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6.10 Intolerância religiosa e racismo crescem no ‘pacífico’ Brasil .......... 41
8 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 50
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1 A EXISTÊNCIA DA ÉTICA E DA FILOSOFIA MORAL
1.1 Ética1
Toda discussão sobre “ética” sempre se inicia pela revisão de suas origens
etimológicas e pela sua distinção ou sinonímia com o termo “moral”. Justifica-se a
necessidade de explicitar a origem do termo ethos, uma vez que é de sua raiz primitiva
que iremos encontrar as respostas para as ambiguidades terminológicas e
imprecisões conceituais.
Fonte:www.debatesculturais.com.br
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traços psicológicos e/ou morais (positivos ou negativos) que caracterizam um
indivíduo ou um grupo.
Em sentido psicológico, “caráter é o conjunto de qualidades psíquicas e afetivas
que intervêm na conduta de uma pessoa e a distinguem das demais, o que também
chamamos de personalidade”. Refere-se ao conjunto dos traços particulares, ao seu
modo de ser, à sua índole e ao seu temperamento. Traços que estão mais ligados à
estrutura biológica propriamente dita, ou seja, aquilo que é herdado mais pela
natureza (páthos – do que é inato) do que os traços individuais adquiridos com a
adaptação ao meio social.
Mas não é essa acepção da palavra que interessa à ética. Interessa o caráter
em seu sentido estritamente moral, isto é, a disposição fundamental de uma pessoa
diante da vida, seu modo de ser estável do ponto de vista dos hábitos morais
(disposição, atitudes, virtudes e vícios) que a marcam – que a caracterizam – e lhe
conferem a índole peculiar que a distingue dos demais. Refere-se ao conjunto das
qualidades, boas ou más, de um indivíduo, resultante do progressivo exercício na vida
coletiva.
É esse caráter, não no sentido biológico ou psicológico, “senão no modo de ser
ou forma de vida que vai adquirindo, apropriando, incorporando ao longo de toda uma
existência”, que está associado a ética. Esse modo de ser, “apresenta uma dupla
dimensão de permanência e de dinamismo. O núcleo de nossa identidade pessoal é
o produto das opções morais que vamos fazendo em nossa biografia. Essas opções
vão conformando nossa fisionomia moral – a classe de pessoas que somos, nossa
índole moral –, ou seja, a disposição para nos deixar mover por uns motivos e não por
outros”.
Diante das dificuldades de interpretação do conteúdo semântico da palavra
ethos, não é sem motivo que os autores costumam simplificar. Definem a ética como
sendo uma palavra derivada do grego ethos, que significa “modo de ser” ou “caráter”
enquanto forma de vida adquirida ou conquistada pelo homem. Ou então, a “ética é
derivada do grego ethikos – aquilo que se relaciona com o ethos ou caráter”.
b. O segundo termo grego εθοζ (éthos), quando escrito com épsilon (ε) inicial, é
traduzido por “hábitos” ou “costumes”.
Este é o éthos social. Significa hábitos, costumes, tradições. Refere-se aos atos
concretos e particulares, por meio dos quais as pessoas realizam seu projeto de vida.
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Este sentido também interessa à ética, uma vez que o caráter moral vai se formando,
precisamente, mediante as opções particulares que fazemos em nossa vida cotidiana.
De maneira que é a força das tradições quem forma a identidade de uma
sociedade. Reciprocamente, os hábitos constituem o princípio intrínseco dos atos.
Conforme diz Aranguren,
Esta tensão, segundo Aranguren, sem contradição entre êthos como caráter e
éthos como hábitos, definiria o âmbito conceitual da ideia central da ética. Razão pela
qual, tanto na concepção clássica quanto na moderna, a ética ocupa-se
constantemente dos atos morais e dos hábitos no sentido de virtudes e vícios.
As virtudes podem ser classificadas pela forma de aquisição: intelectuais e
morais. As virtudes intelectuais são resultados do ensino, são muito artificiais, por isso
precisam de experiências e tempo para formar o caráter. As virtudes morais são
adquiridas pelo hábito, costumes ou experiência. Não são inatas, são adquiridas pelo
exercício da práxis, com o convívio social, ou seja, com a disposição de viver com ou
conviver com os outros.
