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Dez coisas que eu odeio em você

by Diedra Roiz e Karina Dias

Pâmela e Alisson
Capítulo 1:

*** Alisson ****

Era sábado à noite... A boate estava lotada... O som e


as pessoas a todo vapor... Não curto muito lugares
héteros, mas, como minha namorada insistiu, sendo
assustadoramente chata para que eu viesse... Bom, ela
queria muito acompanhar o grupinho da faculdade, eu
não podia ser estraga prazeres, né? Fiz um esforço
quase sobre-humano e fui.

Lagoa, meia noite e quarenta e cinco... Tenho que


admitir, viu! O lugar era incrível! Não deixava a desejar
para nenhuma boate GLS super badalada... Nossa!
Imaginem só: logo na entrada, víamos a decoração estilo
medieval, dois homens com uma armadura prata nos
recebiam, eles cruzavam as espadas ao alto das nossas
cabeças como se estivessem nos dando um título por
entrarmos ali... Depois da portaria, havia um ambiente à
meia luz, amplo... A pista de dança mais à frente,
centralizada... Ao redor dela, mesas decoradas com
pedras, pareciam pedras de cachoeira... Encostados nas
paredes, sofás de madeira acolchoados com almofadas
que pareciam folhas... Havia uma escada que levava ao
segundo andar, mas nós ficamos por ali mesmo...

Jéssica era toda sorrisos... Nos sentamos em uma mesa


próxima ao bar onde estavam os seus amigos da
faculdade. Ela me apresentou a eles como uma prima.
Isto não me incomodava, tendo em vista que nem os
pais dela e nem os amigos sabiam a respeito da sua
orientação sexual. Muitas pessoas não se assumem para
a sociedade e vivem muito bem, né? No meu caso,
todos os meus amigos eram homossexuais e minha
família me aceitava sem preconceitos. Nós estávamos
namorando há três meses, e essa era a terceira vez que
eu a acompanhava em lugares héteros... Vamos ter que
negociar isso... Nesse tempo todo, Jéssica nunca me
acompanhou em um ambiente GLS, sempre utilizava a
mesmas desculpas: "não vou me sentir bem... E se
alguém me vir? Meus pais, meus amigos... Como vão
encarar isso?"... Bom, gosto dela, e isso me faz ceder
sempre.

Pedi uma cerveja enquanto fui apresentada a duas


amigas e um amigo de Jéssica.. Era desconfortável,
sabe? Não sei como minha namorada consegue dizer
tantas mentiras à nosso respeito em tão curto tempo.
Até um namorado que estava viajando para Londres ela
disse que eu tinha, pode isso?

No decorrer da noite... As coisas foram piorando... As


amigas de Jéssica começaram a comentar sobre os
carinhas gostosos que havia na boate, e eu, muito sem
graça, concordava com aquela plena falta de bom gosto.

Já passava das duas da manhã, e eu olhava o relógio


mais de mil vezes em menos de dez minutos. Queria ir
embora, mas Jéssica não dava sinais de que iria tão
cedo. Fiz a linha... Pedi mais um chopp... E outro... E
outro... Sorri para os amigos dela, falei do meu
namorado fictício que estava com uma doença grave e
havia viajado para Londres na esperança de
um tratamento revolucionário... Viajei, né? O ruim da
mentira é quando você se entrega a ela, a ponto de
acreditar nela... Sabe que eu até chorei falando da
doença do cara?
Eu precisava de ar! Depois que Jéssica se levantou e
disse que iria ao banheiro, vi uma luz no fim do túnel,
sabe? Esperei alguns minutos, depois fui atrás dela,
para tentar convencê-la de que seria melhor irmos
embora... Passei pelo bar... Me espremi entre as pessoas
que estavam vendo a movimentação na pista de dança...
Passei pelo imenso corredor e olhei a placa que indicava
o caminho dos banheiros... Enxuguei o suor da testa...
As luzes daquele corredor se alternavam em verdes e
vermelhas... Por isso tive que parar... Olhar de novo...
Sabe quando você não acredita no que vê? Pois é!
Esfreguei as mãos nos meus olhos... No mesmo instante
em que tomei um esbarrão de uma louca que passou por
mim, como um furacão... Nem consegui olhar pra ela,
mas, também... Não me importei com o esbarrão que
me jogou para o lado e quase me fez cair em cima de
algumas pessoas que estavam paradas... O que doeu
mesmo foi ver Jéssica encostada na parede, no maior
amasso com um carinha... Foi no mínimo nojento, sabe?
Deu vontade de vomitar... O que eu fiz? Um escândalo?
Não! Não sou disso...

- Calma Allison – Disse no silêncio da minha mente


conturbada - Calma Allison! – Repeti, respirei fundo
enquanto passava as mãos pelos meus cabelos...
Nervosa... Decepcionada... Dei meia volta e subi as
escadas que levavam ao terraço da boate... Estava
tocando uma música suave, que acalmou o meu coração
momentaneamente... Aproximei-me da grade... Olhei a
Lagoa lá embaixo... Era uma visão linda... Pena que o
meu humor estava tão feio... Olhei instantaneamente à
minha direita e vi uma mulher chorando quase
silenciosamente com as mãos seguras na grade... Sei lá
o que me deu mas, eu parei ao lado dela...
- Noite difícil? – Perguntei intrometida.

- Que nada! A noite está maravilhosa para quem


surpreendeu o namorado aos beijos com outra.

Sorri achando graça do tom irônico dela.

- Uau! – Virei-me de frente para a mulher que tentava


esconder às lágrimas – Pensei que só o meu namorado
fosse canalha!

- Não... Vai dizer que... Também... Surpreendeu o seu...


Com... – Virou-se de frente pra mim... Quase me perdi
naquele olhar imponente... Seus olhos eram tão azuis
que doíam as nossas vistas só de olhar para eles.

- Sim! – Sorri, ou melhor, tentei sorrir – Ela estava nos


braços de outro – Pensei – Ele estava nos braços de
outra – Disse.
- Que raiva! Eles lá com outras e nós aqui... Nos
lamentando...

- Posso te oferecer uma bebida?


- Quero ir para bem longe desse lugar.

Inclinei a cabeça, como se apontasse a Lagoa lá


embaixo...

- Vamos descer? – Sugeri.

- Boa idéia! – Sorriu. Ela não tinha um sorriso habitual,


era um sorriso que mostrava força... Embora eu a
tivesse visto com lágrimas nos olhos...
Não me despedi de Jéssica, muito menos dos amigos
dela... Saímos da boate pelos fundos... Paramos num
quiosque da Lagoa... Ao fundo dava pra ver o Cristo... A
princípio, o nosso assunto foi os nossos "namorados"
mas, depois de alguns chopes, falamos casualidades... E
quando vimos, o tempo já havia passado... O Sol já
nascia proporcionando um espetáculo maravilhoso aos
nossos olhos, nos despedimos... Sem troca de telefones,
sem ao menos termos dito os nossos nomes uma pra
outra...

Fui pra casa colocar a cabeça em ordem... Segunda-feira


eu iria começar no meu novo emprego, eu estava
ansiosa e temerosa... Ansiosa por ser o meu primeiro
trabalho depois que terminei a faculdade de Jornalismo,
e temerosa porque o meu amigo Leonardo me preveniu
que nossa chefinha era nada mais, nada menos do que
uma cascavel! Vou precisar de sorte...

Perdi as contas das vezes que eu rejeitei as ligações de


Jéssica... Eu divido o apartamento com meu amigo Léo,
que também é gay e quem levou o meu currículo para a
redação onde trabalha. Quando Jéssica esteve no nosso
apê na manhã de domingo pedi a ele que dissesse que
eu não estava. Ela insistiu que queria me esperar para
conversar, mas o meu amigo logo deu um jeito de
despachá-la. Léo era muito bom nisso. Disse que estava
esperando um carinha e Jéssica, que era tudo,
principalmente uma piranha, menos burra, notou que iria
"sobrar" naquela noite. Bom... Eu fiz isso, porque não
conseguia olhar na cara dela... Queria esperar a raiva
passar, para então termos a "conversa final". Confesso
que ia ser difícil, eu gostava muito daquela vadia, meu
Deus! Meu estado de espírito ta péssimo! Bom... O de
vocês também estaria, tendo em vista que nesses três
meses de namoro, me dediquei muito à ela,
praticamente abri mão de todas as coisas que eu mais
gostava por ela. E o que recebi em troca? Foi encontrá-la
aos beijos com um "fdp" qualquer.

- Valeu Léo! – Disse parada próxima à porta da sala –


Não ia conseguir falar com essa vadia agora. Preciso pôr
a cabeça em ordem.

- Vai descansar amiga! – Pôs as mãos nos meus


ombros – Amanhã você vai ter um encontro com a toda
poderosa da revista, viu? Evite olhar muito pra ela...

- Não faço perguntas... Me limito a responder as


perguntas dela, e em hipótese alguma posso elogiar o
trabalho da concorrência! – Sorri da cara dele. Léo
repetiu essas recomendações a semana inteira, mesmo
antes de me ligarem dizendo que a vaga era minha... Pra
ser sincera, nem sei se a vaga será mesmo minha, ainda
tenho que passar pela "aprovação da cascavel". Léo
disse que se ela não for com a minha cara, vai me
despedir antes mesmo de assinar meu contrato. To
ferrada, né?

Capítulo 2:

*** Pamela ****

A segunda feira chegou rápido. E com ela minha face


mais mal humorada.
Assim que entrei na revista, Arlete - minha secretária -
pegou a minha pasta e veio quase correndo atrás de
mim. É, eu ando rápido. Batendo no chão com força com
os saltos altos. Isso cria o efeito ameaçador desejado.

Sentei atrás da minha mesa onde pilhas de papéis já me


esperavam. Guardei os óculos escuros, olhei para a caixa
de e-mails – o laptop já estava ligado. Arlete era
eficiente – senão não continuaria trabalhando comigo -
trouxe café, água e o currículo da nova funcionária.

- Mande-a entrar.

Queria acabar logo com aquilo. Achava aquelas


entrevistas – exigência da empresa - totalmente
desnecessárias. Todos os novatos recém saídos da
faculdade eram iguais: cansativos, chatos, nervosos,
deslumbrados. Essa não devia ser diferente, claro.

Arlete abriu a porta e pediu para a moça que aguardava


na sala de espera entrar... Fui totalmente pega de
surpresa quando a menina entrou na sala... Ela também
me olhou com uma expressão que foi absolutamente
perplexa. Ficou boquiaberta... Imediatamente voltei no
tempo, meus pensamentos ficaram perdidos no silêncio
que ficou entre nós.
...Sábado à noite. Boate lotada. Se o lugar era bonito?
Mesmo que fosse lindo. Isso era o que menos me
interessava.

Odeio boates. Detesto ter que gritar para conseguir ser


ouvida. Prefiro mil vezes uma conversa inteligente e
espirituosa num barzinho...Mas o Fábio adorava. E me
convenceu. Afinal de contas, ele merecia, coitado. Eu
andava trabalhando feito louca, quase não tinha tempo
para ele, que apesar de tudo se mantinha - como sempre
tinha sido durante os já quase oito meses que a gente
namorava - maravilhosamente atencioso, carinhoso,
ardente e gentil.

O Fábio era um daqueles caras que curte esportes


radicais. Graças a isso, tinha um corpo simplesmente
incrível. Esse era um dos pontos chaves da nossa relação
porque, tenho que confessar: ele era pouco burrinho,
mas... Gostoso demais...

O cara não precisava ser um Einstein pra dar o que uma


escorpiana como eu mais prezava: sexo, muito sexo.
Bem feito e selvagem. Com um Apolo daqueles – taurino
e totalmente insaciável - eu estava muito bem servida,
obrigada.

Passamos no meio de inúmeras pessoas. A maioria


caçando, enlouquecidas. Éramos um casal no mínimo
bonito. Impossível passar sem sermos devorados por
aquela tribo.

Àquela altura já era impossível conseguir uma mesa.


Fábio foi até o bar, e aí... Ta, confesso que dei umas
olhadinhas, avaliando o material que se oferecia...
Também, era como entrar num açougue: a carne estava
lá, exposta e disponível. Bastava estender a mão e se
servir... Picanha e Galinha... Aliás, diga-se de passagem,
galinha era o que não faltava...
E depois as pessoas criticavam as prostitutas nas vitrines
na "Red Line" em Amsterdã... Pura hipocrisia...

Quando Fábio voltou, com uma Margherita pra mim -


não bebo cerveja – e uma cerveja pra ele – é só o que
ele bebe – ficamos nos embebedando entre muitos beijos
e amassos.

Então ele disse que ia ao banheiro. E eu acabei indo logo


atrás. Não que eu seja ciumenta, ou de correr atrás. Pelo
contrário. Mas por sorte ou azar – quem pode dizer? –
também fiquei com vontade.
Qual não foi a minha surpresa, ao ver o Fábio – o meu
Fábio – aos beijos com uma menina que ele estava
simplesmente... Encoxando na parede.

- Calma, Pamela! – pensei.

Me virei meio perdida, a vista turva pelas lágrimas – de


raiva! - que sem querer escorriam. Dando um esbarrão
numa idiota que devia estar drogada por que... Estava
no meio do corredor paralisada, com um olhar estranho
e perdido. Empurrei a menina com tanta força que ela
caiu por cima de outras pessoas que estavam próximas.

Nem pedi desculpas. Naquele momento, queria dizer


para o mundo inteiro: exploda-se!

Subi as escadas que levavam ao terraço da boate. Uma


música suave começou a tocar. E pude ouvir como meu
coração batia alto. Um verdadeiro bate estaca...

Me aproximei da grade e olhei a Lagoa lá embaixo. Do


Rio de Janeiro inteiro, era o lugar que eu mais
gostava. Pena que naquele momento, a beleza da vista
só tornava o gosto das lágrimas que molhavam meu
rosto ainda mais amargas. Uma garota parou ao meu
lado. Minha primeira vontade foi enxotar a intrometida.
Mas ela me olhou de um jeito meigo que me desarmou:

- Noite difícil?
Meu humor peculiar – negro, ácido, sarcástico, como as
pessoas preferiam classificar – veio rápido:
- Que nada! A noite ta maravilhosa para quem
surpreendeu o namorado aos beijos com outra.

- Uau! – ela se virou para mim – Pensei que só o meu


namorado fosse canalha!

Coincidência... Coincidências não existem. Na verdade


tudo tem um motivo bem palpável. Apenas não
percebemos logo de cara.
Mas confesso que aquilo me pegou totalmente de
surpresa:

- Não... Vai dizer que... Também... Surpreendeu o seu...


Com... – Virei de frente para ela. Que me olhou de um
jeito estranho, diferente... Senti um arrepio. Apesar de a
noite estar agradável, impossível eu estar com frio...

- Sim! – ela tentou sorrir – Ele estava nos braços de


outra – Disse.

- Que raiva! Eles lá com outras, e nós aqui... Nos


lamentando...

- Posso te oferecer uma bebida?

- Quero ir para bem longe desse lugar.

- Vamos descer? – Sugeriu.

Ela inclinou a cabeça, apontando a Lagoa lá embaixo...


Meu lugar preferido, lembram? Irrecusável...
- Boa idéia!

Sorri, achando engraçado, porque em qualquer outra


circunstância eu teria simplesmente me livrado dela o
mais rápido possível. Afinal de contas ela tinha me
surpreendido vergonhosamente com lágrimas nos
olhos...

Fomos pra um quiosque da Lagoa... De onde se via o


Cristo, uma das novas sete maravilhas do mundo. Braços
abertos pro mundo inteiro, testemunha silenciosa de
tantas decepções amorosas. Naquele momento, das
nossas...

No começo conversamos sobre os namorados. Achei


engraçado porque de vez em quando ela se enrolava,
trocava os pronomes: ela ou dela ao invés de ele ou
dele. Devia estar bêbada já...

Depois de alguns chopes, começamos realmente a


conversar. Nem vi o tempo passar. Ela era muito
divertida, inteligente, simpática. Surpreendentemente
boa de papo pra quem parecia tão novinha, uma
adolescente quase. Aparentava ter uns 20 anos, não sei
se era assim tão nova, muitas vezes a aparência não
combina com a verdadeira idade.
O Sol nasceu. Um espetáculo à parte. Nos despedimos.
Eu estava morta de cansaço. Depois dos trinta – e eu
tinha virado o Cabo da Boa Esperança há mais de cinco
anos já - virar a noite não é assim tão fácil.
Não trocamos telefones nem nomes. Pra que? Com
certeza a última coisa que eu precisava era reencontrar a
única a presenciar aquela noite lamentável.

Quando cheguei em casa desliguei o telefone, coloquei o


celular pra vibrar e avisei ao porteiro para dizer que eu
não estava.
Tomei um banho quente, quase fervendo – como eu
gostava. Me joguei na cama e juntou tudo: depressão,
sono atrasado, vontade de não voltar a acordar... Dormi
até quase cinco horas da tarde. No celular milhares de
chamadas não atendidas – todas do Fábio. E umas cinco
mensagens – que apaguei sem ler. Liguei o laptop. Mais
mensagens do canalha. Bloqueei, deletei ele do e-mail,
orkut, MSN... Sem pena, remorso, dúvida, nem nada. A
partir daquele momento, da minha vida ele já não fazia
parte...

... Voltei ao momento presente... E ao contrário dela, eu


sabia muito bem disfarçar meus sentimentos. Não ia dar
chance pra que ela pensasse que teria algum tipo de
privilégio ou tratamento diferenciado só porque tinha me
visto num momento de fraqueza. Mandei ela se sentar.
Obedeceu, imediatamente. A cadeira na minha frente era
propositalmente daquele tipo que a pessoa afunda e fica
alguns centímetros mais baixa.
Me deixou muito mais imponente e a pobre coitada
muito mais vulnerável. Disse, como se não a conhecesse
– e não conhecia mesmo – olhando para o currículo na
minha mão:

- Allison? Seu nome é esse?

Ela concordou. Queria o mais rápido possível, colocar a


menina no seu devido lugar:

- Horrível. A menos que isso aqui fosse um conjunto


musical...
Deixei a piadinha no ar. Ela não entendeu, lógico. Era
proposital. Expliquei, esbanjando superioridade:

- Você poderia testar o microfone assim: som! Allison!


Ri de pura maldade. Vocês precisavam ver a cara que ela
fez. Óbvio que não tinha gostado. Mas era esperta. Não
respondeu a provocação.

Continuei:

- Vamos fazer o seguinte: aqui dentro seu nome vai ser


Ali. Ali... É, muito melhor. Bem menos suburbano, não
acha?

Capítulo 3:

**** Allison ***

Quando eu entrei naquela sala... Olhei aquela mulher à


minha frente... Bom, meu estômago parecia revirar por
dentro... Meu Deus! Era coincidência demais! Putz! A
mulher... Era a mesma da Boate, no entanto... Aquele
olhar de superioridade em nada lembrava a mulher que
havia passado horas comigo, sentada num quiosque à
beira da Lagoa... Como Léo já havia me dito, ela era
perversa... Cruel... Mas, extremamente linda! O "linda"
ficou por minha conta, viu? Já sentiram vontade de sair
correndo de um lugar simplesmente por não saberem
onde estão? Deixa eu ser mais clara: perdi a noção de
onde estava e do que fui fazer ali. O chão parecia ter
saído debaixo dos meus pés por dolorosos minutos, os
minutos de silêncio que ela me olhou sem nada dizer e
nenhuma expressão amigável a exibir... Eu estava
completamente desconcertada diante daquele olhar
reprovador e fiquei ainda mais, sem saber onde enfiar a
minha cara diante das suas agressões verbais
desnecessárias, afinal de contas, o que eu tinha feito de
errado? Nem abri a minha boca, oras! Por que ela
simplesmente não me mandava sair da sua sala? Era só
dizer que a vaga não seria minha, não é? O que ela
queria com aquelas provocações sem sentido?

- Olha... – Engoli em seco – Gosto de Ali. O trabalho é


meu ou eu ainda tenho que ouvir mais uma das suas
piadinhas? – Disse num impulso – Faz parte do processo
de seleção? – Continuei movida pelo impulso que
naquele momento me dava uma coragem extraordinária.
Só que a coragem foi embora quando aquela mulher
toda me olhou praticamente revoltada com a minha
ousadia, ou sinceridade, ao meu ver.

- Olha aqui menina! – Ergueu o corpo e bateu a mão na


mesa, no mesmo instante em que um senhor de cabelos
grisalhos entrou na sala... Fiquei olhando-o, quase
fazendo um pedido a ele - Me tira daqui! – Pensei
enquanto olhava a mulher exuberante e má dar a volta
na mesa e gentilmente ir de encontro a ele... Eu parecia
não existir para aqueles dois, até que o Senhor me olhou
por um momento e sorriu pra mim... Encolhi-me na
cadeira, mesmo achando aquele sorriso gentil.

- Você é nossa nova funcionária? – Estendeu-me a mão


direita para um cumprimento, logo fiquei de pé e apertei
sua mão.

- Senhor... – Fitei-o como quem quer descobrir o seu


nome.
- Álvaro – Disse ele.

- Prazer Sr. Álvaro – Tentei respirar antes de continuar a


falar, a mulher estava me olhando como quem quer voar
no meu pescoço por tamanha petulância – Ainda não sei
se farei parte do quadro de funcionários dessa empresa,
embora eu queira muito, não sei se... Passarei dessa
entrevista – Fitei-a de rabo de olho.

O homem pegou o meu currículo nas mãos... A cascavel,


como Léo a chamava, estava de braços cruzados olhando
os seus gestos...

- Você tem um bom currículo Allison – Disse e sorriu – A


Pamela sabe enxergar um talento quando vê um. Tenho
certeza que minha filha saberá avaliar você como
merece.

Fiquei quase sem palavras, afinal de contas... Como um


homem que aparentava ser tão gentil, pôde pôr no
mundo uma mulher tão... Tão... Linda? Não! Sem noção!
Nossa! Aquela tal de Pamela era sem noção! É o tipo de
pessoa que se delicia ao abusar do poder... Será que na
cama ela também abusa? Foi duro segurar o meu sorriso
ao pensar nisso, sabia? Pior ainda foi disfarçar o meu
olhar na direção das pernas dela...

Depois que o Sr. Álvaro saiu da sala, ela sequer olhou


pra minha cara, apenas pegou no telefone...

- Peça ao Leonardo para vir aqui e levar a nova


funcionária para conhecer as instalações da revista.

Soltei o ar que parecia preso nos meus pulmões,


tamanha era a minha apreensão diante daquela
mulher...

- Obrigada - Disse tentando não me aprofundar naquele


olhar frio.

- Pode esperar lá fora – Disse sem desviar os olhos da


tela do computador – O funcionário que virá já sabe o
que tem que fazer com você – Sem comentar nada,
caminhei em direção à porta... Girei a maçaneta... – Ali –
Chamou-me... Virei de frente para ela, percebi que
mesmo assim, aquela mulher não desviava os olhos da
tela à sua frente – Nós nunca nos vimos antes desse
momento, está bem?

- Mas... Essa é a primeira vez que estou vendo a


senhora... – Pensei um instante – Não me lembro
mesmo de nenhum outro encontro – Disse irônica.

- Muito bom! Feche a porta!

Encostei-me na porta após fechá-la, fui pega pelo braço


pelo meu amigo Léo que me puxou para um canto
próximo à uma enorme janela...

- Como foi?

- Horrível!

- Eu não falei? Ela é uma cascavel – Disse baixinho –


Vem! Tenho que te mostrar as dependências... – Sorriu
enquanto caminhávamos por um imenso corredor, cheio
de portas de vidro que levavam às outras salas...
- Léo! – Balancei a cabeça negativamente enquanto
tentava raciocinar a respeito do que havia acontecido. De
sábado pra cá a minha vida estava cheia de surpresas, e
posso garantir que todas eram péssimas...

- O que foi? – Passou as mãos pelo meu ombro – Você


se acostuma com a Dona Pamela, Ali! Vem cá... -
Apontou uma porta
– Essa é a minha sala... Nós entramos e, como num
pesadelo, eu vi Jéssica sentada na cadeira de Léo,
conversando animadamente com um dos funcionários da
revista que, pelo que indicava o seu crachá, era um dos
editores... O mesmo desencostou da mesa quando nos
viu entrando. Logo se despediu de Jéssica e
cumprimentou Léo ao passar por nós... Respirei fundo...
Tudo o que eu não queria era ver aquela pir... digo,
aquela sem vergonha na minha frente... Não podia ficar
pior, né?

- Como você entrou aqui, menina? – Se antecipou Léo.

- Eu precisava falar de qualquer jeito com você Allison! –


Disse vindo em minha direção – Foi fácil entrar nessa
revista, o editor que acabou de sair é amigo do meu
irmão.

- Olha só, garota! – Continuei impaciente – É meu


primeiro dia de trabalho... Tá sendo difícil, viu? Vê se vai
embora e...-

Antes que eu pudesse completar a frase, olhamos para


trás e vimos uma figura imponente parada na entrada da
porta... Completamente estática... Olhando para Jéssica
como um inimigo de guerra deve olhar para o outro
quando se encontram frente à frente num campo de
batalha...

- O que essa mulherzinha está fazendo aqui na minha


revista? – Seu tom de voz era grave, firme... De dar
medo.

- Quem você tá chamando de mulherzinha?

- Ãhn? – Dissemos eu e Léo ao mesmo tempo.

- Mulherzinha sim! Que fica agarrada a qualquer um em


boates lotadas – Disse num impulso. Depois olhou para
nós um pouco desconcertada.... Arrependida...

- Do que você está falando? Eu não vim aqui para ser


ofendida, vim para me entender com a minha
namorada!-

Putz! Coloquei as mãos na cabeça assim que Jéssica


terminou a frase... Nossa! E eu que pensei que não podia
ficar pior, né? A coisa tava preta, viu? Essa menina além
de ter me corneado ainda queria me fazer perder o
emprego que eu ainda nem tinha conseguido.

- Como... Como assim? – Pamela parecia não ter ouvido


direito.

Corri e tapei a boca de Jéssica... Sim! Ela deve ter batido


com a cabeça! Senti os dentinhos dela abocanharem os
meus dedos... Dei um grito de dor... E a menina se virou
aflita para mim...

- Allison... Agora eu sei porquê você sumiu da boate no


Sábado... Meu amor... Eu... – gaguejava – Eu posso
explicar! Aquele homem quem me agarrou... Juro que...
- Cala a boca, Jéssica! Eu vi vocês no maior amasso na
porta do banheiro! – Não resisti... perdi o emprego?
Foda-se! Eu precisava desabafar.

- Olha aqui Jéssica! Acabou, entendeu? Não quero saber


quem agarrou quem! - disse e deixei a sala de Léo sem
olhar para lado algum... Voltei pelo corredor... Estava
quase alcançando a saída quando senti as mãos de
alguém tocarem o meu braço... Inclinei meu rosto para
ver quem era, e esbarrei nos olhos mais expressivos que
os meus já viram na vida... Inevitavelmente olhei para
as mãos dela envolta no meu braço, visivelmente vimos
os pêlos do meu corpo arrepiados... Tentei desviar o meu
olhar dos olhos dela, mas não consegui... Quando me dei
conta, estávamos novamente... Frente à frente dentro
daquela sala gélida de Pamela...

- Eu entendi direito? – Questionou ela.

- Menti no sábado pra você... Eu sou lésbica! – Fui direta


como gosto de ser.

- A sua namorada estava beijando o meu namorado!

- Caraca! – Soltei sem querer – Aquele safado era o seu


namorado?

- Ex-namorado! – Disse séria – Allison, não sou mulher


de ser passada para trás, e muito menos de tolerar
escândalos tanto na minha vida particular, quanto dentro
do meu local de trabalho.

- Já sei... To despedida!
- Não... Você não sabe! – Fitou-me com aquele olhar de
quem intimida qualquer um – Não vou te despedir, só
não quero que você me crie problemas, entendeu?

- Entendi!

- Pode ir – Disse completamente inexpressiva.

Tranquei a porta novamente... O ar me faltava... Nem


nos meus piores pesadelos imaginei passar por tamanha
saia justa. Que vontade de esganar a Jéssica! E que
surpresa saber que a toda poderosa foi trocada por uma
suburbana... Sorri daquele pensamento... Se teve um
lado bom da sacanagem da minha ex, podem apostar
que foi esse.

Capítulo 4:

***Pamela***

Quando aquela menina fechou a porta e pude ficar


sozinha com meus pensamentos, percebi a confusão em
que eles estavam. Impossível ordená-los.

Minhas mãos tremiam. Me deixei cair na cadeira e tentei


repassar os milhares de acontecimentos bizarros em tão
pouco tempo.

Como se não bastasse a garota com currículo invejável


ser a mesma com quem eu tinha dividido minha
humilhação na boate, ela era namorada da biscate que
estava aos amassos com o Fábio.

Aí sim comecei a finalmente processar as informações.


Os erros dela, trocando os pronomes, o jeito descarado
que tinha olhado para as minhas pernas e que tinha -
tinha sim, de forma inegável – se arrepiado quando a
segurei pelo braço.

Allison... tudo nela, a começar pelo nome, era


abominável. Menos uma coisa – essa era absolutamente
surpreendente, admirável, eu diria até invejável – não
era qualquer pessoa que tinha a coragem e a capacidade
necessárias para me olhar nos olhos como ela olhava.

Por que a tinha contratado? Não estava disposta a perder


o que poderia vir a ser a melhor das minhas
funcionárias. Ela prometia, isso pra mim era claro.

Mas também estava começando a perceber que havia


alguma coisa nela – eu ainda não conseguia definir o
que, para ser exata – que me instigava.

Não era um interesse nela como mulher, nem como


pessoa. Isso pouco me importava.

Como meu pai mesmo tinha dito, eu tinha um olho


clínico para talentos. E de cara eu tinha enxergado nela
algo muito além do esperado. Se ela não fosse
desperdiçada. Ou seja: se fosse bem treinada. Por mim,
é óbvio.

Uma coisa da qual eu não abria mão – na verdade eu


adorava – era um bom desafio. E eu pressentia que Ali...

Nossa, realmente muito melhor Ali... Soa gostoso, quase


se desmancha na boca... Doce... Melado... Como uma...
bala?
Não tive como deixar de soltar uma risada...

Antes de completar meu pensamento: eu pressentia que


Ali poderia ser uma diversão à parte, se as cordas certas
fossem puxadas.

Chamei Arlete pelo telefone interno.

- Pois não, dona Pamela?


- Arlete, mande buscar as cartas dos leitores no
depósito.

Arlete pareceu surpresa. Muito surpresa, porque chegou


a perguntar:

- Todas? São caixas e caixas...

Quanto mais, melhor... Foi o que pensei, me deliciando.


Disse, saboreando mais ainda:

- Todas. Empilha tudo na mesa, ou em volta da mesa da


novata. Diz que pedi para ela ler e selecionar as dez
melhores para serem publicadas. Até o fechamento da
revista na 4ª. Entendido?

Ouvi o lápis eficiente de Arlete anotando item por item.


Antes de responder:

- Sim. Algo mais?


- Por enquanto é só.

Tava louca pra ver a cara dela... E como ela reagiria a


minha jogada. Se minha intuição estivesse certa, ela ia
aproveitar pra mostrar eficiência, é claro.
Só voltei a ver Ali na 4ª feira. Na verdade, passei em
frente à mesa dela no caminho pra sala de reuniões.

Ela estava sentada, examinando alguns papéis. Nem


sinal das caixas. Se ela tinha feito hora extra, levado
trabalho pra casa, ou enrolado, ainda não era possível
saber. Pelo menos tinha se virado pra fazer exatamente
o que eu tinha mandado.

Quando percebeu a minha presença, ela levantou os


olhos, me olhou com aquele jeito profundo, tão direto
que chegava a ser abusado, e sorriu.

Não sorri de volta. Pelo contrário, virei a cara. Ainda ia


colocar essa menina em seu devido lugar!

A reunião foi enfadonha, como sempre. Realmente, o


que a "Gente Chique" precisava era de novos talentos.
Não aquele bando de abobalhados, apavorados,
tremendo e arregalando os olhos a cada movimento
meu.

Menos Ali. Ela me observava atentamente. Quase sem


piscar. De boca aberta, parecia não acreditar.

Perguntei pelas cartas. O editor tentou responder, mas o


cortei:

- Quero que a Ali responda.


- Ãh?

Foi só o que ela conseguiu dizer no começo. Pega


totalmente de surpresa, lógico. Já devia ter sido instruída
para não abrir a boca na reunião. E de fato, seria o
certo, mas... eu queria testá-la.
Passado o susto, ela foi excelente. Eu diria até brilhante.
Soube explicar muito bem o porque das escolhas que
tinha feito – todas absolutamente acertadas, aliás – e leu
os trechos que tinha selecionado.

Por dentro, aprovei. Mas o que falei - como se ela tivesse


sido medíocre, menos do que razoável - sem nenhum
entusiasmo na voz foi:

- Ok. Porém, não vamos usar.

Não disse mais nada. Se ela esperava elogios, ou ficou


desapontada pelo esforço sem sentido, disfarçou
maravilhosamente bem. Agradeceu pela oportunidade,
com um sorriso. É, a menina aprendia rápido...

Depois de mais meia hora de chateação, já ia encerrar a


reunião quando de repente, Ali levantou a mão.

Todos a olharam assustados. Com os olhos arregalados.


Foi com muita dificuldade que consegui controlar o
sorriso que lutava para surgir em meus lábios. Como
sempre, me contive, e com uma expressão de completo
desagrado, perguntei:

- O que é, Ali?

Meu tom de voz – que fez os outros estremecerem - não


pareceu nem de longe a ameaçar. Me olhando nos olhos
– é, ela era mesmo muito abusada! – e com uma voz
espantosamente firme, Ali falou:

- Tenho uma sugestão.


Realmente ela prometia... Minha vontade era soltar uma
gargalhada. Ao invés disso fuzilei a menina com os olhos.
E disse:

- Sugestão?

Não era uma pergunta. Era uma constatação do absurdo


da situação. Mas Ali - Inacreditável!- me respondeu:

- Eu pensei que...

Aí sim, deixei escapar um riso debochado. E soltei:

- Pensar? Por enquanto, aqui dentro, você não pensa. É


uma ameba, um ser invertebrado. Obedece sem
questionar e não fala, apenas responde o que for
perguntado. Entendido?

Dessa vez consegui fazer Ali tremer. Não de medo, mas


de raiva. A voz saiu com esforço, mas bastante educada:

- Sim, dona Pamela.

Ela não me olhou nos olhos. Talvez se olhasse não


conseguisse se manter tão controlada. Ponto pra ela, de
novo.

- Ótimo. Então podemos finalmente, encerrar.

Levantei da cadeira e saí daquela sala com uma


felicidade inexplicável.

Na semana seguinte mandei Arlete chamar Ali em minha


sala. Se Arlete achou esquisito – e era – não disse nada.
Talvez estivesse pensando que eu ia demitir a menina.
Quem sabe?

Quando ela entrou – depois de ser anunciada – ficou


parada perto da porta, como se quisesse ir embora.

- Sente-se.

Foi uma ordem. Que Ali imediatamente obedeceu. Nem


esperei ela se acomodar – ou melhor: tentar, porque
aquela era a cadeira que eu adorava. Que fazia a pessoa
afundar e ficar toda torta e encolhida. Nunca me cansava
daquilo, era simplesmente... divertidíssimo!... Fui logo
dizendo:

- Resolvi te dar uma chance. Dê uma olhada.

Empurrei alguns papéis – na verdade um contrato - na


direção dela. Ali leu atentamente. Parecia sem palavras.
Tentei analisar a reação dela, mas não consegui.
Perguntei:

- E então? O que acha?

Ela ainda demorou um pouco a responder. Parecia não


estar entendendo direito:

- Você... a senhora, quer dizer... tá me oferecendo o


cargo do Léo?
- Exatamente.
- Por quê?

Os olhos dela mergulharam nos meus. Com uma


estranha, doce intimidade. Que fez o tom da minha voz
se tornar quase suave:
- Você é melhor do que ele.

Sem quebrar o contato hipnótico dos olhos, ela insistiu:

- E o que acontece com o Léo, se eu aceitar?


- É demitido, claro.

Ali passou a mão no rosto. Não como se estivesse num


impasse. Como se não acreditasse. Sacudiu a cabeça
negativamente, claramente me reprovando. E riu, antes
de responder:

- Não posso aceitar.


- Por quê?
- Tenho ética. Nunca passaria uma rasteira dessas em
alguém.

A atitude por si só já era louvável. O salário era mais do


que o dobro do que ela ganhava. Fora outros benefícios
e... ter um cargo estável na revista. Era uma grande
oportunidade. Irrecusável se... não se tratasse de Ali.

Não pude deixar de abrir um sorriso. Ela me olhou sem


entender nada. Só eu entendia. Que ela tinha passado no
último teste, e estava aprovada, porque... além de
talentosa e inteligente, a menina era confiável.

Abri uma de minhas gavetas. Puxei de dentro dela um


outro contrato. Disse, indicando os papéis que ela ainda
segurava:

- Pode jogar isso fora.

Ali prontamente obedeceu. Entreguei o novo contrato pra


ela, que passou os olhos pelas páginas e... aí sim, ficou
completamente sem palavras. Por alguns minutos
apenas:

- Você... desculpe: a senhora... quer que eu seja sua


assistente?
- Minha aprendiz, na verdade. O salário é o triplo do seu.
E também o trabalho. Preciso de dedicação total.

Ali me olhou. Dessa vez como se eu estivesse pedindo


que ela me vendesse a alma. Quase isso, na verdade.
Mas era irrecusável. E Ali aceitou.

- Ótimo. A partir de amanhã você já pode mudar suas


coisas para a sala ao lado.

Apontei a porta interna que ligava as duas salas.

- Pode ir.

Ela fez que sim com a cabeça, pensativa. Me analisando,


na verdade. Depois se levantou, e saiu. Me deixando
com uma sensação estranha, quase uma ansiedade.

Capítulo 5:

*** Allison***

- Cruz credo! – Foi o que disse ao sair da sala daquela


mulher. Fiquei parada ainda no corredor por alguns
minutos. Eu estava tentando puxar o ar que parecia ter
ficado preso nos meus pulmões, tive a impressão de que
perto de Pamela eu não conseguia respirar. Passei as
mãos pelos cabelos, joguei-os para trás... Sabe quando
você sente uma vontade imensa de gritar? Pois é! Daria
tudo para ter um travesseiro à mão para sufocar os
meus gritos... Comecei a caminhar com a mão encostada
na parede até passar pela sala de Léo, que estava
parado na porta...
- O que houve criatura? – Puxou-me pelo braço... Entrei
na sua sala, ele puxou a cadeira e praticamente me
jogou nela – Você está pálida amor, desembucha, o que
a poderosa fez com você?
- Cara! Eu tô de saco cheio dessa mulher! Ela é... Ela é...
– Fiquei pensativa por uns instantes, como se as
palavras tivessem fugido da minha cabeça – Ela é
gostosa! – Pensei – Uma víbora! – Disse.
- Isso estou careca de saber – Puxou outra cadeira – Foi
pior do que na reunião?
- Hoje ela tava usando um perfume mais sensual – Disse
num impulso, acho que esqueci que o Léo estava me
ouvindo – Eu detesto essa mulher, sabia? Ela é metida,
olha pra gente com aquele ar de superioridade... –
Levantei-me da cadeira completamente contrariada – ...
Trata seus funcionários com a mesma cortesia que
trataria um cão de rua! – Fitei Léo que olhava-me atento
– Será que ela não percebe que precisa de nós? Imagina
se aquela patricinha metida conseguiria levar sozinha a
revista nas costas?
- Você só quer comer a poderosa ou está apaixonada?
- O quê? – Parei de falar... Coloquei as duas mãos na
mesa dele... – Que absurdo! Tá aí uma mulher que não
mexe em nada comigo, beleza?
- Sei... Diz isso pros seus olhos, tá? – Deu a volta na
mesa e me conduziu até a porta – Vai trabalhar gatinha!
- Não quero sair com ela! Muito menos estou
apaixonada!
Léo cruzou os braços e virou a cabeça para o lado,
sinalizando onde ficava a minha sala...
Balancei a cabeça negativamente enquanto me dirigia
para a sala no finalzinho do corredor... Abri a porta...
Entrei...
- Não! – Pensei enquanto levava a ponta do lápis até a
minha boca – Não posso estar desejando essa... Essa...
– Respirei fundo – Deusa! – Mordi a ponta do lápis, logo
comecei a cuspir o grafite que se desmanchou na minha
boca – Droga! – Resmunguei enquanto passava a mão
para limpar a sujeira – viu? Fica pensando naquela
energia negativa! – Sorri achando graça dos meus
pensamentos, Arlete entrou na minha sala e ficou parada
na porta me olhando.
- Sorrindo depois de sair da sala negra?
- Ãh? – Desviei o olhar do desconhecido e fitei a
secretária da toda poderosa.
- Seu ramal está ocupado, e a poderosa chefona quer
você de novo na sala dela... – Sorriu irônica – Ela vai
testar os seus nervos até a última gota – Disse quase
num sussurro – A D. Pamela gosta de ver até onde os
funcionários resistem. Se você resistir, irá ter uma
carreira brilhante aqui dentro, mas se você ceder às
provocações dela... Perderá o emprego, entendeu?
- Uau! – Disse parada na frente dela – Esses conselhos
são para dizer que você gosta de mim?
- Digamos que eu fui com a sua cara!
- Pede um cafezinho – Sorri pra ela – É por minha conta.
- Engraçadinha, o café servido aqui é de graça!
- Que bom, tenho andado dura, viu? – Acenei pra Arlete
enquanto retornava ao matadouro, digo, à sala de
tortura... Não, não! Ao covil da toda poderosa - O que
será que ela quer agora, hein? – Pensei pelo caminho –
Será que ela esqueceu de xingar os meus pais? – Sorri
no mesmo instante que abri a porta, ou seja, deu tempo
da chefona perceber o meu sorriso.
- Ganhou na loteria? – Disse ela.
- Melhor, fui chamada novamente na sua sala – Ironizei,
ela ergueu uma sobrancelha, olhou-me friamente com
aqueles olhos azuis que pareciam hipnotizar a gente,
quer dizer, bobagem dizer que pareciam... Eles
literalmente hipnotizavam... Percebi que a piada não foi
de bom tom, quer dizer, bem recebida por ela. Que
humor negro, né?
- Infelizmente tive que te chamar de volta – Passou atrás
da sua mesa... Percorreu a sala até um armário de
madeira que ficava do lado direito da parede. A mobília
daquela sala era impecável. Pelo que Léo me disse, cada
móvel havia vindo de uma parte diferente da Europa, o
armário em questão era de Portugal... Aquela cadeira
ridícula que engolia a gente foi um presente de um
patrocinador italiano... – Quanta ostentação para uma
sala de trabalho – Pensei enquanto aspirava o cheiro do
perfume dela, sabe aquele perfume marcante que deixa
rastro? Era assim o cheiro dela... Quando a malvada
descia do elevador, todos na redação sabiam que ela
havia chegado pelo simples fato do perfume dela se
propagar como rastilho de pólvora pelos quatro cantos
daquela empresa. Pamela fez suspense, abriu o armário
e ficou mexendo em alguns papéis... Olhei-a de costas,
foi inevitável não admirar aquelas formas bem feitas que
a mulher exibia... Senti minha calcinha molhar na hora...
Que sofrimento ficar ali parada, completamente excitada
só por vê-la pegando uns papéis no armário... Balancei a
gola da camisa para refrescar o calor do meu corpo...
Que azar! Pamela virou-se lentamente e me olhou como
se soubesse exatamente o que eu estava sentido...
- Pronto! Perdi o meu emprego – Pensei colocando as
mãos dentro do bolso da minha calça.
- Aqui está! – Veio caminhando suavemente na minha
direção, sorriu maliciosamente pra mim... Fitei seus
lábios que ela umedeceu com a ponta da língua... Tive
que tirar as mãos dos bolsos, pois ela largou
praticamente uma pilha de revistas nas minhas mãos –
Quero um relatório de cada uma dessas concorrentes
americanas...
Sorri achando fácil o trabalho...
- Pode deixar... – Encarei-a quase dizendo "tanto drama
pra tão pouco?"
- Quero amanhã, na primeira hora! – Sorriu e saiu
andando de volta até a sua mesa... Não consegui
absorver as palavras dela, apenas fiquei olhando-a
rebolar enquanto caminhava... O telefone da poderosa
tocou e ela fez um gesto para que eu saísse da sua sala.
Voltei para a minha humilde salinha de móveis baratos e
nacionais completamente desnorteada... Sabe o que deu
vontade de fazer? Ir pro banheiro me tocar pensando
nela! Caraca! Eu devo estar enlouquecendo mesmo,
sabia? Coloquei a pilha de revistas encima da minha
mesa...
- Tenho que parar de pensar indecências! – Pensei...
Folheei algumas revistas... O melhor da moda... – Dizia
uma – As 50 celebridades mais sexy de 2007 – Li em
outra... Numa terceira encontrei... – Lista dos mais feios,
melhores e piores capas de discos – Balancei a cabeça
negativamente... – Ela quer um relatório de quase vinte
revistas pra amanhã? – Essa mulher é doida! –
Sussurrei, e... Comecei imediatamente a fazer os
relatórios que a poderosa pediu, não fui almoçar,
dispensei os intervalos do café... Pedi ao Léo que só me
chamasse se fosse algo de vida ou morte, desliguei o
celular... Quase esqueci de respirar, viu? Era medida
para estender o meu horário de trabalho... Um copo de
água! Passei o dia inteiro com um copo de água... O
tempo passou e eu nem percebi, quando olhei através da
janela, o Sol já havia dado lugar ao negro da noite...
Olhei na direção do corredor e as luzes já estavam sendo
apagadas pelo vigia noturno.
- Meu Deus! – Estiquei minhas mãos para o alto,
espreguicei-me... Meu corpo estava moído, mas eu tinha
concluído mais da metade dos relatórios... Eu sabia que
estar de olho na concorrência era importante, mas não
achava justo o prazo que a Pamela estipulara pra mim.
Ela foi cruel, né? – Sorri achando graça da forma que eu
pensei nela, imagina dizer que uma mulher é cruel e
lembrar das curvas do corpo dela? Fechei os olhos e me
dei conta de que eu precisava urgentemente de uma
mulher... Levantei-me de sobressalto, apanhei as
revistas que faltavam ser analisadas, joguei-as de
qualquer jeito na minha bolsa... Saí pelo corredor
escuro... Apalpando a parede para não esbarrar em
nada... Alcancei o elevador e liguei para o Léo...
- Tá onde bicha?
- Num barzinho perto do trabalho, e você? Não te vi o
dia inteiro, fez algum trabalho externo?
- Estive trancada na minha sala o dia todo cabeção! Tô
saindo agora do prédio.
- Então vem pra cá! Estou em Ipanema, na Farme de
Amoedo com o Vini. O chope tá gelado e a música tá
boa! Sugestivo não acha?

- Tudo o que eu preciso, sabia? Tá em qual bar?


- Estamos no Bofetada, não demora!
- Tô indo pra aí!
Desliguei o telefone assim que atravessei a rua... Dei
sinal para um táxi que passava e em poucos minutos
cheguei ao bar onde Léo estava com o namorado...Foi
fácil encontrá-los, o bar é pequeno e eles estavam
sentados em uma mesa de madeira perto da rua
mesmo... Nos cumprimentamos, eu pedi um chopp, logo
belisquei as batatas fritas que estavam na mesa, eu
estava morrendo de fome. Não comi nada o dia todo,
lembram?
- Veio do deserto gatinha? – Perguntou Vini ao me ver
beber o chopp de uma só vez e levantar o braço para
pedir outro.
- Vim do inferno amigo! – Gargalhamos.
- A cascavel tá esfolando ela.
- Foi gentil ao dizer esfolar, sabia Léo? – Peguei o chopp
da bandeja do garçom e virei –o também de uma só
vez...
Ao terceiro copo de chopp que eu iria beber da mesma
forma, Léo conteve o meu gesto...
- Pega leve, amanhã você levanta cedo, esqueceu?
- Ela tá me provocando, sabia? – Bati na mesa...
Balancei a cabeça negativamente, e senti que meu
cérebro não estava funcionando muito bem... À minha
volta tudo rodava, não sei se foi por não ter comido nem
bebido nada o dia inteiro, ou pelo simples fato de eu
estar estressada por ter ido duas vezes na sala da
Poderosa hoje... – Ela quer que eu faça tudo e nem me
dá um prazo justo! – Fitei os dois à minha frente,
completamente concentrados no que eu estava dizendo –
Quer saber? Eu quero fuder!
Vini colocou a mão na boca, Léo começou a rir...
- Amiga, você está muito estressada! – Léo chegou mais
perto de mim, quase cochichando no meu ouvido – Olha
que morena gostosa ali do lado te dando mole!
Olhei, não pra morena que ele falou, mas pra loira
vestida com um terninho verde que estava ao lado
dela... Devia ter acabado de sair do trabalho... Pisquei os
olhos duas vezes, e tive a nítida impressão de que era
Pamela sorrindo pra mim... Num surto desesperado que
deixou os meus amigos sem saber o que eu faria,
levantei-me cambaleando... Nem pensei, apenas agi...
Aproximei-me da mesa quase ao lado da que nós
estávamos... Aproximei meus lábios do ouvido da
mulher...
- Estou te esperando no banheiro, se você não for...
Aceito isso como um não... – Disse e saí. Passei pelos
meninos e pisquei para eles. Léo fez gestos dizendo que
não era aquela que estava me dando mole, e eu
continuei andando em direção ao banheiro... Três
minutos depois vi a porta se abrindo e a mulher de terno
verde entrou... Não esperei para saber o nome dela, eu
já estava cega de desejo... Puxei-a pela cintura enquanto
buscava os seus lábios com os meus... Apoiei-a na porta
para impedir a entrada de outras pessoas enquanto
minhas mãos deslizavam por baixo da sua saia... Meus
lábios passaram rapidamente da sua boca para o seu
pescoço... Beijando-o... Mordendo-o... Arrancando
gemidos daquela mulher deliciosa que estava diante de
mim... Alcancei sua calcinha e meus dedos
ultrapassaram suas laterais...
- Tô louca pra te comer Pamela – Sussurrei no seu
ouvido enquanto meu corpo latente de tesão grudava no
dela... Enfiei meus dedos... Penetrei-a com força, elevei
a sua perna direita na altura da minha cintura para
facilitar aquele contato, o pano da saia dela ameaçou
rasgar com aquele movimento brusco, a mulher se
debateu nos meus braços, arranhando os meus
ombros...Ela gozou com os meus dedos dentro dela...
Abri os olhos e busquei seus lábios para beijar... Suguei-
os no mesmo instante em que procurei o azul daqueles
olhos... Não encontrei... Não era Pamela... A mulher dos
olhos negros sorria pra mim, e eu não conseguia sorrir
de volta... Soltei a sua perna que deslizou lentamente
pelo lado do meu corpo...
- Nossa menina! Sua namorada Pamela deve ser muito
gostosa pra você comê-la assim – Disse, piscou pra mim
e entregou o número do seu telefone escrito num
guardanapo que ela prendia na mão direita... – Espero
que me ligue - Ajeitou a roupa no corpo e saiu... Fiquei
ainda ali... Encostada na pia... Completamente
atordoada...

Capítulo 6:

***Pamela***

Depois de entregar as revistas para Ali, liguei para Val.


Minha melhor e única amiga de verdade. Companheira
fiel de inúmeras festas, pegações e farras, desde a época
do Pré-Vestibular. Val era exatamente como eu: fazia
tudo o que tinha vontade, sem culpas nem falsas
moralidades:
- Pam?
- Oi, Val... Tô precisando de você...
- Fala, gata...
A risada escandalosa de Val soou do outro lado.
Aprovando cada palavra que eu falava. Se divertindo
com a maquiavélica idéia que eu tinha tido pra me vingar
do Fábio. Quando terminei, ela disse:
- Amiga, eu sabia que você não ia deixar barato! Tô
dentro, claro!

Cheguei com Val na boate com quase uma hora de


atraso. Os dois idiotas que eram os melhores amigos do
Fábio estavam nos esperando, sentados numa mesa no
canto, sem conseguir disfarçar a ansiedade.
Cumprimentei cada um com dois beijinhos bem perto da
boca, tocando o cantinho dos lábios. Sentindo que
provocava o efeito desejado: ambos se arrepiaram.
Olhei para Val. Minha amiga parecia animada. Não seria
nenhum sacrifício, porque os dois eram muito, mas
muito gatos. Um loiro surfista e um moreno campeão de
Jiu Jitsu. Ambos absolutamente sarados.
- Qual você quer?
Perguntei no ouvido de Val. Com um sorriso safado, ela
avaliou o material. Antes de se decidir:
- Fico com o loiro.
Sentei então ao lado do moreno. Coloquei a mão na coxa
dele, que estremeceu, e ficou com um volume muito
maior nas calças. Tadinho, ainda tentou disfarçar:
- Quer conversar sobre o que?
- Meu querido, falar pra que? Tempo é dinheiro, sabe?
Respondi antes de me atirar sobre ele, num amasso
deliciosamente indiscreto e despudorado. Do nosso lado,
Val e o loiro nos imitavam.
Não demorou muito tempo pra que estivéssemos
entrando no Motel. Os quatro. Os meninos eram meio
pudicos, porque... preferiram pedir dois quartos.
O moreno era incrível. Um excelente pedaço de carne.
Pena que se cansava muito rápido. Enquanto ele
descansava um pouco, liguei pra Val:
- E aí, amiga? Que tal?
A voz dela ainda estava ofegante:
- Nada mal. Aprovado.
O próximo passo ela já conhecia muito bem. Ideal pra
dar um troco bem dado no Fábio. Uma brincadeirinha
que fazíamos sempre, desde os tempos de Faculdade:
- Vamos trocar?
- Já!
Vesti meu vestido, e abri a porta. O moreno não
entendeu nada:
- Aonde você vai?
- Surpresa, gato... Mas não se preocupa, você vai
adorar...
Cruzei com Val no corredor. Ela não disse nada. Apenas
soltou a risada escandalosa que era a sua marca
registrada...
O loiro se assustou quando entrei no quarto. Mas a
animação dele foi visível – e de um tamanho bem
razoável, diga-se de passagem - quando me livrei do
vestido e me sentei em cima dele nua, triunfante,
esbanjando sedução e charme. Não que precisasse, não
é mesmo? Mas eu preferia ser misericordiosa, e deixar o
carinha logo de quatro...
Ele era bem mais resistente e interessante do que o
moreno. Tinha muito mais jogo de cintura, pra falar a
verdade...
Estávamos longe de terminar, quando meu celular tocou.
Era Val. Atendi sem sair de cima do loirinho:
- Amiga, tenho que ir... O Alexandre acabou de me
ligar...
Alexandre era o namorado da Val. Demorei apenas um
segundo para responder, com um sorriso permissivo nos
lábios:
- Tudo bem. Manda o moreno pra cá...
Alguns minutos depois, o moreno já estava se
encaixando atrás de mim, maravilhosamente excitado.
Saí do motel com o dia amanhecendo. Deixando os dois
dormindo, exaustos. Assim que entrei no carro, peguei o
celular e liguei pro Fábio:
- Fábio?
A voz dele perdeu toda a sonolência. Como se ele tivesse
se sentado na cama de um salto:
- Pamela? Faz dias que tento falar com você... Pam, você
sabe que eu te amo... Me perdoa, vai...
Não deixei ele falar mais nada:
- Liguei só para te dizer que acabei de transar com o Léo
e com o Ricardo.
- O que?
Ele parecia surpreso, perdido, perplexo mesmo... Dei
uma risada triunfante, antes de completar:
- Seus amigos são bem melhores que você na cama,
sabe?
- Você tá brincando, né?
- Ah, Fábio, você sabe muito bem que eu não brinco em
serviço. Bom, é isso... Tenha um bom dia!
- Pam, espera...
- Passar bem, meu caro...
Desliguei com um sorriso imenso no rosto, totalmente
contente, satisfeita e... vingada.

Quando cheguei na "Gente Chique", um pouco mais


tarde, Arlete me avisou que Ali já estava instalada na
sala. Tinha chegado mais cedo. Na verdade, isso já não
importava. No novo cargo dela uma coisa que não existia
era horário. Estar de prontidão o tempo inteiro e atender
assim que eu chamasse, era o indispensável.
Sentei na minha cadeira e chamei Ali pelo telefone
interno. Em questão de segundos, ela já estava em pé
na minha frente. Rápida, mas:
- Volta pra sua sala. E entra de novo.
Ela ficou surpresa, claro:
- Ãh?
Respondi séria, irritada, tudo menos simpática:
- Pra que da próxima vez você não se esqueça de bater e
só entrar quando eu mandar.
Ali obedeceu. Parecendo estar... quase explodindo de
raiva. Quando entrou de novo, no entanto, já estava
completamente controlada. Com um sorriso no rosto...
ou quase.
Olhei para ela de cima a baixo. Calça jeans... uma
blusinha... Tênis... Sem maquiagem...
- Sua aparência é simplesmente... lamentável!
Exagerei de propósito mesmo. Não era tão grave. A
menina era até bonitinha, mas... simples demais. E pra
ser minha assistente precisava ser, no mínimo, um
arraso. Principalmente naquele dia, que tínhamos uma
missão especial.
- Vamos dar um jeito nisso. E rápido.
Mandei Arlete marcar um horário no salão de beleza que
eu freqüentava – um dos melhores, e obviamente mais
caros, da cidade – pra Ali.
A menina me olhava – querendo talvez protestar, quem
sabe? – mas não dei tempo pra que ela falasse uma
palavra:
- Vamos. Temos pouco tempo e muito pra ajeitar...
Peguei a bolsa, levantei e fui saindo da sala. Sem olhar
pra trás. Ela me alcançou no elevador. Ficou parada ao
meu lado, sem dizer uma palavra.
Descemos na garagem, e caminhei com uma Ali muda
atrás de mim até chegarmos no meu carro. Entrei, botei
o cinto. Ela continuou do lado de fora, parada, estática.
Abaixei o vidro, e disse, sem paciência:
- Ali, entra no carro.
- De jeito nenhum.
Foi a resposta dela... Absolutamente inacreditável.

Capítulo 7:

*** Allison ***

Passei a noite inteira terminando aqueles relatórios que


Pamela pediu. Isso, depois que cheguei em casa
completamente afrontada pelos acontecimentos no
banheiro do bar... Caramba! Como eu pude agir por
impulso daquela maneira? Ta certo que essa não foi a
primeira vez que eu comi uma estranha no banheiro de
um bar, mas o que está me intrigando, ou melhor: me
deixando completamente frustrada, é ter idealizado estar
com a sem noção da dona Pamela. Isso só podia ser
castigo, sabe? Como assim pensar naquela cascavel
depois dela ter me matado de tanto trabalhar? A mulher
só queria me ferrar, oras! Saí da janela onde eu olhava
os carros passarem na estrada lá embaixo. Tomei um
banho gelado. Nem sei quanto tempo fiquei debaixo
daquela água gelada, mas ao sair senti que eu estava
sóbria e enfim terminei os relatórios que a megera
pediu... Fui dormir às quatro e meia da manhã... Acordei
às seis e quarenta e cinco com o despertador berrando
nos meus ouvidos. Vontade de quebrá-lo? É! Eu quebrei.
Arremessei o indivíduo na parede e tive um prejuízo
daqueles porque o desgraçado ainda bateu na minha
tevê que era relíquia, foi presente da minha avó, que já
está no andar de cima. PQP! Fiquei sem tevê e sem
despertador. Aquela cobra da Pamela só me causa
prejuízo! Nem Jéssica que havia me traído era tão
detestável aos meus olhos, mas a Poderosa... Nossa! Me
tirava... O sono? É, isso mesmo!

Cheguei cedo à redação, fiz minha mudança para a sala


semi-chique que fazia fronteira com a sala da poderosa...
Empilhei na mesa da dona Pamela todas as revistas e
relatórios que ela havia pedido... Eficiente, né? Que
nada! Eu queria era esfregar na cara dela o quanto não
me importo com as suas tiranias.
Enfim a poderosa chegou, linda! Loira! Perfumada!
Sedutora! E completamente doida e arrogante! Não
preciso nem dizer que meus nervos voltaram a estar à
flor da pele, né? Acreditam que ela nem olhou para as
revistas, o relatório ou até mesmo pra minha cara? Me
fez voltar até a minha sala, bater na porta dela e entrar
novamente... Isso é no mínimo o fim da picada, não
acham?
- Os relatórios... Não vai ler? – Perguntei notando que
ela sequer olhou pra sua mesa.
- Não tenho pressa, posso ver isso na outra semana.
Fuzilei-a com os olhos, mas antes que eu pudesse
agarrá-la pelo pescoço e estrangulá-la até a morte, a
poderosa começou a olhar as minhas roupas e me
esculachar da cabeça aos pés... Sabe quando você acha
algo tão surreal que perde todo o poder de reação? Pois
é! Quando eu acordei do meu momento de torpor, já
estava parada no estacionamento da revista ao lado do
seu carro importado.
- Por que você não quer entrar no carro? – Ela desceu
do mesmo e deu a volta até chegar onde eu estava. Sua
face exibia uma reprovação absurda só porque eu não
quis entrar no carro dela...
- Mas que mulher mimada!- Pensei - O que tem a
minha roupa? – Disse abrindo os braços para que ela me
examinasse novamente. A mulher aproximou-se de mim,
baixou os meus braços e olhou-me com aquela
superioridade indiscutível. Senti um arrepio enorme
subindo pelas minhas costas só de sentir aquelas mãos
macias tocando os meus braços.
- Faça-me o favor Ali! Não posso aparecer com uma
assistente vestida nesses trajes em um jantar
importante com um dos nossos mais fortes
patrocinadores! – Disse irritada.
- Acho que você errou na escolha da sua assistente, viu?
– Provoquei-a com o olhar.
- Quem acha alguma coisa aqui sou eu, está bem? –
Fixou aqueles olhos azuis sobre mim... Estremeci na
hora... Engoli em seco também – Mexa-se! Temos muito
que fazer!
- Não vou usar salto alto, está bem? – Concluí
emburrada. A mulher olhou-me com ar de riso.
- Que seja! Agora entra no carro porque tempo pra mim
é dinheiro.
- Sim senhora! – Disse por entre os dentes, ela olhou
para trás mas não disse nada. Fechei a cara durante
todo o caminho, portanto, não trocamos uma palavrinha
sequer.

O dia inteiro! Acreditam nisso? Passamos o dia todo nos


dividindo entre o cabeleireiro e as melhores lojas de
grifes famosas... Em quê ela queria me transformar?
Num brinquedinho em que manda e desmanda quando
bem quiser? Eu estava furiosa, podem apostar! Por que
me submeti a isso? Porque preciso do emprego, oras!
E... Também... Bom... Passamos o dia inteiro juntas e,
mesmo diante daquele humor negro que ela tem,
confesso que estar com Pamela foi divertido, quer
dizer... Divertido uma ova! Foi um saco, viu? A mulher
reclama de tudo! E como se não bastasse ter que aturar
o seu mau humor, almoçamos em um restaurante cheio
de frescura e ela ainda queria que eu soubesse com qual
colher tenho que comer a sobremesa, pode isso?

... Chegamos ao restaurante para o jantar com o


patrocinador no horário marcado, nem um minuto a
mais, nem um minuto a menos... Já havia uma reserva
feita e um homem com sotaque francês nos esperava
acompanhado de uma mulher que parecia muda, tendo
em vista que apenas balançava a cabeça e sorria para o
marido quando ele se dava conta de que ela estava ao
seu lado. Sim! O cara de pau jogava charme o tempo
inteiro para a poderosa, e isso não devia ter me
incomodado não é? Mas incomodou, viu? Não pensem
que era por ciúmes dela, ta? E sim, dó da pobre mulher
que fazia companhia ao indiscreto.
As horas pareciam não passar... Meus pés estavam
doendo porque o sapato que a poderosa escolheu parecia
menor do que os meus pés... Aquela roupa, acho que era
cara demais para ficar em contato com a minha pele,
juro que a blusa estava fazendo coçar as minhas costas,
às vezes eu até me encostava na cadeira e mexia pra lá
e pra cá, aliviava, sabe? Mas não resolvia e eu estava a
ponto de me jogar no chão e rolar por aquele salão
imenso até conseguir me coçar o suficiente para não
gritar nos ouvidos do patrocinador francês. O jantar
terminou e, eu não precisei gritar, nem rolar pelo chão.
- Graças à Deus! – Pensei, enquanto desligava a agenda
eletrônica na qual eu havia marcado... Desmarcado...
Marcado de novo... Desmarcado... Inúmeros futuros
encontros da poderosa com o endinheirado patrocinador
francês... Pelo que pude compreender, a poderosa está
abrindo uma filial da revista na França, e como ela é
esperta e sedutora está se calçando de bons
relacionamentos para que sua revista chegue até o povo
do perfume, estourando as vendas.
Assim que entrei no carro dela, tirei os sapatos... Abri a
minha blusa, quer dizer: alguns botões... Respirei
aliviada...
- Você está doida menina? – Disse quase aos gritos.
Depois dizem que só pobres fazem escândalos.
- Por quê?
- Quem mandou você ir tirando a roupa desse jeito? –
Encarou-me brava, depois seu olhar inconseqüentemente
desceu até os meus ombros nus... Quase sorri, mas no
segundo olhar achei que ela apenas estava espantada
com a minha falta de compostura... De qualquer forma
eu sorri dessa vez, pois a cara que ela fez foi hilária.
- A noite foi ótima! – Disse pegando a minha bolsa no
banco de trás... Ela impediu o meu gesto...
- Minhas assistentes têm hora pra chegar, mas não têm
hora pra sair – Ficamos em silêncio nos olhando por
alguns segundos.
- Eu to cansada, sabia? Morta de vontade de deitar na
minha cama e apagar! – Balancei a cabeça
negativamente – E... Eu to com fome, porque aquela
gororoba que chamam de comida tava horrível!
- Fala baixo! – Disse quase suavemente – Você vai pra
minha casa porque precisamos terminar o cronograma
das próximas reuniões com o Sr. Pierre! – Ligou o carro
e arrancou, nem preciso dizer que eu fiquei sem ação
novamente, né? – Você terá direito a um banho para
relaxar e a minha empregada fará um sanduíche para
você não dizer que te deixei com fome.
- Adianta dizer que eu quero ir pra minha casa?
Pamela fitou-me de rabo de olho, continuou dirigindo...
- Você dorme na minha casa – Era a sua última palavra,
conseqüentemente também foi a minha. Fiquei quieta
durante todo o percurso... Eu estava sentindo raiva de
mim mesma, sabe? Em toda a minha vida nunca fui pau
mandado, mas essa mulher... Ela tem um poder sobre
mim, que me faz perder a noção de quem sou! Mas vou
mudar isso, ah vou!

Capítulo 8:

***Pamela***

Depois do jantar, já estava bastante tarde. E ainda


tínhamos um cronograma de reuniões para terminar.
Como Ali morava longe – onde Judas perdeu as botas, ou
onde o vento faz a curva, diria o ditado - arg! - popular –
falei, quase uma ordem, pra ser mais exata:
- Você dorme na minha casa.
Assim que chegamos, Paz – a empregada, que na
verdade se chamava Pasqualina, mas eu não era
obrigada a conviver com um nome horroroso desses, não
é verdade? – abriu a porta, com um boa noite simpático.
- Paz, essa é a Ali, minha assistente. Depois que
preparar meu banho arruma um dos quartos de
hóspedes pra ela.
- Sim, senhora.
E sumiu no corredor que levava aos quartos. Ali disse
que queria ir ao banheiro. Indiquei o mais próximo da
sala. E acrescentei:
- Se quiser tomar um banho a Paz providencia pra você.
Mas ela recusou. Com um olhar indecifrável... E saiu
caminhando rapidamente em direção ao banheiro.
- Seu banho ta pronto, dona Pamela.
Mandei Paz fazer um chá. Pra mim e pra Ali. E que
dissesse pra menina ir me encontrar no meu banheiro.
Chá era uma coisa que eu adorava. Tinha dos mais
diversos e variados sabores e nacionalidades. Naquele
dia especificamente, pedi um turco, maravilhoso, que
sempre me relaxava.
Entrei no meu quarto, peguei a máscara que guardava
no frigobar, e fui tirando a roupa a caminho da banheira.
Mergulhei na água quase fervendo – do jeito que eu
gostava – coloquei a máscara gelada no rosto, e com um
suspiro de prazer, me deixei ficar lá deitada.

*** Allison ***

Tomei um banho rápido afinal de contas, a poderosa


ainda queria trabalhar... Molhei os cabelos e
praticamente arranquei toda a maquiagem do meu rosto
com certa rispidez... Saí do banheiro vestida com as
minhas roupas... Agora sim era eu mesma, sabe?

...Estava perdida olhando as telas que ocupavam boa


parte do corredor, quando tomei um susto ao ler o que
estava escrito em uma delas: Portinari! Será que era
cópia? Que pensamento besta, claro que não! Pamela
seria incapaz de ter ou usar algo que não fosse
extremamente original... Nesse instante cruzei com Paz
no corredor, ela estava indo em direção ao quarto de
Pamela, segurava nas mãos uma bandeja com um bule
de porcelana e duas xícaras de chá.
- Srta. Ali, a Dona Pamela pediu que fosse encontrá-la no
seu quarto.
Notei que a mulher à minha frente exibia um sotaque
porto-riquenho. Sei por que já tive um tio que era
casado com uma porto-riquenha, e sua pele morena e
seus cabelos muito negros não deixavam dúvidas quanto
a sua nacionalidade.
Quando a mulher falou que a Pamela me esperava no
quarto, fiquei arrepiada da cabeça aos pés... Quase
muda, se não fosse a mulher à minha frente repetir o
recado por achar que eu não havia compreendido.
- Eu vou... – Disse completamente pensativa. Paz fez um
movimento de que iria me acompanhar, no entanto, eu
apanhei a bandeja das suas mãos...
- Eu levo... Já que tenho que ir lá...
- A D. Pamela pode não gostar, srta.
- Não esquenta... Com ela eu me entendo – Disse
tentando esboçar um sorriso.
- Se insiste... – Fez um cumprimento de cabeça e já ia se
retirando quando eu a chamei – Paz... – Ela virou-se
novamente na minha direção – Seu nome é Paz? Só Paz?
– Olha que pergunta idiota!
- Não – Sorriu – Me chamo Pasqualina, mas a D. Pamela
adora encurtar o nome das pessoas.
- Ah sim...
- Posso lhe ajudar em algo mais?
- Não...
- Então... Se me dá licença... – Virou-se novamente...
- Paz! – Chamei-a novamente... Completamente sem
graça, sabe?
- Sim... – Disse paciente.
- As... As... Outras... Digo, antes de mim... As
assistentes da D. Pamela, vinham aqui? – Disse
encabulada – Entravam no quarto dela?
- Que a D. Pamela não nos ouça – Baixou o tom de voz –
As assistentes dela sempre trabalham muito... Nunca
dormiram aqui, mas vinham com freqüência para
terminarem um trabalho ou outro.
- Obrigada... Pela informação – Acenei com a cabeça...
Vi-a dobrar o corredor. Bom, ao menos eu sabia que ela
não estava me provocando ao pedir que eu fosse ao seu
quarto, né? – Se controla Allison! É trabalho! Só
trabalho! – Pensei enquanto entrava no quarto da
poderosa...
- Uau! – Disse ao me confrontar com aquele ambiente
que parecia ter saído de uma revista... Andei mais um
pouco... Ela não estava no quarto... Estava no banho...
Suei frio... Tropecei em um tapete branco felpudo que
ficava próximo à banheira onde aquela mulher... Nua!
Putz! Completamente nua estava submersa... Minhas
mãos tremeram, as xícaras se encostaram... Quase
deixei o chá derramar...

**** Pamela ****


Não sei dizer quanto tempo fiquei de olhos fechados
naquela banheira. Não tinha dormido a noite inteira, me
divertindo com os amigos do Fábio... Estava exausta...
Acabei cochilando, com um sorriso satisfeito nos lábios.
Fui acordada por um barulho estranho. Como se alguém
tivesse tropeçado ou engasgado. Tirei a máscara do
rosto e vi Ali, com uma bandeja nas mãos, me olhando,
paralisada.
- Vai ficar aí parada? Bota meu chá aqui do meu lado,
pega o seu e senta.
Apontei a beirada da banheira. Ela hesitou? Por segundos
apenas. Logo depois já estava sentada do meu lado.
Pegou um bloquinho e uma caneta, pronta pra anotar.
Esperta ela. Eficiente demais.
Ali evitava me olhar. A espuma já tinha praticamente se
dissipado. Dava pra ver perfeitamente meu corpo nu
dentro da água.
No que me dizia respeito, se ela era lésbica, minhoca ou
um rato, pouco importava. Minha assistente não podia
ter esse tipo de besteira. Precisava aprender a ser fria e
impessoal. Era pra isso que eu a pagava e treinava.
- Não vai tomar seu chá?
Perguntei. Ela foi obrigada a me olhar. Era óbvio que
fazia um esforço imenso pra manter os olhos nos meus,
mas... Mesmo sem querer, os olhos corriam para debaixo
da água, incontroláveis.
Ali percebeu que eu a fitava. Com um sorriso irônico nos
lábios. A voz soou um pouco trêmula, fraca, quando
finalmente respondeu:
- Não gosto de chá...
E voltou a olhar para o bloquinho nas mãos dela. Com
uma voz – não sei por que, mas juro que foi quase suave
- acabei dizendo:
- Não é um chá qualquer. Tem um sabor... Impossível de
explicar... Para saber você precisa... Provar...
Mantive os olhos fixos em Ali. Mesmo de costas, ela
pareceu sentir, porque, de onde eu estava pude ver
perfeitamente ela estremecer, como se um arrepio a
atravessasse.
A menina largou a caneta e o bloco, pegou a xícara de
chá e sorveu o líquido devagar.
- E então? O que achou?
Queria ver a expressão dela, mas... Ali se manteve de
costas, impenetrável. Respondeu com um tom de voz
estrangulado, muito diferente do normal:
- É... É muito bom.
E voltou a beber, saboreando o chá. Um sorriso de
satisfação bailou em meus lábios... Não ia ser tão difícil,
afinal. A menina tinha bom gosto, com certeza. No
mínimo um bom paladar. E era muito, mas muito fácil
mesmo se acostumar com coisas boas e caras...
Peguei minha xícara, bebi com prazer, lentamente, até
acabar. Ali também tomou a xícara inteira. De costas pra
mim o tempo todo.
Fui direta, seca, fria como sempre ao falar:
- Isto é um problema para você?
Nem assim ela se virou. Respondeu ainda de costas, com
a voz muito abafada:
- O que?
Meu tom de voz foi muito mais suave:
- Eu estar despida te incomoda, Ali?
Quando ela finalmente se virou, os olhos estavam em
brasas. Por um momento olharam dentro dos meus para
em seguida descerem, como se quisessem me devorar.

Capítulo 9:

*** Allison***
Eu parecia um bichinho acuado, tinha medo de olhar pra
ela e deixar transparecer a loucura do desejo que me
corroia a carne... O cheiro de sais de banho que envolvia
o corpo dela... A pele molhada de Pamela... As coxas que
estavam sobre a água... Eu tinha vontade de sair
correndo daquele lugar, estava preste a cometer uma
loucura e agarrar aquela mulher à força, sorver até a
última gota dos beijos dela... Apossar-me daquele corpo
que perpetuava os meus sonhos há dias... Não ouvi nem
uma palavra do que ela disse, ouvi apenas a última
pergunta:
- O fato de estar despida te incomoda, Ali?
Virei-me imediatamente de frente pra ela... Lentamente
Pamela foi saindo da água, ao mesmo tempo que eu me
levantei da beira da banheira... Parecia câmera lenta...
Nossos olhos fixos um no outro... Nossas bocas secas...
Ela umedeceu os seus lábios, eu senti meu sexo reagir
ao gesto dela...
- Pega aquele roupão pra mim – Disse apontando em
uma direção que eu nem sei qual porque simplesmente
não consegui tirar os olhos do corpo dela... Meus olhos
desceram pelos seus seios... Alcançaram a sua barriga...
Seu sexo visível me fez gemer de desejo, suas coxas me
arrepiaram de prazer simplesmente por olhá-las, e seu
corpo molhado me fez arder por dentro...
- Ali... – Tirou um pé da banheira... Continuei fitando-
a... Ela tirou o outro... Percebi as gotas de água
escorrendo pelo seu corpo... Minha pele queimou mais...
Não resisti e antes que Pamela pudesse dizer qualquer
outra coisa... Antes de pensar na possibilidade de jogar
meu emprego pela janela... Sem conseguir pensar em
mais nada puxei-a de encontro ao meu corpo... Aspirei o
cheiro que emanava dela... Minha roupa sendo molhada
pelo contado do seu corpo...
- Nem... Pense... Nis... – Se debateu com as mãos
pressionadas no meu ombro, enquanto as minhas
envolviam a sua cintura... Aproximei meus lábios dos
dela, e a beijei com toda a vontade que estava
acumulada dentro de mim... Não sei se gemi, mas senti
o meu sexo vibrar de desejo... Inconscientemente, e
lentamente fui empurrando-a para trás... De encontro à
parede... Quando as costas de Pamela bateram no
azulejo gelado, as mãos daquela mulher do beijo
estimulante já estavam envolta do meu pescoço...
Minhas mãos deslizavam pelos seus seios... Minha coxa
se perdia no meio das dela... Pamela tentou desgrudar
os lábios dos meus... Eu também senti falta de ar, só
então o beijo cessou... Nos olhamos por alguns
segundos... Aqueles azuis dos olhos dela me queimavam
por dentro... Inebriava... Provocava... Excitava...
Capturei seu pescoço e a vi tremer quando o mordi...
lambi e suguei... Descendo pelo seu ombro...
Pressionando-a de encontro à parede e colando o meu
corpo ainda mais ao dela... Pamela bagunçava os meus
cabelos enquanto eu explorava a sua pele... Descia a
língua e os lábios pelos seus seios rígidos... Chupei-os
com fome... Quem mandou ela não me dar o sanduíche
prometido? Agora eu queria comer o corpo dela! Lambi
os bicos, ora num... Ora noutro... Pamela abriu um
pouco mais as pernas... Minhas mãos percorreram as
suas coxas e meus dedos tocaram o seu sexo
encharcado... Continuei me perdendo nos seus seios
enquanto ela ordenava que eu a fizesse gozar... Adorei
a sua ordem e introduzi meus dedos dentro dela... Ouvi
o seu grito... Caí de joelhos no chão enquanto jogava a
sua perna direita sobre os meus ombros e enfiava-me
debaixo dela... Minha língua dividia espaço com os meus
dedos que a tocavam fundo e rápido... Senti o seu
gosto... Saboreei... Degustei do seu clitóris rígido...
Entregue... Sua pele fervia... Seu corpo se entregava....
Ela rebolava me enlouquecendo de tesão... Aumentei as
estocadas... Aumentei o contato da minha língua no seu
sexo... Percebi que ela iria gozar... Tirei meus dedos com
rapidez... Parei de chupá-la... Escalei o seu corpo
lentamente... Suavemente trilhando a sua pele com a
minha língua que deslizava sobre ela... Pamela bateu
forte no meu ombro, insatisfeita puxou-me pelos cabelos
até que nossos olhos se encontrassem novamente...
Agarrei-a pela cintura... Não a deixei falar...Puxei-a para
mim, tirando as suas costas da parede... Seus olhos
estavam furiosos... Sua respiração ofegava tanto quanto
a minha... Capturei a sua boca... Beijei-a com paixão...
Desejo... Empurrei-a com o meu corpo de volta ao
quarto dela... Minhas mãos apalpando com vigor as suas
costas... As suas nádegas...
- Por que não me fez... Gozar? – Sussurrou nos meus
lábios.
- Quero você aqui! – Apontei a cama... Empurrei-a... Ela
caiu com as costas no colchão... Subi na cama também...
Fiquei de joelhos e me despi lentamente... Pamela fitou
cada detalhe do meu corpo com curiosidade... Percebi
que ela nunca transou antes com uma mulher... Deitei-
me sobre ela... Gemi no seu ouvido ao sentir meu sexo
em contato com o dela... Pamela gemeu no meu...
Arranhou as minhas costas quando me enfiei no meio
das suas pernas e rebolei esfregando o meu sexo no
dela... Senti-a entregue novamente... – Vira... –
Sussurrei no seu ouvido, dando espaço para que ela
girasse o corpo... – Quero você de quatro pra mim –
Completei com a boca aguando para vê-la naquela
posição... Pamela não tinha pudor, ela sorriu
maliciosamente e virou-se no mesmo instante... Ergueu
as nádegas e me ofereceu o seu sexo encharcado...
Apoiou-se nos cotovelos e inclinou a cabeça para trás
para ver o que eu faria... Estremeci... Ela era tudo o que
eu queria de uma mulher... Afastei suas coxas, seu sexo
visto daquela posição ficava ainda mais gostoso... Enfiei
a língua e a chupei desesperadamente... deliciosa
começou a rebolar pra mim, e gemer... Aumentei o atrito
da minha língua com o seu sexo, depois alternei
afastando as suas nádegas com as minhas mãos e
mergulhando a minha língua dentro daquela bundinha
gostosa... Pamela gostou, aumentou o movimento dos
quadris e os gritos de prazer... Penetrei-a com meus
dedos enquanto minha língua mergulhava dentro dela...
Não resisti e gozei enquanto via e sentia o corpo
daquela mulher deliciosa estremecer num orgasmo
demorado... Bebi o seu gozo completamente
satisfeita enquanto sentia a minha pele em chamas pelo
prazer desconhecido que me foi proporcionado.... Tentei
estabelecer a minha respiração... Mas nada ainda havia
terminado... Aquele olhar azul e safado me excitava cada
vez mais...

Capítulo 10:

***Pamela***

Fiquei total e absolutamente... sem palavras.


Quando disse que pressentia que Ali poderia ser uma
diversão à parte, não era isso que eu tinha em mente,
mas... Bom, eu adorava explorar novas possibilidades,
especialmente se fossem tão deliciosas quanto essa.
Se eu estava arrependida? Jamais! Não sou mulher de
me arrepender de nada! Absurdo fazer uma coisa e
depois lamentar... Sempre achei que a gente deve é
lamentar as coisas que deixamos de fazer...
Aliás, diga-se de passagem, aquele era exatamente o
caso, porque se eu soubesse que sexo com mulheres
poderia ser assim, já teria experimentado.
Na verdade estava me achando uma idiota completa por
nunca ter sequer cogitado... Se tinha uma coisa que eu
detestava era perder tempo... E pensar que todas as
vezes que tinha feito sexo a três, sempre tinha sido com
dois homens... Ah, que pecado! Não sabia o que estava
perdendo...
Foi quando percebi que Ali já estava praticamente toda
vestida, com um jeito que chegava a ser engraçado.
Fiz a cara mais séria possível e a voz mais furiosa que
consegui – naquelas circunstâncias, convenhamos que
não era nada fácil... – para falar:
- Vou te demitir...
Ela me olhou, com um arzinho de desafio... um pouco de
raiva... não, revolta pra dizer a verdade. E respondeu me
olhando nos olhos:
- Você que sabe.
Quase soltei uma gargalhada. Ali era assim, sempre
absurdamente abusada... Parecia não ter medo de nada.
Realmente, aquela menina me instigava. Ela tinha um
delicioso... uhm... potencial... O sorriso que surgiu em
meus lábios foi inevitável.
Com um prazer enorme, indescritível, inenarrável,
ordenei, só então terminando a frase:
- Se você não tirar a roupa e voltar para essa cama
agora, Ali!

