo:
Quem sofreu o ato. Toda e qualquer entidade da Administração Pública ou outra
que a Administração Pública tenha concorrido com mais de 50% do patrimônio, ou
qualquer uma que receba dinheiro público, neste último caso limitada a condenação ao
prejuízo aos cofres públicos.

→ Sujeito ativo:
Quem praticou o ato. Qualquer que se envolver com a Administração Pública, seja
particular, seja agente público. Existe polêmica se os agentes políticos se enquadram
nesta hipótese. Dúvidas se esses últimos têm foro privilegiado ou não.

→ Ato danoso:
Aquele ato que importa em enriquecimento ilícito (o agente ativo tem ou pode ter
incremento em seu patrimônio), prejuízo ao erário (o erário tem ou pode ter prejuízo, sem
acréscimo ao patrimônio do agente ativo) ou atentado contra os princípios da
Administração Pública (os princípios da Administração Pública são atingidos, muito
embora não existe prejuízo e tampouco enriquecimento ilícito). São três categorias de atos
que importam em diferentes graduações de punição.

→ Elemento subjetivo: Dolo.

→ Sanções cabíveis:
a) Enriquecimento ilícito:
 Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;
 Perda da função pública;
 Suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos;
 Pagamento de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial;
 Proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
não superior a 14 (catorze) anos.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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b) Prejuízo ao erário:
 Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se
concorrer esta circunstância, perda da função pública;
 Suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos;
 Pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano e proibição de
contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior
a 12 (doze) anos.

c) Violação a princípio:
 Pagamento de multa civil de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da
remuneração percebida pelo agente;
 Proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
não superior a 4 (quatro) anos.

• Procedimentos:
Qualquer pessoa pode representar perante a Administração Pública acerca de atos de
improbidade, desde que seja fundamentada, escrita e assinada. Após a apuração, o Ministério
Público ou a entidade da Administração Pública interessada ajuizará ação judicial, visando à
aplicação das penalidades.
STF e a tese de repercussão geral sobre Recurso Administrativo: “É inconstitucional a
exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de recurso administrativo”.

224
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA

1. DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA

A base dos princípios gerais da atividade econômica pauta-se no fundamento da


República da “valorização do trabalho e da livre iniciativa (Art. 1º, IV, da CF).

Art. 170 da CF. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:

Atenção!
Base da Atividade Econômica pauta-se o
Fundamento da República Federativa:
Art. 1º, IV da CF - os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa;
Regulamentados pela Declaração de Direitos
de Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/19).

I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme
o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as
leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

A regulamentação da liberdade econômica no Brasil se dá pela Declaração de Direitos de


Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/19).

225
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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→ Atenção às súmulas vinculantes:


Súmula Vinculante 38: É competente o Município para fixar o horário de
funcionamento de estabelecimento comercial.

Súmula Vinculante 49: Ofende o princípio da livre concorrência lei


municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do
mesmo ramo em determinada área.

• Da livre iniciativa (fundamento da República) e a interpretação do STF

→ Exigência de Cotas de Veículos adaptados para locadoras de carros:

O caput do art. 52 da Lei 13.146/2015, pelo qual fixada cota de veículos adaptados a
pessoas com deficiência em locadoras, consubstancia disciplina legítima da ordem
econômica. Não se vislumbra, na espécie, contrariedade ao princípio da livre
iniciativa, porque concretiza os direitos fundamentais de mobilidade pessoal e de
acesso a tecnologia assistiva. [ADI 5.452, voto da rel. min. Cármen Lúcia, j. 22-8-
2020, P, DJE de 6-10-2020).

→ Da Constitucionalidade da Terceirização das atividades-fim de uma


empresa:

É legítima a terceirização das atividades-fim de uma empresa. Como já foi decidido pelo
Supremo Tribunal Federal, a Constituição não impõe uma única forma de estruturar a
produção. Ao contrário, o princípio constitucional da livre iniciativa garante aos agentes
econômicos liberdade para eleger suas estratégias empresariais dentro do marco vigente
(CF/1988, art. 170). (ADC 48, rel. min. Roberto Barroso, j. 15-4-2020, P, DJE de 19-5-
2020).

→ Da Terceirização das Atividades-fim x Constitucionalidade:

Conforme decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da ADPF 324, Rel.
Min. Luís Roberto Barroso, a terceirização das atividades-meio ou das atividades-fim de
uma empresa tem amparo nos princípios constitucionais da livre iniciativa e da livre
concorrência, que asseguram aos agentes econômicos a liberdade de decidir como
estruturarão seu negócio (art. 170, caput e inc. IV, CF). Do mesmo modo, a decisão sobre
quanto pagar ao empregado é tomada por cada empresa, de acordo com suas
capacidades econômicas, e protegida pelos mesmos princípios constitucionais. Portanto,
não se pode sujeitar a contratada à decisão da tomadora e vice-versa. Além disso, a
exigência de equiparação, por via transversa, inviabiliza a terceirização para fins de
redução de custos, esvaziando o instituto. (...) A equiparação de remuneração entre
empregados da empresa tomadora de serviços e empregados da empresa contratada
(terceirizada) fere o princípio da livre iniciativa, por se tratar de agentes econômicos

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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distintos, que não podem estar sujeitos a decisões empresariais que não são suas. (RE
635.546, rel. p/ o ac. min. Roberto Barroso, j. 29-3-2021, P, DJE de 19-5-2021).

→ Da Constitucionalidade do transporte particular por App:

O motorista particular, em sua atividade laboral, é protegido pela liberdade fundamental


insculpida no art. 5º, XIII, da Carta Magna, submetendo-se apenas à regulação
proporcionalmente definida em lei federal, pelo que o art. 3º, VIII, da Lei Federal
12.965/2014 (Marco Civil da Internet) e a Lei Federal 12.587/2012, alterada pela Lei 13.640
de 26 de março de 2018, garantem a operação de serviços remunerados de transporte de
passageiros por aplicativos. A liberdade de iniciativa garantida pelos artigos 1º, IV, e 170
da Constituição brasileira consubstancia cláusula de proteção destacada no ordenamento
pátrio como fundamento da República e é característica de seleto grupo das Constituições
ao redor do mundo, por isso que não pode ser amesquinhada para afastar ou restringir
injustificadamente o controle judicial de atos normativos que afrontem liberdades
econômicas básicas. (...) O exercício de atividades econômicas e profissionais por
particulares deve ser protegido da coerção arbitrária por parte do Estado,
competindo ao Judiciário, à luz do sistema de freios e contrapesos estabelecidos
na Constituição brasileira, invalidar atos normativos que estabeleçam restrições
desproporcionais à livre iniciativa e à liberdade profissional.(...) A Constituição
impõe ao regulador, mesmo na tarefa de ordenação das cidades, a opção pela
medida que não exerça restrições injustificáveis às liberdades fundamentais de
iniciativa e de exercício profissional (art. 1º, IV, e 170; art. 5º, XIII, CRFB), sendo
inequívoco que a necessidade de aperfeiçoar o uso das vias públicas não autoriza a
criação de um oligopólio prejudicial a consumidores e potenciais prestadores de serviço
no setor, notadamente quando há alternativas conhecidas para o atingimento da mesma
finalidade e à vista de evidências empíricas sobre os benefícios gerados à fluidez do
trânsito por aplicativos de transporte, tornando patente que a norma proibitiva nega ‘ao
cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente’, em contrariedade ao mandamento contido
no art. 144, § 10, I, da Constituição, incluído pela Emenda Constitucional 82/2014. (ADPF
449, rel. min. Luiz Fux, j. 8-5-2019, P, DJE de 2-9-2019)

• Os investimentos de capital estrangeiro no Brasil (art. 172 da CF:


→ Serão disciplinados por lei, com base no interesse nacional;
→ Terão incentivo para reinvestimentos;
→ A remessa de lucros será regulada.