Sobre a distinção entre virtudes e vícios, explica Korte que as virtudes são as ideias
ou razões positivas que trazem melhores resultados, ao passo que os vícios
Por isso a ética pode ser entendida como a ciência da reta ordenação dos atos
humanos desde os últimos princípios da razão (kathein). Estamos, portanto, diante de
uma ciência prática, que trata de atos práticos. É a razão da filosofia da prática. É a
forma que configura a matéria (atos humanos). Por isso, é importante saber que a
ética não se ocupa do irracional, como sugerem algumas interpretações, senão do
racional prático, intentando saber o específico da moral em sua razão filosófica. Isto
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é, a razão das escolhas de uma determinada conduta e os fundamentos da tomada
de decisão.
Dessa concepção e do entendimento de que ações humanas podem ser
abordadas por uma perspectiva psicológica, biológica ou filosófica, deduz-se que a
“ética” se ocupa da reflexão filosófica relativa à conduta humana sob o prisma dos
atos morais. Ela vai examinar a natureza dos valores morais e a possibilidade de
justificar seu uso na apreciação e na orientação de nossas ações, nas nossas vidas e
nas nossas instituições.
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por normas, conjunto dos mores. Neste significado, a palavra é usada nas seguintes
expressões: ‘M. dos primitivos’, ‘M. contemporânea’ etc.” No segundo sentido, deriva
“lat. Moralis; in Moral”.
Não é sem motivo que Coimbra afirma que “ética e moral são sinônimos de
origens distintas, que em si uma é a mesma coisa”, isto é, possuem os mesmos
sentidos. Por isso Tugendhat argumenta que não se pode tirar nenhuma conclusão
do que se pode entender por ética e moral a partir das origens das palavras. De fato,
etimologicamente, esses termos possuem idênticos conteúdos semânticos. Razão
pela qual muitas vezes são empregados no cotidiano indistintamente.
As razões dessas divergências encontram-se, sem dúvida, nas origens das
palavras, sobre as quais passaremos em revista, para depois apresentar alguns
conceitos extraídos da literatura especializada.
O que ocorreu? No latim não existia uma palavra para traduzir o êthos, nem
tampouco outra para representar o sentido do termo éthos, dado na língua grega.
Então, na essência, esta distinção foi perdida. Ambas foram traduzidas por “mos” ou
“mores” (plural de mos, do qual vem o termo moralis), pois era a palavra que mais se
aproximava do sentido de ethos, que nessa língua pode significar tanto “costumes”
como “caráter” ou gênero de vida.
Assim, “em latim, o “mos” passou a significar tanto o ηθοζ (êthos – morada,
caráter, índole) como εθοζ (éthos – hábitos, costumes) costumes e hábitos”. Está aqui
a origem de toda a confusão acerca do conteúdo semântico dos termos e, por
conseguinte, a sinonímia ou distinção dos sentidos que se atribui ao uso das palavras
ética e moral.
Entretanto, este não é o único critério para se determinar o significado das
palavras, pois assim como as línguas evoluem segundo a sua cultura, as palavras
podem adquirir significados distintos de acordo com o sentido em que são
empregadas. Além da dimensão semântica dos vocábulos e das expressões, há uma
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dimensão pragmática, visto que uma mesma palavra pode assumir significados
diferentes num determinado contexto sociocultural.
Sobre esse aspecto, é preciso ater-se ao processo de evolução do sentido do
termo como forma de conhecer não apenas o seu significado isolado, mas, sobretudo,
os vários sentidos em que pode ser utilizado numa dada cultura. Logo, questionar
acerca do que se deve entender por ética ou moral, considerando apenas o conteúdo
semântico dos termos, não é o único recurso de análise para se formularem
significados, conceito ou definições.
Deixando um pouco de lado o esforço de se tentar deduzir uma definição
exclusivamente a partir dos signos, vejamos as diversas maneiras de utilizar o termo
“moral” e, por sua vez, de se chegar a um conceito correspondente ao contexto
cultural.
A palavra moral, segundo Aranguren, possui diferentes sentidos com referência
direta ao comportamento humano e à sua classificação como moral ou, ao seu
contrário, imoral; como parte da filosofia – filosofia moral. Moral, também escrita com
maiúscula, quando se ocupa do comportamento humano no que se refere a bem ou
mal.
Segundo Martinez, o termo “moral” é utilizado atualmente de maneira distinta.
