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HABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

DESDOBRAMENTO DA FALA
INFANTIL, ADULTO, NOVO

Material:

Esta atividade é composta por vários cartões com imagens, sendo estes:

1- No desdobramento Infantil: desenhos onde estão representadas crianças, sozinhas ou em relação


com adultos

2- No Desdobramento Adulto

2.1– Fase 1: 12 cartões com desenhos onde estão representadas figuras jovens e adultas

2.2– Fase 2: Imagens mais complexas, onde existem quadros com fotografias ou pinturas reais

Descrição do exercício:

Este exercício é dividido em cinco fases, (três fases, no Instituto) sendo que em cada fase é apresentada
uma pergunta específica:

1. O que está aqui? / Descreva com o maior número de pormenores tudo o que está aqui.

2. O que aconteceu antes?

3. O que vai acontecer depois?

4. O que é que ele/a está a sentir?

5. O que é que ele/a está a pensar?

6. Que título podemos dar a esta história/cartão?


Apenas quando o cliente conseguir resolver de forma competente cada uma das fases anteriores, é que
o terapeuta deverá avançar para uma próxima fase.

Assim é apresentada ao cliente uma imagem e é-lhe solicitado que faça uma descrição detalhada dessa
mesma imagem. Pretende-se que, com a aplicação do desdobramento da fala, o cliente seja capaz de
desdobrar a fala até que se transforme em fala externa.

A linguagem vai construindo e modificando a psique, e a psique modifica também a linguagem. A fala
interna não é apenas a fala sem som ou com os lábios parados. A fala interna utiliza estrutura, que
medeia propriamente a linguagem e a mente ou cérebro. A forma como está organizada a fala interna
não é exatamente a mesma como se organiza a fala externa. Na atividade, ao relatar a descrição da
imagem, a psique do cliente está diretamente relacionada com a fala interna. Quando a transforma em
fala externa, quando o terapeuta lhe diz/aponta “não percebi...; explique-me melhor...; não falta
nada?...; como é o cabelo da menina?,...”, o que o terapeuta procura é que a fala externa do cliente
fique mais clara. Só assim, há garantia de que a fala interna serve de forma correta à consciência e,
assim, à capacidade de reger o seu próprio comportamento (Quintino-Aires, 2009).

Assim, o desdobramento da fala interna em fala externa permite que o cliente seja assertivo e assuma o
controlo da sua própria vida, estruturando assim o pré-frontal.

Componentes/fatores:

- compreensão de ilustrações
- compreensão de subtextos
- compreensão de ações sucessivas
- exploração de imagens
- varrimento
- sequenciação
- capacidade de reconhecimento
- volume de vocabulário
- função nominativa descritiva
- função nominativa categorial
- fala narrativa automatizada
- assertividade

Instruções:

O terapeuta deve colocar diante do cliente três cartões, solicitando-lhe que escolha um deles. De
seguida, pergunta-se o que está a ver no cartão, que descreva de forma geral o que está a acontecer.
Depois desta breve explicação, ainda não detalhada, o terapeuta pede ao cliente para fazer uma
descrição de toda a imagem com o máximo detalhe que consiga. Quando o cliente tenta descrever a
imagem com recurso a gestos ou apontando para partes da imagem deverá fazer-se chamadas de
atenção ao cliente no sentido de impedir que o faça, pode ser dito ‘não preciso de gestos, diga-me por
palavras’. Uma forma de ilucidar o cliente sobre o procedimento é pedir ao cliente que descreva a
imagem como se estivesse a realizar uma conversa telefónica, onde o cliente tem que descrever a
imagem de forma a que o terapeuta a consiga visualizar sem ter acesso visual à mesma. Por exemplo:
“estamos a falar ao telefone, como tal, não estou a visualizar a imagem que está à sua frente. Desta
forma, peço-lhe que me descreva tudo aquilo que está a ver, com o máximo detalhe possível”.
Neste momento da aplicação, o cliente tende a nomear, de forma desorganizada elementos isolados da
imagem e sem grande detalhe, como por exemplo, “uma menina, de cabelo comprido e, com uma
camisola rosa”. Nesta breve descrição, não temos detalhe suficiente para possibilitar a visualização da
imagem, o que significa que a fala do cliente não foi suficiente para a descrição detalhada da situação.

Para auxiliar o cliente, é importante que o terapeuta vá assinalando todos os aspetos da imagem que
ainda faltam descrever ou que, foram descritos com pouco detalhe, dando a possibilidade de escolha
entre algumas opções. Como por exemplo, “o cabelo, é curto ou longo?” ou “a camisola é justa ou
larga?”, etc.