2. DA ATIVIDADE EMPRESARIAL REALIZADA PELO ESTADO

A regra geral é que o Estado não atue na atividade econômica. Contudo, o Estado poderá
atuar nos casos previstos expressamente pela constituição e quando for necessário aos
imperativos da segurança nacional ou relevante ao interesse coletivo, conforme definido em lei,
nos termos do art. 173 da Constituição Federal.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de


atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos
imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme
definidos em lei.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de
economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de
produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre:

ATENÇÃO!
ADI SERPRO – ADI 4829 (SERVICO FEDERAL DE PROCESSAMENTO DE DADOS).
Os arts. 170, parágrafo único, e 173, caput, da CF autorizam o legislador a restringir o
livre exercício de atividade econômica para preservar outros direitos e valores
constitucionais, destacando-se, no caso de serviços estratégicos de tecnologia da
informação contratados pela União, os imperativos da soberania, da segurança nacional
e da proteção da privacidade de contribuintes e destinatários de programas
governamentais. Interesse público a legitimar decisão do legislador no sentido da
prestação de serviços estratégicos de tecnologia da informação com exclusividade por
empresa pública federal criada para esse fim. (ADI 4.829, rel. min. Rosa Weber, j. 22-3-
2021, P, DJE de 12-4-2021).
Súmula 556 - STF
É competente a Justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de
economia mista.

• Vamos aos incisos do art. 173, § 1º, da CF/88:

I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade;

→ As empresas do poder público precisam seguir as mesmas regras das


empresas privadas.

II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos
direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários;

→ Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista são obrigadas por


regras constitucionais a fazer licitações.

III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os


princípios da administração pública;
IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal, com
a participação de acionistas minoritários;

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos administradores.

→ Da Proibição de privilégios fiscais – Art. 173 da CF:

§ 2º As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar


de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.
§ 3º A lei regulamentará as relações da empresa pública com o Estado e a sociedade.
§ 4º - lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à
eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.
§ 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica,
estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua
natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia
popular.

→ Estado com agente normativo e regulador da atividade econômica.


Estabelece o art. 174 da CF/88:

Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado


exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo
este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
§ 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional
equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de
desenvolvimento.
§ 2º A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.

ATENÇÃO!
Do Apoio ao Cooperativismo (Art. 174, § 2º da CF).
Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo. Contribuição para o seu
financiamento. (...) A contribuição para o SESCOOP tem natureza jurídica de contribuição
de intervenção no domínio econômico (art. 149 da Constituição) destinada a incentivar o
cooperativismo como forma de organização da atividade econômica, com amparo no § 2º
do artigo 174 da Carta Política. (...) O estímulo ao cooperativismo é finalidade pública, por
expressa previsão constitucional — ‘a lei apoiará e estimulará o cooperativismo’ (art. 174,
§ 2º, da CF) – e o dever de prestar contas ao TCU está previsto, em caráter meramente
didático, pois existiria de qualquer forma, no caput do artigo 8º da MP 2.168-40. (ADI
1.924, rel. min. Rosa Weber, j. 16-9-2020, P, DJE de 5-10-2020).

Atenção! As Regras a seguir não se aplicam as Terras Indígenas (Art. 231, § 7º,
da CF)

229
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Art. 174 da CF: § 3º O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em


cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-
social dos garimpeiros.
§ 4º As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão prioridade na autorização
ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas
áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo com o art. 21, XXV, na forma
da lei.

→ Da Prestação de Serviços Públicos:


 Pode ser de forma direta;
 Pode ser em regime de concessão;
 Pode ser em regime de permissão.

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob


regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação
de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos,
o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições
de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.

ATENÇÃO

Segundo o STF o Serviço Postal é Serviço Público:


Tema de RG – 402: Não incide o ICMS sobre o serviço de transporte de
encomendas realizado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
- ECT, tendo em vista a imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, a, da
Constituição Federal.
Tema de RG 854: Salvo em situações excepcionais devidamente
comprovadas, serviço público de transporte coletivo pressupõe prévia
licitação

→ Dos recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica

Os recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica são bens da União e constituem


propriedade diferente da do solo, fica, contudo, assegurada participação ao proprietário do solo

230
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei. Quando tais recursos estiverem
em propriedade de outro ente da federação, estes também terão direito à participação no que
tange à exploração, nos termos do art. 20, §1º, CF.

Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de


energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de
exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a
propriedade do produto da lavra.
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que
se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização
ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa
constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no País, na
forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas atividades se
desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
§ 2º - É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra, na
forma e no valor que dispuser a lei.
§ 3º A autorização de pesquisa será sempre por prazo determinado, e as autorizações e
concessões previstas neste artigo não poderão ser cedidas ou transferidas, total ou
parcialmente, sem prévia anuência do poder concedente.
§ 4º Não dependerá de autorização ou concessão o aproveitamento do potencial de
energia renovável de capacidade reduzida.

No que tange às terras indígenas, deve-se ter presente o disposto no art. 231, §2º e §3º,
da CF, que determinam que as comunidades possuem usufruto exclusivo sobre as riquezas do
solo, rios e lagos de suas terras. Pode, contudo, haver autorização para aproveitamento de
recurso hídricos, pesquisa e lavra de recursos minerais. Para tanto, quem autorizará, mediante
decreto, é o CN (art. 49, inciso XVI), devendo, apenas, ouvir as comunidades afetadas e a estas,
na forma da lei, se assegura o produto da lavra.

3. DO CONCEITO DE MONOPÓLIO

Monopólio é o domínio de um único fornecedor sobre a oferta de um produto ou serviço


que não possui substituto. O monopólio estatal consiste na atividade produtiva de fornecimento
de produtos ou serviços, ou na exploração e gerenciamento de recursos, entre outros, onde
somente um órgão ou empresa estatal possa atuar naquela determinada área sem a presença
de concorrentes.

Art. 177. Constituem monopólio da União:


I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos
fluidos;
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;

231
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades
previstas nos incisos anteriores;
IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos
de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo
bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem;
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o
comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos
radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob
regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta
Constituição Federal.

4. DA REGULAÇÃO DOS TRANSPORTES

Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre,
devendo, quanto à ordenação do transporte internacional, observar os acordos firmados
pela União, atendido o princípio da reciprocidade.
Parágrafo único. Na ordenação do transporte aquático, a lei estabelecerá as condições
em que o transporte de mercadorias na cabotagem e a navegação interior poderão ser
feitos por embarcações estrangeiras.

ATENÇÃO!

Tema de Repercussão Geral (RG) 210:


Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os
tratados internacionais limitadores da responsabilidade das
transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de
Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do
Consumidor. (RE 636.331, rel. min. Gilmar Mendes, j. 25-5-2017, P, DJE
de 13-11-2017, Tema 210).

Tal se aplica à indenização por danos materiais, não se aplicando aos danos morais,
conforme posicionamento Tema de Repercussão Geral 1240: “Não se aplicam as Convenções
de Varsóvia e Montreal às hipóteses de danos extrapatrimoniais decorrentes de contrato de
transporte aéreo internacional”.

5. DO TRATAMENTO DIFERENCIADO PARA AS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE


E MICROEMPRESAS

232
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às


microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento
jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações
administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução
destas por meio de lei.

Microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) terão, por exemplo, a possibilidade
de estarem inscritas no Sistema Simples. A Lei Complementar 123 de 2006 institui o Estatuto
Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

Art. 180. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão e


incentivarão o turismo como fator de desenvolvimento social e econômico.

6. PROTEÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA NO BRASIL

Art. 181. O atendimento de requisição de documento ou informação de natureza comercial,


feita por autoridade administrativa ou judiciária estrangeira, a pessoa física ou jurídica
residente ou domiciliada no País dependerá de autorização do Poder competente.

7. DA POLÍTICA URBANA

O desenvolvimento urbano deve ser executado pelos municípios.

Art. 182 da CF. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

ATENÇÃO!

Tema de Repercussão Geral nº 492 - É inconstitucional a cobrança por


parte de associação de taxa de manutenção e conservação de loteamento
imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei
13.465/17, ou de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir da
qual se torna possível a cotização dos proprietários de imóveis, titulares de
direitos ou moradores em loteamentos de acesso controlado, que i) já
possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a
administradoras de imóveis ou (ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato
constitutivo da obrigação esteja registrado no competente Registro de

233
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Imóveis. (RE 695.911, rel. min. Dias Toffoli, j. 15-12-2020, P, DJE de 19-4-
2021, Tema 492).

7.1. Da obrigatoriedade do Plano Diretor

Art. 182, § 1º da CF. O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para
cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana.