Assim como ocorreu com os significados de ethos, essa multiplicidade de usos
também deu lugar a alguns mal-entendidos. Para essa autora, algumas vezes o termo
moral é empregado como substantivo e outras vezes como adjetivo. Como substantivo
pode ser empregado em quatro situações:
1. Quando o termo “moral” for grafado com minúscula e estiver precedido do
artigo definido feminino, “a moral”, refere-se ao conjunto de princípios, preceitos,
comandos, proibições, normas de conduta, valores e ideais de vida boa que, em seu
conjunto, é constituído por um grupo humano concreto em uma determinada época
histórica. Nesta acepção, a moral representa um modelo ideal de boa conduta
socialmente estabelecida pela sociedade;
2. Quando a palavra “moral” é usada para fazer referência ao código pessoal
de alguém. Por exemplo, quando se diz que “fulano possui uma moral muito rígida”
ou quando se diz “beltrano carece de moral”, estamos falando de um código moral
que guia os atos de uma pessoa concreta ao longo de sua vida. É o conjunto de
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convicções e pautas de conduta que costuma constituir a base para os juízos morais
que cada um faz das outras pessoas e de si mesmo;
3. Usa-se o termo “moral” com maiúscula (Moral) para referir-se a uma “ciência
que trata do bem em geral, das ações humanas marcadas pela bondade ou pela
malícia”. A rigor, esta ciência não existe. O que existe é uma variedade de doutrinas
como, por exemplo, a Moral católica, protestante, islâmica, budista, marxista etc.
Fazendo um parêntese, lembramos que somente a ética na qualidade de
disciplina filosófica (ciência da moral) possui teorias éticas diferentes e até opostas,
pois há uma distinção entre uma doutrina e uma teoria: enquanto a doutrina trata de
sistematizar um conjunto concreto de princípios, normas, preceitos e valores, as
teorias constituem uma tentativa de explicar um fato. As teorias representam um
pensamento baseado num dado contexto histórico de uma época, sob o qual se
fundamenta a vida moral concreta.
4. Quando a palavra moral se refere a expressões que a utilizam no masculino,
tais como “ter o moral elevado” ou “estar com o moral alto” e outras semelhantes,
moral torna-se sinônimo de “boa disposição do espírito”, “ter força, coragem suficiente
para enfrentar – com dignidade – os desafios que a vida nos apresenta. Essa acepção
tem um profundo significado filosófico, pois a moral não é apenas um saber, nem um
dever, mas sobretudo uma atitude e um caráter”.
Com referência ao uso da palavra moral como adjetivo, a maioria das
expressões está relacionada com a Ética. Neste caso há duas situações em que
aparece como adjetivo:
1. Moral como oposto a “imoral” – Termo usado como termo valorativo de
reprovação. Esse uso pressupõe a existência de algum código moral que serve de
referência para emitir um juízo moral. Refere-se a uma conduta contrária às regras
morais vigentes numa dada cultura;
2. Moral como oposto a “amoral – Termo usado para se referir a uma ação que
não tem relação com a moralidade. A conduta dos animais, por exemplo, não tem
nenhuma relação com a moralidade, pois pressupõe que estes não são responsáveis
por seus atos. Ao passo que os seres humanos atingiram um desenvolvimento
completo e, na medida em que se tornam senhores de seus atos, têm uma conduta
moral. A moral, portanto, refere-se à “ação, atitude, estado ou caráter que não é nem
moral nem imoral, e, que é exterior à esfera da moral”.
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Desses exemplos, é possível deduzir que, para a compreensão do que se deve
entender por moral, as respostas não serão encontradas na origem do termo
exclusivamente, pois os costumes ou a cultura de um povo antecedem as suas origens
terminológicas. Os costumes são partes indissociáveis da identidade de um povo num
dado contexto histórico. Neste contexto, e da análise pragmática de como as palavras
adquirem vários sentidos, é que se poderá extrair um conceito mais apropriado ao seu
uso.
Os termos “ética” e “moral” foram utilizados ao longo da história com diversos
significados e com relações distintas entre si. Houve ocasiões em que os significados
mudaram completamente. Jürgen Habermas, por exemplo, com base em conceitos
da tradição hegeliano-marxista, utiliza os termos “eticidade” e “moralidade” com
significados novos, reservando a “moralidade” ao abstrato e universal e a “eticidade”
à concreção no mundo da moralidade da vida.
Assim como o termo ethos possui significados ambíguos, a palavra “moral”
também pode ser empregada com sentidos diversos. Se olharmos o conceito de moral
nos dicionários da língua portuguesa, notaremos que existe alguma distinção
conceitual significativa. Segundo o dicionário Houaiss:
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Desse modo, não é apenas do significado restrito de um termo dissociado da
cultura que se extrai um conceito mais exato. Claro que a discussão deve sempre
começar pela análise linguística, pois é a partir do significado primitivo que se extraem
os primeiros significados.
