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1590/S0104-40362015000300006 663
Práticas e comportamentos de
liderança na gestão dos recursos
humanos escolares
Andreia Rubina da Conceição Costa a
António V. Bento a
Resumo
Num mundo globalizado e complexo em que o capital humano assume
centralidade em temáticas associadas à liderança das organizações escolares
e consequente Gestão de Recursos Humanos, urge perceber que perceções
têm os liderados, pessoal docente e não docente, acerca das práticas e
comportamentos da liderança do Diretor escolar. Esta pesquisa de natureza
mista, privilegiou como estratégia metodológica o estudo de caso, incidindo
sobre uma Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos da Região Autónoma da Madeira.
Foi administrado, ao pessoal docente e não docente da escola, o questionário
LPI - Observer (Leadership Practice Inventory) de Kouzes e Posner. A análise
de conteúdo recaiu sobre o Projecto Educativo de Escola e o Plano Anual de
Escola. Concluíu-se que, na opinião dos inquiridos, as práticas de liderança
que deverão ser privilegiadas por um líder eficaz são “Permitir que os outros
ajam” e “Encorajar a vontade”.
Palavras-chave: Organizações escolares. Gestão de recursos humanos. Liderança.
Práticas de liderança.
1 Introdução
A atualidade, global e complexa, caracterizada pelo paradigma científico-
tecnológico, tem provocado, nos vários domínios da vivência humana, alterações
profundas e constantes. Também as organizações, e em particular as escolares,
deparam-se com mudanças que, na maior parte das vezes, são impulsionadas
por fatores externos a estas. Parafraseando Guerra (2000, p. 54), a escola tem
“de estar de sobreaviso relativamente aos novos contextos sociais e às novas
exigências da sociedade”, pois, é do conhecimento geral que, cada vez mais,
a
Universidade da Madeira - UMa. Funchal, Portugal.
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Nas organizações escolares, este aspecto também não deverá ser descurado pelo
que os gestores de Recursos Humanos escolares, nomeadamente, os Presidentes
dos Conselhos Executivos, deverão dar a devida atenção à forma como é gerido
e, fundamentalmente, liderado o Pessoal Docente e Não Docente. Mesmo Costa
(2003) refere que as escolas excelentes são aquelas em que os líderes são pessoas
que se destacam. A liderança assume assim um papel relevante em todo o tipo de
organizações, nomeadamente as escolares, pois, segundo Motta (1999, p. 221),
“liderar significa descobrir o poder que existe nas pessoas, torná-las capazes de
criatividade, auto-realização e visualização de um futuro melhor para si próprias
e para a organização em que trabalham”.
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Segundo Bento (2008, p. 1), dentro da mesma linha de pensamento de Fullan (2000),
o líder, em geral, tem sido visto como alguém que possui determi-
nadas características inatas ou adquiridas, alguém que se adapta às
circunstâncias e ao contexto em que a organização se insere e alguém
que gere conflitos e exerce influência em ambientes ambíguos,
complexos e incertos.
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As escolas têm um papel muito importante na sociedade, pois, para todos, estas têm o
dever de construir cidadãos melhores com o intuito de se traduzir, consequentemente,
numa sociedade melhor (GUERRA, 2002, p. 10). Torres e Palhares (2009) referem
que, à semelhança dos restantes países, também no contexto português, os gestores e
líderes escolares encontram-se submetidos a grandes pressões políticas, mecanismos
de controle, de inspeção e de avaliação. Por outro lado, o Presidente do Conselho
Executivo tem o compromisso de cuidar das necessidades da escola como uma
instituição, servindo os seus propósitos e aqueles que lutam para os atingir, como
também, proteger a sua integridade institucional. Desta forma, os líderes escolares
são educadores e baseiam o seu trabalho na aprendizagem, no ensino e na melhoria
da escola sendo, assim, sendo considerados agentes morais e defensores sociais
das crianças e das restantes pessoas da comunidade educativa (FULLAN, 2000;
GREENFIELD, 1999; SERGIOVANNI, 2004). Esta voz moral faz toda a diferença
na liderança das organizações escolares, pois permite considerar a liderança como o
desenvolvimento de um grupo de pessoas que têm objetivos comuns em detrimento
da gestão burocrática (SERGIOVANNI, 2004). Outro aspecto a salientar é o fato
de a liderança escolar ser dispersa, pois percorre os diversos setores da escola,
sendo assumida por vários elementos da escola de uma forma partilhada (COSTA,
2000; FORMOSINHO; MACHADO, 2000), destacando-se, desta forma, princípios
fundamentalmente democráticos.
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3 Aspectos metodológicos
Na presente investigação, foi utilizado, como estratégia de pesquisa, o estudo de
caso pelo que a mesma se enquadra no paradigma dos estudos qualitativos. Segundo
Yin (2001, p. 32), “um estudo de caso é uma investigação empírica que: investiga
um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”.