7.2 Do Plano Diretor


A Constituição, em matéria de Direito Urbanístico, embora prevista a competência material
da União para a edição de diretrizes para o desenvolvimento urbano (art. 21, XX, da CF) e regras
gerais sobre direito urbanístico (art. 24, I, c/c § 1º, da CF), conferiu protagonismo aos Municípios
na concepção e execução dessas políticas públicas (art. 30, I e VIII, c/c art. 182, da CF), como
previsto na Lei Federal 10.257/2001, ao atribuir aos Poderes Públicos municipais a edição dos
planos diretores, como instrumentos de política urbana. (ADI 5.696, rel. min. Alexandre de
Moraes, j. 25-10-2019, P, DJE de 11-11-2019).

7.3. Da Função Social da Propriedade Urbana

Art. 182, § 2º da CF. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

→ Súmula 668 do STF:


É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da EC 29/2000,
alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da
função social da propriedade urbana

7.4. Da desapropriação e da função social da propriedade

§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa


indenização em dinheiro.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no
plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado,
subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,
sucessivamente, de:

234
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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I - parcelamento ou edificação compulsórios;


II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão
previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos,
em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os
juros legais.

7.5. Da usucapião urbana

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher,
ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

ATENÇÃO!

Tema de Repercussão geral nº 815 do STF (RE 422349). Tese:


Preenchidos os requisitos do art. 183 da Constituição Federal, o
reconhecimento do direito à usucapião especial urbana não pode ser
obstado por legislação infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos
na respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do lote).

8. DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA

Da Desapropriação por descumprimento da função social da propriedade rural, para fins


da reforma agrária:

Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma
agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia
e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor
real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e
cuja utilização será definida em lei.

235
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.


§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária,
autoriza a União a propor a ação de desapropriação.
§ 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito
sumário, para o processo judicial de desapropriação.
§ 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim
como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no
exercício.
§ 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de
transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária.

Não serão objetos de desapropriação para fins da reforma agrária a:

Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:


I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário
não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará
normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social.
→ ADI 3865: Quanto à propriedade produtiva para que não haja a desapropriação é
necessário, também, que esteja cumprindo a função social da propriedade, ou seja,
observe todos os requisitos do art. 186 da Constituição Federal. Nos termos do voto
do Ministro Relator:
Antes, a plena compatibilidade dos arts. 6º e 9º da Lei 8.629/93 deve-se a duas razões: a
primeira é que o próprio texto constitucional exige, de forma inequívoca, o cumprimento
da função social da propriedade produtiva como requisito simultâneo para a sua
inexpropriabilidade. A segunda é que, ainda que a inequivocidade seja rejeitada, seria
preciso reconhecer, ao menos, que o texto constitucional encerra uma plurissignificação.
Em virtude dessa pluralidade de sentidos, é consentânea com a Constituição a opção do
legislador, entre as possibilidade abertas pelo texto constitucional, por uma interpretação
que harmonize as garantias constitucionais da propriedade produtiva com a
funcionalização social exigida de todas as propriedades.
[...]
A hipótese do art. 185, I, da CRFB é, no entanto, distinta da que consta do inciso II do
mesmo artigo. Isso porque há, no parágrafo único do art. 185, expresso apelo ao legislador
para que fixe por lei, quanto à propriedade produtiva, “normas para o cumprimento dos
requisitos relativos à sua função social”.

8.1. Da função social da propriedade rural


O que é a função social da propriedade rural?

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

236
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação
efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como
dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta,
especialmente:
I - os instrumentos creditícios e fiscais;
II - os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização;
III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia;
IV - a assistência técnica e extensão rural;
V - o seguro agrícola;
VI - o cooperativismo;
VII - a eletrificação rural e irrigação;
VIII - a habitação para o trabalhador rural.
§ 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades agro-industriais, agropecuárias,
pesqueiras e florestais.
§ 2º Serão compatibilizadas as ações de política agrícola e de reforma agrária.

Atenção!
As atividades de assistência técnica e extensão
rural, positivadas no art. 187, IV, da Constituição
da República como instrumentos de realização da
política agrícola do Estado, traduzem atividades
estatais típicas. (ADPF 437, rel. min. Rosa Weber,
j. 16-9-2020, P, DJE de 5-10-2020).

Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política
agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.
§ 1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a
dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa,
dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional.
§ 2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões de
terras públicas para fins de reforma agrária.

Art. 189. Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária


receberão títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de
dez anos.
Parágrafo único. O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou
à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil, nos termos e condições
previstos em lei.

Art. 190. A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por
pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de
autorização do Congresso Nacional.

8.2. Da usucapião especial constitucional rural

237
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como
seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não
superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. (Usucapião Rural Especial)
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

9. DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o


desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas
as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por
leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro
nas instituições que o integram.

ATENÇÃO!
Súmula Vinculante nº 7 do STF:
A norma do § 3º do art. 192 da Constituição, revogada pela EC 40/2003, que limitava a
taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei
complementar.
ADI 6.262:
A regulação do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos
Automotores de Vias Terrestres e do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados
por Embarcações ou por sua Carga exige, nos termos do art. 192 da Constituição Federal,
lei complementar. (ADI 6.262 MC, rel. min. Edson Fachin, j. 20-12-2019, P, DJE de 22-4-
2020).

238
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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ORDEM SOCIAL

1. DA TEORIA GERAL DA ORDEM SOCIAL

Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o
bem-estar e a justiça sociais.

2. DA SEGURIDADE SOCIAL (ARTS. 194 A 204 DA CF)

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa


dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde,
à previdência e à assistência social.

A Seguridade Social se constituiu num tripé com 3 elementos:


→ Saúde (arts. 196 a 200, CF/88): sem contribuição e os beneficiários são todos;
→ Previdência Social (arts. 201 e 202, CF/88): com contribuição e os
beneficiários são aqueles que contribuem;
→ Assistência Social (arts. 203 e 204, CF/88): não há contribuição e os
beneficiários são aqueles que necessitam (os necessitados).

2.1. Do direito à saúde (art. 196 a art. 200 da CF)


A saúde é um direito fundamental social que é extensivo a todos e que precisa ser
prestado pelo Estado brasileiro por intermédio do SUS em seus diversos níveis de atuação
integral. O acesso ao direito à saúde no Brasil é universal e igualitário.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

O Art. 197 da constituição federal, permite a execução dos serviços de saúde pelo poder
público de forma direta e indireta, mas também não elimina a possibilidade da atuação de
pessoas físicas e jurídicas de direito privado.

239
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder
público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por
pessoa física ou jurídica de direito privado.

• Esquema hierárquico das normas para o combate ao coronavírus:

→ Julgamentos importantes do STF na Pandemia:


 ADPF 669 - ministro Luís Roberto Barroso, cujo objeto foi a campanha
publicitária do governo Federal nominada "O Brasil Não Pode Parar".
Conforme a proponente, tal campanha veicularia noções falsas sobre
a pandemia, induzindo o público a reproduzir condutas acentuando o

240
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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contágio pelo Coronavírus. A cautelar foi concedida, proibindo esta e


qualquer campanha similar.
 ADPF 672, cujo relator foi o ministro Alexandre de Moraes. Em síntese,
seu voto assegurou o federalismo, de modo que aos entes federativos
fosse permitido o exercício de sua competência para implementar
medidas sanitárias de contenção à disseminação do Coronavírus.
 ADI 6.343, suspendendo parcialmente a eficácia da letra das medidas
provisórias 926 e 927.
 ADI 6.341, que trazia à tona a problemática da possibilidade de entes
federativos acolherem providências mais restritivas que a União no que
concerne ao combate ao Covid-19, várias outras decisões tomaram o
caminho de fortalecer o federalismo em sua forma descentralizada.

• O Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid?


O STF julgou parcialmente procedente ADI, para conferir interpretação conforme à
Constituição ao art. 3º, III, “d”, da Lei nº 13.979/2020. Ao fazer isso, o STF disse que o Poder
Público pode determinar aos cidadãos que se submetam, compulsoriamente, à vacinação contra
a Covid-19, prevista na Lei nº 13.979/2020.

AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE. VACINAÇÃO COMPULSÓRIA


CONTRA A COVID-19 PREVISTA NA LEI 13.979/2020. PRETENSÃO DE ALCANÇAR A
IMUNIDADE DE REBANHO. PROTEÇÃO DA COLETIVIDADE, EM ESPECIAL DOS
MAIS VULNERÁVEIS. DIREITO SOCIAL À SAÚDE. PROIBIÇÃO DE VACINAÇÃO
FORÇADA. EXIGÊNCIA DE PRÉVIO CONSENTIMENTO INFORMADO DO USUÁRIO.
INTANGIBILIDADE DO CORPO HUMANO. PREVALÊNCIA DO PRINCÍPIO DA
DIGNIDADE HUMANA. INVIOLABILIDADE DO DIREITO À VIDA, LIBERDADE,
SEGURANÇA, PROPRIEDADE, INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. VEDAÇÃO DA
TORTURA E DO TRATAMENTO DESUMANO OU DEGRADANTE.
COMPULSORIEDADE DA IMUNIZAÇÃO A SER ALÇANÇADA MEDIANTE
RESTRIÇÕES INDIRETAS. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DE EVIDÊNCIAS
CIENTÍFICAS E ANÁLISES DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS. EXIGÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA SEGURANÇA E EFICÁCIA DAS VACINAS. LIMITES À
OBRIGATORIEDADE DA IMUNIZAÇÃO CONSISTENTES NA ESTRITA OBSERVÂNCIA
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. COMPETÊNCIA COMUM DA UNIÃO,
ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS PARA CUIDAR DA SAÚDE E
ASSISTÊNCIA PÚBLICA. ADIS CONHECIDAS E JULGADAS PARCIALMENTE
PROCEDENTES. I – A vacinação em massa da população constitui medida adotada pelas
autoridades de saúde pública, com caráter preventivo, apta a reduzir a morbimortalidade
de doenças infeciosas transmissíveis e a provocar imunidade de rebanho, com vistas a
proteger toda a coletividade, em especial os mais vulneráveis. II – A obrigatoriedade da
vacinação a que se refere a legislação sanitária brasileira não pode contemplar quaisquer
medidas invasivas, aflitivas ou coativas, em decorrência direta do direito à intangibilidade,
inviolabilidade e integridade do corpo humano, afigurando-se flagrantemente

241
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

inconstitucional toda determinação legal, regulamentar ou administrativa no sentido de


implementar a vacinação sem o expresso consentimento informado das pessoas. III – A
previsão de vacinação obrigatória, excluída a imposição de vacinação forçada, afigura-se
legítima, desde que as medidas às quais se sujeitam os refratários observem os critérios
constantes da própria Lei 13.979/2020, especificamente nos incisos I, II, e III do § 2º do
art. 3º, a saber, o direito à informação, à assistência familiar, ao tratamento gratuito e,
ainda, ao “pleno respeito à dignidade, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais
das pessoas”, bem como os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, de forma
a não ameaçar a integridade física e moral dos recalcitrantes. IV – A competência do
Ministério da Saúde para coordenar o Programa Nacional de Imunizações e definir as
vacinas integrantes do calendário nacional de imunização não exclui a dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios para estabelecer medidas profiláticas e terapêuticas
destinadas a enfrentar a pandemia decorrente do novo coronavírus, em âmbito regional
ou local, no exercício do poder-dever de “cuidar da saúde e assistência pública” que lhes
é cometido pelo art. 23, II, da Constituição Federal. V - ADIs conhecidas e julgadas
parcialmente procedentes para conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 3º,
III, d, da Lei 13.979/2020, de maneira a estabelecer que: (A) a vacinação compulsória
não significa vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário,
podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais
compreendem, dentre outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou à
frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela
decorrentes, e (i) tenham como base evidências científicas e análises estratégicas
pertinentes, (ii) venham acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia,
segurança e contraindicações dos imunizantes, (iii) respeitem a dignidade humana
e os direitos fundamentais das pessoas; (iv) atendam aos critérios de razoabilidade
e proporcionalidade, e (v) sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente;
e (B) tais medidas, com as limitações expostas, podem ser implementadas tanto
pela União como pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as
respectivas esferas de competência. (ADI 6586, Relator(a): RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-063 DIVULG 06-04-2021 PUBLIC 07-04-2021)

• Recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor, por motivos de


consciência e crença filosófica:

Tema de RG 1103: É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina


que, registrada em órgão de vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa
Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei ou (iii)
seja objeto de determinação da União, Estado, Distrito Federal ou Município, com base
em consenso médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza violação à liberdade de
consciência e de convicção filosófica dos pais ou responsáveis, nem tampouco ao poder
familiar. STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16 e
17/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 1103) (Info 1003).

• O Estado pode ser obrigado a fornecer medicamento não registrado na ANVISA?

Cabe ao Estado fornecer, em termos excepcionais, medicamento que, embora não possua
registro na ANVISA, tem a sua importação autorizada pela agência de vigilância sanitária,
desde que comprovada a incapacidade econômica do paciente, a
imprescindibilidade clínica do tratamento, e a impossibilidade de substituição por
outro similar constante das listas oficiais de dispensação de medicamentos e os
protocolos de intervenção terapêutica do SUS. (Tema de RG nº 1161 do STF)

242
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

• Se o hospital atender um paciente SUS, como será o ressarcimento pelo sistema?

“O ressarcimento de serviços de saúde prestados por unidade privada em favor de


paciente do Sistema Único de Saúde, em cumprimento de ordem judicial, deve utilizar
como critério o mesmo que é adotado para o ressarcimento do Sistema Único de Saúde
por serviços prestados a beneficiários de planos de saúde”. STF. Plenário. RE 666094/DF,
Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/09/2021 (Repercussão Geral – Tema 1033)
(Info 1032).

• Estados e Municípios podem restringir temporariamente atividades religiosas


coletivas presenciais a fim de evitar a proliferação da Covid-19?

É compatível com a Constituição Federal a imposição de restrições à realização de


cultos, missas e demais atividades religiosas presenciais de caráter coletivo como
medida de contenção do avanço da pandemia da Covid-19.
STF. Plenário. ADPF 811/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 8/4/2021 (Info 1012).

2.1.1 Do Sistema único de Saúde (SUS)


O SUS é regionalizado e hierarquizado e está constituído a partir de 3 diretrizes que são
a descentralização, o atendimento integral e a participação da comunidade.

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos
serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.

Quanto aos recursos mínimos que precisam ser aportados na área da saúde:
→ A União precisa aportar um percentual da sua receita corrente líquida que não
pode ser inferior a 15%;
→ Estados e o Distrito Federal devem aportar o percentual o previsto por LC (LC
nº 141/2012) configurando-se em 12% dos impostos segregados na base estadual
deduzidas as parcelas transferidas para os municípios;
→ Municípios e o Distrito Federal devem aportar o percentual o previsto por LC
(LC nº 141/2012) configurando-se em 15% dos impostos segregados na base municipal;
→ O Distrito Federal aplicará, anualmente, em ações e serviços públicos de
saúde, no mínimo, 12% (doze por cento) do produto da arrecadação direta dos impostos

243
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

que não possam ser segregados em base estadual e em base municipal, ou seja, que
advenham de uma arrecadação própria do DF ou de transferência da União.

Art. 198, § 2º da CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão,


anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da
aplicação de percentuais calculados sobre:
I - no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro,
não podendo ser inferior a 15% (quinze por cento); (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 86, de 2015)
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a
que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a,
e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios;
III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos
a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea
b e § 3º.

• Da previsão legal constante na LC nº 141/12:

Art. 6º Os Estados e o Distrito Federal aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos


de saúde, no mínimo, 12% (doze por cento) da arrecadação dos impostos a que se refere
o art. 155 e dos recursos de que tratam o art. 157, a alínea “a” do inciso I e o inciso II do
caput do art. 159, todos da Constituição Federal, deduzidas as parcelas que forem
transferidas aos respectivos Municípios.
Art. 7º Os Municípios e o Distrito Federal aplicarão anualmente em ações e serviços
públicos de saúde, no mínimo, 15% (quinze por cento) da arrecadação dos impostos a que
se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam o art. 158 e a alínea “b” do inciso I do
caput e o § 3º do art. 159, todos da Constituição Federal.
Art. 8º O Distrito Federal aplicará, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde, no
mínimo, 12% (doze por cento) do produto da arrecadação direta dos impostos que não
possam ser segregados em base estadual e em base municipal.