Ali me olhou, como se não acreditasse. Continuei:


- Vai ficar parada aí me olhando? É só isso que você sabe
fazer? Espero que não, porque... não tô nem perto de
estar satisfeita...
Em questão de segundos, ela já estava de novo
inteiramente nua em cima de mim. Me segurou pelos
cabelos, roçou os lábios em meu ouvido, me deixando
toda arrepiada... Então sussurrou, com uma voz rouca,
baixa, sufocada:
- Vou fazer você me pedir pra parar...
Soltei uma risada. Nem preciso dizer que adorei... A
menina se achava... E eu estava louca pra ver se aquela
propaganda toda era verdade... Pelo que eu tinha visto
antes, provavelmente sim...
Percorri o pescoço dela com os lábios. Ali estremeceu
com o contato. Mordi a nuca dela, arrancando um
gemido baixo. Provoquei:
- Você vai tentar...
O efeito foi imediato. Ali colou a boca na minha, enfiando
a língua com a mesma voracidade de antes, fazendo com
que se tornasse muito difícil, quase impossível respirar...
As mãos dela percorreram meu corpo inteiro. Ardentes,
sedentas, arrancando gemidos inevitáveis...
Com certeza, seria uma batalha. Tão excitante, deliciosa
e selvagem quanto Ali...
Eu ia domá-la, custasse o que custasse. No trabalho,
claro... Porque na cama, não queria que ela mudasse
nada...
A forma como ela lambeu, sugou e chupou meus seios
me fez arquejar, ofegar... Demonstrando a mesma
habilidade com as mãos que tinha com a boca, a língua e
os lábios, acariciou meu sexo, deixando-o ainda mais
molhado. Mandei que ela enfiasse os dedos, e Ali
prontamente obedeceu. Gemi no ouvido dela:
- Não para, Ali...
Na mesma hora ela parou de me tocar. Sussurrou no
meu ouvido:
- Meu nome não é Ali... Quer que eu te coma? Então diz
meu nome de verdade...
E como eu hesitasse:
- Fala!
Durante alguns segundos, duelamos com o olhar.
Umedeci os lábios. Nem assim os olhos dela se
desviaram.
- Allison...
Saboreei o nome dela sensualmente, de propósito.
Allison soltou um gemido, se arrepiou inteira, mas não
ficou satisfeita:
- O que você quer? Pede...
A forma que ela falou... Me deixou profunda e
absolutamente excitada. Aquela menina realmente era
tudo o que eu queria numa... adversária... Naquele
momento não me render à sedução devastadora era
impensável. Sussurrei no ouvido dela com uma voz
quase derretida de tão doce, como se pedisse,
implorasse:
- Me come, Allison...
Colei meus lábios nos dela. Allison entreabriu os lábios...
Invadi aquela boca que estava como a minha: sedenta..
Explorei com a língua provocando, incitando, ardendo
por mais...
Os dedos dela já estavam novamente dentro de mim... A
boca provando, saboreando meus seios... Alternando um
e outro... Causando uma ebulição insana, incrível,
impossível de controlar... Ela percebeu. Levantou a
cabeça, me olhou nos olhos. Disse, com um sorriso
absurdamente safado e uma voz que me arrepiou
inteira:
- Quero ver você gozar na minha mão, Pamela... Goza
agora, vai...
Foi difícil, mas tive que me controlar... Não ia deixar que
aquela menina me dominasse... Por mais que eu
estivesse gostando, não podia deixar ela esquecer quem
mandava.
Sem deixar que ela parasse os movimentos, a empurrei,
trocando de posição com ela. Passando a ter o controle
da situação. Mordisquei a orelha dela... Allison
estremeceu... Sussurrei no ouvido dela, gemendo entre
as palavras:
- Agora vou gozar...
A beijei intensa e profundamente, gemendo contra os
lábios dela, enquanto meu corpo estremecia, e eu não
conseguia mais pensar... Apenas sentia a boca, a língua,
a pele dela... quentes, ardentes... a respiração
entrecortada... mais ainda quando me movi nos dedos
dela cada vez mais rápido, gemendo alto, sacudida por
espasmos violentos, incontáveis, incontroláveis...
Com um último gemido, continuei a beijá-la... Ali
ameaçou parar os movimentos precisos – nunca tinha
sentido mãos com maior habilidade - que ainda me
atordoavam, mas impedi:
- Continua... Não para...
Apesar de ainda não estar totalmente recuperada, eu
queria, desejava, precisava de mais. Continuei me
movendo sobre ela.
Percorri o corpo de Allison com uma das mãos.
Descobrindo a pele macia, suave, aprendendo os pontos
que pareciam fazer com que ela se contorcesse mais.
Os gemidos dela me enlouqueciam... Provei os seios com
a boca... Acariciei as coxas, subi até encontrar o ponto
que desejava.
O sexo encharcado, inchado, um verdadeiro incêndio...
Meus dedos escorregaram para dentro dela com
facilidade... Allison gemeu alto... Mordeu os lábios...
Aprofundei o contato, com mais força, mais intensidade,
mais vontade...
Doce... e ácida... A forma como ela correspondeu,
puxando meus cabelos com força. Mordi o bico dos seios
dela de leve, arrancando um gemido abafado...
Ela rebolou nos meus dedos, parecia estar pedindo
mais...
Uma sensação indescritível, fantástica percorreu meu
corpo inteiro... Como uma corrente elétrica, um choque
intenso...
Meu corpo voltou a estremecer... Senti que ela me
acompanhava, apertando as minhas costas com força,
mais ainda quando mordi o lábio inferior dela antes de
falar:
- Vou gozar com você, Allison...

Capítulo 11:

*** Allison ***

Eu não sabia se respirava ou se gozava... As mãos de


Pamela me tiraram a total e completa racionalidade.
Putz! A mulher era insaciável, e eu estava deveras
enlouquecida por toda aquela intensidade de prazer que
Pamela buscava em cada toque, beijo, ou frase de baixo
calão que ela dizia no meu ouvido. Nossa! Que delicia
ouvi-la pedir para que eu a comesse... Sem pudor... Sem
reservas... Caramba! Acho que nem se eu vivesse mil
anos treparia novamente com uma mulher tão gostosa,
que me fez sentir as sensações mais diferentes no ato do
prazer.
Exausta, Pamela deitou-se ao meu lado, sonolenta de
prazer... Sua pele suada, as marcas dos meus dedos
visíveis por todo o seu corpo... Pensei em me levantar,
vestir a minha roupa e ir embora antes que ela
mandasse, no entanto, fiquei na mesma posição, com
meu corpo tencionado pelo receio de ter que me levantar
daquela cama e ir embora, ou para outro quarto daquela
casa... Nesse instante senti as mãos e as pernas de
Pamela serem jogadas sobre o meu corpo, a mulher
divina que acabara de me enlouquecer do mais luxuoso
prazer me abraçava com carinho, e ainda com delicadeza
aconchegava os seus lábios perto do meu pescoço...
- Eu tô suada, Pam...
- Quero mesmo sentir a sua pele suada grudada na
minha até amanhecer o dia – Disse ela ao me
interromper. Respirei fundo e só não me virei de frente
pra ela para beijá-la e recomeçar toda aquela deliciosa
safadeza novamente porque a mulher me deixou um
caco, viu? Fechei os olhos adormeci instantaneamente...
... Acordei com o meu telefone tocando não sei onde...
Abri os olhos assustada, olhei a minha volta... Percebi
que eu estava em um local estranho... Bem diferente do
meu quarto. Coloquei as mãos na cabeça como se
tivesse despertando de um sonho. Procurei Pamela pelo
quarto, nada! E o telefone não parava de tocar e eu não
tinha a mínima idéia de onde o desgraçado estava... Me
joguei no chão e olhei embaixo da cama... Nada! Parei...
Coloquei as duas mãos na cintura e como se me
concentrasse olhei lentamente ao meu redor, tentei
prestar atenção na direção do ruído que ele fazia ao
tocar e praticamente me atirei perto da porta do
banheiro, onde estava jogada a minha calça jeans...
Vistoriei os bolsos e encontrei o meu objeto inteligente
de comunicação em um deles...
- Alô! – Disse com a respiração ofegante.
- Ali! Você está atrasada há mais de uma hora! – Disse
do outro lado da linha, confesso que assustei-me... Olhei
ao meu redor novamente, sabe quando você tem medo,
ou melhor: pavor por estar em um determinado lugar?
- Pamela? – Perguntei incrédula.
- Não! O coelhinho da Páscoa! – Disse sarcástica – Olha
aqui, menina! Você tem meia hora para chegar aqui na
revista, está bem?
- Eu tô... Eu tô... Na sua... – Gaguejei, me sentindo
ridícula, afinal de contas ela sabia perfeitamente onde eu
estava.
- Não me interessa onde você está! – Interrompeu as
minhas palavras rispidamente – Quero você aqui em
meia hora!
- Mas...
- E saiba que vou descontar do seu salário cada segundo
desse seu atraso – Disse e desligou na minha cara.

Fiquei parada, como uma perfeita idiota segurando o


telefone próximo ao meu ouvido... A mulher era o cão,
meu Deus! Nós acabamos de ter uma noite inesquecível,
bom...Ao menos foi inesquecível pra mim, e a toda
poderosa me trata pior do que um cão de rua? Quem ela
pensa que é? A última rosquinha do pacote? Respirei
fundo... Olhei a hora no celular...
- Meia hora! – Pensei enquanto entrava debaixo do
chuveiro e praticamente só derramava água pelo meu
corpo... Vesti-me às pressas... Calcei o tênis pelo
caminho... Alcancei a porta de saída, mas a Paz me
chamou.
- A dona Pamela pediu para que eu preparasse um café
da manhã para a senhora.
- Que fdp! – Pensei – Ela é tão engraçadinha, me deu
meia hora para chegar na revista, estou morrendo de
fome, mas terei que deixar esse café da manhã para um
outro dia Paz – Disse – Nem sei se terá outro dia –
Pensei.
- Que pena, a dona Pamela não tem jeito mesmo –
Sorriu pelo cantinho da boca, fiquei me perguntando o
que ela quis dizer com: "a dona Pamela não tem jeito
mesmo". Dei tchau para a mulher simpática que me
ofereceu café da manhã e saí. Esperei o elevador
impaciente, desci até o primeiro andar batendo o pé em
sinal de ansiedade por aquela demora toda... Quando a
porta do elevador abriu, saí correndo em direção a rua,
acenei para um táxi e pedi que ele não dirigisse, e sim
que voasse até o meu trabalho...
Cheguei na revista uns cinco minutos depois de ter
entrado no táxi... Ótimo motorista, diga-se de passagem.
Entrei no elevador, e logo que desci dei de cara com Léo,
que vinha na direção contrária.
- Allison! – Disse ele passando as mãos pelos meus
ombros – Onde esteve? Não voltou pra casa depois do
jantar com o investidor... Na cama de quem você passou
a noite, amiga? Não me diga que foi com a Jéssica?
- Caramba! Pára de fazer perguntas – Disse apressada
enquanto abria a porta de vidro que separava o escritório
da revista do hall dos elevadores – Estou atrasada não
está vendo?
- Claro! E pra te assustar ainda mais, a megera está
uma fera te esperando para uma reunião.
- Ela não é... – Calei-me, eu não gostei nem um pouco
de ouvir Léo chamando a toda poderosa de megera,
embora ela estivesse bem perto dessa colocação – Acha
que eu tô apresentável? – Perguntei parando na frente
da sala do meu amigo.
- Deixa eu ver... – Olhou-me de cima a baixo - Você tá
com as roupas de ontem, o cabelo bagunçado e com a
fisionomia cansada, de quem trepou a noite inteira – Riu
assim que terminou de falar.
- Filho da mãe! Ajudou muito, sabia?
- Tá preocupada com o que a super chefe vai achar de
você, porque?
- Esquece... – Disse e caminhei pelo corredor na direção
da sala dela... Léo me puxou pelo braço... Ele estava
boquiaberto... Sabe quando o sujeito faz aquela cara de:
"não me diga isso?"
- Dormiu com ela? – Perguntou baixinho como quem
está com medo de ser ouvido.
- Tá louco?! – Foi só o que consegui dizer antes de
apressar os passos para sair correndo de perto dele. Abri
a porta... Mas antes que Pamela falasse qualquer coisa
eu tornei a fechar a porta... Bati e, depois entrei...
- Cheguei! – Disse com nó na garganta. Fitei-a da cabeça
aos pés... Quase pedi licença para buscar um babador
em algum lugar. Nossa! A mulher estava deliciosa, usava
uma roupa completamente perturbadora, sua saia
deixava as curvas do seu corpo tão nítidas quanto a
blusa exibia o decote generoso fazendo a nossa humilde
imaginação percorrer caminhos obscuros à procura de
sexo. Pamela notou o meu olhar de cobiça, e os seus
olhos azuis fuzilaram os meus com o mais delicioso
convite para perder a razão.
- Fecha a porta – Mandou. Obedeci imediatamente –
Tem trabalho pra você aqui – Disse entre os dentes
enquanto apoiava-se na sua mesa. Aproximei-me dela
completamente tomada pela chama de desejo que
corrompia o meu corpo quando eu sentia o cheiro
daquela mulher.
- Senta – sussurrei enquanto segurava a sua cintura
com as duas mãos e impulsionava o corpo dela para que
suas nádegas tocassem a superfície da mesa. Ergui
lentamente o pano da sua saia até a sua coxa ficar
descoberta, afastei as suas coxas posicionando-me no
meio delas... Pamela me olhava com sensualidade, e em
nenhum momento eu ousei perder aquele contato visual
que me rasgava a alma de prazer... Segurei sua nuca
com uma das mãos, a outra se perdia na sua coxa nua...
Puxei-a para um beijo... Grudamos as nossas bocas uma
na outra com urgência, gemendo de desejo uma da
outra, senti os seus seios em atrito com os meus assim
que as mãos de Pamela tocaram as minhas costas,
aumentando o atrito dos nossos corpos... Senti a sua
língua invadir a minha boca... Meu sexo latejava pedindo
pelo dela, me esfreguei no seu corpo... Deslizei minha
mão que estava solta pelo meio das suas pernas, senti a
sua umidade por cima da calcinha, afastei as laterais e
introduzi por completo os meus dedos dentro dela,
Pamela abafou o grito num beijo ardente que depositou
nos meus lábios... Mordeu... Sugou a minha língua
enquanto era penetrada com vontade, fazendo os meus
dedos se perderem dentro dela.... Suas unhas cravaram
nos meus ombros... As batidas do seu coração se
intensificaram junto com as minhas... Seu gozo escorreu
pela minha mão direita enquanto o seu corpo se debatia
agarrado ao meu... A respiração falhada... Tentando se
restabelecer tanto quanto a minha...
- Gostosa – Sussurrei no seu ouvido.
- Mais respeito comigo – Afastou-se sutilmente do meu
abraço... Fitou o meio das suas pernas, meus dedos
ainda estavam dentro dela... Pamela olhou dentro dos
meus olhos... – Tira!
Lentamente retirei meus dedos de dentro dela...
Sustentei o olhar que me encarava com um leve sorriso
nos meus lábios... Retirei lentamente os dedos do sexo
dela... Elevei minha mão molhada de encontro ao seu
rosto... Passei meus dedos úmidos de gozo levemente
nos lábios da toda poderosa... Vi uma expressão de
desejo no fundo dos seus olhos, no entanto, ela virou o
rosto se esquivando do seu gosto.
- Temos uma reunião – Disse voltando a me encarar –
Vá lavar essa mão!
- Não precisa lavar... – Sorri desafiadoramente e elevei
meus dedos até os meus lábios, lambi-os numa calmaria
que impressionou até a mim. Ela engoliu em seco aquela
provocação... Saiu do meu contato visual, deu a volta na
mesa, logo ajeitou a sua roupa no corpo.
- É melhor você ir pra sua sala, menina! – Mexeu em
uns papeis na mesa sem olhar na minha direção – Saiba
que pra mim o que aconteceu ontem e hoje não tem
nenhum significado, portanto, coloque-se no seu lugar
porque eu posso perder a paciência a qualquer
momento.
- Uau! Acho que nunca tomei um fora tão chique! –
Sorri debochada enquanto saia da sala... Alcancei a porta
e a ouvi me chamar...
- Me poupe das suas piadas, está bem?
- Está! – Disse séria enquanto olhava na direção dela.
Fechei a porta e desabei na minha cadeira... O que ela
queria de mim? Humilhar o seu mais novo brinquedinho?
Essa mulher tá pensando que eu vou comê-la sempre
que ela tiver vontade e depois baixar as orelhas, colocar
o rabinho entre as pernas e ir embora quando ela se
cansar?
- Acabou! – Bati na mesa, e olhei para a porta que Léo
acabava de ultrapassar.
- Nervosa?
- Não! – Fitei-o furiosa.
- Vim... Entregar essa pauta que vai ser utilizada na
reunião.
- Tudo bem... Deixa aqui em cima que já vou olhar –
Fitei a superfície da mesa.
- Chopinho com a galera depois do expediente? –
Perguntou inseguro.
- Feito! – Respondi de imediato.
- Às nove, não se atrase. Estaremos no Bofetada na
farme – Disse e saiu da sala.
Era tudo o que eu queria. Um bar GLS com muita mulher
gostosa para eu... Levar pro banheiro e confundir com a
Pamela novamente... Bati na mesa a minha frente...
- Ela quer me enlouquecer! – Pensei passando as mãos
pelo meu rosto e sentindo o cheiro delicioso do sexo
daquela mulher impregnado nos meus dedos.
Capítulo 12:

***Pamela***

Ainda fiquei alguns segundos olhando para a porta que


se fechou atrás dela. Era incrível, mas Ali estava
começando a me irritar.
O que aquela menina estava pensando? Que existia algo
entre nós, por um acaso? Impensável perder o controle
da situação. Pelo menos pra mim, lógico.
Era exatamente isso que eu mais odiava nas pessoas...
porque precisavam sempre ser tão... tão... pessoais?
Afinal de contas, qual era a dificuldade em se entender o
que era uma boa trepada? Que era só isso, e mais
nada?
Ao invés de aproveitar, preferiam rastejar na confusão
grudenta, desesperada e asquerosa que chamavam de
sentimentos... Preferiam... Misturar tudo... E estragar
completamente. Absurdo! Insuportável!
Moralismos à parte, existe coisa melhor do que sexo de
verdade? Sem culpas, sem envolvimento, só tesão e
mais nada?
Tudo bem... Se a menina ainda não sabia disso, eu podia
ensinar.
Chamei Ali pelo telefone interno. Ela bateu na porta, e
entrou depois que eu permiti. Pelo menos nisso, ela já
estava bem treinada.
O olhar que ela me lançou... Quase babando... Desejo e
tesão evidentes, insanos... Uma cobiça excitante,
deliciosa e... inaceitável. Era exatamente o que ela
precisava aprender a controlar.
- Sentiu minha falta? – foi o que Ali disse. Inacreditável!
– Quer um pouco mais?
Realmente, essa menina era absurdamente abusada. Eu
não ia deixar barato, claro! Minha voz soou totalmente
fria, seca, metálica. Com total desprezo de minha parte:
- Me poupe dos seus comentários baixos.
Ali arregalou os olhos. Com certeza, não esperava que
fosse essa a minha reação. Aproveitei para continuar:
- Você não é paga para me comer, e sim para trabalhar.
Se não entender isso rápido, vou ser obrigada a te
dispensar. Entendido?
A resposta veio entre dentes. Obviamente, Ali tentava se
controlar:
- Sim.
Com um sorriso irônico, corrigi:
- Sim, senhora.
Me olhando nos olhos – daquele jeito que eu estava
começando a gostar - a voz baixa de pura raiva, ela
disse:
- Sim, senhora.
Levantei da cadeira, me aproximei devagar. Andei ao
redor dela, a olhando de cima a baixo. Tão próxima que
pude ver como os pelinhos do pescoço dela se
arrepiaram.
- É inadmissível que a minha assistente ande por aí
assim, em andrajos. Com a roupa de ontem, toda
amassada.
- Você... Quer dizer: a senhora sabe muito bem...
Não a deixei continuar. Exagerei. Minha intenção era
rebaixar, humilhar, derrubar aquele arzinho auto-
confiante dela de uma só vez:
- É indesculpável. Parece uma indigente. Uma sem-teto,
uma coitada.
Ali prendeu a respiração. Enquanto eu a observava,
balançando a cabeça negativamente, a desaprovando.
Encostada na mesa, no mesmo lugar onde antes ela
tinha me colocado sentada, me fazendo gozar
deliciosamente em seus dedos...
Não sei se Ali estava pensando a mesma coisa que eu,
porque... ela simplesmente não me encarava.
Andei até o armário. Sentindo os olhos dela me
acompanharem.
Quando voltei a me virar, eles me atingiram. Cheios de
tesão e desejo novamente. Como se pudessem, com um
simples olhar, me devorar.
Será possível que ela ainda não tinha entendido nada?
Impossível conter a minha raiva:
- Ali... Você está proibida de me olhar desse jeito.
Foi a mesma coisa que não ter dito nada. Ali se
aproximou. Insinuante, sedutora, insistente demais. A
voz sussurrante, doce, íntima. Fazendo com que –
absolutamente contra minha vontade – eu me
arrepiasse:
- Tô proibida de te desejar?
A boca tentou se aproximar da minha, mas a impedi,
empurrando Ali pelos ombros, mantendo-a afastada de
mim pela distância dos meus braços. A olhei bem nos
olhos. Melhor dizendo: a fulminei com o olhar. E
respondi:
- Não. Está proibida de demonstrar.
Não consegui deixar de completar:
- Durante o horário de trabalho.
Ali sorriu. Um sorriso cafajeste, canalha, vulgar. Com
uma satisfação indescritível no olhar. Tão intensa que na
mesma hora senti em minha calcinha uma umidade
indesejável.
Como se nada tivesse acontecido, cortei a energia
sensual que já nos envolvia bem rápido:
- Toma. Pega isso.
Disse, estendendo pra ela as chaves do meu carro. Ali
me olhou sem entender nada.
- As roupas que compramos para você ontem estão no
porta-malas. Pega uma, troca de roupa e traz de volta as
chaves. Rápido!
Ali pegou as chaves da minha mão, fazendo questão de
fazer com que as peles se encostassem. Ficou me
olhando com um sorriso safado. E eu... fechei a cara:
- Anda, Ali! Eu disse rápido!
O sorriso dela aumentou significativamente. Então, Ali se
virou, e saiu lentamente da sala. Numa provocação
clara.
Deixei escapar um suspiro... e logo depois, uma risada
incontrolável...

O dia passou sem outros incidentes. Pra mim, é claro.


Ali devolveu as chaves sem dizer uma palavra. A mandei
retornar para a própria sala.
A reunião - como sempre - foi enfadonha, monótona,
interminável. As amebas que eu tinha como funcionários
sem acrescentarem nada. Não fediam nem cheiravam.
Ali foi extremamente eficiente. Não falou sem ser
perguntada. Não tentou dar sugestões. Apresentou os
relatórios que eu tinha pedido com clareza, competência,
criatividade. Realmente admirável.
Em nenhum momento me olhou de um jeito que não
fosse absolutamente profissional. Nem quando mandei
que ela me servisse café. Muito menos quando a fiz
voltar com o café cheio de açúcar – a fuzilando com o
olhar – e servir outro com adoçante. Nem mesmo
quando a obriguei a abrir a porta para mim e carregar a
minha pasta. Parecia estar ficando... quase domada.

Quando o expediente acabou, dispensei Arlete e...


chamei Ali em minha sala. Sentada na minha cadeira,
sorrindo de antecipação, respondi às batidas em minha
porta:
- Pode entrar...
Ali entrou e ficou perto da porta. Aparentemente, louca
pra ir embora.
- Vai ficar aí parada?
A resposta dela foi seca. Curta e grossa, na verdade:
- Se não for pedir muito, vo... a senhora poderia ser
rápida?
Perguntei, com um sorriso sarcástico:
- Tem algum compromisso? Porque... sabe muito bem
que você não tem hora para sair. Minha assistente só vai
embora quando eu deixar. Sabe disso, não sabe?
Ali se aproximou mais da mesa, me olhando
inexpressivamente. Adoraria saber o que ela estava
pensando, mas ela parecia disposta a não deixar.
- Sim, senhora.
Foi a resposta dela. Falei com um sorriso quase
simpático:
- Muito bem. Por hoje, seu trabalho terminou. Está
dispensada.
- Muito obrigada.
A raiva na voz dela era palpável. Ali se virou
rapidamente. Em questão de segundos, já estava na
frente da porta, com a mão na maçaneta.
Impedi rapidamente que ela saísse. Com uma voz
sedutora, exigente, aveludada:
- Espera... Preciso de você, Allison...
Allison estremeceu. Continuou alguns segundos com a
mão na porta, paralisada. Para então se virar
lentamente. Quase sem respirar.
Parecendo absoluta e maravilhosamente comestível.
Fazendo o tesão que eu sentia aumentar a um ponto
incompreensível.
Não via a hora de voltar a degustar a onda de prazer
indescritível que Allison conseguia me proporcionar.
Soltei os cabelos. O efeito foi imediato. Os olhos de
Allison voltaram a me devorar. Mais ainda quando
percebeu que o que eu tinha acabado de atirar em cima
dela era... minha calcinha. Absolutamente molhada...
Ela aspirou o tecido fino, com aquele sorrisinho vulgar
que tanto me excitava. Em questão de segundos, já
estava ajoelhada entre as minhas pernas, as mãos em
minhas coxas, depois de abrirem minha blusa
arrancando metade dos botões com brutalidade...
Correspondi completamente. Enfiando a mão nos cabelos
dela, apertando a nuca de Allison, a beijando com
loucura. Provando com a língua aquela boca que como a
minha, parecia incansável.
Ela lambeu, sugou, chupou meus seios deliciosamente...
Com vontade... Sedenta, faminta, voraz...
Mas o que mais me excitava era a forma como Allison
movia os dedos dentro de mim. Me penetrando quase
com raiva. Me fazendo gemer alto.
Me entreguei... Sem pudores, culpas, nem nada...
Apenas a necessidade pelo corpo dela que sentia...
Querendo a língua, os lábios, as mãos que me faziam...
Vibrar com maestria... Sussurrar todas as coisas
inconfessáveis que eu pensava... E que Allison parecia
adorar porque... suspirava e gemia, sem parar.
Grudei minha boca no pescoço dela. Allison estava toda
suada, do jeito que eu gostava. A apertei contra mim
com força, enquanto nossos lábios voltavam a se colar.
A língua dela parecia querer descobrir, conhecer, decorar
cada milímetro da minha. E abafou parcialmente os
gemidos que soltei enquanto meu corpo todo estremecia,
e eu gozava intensamente nos dedos de Allison.

A beijei demoradamente. Suspirando alto. Saboreando


sem pressa a boca de Allison... Ela gemeu quando dei
uma leve mordida nos lábios dela, antes de me afastar.
Ali tirou os dedos de dentro de mim. Com suavidade.
Olhei para ela, bastante irritada:
- Quem mandou você tirar?
Com um suspiro absolutamente enervado, numa espécie
de desabafo, Ali se levantou, num salto. E disse:
- Tirei porque cansei. Chega! Não agüento mais.
Caminhou até a porta. Uma fera. Pisando duro, quase
bufando. Mas eu fui muito mais rápida. A alcancei
facilmente, aproveitando a vantagem da minha reação
ser totalmente inesperada. A virei para mim, e a
empurrei contra a porta. O baque, a surpresa, e o tesão
a fazendo perder o ar.
Colei minha boca na dela. Allison ofegava contra os meus
lábios. Mas em nenhum momento tentou se afastar. Pelo
contrário. Me agarrou furiosamente. Chupou meu
pescoço de um jeito que provavelmente ia deixar
marcas...
Arranquei a blusa que ela usava. Toquei os seios dela...
Allison gemeu, como se quisesse mais. Desci minha boca
pela pele ardente, que me queimava os lábios. Lambi os
seios lentamente, quase uma tortura, antes de colocar
um deles na boca... Os gemidos cada vez mais altos me
mostravam que era o jeito certo de a dominar...
As mãos de Allison me livraram da blusa, da saia... Com
uma urgência que beirava a selvageria,
maravilhosamente incontrolável. Me puxou pelos
cabelos, me obrigando a parar o que estava fazendo
para colar os lábios novamente nos dela...
Desabotoei a calça de Allison e enfiei a mão,
encontrando o que desejava: o sexo que se ofereceu
pulsante, inchado, molhado... Totalmente à minha
mercê.
A penetrei, meus dedos entrando e saindo de dentro dela
com vontade. As batidas do coração de Allison entrando
num intenso descompasso, enquanto o corpo dela se
contorcia contra o meu...
Acelerei os movimentos. O ritmo da pulsação dela, os
sussurros e gemidos me guiavam... Minha respiração
completamente alterada, o sangue se incendiando
quando a senti gozar demoradamente em meus dedos...
Ficamos em silêncio. Novamente sem palavras. Para
que? Elas tinham se tornado absolutamente
desnecessárias.
Allison me puxou pela nuca, e mergulhou a boca na
minha. Num beijo duro, rude, brutal. Deliciosamente
passional.
Nossas línguas voltaram a se enroscar. Enquanto nos
deitávamos no tapete persa, insaciáveis.
Ela desceu a língua, as mãos, os lábios pelo meu corpo
inteiro, fazendo eu me contorcer com total e absoluta
habilidade. Até chegar entre as minhas pernas,
percorrendo meu sexo com a boca de uma forma tão
intensa que eu poderia facilmente gozar rápido.
Tive que juntar toda a minha força de vontade naquele
momento para puxar Allison pelos cabelos e a fazer
parar:
- Não é assim que eu quero gozar...
Primeiro ela me olhou sem entender nada. Mas logo se
recompôs, me perguntando, com uma malícia gostosa,
despudorada na voz, de quem sabe o que faz:
- Como você quer, Pam?
A empurrei, e ela caiu deitada. Sussurrei, a voz rouca de
tanto desejo:
- Vou te mostrar...
Me posicionei em cima dela, já sabendo que aquele seria
um 69 fenomenal...

Capítulo 13:

*** Allison ***


Eu estava sem ar. Meu cérebro só conseguia mandar ao
meu corpo a informação de que eu queria gozar. Pamela
me empurrou completamente selvagem. Bati com as
costas no tapete persa que decorava a sala dela e recebi
o seu sexo vindo de encontro à minha boca. Ela se
oferecia deliciosamente pra mim, ao mesmo tempo em
que me fazia delirar com a sua língua faminta me
devorando inteira. Afastei ainda mais as suas pernas e
suguei o seu sexo molhado com a intensidade que meu
tesão por ela pedia. Sôfrego... Desesperado...
Apaixonado... Minhas mãos puxavam-na pelas nádegas
para sentir ainda mais o atrito do seu sexo em contato
com a minha língua, que o devorava com mais
intensidade, e pelos meus lábios que a chupavam com
desespero desmedido. Pamela me enfeitiçava rebolando
e gemendo sobre o meu corpo enquanto enfiava a sua
língua ágil dentro de mim. Nossa pele suada e nossos
gemidos intensos não deixavam dúvidas quanto ao gozo
que estava próximo... Foi inevitável. Ela gozou na minha
boca e eu gozei pra ela, também nos seus lábios... O
corpo trêmulo pelo orgasmo intenso e saboroso que
acabava de ser dividido... Nossa respiração ofegante foi
dando espaço a uma respiração quase contida... Ainda
estávamos na mesma posição. Eu podia sentir os fios dos
seus cabelos loiros tocando a minha coxa... Seus lábios
quentes ainda no meu sexo... Sua língua passeando por
dentro de mim. Os meus lábios ainda beijando-a,
sugando até a última gota do seu gozo derramado que
escorria pela minha boca e tocava o tapete.
Meus pensamentos estavam a mil por hora quando senti
Pamela se mexer sobre mim e se levantar devagar...
Apoiei o peso do meu corpo nos cotovelos e fiquei
olhando-a caminhar pela sala calmamente enquanto
apanhava suas roupas e as vestia.
- Você não tinha um compromisso? – Disse sem olhar
na minha direção.
Olhei o relógio no meu pulso...
- Perdi a hora – Dei um salto e me levantei. Aproximei-
me da sua mesa, agora, ela estava vestida, sentada na
sua cadeira como se nada tivesse acontecido entre
nós. Sim, porque eu parecia não existir naquele
momento. Pamela mexia em uma das suas gavetas que
ficava na parte interna da mesa sem ao menos olhar pra
minha cara. Encostei-me na mesa à frente dela...
Rapidamente Pamela tirou as mãos da gaveta, parou de
mexer nos papéis que estavam dentro dela e ergueu
aqueles lindos e penetrantes olhos azuis em minha
direção. Senti seu olhar queimar a minha pele... Eu ainda
estava nua diante dela, e o jeito que a mulher explorou
visualmente o meu corpo me fez ter a impressão de que
deixei escapar um gemido.
- Vista-se Ali! – Seu tom de voz era sério, porém
extremamente sensual. Ela falava olhando pros meus
olhos, encarando-me como se me desafiasse a
desobedecê-la. Acho que a poderosa gostava das minhas
desobediências. Era um jogo pra ela, e me colocar
rédeas era o objetivo final.
- Gosto de ficar sem roupas diante de você – Sussurrei.
A face dela estava erguida, seus olhos fitavam os meus,
logo inclinei-me para alcançar os seus lábios. Tentei
tocar a sua boca com a minha, mas Pamela virou
lentamente o rosto deixando os meus lábios encostarem
no seu pescoço... Sorri por entre os dentes e mordi
suavemente a sua pele. Pamela levantou-se da cadeira
em que estava sentada... Enquanto se punha de pé, fez
questão de deslizar o seu corpo quente no meu... A
minha face deu lugar imediatamente a uma expressão de
tesão incontrolável. Puxei Pamela pela cintura e fugi do
seu olhar para continuar devorando o seu pescoço. Ora
passando a língua, ora sugando a sua pele com desejo. A
mulher afastou-se um pouco de mim, depois inclinou a
cabeça para trás a fim de fugir do contato dos meus
lábios na sua pele. Busquei o seu olhar por alguns
instantes, encontrei o seu sorriso malicioso me dizendo
que suas intenções eram as melhores possíveis. Antes de
qualquer palavra, senti a mão da mulher perfeita à
minha frente deslizar sedutoramente pelo meio das
minhas pernas, logo os seus dedos entraram em mim
com fervor me deixando alucinada de desejo, obrigando-
me a apertá-la em meus braços e gemer no seu ouvido
sussurrando palavras descaradas que conseguiam
explicar a loucura daquele momento. Abri mais as pernas
para senti-la toda dentro de mim, e gozei
demoradamente nos seus dedos. Puxei o ar... Segurei
seu queixo com uma das mãos e puxei-o para provar o
gosto da sua boca. Pamela me beijou com loucura,
sugou a minha língua, gemeu nos meus lábios...
Acariciou os meus seios e depois me empurrou de
encontro a sua mesa. A mulher me olhou como se
tivesse vencido o jogo. Tentei interpretar aquele silêncio
que nos envolveu, mas antes que eu pudesse chegar a
qualquer conclusão, ela deu a volta na mesa, apanhou a
sua bolsa...
- Apague a luz da minha sala quando você sair – Disse
antes de bater a porta.
Fiquei parada olhando "pro nada" como quem não
acredita no que acabou de acontecer.
- Ponto pra ela! – Pensei enquanto balançava a cabeça
negativamente – Vai ter volta Srta Sedução – Sorri
achando graça do meu pensamento. Elevei as minhas
mãos até a altura do meu nariz – Seu cheiro é delicioso –
Continuei pensando enquanto vestia-me para deixar
aquela sala. Apaguei a luz como me foi ordenado e saí.
Ainda ouvi o ruído que a porta fez atrás de mim.
Em quarenta e cinco minutos eu já estava em casa,
completamente esgotada. Entrei no meu quarto e
arranquei minhas roupas deixando-as jogadas em
qualquer canto... Deixei também o meu corpo cair na
cama e adormeci.... Exausta de tanto prazer
compartilhado com aquela mulherzinha esnobe e
prepotente. Eu devia estar no mínimo louca para deixar
uma mulher me fazer de gato e sapato desta maneira,
né?

Acordei na manhã seguinte com Léo me sacudindo feito


um louco... As luzes do meu quarto acesas... E as
minhas roupas nas mãos dele.
- O que foi cara? – Abri os olhos tentando não xingá-lo
pela claridade que fazia doer as minhas vistas.
- Sua furona! E.... – Parou brevemente de falar... Elevou
a minha blusa até o seu nariz... – Mentirosa! – Disse
enfim. Logo apanhou a minha calça que estava jogada
também num canto do quarto. Começou a revistar os
bolsos...
- Que palhaçada é essa, Léo? Tá parecendo uma
mulherzinha enciumada querendo descobrir a traição do
marido, oras!
- É isso mesmo! – Afirmou bravo.
- É? – Fitei-o sem saber o que pensar – Não entendi,
viu? – Cocei a cabeça.... – Desde quando virou hétero?
- Estou com ciúmes da sua mentira Allison! – Sentou-se
ao meu lado na cama. Esticou a mão que segurava a
minha blusa – Tá com cheiro de mulher! – Disse
indignado.
Puxei as roupas das mãos dele...
- Enlouqueceu, é? Como assim ciúmes das "mentiras"?
Tá falando do quê? – Fitei-o sem conseguir entender
onde Léo queria chegar - Sabe que eu gosto de mulher,
portanto, jamais teria cheiro de homem nas minhas
roupas!
- Allison, desde quando está dormindo com a poderosa?
– Perguntou direto e sério. Desde quando Léo tinha
aquela cara de irmão mais velho, hein?
- Ãh?
- Cheira isso aqui! – Puxou a blusa das minhas mãos e
quase esfregou-a no meu nariz – Esse cheiro é dela! E
não adianta dizer que é de outra mulher porque se a
poderosa desconfiasse que outra mulher na face da terra
usa o mesmo perfume que ela, já teria mandado matar
a coitada – Colocou as mãos na cabeça – Desde quando?
Diz criatura! – estava impaciente.
- Não sei... Do que... Você está falando Léo! – Levantei-
me de sobressalto... Tentei desconversar – Viu minha
camiseta preta?
- Hoje é domingo, estamos de folga!
- Esque...ci... – Disse sem graça fechando a gaveta que
eu havia aberto para pegar uma roupa para ir
trabalhar.
- Isso é sério Ali... – Aproximou-se de mim – Sou seu
amigo, te coloquei naquela merda de revista pra
trabalhar, não quero me sentir responsável pelo
sofrimento óbvio que aquela inescrupulosa irá te
submeter.
- Cara... Ela... Ela... – Baixei a guarda, sabia que nada
do que eu dissesse convenceria o Léo do contrário.
- Ela é gostosa, eu sei! – Continuou tagarelando sem
parar.
- Sabe? Como? – Arregalei os olhos já pensando
maldade, sabe?
- Deixa de ser ridícula! – Respondeu como se tivesse
lido os meus pensamentos - Dá pra imaginar só de olhar
as curvas dela. Se eu fosse mulher ia querer ser
exatamente igual à dona Pamela.
- Isso resolveria o meu problema... – Fitei-o de rabo de
olho com um risinho contido – Você sendo meu amigo
seria bem mais fácil, né?
- Então admite que andou se perdendo na cama daquela
mulher? – Sorriu quase assustado.
- No tapete persa do escritório – Ergui os braços sobre a
minha face para me proteger. Sim! Já sabia que ele
arremessaria o travesseiro em mim.
- Sua cachorra! – Arremessou o travesseiro, Viram? Em
seguida colocou as mãos na boca – Me conta! Como foi?
- Caraca! Um minuto atrás você tava me falando que
não queria ser responsável pelo sofrimento óbvio que
aquela cascavel irá me submeter, e agora quer detalhes?
- Eu disse inescrupulosa... E... Já que você caiu na
besteira de trepar com ela eu me sinto no direito de
saber como foi, né?
- Nossa! – Respirei fundo antes de continuar falando -
Tô ficando doida com essa mulher, sabia? Ela é...
Dominadora... Gostosa... Louca! – Deslizei as mãos pelos
meus cabelos quase desesperada ao falar nela.
- Nossa Ali! Não tô nem acreditando que você comeu
aquela mulher!
- Putz! – Sentei-me ao lado dele na cama – O pior de
tudo, digo, da nossa convivência na revista é o fato dela
querer me mudar, sabe?
- Ali, você é a assistente da poderosa! O que queria?
Andar toda largada ao lado dela?
- Eu não cursei jornalismo pra isso Léo! – Respirei fundo
– Trabalhar em uma revista como a "Gente Chique" não
estava nos meus planos, ser assistente da poderosa
menos ainda! O que eu queria mesmo é ser colunista em
um jornal de notícias menos superficiais do que uma
revista que só se importa com a vida de gente famosa,
em saber como e o que eles vestem.
- Relaxa Allison! Você está tendo uma chance única na
sua vida. É só o primeiro trabalho. E você já está se
dando bem com a toda poderosa! – Sorriu
copiosamente.
- Hum... Senti um tom de malícia na sua última frase...
Como assim se dando bem com a poderosa? – Apertei
um travesseiro entre os braços – É só sexo, e nem eu,
muito menos ela quer que passe disso – Fiquei pensando
nas minhas próprias palavras, como doeu admitir que
era apenas sexo o que me ligava a toda poderosa. Mas
também, seria muita pretensão achar que uma mulher
como aquela iria querer algo sério comigo, não é?
- Não pensa muito não Ali!
- Ãh?
- Você tem é que pensar numa roupinha bem legal pra
não fazer feio na festa de lançamento da revista desse
mês, tá?
- Que festa?
- Como assim que festa? – Colocou as mãos na minha
testa – Estouramos as vendas! Estamos no topo do topo
e a Gente Chique sempre promove uma big festa pra
comemorar, oras!
- Ai meu Deus! – Deixei o meu corpo cair para trás –
Detesto essas festas cheias de frescuras!
- Deveria ter desistido do jornalismo antes de prestar o
vestibular, sabia?
Fitei-o de rabo de olho...
- Devia ter desistido dessa idéia de trabalhar contigo,
isso sim! Minha vida tá uma "zona" e a culpa é sua seu
desgraçado!
- Ah, tá! Té parece que fui eu quem dormiu com a
chefona.
- Quando será essa festa?
- Sexta que vem.
- Putz!
Capítulo 14:

***Pamela***

Cheguei em casa absolutamente exausta. Estressada,


pra falar a verdade. Os embates com Ali tinham sido
deliciosos, mas... estranhamente, eu estava fatigada,
como se todas as minhas energias tivessem sido
sugadas.
Normalmente, depois de ter conseguido dar a última
palavra, deixando Ali lá plantada, eu estaria no mínimo,
satisfeita. Porém, era exatamente o contrário. Como se
alguma coisa me incomodasse.
"Bobagem, Pamela..."
Pensei, depois de dizer:
- Não estou em casa para ninguém, Paz...
Entrei no meu quarto, tomei uma chuveirada rápida, e
me atirei na cama. Nua mesmo, como de hábito.
Tinha passado as últimas vinte e quatro horas numa
verdadeira maratona sexual... Natural o cansaço... Nada
que pudesse preocupar...
Puxei o edredom, peguei o travesseiro com o qual
costumava dormir abraçada... Tinha um perfume
diferente nele... Que me causou uma sensação de
conforto muito agradável... Com um suspiro, me
aconcheguei mais a ele... Apenas para, segundos depois,
arregalar os olhos e me sentar, totalmente assustada. Ao
perceber que aquele perfume era, na verdade, o cheiro
de Allison...

No dia seguinte, meu humor estava insuportável. Nem


eu agüentava. Com certeza era evidente, porque assim
que entrei na revista, com Arlete carregando minhas
coisas - e como sempre, quase correndo para me
acompanhar - um silêncio absoluto se estabeleceu.
Bastou que eu olhasse rapidamente ao redor para
constatar que todos – sem exceção – mantinham as
cabeças baixas, sem quererem me encarar. Até os que
estavam ao telefone tinham parado de falar. Todos meio
que... paralisados... Aterrorizados, na verdade... Do jeito
que eu adorava.
Não era pra ninguém saber o prazer que aquilo me dava,
claro. Por isso, fingindo bufar de impaciência, irritação e
raiva, falei, alto o bastante para que todos escutassem:
- Isso aqui é uma revista ou um necrotério? Pelo amor
de Deus, mexam-se! Bando de retardados!
Quando me virei, Ali estava parada na minha frente, me
observando. Com uma expressão indecifrável. Parecia...
divertida? Feliz por me ver chegar? Impossível definir...
Visível era apenas um quase sorriso no olhar...
Em questão de segundos, ao perceber que eu a fitava,
ela desmanchou o olhar. Antes de falar, com um tom
inexpressivo, absolutamente profissional:
- Bom dia, dona Pamela.
Nem respondi. Não ia me dar ao trabalho. Segui em
frente, depois de lançar um olhar absolutamente gelado
para Ali. Que me seguiu, repassando nossa pauta do dia
e explicando algumas coisas que tinha adiantado. Tudo
com uma perfeição que melhorou meu humor de forma
inexplicável. Mas que não deixei transparecer, óbvio!

A semana passou rápido. Durante o expediente, eu tinha


Ali, minha fiel e eficiente assistente.
Depois, o horário de trabalho terminava, e com ele toda
e qualquer razão para não permitir que meu corpo
tivesse o que desejava: Allison.
Num ciclo inevitável de sedução, prazer e provocação
além do imaginável. Com nuances cada vez mais
excitantes e satisfatórias de posições sexuais, diálogos e
orgasmos.

Na 6ª feira depois do almoço, chamei Ali na minha sala.


Ela entrou e ficou parada na frente da minha mesa, com
aquele olhar inescrutável dela, que nunca me permitia
saber o que realmente estava pensando. Não que eu
quisesse saber ou me importasse, claro!
Ordenei, fingindo não olhar para ela, guardando algumas
últimas coisas numa das gavetas:
- Ali, depois que terminar os relatórios que te pedi, me
encontre nesse lugar.
Ali arregalou os olhos, antes de pegar o cartão que
estendi pra ela, e ver que o lugar era apenas um salão
de beleza. Ela pareceu decepcionada, o que quase me
fez sorrir. Quase, porque completei, seríssima:
- E não se atrase!
Antes de pegar minha bolsa e sair batendo a porta da
sala atrás de mim.

Foi muito divertido ver Ali se debatendo no salão. Era


evidente que ela odiava tudo aquilo, mas... Ali não tinha
escolha, não é verdade?
Ignorei a resistência dela completamente. Simplesmente
ordenei, com uma autoridade inquestionável:
- Ali, senta! E fica calada.
Ela me olhou de um jeito... como que se preparando
para sair correndo dali. Impossível não achar graça.
Quase sorri. A segurei pelo braço, conduzindo até a
cadeira, com uma voz bastante suave para mim:
- Confia no meu bom gosto, vai...
Ali suspirou fundo, como se tomasse coragem. E
obedeceu. Com um olhar doce, mas tão apavorado e
perdido que poderia causar pena... Em qualquer pessoa
que não fosse eu.
Sentei na cadeira ao lado dela, explicando o que queria
para mim. Ali me olhava desconfiada, tentando descobrir
ao que seria submetida, mas...
Na verdade já tinha explicado para as meninas do salão
exatamente o que eu queria que fizessem com ela. Nada
demais. Uma escova básica e maquiagem completa. Ela
permitiu, incrivelmente sem dar uma palavra. Olhando
fixamente pra mim.
O resultado final foi fantástico. Nem parecia aquela Ali
largada e sem graça. Estava uma assistente à minha
altura, que não ficaria do meu lado causando uma
absurda poluição visual. Pelo contrário, do jeito que
estava, Ali era um enfeite perfeito.
Levantei uma das sobrancelhas, e umedeci os lábios,
pensando o quanto seria divertido mais tarde, depois da
festa, saborear o novo visual dela na minha cama...

Pelo visto, Ali não estava disposta a esperar. Tinha


tentado se insinuar dentro do carro o tempo inteiro, e
depois quando chegamos em meu apartamento. Olhando
pra mim babando... Com cobiça, desejo e tesão quase
irritantes. A despachei no quarto de hóspedes, e entrei
no banho que Paz tinha preparado para mim.
Estava de olhos fechados na banheira de água fervendo,
tomando total cuidado para não estragar meu cabelo
nem a maquiagem, quando senti uma mão deslizando
em minha pele, acariciando meus seios, enquanto uma
respiração quente já muito conhecida ofegava atrás de
mim.
Abri os olhos, e ainda sem me mover, disse:
- O que você pensa que está fazendo, posso saber?
Sem soltar o meu seio, fazendo com que o bico ficasse
tão duro que resistir se tornava praticamente
insuportável, Ali respondeu, com aquele tom safado de
fora do expediente:
- Você sabe muito bem...
Usando toda a minha força de vontade, a despeito do
calor que eu já sentia, e da umidade no meu sexo -
incontrolável – me fiz de frígida:
- Eu não mandei você tomar banho no quarto de
hóspedes, Ali?
A mão dela desceu perigosamente. Pousou entre as
minhas coxas, me fazendo engolir o gemido que subiu
por minha garganta. E provocou:
- Já tomei banho, dona Pamela. Sou muito eficiente em
tudo o que faço... Não acha?
Os dedos dela já estavam dentro de mim. Experientes,
habilidosos, ágeis... Se movendo de um jeito que tornou
resistir uma impossibilidade...
Os gemidos escaparam, involuntários. Minha voz soou
um pouco trêmula e baixa:
- Cuidado com o meu cabelo, Allison...
Ela riu baixinho. Sabendo muito bem o que o uso do
nome dela inteiro significava. Antes de sussurrar no meu
ouvido de uma forma absurdamente íntima e abusada:
- Pode deixar, Pam...
Exatamente por isso, eu não podia deixar de dar a última
palavra:
- E seja rápida...
Sem conseguir imprimir na frase o tom ríspido e seco
que eu desejava.

Quando chegamos na festa, ela já estava cheia. Ali


caminhava atrás de mim, com um vestido preto elegante
e básico e... salto alto.
Precisei usar todo o meu poder de persuasão para que
ela aceitasse. Quando percebi que ordens e ameaças não
iam funcionar, fui obrigada a apelar para outra forma de
a dominar.
Parei na frente dela, já totalmente pronta, plenamente
consciente do quanto eu estava sedutora, elegante,
fatal... Aproximei minha boca do ouvido dela, e
sussurrei, fazendo Ali se arrepiar:
- Obedece... Garanto que vai me dar muito mais vontade
de te despir depois, Allison...
Antes de entrar na festa, virei para Ali, que tentou
disfarçar a forma como me devorava, sem muito
resultado. Lancei um olhar capaz de congelar uma
fogueira, enquanto falava:
- Para todo mundo, isso é uma festa. Para você, é
trabalho. Entendeu, Ali?
Ela concordou com a cabeça, mas incrivelmente, os olhos
ainda brilhavam. Por isso completei:
- Então pare de me olhar desse jeito. Já!
Ela suspirou fundo. Como se lutasse contra si mesma. De
um jeito absurdamente divertido. Como naqueles filmes
de terror, onde a pessoa é possuída por algum tipo de
espírito maligno... E quando voltou a me olhar, estava
com os olhos absolutamente vazios. De uma forma
magnífica.
- Assim é melhor.
Falei, antes de entrar, com meu lindo brinquedinho
atrás.

As festas da "Gente Chique" eram notoriamente


conhecidas por serem um arraso. Reunindo as pessoas
mais famosas, bonitas, ricas e influentes da sociedade.
Essa não ficava atrás. Um interminável desfile de seres
querendo de alguma forma se aproveitar, tirar
vantagem... Movidos por aquilo que é a única razão dos
relacionamentos humanos: interesse, claro.
Apesar da maioria das pessoas preferir inventar nomes
bonitos como amor, paixão, amizade para justificar
interesse em sexo, apoio financeiro, emocional, ou
moral... A troca, o escambo, a necessidade de possuir
algo que o outro tem que desde o início da sociedade é a
causa real das pessoas se aproximarem.
Eu ficava rindo por dentro, a cada elogio, cumprimento
ou cantada que levava. Até que uma morena lindíssima
parou na minha frente, com um sorriso imenso:
- Pamela... Há quanto tempo...
Ficou estampado no meu rosto que não a estava
reconhecendo. Tanto que ela percebeu:
- Não se lembra de mim, não é mesmo? Sou eu,
Penélope...
Penélope? Penélope? Claro! Eu nunca ia ligar a mulher
interessantíssima na minha frente com a garota que
tinha estudado comigo num internato na Suíça dos 12
aos 17 anos.
Com certeza, a reação das pessoas devia ser sempre a
mesma, porque ela completou, com uma risada:
- É, sou eu mesma... Irreconhecível, não acha? Não
existe nada, minha querida, que o dinheiro não possa
comprar...
Nesse momento, não sei porque, Ali falou, talvez
pensando alto:
- Não compra felicidade...
Penélope fez a mesma coisa que eu: riu... Sabendo que
só uma pessoa que não tem dinheiro é capaz de dizer
isso. E depois, como se Ali fosse um bichinho de rua sem
raça e vira-lata:
- Que gracinha... Quem é?
Fuzilei Ali com os olhos, ao responder:
- Minha assistente... Por muito pouco tempo, se não se
colocar em seu devido lugar...
Com um gesto fatigado, Penélope soltou:
- É tão difícil encontrar bons empregados...
Antes de se virar para mim, com um olhar totalmente
diferente. Me avaliando de cima a baixo:
- Pamela, uau! Você está muito bem... Na época de
colégio já era linda, na verdade... Mas, meu bem...
Parece que o tempo fez você ficar muito mais... Como eu
posso dizer?... Comestível, sabe?
Frente a um comentário desses, que não deixava dúvidas
de no que a morena estava interessada, também percorri
o corpo dela com os olhos, a avaliando de cima a baixo.
Nada mal. Nada mal mesmo. Poderia ser bem
interessante experimentar. Respondi, com um olhar
lascivo, descarado:
- Você acha? Não sabia que você gostava...
A morena deu uma gargalhada. Antes de falar:
- De mulheres? Sempre! Meu amor, porque você acha
que o meu pai fazia tantas doações para aquele maldito
colégio? Para abafar os escândalos, claro...
- Nunca fiquei sabendo de nada...
Penélope insinuou, me despindo com os olhos:
- Porque na época, não parecia interessada...
Não consegui disfarçar o sorriso que bailou em meus
lábios. Penélope obviamente também se lembrava muito
bem de como eu era na época... Voraz apreciadora dos
corpos dos rapazes do internato vizinho, depois de
perder a virgindade aos 14 anos com o jardineiro
gatíssimo do nosso colégio...
- E não estava mesmo... Na época, claro...
- Agora está?
Adorei o jeito dela. Direto, objetivo, sem rodeios. Como
eu gostava. Ali me olhava como se estivesse sentindo
dor. Uma dor que tive o prazer de aumentar:
- É bem provável...

No decorrer da noite, a conversa e os olhares de


Penélope foram se tornando cada vez mais quentes. A
festa começou a esvaziar. A morena sussurrou no meu
ouvido:
- Vamos? Não agüento mais esperar...
Concordei, dizendo:
- Vamos. Para a minha casa.
E depois, rispidamente para Ali:
- Vamos, Ali.
Ali caminhou atrás de nós, sem dar uma palavra. Quando
chegamos no meu carro, entreguei as chaves para ela,
ordenando:
- Você dirige.
E sentei no banco de trás, onde Penélope me esperava,
se mostrando total, absoluta e satisfatoriamente ousada.

Penélope beijava muito bem. E sem parar. Demonstrou


uma voracidade extrema ao abrir o zíper do meu vestido,
deixando meus seios à mostra. Por pouco tempo, porque
logo depois os cobriu com as mãos e com os lábios. Me
fazendo gemer com vontade.
As mãos dela acariciaram minhas pernas, levantaram
minha saia... Os dedos entrando e saindo do meu sexo
como se eu não estivesse de calcinha, com total
habilidade. Pelo espelho retrovisor, podia ver o olhar de
Ali. Uma mistura de tesão e raiva que me deixou
absolutamente excitada.
Gozei rápido. Longa e intensamente. Me contorcendo,
estremecendo, gemendo alto... Com um prazer muito
maior do que o normal... Proporcionado pelos dedos de
Penélope, e... pelos olhos de Ali.

Quando paramos na garagem, fiz Penélope fechar meu


zíper, para sairmos do carro. Mas ela só parou de me
agarrar quando fomos recebidas na sala do meu
apartamento, por Paz.
Ali nos seguiu, o tempo inteiro calada, talvez por pura
raiva. Ou talvez, por ter entendido qual era o lugar dela,
afinal.
Pedi para que Paz levasse Penélope até o meu quarto, e
providenciasse tudo o que ela quisesse.
Tomei uma dose de Whisky, sentindo o par de olhos
cravados em minhas costas. Apesar de Ali continuar
muda, sem dizer uma palavra.
Paz voltou, dizendo que Penélope não queria nada, a não
ser que eu fosse para o quarto. A dispensei. Paz desejou
boa noite e desapareceu em direção ao quarto de
empregada.
Assim que ficamos a sós na sala, Ali perguntou, com
uma frieza inédita nela:
- Também estou dispensada?
Andei em volta dela, a olhando de cima a baixo. Não
tinha porque perder a oportunidade de fazer o que tinha
planejado. Podia perfeitamente me livrar de Penélope
assim que terminássemos e depois começar tudo
novamente com Ali. Nada demais:
- Não. Vou precisar de você mais tarde.
Ali se arrepiou inteira. Mas me olhou com uma intensa e
profunda raiva:
- Se pensa que vou dormir com você, está muito
enganada.
A segurei pela nuca. Aproximei o meu rosto do dela. O
bastante para que nossos hálitos se encontrassem.
Mergulhei os olhos nos de Ali, ao dizer:
- É você quem está enganada. Vai dormir comigo. Hoje e
quando eu quiser. Allison...
Ela me puxou com força. Colou a boca na minha com
brutalidade. Nossos corpos grudados, as línguas se
buscando, encontrando, num duelo quase.
Até precisarmos de ar.
Ali se afastou, completamente ofegante, e cuspiu as
palavras:
- Você é uma cadela, Pamela...
Dei uma gargalhada. Allison sempre conseguia ser
deliciosamente surpreendente... Refrescante como ar
condicionado. Respondi sem hesitar:
- Sou uma cadela sim... De raça... Você nunca comeu
uma igual... E é exatamente por isso que vai me esperar.
Me virei majestosamente. Cruzei o corredor com passos
largos. Quando cheguei na porta do quarto, Ali me puxou
pelo braço:
- Não quero esperar.
A voz de Penélope veio lá de dentro:
- Pamela, vem logo... Tô louca pra te chupar...
Impossível deixar de abrir um sorriso. De pura
antecipação, desejo, tesão... Pela morena monumental
que me esperava, provavelmente pelada....
Ali me olhou como se eu a tivesse esbofeteado. Ficou
parada me olhando, enquanto eu dizia:
- Não vou demorar.
Antes de entrar no quarto, e fechar a porta na cara de
Allison.

Capítulo 15:

*** Allison ***

Durante toda a festa eu me senti humilhada, desprezada


e ignorada. Quando vi a Pamela com aquela mulher no
banco de trás do automóvel dela senti náuseas. Por um
triz consegui conter as lágrimas de raiva que queriam
rolar pela minha face. Tentei controlar aquela eclosão de
sentimentos que estava dentro de mim, mas eu só via a
escuridão que refletia no meu coração completamente
despedaçado. O que ela queria? Me submeter a uma
sessão de tortura? Conseguiu! A toda poderosa
conseguiu muito mais do que almejava, ela
simplesmente me fez enxergar que todo aquele exagero
de desejo era um erro, uma fraude que sabotava os
meus verdadeiros sentimentos. A que ponto o ser
humano chega, não é mesmo? Eu estava parada na
porta do quarto dela e dava para ouvir os gemidos de
prazer que vinham lá de dentro. Respirei fundo e juntei
os cacos de dignidade que ainda estavam incorporados à
minha essência destruída. Retornei até a sala, joguei às
chaves do carro dela em um canto do sofá e bati a porta
ao sair. É isso mesmo! Eu queria estar bem longe delas,
longe daquela dor que abrasava o meu peito. Depois de
deixar a cobertura luxuosa em que a Pamela morava, eu
caminhei um pouco pela beira da praia. Agora eu me
sentia culpada por ter sido tão conivente com toda
aquela loucura que está acontecendo comigo. Nunca
daria certo, não é? Porque será que a gente sempre
ignora as evidências, hein? Por que será que eu não sou
tão fria quanto ela? Acho que eu me apaixonei, ou
melhor: não acho, tenho certeza.
Abri a porta do meu apartamento sorrateiramente... Com
medo de acordar o Léo que a essa hora já devia estar
dormindo o sono dos justos. Acendi a luz da cozinha...
- Em casa a essa hora?
- Credo! – Disse virando-me de frente pra porta onde
Léo estava parado segurando nas mãos um copo com
água.
- Ressaca! – Levantou o copo como se me mostrasse o
líquido – O que aconteceu Allison? – Tomou um gole da
água.
- Cara... Eu quero morrer, viu? – Relaxei e apoiei-me na
beira da mesa.
- Que isso lindinha? – Colocou o copo sobre a pia e veio
a meu encontro. Abraçou-me confortando-me – Pode
desabafar, sou todo ouvidos.
Nesse momento, aconchegada nos braços do meu amigo
senti uma dor incontrolável e comecei a chorar
instantaneamente. Acho que chorei por uma meia hora.
Eu não sabia o que dizer e as lágrimas impediam
qualquer tentativa de explicar-lhe o que estava
acontecendo. Saímos da cozinha e fomos até o meu
quarto. Léo me ajudou a deitar na cama e ficou
segurando as minhas mãos até que eu conseguisse falar.
Na verdade, quando ele me olhou deitada na cama, sua
testa franzida refletia claramente o que estava em seu
pensamento.
- Ai amiga! Eu te falei! – Disse antes que eu relatasse o
que estava me agoniando.
- Odeio quando você diz isso, Léo!
- Ela não é mulher pra você, Ali! A cascavel gosta de
usar as pessoas e você é uma presa fácil para ela.
- Era! – Corrigi-o.
- O que quer dizer com isso? – Sentou-se ao meu lado.
- Vou pedir demissão.
- O quê? – Quase não acreditou nas minhas palavras –
A coisa foi tão séria assim?
- Não estou feliz trabalhando pra ela e depois do que
aconteceu essa noite, acho que é o mínimo que posso
fazer por mim. – Respirei fundo antes de relatar com
detalhes toda humilhação que aquela víbora me
submeteu. Léo boquiaberto tentava sem sucesso me
consolar...
- Pior que eu nem posso dizer que você está errada –
Apertou minhas mãos – Também me demitiria.
- É o melhor a fazer... Pode deitar aqui comigo? –
Apontei o outro lado da cama.
- Tenho alergia, mas... – Pensou por alguns segundos.
Léo adorava fazer suspense, principalmente quando
sabia que a sua companhia era indispensável - Não vou
morrer se eu prestar esse favorzinho a você, né amiga?
- Obrigada – Disse enquanto aconchegava a minha
cabeça no peito dele. Suspirei e logo as lágrimas
voltaram a se fazer presente na minha face... Chorei a
noite inteira, e boa parte dela ouvindo o ronco de Léo no
meu ouvido.

Acordei na manhã seguinte um caco. Léo já havia se


levantado e feito café. Deixou um bilhete pendurado na
geladeira informando que havia ido trabalhar. No bilhete
dizia:
" A vida na revista não é fácil, tem festa na sexta mas
todos temos que estar inteiros no sábado para não dar
motivos para a toda poderosa nos demitir. Fica bem
amiga! Estou do seu lado, seja qual for a sua decisão....
Beijos. Léo."
Arranquei o papel da porta da geladeira, amassei e
joguei no lixo da cozinha. Tomei calmamente o meu café
e depois fui pro chuveiro ver se um banho lavaria
também a minha tristeza, frustração e decepção. Não
adiantou muito, mas ao menos eu estava cheirosa.

Bati na porta da toda poderosa com uma hora e


quarenta e cinco minutos de atraso. Ela ergueu a face
sobre mim quando entrei na sala. Senti raiva dela
naquele instante. Pamela estava linda, loira, cheirosa e,
com aquele ar de superioridade de sempre. Quase
perguntei se a noite havia sido boa, e do jeito que ela é,
seria capaz de me contar os detalhes. Preferi não
arriscar, eu estava de saco cheio de tanta humilhação
por parte dela.
- Sabe que horas são?
- Hora de ir embora – Respondi seca estendendo a
minha mão que continha um envelope branco.
- O que é isso? - Olhou o envelope, no entanto, se
recusou a pegá-lo nas mãos.
- Minha carta de demissão! – Encarei-a. Pamela
levantou-se lentamente da sua cadeira. Olhos fixos nos
meus... Ela parecia não ter acreditado no que ouviu.
Tentei analisar o seu olhar. Estariam perdidos? Sei lá,
viu? Ela ficou estranha de repente. Não saberia
identificar o motivo. A poderosa é uma mulher de muitas
faces. O silêncio permaneceu por mais alguns minutos
enquanto nos encarávamos sem sequer piscar os olhos.
Mergulhei fundo no olhar azul que me desconcertava e
fazia com que o meu coração gritasse dentro do meu
peito.
- Não quero que se demita Allison – Disse com uma
suavidade desconhecida. Estremeci inteira ao ouvir a sua
voz carregada com aquele grau de doçura. Pamela
aproximou-se de mim – Olha, se é por causa de ontem à
noite. Eu... Eu lamento muito, está bem?
Como assim lamenta muito? Será que eu ouvi direito? A
toda poderosa disse que lamenta muito? Fiquei calada
tentando absorver aquelas palavras.
- Não me olhe desse jeito – Continuou com o tom de
voz calmo, quase sereno.
- Não foi por causa de ontem à noite – Fitei-a séria, com
o coração em pedaços – Arrumei outro emprego – Menti.
- Onde? – Perguntou num impulso.
- No jornal... – pensei por um momento – Boa notícia.
- Aquilo é um jornaleco Allison! – Desdenhou do meu
novo trabalho fictício. Ela estava voltando à boa forma.
- Ao menos eu não verei a minha chefe trepando com
ninguém – Respondi com o tom de voz irritado.
- Allison... – Pronunciou o meu nome como se me
devorasse a alma – Não vou aceitar a sua demissão
agora, está bem?
- Não quero mais trabalhar contigo! – Alterei o meu tom
de voz – Tem que aceitar a minha demissão.
- Só me escuta... Por favor...
- Por favor? – pensei olhando-a desconfiada – Não
temos mais nada para discutir dona Pamela – Joguei o
envelope sobre a mesa dela e já estava abrindo a porta
quando senti as mãos da poderosa tocarem o meu
ombro. Virei-me de frente pra ela. Senti o seu olhar
descer até os meus lábios. Me contive, eu precisava
parar de ceder aos encantos daquela mulher.
- Espera... – Sussurrou. Senti o seu cheiro impregnar a
minha consciência. Estávamos tão próximas que o seu
hálito fresco conseguia acariciar o meu rosto... Ela falava
baixo e pausadamente. Nem parecia a toda poderosa
que a todos hostilizava - Temos um evento em São
Paulo hoje, preciso de você. Bom... Depois dessa viagem
se não quiser mesmo trabalhar comigo, eu entenderei.
- Tá brincando comigo, né?
- Não! Tenho passagens reservadas para daqui a
algumas horas. Você pode ir em casa, separar algumas
roupas... – Baixou os olhos como se estivesse
preocupada com o que eu pensava – Não faço nem
questão que você use as roupas que compramos... Fique
à vontade. Use o que quiser! – Disse de um jeito que eu
nunca havia visto antes. Deu um nó na minha garganta,
sabe? O que fazer diante daquela Pamela toda
humildezinha, educada, com o olhar indicando que não
queria que eu dissesse "não"?
- Depois que retornarmos ao Rio eu quero a minha
demissão, está bem? – Putz! Podem dizer! Eu sou uma
besta, não é?
- Sim, claro! – Concordou sem especular enquanto
passava suavemente as mãos pelos seus cabelos. Senti o
meu corpo pegar fogo ao olhá-la estranhamente humana
naquele instante.
Capítulo 16:

***Pamela***

Foi divertido fazer sexo com Penélope. Ela era bonita,


gostosa, ardente, sensual e sem limites, mas...
Estranhamente, tinha alguma coisa da qual eu sentia
falta... Que me deixava com um gostinho de insatisfação
na boca...
Depois de algumas horas de puro prazer físico, ela se
vestiu, a levei até a porta, e com um beijo de despedida,
foi embora, sem cobranças nem promessas de outras
noites. Exatamente como eu desejava, sem tirar nem
pôr.
Quando fechei a porta, só tinha um único pensamento:
Allison. Já estava indo em direção ao quarto de
hóspedes, quando vi a chave do meu carro jogada no
canto de um dos sofás.
O quarto vazio apenas serviu para confirmar o que eu já
sabia: que Allison não estava lá.
Foi estranho, porque voltei para o quarto no piloto
automático, quase transtornada. Me atirei na cama e
senti algumas lágrimas escorrerem... As enxuguei, numa
negação completa daquilo... Eu nem tinha bebido tanto,
não tinha motivo para perder o controle, então... Afinal
de contas, o que estava acontecendo? Se eu não me
conhecesse bem e soubesse que era impossível, diria
que estava agindo como uma idiota apaixonada...
Eu nunca tinha insônia, mas... aquela noite, passei
inteira acordada, tensa, sem conseguir fechar os olhos.

Assim que cheguei na revista, no dia seguinte, meu pai


entrou na minha sala. A primeira coisa que fez, depois de
me beijar, foi se dirigir a Arlete:
- Arlete, para ser secretária da minha filha há tanto
tempo, você deve ser realmente especial...
Arlete sorriu, e apertou a mão que meu pai estendeu
com entusiasmo.
Meu pai era um homem gentil... Gentil demais, pra falar
a verdade. Aquilo tudo era totalmente desnecessário...
Cortei bem rápido:
- Pode voltar para a sua mesa, Arlete...
Ela pediu licença e prontamente obedeceu. Meu pai me
olhava, sorrindo. Parecendo achar graça. Me deixando
ainda mais irritada:
- Já te falei mais de mil vezes... Assim você estraga
todos os meus funcionários.
Ele sorriu mais ainda, antes de me corrigir:
- Nossos, Pamela. Nossos funcionários.
Soltei um suspiro, exasperada. A revista tinha sido
fundada pela minha mãe. Com o dinheiro do meu pai,
claro... Talvez a única coisa que ela tinha feito que
prestasse, além de sumir do mapa. Sim, porque quando
eu tinha dois anos, ela simplesmente nos trocou por um
italiano, bem mais rico do que o meu pai.
Eu não me achava dona da revista, mas... desde que eu
tinha assumido a direção, ao completar a maioridade,
administrava tudo muito bem sozinha, obrigada!
Meu pai tinha os negócios dele – que não eram poucos –
para cuidar. E eu, obviamente, preferia assim. Com ele
confiando em mim, e principalmente, sem palpitar. Mil
vezes fazer tudo do meu jeito, claro!
Não pude deixar de retrucar:
- Ah, que seja! Em questão de segundos você...
- Faço com que ela se lembre que é um ser humano?
Pamela, minha querida... Às vezes eu preferia que você
não fosse tão parecida com a sua mãe...
Aí sim, eu quase me desesperei. Porque detestava
quando ele me comparava àquela mulher. Pra mim era
um insulto. Uma ofensa grave. Porém, sabia que pra o
meu pai não. Pelo jeito que ele ainda se derretia por ela.
Totalmente absurdo... Novamente aquela baboseira de
amor.
Bom, aquilo poderia virar – se eu deixasse – uma
ladainha interminável. Olhei pra ele... Os olhos azuis já
estavam cheios de lágrimas... Emocionado só de lembrar
da mulher que – nossa, eu nunca ia entender aquilo... –
além de ser uma vagabunda total, já tinha sumido há
mais de 30 anos!
Não, eu não ia suportar:
- De novo essa história, papai?
Com um sorriso triste, nostálgico, enigmático, ele
respondeu:
- Mas você é... Exatamente igual.
Controlei a vontade de gritar que aquela melação toda,
por uma mulherzinha sem vergonha, me inspirava. E
tentei cortar, com a ironia que me era peculiar:
- Bom, uma vez que eu absolutamente não me lembro
dela, vou ter que acreditar na sua palavra...
Ele riu, antes de me beijar e me estreitar num abraço
apertado. Que eu tolerei, sem me esquivar, nem relaxar.
Não era muito chegada a essas manifestações de afeto
constrangedoras de papai... Claro que ele estava
cansado de saber, e de estar acostumado. Mas nem por
isso deixava de me submeter aquilo sempre que tinha
vontade...
Tentei sorrir, batendo nas costas dele de uma forma
amigável... Porque afinal, não queria magoar o meu pai.
Queria apenas... Me afastar. O que fiz, o mais rápido
possível.
Ele repetiu, com o mesmo sorriso enigmático:
- Exatamente igual...
Antes de completar, num tom totalmente diferente,
quase banal:
- Vamos almoçar mais tarde?
Concordei, sem conseguir esconder o quanto estava
aliviada por aquela conversa ter terminado. Ele
finalmente saiu, me deixando quase em paz. Olhei para
o relógio, com uma ansiedade inexplicável. Quase,
porque... Ali já deveria ter chegado à uma hora atrás...

Quarenta e cinco minutos depois, ouvi as batidas


conhecidas na porta que ligava minha sala à dela.
Respirei fundo, antes de dizer:
- Entra.
Ali entrou na sala. Parecia não ter dormido a noite
inteira. Me olhava sem tentar esconder o desafio e raiva
profundos que ardiam em seus olhos. Fingi que não
estava percebendo, e agi como se nada tivesse
acontecido:
- Sabe que horas são?
- Hora de ir embora.
A voz dela soou seca. De um jeito que eu nunca tinha
ouvido antes. O olhar que me lançou, enquanto me
estendia um envelope branco, foi absolutamente glacial
também.
Me recusei a pegar aquele envelope. Perguntei, apenas
para confirmar o que eu já suspeitava:
- O que é isso?
- Minha carta de demissão!
Ali me encarou... Daquele jeito que só ela conseguia
fazer. Levantei da cadeira sem nem perceber. Só sei que
de repente, meus olhos estavam na mesma altura dos
dela. Que se mantinham firmes, fixos nos meus...
Eu estava me sentindo... Perdida? Inacreditável, mas...
Por causa daquela menina, eu estava ali parada, incapaz
de acreditar que ela estava se demitindo e -
incrivelmente, de uma forma absurda, que eu não
queria nem podia aceitar - aquilo me afetava.
No melhor estilo Scarlett O'Hara, afastei qualquer tipo de
pensamento, questionamento ou dúvida: "amanhã eu
penso nisso"... Porque naquele momento, precisava ser
prática. E rápida. Caso contrário, ia perdê-la para
sempre.
Os olhos dela continuaram fixos, mergulhados nos meus
durante todo aquele tempo em que ficamos em silêncio.
E foi nos olhos dela que encontrei a resposta. Minha voz
soou doce, suave, carinhosa, de um jeito que eu julgava
incapaz de ser:
- Não quero que se demita, Allison.
Soube que ia funcionar no momento em que ela
estremeceu. Me aproximei, mas não a toquei, apesar de
estar com muita vontade:
– Olha, se é por causa de ontem à noite. Eu... Eu
lamento muito, está bem?
Ela continuou calada. Como se não acreditasse. Não
estranhei, porque na verdade, nem eu sabia de onde
vinham aquelas palavras:
- Não me olhe desse jeito.
"Como se me odiasse. Como se quisesse me
abandonar..." – Pensei, mas não tive coragem de falar.
Ela me olhou, muito séria. Com uma dor profunda nos
olhos:
- Não foi por causa de ontem à noite. Arrumei outro
emprego.
- Onde? – Perguntei num impulso.
- No jornal... Boa notícia.
- Aquilo é um jornaleco, Allison!
Não pude deixar de falar. No fundo, achava que era
mentira, que a demissão dela era única e exclusivamente
por causa do que tinha acontecido na noite passada. Ali
confirmou o que eu pensava:
- Ao menos eu não verei a minha chefe trepando com
ninguém.
A voz dela... Dizia tudo. Me deixava perceber o quanto
estava com raiva, ferida, magoada... De uma forma que
me incomodava, me deixava absurdamente
desconfortável, porque... não importava porque... Eu
queria ela de volta:
- Allison... Não vou aceitar a sua demissão agora, está
bem?
- Não quero mais trabalhar contigo! – ela gritou – Tem
que aceitar a minha demissão.
Allison estava... desesperada. Engraçado que nunca,
nem mesmo durante o sexo, eu a tinha visto perder o
controle daquele jeito. Falei doce, baixo, querendo que
ela se acalmasse:
- Só me escuta... Por favor...
Allison me olhou desconfiada:
- Por favor? Não temos mais nada para discutir dona
Pamela.
A ironia com que ela disse "dona Pamela" me causou um
tipo desconhecido de dor. Mas não tive tempo para
pensar nisso, porque depois de atirar o envelope na
minha mesa, Allison já estava abrindo a porta.
Acho que corri, porque em questão de segundos, já
estava com as mãos no ombro dela, que se virou de
frente para mim. Meus olhos desceram instintivamente
para os lábios de Allison...
- Espera... – Sussurrei.
Estávamos próximas, muito próximas. Tudo o que eu
queria era que ela me beijasse. Mas Allison não se
moveu. Falei pausadamente, baixo, para que ela não
percebesse como minha pulsação estava acelerada:
- Temos um evento em São Paulo hoje, preciso de você.
Bom... Depois dessa viagem se não quiser mesmo
trabalhar comigo, eu entenderei.
- Tá brincando comigo, né?
- Não! Tenho passagens reservadas para daqui a
algumas horas. Você pode ir em casa, separar algumas
roupas...
Olhei para baixo, com medo que ela pudesse descobrir
que nada do que eu tinha dito era verdade. E continuei,
dessa vez falando mesmo o que eu pensava:
– Não faço nem questão que você use as roupas que
compramos... Fique à vontade. Use o que quiser!
A resposta dela foi curta e grossa:
- Depois que retornarmos ao Rio eu quero a minha
demissão, está bem? –Fiquei aliviada – feliz, para dizer a
verdade – passei a mão nos cabelos, concordando:
- Sim, claro!
Assim que Allison saiu da minha sala, liguei para Arlete:
- Arlete, anote e resolva rápido: desmarque o almoço
com meu pai e compre duas passagens para São Paulo...
E fui ditando, item por item, o plano que ia se traçando
em minha mente, com riqueza de detalhes.

Capítulo 17:

***Allison***

Me atrasei um pouco na hora de sair de casa e só voltei


a encontrar Pamela novamente dentro do avião. Ela
estava olhando através da janela quando parei ao seu
lado. Acomodei a minha bagagem... Pamela desviou o
olhar na minha direção... Retirou os óculos escuros da
face e abriu um largo sorriso. Não sorri de volta. Se ela
acha que pode me ganhar com um sorriso gentil depois
de tudo o que eu passei na noite de ontem, está
redondamente enganada. Sentei-me ao seu lado,
coloquei o cinto e esperei o aviso de decolagem.
Quarenta e cinco minutos! É! Foi o tempo que durou a
viagem do Rio de Janeiro até Congonhas, em São Paulo.
Fomos toda a viagem completamente mudas. Ela olhava
a todo instante através da janela e eu tentava me
distrair folhando um livro sem nada conseguir ler. Sabe
quando você tenta a todo custo se concentrar, mas
apenas consegue pensar nas pernas lindas e
maravilhosas de uma loira fatal que está sentada ao seu
lado? Pois é! Assim mesmo, viu?
Desembarcamos...
- Vamos para o estacionamento, Ali – quebrou o silêncio
– Tem um carro a nossa espera – completou.
- Tudo bem – continuei indiferente. Pamela caminhou na
minha frente, nesse instante consegui admirá-la melhor,
sem que ela pudesse notar que eu estava reparando em
como aquela saia que ela vestia a deixava sexy. Meus
pensamentos começaram a tomar proporções
indesejadas pela minha razão que tentava, a todo
momento, me arrastar para a realidade.