Por outro lado, a natureza do nosso estudo tem também caraterísticas do paradigma
dos estudos quantitativos, pois utilizou, como um dos instrumentos de recolha
de dados, o inquérito por questionário que posteriormente foi tratado através da
análise estatística. Para Yin (1993), o estudo de caso não implica nenhuma forma
específica de recolha de dados, os quais podem ser quantitativos e qualitativos.
Tanto Bell (2008) como Sousa (2005) apontam para esta possibilidade dos
investigadores utilizarem técnicas qualitativas e quantitativas sendo que, este
último investigador, refere que mesmo nas investigações qualitativas mais radicais:
têm vindo a usar cada vez com maior frequência o tratamento estatís-
tico nas suas investigações de tal modo que nos dias de hoje já quase
nem se faz distinção entre perspectivas qualitativas e quantitativas. É
a investigação que requer esta ou aquela metodologia, independente-
mente das posições teóricas do investigador (SOUSA, 2005, p. 291).
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Inspirar uma visão conjunta Refere-se ao líder ter uma visão atrativa para o futuro
da organização envolvendo os seus constituintes na
mesma. Para ter o envolvimento dos outros o líder terá
de os conhecer, nomeadamente, os seus sonhos, as suas
esperanças, aspirações e valores.
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Tendo em conta as nossas questões de investigação, optamos por fazer uma adaptação
ao questionário, nomeadamente, o acréscimo de mais uma coluna, de forma a
podermos recolher, num mesmo momento, também as opiniões dos inquiridos
quanto às práticas de liderança que deverão ser observadas num líder eficaz.
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Dar o exemplo
O questionário foi aplicado a todo o Pessoal Docente (PD) e Pessoal Não Docente
(PND) da escola. A percentagem de questionários devolvidos foi superior no
grupo do PND, tendo sido de 70,6%, enquanto no grupo do PD foi de 49,1%.
Independentemente da função, verifica-se que 56,1% da população em estudo
responderam ao questionário, o que corresponde a uma amostra que representa
mais de metade da população. Embora mais de metade da população tenha
respondido ao questionário, não podemos afirmar que seja representativa ou
significativa da população. O grupo do PND é representativo da população, ou
seja, os resultados obtidos para este grupo podem ser conclusivos para todos os
Não Docentes da escola. No caso do PD, já não se pode generalizar as conclusões
para todos os Docentes, pelo que, os resultados obtidos só são conclusivos para
os 52 elementos que entregaram o questionário.
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aos outros”. Podemos, então, concluir que no PEE estão privilegiados aspectos
relacionados com a colaboração e a confiança. A vertente mais enfatizada desta
prática de liderança, neste documento, “Fomentar a colaboração”, segundo Kouzes
e Posner (2009), está relacionada com o incentivar o estabelecimento de relações
humanas saudáveis entre todos os constituintes, tendo como consequência, o
reforço da confiança mútua e da colaboração. A análise de conteúdo do PAE veio
corroborar algumas das conclusões retiradas da análise de conteúdo do PEE visto
que, tal como no PEE, a prática “Permitir que os outros ajam” é a que possui
maior registo de ocorrências (46,6%).
4.2 O questionário
Quanto à caracterização dos inquiridos, constatamos que do total dos 88
inquiridos, 52 pertencem à categoria do PD, correspondendo a uma percentagem
de 59,1%, e 36 pertencem ao PND, com uma percentagem de 40,9%. Quanto
ao gênero, 83% do total dos inquiridos são do sexo feminino e 17% masculino.
A idade mínima dos inquiridos é de 29 anos enquanto a máxima é de 62 anos.
Na análise por função, a idade mínima do grupo dos Docentes é de 29 anos e
a máxima de 59 anos, sendo a sua idade média de 42 anos. No grupo do PND,
a idade mínima é de 30 anos e a máxima de 62 anos, verificando-se uma idade
média de aproximadamente 48 anos.
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5 Conclusão
Neste estudo de investigação, tivemos como objetivo fundamental analisar
as perspectivas dos liderados no que concerne à sua percepção das práticas e
comportamentos da liderança. Também nos propusemos a averiguar que práticas e
comportamentos de liderança deverão ser privilegiados num líder eficaz segundo a
perspectiva destes dois grupos. Neste sentido, efetuamos uma reflexão acerca das
práticas e comportamentos de liderança de um Presidente do Conselho Executivo
de uma Escola Básica com 2º e 3º Ciclos da Região Autónoma da Madeira, no
que concerne à função de gerir os Recursos Humanos (Pessoal Docente e Não
Docente) escolares.
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Referências
AFONSO, P. L. Liderança: elementos-chave do processo. Lisboa: Escolar
Editora, 2009.
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