Quando o cliente está capaz de realizar a tarefa anterior, descrevendo pormenorizadamente todos os
detalhes da imagem em todos os cartões apresentados, é-lhe solicitado que imagine o que poderá ter
acontecido imediatamente antes da situação que está a acontecer, ou seja, no passado. Esta descrição
deverá ser feita com o maior detalhe possível, explicando passo a passo o que vai acontecendo até ao
momento presente. O mesmo deverá ser feito para o que aconteceu imediatamente depois da situação
que está a acontecer na imagem. Esta descrição deverá ser feita com o maior detalhe possível do
momento presente à situação futura.

Aqui, o cliente tem tendência a descrever de uma forma demasiado geral o momento antes e o
momento a seguir, quase como que saltando vários passos que permitam a real realização da ação.
Desta forma, o cliente tem que ser capaz de antecipar todos os momentos até à realização da ação e
fazer uma descrição desses mesmos passos. Por exemplo: “para assar um peixe no forno são necessários
uma série de passos. Primeiro, lava-se o peixe, escala-se com uma faca que se retira da gaveta, lava-se
novamente, procura-se e retira-se um tabuleiro do armário, coloca-se o peixe escalado no tabuleiro que
tem uma cama de cebolas que foram previamente descascadas e cortadas. De seguida, coloca-se um
pouco de sal, azeite e pimenta para temperar o peixe. Entretanto, lavam-se as mãos, liga-se o forno,
abre-se a porta do forno, vamos buscar o tabuleiro que colocamos no forno e, finalmente, fecha-se a
porta do forno e aguardam-se cerca de 20 minutos até que esteja meio assado. Abre-se a porta do forno,
dá-se a volta ao peixe, para cozinhar do outro lado, e aguardam-se mais 20 minutos até retirar do
forno”. Desta forma, é possível visualizar toda a planificação necessária para a execução de uma ação.

Nesta fase, para auxiliar o cliente, o terapeuta tem que orientar o cliente de forma a que consiga
organizar toda a sequência de acontecimentos através de um discurso organizado e lógico.

Para além disto, alguns clientes tendem a acompanhar todo o seu discurso com movimentos ritmados
que acompanham a descrição. Neste caso, o terapeuta deve solicitar ao cliente para que não
movimente as suas mãos enquanto descreve a ação, relembrando que se mantenha na posição “de
pianista” que inicialmente lhe foi pedido, bem como relembrar que, como inicialmente lhe foi dito na
instrução, “estamos a falar ao telefone e eu não o estou a ver. Por isso, terá que me dar essa explicação
através de palavras, não de gestos”.

Quando o cliente estiver capaz de detalhar o mais possível o que aconteceu imediatamente antes, e, ou
o que irá acontecer imediatamente a seguir à situação apresentada na imagem, o terapeuta deve
começar por pedir ao cliente intervalos de tempo mais alargados. Podendo, a partir desse momento,
pedir ao cliente que refira, o que a pessoa que, se encontra na imagem estaria a fazer há uma hora, e,
ou, pedir ao cliente que refira, o que a pessoa apresentada na imagem, poderá estar a fazer daí a uma
hora. Consecutivamente ir aumentando o espaço temporal. Todas as etapas devem conter uma
sequência de forma gradual, só pedimos que passe à descrição da etapa seguinte, quando a anterior
estiver realizada com o máximo de destreza possível e, que o cliente não apresente dificuldade em
detalhar nem em nomear.
Alguns clientes também não estão capazes de colocar em palavras aquilo que querem dizer, porque não
se lembram de determinadas palavras ou porque não sabem o nome mais adequado para definir algo.
Nestes casos, compete ao terapeuta nomear tudo o que está a ser dito. Assim, o terapeuta não deve
aceitar termos como “isso”, “coiso”, etc. Esta técnica é muito importante para promover a nitidez do
entendimento que o cliente tem de Si, dos Outros e do Mundo (Quintino-Aires, 2009).

No final, quando solicitamos a atribuição de um título ao cartão ou à histório muitos clientes têm
dificuldade nessa atribuição. Como em todas as situações devemos acompanhar a tarefa, dando pistas.
Para os que referem que nada lhes ocorre, podemos dizer ‘pense lá melhor como poderia resumir o que
contou?’ e assim ir auxiliando a construção de ideias. Para outros o problema reside em ter várias ideias
e a dificuldade é na escolha. Nesses casos, a nossa ajuda passa por incentivar a escolha por um ‘escolha
um, não há exatamente uma resposta correta’. Existe ainda as situações em que o cliente atribui um
título muito extenso, quase que recontando a história/descrição. Aqui devemos salientar o que faz do
título de um filme ou de um livro um bom título, o ser curto, claro e exato, constando apenas de
palavras-chaves que nos remetam automáticamente para o pretendido.

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