Mas, afinal, o que entendemos por moral? A moral refere-se quer aos
costumes, quer às regras de conduta admitidas numa sociedade determinada.
Portanto, um fato moral é aceito para um tipo de sociedade de acordo com a sua
tradição ou realidade cultural. A realidade moral, neste sentido, vai se referir ao
conjunto desses costumes e dos juízos sobre os costumes que são objeto de
observação ou de constatação segundo as regras socioculturais.
Daí a compreensão de que a moral é conteúdo da ética. “Poder-se-ia dizer que
a moral é a matéria prima da ética”, pois constitui o conjunto de hábitos e prescrições
de uma sociedade.
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surgem as regras morais, com a finalidade de facilitar o convívio social das pessoas
na comunidade.
Fonte:www.portalzinho.cgu.gov.br
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A evolução que despontou com o aumento das forças de trabalho e
produtividade, favoreceu o aparecimento da propriedade privada e consequentemente
uma desigualdade de bens dividindo a sociedade antiga em duas classes
antagônicas, o homem livre, cidadão, e o escravo. Essa situação social proporcionou
uma divisão da moral que deixou de ser única no sentido de um só conjunto de normas
aceitas por toda a sociedade, favorecendo a aparição de duas morais, a moral do
homem livre, com valores definidos, e a dos escravos.
As mudanças que se verificaram com a nova sociedade, surgida com o
desaparecimento do mundo antigo onde a escravidão era uma instituição de base
para todo o trabalho pesado, e o escravo considerado coisa; vieram dar uma nova
condição ao homem, embora não fossem muitas as mudanças, porém, foi-lhes dado
o direito à vida e passaram a serem considerados seres humanos.
A liberdade alcançada pelo trabalhador, muito embora devesse obediência ao
senhor feudal, proporcionou uma evolução dos conceitos morais. Essa moral continha
também preceitos religiosos, em vista da influência exercida pela igreja na idade
média, que de certa forma dava uma unidade moral à sociedade da época, bastante
estratificada.
A invenção das máquinas, proporcionou o crescimento de uma nova sociedade,
a burguesia, levando a um novo sistema econômico-social fundamentado no lucro,
permitindo surgir uma moral própria, a moral individualista que dominou a sociedade
burguesa do século XIX.
Na medida em que as diferentes sociedades tomam lugar no tempo, também
mudam os princípios e regras morais. Conhece-se um progresso moral. Esse se dá
em um plano histórico-econômico-social primeiramente, ampliando a esfera moral na
vida social.
Em resumo, Vázquez (1999) destaca o aspecto da moral ser uma forma de
comportamento humano compreendendo o normativo e o fatual; ser um fato social; a
questão da aceitação individual, isto é, uma interiorização das normas morais; a
manifestação concreta do comportamento moral dos indivíduos; o ato moral individual
como parte de um contexto normativo, ou seja, de um código moral. Ainda, embora
normativo o ato, a aceitação consciente e voluntária supõe a liberdade do sujeito na
execução do ato moral.
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Exposto o tema Moral, sua conceituação e evolução, passa-se a tratar da Ética
que, como ciência da moral tem origem do grego éthique ou ethos e do latim ethica,
ethicos, significando uso, costumes, caráter. É modificada cotidianamente com a
sociedade interagindo entre grupos sociais e em determinados períodos históricos.
Vázquez (1999) apresenta a ética como “a teoria ou ciência do comportamento
moral dos homens em sociedade”. Conceito que mostra uma abordagem científica
dos problemas morais.
Já, Bittar (2004), apresenta ética dividindo-a em ética enquanto saber e
enquanto prática, onde ao saber cabe o papel de estudar a ação humana em sua
concepção mais ampla, e quanto a ética prática, como ele coloca, “consiste na
atuação concreta e conjugada da vontade e da razão, de cuja interação se extraem
resultados que se corporificam por diversas formas”.
Segundo Valls (1998), a ética na visão tradicional, é interpretada como “um
estudo ou reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os
costumes ou sobre as ações humanas”, o que lhe dá, portanto, um caráter teórico.
Portanto, como um resultado histórico-cultural que define o que é virtude, o que
é bom ou mal, certo ou errado, para cada cultura ou sociedade, a ética, seja como
investigação teórico-filosófica, ou como ação enquanto extensão racional das nossas
intenções, vai sustentar e dirigir as ações do homem, norteando a conduta individual
e social.