• Do vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às


endemias (Art. 198, § 7º ao § 11 da CF - EC nº 120/2022):
Os vencimentos são de responsabilidade da União, mas cabe aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios estabelecer, além de outros consectários e vantagens, incentivos,
auxílios, gratificações e indenizações, a fim de valorizar o trabalho desses profissionais.
O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias
não será inferior a 2 (dois) salários-mínimos, repassados pela União aos Municípios, aos Estados
e ao Distrito Federal. Além disso, os agentes terão direito à aposentadoria especial.

2.1.2. A iniciativa privada no atendimento à saúde no Brasil:


A assistência à saúde pode ser realizada pela iniciativa privada ou no oferecimento de
planos e seguros privados de saúde ou de modo complementar ao SUS.

244
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Na atuação complementar ao SUS a iniciativa privada participa por meio de contrato de


direito público ou convênio, sendo dada preferência para atuação de entidades filantrópicas e
sem fins lucrativos. As empresas privadas que tenham fins lucrativos não podem ser
destinatárias de auxílios ou subvenções do SUS oriundos de recursos públicos.

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.


§ 1º As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único
de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio,
tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.
§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às
instituições privadas com fins lucrativos.

2.1.3. São atribuições do Sistema único de Saúde (Art. 200 da CF):

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde


e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos,
hemoderivados e outros insumos;
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do
trabalhador;
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;
V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a
inovação;
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional,
bem como bebidas e águas para consumo humano;
VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

2.2. Da previdência social


A previdência no Brasil tem 3 estruturas:
→ Regime geral do INSS (tratado pela Constituição Federal nos artigos 201 e
202);
→ Regime próprio organizado para os servidores efetivos de cada ente federado;
→ Regime complementar privado, os planos e seguros de previdência privada.

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de
Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios
que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

245
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e


dependentes, observado o disposto no § 2º. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 20, de 1998)
→ Atenção para a possibilidade de aplicação da aposentadoria especial no
sistema geral de previdência:

Art. 201, § 1º da CF É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para


concessão de benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a possibilidade
de previsão de idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para concessão de
aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)
I - com deficiência, previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por
equipe multiprofissional e interdisciplinar; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
2019)
II - cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e
biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização
por categoria profissional ou ocupação.

• Do estabelecimento de um valor mínimo do salário contribuição:

Art. 201, § 2º da CF Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o


rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo.

• Dos requisitos de idade mínima para a aposentadoria no regime geral de


previdência social:

Art. 201, § 7º da CF. É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social,


nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (sessenta e dois) anos de idade,
se mulher, observado tempo mínimo de contribuição; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)
II - 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade,
se mulher, para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas atividades em
regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador
artesanal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 8º O requisito de idade a que se refere o inciso I do § 7º será reduzido em 5 (cinco)
anos, para o professor que comprove tempo de efetivo exercício das funções de
magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei
complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

• Da contagem recíproca de tempos de contribuição entre os regimes:

Art. 201, § 9º da CF. Para fins de aposentadoria, será assegurada a contagem


recíproca do tempo de contribuição entre o Regime Geral de Previdência Social e os
regimes próprios de previdência social, e destes entre si, observada a compensação
financeira, de acordo com os critérios estabelecidos em lei (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)
§ 9º-A. O tempo de serviço militar exercido nas atividades de que tratam os arts. 42,
142 e 143 e o tempo de contribuição ao Regime Geral de Previdência Social ou a

246
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

regime próprio de previdência social terão contagem recíproca para fins de


inativação militar ou aposentadoria, e a compensação financeira será devida entre as
receitas de contribuição referentes aos militares e as receitas de contribuição aos demais
regimes. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

2.3. Da Assistência Social


Regida pela CF/88 e pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). A assistência social
é para atender os necessitados, é o braço do poder público para conseguir alcançar dignidade
mínima para aqueles que não tem condições de fazer pelas próprias forças ou com o auxílio da
família.

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente
de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de
sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência
e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-
la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (Regulamentado pela Lei nº 8.742/93)

3. DIREITO À EDUCAÇÃO (ART. 205 A 214 DA CF)

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada


com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A tutela da educação na Constituição
se dá a partir do art. 205 até o art. 214.

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

• O ensino em casa é possível? É constitucional?

O Plenário, (...), negou provimento a recurso extraordinário em que se discutia a


legitimidade da educação domiciliar (Informativo 914). Prevaleceu o voto do ministro
Alexandre de Moraes (...), no sentido da inexistência de vedação absoluta ao ensino
domiciliar, conforme depreendeu da análise dos dispositivos da Constituição Federal (...).
A CF, apesar de não o prever expressamente, não proíbe o ensino domiciliar. O próprio
texto constitucional permite e consagra a coexistência de instituições públicas e privadas
como um dos princípios regentes do ensino [art. 206, III]. Estabelece, também, parceria
obrigatória entre família e Estado na educação, em seu sentido amplo. (...) O Estado não

247
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

pode abrir mão dessa parceria, nem a família. A Constituição estabelece princípios,
preceitos e regras aplicáveis ao ensino, que integra a educação lato sensu. Isso vale para
o Estado e para a família. Independentemente do ensino a ser trilhado, o texto exige alguns
requisitos inafastáveis: a necessidade de ensino básico obrigatório entre quatro e
dezessete anos [art. 208, I]; a existência de núcleo mínimo curricular [art. 210]; e a
observância de convivência familiar e comunitária (art. 227). Aparentemente, a CF veda
três das quatro espécies mais conhecidas do ensino domiciliar: a desescolarização
radical, a moderada e o ensino domiciliar puro. Isso porque elas afastam
completamente o Estado do seu dever de participar da educação, o que não ocorre
com a quarta espécie, denominada homeschooling ou ensino domiciliar utilitarista
ou por conveniência circunstancial. Essa modalidade pode ser estabelecida pelo
Congresso Nacional. Para o redator, o ensino domiciliar carece de regulamentação
prévia que firme mecanismos de avaliação e fiscalização, e respeite os
mandamentos constitucionais, especialmente o art. 208, § 3º. Nesse sentido, é
necessário que a lei prescreva o que será a frequência. Diversamente do ensino
público regular, essa frequência possui, também, o fim de evitar a evasão, garantir a
socialização do indivíduo, além da convivência com a pluralidade de ideias. (RE 888.815,
rel. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, j. 12-9-2018, P, Informativo 915, Tema 822)

• Do direito à educação para as pessoas com deficiência:

Educação de deficientes auditivos. Professores especializados em libras.


Inadimplemento estatal de políticas públicas com previsão constitucional.
Intervenção excepcional do Judiciário. (...) Cláusula da reserva do possível.
Inoponibilidade. Núcleo de intangibilidade dos direitos fundamentais.
Constitucionalidade e convencionalidade das políticas públicas de inserção dos portadores
de necessidades especiais na sociedade. (ARE 860.979 AgR, rel. min. Gilmar Mendes, j.
14-4-2015, 2ª T, DJE de 6-5-2015).

• Autonomia das Universidades:


Autarquias Federais (Institutos Federais de Educação). As universidades gozam de
autonomia didático-científica, administrativa e gestão financeira patrimonial. As universidades
precisam se estruturar no tripé essencial de atenção ao Ensino, a Pesquisa e Extensão.

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de


gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão.
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros,
na forma da lei.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica.

• Art. 208 da CF/88 estabelece diversos direitos importantes ligados à área da


educação:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade,
assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na
idade própria;
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;

248
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,


preferencialmente na rede regular de ensino;
IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;
STF – “Direito subjetivo público das crianças ao atendimento em creches e pré-escolas
RE. 554.075 Min. Carmen Lúcia.
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo
a capacidade de cada um;
(O que não impede as ações afirmativas.)
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de
programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público, ou sua oferta irregular,
importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-
lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.

