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Adara Souza de Araujo - 00334632

EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE PORTO


ALEGRE – RS.

Referente:
Ação Visando a Indenização por Danos Morais

Virgília v. Confeitaria Conde S.A.

Sumário: I. Dos Fatos; II. Dos Fundamentos Jurídicos; III. Da Tutela de


Urgência; IV. Dos Pedidos e dos Requerimentos Finais.

Resumo: Virgília move ação contra Confeitaria Conde, postulando indenização por danos
morais decorrentes da recusa de atendimento motivada por intolerância religiosa.

Legislação e Precedentes Citados: Art. 5º, inciso VIII da CF/1988; Art. 1º da lei
9.459/1997; Art. 5º da Lei 7.716/1989, Art. 39, incisos II e IX do CDC

Virgília, brasileira, solteira, empresária, inscrito no CPF sob o n. XXXX,


domiciliado e residente em Porto Alegre, RS, na Rua XXXXX, bairro XXXX, CEP
XXXX, e-mail XXXX, vem, por sua advogada signatária, propor

AÇÃO VISANDO À TUTELA PROVISÓRIA COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

Contra Confeitaria Conde, pessoa jurídica, inscrita no CNPJ sob o n.


XXXX, sediada em Porto Alegre, RS, na Rua XXXX, bairro XXXX, CEP XXXX,
e-mail XXXX, fazendo-o na forma que segue:
I
DOS FATOS
Adara Souza de Araujo - 00334632

Virgília é Presidenta da Associação Viva a Liberdade Religiosa - associação


fundada em 2004 com o fim de defesa da liberdade religiosa, de culto, da promoção
da igualdade entre fiéis dos mais diversos credos, bem como combate à liberdade
religiosa, incluindo assistência às vítimas de intolerância religiosa - e, dentro de
suas funções, buscava um serviço de confeitaria para uma festa beneficente de seu
templo religioso. Para realização de tal serviço, entrou em contato com a
Confeitaria Conde, confeitaria centenária e de muito renome na cidade de Porto
Alegre. Ao entrar em contato com a confeitaria, no entanto, Aires e Sofia, atuais
donos do negócio, negaram o serviço, alegando não existir a possibilidade de
adequação daquele serviço com a agenda já preenchida da empresa.
Ao desconfiar que o motivo da recusa de atendimento fosse diversa a
alegada pelos comerciantes, Virgília comentou com três conhecidos a respeito do
fato e, para a sua surpresa, todos os três haviam recebido respostas de mesmo
caráter ao tentar contatar a Confeitaria Conde para um evento de cunho religioso
ou minimamente relacionado à religião.
No primeiro caso relatado à Virgília, Lobos Neves, de religião católica, teve
seu pedido de orçamento negado ao contatar a Conde para realização de um
pequeno evento familiar na Páscoa de 2020. Em segundo, Capitu, espírita e
associada à Viva a Liberdade Religiosa, também não conseguiu contratar a Conde
para um evento de confraternização de seu centro espírita, em 31 de março de
2016. Por último, ao conversar com Jacó, praticante do candomblé e também
associado, verificou-se mais uma vez a negativa da confeitaria, já que sequer
atendido pelo prestador de serviços foi, quando buscava atuação para
confraternização em razão do feriado de 2 de fevereiro.
Percebe-se, a partir dos fatos narrados, um claro padrão na recusa de
atendimento da Confeitaria Conde de Porto Alegre, ao recusar o atendimento e
provimento de serviços a qualquer evento de cunho minimamente religioso. É
preciso, ainda, ressaltar que, de maneira nenhuma, a autora procurou a ré com a
intenção de realizar pregação ou de incluí-la em quaisquer ritos religiosos de sua
crença, sendo o contato para prestação de serviços feito para o fornecimento de
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alimentos de uma festa beneficente, com a intenção de angariar fundos para seu
templo.

II
DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Apesar de extremamente óbvio, é necessário reforçar o ilícito da recusa de


atendimento da confeitaria, com base constitucional, garantida pelo inciso VIII do
artigo 5º da Constituição Federal de 1988:
Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa.

Diante de tal dispositivo depreende-se a violação de direito fundamental, ao


privar a autora de seu direito de atendimento enquanto consumidora.

Fica ainda mais claro o caráter ilícito do ato quando tal é tipificado no art.
5º da Lei 7.716/1989 o qual consta: “Recusar ou impedir acesso a estabelecimento
comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador.” Havendo
inclusive pena de reclusão de um a três anos para tal ato. Ainda, é míster ressaltar,
que os artigos da Lei 7.716 não se aplicam somente aos casos de racismo, mas
conforme editado pela Lei 9.459/1997, incluem-se também as situações de
discriminação por nacionalidade, etnia e religião.
Ainda, se não bastassem as demonstrações anteriores da violação, inclusive
por preceitos constitucionais, apresenta a Confeitaria Conde prática abusiva
conforme incisos II e IX do art. 39 do Código de Defesa do Consumidor, na recusa
do atendimento.
Pela fundamentação apresentada fica provada ilicitude do ato por parte da
Confeitaria Conde, bem como violação de direito fundamental da autora, dando
legitimidade à pretensão.
Adara Souza de Araujo - 00334632

III
DA TUTELA PROVISÓRIA

Conforme o Livro V do Código de Processo Civil Brasileiro, fundamenta-se


em urgência o pedido de tutela provisória pela autora. Virgília foi, não somente
lesada em um direito fundamental seu, mas também no tempo em contato com a
Confeitaria Conde, deixou a autora de contratar outros serviços, prejudicando a
contratação de serviço qualificado para a festa beneficente.
Assim, de acordo com o art. 300 do CPC, requer-se a determinação de
Tutela de Urgência, reconhecendo o dano causado a Virgília, bem como a
determinação da indenização, já considerando além dos danos morais causados, o
prejuízo financeiro decorrente da relação comercial não formada, atrapalhando a
autora na busca por outros serviços adequados para realização de seu evento.

IV
DOS PEDIDOS E DOS REQUERIMENTOS FINAIS

Ante todo o exposto, Virgília requer que Vossa Excelência:

i) Determine a indenização a ser paga pela Confeitaria Conde a título de


Danos Morais;

ii) Determine a citação da Confeitaria Conde para comparecer ao processo e,


querendo, contestar os pedidos formulados;

iii) A produção de todas as provas em direito admitidas, conforme artigos 369


e seguintes do CPC, em especial a inversão do ônus da prova, para que a Confeitaria
Conde comprove a impossibilidade de atendimento em decorrência da agenda
lotada no período solicitado por Virgília, bem como por Lobos Neves, Capitu e Jacó.
Dá-se à causa o valor de R$ 3.000,00.
Adara Souza de Araujo - 00334632

Porto Alegre, 13 de dezembro de 2023.

P. P. ADARA SOUZA DE ARAUJO,


OAB/RS N. 334632

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