Chegamos ao estacionamento... Colocamos nossa


bagagem no porta malas....
- Pode entrar – disse ela apontando o lado do carona.
Abri a porta do carro e acomodei-me... Ela entrou... Não
deu a partida... Ficou com as mãos no volante enquanto
eu não conseguia deixar de olhar na direção dela...
Pamela fitou os meus olhos como se me olhasse pela
primeira vez. Ela queria me confundir? Conseguiu porque
naquele instante tudo o que eu menos pensava era no
que ela havia feito comigo na noite anterior.
- Tá esperando alguma coisa? – Encarei-a ao fazer essa
pergunta.
- Estou esperando a sua boca – Essa foi a resposta
daquela mulher completamente dominadora e sexy!
Cadê a minha razão? Não sei mesmo onde a perdi
naquele momento. O impulso e o desejo que me
contaminavam foram responsáveis pelas minhas mãos
que a puxaram pela nuca e grudaram os meus lábios nos
dela com tamanha fome que fazia doer no meio das
minhas pernas. Senti sede daqueles lábios... Senti fome
daquela pele... Com as mãos livres fui desabotoando sua
blusa... Ora puxava um botão, ora deslizava as mãos
pelas suas coxas... Subindo a sua saia para sentir o calor
da sua pele sem o contato com o tecido... Pamela gemeu
nos meus lábios... Aquele gemido me excitou a ponto de
eu abaixar-me, indo de encontro aos seus seios... Afastei
a sua blusa já desabotoada, abri imediatamente o seu
sutiã e recebi os seus seios com a boca... A língua...
Devorando-os com desejo... Tesão...Uma luxúria
desmedida... Subi a saia de Pamela com desmedida
ansiedade e, logo avistei a sua calcinha branca...
Transparente na frente e com dois lacinhos bem fininhos
ao lado... Não consegui desamarrá-los, na verdade eu
achei perda de tempo tentar desamarrá-los... Inclinei-me
de encontro ao seu sexo que latejava aos meus olhos, ao
meu tato... Afastei a sua calcinha para o lado e a chupei
com vontade... Senti as suas mãos empurrarem a minha
cabeça de encontro ao seu sexo molhado... Pamela
afastou as pernas para que eu mergulhasse dentro
dela... Suguei... Devorei... Saciei a minha vontade de
sentir aquele gosto... Suas coxas trêmulas e sua carne
fervente responderam aos meus toques... Ela gozou
demoradamente e eu vibrei tanto quanto ela, num
orgasmo intenso e completamente imprevisível...
Levantei a cabeça lentamente tentando raciocinar, ou
respirar... Nem sei se dá para fazer as duas coisas diante
de uma cena tão imprevista como essa... Nossa! Nós
estávamos no estacionamento do Aeroporto. Fitei
aqueles olhos azuis e sedutores... Ela parecia saciada...
Num impulso suguei seus lábios... Aprisionei sua língua
sentindo o gosto da sua saliva e fazendo-a provar do seu
próprio gosto... Não dissemos mais nenhuma palavra...
Depois que conseguimos controlar as nossas respirações
e desgrudar as nossas bocas... Pamela apontou o banco
de trás do carro... Olhei um pouco desacreditada, sabe?
Fitei o local indicado, depois tornei a olhá-la...
Incrivelmente Pamela não parava de sorrir pra mim.
Achei estranho mas eu não queria entrar em detalhes,
na verdade, eu não queria acreditar que aquele sorriso
seria mais uma de suas armadilhas, mas se fosse... Eu já
estava aprisionada nela, e o que é pior! Estava gostando
muito dessa armadilha.
- É pra você, Ali – Disse enquanto ajeitava a saia no
corpo.
- Pam... Eu... Eu... – Apanhei nas mãos o bouquet de
rosas vermelhas... Sabe quando você não sabe o que
dizer? Quando se estende um nó na sua garganta? Assim
mesmo! – Nunca recebi flores na minha vida – Disse
completamente sem... Sem... Reação? Nossa! Minha
cara devia estar muito esquisita naquele momento.
Pamela continuou sorrindo, mas desta vez ela ligou o
carro e nós saímos do estacionamento. Sabe que eu
nunca tinha ido a São Paulo? Pois é! Achei a cidade linda.
Pamela parecia conhecer aquela cidade como a palma da
sua mão. Por onde passávamos me dizia o nome do
local, e contava um pouco das estórias que havia
passado por ali. Nem parecia aquela chefona autoritária
e inflexível que eu havia conhecido na revista. Meu Deus!
A mulher sabia sorrir, e o seu sorriso parecia que faria
explodir o meu peito de tanta felicidade por estar
naquela cidade com ela.
- Onde será a reunião? – tentei deixar um pouco de lado
o fato de estar impressionada com o comportamento
"estranho" da chefona.
- Que reunião, Ali?
- Você disse que seria o meu último trabalho, lembra?
- Não seja ansiosa – Disse enquanto dobrava uma rua e
entrava em um prédio, no Morumbi. Desisti de imaginar
quais eram as intenções dela com essa viagem. Subimos
até o décimo primeiro andar... Ela abriu a porta... Pediu
que eu entrasse...Entrei, e...
– Quero que esse dia seja maravilhoso – Sussurrou
enquanto me encurralava na parede sem que eu
quisesse resistir a ela – Quero estar aqui com você,
Allison . Longe de tudo... Longe de todos... – Beijou o
meu pescoço...
Não resisti, ou melhor: eu não quis resistir... Agarrei-a
pela cintura, deslizando a minha pele na de Pamela... Eu
sentia tanta sede dela, que minha visão ficava turva de
desejo... Fomos andando pela casa... Esbarrando nos
objetos e achando graça de todo aquele tesão que nos
envolvia, fazendo com que cada toque fosse sensível o
suficiente para nos fazer delirar do mais saboroso
prazer... Chegamos ao quarto... Atirei-a na cama
enquanto nossas mãos nos despiam com pressa. Pamela
estava tão entregue aos meus carinhos que me senti
dona do corpo dela naquele momento. Deitei-me sobre
aquela mulher completamente nua. Nosso suor já
escorria pela nossa pele... Minha língua percorria o seu
pescoço... A sua nuca, desviava o caminho sussurrando
palavras desconexas perto do seu ouvido... Mordi a sua
orelha... Minha respiração ofegava perto do seu pescoço
fazendo os pêlos do seu corpo se arrepiarem... Pamela
abriu as pernas para receber o meu sexo molhado e
inquieto de desejo... Gemi no ouvido dela, sentindo-a
rebolar deliciosamente embaixo de mim.
- Quero que você me coma, Allison – Sussurrou entre
gemidos e beijos no meu pescoço.
- Você me enlouquece, sabia?
- Eu sei. Agora me come! – Disse segurando o meu
rosto com as duas mãos e obrigando-me a olhar
profundamente nos seus olhos – Mete em mim, agora!
Nem preciso dizer que ela acabou com qualquer
resistência da minha parte, não é?

Capítulo 18:

***Pamela***

Nem o atraso de Ali conseguiu diminuir minha total


segurança. Eu sempre conseguia o que queria. Daquela
vez não seria diferente. Tinha planejado tudo de uma
forma infalível. Eu queria Ali. E estava disposta a fazer
qualquer coisa para tornar impossível para ela resistir a
mim.
Ali entrou no avião de cara fechada, e
propositalmente vestida de um jeito que deixava claro
que queria me desafiar. Nunca a tinha visto tão
largada... Calça jeans velha, desbotada, uma camiseta
preta coladinha no corpo e tênis all star também
pretos... O cabelo castanho estava solto - a escova feita
na véspera tinha saído, deixando ele cair totalmente
ondulado até os ombros – e os olhos brilhavam, me
fitando daquele jeito profundo de sempre, numa
provocação sem palavras.
Achei graça porque se o objetivo dela era me irritar, não
tinha conseguido. Pelo contrário... Aquilo me incitava
ainda mais... Retirei os óculos escuros e abri um largo
sorriso. Que ela não correspondeu. Sentou do meu lado,
virando a cara. Linda... Deliciosa... Irresistível... Um
desafio altamente tentador.... Passei a língua sobre os
lábios, pensando mil formas de me saciar com ela...
Cruzei e descruzei as pernas, e os olhos de Allison
seguiram o movimento, estimulando ainda mais minha
vontade dela...
Viajamos em silêncio. Ela fingindo ler um livro. Sabia que
Ali não estava lendo porque o folheou freneticamente
durante 45 minutos... Além disso, a tensão do corpo dela
era perceptível. De vez em quando me olhava
disfarçadamente. Eu desviava o olhar, e olhava pela
janela, escondendo o sorriso de satisfação irreprimível
em meus lábios. Aquela viagem realmente prometia...
Quando desembarcamos, fui andando na frente,
rebolando de propósito, sorrindo para ela o tempo todo
sedutoramente. A tentativa de resistência dela me
deixando insuportavelmente excitada. Na verdade, nunca
tinha desejado tanto aquela menina...
Entramos no carro, e eu não estava disposta a esperar.
Mais do que isso: sabia que aquele era um momento
decisivo. O termômetro para saber o quanto Allison seria
ou não difícil...
E a reação dela foi muito, mas muito melhor do que eu
esperava... A menina parecia desesperada. Me agarrou
com loucura, me devorou como se a noite da véspera
não tivesse acontecido. Me fez gemer, me entregar e
gozar na boca e nos dedos dela com uma voracidade
indescritível.
E depois se derreteu toda com as flores... O sorriso que
ela me deu fez meu coração disparar... Por quê?
Estranho... Mas nada demais... Eu apenas... Estava com
tesão... Queria... mais...
Saí com o carro. Com um sorriso tímido, Allison me
confessou que nunca tinha estado em São Paulo, e que
estava achando a cidade linda.
Eu, por outro lado, tinha morado 5 anos ali. Conhecia a
cidade como a palma da minha mão.
Incrivelmente, senti vontade de explicar, contar coisas
sobre cada local onde passávamos.
Incrivelmente, eu não conseguia parar de sorrir.
Incrivelmente, estava realmente me sentindo... feliz?
Pensaria nisso mais tarde, porque naquele momento, o
que importava era que Allison estava sinceramente
deslumbrada. E o sorriso dela parecia iluminar todo o
carro...
- Onde será a reunião?
A expressão dela foi engraçada. Misto de desconfiança e
vontade que aquele momento não terminasse. Me fiz de
desentendida:
- Que reunião, Ali?
- Você disse que seria o meu último trabalho.
Acariciei a mão de Allison, e respondi, sem conseguir
deixar de pensar que eu nunca tinha sorrido tantas vezes
em tão pouco tempo antes:
- Não seja ansiosa...
Já tínhamos chegado na rua do meu apartamento no
Morumbi. Estacionamos, e subimos até o décimo
primeiro andar.
Abri a porta, e como Allison hesitasse, pedi para ela
entrar. Quando passou por mim, olhei o corpo dela de
cima a baixo. Umedeci os lábios. Não agüentei: a
encurralei na parede. Comprimindo o corpo dela com o
meu. Allison não resistiu. Pelo contrário. Amoleceu o
corpo delicioso em meus braços, e gemeu, enquanto eu
dizia:
– Quero que esse dia seja maravilhoso. Quero estar aqui
com você, Allison. Longe de tudo... Longe de todos...
Mergulhei a boca no pescoço que se ofereceu inteiro,
enquanto Allison suspirava, e me puxava pela cintura
com força, apressada.
Fui guiando, ou melhor, empurrando Allison para o
quarto. Esbarrando nas coisas, ofegando sob as mãos
precisas, que me percorriam inteira, da forma abusada
que eu adorava. Allison me jogou na cama com um
empurrão, e se atirou sobre mim. Nos despimos com
uma urgência insana, fremente, inadiável...
Me entreguei aos lábios, língua, mãos que me
exploravam, queria que ela soubesse que naquele
momento, meu corpo era completa e inteiramente dela.
Para que usasse e abusasse. Allison não se fez de
rogada. Me acariciou, se esfregou, rebolou entre as
minhas pernas, gemendo no meu ouvido... Até se tornar
absolutamente insuportável esperar. Sussurrei, gemendo
também:
- Quero que você me coma, Allison.
- Você me enlouquece, sabia?
Minha primeira resposta foi um sorriso satisfeito. A
segunda foi olhar profundamente nos olhos dela, o rosto
de Allison entre as minhas mãos, o corpo dela ardendo
em cima do meu, uma estranha emoção me
dominando, me obrigando a quebrar a doçura
inaceitável do momento dizendo:
- Eu sei. Agora me come! Mete em mim, agora!
Allison estremeceu, e voltou a dar aquele sorriso
profundamente safado dela. Aquele que fazia meu corpo
vibrar. O tipo de sensação com a qual eu sabia lidar.
Desceu as mãos lentamente pela minha pele, até o ponto
que procurava, e obedeceu, sem hesitar. Me fazendo
gritar, gemer e pedir por mais...
Quantas vezes eu gozei naquela boca, naquelas mãos? E
ela nas minhas? Não sei... Tantas que perdi a conta. Mas
ainda assim, não queríamos parar.
Allison me virou de costas, esfregando o sexo em minhas
nádegas.
Mordendo minha nuca, as mãos se enfiando entre as
minhas pernas, os dedos me preenchendo com aquela
perfeição que ela tinha e que era inexplicável.
Gozei para ela mais uma vez, sentindo os gemidos dela
aumentarem, enquanto Allison me acompanhava,
explodindo junto comigo. Depois ela se largou em cima
de mim, o coração palpitando contra as minhas costas,
completa e deliciosamente rendida, satisfeita, fraca...
- Allison?
- Ãh?
- Cansou? Já?
Meu tom foi de pura e profunda provocação. Tanto que
ela riu. Como resposta, rolou, me puxando, invertendo
as posições.
Escorreguei as pernas entre as dela, abrindo-as.
Esfreguei meu sexo no dela, arrancando um primeiro
gemido. Colei minha boca na de Allison, e enquanto a
beijava, coloquei a mão debaixo do travesseiro,
encontrando o que eu procurava.
Antes que ela pudesse protestar, já estava com as mãos
algemadas à cabeceira da cama. Me olhando com os
olhos muito arregalados, tentando inutilmente aparentar
calma:
- Pam, me solta...
Olhei profundamente nos olhos dela, sorrindo:
- Porque? Você não confia em mim?
- Pra falar a verdade...
Beijei o pescoço dela, não a deixando falar mais nada.
Passeei a língua pela pele sensível, fazendo Allison
estremecer. Delícia de mulher... Ardente, insaciável,
surpreendente... Sexo com ela era muito melhor e mais
divertido do que com a previsível Penélope, diga-se de
passagem...
Falei, sem desgrudar os lábios da pele dela:
- Alguma vez eu fiz algo que você não gostasse?
Antes que ela pudesse responder, mordisquei a orelha
dela, e sussurrei:
- Na cama, Allison...
A resposta Allison deu com aquele sorriso safado que eu
adorava:
- É... na cama nunca...
Colei minha boca na dela com vontade. Allison entreabriu
os lábios e correspondeu à altura. Quando me afastei,
tentou me seguir, num gesto evidente de que não queria
que eu parasse. Provoquei:
- Espera... Tem mais...
Abri a gaveta da mesinha de cabeceira, peguei o que
procurava, e mostrei para ela, com um sorriso. Pela
expressão dela, sabia que Allison ia resistir. Mas ela não
tinha muita escolha, não é mesmo? Estava indefesa,
presa, eu podia me deleitar, fazer o que quisesse, sem
nada para impedir.
Não tive como disfarçar, minha voz soou rouca de tesão
enquanto a vendava:
- Relaxa, Allison... Você vai gostar...
A beijei novamente na boca. Só parei para que
pudéssemos respirar. Peguei um dos morangos que
estavam dentro da cesta em cima da mesinha de
cabeceira e mordi um pedaço. Colei a boca na dela
novamente, o morango deslizando entre nossas línguas,
num beijo mordida que mastigava, o suco adocicado
criando um efeito afrodisíaco, especialmente para
Allison.
Esfreguei a outra metade da fruta nos bicos dos seios
dela, depois os lambi, a língua saboreando com calma.
Allison apenas gemia, suspirava, se contorcia... Nas
minhas mãos, totalmente à mercê da minha vontade...
Sussurrei no ouvido dela:
- Delícia... Vou te chupar inteira...
Repeti o gesto várias vezes, em diversas e diferentes
partes do corpo de Allison – eu queria torturar – fazendo
com que ela pedisse, implorasse...
Abri as pernas dela com as mãos. Dei uma lambida de
leve, e me afastei. Allison protestou:
- Ai, Pam... Deixa de ser má... Anda logo, vai...
Passei um pedaço de morango no sexo dela, Allison
voltou a gemer.
- Acha que eu sou má?
Quando ela respondeu, foi com dificuldade, como se
fosse sufocar:
- Acho...
- Mas você gosta... Adora, não é verdade?
- É...
Foi a resposta sussurrada. Dei uma risada. Antes de
dizer:
- Você ainda não viu nada...
Voltei a passar o morango de leve no sexo dela,
deixando minha respiração fazer com que Allison
percebesse o quanto a minha boca estava perto. Depois
encostei a língua de leve... Repeti a seqüência de gestos
várias vezes, até ela se contorcer, puxando as algemas,
desesperada. Enquanto com um prazer enorme, eu
provocava:
- O que você quer? É só dizer que eu faço... Pede,
Allison...
Um novo gemido. Ela moveu os quadris para frente, tive
que recuar para que meus lábios não a tocassem... O
gesto confirmando o que a voz implorava:
- Me chupa... Quero gozar na sua boca...
- Pede...
Ela nem hesitou:
- Pam, por favor...
Mergulhei minha língua entre as pernas dela com
vontade. Os gemidos aumentaram. Saboreei, me
deliciando com o descontrole que estava conseguindo
causar. Não seria difícil fazer com que ela gozasse,
mas... Me afastei novamente. Sob novos protestos de
Allison. Dei uma última lambida, antes de dizer:
- Ainda não... Quero brincar mais...
Voltei a percorrer o corpo dela inteiro com as mãos, a
língua, os lábios... Me deliciando com os gemidos,
suspiros, palavras sussurradas que ela deixava escapar.
Allison se contorcia, e eu aproveitava, os morangos uma
provocação, um estímulo a mais... Ela implorava,
suplicava, aos poucos se rendendo, exatamente como eu
queria e gostava.
E então, finalmente, a senti se entregar totalmente.
Deixando, aceitando que a conduzisse, controlasse,
dominasse... A sensação foi incrível. Quase mágica. O
doce poder de a fazer delirar, enquanto a tocava com os
dedos, a penetrava, a língua mergulhando junto,
primeiro devagar, e depois, aos poucos, a fazendo pulsar
mais e mais rápido. Allison gemia e movia os quadris no
ritmo que eu ditava. Explodindo num gozo longo e
intenso, gritando meu nome no final.
Deitei em cima dela, a beijando com voracidade. Sem
dar tempo para que ela se recuperasse. Encaixei a coxa
dela entre minhas pernas, me esfregando para mostrar:
- Sente como eu tô molhada...
- Gostosa...
Ela respondeu, levantando a perna, facilitando o contato.
Se movendo também, me fazendo gemer baixinho no
ouvido dela, enquanto a livrava da venda:
- Quero que você me veja gozar, Allison...
A resposta foi um gemido. E um olhar profundo, que me
arrepiou inteira. Acelerei meus movimentos, sentindo
Allison me acompanhar se contorcendo debaixo de mim.
Nossas bocas voltaram a se encontrar, abafando os
gemidos enquanto gozávamos juntas.
Deixei meu corpo cair sobre o dela, nossas pulsações
aceleradas, as respirações alteradas... Me aninhei no
corpo de Allison, adorando sentir a pele suada dela na
minha. Fechei os olhos, e teria cochilado se ela não
tivesse me chamado:
- Pam?
- O que? - perguntei sonolenta, sem me mover um
milímetro.
- Dá pra você me soltar?
Não tive como não deixar de rir. Tinha esquecido
completamente que ela continuava algemada. Me sentei
em cima de Allison, dizendo:
- Não sei... Deixa eu pensar... Será que devo?
A cara que ela fez... hilária! Que logo se tornou séria, e
ainda mais engraçada. Afinal de contas, seriedade era a
coisa que menos combinava com a situação em que ela
se encontrava: nua, com as mãos para cima, algemada
na cabeceira da cama. Eu ri novamente, e ela disse,
dessa vez de um jeito malandro, bem humorado:
- Meus pulsos estão doendo, minhas mãos estão
dormentes, meus dedos quase gangrenando... Sério,
Pam... Você não quer que nada de mal aconteça com
partes tão importantes, não é mesmo?
Piscou para mim, pura malícia no olhar. Respondi:
- Claro que não...
Importantes mesmo, porque uma coisa que ela fazia com
maestria era usar aqueles dedos e aquelas mãos. Na
verdade, já estava sentindo falta deles no meu corpo.
Completei:
- Vou te soltar, com uma condição: vai continuar me
obedecendo.
Ela sorriu, e concordou, com um arzinho debochado:
- Ok, dona Pamela...
A soltei. Allison esfregou os pulsos, com cara de
sofrimento, fazendo charme. Conseguiu o efeito
desejado, mas fingi que não. Saí de cima dela,
ordenando:
- Pro chuveiro. Já!
Ela me seguiu até o banheiro. Me alcançou quando abri a
água. Entramos juntas debaixo da ducha quente. As
mãos de Allison já mostrando a habilidade e agilidade de
sempre. Tentei me soltar, dizendo:
- Precisamos tomar banho rápido, porque... tenho planos
para hoje à noite.
Allison não desgrudou a boca do meu pescoço, para
falar:
- Planos, é? Posso saber quais?
- Jantar... e depois...
Ela me encostou na parede de azulejos gelada. A boca
descendo... Me arrepiei inteira. Gemi. Fiquei ofegante. E
não consegui terminar a frase. Allison tirou meu seio da
boca um momento, para perguntar:
- E depois?...
E voltou ao que estava fazendo. Chupando, sugando,
lambendo... Fazendo minhas pernas bambearem.
Quando finalmente consegui sussurrar no ouvido dela,
minha voz tremulava:
- Quero sair com você, Allison... Ir num lugar onde possa
te beijar em público...
Allison estremeceu. E gemeu alto. Não sei se por causa
das minhas palavras, ou pela forma que a puxei contra
mim, enfiando meus dedos na nuca e nas costas dela
com força.
Nossas bocas se encontraram, sedentas uma da outra.
Quando se separaram, ela já descia os lábios pelo meu
pescoço, e as mãos mergulhavam entre as minhas
pernas, espalhando um calor insano, que exigia ser
aproveitado naquele momento. Ela disse, provocando:
- Prometo ser rápida...
Respondi entre gemidos, no delicioso ritmo do vai e vem
dos dedos dela:
- Não precisa... Temos tempo... Vamos aproveitar...
Capítulo 19:

*** Allison ***

Minha cabeça girava... Meu corpo tremia... Suava...


Minha voz não saia... A principio eu fiquei horrorizada
com os meus pulsos aprisionados naquela cama. Sim,
porque eu não estava com qualquer mulher! Estava com
a Pamela. E só Deus sabe do que ela seria capaz. Me
rendi, mesmo temendo morrer de prazer nos braços
dela. Quando Pamela começou a morder o meu corpo...
Passear com as mãos pela minha pele... Derramar o suco
dos morangos nos meus seios... Coxas... Sexo... Pensei
seriamente que era o fim do mundo, mas não! Era
apenas o fim da linha pra mim... Abri a guarda
completamente desnorteada de prazer... Me deixei ser
levada pela angustia de não poder tocar nela com as
minhas mãos, e pelo agravante de estar vendada.... Me
senti indefesa... Eu não sabia onde, nem quando ela iria
me tocar... mas eu estava completamente excitada.
Saber que ela podia me tocar sem que eu pudesse reagir
me excitou a ponto de eu sentir escorrer o meu líquido
pelas minhas coxas. Gemi pra ela... Sussurrei no seu
ouvido quando ela deitava encima de mim eu sentia os
seus cabelos tocarem o meu rosto... Tentei acariciá-la
com o meu corpo que se contorcia cada vez mais
sentindo os toques de Pamela. Sem contar que...
Quando ela arrancou as vendas dos meus olhos... Os
azuis dos dela pareciam duas bolas de fogo. Foi
prazeroso demais imaginar que a cada toque... Beijo...
Eles me fitavam triunfantes... Como se ela me dissesse a
todo momento que havia ganhado a minha alma... Não
resisti... Não quis resistir... Sua língua me persuadiu
assustadoramente, e eu gozei várias... Várias... Várias...
Vezes para ela. O quarto expelia o cheiro de luxúria que
ela incitava no meu corpo. Depois desse momento, eu
sabia que não havia mais absolvição para mim. Eu era
escrava do desejo que aquela mulher me despertava.
Pamela tinha o domínio, ou seja: podia fazer o que
quisesse de mim. Ela me prendeu da pior maneira que
alguém pode nos prender e, eu não saberia deixar de
viver longe dos seus toques... Beijos... Cheiro... Longe
do seu sexo.

Caramba!!! Parecia um sonho o que eu estava vivendo


com aquela mulher. Depois de uma tarde inteira do mais
delicioso sexo, eu estava vestindo um roupão de banho
enquanto admirava Pamela embaixo do chuveiro...
Enxuguei meus cabelos sem desviar o olhar do box um
só minuto. Meus olhos percorriam o vidro enfumaçado...
Em meio às gotas de água quente que batiam no
Box, eu podia visualizar as curvas perfeitas e excitantes
do corpo dela. Nesse instante era impossível deixar de
sentir nos meus lábios o gosto do sexo delicioso de
Pamela... O gosto da sua boca... Da sua pele... O calor
que emanava daquele corpo que me cobria de desejo...
Ela abriu o Box... Fitou-me com aquele azul profundo dos
olhos dela....
- Pega a toalha pra mim? – sussurrou com sensualidade.
Pamela emanava charme tanto quanto falava, quanto
quando olhava... Ou andava... Ou mandava em nós,
reles mortais.. Ou... Ah! Vocês entenderam!
- Da última vez que você me pediu isso eu te devorei
todinha, lembra? – Aproximei-me dela... Puxei-a pela
cintura e senti o corpo molhado de Pamela aconchegar-
se ao meu.... Ela afastou-me no momento em que eu
beijava o seu pescoço e seus pêlos se arrepiaram...
- Temos uma reserva em um restaurante... – piscou pra
mim – Sossega, Allison – disse suavemente. A mulher
me matava de tesão. Ela nem precisava se esforçar,
oras!
- Ok, ok! – suspirei vendo-a de costas – Vou me vestir
antes que eu não resista a essa... Bundinha linda! –
sussurrei no se ouvido. Pamela sorriu e me olhou como
se reprovasse a minha última frase. Beijei-a na nuca
antes de voltar ao quarto. Olhei os lençóis bagunçados...
A algema ainda presa em uma das pontas da cama... A
cesta de morangos reviradas ao lado do criado mudo...
Apanhei um dos travesseiros que estavam no chão do
quarto... Cheirei a fronha que exalava o cheiro dos
cabelos de Pamela... Respirei fundo....
- Passaria a minha vida toda nos teus braços – disse
num suspiro, mas pra mim, do que para as paredes que
me cercavam.
Pamela ficou parada na porta do quarto enxugando os
cabelos enquanto me observava... Acho que ela não
ouviu o que eu disse.
- Porque tá me olhando? – perguntei curiosa.
- Você está linda com essa roupa – disse se referindo as
roupas que ela mesma havia escolhido para eu vestir.
Resolvi baixar a guarda um pouco, sabe? Afinal de
contas, ela iria me levar para jantar sabe Deus onde! E
depois ainda queria ir em um lugar onde pudesse me
beijar na frente dos outros. No mais profundo do meu
orgulho ferido eu sabia que ceder como ela estava
cedendo era doloroso para uma mulher como Pamela, e
por que eu não podia ceder também, não é?
- Não quero que você se sinta desconfortável com a
minha companhia – admiti tímida. Ela caminhou
lentamente na minha direção... Senti o seu hálito tocar
suavemente o meu rosto... Fechei os olhos e degustei
dos seus lábios que roçaram lentamente nos meus...
Afastei o seu roupão, logo deslizei minhas mãos pela sua
pele macia, e com cheiro de hidratante francês. Putz! A
mulher exalava perfume francês pelos poros! Acariciei
com a ponta dos dedos os bicos rosados dos seus seios...
Pamela mais sedutora do que nunca... Conteve as
minhas mãos, e encerrou o nosso beijo exibindo nos
lábios um sorriso malicioso e extremamente sensual.
- Guarda essa energia para mais tarde – sussurrou
enquanto virava-se de costas pra mim, e deixava o
roupão deslizar pelo seu corpo até tocar o chão. Olhei-a
nua... Completamente nua... Meu corpo em brasas
travava uma luta desleal com a minha razão...
- Preciso de um copo de água – disse ao sair do quarto.
Pamela sorriu. Ela sabia o quanto me deixava perturbada
com a sua nudez.

...Tentei descobrir o nome do restaurante que nós


iríamos durante todo o percurso... Pamela é tão teimosa.
Acreditam que ela não me deu nem uma pista? Isso me
afligiu, sabia? Imagina como deve ser esse tal lugar?
Putz! Melhor não pensar nisso, não é?
Alguns minutos depois que saímos de casa.
Estacionamos de frente a um restaurante no bairro do
Jardins, ou melhor: não estacionamos, descemos do
carro para o manobrista estacionar. Respirei fundo.
Sabia que eu teria de enfrentar um daqueles lugares
cheios de frescura que ela gostava de ir. Até aí nada
demais, não é? Nada que um garfo e uma faca não
resolvam. Errado! Olhei a entrada e, dizia: "Shintori"...
Comecei a ter dor de cabeça imediatamente... Pamela
me sorriu como se dissesse: "não esquenta". Subimos
uma escadinha... Paramos na recepção. Uma moça linda,
muito educada e elegantíssima veio nos receber. Na
verdade, ela veio receber a Pamela, porque eu fiquei
completamente extasiada com uma armadura japonesa,
ou armadura samurai. Ela estava exposta dentro de uma
vitrine envidraçada... Toquei o vidro de leve com a ponta
dos dedos... Era lindo, sabe? Só então comecei a reparar
o lugar. Completamente aconchegante... Tapetes
vermelhos por toda parte, mantendo uma harmonia
escandalosa com as paredes cheias de detalhes em
madeira. Símbolos, cortinas, a vestimenta dos
funcionários... Tudo lembrava o Japão! A moça nos
acompanhou até o salão onde Pamela havia reservado
uma mesa, ou melhor: não era uma mesa, pelo menos
na minha concepção não era, oras! Haviam seis salões
diferentes dentro daquele restaurante. Nossa mesa, que
eu jamais me convencerei que é uma mesa, ficava no
Salão Teppan Yaki. Tinha vista para um lindo jardim
japonês. A música era suave e por isso nos fazia
relaxar. Os chefes preparavam o jantar na nossa frente,
em enormes chapas. Envolta dessas chapas ficavam os
balcões que utilizávamos como mesas. Acho que eu nem
comi durante o jantar. Primeiro que comer com hashi, ou
seja: aqueles pauzinhos japoneses é um saco, sabe?
Putz! A Pamela teve que pedir para colocarem uma
borrachinha na ponta daqueles desgraçados. Segundo
porque o chef parecia fazer truques de mágica e
malabarismos com os alimentos, e isso dispersou
inteiramente a minha atenção, ou eu comia ou olhava-o
cozinhar... Sabe que deu até vontade de aplaudi-lo?
Pamela sorria para mim, como se não fosse importante o
meu constrangimento ou simplesmente o fato de eu ter
ficado deslumbrada com o lugar. Para ela tudo era tão
natural, mas pra mim, tudo era
completamente desconfortável, exceto o fato de estar
ao lado da mulher que havia roubado pra sempre a
minha paz. Eu não sabia o que Pamela pensava, muito
menos o que uma mulher tão cruel como aquela podia
sentir por outra pessoa, mas eu queria encarar esse
desafio. Simplesmente porque estar longe dela me fazia
sofrer muito mais do que aturar as suas tiranias todos os
dias dentro e fora daquela revista. Acham que eu sou
masoquista, não é? Sinto que todos os corações
perdidamente apaixonados são.
O jantar terminou com um saldo positivo: conversamos a
maior parte do tempo, vale ressaltar que não houve
nenhum tipo de agressão verbal ou visual. Pamela sorriu
e ajudou-me diante da falta de jeito com a gororoba do
povo dos olhinhos puxados. Tá certo que eu preferia mil
vezes um hambúrguer do MC Donald`s, mas isso não
vem ao caso. Voltemos ao saldo positivo. Percebi que no
olhar dela havia mais do que aquela Pamela mandona e
autoritária podia imaginar que houvesse. Havia um leve
tom de contentamento.

Saímos do restaurante depois das dez e quarenta da


noite... Em direção a uma boate GLS na região oeste de
Sampa. A boate era um casarão, com dois bares, uma
pista, deque na entrada e um jardim nos fundos. Os DJs
tocavam, disco, flashback e muito pop, hits "trash" a
house e electro. Pamela não quis nem uma bebida, me
arrastou para um canto perto da pista de dança...
Apertou-me na parede enfiando a sua coxa no meio das
minhas pernas e beijando os meus lábios o suficiente
para me embriagar de desejo. Coloquei minhas mãos por
baixo da sua blusa e acariciei os seus seios enquanto
correspondia aos beijos quentes e famintos que seus
lábios depositavam nos meus... Ficamos nos tocando
naquele cantinho por longos minutos, só instigando o
desejo que emanava dos nossos corpos.
- Essa noite está cheia de surpresas, né? – Sussurrei
perto do seu ouvido, enquanto mordia e lambia o seu
pescoço.
- Você ainda não viu nada – disse e puxou-me em
direção a uma escadaria. Fui atrás dela sem hesitar. Eu
estava tomada pelo desejo que corroia toda a minha
razão, lembram? Pois é! E o mais complicado disso tudo
é ter que admitir que Pamela era muito mais do que a
mulher que me fazia gozar fervorosamente, ela era
também, dona das minhas melhores e maiores
emoções, tanto na cama, quanto fora dela. Ao final das
escadas estava a cabine do Dj... Pamela bateu na porta
de vidro e um homem a atendeu... Era o Dj da noite. A
mulher falou alguma coisa no ouvido dele e então o cara
mexeu rapidamente no equipamento de som e saiu, nos
deixando sozinhas.
- O quê... O quê... – Tentei perguntar, mas ela foi mais
rápida do que o meu pensamento e agarrou-me pela
nuca empurrando-me de encontro a parede de vidro
esverdeado...
- Temos vinte minutos e eu quero gozar ao som dessa
música enlouquecedora e mais, vendo as pessoas lá
embaixo – apontou a pista de dança no instante em que
colocou as mãos dentro das minhas calças... Perdi
completamente o senso. Troquei de posição com ela...
Agora eram as costas de Pamela que batiam no vidro...
Elevei a sua blusa até o seu sutiã ficar à mostra...
Desabotoei-o e recebi os seus seios rijos na minha boca
que já os esperava faminta de desejo. Pamela bagunçava
os meus cabelos enquanto eu sugava desesperadamente
os bicos dos seus seios. Ela gemia... Se contorcia... Dizia
palavras de baixo calão para me instigar... Subi os lábios
até o seu pescoço enquanto as minhas mãos
desabotoavam a sua calça... As mãos dela também
passeavam pela minha... Pamela tocava as minhas
nádegas, apertava... Puxava para junto de si, querendo
com esse gesto aumentar o contato delicioso que o
nosso sexo estava tendo naquele momento... As pessoas
lá embaixo, desligadas... Completamente desligadas ao
que estava acontecendo naquela cabine... Elas só
queriam dançar, e nós também dançávamos no ritmo
delicioso do prazer... Num gesto brusco eu desci a calça
de Pamela, no minuto seguinte ajoelhei-me a sua frente
e conduzi a sua perna direita para que apoiasse no meu
ombro esquerdo. Afastei a sua calcinha preta e
minúscula... Senti a sua excitação com a pontinha da
língua... O corpo de Pamela estremeceu inteiro... Não
resisti e mergulhei meus lábios.. Língua e dedos dentro
dela... Entrei nela com urgência... A devorei com os
meus lábios e língua completamente tomados pelo
desespero... O seu liquido saboroso descia pelo canto da
minha boca... Escorria pelos minhas mãos... As mãos de
Pamela apertavam os meus cabelos impulsionando a
minha cabeça como se quisesse que eu entrasse ainda
mais dentro dela... A mulher estava completamente
incendiada de desejo e rebolava na minha boca,
esfregando o seu sexo por todo o meu rosto...
Aumentando as estocadas dos meus dedos dentro dela...
Desconsideramos as batidas na porta... Os gritos de
prazer de Pamela ecoavam sufocados por todo aquele
pequeno metro quadrado... Os meus gritos foram
sufocados pelo seu sexo encharcado que embargava a
minha voz... Gozamos ao mesmo tempo... O Dj estava
parado atrás de nós completamente extasiado...
- Preciso mudar a... Faixa... – Foi só o que o coitado
conseguiu dizer.
Levantei-me ao mesmo tempo em que subi a calça de
Pamela e obstruí com o meu corpo a visão dele. Ela
sorrindo maliciosamente e vestiu a sua blusa...
- Não vai colocar o sutiã? – perguntei.
- Deixa de presente pro rapaz – disse e puxou-me pelas
mãos. Balancei a cabeça negativamente e sorri.
- Ela não tem jeito – Pensei – Coitado, Pam!– disse.
Voltamos para o apartamento dela e fizemos amor a
madrugada inteira....
Acordei com o Sol batendo na janela do quarto... Abri os
olhos e procurei Pamela pela cama... Ela não estava...
Caminhei pelo apartamento completamente sonolenta...
Esbarrando nas coisas, como se fosse cair a qualquer
momento... Encontrei Pamela sentada a mesa, tomando
um café enquanto lia a folha de São Paulo. Ela ergueu a
face para me olhar... Inexpressiva – pensei.
- Voltaremos para o Rio em uma hora... Você está
atrasada! – disse fria... completamente fria... Desviou o
olhar e voltou a encarar o jornal.
- Sim, senhora... – respondi seca, percebendo pela sua
expressão apática que a carruagem já havia virado
abóbora novamente, e o que eu tinha que fazer? Me
acostumar com a situação, não é? Sim! Vocês acham que
eu iria pedir demissão depois desses dias ao lado dela? O
que será que vem depois dessa viagem, hein?...

Capítulo 20:

***Pamela***

Definitivamente, eu já tinha passado por muitos


momentos de loucura em minha vida, mas nunca como
aquele.
Depois de gozar pela última, vez, atordoada pelas
estranhas sensações que aquela menina me fazia sentir,
me deixei abraçar e beijar por ela...
Allison adormeceu em meus braços. Com a cabeça no
meu ombro, suspirando de prazer. E eu? Eu a abracei!
Incoerente, insano, sem sentido. O que era aquilo afinal?
Certo, eu queria Allison de volta, nada demais. Tinha
conseguido rápido e fácil. Sem esforço nenhum. No
momento em que ela se entregou completamente,
algemada e vendada, minha vitória tinha ficado clara.
Então como explicar o resto?
Olhei para o rosto de Allison. Dormindo ela parecia quase
desprotegida... Deliciosa e... linda... Eu estava achando
aquela mulher bonita... Sentia uma necessidade
estranha dela, quase um vício...
Inacreditável...
Sem nem pensar que poderia acordá-la, me libertei dos
braços que me apertavam, grudentos, assustadores
quase.
Ela rolou para o lado, resmungando, sem despertar. Me
sentei na cama. Minha cabeça estava doendo. Como se
eu estivesse usando uma parte do cérebro que nunca
tivesse usado.
Suspirei fundo, sentindo o mundo inteiro rodar. Meus pés
tocaram o chão, mas eu não senti. Quando dei por mim
já estava no banheiro, de frente ao espelho da pia. E foi
então que fiquei realmente apavorada.
Meus olhos refletidos estavam... exatamente iguais aos
do meu pai. E isso era absurdo, completamente
inaceitável.
Passar a vida como ele, me lamentando, chafurdando
num sentimento ridículo, desprezível. Não era nem de
longe o que eu queria.
Mas eu estava como se estivesse em outra dimensão,
num mundo incompreensível, onde não conseguia ser
racional. Nem meus pensamentos eu controlava mais.
Eles iam e vinham, sem que eu pudesse impedir.
A simples lembrança de Allison, cheirando a fronha do
travesseiro, suspirando e dizendo:
- Passaria a minha vida toda nos teus braços.
Me causava uma ardência no peito que quase me levava
às lágrimas.
Era isso o amor? Uma demência seguida de azia? Uma
letargia misturada a uma estranha palpitação, e a perda
total da razão? Cega, muda, surda, tetraplégica... Estar
apaixonada era assim então?
Não, eu não sabia, e não queria aceitar. Aquilo era um
câncer, me queimando por dentro... A tal ponto que
tinha ficado sentada ao lado de Allison no restaurante
japonês, achando lindo o fato absurdo dela não
conseguir comer com o hashi...
E depois na boate... Ao invés de chamar o DJ para se
juntar a nós, e trepar a três como eu tanto gostava...
Não... Mais do que isso: tinha ignorado todas as
cantadas que recebi – que não tinham sido poucas -
como se Allison me bastasse...
Era o fim do mundo... Pelo menos do meu mundo... De
tudo o que eu conhecia, prezava e adorava.
Insuportável... Inaceitável... A derrota total...
Não, definitivamente, aquilo não podia estar acontecendo
comigo... Eu estava... infectada... Isso! Como uma
doença, uma bactéria, um vírus... Uma praga! Uma
praga que precisava ser extirpada...
Sufocando, envenenada... E como todo e qualquer tipo
de veneno, com certeza tinha um antídoto. Fosse o que
fosse, eu precisava... me curar.

Dúvidas. Insegurança. Medo. Nunca tinha sentido aquilo.


Minha vida, meu mundo sempre tinha sido tão simples.
Quantas vezes andei do quarto para a sala, da sala para
o quarto aquela noite? Não sei...
A cabeça latejava. Trabalhando febrilmente, sem chegar
a uma conclusão. Na verdade cada célula do meu corpo
pulsava, ansiava por voltar a deitar naquela cama, e
apenas colar em Allison...
Como quem corta os pulsos e fica olhando o sangue
jorrar... Nunca! Se eu desistisse de lutar, e me
entregasse aquilo, jamais poderia andar de cabeça
erguida novamente.
Precisava ser firme. Não era algo que eu pudesse ignorar
ou fingir que não existia. Tinha que encarar, desafiar de
frente o inimigo. E o inimigo não era Allison, era a minha
estúpida e inconveniente fraqueza...
Não tive como deixar de rir da enorme ironia. Destino?
Não acreditava em destino, nem em coisas pré
determinadas. Acreditava em escolhas erradas. Capazes
de em questão de segundos, destruir uma vida. Como
por exemplo, escolher cultivar aquele pequeno fungo,
início de parasita que era o que eu sentia por Allison. O
tipo de escolha que eu nunca, jamais me permitiria.
Tomei banho, vesti minha roupa mais sóbria. Mudei as
passagens. Do dia seguinte de manhã para o vôo mais
próximo.
Fiquei sentada na sala, tomando o café que a diarista
que Arlete tinha contratado preparou. Fingindo ler a
folha de São Paulo que ela trouxe.
Na verdade, estava apenas – a constatação me
angustiava - esperando por Allison.
Quando ela finalmente acordou, e entrou na sala, meu
coração disparou. Linda! Com os cabelos sensualmente
desarrumados, vestindo apenas um roupão, os lábios
deliciosos que com simples beijos conseguiam me
incendiar de paixão...
Mas eu nunca, jamais permitiria que ela sequer
desconfiasse do que eu pensava ou sentia. A olhei com a
maior frieza possível:
- Voltaremos para o Rio em uma hora... Você está
atrasada!
Desviei o olhar e voltei a encarar o jornal. As letras se
embaralhando na minha frente. A impressão que eu
tinha era que não conseguiria respirar. Uma falta de ar e
uma escuridão fugidias teimando em me acompanhar...
Sabia muito bem o que tinha que fazer. Apesar de não
ser fácil, não podia me dar ao luxo de mudar minha
decisão.
Eu era e sempre tinha sido uma mulher inatingível. E
estava determinada a me manter assim. Passaria por
cima de mim mesma se fosse esse o preço para
recuperar a razão.
O desconhecido poder que um único olhar da mulher
parada no meio da sala tinha era a única coisa que me
impedia.

A viagem de volta foi toda em silêncio. Nenhuma palavra


minha nem de Ali. Evitei olhar para ela. Pouco me
importava o que Ali pensava, contanto que não soubesse
que eu sentia.
Esperei que ela pegasse nossas malas. Me mantendo um
pouco afastada. Já com a proteção dos óculos escuros,
confortavelmente impenetráveis.
Ela se aproximou, empurrando o carrinho, me olhando
fixamente quase. Mandei que confirmasse o táxi.
Felizmente minha voz era treinada. Mantinha o tom frio
sem que eu me esforçasse.
Entramos no táxi que já nos esperava lá fora.
Continuamos em silêncio até a minha casa. Enquanto o
motorista e o porteiro carregavam minha bagagem, Ali
desceu do carro atrás de mim.
- Está dispensada. Pode ir para casa. Aproveita o táxi.
Pague com o cheque da empresa, e até 2ª feira, Ali.
Me virei para sair, mas Ali me segurou pelo braço.
Voltamos a ficar frente a frente. Allison me olhou
profundamente. Como se tentasse me analisar.
Felizmente, isso não era possível. Com um sorriso
indecifrável, ela disse:
- Acho que você, quer dizer, a senhora esqueceu um
pequeno detalhe: eu me demiti.
Surpreendente. Imprevisível. Allison.
Levantei os óculos, e tentei manter o olhar gelado. Mas
minha voz soou suave:
- Pensei que tivesse mudado de idéia.
Ela me lançou um daqueles olhares absolutamente
desafiadores que tanto me instigavam:
- Pois pensou errado.
Continuei aparentemente impassível. Por dentro, meu
corpo era um frenético e incoerente palpitar. Com um
sorriso indiferente, retruquei:
- Faça como quiser, Ali.
Me afastei rapidamente. Incrível, mas naquele momento
toda a minha enorme capacidade de me manter fria e
distanciada tinha me abandonado. Pela primeira vez na
vida, eu me deparava com algo que não conseguia
controlar. Algo que só me deixava uma única escolha - a
mais vergonhosa possível: fugir: fugir.
Fiquei esperando o elevador cujo botão o porteiro já
tinha apertado. Ali veio atrás de mim, quase correndo.
Parou na minha frente, e me encarou.
Obstinada. Desafiadora. Abusada. Foi a expressão dela
ao falar:
- Você pode se fazer de fria, Pam. Pode tentar fingir que
o que aconteceu em São Paulo não significou nada. Mas
quer saber? Eu não vou deixar.
Num gesto rápido, antes que eu pudesse me esquivar,
me puxou de encontro ao corpo dela. Uma das mãos em
minha nuca, enquanto a outra me enlaçava pela cintura.
Colou os lábios nos meus, e me beijou apaixonadamente,
despertando toda a loucura acumulada dentro de mim.
E naquele momento assustador, não consegui mais me
conter, nem resistir. Muito menos negar minha
necessidade dela ou me privar do que eu realmente
queria. Passei os braços ao redor do corpo de Allison e
simplesmente correspondi.
Capítulo 21:

**** Allison *****

Sorri ao sentir que o corpo de Pamela correspondia aos


meus carinhos. A poderosa naquele instante não me
assustava tanto. O sentimento, seja ele qual for tem o
poder de modificar as pessoas. Por que seria diferente
com ela? Aqueles olhos azuis completamente vulneráveis
me fitavam como se o chão faltasse embaixo dos seus
pés... Saciei a minha vontade incontrolável de beijar
aquela boca deliciosa...
- Quer saber? - fixei mais o olhar - Esqueça a minha
demissão - disse segura - Estarei na minha sala,
segunda-feira na primeira hora - soltei-a e, sem dizer
mais nenhuma palavra retornei até o táxi que estava a
minha espera. Depois do que vi nos olhos dela, eu não
queria, e nem podia desistir dessa batalha.
O fim de semana chegou... Aproveitei que Léo havia ido
viajar com o namorado e fiquei em casa revivendo
aqueles momentos maravilhosos que passei ao lado de
uma Pamela ainda mais sedutora. Sim porque, quando
ela baixou a guarda, na minha concepção conseguiu ficar
ainda mais sexy. A poderosa com o olhar confuso e
perdido no mar de sentimentos que a deixavam
vulnerável era indescritível. Eu estava no céu, não é?
Pois bem... Fiquei nesse estado de graça por todo a fim
de semana... Na segunda-feira cheguei cedo na revista.
Cumprimentei todos os funcionários com um sorriso
fluorescente na face.
Deixei uma pasta na minha mesa e caminhei em direção
a sala de Pamela. Sabe aquela vontade gritante de
desejar bom dia a alguém? Depois do que vi nos lhos
dela, eu queria desejar um bom dia sonoro e cheio de
beijos todas as manhãs. Até a última da minha vida! Abri
a porta sorrateiramente... Continuei com a mão na
maçaneta observando a cena... Já perceberam como o
momento de decepção passa aos nossos olhos como se
estivéssemos dentro de um filme, e nada daquilo
estivesse acontecendo realmente? Meu sorriso se
pulverizou da minha face como pó... A morena da festa,
a tal de Penélope estava sentada na mesa de Pamela,
com as pernas cruzadas.. Minha chefe parada na frente
dela... As mãos apoiadas nas coxas da morena, e as
mãos da morena atrás da nuca de Pamela. Os olhos fixos
uma na outra denunciava que iriam se beijar, e eu não
conseguia, e nem podia permanecer mais ali. Tentei
retornar a minha sala, mas ao tentar sair da cena do
crime, mas meu pé bateu na porta e fez barulho.
- Ali! – disse Pamela, tirando as mãos da perna da
morena e olhando na minha direção. Penélope ajeitou-
se. Abaixou o vestido imediatamente.
- Des...culpe dona Pamela – disse com nó na garganta.
- Pam, vou esperar a sua ligação – disse Penélope
enquanto beijava a face inexpressiva de Pamela – Vou
esperar ansiosa – completou enquanto caminhava até a
porta de saída. Pamela não respondeu a ela.
Continuei ali, parada... Imóvel... Consumida por uma
raiva inexplicável. Como eu pude me enganar tanto com
aquela mulher? Pamela não tinha limites. Não existia
sentimentos cabíveis naquele coração. Ela apenas se
entregava aos momentos de prazer. Era cruel a ponto de
iludir as pessoas para dominá-las... Foi o que ela fez
comigo. Me levou para São Paulo. Me proporcionou um
prazer absurdo, e tudo isso para não perder o seu
brinquedinho... Para continuar exercendo sobre mim o
seu poder. Claro! Ela não aceitou o meu pedido de
demissão. Pamela me queria sob seu domínio, assim
como queria Penélope e todos os homens que se
jogavam aos pés dela.
- Ali...
- Desculpa não ter batido na porta – firmei o olhar
severo sobre ela.
- Eu...
- Não precisa me dar nenhuma explicação. Afinal de
contas... – sorri debochada – a empregadinha aqui sou
eu.
- Você não devia mesmo ter entrado na minha sala sem
ter batido – deu a volta na sua mesa... mexeu em alguns
papeis... Aproximei-me dela...
- Eu sei o meu lugar! – ergui a sua face para que os seus
olhos azuis indecifráveis naquele momento fitasse os
meus cheios e ira... – entendo que é apenas sexo... –
Aproximei-me ainda mais dela... Nesse instante eu podia
sentir a respiração dela bater no meu rosto. Pamela
sustentou olhar.... Suspirou quando envolvi minhas mãos
na sua cintura...
- Ainda bem que você não está criando perspectivas,
Allison – sussurrou enquanto me encarava com aquele
olhar frio... Sem sentimentos...
- Você só quer diversão, não é? – meus olhos vermelhos
pelas lágrimas que eu tentava não deixar escorrer pela
minha face...
- Nunca te prometi nada – envolveu as mãos no meu
pescoço... – Existe um abismo entre nós... – concluiu
num fio de voz. Seus olhos continuavam frios... Retirei
as mãos dela do meu pescoço e afastei-me dela
afrontada... Irritei-me profundamente. Eu a amava... Eu
a odiava!
- Mas que merda Pamela! Eu posso citar dez coisa que
eu odeio em você, sabia? – cuspi as palavras movida por
uma revolta que cegava a minha razão.
- Tenta – disse provocante, com aquela voz rouca e
sedutora... Umedeceu os lábios sensualmente com a
pontinha da língua, enquanto jogava os cabelos para trás
e sentava na beira da sua mesa...
- Você é... – aproximei-me um pouco mais de onde ela
estava – Metida... Mandona... Esnobe... – dei mais
alguns passos... – Cruel... Desumana... sarcástica.... –
senti o meu corpo colar no de Pamela... Num gesto
brusco passei a mão por todos os objetos e papeis que
estavam atrás dela na mesa, jogando-os no chão... Fitei
os seus olhos enquanto aproximava os nossos lábios...
Deslizei minhas mãos pelos seus braços, segurei firme os
seus pulsos e elevei-os acima da sua cabeça... Pamela
inclinou o corpo paras traz, e eu cobri lentamente o
corpo dela com o meu tenso de desejo e raiva... Seus
braços presos pelos pulsos... Ela estava indefesa, ou
dona da situação... Eu não sei! Só sei que seus olhos
azuis me diziam que ela estava entregue ao desejo que
borbulhava deles como chamas incandescentes – Odeio o
seu cheiro que me embriaga... Odeio o seu corpo que me
excita.... Odeio o seu sexo que fica encharcado quando
eu te toco...
- Falta um – sussurrou com os seus lábios presos nos
meus... Mordi de leve o lábio inferior dela...
- Odeio a sua língua que me devora até a alma... –
terminei de falar e selei meus lábios nos delas sedenta
de paixão... Pamela afastou as pernas para receber o
meu sexo que latejava clamando pelo contato com o
dela. Movimentei o quadril em busca do gozo que eu
sabia que não ia demorar. Devorei o seu pescoço...
Soltei minha mão direita que prendia o seu pulso...
Deslizei pela lateral do seu corpo... Avancei até as
laterais da sua calcinha... Afastei... Entrei dentro dela
com os meus dedos a fazendo gemer e se movimentar
cada vez mais forte embaixo de mim... A penetrei com
força... Bem fundo... Vi o tesão brotar cada vez mais
intenso dos teus olhos azuis que encaravam os meus...
Ela gozou... Fiquei ainda com meus dedos dentro dela
por alguns minutos... Nos olhamos sem nada dizer...
Soltei-lhe o outro pulso... Lentamente sai de cima dela...
Ajeitei minha blusa...
- Estarei na sala ao lado... Dona Pamela – disse irônica –
se precisar de mim, avisa, tá? – sai deixando-a
estagnada no mesmo lugar.

Capítulo 22:

***Pamela***

Naquele momento, quando Allison me beijou, fui


derrotada. Absolutamente derrotada por essa coisa
inexplicável, e para mim inaceitável, chamada... arg...
me sinto uma idiota completa por ser obrigada a
confessar: amor.
Todas as células do meu corpo corresponderam à ela,
como se tivessem vida própria. Então, o beijo terminou,
e foi ainda pior, porque pude ver claramente nos olhos
dela uma felicidade irritante, nojenta, que só podia
significar uma única coisa: que Allison tinha percebido o
quanto aquilo tudo me tocou.
Por sorte, ela não continuou. Pegou o táxi, dizendo que
nos veríamos na 2ª feira. Deixando evidente que a
desvantagem tinha passado a ser minha...
Ainda assim, senti um certo alívio. Por ela não ter pedido
demissão, e porque... o que seria de mim se ela tivesse
subido? Se tivesse insistido em passar a noite comigo?
Não conseguiria resistir, eu já não respondia por mim...
Fui recebida por Paz. Pela expressão assustada, surpresa
dela, pude perceber que de alguma forma, eu estava
demonstrando o desespero que sentia.
Era só o que me faltava... Ser motivo de pena da
empregada... Era realmente o fim da linha...
Eu só não queria morrer porque jamais me entregaria à
auto piedade. Francamente? Uma única fraqueza já
estava de bom tamanho! Não, eu não ia agüentar...
"Calma, Pamela..."
Repetia para mim mesma mentalmente. Me servi de uma
dose dupla de Whisky. Pura. Cowboy. Sem gelo nem
nada que atrapalhasse. Eu precisava daquilo: o primeiro
gole de bebida descendo queimando garganta abaixo,
parecendo trazer a minha razão de volta.
Abri as portas de vidro, saí para a cobertura. O vento
batendo em meu rosto, refrescando um pouco o que eu
sentia...
Me aproximei do parapeito e fiquei olhando para a Lagoa
lá em baixo. Minha vista preferida do Rio de Janeiro... E
agora estragada porque me fazia lembrar de Allison...
Daquela noite fatídica em que tínhamos nos visto pela
primeira vez naquela maldita boate... Culpa do miserável
do Fábio!
Suspirei fundo. Colocando o derrotismo de lado. Eu não
era mulher de ficar chorando pelo leite derramado...
Precisava agir. Fazer algo. O que? Eu não sabia ainda.
Qualquer coisa que me tirasse de vez daquela armadilha
repulsiva. Não podia admitir que Ali tomasse as rédeas
da situação. Precisava evitar que ela voltasse a me tocar
daquele jeito. Como se achasse que fôssemos, ou
pudéssemos algum dia ser namoradas, ou algo mais...
Tinha que fazer a menina entender que aquilo era
impossível.
O resultado disso? Foi uma noite mal dormida. E um
telefonema para Penélope no dia seguinte.
Penélope passou na minha casa, tomamos um drinque, e
depois saímos pela noite, querendo uma transa a três,
duas caçadoras agindo juntas.
Fomos para uma boate GLS. Rindo dos incontáveis
olhares de cobiça que tentavam entrar
despudoradamente por dentro de nossos vestidos. Aquilo
me excitava. Muitíssimo. Uma das coisas que eu mais
gostava era ser desejada. E Penélope também. Isso
estava claro. Éramos... muito parecidas. Resultado da
educação das freiras Suíças? Quem sabe...
- Vamos deixar a mulherada louca?
Ela sussurrou no meu ouvido. Sem esperar resposta, me
empurrou para a parede mais próxima. As mãos me
percorrendo inteira, arrancando gemidos. Por cima do
ombro dela, eu podia ver as pessoas olhando. Algumas
disfarçadamente. Outras na cara dura. Um espetáculo
daqueles, quase uma injeção de libido... Impossível
ignorar.
Gemi mais ainda. Ordenei:
- Me come!
E fui prontamente atendida. Penélope fez o que eu
queria. Na frente de todos. Enquanto eu a segurava
pelos cabelos, exigindo:
- Mais fundo.. Com força...
E mordia o lábio inferior dela até sentir um gosto de
sangue na boca... Penélope gemeu, depois sussurrou
palavras sujas no meu ouvido... Me chamando de vadia
para baixo, me excitando mais ainda. Aumentando a
velocidade dos dedos, a profundidade, o ritmo...
Tomada por uma ânsia louca e um gosto amargo
desconhecidos, eu repetia, enquanto meu corpo todo
estremecia:
- Mais forte... Vai... Assim...
Explodi nos dedos dela com um gemido alto. Penélope
me beijou, e falou no meu ouvido:
- Você é obscenamente gostosa, Pamela...
Voltou a colar a boca na minha, enquanto tirava os
dedos de dentro de mim. Correspondi, beijando de olhos
abertos, já com um ponto fixo.
- Escolheu? - perguntou, a voz absolutamente lasciva.
Meus olhos insistiam em buscar uma menina de cabelos
castanhos ondulados, vestindo um jeans e uma
blusinha... Muito parecida com...
Consegui me controlar. Tinha um alvo muito melhor,
algo que seria... incrível... Senti um arrepio... Só de
imaginar o contraste delicioso que eu e Penélope
faríamos na cama com...
- A ruiva.
Penélope se virou, olhou, fixa e ostensivamente para a
nossa vítima:
- Muito bem escolhido...
A mulher não estava sozinha. Bonita daquele jeito,
jamais estaria. Estava acompanhada de uma loira que
parecia ser bastante possessiva. Isso só tornava ainda
mais interessante o desafio.
Observei melhor. As duas estavam sentadas numa mesa
com um casal de amigas e os restos mortais de um bolo.
A deixa perfeita, eu diria.
Me aproximei puxando Penélope pela mão. Olhando a
ruiva profundamente nos olhos, pedi:
- Me dá um pedacinho?
De um jeito absolutamente sedutor. Impresso no final da
frase, como se eu tivesse dito, pairava um "de você"...
Que não precisava ser um gênio para entender...
A ruiva até se assustou. Ia responder, mas foi uma das
amigas – de cabelos pretos muito lisos e... só então
reparei na barriga que indicava uma gravidez um tanto
quanto avançada – quem disse:
- Bota um pedaço num guardanapo pra ela, amor.
A mulher de cabelos dourados que a outra tinha
chamado de amor me serviu. Depois voltou a se sentar
ao lado da outra, passar as mãos na barriga dela
carinhosamente, as duas se olhando nos olhos e sorrindo
antes de colarem os lábios num beijo intenso...
Estendi a mão para a ruiva, dizendo:
- Obrigado. Pamela. É um imenso prazer.
Segurei a mão que a ruiva estendeu por muito mais
tempo e de forma muito mais intensa do que o
necessário. A voz dela saiu trêmula quando respondeu:
- Renata.
A loira ao lado dela estendeu a mão, interrompendo o
flerte descarado:
- Fabiana. Namorada da Renata. Essas são Dani e Mel.
Dani e Mel desgrudaram as bocas um instante, apenas
para me cumprimentarem com um aceno de mão, e
voltaram a se beijar novamente.
"Casalzinho meloso" – pensei ao ver o jeitinho grudento
horroroso da grávida com a... esposa? Elas usavam
alianças de ouro branco...
"Patético... Absurdamente ridículo..."
Eu estava perdendo tempo divagando... Voltei a
concentrar toda a minha energia em meu objetivo:
- De quem é o aniversário?
- Meu...
Foi a resposta sem graça da ruiva. Não poderia ser
melhor.
"Vamos te dar um presente que você não vai esquecer" –
pensei, sem conseguir conter um sorriso. Mas o que
disse foi:
- Você faz aniversário e quem ganha o presente sou eu...
- Ãh?
A ruiva perguntou, fazendo cara de quem não entendeu.
Expliquei umedecendo os lábios:
- Conhecer você é um presente, meu bem...
- Dos deuses! – Penélope completou. Antes de se
apresentar: - Prazer, linda! Penélope.
Foi nesse momento que um outro casal chegou.
Aparentemente vindas do banheiro:
- Demoramos?
- A fila tava um horror...
Imediatamente foram apresentadas: Raq e Deca. Raq
abraçou Deca por trás, e sussurrou algo no ouvido dela.
As duas riram juntas, e se beijaram com urgência.
O que era aquilo afinal? Um concurso para escolher o
casal de lésbicas mais derretido e sem cérebro do
mundo?
Felizmente, as duas do banheiro disseram que iam
embora, se olhando maliciosamente. De um jeito que
deixava evidente o que elas tinham tanta pressa em
resolver.
O casal grávido também parou de se beijar. A de cabelos
dourados – como era mesmo o nome dela? Mia? -
dizendo:
- Tá cansadinha, né, amor? Vamos também?
A de cabelos pretos imediatamente concordou. Olhando
para a outra como se não existisse nenhuma outra
mulher no mundo inteiro...
Pensei que fosse vomitar... Mas finalmente, as quatro se
despediram e foram embora. E sob o olhar reprovador da
loira, a ruiva nos convidou para sentar. O que
prontamente aceitamos, óbvio.
Sentei do lado dela, muito próxima, colada quase.
Ficamos conversando, mas a loira não dava trégua. Até
que Penélope, muito espertamente, derrubou a taça de
"Kir Royale" que tinha pedido inteira em cima dela. A
obrigando a se levantar e ir ao banheiro. Com uma
Penélope super prestativa, pedindo mil desculpas, atrás
dela.
Olhei bem dentro dos olhos da ruiva. Ela tremeu. Sorri,
satisfeita com a reação. Pousei minha mão no joelho
dela, fazendo com que... Roberta? Era esse o nome dela?
Se arrepiasse inteira. Então falei:
- Vou ser direta: tô louca por você.
A ruiva suspirou fundo. Depois, inacreditavelmente, tirou
minha mão da perna dela e... se afastou, dizendo:
- Sinto muito, mas... amo minha namorada. Não vou
ficar com você.
Aquilo me atingiu com a força de um tiro de escopeta. E
me fez agir diferente de sempre. Não insisti.
Penélope já voltava com a loira do banheiro. A ruiva se
levantou, beijou a namorada apaixonadamente, a pegou
pela mão e saíram juntas, me deixando sem saber o que
pensar nem o que fazer.
Sem entender nada, Penélope se sentou ao meu lado na
mesa:
- Que houve?
Respondi simplesmente:
- Ela não topou.
Sacudindo a cabeça como quem não acredita, Penélope
falou:
- Como assim? Ela tá louca?
Um sorriso triste se formou involuntariamente em minha
boca. Não resisti, e disse:
- Acho que sim. Louca de amor.
- Coitada! Que horror! – Penélope comentou.
As palavras saíram da minha boca sem querer. Como se
eu pensasse alto, um tipo de pensamento que para mim
nunca tinha existido:
- Será que... o amor existe? Será possível que... duas
pessoas possam mesmo ser felizes juntas?
Penélope riu. E debochou:
- Meu Deus, Pamela... O que é isso? Será que você
bebeu demais? Filosofia barata não combina contigo...
Essa coisa de amor é tão infantil...
Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, mais
um casal parou bem em frente a nossa mesa.
Levantei os olhos e me deparei com... uma morena de
parar o trânsito. Olhos verdes, cabelos lisos e negros
abaixo dos ombros, e levemente ondulados nas pontas.
Abraçada com uma menina de olhar incrivelmente
abusado... Um olhar que me lembrava...
A abusadinha me olhou bem na cara. E perguntou:
- Conheço você de algum lugar... Você é a dona daquela
revista famosa, a "Gente Chique", não é mesmo? Tenho
uma amiga que trabalha pra você.
- Ah, é?
Foi só o que pude responder, levantando a sobrancelha e
fingindo indiferença. No fundo, absolutamente surpresa.
E me sentindo... vulnerável... além de todos os meus
limites.
A morena sussurrou, alto o bastante para que eu
ouvisse:
- Duda, vamos... Deixa ela em paz.
A outra sorriu. Olhou para a morena e os olhos dela
brilharam.
O que era aquilo? O dia de pagar todos os meus
pecados? Um desfile de lésbicas apaixonadas que vinham
esfregar a felicidade nojenta delas justo em mim? Só
podia ser brincadeira...
A garota continuou, com um sorriso indecifrável:
- Mas a senhora não deve nem esbarrar com a Allison
pelos corredores. É poderosa demais, não é verdade?
- Aquela sua assistente... a tal de Ali... é dessa que ela
tá falando?
Penélope tinha que falar? Não poderia simplesmente ficar
calada?
Ainda fui obrigada a ouvir, enquanto as duas
grudentinhas se afastavam:
- O que foi isso, Duda? Não entendi nada...
- Só pra ver se essa jararaca se toca, Gaby. O Léo me
disse que ela tá acabando com a Allison...

O resto da noite para mim passou como se uma estranha


névoa embaçasse meus olhos. Como se as coisas
acontecessem a minha volta e não fossem reais. Pior
ainda; como se o controle não estivesse mais em minhas
mãos.
Continuei sentada naquela mesa. Pateticamente
fragilizada e perdida. Se Penélope percebeu, não disse
nada. Mas parecia insistentemente decidida a me
animar. Seduziu uma menina... aquela de cabelos
castanhos ondulados, vestindo um jeans e uma
blusinha... Muito parecida com...
Era tão visível assim? Não, eu precisava... lutar...
Penélope e a menina me beijaram. Primeiro uma de cada
vez, e depois as duas juntas. Correspondi, me deixei
beijar, acariciar, sem muita iniciativa, para falar a
verdade, mas... Me esforçando. Me forçando quase.
Fomos para um motel. Uma coisa estranha me impedia,
era quase como se eu... fosse sufocar. Disfarcei, dizendo
que queria só olhar... Me sentei no sofá em frente a
cama, enquanto as duas se devoravam. Minha cabeça,
meus olhos, minha alma em outro lugar... Pensando,
lembrando, desejando... Allison.

No dia seguinte, as duas se vestiram. Eu continuava


sentada no sofá, absolutamente apática.
Penélope me olhou com... pena? Acariciou meu rosto
como se eu tivesse uma doença grave. Insistiu em ir
comigo para a revista, depois que passei em casa para
me trocar.
Concordei, porque... não queria ficar sozinha – era
ridículo, mas verdade – e seria uma ótima forma de
manter Ali afastada.
Entramos direto na minha sala. Ainda era cedo, mas
Arlete, como sempre, já me esperava.
Penélope sentou na minha mesa, com as pernas
cruzadas. Levantou os óculos escuros, e disse na minha
cara:
- Pamela, minha querida, você está apaixonada. E pela
empregada. Isso é grave.
Tentei negar:
- Que absurdo! Não é verdade...
Ela riu. Como se eu tivesse contando uma piada. E
contestou:
- Tá na cara... Inegável.
Deixei escapar um suspiro. Quase de dor. Penélope me
olhou penalizada. Com uma voz muito doce, quase
suave, me chamou:
- Vem cá.
Me aproximei, até ficar parada na frente dela. Apoiei as
mãos nas coxas morenas, num gesto automático. Sem
nenhum tipo de conotação sexual. Todo o meu desejo
parecia ter desaparecido... Ou quem sabe... Não, eu não
queria confessar o que eu já sabia que era verdade...
Meu desejo tinha se concentrado inteiramente em
Allison...
Como se pudesse ler pensamentos, Penélope colocou as
mãos atrás da minha nuca. Me acariciou, novamente
com aquele olhar penalizado.
Naquele momento, um barulho me fez olhar para a porta
que ligava minha sala à de...
- Ali! – eu disse.
Agindo por impulso, tirei as mãos da perna da morena,
como se aquilo fosse errado...
Penélope se ajeitou, abaixando o vestido imediatamente
também. Estranhamente solidária num momento tão...
constrangedor.
- Des...culpe dona Pamela.
A voz de Allison soou engasgada.
- Pam, vou esperar a sua ligação – disse Penélope, me
beijando no rosto – Vou esperar ansiosa – e depois
sussurrou baixinho para que só eu pudesse ouvir: - pela
sua recuperação...
E saiu. Sem que eu respondesse.
Allison continuava ali, parada... Imóvel...
- Ali...
- Desculpa não ter batido na porta – ela me olhou com
raiva.
- Eu...
- Não precisa me dar nenhuma explicação. Afinal de
contas... – sorriu debochada – a empregadinha aqui sou
eu.
- Você não devia mesmo ter entrado na minha sala sem
ter batido – dei a volta na minha mesa... mexi em alguns
papeis... Precisando disfarçar, evitar que Allison me
olhasse nos olhos e visse o quanto eu precisava dela. O
quanto eu gostaria que... Que o que? Que nada,
porque... aquilo nunca poderia dar certo.
Ela se aproximou de mim, ergueu minha face e disse,
com a respiração em meu rosto, fazendo com que
resistir se tornasse torturante:
- Eu sei o meu lugar! Entendo que é apenas sexo...
Sustentei o olhar dela.... Com uma performance digna de
um Oscar. Mas um suspiro delator escapou da minha
garganta quando as mãos dela envolveram minha
cintura...
- Ainda bem que você não está criando perspectivas,
Allison...
Sussurrei, quase sem forças. Sem saber se meu olhar
estava me denunciando. Sabendo apenas que precisava
manter meus olhos vazios...
- Você só quer diversão, não é?
A enlacei pelo pescoço. Minha voz quase não saiu:
- Nunca te prometi nada. Existe um abismo entre nós...
Apesar do tremor na minha voz, e do calor da minha
pele contra a dela – eu tinha certeza de que ela também
sentia – Allison tirou minhas mãos dela.
- Mas que merda Pamela! Eu posso citar dez coisas que
eu odeio em você, sabia?
- Tenta...
E a partir daquele momento, perdi completamente a
razão. Ela enumerou as dez coisas... Se eram boas ou
ruins? Eu já não sabia. Tinha esquecido todo e qualquer
tipo de medida de valor... Estava... perdida,
completamente rendida àquelas mãos, àqueles dedos,
àquela boca...
Me entreguei inteira, sem pudores, permitindo que
durante aqueles breves momentos minha febre pudesse
ter um pouco de sossego, saboreando, matando meu
desejo dela...
Allison me fez gozar maravilhosamente. E eu desejei
apenas poder fazer aquilo para sempre, sem medo...
Para sempre? Eu estava enlouquecendo. Aquela mulher
tinha sobre mim um perigoso poder. Capaz de me
dominar, me destruir de uma só vez.
Eu a amava... Eu a odiava... Eu já não sabia se entre
esses dois sentimentos existia alguma diferença... Eles
pulsavam juntos, profundos, absolutamente intensos.
Nos olhamos sem nada dizer... Allison me soltou.
Lentamente saiu de cima de mim. A voz dela era pura
ironia quando disse:
- Estarei na sala ao lado... Dona Pamela. Se precisar de
mim, avisa, tá?
Saiu me deixando estagnada no mesmo lugar. Com uma
ausência, um tormento, um vazio. Um amargo sabor de
algo que se esvaía. O definhar lento da minha vida antes
dela. Totalmente contra a minha vontade. Uma nova e
desconhecida existência que - eu tinha certeza - viria
repleta de um longo e deselegante mal estar.
Capítulo 23:

***Allison***

Sentei na minha cadeira, ou melhor: joguei-me na minha


cadeira. Bati na mesa a minha frente duas vezes. Doeu,
viu? Eu queria morrer, sabe? Queria sair correndo
daquela merda de prédio e parar no primeiro boteco para
encher a cara. Elevei as minhas mãos para jogar os
meus cabelos para trás, e ao fazer esse gesto, senti o
cheiro de Pamela. Ela me inebriava. Deixava o meu lado
racional adormecer no desejo que aquele corpo me
consumia. Eu queria mais que sexo com a poderosa. Mas
sabia perfeitamente qual era o meu lugar. Uma mulher
como Pamela não se apaixona por ninguém. Eu quem
sou uma idiota sentimental, não é? Sim, eu sei! Vocês
não precisam ficar jogando isso na minha cara. Eu
preciso juntar os cacos do meu amor próprio e parar de
sentir pena de mim. Afinal de contas, eu procurei por
isso, não é mesmo? Quem mandou aceitar o cargo de
assistente dela? Quem mandou eu sentir esse desejo
incontrolável por aquela mulher fria e sem coração?
Quem mandou eu ter um coração dentro do meu peito
que bate por ela como nunca bateu por mulher
nenhuma? Ao final desses pensamentos eu levantei-
me... Saí da sala... Passei pelo corredor... Estava indo
em direção ao banheiro quando senti alguém puxar o
meu braço e me jogar dentro de uma sala. No susto, e
com a minha distração, não consegui identificar quem
me puxou, muito menos em que sala eu estava.
- Caramba, Léo! – disse quase num grito.
Ele trancou a porta...
- Allison... Eu não te vejo mais. Você viaja e nem me
avisa... Só fica trancada na sala que faz fronteira com a
da cascavel; anda abatida... Visivelmente não está
comendo, pelo menos não está comendo comida, né
gatinha?
- Vou voltar pra minha vida, cara! – disse de imediato.
- O que quer dizer em voltar pra sua vida? – fitou-me
desconfiado.
- Não quero mais saber de ficar correndo atrás da
Pamela, digo, da dona Pamela! – corrigi-me
imediatamente. Agora eu a trataria desta maneira. Ela
não queria que eu fosse profissional? Então, eu seria!
- Ai amiga! Eu daria tudo para arrancar de dentro do
seu coração essa dor que estou vendo dentro dos seus
olhos.
- Eu mesma vou arrancar essa dor daqui de dentro, Léo!
– disse apontando na direção do meu coração.
- Hum... – pensou por uns instantes – Eu não ia te
contar... Mas...
- Desembucha, bicha! – quando ele fazia aquela cara,
era sinal de que sabia de alguma fofoca que ele estava
se correndo para contar.
- Bom... A Duda me disse que encontrou a Pamela em
uma boate GLS nesse fim de semana – despejou de uma
só vez.
- Ãh? – firmei o olhar. O que a Pamela estava fazendo
em uma boate GLS no fim de semana enquanto eu
estava em casa pensando nela? – Sabe dizer se ela
estava sozinha?
- Pela descrição da Gaby, ela estava com a fresquinha
da Penélope.
- Claro! – pensei um instante – Por isso elas estavam
juntas hoje – balancei a cabeça negativamente – sou
uma idiota, não é? Você viajou com o seu namorado, e
eu fiquei o fim de semana inteiro sem conseguir tirar
aquela... Aquela... Cachorra da minha cabeça! – disse
com raiva.
- Olha, Ali! Você disse que vai retomar a sua vida. Acho
que já está mais do que na hora de você virar o jogo,
entendeu? A Pamela não é mulher pra você, e já deixou
isso bem claro.
- A Gaby também não era mulher pra Duda... – disse
num impulso. Será que eu queria me iludir mais uma
vez?
- É, mas a Gaby amava a Duda, e a Pamela não te
ama!
- Tá certo e, eu também não sou persistente como a
Duda... Por isso, vou parar de viver em função dessa
dona Pamela de uma vez por todas!
- Como diz a Ana... É isso aí! – Abraçou-me
carinhosamente.... Soltei-me dos seus braços quando o
meu telefone tocou. Sorri ao ver quem era...
- Duda! – disse ao Léo antes de atender – Alô! – atendi.
- Oi, Ali! Você tá bem? – já sabia que o nosso amiguinho
deu com a língua nos dentes.
- O Léo já me contou as novidades. E então, como foi
dar de cara com a Poderosa?
- Caraca, Ali! É a maior gata essa Pamela, hein? Já tinha
visto a mulher nas revistas, mas assim... Pessoalmente
foi muito melhor.
- Animadora, hein?
- Eu conversei muito com a Gaby essa noite...
- Vocês conversam a noite, é? – brinquei.
- Claro, pô! Bom... Apesar de tudo acho que você não
deve desistir dela... A Gaby também acha.
- Tarde demais! Já desisti... Agora quero sair, conhecer
gente nova. Me apaixonar por alguém de verdade, sim
porque a dona Pamela é completamente irreal pra mim.
- Putz! – fez uma pausa – Está certa disso? Se envolver
com outra pode não resolver nada.
- Quero alguém de verdade, só isso.
- Olha, posso te apresentar alguém.
- Quem?
- O Dan tem uma amiga chamada Camila, ela é louca,
mas a menina é legal, sabe?
Sorri... A Duda fez faculdade comigo. Ela fazia Educação
Física e eu Jornalismo. Nos encontrávamos quase
sempre na faculdade. Ela sempre enrolada com a paixão
cega, dominadora e persistente pela stripper, que pelo
amor de Deus! É uma morena de tirar o fôlego de
qualquer uma, embora eu prefira mil vezes a Pam, quer
dizer: preferia.
- Amiga do Dan, é? – desconfiei, o irmão da Duda é uma
figura.
- Ela é... Gostosa – disse com aquele tom de voz
engraçado.
- Vou pensar nessa possibilidade, viu? É que ser amiga
do Dan deixa o currículo da menina meio sujo, entende?
- Entendo sim – sorriu – se precisar de alguma coisa me
liga, faz sinal de fumaça, ou grita que eu apareço, tá?
- Valeu Duda – fiquei em silêncio antes de continuar a
falar – Tô deprimida. Vou pedir pra Gaby dançar pra
mim, pode? – sorri.
- Quer morrer, é? Esse papo tá ficando muito entediado.
– disse irônica - Tchau Ali. Se quiser aparecer na
academia, ou na boate... Estaremos te esperando.
- Beleza! Tchau – disse e desliguei.
Léo estava esperando que eu me pronunciasse...
- Preciso conhecer umas garotas – disse meio sem jeito.
- Isso vai resolver alguma coisa? – questionou Léo.
- Preciso de ar, oras! – caminhei até a porta – A Pamela
não tem a Penélope?
- E o mundo inteiro aos pés dela... – completou cruel –
Você precisa de um choque de realidade amiga! Nada
pessoal, tá? – mandou um beijo na minha direção.
- Bom trabalho, Léo! – disse desanimada enquanto abria
a porta e voltava para o corredor onde fui abruptamente
abordada pelo meu amigo. Caminhei até o banheiro...
Entrei... Havia duas revisoras retocando a maquiagem de
frente ao espelho. Elas conversavam animadamente e
nem se importaram com a minha presença... Tentei não
prestar atenção no que elas diziam enquanto lavava as
minhas mãos, mas a minha atenção foi presa ao ouvir
uma delas dizer:
- A chefona tava se esfregando com uma mulher na
balada gay.
- Eu soube! – disse a outra – Parece que ela está tendo
um caso com aquela morena que tem vindo aqui na
redação. Que pouca vergonha, não acha?
- Ela tem dinheiro... Popularidade... Fama... Ou seja: ela
pode tudo.
- Ela pode tudo... – pensei. Enxuguei minhas mãos no
papel toalha e saí do banheiro revoltada. Aquelas
fofoqueiras acabaram ainda mais com o meu dia.
Retornei até a minha sala e comecei a tentar analisar
alguns relatórios que acabaram acumulados devido à
viagem. Juro que tentei me concentrar, mas a raiva que
eu estava sentido por Pamela fazia revirar o meu
estômago, e perder toda a minha competência e
criatividade. Fiquei pensando com o lápis dentro da
minha boca. O telefone tocou... Tomei um susto...
- Oi Arlete – disse assim que identifiquei o ramal.
- A dona Pamela está te esperando dentro de vinte
minutos na sala de reuniões.
- Reunião? Assim, do nada?
- É assim, do nada – disse sorridente.
- Beleza. – disse seca... fria... Completamente
desanimada.
- Está tudo bem, Ali?
- Está sim, Arlete. Obrigada.
- Se precisar de alguma coisa. Sabe onde eu estou.
- Sei sim. Obrigada. – coloquei o fone no gancho
pensativa. Sempre que havia uma reunião, era a própria
Pamela quem me comunicava.

Entrei na sala de reuniões cinco minutos antes de


todos... Olhei o projetor a postos... passei pela cadeira
que a poderosa se sentava... Nesse instante, no
momento em que eu deslizava as mãos pelo encosto da
cadeira dela, a porta abriu. Olhei imediatamente para ver
quem era...
- Pamela – disse quase num sussurro. Ela estava
segurando uma pasta de couro marrom. Ao ver-me,
caminhou na minha direção e parou na minha frente...
- Pensei que não tivesse chegado ninguém – disse
enigmática.
- Essa reunião às pressas... Aconteceu alguma coisa? –
perguntei sem conseguir desviar meus olhos da direção
dos dela. Aqueles olhos azuis quase me cegavam...
Minhas pernas teimavam em ficarem trêmulas, e minhas
mãos suavam frio. Tão frio quanto o meu coração estava
naquele momento.
- Estamos com um pequeno problema – disse ao desviar
o olhar – Publicaram a nossa capa.
- Como assim, Pamela? – pensei por um instante –
Dona Pamela – corrigi-me.
- É o que quero descobrir Allison – olhou-me dessa vez
como se eu pudesse responder as dúvidas dela.
- Não está... Não está... – gaguejei só por cogitar a
possibilidade dela estar desconfiando de mim.
- Sei que você está magoada comigo, e...
- E acha que eu teria sido capaz de vender as nossas
idéias? – fitei-a agora indignada – Com quem você pensa
que está falando? Não sou esse tipo de pessoa...
- Calma, menina! – interrompeu-me.
- Calma, Pamela? - aproximei-me um pouco mais dela –
Você tá me olhando como se me perguntasse se eu
vendi a idéia! E pra mim, seria muito fácil porque quem
desenvolveu a capa desse mês foi o Léo, que por sinal é
meu amigo, oras! – aspirei fundo o cheiro do perfume
que exalava do corpo dela... A poderosa desviou
novamente o olhar... Depois sentou-se na sua cadeira.
- Você está desequilibrada menina! – folheou alguns
papeis que retirou da sua pasta marrom – É a segunda
vez que vimos a nossa idéia estampada na concorrência
dois dias antes da nossa publicação. Não estou te
acusando de nada. Você não estava aqui na primeira
vez.
- Nossa! – sentei-me na cadeira ao seu lado – Suspeita
de alguém?
- O Leonardo é o responsável pelas matérias principais –
disse sem rodeios.
- Hei! O Léo não faria isso! – levantei-me no mesmo
momento em que alguns funcionários solicitados na
reunião começaram a chegar. – Ele não faria – sussurrei
antes de dar a volta na mesa e sentar-me na cadeira
destinada a mim.
Refleti muito durante toda a reunião. Pra mim, era uma
questão de honra provar que o Léo não era o culpado
pelos furtos dos projetos na revista.... Fiz uma série de
anotações... Uma hora e quinze minutos depois...
Estávamos todos olhando uns para a cara dos outros
como se nos culpássemos pelo... Roubo? Sim! Roubo de
idéias. Alguém estava negociando as nossas matérias
com o concorrente.
Ajeitei uns papeis... Todos saíram da sala, menos a
poderosa que ficou sentada fazendo algumas
anotações... Já me preparava para sair quando ela me
chamou...
- Allison – disse.
Voltei até onde ela estava sentada...
- Vai precisar dos meus serviços dona Pamela? – fitei-a
com o coração despedaçado por imaginar o que ela podia
querer comigo. Só o que ela queria era sexo mesmo. Já
estava acostumada.
- Preciso que você vá hoje até a minha casa – disse sem
desviar os olhos da papelada que examinava. – Temos
uns acertos para a reunião dessa semana com os
Franceses.
- Desculpe, mas... Não poderei ir até a sua casa a noite
– disse fria.
- Como não? – ergueu a face para olhar-me.
- Tenho um compromisso. – menti encarando-a
descaradamente.
- Compromisso? – perguntou incrédula com a minha
negativa.
- Vou sair com a minha namorada – disse num impulso.
Pamela sorriu. Quase gargalhou.
- Manda a sua namoradinha esperar.
- Me despede, mas adiar o meu compromisso eu não
vou! – fitei-a desafiadoramente. Mergulhei o olhar
naquele mar azul dos dela. Não sei o que eles diziam,
mas nem quero saber.
- Pode ir – disse enfim.
- Se precisar... – uma pausa – Estarei na minha sala...
Dona Pamela. – disse e saí da sala de reuniões. Ela
queria me usar? Não seria mais do jeito dela. Podem
apostar!