• Fixação de idade mínima para o ingresso na educação infantil e no ensino


fundamental:

São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para


ingresso, respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem
como a fixação da data limite de 31 de março para que referidas idades estejam
completas. Com base nesse entendimento, o Plenário, em julgamento conjunto e por
maioria, julgou procedente ação declaratória de constitucionalidade e improcedente
arguição de descumprimento de preceito fundamental, que discutiam a validade de
exigências previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (...) e em
resoluções do Conselho Nacional de Educação (...) Quanto à ADC, o Colegiado concluiu
que os artigos 24, II, 31 e 32, “caput” , da Lei 9.394/1996 -que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional ¬ não conflitam com os dispositivos constitucionais que
regulam o tema. Fixou a seguinte tese: é constitucional a exigência de seis anos de idade
para o ingresso no ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição
do momento em que o aluno deverá preencher o critério etário. No que se refere à ADPF,
o Tribunal também reputou constitucionais os artigos 2º e 3º da Resolução 1/2010 e os
artigos 2º, 3º e 4º da Resolução 6/2010, ambas da Câmara de Educação Básica do
Conselho Nacional de Educação, as quais definem as diretrizes operacionais para a
implantação do ensino fundamental com duração de nove anos e para a matrícula no
ensino fundamental e na educação infantil, respectivamente. Ademais, entendeu que as
resoluções impugnadas não violam os princípios da isonomia, da proporcionalidade e do
acesso à educação, ao estabelecerem um critério único e objetivo para o ingresso nas
séries iniciais da educação infantil e do ensino fundamental da criança que tenha,
respectivamente, quatro e seis anos de idade completos até o dia 31 de março do ano em
que ocorrer a matrícula. (ADPF 292 e ADC 17, rel. p/ ac. min. Roberto Barroso, j. 1°-8-
2018, Informativo 909).

→ Outras decisões do STF importantes na área da educação:


 É inconstitucional lei estadual que estabelece critério diferente das
regras federais para o ingresso de crianças no primeiro ano do ensino
fundamental:

249
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

 É inconstitucional lei estadual que fixa critério etário para o ingresso no


Ensino Fundamental diferente do estabelecido pelo legislador federal e
regulamentado pelo Ministério da Educação. STF. Plenário. ADI 6312,
Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).
 Constitucionalidade do programa Universidade para todos (PROUNI) –
ADI 3.030; ADPF 186 – Programa de Cotas de UNB.
 É inconstitucional lei estadual que obriga que as escolas e bibliotecas
públicas tenham um exemplar da Bíblia A imposição legal de
manutenção de exemplares de Bíblias em escolas e bibliotecas
públicas estaduais configura contrariedade à laicidade estatal e à
liberdade religiosa consagrada pela Constituição da República de 1988.
STF. Plenário. ADI 5258/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
12/4/2021 (Info 1012).

• Direito à educação e a proteção da pessoa com deficiência:

Lei 13.146/2015. Estatuto da Pessoa com Deficiência. Ensino inclusivo. (...) A


Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência concretiza o
princípio da igualdade como fundamento de uma sociedade democrática que respeita a
dignidade humana. À luz da Convenção e, por consequência, da própria Constituição da
República, o ensino inclusivo em todos os níveis de educação não é realidade estranha
ao ordenamento jurídico pátrio, mas, sim, imperativo que se põe mediante regra explícita.
Nessa toada, a Constituição da República prevê em diversos dispositivos a proteção da
pessoa com deficiência, conforme se verifica nos arts. 7º, XXXI; 23, II; 24, XIV; 37, VIII;
40, § 4º, I; 201, § 1º; 203, IV e V; 208, III; 227, § 1º, II, e § 2º; e 244. Pluralidade e igualdade
são duas faces da mesma moeda. O respeito à pluralidade não prescinde do respeito ao
princípio da igualdade. E, na atual quadra histórica, uma leitura focada tão somente em
seu aspecto formal não satisfaz a completude que exige o princípio. Assim, a igualdade
não se esgota com a previsão normativa de acesso igualitário a bens jurídicos, mas
engloba também a previsão normativa de medidas que efetivamente possibilitem tal
acesso e sua efetivação concreta. O enclausuramento em face do diferente furta o colorido
da vivência cotidiana, privando-nos da estupefação diante do que se coloca como novo,
como diferente. É somente com o convívio com a diferença e com o seu necessário
acolhimento que pode haver a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, em
que o bem de todos seja promovido sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, I e IV, CRFB). A Lei 13.146/2015 indica
assumir o compromisso ético de acolhimento e pluralidade democrática adotados
pela Constituição ao exigir que não apenas as escolas públicas mas também as
particulares deverão pautar sua atuação educacional a partir de todas as facetas e
potencialidades que o direito fundamental à educação possui e que são
densificadas em seu Capítulo IV. (ADI 5.357 MC-REF, rel. min. Edson Fachin, j. 9-6-
2016, P, DJE de 11-11-2016).

250
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Constitucionalidade do ensino religioso confessional:

Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a
assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos,
nacionais e regionais.
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental.
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada
às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos
próprios de aprendizagem.

Do Ensino Confessional: O Plenário (...) julgou improcedente pedido formulado em ação


direta na qual se discute o ensino religioso nas escolas públicas do País. Conferiu
interpretação conforme à Constituição ao art. 33, caput e §§ 1º e 2º, da Lei 9.394/1996
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB), e ao art. 11, § 1º, do acordo
Brasil-Santa Sé aprovado por meio do DL 698/2009 e promulgado por meio do Decreto
7.107/2010, para assentar que o ensino religioso em escolas públicas pode ter natureza
confessional. Entendeu que o poder público, observado o binômio laicidade do Estado (...)
e consagração da liberdade religiosa no seu duplo aspecto (...), deverá atuar na
regulamentação integral do cumprimento do preceito constitucional previsto no art. 210, §
1º, da CF, autorizando, na rede pública, em igualdade de condições, o oferecimento de
ensino confessional das diversas crenças, mediante requisitos formais de credenciamento,
de preparo, previamente fixados pelo Ministério da Educação. Dessa maneira, será
permitido aos alunos se matricularem voluntariamente para que possam exercer o
seu direito subjetivo ao ensino religioso como disciplina dos horários normais das
escolas públicas. O ensino deve ser ministrado por integrantes, devidamente
credenciados, da confissão religiosa do próprio aluno, a partir de chamamento
público já estabelecido em lei para hipóteses semelhantes (...) e, preferencialmente,
sem qualquer ônus para o poder público. (ADI 4.439, rel. p/ o ac. min. Alexandre de
Moraes, j. 27-9-2017, P, Informativo 879).

• Regime de colaboração:
O sistema de educação no Brasil previsto pela constituição federal estabelece que a União
cumpre estabelecer as diretrizes e as bases da educação, além de cuidar da rede federal de
ensino, já os Municípios atuarão de forma prioritária na educação infantil e no ensino
fundamental, os Estados e o DF atuarão de forma prioritária no ensino fundamental e médio.

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime


de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as
instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função
redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais
e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil.
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e
médio.
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização
do ensino obrigatório.
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular.

251
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

• Dos recursos mínimos que devem ser aportados pelos entes federados na
educação, temos:
→ União no mínimo 18% da receita resultante de impostos, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino;
→ Estados, Municípios e o Distrito Federal no mínimo 25% da receita resultante
de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino.

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de
impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino.
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é
considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a
transferir.
§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no caput deste artigo, serão considerados os
sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art.
213.
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das
necessidades do ensino obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de
padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional de educação.
(...)

Atenção pra mudanças na Constituição Federal relativas ao financiamento da educação


brasileira:

Art. 212 da CF: § 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento
a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na forma da lei.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-
educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006)
§ 7º É vedado o uso dos recursos referidos no caput e nos §§ 5º e 6º deste artigo para
pagamento de aposentadorias e de pensões. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108,
de 2020)

• Destinação dos recursos públicos da educação:

Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos
a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
I - comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em
educação;
II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou
confessional, ou ao poder público, no caso de encerramento de suas atividades.

252
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para
o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência
de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na
localidade da residência do educando, ficando o poder público obrigado a investir
prioritariamente na expansão de sua rede na localidade.
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro
do poder público.

4. DO DIREITO FUNDAMENTAL À CULTURA

Trata-se de um direito fundamental estabelecido pela Constituição Federal que busca


apoiar, incentivar, valorizar e difundir as manifestações culturais no Brasil, devendo o Estado
proteger de modo específico as culturas populares indígenas e afro-brasileiras.

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às
fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-
brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os
diferentes segmentos étnicos nacionais.

• Patrimônio Histórico e Cultural (bens de natureza material e imaterial):

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação,
à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se
incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.