Por ética contemporânea, entende-se as doutrinas surgidas após a Revolução
Francesa e que prolongam suas influências até aos dias atuais, sendo caracterizadas
por uma reação adversa ao formalismo e ao racionalismo abstrato.
Assim, o posicionamento filosófico no que se refere às doutrinas éticas no
período contemporâneo, assenta-se em torno do pensamento de autores que atentem
para “[...] a interiorização dos valores, normas e leis de uma sociedade, resumidos na
vontade objetiva cultural, por um sujeito moral que aceita espontaneamente através
de sua vontade subjetiva individual”.
As questões éticas chegam ao século XX diante a uma grande quantidade de
tendências, que variam conforme a origem ou forma de interpretação e observação.
Peter Singer (1998), desenvolve uma investigação ética contemporânea
voltada para a prática. Focaliza a aplicação da ética nas mais variadas e
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controvertidas questões sociais atuais como igualdade e discriminação de raças,
sexo, capacidade, aborto, eutanásia.
Resumidamente, as linhas de pensamento ético-filosófico até aqui expostas,
buscaram mostrar a ética em seu caminho histórico a partir de alguns dos diversos
autores que se ocuparam da problemática ética, a fim de mostrar, através dos diversos
pontos de vista concebidos, as várias concepções.
O conceito de cidadania, por sua vez, deriva do latim ‘civitas’. Ele se refere ao
pertencimento, ou a inclusão de uma determinada pessoa na esfera dos direitos
instituídos por uma dada sociedade ou cultura. Tornar-se cidadão significa entrar no
universo de possibilidades aberto pelos direitos concedidos à comunidade aos
indivíduos que estabelecem com ela laços de pertencimento.
Porém, não devemos nos ater apenas aos aspectos formais do direito positivo
quando falamos de cidadania. Não podemos deixar de notar que as restrições ou o
uso pleno dos direitos referentes à cidadania são condicionados não apenas pelo
regime legal, mas também pela situação social, isto é, pelo lugar que ela ocupa na
estrutura da sociedade. O exercício do direito ao voto ou da liberdade de expressão
tem prioridades diferentes, de acordo com a autonomia que cada indivíduo ou grupo
possui. E essa autonomia, muitas vezes, está relacionada à condição econômica do
cidadão.
3.1 A democracia2
Democracia é uma palavra de origem grega que pode ser definida como
governo (kratos) do povo (demo). Dessa forma, a democracia pode ser entendida
como um regime de governo onde o povo (cidadão) é quem deve tomar as decisões
políticas e de poder. A democracia pode ser direta, indireta ou semidireta: diante da
impossibilidade de todos os cidadãos tomarem as decisões de poder (democracia
direta), estas passam a ser tomadas por representantes eleitos (democracia indireta
Fonte: www.smartkids.com.br
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No caso do Brasil, só é possível falar no processo de redemocratização
levando-se em consideração o período obscuro que teve início com o golpe militar em
1964.
Rui Barbosa, um dos grandes brasileiros, afirmou certa vez: “O Brasil (...) é o
povo, em um desses movimentos seus, em que se descobre toda a sua majestade”.
Defensor incansável da democracia, sempre lutou por um país justo e humano. Assim,
foi também um entusiasta da prática efetiva da cidadania – direito que, irrevogável,
contribui imensamente para a construção de uma realidade em que a população
tenha, de fato, voz e vez.
Despertar para a importância da participação popular, em diferentes situações,
é fundamental. O poder público, quando ciente disso, trabalha mais e melhor; a
sociedade, por sua vez, torna-se mais forte e crítica, o que leva esperança a mulheres,
a homens e a crianças de todas as biografias sociais.
A indignação é o primeiro passo para a busca de soluções referentes aos
problemas de uma comunidade, de uma cidade, de um país. Juntos, os cidadãos
favorecem o bem comum e contribuem para o seu próprio amadurecimento, político,
social, cultural. E essa verdade, além de atingir resultados imediatos, pode levar a
Fonte: www.coladaweb.com
Basta olhar em volta e perceberemos que estamos imersos em uma crise moral
de graves proporções. Como não é possível combater os efeitos sem eliminar as
causas, somos forçados a questionar: – Quais são as causas da crise em que
vivemos?