Capítulo 24:

***Pamela***
Afinal de contas, o que estava acontecendo? O mundo
inteiro tinha resolvido desabar sobre minha cabeça?
Tudo bem, nada daquilo era o bastante para me
derrotar, desanimar, mas... pelo amor de deus! Será que
eu tinha que ser a prova viva de que o ditado... arg...
popular era verdade? Desgraça pouca é bobagem...
Além do sentimento infame, ridículo, doentio que tentava
me dominar, tinha o roubo das idéias, e... para
completar, Ali tinha resolvido me desafiar abertamente...
Namorada? Uma ova que ela tinha namorada! Que
namorada era essa que tinha aparecido do nada? Só se
durante o final de semana ela...
Não, claro que não! Não depois de tudo o que tinha
acontecido em São Paulo. Bobagem! Era mentira. Uma
jogada – até muito inteligente, por incrível que pareça –
de Ali.
Mas ela não ia, de jeito nenhum, conseguir me afetar.
Apesar da pontinha de... Nada, eu estava chateada
com... a recusa dela? Era a primeira vez que Ali me
recusava algo... Inacreditável... Inaceitável! Eu não ia
nem podia deixar barato.

No final da tarde, Arlete anunciou:


- Dona Pamela, o Leonardo está aqui para falar com a
senhora.
Eu já sabia o que era. A nova capa.
- Mande ele entrar, Arlete.
O rapazinho entrou, muito sem graça. Ficou parado na
porta, evitando me encarar. Com medo, para falar a
verdade. Com um sorriso sarcástico, falei:
- Vai ficar aí parado o dia inteiro? Onde está a nova
capa?
Pedindo mil desculpas, todo desengonçado, ele se
aproximou da minha mesa, e me estendeu um pen
drive.
Pluguei no laptop, abri e... realmente me surpreendi.
Estava... fantástico. Seria sem dúvida, uma de nossas
melhores capas.
- Se você podia fazer isso, porque me entregou aquela
porcaria de antes?
O rapaz começou a gaguejar:
- Eu... é... eu... é que...
Não agüentei:
- Pelo amor de deus! Fala direito, rapaz!
Não sei se foi o susto, mas ele conseguiu falar rápido,
acelerado, de uma só vez:
- A idéia foi da Allison.
Fuzilei o rapazinho com o olhar:
- Está querendo dizer que precisou da minha assistente
para fazer o seu trabalho?
Ele ficou abrindo e fechando a boca várias vezes, sem
conseguir falar. Hilário. A vontade que eu tinha era
gargalhar. Ao invés disso, ergui uma das sobrancelhas e
o olhei enojada:
- Não consegui ainda decidir o que você é: burro ou
incompetente? Tanto faz... As duas coisas,
provavelmente...
Com um gesto de mão impaciente, ordenei que saísse da
minha sala. Ele saiu quase correndo. Esquecendo até de
levar o pen drive.
Continuei olhando para a capa na minha frente. Idéia da
Allison... E o sorriso que surgiu em meu rosto foi
absolutamente inevitável.

No final do expediente, mandei que Arlete chamasse


Allison à minha sala. Ela bateu na porta, esperou, e
entrou quando permiti que entrasse.
Me olhou bem dentro dos olhos. Me deliciava vê-la se
debatendo... Ainda não sabia dizer o que eu gostava
mais... quando ela obedecia, ou quando tentava me
desafiar. Não importava, porque em ambos os casos, eu
sempre conseguia exatamente o que desejava.
- Estou dispensada?
Foi o que ela disse, estranhamente fria e calma. A olhei
do jeito gélido que teria feito qualquer outro funcionário
desmaiar:
- Não. Já disse que preciso que você vá hoje até a
minha casa para acertarmos a reunião com os franceses,
Ali.
Ela devolveu o meu olhar sem nem piscar. E respondeu:
- E eu já disse que vou sair com a minha namorada.
Ela estava conseguindo realmente me exasperar. Mas eu
não ia demonstrar, claro:
- Ali...
Comecei a falar. Bem baixo e controlada. Mas
incrivelmente, ela me interrompeu:
- Me demita se quiser. Mas nada vai me fazer ir na sua
casa esta noite. Até amanhã, dona Pamela.
E dizendo isso, saiu!... Porta afora, me deixando
absolutamente paralisada.
Eu adorava um bom desafio, isso era verdade, mas...
aquilo não tinha a menor graça.
Se fosse qualquer outra pessoa, eu demitiria na hora. Se
fosse qualquer outra pessoa, jamais me responderia
daquela forma. Essa era a verdade.
Ali era... Allison. E eu não podia, ainda, me dar ao luxo
de não... precisava... Deixei um suspiro absolutamente
angustiado escapar. Não podia demiti-la, porque...
Nunca, em toda a minha vida, senti tanta...
Fechei os olhos e mordi os lábios. Aquilo era o mais
próximo que eu conseguiria chegar de me odiar.
Mergulhei na banheira quente que Paz preparou, junto
com uma maravilhosa xícara de chá indiano.
Aquilo me fez pensar em Allison. Sentia uma dor
estranha no peito, misturada com um calor insano entre
as pernas ao lembrar daquela primeira vez... Ai, quanta
palhaçada! Eu estava virando uma idiota
sentimentalóide... Absurdamente infame! Não estava me
reconhecendo... Nem me agüentando mais!
Saí do banho, vesti o roupão, fui até a sala. Olhei para o
relógio: 22h. Onde Ali estaria, afinal? Achava que apesar
do que tinha dito, ela apareceria, mas pelo visto...
Não! Não ia deixar aquela menina fazer o que bem
quisesse. Claro que não. Peguei o celular sem hesitar.
Falei rápido demais. Assim que ela atendeu:
- Ali?
O tom de voz dela foi absolutamente sarcástico:
- Dona Pamela? Em que posso ajudar?
- Onde você está, Allison?
Saiu sem querer quase. Ela riu. Ao fundo eu podia ouvir
o barulho... Ela estava num bar... Sozinha?
Acompanhada? Ai, por que isso importava?
Allison aumentou meu tormento respondendo:
- Não é da sua conta.
E... desligou na minha cara!...
Raiva? Não era só raiva o que eu estava sentindo. Era...
ao invés de ficar perdendo meu tempo definindo as
coisas bizarras que me faziam ferver e andar pela sala
sem parar, resolvi pensar e agir.
Precisava descobrir onde Allison estava. Lembrei de uma
maneira muito fácil. Liguei para a casa dela. A secretina
atendeu. Com um recadinho ridículo, daqueles que cada
um fala uma parte:
- Você ligou para Léo...
- E Allison...
Depois os dois juntos:
- Não estamos em casa...
Jura? Fala sério... Porque as pessoas deixavam
mensagens retardadas como essa? Inacreditável...
- Se quiser falar com a Allison, ligue para...
- Se quiser falar com o Léo, ligue para...
Anotei o número, e desliguei sem nem escutar os dois
em corinho novamente:
- Ou então, depois do bipe deixe sua mensagem.
- Leonardo?
- Sim, quem é?
A voz estava meio pastosa, provavelmente o rapaz tinha
bebido um pouco demais. Mas pareceu ficar sóbrio
quando ouviu:
- Aqui é a dona Pamela.
Mudo. Sem uma palavra. Continuei:
- A Ali está com você?
Ele gaguejou, com muita dificuldade:
- A... Allison?... Não... Ela... Está...
Não deixei ele completar:
- Onde ela está?
Perguntei deixando claro que a resposta tinha que ser
clara e imediata. E ele entendeu, e obedeceu, lógico:
- No Bofetada. Na Farme.
Desliguei sem dizer mais nada.

Parei o carro em frente ao Bofetada. Allison estava


sentada com um grupinho numa das mesas na calçada.
Com uma loirinha no colo. O braço em volta da cintura
dela, os rostos encostados, numa intimidade que me
fez...
Contei até dez. Não sei como consegui continuar dentro
do carro. Minha vontade era ir lá e...
Eu só podia estar enlouquecendo. Que horror, que falta
de classe! Aquilo não podia estar acontecendo comigo,
mas estava. Como se fios invisíveis controlassem minhas
ações e movimentos, o terror continuava: peguei meu
celular e disquei o número dela.
Allison pareceu não escutar a princípio. Insisti. Ela
finalmente estendeu o braço - sem desencostar da tal
loirinha um milímetro – e pegou o celular na bolsa. Olhou
o visor, viu que era eu, e... detonou a ligação.
Contei até dez de novo. Respirei profundamente. Os fios
invisíveis voltaram a mover minhas mãos... Allison olhou
para o celular e com um sorriso de satisfação
indescritível, finalmente atendeu minha ligação:
- Pois não, dona Pamela?
Minha voz saiu baixa, no esforço que eu fazia de me
controlar, não querendo deixar transparecer nenhum tipo
de emoção:
- Ali...
Ela não me deixou falar:
- Até os escravos descansam, sabia? Não vai parar de
me perturbar hoje não?
E olhou direto para onde eu estava, como se pudesse me
ver através do insulfilm. Estremeci. Fiquei por um
momento sem palavras. Ela sabia o tempo inteiro que...
Claro... Meu carro não era comum, não se via muitos
como ele pela cidade...
- Ali, entra no carro.
Ela riu. Às gargalhadas. Sem deixar de me encarar. E
disse simplesmente:
- Não.
Insisti, com um suspiro exasperado:
- Ali...
- Eu já disse que não. O que você quer comigo, afinal?
Os olhos dela... continuavam fixos em mim. Minha voz
saiu quase sussurrada, numa tentativa inútil de
disfarçar:
- A reunião com os franceses...
A dela implacável:
- Podemos fazer isso amanhã. Tchau.
Antes que ela afastasse o celular do ouvido, deixei que a
fraqueza me levasse. Minha voz não soou desesperada.
Pelo contrário. Pareceu estranhamente doce e suave:
- Não... Espera...
Mas Allison continuou como se não a afetasse:
- O que você quer, Pamela?
Naquele momento, a impressão que eu tinha era a
mesma que devia ter um recém nascido: sair de um
lugar tranqüilo e confortável, passando por um aperto
sufocante e cair nas mãos gélidas e aterrorizantes do
desconhecido...
Aquilo me apavorava a ponto de enervar:
- Que importa? Eu vim te buscar.
Ela insistiu:
- Me buscar? Pra?...
Não sei como respondi, eu me debatia, como um peixe
fora d'água:
- Estou aqui. Não basta pra você?
- Não. Quero ouvir. Fala.
O medo que eu sentia era incrível. Logo eu, que nunca
tive medo de nada... Minhas mãos estavam geladas. Era
muito difícil respirar, mais ainda falar:
- Eu...
No entanto, Allison continuou a me empurrar, ou puxar,
eu já não sabia mais:
- Pam, é simples. Eu vou te ajudar: por que você veio
me buscar? Quer trabalhar? Quer sexo? O que você quer,
de verdade?
Naquele momento, foi como se a minha mente, e todo e
qualquer tipo de razão ou racionalidade congelasse.
Como se um espírito maligno me controlasse, porque...
dos meus lábios saíram as seguintes palavras:
- Quero você, Allison.
Ela sorriu, e... novamente desligou na minha cara.
Sussurrou algo no ouvido da loirinha, que se levantou.
Se despediu dos amigos rapidamente, se aproximou do
carro. Destravei e abri a porta para que ela entrasse.
Quando Allison sentou no banco ao meu lado, com um
brilho nos olhos e um sorriso que pareceram iluminados,
não resisti: a puxei e mergulhei a boca na dela com
vontade. Allison suspirou, estremeceu, e de início
pareceu derreter. Mas logo depois, murmurou contra os
meus lábios:
- Calma, Pam... Assim eu não consigo respirar...
Fiquei irritada com aquilo. Quem aquela menina pensava
que...
Os pensamentos fugiram quando ela invadiu minha boca
com a língua. Devagar, sem pressa, explorando com
calma. Numa tortura lenta, suave, mas deliciosa
demais...
Ela terminou o beijo e ficou me olhando profundamente,
segurando o meu rosto entre as mãos. E então falou,
seríssima:
- Presta atenção. Até hoje, foi tudo como você queria.
Mas hoje não.
Estremeci. Ela sorriu, e me beijou de leve nos lábios.
Numa carícia delicada, como quem diz: "confia..."
Um gemido involuntário escapou de mim. Sim, eu
sofria... Meio sem saber direito a razão. Uma parte eu
até entendia, outra não. Como se dentro de mim algo se
estendesse, ou abrisse, um tipo estranho de...
dilatação...
Pisquei, ainda buscando a compreensão. Allison não
desviava os olhos dos meus. Talvez entendendo muito
mais do que eu... Ela sorria... E naquele sorriso,
naqueles olhos, eu me perdia...
Mais ainda quando Allison falou:
- Essa noite vai ser do meu jeito, Pam. Você pode aceitar
ou não.
Fiquei olhando para ela em silêncio por alguns instantes.
Com a paciência e a doçura com que falaria a uma
criança, Allison perguntou baixinho:
- E então?
Uma única palavra selou o momento em que parei de
lutar:
- Sim.

A partir daquele momento foi quase como flutuar. Será


que existiam pessoas que viviam assim, com essa
espécie de alívio, leveza e falta de pressão surreais? Era
assustador, é claro. Mas naquele momento, estava
adorando me deixar levar.
Allison sorria, e me guiava. Até a casa dela. Longe,
muito longe, pegamos a Avenida Brasil e a viagem não
acabava.
Não importava. Aproveitei a mão dela, que não me
deixava. Acariciando minha coxa, meu rosto, meus
cabelos, minha mão quando eu passava a marcha...
Parecia tão feliz quanto eu estava. Sorri... era isso que
eu sentia então? Felicidade? Bem maior do que quando a
revista aumentava as vendas ou comprava um belo
sapato... Engraçado... Aquela era uma noite de muitas
descobertas – inúmeras para falar a verdade. E Allison
estava sendo... perfeita... me conduzindo com uma
carinhosa suavidade.
Não reclamei por ter que estacionar o carro na rua – o
prédio de três andares dela não tinha garagem, nem
porteiro, muito menos elevador... Nada disso importava.
Subi as escadas atrás da menina que me levava pela
mão. Como se estivesse enfeitiçada.
Ela abriu a porta, e pude ver que o apartamento era um
ovo, só pelo tamanho mínimo da sala. Ela acendeu a luz
e demos de cara com o amigo dela, o tal de Leonardo.
Ele estava tomando algo numa caneca e chegou a
engasgar. Antes de me dar um boa noite de olhos
arregalados e desaparecer quase correndo atrás de uma
das portas.
- Quer alguma coisa? Café, água?
Allison parecia um pouco tensa, como se a presença do
amigo a tivesse trazido de volta à realidade. Ou melhor:
como se tivesse finalmente se dado conta da irrealidade
do momento.
Eu continuava em transe, sem conseguir falar nada.
Apenas a olhava... Allison repetiu a pergunta, e recusei
com um aceno de cabeça. Novamente me deixei levar
pela mão. Allison parou, acendeu a luz, fechou e trancou
a porta atrás de nós. Olhei em volta: um armário, uma
cama de casal e uma mesinha com um computador, que
ocupavam todo o cubículo que ela apresentou:
- Esse é o meu quarto.
Antes de me beijar e começar a tirar a minha roupa, de
uma forma absolutamente apaixonada e carinhosa, entre
carícias e palavras sussurradas muito diferentes das que
eu estava acostumada.
Continuei tensa, assustada, mal conseguia respirar. Era
como se fosse – e era – a primeira vez... Que alguém
me tocava. Me sentia frágil, insegura, desamparada.
Apavorada. Incrivelmente, Allison percebeu. Olhou bem
dentro dos meus olhos e sussurrou:
- Eu amo você.
Arrepiei. Estremeci. Meu coração foi na boca. Cada
pedacinho do meu corpo passou a ter vida própria.
Correspondi inteira e integralmente à ela, me lançando
de livre e espontânea vontade naquele abismo sem
volta.
E o mundo inteiro pareceu parar de girar só para mim.
Porque magicamente, a palavra "eu" parecia ter virado
"nós"...
Capítulo 25:

****Allison ****

Levamos duas horas para refazer a capa. Léo estava


desesperado. Andava de um lado para o outro dentro da
sala como se quisesse furar o chão. Pra piorar ainda
mais a situação ele batia com os dedos nas coisas, como
se quisesse tirar do lugar. Mexia nos porta retratos que
ficavam na sua mesa... Nos quadros pendurados na
parede, como se eles estivesses tortos, sabe?
- Você tá me irritando, sabia? – disse impaciente.
- Ela vai pedir a minha cabeça Allison! – disse temeroso,
ou melhor: apavorado . – Não vamos conseguir.
- Vamos sim! – peguei o pen drive que estava sobre a
mesa... Pluguei no PC... – Já tá pronto, cara! Olha que
beleza ficou! – disse e virei a tela do micro na direção
dele. Léo estava com os olhos tapados. Ele se recusou o
tempo inteiro a fixar os olhos na direção do
computador.- Abre os olhos agora Leonardo! – ordenei
áspera enquanto arremessava uma borracha na direção
dele.... Ele abriu os olhos... Hesitou um pouco, mas
assim que visualizou o trabalho a sua frente deu um
largo sorriso e me olhou como se as palavras estivessem
presas na sua garganta. O cara ficou emocionado,
acreditam nisso?
- Alli...son – suspirou ao dizer meu nome – Você salvou
a minha cabeça, digo, o meu emprego! – aproximou-se
da tela do PC.... Deslizou os dedos.... – Ficou perfeito!
- Me deve uma pizza – disse satisfeita.
- Te pago quantas pizzas você agüentar comer durante
uma semana.
- Feito! – apertei a mão dele – Você disse uma semana,
hein?
Duas batidas na porta e fomos tirados do nosso
momento de encantamento e paz de espírito pela
secretaria da toda poderosa....
- A chefona quer falar contigo Léo – disse ela com
aquela cara de: "se prepara".
- Vai lá! – toquei o ombro dele no intuito de lhe dar
coragem – Vai dar tudo certo – sussurrei.
- Tira pra mim?
- Claro! – desconectei o pen drive e entreguei-o nas
mãos dele – Qualquer coisa liga pro 190 ou
simplesmente... Grita, tá? – sorri.
- Muito engraçadinha.... – disse e saiu da sala, quer
dizer, não antes de se benzer... Estava juntando uns
papei quando corri até o corredor e impedi
temporariamente que ele entrasse na sala de Pamela...
Puxei seu braço.
- Olha... haja o que houver... Jamais diga que fui eu
quem fez a capa, está bem?
- Mas... Se ela... Se ela... Perguntar?
- Se você der com a língua nos dentes eu quem vou
arrancar a sua cabeça, está bem?
- Putz, Ali! O papel de má é dela.... – colocou a mão no
meu ombro – Vai pra casa ao sair daqui?
- Não... Vou me encontrar com umas amigas em
Ipanema.
- Te encontro depois pra falar sobre o genocídio –
tentou sorrir.
- Hei! Se contar que fui eu quem fez a capa, eu corto o
seu pinto – fiz cara de má.
- A vilã continua sendo a Poderosa, Ali – fez um gesto
para que eu voltasse pra sala.... Dei-lhe as costas, mas
virei-me de frente para ele novamente ao ouvi-lo me
chamar.– Quase não uso – sorriu por entre os dentes
enquanto apontava para as suas calças – Não ia fazer
tanta falta.
Balancei a cabeça negativamente... Podia ter ficado sem
ouvir essa, não é? Sorri do senso de humor dele antes de
entrar no território minado, logo retornei a sala de Léo
para pegar alguns papeis.

Assim que deu meu horário... Recebi uma ligação de


Arlete dizendo que a dona Pamela queria falar comigo.
Gelei, sabe? Toda vez que eu era chamada na sala dela
minhas mãos ficavam geladas e eu sentia no estômago
aquela sensação estranha de que tem borboletas voando
dentro dele. Isso é chato demais, viu?
Bati na porta de Pamela... Estava suando frio... Respirei
fundo ao ouvi-la dizer que eu podia entrar. Empurrei a
porta devagar e entrei... Ela estava linda. Como pode
aquela mulher estar mais linda depois de um dia inteiro
de trabalho? Pamela era assim, estava belíssima sempre.
Tentei não olhar na direção das pernas dela. Isso era
difícil, sabe? Ela estava sempre de saia. As curvas
perfeitas do seu corpo marcando por baixo da roupa, e
suas pernas seminuas eram divinas. Embora minha
calcinha já estivesse molhada, eu precisava ser forte o
suficiente para manter o meu compromisso de hoje à
noite e, não ceder a vontade, digo a necessidade de ir
até a casa dela.
- Estou dispensada? – perguntei mesmo sabendo qual
seria a resposta dela. Pamela me olhou com aqueles
olhos azuis como se conseguisse despir a minha alma.
- Não. Já disse que preciso que você vá hoje até a minha
casa para acertarmos a reunião com os franceses, Ali. –
foi a resposta dela. Gelei ao ouvir o seu tom de voz, no
entanto, não deixei que ela percebesse. Eu não tinha
nada a perder, não é mesmo? A poderosa só queria sexo
comigo, e eu estava apaixonada por ela. O máximo que
podia acontecer é: eu ser demitida, ficar longe daqueles
olhos azuis penetrantes e tentar viver sem tocar aquele
corpo novamente. Missão impossível, eu sei! Mas eu não
queria baixar a cabeça pra ela... nunca mais...
- E eu já disse que vou sair com a minha namorada. –
Fixei o olhar... encarei-a com a finalidade de provocá-la.
Está perdendo o seu brinquedinho Pamela. O que vai
fazer? – pensei. Até esbocei um leve sorrisinho no canto
da boca.
- Ali... – disse numa impaciência evidente. Ela estava
sem palavras? Mas a poderosa não é mulher de ficar sem
palavras. Isso me deixou desmotivada, sabe? Adoro
quando ela me desafia achando que o mundo inteiro é
dela. Me faz feliz dizer a ela que eu pelo menos, não faço
parte do mundo inteiro. Simplesmente porque não tenho
medo dos seus olhares repressivos. Cansei de ouvi-la...
Suspirei aliviada enquanto despejava as palavras na
frente dela...
- Me demita se quiser. Mas nada vai me fazer ir na sua
casa esta noite. Até amanhã, dona Pamela.
O que eu fiz? Sai correndo daquela sala. Não sou de
ferro, oras! Mas duas olhadas daquela que ela me deu
quando fitou os meus lábios e eu abriria as pernas dela
naquela mesa novamente. Putz! Tinha que ter sido um
comentário menos.... Menos... Agressivo, eu sei, mas
quando falamos o que pensamos sai sem pudor mesmo.

Fui pra casa de uma amiga que morava em Ipanema. O


nome dela é Lana. Tem tempo que não nos vemos, mas
hoje no horário do meu almoço eu resolvi ligar pra ela.
Pra minha sorte, Lana está solteira novamente e marcou
com duas amigas no bofetada para uma conversinha
depois do expediente. Aceitei o convite na hora, não é?
Chegamos lá e as duas meninas estavam sentadas a
nossa espera. Meu telefone tocou assim que sentei –me
ao lado de uma ruivinha (heheh... se num puder eu
tiro... hahaha) deliciosa que eu havia sido apresentada.
Atendi com descaso... Era Pamela. O que ela podia
querer comigo àquela hora da noite? Acreditam que a
poderosa queria saber onde eu estava? Quase gargalhei.
Preferi desligar na cara dela. Vocês acham que eu fui
má? Estou tendo aulas com a melhor professora, oras!
Depois que desliguei na cara de Pamela, voltei toda a
minha atenção para as duas meninas que eu havia sido
apresentada. Adorei o papo com a ruiva, mas percebi
que Lana estava muito interessada nela, e vice-versa.
Mudei de cadeira para ficar ao lado da morena que
parecia bem interessada em mim. Antes que eu pudesse
começar um assunto mais íntimo com a morena de olhos
negros que havia chamado a minha atenção pelos fartos
seios exaltados num decote saliente, avistei a irmãzinha
do Léo. É isso mesmo! Os dois irmãos são gays. A
Leandra é uma gracinha. Tem dezoito aninhos. Uma
loirinha linda dos cabelos cacheados. Toda vez que nos
encontramos ela pula no meu colo e quer contar a sua
vida inteira. Dessa vez não foi diferente. Leandra sentou-
se imediatamente no meu colo. Não fiquei chateada, na
verdade, no fundo... Bem lá no fundo... Eu não queria
nada com a morena que estava ao meu lado. Queria
apenas me convencer de que eu era capaz de desejar
outra mulher que não fosse Pamela, mas tava difícil, viu?
Depois que bati o telefone na cara dela, fiquei muito
perturbada. Eu queria estar em qualquer outro lugar,
que ela estivesse comigo.Minutos depois, sem que
Leandra saísse do meu colo. Senti meu telefone vibrar
dentro do bolso da minha calça. Quando olhei no visor e
vi que era Pamela, imediatamente detonei a ligação.
Sim! Eu não estava preparada para ouvir a voz dela
novamente. Eu precisava ser forte. Era questão de
orgulho mesmo, sabe? Para o meu desespero... ela
insistiu.... Respirei fundo....
- Pois não, dona Pamela? – atendi tentando manter a
compostura.
- Ali... – sua voz soou tão melosa que deu medo.
- Até os escravos descansam, sabia? Não vai parar de
me perturbar hoje não? – interrompi-a.
- Nossa! Que carrão parado do outro lado da rua – disse
Leandra. Olhei na direção do carro... Fixei os olhos e não
acreditei no que eu estava vendo... Aquele lindo carro
importado só podia ser de uma única pessoa. Pamela!
Quase enfartei ao constatar que era mesmo ela.
- Ali, entra no carro. – disse tendo certeza que eu sabia
que era ela. Continuei olhando na direção do vidro da
porta do motorista... Gargalhei de nervoso, antes de
dizer séria...
- Não!
O que ela queria comigo? Por que Pamela se dava ao
trabalho de vir me procurar àquela hora da noite? Ela
podia ter quem quisesse! Aposto que Penélope estava só
esperando uma ligação dela para se enfiar debaixo dos
lençóis da poderosa. O que ela esperava de mim, meu
Deus? Será que no íntimo daquela mulher, havia algum
sentimento guardado pra mim? Eu precisava de certezas,
não suposições. Na verdade, as suposições me
arremetiam ao abismo escuro das dúvidas, e viver sem
saber o que esperar de uma relação é doloroso o
bastante para não a querermos mais.
- O que você quer, Pamela? – disse fria....
- Que importa? Eu vim te buscar. – seu tom de voz era
inseguro.
- Me buscar? Pra?... – insisti, se ela não fosse clara, eu
não iria até lá. Podem apostar! Preciso provar que
consigo resistir ao desejo dela.
- Estou aqui. Não basta pra você? – ela se irritou.
- Não. Quero ouvir. Fala. – meus olhos brilhavam na
esperança de que ela dissesse uma única palavra. Era o
que eu queria ouvir. Apenas o que eu queria ouvir para
deixar aquela eclosão de sentimentos vir à tona e
explodir dentro de mim. Meu coração disparou....
- Eu... – ela não conseguia dizer... Mas eu precisava
ouvir...
- Pam, é simples. Eu vou te ajudar: por que você veio
me buscar? Quer trabalhar? Quer sexo? O que você quer,
de verdade? - despejei de uma só vez.
- Quero você, Allison.
Fechei os olhos imediatamente ao ouvir aquela frase. Ela
não disse que me amava, eu sei... Mas ela disse que me
queria. Existem mil formas de dizer a alguém o que
sente, e todas elas são únicas e importantes. Sorri
aliviada, e esperançosa... Desliguei o telefone...
- Leandra – disse no ouvido da menina – Preciso
resolver um assunto muito sério. – ela levantou-se
imediatamente do meu colo. Pisquei pra ela e disse que
depois nos encontraríamos para conversarmos. Voltei
minha atenção para as outras meninas, pedi desculpas e
disse que precisava sair urgente. Elas não questionaram,
apenas a morena disse que iria deixar o seu telefone
com a Lara para que a mesma me entregasse. Sai do
bar... Caminhei em passos lentos até o carro de Pam. Eu
estava em transe, como se tivesse sido abduzida por
extras terrestres e não soubesse mais quem eu sou.
Parei do lado da porta do carona... Ouvi o barulho do
alarme... Entrei... Tentei sorrir pra ela... Meu corpo
inteiro tremia, mas eu precisava me manter firme no
meu propósito de deixar de ser humilhada por Pamela.
Eu não disse nada... Minha chefinha quem puxou-me
violentamente pela nuca e grudou os seus lábios nos
meus... Retribuí o beijo com urgência.... Eu queria saciar
a minha sede daqueles lábios o quanto antes...
- Calma, Pam... Assim eu não consigo respirar... –
sussurrei tentando encará-la nos olhos de pertinho para
saber o que aquele azul deslumbrante queria me dizer.
- Essa noite vai ser do meu jeito, Pam. Você pode aceitar
ou não. – ela continuou em silêncio.... E o medo bateu
na minha porta... - E então? – insisti...
- Sim. – disse sem saber para onde olhar...
imediatamente sorri, e como mágica uma paz estranha e
doce me envolveu naquele instante. Os olhos de Pamela
brilharam ao dizer aquele "sim". Senti o alívio nas suas
expressões... – Pra onde vamos? – perguntou.
- Estou te convidando para entrar na minha vida – disse
enquanto segurava nas mãos dela que estavam geladas
como nunca vi antes. Ela fez que sim com a cabeça... Eu
então respirei aliviada... Fomos por todo o caminho
trocando olhares de cumplicidade... Ela dirigia, e eu me
aproveitava dessa situação para fazer carinhos nos seus
cabelos... Rosto... Seu ombro nu... No auge do calor
incontrolável que me corroia a carne, deslizei minhas
mãos pelas coxas dela... Elevei a sua saia... Senti a sua
pele quente corresponder ao toque das minhas mãos...
Chegamos tão rápido que eu me esqueci que morava tão
longe de tudo....
Tentei decifrar os seus olhares e expressões quando ela
estacionou o carro na calçada e olhou a fachada do
prédio onde eu morava. Era um choque de realidade,
como o Léo gosta de dizer. O que diziam os olhos dela?
Eu não sei! Mas quando ela procurou as minhas mãos
para que subíssemos as escadas de mãos dadas, meu
coração respondeu que eu não precisava ter tanto
medo.
Quando eu abri a porta...demos de cara com Léo sentado
no sofá... Ele nos olhou como quem vê um fantasma, ou
pior: como quem vê a poderosa! O pobre engasgou,
depois sumiu pelo corredor. Ouvimos a porta do seu
quarto bater. Eu sorri... Estava visivelmente nervosa...
Acho que ela também sorriu... Peguei nas mãos de
Pamela e levei-a até o meu quarto... Entramos... Percebi
que ela analisou o local... Não sei se estava se sentindo
desconfortável por estar em um local tão pequeno e sem
conforto, ou se era apenas pena de mim. Aproximei-me
de Pamela parada... olhando fixamente na minha
direção... Segurei sua face com as duas mãos... Seus
olhos buscaram os meus... O tempo pareceu parar
naquele instante. Mergulhei no azul dos olhos dela e
pude sentir pela primeira vez que eles estavam
desarmados. Pamela estava, enfim, ali... De verdade!
Visualizei as expressões dela... Sua face estava calma,
de uma tranqüilidade que me contaminava. Acariciei seu
rosto com a ponta dos dedos e senti as mãos dela
pousarem sobre as minhas... Nossos olhos ficaram
marejados, logo uma lágrima rolou no canto direito dos
seus olhos, senti que no canto esquerdo dos meus
também rolava uma lágrima. Foi uma troca... Na
verdade, aquele momento estava sendo uma troca de
sentimentos... Sensações... Verdades que eram
reprimidas pelo medo de... talvez ser feliz. Eu não sei!
Só sei que nós fechamos lentamente os nossos olhos...
Aproximamos nossos lábios enquanto nossos corpos se
aconchegavam um no outro. Nos abraçamos
calorosamente... A magia das sensações de prazer
foram tomando a nossa pele... Sem pressa nos
beijamos... sussurros e gemidos de prazer foram
trocados entre um beijo e outro. Nossas mãos
percorriam agora o caminho para aumentar o contato
que ansiávamos. Lentamente deslizei os lábios pelo seu
pescoço... Retirei a sua blusa marcando a sua nudez com
a saliva dos meus beijos na sua pele tensa e quente de
desejo. Pamela arqueava o corpo... Oferecendo-se a
mim. Nos despimos mutuamente.... Cobrindo a nossa
pele com as mãos que se acariciavam suavemente...
Aproveitando cada curva.... Milímetro de pele... sem
esquecer de nenhum detalhe. Meus olhos abertos...
Vivos... Decorando a localização dos pêlos que se
arrepiavam com os beijos e caricias... Nuas...
Caminhamos lentamente até a beirinha da cama...
Sentei... Segurei-a pelas mãos conduzindo-a para que se
sentasse no meu colo. Pamela abriu as pernas e tocou o
meu sexo com o seu. Laçou suas pernas na minha
cintura enquanto suas mãos agarravam-me pela nuca...
Minhas mãos nas suas costas apalpavam a sua pele....
Meus lábios percorriam o seu queixo... Ela gemia... Eu
descia a boca pelo seu pescoço... Ela se contorcia nos
meus braços... Passei a língua de leve no seu seio
direito... Pamela forçou minha cabeça para que eu
continuasse com o contato... Mordi... Suguei com
força.... Ela gemeu mais alto... Tremeu excitada...
Aumentou o atrito do seu sexo encharcado no meu...
Também molhado de desejo... Devorei seu seio
esquerdo... Com a ponta dos dedos acariciei... Apertei...
fiz movimentos circulares no outro seio.... Gemi pra ela
ao sentir meu gozo se aproximar... Pamela parou de
rebolar no meu colo.... Não entendi, mas sabia que viria
algo muito bom daquela imaginação fértil... Levantou-se
devagar... Encarando-me com aqueles olhos azuis
faiscando de tesão... Inclinou meu corpo para trás..
minhas costas tocaram o colchão... Ela deitou-se sobre o
meu corpo... Afastou as minhas pernas e ficou no meio
delas... Fechei os olhos aguando pelo momento do
gozo... Seu sexo molhava o meu enquanto ela se
movimentava em cima de mim... Nossos líquidos
inundavam as nossas coxas.... Caiam pelos
lençóis... Arranhei as costas dela implorando para que
Pamela continuasse com aquele contado... Senti os seus
lábios grudarem no meu ouvido fazendo o meu corpo
inteiro se arrepiar...
- Diz o que está sentindo Allison – falou com aquela voz
rouca que me tirava o chão de baixo dos pés.
- Te...são.... – sussurrei com dificuldade – Deixa eu
gozar pra você – agarrei o seu pescoço prendendo a sua
respiração próxima ao meu ouvido.
- É o que você quer? – perguntou maliciosa.
- Quero o seu amor – busquei o seu olhar ao dizer essa
frase. Pamela me olhou.... Fechamos os olhos ao mesmo
tempo, enquanto os nossos corpos se sacudiam num
orgasmo profundo... Aumentamos os movimentos dos
quadris na medida que aumentava os nossos gritos de
prazer.... Gozamos... Mas ainda não estávamos
saciadas... Troquei de posição com ela na cama...
Aprisionei os seus pulsos... Beijei os seus lábios
enquanto tentava restabelecer a minha respiração...
Ofegávamos juntas... Nossos corações pareciam palpitar
na mesma sintonia... Era um momento perfeito... Nos
olhamos assustadas com a energia daquele orgasmo...
Era como se não precisássemos nos tocar para sentir
aquele prazer... Mas eu queria... Precisava beber daquele
gozo... Desci pelo seu corpo... deslizando as mãos, as
pernas, os braços... Na sua pele... sentindo os seus
arrepios... Ouvindo os seus gemidos... Visualizando as
suas expressões... Afastei as suas coxas... Ela apoiou-se
nos cotovelos... Queria me ver tomando-a na minha
boca... Passei a língua envolta do seu sexo... Pamela
inclinou a cabeça para trás... Aprovando aquela tortura...
Percorri as suas coxas com os lábios... Toquei-as com os
dentes... Mordendo-as de leve... passei a pontinha dos
dedos no seu clitóris e ela gritou querendo mais...
Mergulhei meus dedos dentro dela de uma só vez...
Gemi ao sentir que fui recebida por um sexo que latejava
de desejo... Deslizei a língua... Chupei... Lambi... Os
sussurros e gemidos que eram proferidos pelos lábios
dela se intensificaram... A penetrei com mais força... Ela
me recebeu com aquela intensidade de sempre...
Rebolou nos meus dedos.... Inclinou o quadril para frente
buscando a minha boca....
- Também te quero Allison... – sussurrou ofegante.
Estremeci ao ouvir aquela voz cheia de dificuldade... Eu
estava contaminada de desejo... Elevei o meu corpo...
Virei-me e ofereci o meu sexo a ela... Senti suas mãos
famintas puxarem-me pelas minhas nádegas... Nos
encaixamos... Gozamos uma pra outra com uma
intensidade quase que surreal...
Dormimos abraçadas... Exaustas de tanto fazer...
Amor...

Capítulo 26:

***Pamela***

Acordei no dia seguinte completamente perdida. Como,


quando, onde eu estava? A única coisa que importava
era com quem... E isso, eu sabia muito bem. Allison
dormia, o corpo grudado, abraçado ao meu, os braços
me apertando com força, como se tivesse medo que eu
pudesse desaparecer.
Me movi um pouco e ela acordou. Mergulhou os olhos
fundo nos meus. E meu peito doeu...
- Bom dia! - Ela disse.
Palavras? Não mesmo. Respondi com um beijo intenso.
Allison suspirou e correspondeu apaixonadamente.
Tudo bem, eu estava curtindo aquilo. Por isso me permiti
aproveitar o momento. Pensaria mais tarde, quando
tivesse... tempo...
As mãos dela já me percorriam, me fazendo prisioneira...
Sem fôlego, sem chão, sem razão, me entreguei
novamente...
Ficamos ali deitadas nuas, frente a frente. Os corpos
colados, nos beijando com uma necessidade extrema.
A mãos de Allison entre as minhas pernas, tocando,
acariciando, entrando deliciosamente... Fiz o mesmo com
ela. Cada vez mais e mais palpitantes, os gemidos
aumentando conforme os dedos aceleravam o ritmo da
nossa... do nosso... Aquilo não era sexo, era...
Loucura... Crua e pura, um sabor envolvente que fazia
com que tudo que eu já tinha vivido até aquele momento
parecesse pouco e em vão...
Gemi alto, um arrepio me percorrendo quando Allison
sussurrou em meu ouvido:
- Geme pra mim, Pam... Eu morro de tesão...
Me fazendo gemer novamente, e tornando impossível
segurar por mais tempo a explosão de prazer que já me
atingia com força porque... Allison me segurou pelos
cabelos e ordenou:
- Abre os olhos...
Nossos olhos se encontraram, ela estava absolutamente
ofegante, mas conseguiu repetir a frase que já tinha me
feito derreter na noite anterior:
- Eu amo você...
Olhos nos olhos, de uma forma tão íntima que parecia
não existir mais entre nós nenhum tipo de fronteiras,
gozei com ela, me sentindo estranha e
assustadoramente inteira...

Nunca pensei que algo ou alguém pudesse me deixar


sem ação. Até me ver sentada no banquinho
desconfortável da minúscula cozinha, vestida num
shortinho e uma camisetinha de algodão que Allison
devia ter comprado em algum tipo de... arg...
liquidação...
Apesar de tudo, eu estava ali. Enquanto ela terminava de
fazer café e colocava um bule de... não sei, algum tipo
de latão? - na minha frente.
"Do meu jeito, Pam" – ela tinha dito na véspera. Eu
concordei, é claro, mas aquilo tinha que ter um limite. O
meu foi quando ela disse:
- Sirva-se.
Sinceramente? Ela esperava que eu fosse colocar o café
na minha xícara sozinha? Eu nem imaginava um dia ter
que fazer isso...
Percebendo minha indignação, Allison sorriu. E insistiu:
- Vamos lá... Não vai cair a sua mão...
Tive que protestar:
- Allison, isso é totalmente...
Mas ela não me deixou falar. Me calou com um beijo.
Daqueles que faziam com que eu não conseguisse mais
raciocinar. Depois, se colocou atrás de mim, me
abraçando por trás, a boca colada na minha nuca,
causando arrepios, as mãos conduzindo as minhas, me
fazendo pegar a xícara e o bule e me servir.
- Viu só? Não doeu nadinh...
Não deixei que ela terminasse a frase... Calei a boca de
Allison com a minha...
Depois de finalmente conseguir sair do chuveiro onde a
coisa que menos fizemos foi tomar banho, com os
cabelos insuportavelmente molhados – Allison não tinha
secador de cabelos. Inacreditável! – e sem lavar – os
shampoos e cremes eram de péssima qualidade, todos
nacionais – deixei Allison na revista e fui para casa. Ela
estava atrasada. Eu não tinha hora para chegar.
A experiência com Allison tinha sido perturbadora
demais. Precisava de um tempo sozinha... para...
precisava... ah, sei lá!
Em casa, mandei Paz preparar meu banho, enquanto eu
tomava café da manhã de verdade. Estava deitada na
banheira, completamente relaxada, querendo esquecer o
quanto o lugar que Allison morava era simplesmente...
esquecer era o que eu menos queria, porque
incrivelmente, eu nem tinha me incomodado. A
impressão que tinha ficado era muito agradável, por
mais que eu quisesse não conseguia negar a verdade...
Foi quando Paz, muito sem graça, apareceu para
interromper meus pensamentos:
- Dona Pamela, desculpe, mas... seu pai no telefone...
Tirei a máscara do rosto. Eu estava estranhamente bem
humorada:
- Agora que você já incomodou, não adianta se
desculpar.
E peguei o celular que a mão trêmula me estendia. Paz
pediu licença e se retirou de um jeito... muito mais do
que rápido.
- Alô, pai?
A voz dele soou preocupada:
- Filha, onde você está?
- Em casa. Por quê?
Ele ainda parecia bastante desconfiado:
- Te liguei várias vezes, passei na revista, e nem a Arlete
sabia de você...
Aquilo conseguiu me irritar:
- Desde quando tenho que dar satisfações da minha vida
a você?
Ele riu. Meu pai sempre se divertia às minhas custas.
Adorava rir da minha cara... Aquilo me tirava do sério...
Mas por outro lado, a voz dele soou carinhosa e bem
humorada, exatamente como ele sempre fazia desde que
eu era pequena, dissipando toda a minha raiva:
- Meu benzinho... sabe muito bem que da sua vida
particular eu prefiro não saber nada. Principalmente
depois de certas notas escandalosas em alguns jornais e
revistas... Eu só... me preocupo com você, filha. Não
quero que te aconteça nada de mal. Você é tudo o que
eu tenho, sabe?
Chegava a ser hilário. Meu pai tinha tantos bens, ações,
empresas, imóveis e etc que seria impossível
enumerar... E me vinha com essa... Não dava para
acreditar, muito menos entender. Realmente, meu pai
era... um excêntrico. Continuou como se nada tivesse
acontecido:
- Vamos almoçar?
- Por quê? Algum motivo em especial?
Ele continuou com a mesma voz tranqüila e serena:
- Pamela, eu sou seu pai. Não preciso de um motivo
especial para querer te ver de vez em quando, não acha?
Suspirei fundo. Meu pai e suas bobagens sentimentais:
- Está bem. Onde?
- Eu passo aí para te buscar.
- Não precisa. Te encontro lá.
Ficamos assim, nessa discussão boba, até convencê-lo
de que eu não tinha mais seis anos de idade, e poderia
perfeitamente me encontrar com ele lá. Ele se despediu
com a frase de sempre:
- Beijos, minha florzinha.
Ai... Aquilo me matava! Um horror! Surreal!
Ele adorava provocar. Fingi a maior indiferença possível,
como se aquele tratamento imbecil não me incomodasse,
encerrando a conversa com a minha resposta usual:
- Tchau, pai.

O almoço transcorreu tranqüilamente. Até o momento


em que meu pai, me olhando profundamente nos olhos,
disse com uma precisão cirúrgica:
- Você está diferente.
Teria engasgado, se eu não fosse... eu. Ele prosseguiu:
- Seus olhos estão... Pamela, você está apaixonada!
Eu ri, tentando ser convincente em minha negação,
mas... ele nem me deixou falar:
- Por quem?
Nesse exato momento, meu telefone tocou. Olhei no
visor: Allison. Se eu tivesse parado um único segundo
para pensar, não teria feito o que fiz, mas algo dentro de
mim falou mais alto, quando atendi o celular com o
coração acelerado e um sorriso bobo, feliz nos lábios:
- Alô?
A voz de Allison soou estranha do outro lado. Um tom
que eu não consegui identificar:
- Pam?
Meu pai me observava. Atentamente. Ainda assim minha
voz insistiu em sair meiga, quase carinhosa:
- Eu. Fala.
Ela ficou um tempo em silêncio. Depois falou com uma
certa dificuldade. Como se lutasse contra si mesma:
- Onde você está? Liguei pra sua casa e você não
estava... Fiquei... preocupada...
O que era aquilo, afinal? O dia mundial de ser perseguida
e vigiada? Com a desculpa de que se preocupavam
comigo, como se eu fosse uma idiota incapaz? Aquilo me
deixou muito mais do que irritada. Tanto que nem
respondi. Deixei escapar um suspiro exasperado.
Imediatamente ela pareceu surtar:
- Você não está com a Penélope, está?
Nunca, em toda a minha vida, alguém tinha falado
daquele jeito comigo. Nem mesmo o Fábio, ou qualquer
um de meus namorados. Todos eles tinham a noção do
perigo. E jamais teriam coragem. Mas isso, obviamente,
não era o que acontecia com Allison.
Naquele momento, eu tinha que ser firme. No mínimo
responder: "Não é da sua conta, Allison". Mas ao invés
disso, o que foi que eu fiz? Ignorei completamente todo
e qualquer tipo de racionalidade. Os fios invisíveis
continuavam a me dominar. Isso ficou claro quando da
minha boca saiu, num tom incrivelmente suave:
- Estou almoçando com o meu pai, Allison.
Ouvi um suspiro aliviado. E depois:
- Vem logo. Sem você essa revista é um tédio, sabe?
Calmo demais...
A voz dela soou doce, mas com aquele jeitinho safado
que era marca registrada de Allison... Eu gostei, e não
consegui deixar de sorrir, parecia uma retardada...
- Daqui a pouco estou aí.
Depois de um tchau sedutor, sussurrado, muito mais do
que melado - e que eu, de forma absolutamente
inesperada, respondi da mesma forma - ela desligou.
Guardei o celular. Meu pai me encarava, com um enorme
sorriso nos lábios:
- Allison? Sua assistente?
Não precisou dizer mais nada. Ele sabia. Estava na cara.
Eu já não conseguia disfarçar, muito menos negar... E o
mais engraçado: ao invés de ter uma reação normal, que
seria... ficar furioso, no mínimo – afinal, além de mulher,
Allison era... uma de nossas empregadas... – ele parecia
estranhamente feliz. Mas aquele era o tipo da conversa
que eu não fazia questão de continuar:
- Por favor, pai. Não fala mais nada.
Ele acariciou o meu rosto suavemente. Nos olhos dele
brilhava uma quase pena... Não, parecia mais... Uma
espécie de empatia intensa, como se pela primeira vez
pudesse entender o que eu estava vivendo...
- Se você mudar de idéia, e quiser conversar sobre isso,
é só falar. Não é nada demais, Pamela. Faz parte da
vida.
Sacudi a cabeça, negando tudo aquilo:
- Não da minha.
Meu pai sorriu. Como quem ri da teimosia boba de
criança que não sabe o que diz. E falou:
- Não adianta. Você pode lutar, negar, fugir, mas só
existe uma única forma do amor não ser uma coisa
triste.
Era a primeira vez que meu pai dizia algo que realmente
me interessava. Perguntei, quase assustada:
- Qual?
A resposta veio com um olhar firme, decidido. Muito
diferente daquele olhar perdido que ele sempre tinha
quando tentava falar sobre esse assunto comigo:
- Vivê-lo intensamente. Esqueça o resto, minha filha, e
seja feliz.

Capítulo 27:

*** Allison ****

Depois que Pamela me deixou na revista eu fiquei


pensando em como a noite havia sido perfeita. Caramba!
Vocês tinham que ver a carinha dela quando eu disse
que ela mesma iria se servir. A poderosa tá muito mal
acostumada mesmo, viu? Sorri, achando graça do meu
comentário. Alcancei o elevador... Continuei sorrindo.
Era bom demais pra ser verdade. Assim que eu
encontrar o Léo, vou perguntar a ele se viu a "Poderosa"
lá em casa, ou se tudo o que eu vivi ontem a noite não
passou de um sonho. Eu sei que ela me trouxe aqui na
revista, me deu as ordens sobre o que fazer na ausência
dela e foi pra casa. Provavelmente para tomar um banho
com sais naquela banheira chique da sua suíte. Balancei
a cabeça negativamente, sorrindo das caras e bocas que
ela fez... Primeiro pelo secador que eu não tinha, depois
pelo café que ela mesma teve que se servir. O elevador
chegou no andar desejado... Desci... caminhei em passos
lentos, quase relaxados pelo imenso corredor que me
levaria direto até a sala de Léo. Não foi preciso,
encontrei-o próximo a uma outra sala, a da diretoria.
- Perdido por aqui? – perguntei-o com um sorriso
enorme estampado no meu rosto.
- Esse seu bom humor me irrita, sabia?
- Me diz, Léo! Você viu a Pamela lá em casa ontem?
- Tá doente? – colocou a mão na minha testa – Eu não
vi nada! Eu não sei de nada! Gosto muito do meu
emprego e não vou admitir nem pra você que a poderosa
esteve na sua cama ontem a noite – se benzeu... Eu
continuei rindo da cara dele – Cruz credo! Imagina se ela
cogita a possibilidade que eu vou espalhar essa história
por aí?
- Foi demais! – suspirei.
- Eu não quero saber, Allison! – tapou os ouvidos –
Quanto menos eu souber dessa noite mais salvo o meu
emprego estará – puxou-me para um canto – Estou com
medo dela me despedir só pelo fato de eu morar com
você, e estar em casa justamente quando você a levou
lá.
- Você tá neurótico, Léo!
- E você está louca para ter levado a dona Pamela no
nosso humilde alojamento!
- Hei! Ela gostou de dormir lá.
- Acorda, Allison! – me sacudiu – a toda poderosa deve
ter odiado dormir lá! Onde ela está agora?
- Foi pra casa, oras! Tá cansada.
- A chefinha foi pra casa se curar, extinguir, se livrar...
do momento de desequilíbrio profundo por ter ido dormir
em um lugar que ela não esteve nem nos seus piores
pesadelos.
- Você não vai conseguir me envenenar.
- Você está completamente perdida nas mãos dessa
mulher, Allison! – disse antes de me dar tchau e sair em
direção da sua sala... Virou-se novamente de frente pra
mim, como quem esquece alguma coisa – Pensa bem –
disse e dobrou o corredor.
Fiquei parada por alguns minutos refletindo nas
palavras duras de Léo. Arlete passou por mim... Voltou
até onde eu estava....
- Você está bem?
- S...sim.
- Ah, Ali! A dona Pamela ligou e disse que você fará o
relatório da reunião com os franceses.
- S...sim... – fitei-a sem saber como lhe fazer uma
pergunta – Ela disse se viria hoje? – disse num impulso.
- Virá no final da tarde – percebeu a minha total e
completa curiosidade.. – Ela não disse, mas deve ter
agendado almoço com alguém – completou.
- Ah, sim! Claro... Deve ser isso... – passei as mãos
pelos cabelos... Nervosa... preocupada... Furiosa por
estar me corroendo de ciúmes daquele... Almoço.

As horas não passavam.... Qualquer barulhinho na sala


ao lado me fazia pular da cadeira e bater na porta-
fronteira para saber se Pamela havia chegado. Liguei
para Arlete inúmeras vezes para tentar descobrir se ela
tinha notícias do paradeiro da nossa chefinha. Desisti,
Arlete sabia tanto quanto eu: Pamela não dava
satisfações a ninguém. Me contorci na cadeira...
Relatório? Uma ova que eu terminei. Minha cabeça
girava... Girava.... E não saia do lugar. Meus
pensamentos estavam aprisionados em... Pamela.
Aqueles olhos azuis dela estariam olhando pra onde
nesse momento? Isso enlouquece, viu? Levantei-me de
sobressalto... Fiquei andando pela sala com o celular nas
mãos...
- Ligo ou não ligo? – pensei. Disquei o número dela –
Ligo sim!
Pamela atendeu completamente desconcertada... Nesse
instante passaram mil coisas na minha cabeça... Ela
podia estar num motel com uma desconhecida... Em
casa com um cara, vai saber, não é? Ou pior! Ela podia
estar almoçando com Penélope! Isso sim me fez perder o
controle da situação. Tanto que perguntei se ela estava
na companhia daquela mulherzinha. Respirei aliviada ao
descobrir que Pamela estava almoçando com o sogrão,
digo, com o pai dela. Não dá pra explicar como a minha
fisionomia mudou de apavorada para tranqüila em
frações de segundos. E sabe o que é mais engraçado
nisso tudo? É que Pamela hesitou um pouco, mas me
disse que estava com o pai. Ela podia ter me mandado ir
a merda, não é? Seria mais provável. Desliguei o
telefone aliviada. Fui até almoçar... Demorei um pouco
mais na rua... Quando eu retornei... Passei na frente da
mesa de Arlete na esperança que ela me desse ma boa
notícia.
- A poderosa já está ai dentro. - Apontou a sala.
- Que ótima notícia! – pensei – Que bom, tenho que
falar com ela... Urgente – entrei na sala sem nem
mesmo bater... Perdi o ar ao ver Pamela tomando um
café com o pai. Pensei em sair imediatamente dali,
tamanho foi o meu constrangimento. Mas que droga!
Arlete poderia ter me dito que ela não estava sozinha,
mas também. Nem dei tempo dela dizer mais nada.
- Des...Culpa... – disse completamente desconcertada.
- Ali...son – me encarou. O senhor simpático que se
intitulava pai dela, levantou-se... Caminhou na minha
direção exibindo um sorriso paternal que me deixou
completamente... Imóvel.
- Ora, ora... – disse ele simpático – Assistente da minha
filha.
- Boa tarde, Sr. Álvaro – apertei a sua mão estendida.
Percebi que Pamela estava desconfortável na sua cadeira
– Como tem passado? – tentei ser educada.
- Muito bem, querida! – colocou a mão no meu ombro,
conduzindo-me para mais perto da mesa de Pamela –
Estou surpreso com o seu desempenho aqui na empresa.
Pelo que pude notar, dividir as responsabilidades de
algumas tarefas com uma assistente eficiente como
você, fez a minha filha Pamela melhorar muito o humor.
- Menos, pai – repreendeu-o – O senhor já não estava
de saída?
- Ah, sim! – o homem olhou no seu relógio de pulso –
Que pena, tenho um compromisso inadiável. Minha filha,
por que não convida a Allison para jantar na minha casa
qualquer dia desses?
- Prometo... Que... – levantou-se e veio até o senhor
para conduzi-lo até a porta - Pensarei nisso – abriu a
porta – Nos falamos outra hora, está bem?
- Claro, filha! – deu-lhe um beijo no rosto – Até logo,
Allison.
- Até, Sr. Álvaro – disse num suspiro. Pamela fechou a
porta e veio na minha direção... Ela estava... Estava...
furiosa! Ergueu a sobrancelha e me encarou. Evitei o
início da discussão agarrando-a pela nuca e selando um
beijo cheio de saudade naqueles lábios cheios de feitiço.
Ela tentava me empurrar ao mesmo tempo em que
correspondia ao beijo...
- Alguém pode entrar, Ali – sussurrou com seus lábios
presos nos meus.
- A Arlete tem que anunciar... primeiro. – disse ofegante
enquanto a comprimia nos meus braços sentindo o
contato dos seus seios nos meus... Suas coxas nas
minhas... Seus braços envolviam o meu pescoço...
Nossas línguas bailavam dentro das nossas bocas...
Até... O barulho da porta nos fazer dar um pulo para
trás... Bati com as costas na mesa, Pamela quase caiu ao
tropeçar no carpete. Sr. Álvaro nos olhou com ar de riso.
Posso arriscar dizer que ele não presenciou a cena, mas
ficou intrigado com as nossas faces assustadas, ah, isso
sim!
- Jantar na minha casa amanhã a noite? – disse ainda
com a mão na maçaneta.
- Ok, pai! Você venceu – concordou tentando se
recompor do susto.
- Às sete, não se atrasem – sorriu – Será um prazer tê-
la em minha casa, Allison.
- O...O...Prazer será todo meu, Sr Álvaro – tentei
respirar após dizer essa frase. Ele fechou a porta...
Pamela caminhou completamente sensual até a porta....
Depois do gesto de trancá-la, ela ficou encostada na
mesma como se me chamasse. Encarei os seus olhos
azuis e sorri pra ela. Caminhei lentamente na sua
direção. Meu coração acelerava de desejo... paixão...
pulsava de amor por ela. Apoiei as mãos espalmadas
entre a porta e o pescoço dela... Continuei fitando os
seus olhos... Acompanhei o seu gesto de umedecer os
lábios com a pontinha da língua e depois sorrir pelo
cantinho da boca...
- Senti saudades – sussurrei, logo grudei o meu corpo
ao dela... Ouvi o seu gemido próximo ao meu ouvido,
depois ela me deu uma mordida considerável no
pescoço. Agarrou-me com força pela nuca... Deslizei
minhas mãos pelas laterais do seu corpo... Ergui a sua
saia... Elevei a sua perna esquerda... Afastei um pouco o
meu corpo, logo, enfiei os dedos pelas laterais da sua
calcinha... Ela gemeu mais alto... Apertou o meu pescoço
com as mãos... Mordeu a minha orelha...
- Estou toda molhada pra você. – estremeci com as
palavras que ela pronunciou com aquela voz rouca. A
penetrei com força fazendo as costas de Pamela baterem
na porta de madeira. O barulho foi inevitável. Os
gemidos e sussurros se intensificaram sem que nós duas
pudéssemos controlar. Eu estava cada vez mais dentro
dela... Seu sexo encharcado facilitava a entrada dos
meus dedos... Minha respiração descompassada
acariciava a nuca daquela mulher excessivamente
sedutora... Pamela me apertava, me implorava que a
comesse mais rápido... Os seios dela estavam rígidos a
ponto dos bicos serem sentidos pelos meus. Pamela
gozou no mesmo instante em que bateram na porta...
Nós não conseguíamos respirar... O cheiro de sexo
circulava por todo o ambiente... Nos olhamos sem saber
o que fazer....
- Você manda, eu obedeço – disse passando as mãos
pelos cabelos tentando ajeitá-los. Pamela abaixou a
saia... Ajeitou a blusa, depois caminhou lentamente até a
sua cadeira e sentou-se.
- Abre a porta Ali – disse com o tom de voz altivo. Abri a
porta. Arlete entrou reparando no ambiente. Olhando pra
minha cara como se me perguntasse o que estava
acontecendo.
- Desculpe incomodar, dona Pamela – disse temerosa.
Pamela a olhava como quem olha um inseto. Putz! Isso
intimida qualquer um – Esses documentos precisam da
sua assinatura com urgência.
Ela não disse nada... Apanhou a papelada nas mãos...
Olhou... Em seguida distribuiu três assinaturas.
- Pode ir – disse sem sequer olhar na direção de Arlete.
A secretaria passou por mim como um furacão.
- Pam...
- Você também pode ir, Ali – interrompeu-me.
- Não... Não vai precisar mais de mim?
- Se eu precisar te chamo, está bem?
- Está – respondi sem conseguir entendê-la. Será que
ela nunca vai mudar? Já estava caminhando em direção
a porta anexa a da sala dela quando a ouvi me chamar
novamente. – Pois não?
- Sairemos daqui amanhã direto para a casa do meu
pai, certo?
- Sim...Senhora.
- Pode ir.
Balancei a cabeça negativamente e saí da sala...

Capítulo 28:

***Pamela***

No dia seguinte, quando o expediente acabou, uma


Allison absolutamente sorridente entrou na minha sala...
sem bater.
Eu estava profundamente irritada. Ela sabia, impossível
não perceber. Aquele era para mim, o começo de um
pesadelo. Daqueles que a gente sabe que não tem como
conter.
Jantar com Allison na casa do meu pai... Não sei o que
me apavorava mais... Allison, ele, ou eu mesma?
Minha voz saiu tensa, mas... suave. O tom que parecia
vir sem querer sempre que eu falava com ela:
- Vamos?
Allison me seguiu sem dar uma palavra. Incrivelmente
inteligente ela. Tinha, no mínimo... bom tato. Eu
realmente não estava para conversa. Liguei o som do
carro, para não dar espaço para palavras. Elas tinham se
tornado absolutamente dispensáveis a partir do
momento em que eu tinha me permitido... despencar no
inacreditável...
Quando parei o carro em frente a casa do meu pai,
Allison estava paralisada, sem respirar. Da guarita, o
segurança abriu o portão sem nada perguntar. Conhecia
meu carro, e a placa. Contornei o jardim que meu pai
adorava. Parei em frente à escadaria da porta principal
do enorme casarão de dois andares. Desci do carro.
Allison me seguiu. Tentando disfarçar, mas era evidente
que estava impressionada:
- Puxa... Sua infância não deve ter sido nada fácil...
Aquilo me fez... rir! Olhei para ela, me olhando com
aquele jeitinho implicante e safado. Achando incrível
como ela conseguia fazer meu humor melhorar...
O manobrista totalmente uniformizado se aproximou.
Antigo, mais de 20 anos de casa, como todos os
empregados de meu pai.
- Boa noite, dona Pamela.
- O que tem de boa?
Respondi, atirando a chave do carro. Ele se esforçou,
mas... não conseguiu pegar no ar como fazia anos atrás.
- Você está velho, Victor. Hora do meu pai te
aposentar...
Ele me olhou magoado. Exatamente como eu queria e
adorava. Allison me seguiu. Pela respiração dela eu podia
sentir que estava revoltada. Antes que eu chegasse na
porta, ela me puxou pelo braço. Reprovou:
- Precisava tratar o senhor daquele jeito, Pam?
Olhei para ela perplexa... Será que Allison não entendia
nada?
- É só um empregado, Allison...
Os olhos dela se fixaram profundamente nos meus.
Daquele jeito que só Allison conseguia ter coragem de
me olhar. Antes de perguntar:
- E eu? Também sou só uma empregada?
Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu:
- Boa noite, dona Pamela!
Olhei para Allison tentando fazer com que ela
entendesse:
- Viu? São todos iguais...
Entrei, passando por Consuelo sem nem cumprimentar.
Apenas tirei o casaco e atirei em cima dela, que disse:
- Seu pai está no escritório...
A fuzilei com o olhar. Era por isso que eu odiava ir na
casa do meu pai. A criadagem era... abusada demais.
Além do fato de me conhecerem desde criança, ainda
tinha o agravante de meu pai insistir em tratá-los quase
como iguais. Vergonha, absurdo total! Imediatamente a
coloquei no lugar:
- Ninguém te perguntou nada.
Segui pelo corredor, sem olhar para trás. Allison deu boa
noite para ela – eu merecia! Cercada por idiotas que
insistiam em ser simpáticos... - e depois me seguiu
quase correndo.
Parei na porta do escritório, olhei para Allison, e disse:
- Nunca, jamais volte a tratar pessoas inferiores a você
como iguais.
Ao invés de olhar para mim, Allison estava... com o olhar
parado, completamente sem graça. Me virei e percebi o
porque. Meu pai, parado com a porta aberta às minhas
costas. Os olhos dele brilharam, decepcionados, como se
não acreditasse. Não entendi a razão, uma vez que eu
não tinha dito nada demais. Nada que eu já não tivesse
dito milhares de vezes naquele mesmo lugar...
- Pensei que você tivesse mudado, Pamela. Mas parece
que eu estava enganado.
- Nossa, pai... Mudar para que? Me acho perfeita, sabe?
Passei por ele, e me sentei num dos sofás. Meu pai me
ignorou completamente. Toda a atenção dele estava
voltada para Allison. Com um sorriso muito mais do que
simpático, carinhoso até demais, estendeu a mão para
ela, dizendo:
- Boa noite, Allison. Seja bem vinda. É um prazer
recebê-la em minha casa. Você não sabe ainda, mas é
muito importante para a minha filha...
Prendi o gemido que subiu por minha garganta nos
lábios. Se olhar matasse, meu pai cairia morto ali
mesmo, porque o meu naquele momento foi uma bomba
H...
- Pai!
Ele riu. E continuou a me envergonhar:
- Desculpe a minha filha... Como você já sabe,
infelizmente doçura e suavidade não são o forte dela,
mas... Você não deve se acostumar. Ela precisa e pode
mudar.
Minha cabeça se moveu de um lado para o outro,
negando inconscientemente aquela situação totalmente
surreal. Que continuou:
- Pode contar comigo se precisar.

No decorrer da noite, a situação só fez piorar. Meu pai


parecia encantado por Allison. Ouvia atentamente tudo o
que ela dizia.
Nem se importou quando ela se atrapalhou com os
talheres, sem saber qual usar. Expliquei:
- Eles estão em ordem, Allison. É só você usar os de
fora, cada vez que trocarem o prato. E os copos...
Meu pai nem me deixou terminar:
- Não se preocupe, Allison. No fundo nada disso importa,
sabe?
Encorajada, Allison ainda completou:
- Eu também acho. Mas... Algumas pessoas dão
importância demais a formalidades...
Os dois me olharam. E depois riram, com cumplicidade.
Quando pensei que não pudesse piorar, percebi que
estava enganada:
- O que você pensa sobre a "Gente Chique", Allison?
Completamente à vontade, Allison começou a falar. Fez
várias críticas... Eu estava... sem saber até quando
conseguiria agüentar. Meu pai escutava, concordando.
Parecendo bastante impressionado. Quando Allison
começou a dar idéias, propor mudanças, foi demais.
Tentei cortar, mas...
- Quieta, Pamela. Quero ouvir o que Allison tem para me
dizer.
Entrei no carro com Allison ao meu lado. Nem com o final
daquela experiência terrível consegui me sentir aliviada.
Não estava acostumada a ser a vítima, normalmente era
eu quem torturava...
A alegria evidente de Allison – ela só faltava cantar do
meu lado! - só servia para aumentar ainda mais a minha
raiva. Mas apesar de tudo – me maldizendo por dentro –
eu queria, desejava, precisava ter Allison na minha cama
a noite inteira... Por isso engoli a irritação, e fiquei
calada.
- Gostei muito do seu pai. E adorei o jantar.
A pouca, quase inexistente paciência que eu tinha foi
para o espaço:
- É mesmo? Eu me senti um fantasma... Vocês dois
praticamente me ignoraram a noite inteira... Se
adoraram, não é mesmo?
Allison me olhou boquiaberta. Sem acreditar. Meu tom
de voz revelava muito mais do que eu gostaria, muito
mais do que eu me permitiria em condições normais.
Mas naquele momento, eu já não conseguia fingir a
indiferença de praxe...
- Pam, você está... enciumada?
Dei uma risada. Tentando ser convincente em negar,
mas... Allison me beijou no rosto, acariciou meus
cabelos, quase explodindo de felicidade. Resisti a
princípio, tentando me soltar. Mas ela insistiu, me
beijando mais e mais:
- Pois fique sabendo que meu sogrão e eu temos uma
coisa em comum...
Sogrão? Mais do que sorrindo, eu estava rindo. Allison
era... instigante era pouco, ela era... de um jeito que eu
nunca tinha visto igual. Parei no sinal vermelho. Olhei
para ela de uma forma que fez com que os olhos
castanhos cintilassem. Perguntei:
- O que?
Ela abriu um sorriso incrível. Antes de responder:
- Nosso amor por você.
Os fios invisíveis voltaram... A olhei como eu nunca
pensei ser capaz... Segurei o rosto dela entre as mãos e
mergulhei os lábios nos de Allison com um suspiro
apaixonado...
Entrei no apartamento agarrada em Allison, sem nem me
importar se Paz estava ou não acordada. Aproveitei o
momento em que paramos para respirar para a puxar
pela mão até a cobertura. Me apoiei no parapeito,
apreciando a vista. Allison me olhou, depois me abraçou
por trás, o corpo grudado no meu enquanto sussurrava
em meu ouvido:
- Isso me lembra a primeira vez que te vi. A única
diferença é que naquele dia você estava chorando.
Dei uma gargalhada, e me virei para ela, dizendo:
- Chorar é para perdedores, Allison. Eu sou uma
vencedora. Jamais esqueça disso.
Os olhos castanhos mergulharam nos meus. Pareciam...
cheios de pena...
- Deve ser duro pra você.
Devolvi o olhar, sem entender:
- O quê?
Ela respondeu sem hesitar. De uma forma amorosa e
suave:
- Se fazer de insensível o tempo inteiro.
A conversa estava ficando séria demais, de um jeito que
eu absolutamente não podia permitir:
- Allison, minha querida, sofrer para que? Pura perda de
tempo... Já que a vida não passa de um aglomerado de
momentos, que eles sejam todos de total e profundo
prazer... A começar por esse...
Colei a boca na dela com paixão. A conduzi para trás, até
que as pernas dela encostassem numa das
espreguiçadeiras. A empurrei com força, fazendo com
que ela caísse sentada. Allison me olhou surpresa, numa
expectativa silenciosa, no olhar um brilho intenso...
Abaixei as alças do vestido, deixando que ele
escorregasse por meu corpo abaixo. O conjunto de sutiã
e calcinha pretos minúsculos e transparentes que eu
usava obtendo o efeito desejado... As mãos de Allison
avançaram, mas eu as impedi, com um gesto. Me
aproximei, fiquei entre as pernas dela. Disse:
- Eu mando e você obedece.
Ela concordou, claro. Ordenei:
- Toca nos meus seios.
Com um sorriso safado, Allison fez o que eu mandei.
Acariciou da forma deliciosa de sempre. Os dedos
escorregando por baixo do tecido, tocando os bicos,
deixando-os completamente intumescidos.
- Tira meu sutiã e chupa.
As mãos dela me livraram da peça de roupa habilmente.
Deixei escapar um gemido quando a boca de Allison
desceu vorazmente, fazendo com que manter o controle
se tornasse muito, mas muito difícil mesmo.
- Quero sentir suas mãos...
Allison não se fez de rogada. Me tocou inteira, sem parar
de lamber, chupar, beijar meus seios... Eu gemia, me
derretia sob as carícias experientes... Quando os dedos
me acariciaram entre as pernas, afastaram a calcinha e
alcançaram meu sexo, minhas pernas estremeceram.
E eu sabia perfeitamente que era mais do que aquilo,
além do tesão, do sexo... aquela menina me tocava...
por dentro... O simples pensamento causou uma
dorzinha de prazer... Eu já não ordenava, pedia:
- Me faz gozar na sua boca...
Allison me virou, me fez trocar de lugar com ela,
ajoelhou na minha frente. As mãos passearam pelo meu
corpo, provocando arrepios. A boca mergulhou na minha,
depois desceu devorando cada milímetro do meu corpo
dizendo:
- Você me enlouquece... Nada mais justo que... eu fazer
o mesmo com você...
Começou a me chupar ainda por cima da calcinha. Me
deixando derretida, enlouquecida, para e por ela... Senti
os dedos de Allison driblando a lateral da peça íntima,
entrando dentro de mim... Meus quadris acompanharam
o movimento instintivamente. Eu já não controlava o que
dizia:
- Gostosa... delícia de mulher... vou gozar... só pra
você... continua assim...
Eu já estremecia. Allison, percebendo o quanto meu gozo
estava perto se afastou. Quase gritei:
- Não!
A puxando pelos cabelos desesperadamente. Com um
sorriso safado, sedutor, ela disse:
- Sim... Agora quem manda sou eu...
Tirou minha calcinha devagar, me olhando nos olhos
sugestivamente. Deitou em cima de mim, encaixando
minha coxa entre as pernas dela. Começou a se
esfregar, molhando toda a minha perna. Acompanhei o
movimento dela, ansiando por um contato mais pleno.
- O que você quer, Pam? Fala... Adoro ouvir...
Ofegante, entre suspiros e gemidos, implorei:
- Me come, Allison... Quero você...
Rapidamente, ela me satisfez. Os dedos voltaram a me
tocar, deslizaram para dentro de mim outra vez. Ela
grudou a boca no meu ouvido, repetindo:
- Assim, meu amor... Dá gostoso pra mim, Pam...
Eu já estava quase gozando novamente... Mas Allison
interrompeu mais uma vez. Ficou imóvel em cima de
mim, ignorando meus protestos completamente:
- Ainda não. Temos a noite inteira...
Gemi alto. Mordi o pescoço dela com força. Allison
gemeu, e depois riu, dizendo:
- Calma... Paciência...
E foi tortura. Um delicioso e alucinante tormento. Com
Allison entre as minhas pernas, rebolando, me levando a
picos cada vez mais altos de prazer. Acelerando, me
enlouquecendo, e parando, não me deixando gozar,
depois começando tudo novamente... Eu a apertava com
força, a puxando mais e mais para mim. As mãos
arranhando as costas dela, se enfiando na nuca, nos
cabelos. Meus lábios roçando no ouvido de Allison,
sussurrando palavras às vezes doces, às vezes
excitantes, e então suplicando para que me fizesse
gozar, quase em desespero...
O auto controle dela era inacreditável... Eu já não sabia
onde estava... A única coisa que importava era a
maravilhosa sensação de a ter em meus braços,
pertencer à ela, poder me entregar totalmente... Os
toques, o gosto, o cheiro me fazendo perder toda e
qualquer forma de controle, razão, barreira...
Eu me contorcia, tentando evitar que as palavras
insensatas que surgiam escapassem dos meus lábios...
Impossível. No auge da paixão, falei:
- Allison... Quero gozar com você... Vem, amor, vem...
O gemido que ela deixou escapar, a forma como
estremeceu... Deixou claro que tinha se descontrolado,
que estava como eu... Nossos movimentos se tornaram
totalmente passionais. Nos buscando, nos fundindo,
entrando juntas numa explosiva e ardente forma de
esquecimento... Nada mais importava. Nada mesmo.
Apenas a energia surpreendente daquele orgasmo
deliciosamente violento e intenso, que nos tornava uma
só naquele momento.
Allison se moveu em cima de mim preguiçosamente.
Antes de capturar meus lábios num beijo ardente. Virei
para que ficássemos deitadas de lado, frente a frente.
Quando o beijo terminou, ela ficou me olhando de um
jeito... percustador... uma grande interrogação nos olhos
castanhos...
Aquilo me assustou, mesmo sem que eu soubesse
exatamente porque. A resposta rapidamente veio:
- Pam?
Não me deixei enganar pelo tom inocente. Perguntei,
deixando claro a minha total impaciência:
- O quê?
Allison sorriu. Um sorriso doce, muito doce... Antes de
dizer:
- Foi a primeira vez que você me chamou de amor... Eu
adorei.
Sentei, ajeitando os cabelos. Tentando fingir indiferença.
Minha voz não conseguindo disfarçar a confusão em que
estavam meus sentimentos:
- Eu... estou toda suada, vou dar um mergulho. Você
vem?
Me afastei rapidamente. Cheguei na beira da piscina e a
olhei disfarçadamente. Allison me fitava, largada na
espreguiçadeira, com os braços cruzados atrás da
cabeça, absolutamente satisfeita. Mergulhei na água
gelada, tentando esfriar as sensações que me
dominavam... Inutilmente.

Capítulo 29:

**** Allison ****

Olhar Pamela nadar naquele momento, linda, majestosa,


lutando internamente para admitir que desejava o
mesmo que eu, me fez ter certeza de que eu havia sido
tomada por uma sensação de felicidade difícil de
explicar. Sabe quando você está feliz, simplesmente?
Pois é! Ouvi-la me chamar de meu amor naquele
momento em que o meu corpo estava completamente
entregue... tanto quanto o dela ao prazer, foi mágico
demais. As pessoas desconhecem que muitas vezes uma
simples palavra pode mudar tudo. Inclusive dentro de
nós. Pamela podia mudar tudo se quisesse. Ela disse
"meu amor" e conseguiu me proporcionar aquele êxtase
de felicidade. Viram? As palavras têm força. Pena que
muitos de nós, assim como Pamela, se recusam a dizê-
las. Ela por medo de ser aprisionada no desconhecido
dos sentimentos. Outras porém, deixam as palavras
esquecidas, completamente abandonadas no escuro do
seu próprio egoísmo.
Pamela, completamente nua, saiu da água e caminhou
na minha direção deixando um rastro de água que
escorria pelo seu corpo. Levantei-me e alcancei uma
toalha. Envolvi-a ...
- Não está com frio? – sussurrei no seu ouvido. Visualizei
os pêlos dos seus braços... Ela ficou com o lado direito
do corpo todo arrepiado.
- Por que ter te chamado de meu amor fez tanta
diferença, Ali? – virou-se de frente para mim. O azul dos
seus olhos me encararam profundamente. Ela queria
uma resposta para o que estava sentindo? Seu olhar
parecia suplicar por ajuda, mas seu orgulho falaria
sempre mais alto. Disso eu tinha certeza. Sorri para ela.
Ergui a toalha... Enxuguei seus cabelos delicadamente.
Eu não tinha pressa para responder aquela pergunta, era
ela quem se debatia interiormente. Eu sabia o que
queria. Pamela quem teimava em tentar me expulsar de
sua vida. Seus lábios entreabriram para pronunciar
alguma palavra... Toquei-os para que ela se calasse
novamente.
- Porque para quem ama, como eu te amo, qualquer
demonstração de afeto pode levar até a calmaria da
felicidade.
- Patético... Isso que você acabou de dizer, Allison! –
fitou-me tentando disfarçar a inquietude que as minhas
palavras lhe causaram. Hesitou um pouco, mas já estava
se esquivando de mim. Segurei seu braço... Joguei a
toalha no chão... Agarrei-a pela cintura com a mão
direita. A esquerda segurava delicadamente o seu queixo
com a finalidade de não deixá-la desviar o olhar...
- Eu te amo Pam – sussurrei – O que você sente quando
ouve isso?
- Me leva pra cama – disse encarando os meus lábios.
Senti o seu corpo aquecido aninhar-se ao meu de uma
maneira completamente provocante... Beijei sua boca
enquanto minhas mãos percorriam as suas costas.
Afagando a sua pele... Em seguida meus lábios desceram
pelo seu pescoço... Beijando... Mordendo cada pedacinho
daquela pele... Caminhamos de volta à cama. Eu não
queria torturá-la como da última vez... Estávamos
entregues...Completamente excitadas... As costas de
Pamela tocaram a superfície macia do colchão... Meu
corpo imediatamente pesou sobre o dela.... Minha coxa
no meio das suas pernas media a sua excitação... A sua,
no meio das minhas, me provocava arrepios por todo o
corpo. Gemi no ouvido dela. Pam cravou as unhas nos
meus ombros e empurrou-me de encontro ao seu
sexo.... Não hesitei... Eu queria... precisava sentir o
gosto dela para saciar os meus desejos... Acariciei os
seus seios com a ponta da língua, depois devorei-os
faminta.... Chupando-os com urgência... Seduzida pelos
gritos de prazer daquela mulher linda que se entregava
inteiramente a mim naquele momento... Desci os lábios
pelo seu ventre... Mordendo... Marcando com a saliva o
caminho desejado... Beijando a barriga... As laterais do
corpo... Acariciando o seu umbigo... Ela tremendo...
Empurrando a minha cabeça... Sussurrando
indecências... Me acendendo cada vez mais... Alcancei
suas coxas...Deslizei os lábios quentes... Senti a sua
excitação com os dedos... Pamela pensou que eu iria
torturá-la novamente.
- Sem gracinhas, Ali – disse ofegante – Enfia essa língua
dentro de mim, agora!
Sorri antes de mergulhar dentro dela com a língua e com
os dedos que instintivamente procuraram aquele
caminho delicioso de prazer... Pam gemeu alto...
Começou a rebolar na minha frente... Puxar meus
cabelos... Se contorcer nos lençóis... Devorei o seu
sexo... A penetrei com desesperada fome... Senti a sua
respiração alterada... Aumentei o atrito dos meus
lábios... Língua e dedos dentro dela... Gozei junto com
ela... Sentindo a vibração gostosa daquele corpo quente
como brasa. Desfaleci aos pés de Pamela... O silêncio
perpetuou aquele ambiente até que os nossos olhos se
encontraram, e disseram ao mesmo tempo: eu te amo...
Ainda no silêncio daquele momento.

