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Uma das maiores dificuldades para os que desejam compreender os grupos e trabalhar
realmente com eles é explicar as grandes diferenças de "agrupamento" que distinguem uns
grupos dos outros. Por que o comparecimento num grupo é tão irregular que provoca sua
morte lenta, enquanto no outro, com atividades e liderança semelhantes, continua grande?
O que torna um grupo "vigoroso", de forma que os componentes trabalham com mais ardor,
fazem os maiores sacrifícios pelo grupo, estão mais dispostos a celebrar suas virtudes,
parecem mais felizes quando estão juntos, interagem com maior frequência e mais
rapidamente chegam a acordo do que os componentes de uma organização decadente?
Todos os dias são observados esses sintomas, mas não é fácil encontrar uma explicação
adequada para a natureza e a origem da coesão do grupo.
A fim de pensar nesse problema, obtém-se um sugestivo auxílio na designação de dois
síndromes de sintomas - por analogia com a medicina - tais como “saudável” e “doentio”.
Contudo essa dicotomia é pouco esclarecedora quanto às determinantes da saúde coletiva,
e nem ajuda a explicar as grandes diferenças de comportamento entre os componentes do
mesmo grupo. Como explicar que um grupo que, durante muito tempo, mal conseguiu reter
seus componentes se torne, repentinamente, mais atraente? Quais os fatores que, segundo
a observação dos dirigentes sindicais, frequentemente provocam um aumento da
solidariedade do grupo de operários depois de uma greve? Como explicar as flutuações no
espírito de um quadro esportivo, que aparentemente independem das vitórias e das
derrotas? Quais as razões pelas quais num ano apresenta boa participação e, no ano
seguinte, uma atuação indiferente?
E por que um escoteiro frequenta ocasionalmente as reuniões de sua companhia, enquanto
um vizinho frequenta a mesma companhia regularmente e permanece, durante anos, um
participante entusiasta?
Um primeiro passo para responder a essas perguntas consiste em criar conceitos
descritivos que se apliquem a fenômenos relativamente homogêneos. Que queremos dizer
quando, intuitivamente, falamos de coesão de um grupo? Logo nos ocorrem vários sentidos.
Pensamos, por exemplo, num grupo com um
forte sentimento de “nós”; com isso, queremos dizer que os componentes tendem a falar
através de “nós” e não de “eu”.
Pensamos, também, num grupo onde todos são amistosos ou onde seja grande a lealdade
aos companheiros. Um grupo coeso poderia ser caracterizado como aquele em que todos
os componentes trabalham reunidos para um objetivo comum, ou um em que todos estão
prontos a aceitar a responsabilidade pelo trabalho coletivo. A disposição para suportar dor
ou frustração pelo grupo é, ainda, uma outra indicação possível de sua coesão. Finalmente,
podemos imaginar um grupo coeso como aquele que é defendido, pelos seus componentes,
das críticas e ataques externos.
Até certo ponto, todas essas caracterizações são razoáveis.
Algumas levaram a úteis definições operacionais e permitiriam medidas para descrever a
proporção da característica existente num determinado grupo, em um momento específico.
Já se mostrou que os resultados dessas medidas, sob condições específicas, "têm sentido".
Por exemplo, nos experimentos de White e Lippitt (Cap. 28), sobre atmosfera autoritária,
democrática e de "laissez-faire" em clubes de meninos, realizaram-se diversas observações
que poderiam servir como definições operacionais de um ou outro dos sentidos acima
descritos. Observaram o número relativo de comentários em que os meninos usaram
"nós" e "eu". Registraram, também, o número de comentários amistosos, de afirmações que
exprimiam descontentamento, a frequência de observações que revelavam espírito de
grupo.
Em todas essas medidas verificou-se que os grupos de clima autoritário estimulavam mais
conflitos entre os componentes que os de atmosfera democrática.
Alguns utilizaram o número relativo de ligações de amizade entre os componentes, no
interior de diferentes grupos, para medir a coesão coletiva. Festinger, Schachter e Back, por
exemplo, determinaram a coesão das várias quadras de um conjunto residencial; pediram
aos moradores os nomes dos amigos no local e, depois, verificaram a proporção de
escolhas feitas em toda a comunidade. Dimock construiu, também, um "índice de amizade"
para pequenos grupos . Esta é a razão do número de escolhas feitas no clube, quando cada
sócio dá o nome dos 10 melhores amigos, dividido pelo número que poderia ser escolhido
no quadro social do clube. Os dois estudos demonstram que os resultados dessas medidas
podem ser empregados para diferenciar os grupos, que são também diferentes sob outros
aspectos importantes.
O grau em que os componentes do grupo aceitam as mesmas normas de comportamento e
de crença foi, às vezes, considerado como indicador de coesão. Em outro estudo, French
verificou que os grupos organizados eram menos suscetíveis à perturbação causada pela
partida de um dos componentes que os grupos desorganizados. Essa diferença poderia ser
considerada como indicadora de variações na coesão. A atração do grupo foi medida de
outra maneira por Schachter, no experimento de laboratório descrito no Capítulo 15.
Empregou três perguntas: se os sujeitos desejariam continuar como sócios de novos
clubes, a frequência com que desejariam que o grupo se reunisse, e se desejariam convidar
outros para permanecer no grupo.