Considerando que somos espíritos encarnados em um grande Lar Escola
chamado Terra, podemos apontar para os instrumentos e as instruções que compõem
a chamada educação, como causas em potencial. Isto inclui tanto a educação
oferecida no lar e nas escolas, como nas organizações públicas e privadas, sem eximir
os meios de comunicação escrita, falada e televisionada. Afinal a crise é
comportamental, e comportamento é sempre efeito dos princípios, valores e crenças
que promovemos e que as pessoas adotam em suas vidas. Se estivermos de acordo
com o diagnóstico, novas perguntas se apresentam; entre elas: – O que devemos
fazer?
Considerando que a fonte só põe para fora o que tiver por dentro, não há como
mudar o que vemos sem fazer mudanças; mas o que mudar?
Note-se que o conhecimento humano se fundamenta em nossa capacidade de
filosofar, portando de questionar; na nossa capacidade de fazer ciência, portanto, de
fazer verificação das verdades; e na nossa capacidade de fazer escolhas, portanto na
nossa habilidade de exercitar a nossa ética.
Fonte: mirnacavalcanti.wordpress.com
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cidadania e raça referem-se a todas as implicações que essa discussão acarreta ao
seguimento da população negra.
Quanto à implementação de políticas educacionais, esta deve observar a
realidade sociocultural brasileira. É necessário ao propor uma educação cidadã que
se articule a questão racial, observando e estando ciente dessa complexidade que
envolve o segmento negro em sua trajetória escolar, pois conforme pesquisas
recentes mostram que alunos negros, tem mais dificuldades que alunos brancos,
demonstrando que há uma estreita relação entre educação escolar e as
desigualdades raciais na sociedade brasileira. Deve-se repensar a estrutura, os
currículos, os tempos e os espaços escolares, quanto às particularidades da cultura
de tradição africana. A escola muitas vezes desconhece e desconhece essa realidade.
A construção de práticas democráticas e não preconceituosas implica o
reconhecimento do direito a diferença e isso inclui as diferenças raciais, assim
estaremos articulando Educação, cidadania e raça. Para se atingir esses objetivos é
necessário a revisão dos valores e padrões considerados aceitáveis por todos. A
realidade escolar no Brasil ainda prima por um modelo branco, masculino,
heterossexual e jovem. Outro fator a ser observado refere-se à superação do medo
quanto a diversidade, pois ser diverso não é um problema, e identidade racial também
não, pois isso são aspectos constituintes da formação humana e também uma
construção social histórica. A formação histórica no Brasil não foi positiva para os
negros, pois a mesma foi marcada pela colonização, pela escravidão e pelo
autoritarismo, o que levou a teorias cientificistas quanto à inferioridade das pessoas
negras, dos mestiços, o ideal de branqueamento. Isto acarreta numa dificuldade de
identificação da maioria da população brasileira quanto a sua identidade. Por tudo
isso, ser negro no Brasil possui uma complexidade maior e não se restringe a um dado
biológico. “No Brasil ser negro é tornar-se negro” (pág. 89). Entender isso é tarefa dos
profissionais da educação, da escola, que não pode deixar de incluir a questão racial
no seu currículo e na sua prática. Começando por uma revisão das práticas racistas
veladas no cotidiano escolar, em seus mais variados aspectos, principalmente
desvelar o silêncio sobre a questão racial na escola.
Pensar a articulação entre Educação, cidadania e raça é mais do que uma
mudança conceitual ou tratamento teórico é possuir uma postura político-
pedagógicas, pois Educação lida com sujeitos concretos, estabelecendo vínculos
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entre vivência cultural, desenvolvimento e o conhecimento escolar, pois o meio
sociocultural que dá a base da inserção. Para atingirmos uma escola democrática
devemos analisar e superar a ambiguidade do racismo no Brasil, pois o mesmo é um
caso complexo e singular, pois ele se afirmar por meio da sua própria negação, onde
é negado com veemência, mas mantêm-se presente no sistema de valores de nossa
sociedade. Neste contexto a escola está baseada em um ideal branco. Então para
atingirmos outro patamar escolar, a mesma não deve mais discutir a questão racial
como problema do negro, e sim, repensar novo currículos, novas práticas, entender a
beleza, a sensibilidade e a radicalidade da cultura de tradição africana e não somente
no segmento negro da população, um aprendizado a ser incorporado pelos que
cuidam das políticas educacionais.6
Raça e etnia não são sinônimos. Etnia é um grupo definido pela mesma origem,
afinidades linguísticas e culturais, enquanto que raça como distinção entre os homens
é um conceito socialmente construído de que existiriam diferenças biológicas entre as
etnias.