Chegamos cedo à revista. Pamela não se importou que


nos vissem chegar no mesmo horário. Também, se
alguém tivesse a ousadia de fazer algum tipo de
comentário era capaz de ser demitido.
Caminhamos direto para a sala da poderosa. Assim que
nos viu, Arlete veio correndo com um bloco de anotações
nas mãos. Estava visivelmente preocupada. Fechou a
porta atrás de nós... Respirou, enfim... A coitada parecia
que iria tirar o pai da forca.
- Desculpe entrar na sua sala desta maneira, Dona
Pamela, mas...
- Espero que tenha um motivo realmente fenomenal para
tamanha invasão inoportuna, Arlete. – disse áspera
fazendo a secretária estremecer e gaguejar.
- Dona Pamela, a reunião de hoje foi desmarcada. –
disse de imediato e sem respirar. Soltou o ar em
seguida...
- A reunião com os franceses? – olhou-a incrédula – o
que está me dizendo, infeliz? – fuzilou a secretária com
um olhar enraivecido - Não posso acreditar que aqueles
incompetentes desistiram do negócio. Isso é
inadmissível!
- Não! De forma alguma, Dona Pamela. Eles não
desistiram do negócio – disse com voz trêmula...
- Por que esse reunião foi desmarcada? – olhou para
Arlete como se ela tivesse culpa pelo cancelamento da
reunião, ou pior, como se a possibilidade da revista não
conseguir o contrato fosse culpa da secretária.
- Seu pai... Seu pai... Acha melhor que a senhora vá
pessoalmente para a França.
- O quê?
- Ele que cancelou a reunião, Dona Pamela. Pediu que eu
providenciasse tudo para a viagem de vocês duas –
olhou na minha direção ao terminar de falar. Fiquei sem
saber o que pensar. O que o Sr Álvaro pretendia com
essa mudança de planos? Ele foi muito ousado
desmarcando uma reunião que já estava agendada há
meses.
- Meu pai está ficando louco! – disse incrédula – Imagina
se aqueles franceses tomam esse adiamento como uma
ofensa? Lá se vão rios de dinheiro. – sentou-se na sua
cadeira - Pode ir, Arlete.
- Dona Pamela, só uma última....
- Eu já disse que pode ir! – falou alto. Arlete engoliu em
seco.
- Com sua licença – disse e saiu com o bloco de
anotações colado ao corpo como se ele fosse defendê-la
de alguma forma. Ao sair, a mulher encostou a porta
silenciosamente.
Fiquei olhando para Pamela sentada na sua
cadeira...Completamente perdida nos seus
pensamentos...
- O que você quer me dizer, Allison? – ergueu a face
encarando-me de frente.
- Não quero te dizer nada – disse séria – Cansei de
discordar dos seus atos de tirania para com os seus –
frisei os seus – Subalternos.
Pamela ergueu as sobrancelhas... Continuei falando... Ela
quieta...
- Cansei de sentir pena sua por sempre ter que pisar em
alguém para exercer o seu poder. – aproximei-me da
mesa dela... Coloquei as duas mãos espalmadas na
mesma... Inclinei meu corpo para frente... mergulhei no
azul dos olhos dela como quem mergulha no mar revolto
– Queria ver como seria se você tivesse desse lado da
mesa.- ficamos alguns minutos nos encarando em
silêncio...
- Já esteve na França, Allison? – disse com ar de riso,
ignorando completamente o meu comentário.
- Não, dona Pamela – disse com sarcasmo – Será um
privilégio estar na França pela primeira vez em
companhia tão agradável.
- Adoro o seu senso de humor – sorriu por entre os
dentes, depois voltou a ficar séria – O meu pai me paga!
– disse.
- Estarei na minha sala se precisar de mim – caminhei
lentamente em direção a porta anexa... Antes de ser
expulsa como Arlete.
Capítulo 30:

***Pamela***

- Pam, no que você está pensando?


Levei um susto quando Allison falou, a boca próxima do
meu ouvido, com aquela intimidade inevitável que aquela
semana bizarra tinha conferido à ela.
Estávamos deitadas na minha cama depois de horas de
uma entrega absolutamente exigente, e que
estranhamente, tinha se tornado a nossa – eu já estava
até começando a pensar na 1ª pessoa do plural...
incrível... – assustadora rotina...
Mas o que mais me angustiava, era o fatídico momento
noites atrás, que eu não conseguia tirar da cabeça:
- Eu te amo Pam. O que você sente quando ouve isso?
Depois daquilo, Allison tinha insistido em repetir a frase
inúmeras vezes. Causando sempre um efeito inevitável...
Uma onda de calor extrema, um prazer quase latente me
subia pelo estômago, e me arrepiava inteira, me
enchendo de vontade de... corresponder, mas... eu
reprimia, me continha. Não podia nem queria dizer...
Não em palavras...
Todas as noites depois do expediente, eu a trazia para
minha casa. Allison não tinha me pedido para voltar ao
lugar deprimente em que se escondia – impossível
chamar aquela ratoeira de casa ou moradia – e eu
estava muito aliviada com isso.
- Precisamos comprar roupas para você, Allison.
Ela colou o corpo atrás de mim. A mão passeando cheia
de promessas pela minha pele, enquanto a boca colava
em minha nuca causando arrepios:
- Continua detestando o jeito que me visto?
Ela não seria a Allison que eu conhecia se não
contestasse quase tudo o que eu dizia... Me virei para ela
com um sorriso. Daqueles que eu sabia que para ela era
irresistível:
- Não é isso. É que em Paris faz frio. Você não quer
congelar, ou algo do gênero, não é mesmo?
Allison levantou uma das sobrancelhas, depois me lançou
aquele olhar safado típico:
- Acho difícil sentir frio perto de você...
Aproximou a boca da minha, mas desviei no último
momento, para responder:
- Vai sentir. Acredite em mim.
Ela não disse nada. Ficou calada, me olhando
profundamente, com um brilho de admiração nos olhos
que fez meu coração acelerar de repente:
- Eu ainda não consigo acreditar, sabia?
Toda vez que o assunto começava a ficar perigoso,
minha tática era a mesma: colava meus lábios nos de
Allison, impedindo que ela continuasse. Não permitindo
que ela entrasse em detalhes que apenas seriam
terrivelmente embaraçosos... Evitava as palavras, mas
não conseguia deixar que expressássemos tudo com as
mãos, a boca, e os corpos...

Na véspera da viagem, quando voltei do almoço, uma


Arlete quase apavorada me disse, quando eu ia entrar
em minha sala:
- Seu pai está aí dentro, dona Pamela. Com a Allison.
Pediu para que a senhora batesse antes de entrar...
Abri a porta rapidamente. Mil coisas passando pela
minha cabeça... Absurdo! Que coisa sem sentido era
aquela? Bater antes de entrar na minha própria sala?
Meu pai estava sentado na minha cadeira. Allison em pé
do outro lado da mesa – ela detestava a cadeira que
engolia as pessoas... A distância entre eles me deixou
tranqüila com relação a um dos meus medos, mas... não
com relação a outros... Principalmente quando o olhar de
Allison se desviou do meu, como se escondesse algo...
- Posso saber o que está acontecendo?
Meu tom de voz deixava claro que eu estava
profundamente irritada. Meu pai sorriu, e respondeu:
- Estava só pedindo para Allison tomar conta direitinho
de você...
Tomar conta? Meu pai só podia estar brincando... Minha
resposta foi brusca, agressiva, cheia de raiva:
- Isso vindo de alguém que me mandou para um
internato aos seis anos de idade, num país onde eu nem
falava a língua chega até a ser engraçado... Uma
preocupação um tanto quanto tardia, não é verdade?
Allison ameaçou se aproximar, mas a impedi com um
gesto. Antes de continuar:
- Dos seis aos onze na Inglaterra, e depois, quando eu
finalmente dominei a língua, e comecei a pensar naquele
maldito colégio como um lar, me transferiu para a Suíça,
lembra?
Meu pai levantou da cadeira, e respondeu com um tom
de voz tão carinhoso que era quase uma ofensa:
- Pamela... Filha... Eu fiz o melhor que pude, te dei a
melhor educação possível... Você não pode reclamar...
Ele tentou se aproximar. Eu recuei. Não queria que ele
me tocasse. O fuzilei com o olhar:
- Não estou reclamando, pelo contrário. Graças a isso
sempre cuidei muito bem de mim mesma, obrigada. Não
preciso de nada nem ninguém. Eu me basto. E não
admito que você se intrometa na minha vida desse jeito.
Ele abriu a boca para falar, mas não permiti:
- Já sei o que você vai dizer. Que é meu pai... Pois fique
sabendo que isso para mim não faz a menor diferença.
Não passa de uma palavra. Mais nada.
Olhei para Allison. Nunca a tinha visto com um olhar
assim... Absolutamente triste... Um misto de decepção,
dor, mágoa... Eu não entendia porque.
Meu pai me abraçou forte. Os olhos de Allison me
paralisavam... Não tive forças para me esquivar, muito
menos resistir. Nem quando ele me beijou no rosto,
antes de dizer:
- Eu sei que eu fui um pai ausente, que eu nunca
interferi em nada. Mas isso vai mudar.
E saiu com um ar insuportável de quem está com a
razão... sem que eu pudesse contestar. Allison me disse
seca, sem nem me olhar:
- Estarei na minha sala se precisar.
Se virou e também saiu da sala. Antes que fechasse a
porta de comunicação, a impedi dizendo:
- Espera, Allison...
Atravessei o espaço que nos separava rapidamente.
Allison se recuperou da surpresa apenas para dizer,
como um tom profundamente magoado na voz:
- Pois não, dona Pamela? Precisa de algo? Desculpe, eu
quase esqueci: "Não preciso de nada nem ninguém", não
é assim?
A segurei pelos braços, fazendo com que me olhasse. Os
olhos dela estavam marejados, e estranhamente, aquilo
doeu como se fosse em mim. E então, o que eu fiz? A
coisa mais incrível: tentei... me explicar...
- Allison, o que eu disse não se aplica a você.
Ela me olhou profundamente. Aquele jeito "Allison" de
olhar... Como se pudesse desvendar a minha alma ao
questionar:
- Não?
Respirei profundamente. Fui absolutamente clara, sem
rodeios:
- Você é diferente.
Os olhos dela brilharam, antes de Allison inquirir:
- Por quê?
Maldita mania de querer palavras. A pouca paciência que
eu tinha se desvaneceu:
- Será possível que você não percebe? O que quer que
eu fale?
- Você sabe.
Me afastei dela, jogando o cabelo com a mão, num gesto
que me era totalmente estranho. Logo eu, que me
orgulhava de ter um controle extremo, que nunca me
desesperava. Antes de Allison, é claro.
Ela se aproximou lentamente. Me puxou pela cintura e
com um carinho doce, meigo, beijou meus lábios. Os
olhos dela refletiam um amor sincero, inegável.
Estremeci entre os braços dela, uma angústia intensa
quase me impedindo de respirar.
Allison percebeu o meu tormento, acariciou meu rosto
dizendo de forma absolutamente suave:
- Calma. Não quero te forçar a nada. Mas um dia, você
vai me dizer.
Eu estava... exasperada, emocionalmente abalada... A
frase saiu quase como uma forma de defesa:
- O quê?
Com um sorriso lindo, que me fez sentir incontáveis
ondas de frio e calor percorrendo meu corpo inteiro, ela
respondeu:
- Eu amo você.
Nós duas sabíamos o quanto eu estava indefesa. E como
sempre, Allison foi perfeita. Me puxou para ela, recebeu
meu corpo, que se aqueceu no conforto que era poder
me recostar de olhos fechados nela. Sussurrei:
- Allison...
- O quê?
- Me abraça...
Não queria beijar, não queria sexo, não queria nada. Só
queria ser abraçada. Me sentir segura nos braços da
mulher que eu... amava. Ela me estreitou, me apertando
com força. Fechei os olhos e aproveitei... era a primeira
vez que sentia aquela estranha sensação... precisar... ter
e ser de alguém... e por mais bizarro que pudesse
parecer, era... intensa e maravilhosamente agradável...

Eu já tinha ido incontáveis vezes a Paris. Mas aquela


vez... mais do que diferente, era... especial. Como se
fosse a primeira.
Incrível que o prazer de outra pessoa pudesse causar em
mim um prazer tão intenso. Naquele momento, era
exatamente o que estava acontecendo. O prazer de
Allison era o meu.
Eu sabia que provavelmente, Allison nunca tinha viajado
na primeira classe. Mas não imaginava que era a
primeira vez que fazia uma viagem internacional.
Estranhamente, não achei absurdo nem nada. Apenas
fiquei... contente. Por poder proporcionar, compartilhar
algo que eu pretendia tornar inesquecível...
Quando descemos no Charles De Gaulle, o motorista do
hotel já nos esperava, segurando um papel com nossos
nomes.
Definitivamente, eu estava me sentindo... outra. Uma
tranqüilidade doce que me deixava à vontade e
sorridente. Segurei a mão de Allison dentro do carro. Os
olhos castanhos me fitaram intensamente. E os dedos se
entrelaçaram aos meus.
Tinha uma diferença muito grande entre essa viagem e a
de São Paulo. Algo dentro de mim estava muito mais
sereno e... verdadeiro. Fui mostrando coisas, explicando
os lugares por onde passávamos alegremente. Tudo
parecia tão... perfeito... Diferente do tédio que
normalmente era viajar e chegar em Paris sem...
Allison... Finalmente eu começava a compreender e...
aceitar.
Ainda estava um pouco transtornada por esses
pensamentos quando o carro parou em frente ao hotel e
descemos. A primeira coisa que Allison disse foi:
- Engraçado. A luz e as cores são... diferentes.
Olhei para ela surpresa. Como sempre. Allison era...
impossível descrever com palavras, ou eu estava
entorpecida por tantos sentimentos? Concordei com a
cabeça. Ela estranhou minha passividade, acho. Sorri, e
entrei no saguão do hotel. Ela me seguiu boquiaberta:
- Meu Deus! Nós vamos ficar no George Cinco?
Achei uma graça o jeitinho dela. Mas corrigi,
suavemente, não querendo humilhar nem ser grosseira.
Apenas para que Allison não falasse besteira:
- Não é George Cinco, é George Cinq... Eu sempre fico
aqui. Você vai gostar. Vem.
Na recepção, tive várias surpresas. A primeira? Allison
não falava nem entendia nada em francês. A segunda,
bem mais agradável, que nossa reserva era para a suíte
de lua de mel.
Coisas do meu pai... Ele tinha sido .. terrivel... mente
feliz na escolha. A suíte tinha uma vista incrível da Torre
Eiffel. Allison ficou alguns minutos paralisada, como se
ainda não acreditasse que aquilo estivesse realmente
acontecendo.
De onde eu estava, podia ver os olhos castanhos
cintilando... Luzindo um encantamento que fez com que
eu me aproximasse e a abraçasse por trás, sussurrando
no ouvido dela o que eu sentia no momento:
- Linda... Muito linda mesmo...
Ela suspirou, e concordou com a cabeça. Pensando que
eu falava da vista... Depois se virou para mim, sem sair
dos meus braços. Passando os dela ao redor do meu
pescoço e dizendo:
- A segunda coisa que eu quero fazer em Paris é
conhecer a famosa Torre Eiffel...
Me presenteou com um sorriso delicioso que não me
deixou escolha. Tive que perguntar:
- Segunda? Qual a primeira?
Ela respondeu quase se derretendo:
- Fazer amor com você...
Nossos lábios se encontraram sem pressa. Com uma
suavidade sedutora, envolvente. A magia da "cidade luz"
nos impregnando, absolutamente presente...
A boca de Allison desceu pelo meu pescoço, me
arrepiando inteira. Murmurei perto do ouvido dela:
- Allison... Você não fala francês, mas... não entende
nada? Nada mesmo?
Ela respondeu sem parar o que estava fazendo:
- Nada. Só umas poucas palavras... Oui, non, pardon,
bonjour, e... – ela me olhou nos olhos para dizer: - je
t'aime...
Sorri para ela, e a beijei novamente. Quando o beijo
terminou, ela perguntou:
- Por quê?
A conduzi para a cama gigantesca, dizendo:
- Por nada... É bom saber...
Tirei o sobretudo e o pulôver que ela vestia. Ela fez o
mesmo com os meus. Nos livramos das roupas aos
poucos, peça por peça, entre carícias e beijos.
Allison se sentou na cama, e ajoelhei com ela entre as
pernas, as duas inteiramente nuas, frente a frente, com
gestos e olhares de uma doçura extrema.
Nossas bocas voltaram a se colar apaixonadamente. Os
lábios de Allison passearam por meu pescoço, minha
nuca... Sussurrei:
- Je peut parler tous que je veux parce que tu ne
comprend rien...
Allison se arrepiou inteira. Suspirou, me apertou com
força, e reclamou:
- Maldade... Não sei o que você tá dizendo...
Olhei dentro dos olhos dela. Allison estremeceu.
Continuei:
- J'adore ton visage... Ta bouche, ton sourire, tes yeux
brillants... La douceur de ta voix... La manière que tu me
regarde, me caresse, me touche...
Era uma sensação maravilhosa, poder simplesmente…
falar… Tudo que eu tinha sufocado no peito… E ao
mesmo tempo, Allison não entendia as palavras, mas…
pelo meu tom de voz, meu jeito de dizer… era impossível
não compreender...
Eu estava tremendo, e ela também. Nos olhamos nos
olhos. Lágrimas apareceram nos meus. Ela as enxugou
carinhosamente. Depois sussurrou, de um jeito muito,
mas muito doce mesmo:
- Não sei se o que eu estou pensando é realmente o que
você está dizendo... Não tenho certeza...
Foi simples. Como se um clique estalasse de repente:
- Vai ter.
Segurei o rosto dela entre as mãos. Respirei
profundamente. As palavras subiram do meu peito,
escorregando pela garganta, deixando um gosto incrível
na boca quando finalmente apareceram:
- Je t'aime...
E depois, um beijo... Diferente de todos os outros. Me
percorrendo como se penetrasse em meus poros, minhas
células, nos recantos mais profundos do meu ser...
Naquele momento, com uma perplexidade embevecida,
absolutamente despida de todas as restrições e medos,
descobri que... o sabor do amor podia ser tão deliciosa e
inteiramente perfeito a ponto de fazer a alma
estremecer...

Capítulo 31:

***Allison***
Minhas pernas começaram a tremer, minhas mãos
suaram frio... Meu corpo inteiro reagiu às palavras que
Pamela sussurrou no meu ouvido em Francês... Ouvi-la
naquele momento, era o mesmo que ouvir uma música
em Inglês sem saber falar a língua. Nem sabemos se
estão nos xingando, mas chegamos ao ponto de ficarmos
emocionados ao ouvir essas melodias. Assim foi pra
mim,quando Pamela começou a cantar palavras em
Francês no meu ouvido...
- Je peut parler tous que je veux parce que tu ne
comprend rien... – ela dizia... Me instigando... Fazendo o
meu coração acelerar dentro do meu peito... Que diabos
essa mulher dizia??? Eu não sei, mas os seus lindos e
sedutores olhos azuis me pediam incansavelmente para
ter a certeza de que ela não estava me xingando... Beijei
seu pescoço... Senti as suas unhas arranharem os meus
ombros... Enlouqueci de prazer... Apertei-a em meus
braços....
- J'adore ton visage... Ta bouche, ton sourire, tes yeux
brillants... La douceur de ta voix... La manière que tu me
regarde, me caresse, me touche... – ela me excitava
cada vez mais com aquele sotaque perfeito... O frânces
fluente o suficiente a ponto de me fazer acreditar que eu
comeria uma francesinha. Putz! Quebrei o clima, não é?
Bom... Meus olhos arregalados suplicavam por uma
tradução... Eu queria sentir aquelas palavras... queria
poder calar o tremor que sentia o meu coração, pela
ausência do amor falado por Pamela.... Caminhamos
lentamente até a cama...
- Diz alguma coisa que eu entenda... por favor... –
sussurrei deixando o meu corpo pesar sobre o dela... –
Tenho sede das suas palavras... Pam...- nesse instante,
meus olhos lacrimejavam, contrastando com o meu sexo
que pulsava de desejo diante dela... Não sei porque, mas
algo me dizia que as palavras dela... justificariam tudo o
que nós estávamos sentindo naquele momento – Eu
preciso saber o que você sente... Amor... – disse quase
sem fôlego ao deslizar minhas mãos pelo meio das
pernas dela e sentir a sua excitação... A mulher segurou
meu rosto delicadamente com as duas mãos... Senti que
o seu corpo tremia... Sua pele suava...
- Je t'aime... – disse ela encarando-me de um jeito que
eu nunca tinha visto antes...
- Eu te amo? – perguntei mais do que disse... – Eu te
amo... – sussurrei em seguida... Beijei-a de uma forma
única... Colocando naquele beijo toda a intensidade de
prazer... Carinho... Afeto... Paixão e amor... que eu
vertia por ela... Nos beijamos longamente.... Nos
acariciando... Apertando... Sentindo a textura das nossas
peles... Dos nossos corpos quentes que ardiam no prazer
de se desejarem como se nada fosse maior e melhor do
que aquele instante de entrega... E não era mesmo...
Pelo menos pra mim, estar com Pamela... Seja onde
for.... Era como me perder na plenitude da felicidade
nunca antes alcançada.
Nossos toques... Caricias... Beijos... Se intensificaram
junto com o desejo que só aumentava... Deslizei meus
lábios lentamente pelos seios de Pamela... Seus gemidos
me levavam ao ápice da loucura... Desci os lábios pelo
seu ventre... As mãos de Pamela estavam afoitas... Me
empurravam de encontro ao seu sexo... Não me
intimidei... Fitei os seus olhos por um instante... Respirei
fundo...
- Je t'aime... – disse e sorri pra ela… Pamela retribuiu o
sorriso com uma mordidinha sensual no lábio inferior...
Me desmontou aquela mulher. Nossa! Quando ela me
olhava daquele jeito eu perdia totalmente o paradeiro...
Afastei suas coxas... Acariciei seu sexo com a ponta dos
dedos... Ela esquivou a cabeça para trás... Seu corpo
estremeceu... Suas pernas passaram por cima dos meus
ombros... A mulher lentamente puxou-me para dentro
dela... Gemi assim que minha língua invadiu o seu sexo
úmido... Completamente úmido... Mordi... Lambi...
Suguei... Explorei cada pedacinho daquele sexo que
pulsava a minha frente. Explodi num orgasmo delicioso
ao mesmo tempo em que Pamela gritava de prazer e se
contorcia sobre os lençóis da cama... Antes da sua
respiração se restabelecer eu escalei o seu corpo...
Beijando-a... Deslizando a minha boca molhada de gozo
na pele dela... Minhas mãos deslizando pelas laterais do
seu corpo... Afagando os seus seios rijos de tesão... Eu
queria acendê-la novamente, e como Pamela era
insaciável... Foi fácil, tão fácil quanto tirar doce da boca
de criancinhas... Alcancei os seus lábios... Beijei a sua
boca deixando dentro dela o mel do seu líquido... Meu
sexo latejava no meio das coxas dela...
- Quero provar você, Ali! – arranhou meu pescoço...
Escorregou as mãos pelas minhas costas... Afagou
minhas nádegas com sensualidade enquanto encarava os
meus olhos cheia de desejo... Suas pupilas não eram em
formato de fenda, e esse era o único detalhe que
diferenciava os olhos de Pamela de um gato, ou melhor:
uma gata. Minha carne fervia ao olhar dentro dos olhos
dela... Enquanto eu pensava na beleza dos seus olhos, a
mulher sedutora que estava embaixo de mim,
escorregava os dedos famintos... Me penetrando... Me
enlouquecendo... Ergui um pouco o quadril e senti os
seus dedos me preencherem por completo... Pamela
mordia os lábios e sorria... Divertindo-se com a minha
face desfigurada de prazer... Fechei os olhos enquanto
gemia fervorosamente pra ela e, inundei os seus dedos
de gozo... Encarei novamente aqueles olhos
devastadores... Levantei-me de sobressalto de cima
dela...
- O que foi, Ali? – perguntou preocupada. Acho que a
minha expressão não foi a das melhores...
- Des...culpa, Pam... Vou ao banheiro... Já volto... – Sai
em disparada na direção do banheiro... Parei de frente
ao espelho... Abri a torneira de água aquecida e molhei
meu rosto... Fechei os olhos e meus pensamentos me
levaram até a sala de Pamela na tarde de ontem... Onde
o Sr. Álvaro me fez uma proposta que agora eu não
sabia mais se era certo aceitar. O homem queria me dar
o cargo da Pamela na revista. Dá pra acreditar? O pai
dela achava que Pamela precisava de um choque de
realidade para aprender o quanto é importante dar valor
às pessoas. Naquele instante, achei que seria uma boa
lição, afinal de contas. Seria apenas um susto. Eu ficaria
no cargo dela... Trabalharia ao lado dela... E ela saberia
como é receber ordens de alguém. Depois de aprendida
a lição... Tudo voltaria ao normal, Pamela ao seu lugar
de direito na revista, e eu galgando o meu próprio
crescimento lá dentro. Com duas diferenças: ela estaria
mais humana, e eu seria mais respeitada por ela. Essa
era a proposta do Sr. Álvaro. No entanto, diante dos
novos fatos, acho que Pamela não precisa passar por
esse calvário. Eu aceitei a proposta na hora em que ele
me falou, sabe? Mas... Não sei se foi uma escolha
correta, na verdade... Eu não queria perder o pouco que
já havia conquistado de Pamela. Assim que voltássemos
ao Rio, eu contaria as novidades ao pai dela, e
procuraríamos um outro meio de tentar humanizar
aquela mulher. Um passo já foi dado...
- Je t'aime... – repeti em silêncio sorrindo para mim
mesma enquanto olhava-me pelo espelho a minha
frente. Voltei para o quarto completamente aliviada. Era
simples, não é? Eu só precisava pedir ao Sr. Álvaro que
esquecesse aquela estória de mudança de cargo. Puxei o
lençol que Pamela havia se enrolado...
- Amor... Me leva a torre Eiffel?
Pamela arregalou os olhos... Me olhou como se eu
tivesse feito uma pergunta imprópria...
- Hoje não, Ali – disse seca, inexpressiva. Como se ir a
torre Eiffel fosse o programa mais chato do mundo.
- Não vamos fazer nada hoje? – perguntei indignada.
Abri os braços. – Estamos na França! Que graça te
virmos aqui e não conhecermos nada?
- Já disse que amanhã faço o sacrifício de te
acompanhar na torre, oras!
Abri imediatamente um mapa da França que eu havia
trazido comigo na bagagem...
- O que está fazendo, Allison? – apoiou-se nos cotovelos
enquanto olhava na minha direção.
- Estou vendo um programa para fazermos hoje, oras! –
percorri o dedo pelo mapa – Aqui! – quase gritei... Pulei
na cama com o mapa nas mãos – Vamos ao Arco do
Triunfo, amor! – sorri tentando removê-la do seu
desânimo.
- Nem pensar!
- Caraca! – estendi o mapa na cama – É pertinho, olha!
– apontei o lugar – Dá pra ir andando, anda podemos
dar uma passadinha na "Champ elisé"!
- Des Champs-Elysées, Allison – Me corrigiu impaciente
– Não acha que eu vou andar até o Arco do Triunfo, não
é? - levantou-se. Colocou um robe preto de seda.
- Qual é, Pam! Pra você – Levantei-me e fui até ela que
estava parada de frente a janela olhando a vista
maravilhosa, ou melhor: perfeita que o hotel oferecia –
Pra você vir a Paris é o mesmo que passar de carro num
domingo por Copacabana – sussurrei no seu ouvido – Pra
mim, é um acontecimento histórico – Beijei a sua nuca...
Ela virou-se de frente pra mim... Olhei-a nos olhos como
um cachorrinho que olha o seu dono.
– Tudo bem, vamos de táxi.
- Não! Vamos andando... Pra não perdermos nem um
detalhe.... – beijei os lábios dela antes que a mesma
pronunciasse uma palavra – Deixa de ser preguiçosa,
Srta mau humor! São só... Três quadras até a "Champs
Elisé" ... – ela torceu o nariz novamente para a minha
pronúncia. Continuei falando, ela não conseguia me
intimidar com aquela sobrancelha erguida - ... da
"champs" até o Arco deve dar umas quatro quadras... Tá
ali no mapa!
- Allison! Ir andando até lá é ultrajante!
- Não! É emocionante! Por favor, chefinha! – olhei para
o chão – Quer que eu peça de joelhos, é? – ameacei
ajoelhar... Ela me puxou pelo braço...
- Tudo bem – disse quase num suspiro.
- Sério? – agarrei-a forte pela cintura – Oba! – gritei...
Pamela sorriu... Deixei a minha euforia de lado para
admirar aquele sorriso... Seus lábios eram tão rosados...
Tão bem desenhados... Deslizei os dedos devagar por
eles... – Seu sorriso me faz tão feliz – sussurrei antes de
beijá-la... Depois do beijo Pamela me empurrou.
- Vá se arrumar logo, Ali! Não pense que eu vou ficar
andando pela cidade com você. Só o Arco do triunfo,
está bem?
- Beleza! – disse antes de correr na direção da minha
calça jeans e vesti-la... Pamela também começou a se
arrumar... Putz! Ela parecia que iria a uma conferência
com os investidores Franceses. – Vai mesmo usar esse
salto? – perguntei enquanto calçava os meus tênis. Ela
apenas ergueu aquelas sobrancelhas como quem diz:
"que perguntinha idiota". – Você tá linda! – beijei-a no
rosto.- vamos? – disse apressada.
- É... Vamos... – concordou desanimada.
Nossa!!! Vocês precisavam ver a poderosa andando com
aquele salto enorme nas ruas de Paris. Por isso que ela
não vê graça em nada, oras! Totalmente
desconfortável... Segurou no meu braço duas vezes para
não cair. Isso que dá só andar de automóvel, quando sai
na rua fica parecendo um bebê que está aprendendo a
andar... Sorri ao final desse pensamento...
- Tá rindo de quê, Alli..son! – disse ao mesmo tempo
em que se apoiou no meu braço direito pela terceira
vez...
- Xiiiiiiii! – olhei na direção do salto que ela usava –
quebrou, né? – cocei a cabeça... Ela vai dar um ataque
daqueles – pensei.
Pamela levou a mão até o tornozelo... Depois retirou o
calçado do pé... Olhou... olhou...
- Mas que... merde! – disse enfurecida...
- Sorte que estamos na "Champs"- apontei um lado da
rua... loja da Adidas, do outro lado... Loja da Nike –
Acho que você devia se adaptar ao passeio – arrisquei
dizer. Pensei que ela iria arremessar o salto quebrado na
minha cabeça, mas ela fez pior.
- Des Champs-Elysées! – disse quase aos gritos - Des
Champs-Elysées! Repete comigo, Allison! – sacudiu o
meu braço. Ela estava furiosa.
- Nike, ou adidas? – perguntei. Agora sim ela tacou o
salto na minha direção, depois saiu andando na frente...
Mesmo com um salto apenas ela conseguia ser elegante.
Dá pra acreditar nisso? Sorri, quer dizer: gargalhei da
cena e fui andando atrás dela... Pamela entrou na
primeira loja, ou seja: entrou na loja da Nike. Falou
alguma coisa em francês com um dos vendedores e
depois o mesmo voltou com uma caixa. Era um tênis.
Putz! Essa cena eu tinha que registrar. Ameacei tirar o
celular do bolso para fotografar...
- Nem pense nisso! – disse assustadoramente séria...
Acho que ela teria coragem de me assassinar se eu
fotografasse os seus pezinhos calçados com um tênis.
- Acha que vai... combinar com o figurino? - contive o
riso. Só pra vocês terem uma idéia, ela usava um tailler
Chanel verde.
Pamela aproximou-se da vitrine... O vendedor estava
atrás dela, um subalterno atencioso do jeitinho que ela
gostava. Vi a mulher apontar em algumas direções... O
vendedor sumiu em uma direção, depois voltou com tudo
o que ela pediu... Pamela desapareceu nos provadores...
Depois... bom... Eu tive que me levantar de sobressalto
da cadeira onde eu estava impacientemente esperando
sinal de vida dela.
- Nossa! – disse boquiaberta – Você está linda! – Ela
vestia uma calça azul marinho, uma camiseta branca e
um casaco azul marinho bem esportivo com um símbolo
da Nike enorme nas costas.
- Eu sei – disse enquanto caminhava na direção da saída
da loja, quer dizer, não antes de largar nas minhas mãos
uma sacola enorme que continha as roupas dela.

... Assim que paramos em frente ao Arco do Triunfo eu


tirei do bolso do casaco um livrinho pequeno que falava
sobre os lugares turísticos da França...
- O que é isso, Ali?
- Olha que magnífico! – acho que nem ouvi a pergunta
de Pamela... Eu estava encantada folheando o livro –
Olha isso, Pam! – disse olhando na direção da base – É o
túmulo do soldado desconhecido, idealizado por
Napoleão, celebra as vitórias francesas....
- Eu sei... – disse impaciente. Não me importei com o
que ela dizia.
- ... O túmulo representa todos os soldados que
morreram em batalhas... – continuei lendo... Lia e
olhava para o monumento a minha frente.
- Eu sei...
- Em especial na primeira guerra mundial! – completei
sorrindo.
- Eu sei disso tudo, Allison! Merde! – continuou
impaciente... E brava. – O Arco testemunhou momentos
históricos como a invasão do Exército alemão e as
comemorações de libertação de Paris com o General
Charles de Gaulle à frente. E há um pequeno museu lá
em cima! – disse quase sem respirar.
- Tô impressionada – fechei o livro... guardei-o no bolso
do casaco – vamos subir! – puxei-a pela mão.
- Aí você já quer demais! São mais de duzentos e
oitenta degraus menina!
- Legal! Vem! – puxei-a, ou melhor... Arrastei-a para
que subíssemos a escadaria.

Quando retornamos ao hotel... Fizemos amor uma única


vez... Pamela estava exausta... Tadinha, acho que a
pobre nunca andou tanto na vida dela. Fiz carinho nos
seus cabelos até que ela adormeceu... Nem sei como
explicar o que estava sentindo por estar naquela cidade
tão romântica com a mulher que eu amava
incondicionalmente.

Capítulo 32:

***Pamela***

Quando abri os olhos – com muita dificuldade, estava


exausta da maratona na véspera - dei de cara com uma
Allison de cabelos molhados e olhos muito abertos me
observando. Fui brindada com um sorriso magnífico.
Resmunguei, absolutamente mal humorada:
- Pelo amor de Deus... Que horas são?
Ela pulou em cima de mim, me beijando sem parar.
Tentei em vão não sorrir, mas... foi inevitável...
- Dez. Levanta, Pam... Vai ficar a manhã inteira na
cama, é?
Allison riu da minha cara de pesar – eu estava achando
dez horas da manhã de madrugada...
- Muito cedo... estou morta de cansaço, quero dormir
mais...
E coloquei o travesseiro na cara. As mãos dela puxaram
o lençol que me cobria e começaram a passear pelo meu
corpo inteiro de uma forma absolutamente safada. Voltei
a resmungar:
- Para, Allison! Me deixa em paz!
Mas nós duas sabíamos que dessa vez a minha voz não
tinha soado nem um pouco irritada. Nem eu tinha
rejeitado o contato. Pelo contrário. Me virei grudando o
corpo no dela num abraço, nossos lábios se encontrando
com voracidade. Adorando aquele jeito de ser
acordada...

Passamos a manhã e o começo da tarde entre carícias,


beijos e palavras sussurradas. Pedimos o café e o almoço
no quarto.
Allison não reclamou, mas quando saí do banho ela
estava parada em frente à janela, olhando para a vista
com uma carinha de bichinho enjaulado.
Como a reunião com os franceses só seria no dia
seguinte, me dispus a aproveitar a tarde para levar
Allison na Torre Eiffel. Estava pegando o telefone para
pedir um táxi, quando ela sugeriu:
- Vamos de metrô?
A olhei, sem acreditar. Definitivamente, ser pobre era
um estado de espírito... Ao invés de ir de táxi, Allison
preferia o transporte... arg... público? Incrível! No pior
sentido da palavra.
Dei um suspiro exasperado, já ia recusar quando ela me
puxou pela cintura, um sorrisinho pidão nos lábios ao
dizer:
- Por favor, Pam... Dizem que é lindo atravessar o rio...
Ela sacou o maldito livrinho para turistas do bolso e
começou a folhear. Procurando o quê? A informação que
qualquer criança saberia dar:
- Sena.
Ignorando completamente meu tom de reprovação, ela
continuou:
- No metrô que passa atrás da Torre Eiffel, por cima da
ponte...
Allison voltou a folhear o livrinho infernal. E eu voltei a
completar:
- Bir-Hakeim.
- Isso.
Suspirei novamente. A "cultura de almanaque" de Allison
era bonitinha, mas... abominável. Precisava ser corrigida
urgentemente. Antes que – muito francamente - eu
perdesse a minha pouca, quase nula paciência.
Mas então, Allison sorriu novamente, e o que eu estava
pensando foi imediatamente substituído por um insano
desejo de satisfazer a vontade dela:
- Está bem. Desde que você não me faça andar
quilômetros como ontem.
Acabei concordando, me rendendo à inevitável sensação
- por mais absurdo pudesse parecer – de que com Allison
ao meu lado, até ir ao inferno caminhando seria um
prazer.

Quando perguntei ao rapaz na recepção como eu


chegava de metrô na Torre Eiffel, ele me olhou como se
eu estivesse louca. E estava mesmo. "Folle d'amour"...
O olhar que lancei para ele o fez engasgar. Nada demais.
O efeito de sempre. Que me deixou satisfeita, com um
risinho sarcástico nos lábios. Ser boazinha com Allison
era uma coisa. Com os outros seres inferiores... Nem se
eu estivesse doente!
Depois de uma explicação rápida gaguejada por ele,
caminhei em direção à porta, sem agradecer. Allison me
seguiu quase correndo, resmungando um:
- Pam, precisava tratar o rapaz daquele jeito?
Não estava com a mínima vontade de discutir, por isso
segurei a mão dela com um sorriso irresistível, que eu
sabia que a faria esquecer o assunto.
Caminhamos de mãos dadas até a estação que o rapaz
tinha indicado: Charles de Gaulle Étoile. Allison parou
para olhar para o Arco do Triunfo novamente.
E sacou a máquina fotográfica. Sinceramente? Eu achava
essa coisa turista, de quem vai a Paris pela primeira vez
e fica tirando foto de tudo de um mau gosto gigantesco.
Mas a alegria quase infantil de Allison me amoleceu.
Deixei ela fotografar a vontade, sem uma reclamação
sequer. Só levantei uma sobrancelha quando ela pediu:
- Vamos lá outra vez?
- Para quê? Ontem já não foi suficiente?
Ela voltou a fazer a carinha de cachorrinho sem dono que
sempre me amolecia:
- Mas eu não fotografei desse ângulo, Pam...
Mas não daquela vez:
- Allison, Paris tem milhares de monumentos, não é só
esse...
- Por favor...
Sacudi a cabeça negativamente. Num impulso, Allison
exclamou, colocando uma máquina digital das mais
baratinhas nas minhas mãos:
- Eu vou e você fotografa, ok?
Atravessou a rua correndo, antes que eu pudesse
discordar. E eu? O que eu ia fazer? Fotografei...
Chegamos na Torre Eiffel, com uma Allison encantada ao
meu lado, sem parar de dizer:
- A cor é linda... Diferente das fotos... E é... imensa...
Até aí tudo bem. Comentários que eu era capaz de
digerir. Até ela sacar o insuportável livrinho:
- Inaugurada em 31 de Março de 1889, a Torre Eiffel foi
construída para honrar...
Eu já não sabia o que era mais cansativo: ela ficar
repetindo coisas óbvias como se fossem incríveis, ou eu
acabar sempre completando as informações ridículas:
- O Centenário da Revolução Francesa. Allison, quem não
sabe disso?
Ignorando minha irritação completamente, ela
continuou:
- A Torre Eiffel possui três plataformas. Do topo, o ponto
mais alto de Paris, tem-se uma vista panorâmica da
cidade. Tem 300 metros de altura. Somando-se a
extensão da antena, a altura total da Torre é de 320,75
metros. Seu peso total é de sete mil toneladas, incluindo
40 toneladas de tinta. Possui 15 mil peças de aço e 1652
degraus até o topo...
Depois do pesadelo da véspera, retruquei com um
profundo e sincero alívio:
- Felizmente, existe um sistema de elevadores.
Minha observação a fez rir. Allison guardou o livrinho, e
me puxou entusiasticamente pela mão. Antes de
entrarmos na... arg... fila para comprar o "billet" para
subir, me fez andar entre o povinho sentado na grama
fumando, lendo, conversando ou simplesmente
apreciando o monumento.
Voltou a fotografar exaustivamente. Lamentou:
- Não consigo pegar ela inteira...
Com uma benevolência imensa – eu não estava me
reconhecendo – tentei deixá-la satisfeita:
- Depois vamos até Trocadéro. De lá você consegue uma
foto perfeita.
- Trocadéro?
Abriu o livrinho novamente. Folheou e depois começou a
ler, com uma animação horrenda:
- O Trocadéro é um lugar de Paris localizado do outro
lado do Sena a partir da Torre Eiffel. Neste local existiu
o Palácio de Trocadéro no lugar onde se ergue o atual...
Foi quando finalmente minha paciência acabou. Não fui
nem um pouco doce ao dizer:
- Palais de Chaillot! Mon Dieu, Allison! Você está
conseguindo me tirar do sério! Se abrir esse livrinho
idiota mais uma vez juro que atiro vocês dois no Sena!
O jeito que ela me olhou... Magoada, muito magoada.
Profundamente. O sorriso sumiu por completo dos lábios
dela. Na mesma hora me arrependi.
Fiquei olhando para Allison, meio sem saber o que fazer
– não ia pedir desculpas, evidente! - e então, com um
tom de voz suave e carinhoso ao extremo, tentei...
corrigir o... erro:
- Já viu uma foto famosíssima de Hitler com a Torre Eiffel
ao fundo? Foi tirada de lá, amor...
Os olhos castanhos, que se mantinham fixos no chão, me
fitaram, surpresos. E depois, aquele sorriso safado e
sedutor voltou, me arrepiando inteira:
- Você me chamou de quê?
Sorri de volta ao responder:
- Você ouviu da primeira vez...
Ela voltou a sorrir. E a insistir:
- Ouvi sim, mas... quero ouvir outra vez.
Ficou me olhando como se esperasse que eu repetisse.
Me esquivei:
- Vai ouvir muitas vezes, Allison. Só que... agora não
temos tempo.
Ela colocou as mãos na cintura, franziu o cenho. Sem
desmanchar o sorrisinho dos lábios perfeitos. Tentei
resistir:
- Agora não... Depois...
Ela suspirou, bateu o pé no chão, fingindo impaciência. O
riso subiu pela minha garganta - impossível conter. E
acabei dizendo:
- Está bem: amor... Satisfeita?
- Nem um pouco... Quem sabe se você disser mais uma
vez?...
Não foi a resposta dela, foi o jeitinho provocante...
Irresistível mesmo. Não questionei nem sufoquei a
vontade que veio. Com um beijo que não passou de um
leve encostar nos lábios dela, e um sorriso imenso,
sussurrei:
- Vem, amor... Quero te mostrar Paris inteira.
Começando pelo alto da Torre Eiffel.
Paris vista de cima... Inacreditável? Maravilhoso?
Magnífico? Indescritível... As construções históricas numa
tranqüilidade de quem não é ameaçado pelos arranha-
céus de La Défense. Incrível contraste entre antigo e
moderno, coisa de filme, capaz de levar à loucura
qualquer um que observe...
Para mim mais parecia uma maquete. Fui apontando e
explicando, me sentindo um site de busca da internet:
Cathédrale Notre Dame de Paris, Musée du Louvre,
Musée D'Orsay, Ópera Garnier, Obélisque de Luxor, Place
de la Concorde, Des Champs-Elysées...
Allison fotografou tudo entusiasticamente. Sem abrir o
livrinho infeliz uma vez sequer. Ia perguntar algo, mas
se arrependeu. Provavelmente por causa da minha... do
que eu tinha dito antes.
- Allison...
Ela murmurou distraidamente, concentrada em me
fotografar com Paris ao fundo:
- Uhm?
- O que você quer saber?
Depois de desgrudar os olhos rapidamente da tela da
máquina para me olhar nos olhos, ela voltou ao que
estava fazendo:
- Nada não. Besteira.
Tirei a máquina das mãos de Allison. E a fotografei,
dizendo:
- Quero fotos suas também.
O sorriso que capturei foi perfeito. Completei:
- Pode perguntar o que quiser. Não vou me aborrecer.
Prometo.
A nova foto ficou ainda mais bonita. A expressão que eu
adorava, e que ela sempre tinha quando estava feliz.
- Pra que essa rede? Atrapalha as fotos e a vista...
A pergunta, feita de repente, me pegou de surpresa. Mas
respondi imediatamente:
- É para impedir que as pessoas se suicidem.
- Mesmo?
Fiz que sim com a cabeça.
Com um espanto evidente, Allison falou como quem
deixa escapar um pensamento:
- Quem ia querer se suicidar num lugar lindo desses?
- Muito mais gente do que você pensa.
De um jeito muito sério e pensativo, Allison falou:
- Imagine a dor que é preciso se estar sentindo para...
Um silêncio pesado se estabeleceu. Allison com os
pensamentos dela. Eu com os meus.
Como sempre, Allison tinha o poder de me surpreender.
Tinha pouca cultura, mas... era inegavelmente
inteligente. Isso me instigava, porque... cultura ela
poderia adquirir com o tempo. O que seria... perfeito.
A abracei por trás, querendo acabar com aquela
expressão que ela tinha no rosto, quase de sofrimento,
que eu não conseguia entender. A beijei perto da orelha,
e sussurrei:
- E então? Está gostando de Paris?
Imediatamente consegui um sorriso. Allison se virou para
mim, antes de responder:
- Muito. Mas eu ia adorar o Iraque se estivesse com
você.
Dessa vez quem sorriu fui eu. Aplaudindo mentalmente.
"Bravo, Allison! Touché..."

Capítulo 33:

***Allison***

Depois do passeio na Torre Eiffel, retornamos ao hotel


num clima romântico de recém-casadas... Nossa! Como
era gostoso fazer amor com Pamela tendo ao fundo um
dos cartões postais mais lindos do planeta. Era um sonho
em todos os sentidos. A poderosa estava completamente
entregue ao momento que estávamos vivendo. Tá certo
que uma hora ou outra ela alfinetava de alguma forma,
mas isso não me preocupava. Na verdade, eu até gosto
desse jeitão que ela tem de decidir as coisas, de saber
tudo, querer sempre que a razão esteja pendurada no
seu pescoço. Se eu relaxar é até divertido. O que eu e o
Sr. Álvaro não gostávamos nela, era a forma humilhante
que Pamela submetia as pessoas. Ela não respeitava os
sentimentos de ninguém, e alguém que não respeita os
sentimentos das pessoas, deve ter uma pedra no lugar
do coração. Eu realmente não podia, e não queria
acreditar que a minha Pam tinha uma pedra no lugar do
coração...
Acordamos quase ao meio-dia. A reunião com os
franceses estava marcada para as dezessete e quarenta.
Beijei Pamela para tentar removê-la do objetivo de podar
as minhas esperanças para mais um passeio pela cidade.
Eu sabia que para ela estava sendo um saco visitar os
lugares que provavelmente já havia estado milhões de
vezes, mas mesmo assim, a esperança é a última que
morre, não é? Então:
Puxei o lençol que cobria o corpo dela... Comecei
beijando os seus pés... Massageando as suas
panturrilhas com carinho... Escalei seu corpo deslizando
os lábios pelas suas pernas, alternando uma e outra.
Alcancei as suas coxas... Pamela já estava com os olhos
arregalados... Me fitando cheia de desejo... Mordendo os
lábios daquele jeito que ela sabe que me deixa louca...
- Bonjour - sussurrei enquanto deslizava as mãos
espalmadas pelos seus seios rígidos e rosados... Meus
lábios continuavam deslizando pelas suas coxas... Minha
respiração alcançava o seu sexo... Pamela não me
respondeu nada, apenas se contorceu nos lençóis
indicando que queria um contato maior... Deslizei a
língua de leve pelo sexo dela... Retirei a mão direita do
seu seio e com os dedos senti a sua excitação...
Molhada! Ela estava docemente, digo, completamente
molhada... Afundei meus lábios, língua... Dedos dentro
dela... Senti seu quadril levantar-se do colchão...
Agarrei-a pelas nádegas com a mão esquerda e a trouxe
para mim, como se eu pudesse entrar dentro dela com
aquele contato... Gemi sentido minha carne vibrar com o
calor do sexo da mulher que eu amava como nunca amei
ninguém em toda a minha vida... Gozei... Ela gozou...
Escalei o corpo dela e beijei os seus lábios...
- Bonjour, mon amour. – disse ela espreguiçando-se.
Aumentei os beijos nos lábios de Pamela... Capturei sua
língua e suguei-a com paixão... Aquele beijo estava nos
deixando completamente excitadas novamente.
- Que tal passeio no museu do Louvre? – disparei.
Pamela me olhou desconfiada... Me preparei para ouvir o
seu "não" bem sonoro – Por favor!
- Pela milésima vez, Allison...
- Quero ver a Monalisa! – justifiquei.
- Pela milésima vez, Allison... – repetiu com aquela cara
de quem não está nem aí para a minha curiosidade – Irei
ao Louvre, mas com você... Certamente será muito
diferente – sorriu. Aquele sorriso iluminou o meu dia.
Arrisco dizer que eu fiquei até emocionada. Minha
Pamela não tinha mesmo uma pedra ao invés de um
coração...
- Claro que será diferente, oras! Te farei milhões de
perguntas! Adoro explorar a sua inteligência!
Sorrimos... Pam deu um salto da cama... Caminhou nua
até o banheiro... Ela me provocava ao andar... Olhou pra
trás antes de fechar a porta... Piscou sedutoramente pra
mim...
- Você não vem? –
sussurrou.

Almoçamos as pressas... Correndo para que desse tempo


de irmos realmente ao Museu do Louvre. Minutos
depois... Insistência é a alma do negócio! Eu estava
radiante quando entramos no museu. Olhava cada
cantinho do lugar cheia de sede para conhecer um
pouquinho mais da história que repousava ali. Parece
que Pamela leu os meus pensamentos... Na medida em
que andávamos pelo museu, ela ia me contando algumas
histórias.
- Esse museu possui uma das mais importantes coleções
de arte do mundo... – dizia ela.
- E a Monalisa, onde está?
- Calma, Allison – sorria – Construído em 1190 como
fortaleza do rei Filipe Augusto e para proteger Paris dos
ataques dos vikings.
- Os vikings, legal! – passamos por um enorme corredor
– E a Monalisa, onde está?
- Mas que coisa, Allison! – pareceu impaciente – dá para
esperar um minuto? – continuamos andando.
- Já passou um minuto – disse e fitei-a de rabo de olho
para provocá-la. Ela me olhou de volta e apontou uma
parede...
- Ai está a sua Monalisa!
Olhei... Olhei de novo... Sabe quando você se decepciona
imediatamente com alguma coisa.
- Nossa! – disse frustrada. Acho que Pam não percebeu
a minha frustração... Cruzou os braços e ficou
contemplando o quadro a nossa frente.
- Leonardo da Vinci pintou este retrato por volta de
1504. Logo foi considerado o exemplo do retrato
renascentista.
- É... É... Pequeno! – disse balançando a cabeça
negativamente. Vocês tinham que ver o tamanho
daquele quadro. Putz! Insignificante. Eu não gostei!
- É lindo, Allison! – disse Pam afrontada com a minha
ousadia ao dizer que o quadro era pequeno.
- Eu não gostei! – dei as costas imediatamente ao
pequenino quadrinho da florentina, conhecida como La
Gioconda. Voltei a olhar para Pam que estava imóvel. –
Podemos ver a Vênus de Milo?
- A Monalisa é fantástica!
- O quadro de margarida que eu tenho em casa é mais
bonito que ela.
- Você não vai conseguir me irritar com esse seu
comentário... Insolente! – estava furiosa.
- Relaxa, Pam! É só um quadro...
- Não tente se justificar Allison! Está piorando ainda
mais as coisas.
Sorri... Puxei-a pelas mãos para que andássemos mais
rápido...

Pamela ficou um pouco descontente por eu ter falado


mal da Monalisa, mas eu não gostei, oras! O que ela
queria que eu dissesse? Essas mulheres tem cada uma,
viu? Ela ficou de bico até o jantar com os franceses.
Depois de algumas taças de champagne, Pamela voltou a
sorrir. E como sorriu! Os dois idiotas que falavam
fazendo biquinho estavam completamente derretidos por
ela, e eu, completamente enciumada. Só parei de sentir
ciúmes quando ela segurou minha mão discretamente
por baixo da mesa... Nesse momento nossos olhos se
encontraram, Pamela sorriu e eu li no seu sorriso a
seguinte frase: "está tudo bem". Foi o céu, não
é? Relaxei e encarei a reunião com um pouco mais de
tolerância. Negócio fechado! Dentro de três meses a
"GENTE CHIQUE" iria invadir o território francês. Uma
coisa eu tenho que admitir: o charme da Pam ajuda, e
muito, nos negócios da revista. Ela convence os caras
com um olhar. Nossa! Estou cada vez mais apaixonada,
não é? De volta ao Rio, a primeira coisa que vou fazer é
ir ao encontro do Sr. Álvaro e dizer que nosso plano não
precisa ser colocado em prática. Pamela está mudando,
do jeito dela, mas está mudando... Isso é evidente!

Nossa noite de amor foi maravilhosa como todas as


outras... As lembranças de Paris ficariam imortalizadas
dentro do meu peito como as melhores de toda a minha
vida!
Aterrissamos em solo brasileiro e o choque pelo fuso
horário nos fez dormir sem ao menos termos tempo de
nos amarmos mais uma vez.
Saí da casa de Pamela e fui direto para a revista. Havia
marcado com o Sr. Álvaro que assim que nós
chegássemos, ele iria passar lá para fazer a troca de
cargos. A essa altura Arlete já devia ter avisado ao meu
sogro que estávamos no Brasil. Tentei inúmeras vezes
ligar para ele durante o trajeto até a revista... Em casa,
a informação era que ele não se encontrava. O celular, o
homem não atendia. Foi batendo um desespero. Não
queria que aquele mal entendido acabasse com os dias
maravilhosos que eu e Pamela tivemos em Paris.
Cheguei na revista completamente transtornada à
procura do Sr. Álvaro. Arlete disse que não sabia do
paradeiro dele, mas que o mesmo estava ciente de que
eu e sua filha estávamos no Rio de Janeiro. Bati na mesa
da secretária que não conseguia entender o porquê de
eu estar tão nervosa. Na verdade, acho que eu nunca
estive tão arrependida e tão nervosa em toda a minha
vida... Léo abraçou-me por trás... Virei-me
imediatamente de frente pra ele...
- Que carinha de aterrorizada é essa, amiga?
- Acho que fiz a maior burrice de toda a minha vida. –
fitei-o com lágrimas nos olhos.

Capítulo 34:

***Pamela***

- Eu não gostei!
Essa foi a frase absurda de Allison ao ver La Gioconda.
Irritada era pouco, aquilo me deixou simplesmente...
revoltada! Retruquei:
- A Mona Lisa é fantástica!
Ia começar a explicar porque aquele era o mais famoso
quadro na história da arte, senão, o mais famoso de todo
o mundo, quando ela completou:
- Relaxa, Pam! É só um quadro...
Só um quadro? Fiquei paralisada, sacudindo a cabeça
negativamente. Allison sorriu, tentando me puxar pela
mão enquanto eu protestava:
- Não tente se justificar Allison! Está piorando ainda
mais as coisas. Fique sabendo que "La Gioconda" foi a
obra onde Leonardo Da Vinci melhor concebeu a técnica
do sfumato...
Ela parou, rindo da minha cara:
- Esfu o quê?
Suspirei profundamente – haja paciência! – antes de
responder:
- Sfumato, Allison, é uma técnica usada para gerar
gradientes perfeitos na criação de luz e sombra de um
desenho ou de uma pintura. Foi uma técnica inovadora
na Renascença Italiana.
Ela ficou me olhando, tentando se manter séria, sem
muito resultado. Mesmo assim continuei:
- Da Vinci foi o primeiro a perceber que o verniz de
madeira corrói a tinta a óleo, gerando um gradiente
perfeito no local. É praticamente impossível perceber as
pinceladas nas obras dele. Entendeu?
Ela sacudiu a cabeça afirmativamente, com um brilho
divertido nos olhos... Mas sequer voltou a olhar para a
Monalisa. Apenas sugeriu:
- Impressionante, mas... Agora podemos ver a Vênus de
Milo?
Fechei a cara de vez. Respondi muito, mas muito irritada
mesmo:
- Podemos. A Vênus de Milo, a Vitória de Samotrácia, a
Dama de Auxerre, a Madona das Rochas, tudo o que
você quiser. Desde que trate as obras de arte com o
respeito que elas merecem!
Saí andando rápido, com Allison me seguindo de perto.
Absolutamente furiosa, principalmente ao escutar o
risinho que ela tentou abafar, sem muito êxito...

O jantar com os investidores franceses foi um sucesso.


De volta ao hotel, não pude deixar de dizer:
- Allison, você enlouqueceu? Sua crise de ciúmes infantil
poderia ter atrapalhado e muito!
Ela não se intimidou. Ao contrário, disse com todas as
letras:
- Pam, eles estavam dando em cima de você!
Deixei escapar uma gargalhada. Impossível conter...
Allison me olhou feio. Respirou fundo, franziu o cenho...
Retruquei:
- Meu amor, os homens dão em cima de mim o tempo
inteiro...
Allison explodiu:
- Porque você fica sorrindo e flertando com eles!
Caminhei até ela com meu sorriso mais irresistível. A
puxei pela cintura sedutoramente. Allison estremeceu...
Grudei minha boca no ouvido dela e sussurrei:
- Ali... Entenda de uma vez: eu sorrio pra eles, mas amo
você...
O corpo dela se arrepiou inteiro. Um gemido escapou por
entre os lábios que rapidamente procuraram os meus.
Foi um beijo delicioso. Ardente, urgente, pleno de algo
muito maior e mais profundo do que um simples
desejo... Quando nossas bocas se separaram, disse
olhando nos olhos dela:
- Quer dizer então que arrumei uma namorada
ciumenta...
Após um piscar de olhos muito surpreso, Allison
gaguejou:
- Namo... namorada? Eu?
A beijei nos lábios mais uma vez antes de responder de
forma provocante:
- Prefere ser só amante?
Ela abriu um daqueles sorrisos que me desarmavam
sempre... Antes de responder, os lábios descendo por
meu pescoço, as mãos abrindo o zíper do meu vestido,
queimando minha pele:
- Não... namorada é perfeito...
Perfeita foi ela... a noite inteira...

Depois de um café que foi mais um almoço – afinal


passavam das duas horas da tarde quando finalmente
acordamos, ambas exaustas de fazer amor até
amanhecer – declarei:
- Allison, você não pode ir embora sem conhecer Notre
Dame!
Ela resmungou, reclamou, repetiu várias vezes que
preferia aproveitar os últimos momentos em Paris na
cama, ao invés de perder tempo conhecendo uma "igreja
metida a besta", mas quando nos aproximamos da
catedral, ela mudou de idéia:
- Uau!
Foi só o que conseguiu dizer. A puxei pela mão com um
sorriso imenso:
- Isso não é nada. Espere até ver lá dentro.
A reação dela ao se deparar com os 127 metros de
comprimento, 48 metros de largura e 35 metros de
altura não foi nada comparada a que teve quando viu a
aura etérea criada pelo colorido dos grandes vitrais das
rosáceas e janelas. Deixou escapar quase como se
falasse para si mesma:
- Nunca me senti tão pequena...
Segurei a mão dela carinhosamente. Allison sorriu, e
pediu:
- Podemos sentar aqui um momento?
Concordei. Sentamos em um dos bancos da nave. Allison
olhando fixamente, quase hipnotizada pela rosácea no
alto, atrás do altar na nossa frente...
Estranha e inacreditavelmente, me vi fazendo algo que
eu nunca tinha feito com ninguém:
- A primeira vez que entrei aqui eu tinha cinco anos. Meu
pai disse que fiquei quase duas horas sentada, olhando
para cima, exatamente como você está fazendo...
Allison me olhou profundamente, sorriu, apertou minha
mão na dela, e disse simplesmente:
- Eu amo você.
Acrescentando mais um na minha lista de momentos
perfeitos...

Chegamos no Galeão de madrugada. Pegamos um táxi


até a minha casa. Eu estava... exausta.
Deixei que Allison coordenasse o porteiro e Paz no
carregamento de nossas malas, enquanto tomava uma
chuveirada rápida, e me atirava na cama, nua como eu
gostava.
Allison entrou no quarto escuro tentando não fazer
barulho. Sem abrir os olhos, a chamei:
- Vem logo... Quero dormir abraçada com a minha
namorada.
Em questão de segundos ela já estava despida ao meu
lado. Me aconcheguei no corpo de Allison com um
suspiro de prazer. Colei meus lábios nos dela num beijo
apaixonado antes de dizer:
- Adoro dormir com você...
Adormeci quase que imediatamente, com o ombro dela
me servindo deliciosamente de travesseiro...
Acordei com beijos... Abri os olhos e Allison estava na
minha frente, com um sorriso lindo e estranhamente...
fora da cama e vestida. Reclamei:
- Ainda é cedo... Volta para a cama, amor... Vem...
Ela me beijou novamente, antes de dizer:
- Preciso passar em casa antes de ir pra revista. Faz
séculos que não vou lá... O Léo já deve estar pensando
que me mudei, ou sei lá o que...
Me pendurei no pescoço de Allison. Sussurrei no ouvido
dela:
- Deixe ele pensar o que quiser. Não quero ficar sem
você...
Mais um beijo, e ela se soltou, respondendo:
- Não, amor, sério... Preciso mesmo ir. Nos vemos na
revista.
Concordei com um suspiro desanimado. Nem assim
Allison cedeu. Se despediu com um beijo longo,
apaixonado, mas que me deixou com uma sensação de
algo que eu não conseguia compreender... Tentei afastar
o estranho pressentimento sem êxito. Continuei com um
pulsar sufocante no peito.
Quando cheguei na "Gente Chique", Allison estava em
minha sala. Parecendo muito tensa.
- Que aconteceu?
Foi a primeira coisa que perguntei. Ela me olhou, um
misto de angústia e medo... Antes de responder:
- Preciso conversar com você.
Passei meus braços ao redor do pescoço dela, tentando
afastar a distância que parecia haver entre nós – tão
palpável que eu quase poderia tocá-la - dizendo:
- Alguém morreu?
Allison nem sorriu. Me fitou profundamente. Preocupação
e... o que mais? Eu não sabia responder. Abriu a boca
para falar e então... o barulho da porta se abrindo atrás
de nós... Nos afastamos rapidamente... Meu pai entrou
na sala sorrindo e dizendo:
- E então? Como foi a viagem?
Junto com um olhar de censura, falei:
- Você não sabe bater?
Meu pai riu. E se sentou na minha cadeira. Ele estava um
tanto quanto... diferente... Allison parecia ainda mais
tensa com a presença dele... Comecei a me perguntar o
que estava acontecendo. A resposta veio mais rápido do
que eu pensei:
- Você se esquece, Pamela, que essa sala, assim como a
revista, é minha. E que eu faço dela o que eu bem
entender. Tenho sido benevolente com as suas tiranias,
mas... agora chega.
Realmente, eu não estava entendendo:
- Como assim? O que você quer dizer?
Ele me olhou diretamente nos olhos ao responder:
- Que a partir de hoje, o poder de mandar e desmandar
na "Gente Chique" não é mais seu. A Allison vai assumir
a direção da revista, Pamela.
A única coisa que eu consegui dizer foi:
- O que? Você está me demitindo? É isso?
Aquilo não podia estar acontecendo. Era... um
pesadelo... A qualquer momento eu iria acordar... Ele
continuou dizendo:
- Claro que não. Você mantém seu cargo. Quero que as
duas trabalhem juntas. Ela vai implantar idéias novas, e
você vai ajudar. Espero que cheguem sempre a um
consenso, mas... já deixo claro que em caso de
divergência entre vocês, a decisão de Allison é a que
vale.
Meu pai se levantou, triunfante. Sustentei o olhar que
me lançou com firmeza. Afinal de contas, não ia dar a ele
o gostinho de me ver desmoronar.
Allison tentou falar:
- Sr. Álvaro, eu tentei falar com o senhor a manhã
inteira, porque...
Meu pai colocou a mão no ombro de Allison, e a olhou de
um jeito que deixou claro para mim que o que ele tinha
acabado de falar não era novidade para ela... Mas como?
Quando? Minha mente trabalhava febrilmente... Antes da
viagem, eles... Em Paris, ela sabia... Ela sabia, mas não
tinha me falado nada...
- Não vou deixar você voltar atrás, Allison.
Voltar atrás? Então não só ela sabia como... Já tinha
aceitado...
Allison protestou:
- O senhor não entende... Eu não...
Mas meu pai a interrompeu:
- Confie em mim. Sei o que estou fazendo. Isso é o
melhor para a revista, e o melhor para vocês.
E depois se retirou, dizendo:
- Vou deixar as duas a sós.
Minha confiança em Allison era tanta, que perguntei, não
conseguindo acreditar nas palavras que tinha acabado
de ouvir:
- Allison... Me diz que isso não é verdade... Que você não
sabia... Que...
Eu nem conseguia dizer. Ela abaixou a cabeça antes de
responder:
- Não é o que você está pensando, Pam... Calma...
escuta o que eu vou te dizer...
Não a deixei completar. Nem que ela visse a decepção
tão absolutamente profunda, um abismo me puxando de
forma inevitável... Felizmente, a raiva veio, camuflando
um pouco o sofrimento. Um sofrimento que eu nem
imaginava que poderia existir. Ao mesmo tempo
paralisando e causando arrepios... Um vácuo que subia
do estômago e me ardia os olhos ao descobrir que...
Traída, da pior forma possível. Pela única pessoa que
eu... Não conseguia acreditar, aceitar, muito menos
compreender...
Virei de costas. Não suportando olhar para ela ao dizer:
- Engraçado. Sempre esperei o pior de todas as pessoas.
Menos de você.
Ela se aproximou, tocou meu ombro suavemente. Reagi
brusca e rapidamente, rejeitando e interrompendo o
contato ao me virar para ela tremendo. Desejando que
ela também queimasse no inferno que eu estava vivendo
naquele momento:
- Parabéns. Você conseguiu me enganar completamente.
Como eu pude acreditar que...
Um riso amargo escapou dos meus lábios. Ao me
lembrar de tudo o que eu tinha dito, sentido, me
permitido... O quanto eu tinha sido imbecil em esquecer
que para ser atingida bastava abaixar a guarda um
milímetro...
A rasteira dela tinha me derrubado. Mas uma coisa era
certa: eu não ia ficar caída.
Ela estendeu a mão na minha direção, se fingindo de
preocupada, mas com um gesto impedi que encostasse
em mim. Antes de continuar:
- E no final você não passa de uma vagabundinha
ambiciosa querendo subir na vida...
- Pam, me escuta... eu...
Incrível como aquela menina conseguia ser convincente.
O jeito que me olhou... Quase conseguiu... Não. Nunca
deixaria que acontecesse novamente. Congelaria as
lágrimas que sufocavam dentro do peito, fazendo com
que meu coração se tornasse gelo. Eu era forte o
bastante para fazê-lo.
Minha voz soou seca, absolutamente fria quando a
cortei:
- Não adianta. Nada vai me fazer pensar diferente.
Ela prosseguiu numa atuação excepcional de desespero:
- Não! Pam, eu posso explicar, se me ouvir você vai
entender...
A olhei com profundo desprezo. O mesmo com que falei:
- Você já conseguiu o que queria, essa encenação toda é
para quê? Não quero mais te ouvir. Aliás, não quero
sequer olhar para você.
Avancei em direção à minha bolsa. Ela me interceptou,
me puxando pelo braço, as mãos envolvendo minha
cintura, me trazendo para junto dela, o simples contato
fazendo com que eu estremecesse.
Precisava fazer com que minha mente fosse mais rápida
do que os sentimentos que ameaçavam aflorar e fazer
com que eu me rendesse... Coloquei as mãos nos
ombros dela, a empurrando com tanta força que quase
caí. Ela impediu, me amparando nos braços, me
apertando contra o corpo dela, a boca sussurrando
próxima a meu ouvido:
- Je t'aime.
Arrepiei inteira, mas... não como das outras vezes.
Talvez a certeza de ser a última vez que nos tocávamos
ou então... a profunda dor que se sente quando não se
acredita mais em alguém...
Allison me olhou intensamente. Milhares de recordações,
sensações de momentos que havíamos passado juntas
me envolvendo...
Ela começou a aproximar os lábios lentamente, e os
meus se entreabriram, num desejo incoerente...
E então... Ali soltou um gemido abafado quando minha
mão direita a acertou em cheio. Numa bofetada tão forte
que a fez perder o equilíbrio e deixou meus dedos
marcados no rosto dela em vermelho.
Me afastei, peguei a bolsa, caminhei até a porta. Ela
apenas me olhava, com a mão no rosto, no local em que
a estapeei, sem nada dizer. Quem quebrou o silêncio fui
eu. Antes de sair da sala, tinha uma última coisa a
esclarecer:
- Nunca mais me toque. No que me diz respeito, o que
houve entre nós simplesmente não existiu. Você acaba
de ganhar a pior de todas as inimigas, Ali. E pode ter
certeza: não vai sobrar nada quando eu acabar com
você.

Capítulo 35:

***Allison***
O que eu podia fazer diante das palavras que não foram
ditas? Da confiança que foi perdida por um erro de
cálculo? Depois que Pamela saiu da sala, eu provei o
gosto amargo da desilusão. Tantas vezes ela me
decepcionou com as suas atitudes tiranas. Me humilhou
diante de Penélope, da cúpula presidencial... Mas nada
se comparava a dor que eu estava sentindo naquele
instante. Sabe por que? Simplesmente porque fui eu
quem provocou aquela situação. Onde eu estava com a
cabeça para concordar com aquele plano ridículo do Sr.
Álvaro? A Pamela era a alma daquela revista. A direção
sem ela ficaria tão vazia quanto um pote de cereja
quando Léo está deprimido. Afastei-me da mesa dela...
Ali não era o meu lugar... Nunca foi! Nunca seria! Eu só
queria o amor de Pamela... Eu provei o amor dela em
Paris, e a única certeza que eu tinha naquele momento,
era que ela estava eternizada no meu coração... Sai da
sala cabisbaixa... Passei por Arlete sem ao menos
conseguir cumprimentá-la... A secretária me seguiu até
puxar o meu braço e me fazer parar no meio do
corredor...
- Você tomou a decisão certa, Ali – disse.
- O quê? – fitei-a sem conseguir compreender
onde ela queria chegar.
- A dona Pamela precisa sentir na pele o
gostinho de ser uma de nós. Quem sabe agora ela fica
um pouco mais humilde?
- Sabe onde o Sr Álvaro está? – ignorei
completamente o seu comentário.
- Sala de reuniões – apontou o final do corredor
– A redação inteira está do seu lado.
Olhei rapidamente a minha volta... Os
funcionários me olhavam com um tom de agradecimento
nos lábios que me deixou ainda mais pior. Todos já
sabiam? Arlete andou ouvindo atrás da porta, ou o Sr
Álvaro deu a notícia em primeira mão durante o tempo
em que estávamos viajando? Queria desaparecer dali.
Mantive o silêncio do meu olhar e caminhei em passos
apressados até a sala de reuniões... Abri a porta
rapidamente... Entrei... Deparei-me com um Sr Álvaro
pensativo. Olhando algumas fotografias da sua filha que
ficavam penduradas na parede como troféus. Pamela foi
a geração mais competente daquela conceituada revista.
Ele percebeu a minha presença, embora eu não tenha
feito nenhum barulho. Fechei a porta atrás de nós. O
homem sorriu gentilmente pra mim.
- Vamos conseguir dobrá-la – disse animado.
Suspirei, logo balancei a cabeça negativamente
enquanto apoiava as mãos no encosto da cadeira do
presidente.
- Tentei localizar o senhor a manhã inteira –
disse frustrada. Passei rapidamente a mão direita para
enxugar algumas lágrimas que escorriam dos meus olhos
– Nossa viagem foi maravilhosa! Alias, a sua filha
desconhece o quanto é uma pessoa incrível e
encantadora... Doce até!
- Ali...
- Um minuto por favor – engoli a saliva como
quem engole uma lâmina – Acabou! – sorri irônica... As
lagrimas continuavam fazendo os meus olhos
desabafarem - O senhor não me deu a chance de
desistir dessa idéia louca de virar chefe da minha
chefe.... A Pamela não me deixou explicar que eu não
queria tomar o lugar dela. Não sei quem foi mais
intransigente nessa história, sabia? O senhor ou ela. Só
sei que eu fui uma completa idiota. Ninguém muda
ninguém a revelia. – ele prestava atenção nas minhas
palavras... continuava em silêncio – Ela estava
praticamente desarmada em Paris! – Abri os braços
inconsolável - Claro que a Pamela sem aquele sarcasmo
e, aquele ar de superioridade... Perderia totalmente o
encanto. Estávamos nos entendendo... Sem planos...
Armadilhas... Sem a interferência divina, entende? Não
podemos simplesmente apontar uma pessoa e dizer: hei!
Hoje você fará o que eu quero!
- Eu pensei... Que...
- Eu pensei que fossemos mais racionais.. Mais
humanos... – enxuguei os olhos – Pensei que o bem e o
mal existiam de fato, e me intitulei a boazinha da
história, mas a boazinha da história jamais trairia a
confiança da mulher que ama.
- Ali..son... Me desculpa... Podemos dar um
jeito nisso... Eu voltarei atrás na decisão... E...
- Nós já a magoamos, Sr. Álvaro! – dei a volta
na mesa... Parei de frente ao homem de terno azul...
Estendi as mãos para cumprimentá-lo... Ele olhou a
minha mão estendida... Apertou um tanto hesitante – Ela
não precisa receber ordens... Nem do senhor! Eu
agradeço a confiança... – balancei a mão duas vezes.
Soltei a mão dele – Obrigada por acreditar no meu
trabalho, nas minhas idéias e por achar que eu estaria a
altura da sua filha.
- Você não...
- Sim! Eu me demito.
- Pensa bem Allison! Aqui você pode crescer
muito minha filha... Terá uma carreira brilhante... Suas
idéias são fantásticas...
- Se sou uma boa profissional, terei sucesso em
qualquer lugar. – toquei o ombro dele – Não posso viver
sem a sua filha. Depois de ter experimentado o quanto é
bom ser amada por ela, seria impossível conviver sendo
odiada.
- Allison. Não vou aceitar a sua demissão. Vai
pra casa... Pensa bem em tudo o que aconteceu.
Podemos dar um jeito nisso... – segurou minha mão –
Desculpa se me precipitei. Achei sinceramente que seria
o melhor pra ela.
- Não dá pra achar o que é melhor para
alguém.
- Lamento.
- Também não dá pra lamentar pelo leite
derramado.
- O que você pretende fazer?
- Eu não sei. – disse, logo aquela frase ficou se
repetindo inúmeras vezes na minha cabeça. – Agora, só
sei que retornarei até a minha sala e vou encaixotar as
coisas que estão na minha mesa e dentro das gavetas
dos armários.
- Não faça isso... Dê um tempo para a situação
ficar mais confortável.
- Tá brincando! A sua filha quer servir a minha
cabeça em uma bandeja de prata. Preciso fazer isso...
Por mim... Por ela...
- A Pamela sempre ganhou tudo no grito. É uma
mulher mimada... Cheia de manias – passou os dedos
pela fotografia... – Você tem feito a minha filha repensar
nas suas atitudes. Temo que sem você ao lado dela, toda
essa conquista que é ver a mudança dos seus atos, não
passe de perda de tempo e esperanças.
- Ela não tem que mudar porque nós queremos.
– passei as mãos pelos meus cabelos. – Até, Sr Álvaro.
- Boa sorte na sua escolha. Mas... Se mudar de
idéia. O cargo, seja ele qual for, ainda é seu.
- Obrigada. – disse e caminhei de volta até a
minha sala.

Olhei a minha volta... Eu gostava daquele lugar.


Gostava de tudo o que eu estava aprendendo com a
Poderosa. Ser assistente de Pamela havia sido a melhor
coisa que aconteceu na minha carreira. Ela era decidida,
inteligente, sabia sair de qualquer situação sem perder o
charme, e era persuasiva a ponto de reverter tudo a seu
favor. Quando retornei a minha sala, eu havia trazido
comigo uma caixa de papelão que consegui no
almoxarifado. Arrastei uns papei que estavam em cima
da mesa para o lado esquerdo... Pus a caixa no lugar dos
mesmos... Comecei a arrumar minhas coisas... Eu estava
triste, sabe? Também por deixar a revista, mas ainda por
deixar Pamela.
Ouvi um barulho na porta, logo Léo entrou na
sala sem bater e com um sorriso ridículo nos lábios...
Caminhou na minha direção batendo palmas...
- Hum... Já preparando a mudança para a sala
vip, hein? – parou na minha frente e me puxou para um
abraço apertado – Nem acredito nisso, sabia? Temos que
comemorar! Uma festa, que tal? – soltou-me... - Com
direito a champagne e muitos... Muitos... Garçons lindos
e maravilhosos! – sorriu animado – Vê se não esquece os
amigos, tá? Pode me promover para um cargo bem
bacana que eu nem ligo!
Senti o meu sangue ferver diante das palavras
dele... Num impulso segurei Léo pela camisa... Eu estava
com tanta raiva, não apenas dele, mas da situação em
si, acho que eu teria coragem de esganá-lo naquele
momento.
- Não tô mudando de sala! Estou arrumando as
coisas para eu ir embora daqui. Não quero o cargo da
Pam! A única coisa que eu queria ganhar na minha vida,
era o amor dessa mulher. O perdi por causa dessa merda
de plano!
- Ali... Você...tá... Me... enforcando... –
sussurrou.
Soltei a gola da sua camisa... Nervosa, passei a
mão nos meus cabelos...
- Sai daqui, Léo! – disse brava.
- Não pode perder essa chance! – caminhou até
a janela que dava vista para a redação. Afastou as
persianas... Dali eu podia ver os funcionários trabalhando
– Estão todos comemorando! Estamos cansados de ser
mal tratados pela dona Pamela, Allison! A podersa
precisa aprender de uma vez por todas a nos tratar
melhor! – voltou até onde eu estava – Foi uma jogada de
mestre do Sr Álvaro! É a filha dele, Ali! Ele sabe o que é
melhor pra ela.
- Se ele soubesse o que é melhor pra ela, teria
corrigido-a antes que Pamela virasse uma mulher... –
continuei colocando as coisas dentro da caixa – Ele foi
um pai ausente a vida inteira, porque quer mudá-la
agora? Dane-se as intenções do Sr Álvaro! Eu perdi a
mulher que amo – parei o que está fazendo – Você
consegue entender a gravidade disso? Em Paris fomos
felizes! Ela... Ela... Tava diferente... Não precisava... –
peguei um lenço de papel e enxuguei os meus olhos –
Vai embora Léo. E pode dizer para todos lá fora que o
lugar da Pamela ninguém tira.
- Você é tão covarde, Allison!
Ergui a cabeça... O que ele queria com aquela
provocação?
- Tá com medo de ser melhor do que ela. –
parou na minha frente. Colocou as mãos nos meus
ombros – Suas idéias são inovadoras. E... Os
funcionários irão trabalhar com alegria por saberem que
não serão humilhados por você. Pensa nisso!
- Ninguém é melhor do que a dona Pamela –
tirei as mãos dele dos meus ombros – Encosta a porta
pra mim, tá?
Léo saiu balançando a cabeça negativamente...
Continuei encaixotando as minhas coisas... Estava quase
terminando de esvaziar as gavetas quando a porta abriu-
se novamente. Parei imediatamente o que estava
fazendo quando Pamela entrou na sala. Ela estava com a
cara séria de sempre. Me olhando de cima como se eu
fosse um inseto ou coisa parecida. Aproximou-se
silenciosa de onde eu estava. Tentei encarar os seus
olhos azuis, mas os meus estavam tão envergonhados
que eu desviei o olhar e continuei arrumando a caixa...
- Já marquei a reunião com a diretoria para a
sua posse. – disse com o tom de voz firme. Levantei a
face... Tentei olhá-la de frente...
- Olha, eu... Não quero o seu cargo. – dei a
volta na mesa... parei próximo a ela – Eu e seu pai...
Nós estávamos equivocados...
- Quero que cale a boca e me ouça... Porque eu
só vou dizer uma vez – firmou o olhar, eu fiquei calada
ouvindo-a - Você vai voltar aqui amanhã às 14h, irá
entrar naquela sala de reuniões... Assumir a presidência
da Gente Chique, e eu vou provar pro meu pai, pra você
e pra todos esses miseráveis que se dizem meus
funcionários que você é incompetente para manter o
cargo deles e a boa reputação dessa instituição.
Entendeu?
Engoli em seco enquanto ela falava...
- Queria que você entendesse as minhas
razões... Nós só queríamos que você se humanizasse um
pouco. – tentei segurar as mãos dela. Pamela se
esquivou do contato – Eu te amo. Desculpa por não ter
te contado, eu desisti do plano, mas não tive tempo de
falar com o seu pai... – tentei me justificar o máximo
que pude.
- Desistir do plano, não quer dizer que você não
tenha me traído Allison – continuou encarando-me
daquela forma que só ela sabia fazer. Erguendo uma
sobrancelha e intimidando os reles mortais que estavam
diante daquela Deusa.
- Nunca vai me perdoar, não é?
- Você é insignificante pra mim. Não faz
diferença te perdoar. – disse e deu-me as costas. Antes
de sair... Parou... Permaneceu de costas... – Não
esqueça que você tem que estar às 14h em ponto, na
sala de reuniões.
Não disse absolutamente nada. Eu não sabia
como agir. Pamela, como sempre. Tinha o domínio da
situação.