5. DO DESPORTO

A CF/88 estabelece um direito fundamental que traz alguns elementos como a exceção
ao princípio da inafastabilidade da jurisdição que exige o exaurimento da instância da justiça
desportiva em 60 dias para somente depois buscar o judiciário nas questões disciplinares e das
competições esportivas.

253
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como
direito de cada um, observados:
I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua
organização e funcionamento;
II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional
e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;
III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional;
IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.
§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições
desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.
§ 2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração
do processo, para proferir decisão final.
§ 3º O poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social.

6. DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO (EC Nº 85/2015)

Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a


capacitação científica e tecnológica e a inovação.
§ 1º A pesquisa científica básica e tecnológica receberá tratamento prioritário do Estado,
tendo em vista o bem público e o progresso da ciência, tecnologia e inovação.
§ 2º A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos
problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.
§ 3º O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa,
tecnologia e inovação, inclusive por meio do apoio às atividades de extensão tecnológica,
e concederá aos que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho.

7. DA COMUNICAÇÃO SOCIAL

A comunicação social se constitui em um direito fundamental de importância essencial


para a democracia e o exercício das liberdades fundamentais.

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob


qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto
nesta Constituição.
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de
informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto
no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e
imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de
pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. (“Caput”
do artigo com redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002)
§ 1º Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante
das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá
pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez
anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo

254
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

da programação. (Parágrafo com redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de


2002)
§ 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação
veiculada são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, em
qualquer meio de comunicação social.
§ 3º Os meios de comunicação social eletrônica, independentemente da tecnologia
utilizada para a prestação do serviço, deverão observar os princípios enunciados no art.
221, na forma de lei específica, que também garantirá a prioridade de profissionais
brasileiros na execução de produções nacionais.
§ 4º Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas empresas de que trata o §
1º.
§ 5º As alterações de controle societário das empresas de que trata o § 1º serão
comunicadas ao Congresso Nacional.

8. DO MEIO AMBIENTE (ART. 225 DA CF)

O direito fundamental ao meio ambiente é o direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações
(Princípio da Equidade ou Solidariedade intergeracional).

O direito fundamental tutelado pelo Art. 225 é “ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado”. E quais são as atribuições do Poder Público para defender e preservar o meio
ambiente:

Art. 225, §1º da CF


§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico
das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes
a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção;

8.1. Da classificação do Meio Ambiente na CF/88


→ Meio Ambiente natural ou físico: sem a intervenção do Homem – art. 225, § 1º, I, III
e VII.

255
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

→ Meio Ambiente Artificial: com a intervenção do Homem – art. 182, 183 e 225 da
CF/88 e a Lei nº 10.257/01 (Estatuto da Cidade).
→ Meio Ambiente Cultural: importância histórica e cultural – artigos 215 e 216 da
CF/88.
→ Meio Ambiente do Trabalho: saúde do trabalhador no seu local de trabalho – art. 7º,
XXII, XXIII e XXXIII e art. 208, VIII ambos da CF/88.

• Da Constitucionalidade da Reserva Legal para alteração e supressão de espaços


territoriais especialmente protegidos:

Tese: "A dicção do texto constitucional não provoca maiores problemas quanto à definição
de ato normativo apto à instituição/criação de espaços territorialmente protegidos, dentre
os quais se pode destacar as unidades de conservação regulamentadas pela Lei
9.985/2000. Tendo a Carta se referido à reserva de legislação somente como
requisito de modificação ou supressão de unidade de conservação, abriu margem
para que outros atos do Poder Público, além de lei em sentido estrito, pudessem ser
utilizados como mecanismos de instituição de espaços ambientais protegidos.” (ADI 3.646,
rel. min. Dias Tofolli, j. 20-9-2019, P, DJE de 2-12-2019).

As medidas provisórias não podem veicular norma que altere espaços territoriais
especialmente protegidos, sob pena de ofensa ao art. 225, inc. III, da Constituição
da República. As alterações promovidas pela Lei 12.678/2012 importaram
diminuição da proteção dos ecossistemas abrangidos pelas unidades de
conservação por ela atingidas, acarretando ofensa ao princípio da proibição de
retrocesso socioambiental, pois atingiram o núcleo essencial do direito fundamental ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado previsto no art. 225 da Constituição da
República. (ADI 4.717, rel. min. Cármen Lúcia, j. 5-4-2018, P, DJE de 15-2-2019).

• Estudo de impacto ambiental:


Há a necessidade de se realizar o estudo de impacto ambiental antes da autorização dos
empreendimentos e atividades, sendo, portanto, uma exigência anterior ao licenciamento
ambiental.

Art. 225, § 1º da CF
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora
de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que
se dará publicidade;

• Aplicação dos princípios da Precaução e Prevenção:


→ Princípio da Prevenção:

256
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

O objetivo final do princípio da prevenção é evitar que o dano possa chegar a


produzir-se, para tanto, necessário se faz adotar medidas preventivas. Certeza científica
do impacto ambiental. Conhece e previne.

→ Princípio da Precaução:
É a garantia contra os riscos potenciais que de acordo com o estado atual do
conhecimento, não pode ser ainda identificado. Deste modo, a ausência de certeza
absoluta não deve servir de pretexto para se postergar a adoção de medidas efetivas de
modo a evitar a degradação ambiental. A incerteza científica milita em favor do ambiente,
carregando-se ao interessado o ônus de provar que as intervenções pretendidas não são
perigosas e/ou poluentes. Não há certeza científica. Cautela.

RE 627.189 do STF - Tema 479 de Repercussão Geral - Imposição de obrigação de fazer


à concessionária de serviço público para que observe padrão internacional de segurança
e reduza o campo eletromagnético de suas linhas de transmissão, de acordo com padrões
internacionais de segurança, em face de supostos efeitos nocivos à saúde da população.

Tese: No atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de
efeitos nocivos da exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos,
magnéticos e eletromagnéticos gerados por sistemas de energia elétrica, não existem
impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros propostos pela Organização
Mundial de Saúde, conforme estabelece a Lei nº 11.934/2009.

Art. 225, § 1º da CF
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade.

• Decisões do STF quanto a crueldade contra os animais:


→ Proibição das Rinhas de Galo:

Lei 7.380/1998 do Estado do Rio Grande do Norte. Atividades esportivas com aves das
raças combatentes. "Rinhas" ou "brigas de galo". Regulamentação. Inadmissibilidade.
Meio ambiente. Animais. Submissão a tratamento cruel. Ofensa ao art. 225, § 1º, VII, da
CF. (...) É inconstitucional a lei estadual que autorize e regulamente, sob título de práticas
ou atividades esportivas com aves de raças ditas combatentes, as chamadas "rinhas" ou
"brigas de galo". [ADI 3.776, rel. min. Cezar Peluso, j. 14-6-2007, P, DJ de 29-6-2007.] =
ADI 1.856, rel. min. Celso de Mello, j. 26-5-2011, P, DJE de 14-10-2011

→ Da Inconstitucionalidade de “Farra do Boi”:

257
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais,


incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância
da norma do inciso VII do art. 225 da CF, no que veda prática que acabe por submeter os
animais a crueldade. Procedimento discrepante da norma constitucional denominado
"farra do boi". (RE 153.531, rel. p/ o ac. min. Marco Aurélio, j. 3-6-1997, 2ª T, DJ de 13-
3-1998). Vide ADI 1.856, rel. min. Celso de Mello, j. 26-5-2011, P, DJE de 14-10-2011

→ Inconstitucionalidade da Vaquejada (Atenção a Lei nº 13.364/16 + EC


96/17):

A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais,


incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância
do disposto no inciso VII do art. 225 da Carta Federal, o qual veda prática que acabe
por submeter os animais à crueldade. Discrepa da norma constitucional a
denominada "vaquejada" (ADI 4.983, rel. min. Marco Aurélio, j. 6-10-2016, P, DJE de 27-
4-2017).

A vaquejada foi declarada pelo STF inconstitucional, pois sua prática gera maus-
tratos aos animais. Contudo, em resposta típica de ativismo congressual, o Congresso
Nacional editou após o julgamento da ADI 4983, a lei nº 13.364/16 que reconheceu o
rodeio, a vaquejada e o laço, bem como as respectivas expressões artísticas e esportivas,
como manifestações culturais nacionais, elevando essas atividades à condição de bens
de natureza imaterial integrantes do patrimônio cultural brasileiro, após a lei foi
estabelecido a EC nº 96/2017 que regulamentou a nova lei acrescentando o § 7º do Art.
225 da CF e abriu a possibilidade das práticas desportivas que utilizam animais não serem
consideradas cruéis.
Portanto, atualmente a prática da vaquejada deve ser considerada constitucional
frente a presunção de constitucionalidade da lei nº 13.364/16 e da EC nº 96/2017, num
ato de superação legislativa das decisões do STF.