A palavra etnia é derivada do grego ethnos, que significa "povo que tem os
mesmos costumes". Raça é um conceito biológico aplicado aos subgrupos de uma
espécie. A espécie humana não possui subespécies ou subcategorias, e, portanto,
não é correto dizer que existem diferentes raças humanas.
Mas há ainda um entendimento do senso comum, construído socialmente de
que as diferentes raças correspondem às características biológicas dos grupos
étnicos. Como por exemplo, a raça negra que seria composta daqueles que têm a
pele negra, cabelos crespos, entre outras características fenotípicas.
A diferença entre raça e etnia é, portanto que raça determinava um grupo por
características biológicas, enquanto a etnia fala sobre aspectos culturais. Contudo,
estudos da sociologia, antropologia e da biologia no último século contribuíram para
desconstruir a ideia discriminatória do conceito de raça e aposentar o termo quanto
classificação humana.
Brancos: a grande maioria da população branca tem origem europeia (ou são
descendentes desses). No período colonial vieram para o Brasil: espanhóis,
holandeses, franceses, além de italianos e eslavos. A região sul abriga grande parte
dos brancos da população brasileira, pois esses imigrantes ocuparam tal área.
Negros: essa etnia foi forçada a migrar para o Brasil, uma vez que vieram como
escravos para atuar primeiramente na produção do açúcar e mais tarde na cultura do
café. O Brasil é um dos países que mais utilizou a mão de obra escrava no mundo.
Hoje, os negros se concentram principalmente em áreas nas quais a exploração foi
mais intensa, como é o caso das regiões nordeste e sudeste.
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Cafuzos: esse grupo é oriundo da união entre negros e índios, essa etnia é
restrita e corresponde a 3% da população. É encontrado com maior frequência na
Amazônia, Centro-Oeste e Nordeste.8
Fonte:vhecologia.blogspot.com.br
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tornando-se o fator derradeiro para consolidar e intensificar os fluxos
migratórios então existentes.
c) A crise econômica que atinge a Europa, de forma mais intensa desde 2011,
vem contribuindo para o crescimento de casos de xenofobia. Isso ocorre porque, com
a crise econômica, parte da população passou a responsabilizar os povos
estrangeiros por meio de ideias preconceituosas pela retração econômica. Além disso,
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com o aumento de problemas sociais ocasionados pela crise, como o desemprego,
partidos de extrema direita angariaram mais espaço nos parlamentos, ganhando força
para difundir seus ideais fascistas, racistas e anti-imigrantistas.
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seguidores, como o esvaziamento dos pneus de carros estacionados nas
proximidades de seus terreiros. É comum, igualmente, a depredação de capelas
católicas, sobretudo as localizadas em áreas isoladas, à beira das estradas. No
entanto, há pouca reação contra esse tipo de atentado e discriminação.
Nos últimos meses, a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial
de São Paulo (SMPIR) registrou aumento significativo do volume de denúncias de
atos de intolerância contra crenças de matriz africana, sendo superado apenas pelos
registros de práticas de discriminação em escolas. Pior ainda quando as duas coisas
vêm juntas: crianças são discriminadas no ambiente escolar pelas suas vestimentas
ou religiões (candomblé, islamismo ou judaísmo). Muitos casos nem sequer chegam
ao conhecimento do poder público.
Visando coibir outras atitudes discriminatórias foi sancionada uma lei municipal
na cidade de São Paulo, criando o Dia de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado
no dia 21 de janeiro. Por conta dessa data, foi lançado, com a presença do prefeito
Fernando Haddad, o fórum inter-religioso, uma iniciativa da SMPIR, que conta com o
apoio da secretaria de direitos humanos.
Trata-se do reconhecimento, pelo próprio Estado, da existência do problema.
A intolerância religiosa é um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana.
E o país, que abriga uma das maiores diversidades religiosa do mundo, tem a
obrigação de ser verdadeiramente um exemplo de paz nessa questão.11
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como resultado a anulação ou restrição do reconhecimento, fruição ou exercício, em
condições de igualdade, de direitos, liberdades e garantias ou de direitos econômicos,
sociais e culturais.
Uma das formas de descriminação racial é a intolerância, ou seja, a falta de
respeito pelas práticas e convicções do outro. Aparece quando alguém se recusa a
deixar outras pessoas agirem de maneira diferente e terem opiniões diferentes.
A intolerância pode conduzir ao tratamento injusto de certas pessoas em
relação ás suas convicções religiosas, sexualidade ou mesmo à sua maneira de vestir.