Capítulo 36:

***Pamela***

Quando fechei a porta do carro, agarrei o volante com


força, engolindo a vontade de gritar. Fiquei muito tempo
ali parada, tentando inutilmente deixar de tremer. Minha
respiração se recusando a voltar ao normal...
Uma estranha umidade no rosto me incomodando...
Levei uma das mãos à face e só então percebi que
eram... lágrimas?
Aquilo era... mais do que deprimente... humilhante, de
uma total e absoluta falta de classe...
O mais baixo que eu me permitiria chegar.
Definitivamente, eu não ia passar a vida inteira guiada
pelos malditos fios invisíveis... Não tinha mais tempo a
perder com esse tipo de barbárie...
"Inaceitável, Pamela! Agora basta!"
Respirei fundo, peguei um lenço na bolsa, enxuguei os
vestígios abomináveis daquele que – eu jurava! - era
meu último momento de fraqueza, retoquei a
maquiagem, e saí do carro.
Algo ou alguém me derrubar? Nunca, jamais! Voltei para
a "Gente Chique" como se tivesse exorcizado o espírito
derretido e retardado que tinha me dominado nos
últimos dias. Meus olhos faiscavam. Em parte por uma
raiva fria, cortante como uma navalha. Em parte pela
simples certeza de saber que ao voltar a ser quem eu era
de verdade jamais seria derrotada.
Quando a porta do elevador se abriu, a redação parecia
em festa. Os sorrisos morreram quando fuzilei as
amebas que se diziam meus funcionários com o olhar.
Um silêncio amedrontado se estabeleceu enquanto eu
atravessava o salão direto para a sala de Ali. O único
ruído era o som compassado dos meus saltos pisando no
chão do mesmo jeito como eu ia pisotear todos aqueles
ratos. A começar por...
Allison estava terminando de esvaziar as gavetas quando
entrei. Parou imediatamente, mas não conseguiu me
encarar.
Senti um aperto no peito... A forma que ela me olhava
sempre tinha sido uma das coisas que eu mais
gostava...
Afastei o pensamento infame, não podia me deixar
dominar por coisas que eram simplesmente... Um erro, o
maior que eu já tinha cometido... O momento
desprezível quando eu tinha dito que a amava... Eu só
podia estar delirando... Fora de mim, mas não mais... E
uma coisa era certa: Ali ia me pagar. A medida do
quanto seria determinada pelo tormento que a traição
imperdoável conseguisse me causar.
Me aproximei dela, que estremeceu. Antes de continuar
arrumando a caixa em cima da mesa. Louca para se
mudar para a minha sala, pelo jeito...
A olhei com desprezo ao falar:
- Já marquei a reunião com a diretoria para a sua
posse.
Ela me olhou timidamente, a voz tremendo ao
responder:
- Olha, eu... Não quero o seu cargo. Eu e seu pai... Nós
estávamos equivocados...
Se aproximou de mim. Me olhando de um jeito... Não...
A menina era uma farsa... Precisava manter isso em
mente. Firmei o olhar, e ordenei:
- Quero que cale a boca e me ouça... Porque eu só vou
dizer uma vez. Você vai voltar aqui amanhã às 14h, irá
entrar naquela sala de reuniões... Assumir a presidência
da "Gente Chique", e eu vou provar pro meu pai, pra
você e pra todos esses miseráveis que se dizem meus
funcionários que você é incompetente para manter o
cargo deles e a boa reputação dessa instituição.
Entendeu?
Ela pareceu... fraca, quase abalada? Com medo talvez...
- Pam, queria que você entendesse as minhas razões...
Parei de escutar, porque... Ali tentou segurar minhas
mãos, e eu não ia permitir que ela voltasse a me tocar.
Nunca mais.
Com um olharzinho de coitadinha, vítima quase, Allison
continuou:
- Eu desisti do plano, mas não tive tempo de falar com o
seu pai...
Aquilo era demais:
- Desistir do plano não quer dizer que você não tenha
me traído, Allison.
Naquele momento, o ódio que eu sentia era
absolutamente positivo... Me mantinha de pé na frente
dela, sem piscar... Fazia meu coração bater com força, o
sangue pulsando nas veias em brasas, me permitindo...
respirar...
O teatrinho de Ali continuava:
- Nunca vai me perdoar, não é?
A forma como ela falou... Eu quase... Não. Não mais.
Usei aquilo para aumentar a minha raiva. Olhei para ela
como olharia para o inseto mais repulsivo e miserável:
- Você é insignificante pra mim. Não faz diferença te
perdoar.
Dei as costas para sair. Podia sentir os olhos dela me
acompanhando. Completei sem me virar:
- Não esqueça que você tem que estar às 14h em ponto,
na sala de reuniões.
Ela não respondeu. Não disse absolutamente nada. Saí
batendo a porta atrás de mim, num esforço sobre
humano para manter o controle de minhas próprias
ações.

Não fui direto para casa. Antes tinha que resolver


algumas questões. Quando cheguei, acompanhada dos
entregadores carregando as coisas que eu tinha
comprado, Paz me olhou espantada.
- Paz, eles vão desmontar minha cama e montar a nova.
Você se livra dos travesseiros, colchão, toda a roupa de
cama e substitui pelos novos.
Ainda sem entender, Paz tentou perguntar:
- Mas o que a senhora quer que faça com os antigos?
Respondi bruscamente:
- Não me interessa. Apenas suma com eles.
"Estão infectados..." – pensei.
- Sim senhora.
Foi a resposta rápida dela antes de sumir com os rapazes
para dentro do meu quarto.
Fui até o bar, me servi de uma dose de Whisky que
tomei de uma só vez. Me servi novamente antes de sair
para a varanda. A vista ironicamente me acenando
recordações, quase um tapa na cara...
Aqueles sentimentos estranhos, desconhecidos, me
davam uma fraqueza absurda. Uma vontade de
simplesmente ficar sentada... sofrendo?
Sim, sofrendo... Era essa a palavra abjeta que
inutilmente eu tentava evitar. E apesar de não querer
aceitar, me vi esfregando o rosto com as mãos, as
lágrimas já ameaçando se libertarem...
"Calma, Pamela! Menos!"
Como era possível que alguém pudesse me desequilibrar
daquele jeito? Nunca, durante minha vida inteira, eu
tinha me deixado... Um suspiro profundo escapou
involuntariamente. Ninguém jamais tinha me
decepcionado. Simplesmente porque eu nunca tinha
esperado nada de ninguém. Ninguém além de... Allison...
Muito mais do que ridículo, aquilo era tão... Um
desespero avassalador tomou conta de mim naquele
momento... Como uma tempestade, avalanche me
atravessando por dentro. Corvos. Pousados nos fios
invisíveis da minha fraqueza. Esperando o momento
certo de se banquetearem caso eu hesitasse.
Respirei fundo. Sequei os olhos, dei um gole na bebida
que desceu ardendo, cortando o histérico efeito das
sensações irracionais . Humilhantes, extremas,
intensas...
"Não quero ser assim. Não sou e nunca fui uma tola
sentimental. Afinal de contas, o que está acontecendo
comigo?"
Essa era a grande questão, afinal...
Quando minha mãe tinha sumido eu era muito pequena.
Nem me lembrava. Nunca tinha tido problemas com isso.
Na verdade, não sentia nada por ela, sequer me
importava. Não tinha como sentir a perda de algo que
nunca tinha tido... Já o meu pai... Esse não passava de
uma fotografia na minha escrivaninha durante o ano
letivo, alguns poucos telefonemas e alguém que me
enchia de presentes nos aniversários e Natais... Também
fazia pouca ou nenhuma diferença se estava morto ou
vivo, porque... o que eu sentia por ele era quase nada.
Então como, em que momento, porque Allison era...
Apesar de tudo eu... Porque diabos eu ainda me
importava?
O que ela tinha feito era total e absolutamente
indesculpável.
No entanto, me parecia que a vingança seria algo que eu
não iria saborear. Por que... ainda sentia um inexplicável
calafrio por dentro cada vez que a olhava... Um insano e
ridículo desejo de esquecer tudo e a tomar nos braços.
Eu a amava... Eu a odiava... Já não fazia diferença... Os
dois sentimentos pulsavam juntos, inevitáveis como uma
bactéria, vírus, doença... Seria o amor incurável?
Haveria alguma forma de voltar a me imunizar?
Naquele momento, a impressão que eu tinha era que
aquele doloroso desmoronar, irritante som do meu
próprio coração rangendo não me abandonaria jamais...

Me recusei a passar a noite em claro. Liguei para Val.


Que me trouxe uma caixa dos comprimidos que eu sabia
que de vez em quando ela tomava – Rivotril, para ser
exata – sem me perguntar nada.
Acordei no dia seguinte descansada, e depois de um
banho demorado, e um almoço caprichado, eu estava
pronta para enfrentar Allison.
Cheguei na revista pontualmente. Arlete me recebeu na
porta do elevador, como sempre carregando a minha
pasta. Caminhei direto para a sala de reuniões onde
todos já me esperavam.
A diretoria sentada em volta da mesa, Allison de pé, com
um nervosismo evidente. Na verdade, uma tensão quase
palpável pairava no ar.
Atravessei a sala, quase sorrindo ao ver os olhos se
arregalarem quando ao invés de sentar na minha
cadeira, sentei do lado oposto da mesa gigantesca. Tirei
os óculos escuros calmamente. Todos continuavam a me
olhar. Que esperassem. Demorei um tempo antes de
falar:
- Sente-se, Allison. Essa cadeira agora lhe pertence. Não
se faça de rogada. Afinal de contas, você deu duro por
ela, não é verdade?
Senti que Ali me olhava, mas não retribuí o olhar.
Completei:
- Estamos esperando. Não temos a tarde inteira, sabe?
Sem uma palavra, ela caminhou até a cadeira e
obedeceu. Com Ali finalmente sentada na cadeira que
era minha por direito – eu não ia nem podia deixar
barato – continuei:
- Como os senhores sabem, meu pai achou por bem que
Allison passasse a dirigir as atividades desta instituição.
Aproveitei o murmurinho para debochar:
- Não percam tempo se questionando se meu pai perdeu
completamente a razão ou simplesmente não conseguiu
resistir aos... "talentos" da nossa mais nova funcionária.
Isso realmente não interessa. Seja como for, a partir de
hoje, a direção desta revista é de inteira
responsabilidade da srta. Allison.
E de uma forma absolutamente sarcástica, puxei as
palmas que todos acompanharam sem muito
entusiasmo.
Allison se levantou, agradeceu, pediu a palavra... E fez
um discurso que deixou meu estômago embrulhado.
Sobre uma forma mais humanista de tratar os
funcionários... Chegou a falar em "Liderança Servil"...
Inacreditável!
A menina podia ser tudo menos burra, não é verdade?
Eu a olhava com uma expressão entediada. Mas ela
evitava me olhar. Quando terminou, voltou a se sentar. E
eu não pude deixar de falar:
- Que tocante... Seria perfeito se isso aqui fosse uma
instituição de caridade...
Todos acompanharam minhas risadas. Allison me lançou
um olhar absolutamente gelado. Continuei com um
sorriso muito mais do que satisfeito:
- Por acaso você já leu "A alma boa de Setsuan"?
E como ela me olhasse de forma interrogativa,
mostrando que não fazia idéia do que eu estava falando:
- De Bertold Brecht? Não?
Muito a contragosto, ela fez que não com a cabeça. Com
um sorriso quase sádico de tão satisfeito, dei a cartada
final:
- Pois então leia. Quem sabe assim entende o que estou
dizendo... E aproveita para consertar essa sua... como
eu posso dizer? Educação falha?
Todos riram novamente. Nossa, eu estava simplesmente
adorando. Fácil como tirar doce da boca de uma criança.
Até a criança abrir a boca e falar:
- Na verdade, Pamela, a educação moderna já não
considera mais tão importante o acúmulo de
informações... Nunca ouviu falar em inteligência
emocional?
Levantei uma das sobrancelhas, enquanto a fuzilava com
o olhar. Com um sorriso abusivamente irônico, Allison
continuou:
- O psicólogo Daniel Goleman? Não?
Ela não me deu tempo nem de piscar:
- Bom, quem sabe eu possa contribuir um pouco mais
para sua educação tão... antiquada?
Ninguém ousou rir com ela, verdade, mas... Era nítido
que queriam. E só não o fizeram por medo de mim.
- Bom, Pamela, segundo o conceito de inteligência
emocional, a maioria das situações depende do
relacionamento entre as pessoas. Por isso pessoas com
qualidades de relacionamento humano como afabilidade,
compreensão e gentileza têm mais chances de obter
sucesso.
Allison abriu um enorme sorriso. Que se dependesse de
mim, não duraria muito tempo:
- Agradeço a sua... aulinha? Mas não temos tempo para
isso. Você precisa assinar o contrato com nossos
colaboradores franceses. Arlete, por favor...
Solícita e eficiente como sempre, Arlete colocou o
contrato na frente de Allison, que após passar os olhos
rapidamente na primeira folha, olhou para mim. O
sorriso tinha desaparecido completamente do rosto dela.
Na verdade, estava brilhando no meu:
- Que foi? Algum problema?
Os olhos castanhos me lançaram um olhar fulminante
que fez com que fosse ainda mais delicioso completar:
- Por que não usa a sua inteligência emocional para ler?
Ou ela não funciona em francês?
Me recostei na cadeira, esperando para ver o que a
menina ia fazer. Allison parou, refletiu, e com um sorriso
absolutamente gentil, pediu:
- Por favor, Arlete, providencie uma tradução.
Arlete continuou parada. Olhando para mim. Como se
esperasse o meu aval. E eu? Nada fiz. Deixei a ação para
Allison. Que depois de alguns segundos de hesitação
ordenou, com um tom de voz bem menos suave:
- O mais rápido possível.
Uma Arlete muito pálida, com a voz quase sumida
gaguejou:
- Si...sim, dona Allison.
E rapidamente saiu com o contrato nas mãos.
Naquele momento, tinha conseguido deixar claro que se
Allison queria ser respeitada, não poderia ser amiguinha
dos funcionários:
- Com o tempo, Allison, você vai perceber que num
cargo de chefia ser boazinha não é uma qualidade.
Antes que ela pudesse responder, levantei, dizendo:
- Bom, acho que minha presença se faz desnecessária.
Saí da sala de cabeça erguida. Mas no fundo, de
verdade, a pequena vitória apenas tinha conseguido
deixar em minha boca um estranho e vazio gosto de...
nada.

Capítulo 37:

*** Allison ***

Voltei pra casa pensando em como o meu coração


disparou quando a porta da minha ex sala se abriu
depois que Léo foi embora. Eu estava encaixotando as
minhas coisas e pensando no que fazer da vida quando
Pamela me olhou daquela forma que me deixava
completamente perturbada. Naquele momento eu não
conseguia encará-la nos olhos. Sim! Eu estava
envergonhada. Queria sair correndo dali. Dizer a ela tudo
o que me sufocava naquele instante. Mas ela não me
ouviria. Estava magoada demais para isso. Respirei
fundo antes de tentar firmar o olhar novamente na
direção dela. O que encontrei fez o meu corpo gelar, não
de medo, mas de pavor. Sabe quando você percebe que
o olhar daquela pessoa jamais mudou? Pois, é! Depois de
Paris eu nunca pensei que veria novamente aquele olhar
frio. Me cortando a alma em mil pedaços. Quando ela
aproximou-se de mim. Minha pele queimou. Eu a
desejava. A queria como jamais quis uma mulher em
toda a minha vida. Eu a amava. Seu olhar ficou mais
próximo, e mais frio. As palavras dela não saiam da
minha cabeça durante toda a noite:
"- Quero que cale a boca e me ouça... Porque eu só vou
dizer uma vez. Você vai voltar aqui amanhã às 14h, irá
entrar naquela sala de reuniões... Assumir a presidência
da "Gente Chique", e eu vou provar pro meu pai, pra
você e pra todos esses miseráveis que se dizem meus
funcionários que você é incompetente para manter o
cargo deles e a boa reputação dessa instituição.
Entendeu?"
Tentei dormir, mas essas palavras me faziam revirar na
cama. Eu chorava. Sofria. Gritava no silêncio da minha
dor que me corroia a alma com exaustão. Meu estômago
embrulhava todas as vezes que me lembrava dos
momentos felizes que passei com Pam em Paris. Como o
olhar dela havia mudado. A mulher parecia outra pessoa.
Estava feliz. Seus lindos olhos azuis vibravam de alegria
durante o tempo em que passamos naquela cidade
iluminada pelo poder de despertar o amor no coração
das pessoas. Hoje, ou melhor: ontem. Sim! Já passava
das três da manhã e eu ainda me revirava nos lençóis.
Bom, quando ela olhou pra mim, e me viu encaixotando
as minhas coisas. Seu olhar era exatamente igual àquele
que me fazia ter repulsa pela sua pessoa.
Passei a noite em claro. Sentia-me derrotada, deitada na
cama sem ter a mínima vontade de me levantar, nem
para escovar os dentes, ou lavar o rosto. Olhava o
relógio na parede do quarto e via as horas passando com
a sensação de que eu estava à espera de uma sentença
de morte. Cochilei minutos antes do relógio despertar ao
meio-dia. Levantei-me completamente contrariada.
Querendo levar a cama nas costas, literalmente. Uma
noite perdida, acredito eu que não recuperamos nunca
mais. Caraca! Foi uma noite de cão. As lembranças de
Pamela não me abandonaram um minuto sequer, e fora
o fato de remoer o tempo inteiro a dor do
arrependimento. Tomei um banho. Coloquei uma roupa
não muito "esculachada". Fui para a revista
completamente mortificada.
Cheguei antes de Pamela. Todos na sala de reuniões me
olhavam como se não acreditassem no que estava
acontecendo. Quase pedi licença para ir me jogar da
janela do décimo oitavo andar. Pamela, no mínimo me
perdoaria ao saber que cometi suicídio por remorso, não
é? Que nada! Ela teria o seu cargo de volta e ainda me
enterraria como indigente.
Ela chegou. Linda! Exuberante no seu conjuntinho
marrom de executiva bem sucedida. Eu estava de pé.
Hesitava a me sentar naquela cadeira que sabia que não
era minha. Disso eu tinha certeza. Pamela sabia se
portar perfeitamente à frente daqueles corvos que
procuravam alimento o tempo inteiro. Eu era apenas
uma subalterna, como ela mesma gostava de definir. Ela
sentou-se. A muito contra gosto eu me sentei também.
Na cadeira da presidência. Senti imediatamente o peso
daquela posição. A visibilidade daquele local me dava a
sensação de exposição, e de fato era. Era assustador.
A reunião de posse começou fria, perturbadora, e irônica.
Eu olhava para Pamela e percebia o quanto ela estava
bem. Eu devia estar péssima, minhas olheiras estavam
tomando conta da minha fisionomia, mas ela... Bom,
Pamela aparentava ter tido uma noite tranqüila. Seu
sarcasmo acentuado me passava a segurança que ela
tinha, de que aquela fase de estar inferiorizada dentro da
revista, seria passageira. Pamela até sorria. Se divertia
ao me humilhar diante do conselho. Eles a apoiavam.
Dava para ver nas caras irônicas e no sorriso que
ninguém escondia o quanto todos estavam contra a
minha posse. Talvez se eu estivesse do outro lado,
também ficasse receosa quanto a essa aparentemente
loucura do Sr. Álvaro. Rebati as ironias de Pamela com
uma citação a respeito de "Liderança Servil". Ela sabia
exatamente o meu ponto fraco, que era o meu
despreparo para o cargo, mas eu também sabia o dela,
que era o fato dos funcionários estarem a meu favor.
Nossas trocas de olhares denunciavam duas coisas:
primeiro que eu estava tentando buscar dentro daqueles
olhos azuis um pouco da humanidade que vi em Paris, e
segundo, que aquela humanidade nunca existiu de fato.
Pamela era uma casca. Dura, cheia de mágoas, rancores.
Ódio mesmo, sabe? Ela não sabia amar. Amava o
dinheiro e o poder como quem ama a Deus. Isso é
lamentável num ser humano. Eu sofri ao admitir isso.
Sofri ao cogitar a possibilidade de que ela precisava
mesmo dessa lição na sua vida. Mesmo que ela não
mudasse, mesmo porque, acho bem provável que ela
nunca mude. No mínimo eu tinha o poder nas mãos de
fazer justiça aos funcionários que ela reprimiu e
maltratou por todos esses anos. A gota d'água foi
quando ela tentou me diminuir por eu não saber uma
palavra em Francês. Eu tinha que pensar rápido, não é?
Arlete parada ao meu lado, olhava-me com pena. Por
mais que ela quisesse que eu assumisse a Gente Chique.
Ela sabia também que eu não tinha preparo suficiente
pra isto. Pedi que a secretária providenciasse uma
tradução para mim, a mesma ficou parada, olhando para
Pamela como se perguntasse se podia obedecer ao meu
pedido. Respirei fundo, Pam sorria pelo cantinho da
boca. Não me deixei levar pelo ar de ironia exibido pelos
olhos dela... Gentilmente pedi que Arlete providenciasse
a tradução o mais rápido possível. A poderosa fitou-me
triunfante ao dizer:
- Com o tempo, Allison, você vai perceber que num
cargo de chefia ser boazinha não é uma qualidade.
Ela tinha razão! Se Pamela acha que me prejudicou ao
dizer essa última frase, ela está muito enganada. Olhei
para trás para vê-la sair da sala de reuniões. Era uma
mulher extremamente elegante e sedutora. Dava pra
sentir os pelos do meu corpo arrepiados só de vê-la
caminhar. A porta se fechou com a saída dela. Cruzei os
braços como quem não está nem aí para a presença dos
que ficaram...

Arlete retornou a sala de reuniões quase uma hora


depois que eu pedi uma tradução do contrato. Preciso
urgente de umas aulinhas de Francês – pensei enquanto
lia as folhas em Português. Os membros da diretoria
continuavam me olhando com aquele ponto de
interrogação enorme na testa.
- Obrigada , Arlete! – disse depois de ler o contrato
traduzido e assinar as três vias do original.
- Mais alguma coisa, do...na Allison? – disse hesitante.
As palavras pareciam presas na garganta dela. Na
verdade, soava muito esquisito aquele "dona Allison".
- Não. A reunião está encerrada – disse aliviada. Os
senhores e senhoras determinantes da revista se
levantaram e como era de praxe ao final das reuniões.
Vieram me cumprimentar pelo "novo cargo". Um bando
de puxa sacos achando ótimo a revista ter uma renovada
como aquela. Aposto que estavam todos morrendo de
medo de que os seus bolsos ficassem menos cheios com
a minha chegada.
- Urubus – pensei. – Até logo – disse ao estender a mão
para um e outro... Forçar um sorriso falso nos lábios e
desejar profundamente que todo aquele tormento não
passasse de um pesadelo.

Sr. Álvaro entrou na sala de reuniões assim que os


membros do conselho se retiraram... Eu estava largada
na cadeira desconfortável da presidência. Eu sei que
deveria ter dito "confortável", mas a primeira colocação é
a que mais se aproxima da minha realidade.
- Gosta da cadeira? – tocou o meu ombro... Exibia um
sorriso de satisfação.
- A sua filha vai passar por cima de mim como um trator.
– coloquei as mãos no rosto desolada.
- Não vai, Allisson. – sentou-se na cadeira ao lado
esquerdo – Você só precisa de um pouco de confiança.
Mostre a ela o seu valor. Que tal começar resolvendo a
questão do roubo das matérias?
- Nossa! – ajeitei o meu corpo na cadeira – Pensei muito
nisso. Tenho um plano para descobrir, ou sabotar o
fraudador.
- O que pretende?
- Ele quer o nosso furo de reportagem, não é? – sorri –
Vamos dar a ele o furo de reportagem errado. Pensei em
fazer tudo em sigilo.
- Não pode fazer isso sozinha. Precisa das matérias.
- É sabotagem, Sr. Álvaro. – levantei-me – A pessoa que
está roubando as matérias só quer se antecipar a nós.
Ou seja: dar a noticia de capa na nossa frente.
- A Pamela já teria pensado nisso... – balançou a cabeça
negativamente – É fácil demais. Não vai dar certo.
- A Pamela depende de terceiros para fazer a capa. Ela
não põe a mão na massa. Quando perdemos o furo de
reportagens no mês passado, eu ajudei o Léo com um
novo projeto e a matéria escolhida ficou muito melhor do
que a original.
- Hum... Então você...
- Teremos dois projetos. Um que será publicado, e outro
que será roubado.
- E você...
- Farei os dois.
- Excelente!
- Mas ela manda muito melhor do que eu.
- Não se preocupe. Com o tempo você saberá fazer com
que os funcionários a vejam como merece.
- Não gosto de estar na pele da Pamela – percorri as
fotos dela com os dedos... Tracei a linha dos seus
lábios... Suspirei de saudade... - O senhor perdeu a
reunião – sorri.
- Sabia que você precisava aprender a se defender dos
ataques dela sem o meu auxílio.
- Vou aprender, Sr. Álvaro. Do jeitinho que a Pamela me
ensinou – acho que eu estava mesmo muito magoada –
Ela que me aguarde.
Depois da conversa que eu tive com o Sr. Álvaro, juntei
as cópias dos contratos que eu assinei e voltei para a
sala de Pam, digo, para minha sala. Incrível como é
desconfortável estar naquela posição de poder dar
ordens às pessoas.

Capítulo 38:

***Pamela***

Caminhei até a minha sala - ou melhor: minha ex sala,


com uma sensação estranha, que nunca tinha sentido
antes. Me perguntando o que era aquele vazio que
parecia me engolir por dentro.
Naquele momento, a impressão que eu tinha era que
minha vida, quem eu era e tudo que sentia se resumia a
uma cratera imensa. Inerte por fora, mas borbulhante
por dentro. A lava fumegante espreitando o momento
certo para ser cuspida.
Apoiei as mãos na mesa, olhando meu antigo lugar, a
cadeira de onde eu tinha sido arrancada por minha
própria estupidez e fraqueza...
- "Queria ver como seria se você estivesse desse lado da
mesa." – tinham sido as palavras de Allison dias atrás.
Antes de Paris e da minha humilhante... não... o passado
que ficasse para trás... Afinal de contas, quem vive de
passado é Museu... Como o Louvre... Meus pensamentos
não me obedeciam... Imagens de Allison imediatamente
pulsaram em minha mente, meu sangue, meu corpo
inteiro...
Passei as mãos no rosto, numa tentativa vã de me
conter. Precisava me manter concentrada no presente,
para que o futuro não se tornasse ainda mais...
Precisava me controlar.
Suspirei fundo, contornei a mesa, me sentei em meu
antigo lugar. Abri as gavetas, retirei minhas coisas
pessoais: uma agenda e algumas pastas. Estava tão
concentrada que nem percebi a porta se abrir.
Fui completamente pega de surpresa ao levantar os
olhos e dar de cara com Allison parada de pé na minha
frente.
O inesperado, somado aos sentimentos incontroláveis
não me permitiram disfarçar. Meu olhar me traiu
buscando o dela de uma forma absolutamente frágil,
vulnerável, quase suplicante. E ela percebeu, porque de
repente, os olhos castanhos perderam o brilho desafiador
e passaram a me fitar com uma suavidade
desconcertante... Com a doçura apaixonada de dias
atrás... Arrepiei, estremeci, fraquejei
vergonhosamente... O coração batendo como louco no
peito, como se quisesse me delatar...
Até Allison se aproximar. Não me lembro de jamais ter
me levantado tão rápido em toda a minha vida. Muito
menos de alguma vez ter me afastado de alguém com o
pavor indesejado de quem está ciente que fugir é a única
forma de se controlar.
Caminhei até a porta, e antes de abri-la, sem me virar
para a encarar novamente, disse:
- Vou mandar Arlete providenciar a retirada das minhas
coisas o mais rápido possível.
A resposta de Allison soou irritantemente tranqüila:
- Não precisa.
Tentei inutilmente conter a ira:
- O que você quer dizer com "não precisa"?
Numa virada inédita e inacreditável, ela tinha o domínio
do jogo:
- Você não vai sair daqui.
Me virei para Ali, meu olhar expressando uma gigantesca
interrogação, tanto que ela imediatamente completou:

- Já que vamos ser uma dupla, nada melhor do que


dividirmos a sala, não concorda comigo?
- Isso é ridículo! - saiu da minha boca antes que eu
pudesse pensar. – Roubar... "Minha vida, minha vontade,
minha alma..." - pensei.
– ... meu cargo... – disse tentando não demonstrar o
quanto aquilo me perturbava – não é suficiente para
você? Não tenho sequer o direito de ter minha própria
sala?

Minha preocupação naquele momento era como


sobreviver à tortura que seria trabalhar com Allison o dia
inteiro ao alcance dos olhos, das mãos, dos lábios...

O que para mim seria o inferno em vida, para ela parecia


não significar nada. Allison respondeu sorrindo:
- Prefere ficar na minha antiga sala?
- Naquela sala minúscula? Isso é simplesmente...
insultante no mínimo!

Ela se aproximou de mim. Minha revolta era tão grande


que só percebi quando as mãos dela me puxaram pela
cintura e já era tarde demais para resistir:
- Você não parecia pensar assim quando a sala
minúscula era minha.

Ela falou, mas quase não ouvi. Não conseguia prestar


atenção, meu corpo e mente inteiramente hipnotizados
pelo estranho fascínio que era a respiração quente dela
sussurrando em meu ouvido. E pela boca que se
aproximou lentamente da minha.

Fechei os olhos, antecipando o prazer do beijo que


desejava intensa e desesperadamente, apesar de me
odiar por isso. O hálito quente me causando arrepios
antes mesmo dos lábios roçarem nos meus...

Então a porta se abriu, e o momento foi interrompido.


Nos afastamos num salto, olhando juntas para uma
Arlete sem a menor noção do quanto havia sido feliz em
me salvar do estado momentâneo de esquizofrenia.

Ali trocou algumas palavras com ela, parecendo...


Irritada? Tensa? Insatisfeita? Em se tratando de Allison,
eu não arriscava mais achar que compreendia.

Me agarrei com todas as forças à razão que teimava em


fugir. Peguei minhas coisas, e sem olhar para trás, saí da
sala e da revista. Sem forças para continuar o embate...
Pelo menos naquele dia.

- Pamela, meu bem... Relaxa...

A frase de Penélope era uma tentativa de melhorar meu


estado de espírito? Ou mais uma ironia da minha vida
em ruínas?
Fosse o que fosse, meu senso de humor tinha
desaparecido. Assim como a minha libido. Aquilo nunca
tinha acontecido comigo. Pelo contrário, eu me orgulhava
de conseguir gozar até com uma porta... Mas não
naquele dia.

E Penélope tinha tentado, de todas as maneiras


possíveis. Meu corpo respondia, lógico. Mas... era como
se um estranho distanciamento separasse minha carne
do espírito...

Tentei então usar a imagem de Allison, fingir que era ela


que me acariciava, me tocava, me excitava... E foi pior,
muito pior. Como ter a pele rasgada, fustigada pelo
chicote da saudade e da perda...

Foi quando finalmente pedi:

- Para. Chega. Não adianta, não consigo.

E uma Penélope sem entender nada obedeceu. Ficamos


deitadas lado a lado, dividindo um silêncio constrangedor
que pareceu infinito.

Até ela se sentar e sugerir, parecendo verdadeiramente


preocupada comigo:

- Quem sabe se você me contar eu possa ajudar?

Minha primeira reação foi negar. Tinha vergonha de


pensar, sentir... Mais ainda de confessar os obscuros
movimentos das minhas emoções ridículas.

Mas Penélope insistiu:


- Vamos lá... desabafar vai, no mínimo, te dar um pouco
de alívio.

Continuei deitada, olhando para o teto. E incrivelmente,


as palavras começaram a sair. Timidamente de início, e
depois como uma avalanche impossível de ser contida.

Quando finalmente terminei, Penélope me fez uma única


pergunta:

- E o que você quer realmente?

Aquilo me pegou de surpresa. E me fez voltar ao ringue


onde minhas emoções duelavam. Numa luta que eu não
fazia idéia de como e quando ia ter fim.

- Eu não sei. Shit!

Respondi com uma estranha sinceridade. Perdida de


verdade. E Penélope se propôs a me ajudar:

- Tive uma idéia genial! Vou te apresentar uma pessoa.


Que tal?
- Se você acha que me apresentar uma pessoa é uma
idéia genial, não deve ter ouvido nem entendido nada do
que eu falei.

Penélope riu e disse:

- Calma! Não tire conclusões precipitadas, minha cara.


- Eu acho melhor...
- Apenas confie em mim.

Não tinha nada a perder mesmo. Acabei dizendo sim.


Eu estava sentada com Penélope num dos restaurantes
mais caros e sofisticados da cidade. Esperando por... não
sabia, o mistério continuava...

Foi quando um moreno de cabelos negros e olhos


profundamente azuis - lindo, elegantíssimo, verdadeiro
pedaço de mau caminho - caminhou até nós, ignorando
altivamente os olhares de admiração que o
acompanhavam.

Ele cumprimentou Penélope, e depois se virou para mim,


esperando ser apresentado. No que foi prontamente
atendido:

- Alan, Pamela. Pamela, Alan. Vocês dois foram feitos um


para o outro. Podem acreditar...

Quando Penélope terminou de falar, meus olhos


brilhavam. Impossível ter outra reação diante de um
plano tão diabolicamente maquiavélico.

- Penélope, quero morrer seu amigo!

Foi o comentário de Alan, com o qual concordei em


gênero, número e grau.

Duas semanas se passaram numa rapidez incrível. Os


dias, assim como meus sentimentos, pensamentos,
minha vida, eram agora um poço de dualidades.

Trabalhar ao lado de Allison era um tormento. Gastava


minha energia inteira alimentando uma raiva que se
diluía cada vez que ela sorria para mim.

Por um lado tentava fazer o mínimo possível, para não


facilitar em nada o trabalho da nova direção. Coisa difícil,
quase impossível para alguém de iniciativa como eu.
Tinha uma vontade quase compulsiva de solucionar
rapidamente questões que Ali, na sua inexperiência
absoluta levava horas para resolver.

Por outro, me controlava para não me sentir feliz nem


orgulhosa quando ela acertava – e me surpreendia –
com idéias e mudanças quase brilhantes. Talentosa ela...
Inteligente de fato... Não, nada disso... Absurdo pensar
sobre Ali de outra forma que não fosse... Eu continuava
enfeitiçada pela mau caráter desleal! Merde!

Exatamente por isso todas as noites saía com Alan. Para


os lugares mais badalados, fazendo questão de chamar a
atenção – não que para isso precisássemos nos esforçar
– e sermos sempre fotografados.

Alan era uma companhia extremamente agradável.


Lindo, rico, culto, charmoso, elegante, sofisticado,
divertido e... totalmente viado.

O que fazia com que o plano de Penélope fosse ainda


mais perfeito. Sim, porque... semanas atrás, antes da
maldição que tinha devastado minha vida, seria um
prazer ir para cama com quem quer que fosse. Mas
naquele estranho momento - que eu esperava que
passasse rápido - ficava aliviada por estar livre de
qualquer tipo de assédio da parte de homens e
mulheres.

Nosso acordo era simples. Eu fazia fachada para que o


pai parasse de pegar no pé dele e para que todos os
boatos que circulavam sobre a vida – não muito regrada
– dele parecessem infundados.
Quando Alan queria sair com alguém convidávamos
Penélope. Assim aos olhos de todos – as pessoas são
completamente idiotas mesmo – éramos dois casais
heteros jantando, nos divertindo na boate. Não
imaginavam que no motel, no apartamento dele, de
Penélope ou na minha casa, era em dois casais do
mesmo sexo que nos separávamos...

Quanto a Penélope e eu... Depois da última tentativa de


sexo fracassada, acabamos nos tornando amigas. E ela
parecia não se importar com minha eterna ladainha:
Allison. Falava sobre ela a noite inteira, sem parar. Às
vezes com raiva, às vezes carinhosamente. Depois ficava
calada, com o olhar triste e perdido. Penélope então se
aproximava, me abraçava ou beijava, e sentenciava:

- Pamela, minha querida... Infelizmente você continua


apaixonada...

E eu não tinha como negar.

Aos poucos aconteceu o inesperado: Alan também se


tornou um grande amigo. Amizade era algo que eu
nunca tinha experimentado. Além de Val – que era mais
uma companheira de sacanagem – antes de Penélope e
Alan eu nunca tinha tido amigos de verdade. Que me
aceitassem e admirassem como eu era, compartilhassem
meu humor ácido, e principalmente não quisessem me
mudar. Exatamente o contrário de Allison e meu pai.

Esse era outro que passei a achar abominável. Andava


pela revista todo satisfeito, se divertindo com o novo
brinquedinho – me doía ver a intimidade dele com Allison
– e com a humilhação que eu era obrigada a suportar.
Quando os via juntos, meu sangue fervia. Tinha vontade
de gritar. Ainda não entendia, nem conseguia acreditar
que Allison tivesse me trocado por...

Mas tudo bem. Os dois não perdiam por esperar.

Eu tinha acabado de receber o relatório mensal dos


funcionários. O resultado me fez exultar:

- Você já deu uma olhada nisso, Ali?

Allison levantou os olhos, me fitando por trás da pilha de


papéis em cima da mesa dela. Com um olhar
indescritível. A definição que mais se aproximava era:
exasperação desesperada.

Sorri por dentro. Adorando aquele momento. Ela que se


matasse de trabalhar. Que descobrisse com muito
sofrimento que ocupar o meu cargo não era fácil como
pensava. Continuei:

- Os funcionários dessa revista nunca faltaram tanto. A


quantidade de atrasos também é inaceitável. É isso que
dá essa sua idéia absurda de "liderança servil". Eles são
como crianças, Ali. Vão te testar. E se você não tiver
pulso firme vão se aproveitar.

Ela ia balbuciar algo, quando o telefone interno tocou na


minha mesa. Atendi sem voltar a me sentar. Era Arlete,
dizendo:

- Dona Pamela, é o senhor Alan. Veio buscar a senhora


para almoçar.
Allison me olhou espantada. A coisa toda correndo muito
melhor do que eu esperava, porque... no fundo dos olhos
castanhos pude ver um leve ardor enciumado brilhar.

Alan entrou, maravilhoso e perfeito como sempre. Se


aproximou de mim, e com as mãos na minha cintura,
colou meu corpo no dele e me beijou nos lábios.
Correspondi com os braços enlaçando o pescoço dele,
numa imitação irrepreensível de paixão e entusiasmo...

Quando nos separamos, Allison continuava sentada,


paralisada no mesmo lugar. Sem conseguir desviar o
olhar. Lancei meu sorriso mais irresistível e provocante
ao apresentar:

- Alan, Allison. Allison, Alan. Meu namorado.

Capítulo 39:

*** Allison ***

Eu estava com o relatório mensal dos funcionários da


revista nas mãos quando Arlete anunciou que um tal
de... de... Alan queria falar com a poderosa. O cara
entrou no minuto seguinte a ser anunciado. Quem seria
aquele idiota que... Que... Beijou Pamela nos lábios e foi
correspondido com uma intimidade que fez o meu
estômago revirar inteiro? Continuei com os papéis nas
mãos. Olhando-os como se aquela cena fosse surreal
demais para a minha fraca inteligência. Os problemas
naquela revista pareciam intermináveis. Agora eu estava
diante do balanço mensal dos funcionários, o mesmo
completamente fora do padrão de assiduidade que a
empresa exigia e, ainda tinha que olhar para aqueles
dois se beijando. Balancei a cabeça negativamente.
Arlete ficou olhando na minha direção como se me
pedisse para fechar a boca. O beijo terminou. Mas
pareceu durar uma infinidade.
- Alan, Allison. Allison, Alan. Meu namorado.
Aquela apresentação fez minha cabeça dar um giro de
trezentos e sessenta graus. Não consegui me mover até
ele. Apenas balancei a cabeça num cumprimento.
- Vou almoçar – como ficamos em silêncio, Pamela
continuou a falar, olhando-me com aquele ar de riso que
muito me incomodava – Não tenho hora pra voltar. Só
preciso da minha bolsa. – disse caminhando em direção
a outra mesa que eu pedi que colocassem naquela sala.
- Vou te esperar lá fora, amor – ouvi o homem da voz
aveludada de locutor de rádio dizer a ela antes de sair.
Pamela fez que sim com a cabeça e procurou a bolsa que
estava pendurada na cadeira. Confesso que quando a
ficha caiu, eu fiquei completamente desesperada. Pamela
não podia estar namorando com aquele... Aquele...
Engomadinho! O cara parecia um viado de tão bem
cuidado. Fiquei na dúvida se naquele rosto não tinha um
pouco de maquiagem. Brincadeira, não tinha. Ele parecia
tão elegante que eu precisava achar um defeito. Naquele
momento, o meu desespero me cegou. Corri até Pamela
antes que ela passasse pela porta... Segurei firme o seu
braço esquerdo fazendo-a virar-se para mim. Encarei os
seus olhos azuis. Ela me olhou como quem quer me fazer
uma pergunta ou dissipar algumas dúvidas. Não sei ao
certo, só sei que eu estava em pânico diante da
possibilidade, ou melhor, da certeza de vê-la nos braços
de outra pessoa.
- O que você ta fazendo com esse cara? – perguntei num
impulso.
- Ele é meu namorado, oras! – respondeu fria, com
aquele olhar de superioridade que fazia com que ela
erguesse uma das suas sobrancelhas.
Não resisti aquele olhar que me deixava deveras
excitada. Puxei-a para mais perto de mim. Encarei
profundamente os seus olhos. Visualizei os seus lábios
que entreabriam para dizer algo... Eu a queria. A
desejava. Precisava beijá-la como quem precisa de ar
para respirar. O perfume de Pamela fazia meus instintos
aflorarem. Meu olhar me entregava a ela
completamente. Eu estava frágil. Desprotegida. Temia
perdê-la mais do que já havia perdido. Não soltei os seus
braços. Foram segundos apenas. Aproximei meu corpo
do dela. Nos encaramos sentindo a chama de desejo
emanando desesperadamente de uma pele para a outra
sem nenhuma explicação que justificasse aquele
momento em que eu tentava aproximar meu corpo, e da
reação dela que foi me ouvir, sem afastar-se um
centímetro sequer de mim.
- Não pode namorar esse cara – minha mão estava presa
na sua nuca. Nossos olhos sem desviar um do outro. –
Preciso... Preciso... – apertei meus dedos na sua nuca.
Puxei-a em seguida, aproximando os nossos lábios. Tive
a doce ilusão de que ela também queria me beijar e,
fechei os olhos ansiando pelo beijo que foi interrompido
bruscamente pela voz rouca daquele homem repugnante
que parou atrás dela e disse:
- Estou te esperando, querida.
Pamela me empurrou como se não soubesse onde
estava, nem o que estava fazendo. Senti minha face
corar de raiva. Involuntariamente olhei-o da cabeça aos
pés tentando encontrar um defeito naquela criatura que
parecia... Perfeita! Corroí-me por dentro ao admitir que
ele combinava demasiadamente com ela.Vi os dois se
distanciando da sala. Arlete estava no corredor ao lado
da porta.
- Trouxe uns papéis para você assinar, Allison! – ergueu
uma pilha deles – Mas não se preocupe, pode ser quando
você voltar do almoço.
- O quê? – tentei voltar para a realidade, no entanto, a
visão de Pamela beijando o engomadinho me deixou
completamente perturbada.
- Depois que a senhora voltar do almoço pode assinar
essa papelada – repetiu.
- Eu... Eu... – as palavras fugiram da minha cabeça –
Não vou almoçar. Estou... Sem fome – disse tirando das
mãos dela a pilha de papéis para assinar. Caminhei de
volta a minha mesa. Minha cabeça doía. Um mal súbito
me abateu de repente.
- Está se sentindo bem, Allison?
- Não! – virei-me de frente para ela – Pode providenciar
um analgésico pra mim?
- Claro! Vou fazer isso imediatamente. – disse e já ia
saindo da sala quando chamei-a novamente.
- Um não Arlete. Dois. Por favor! – sentei-me na cadeira,
ou melhor: joguei-me na cadeira e fiquei olhando para a
papelada na minha frente sem conseguir entender uma
só palavra do que estava escrito. Engraçadinhas, não
havia nada escrito em francês, era português mesmo,
mas a minha atenção estava dispersa. Fiquei remoendo o
beijo, e o fato de Pamela ter ido almoçar com o seu... O
seu... Namorado? Não! Isso não pode estar acontecendo!
Coloquei as mãos nos meus cabelos como se quisesse
arrancá-los. Eu realmente não iria agüentar ver a mulher
que amava nos braços de outro.

Pamela retornou à revista depois das cinco da tarde. Eu


não havia conseguido assinar um papel sequer. Na
verdade, o dia havia sido uma merda. Improdutivo. Os
trabalhos se acumularam de tal forma que eu já estava
me programando para chegar amanhã mais cedo na
revista. Vocês tinham que ver a cara de felicidade dela.
Eu parecia invisível, sim porque ela nem olhou na minha
direção. Logo que Pamela sentou-se em sua cadeira, o
seu telefone tocou. Ela atendeu toda derretida. Na certa
era o engomadinho que estava do outro lado da linha.
Levantei-me imediatamente da minha cadeira. Peguei as
pilhas de papéis que estavam na minha mesa. Parei na
frente dela. A mulher me ignorou como se eu fosse uma
sombra na sua frente.
- Quero falar com você! – disse ríspida. Pamela pediu um
minuto a quem estava falando. Tapou o telefone com
uma das mãos. Ergueu uma sobrancelha tentando me
intimidar.
- Deixa de ser mal educada. Estou ao telefone, não está
vendo?
Apoiei minhas mãos na sua mesa. Estava brava, ou seja:
fora de mim.
- Desliga! Você extrapolou a sua hora de almoço, sabia?
A mulher ergueu a face para me encarar de frente,
depois levantou-se furiosa. Colocou o fone no ouvido...
- Te ligo daqui a pouco, amor! – desligou o telefone e
jogou-o em cima da mesa. Deu a volta na mesma...
Parou na minha frente. - Quem você pensa que é para
controlar o meu horário de almoço?
- Eu? – fixei o meu olhar no dela – Sou a presidente
dessa revista, e a partir de hoje quem não cumprir os
horários será descontado, dispensado no dia ou
simplesmente demitido, dependendo do meu humor.
Ela soltou uma gargalhada irônica. Tranquei a cara mais
ainda.
- Você, Ali? – apontou o dedo na minha cara – Os
funcionários não te obedecem, isso aqui virou a casa da
mãe Joana!
Uma raiva subiu pelas minhas pernas e alcançou
rapidamente a minha cabeça. O pouco controle que eu
tinha se esvaiu completamente. Sem pensar, puxei
Pamela pelo braço, passei a mão no relatório mensal dos
funcionários e conduzi-a em passos largos até que
chegássemos na redação da revista. Ela tentou
argumentar, no entanto, eu pedi silêncio. Quando nós
paramos no centro do salão, todos pararam de trabalhar.
Nos olhavam com curiosidade, provavelmente se
perguntando o que nós queríamos com eles.
- Quem estiver no telefone desliga, agora! – disse com o
tom de voz grave. Eu mesma não me reconhecia naquele
instante. Os poucos que estavam indiferentes a nossa
presença se voltaram para nós. Os telefones começaram
a tocar – Deixem tocar! – disse firme. Eu realmente não
estava pedindo, e sim, mandando. Olhei na carinha de
cada um deles... Ergui o relatório mensal acima da
minha cabeça. – Essa é uma reunião informal para avisar
aos senhores, e senhoras... – disse quase irônica – ...
Que a partir de amanhã. – frisei o amanhã - Se esses
números não se estabilizarem para 100%, teremos uma
reformulação no quadro de funcionários, ou seja:
cabeças vão rolar sem dó nem piedade, deu pra
entender? – respirei fundo, eu estava montada no
dragão do diabo, como diria minha falecida avó – todos
os atrasos serão descontados, as faltas não serão
abonadas, e aqueles que tiverem nessa lista com mais
de duas faltas injustificadas, podem saber que já estão
advertidos. E essa lista – ergui o papel novamente – É a
minha lista negra. Acabou o recreio, entenderam? Quem
não quer trabalhar, pode passar no DP e pedir demissão,
ou me fala que eu demito imediatamente. Alguém aqui,
nesse momento, quer que eu assine a demissão?
Todos ficaram quietos me olhando com curiosidade.
Inclusive Pamela.
- Muito bem – continuei – Se estão todos satisfeitos.
Espero que me compreendam e me poupem das
advertências e demissões. Podem voltar ao trabalho.
Segurei novamente no braço de uma Pamela
completamente surpresa. Retornamos até a sala. Soltei-
a.
- Bravo, Allison! – disse irônica enquanto me aplaudia. –
Parecia comigo falando. Entende agora que não dá pra
ser amiguinha deles? Existe uma hierarquia que tem que
ser respeitada.
- Olha aqui... – segurei novamente nos dois braços dela.
Meu corpo já pegava fogo. Ela me irritava. Ela me
excitava. Eu a odiava por estar saindo com aquele
engomadinho, mas eu a amava intensamente.
Demasiadamente. E sentia saudade daquela boca,
daquele corpo... Queria me perder no perfume do seu
pescoço. Do seu gosto delicioso de mulher. Ela me
encarou. Desafiando-me com aquele olhar provocante e
azul. Meu Deus! Como era linda aquela mulher! – Você
também está na minha lista negra, Pamela! – disse
enquanto sentia o hálito da poderosa bater no meu
rosto. Os seios dela encostaram nos meus assim que eu
a puxei novamente. Minha coxa estrategicamente
pousou no meio das suas pernas e, o seu corpo estava
encostado na sua mesa impedindo que ela desse algum
passo para trás.
- Enlouqueceu, Allison! – fitou os meus lábios – Surtou,
é?
Agüei de desejo naquele momento. Queria beijá-la,
sentir o gosto doce da sua saliva na minha boca.
- Quer almoçar com o seu namoradinho? – puxei-a um
pouco mais. Agora os seus seios estavam esmagados
nos meus e a minha calcinha molhada dava sinais de
descontrole – Pode ir, mas terá que voltar no horário,
entendeu?
- Me... Solta!
- Gosta de intimidar as pessoas, não é? – disse
rancorosa – Gosta de mandar e desmandar... Exercer o
seu poder! Como se sente diante de alguém que pode
mandar e desmandar em você Pamela?
- Enlouqueceu, menina?
- Sim! – aspirei o cheiro do seu pescoço, beijei-o em
seguida. Suguei a sua pele quase marcando-a. Ela se
debateu, mas quando eu pressionei minha coxa no meio
das suas pernas, Pamela gemeu. Daquela forma deliciosa
que só ela sabia. O calor tomou conta da minha carne.
Eu a desejava com intensidade, ansiava por um contato
maior. Rocei meus lábios nos dela enquanto a olhava e
terminava de falar – Daqui pra frente, vou dançar
conforme a música. Se todos querem ser mandados. Eu
vou mandar, viu?
- Me solta!
- Claro! – capturei seus lábios com vontade. Suguei sua
língua que invadiu a minha boca ansiosa. Deliciosa.
Deixando claro que me desejava também. Ela podia me
odiar, mas seu corpo era feito para o pecado. Para o
prazer, e Pamela não resistia a nada que a aproximasse
de uma boa trepada. Seja com um amigo, namorado, ou
inimigo, no caso, eu! Beijei-a fervorosamente. Minhas
pernas ficaram bambas, minhas mãos que seguravam os
braços dela suavam frio. Meu coração disparava de
amor. Mas o ódio por tê-la visto aos beijos com outro me
cegava. Eu queria feri-la. Soltei-a bruscamente. Retirei a
minha coxa do meio das suas pernas... Tentei me
manter fria e voltei até a minha mesa. Sentei-me na
cadeira. Meu sexo estava encharcado. Minha cabeça em
curto-circuito, mas eu queria que ela pensasse o
contrário. Respirei fundo.
- Estamos entendidas?
- Acha que pode fazer isso? – parou de frente a minha
mesa afrontada. Uivando como uma leoa. Seu olhar me
dilacerava a alma. Me mantive fria ao dizer:
- Quem manda aqui sou eu, lembra? – sorri irônica –
Você me usou tanto na sua época, agora é a minha vez,
Pam!
- Você não...
Levantei-me rapidamente. Caminhei até a porta... Girei a
maçaneta, antes de sair...
- Vou pra casa. É tão bom não ter que cumprir horários.
– disse e bati a porta ao fechá-la. Acho sinceramente
que Pamela ficou tão surpresa com as minhas últimas
atitudes que não teve reação.

Capítulo 40:

***Pamela***

O almoço com Alan foi extremamente agradável. A


reação de Allison tinha me deixado... Longe de estar
satisfeita, eu tinha apenas começado.
Uma única coisa me incomodava: a falta de controle,
excitação absolutamente incontrolável que tomava conta
de mim cada vez que Allison me tocava. O resultado? A
ânsia, desejo não saciado pelo beijo que a entrada de
Alan na sala tinha evitado.
Ele deu um gole na taça de vinho antes de falar:
- Pamela, Pamela... Você precisa tomar mais cuidado... A
não ser que ao invés de se vingar prefira... desfrutar um
pouco mais dos prazeres que a suburbana traidora tão
evidentemente te proporciona. Se eu não entrasse
naquela sala nem quero pensar no que poderia ter
acontecido...
Não respondi. Minha mente povoada pelas emoções
desenfreadas.
- "Não pode namorar esse cara." – ela tinha dito.
E naquele momento, eu quase tinha acreditado que
talvez ela pudesse... Não. Bobagem. Tinha que parar de
desejar e... amar aquela miserável. Coisa extremamente
difícil, uma vez que continuava infectada. Tudo o que eu
queria era...
A mão dela em minha nuca... Nossos olhos entrelaçados,
sem desviar um centímetro... Os lábios dela... Suspirei,
lamentando mais uma vez o beijo que não tinha
acontecido...
- Hello! Pamela, onde é que você está com a cabeça,
baby?
Voltei a focar meus olhos em Alan, piscando, ainda tonta
ao retornar da minha... total viagem. Ele mesmo
respondeu, sem me deixar falar:
- No meio das pernas, não é mesmo?
- O quê?
- É onde sua cabeça está!
E novamente... não tive como negar.

Só voltei para a revista às cinco da tarde. Allison parecia


possessa. O que me ajudou - e muito – a manter um
enorme sorriso na cara.
Assim que sentei em minha mesa, meu celular tocou. Era
Alan, como tínhamos combinado. Atendi com a voz mais
derretida possível, numa interpretação muito mais do
que convincente de namorada apaixonada. Conseguindo
tirar Allison do sério:
- Desliga! Você extrapolou a sua hora de almoço, sabia?
Pelo jeito minha vitória ia ser fácil...
Levantei me fazendo de furiosa. Com um Alan
absolutamente debochado falando no fone em meu
ouvido:
- Cuidado senão a vira-lata te morde!
Fui obrigada a desligar, ou não conseguiria conter o riso.
Mas não sem provocar ainda mais:
- Te ligo daqui a pouco, amor!
Allison estava... absolutamente alterada. Com uma fúria
fora do normal. Que me deixava... nossa, aquilo não
poderia ser melhor! Era exatamente o que eu queria:
fazer da vida dela um inferno como ela tinha feito com a
minha. Não permitir que ela tivesse um segundo paz.
Me arrastou pelo braço até a redação. Gritou como uma
louca com os funcionários. Sem a menor classe.
Assustadora, de verdade. Arrancou das amebas olhares
de pavor dignos de uma salva de palmas. Depois me
arrastou de volta à nossa sala.
- Bravo, Allison!
Não tive como deixar de falar. Satisfeitíssima porque
estava conseguindo mostrar a ela o que eu queria
provar: que a minha forma de dirigir a revista era a
certa. E ela estava vendo e sentindo na pele sem que eu
precisasse dizer nem fazer nada.
Meus olhos brilhavam. A nova Allison tinha me
surpreendido, me empolgado... Eu estava cada vez mais
encantada, enfeitiçada... apaixonada. Um esforço
hercúleo me impediu de seguir a vontade insana de
agarrar aquela mulher, arrancar as roupas dela, a beijar,
acariciar, me esfregar nela até a satisfação total...
Ali me segurou pelos braços. De uma forma quase
brutal.
- Olha aqui... Você também está na minha lista negra,
Pamela!
Tão próxima de mim que nossos hálitos se misturavam.
Meus seios encostaram nos dela e Ali me puxou para
mais perto, colando nossos corpos. Me prendendo entre
ela e minha própria mesa. Minha respiração estava difícil,
ofegante. Totalmente à mercê dela... Merde!
Reagi rapidamente, mas não conseguia tirar os olhos dos
lábios que tanto desejava:
- Enlouqueceu, Allison! Surtou, é?
Quase desfalecendo de tanto desejo... Queria
desesperadamente que ela me beijasse... Ao invés disso
Allison disse entre dentes, num misto de tesão e raiva
que me deixou toda arrepiada:
- Quer almoçar com o seu namoradinho? Pode ir, mas
terá que voltar no horário, entendeu?
Como era possível que aquela menina tivesse tamanho
poder sobre mim? Eu mal conseguia raciocinar... Juntei
minhas poucas – e últimas – forças para gaguejar:
- Me... Solta!
Mas Allison, com uma firmeza impressionante, que eu
nunca tinha visto ou sentido igual, continuou:
- Gosta de intimidar as pessoas, não é? Gosta de
mandar e desmandar... Exercer o seu poder! Como se
sente diante de alguém que pode mandar e desmandar
em você, Pamela?
A resposta era inconfessável... Felizmente ela estava tão
descontrolada que não percebeu os tremores que me
subiam pela espinha, os pelinhos do meu corpo
totalmente arrepiados, muito menos as pontadas de
desejo que se espalhavam úmidas em minha calcinha
sem que eu conseguisse controlar...
Tentei me soltar, protestar:
- Enlouqueceu, menina?
Mas minha voz estava rouca demais, prestes a me
denunciar. Por isso não tive outra escolha a não ser me
calar. Ela respondeu sem hesitar:
- Sim!
Com o rosto enfiado em meu pescoço. Meu corpo todo
correspondeu em espasmos de prazer que só
aumentaram quando a coxa de Allison me pressionou
intimamente entre as pernas. Um gemido involuntário
escapou dos meus lábios. Loucura total...
Ela sorriu com uma satisfação selvagem. Antes de
aproximar a boca da minha, um leve roçar, mas ainda
sem me beijar:
– Daqui pra frente, vou dançar conforme a música. Se
todos querem ser mandados. Eu vou mandar, viu?
Delícia... Adoraria que aquilo fosse verdade... Só de
pensar nas possibilidades, tremi inteira. Tinha
encontrado uma adversária à altura. Isso eu sabia desde
o começo. Alguém que eu nunca, jamais conseguiria
dominar nem espezinhar completamente. Pelo contrário,
quanto mais eu atacava, mais forte ela revidava. Meu
corpo todo vibrava, pedia por ela... Inacreditável...
Não! Eu não ia, não podia deixar aquela menina me
derrotar:
- Me solta!
Foi meu pedido fraco. Que teve a seguinte resposta:
- Claro!
Antes de Allison me beijar com voracidade. Correspondi
inteira e intensamente. Toda a minha vontade dela
podendo ser finalmente extravasada. Morta, louca de
saudades do cheiro, do gosto, da pele da mulher que
eu... amava.
Até Allison me soltar bruscamente. E se afastar dizendo
com frieza, como se nada tivesse acontecido:
- Estamos entendidas?
Aquilo me tirou completamente do sério. Não conseguia
acreditar que mais uma vez, tinha permitido que ela...
Impossível camuflar a pontinha de dor gravada
profundamente em meus olhos:
- Acha que pode fazer isso?
- Quem manda aqui sou eu, lembra? Você me usou tanto
na sua época, agora é a minha vez, Pam!
- Você não...
Ela se levantou rapidamente. Caminhou até a porta... E
com um sorriso absurdamente irônico, disse antes de
sair batendo a porta:
- Vou pra casa. É tão bom não ter que cumprir
horários.
Minha primeira reação foi ficar paralisada. Depois, foi
arremessar o cinzeiro de vidro que estava atrás de mim
contra a parede. Milhares de caquinhos se espalhando
pela sala.
A terceira, obviamente, foi ligar para Alan.

No dia seguinte, cheguei acintosamente atrasada. E


completamente sorridente e bem humorada. Cheguei a
dar bom-dia à Arlete! Agora que não era mais chefe,
podia até me dar ao luxo de ser simpática.
Por trás da pilha de papéis, os olhinhos de Allison me
fuzilaram:
- Duas horas de atraso...
Antes que Allison pudesse completar, falei de um jeito
totalmente displicente:
- Pode descontar do meu salário.
E me sentei em minha cadeira com um sorriso
resplandecente.

Passei o resto da manhã no celular. Falando com Alan, é


claro. O tempo inteiro dizendo: "meu amor" pra cá...
"amor" pra lá...
Era evidente que Allison estava completamente
descontrolada. Mas só demonstrou quando ouviu:
- Oi Penélope... Tô morrendo de saudade...
Levantou de um salto. Se postou na minha frente com as
mãos na cintura, absolutamente brava. Só faltava bufar:
- Você não é paga pra falar no celular.
Do outro lado da linha, Penélope ria sem parar. Mais
ainda quando respondi:
- Minha querida, se você não entendeu ainda, sou a filha
do dono dessa revista. Ou seja, já que não sou mais a
presidente, estou aqui só para constar. E não para
trabalhar, como você e os outros reles funcionários...
Terminei com um dos meus sorrisos irresistíveis.
Allison engoliu em seco. Respirou fundo, e saiu da sala.
A voz de Penélope soou em meu ouvido:
- Bravo, Pamela! É assim que se fala!
O jogo estava começando a virar.
Depois de um almoço divertidíssimo com Penélope e
Alan, levei meu "namorado" para conhecer meu pai.
O charme de Alan era irresistível, mas... apesar de meu
pai parecer ter gostado muito dele, e dos dois terem
criado uma cumplicidade e simpatia imediatas, o sr.
Álvaro me surpreendeu me chamando para uma
conversinha particular:
- O que está acontecendo, Pamela? Quem é esse rapaz?
Olhei para ele como se não estivesse entendendo nada:
- Como assim? Eu já te disse: Alan é meu namorado.
Ele me fitou atentamente ao perguntar:
- E a Allison?
Fiz uma cara de quem acha a pergunta absurda, mas
respondi:
- A Allison é passado.
Meu pai voltou a me avaliar enquanto falava:
- Adorei o rapaz, filha. Vocês fazem um casal lindo. Seria
perfeito, se não fosse um pequeno detalhe: você não
está apaixonada. Quero dizer... Não por ele, claro...
Olhei meu pai do alto da minha antiga superioridade:
- Francamente, pai? Não vou nem reclamar dessas suas
idéias totalmente... incoerentes e inadequadas. Na
verdade só posso agradecer pela lição que você
conseguiu me dar: as pessoas - principalmente as
inferiores - não valem nada, só se aproximam para tirar
vantagem. E essa história de amor, definitivamente, é
uma grande bobagem.

Voltei do almoço às 5 da tarde. Allison só faltou ameaçar


me matar. Eu apenas sorri, dizendo:
- Estava com o Alan na casa do meu pai.
Ela me olhou de um jeito... Como se tentasse descobrir
se era verdade o que eu estava dizendo. Abriu a boca
para falar, mas meu celular tocou:
- Oi amor. Claro... Pode ser. Vou sair com a Penélope,
mas depois... Ai, não fala assim, que eu fico toda... Você
sabe... Então até mais tarde. Também mal posso
esperar...
A cara de Allison foi absolutamente impagável... Sentei
na minha mesa sorrindo satisfeita por estar sendo tão
fácil...

Quando entrei na sala no dia seguinte de manhã – com


quase três horas de atraso – Allison quase caiu da
cadeira. O motivo eu sabia muito bem explicar: tinha
caprichado no visual. Estava absolutamente fatal.
Com a voz aveludada e um sorriso sedutor, a brindei
com um:
- Bom dia, Allison!
Que a fez gaguejar:
- Bom... dia... Pam...mela...
Joguei a bolsa em cima da minha mesa, mas foi em cima
da mesa de Allison que fui me sentar. De frente para ela,
que não tirava os olhos das minhas pernas.
- Estou muito feliz, hoje. Tive uma noite maravilhosa! E
você, Ali?
As olheiras debaixo dos olhos dela eram inegáveis. O que
apenas tornava mais divertido perguntar. Ela continuou
sem piscar. E balbuciou com dificuldade:
- Eu... é...
Descruzei e cruzei as pernas. Os olhos castanhos
acompanharam o movimento de um jeito que me
arrepiou. O que só ajudou. Minha voz soou rouca,
insinuante, intensa:
- Preciso te agradecer.
Uma Allison de olhos muito arregalados perguntou:
- Agradecer? Pelo que?
- Você tirou um peso enorme das minhas costas, Ali.
Dirigir essa revista é estressante, um verdadeiro inferno.
Finalmente estou podendo curtir a vida e o meu dinheiro,
sem preocupações nem aborrecimentos.
Levantei e me reclinei para ela. Os olhos de Allison
mergulharam no decote que – daquele ângulo -
generosamente deixava à mostra grande parte dos meus
seios. Colei os lábios no ouvido de Ali, meu corpo e o
dela estremeceram. Sussurrei sensualmente:
- Espero que você esteja gostando e aproveitando tanto
quanto eu.
Voltei para a minha mesa rebolando de um modo
propositalmente provocante. Peguei meu celular, disquei.
Allison me observava atentamente. Podia sentir os olhos
dela buscando os meus. Mas a ignorei. Alan atendeu, e
me derreti toda ao dizer:
- Oi, amor. Também já estou com saudade... 10 minutos
é muito tempo sem você...
Primeiro achei que Allison e meu pai só podiam estar
brincando. Ao invés da festa que sempre fazíamos para
comemorar o sucesso de vendas da revista eles iam
fazer um... arg... churrasco para os funcionários e suas
famílias?
Pior ainda: meu pai fazia questão, para não dizer exigia
que eu estivesse presente. Tentei expressar o quanto
aquilo tudo era absurdamente vulgar e deprimente, mas
para variar, para os dois minha opinião parecia não
contar.
Ao contrário de Penélope e Alan, que ouviram meu
desabafo sem conseguir conter o riso. Depois de
agüentar os dois chorando de tanto rir, ainda tive que
suportar o comentário de Penélope:
- Realmente, Pamela, não consigo te imaginar num
churrasco...
Alan concordou imediatamente. Rolando de rir na
poltrona em que estava sentado. Aproveitei para intimar:
- Que bom que estão achando tão divertido, porque os
dois vão comigo.
Nem precisei insistir. Eles se entreolharam, ambos com o
mesmo sorriso irônico e malicioso enquanto Penélope
soltava:
- E por que não? Vamos aproveitar e nos divertir às
custas dos serviçais.
E Alan concordava:
- Principalmente da ex-assistente alpinista social.
Eu estava achando aquilo tudo simplesmente
inacreditável. Sacudi a cabeça numa recusa total:
- É o cúmulo do absurdo! Ridículo! O que o meu pai
pretende com isso?
Ao que Alan respondeu, sentando ao meu lado no sofá e
me abraçando:
- Pamela, minha querida, o seu problema é que você
leva tudo a sério demais... Seu velho quer e sabe te
provocar, mas não é páreo para nós...
E Penélope completou, sentando e me abraçando do
outro lado:
- Eles não perdem por esperar. Vamos colocar seu pai e
toda essa gentinha em seu devido lugar.

Capítulo 41:

***Allison***

Olhei no relógio inúmeras vezes. Pamela estava


atrasada, pra variar. O que ela queria me desafiando
dessa forma? Será que eu não fui clara o suficiente ao
dizer ontem que iria pegar no pé de todos lá dentro
daquela revista? A bonitona se sentia privilegiada por ser
a filha do chefe, não é? Sentei-me na cadeira assim que
ela entrou na sala. Não queria dar a Pamela o gostinho
de saber que eu estava arrancando os cabelos por
esperá-la ansiosamente. O sorriso dela e o seu bom
humor visível fez com que eu não conseguisse manter o
meu autocontrole.
- Duas horas de atraso... – ironizei enquanto olhava o
relógio.
Pamela sorriu mais ainda ao me responder:
- Pode descontar do meu salário.
Quiquei na cadeira como diria o meu amigo Léo. Engoli
em seco, afinal de contas, ela estava certa. Descontar do
seu salário qualquer valor que fosse não faria a menor
diferença pra essa mulher. Quer saber? Depois dessa eu
fiquei calada. Ela já estava as minhas vistas mesmo.
Tudo o que me deixava feliz era poder sentir o cheiro do
perfume dela inebriando os meus sentidos. A sua pose
de rainha examinando papéis e pedindo que Arlete
trouxesse seu chazinho indiano. Muito fresca essa
mulher! Sorri de novo, mas logo o meu sorriso se desfez
quando o seu celular tocou e ela passou a se derreter
toda ao falar com aquele engomadinho ridículo do Alan.
Tá certo! Ele não é ridículo, mas eu daria um braço pra
que esse cara nunca tivesse cruzado o meu caminho.

A manhã inteira! Podem apostar. Pamela ficou falando


com o engomadinho a manhã toda, e eu? Bom, fiquei
tentando me controlar sem muito sucesso. Jesus! O
ciúme corroí toda a racionalidade de nós, reles mortais.
A gota d`água Foi quando ela enfim, desligou o maldito
telefone e o mesmo tocou em seguida. Quando eu ouvi o
nome daquela mulherzinha, aquela, a Penélope.
Lembram? Aí eu virei bicho mesmo, viu? Parei na frente
dela. Mãos na cintura. Eu queria gritar, mas apenas
disse:
- Você não é paga pra falar no celular.
Sabe o que ela respondeu? Um absurdo aquela resposta.
Ah, sim! A resposta...
- Minha querida, se você não entendeu ainda, sou a filha
do dono dessa revista. Ou seja, já que não sou mais a
presidente, estou aqui só para constar. E não para
trabalhar, como você e os outros reles funcionários... –
disse e depois ficou rindo pelas minhas costas. Como ela
mesma costuma dizer: - Isso é ultrajante!
- Vou almoçar, Allison! – disse pegando a bolsa. – Meu
gentleman está me esperando – sorriu irônica.
- Sei... Aquele idiota! – sussurrei.
- O quê? – virou-se na minha direção.
- Eu disse pra não abusar da hora do almoço.
Pamela soltou uma gargalhada e bateu a porta. Senti o
meu peito produzir um som tão parecido quanto aquela
porta batendo.
Preciso dizer que eu, além de não ter conseguido
trabalhar, também se tornou terminantemente
impossível almoçar?

Quando Pamela voltou do almoço, novamente às cinco


da tarde. Eu estava uma pilha. Já havia tomado uma
overdose de comprimidos para dor de cabeça e ela... Se
Pamela achava que eu iria querer saber o motivo do seu
atraso, estava muito enganada. Bom, ela estava feliz!
Isso me martirizava, sabia? Não adianta dizer que
quando a gente ama, quer ver a pessoa amada feliz,
mesmo que seja com outra pessoa. Isso é impossível!
- São cinco da tarde, Pamela! – não resisti.
- Estava com o Alan na casa do meu pai.
Eu pensei não ter ouvido direito, mas lembrei de ter
ligado para o Sr. Álvaro alguns minutos atrás e a
empregada informou que ele estava com visitas. Eu disse
a ela que o assunto não era urgente, portanto, ligaria
depois. Novamente o telefone de Pamela tocou. Isso já
estava sendo irritante! O carinha era um chiclete, oras!
Não me torturei mais. Saí da sala e caminhei em passos
largos até o corredor, perdida, entrei na sala de Léo que
estava compenetrado olhando a tela do PC. Meu amigo
desviou os olhos por alguns segundos da tela.
- Ora, ora! A poderosinha aqui na minha humilde sala?
- Não seja ridículo, cara! – sentei-me na cadeira a sua
frente.
- O que foi? Cansou de brincar de gato e rato com a
poderosa mor?
- Ela está me enlouquecendo, sabia? – balancei a
cabeça negativamente – A Pamela está namorando um
palhaço que liga pra ela o dia inteiro!
- Hum... Já me contaram. Disseram também que o
homem é lindo! Estou doido para vê-lo. – sorriu
animado.
- Nossa! Como amigo você está me saindo um traidor
de primeira.
- Ai Allison! Relaxa, minha filha! – deu a volta na mesa
– Por que não saí com as suas amigas? A poderosa tá
tocando a vida dela, vai viver a sua também. Pára de
ficar se torturando o tempo todo, linda! – balançou os
meus braços. – Ali, você não dorme mais, não come...
Não fode mais com ninguém. Isso deprime, sabia?
Reage!
- Esquece esse lance de reagir, Léo! – levantei-me. Fui
até a janela. Afastei as cortinas. – Não estou dando
conta do trabalho. Desde que a Pamela passou a ser
minha auxiliar, ela não trabalha mais. Só quer saber do
engomadinho.
- Hei! Você é quem manda agora, esqueceu? Por que
não contrata uma assistente?
- Não posso fazer isso sem falar com o Sr. Álvaro.
- Acorda, Allison! O Sr. Álvaro te deu carta branca.
- Vai demorar... Tem a seleção de pessoas... Não posso!
Preciso de alguém pra ontem!
- A Leandra precisa de estágio. – disse de imediato.
Fitei-o cogitando a possibilidade...
- Hum... – pensei – Acho que contratar a sua irmã como
estagiaria será o melhor ato que o poder me
proporcionará. – fitei-o satisfeita.
- Sem contar que se a poderosa gostar um pouquinho
sequer de você, irá morrer de ciúmes – sorriu malicioso.
- O que quer dizer com isso, Léo?
- A Leandra te adora, Ali! – aproximou-se do meu
ouvido como se temesse que alguém nos ouvisse –
Quem sabe ela não pode te ajudar a pôr ciúmes na
poderosa? Amiga! Você precisa namorar, mesmo que
seja de mentirinha!
Sorri achando graça da forma como ele falou.
- A Leandra é uma criança!
- Já passou dos dezoito, e diga-se de passagem, é uma
criança linda!
- Que idéia ridícula!
- Posso combinar com ela de ir no churrasco da empresa
nesse fim de semana. Aí vocês acertam tudo, o que
acha?
- Convide ela.
- Ali... A poderosa já sabe que a Gente Chique vai fazer
um churrasco ao invés das badaladas festas de puro
requinte pra comemorar o fechamento das vendas?
Sorri ao dizer:
- Ainda não!
Léo sorriu em seguida.

Quando retornei a sala, Pamela já havia ido embora.


Deixou um bilhete na minha mesa, dizia:

"- Querida Allison. Por motivos de força maior, saí mais


cedo. Tenho um compromisso inadiável para essa noite.
Preciso de algumas horas no salão cabeleireiro. Um
abraço.
Pamela."

Amassei o papel e arremessei-o na lixeira ao lado da


mesa.
- Acho que preciso mesmo de uma namorada. –
sussurrei por entre os dentes.

Na manhã seguinte... Três horas de atraso... Antes que


eu pudesse dizer qualquer coisa, minhas palavras
ficaram presas na garganta quando ela ela entrou na
sala, jogou a bolsa na sua mesa e veio sentar-se na
minha, e cruzou as pernas ao mesmo tempo em que
disse:
- Bom dia, Allison!
- Bom... dia... Pam...mela... – gaguejei enquanto minha
boca aguava por aquela mulher provocante que cruzava
e descruzava sedutoramente as pernas na minha frente.
O que ela queria, hein? Me enlouquecer de desejo?
Desde a última vez eu fizemos amor, eu nunca mais
toquei em mulher nenhuma. Estava louca de tesão.
- Estou muito feliz, hoje. Tive uma noite maravilhosa! E
você, Ali? – umedeceu os lábios ao falar. Fiquei sem chão
diante das palavras dela.
- Eu... é...
- Preciso te agradecer.
Fitei-a desconfiada...
- Agradecer? Pelo que?
- Você tirou um peso enorme das minhas costas, Ali.
Dirigir essa revista é estressante, um verdadeiro inferno.
Finalmente estou podendo curtir a vida e o meu dinheiro,
sem preocupações nem aborrecimentos. – disse e
levantou-se, inclinou o busto na minha frente. Mergulhei
involuntariamente os olhos no seu decote. Quase pude
ver o bico rosado dos seus seios - Espero que você
esteja gostando e aproveitando tanto quanto eu.
Em seguida o telefone de Pamela tocou. Era o
engomadinho, pra variar. Fiquei pensando nas palavras
dela... Acho que essa foi a única vez que não me prestei
ao papel de ficar tentando ouvir e decifrar as conversas
dela com o talzinho. Lembrei-me das palavras de Léo...
Do churrasco... Leandra... Namorada... Eu precisava
tomar um rumo na minha vida, ao menos saber se
Pamela, sentia um fio de ciúme por mim. Assim que ela
desligou o telefone eu falei:
- Seu pai já te comunicou sobre o maravilhoso
churrasco que ofereceremos para os funcionários?
Pamela ergueu a cabeça absolutamente sem saber do
que eu estava falando. Continuei.
- Domingo. Comemoraremos o novo recorde de vendas
oferecendo um grandioso churrasco para todos. E mais,
será permitida a entrada dos filhos, esposas e maridos
dos nossos digníssimos contribuintes da revista – sorri
da cara que ela fez.
- O meu pai sabe disso?
- Claro! Chegamos a conclusão de que será um evento
agradável, desestressante, e produtivo, sabe? Imagine
as crianças correndo pelo gramado do sítio. Todos
confortavelmente vestidos, aproveitando o maravilhoso
Sol do Rio de Janeiro. Leva um biquíni bonito, tá? Aposto
que todas as mulheres presentes vão reparar no seu
modelito.
- Não me faça rir, Allison! – colocou a mão na mesa
furiosa. Adorei ver aquele sorrisinho patético de
felicidade se esvair da sua face – Não irei me prestar a
esse papel.
- Eu não estaria tão certa disso – sustentei o olhar.
Sabe que pela primeira vez eu gostei de ter provocado a
fúria naqueles olhos azuis? -Te vejo na festa, viu?
- Não vai trabalhar? – fitou os papeis na minha mesa.
- Segunda-feira teremos uma nova estagiaria. Não faz
mal acumular um pouco de trabalho.
- O quê?
Olhei o relógio...
- Não posso mais conversar com você, Pamela – disse
provando ainda mais o gostinho doce da vingança.
Apanhei minha pasta – Tenho um compromisso
inadiável. Apague a luz ao sair, tá Acho que não volto
mais hoje.
- O que pensa estar fazendo, sua irresponsável?
- Tchau! – acenei da porta, ainda ouvi a sua última
frase.
- Allison! Volta aqui!

Enfim o domingo chegou. A empresa alugou um sítio


maravilhoso em Vargem Grande. Havia duas piscinas e
vários quiosques com churrasqueira espalhados pelos
cantos dos gramados. Um mini parque-aquático para as
crianças brincarem. Todos os funcionários estavam mais
à vontade sem aquela formalidade toda imposta pelas
festas que Pamela organizava. Os mesmos
compareceram em peso, coisa que não acontecia nas
festas glamurosas da revista.
Eu estava ansiosa. Pamela não viria? Sr Álvaro garantiu
que ela compareceria. Acreditei na palavra dele. Quem
sabe ela já não teria chegado? Andei pelo gramado do
sítio cumprimentando os funcionários sem perder de
vista o meu foco: o portão de entrada! Perdi as contas
de quantas voltas dei por ali. Depois de cumprimentar
um grupinho de funcionários... Avistei Pamela de longe.
Linda! Na medida que se aproximava, fitei-a da cabeça
aos pés. Estava usando um conjuntinho claro de tecido
leve, óculos de sol marrom, provavelmente um Prada,
marca que ela adorava. Meu coração disparou. Alan
estava ao lado dela, junto com Penélope. Foi uma
entrada triunfal. Todos se viraram para olhar na direção
do trio infernal. Alguns se questionando se era real a
presença dela, outros, ou melhor: a maioria estava
mesmo é se derretendo pela classe indiscutível que ela
tinha, mesmo estando em um ambiente que não exigia
tanto. Simples e perfeita, eu diria. Os três vieram na
minha direção. O sorriso daquela mulher linda e cheirosa
me despia a alma. O que ela pretendia com aquela
aproximação?
- Bom dia, presidente da Gente Chique- disse irônica.
Notei o ar de riso de Penélope e Alan. Me mantive calma
ao respondê-la.
- Bom dia, Pamela - cumprimentei os dois palhaços logo
em seguida, digo, os dois convidados de Pamela - O que
achou da nossa... Reunião?
- Achei a sua cara - respondeu tirando os óculos e
exibindo aqueles olhos azuis cheios de desdém.
- Fico muito feliz que tenha vindo - fitei os outros dois ao
lado dela - Percebo que está muito bem acompanhada.
- Estamos em busca de diversão aqui - disse Penélope.
Alan sorriu do comentário dela. Que homem desprezível,
meu Deus!
- Espero que encontrem - respondi seca.
- Dificilmente não nos divertimos em um circo, não acha,
Ali? - Pamela me encarou ao término da frase.
- Não sei, não gosto de circo. - encarei-a ao responder.

Estávamos ainda num duelo de olhar quando senti


alguém me abraçar apertado por trás. Virei-me de
repente... Avistei Léo e Leandra. A menina estava linda
com um vestidinho azul. Cabelos presos num rabo de
cavalo, deixando à mostra o seu rostinho angelical.
Agarrei-a forte. Essa foi a saída perfeita para fugir dos
ataques verbais e desnecessários de Pamela e sua gang.
- Que bom te ver menina! - olhei de rabo-de-olho para
Pamela, a mesma havia se distanciado sutilmente de
nós.
- O Léo já me contou tudo – sussurou no meu ouvido.
- Então você já sabe que é minha namorada? – sorri
apertando-a mais em meus braços. Confesso que o calor
da menina me atiçou um pouco.
- Adorei a idéia, Ali! – beijou o cantinho da minha boca.
Os pêlos dos meus braços se arrepiaram por completo.
Nos encaramos sorridentes.... Ao fundo vi Pamela
desvincular-se dos braços de Alan e caminhar sorridente
pelos funcionários. Para onde ela estaria indo? Algo me
dizia que Pamela queria de alguma forma estragar o
evento. Como? Eu não sei! Mas ela tinha poderes
suficientes para isso. Era esperta o bastante para
maquinar algo.
- Espera um minuto, Lê! - beijei o rosto dela e saí.