Também neste caso, os grupos que variaram nessas medidas seriam, provavelmente,
diferentes em algumas outras variáveis.
Uma inovação engenhosa na mensuração da coesão é o teste projetivo de figuras,
construído por Libo. Baseia-se na suposição de que, quando as pessoas estão numa
reunião, o ambiente imediato influencia os sentimentos dos participantes do grupo e estes,
por sua vez, se refletirão nas histórias escritas sobre as figuras. Ficou demonstrado que o
teste distingue muito bem entre os sujeitos que, quando posteriormente têm liberdade para
escolher, permanecem no grupo e aqueles que o abandonam.
Em estudos de grupos mais permanentes — como firmas comerciais ou clubes formalmente
organizados — geralmente é possível medir alguns elementos, tais como o absenteísmo, a
mobilidade ou o pagamento de mensalidades. Estes foram frequentemente usados como
indicadores grosseiros do grau de atração que a instituição tem para seus componentes.
Mann e Baungartel realizaram uma cuidadosa análise deste tipo, ao estudar a relação entre
ausências e várias medidas de atitudes de satisfação entre empregados de uma empresa
pública. De modo geral, verificaram relações estatisticamente significativas entre a taxa
média de ausência, num setor da companhia, e o grau de satisfação entre os membros do
grupo diante da supervisão, dos colegas e da natureza do serviço. Um resultado notável,
especificamente importante aqui, refere-se à percepção que os homens têm da
solidariedade de seu grupo. Uma grande proporção (62% para grupos de funcionários de
escritório) de participantes de grupos com taxas muito baixas de ausências indicou num
questionário:
"Nossa equipe é melhor que as outras quanto à união". Apenas 21% dos participantes de
grupos com altas taxas de ausências deram essa resposta. Análises semelhantes
demonstraram que os supervisores que fortalecem o grupo através de discussões e
decisões coletivas contam com menos ausências.
O emprego desses tipos de índices comportamentais de coesão de grupo apresenta uma
dificuldade, observada por Hill e Trist. A ausência não é abandono do grupo, embora seja
um abandono temporário da participação em suas atividades. Podemos ter boas razões
para esperar que um grupo muito atraente tenha, habitualmente, uma taxa elevada de
participação em suas atividades; mas isso não é necessário e invariável. Um participante
que se sente atraído pelo grupo pode afastar-se por doença, obrigações simultâneas ou
necessidade de evitar tensões provenientes da participação no grupo, sem ter reduzido seu
entusiasmo por este; ou outro, que não sente essa atração, pode participar,
constantemente, de suas atividades, sem aumentar seu desejo de frequência.
Num estudo de empregados de escritório, ainda não publicado, Jackson observou que os
empregados mais competentes faltavam com maior frequência que os menos competentes.
Talvez os mais competentes estivessem tão seguros de suas relações com a companhia
que se afastavam do trabalho sempre que isso lhes parecia necessário.
Evidentemente, incluem-se diversas coisas diferentes nessas descrições intuitivas e
operacionais da coesão de grupo. É possível distinguir, pelo menos, três sentidos bem
diferentes: (a) atração do grupo, que inclui resistência para deixá-lo; (b) motivação dos
membros para participar nas atividades do grupo;
(c) coordenação dos esforços dos participantes.
- Consequências da coesão
Se um participante obtém, no grupo, os recursos que pretende, é provável que deseje
manter a situação e ajude a manter o grupo ou trabalhe para assegurar a eficiência de uma
organização. Em vários estudos, observou-se que os participantes muito atraídos pelo
grupo mais frequentemente apresentam um comportamento benéfico ao grupo que os
menos atraídos.
Atividade responsável- Os indivíduos que se sentem mais atraídos por um grupo assumem,
com maior frequência, responsabilidade pela organização, participam mais facilmente nas
reuniões, assistem mais fielmente às reuniões e permanecem mais tempo como
participantes do grupo.
Influência interpessoal- Os componentes atraídos tentam, mais depressa, influir nos outros,
estão mais dispostos a ouvir os outros, aceitam mais facilmente a opinião de outros e
mudam com mais frequência suas opiniões, a fim de adotar as de seus companheiros.
Semelhança de valores- Os participantes muito atraídos pelo grupo dão mais valor aos
objetivos do grupo, aderem mais intimamente aos padrões do grupo, apresentam um
impulso maior para proteger os padrões do grupo através de pressão ou da rejeição de
pessoas que os transgridem.
Desenvolvimento da segurança- Os participantes atraídos têm menos tendência para
"inquietação" ou nervosismo nas atividades do grupo e encontram, mais frequentemente,
segurança ou alívio de tensão nas atividades comuns.
Lembramos que os indivíduos podem ser atraídos por um grupo, mesmo quando não
pertencem a ele. Nesse caso, a atração do grupo teria consequências semelhantes ou
diferentes das acima citadas? Existem poucas provas para responder a esta questão, mas a
partir de vários estudos parece que os não-participantes, quando fortemente atraídos pelo
grupo, agem como os participantes e, em alguns casos, podem superá-los, aparentemente
para provar que merecem ser aceitos. Jackson descreveu diferentes tipos de
comportamento que devemos esperar de pessoas em combinações independentes de
grande ou pequena atração pelo grupo e grande ou pequena aceitação da pessoa pelo
grupo.