Está na base do racismo, do antissemitismo, da xenofobia e da discriminação em
geral. Frequentemente, pode conduzir à violência.
Contudo, existem formas de combate à discriminação racial.
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Os seres humanos no passado reuniam-se em grupos que eram pessoas que
tinham as mesmas afinidades de sangue. Eram os clãs. Já que o alimento era raro,
existiam rivalidades entre esses grupos. Uns rejeitavam os outros e viviam em guerra
quase permanente. Aos poucos esses grupos foram formando associações para
juntarem forças para combater outros inimigos externos, mais poderosos. Assim
formaram-se as primeiras nações. Da mesma forma eles continuaram a rejeitar os que
eram diferentes, que tinham outra cor, outros costumes e línguas. Apesar de vivermos
hoje numa aldeia global, onde as pessoas migram e visitam lugares distantes, onde
os costumes se misturam, muitas pessoas ainda conservam esse velho rancor e
desconfiança com relação às pessoas que são diferentes. Aos poucos isso vai
desaparecendo, na medida em que nós vamos percebendo que todo ser humano é
igual, não havendo justificação para o racismo!12
Apesar da lei, é difícil comprovar que um emprego foi negado por causa da cor
da pele. A desculpa pode ser: "Sinto muito, mas o cargo foi preenchido por outro
candidato", em vez de "por um branco". O Brasil foi o último país ocidental a abolir a
escravidão. Isso ocorreu há pouco mais de um século, em 1888. Os negros libertos
foram deixados à própria sorte, numa época em que o governo brasileiro estimulava
a imigração.
"Existem negros demais, é necessário clarear o Brasil", era o pensamento de
uma parte da elite no século 19. Os que defendiam a imigração declaravam
abertamente que não queriam a vinda de africanos ou asiáticos.
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6.8 A exclusão social dos negros
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ou religiões (candomblé, islamismo ou judaísmo). Muitos casos nem sequer chegam
ao conhecimento do poder público.14
Fonte:www.dhnet.org.br
É possível afirmar que a questão dos Direitos Humanos não é apenas uma
questão social, política ou jurídica. Existe uma relação muito estreita entre os Direitos
Fundamentais a todo e qualquer indivíduo e a Ética. Se, do ponto de vista jurídico,
podemos dizer que ao Poder Judiciário compete impedir que os Direitos Humanos
sejam violados; se, do ponto de vista Político e Social podemos afirmar que é preciso
considerar quais políticas públicas e de Estado são as "melhores" para garantir o
acesso a estes Direitos Fundamentais, também podemos dizer que existe um
compromisso Ético na questão dos Direitos Humanos: a luta por tais Direitos deve ser
entendida como uma poderosa ferramenta de transformação social, com o objetivo de
construir uma sociedade justa e solidária; no fundamento dos direitos humanos, existe
44
Por outro lado, o homem é um ser social dotado de direitos
fundamentais: direitos políticos, sociais, econômicos, civis. Não caberia aqui uma
análise detalhada de cada um destes aspectos que garantem ao indivíduo, pelo
menos em tese, sua condição de cidadão no sentido contemporâneo do termo.
Comumente associasse cidadania a consciência de direitos e deveres em um estado
democrático.
Diante da complexidade dos problemas que envolvem a sociedade atual faz-se
necessário conscientizar os indivíduos do processo do qual fazem parte, por isso,
trabalhamos com um conceito de cidadania que se concretiza na efetiva participação
da realidade social e no gozo dos direitos individuais e sociais, sendo que neste último
aspecto, nos limitamos a trabalhar com a ideia de cidadania civil (afirmação de valores
cívicos como igualdade, liberdade, respeito, solidariedade, diálogo) e cidadania social
(que compreende a justiça social como exigência ética da sociedade para o bem
viver).15
Violência no trânsito
FIGUEIREDO, Antônio Macena. Ética: origens e distinção da moral. Saúde, ética &
justiça, v. 13, n. 1, p. 1-9, 2008. Acesso em 22 set. 2017.
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GASPAROTO, Ana Lúcia. Sobre o anteprojeto de Convenção Interamericana
contra o racismo e toda forma de discriminação e intolerância. In: SALA, José
Blanes (Org.). Relações internacionais e direitos humanos. São Paulo: Cultura
acadêmica; Marília: Oficina Universitária, 2011. Acesso em 22 set. 2017.
www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/politicas_sociais/bps_18_cap09.pdf>.
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