Capítulo 42:

***Pamela***

Aquela manhã acordei estranhamente tensa. Eu diria até


com uma certa... insegurança? Não sei se era isso.
Impossível definir algo que até então simplesmente não
existia. Não para mim.
Fiquei muito pouco tempo mergulhada na banheira.
Como sempre, uma tortura, porque... não conseguia
controlar as recordações... Lembranças de Allison comigo
naquele banheiro...
Infame!
Estava revoltada... comigo mesma. Com minha falta de
controle insana.
Me enrolei no roupão ainda com aquele incômodo
inconveniente me acompanhando. Até o closet, onde
parei atônita, olhando para os cabides. Jamais, em toda
a minha vida, tinha tido dificuldade em escolher o que
vestir. Mas naquele dia, tudo parecia estar contra mim.
Quando finalmente me olhei no espelho, completamente
maquiada e vestida, sabia que estava linda. Meus olhos
me diziam, apesar de... nem isso eu conseguir sentir.
Lágrimas. Minhas piores inimigas. Agora sempre
presentes, espreitando um momento de fraqueza ou
descuido para poderem surgir. Forçando minhas córneas,
dilatando minhas pupilas. Mas não as deixei sair. As
aprisionei firmemente no fundo da raiva imensa que
sentia.
Estava indo àquele churrasco com um único objetivo:
infernizar e humilhar Allison, meu pai e todos os
funcionários. Eu os odiava. Não podia esquecer disso. Por
mais que naquele momento, aquilo fosse...
extremamente difícil.
Apesar de fortemente acorrentado, meu coração insistia
em bater no mesmo ritmo. Das sílabas que repetiam o
nome dela: Allison...
Inferno!
Eu precisava esquecer aquela mulher. Nem que para isso
eu precisasse... Precisasse o que? Queria muito, muito
mesmo descobrir. Saber como me livrar daquela total
falta de...
A voz de Paz interrompeu meus pensamentos:
- Dona Pamela, o senhor Alan e a dona Penélope estão
esperando pela senhora na sala.
Felizmente.
Peguei um dos óculos escuros na gaveta, sem prestar
muita atenção. Não tinha nenhum que não fosse Prada,
Gucci ou Fendi. E qualquer uma das três marcas tinha o
que eu precisava exibir naquele momento: classe,
superioridade e poder.
Assim que chegamos no maldito churrasco – num fim do
mundo horroroso com o nome ridículo de Vargem Grande
– eu a vi. Irritantemente simpática e sorridente,
cumprimentando alguns funcionários.
Allison estava... era... linda, mesmo de longe. Mas a
pose de superioridade dela, esbanjando segurança, e o
jeito como não se virou para me olhar quando entrei – e
ela foi a única! - me deu forças.
Para ir direto para ela. A quem eu estava querendo
enganar? Na verdade eu precisava desesperadamente
me aproximar, sentir o cheiro dela, olhar naqueles olhos
que tinham o poder de me fazer tremer inteira. Merde!
Lá estava eu cedendo à loucura novamente.
Fui sarcástica. Absolutamente irônica e agressiva com
ela. Na mesma proporção em que Allison me
desconcertava.
E então, quando eu pensei que aquilo não poderia ser
pior, veio o golpe mortal. Uma loirinha - que eu já tinha
visto em algum lugar - se aproximou e abraçou Allison
por trás.
Minha reação foi imediata. E evidente, porque... Alan me
enlaçou pela cintura e me afastou alguns passos.
Sussurrando no meu ouvido:
- Respira, Pamela. Calma.
Penélope também disse baixinho:
- Estamos aqui do seu lado.
Mas meus olhos não conseguiam se desviar das duas
abraçadas. Allison a segurava nos braços, sorrindo para
a menina, como se eu não existisse mais. A energia e
cumplicidade entre elas era visível.
O que era aquilo que eu estava sentindo? Uma dor
incrível... Ardor, pavor, horror... Como se algo dentro de
mim tivesse se partido ou quebrado... Não, como se
tivessem me arrancado algo. A minha... alma?
Aquilo tudo me dava vontade de vomitar...
As duas continuavam a se fitar sorridentes, sussurrando
baixinho, se olhando nos olhos. A menina beijou Allison
no cantinho da boca... Meu corpo reagiu, sem que eu
pudesse impedir. Alan me segurou com força. Impedindo
que eu me movesse na direção delas. Na verdade eu
nem sabia o que pretendia fazer... Meu primeiro impulso,
puro instinto, foi impedir que elas... Arrancar Allison dos
braços da oferecida, gritar que ela era... minha...
E no entanto, não era. Não mais. Ou talvez nunca tivesse
sido.
Tive quase certeza disso ao lembrar: aquela era a
menina da Farme. A mesma que Allison tinha me dito -
no dia em que se recusara a ir para a minha casa - que
era... sua namorada. Antes, durante e depois de Paris,
da noite no apartamento minúsculo de Allison, das
minhas ridículas juras de amor... Aquela era a menina
com quem ela estava de verdade. Eu não passava de um
degrau na escada que Allison pretendia galgar...
Meu segundo impulso foi... fugir dali.

Me afastei rapidamente. Conseguindo manter um sorriso


no rosto, mesmo sem saber como.
Incrível como naquele momento, tudo parecia
absolutamente sem sentido. Em que momento eu tinha
perdido a noção do que realmente me importava? A
única coisa que eu tinha certeza era que não sabia mais
nada.
Ver Allison agarrada com aquela menina – a mesma
loirinha que tinha visto sentada no colo dela na Farme,
namorada dela de verdade – tinha gerado uma explosão,
uma sensação de perda terrível, incontrolável.
Continuei a andar até já estar no meio das árvores, e a
música e o ruído das pessoas se tornar irreal, como um
sonho distante.
Só então me permiti desabar. As lágrimas escorrendo
livremente pela minha face. Ouvi um som sufocado.
Percebi que era eu mesma. Eu... soluçava.
Completamente imersa no mar de sentimentos onde me
afogava, não ouvi os passos que se aproximaram. Me
assustei com a vozinha de criança muito próxima, de
uma suavidade preocupada:
- Cê tá bem, tia?
Olhei para baixo. Para a menininha franzina de boina,
vestido, meia-calça e botinhas rosa – não parecia ter
nem seis anos de idade – que me observava com uma
curiosidade que não tentava disfarçar. A resposta veio
sem pensar:
- Estou.
Mas ela não pareceu acreditar. Retrucou:
- Tá doendo?
Me abaixei até meus olhos ficarem na mesma altura dos
dela. Ela era muito pequena, mas estranhamente,
passava uma vivência um pouco além da idade no
olhar... Achei graça na minha idéia... Estava realmente
dominada por um sentimentalismo terminal... Tanto que
respondi:
- Um pouco.
- Mas passa.
A frase, dita com uma segurança quase adulta, me fez
sorrir. E a menininha sorriu de volta. Antes de dizer:
- Seu cabelo é bonito...
Só então reparei que por debaixo da boina, ela não tinha
nenhum. Com uma perspicácia que me surpreendeu, ela
imediatamente respondeu – apesar de eu não ter feito
pergunta alguma:
- Eu fiquei doente. Mas já tô boa. Mamãe disse que logo
logo vai crescer de novo.
- Melhor você voltar pra festa, Juju. Sua mãe tá te
procurando.
A voz de Allison soou atrás de mim, fazendo com que eu
limpasse as lágrimas de meu rosto disfarçadamente.
A menina se pendurou em meu pescoço num abraço
apertado antes de me beijar e sair correndo de volta ao
churrasco.
Eu nunca tinha tido contato com crianças, a não ser
quando eu era uma. Me levantei absolutamente sem
jeito. Dolorosamente consciente de que Allison me
observava.
Me sentindo... desprotegida, despida, sem defesas, como
se a qualquer momento pudesse... voltar a chorar, me
deixar levar, me render. Definitivamente, tinha me
tornado prisioneira da minha própria fraqueza.
Mas não importava o que eu carregava por dentro.
Desde que Allison nunca ficasse sabendo. Tentei
demonstrar uma frieza e uma indiferença que já não
tinha, ao perguntar:
- Quem é essa menina?
Allison pareceu surpresa. Demorou alguns instantes
antes de responder:
- A Juju é filha da Arlete. Ela teve câncer, fez
quimioterapia. Mas agora já está bem.
Impossível! Arlete trabalhava comigo há séculos, como
eu não... Ela nunca tinha me dito nada sobre a menina...
Allison, em tão pouco tempo, parecia conhecê-la de
forma quase íntima...
Não tentei esconder o quanto eu estava desconcertada
ao dizer:
- Eu... eu não sabia...
Ela suspirou fundo. Pareceu estar decidindo se ia ou não
dizer o que disse a seguir:
- Por que saberia? Você nunca se importou com ninguém
em toda a sua vida.
Allison era a única pessoa que jamais poderia me dizer
aquilo... Por que eu realmente tinha... ainda me
importava... com ela. Apesar de ter sido covardemente
traída.
Aquilo me atingiu. De uma forma que fez cada célula
ferida do meu corpo reagir. Detestava demonstrar
qualquer tipo de emoção ou sentimento, mas naquele
momento, era impossível me conter. As palavras foram
praticamente cuspidas. Com uma fúria que me deixou
ofegante e trêmula:
- Você... a srta boazinha... Você... Me enoja, sabia? Eu
posso ser tudo, menos dissimulada e fingida. E nunca
faria com ninguém o que você fez comigo.
Ela me lançou um sorriso irônico. Cínico, ao dizer:
- Pensei que você estivesse gostando e aproveitando...
Que quisesse me agradecer...
Não consegui me conter. Parecia que as palavras iam
explodir dentro de mim se eu não respondesse:
- Eu acreditei em você.
Allison se aproximou, os olhos incandescentes. Me
segurou nos braços com força, o simples contato
provocando um verdadeiro incêndio. Quebrando toda e
qualquer possibilidade que eu pudesse ter de resistir:
- Pam, me escuta: o que eu fiz foi um erro. Minha
intenção não era ficar com o seu cargo. Já te disse isso,
e vou continuar repetindo, até você...
Interrompi bruscamente:
- Até eu o que?
- Até você entender.
O olhar que ela me lançou... Os olhos castanhos
mergulhando profundamente nos meus, daquele jeito
que só ela sabia e conseguia fazer, me fazendo
estremecer... Respondi com o desespero de quem sabe
que lutar contra si mesma significa nunca vencer por
inteiro:
- Que diferença isso faz? O que mais você quer de mim?
Doce, muito doce... Foi a forma como ela sussurrou:
- Quero o seu amor.
Aquela frase... A mesma que ela tinha me dito, na noite
em que tínhamos dormido juntas no quarto cubículo
dela, num tempo longínquo, que parecia ter acontecido
em outra vida...
Um gosto amargo surgiu em minha boca, fez meus lábios
se contorcerem num sorriso triste, quase um espasmo de
dor:
- Não seja ridícula.
Os olhos castanhos voltaram a me olhar daquele jeito
que eu adorava. Fazendo meu coração acelerar
involuntariamente.
Sem poder confiar em minha capacidade de não ceder,
antes que Allison pudesse dizer ou fazer qualquer coisa,
me soltei das mãos dela, e rapidamente me afastei.

Voltei para o maldito churrasco. Uma raiva quase


selvagem me movia. Alan e Penélope se entreolharam,
preocupados. Provavelmente percebendo que eu estava
como que possuída pelo diabo. Ou melhor: eu era o
próprio diabo. E pretendia fazer daquele lugar um
inferno:
- Vamos acabar com essa festinha patética. Mas
primeiro...
Chamei um dos garçons. Que me informou que as únicas
bebidas disponíveis eram cerveja ou caipirinha... Nem
Vodka tinha, apenas... cachaça?
Inacreditável. Mesmo se tratando de uma festa
repugnantemente... arg... popular.
Sem outra escolha – me recusava a beber cerveja -
resolvi me arriscar na cachaça. Provei a caipirinha com
um certo receio... normalmente não suportava, mas...
naquele momento, eu precisava. Virei o copo
rapidamente.
Caminhei até o centro das mesas de mãos dadas com
Alan. E com Penélope do meu outro lado. Rodeada por
meus fiéis escudeiros do mal.
Um dos garçons passou com uma bandeja de caipirinhas.
Peguei outra e virei praticamente de uma vez só. A
necessidade que sentia do conforto causando pelo ardor
da bebida se tornando quase vital...
Meu pai nos cumprimentou rapidamente e depois se
desculpou, voltando a se misturar com a gentalha.
Peguei o copo de caipirinha que estava nas mãos de
Alan, e bebi com uma rapidez que fez com que ele e
Penélope voltassem a se entreolhar.
Alguns garçons trouxeram uma mesa e três cadeiras.
Ignorei a minha completamente quando vi Allison voltar
a abraçar a namoradinha. Já me sentindo... um tanto
quanto alterada, sentei no colo de Alan, dizendo:
- Desculpe, querido, mas... preciso de você.
Alan sorriu. Passou a mão pelas minhas coxas, numa
atuação muito convincente. Sussurrou:
- Querida, disponha.
E me beijou ardentemente na boca. Correspondi como se
minha vida dependesse disso. Percebendo algo
absolutamente estranho: um desespero profundo podia
ser facilmente confundido com paixão e amor...
Penélope falou baixinho, de forma que apenas nós três
ouvíssemos:
- A suburbanazinha não tira os olhos daqui.
Saber que Allison estava olhando me atiçou ainda mais.
Queria que ela pensasse que eu estava feliz... Que eu
não sentia nada por ela... Queria que ela sofresse tanto
quanto eu sofria quando a via agarrada com aquela
loirinha ridícula... Eu a odiava... A amava... Desejava
que ela me arrancasse dos braços de Alan e me
beijasse...
Eu queria o inferno, e tinha conseguido. Ardendo dentro
de mim!
Me agarrei ainda mais em Alan. Minha língua
percorrendo a boca dele de forma nada inocente. Alan
entendeu a mensagem. Desceu a boca por meu pescoço
de uma forma absolutamente sensual.
Penélope avisou, com uma felicidade sarcástica:
- Não olhem agora, mas a golpista está vindo para cá!
Continuamos a nos beijar. Arqueei o corpo para trás,
para que os lábios de Alan tivessem um acesso maior. As
mãos dele passeando sugestivamente pelo meu corpo.
A voz de Allison soou muito irritada:
- Com licença, por favor.
Nos afastamos lentamente. A olhei com um sorriso
divertido:
- Deseja alguma coisa?
Ela me fuzilou com os olhos. Parecia absolutamente
furiosa:
- Isso aqui é uma festa familiar.
Alan acompanhou minhas risadas. Penélope tinha se
afastado, desaparecendo misteriosamente do alcance do
meu olhar.
- Não estou entendendo aonde você quer chegar, Ali.
- O comportamento de vocês é ofensivo para os nossos
funcionários. Vou ter que pedir pra que vocês façam isso
em outro lugar.
Me levantei, esbanjando charme. Ficando cara a cara
com Ali:
- Mesmo? Desde quando beijar meu namorado é uma
ofensa para os nossos funcionários?
Allison aproximou o rosto do meu. Tanto que pude sentir
o delicioso calor do seu hálito. Praticamente cuspiu as
palavras:
- Beijar? Não seria melhor dizer se esfregar? Porque
vocês não arrumam um quarto?
Respondi do mesmo jeito, só que mil vezes mais alto.
Sentindo minha voz sibilar de ódio:
- O que eu faço ou deixo fazer com quem quer que seja
não te diz respeito, Allison. Não vou ficar aqui engolindo
falsos moralismos de uma pessoa que foi pra cama
comigo para conseguir um cargo! Aliás, diga-se de
passagem: o meu cargo!
A respiração dela estava tão ofegante quanto a minha.
Nossos olhos duelavam, disparando uma tensão quase
palpável.
Foi quando meu pai se aproximou de nós, interferindo:
- Pamela... Allison... Por favor... Essa não é a hora, nem
o local... Vocês estão em público, não se esqueçam
disso. Estão envergonhando a direção da revista na
frente de todos os funcionários...
Olhei em volta. Realmente, a festa tinha parado. Sobre
nós convergiam todos os olhares. A gentinha adorando
assistir ao "showzinho" que estávamos proporcionando.
Chegava a ser engraçado.
O cortei, quase gritando. Pouco me importando. Não
conseguindo nem querendo mais conter minha raiva:
- O senhor é o único responsável!

Capítulo 43:

***Allison***

Aquela cena de Pamela com o namoradinho estava sendo


constrangedora e insuportável aos meus olhos. Pela
minha cara de insatisfeita, acho que todos perceberam
que eu estava completamente dominada pelo diabinho
do ciúme. Leandra grudou no meu pescoço e ficou
pedindo calma de minuto em minuto. Quanto mais a
menina me pedia calma, mais Pamela e o engomadinho
se esfregavam. Eu estava transtornada. Minha calma
havia sido arremessada em algum abismo, só pode! O
momento de tolerância estava dando lugar ao meu total
e conturbado sentimento de raiva e desespero. Olhando
ao meu redor, podia ver e ouvir às pessoas apontando
ou simplesmente disfarçando o olhar para a cena no
mínimo... Erótica! O engomadinho passava as mãos nela
sem nenhum pudor. Pelo amor de Deus! Estamos num
local de família! Cheio de crianças correndo pra lá e pra
cá. Pamela perdeu totalmente o senso do ridículo. Só
pode! Desta vez ela desceu baixo demais. Pedi licença a
Leandra que ainda contestou a minha atitude. Não dei
ouvidos a ela. Eu precisava acabar com aquela festinha.
Se eles querem trepar, que vão para a p.. que pariu! Eu
pelo menos, não vou tolerar esse comportamento na
frente das crianças, muito menos vou agüentar vê-los
como um casal apaixonado em lua de mel por muito
tempo.
Caminhei até eles com a certeza de que iria
acabar com aquela festinha vulgar e desagradável dos
pombinhos. Pamela me tirava do sério, isso era
indiscutível. Na medida em que eu me aproximava da
mesa deles, ela me provocava com o olhar... Bem típico
da poderosa Pamela, não é? Depois, me provocou com
palavras carregadas de veneno. A mulher me ofendia. Às
palavras que mais me doeram foram essas:
"- O que eu faço ou deixo fazer com quem quer que
seja não te diz respeito, Allison. Não vou ficar aqui
engolindo falsos moralismos de uma pessoa que foi pra
cama comigo para conseguir um cargo! Aliás, diga-se de
passagem: o meu cargo!"
Pamela resistia à idéia de jogar na minha cara
que eu sempre quis o seu cargo. E isso nunca foi
verdade. Eu apenas queria Pamela pra mim, inteira,
humana. Despida daquele egoísmo que só fazia mal a ela
e as pessoas que a cercavam.
A discussão tomou proporções que já chamava a atenção
de todos. Até a música havia cessado para dar a
oportunidade de ouvir o que estava sendo dito naquela
mesa. No calor do momento ficamos muito próximas.
Deu pra sentir o hálito quente de Pamela tocar o meu
rosto. Era uma mistura de desejo e raiva que me punia
por ainda queimar de amor por uma mulher que não
fazia a mínima questão de ir para um lugar mais
apropriado para se esfregar com o seu namoradinho. O
Sr. Álvaro veio tentar pôr um fim naquela guerrinha de
nervos. A última frase de Pamela deixou o homem
completamente mudo.
- O senhor é o único responsável! – ela disse,
levantou-se e saiu de perto da mesa. Acompanhei os
seus movimentos e vi quando ela pediu um copo de
caipirinha a um dos garçons...
- Isso não vai dar certo – pensei. Quer dizer: eu
disse.
- Não fique assim, minha filha – O Sr Álvaro
colocou as mãos nos meus ombros.
- Ela nunca vai nos perdoar – senti que meus
olhos estavam úmidos.
- Fizemos a coisa certa, disso eu tenho certeza.
- Fizemos tudo errado! Ela está apaixonada por
esse playboyzinho. – minhas palavras saíram cheias de
rancor e arrependimento, que há essa altura não valem
de nada.
- Os olhos dela dizem que não. – bateu no meu
ombro – Quer tomar alguma coisa, Allison?
Balancei a cabeça negativamente. Com um gesto
informei que eu iria me afastar.

Mais uma caipirinha. Foi o que eu vi Pamela


bebendo, encostada em um dos quiosques de churrasco.
De longe eu a observava. Notei que não havia nem sinal
do engomadinho ao lado dela, e nem daquela víbora da
Penélope. Onde estariam aqueles dois amigos da onça,
enquanto Pamela se entupia de bebidas? A partir daquele
momento eu não fiz mais nada que não fosse: tomar
conta de Pam. A mulher estava enlouquecida. Bebia um
copo de caipirinha atrás do outro. Não conseguia
entender o porquê dela ainda estar de pé. Pois é! Ela
andava pelas pessoas exibindo aquela classe de sempre,
olhando os outros do seu pedestal inabalável. Nem
bêbada ela saia do salto. Claro que ela estava bêbada!
Só eu, nessas três voltinhas que dei atrás dela a vi
bebendo duas caipirinhas. Fora a caneca de chope que a
poderosa deve ter experimentado, e as outras doses que
a mesma já havia degustado. Mais meia hora me
esquivando atrás das pessoas ou nas pilastras e grades
da piscina, e eu resolvi ir até onde Pamela estava. Isso
já estava passando dos limites! Ela tinha que parar de
beber imediatamente. Pamela não exibia um olhar
habitual, ou seja: nem irônico, nem perverso. Ela
simplesmente flutuava no seu salto gigante e caro,
provavelmente. Parei na frente dela. A mulher me
encarou e soltou uma gargalhada. Típico das pessoas
que estão alteradas pela bebida, a única diferença é que
até a gargalhada de Pam era inegavelmente cheia de
glamour. Segurei seu braço quando o garçom passou
com uma bandeja cheia de bebidas e ela se preparava
para pegar mais uma.
- Já chega, não acha? – sustentei o olhar.
- Não, Allison! – encarou-me com aqueles olhos
azuis faiscando – Quem é você para me dizer se eu devo
ou não beber?
- Pamela, você não tá legal. – disse calma, num
tom de voz bem moderado para não despertar os
curiosos de plantão – Se você beber mais será um
vexame, consegue me entender?
- Não Allison! Eu não consigo te entender. A
única vez que eu tentei te entender, você me provou que
estava acima da minha compreensão. – olhou
profundamente dentro dos meus olhos. Vi mágoa,
revolta... Rancor!
- Não vou mais repetir que eu não quero e
nunca quis o seu cargo. – puxei-a para um canto perto
dos chuveiros. Algumas crianças mergulhavam na piscina
e os pingos de água caiam na gente – Vamos pra casa.
Você não está bem!
- Me solta, sua suburbanazinha interesseira! –
puxou o braço rispidamente, logo alterou um pouco o
seu tom de voz. A nossa sorte é que a música estava
alta o suficiente para abafar a nossa conversa – Tira
essas mãos sujas de cima de mim!
- Olha, Pam... Fale o que você quiser, mas eu
vou te levar embora daqui, está bem? Aquele
engomadinho do seu namorado quem devia estar aqui
tentando te controlar, mas o palhaço sumiu, deve estar
cheio de cachaça também, então... – segurei novamente
o seu braço – Eu vou te levar pra casa! Por bem ou por
mau! Entendeu?
- E a sua namoradinha, onde está? – tentou se
esquivar do meu contato, mas ela não tinha forças.
Estava vulnerável devido a grande quantidade de álcool
que havia ingerido – Sempre namorou aquela fedelha,
não é? Que coisa feia Allison! Namorando uma menina
que mal deve ter saído das fraldas. Devia ter vergonha
disso!
- Ah, é? – segurei firme no seu outro braço...
Puxei-a para mais perto do meu corpo. Nossa pele
queimava uma na outra. Encarei-a profundamente, me
perdendo naquele mar azul que brilhava diante de mim –
Quem você pensa que é para falar da Leandra? Nossa
cama mal esfriou e você já colocou em cima dela um
engomadinho cheio de frescuras! – minhas palavras
saiam carregadas pelo veneno do ciúme.
- Nossa cama? Não me faça rir, Allison! Minha
cama nunca foi sua cama, e para o seu governo, todos
os lençóis que você deitou... A cama, o colchão e os
travesseiros... – encarou-me severa antes de completar
a frase, eu senti um tom de contentamento nas palavras
dela - ... mandei queimar!
- Por que queimou se eu não significo nada pra
você? – deslizei meus dedos pela pele dos seus braços.
Acompanhei o caminho dos seus pêlos que ficaram
arrepiados ao mesmo tempo.
- Porque eu queria extirpar da minha vida à
doença que é você! – disse séria.
Soltei-a no minuto seguinte a essas palavras,
logo um doloroso silêncio se instalou entre nós. Só o
nosso olhar produzia "som". É isso o que Pamela pensa
de mim? Sou uma doença na vida dela? Ta legal! Já fui
chamada de coisa pior por ela, mas vocês tinham que
ver a fúria nos olhos daquela mulher. Afastei-me
devagar, olhando-a ainda nos olhos, vendo dentro deles
o tamanho da amargura que brotava como uma ferida.
- Você é uma doença, Ali! – repetiu impiedosa
enquanto caminhava na minha direção.
O que aconteceu depois foi tudo tão rápido que
nem me lembro ao certo. Só lembro de uma criança, não
sei se menino ou menina, ter vindo correndo para pular
na piscina. A criança esbarrou em Pamela e a mesma foi
arremessada dentro da água. Por alguns segundos,
vimos-na debater-se na água. Sem pensar pulei de
roupa e tudo. Alcancei-a rapidamente... Agarrei-a com
uma mão pela cintura a outra buscava a margem da
piscina. Ajudaram-nos a sair da água. Pamela estava
furiosa. Xingando até a última geração da pobre criança.
Apesar de ela estar falando em francês, pela sua
expressão diabólica dava nitidamente para perceber que
eram palavrões cabeludos que Pamela dizia. Se as
minhas saidinhas noturnas estão surtindo efeito, era
mais ou menos isso que ela falava:
- Merde! Fils de pute! Toi petit merdeur! Va te faire
foutre!... (Merda! Filho da Puta! Seu merdinha! Vai se
fuder!...) – tsc tsc... Saindo literalmente do salto, mas
com classe, não é? Afinal de contas, ela xingava em
francês.
Eu e todos que estávamos perto dela até tentamos
disfarçar o riso, mas foi unânime. A cena hilária havia
divertido a redação inteira. As crianças nem disfarçaram.
Isso provocou a ira de Pamela. A poderosa levantou-se
do piso gelado que envolvia a piscina e praticamente
abriu caminho entre as pessoas empurrando a todos.
Nem licença ela pedia. Corri atrás dela. Alcancei-a perto
da saída do sítio. Segurei seu braço, ela girou tão rápido
ficando de frente pra mim, que eu pensei que a mulher
cairia nos meus braços. Uma pena não ter caído.
- Você não vai dirigir assim! – fixei o olhar.
- Não vou com você, Allison! Prefiro morrer a
chegar à minha casa outra vez contigo.
- Então não se preocupe em morrer, não vamos
pra sua casa. Vamos pra minha! – segurei o braço dela e
a conduzi pelo estacionamento. Tirei o alarme molhado
do bolso da calça, nem sabia se essa merda funcionaria.
Apertei o botão e as portas destrancaram.
- É seu? – perguntou com descaso.
- Seu pai insistiu que eu comprasse um. – abri
a porta do carona e praticamente joguei-a lá dentro –
Não ostentei, viu? – completei já dentro do carro. Girei a
chave na ignição. Pamela olhava dentro do veículo.
- Simples demais para uma presidente de
revista – balançou a cabeça negativamente – Da onde
tirou a idéia de comprar essa porcaria de carro? Não
tinha nada melhor do que uma paliozinha simplória?
Detesto carro popular!
- Isso prova pra você que eu não tenho
pretensão de ficar com o seu cargo.
- Isso prova que você além de usurpadora é
burra!
- Cala a boca, Pam! – sorri por entre os dentes.
Eu já estava cansada de brigar com ela. A única coisa
que eu queria é poder ficar um pouco ao lado daquela
mulher na minha casa. Pamela dormiria novamente na
minha cama, e isso estava reacendendo as esperanças
dentro de mim.
- Eu... – disse sonolenta – Não quero ir pra
aquela sua porcaria de casa – sussurrou antes de
encostar a cabeça no meu ombro e dormir
profundamente. Ela literalmente... Apagou!
- Não estou mais morando naquela porcaria
como você diz... – beijei a sua testa assim que senti a
sua boca encostar perto do me pescoço. – Acho que você
vai gostar.

Capítulo 44:

***Pamela***

Uma claridade irritante me acordou. Tentei me mover,


mas foi um verdadeiro suplício. Minha cabeça latejava.
Meu mundo era um... moinho? Definitivamente, esse
era o resultado de ingerir bebidas tupiniquins!
Suspirei profundamente. E imediatamente me arrependi.
Até pensar doía... Levantei o lençol apenas para
constatar o que já sabia: estava completamente despida.
E do meu lado, Allison dormia profundamente.
Deliciosamente nua e abraçada em mim.
Na verdade eu não acreditava nessa baboseira de
amnésia causada pelo excesso de álcool. Achava que era
mera desculpa daqueles que não tinham coragem para
assumir o que tinham feito sob o efeito da bebida.
Mas entre o churrasco, algumas muitas caipirinhas e
aquele momento totalmente "Twilight Zone", o que
diabos tinha acontecido? O que, quando, como, por que
eu estava ali?
Como uma câmera que entra no foco, as cenas foram
surgindo em minha mente. Algumas um pouco
embaralhadas. Como um flashback mal feito de filme...

...Um calor agradável me tirou do quase coma em que


eu me encontrava. Deliciosos, macios, suaves. Os lábios
de Allison nos meus. Abri os olhos, me assustando por
ser de verdade. Não um sonho, como nas últimas vezes.
Onde eu estava?
Como se lesse pensamentos, ela respondeu:
- Chegamos. Lar doce lar.
Olhei em volta sem entender. O apartamento cubículo de
Allison não tinha garagem. Dei uma gargalhada.
Daquelas sem sentido, que só os bêbados conseguem
dar. E constatei:
- Você se mudou.
Mas ela já havia saído e dado a volta no carro. Abrindo a
porta do meu lado, e me ajudando a levantar. Adoraria
poder recusar, mas... naquele momento, andar de salto
alto já não parecia tão fácil. Por isso deixei que Allison
passasse o braço ao redor da minha cintura – tortura – e
me guiasse. Sem me preocupar com para onde.
Totalmente voltada para o que mais me apavorava: o
amor incontrolável que eu ainda sentia por aquela
maldita mulher...

... Allison ligou o chuveiro, e como eu continuasse


protestando, me recusando a obedecer, disse com uma
firmeza que me fez estremecer:
- Se não entrar nesse chuveiro agora, vou arrancar a sua
roupa e te dar banho pessoalmente. Entendeu?
Arregalei os olhos e me calei. Fiz que sim com a cabeça.
Ela pareceu satisfeita. E completou com um tom de voz
doce, totalmente diferente:
- Comprei aqueles shampoos e cremes frescos que você
tanto gosta. Pode usar esse roupão, tá limpo. E vou
deixar aqui em cima da pia – pegou um objeto no
armário – o secador de cabelo.
Depois que ela saiu, ainda fiquei alguns minutos parada,
sem acreditar que aquilo estava realmente
acontecendo...

... Entrei na sala, e vi Allison sentada, parecendo muito


pensativa. Assim que me viu, foi logo dizendo:
- Sei que prefere chá, Pam... Mas no seu estado, achei
melhor fazer um café bem forte pra você.
Ela desapareceu e voltou rapidamente com um bule,
uma xícara e um vidrinho de adoçante numa bandeja. Eu
não gostava de café... Mas também não gostava de
caipirinha...
Naquele momento, de alguma forma, precisava ficar
sóbria novamente, porque... era a única forma de evitar
o perigo que estava correndo. Precisava de toda a minha
racionalidade para não ceder. E nisso, com certeza, o
café ajudaria. Pelo menos foi do que tentei me
convencer...
- Vou tomar um banho também. Bom, você já sabe que
na minha casa, se quiser beber café, tem que se servir
sozinha...
Depois das palavras que soaram estranhamente
carinhosas, Allison desapareceu corredor adentro. Me
sentei na mesa de jantar, me servi de café. Sem achar
tão absurdo quanto tinha achado da primeira vez, no
apartamento cubículo. Mil pensamentos me distraindo
enquanto sorvia o conteúdo da xícara...

...Allison voltou com os cabelos molhados, vestindo um


jeans e uma camisetinha que a deixavam... Quase
irresistível. Quase porque... eu precisava resistir.
O sorriso safado que surgiu nos lábios dela deixou claro
que tinha percebido meu olhar de cobiça. Mas ainda
assim, não conseguia desgrudar os olhos do corpo dela.
Delícia...
Meus pensamentos se tornavam cada vez mais
inconfessáveis, por isso levantei rapidamente, e disse:
- Vou indo.
Ela me olhou com um enorme sorriso. Antes de
responder, novamente com aquele jeito firme, que me
causava arrepios:
- Você vai dormir aqui.
Meu tom foi de puro desafio:
- Vou?
Os olhos de Allison me percorreram, como se me
despissem. Um olhar de desejo, tesão, me devorando
inteira. Sussurrou, avançando para mim:
- Sim.
Recuei imediatamente. Não podia deixar que Allison me
tocasse, descobrisse o quanto me abalava com o mais
leve encostar de dedos:
- Allison, você... Enlouqueceu de vez?
Ela se aproximou novamente:
- Quem me enlouquece é você.
"Eu poderia dizer o mesmo" – pensei. Dentro de mim, as
emoções se digladiavam. Um orgulho profundo, milhares
de desconfianças e mágoas contra amor e desejo.
Dei a volta na mesa. Com Allison atrás de mim. Numa
espécie de perseguição ridícula. Ela continuou, sem parar
de me seguir:
- Eu amo você, Pam. Aqueles dias em Paris foram os
melhores da minha vida. Quero você daquele jeito de
novo. Com os olhos brilhando, sorrindo, feliz... Tudo que
eu quero é o seu amor. O resto não importa. Você
precisa acreditar em mim!
As palavras dela... me acertaram em cheio. Meus olhos
lacrimejaram, não conseguia mais fugir. O coração não
batia - latejava, bombeando o sangue em minhas veias
com uma intensidade violenta. Estremeci, arrepiei
inteira. Allison me puxou pela cintura, grudando meu
corpo no dela. Uma vertigem - que não era causada pela
bebida - me amolecendo, fazendo com que cada célula
do meu corpo parasse de me obedecer. Um desejo quase
sufocante se estabelecendo. Mostrando que eu era dela
mesmo sem querer.
E incrivelmente, foi o que me deu forças para reagir.
Uma revolta imensa tomou conta de mim. Precisava me
livrar. Me afastar definitivamente dela. Me defender
daquele poder que Allison tinha, de me fazer esquecer de
tudo, até mesmo quem eu era...
Ergui a mão direita para esbofeteá-la, mas Allison previu
e impediu o movimento, segurando meu pulso no ar. Fez
o mesmo quando tentei acertá-la com a mão esquerda.
Me segurando pelos pulsos com firmeza, sem que eu
conseguisse me soltar, Allison me fez recuar, me
empurrando com força, até minhas costas baterem
contra a parede. Comprimiu meu corpo com o dela, me
fitando profundamente, me prendendo no hipnótico
pulsar de seu olhar... Me deixando sem ar. Nem tanto
pelo baque... Muito mais pelo ardor que correu em
minhas veias...
Aproximou o rosto lentamente. A respiração alterada, a
pele queimando, as mãos tremendo, exatamente como
eu. E misturou a boca, a língua, os lábios nos meus...
Foi um beijo doce, suave, apaixonado. Com sabor de
almas se despindo.
Não tentei resistir. Naquele momento, me permiti. Me
entreguei inteiramente à saudade, vontade e desejo
gravados em minha carne.
Precisava daquilo. Correspondi, me deleitando com o
prazer de beijar a mulher que eu amava. A incrível
sensação de me sentir completa novamente.
Nem percebi quando ela soltou meus braços. Como se
tivessem vontade própria, rodearam o pescoço dela -
minhas mãos acariciando a nuca e os cabelos de Allison
incansavelmente.
Uma emoção inexplicável, indescritível me envolveu...
Fazendo um gosto salgado chegar aos meus lábios. E aos
dela. Interrompendo o beijo. Allison se afastou apenas o
suficiente para enxugar minhas lágrimas. Me olhando
com a intensidade de sempre, e fazendo com que minha
felicidade voltasse a transbordar molhando minha face
inteira.
Ela sorriu, sem pronunciar uma palavra. E nem
precisava. Dizia tudo naquele olhar. Sorri para ela, beijei
a mão que acariciava meu rosto. Antes de puxar Allison
delicadamente pelo pescoço para que ela voltasse a me
beijar. Dessa vez um beijo intenso, voraz, absolutamente
sensual.
Os lábios dela desceram por meu pescoço, desenhando
uma trilha incandescente. Eu ardia, tremia, sussurrava
palavras desconexas no ouvido dela. Ansiando por um
contato pleno. Desejando, precisando, necessitando que
ela me tocasse, me tomasse inteira. Tanto quanto eu
precisava de ar. Sem isso não podia, não queria mais
continuar.
Sem interromper o beijo, Allison foi me guiando pelo
apartamento, nossa febre nos fazendo esbarrar nos
móveis, nas paredes, até entrarmos num dos cômodos.
Ela trancou e fechou a porta, me dando apenas tempo
suficiente para perceber que estávamos no quarto dela.
Mas então, Ali já estava me livrando do roupão, entre
incontáveis carícias e beijos. Sussurrando coisas
deliciosas em meu ouvido, que me arrepiavam toda.
Se afastou um pouco, para olhar meu corpo inteiramente
despido. Me fez sentar na cama, e começou a tirar as
próprias roupas. A puxei para mim, fazendo Allison ficar
entre minhas pernas, mordendo meu lábio inferior antes
de dizer:
- Eu tiro pra você...
Eu queria despi-la. Para aproveitar cada pedaço da
mulher que eu amava desesperadamente.
A livrei da calça jeans com pressa. Passei as mãos pelas
pernas, coxas, nádegas de Allison enquanto meus lábios
passeavam pela barriga perfeita, fazendo com que ela
gemesse e se contorcesse.
Os gemidos aumentaram quando a toquei, acariciando os
seios bem feitos, colocando minha boca faminta sobre
um deles. Allison me puxava pelos cabelos,
completamente refém dos meus desejos...
A livrei da camiseta também. Apenas a calcinha
minúscula a separava da nudez... Desci minha boca
distribuindo beijos pela pele quente. Até alcançar o
tecido fininho. Passei os dedos por baixo do elástico,
puxei lentamente, com um suspiro de antecipação... E
então, toda a passividade dela desapareceu.
Allison grudou a boca na minha com uma urgência
incontrolável. Igual a que eu sentia. Nos deitamos na
cama, ela entre as minhas pernas, se movendo
deliciosamente em cima de mim.
A textura da pele, o cheiro, o gosto dos beijos...
Adorava, amava tudo nela, tão intensamente que
chegava a doer... Como afundar voluntariamente num
fluxo infindável de loucura e prazer... Gemi alto,
repetidas vezes. A apertando com força, querendo que
ela soubesse o quanto eu estava gostando, adorando,
querendo...
- Senti sua falta, Pam.
- E eu a sua. – sussurrei contra os lábios dela,
totalmente subjugada pelo que sentia.
As mãos de Ali deslizaram pelas laterais do meu corpo.
Acariciaram minhas coxas, se enfiaram entre as minhas
pernas, encontrando meu sexo e sua umidade delatora.
Escorregou a mão me tocando com a habilidade de
sempre, quase me fazendo perder os sentidos. Pedi
sensualmente:
- Quero ser sua, Allison. Toda e só sua. Me come, vem...
Daquele jeito que só você sabe fazer...
Allison sorriu daquele jeitinho safado que eu adorava.
Sentou na cama, e me puxou para o colo dela,
murmurando:
- Abre as pernas pra mim...
Com um suspiro ofegante, obedeci. Sentei com Ali entre
as minhas pernas. Um gemido de prazer profundo
escapando de meus lábios quando os dedos dela me
preencheram.
A partir daquele momento, deixei de lado todo e
qualquer tipo de resistência. Com os braços ao redor do
corpo dela, deixei que Allison me guiasse, controlasse,
ditasse o ritmo e a intensidade dos nossos movimentos...
Querendo apenas aproveitar, desfrutar completamente o
prazer que era ser tocada, beijada, acariciada, amada
por ela. Desejando me entregar, pertencer à Allison por
inteiro.
Com a dificuldade de respirar criada pelo palpitar
intenso, só conseguia gemer e murmurar duas coisas: o
nome dela, e a palavra "amor".
Allison parecia absoluta e agradavelmente surpresa. Me
olhou fundo nos olhos - daquele jeito que me derretia –
e disse:
- Eu te amo, Pam.
Explodi num prazer imenso. Meu corpo todo ardendo, se
derretendo nas mãos dela num gozo intenso, fazendo
com que a resposta fluísse plena:
- Allison, eu amo você...
Foi o bastante para que ela também parecesse tomada
pela loucura. Me deitou na cama, desceu a boca pelo
meu pescoço, colo, seios... Sussurrando coisas que eu já
não conseguia entender. Principalmente porque eu não
tinha mais como parar de dizer:
- Eu te amo, Ali. Preciso de você.
E então, não pude dizer mais nada, só conseguia me
contorcer debaixo da língua que mergulhava de um jeito
absolutamente faminto dentro de mim.
Delirando, as mãos agarradas nos cabelos dela,
começando a voltar a estremecer...
Allison parou o que estava fazendo. Apesar dos meus
protestos, se afastou, a voz rouca denunciando a
excitação que sentia ao dizer:
– Vira. Fica de quatro pra mim.
Deu espaço para que eu girasse o corpo, e eu obedeci.
Exatamente como naquela primeira vez inesquecível. Me
arrepiei inteira com o simples pensamento. E gemi alto
quando senti a língua e os dedos de Allison me
invadindo. Selvagem, desesperado, intenso. Foi o jeito
delicioso com que ela me devorou, me fazendo implorar
antes de me fazer gozar novamente.
Me joguei de bruços na cama, mas Allison não parecia
cansada, muito menos satisfeita. Possuída por uma ânsia
incontrolável, como se precisasse se provar que eu era
realmente dela, se deitou sobre mim. Se esfregando, me
mordendo na nuca, gemendo intensamente. Deliciosa
como sempre. Me dando água na boca:
- Quero te chupar, amor.
Ela se apoiou nos braços. Me presenteou com um sorriso
safado e um olhar de puro desejo. Virei e fui descendo
debaixo dela, acariciando aquele corpo maravilhoso com
as mãos e a boca. A deixando louca... Antes mesmo que
eu chegasse no ponto desejado.
Allison gemia, se contorcia. Toquei o sexo dela de leve,
com a pontinha da língua. Queria provocar, mas não
resisti muito tempo. Mergulhei meus lábios e dedos
dentro dela com urgência. Tomada pelo desespero de
provar o gosto da minha mulher.
Allison gemeu alto. Quando passei a devorar o sexo dela
com loucura. Se movendo ao encontro da minha boca de
um jeito cada vez mais descontrolado e intenso.
Os tremores e gemidos aumentaram, o corpo dela
começou a ficar tenso, me deixando cada vez mais
próxima do gozo também. Mas Allison era uma deliciosa
caixinha de surpresas. Sem aviso nenhum, ela virou o
corpo, se encaixando com perfeição em cima de mim.
Um gemido abafado contra o sexo dela escapou dos
meus lábios quando Allison mergulhou a boca e os dedos
entre as minhas pernas. Ainda consegui dizer:
- Com você não é só sexo, Ali. Com você é... amor...
A resposta dela foi aumentar e aprofundar os
movimentos. E me fazer esquecer de todo o resto. Nada
além do nosso pulsar alucinado, dos gemidos ritmados,
até gozarmos juntas, numa entrega completa e perfeita.
A primeira de uma noite inteira...

... Levei às mãos novamente à cabeça. Sem saber o que


fazer. Olhei para Allison dormindo ao meu lado. Ela tinha
nos lábios um sorriso feliz e satisfeito.
"Isso não muda nada." – repeti várias vezes para mim
mesma.
Tinha sido uma noite maravilhosa, mas... movida pelo
álcool e pela loucura do momento. Nada do que tinha
sido feito ou dito poderia ser levado a sério.
Adoraria poder, mas... o simples pensamento de
acreditar, estar errada e me decepcionar novamente me
apavorava.
Sentei na cama, e Allison acordou assim que afastei meu
corpo do dela. Me fitou com os olhos brilhando e um
sorriso lindo:
- Bonjour, mon amour!
Aquilo realmente mexeu comigo. Chegou a doer. Um
medo primitivo tomou conta de mim. Daqueles
sentimentos que poderiam me destruir. E me fez mentir:
- Posso saber o que eu estou fazendo aqui?
Minha voz soou distante, absolutamente fria. Roubando o
sorriso do rosto dela. Antes que Ali respondesse, me
enrolei no lençol e levantei da cama, me fazendo de
indignada:
- Aonde estão as minhas roupas, Allison?
O cintilar dos olhos castanhos desapareceu. Depois de
um instante de silêncio, ela perguntou:
- Você não se lembra?
Tentei olhar através dela. Como se Allison não existisse.
Impossível, quando a coisa mais brilhante no mundo
parecia ser ela.
Com lágrimas nos olhos, Allison insistiu:
- Pam, nós passamos a noite fazendo amor.
Tive que me virar de costas. Olhando para ela jamais
conseguiria dizer:
- Eu não lembro. E mesmo que lembrasse, Allison... Eu
ter feito sexo – frisei bem a palavra – com você não
importa, não faz diferença. Não significa nada,
entendeu?
Provavelmente qualquer outra pessoa teria murchado,
desmontado, desaparecido. Mas aquela era Allison.
Minha Allison. A única capaz de medir forças comigo:
- Bom, então não temos mais nada a dizer sobre isso.
Ela levantou da cama, nua mesmo. Caminhou até o
armário, abriu. Escolheu algumas roupas, se vestiu. O
tempo todo sem me olhar nem virar de frente para mim.
Quando terminou, se aproximou, e com uma voz
totalmente impessoal, disse:
- Suas roupas ainda devem estar molhadas. Vai ter que
usar uma das minhas.
Depois que eu estava vestida com as roupas que Allison
me emprestou – uma camiseta e uma calça jeans
horríveis, mas eu estava fraca demais para fazer outra
coisa além de me vestir e sair correndo dali - ela
continuou no mesmo tom:
- Vem. Vou chamar um táxi pra você.
Destrancou e abriu a porta, e seguiu na frente. Fui atrás
dela, me sentindo rasgar, dilacerar por dentro. No meio
do corredor a alcancei, puxando Allison pelo braço. Ela se
virou para mim, os olhos carregados de uma esperança
intensa. Em pleno acordo com os meus.
Mas antes que eu pudesse fazer ou dizer qualquer coisa,
um barulho de vozes nos fez olhar para a sala e ver o tal
amigo de Allison – Leonardo – e Alan aparecerem.
Tão surpresa quanto eu, Allison perguntou:
- O que esse engomadinho está fazendo aqui, Léo?
Ignorando Allison completamente, como se ela fosse um
inseto, Alan me puxou pela cintura, olhou bem dentro
dos meus olhos e respondeu:
- Amor, vim buscar você.
Capítulo 45:

***Allison***

Como assim ela não lembrava? Tivemos uma noite


perfeita e Pamela disse que nada havia acontecido? Era
um pesadelo, meu Deus! Só pode.
- Pam, nós passamos a noite fazendo amor – disse e,
involuntariamente, algumas lágrimas quiseram escorrer
dos meus olhos.
- Eu não lembro. E mesmo que lembrasse, Allison... Eu
ter feito sexo – frisou bem a palavra – com você não
importa, não faz diferença. Não significa nada,
entendeu?
ória da troca de cargo. Eu já havia feito tudo para provar
que me arrependi, mas a teimosa não quis me dar
ouvidos, agora, por rancor acumulado devido ao
incidente, tem a coragem, ou melhor: a ousadia de me
dizer que não se lembrava do quanto foi maravilhoso
fazermos amor.
- Tudo bem Pam, eu desisto – balancei a cabeça
negativamente. - Vem. Vou chamar um táxi pra você -
destranquei a porta do quarto.
Eu queria ver Pamela o mais longe de mim possível
naquele momento, porém antes que chegássemos na
sala, senti o toque gostoso e suave das mãos dela nos
meus braços. Virei-me no mesmo momento. Olhando-a
naquele instante, tive a ilusão de que aquela mulher
linda, que me olhava penetrantemente comentaria algo
da noite maravilhosa que tivemos. Nossa! Quantas e
quantas vezes ela disse que me amava. Queria tanto
ouvi-la... Tinha tanta esperança de que, agora
sóbria, ela fosse me dizer todas aquelas essas coisas
novamente. No entanto, antes que pudéssemos trocar
outras palavras, aquele engomadinho do namorado dela
apareceu e estragou tudo. Péra aê! O que eu disse? O
engomadinho na minha sala? Conversando com o Léo?
Como assim?
- O que esse engomadinho está fazendo aqui, Léo? –
Perguntei surpresa.
O cara-de-pau nem olhou na minha direção! Passou por
mim como um furacão e envolveu aquelas mãos sujas na
cintura de Pamela.
- Amor, vim buscar você.
Sinceramente! Não consegui entender nada, e pelo visto
Pamela também não. Sabe aquela cara de paisagem que
as pessoas fazem quando não conseguem compreender
alguma coisa? Essa era a cara dela naquele momento.
Será que Pamela se sentia envergonhada por estar
vestindo na frente do namoradinho aquela calça jeans e
uma blusinha tão simples que quase ofuscava o seu
poder aristocrático? Se as circunstâncias fossem mais
favoráveis eu teria rido bastante da carinha dela por
estar.
- Bom, ao menos não vou precisar chamar um táxi –
disse quase fria. Na verdade, eu queria aparentar frieza
para não deixar transparecer a raiva obscura, negra,
doentia e insana que estava dentro de mim. - Pode me
dar um minuto antes de você ir? – Segurei no braço de
Pámela e o engomadinho olhou na direção das minhas
mãos... Fingi que não vi.
- Sim... – Acho que poucas vezes vi Pamela tão insegura
ao me dar uma resposta. Puxei-a para um canto da sala.
Esta seria a minha última tentativa.
- Não se recorda mesmo?
- N...Não, Allison! – Disse fria, como era de se esperar.
- Ainda bem... Porque ontem à noite você foi um
desastre – provoquei.
- O quê? – Arregalou aqueles olhos azuis, me encarando
indignada. O meu humor estava negro naquela manhã.
- Sua performance... Tem que melhorar, viu? Caiu
muito a qualidade.
- Sua... Sua... Idiota! – Alterou o tom de voz – Eu te
satisfiz horrores – disse num impulso, depois calou-se
traída pela sua vaidade.
Ficamos em silêncio por alguns segundos... Nossos olhos
presos um no outro. Ela havia me dito em poucas
palavras, muito mais do que eu havia perguntado.
- Obrigada, Pam... Agora se me dá licença... – disse
sorrindo descaradamente enquanto ela saia da minha
casa possessa de raiva.
Vibrei ao descobrir tão facilmente a sua mentira. Voltei
para o quarto e antes que pudesse pensar em qualquer
coisa, Léo veio correndo. Deduzo que correu pelos
passos que ouvi no corredor. Bateu na porta que estava
semi-aberta.
- Posso entrar amiga?
- Poxa Léo! Como você abre a porta pro engomadinho?
Podia ter dito que a Pamela não tava aqui, não é?
- Ai, amiga!
- Ai nada! Ele chegou e nós tínhamos muito o que
conversar, sabia? Vocês interromperam aquele olhar dela
de mulher dominadora arrependida, sabia?
- Olhar de quê?
- Esquece! O que foi?
- Minha noite, Ali! – Sentou-se na cama completamente
eufórico. – Foi tudo!
- Saiu com alguém, é isso? Conheceu um carinha novo?
– Aquela euforia toda só podia significar que Léo havia
conhecido um carinha novo.
- O Alan! – Disse e me olhou com aquela cara de
felicidade.
- O que tem o engomadinho?
- Ele não veio procurar a poderosa! Ele dormiu aqui... E
pasme! Comigo! Na minha caminha... Foi tão
maravilhoso!
- O quê? – Perguntei já percebendo que o meu sorriso
despontou rapidamente em minha face – O que você tá
me dizendo, Léo?
- O namoradinho da poderosa, é no mínimo "bi"!
- Nossa! – Pulei da cama completamente pasma...
Passei a mão pelos cabelos tentando assimilar a
situação. – Cara! É a melhor notícia que você me deu na
vida! – Quase não acreditei no que estava ouvindo.
- Ali, a esta altura o engomadinho deve estar
desesperado! Foi muito azar do coitado – puxou minhas
mãos para que eu voltasse a sentar na cama com ele. –
O Alan não sabia que eu era seu amigo. Quando nós
ficamos ontem à noite, eu apenas disse que trabalhava
na redação. Agora ele acorda aqui em casa e dá de cara
contigo e com a poderosa! O homem deve estar
apavorado, temendo que eu conte pra você e que você
conte pra ela – soltou uma gargalhada ao final da frase.
- É, mas... Como a Pam vai explicar pra ele que dormiu
aqui comigo?
- Ali, você é a presidente da revista. Qual o problema
da poderosa ter dormido aqui depois de um porre
daqueles? Sem contar que ele, o namorado dela,
desapareceu pelos banheiros daquele sítio comigo.
Nossa! Foi tudo estar com aquele homem! Que fogo ele
tem, viu?
- Nossa, Léo! – Toquei no ombro dele – Nunca fiquei tão
feliz por saber de uma transa sua.
- Vai usar a informação?
- No momento certo!
- Toca aqui amiga! – Disse ele encostando a mão direita
na minha. – Hei! Não vai trabalhar hoje?
- Irei mais tarde, depois de umas horinhas de sono. Por
favor, peça a Leandra para aparecer na revista só
amanhã, ta legal?
- Pode deixar – olhou para o relógio. – Tenho que
correr senão descontam do meu salário – sorriu.
- Corre mesmo, se chegar atrasado vou mandar
descontar do seu salário, viu?
- Você ficou tão má depois que assumiu o poder,
Allison! – Brincou me mandando um beijo da porta.
- Você não viu nada! – Disse mais pra mim, do que para
ele.
A segunda passou voando. Dormi a maior parte do dia,
devido à ressaca da noite com Pamela. A mulher me
deixava sempre completamente esgotada fisicamente.
Terça-feira e, como sempre, cheguei cedo a redação.
Atualmente, Pamela considera este horário plena
madrugada. Como tá folgada esta mulher, meu Deus!
Depois que assumiu o cargo de "não faz nada", não quer
outra vida. Cada dia chega mais tarde no trabalho, e fica
o dia inteiro falando com aquele... Contive o riso ao
pensar na forma que passaria a chamar o engomadinho
daqui pra frente: "bambi"! Não agüentei a gargalhada.
Fui interrompida pela porta que se abriu.
- Posso entrar chefinha?
- Claro, Lê! –Caminhei na direção dela.
- Cheguei cedo demais?
- Chegou na hora certa – beijei-lhe o rosto, logo
conduzi-a para mais perto da minha mesa. – Sente-se.
Leandra sentou-se. Colocou umas pastas na minha
mesa.
- Sorridente hoje, hein?
- Tive umas boas notícias... Passei a noite de sábado
com a Pamela...
- Cheia de novidade, né? Também tenho uma... Não
muito agradável... Sabe? – Estava hesitante.
Puxei a minha cadeira e sentei-me de frente para a
menina. Sem a mesa para impedir qualquer tipo de
contato. Leandra adorava falar com as pessoas tocando,
era cheia de trejeitos e eu adorava essa animação toda.
- Vem cá – disse segurando nas mãos dela. – O que
aconteceu? Por que está com essa carinha esquisita? Não
quer mais o estágio, é isso?
- Não, Ali! Preciso do estágio! Caiu do céu esse trabalho
– aproximou-se ainda mais de mim. Me deu um abraço
apertado. – Não resisti e dormi com a amiga da Pamela
– disse de imediato, sem rodeios.
- Com a Penélope? – Constatei assustada.
- Foi mais forte que eu Ali! – Disse arrependida.
Soltei uma gargalhada no minuto seguinte às palavras
dela. Na verdade tudo parecia ser surreal demais. A
história se repetindo. Vocês lembram que eu e Pamela
nos conhecemos depois de pegarmos em flagrante a
Jéssica e o Fábio? Pois, é! Que ironia, hein? A Leandra,
minha suposta namorada, me traiu no mesmo dia em
que o Bambi da Pam. Isso é no mínimo.... Hilário, não
é?
- Não ta chateada?
- Claro que não! – Deitei minha cabeça no ombro dela. –
Estou triste porque a idiota da Pamela não admite logo
que nos amamos, sabe? O engomadinho dela também
deu um perdido na noite do churrasco. E ficou com o seu
irmão!
- Sério? – Fitou-me assustada.
- Também fiz essa cara quando soube.
Íamos começar a rir quando a porta se abriu. Eu não
estava fazendo nada de errado, mas assim que vi Pamela
entrando aquela hora da manhã na sala, dei um salto da
cadeira e me pus de pé. A poderosa olhou na nossa
direção. Ergueu uma das sobrancelhas, como ela fazia
para intimidar as pessoas.
- O que essa garota ta fazendo aqui? – perguntou
séria.
- Pamela, a Leandra é nossa nova estagiária –
apresentei-a formalmente.
- Isso é alguma piada? – Aproximou-se de nós. Pensei
que ela iria nos devorar. A mulher olhou bem na cara de
Leandra. – Sai dessa sala imediatamente.
- Hei! Péra aê! Você não pode falar assim com ela.
- Posso e vou falar, Allison! – Alterou o tom de voz –
Precisamos ter uma conversinha... Em particular – disse
olhando novamente na direção de Leandra que
rapidamente se preparou para deixar o recinto.
- Tudo bem, Ali... Espero lá fora – disse antes de sair.
- Quem você pensa que é para tratar os meus
funcionários assim?
- Seus funcionários? – Ironizou. Apoiou as mãos
espalmadas na mesa. – Contratando a namoradinha para
estagiar, não acha isso demais?
- Ela será uma boa funcionária, não vejo problemas –
sustentei o olhar.
- Além de aproveitadora, agora vai querer colocar
dentro da revista toda a sua gang?
- Chega! – Levantei-me da cadeira, na qual eu havia
voltado a sentar. – Quer saber? Estou cansada das suas
ofensas... Do seu... – dei a volta na mesa. Parei de
frente pra Pam. Aqueles olhos azuis faiscantes e me
incitavam a todo o momento. Ela me desafiava, queria
incontestavelmente me tirar do sério. – Não me importo
mais com o que você acha, nem com o que você quer!
Quem manda aqui agora sou eu, Pamela... Entenda isso
de uma vez por todas! Contrato quem eu quiser!
- Tem coragem de contratar uma mulherzinha que te
traiu com a Penélope? – perguntou enfurecida. – Ela é
uma vagabundinha igual a você! Quer se dar bem com a
patroa!
Aproximei-me um pouco mais dela. Estávamos a
centímetros de distância. Dava para sentirmos as nossas
respirações tocando o nossos rostos. Aprofundei meu
olhar. Mergulhei fundo nos olhos dela, antes de dizer:
- Seu namoradinho Bambi dormiu com o Léo! – Sorri
pelo cantinho da boca, depois sussurrei no ouvido de
Pámela. – Te trocou por um homem, viu?
Pamela ficou enfurecida. Ergueu a mão para me dar um
tapa na cara, contive a mão dela. Puxei-a para mais
perto de mim e a agarrei pela cintura. Nossos corpos
pegavam fogo com aquela proximidade. Resisti aquele
toque carregado de desejo.
- Fomos traídas, e daí? Essa não foi a primeira vez, nos
conhecemos em uma situação semelhante, lembra?
Pamela continuou muda, olhando-me como se quisesse
me esganar, me beijar, me espancar, me jogar na mesa
e se entregar... Ela me odiava, dava pra ver nos seus
olhos, mas eu via também o amor que estava escondido
por trás daquela pose aristocrática. Ela quer guerra? Pois
terá guerra, viu?
Não sei como consegui, mas nos segundos que passei
olhando para ela, consegui reviver momentos da minha
vida que há muito eu não resgatava. Tudo pra mim, até
hoje, havia sido difícil. Desde os primeiros anos de vida
onde minha mãe teve que me criar sozinha, até os dias
de hoje quando me apaixonei por mulher mais... Mais
complicada da face da terra! Na época de escola era
assim também, sempre fui bolsista no colégio de
filhinhos de papai. Na faculdade não foi diferente. Fazia
trabalhos para alguns deles, sempre de boa vontade.
Depois dos trabalhos concluídos eu voltava a ser a filha
da empregada. Até o dia... Sim! Até o dia que eu resolvi
parar com tudo. Quem queria tirar boas notas, que se
virasse, porque a otária aqui já não fazia mais nada pra
ninguém. Parei de pensar nos outros. A nota do pessoal
foi caindo... caindo... Eu comecei a ficar em evidência e
finalmente deixei de ser a filha da empregada do colégio
e passei a ser, simplesmente, a melhor aluna da turma,
independente da minha classe social. Choque de
realidade. Naquela época parei de sentir pena de mim
mesma, jurei que nunca mais sentiria, mas agora, nesta
altura do campeonato esbarro com mais uma daquelas
"filhinhas de papai" mimada e... começa tudo de novo!
Ah, não! A Pamela precisava parar de agir dessa maneira
comigo. Tô cansada de ser chamada de suburbana
aproveitadora. Nunca precisei disso, sou boa no que
faço, e vou provar pra ela e pra todos que o buraco é
mais embaixo. Eu usurpei o cargo dela, não é? Pois a
revista vai dar um salto de contratos que nunca viu na
história.
- Me solta, Allison!
- Claro que solto! – Sussurrei bem próximo aos lábios
dela. – Não se meta nas minhas contratações.
- Não se meta no meu namoro! – Encarou-me.
- Continue negando a si mesma – soltei o seu braço... -
Esse seu orgulho vai te matar sabia?
- O que vai me matar de... enjôo, é olhar para a sua
cara cínica por mais tempo.
Ao final das palavras dela... Dei a volta na mesa e
sentei-me.
– Tenho muito trabalho, você ainda quer alguma coisa? –
disse seca.
- Não! Você vai amargar a derrota nessa cadeira,
Allison!
- É o que veremos, Pamela! – Disse segura.

Capítulo 46:

***Pamela***
- Alan, eu não acredito que você fez isso!
Explodi assim que entramos no carro e Alan me contou a
verdade. Saber que ele tinha dormido com o melhor
amigo de Allison – e que obviamente, ela ia ficar
sabendo e pensar que mais uma vez um namorado meu
tinha me traído, me deixou irada.
- Pam, querida, eu juro que não sabia.
Ele me lançou um olhar arrependido, depois me abraçou
e beijou, repetindo:
- Desculpa, meu amor... Eu não consegui resistir...
Suspirei profundamente. Mais ainda quando ele
completou:
- Sei que você me entende. Afinal de contas, também se
rendeu a "joie de vivre", n'est pas? Pelos sons – que
aliás, não foram poucos - que eu ouvi durante a noite,
você aproveitou bastan...
Não o deixei continuar a falar:
- Vamos mudar de assunto. Na verdade quero esquecer
essa minha momentânea ausência de sanidade. Estou
quase morrendo de ressaca, com essa roupinha
lamentável... Me leva para casa, Alan.
Ele me olhou de cima a baixo. Com um sorriso divertido
nos lábios. Antes de dizer:
- Bom, ma chérie... O seu lamentável é muito melhor do
que o melhor da maioria das pessoas. Na verdade, acho
que você deveria usar jeans e camiseta mais vezes.
Apostar nesse visual mais despojado, que tal?
Tive que elevar um pouco a voz para que ele me
escutasse no meio das gargalhadas que dava:
- Cala a boca e dirige, Alan!
A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi
tomar um café bem forte e me deitar. Com uma máscara
nos olhos para evitar a claridade. Dormi a 2ª feira
inteira. Já era 3ª feira de manhã quando retornei do
estado lamentável em que me encontrava com meu
celular tocando sem parar. Martelando dentro da minha
cabeça. Xinguei mentalmente – em francês, claro - por
ter esquecido de desligar aquela maldição.
Não querendo me mover, tentei esperar que a tortura
parasse, mas a pessoa insistiu. Várias vezes. Até eu tirar
a máscara – merde! – e olhar o visor para descobrir
quem era "o" ou "a" inconveniente: Penélope.
Pelo tom de voz dela, parecia ser urgente:
- Pamela, tá sentada?
Com um riso irônico, respondi:
- Na verdade estou deitada, tentando dormir.
Mas ela ignorou a minha frase:
- Adivinha!
Aquilo foi demais. Minha paciência já estava esgotada
antes mesmo que eu atendesse:
- Penélope, mon dieu! Diz logo o que você tem para me
falar!
Ela riu do outro lado:
- Pelo seu tom de voz tão bem humorado, meu bem, já
vi que você continua de ressaca. – ela soltou uma risada
antes de continuar: - Pode ir se animando, pois tenho
ótimas novidades! Em primeiro lugar: pode ficar
tranqüila porque estou com o seu carro.
Ao menos Penélope tinha servido para algo. Não ia
suportar ter que voltar no maldito sítio naquele fim de
mundo.
- Essa é a ótima novidade?
Ela nem me deu tempo de continuar a reclamar.
Disparou:
- Não, tem mais! Sabe porque eu desapareci no
churrasco? Estava simplesmente pegando a namoradinha
da golpista safada!
Sentei na cama num salto:
- O quê?
Ela riu do meu espanto, antes de falar:
- Isso mesmo que você escutou. No banheiro do sítio, e
depois na minha casa. Digamos que... não acho que ela
seja muito fiel, muito menos apaixonada pela namorada.
– soltou outra risada, aparentemente satisfeita consigo
mesma - Vai me agradecer agora ou só quando nos
encontrarmos?
Alan e o amigo de Allison... Penélope e a namorada de
Allison... Minha cabeça rodava ainda sem entender o
carrossel de novidades. Sem acreditar no quanto minha
vida e a de Ali pareciam estar inevitavelmente
interligadas.
Imediatamente fui levada de volta aquele dia fatídico na
boate em que tínhamos nos visto pela primeira vez.
Quando a outra namoradinha dela tinha ficado com o
Fábio...
E uma frase se repetiu como um veredicto, uma profecia
quase: Coincidências. Coincidências não existem. Na
verdade tudo tem um motivo bem palpável. Apenas não
percebemos logo de cara.
Me despedi rapidamente de Penélope. Desliguei o
telefone e fiquei deitada, sem conseguir evitar que todos
os meus pensamentos se voltassem para Allison...

Minha mente trabalhava febrilmente. Apesar da ressaca.


Ou por causa da ressaca, eu não sabia ao certo. Talvez
ainda não estivesse completamente sóbria, porque...
pensamentos muito estranhos me passavam pela
cabeça.
Talvez... Quem sabe... Poderia ser possível que Allison...
se preocupasse comigo?
Ao invés de aproveitar o churrasco e a namoradinha,
tinha ficado tomando conta de mim.
Fato.
Tinha: tentado me impedir de beber, e sem pensar duas
vezes, pulado na piscina atrás de mim. Para me salvar,
ou algo parecido. Um gesto incrível. Cuja simples
lembrança me arrancou um sorriso.
E por fim, me levado para a casa dela. Impossível
esquecer dos shampoos e cremes importados, secador
de cabelo, coisas que aparentemente ela não fazia
questão de usar. Na verdade ela quase tinha deixado
claro que tinha comprado para mim.
Verdade.
Depois o café, e a forma como tínhamos feito amor...
Tinha sido uma noite perfeita, magnífica, fantástica...
Inquestionável?
Queria pensar que sim. Mas não era tão fácil. Durante
minha vida inteira nunca alguém tinha cuidado de mim.
E aquilo mudava completamente o que eu pensava e
acreditava com relação às relações humanas: Trocas.
Escambos. Obrigações. Comércio de interesses.
Imitações de emoções negociadas.
Allison já tinha a presidência da revista, e sabia que se
investisse sexualmente eu jamais resistiria, então o
que... porque... seria possível que... ela pudesse
realmente sentir algo por mim?
Insegurança? Baixa auto-estima?
Deixei escapar uma gargalhada sarcástica.
"Francamente, Pamela... Que grande fracassada você
está me saindo!"
Se por um lado as dúvidas eram muitas, as esperanças
também. E eu não era mulher de deixar para depois o
que eu poderia resolver naquele instante.
Me arrumei inteira. Caprichando. Querendo e
conseguindo ficar incrível.
Meu carro ainda estava com Penélope – por isso mandei
o porteiro parar um táxi.
Entrei na revista sem dar a mínima para o que as
amebas pensavam ou falavam a meu respeito -
escândalos faziam parte, sem eles não se é realmente
vip.
Tinha um objetivo claro: descobrir de uma vez por todas
o que Allison queria e sentia. Precisava saber a verdade,
mesmo que não fosse o que eu desejava ouvir.
Arlete arregalou os olhos, quase engasgou ao me ver.
Estranhei a reação dela e o fato da porta da sala estar
fechada, mas... entendi tudo quando a abri.
Allison estava com a namoradinha, as duas abraçadas de
um jeito que me fez ferver por dentro.
Ao me verem, imediatamente se separaram. Pela
primeira vez na vida, fiquei absolutamente sem palavras.
Balbuciei, parecendo uma retardada:
- Eu... eu...
Allison se levantou, me olhando como se tentasse
escanear o efeito da frase em mim:
- Pamela, essa é a Leandra. Nossa nova estagiária.

Aquilo me deixou cega. De ciúmes, despeito, raiva... E


medo, por achar que Allison não queria nada comigo na
verdade...
- Isso é alguma piada? Sai dessa sala imediatamente! –
quase gritei para a menina que me olhava de olhos
muito arregalados.
- Hei! Péra aê! Você não pode falar assim com ela.
Allison a defendeu. Aumentando minha raiva a um ponto
que tornou impossível eu me controlar:
- Posso e vou falar, Allison! – sim, eu gritei. Lamentável,
mas... naquele momento inevitável – Precisamos ter
uma conversinha... Em particular.
A menina saiu quase correndo, dizendo:
- Tudo bem, Ali... Espero lá fora.
Allison parecia irada. Se aproximou quase berrando na
minha cara:
- Quem você pensa que é para tratar os meus
funcionários assim?
Não mais do que eu estava:
- Seus funcionários? Contratando a namoradinha para
estagiar, não acha isso demais?
Era uma guerra. De olhares. Nenhuma de nós desviaria,
nem deixaria barato. As frases foram metralhadas:
- Ela será uma boa funcionária, não vejo problemas.
- Além de aproveitadora, agora vai querer colocar dentro
da revista toda a sua gang?
- Chega! Quer saber? Estou cansada das suas ofensas...
Do seu disse e me disse. Não me importo mais com o
que você acha, nem com o que você quer! Quem manda
aqui agora sou eu, Pamela... Entenda isso de uma vez
por todas! Contrato quem eu quiser!
- Tem coragem de contratar uma mulherzinha que te
traiu com a Penélope? Ela é uma vagabundinha igual a
você! Quer se dar bem com a patroa!
Estávamos a centímetros de distância. Sentindo a
respiração uma da outra. Ofegantes depois do violento
tiroteio de palavras.
Allison me olhou bem nos olhos ao dizer, com um sorriso
cínico:
- Seu namoradinho Bambi dormiu com o Léo! Te trocou
por um homem, viu?
A partir dali eu não vi mais nada. Como se uma lente
vermelha cobrisse meus olhos. Ira, ódio, raiva. Eram
eles que me guiavam quando tentei agredi-la.
O resultado? As mãos de Allison ao redor da minha
cintura, meu corpo respondendo na hora, ardendo,
enquanto ela falava, aparentemente sem ser afetada:
- Fomos traídas, e daí? Essa não será a primeira vez, nos
conhecemos em uma situação semelhante, lembra?
Não consegui dizer nada. A proximidade me fazendo
perder todo e qualquer tipo de racionalidade...
Aquela mulher mexia comigo de um jeito insuportável.
Que me apavorava. Eu a queria, a detestava, a
admirava, a desprezava, eu... a amava. Mas não podia
nem queria me deixar dominar pelos sentimentos
insanos, doentios, que me arrebatavam:
- Me solta, Allison!
- Claro que solto! Não se meta nas minhas contratações.
Voltei a me lembrar o motivo pelo qual toda aquela
discussão havia começado: Allison tinha contratado a
namorada... Minha resposta foi fraca. Uma forma pouco
convincente de me rebelar:
- Não se meta no meu namoro!
Então ela me soltou. Me olhando de um jeito... Não
consegui decifrar o que ela pensava ao falar:
- Continue negando a si mesma. Esse seu orgulho vai te
matar, sabia?
Meu orgulho? Eu já não sabia dizer se ele ainda existia...
Se sim, onde estava? No chão, como um pano sujo,
pisoteado e usado. Precisando de uma boa restauração:
- O que vai me matar de... enjôo, é olhar para a sua cara
cínica por mais tempo.
Ela deu a volta na mesa. Sentou. E disse absolutamente
seca:
- Tenho muito trabalho, você ainda quer alguma coisa?
O tom de voz dela foi tão igual ao meu... Pelo visto eu
tinha conseguido, afinal... Treinar e moldar Allison nos
padrões que antes eu achava tão corretos e perfeitos.
Então por que o simples pensamento de ter feito com
que ela mudasse deixava em minha boca um gosto
horrivelmente ácido?
O que eu disse foi o oposto do que eu queria e sentia de
verdade:
- Não! Você vai amargar a derrota nessa cadeira,
Allison!
Como sempre, ela não se intimidou. Me encarou, só que
não mais de igual para igual. Pela primeira vez com total
superioridade:
- É o que veremos Pamela!
Nós duas sabíamos perfeitamente que ela estava certa e
eu errada. Inconfessável, mas... a pura verdade.
Sem ter como fazer nem dizer mais nada, apenas dei
meia volta e saí da sala.

No dia seguinte, inexplicavelmente, resolvi chegar na


revista cedo. Qual não foi minha surpresa ao entrar na
sala e me deparar com Allison dormindo, com o rosto
encostado na mesa.
Tudo bem, eu já tinha percebido – impossível não ver –
as enormes olheiras. Provavelmente fazia semanas que
ela não dormia direito. E na véspera eu a tinha deixado
trabalhando quando saí. Mas aquilo era...
Allison estava exagerando. Se matando quase – poderia
se dizer. E boa parte da culpa era minha. Deixando que
ela fizesse tudo sozinha e fazendo o possível e o
impossível para atrapalhar.
Fiquei olhando para o rosto de Ali. Dormindo ela parecia
de novo a Allison que tantas vezes tinha adormecido em
meus braços, me fazendo suspirar pelo simples prazer
que era tê-la a noite inteira comigo...
Deliciosa e... linda... Eu a amava... Eu a queria...
Precisava dela, quase como uma dependência química...
Não. Tinha que parar, interromper aquilo. A humilhante
sensação que me mantinha parada boquiaberta,
admirando Allison enquanto um verdadeiro tsunami me
devastava por dentro...
Impossível. Ainda não tinha conseguido cortar os fios
invisíveis. Talvez nunca conseguisse. Essa percepção fez
com que eu me rendesse ao inevitável. Me aproximei,
passei a mão nos cabelos dela... Allison suspirou e
sorriu. Ainda dormindo. E uma ternura inédita tomou
conta de mim.
Peguei a pilha de papéis que estava na frente dela. Levei
todos para a minha mesa. Aquilo para mim era simples,
facílimo. Afinal de contas, não era à toa que eu tinha
graduação e MBA na Harvard Business School.
Na verdade, se não tivesse me recusado a cooperar com
Allison na parte administrativa já teria feito há muito
tempo o que apenas naquele momento - conduzida por
uma doçura incrível - fiz: li e resolvi tudo
cuidadosamente. Como se fosse para mim.

Os dias que se seguiram foram inacreditavelmente


calmos. Depois que eu passei a colaborar, fazendo a
minha parte do trabalho, uma trégua tácita se instaurou
entre nós.
Quase não nos falávamos. Quando o fazíamos, nos
limitávamos a assuntos estritamente profissionais.
A presença da tal estagiariazinha me perturbava, mas
não tanto quanto seria se Allison não fizesse questão de
a tratar de uma forma totalmente formal. Pelo menos
quando eu estava presente.
Eu evitava pensar no que elas faziam quando eu não
estava. E isso me mantinha quase calma...
Se meus dias eram recheados de trabalho, de noite as
palavras chave eram: desejo, vontade, necessidade...
Saudade da satisfação plena que era estar com Allison.
As vendas da revista aumentaram vertiginosamente. Os
funcionários também voltaram à assiduidade normal.
Allison e eu juntas éramos uma dupla imbatível de fato.
Ela com as idéias ousadas, inovadoras, brilhantes. Eu
com minha administração impecável. Infelizmente, o
sucesso financeiro e profissional era diretamente
proporcional ao quanto minha vida pessoal despencava.
Penélope e Alan estavam sumidos, tinham me
abandonado. Totalmente consumidos por suas "relações
ilícitas" com Leandra e Leonardo. A duplinha caipira que
evidentemente, era tão atraente aos olhos deles quanto
para mim era Allison.

Estava terminando de analisar um dos relatórios na


minha mesa - num dia em que me sentia
particularmente ainda mais sozinha do que o que tinha
se tornado o normal - quando Allison me surpreendeu,
dizendo:
- Vamos almoçar?
Abriu um sorriso lindo, que fez meu coração palpitar.
Pegou a bolsa e se dirigiu à porta... Respondi
tristemente:
- Vou assim que terminar.
Allison parou, me olhou fixamente, e disse:
- Acho que você não entendeu, Pam. Estou te
convidando para almoçar.
Nós sempre tínhamos almoçado separadas.
Provavelmente Allison almoçava todos os dias com a
namoradinha estagiária...
Minha surpresa foi tão grande que não consegui evitar:
- Com você?
Ela riu ao responder:
- Claro.
Fiquei alguns segundos parada, olhando para ela.
Completamente desconcertada. Allison voltou a sorrir, e
na mesma hora, um sorriso surgiu em meus lábios em
resposta, involuntário.
Tinha certeza de que não estava conseguindo disfarçar o
delicioso roçar de felicidade em minha voz. Mas
incrivelmente, naquele momento não importava:
- Por que não?
Levantei, peguei minha bolsa, me aproximei de Allison.
Ela me olhava fixamente, de um jeito que parecia me
desnudar a alma. Passou a língua nos lábios, me
percorrendo com os olhos, exatamente como qualquer
predador faz... Depois abriu a porta para que eu
passasse. Atravessamos a redação lado a lado. Sob os
olhares gerais de espanto e curiosidade.
Entramos no elevador, ela apertou o botão do térreo, o
braço roçando no meu e me deixando toda arrepiada.
Perguntei:
- Para onde vamos?
E Allison respondeu, mergulhando os olhos nos meus:
- Sei que você adora lugares sofisticados, mas... Queria
te mostrar como é bom comer comida caseira, sabe?
Ela riu do meu olhar. Absolutamente apavorado. Era só o
que faltava, ela querer me levar em algum tipo de
lanchonete ou restaurante... arg... popular?
Como se lesse meus pensamentos, Allison deu uma
risada. E completou, daquele jeito absolutamente
imprevisível e surpreendente de sempre, que eu
adorava:
- Não é o que você está pensando. Calma. Vou te levar
na casa dos meus pais.

Capítulo 47:

***Allison***

Havia acabado. Sim! A minha paciência se esvaiu


completamente depois dos últimos acontecimentos. Eu
precisava traçar um perfil mais firme diante de
Pamela. Não dá pra ser capacho a vida inteira. Amar
alguém não significa anular-se inteiramente em benefício
daquela pessoa. Se eu precisasse me matar de trabalhar,
eu o faria. Era questão de honra dar uma guinada na
minha história. Um giro de trezentos e sessenta graus se
fazia necessário naquele momento, sabe?
Pamela saiu da sala bufando, parecia um dragão
cuspindo fogo. Eu? Estava arrasada por dentro, mas
exibindo uma casca digna de aplausos pela pessoa fria,
calculista e desumana que era aquela mulher. Eu estava
só, essa foi a constatação depois que Pamela bateu a
porta atrás de si. Debrucei na mesa e deixei que as
lágrimas escorressem dos meus olhos. Arlete bateu na
porta e entrou na sala com sua agenda nas mãos.
- Senhora Allison – disse, ao perceber o meu estado de
tristeza, com o tom de voz calma, quase doce – Tem um
instante pra mim?
Levantei a cabeça imediatamente. Enxuguei as lágrimas
e pedi que ela se sentasse na cadeira à minha frente.
- Bom... Desculpe estar incomodando, sei que a sua
manhã, depois desse encontro com a dona Pamela não
deve estar das melhores, mas eu gostaria muito de lhe
agradecer.
- Que isso, Arlete! - segurei nas mãos dela que
estavam sobre a mesa – Fico feliz por ter podido ajudar
a sua filha.
- Eu já não sabia mais como fazer para custear o
tratamento dela. – estava emocionada – Foi Deus quem
colocou a senhora na presidência da revista. Há alguns
meses, eu havia comentado com a dona Pamela que
precisava de um adiantamento para o tratamento da
minha filha e ela não ouviu uma palavra sequer. Me
ignorou completamente.
- Ao menos isso me faz acreditar que não foi uma
péssima idéia assumir a presidência da Gente Chique.
- Se me permite...
- Hei! Sem formalidade, viu?
- Desculpe, é que ultimamente a senhora está tão
mais... Madura aqui dentro... Pensei que...
- Continuo sendo a mesma Allison – sorri pra ela – Só
adotei uma postura mais séria diante de vocês porque
percebi que as pessoas estavam confundindo amizade
com liberdade. A Pamela pode ser tudo, mas ela sabe
exatamente que dentro de uma empresa como essa, não
podemos dar tanta liberdade aos funcionários. Esse não
é o seu caso, Arlete. Você sempre foi um exemplo de
profissional. – ela baixou a cabeça, provavelmente
encabulada com o elogio – A dona Pamela sabe o que
diz. Custei a admitir.
- Bom... Eu já vou indo... Só vim mesmo agradecê-la –
levantou-se – Não se esqueça que sua aula extra está
marcada para hoje a noite.
- É mesmo! Que cabeça a minha, já havia esquecido,
sabia? – fiz um gesto de cabeça e ela saiu da sala.

****

Apaguei... Não sei como, mas quando me dei conta eu


estava debruçada na minha mesa e babando. Arg! Que
nojo! Meu corpo estava completamente dolorido, nem
me lembro qual foi a última vez que dormi mais de
quatro horas por noite. O trabalho só crescia e a minha
única solução era ficar até mais tarde na revista, e ainda
levar trabalho pra casa, conclusão: passava as
madrugadas mergulhada nos contratos, gráficos,
atualizações... da revista. Burocracias que exigiam a
minha maior atenção, e eu era a única que podia naquele
momento despachar toda a burocracia da Gente Chique,
já que Pamela acumulava na sua mesa trabalhos
incompletos propositalmente para puxar o meu tapete.
Acordei tensa... Procurei as pilhas de papéis que
estavam na minha mesa e não encontrei. Olhei para a
mesa de Pam... Vazia. Claro! A poderosa precisava
dormir até o meio dia para não estragar a sua beleza.
Interfonei para Arlete.
- Pois não senhora Allison.
- Arlete, onde estão os papéis que estavam há alguns
minutos na minha mesa e que eu tinha que despachar
ainda hoje?
- A dona Pamela me entregou todos há algumas horas.
– uma breve pausa – Já foram devidamente
encaminhados às áreas destinadas.
- A Pa...mela? – perguntei quase anestesiada pela
notícia. Aqueles papéis eram todo o trabalho que ela não
havia feito desde que eu assumi a presidência. Estavam
acumulados porque eu não compreendia a maioria das
pautas em questão. Precisava fazer uma pesquisa
detalhada para depois despachar. Coisa que Pamela
sabia fazer de olhos fechados.
- Desculpe dona Allison, pensei que você tivesse
conferido.
- Você conferiu, Arlete? – perguntei com um leve tom de
desconfiança, afinal de contas, por que Pamela faria
isso?
- Estava tudo correto, dona Allison. – disse firme,
suspirei aliviada com a informação.
- Então... Está bem. Quando o Senhor Álvaro chegar,
peça para que me encontre na sala de reuniões.
- Farei isso... E, senhora... – disse insegura antes de
desligar.
- Sim.
- Precisava falar sobre um assunto muito importante.
- Aconteceu alguma coisa com a pequenininha?
- Não! Ela está ótima, graças a Deus... – a voz ficou
mais pausada – Questões do trabalho.
- Pode ser depois da reunião, Arlete?
- Sim... Claro!
- Então, depois nos falamos.
Desliguei o telefone completamente absorvida nas
palavras de Arlete. Por que Pamela fez o meu trabalho?
Todo esse tempo ela havia deixado bem claro que faria
qualquer coisa para me prejudicar. Estranho... Sorri pelo
cantinho da boca. Será que a poderosa estava ficando
mais maleável? Não! Depois da briga que tivemos devido
à contratação de Leandra, isso estava me cheirando a
golpe!