→ Da Constitucionalidade do sacrifício de animais nos cultos religiosos de


matriz africana

A prática e os rituais relacionados ao sacrifício animal são patrimônio cultural imaterial e


constituem os modos de criar, fazer e viver de diversas comunidades religiosas,
particularmente das que vivenciam a liberdade religiosa a partir de práticas não
institucionais. A dimensão comunitária da liberdade religiosa é digna de proteção
constitucional e não atenta contra o princípio da laicidade. O sentido de laicidade
empregado no texto constitucional destina-se a afastar a invocação de motivos religiosos
no espaço público como justificativa para a imposição de obrigações. A validade de
justificações públicas não é compatível com dogmas religiosos. A proteção específica dos

258
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

cultos de religiões de matriz africana é compatível com o princípio da igualdade, uma vez
que sua estigmatização, fruto de um preconceito estrutural, está a merecer especial
atenção do Estado. Tese fixada: ‘É constitucional a lei de proteção animal que, a fim
de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos
de religiões de matriz africana’.[RE 494.601, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, j. 28-3-
2019, P, DJE de 19-11-2019.]

• Da obrigação de recuperar o meio ambiente após a exploração de recursos


minerais:

Art. 225 da CF/88


§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na
forma da lei.

→ DIREITO AMBIENTAL – PROTEÇÃO DA FAUNA Animais apreendidos em


situação de maus-tratos e abate - ADPF 640 MC-Ref/DF.

RESUMO: É inconstitucional a interpretação da legislação federal que possibilita o abate


imediato de animais apreendidos em situação de maus-tratos. Essa exegese — proposta
por órgãos administrativos e adotada por autoridades judiciais — ofende normas materiais
da Constituição Federal (CF), em especial o art. 225, § 1º, VII, que impõe a proteção à
fauna e proíbe qualquer espécie de maus-tratos aos animais. Embora sejam relevantes,
os problemas estruturais e financeiros, mencionados nas decisões judiciais e nas
manifestações administrativas, não autorizam o abate, e sim o uso de instrumentos
descritos na legislação infraconstitucional, como a soltura em habitat natural ou em
cativeiros, a doação a entidades especializadas ou a pessoas habilitadas e, inclusive, o
leilão. A finalidade das normas protetivas não autoriza concluir que os animais devam ser
resgatados de situações de maus-tratos para, logo em seguida, serem abatidos. As
decisões judiciais e as interpretações administrativas que justificam o abate preferencial e
imediato desses animais violam também o princípio da legalidade (CF, art. 37, caput). Isso,
porque inexiste autorização legal expressa que possibilite o abate no caso específico de
apreensão em situação de maus-tratos, conforme se observa da literalidade do art. 25, §§
1º e 2º, combinado com o art. 32 da Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais), bem
assim dos arts. 101, 102 e 103 do Decreto 6.514/2008. Com base nesse entendimento, o
Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em arguição de
descumprimento de preceito fundamental para declarar a ilegitimidade da interpretação
dos arts. 25, §§ 1º e 2º da Lei 9.605/1998, bem como dos artigos 101, 102 e 103 do Decreto
6.514/2008 e demais normas infraconstitucionais, que autorizem o abate de animais
apreendidos em situação de maus-tratos.

• Tríplice responsabilidade por danos ambientais:


→ Responsabilidade Administrativa
→ Responsabilidade Penal
→ Responsabilidade Civil

259
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os


infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

• Inconstitucionalidade da Teoria da Dupla Imputação:

O art. 225, § 3º, da CF não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por
crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável
no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação.
As organizações corporativas complexas da atualidade se caracterizam pela
descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a esta
realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. Condicionar a
aplicação do art. 225, § 3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa
física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do
constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também
de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de
individualização dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela
do bem jurídico ambiental. A identificação dos setores e agentes internos da empresa
determinantes da produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso
concreto como forma de esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram
no exercício regular de suas atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a
atuação se deu no interesse ou em benefício da entidade coletiva. Tal esclarecimento,
relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se confunde,
todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização
conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, as
responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou parcializadas de tal modo que não
permitirão a imputação de responsabilidade penal individual. (RE 548.181, rel. min. Rosa
Weber, j. 6-8-2013, 1ª T, DJE de 30-10-2014).

Cinco biomas nacionais foram destacados na constituição federal como patrimônio


nacional, o significado é que estes biomas poderão ter uma proteção especial da nossa
legislação, mas não há nenhuma proibição de propriedade privada nestas áreas.

Art. 225, § 4º da CF. A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-
se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

• Da necessidade de lei federal para localização de usina nuclear:

Art. 225, § 6º da CF. As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

• Emenda Constitucional nº 96/2017 que constitucionalizou a prática da vaquejada:

Art. 225, § 7º da CF. Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo,
não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam

260
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal,


registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro,
devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais
envolvidos. (Incluído pela EC 96/2017)

9. DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DO JOVEM E DO IDOSO

A estruturação da sociedade brasileira fundamentada na proteção e cuidado das


entidades familiares que são um alicerce da sociedade.

Art. 226 da CF. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

Entidade familiar se dá no casamento heteroafetivo, casamento homoafetivo, união


estável heteroafetivo, união estável homoafetiva e família monoparental (formada pela mãe solo
e filho(s) e pai solo e filho(s)).

Art. 226, § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes.

• União homoafetiva:

ADI 4.277 e ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE de 14-10-2011.]
O caput do art. 226 confere à família, base da sociedade, especial proteção do Estado.
Ênfase constitucional à instituição da família. Família em seu coloquial ou proverbial
significado de núcleo doméstico, pouco importando se formal ou informalmente
constituída, ou se integrada por casais heteroafetivos ou por pares homoafetivos. A
Constituição de 1988, ao utilizar-se da expressão “família”, não limita sua formação
a casais heteroafetivos nem a formalidade cartorária, celebração civil ou liturgia
religiosa. Ante a possibilidade de interpretação em sentido preconceituoso ou
discriminatório do art. 1.723 do Código Civil, não resolúvel à luz dele próprio, faz-se
necessária a utilização da técnica de “interpretação conforme à Constituição”. Isso para
excluir do dispositivo em causa qualquer significado que impeça o reconhecimento da
união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família.
Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas
consequências da união estável heteroafetiva.

• Regulação do casamento:

Art. 226, § 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.


Art. 226, § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
Art. 226, § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

261
2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
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• Igualdade no Casamento:

Art. 226 § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos


igualmente pelo homem e pela mulher.

• União estável equiparável a um casamento:

Art. 226, § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o
homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento.

• Paternidade responsável e o respeito aos direitos fundamentais:

Art. 226, § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade


responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.

• Princípio da proteção integral:


O Art. 227 da CF traz o princípio da proteção integral com a constituição federal
determinando um dever da família, sociedade e do Estado para com as crianças, adolescentes
e jovens.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente


e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no
art. 7º, XXXIII;
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola;
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na
relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a
legislação tutelar específica;
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
privativa da liberdade;
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou
adolescente órfão ou abandonado;
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao
jovem dependente de entorpecentes e drogas afins.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

• Maioridade penal:

Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas
da legislação especial.

• Dever de assistir aos filhos:

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos
maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

• Atenção e cuidado com as pessoas idosas:


Encontraremos a constituição federal estabelecendo o princípio da proteção integral para
proteção dos idosos.

Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e
garantindo-lhes o direito à vida.
§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus
lares.
§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes
coletivos urbanos.

10. DOS INDÍGENAS

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças
e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

• Terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas que são de propriedade da


União:

§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos
nelas existentes.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

• Necessidade de autorização do Congresso Nacional para intervenções em terras


indígenas:

§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a


pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados
com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes
assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre
elas, imprescritíveis.

• Capacidade dos indígenas:

Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar
em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos
os atos do processo.

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2ª Fase Constitucional l 39º Exame de Ordem
E-book de Direito Material

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