*****

Encontrei com o Sr. Álvaro na sala de reuniões. Ele


estava orgulhoso lendo uma nota que havia saído no
jornal falando a respeito da nova estrutura da Gente
Chique. Dizia a crítica: " Novo conceito de moda:
preocupar-se com situações nada fúteis também é
chique. Na edição dessa semana da revista Gente
Chique, estava em destaque um alerta sobre o Brasil que
o próprio Brasil desconhece. Em meio as preocupações
com os penteados da moda e as tendências do verão,
encontramos um depoimento numa página solta
destinada ao público chique-intelectual que decidirá se
perde tempo com o cabelo, ou se depois de ler a
reportagem irá desmarcar ao menos um dia o horário no
cabeleireiro para discutir, no mínimo, a respeito do
seguinte:

PRÓXIMA GUERRA
Segue abaixo o relato de uma pessoa conhecida e séria,
que passou recentemente em um concurso público
federal e foi trabalhar em Roraima. Trata- se de um
Brasil que a gente não conhece.
As duas semanas em Manaus foram interessantes para
conhecer um Brasil um pouco diferente, mas chegando a
Boa Vista (RR) não pude resistir a fazer um relato das
coisas que tenho visto e escutado por aqui.
Conversei com algumas pessoas nesses três dias, desde
engenheiros até pessoas com um mínimo de instrução.
Para começar o mais difícil de encontrar por aqui é
roraimense, pra falar a verdade, acho que a proporção é
de um roraimense para cada dez pessoas é bem
razoável, tem gaúcho, carioca, cearense, amazonense,
piauiense, maranhense e por aí vai. Portanto, falta uma
identidade com a terra. Aqui não existe muitos meios de
sobrevivência, ou a pessoa é funcionária pública, e aqui
quase todo mundo é, pois em Boa Vista se concentram
todos os órgãos federais e estaduais de Roraima, além
da prefeitura é claro. Se não for funcionário público, a
pessoa trabalha no comércio local ou recebe ajuda de
programas do Governo.
Não existe indústria de qualquer tipo. Pouco mais de
70% do Território roraimense é demarcado como reserva
indígena, portanto restam apenas 30%, descontando- se
os rios e as terras improdutivas que são muitas, para se
cultivar a terra ou para a localização das próprias
cidades.
Na única rodovia que existe em direção ao Brasil (liga
Boa Vista a Manaus, cerca de 800 km ) existe um trecho
de aproximadamente 200 km reserva indígena Waimiri
Atroari) por onde você só passa entre 6:00 da manhã e
6:00 da tarde, nas outras 12 horas a rodovia é fechada
pelos índios (com autorização da FUNAI e dos
americanos) para que os mesmos não sejam
incomodados.
Detalhe: Você não passa se for brasileiro, o acesso é
livre aos americanos, europeus e japoneses. Desses 70%
de território indígena, diria que em 90% dele ninguém
entra sem uma grande burocracia e autorização da
FUNAI.
Detalhe: Americanos entram na hora que quiserem, se
você não tem uma autorização da FUNAI mas tem dos
americanos então você pode entrar. A maioria dos índios
fala a língua nativa além do inglês ou francês, mas a
maioria não sabe falar português. Dizem que é comum
na entrada de algumas reservas encontrarem- se
hasteadas bandeiras americanas ou inglesas. É comum
se encontrar por aqui americano tipo nerds com cara de
quem não quer nada, que veio caçar borboleta e
joaninha e catalogá-las, mas no final das contas pasme,
se você quiser montar um empresa para exportar plantas
e frutas típicas como cupuaçu, açaí camu-camu etc.,
medicinais, ou componentes naturais para fabricação de
remédios, pode se preparar para pagar 'royalties' para
empresas japonesas e americanas que já patentearam a
maioria dos produtos típicos da Amazônia...
Por três vezes repeti a seguinte frase após ouvir tais
relatos: E os americanos vão acabar tomando a
Amazônia e em todas elas ouvi a mesma resposta em
palavras diferentes. Vou reproduzir a resposta de uma
senhora simples que vendia suco e água na rodovia
próximo de Mucajaí:
'Irão não minha filha, tu não sabe, mas tudo aqui já é
deles, eles comandam tudo, você não entra em lugar
nenhum porque eles não deixam. Quando acabar essa
guerra aí eles virão pra cá, e vão fazer o que fizeram no
Iraque quando determinaram uma faixa para os curdos
onde iraquiano não entra, aqui vai ser a mesma coisa'.
A dona é bem informada não? O pior é que segundo a
ONU o conceito de nação é um conceito de soberania e
as áreas demarcadas têm o nome de nação indígena. O
que pode levar os americanos a alegarem que estarão
libertando os povos indígenas.
Fiquei sabendo que os americanos já estão construindo
uma grande base militar na Colômbia, bem próximo da
fronteira com o Brasil numa parceria com o governo
colombiano com o pseudo-objetivo de combater o
narcotráfico. Por falar em narcotráfico, aqui é rota de
distribuição, pois essa mãe chamada Brasil mantém suas
fronteiras abertas e aqui tem estrada para as Guianas e
Venezuela. Nenhuma bagagem de estrangeiro é
fiscalizada, principalmente se for americano, europeu ou
japonês, (isso pode causar um incidente diplomático). ..
Dizem que tem muito colombiano traficante virando
venezuelano, pois na Venezuela é muito fácil comprar a
cidadania venezuelana por cerca de 200 dólares.
Pergunto inocentemente às pessoas: por que os
americanos querem tanto proteger os índios? A resposta
é absolutamente a mesma, porque as terras indígenas
além das riquezas animais e vegetais, da abundância de
água, são extremamente ricas em ouro (encontram-se
pepitas que chegam a ser pesadas em quilos), diamante,
outras pedras preciosas, minério e nas reservas norte de
Roraima e Amazonas, ricas em PETRÓLEO.
Parece que as pessoas contam essas coisas como que
num grito de socorro a alguém que é do sul, como se eu
pudesse dizer isso ao presidente ou a alguma autoridade
do sul que vá fazer alguma coisa. É pessoal, saio daqui
com a quase certeza de que em breve o Brasil irá
diminuir de tamanho.
Um grande abraço a todos. Será que podemos fazer
alguma coisa?Acho que sim."
- Ótima essa idéia de colocar um pouco de conteúdo
dentro da revista, Ali!
- Foi um investimento barato, Sr Álvaro. O intuito é
atrair um público novo de leitores. Imagina que as
mulheres compram as revistas de moda para saberem
das tendências mundiais. – sentei-me na cadeira – Nosso
público alvo são as mulheres, e não vai deixar de ser,
mas seguindo o raciocínio de que algumas mulheres não
se preocupam apenas com a beleza estética e tem o
fator "marido" também, com esse novo contexto, iremos
atingir uma nova classe de leitores. Aqueles que buscam
agregar conhecimento com moda. Manteremos os
leitores atuais, e os próprios críticos dos jornais, os
mesmos que nos chamavam de fúteis, irão trazer até nós
um novo leque de leitores. Como esse daí que já sentou
o pau várias vezes na revista.
Nós rimos...
- Genial. – fechou o jornal - As matérias pararam de ser
usurpadas, não é?
- Estranho, Sr. Álvaro. – fitei-o pensativa - Desde que
eu assumi nunca mais tivemos as nossas idéias
roubadas. Não dá pra entender.
- É simples, Ali. Quem quer que fosse... Estava
sabotando a Pamela, não você!
Fiquei pensativa... Ele tinha razão. O usurpador, ou
usurpadora queria puxar o tapete da poderosa, não o
meu. Agora seria ainda mais difícil descobrir quem era o
traidor.
- Ela está melhor.
- O quê? – disse saindo do meu torpor.
- Minha filha tem exibido no olhar algo que ainda não sei
o que é. – disse otimista.
- Ela trabalhou hoje, sabia?
- Estamos evoluindo, Ali.
- Acho que sim... – pensei por uns instantes, depois
balancei a cabeça negativamente - Só não quero que ela
perca aquela pose aristocrática. É a graça dessa mulher!
Voltamos a sorrir juntos... Altas gargalhadas na sala de
reuniões.
- Não se preocupe com isso Allison. Ela é como a mãe.
Terá sempre a pose de uma rainha da Inglaterra!

****

Os dias foram passando.... Pamela e eu nos falávamos


pouco. Na verdade, apenas o necessário. Ela não
passava tantas horas ao telefone, pra ser sincera, acho
que a poderosa e o Bambi haviam rompido de vez. A
mulher só pensava em trabalhar. Ficava verificando os
relatórios comigo até tarde. O telefone não mais tocava e
nem o baitolinha vinha buscá-la depois do expediente ou
para o almoço. Pelo que soube, Léo o via com mais
freqüência do que ela. Eles estavam mesmo tendo um
caso, meu amigo confirmou esses dias. Leandra também
andava se encontrando às escondidas com Penélope. Nós
fazíamos vista grossa para isso. Não sei se Pamela ainda
achava que nós duas éramos namoradas, mas também,
como nossos diálogos eram restritos às coisas da revista,
ficava difícil desfazer aquele mal entendido. Não é?
A revista estava no topo máximo. O dinheiro não parava
de entrar, engordando as contas da Gente Chique.
Nossas edições estavam mais extensas, a moda dividia
espaço com os acontecimentos que envolviam o país e o
mundo. Eu havia conseguido de alguma forma ganhar a
confiança de Pamela. Ela me pedia opiniões sobre tudo,
na verdade, era uma troca. Eu não assinava nada sem a
presença e a aprovação dela, e ela sempre me
consultava antes de pôr em pauta qualquer divulgação.
Descartávamos juntas tudo o que, na nossa concepção,
não ajudaria no progresso do novo produto que tínhamos
nas mãos.
O trabalho e o estudo constante estavam ocupando boa
parte do meu tempo, pra ser sincera, se eu pudesse
passaria 24h dentro da revista, porque o melhor e mais
prazeroso do meu dia era estar perto de Pamela.
Sentindo o cheiro dela, ouvindo-a falar sobre os projetos.
Olhá-la descaradamente enquanto a mulher estava
concentrava na mesa ao lado, pondo em dia e com
tremenda eficiência tudo o que lhe era solicitado. À
noite, quando eu chegava em casa, tudo era sinônimo de
tristeza, eu dormia rápido para acordar logo, sabe?
Assim eu chegaria à empresa e daria de cara com a
poderosa com as mãos na massa. Ah! Pamela voltou a
cumprir também o seu horário.
Arlete interrompeu os meus pensamentos...
- Desculpe entrar sem bater dona Allison.
- Imagina, Arlete! – tentei sorrir, mas eu estava
impregnada de saudades de Pamela, que havia saído
para resolver questões burocráticas e ainda não havia
voltado – Foi bom ter me desligado dos pensamentos.
Tenho muitos papéis para assinar, e quando penso em
Pam... – calei-me.
- Entendo... – estava constrangida – Dona Allison...
Lembra daquela conversa que há semanas atrás eu disse
que queria ter contigo?
- Sim... Os dias ficaram corridos e nós nem entramos
em detalhes a respeito, não é?
- Bom... Podemos tê-la agora? Não agüento mais
guardar isso comigo.
Olhei o relógio...
- Claro que podemos – fixei o olhar preocupada –
Aconteceu alguma coisa?
- Sim... – disse já com lágrimas nos olhos – Eu fiz uma
coisa horrível!
- Como assim... O quê... o quê você fez?
- Não agüento mais conviver com essa culpa... – chorou
mais... Sai da minha cadeira e amparei-a nos meus
braços.
- O que está acontecendo, Arlete?
- Fui eu... Eu quem vendi as capas para a concorrência!
– disse sem rodeios.
- Hum? – fitei-a como se eu não tivesse ouvido direito.
A ficha foi caindo aos poucos, sabe? Soltei-a. Dei a volta
na mesa indo de volta a minha cadeira... Como assim,
ela vendeu? Arlete era uma funcionária acima de
qualquer suspeita. Nós confiávamos nela... Como foi
decepcionante ouvir dos lábios daquela mulher que eu
tanto estimava a confissão da traição. Lembrei-me
imediatamente de Pamela. Do momento que ela foi
comunicada sobre a troca de cargos. Deixei meu corpo
cair lentamente sobre a minha cadeira... Coloquei a mão
na face como se não acreditasse no que tinha ouvido...
Balancei a cabeça numa negação dolorida tentando olhar
para frente e encarar alguém que nos apunhalou pelas
costas.
- Por quê? – fixei o olhar. Arlete sentou-se na cadeira
de frente pra minha. Apesar da dificuldade que era
compreender uma atitude como aquela, a todo o
momento meu lado racional me dizia que eu precisava
ouvir as razões daquela mulher. Pamela não deu ouvido
às minhas razões e a nossa guerra fria se estendeu por
todos esses meses fazendo o nosso coração sangrar pela
angústia de um amor que não podíamos viver.
- Quando eu entrei nessa sala e ... E falei para dona
Pamela sobre o problema da minha filha... – uma breve
pausa para enxugar as lágrimas – Ela sequer desligou o
telefone Allison! Sequer olhou para a minha cara... Eu
estava desesperada... Minha filha estava morrendo...
Eu... Eu... Não tive saída... Juntou o desespero e a raiva
que eu sentia daquela mulher cruel e fria que jamais se
importou com qualquer um de nós... – entreguei a ela
um lenço de papel – Obrigada. Bom... – Arlete tomou
fôlego – Movida pela raiva eu procurei a diretora de
redação da revista concorrente. A mulher era
inescrupulosa e aceitou a proposta na hora. Pagou uma
bela quantia pelas cópias das capas... Eu consegui pagar
parte do tratamento com o que recebi, e fiquei de levar
outras capas, mas...
- Mas... – ao percebê-la hesitante, fiz um gesto para
que ela continuasse o relato.
- Você assumiu a presidência Allison... E... Eu não
consegui mais ser desonesta com a revista. Estou muito
arrependida, acredita em mim... Você foi um anjo me
dando o restante que faltava para o pagamento do
tratamento da minha filha.
- Olha, Arlete... O que você fez... É crime! – passei a
mão na face... Esfreguei os olhos... - Tenho que falar
sobre isso com a Pamela.
- Não, Allison! – disse quase num grito. Sua face
aterrorizada me dava pena – Ela vai me despedir!
Preciso do emprego... Tenho uma criança para criar!
- Não... Não... Sei o que dizer... Acredito no seu
arrependimento, mas... Arrependimento não basta,
entende? Você nos apunhalou pelas costas, Arlete! Como
poderemos confiar em você novamente, me diz? – parei
de falar por uns segundos... Ela baixou os olhos. Eu
estava sentindo exatamente o mesmo que Pamela
quando roubei o seu cargo. É um misto de desconfiança,
frustração e mágoa. Toda a admiração que eu nutria por
Arlete fora comprometida naquele instante. – Preciso
ficar sozinha.
- Não conte para a dona Pamela, por favor... –
levantou-se ainda chorosa – Preciso do emprego,
Allison... Estou arrependida, e é um arrependimento
sincero... Se eu pudesse voltar atrás... Jamais faria o
que fiz novamente. Consegue me entender? – disse
quase desesperada.
- Eu sei como se sente. – disse também com lágrimas
nos olhos.

Tava difícil de digerir aquela confissão, viu? Saí da sala


por alguns minutos... Quando retornei, Pamela estava
sentada na cadeira dela, ao lado da minha mesa. Linda!
Ela usava óculos de grau para ajudar na leitura das
letras miúdas dos documentos. Pamela ficava um charme
com aqueles óculos. Deixava-a com um ar de intelectual
que despertava comichões pelo meu corpo. Estranho
isso, não é? Mas imaginem aquela mulher linda com
aquele ar de superioridade, te olhando por baixo dos
óculos como se você não fosse nada mais, nada menos
do que um reles mortal! Hum... Isso me enlouquece! Ela
estava completamente absorvida no seu trabalho. Meu
coração dava pulos ao vê-la. Olhando-a naquele
momento, eu sentia florescer dentro de mim as mais
belas recordações de saudade que um ser humano pode
verter por outro. Chegava a doer na minha alma.
- Vamos almoçar? – disse num impulso, encorajada pela
certeza de que eu precisava daquela mulher assim como
preciso do ar para respirar.
- Vou assim que terminar. – disse sem desviar os olhos
dos papéis que estava lendo. Quanta competência,
ninguém chega aonde Pamela chegou sem ela, só porque
é filhinha do dono da revista. Pamela fazia por merecer
cada destaque atribuído ao nome dela dentro da
empresa.
- Acho que você não entendeu, Pam. Estou te
convidando para almoçar.- sorri ao final da frase. Ela
desviou a atenção do que estava fazendo... Me olhou por
baixo dos óculos como se eu não fosse nada mais, nada
menos do que um reles mortal! Hum... Isso me
enlouquece! Acho que já disse isso. Desconsiderem por
favor.
- Com você? – disse surpresa. Quase beijei os lábios dela
naquele momento. Esse pensamento malicioso me fez
sorrir.
- Claro – disse encarando-a, praticamente suplicando
para que ela dissesse sim.
- Por que não? – disse sensual, levantando-se e
apanhando a bolsa que estava pendurada no encosto da
sua cadeira. Retirou os óculos da face e deixou-os sobre
a mesa, então, aproximou-se de mim, e eu quase perdi o
controle de vez da situação. Pamela não hesitou ao
aceitar o meu convite. Se vocês pudessem me ver
naquele instante, com certeza leriam na minha testa:
sou a bobinha da corte dela. - Para onde vamos? –
perguntou com aquele tom de voz sedutor que só ela,
exclusivamente Pamela possuía. Encarei-a
profundamente, quase suplicando por apenas um roçar
de lábios. Já me daria por satisfeita se ela ao menos
encostasse aqueles lindos lábios rosadinhos e apetitosos
nos meus.
- Sei que você adora lugares sofisticados, mas... Queria
te mostrar como é bom comer comida caseira, sabe? –
sorri da cara de surpresa que ela fez e completei: - Não
é o que você está pensando. Calma. Vou te levar na casa
dos meus pais. – já conheço a pecinha! – Aceita?
Pamela topou enfrentar a aventura de cortar a cidade,
encarando uma hora e dez dentro do carro para almoçar
na casa dos meus pais. Foi divertido ouvi-la dizer
enquanto olhava a paisagem:
- Esse lugar não chega nunca?
- Calma, apressadinha! – sorri enquanto dobrava a
esquina – Acho que você nunca colocou os pés em
Campo Grande, não é?
- Tem no mapa?
- Tá brincando? É um dos maiores bairros da zona
oeste!
- Zona oeste, Allison? – disse com descaso.
- Sim, senhora frescura absoluta! – soltei uma
gargalhada – Você topou almoçar comigo, e eu disse que
era na casa dos meus pais. São pessoas simples, tá
legal? Vê se não dá mancada!
- Como assim dar mancada? – inclinou o corpo para
fitar-me de frente.
Desviei o olhar da estrada por alguns instantes....
- Você é linda, sabia? – não resisti... Percebi que ao final
da minha frase Pamela emudeceu. Fomos o resto do
trajeto em silêncio. Fiquei me perguntando se ela havia
ficado aborrecida com o meu elogio. De hora em hora
olhei de rabo de olho pra Pamela, mas ela olhava através
da janela sem expressar nenhuma reação. Não dava pra
saber se a poderosa estava descontente ou não com a
minha companhia. Isso me deixou insegura. Será que ela
já havia se arrependido por ter aceitado o convite? Antes
que eu pudesse questioná-la... Paramos de frente para
uma casa simples de dois andares. Um grande portão de
madeira na frente. Muros altos. Num bairro com
aparência de cidadezinha de interior que tinha uma praça
bem arborizada, com brinquedos de madeira onde as
crianças ficavam à vontade.
- Se não quiser entrar eu entenderei – disse notando
que ela reparava em cada detalhe do local.
- Não... Está tudo bem. – tirou os óculos escuros da
face. Abriu a porta do carro e desceu. Fiz o mesmo.
Toquei a campainha de casa ao mesmo tempo em que
uma bola fugitiva do campinho de futebol bateu no
portão. Sorri para o garotinho que veio correndo buscá-
la. Chutei para ele.
- Valeu, tia! – disse o moleque.
Pamela olhou pra minha cara...
- Crianças... – dei de ombros no mesmo instante em
que o portão se abriu e a minha mãezinha arregalou os
olhos e exibiu aquele sorriso cheio de alegria que era sua
marca registrada. As mães não têm jeito. Sempre nos
fazendo passar vergonha.
- Alizinha, minha filha! – abraçou-me demoradamente –
Que saudade querida!
- Vim almoçar! – apertei-a um pouco mais – Não me
chame de Alizinha – sussurrei no ouvido dela.
- Que felicidade te ver minha menininha! – apertou
minhas bochechas para me matar de vergonha. Pior do
que ser chamada por aqueles apelidinhos de criança é
ser apertada nas bochechas. Concordam? Quem nunca
passou por isso, não é mesmo?
- Trouxe uma amiga, mãe! Pamela, essa é a dona
Regina, minha mãe... – disse tímida. Mamãe caminhou
em direção a Pamela e a abraçou demoradamente.
Distribuiu beijos e apertões que me fizeram rir, devido
ao constrangimento notório da poderosa. Acho que a
poderosa não está acostumada com calor humano.
- É um prazer conhecê-la minha querida! Vamos!
Entrem... Acabei de fazer o almoço, vocês chegaram na
hora certa! Seu pai está na sala vendo tevê, Alizinha.
Hoje mesmo ele falou em você, no quanto só pensa em
trabalhar e esqueceu os nossos almoços de domingo. –
dona Regina foi falando... Falando... Enquanto puxava-
nos pelas mãos para dentro de casa.
Logo que entramos na sala. Assim que meu pai me viu,
ele deu um salto do sofá e veio correndo abraçar-me.
- Filha, quanto tempo! – apertei o Sr. José até quase
ficarmos sem ar.
- Que saudade pai!
- Quem é essa loira exuberante, hein? – disse notando
rapidamente a presença de Pamela atrás de mim. Papai
sempre me matando de vergonha...
- Pamela, esse é o meu pai... Pai, essa é minha...
- Colega de trabalho – disse ela e estendeu a mão. Ele
segurou a mão que Pam havia estendido, mas logo a
puxou para um abraço desconcertante. Mais uma vez
tive que controlar a minha vontade de rir.
- Mas que moça bonita e cheirosa, filha! – deu beijos no
rosto de Pamela. – Essa moça parece que saiu de uma
capa de revista!
- Menos pai! – cutuquei-o.
- Vieram almoçar, não é? – abriu uma portinha de vidro
na estante – Tenho um vinho delicioso aqui. Guardado a
sete chaves para uma ocasião especial. Acho que hoje é
uma ocasião especial. Minha filhotinha de volta a sua
casa, e em tão bela companhia – disse animado.
Olhei o vinho referido. Deus do céu! Pamela vai comer o
meu fígado. Era simplesmente uma daquelas garrafas
promocionais que a gente compra no supermercado.
Aposto que não custou mais do que cinco reais.
- Ela prefere refrigerante. – disse evitando o
constrangimento de Pamela.
- Mas que pena! O vinho é tão bom! – concluiu
decepcionado. - Vou inspecionar o almoço meninas.
Fiquem a vontade – disse e foi de encontro a minha mãe
que já havia se bandeado para a cozinha.
- Seu pai... Seu pai...
- É negro! – completei a frase dela. – Sim!
- Mas... Você é... Branca... – fitou-me assustada.
- Esse homem é mais que um pai pra mim, Pam. –
disse séria, e decepcionada com a surpresa dela - O meu
"pai"... Branco – desdenhei ao falar da cor do homem
que me pôs no mundo – Me abandonou quando eu ainda
era um bebê... Minha mãe me criou sozinha por longos
anos, sabia? Mas o meu pai "negro" felizmente apareceu
na vida dela, e além de fazer a minha mãe muito feliz,
foi ele quem acordou de madrugada para me levar ao
médico... Que segurava a minha mão até que eu
dormisse porque sabia o quanto eu temia o escuro... Era
pra ele que eu fazia os trabalhinhos na escola pra
entregar no dia dos pais. Esse homem "negro", esteve
presente em todas as minhas reuniões escolares... Me
deu o anel de formatura. Chorou quando eu me formei...
Me abençoou quando eu decidi sair de casa e morar
sozinha... – ela ficou quieta me ouvindo – Ele é muito
mais meu pai do que qualquer outro. Eu teria orgulho de
ter a cor e o sangue dele correndo pelas minhas veias,
mas infelizmente não podemos escolher os nossos pais
biológicos. Ainda bem que o amor não está ligado a
padrões de estética, classe social... – fitei-a ao falar a
última frase – Pra amar, basta querer ser feliz.
- Meninas! O almoço está na mesa! – gritou meu pai da
porta da cozinha. Movimentei a cabeça informamos que
estávamos indo.
- Ainda tá em tempo de desistir, Pam – fitei-a nos olhos
– Se não quiser se sentar a mesa com um negro...
Entenderei – firmei o olhar.
- O cheiro da comida está muito bom. – disse
encarando-me com aqueles olhos azuis que me faziam
perder a alma pra ela. Fiz um gesto pedindo que ela
passasse na frente. Pamela passou. Sorri pelas costas
dela. Quando que essa mulher me acompanharia até a
casa dos meus pais, se sentaria à mesa com eles, e
ainda elogiaria o cheiro da comida da minha mãe?
Sorri assim que nos sentamos à mesa. Minha mãe havia
tentado, coitada, colocar os talheres nas posições
corretas, mas infelizmente, lá em casa não seguíamos
etiqueta alguma, e mais uma vez, eu fiquei tentando
adivinhar qual seria a reação de Pamela. Foi engraçado
vê-la tentando se adequar a simplicidade dos talheres,
da comida... Eu fiquei perdida quando ela me levou
naqueles restaurantes chiques, não é? Acho que ela
também se sentiu daquela forma assim que sentou
conosco, mas diferente de mim, Pamela tirou de letra a
árdua tarefa de destrinchar um pedaço de frango frito
com os talheres. Meu pai disse três vezes:
- Pode usar as mãos, filha. Assim você não consegue
comer.
- Ah... – sorriu completamente sem graça.

Desta vez eu ri, e ela viu, tanto que ergueu uma das
sobrancelhas e me fitou furiosa. Em todo esse tempo de
convivência, percebi que Pamela detesta que riam dela.
Mas isso não quer dizer que eu deixaria de rir, não é?
- Não quer refrigerante, querida? – perguntou minha
mãe a ela.
- Não, obrigada – respondeu – Dá celulite.
- Mas você está em forma, menina! – sorriu meu pai –
Há muito tempo que eu não via umas pernas tão
bonitas!
- Menos pai!

O almoço transcorreu animado. Meu pai não se cansava


em elogiar a beleza e o cheirinho de perfume francês de
Pamela. Ela até sorriu em determinados momentos. Já
estava ficando tarde...
- Por que vocês não dormem aqui? – disparou minha
mãe – O seu quartinho continua no mesmo lugar,
Alizinha! – não adiantava mesmo pedir para minha mãe
não me chamar daquele jeito. Parecia criança teimosa
que a gente fala, entra num ouvido e sai pelo outro.
Olhei pra Pamela... Depois fitei a janela. A noite já havia
caído. Olhei o relógio.
- As horas voaram... – disse ansiando para que ela
quisesse ficar, embora soubesse que essa possibilidade
seria totalmente infundada – Tá a fim de encarar a
estrada? – perguntei insegura. Se voltássemos para
casa, certamente não dormiríamos juntas. E eu queria
tanto provar os beijos dela essa noite.
- Estou morrendo de sono – disse encarando-me com
aqueles olhos azuis que me tiravam o chão.
- Você... Você... Quer...
- Claro que ela quer, filha! – se antecipou meu pai – Vou
lavar a louça para sua mãe e ela vai apanhar toalhas
limpas pra vocês e acomodá-las direitinho no seu
quarto.
Não dissemos mais nenhuma palavra. Aqueles dois
pareciam que tinham lido na minha testa que tudo o que
eu queria era passar a noite com Pamela.
Na casa só havia um banheiro... Esperei Pamela tomar o
banho dela. No meu armário antigo havia algumas
roupas que eu deixava ali, caso fosse visitá-los.
Emprestei um shortinho e uma blusinha de malha para
Pamela vestir. Ficou curtíssimo nela. Não sei como
consegui me controlar diante daquela visão dos deuses.
Caminhei de costas para a porta, sem desgrudar os
meus olhos de onde ela estava. Seus cabelos
molhados... Sua pele fresca com cheiro de sabonete.
Suas pernas lisinhas e bem torneadas à mostra. O bico
dos seus seios fazendo volume na blusa fina de malha.
Bati às costas na porta. Ela riu maliciosamente, depois
sentou-se na pequena cama de solteiro que havia no
quarto. Minha mãe havia forrado um colchonete ao lado
da cama para que eu me deitasse. Que ingenuidade da
minha mãe, não é?
Deixei a água do chuveiro cair pela minha pele enquanto
minha cabeça mergulhava nos meus pensamentos que
se misturavam entre o desejo e a vontade de que não
fosse apenas mais uma transa. Eu sabia que seria
impossível dormir ao lado de Pamela e não acontecer
nada entre nós. Ela gostava de sexo tanto quanto eu, e
mesmo que Pamela ainda nutrisse sentimentos de
mágoa por mim, era inegável o desejo que transbordava
da nossa pele.
Entrei no quarto silenciosamente. Estava calor. As
janelas estavam abertas, o ventilador ligado girando
para os dois lados e Pamela deitada de bruços na cama
me fez tremer da cabeça aos pés. Ela era sedutoramente
linda. Parei ao lado da cama. Pisoteei o colchão que
estava no caminho. Ela havia dispensado o lençol e seu
corpo estava completamente despido. Meus olhos
deslizaram pela sua pele enquanto minhas mãos
ameaçavam tocar naquele corpo que se oferecia para
mim. Ela estava nitidamente me provocando... Seus
olhos fechados, sua perna direita levemente erguida
deixando as suas nádegas semi-abertas. Não resisti...
Toquei o seu ombro com a ponta dos dedos... Pamela
abriu os olhos e me sorriu com o olhar... Engoli em
seco... A mulher inclinou o corpo de lado... Seus cabelos
dourados caíram pelos seus ombros... Seus seios à
mostra... Rijos... Salientes me chamavam para degustá-
los.
- Faz calor aqui – sussurrou antes de sentar-se na
cama com as coxas afastadas deixando visível o seu
sexo. Enlouqueci ao vê-la naquela posição. Não disse
nada... As palavras eram tão desnecessárias diante da
nítida certeza de queríamos uma a outra. Inclinei meu
corpo em busca dos lábios dela. Pamela ergueu a cabeça
e segurou meu pescoço com as mãos... Arranhou a
minha pele... Passou os dedos na minha nuca... O seu
carinho me acendeu. Acariciei seus lábios com os meus,
depois sorvi a sua boca como quem volta do deserto e
sente sede... Muita sede... Pamela levantou-se
escorregando o seu corpo no meu... Nossas peles
queimavam uma na outra. Senti suas mãos deslizando
por baixo da minha blusa... Ela tocou os meus seios...
Apertou os bicos... Gemi involuntariamente com aquele
contato.
- Tira – sussurrou com os seus lábios presos nos meus.
Logo que ergui os braços ela suspendeu minha camiseta
deixando os meus seios também à mostra em um atrito
suave, sensual e delicioso com os dela. Gememos uma
pra outra... Meu short foi arrancado em seguida e ela
deitou-se na cama... Deitei-me sobre ela. Meu corpo
pesando sobre o seu numa entrega sempre perfeita e
única, pois nenhuma outra mulher me teve como Pamela
me tem. Ela abriu as pernas acomodando-me no meio
delas. Nossos sexos úmidos de excitação se
encontraram... Senti suas mãos apertarem as minhas
nádegas, implorando por um contato maior enquanto a
mulher movimentava-se deliciosamente embaixo de
mim. O quarto dos meus pais ficava ao lado, foi ela
quem me pediu silêncio quando eu gemi mais alto ao
sentir o seu sexo roçar no meu daquele jeito único que
ela fazia. O calor aumentou... Nossa pele molhada de
suor denunciava o esforço em busca do prazer.
Interrompíamos os beijos para que nossos olhos se
encontrassem, nos encarávamos... Medindo as
expressões enlouquecidas do prazer uma da outra. Era
mágico o desejo que se projetava nos nossos olhos
vermelhos de tesão... Desejo... Aumentei o ritmo sobre
ela... Senti através dos seus sussurros emitidos e do seu
olhar frenético que ela estava prestes a derramar o seu
líquido. Fui escorregando para baixo enquanto ela se
debatia reclamando por eu ter parado o contato. Suas
unhas descontroladas arranhavam as minhas costas
enquanto eu descia em direção ao seu sexo. Estávamos
ofegantes... Afastei as pernas trêmulas de Pamela. Senti
a sua excitação com a ponta dos dedos... Gemi ao
deslizá-los por um sexo que pulsava e encharcava-os.
- Me come, Ali – disse ofegante. Engalfinhando os dedos
pelos meus cabelos e tentando impulsionar a minha
cabeça para o meio das suas pernas – Me chupa inteira.
As palavras sussurradas e trêmulas entravam nos meus
ouvidos como um afrodisíaco... Afastei suas coxas e
mergulhei dentro dela com a minha língua faminta pelo
prazer que o gosto dela me proporcionava. Sorvi o seu
líquido enquanto meus dedos a invadiram da forma como
ela pediu... Aumentei o contato conforme Pamela
gemia... Sussurrava e ordenava... Senti o seu corpo
tensionado... Suas mãos desesperadas puxavam os
meus cabelos cada vez mais forte... Ela gozou... Gritou,
um grito abafado pelo receio de sermos ouvidas pelos
meus pais... Continuei sugando-a... Matando a sede que
eu sentia do gosto dela... Pamela me puxou pelos
ombros... Escalei seu corpo de volta... Fixei meus olhos
nos seus... Ela entrelaçou a minha cintura com as duas
pernas e me puxou pelo pescoço, grudando os nossos
lábios... Roçando os nossos seios um no outro. No
minuto seguinte me empurrou para o chão... Cai de
costas no colchão macio que estava ao lado da cama... A
mulher sentou-se na altura do meu sexo e enquanto
mexia nos seus cabelos, jogando-os para trás e me
excitando com a visão dos seus seios que se
movimentavam à medida que ela rebolava em cima de
mim... Gemi... Virei os olhos... Meu sexo pedia cada vez
mais... Ela sorria do meu desespero... Movimentava o
quadril mais rápido...
- Pede, Allison – dizia como se meu nome fosse um
pedaço de chocolate derretendo na sua boca.
- Pára de me torturar Pamela... Me faz gozar pra
você...
- Ainda não ouvi... – sussurrou com um sorriso maroto
nos lábios.
- Me fode logo, porra!
- Assim tá muito melhor.... – disse e desceu lentamente
pelo meu corpo... Tentei fazê-la ir mais rápido de
encontro ao meu sexo, mas a mulher queria me
maltratar... Beijava a minha coxa... Mordia... Passava a
língua depressa pelo meu sexo... Me instigava...
Colocava os dedos rapidamente dentro de mim, depois
tirava e os lambia na minha frente... Degustando sem
pressa o meu líquido...
Fiquei impaciente... Dei um salto sobre ela... Pamela
ficou assustada com a forma rápida e intensa que meu
corpo grudou no dela. Sentei-me... Agarrei-a pela cintura
e a fiz sentar-se no meu colo... Suas pernas laçadas na
minha cintura. Comecei a morder o seu pescoço... Subi a
boca para os seus lábios... Nossas trocas iam além de
carícias, trocávamos também sussurros... Gemidos...
Suor... Nossos líquidos se misturavam na medida em que
intensificávamos o contato dos nossos sexos. Passei a
língua pelos seios dela... Pamela inclinou a cabeça para
trás... Aprovando o percurso dos meus lábios... Chupei
os bicos rosados... Lambi em movimentos circulares...
- Você me enlouquece, Ali... – sussurrou antes de
explodir num gozo profundo, com um desejo tão intenso
que fazia cada pedacinho de nós duas tremer numa
entrega fantástica e deliciosa... Gozamos juntas...
Intensamente... Demoradamente.... A respiração
entrecortada... A pele escorregando uma na outra... Um
minuto de silêncio para nos recompor foi interrompido
quando a mulher ensandecida me empurrou... Bati com
as costas no colchão e senti o meu sexo ser tomado
inteiro pelos lábios, língua e dedos dela...
- Ainda te quero inteira, Allison – sussurrou antes de me
penetrar mais fundo... Senti o mundo girar como se eu
estivesse numa roda gigante... Gozei pra ela...
Intensamente... Nos amamos por mais algumas horas
até a exaustão nos fazer ficarmos abraçadas... Ela
estava sentada no meu colo, de frente pra mim, com as
pernas laçadas na minha cintura... A escuridão da noite
era amenizada pelo feixe de luz que vinha do poste da
rua, dando assim para ver aqueles lindos olhos azuis me
encarando enquanto nossas bocas bailavam uma na
outra. Nossos beijos eram demorados... O cheiro de sexo
que estava impregnado nos nossos corpos... Lençóis e
travesseiros nos incitava ao amor... Assim que o beijo
terminou... Segurei delicadamente a face de Pamela com
as duas mãos... Suspirei, percebi que ela também
suspirou. Minhas palavras foram saindo quase num
sussurro... Administradas pelo carinho que aquele
momento nos arremetia.
- Eu te amo, Pam – disse sem conseguir desviar meus
olhos dos dela. Ela encarava os meus... Não era frieza,
nem amor... Não sei o que os olhos dela me diziam... Só
sei que aquele, era, de fato o meu momento. Eu
precisava dizer a ela tudo o que meu coração me
impulsionava. Não era momentos de mentiras... Nem
omissão... - Sempre te amei... Desde o primeiro dia em
que te vi com as mãos presas nas grades daquela boate,
chorando por um cara que não merecia o seu amor...
Nem o seu respeito.
Pensei que ela negaria que estivesse chorando, mas
não... Pamela não emitiu nenhum som. Continuou
ouvindo as minhas palavras...
- Você nunca saiu da minha cabeça... Sempre te
procurei nos meus sonhos... Morri de prazer nos seus
braços quando você me quis pela primeira vez e morro
até hoje... Porque não existe nenhuma outra mulher que
me dê o prazer que você me proporciona. É por você que
o meu coração bate... E é por te amar demasiadamente
que eu te trouxe aqui, para a simplicidade do meu
mundo... Você tem o melhor de mim, Pam... – fiz uma
pausa para esperar as lágrimas escorrerem dos meus
olhos – Você me conhece como nunca ninguém
conheceu. Jamais duvide disso. Seu coração sabe que é
verdade, embora os meus atos tenham feito você
duvidar disso um dia – ela continuou quieta...
Inexpressiva, e por mais que essa falta de expressão me
deixasse triste, eu não consegui parar de falar – Sei que
você quer apenas sexo comigo, mas eu, pelo menos
queria poder fazer parte da sua vida... Não tenho nada
pra te oferecer, mas consegui vencer os meus medos e
te mostrar quem eu sou... Como eu sou, e por mais que
você me ache uma interesseira... Usurpadora... Como
você mesma diz, eu sei que não sou nada disso, e tudo o
que eu fiz, foi movida pela esperança de te fazer pensar
um pouco mais nas pessoas... Em mim... Porque só
assim, eu conseguiria te trazer para o meu mundo.
Como agora... – olhei ao nosso redor – Senhora Pamela,
em outros tempos você jamais estaria aqui comigo. –
segurei seu rosto novamente com as minhas mãos... –
Eu nunca tive outra mulher depois de você... – ela
entreabriu a boca para pronunciar algo, mas impedi que
ela falasse e completei – A Leandra nunca foi minha
namorada. Eu queria te colocar ciúmes, só isso... – disse
e ela continuou calada. A abracei bem forte... Chorei
sozinha, sufocada pela dor do silêncio dela.
Na manhã seguinte... Acordamos cedo... Recusamos o
café da manhã oferecido pelos meus pais, na verdade,
queríamos ir pra casa o mais rápido possível. Desde o
monólogo na noite anterior, eu sentia Pamela distante,
como se não quisesse dizer nada para não me dar
esperanças falsas. Entendo o lado dela, mas sei que foi
necessário dizer a ela, com verdade, tudo o que eu
sentia.
Estacionei de frente para o prédio de Pamela. Ficamos
alguns minutos nos olhando em silêncio... Até que ela
quebrou o mesmo.
- Tenho que descer, Ali.
- Tudo bem – disse fitando-a como um cão sem dono.
- Tchau – suspirou.
- Hei! – segurei seu braço antes que ela descesse.
Pamela recuou. Fixei meus olhos nos lábios dela, a
mulher entendeu perfeitamente o que eu queria. Fechou
os olhos e depositou um beijo suave e demorado nos
meus... Mas fomos interrompidas bruscamente pelo
barulho de alguém caindo ou se jogando na frente do
carro. Quando olhamos na direção do sujeito, vimos um
cara com uma câmera fotográfica nas mãos tirando
várias fotografias.
- Mas que merde! – disse Pamela furiosa – Esse
desgraçado nos fotografou!
Balancei a cabeça negativamente enquanto o homem
corria em direção à rua da praia de Copacabana.
- Lamento... – sussurrei decepcionada com o pavor que
vi nos olhos dela.

Capítulo 48:

***Pamela***

Tentei digerir as palavras com as quais Allison me


bombardeava:
- Eu te amo, Pam. Sempre te amei... Desde o primeiro
dia em que te vi com as mãos presas nas grades daquela
boate, chorando...
Engraçado como aquilo parecia importante para ela. O
fato de ter me visto chorando. Quase como se fosse por
causa disso que ela tivesse se interessado. Devia ter sido
uma decepção e tanto me encontrar novamente e
perceber que eu era bem diferente da imagem
desprotegida e frágil que ela tinha adorado. Talvez por
isso quisesse tanto me mudar...
Fiquei absolutamente quieta, e ela continuou falando
sem parar:
- Você nunca saiu da minha cabeça... Sempre te
procurei nos meus sonhos.... É por você que o meu
coração bate... Você tem o melhor de mim, Pam... Você
me conhece como nunca ninguém conheceu. Seu
coração sabe que é verdade, embora os meus atos
tenham feito você duvidar disso um dia. Por mais que
você me ache uma interesseira... Usurpadora... Não sou
nada disso...
Mon dieu! A mulher não ia mais se calar?
Confesso que aquilo que para as pessoas normais – que
prefiro pensar como medíocres, afinal de contas, quem
quer ser igual a todo mundo? Pessoas especiais
naturalmente se destacam – parecia uma linda e
emocionante declaração de amor, quase um conto de
fadas, para mim não passava de um meloso e
angustiante blá-blá-blá. Palavras... Para quê? Muito mais
prático e melhor acreditar em atos. E os de Allison,
desde o começo, sempre me deixaram confusa.
De repente, a frase bombástica:
- Eu nunca tive outra mulher depois de você...
Tentei protestar, afinal era ridículo ela me dizer que
nunca tinha transado com a namorada... Mas Ali me
interrompeu – apenas para - merde! - falar ainda mais:
- A Leandra nunca foi minha namorada. Eu queria te
colocar ciúmes, só isso...
Aquilo fez com que eu parasse, perplexa. Novamente, as
coincidências... Que não existem... Ela também estava
fingindo... Também tinha inventado um namoro de
mentira só para me atingir. E como tinha conseguido!
Segurei minha vontade de rir, porque Allison me abraçou
fortemente, parecendo desesperada. Eu não estava
entendendo nada. A não ser que ela não me daria a
oportunidade de também contar a verdade sobre eu e
Alan.

No dia seguinte de manhã, acordei com uma única


certeza: eu estava louca!
Definitivamente louca. Total e completamente louca.
Tinha aceitado passar a noite naquele fim de mundo,
numa casa que sequer era de classe média, vestida - por
pouco tempo, mas tinha usado - com uma... será que eu
poderia chamar aquilo de roupa?... puída e desbotada
de malha.
Além disso, tinha sido obrigada a aturar um discurso
panfletário anti-racista, porque... Ali saiu se defendendo
sem nem me deixar falar. Como se eu fosse
preconceituosa! Absurdo! Gays, negros... Minorias?
Inacreditável! Minoria na verdade somos nós, seres
superiores e privilegiados... O resto, a massa de
manobra, o gado, é tudo igual...
Depois aquele almoço, com uma conversa tão prolixa
que acabou virando jantar... Sim, quando conseguimos
levantar da mesa já era noite! Pelo visto, Allison tinha a
quem puxar. Era de família aquela mania infame de falar
sem parar. Fiquei tão atordoada que até aceitei dormir
lá!
Sem saber o que tinha sido pior: os copos de requeijão,
os pratos de vidro arranhado ou o frango... frito! Fritura
para mim era algo inaceitável! Fiquei empurrando aquilo
no prato de um lado para o outro, tentando disfarçar.
Conseguindo apenas que o pai de Ali tentasse me ajudar,
todo simpático:
- Pode usar as mãos, filha. Assim você não consegue
comer.
Olhei para ele completamente sem graça. Primeiro
porque todo mundo sabe que aves podem ser comidas
com as mãos, não é falta de etiqueta. Segundo porque a
coisa em questão não era não saber como comer um
frango com garfo e faca – quem não sabe? - e sim
ingerir o mínimo possível, torcendo para que o meu
estômago não reclamasse. Mon dieu! Que situação!
Para completar, despertei numa caminha de solteiro
absolutamente dura e desconfortável – chegava a estar
com as costas doendo - agarrada com a minha ex
assistente e agora partner – por quem estava... arg...
apaixonada! - depois de uma noite de sexo sussurrado -
éramos o que? Adolescentes? - em silêncio para que os...
pais!... dela não escutassem – e ainda assim, eu
estava... feliz! Inacreditável!
Um caso perdido de insanidade.
Recusamos o café da manhã, Allison estava estranha,
distante, quase não me olhava. Parecia estar querendo ir
pra casa o mais rápido possível.
Estaria arrependida do monólogo da noite anterior?
O que ela queria? O que esperava? Que eu lesse
pensamentos?
Quando Ali estacionou na frente do meu prédio, eu
estava irritada. Olhei para ela, que não disse nada. Como
se tivesse gasto todas as palavras com o... o desabafo-
desastre da véspera.
Quebrei o silêncio desagradável dizendo:
- Tenho que descer, Ali.
Ela me olhou, como se faltasse algo... Mas só respondeu:
- Tudo bem.
Como se quisesse que eu adivinhasse. Suspirei:
- Tchau.
Ela segurou meu braço, me impedindo de sair do carro.
Fixei os olhos nela, esperando que finalmente ela fosse
me explicar, mas ao invés disso, os olhos castanhos
estavam presos em meus lábios.
Tudo bem, aquilo eu compreendia muito bem. Os sinais
eram óbvios, claros, totalmente inteligíveis e em total
acordo com os meus.
Fechei os olhos, e a beijei. Com toda a minha paixão,
carinho e amor.
Mas um barulho já muito meu conhecido nos
interrompeu.
"Maldito Paparazzi!" pensei.
- Merde! Esse desgraçado nos fotografou! – falei.
Já estava acostumada, mas Ali não. Na verdade, ela
odiava aquele tipo de coisa. Meu estilo de vida fresco –
como ela chamava. Glamouroso – como eu preferia
pensar.
Não dava três dias para aquela foto estar estampada em
algum lugar. Publicada por quem pagasse mais.
- Lamento... – Allison sussurrou, com uma expressão
que não consegui decifrar.
Deixei escapar um suspiro de impaciência:
- Lamentar não resolve nada. Coloque insulfilm nesse
carro, Ali.
Para compensar meu tom de voz quase doce, como
sempre que eu falava com Allison, saí batendo a porta,
numa patética tentativa de demonstrar raiva.

Dois dias depois, quando voltamos do almoço, fui direto


para nossa sala, enquanto Allison passava na sala do
namoradinho do Alan, o tal de Leonardo.
Foi quando meu celular tocou. Era Penélope. Atendi
dizendo:
- Será que você não ligou errado? Não deveria estar
ligando para a estagiariazinha da salinha minúscula aqui
do lado? Ou será que ela não tem celular?
Penélope retrucou sem hesitar:
- Amore, pode ir guardando a sua lingüinha afiada...
Fique sabendo que liguei só para te avisar... – depois de
uma pausa dramática, completou: - que saiu uma foto
sua com a suburbana usurpadora...
Não a deixei completar:
- Penélope, daqui para a frente eu preferia que você a
chamasse de Allison.
Depois de uma gargalhada, vários suspiros e diversos:
"ai, ai"... Penélope propôs:
- Vamos fazer o seguinte: eu passo a chamar sua
namoradinha de Allison, se você passar a chamar a
minha de Leandra. Combinado?
Fui obrigada a concordar. E só então lembrei:
- O que você estava dizendo?
Penélope falou de uma vez só:
- Saiu uma foto sua com a Allison. As duas aos beijos,
um escândalo! – ela parecia estar adorando – Uma
reportagem enorme!
Eu apenas perguntei:
- Onde?
Me despedi rapidamente ao ouvir o nome da revista em
questão. A nossa rival. A mesma que por duas vezes
tinha nos roubado as capas.
Peguei o interfone e pedi que Arlete me trouxesse um
exemplar imediatamente.
Quando Arlete saiu da sala, abri a revista. Não foi difícil
encontrar a matéria, era uma página inteira, com um
texto infame. Ultrajante mesmo. Falando que o
"mistério" sobre a repentina nomeação de Allison à
presidência da "Gente Chique" estava desvendado.
Continuava maldosamente, me comparando a meu pai, e
dizendo que o golpe do baú de Allison tinha sido muito
mais bem dado do que o da minha mãe.
Durante alguns segundos, fiquei parada, deixando fluir
todo o incômodo, mal estar e dor que ler aquilo me
causou. Até eu olhar para a foto. Ironicamente, a
primeira que eu via onde aparecíamos juntas. As bocas
unidas num beijo profundo. A mão dela em meu rosto,
enquanto as minhas se embaralhavam nos cabelos
castanhos. E a partir daquele momento, o que a revista
dizia não importava. Tudo o que eu via era como mesmo
na foto era nítido o carinho, paixão e ternura entre nós
duas. Continuei admirando a imagem com um sorriso
bobo... Quando Allison entrou quase correndo na sala,
com um exemplar igual na mão:
- Você já viu isso?
Ainda sorrindo, respondi:
- Sim.
Ela me olhou surpresa, com uma revolta ainda maior:
- Do que você tá rindo? Escreveram coisas horríveis
sobre nós!
Levantei, dei a volta na mesa, parei na frente dela e a
olhei nos olhos:
- O que escreveram é besteira, Allison. Fofocas
maldosas. O que importa é a foto.
Allison me olhou sem entender. Abriu a revista,
perguntando:
- O que tem a foto?
Sussurrei bem perto do ouvido dela:
- É linda. Não concorda?
Ela olhou para a foto... Toda a preocupação e irritação
desapareceu do rosto dela. Dando lugar aquele sorriso
safado que me fazia derreter:
- Tão linda que quero repetir...
Encostou os lábios nos meus com a voracidade de
sempre. Mas por trás do desejo, naquele beijo havia...
doçura. E uma cumplicidade extrema. Quando nos
separamos, ela perguntou, como se ainda duvidasse:
- Pam, você não se importa mesmo?
Acariciei a nuca dela carinhosamente. Roçando os lábios
nos dela suavemente, murmurei:
- Não. Na verdade, quero ser fotografada muito mais
vezes desse jeito...
O beijo veio ardente, exigente, intenso. Nos entregamos
inteiramente, desfrutando a realização plena de
estarmos finalmente começando a nos entender.

No meio da madrugada, acordei com meu celular, que


não parava de tocar. Allison se espreguiçou ao meu lado,
resmungando por causa do barulho. Olhei o visor: meu
pai. Atendi bastante mal humorada:
- O que foi, pai? Espero que você tenha um motivo muito
importante para me ligar a essa hora!
- Pamela, onde você está?
Ele parecia apavorado. Por isso e só por isso respondi a
pergunta absurda:
- No apartamento da Ali. Por quê?
Depois de um suspiro aliviado, ele exclamou:
- Ótimo! – e explicou: - Sua avó acabou de chegar no
Rio, e está indo para a sua casa. Parece que ficou
sabendo da reportagem sobre você e a Allison, e... bom,
ela veio ao Brasil para resolver essa situação... segundo
ela: "catastrophique".
Sentei na cama num pulo. Apavorada. Preferia que o
diabo estivesse atrás de mim. Com certeza, seria no
mínimo, mais agradável... Quase gritei:
- Haja o que houver, não diga onde eu estou!
Allison já estava ajoelhada ao meu lado, com uma
expressão absolutamente preocupada:
- Pam, o que foi?
Não respondi, concentrada no que o meu pai falava:
- Filha, não tem como fugir. Mais cedo ou mais tarde...
Imediatamente o interrompi:
- Não quero saber! Não tenho nada para conversar com
a minha avó, e principalmente, não quero que ela venha
aqui!
O suspiro que ele deixou escapar deixou bem claro que
era inevitável:
- Pamela... Você sabe que ela não vai desistir. Vai te
caçar até te encontrar.
Em qualquer outra situação, eu teria rido. Parecia coisa
de filme. Caçada pela poderosa chefona! Ou pior ainda:
pela Rainha das Trevas! Qualquer comparação era
pouca, superficial, ineficaz. Nenhuma imagem poderia
retratar o verdadeiro terror que para mim aquilo
significava. Ninguém era capaz de entender. A não ser o
meu pai:
- Eu vou tentar te ajudar.
Depois que desliguei o celular, fiquei alguns segundos
paralisada. Allison segurou minhas mãos, falando com
uma voz muito doce e suave:
- Pam, o que foi? Você tá com as mãos geladas...
E eu não tinha como explicar. Tentei:
- Minha avó ficou sabendo de nós. Está no Rio, me
procurando. Ela... Ai...
Escondi o rosto nas mãos. Uma angústia profunda me
consumindo...
Allison acariciou os meus cabelos, me abraçou, beijou
minha cabeça... E sussurrou:
- Não fica assim, amor... O que ela pode fazer? Te
deserdar? Gritar? Espernear?
A idéia de Grace Beauchamp Stapleton gritando ou
esperneando era ridícula. A velha era um iceberg. Nunca
alterava a voz. A mantinha afiada e fria. Muito acima dos
reles mortais.
Olhei Allison nos olhos, deixando que ela visse o meu
profundo desespero:
- Allison, você não entende. A minha avó é... diferente.
Ela deixou escapar uma risada. E depois disse:
- Não precisa se preocupar. – me apertou nos braços –
Eu te defendo.
Me beijou carinhosamente. Nos deitamos. Me
aconcheguei nos braços dela com um suspiro. Nos
beijamos novamente. Allison ficou acariciando meus
cabelos, e acabou adormecendo. Passei a noite em claro.
Sem conseguir sossego.

No dia seguinte, fomos para a revista. Eu continuava


morrendo de medo, mas Allison me convenceu, dizendo:
- Vamos, Pam. Deixa de bobagem. – me olhou daquele
jeitinho safado, e brincou: - Qualquer coisa eu te
protejo...
Ela continuava sem entender. A única forma disso mudar
seria se Allison conhecesse a minha avó. Mas
sinceramente, eu esperava que isso nunca acontecesse.
Assim que chegamos, avisei:
- Arlete, se a minha avó telefonar, diga que não estou no
Rio de Janeiro.
Entramos na sala, fechamos a porta. Cinco minutos
depois, meu pai entrou, todo esbaforido. Quase não
conseguia respirar:
- Filha, eu vim só para te avisar: sua avó está vindo para
cá! Melhor não estarmos aqui quando ela chegar.
E saiu quase correndo, deixando Allison absolutamente
perplexa e eu... completamente apavorada:
- Vamos, Allison... Também não quero estar aqui quando
a megera chegar...
Allison me olhava como quem não está entendendo
nada:
- Megera? Pam... é a sua avó!
Eu não tinha tempo para explicar:
- Ali, você não entende... A Grace – ela me mataria se
eu a tratasse de outra forma - não tem nada a ver com
qualquer tipo de imagem que você possa ter de uma
avó...
Com uma risada divertida, Ali insistiu:
- Você tá sendo irracional... Como pode ser possível que
uma velhinha te deixe desse jeito?
Tarde demais. A porta se escancarou. Para Grace e sua
entrada triunfal. Com o cabelo pintado de loiro num
penteado impecável, o rosto sem rugas depois de um
incontável número de aplicações de botox e plásticas,
casaco de pele apesar do calor, salto alto, óculos escuros
e o chihuahua de estimação a tiracolo...
A visão surreal - ou do inferno – nos deixou paralisadas.
Grace avançou em minha direção, me fazendo recuar.
Exatamente como quando eu era criança. A mulher
gostava de torturar. Não era uma avó normal. Quando
estava no Brasil, fazia questão de me "educar" com o
seu jeito fascista e sádico, repetindo:
- Você não passa de uma coitada. Tem uma vagabunda
como mãe, e um idiota como pai.
Até me levar às lágrimas. Então ela sorria, e me batia
com força na cara – como os franceses fazem – dizendo:
- Isso é para você aprender a não ser fraca! Chorar é
para perdedores, Pamela! E eu não admito que você seja
um fracasso como o seu pai!
Aos oito anos, eu já tinha aprendido. Não deixava nada
nem ninguém me desarmar. Até conhecer Allison...
Grace me olhou de cima a baixo. Ignorando Allison
completamente. Como se ela fosse nada. Com um
risinho sarcástico, exclamou:
- Quer dizer que você acabou virando uma pateta
apaixonada exatamente como o seu pai... Será que eu
não consegui te ensinar nada?
Imediatamente, Allison tentou falar:
- A senhora não tem o direito de...
Grace soltou uma gargalhada. Sem perder a pose de
rainha. Não olhou para Ali, sequer lhe dirigiu a palavra.
Continuou olhando fixamente para mim:
- Pamela, você enlouqueceu? Resolveu compactuar com
os absurdos do seu pai?
Foi quando aconteceu a coisa mais improvável: o sr.
Álvaro, meu pai, entrou como um furacão dentro da sala:
- Agora chega, Grace! – ela também não permitia que
ele a chamasse de mãe – Deixe a Pamela em paz!
Se colocou entre nós. Me defendendo. Me protegendo.
Fiquei boquiaberta, sem acreditar. Ele nunca a tinha
confrontado. Muito menos por minha causa. Mas naquele
momento, vinha movido por algo que pela primeira vez
me fez entender e compreender o real significado da
palavra "pai".
A reação de Grace foi idêntica à minha. Por alguns
instantes, ela simplesmente o olhou, sem acreditar.
Depois ordenou:
- Não se meta, Álvaro! Você é e sempre foi uma
decepção total. Mas a minha neta não!
Com uma firmeza que eu nunca tinha visto, meu pai não
se intimidou:
- Ao contrário de mim, a minha filha vai ser feliz, mãe.
Não vou deixar que você atrapalhe.
Grace o olhou como se ele tivesse perdido a razão:
- Mon dieu, Álvaro! Ser feliz? Isso aqui é um conto de
fadas, por acaso? Você quer mesmo ver a sua filha com
uma sapatão e ainda por cima proletária?
Segurei a mão de Allison. A olhei nos olhos, implorando:
"calma..." . Foi a única forma de a manter do meu lado,
sem retrucar.
Apesar de termos perdido um pedaço, a discussão entre
os dois continuava:
- Não tem como você comparar a Ingrid e a Allison. A
Pamela teve muito mais sorte - ou bom gosto, quem
sabe - do que eu. Escolheu uma mulher de caráter. E
que a ama de verdade.
Pela primeira vez na vida, senti insegurança em minha
avó. Ela chegou a gaguejar:
- C'est... c'est un... non-sens! Un… disparate! Offensif!
Outrageant!
Meu pai a pegou pelo braço, dizendo:
- Pamela, renvoie toi de ta grand-mère.
Eu balbuciei um fraco:
- Au revoir...
Sem acreditar ao vê-la ser conduzida pelo braço para
fora da sala. A porta bateu atrás deles. Olhei para
Allison. Ela me fitava, preocupada. Só então percebi o
quanto eu estava tremendo. Minhas pernas mal me
sustentavam. Teria caído se Ali não me sustentasse, e
me ajudasse a sentar no sofá:
- Calma, Pam... Quer água?
Sacudi a cabeça numa negação, sem conseguir falar. Só
o que pude fazer foi chorar. Copiosamente. Sem parar.
Soluçando sem saber exatamente como nem porque
aquilo tinha começado. Como se um oceano de lágrimas
estivesse represado e de repente se soltasse. Não tinha
a ver com pensamentos, lembranças nem imagens. Eram
mais... sentimentos... sensações de carne rasgada,
feridas abertas não cicatrizadas. Chorava por tudo que
eu nunca tinha chorado: minha mãe, meu pai, solidão,
saudade, medo, raiva... Acima de tudo, chorava por mim
mesma. Pelo sofrimento e angústia gerados pela minha
incapacidade de me permitir amar e ser amada.
A voz de Allison soou bastante desesperada:
- Pam... Amor... O que foi? Me fala...
Ela parecia perdida. Sentada do meu lado sem saber o
que fazer diante do meu comportamento totalmente
inesperado. A puxei para mim. Me pendurei no pescoço
dela, suplicando:
- Me abraça...
Impressionante como todo e qualquer tipo de dor
passava quando eu estava nos braços de Allison. Como
mágica. Colei minha boca na dela com a urgência de um
náufrago. Minhas mãos desabotoando a blusa dela,
tocando os seios, descendo, abrindo e se enfiando dentro
das calças. Expressando o que sentia por ela da única
forma que eu achava razoável.
Para minha surpresa, Allison me conteve. Sussurrou
ainda junto aos meus lábios:
- Pam, para.
A olhei absolutamente sem entender. Ela continuou:
- Preciso que você entenda uma coisa: eu te amo. De
verdade. Quero ser muito mais do que uma amante
casual.
Fiquei sem palavras. Eu entendia o que ela dizia, e
queria... Só não estava preparada. Uma dualidade
insolúvel ainda me fazia evitar... Duvidar que pudesse...
conseguir algo mais.
A expressão dela mudou, como se pudesse ler meus
pensamentos. Tristeza, decepção, mágoa... Passaram
pelos olhos dela, antes de Allison falar:
- Quer saber? Pra mim chega. Tô muito cansada. Eu
desisto. Ao contrário do que você pensa, não quero nem
nunca quis esse cargo. É um suplício passar o dia ao seu
lado, e não ser mais do que uma colega de trabalho ou
uma trepada ocasional. Tô fora. Eu me demito. Ponto
final.
Pegou a bolsa bufando, e caminhou em direção à porta.
Quase corri atrás de Allison. A segurei pelo braço com
força, puxando-a para poder olhar dentro dos olhos dela.
Ali me encarou. Sustentou meu olhar com aquele jeitinho
profundo, de igual para igual como só ela conseguia
fazer.
Naquele momento, já não havia dualidade nenhuma,
apenas certezas: Eu a amava! E não ia perdê-la! A
queria para mim!
Meu corpo, minha voz, meu corpo inteiro tremia ao
dizer:
- Posso citar dez coisas que eu odeio em você...
Ela me olhou surpresa a princípio. Depois, com um
sorriso malicioso provocou:
- Tenta.
Umedeci os lábios sensualmente com a pontinha da
língua, a segurei pela cintura, aproximando lentamente
meu corpo até colar no dela:
- Você é... Abusada... Teimosa... Imprevisível...
Deslizei uma das mãos pelas costas dela - apertando-a
mais contra mim – enquanto com a outra a segurava
pela nuca. Ela suspirou sedutoramente. Continuei:
- Desobediente... Despreza todo e qualquer tipo de regra
ou hierarquia... Questiona o tempo inteiro... Me
desafia...
Aproximei minha boca da dela... Nossos hálitos se
misturaram, absolutamente quentes. Allison fechou os
olhos, como se implorasse por um beijo...
Colei meus lábios na orelha dela, e sussurrei com a voz
rouca de amor e desejo:
- Provoca sensações que nunca pensei que pudessem
existir... Tudo em você me enlouquece: ta douceur, ton
passion, ta intelligence… Que toujour me surprennent,
me fascinent, me enchantent...
Allison me olhou intensamente, e me presenteou com
um sorriso magnífico. Deixando claro que dessa vez
tinha compreendido cada palavra que eu tinha dito.
Graças ao intensivo de francês que estava fazendo à
noite, escondido.
Mordeu de leve meu lábio inferior, na promessa de um
beijo... Antes de dizer com aquele jeitinho safado e
maroto:
- Acho que você já disse bem mais de dez coisas...
A calei com um beijo. Minha língua invadindo faminta a
boca que parecia se derreter de encontro a minha num
beijo intenso, profundo, absolutamente ardente... Fomos
obrigadas a interromper para respirar por um momento.
Que aproveitei para dizer:
- Ainda falta uma...
Sorrimos juntas. Os olhos dela brilhavam, refletindo os
meus. Meu coração pulsava bailando um ritmo pleno...
Quando finalmente completei:
- Odeio como não consigo, não posso, não suporto ficar
longe de você...
Nossas bocas voltaram a se encontrar. Quando o beijo
terminou, sussurrei contra os lábios dela
apaixonadamente:
- Eu te amo, Allison.
Ao que ela respondeu, de um jeito absolutamente
perfeito:
- Também amo você.

Capítulo 49:

**** Allison *****

Aquele momento de entrega parecia um sonho. Pamela


estava olhando-me com aqueles olhos azuis apaixonados
que faziam o meu corpo inteiro se decompor do mais
doce acalanto do amor.
- Odeio como não consigo, não posso, não suporto ficar
longe de você...
Nossas bocas voltaram a se encontrar. Quando o beijo
terminou, ela sussurrou contra os meus lábios:
- Eu te amo, Allison.
Com os olhos e o coração marejados eu respondi:
- Também amo você.
Tomei-a nos meus braços apertando-a como se eu
tivesse medo que ela se arrependesse do que disse, e no
minuto seguinte fosse fugir de mim. Eu não agüentaria
mais a dor da espera. Esperei todo esse tempo para ver
o nosso amor transbordar dos nossos olhos sem receios,
culpas, mágoas ou desconfianças... Pamela fixou seus
olhos nos meus ao mesmo tempo em que me disse:
- Tenho que te contar uma coisa.
Afaguei a sua face....
- O que amor?
- Eu e o Alan...
Desfiz o sorriso ao ouvir o nome daquele Engomadinho-
Bambi.
- Pamela, não acredito que você vai me dizer que ainda
gosta desse cara... – desviei o olhar. – Ele... Ele... Não
te merece – sussurrei triste.
A mulher sorriu, logo ergueu a minha face fazendo os
nossos olhos se encontrarem novamente.
- Queria que você soubesse que eu e o Alan... – uma
breve e torturante pausa - Nós nunca tivemos nada um
com o outro... Ele é gay, e eu te amo!
- Mas... Mas... Mas...
- É isso mesmo que você ouviu, Ali! Da mesma forma
que você e a Leandra eram uma farsa, eu e o Alan
também éramos.
Tentei sorrir com a informação. Era bom demais pra ser
verdade, não é? A minha poderosa não sentiu e não
sentia nada por aquele Bambi!
- Esse tempo... Todo... – as palavras ficaram presas na
minha garganta.
- Fiz isso porque eu estava com raiva de você! –
interrompeu-me e acariciou a minha face – Neguei o
nosso amor... Porque... Depois que você tomou o meu
cargo, eu queria te fazer sofrer... Te humilhar...
- E sofreu tanto quanto eu, não é?
Fiz o contorno dos seus lábios com a ponta dos meus
dedos trêmulos de felicidade... Aproximei-me devagar
dos lábios dela... Fechei os olhos numa entrega perfeita.
Era sempre assim quando nos beijávamos... Uma
entrega perfeita! O beijo foi ficando ardente... Encostei-a
na mesa da diretoria... Nossas pernas roçando uma na
outra... Nossos corpos em um atrito sensual... Foi
terminantemente impossível não gemer com aquele
contado prazeroso que era estar nos braços dela... No
instante em que nosso coração acelerou, as mãos já se
tocavam por baixo do tecido da roupa... Pena que fomos
interrompidas bruscamente pelo barulho da porta
batendo. Olhamos as duas, imediatamente para a
entrada da sala. Soltei Pamela no mesmo instante em
que aquela velha cascavel enrugada apareceu.

Capítulo 50:

***Pamela***

Estar nos braços de Allison naquele momento era o


mesmo que deixar com que todo o peso que carregava
dentro de mim se extinguisse. Num passe de mágica.
Simples assim.
Ela era... absolutamente perfeita... para mim. Queria
passar o resto da vida sentindo aquele desejo intenso,
imenso, nunca satisfeito, de a ter comigo até o fim...
Gemi para ela, me entregando sem reservas às mãos
que já percorriam meu corpo por baixo das roupas...
Foi quando a porta da sala se abriu. Fazendo com que Ali
se afastasse bruscamente.
Olhamos juntas para Grace, que nos fitava com uma
expressão de dar medo. Estremeci. Mas fingi que nada
acontecia. Ajeitei a saia, abotoei a blusa. Mas nós três
sabíamos que eu estava apenas protelando o inevitável.
Teria que encará-la. Respirei fundo e ergui os olhos
encontrando o azul dos dela.
- Pamela, je veux parler avec toi en particulier.
Allison não hesitou em responder:
- Je ne va pas sortir, madame. Je va rester avec ma
femme.
Grace torceu o nariz para o francês de Allison. A
pronúncia dela não era perfeita, eu concordo. Mas tenho
que admitir que naquele momento, aquilo era o que
menos importava. Para mim pelo menos. Me arrepiei
inteira com a forma como Ali desafiou a megera. Com a
coragem de sempre. Não só dizendo que não ia sair,
como também me chamando de "minha mulher"...
- Tire esse sorrisinho imbecil do rosto agora! Nem parece
minha neta.
Minha felicidade a deixou ainda mais furiosa. Allison me
olhou profundamente. O apoio incondicional dos olhos
castanhos me inspirando:
- Eu estou feliz, Grace. Pela primeira vez na minha vida.
Que mal pode haver nisso?
A mulher bufou, como se fosse explodir:
- Mon dieu, Pamela! Feliz? Será possível? Que espírito
medíocre e simplório é esse pelo qual você está
possuída? Essa menina só está te usando para subir na
vida! Não percebe isso?
Balancei a cabeça negativamente. Tinha algo muito
importante, que eu tinha acabado de descobrir:
- Essa menina é a mulher que eu amo. E não está me
usando. Fique sabendo que eu preciso dela tanto quanto
ela de mim.
- Quelle bêtise!
Mais uma vez, Allison interferiu:
- Besteira é ouvir os seus absurdos! Mas o que esperar
de uma mulher tão fria que sequer permite que a
chamem de avó ou de mãe? Tentou fazer sua neta ser
igual a você: uma mulher amarga e sozinha, mas
felizmente, não conseguiu.
Grace ajeitou os cabelos, ignorando. Como se não
tivesse ouvido. Como se Allison simplesmente não
existisse:
- A que ponto chegamos. Uma qualquer ocupando a
presidência da revista, roubando o lugar que é seu por
direito, e você adorando... C'est déplorable!
Um riso irônico subiu por minha garganta. Uma revolta
incontrolável me fazendo defender pensamentos,
sentimentos que eu ia descobrindo a medida em que ia
falando:
- A Allison é um talento inquestionável. Desde que
assumiu a presidência a revista só fez crescer. Nunca
vendeu tanto. Nunca deu tanto lucro ou teve os
funcionários trabalhando com tanta gana. Graças à
excelente gestão dela. Poderia ter se demitido. Qualquer
outra revista a contrataria. Mas apesar de eu fazer a vida
dela um inferno, ficou aqui. Por mim.
Afirmei aquilo olhando fixamente para Ali. E por um
momento, foi como se o tempo parasse. Esquecemos
Grace, onde estávamos e todo o resto. A única coisa que
importava era aquele irresistível sentimento. Que nada
nem ninguém seria mais capaz de destruir.
Nos aproximamos lentamente. Olhos nos olhos, os
hálitos se misturando a medida em que os lábios quase
se encostavam... Quase porque... Grace avançou como
uma fera, evitando que concretizássemos aquele tão
desejado beijo...
Capítulo 51:

***Allison***

- Isso é inadmissível, Pamela! – aproximou-se da neta


como um dragão... Cuspindo fogo, no caso dela,
cuspindo as palavras – Como ousa desmoralizar o nome
da nossa família dessa maneira?
- A minha vida particular não é da sua conta – Pamela
firmou o olhar. Senti que ela estava tentando parecer
uma fortaleza, mas na verdade, estava tremendo por
dentro. Segurei nas mãos dela. Nossos dedos enlaçados
uns nos outros...
- A senhora não tem o direito de dizer como a Pamela
tem ou não que agir – disse firme, eu pelo menos, não
tinha o mínimo medo daquela criatura horrenda que
estava diante de mim. Cruzes! Parecia o demônio.
- Saia da minha frente, sua desclassificada! – empurrou-
me. Soltei a mão de Pamela por alguns segundos,
enquanto ela falava e gesticulava com as mãos,
parecendo um pavão enlouquecido – A Pamela tem
berço, não vou deixá-la jogar na lama o nome tradicional
da nossa família se envolvendo com um serzinho
insignificante e sem glamour como você!
- A senhora nunca mais vai dizer o que eu tenho, ou o
que eu não tenho que fazer... Vovó – disse a última
palavra com ironia.
- Me chame pelo nome sua ingrata! Tenho asco a essa
vida medíocre que você está escolhendo para si.
- E eu... Como meu pai disse, tenho muito bom gosto,
porque ao contrário dele que não soube escolher a minha
mãe, eu soube escolher a minha mulher.
- Não diga uma besteira dessas, menina! – afastou-me
do lado de Pam, logo segurou nos braços dela e sacudiu
– Acorda! Tenha o mínimo de compostura! Não seja
idiota, será que não vê que essazinha quer te dar o golpe
do baú.
- Chega! – gritei enquanto batia na mesa. A megera
louca parou de falar e olhou-me assustada.
- Ainda é uma bárbara! – disse.
- Cala a boca, agora coroa! – aproximei-me dela... Puxei
as suas mãos, tirando-as de cima da neta, que pela
primeira vez na minha vida eu vi desprotegida e acuada.
Coloquei o dedo na cara da mulher... – A senhora nunca
mais vai encostar um dedo na Pamela, ouviu bem? –
fitei-a com o olhar amedrontador - Vai pegar o primeiro
avião com destino à França... AU REVOIR! E nunca mais.
Gravou bem na memória? Nunca mais tratará a sua neta
desta maneira novamente!
- Pamela, essa mulher está me ameaçando!
- A senhora ameaçou primeiro, esqueceu... vovó?
- Outrageant! Inadmissível! – ajeitou a sua bolsa nos
ombros... Fez um gesto que a fez movimentar os cabelos
– Daqui a algum tempo você irá me procurar rastejando,
chorando... Implorando pelo meu perdão por ter me
submetido a essa seção de terror pela qual me
encontro!
- Ela não vai se arrepender... – empurrei a mulher de
encontro à saída – Passar bem senhora! – abri a porta –
Nunca mais apareça, ops! Venha quando quiser – disse a
última frase mostrando a ela os meus dedos cruzados.
- Você é uma bárbara! – disse brava, ou melhor:
furiosa! Isso me divertiu.
- Sou mesmo, e se a senhora me fizer perder mais
tempo contigo, posso me transformar até em um...
Tigre!
Tranquei a porta assim que a expulsei daquele cômodo.
Pamela aliviada pulou nos meus braços e sussurrou
novamente no meu ouvido:
- Eu te amo, Allison.
- Hum! Eu não disse que te protegia? – nós rimos e
trocamos um beijo demorado. Grace? Voltou afrontada
para a França.

****

Ainda faltava algo muito importante a ser feito. Marquei


uma reunião para a tarde. Só nessa semana já havíamos
enfrentado uma maratona de três reuniões. As parcerias
não cessavam, a empresa estava se expandindo como
pólvora em tempos de guerra.
- Reunião de novo, Allison?
- Sim, amor... às duas da tarde, vê se não se atrasa –
disse enquanto dava um beijo nos lábios de Pamela –
Dorme mais um pouquinho, você tem chegado muito
cedo na revista, eu seguro as pontas por lá até você
chegar, tá?
- Vou dormir mesmo amor – espreguiçou-se
sedutoramente, quase tirei a minha roupa e cai de volta
nos braços dela na cama – Tivemos uma noite tão
agitada, preciso mesmo dormir mais um pouco. Me
recuso a apresentar essas olheiras em público.
- Que exagero delícia! – beijei novamente os seus lábios
– Você tá sempre linda!
- Mais meia hora de repouso não fará mal algum a
minha beleza, Ali.
Sorri. Pamela não tinha mesmo jeito.
- Não fará mesmo... – outro beijo – Te espero mais
tarde para a reunião.
- Estarei lá! – disse e virou-se para o lado a fim de
dormir mais um pouco.
Sabe aquela ansiedade do primeiro dia? Pois é! Assim
que eu estava. Quando o relógio marcou dez pras duas,
já estávamos todos sentados na sala de reuniões.
Pamela também estava presente. Linda e majestosa
como sempre. De frente pra ela o seu laptop aberto com
todas as informações necessárias para uma reunião.
Duas horas em ponto! Levantei-me sobre o olhar curioso
de algumas pessoas que estavam dentro da sala. Sorri
levemente para o Sr. Álvaro que balançou a cabeça no
sentido afirmativo. Abri a porta da sala de reuniões.
Nesse momento, como eu havia pedido a Arlete, todos
os funcionários foram ocupando pequenos espaços
dentro da sala. Pamela ergueu a cabeça sem conseguir
compreender o que estava acontecendo, até que eu me
pronunciei:
- Convoquei todos aqui presentes, para dar início a
reintegração de posse do cargo da dona Pamela – a
mulher arregalou aqueles lindos olhos azuis e se
levantou completamente pega de surpresa.
- Allis...
Fiz um gesto para que ela não continuasse.
- Agradeço a oportunidade que eu recebi aqui, nessa
revista. Agradeço todos os cumprimentos pelo trabalho
que realizei... Agradeço por ter tido a chance de provar o
meu valor, mas eu não teria conseguido sem ela – falei
olhando diretamente nos olhos de Pamela, que não
conseguia dizer nada. Estava visivelmente sem
palavras.
- Senhor Álvaro – chamei-o, ele se levantou – Poderia
oficializar com as suas palavras a reintegração da
presidência da Gente Chique para as mãos da senhora
Pamela?
O pai da poderosa sorriu. Um sorriso pleno de
satisfação...
- Bom... A todos aqui presentes, eu gostaria de
agradecer primeiramente a colaboração da Allison na
direção da nossa revista, e dizer que, hoje, com muito
orgulho, eu reintegro a senhora Pamela na presidência. –
apertou as mãos da mulher a sua frente – Você é a vida
dessa revista, minha filha
- Eu... Eu... – dizia com dificuldade – Gostaria de dizer
que... – aumentou a entonação da voz - ... Me sinto
honrada pela reintegração, por ter provado a todos vocês
a minha importância aqui dentro, mas... Gostaria de
manter a divisão do cargo com a senhora Allison, que
desempenhou um trabalho digno e produtivo aqui
dentro. Acho que nenhum outro cargo, senão a vice-
presidência, comportaria o real talento dessa grande
empreendedora. – direcionou as palavras para a mim –
Vamos trabalhar juntas, está bem? – ela não perguntou,
simplesmente decidiu. Bem Pamela, não é?
Fiquei completamente sem palavras... O Sr. Álvaro
também demonstrou surpresa e os acionistas da revista
aprovaram imediatamente a decisão da presidente.
Saímos da sala de reuniões e, na medida que
passávamos pelo corredor, os funcionários começaram a
aplaudir Pamela. Ela parou no meio da central, ergueu
uma sobrancelha e disse absolutamente irônica:
- Vocês não tem mais o que fazer não? Bando de puxa-
sacos! – a central se silenciou no mesmo instante e ela
continuou o seu caminho em direção a sala da
presidência. Sorri por entre os dentes enquanto
balançava a cabeça negativamente, tendo a certeza de
que: ou amamos as pessoas como elas são, ou abrimos
mão de sermos felizes.
Entramos na sala e ela trancou a porta... Olhei-a
desconfiada... Pamela sorriu antes de dizer:
- Agora sou eu quem mando novamente, Ali! – disse
com aquela voz sedutoramente rouca. Tremi na base. Ela
caminhou até mim... Empurrou-me de encontro à
mesa... Senti um frio percorrer as minhas costas.
Aquele olhar dominador me atiçava... – Te quero agora!
– puxou-me pelo pescoço e me beijou
demoradamente...
- Amor... Espera... – tentei desvincular-me rapidamente
do seu contato, sim! Se demorasse mais um pouquinho
eu me entregaria a ela – Precisamos conversar sobre
uma coisa... Muito importante – firmei o olhar.
- Ainda temos o que conversar?
- Não quero cometer o mesmo erro, Pam – suspirei –
Não quero e nem vou te esconder mais nada –
Precisamos conversar sobre o roubo das capas...
- Allison, não foi... Você... Quem... – fitou-me
temerosa.
- Hei! Deixa eu falar!

Capítulo 52:

***Pamela***

Allison recusando sexo? Com certeza, devia haver


alguma razão muito séria para... Ela disse que queria
conversar. O que poderia não ter sido dito? Eu não
conseguia imaginar.
Uma preocupação sombria ameaçou a felicidade recém
nascida com a qual eu ainda estava tentando me
acostumar. Impossível esconder minha insegurança.
Estava impressa, nítida em meu olhar.
Por um segundo que pareceu infinito, esperei Allison
começar a falar:
- Descobri quem roubou e vendeu as capas da revista.
Meu espanto não poderia ser maior:
- O quê? Como? Quando? Por que não me disse nada?
Sabendo que eu estava irritada – Ali me conhecia bem
demais – ela me beijou carinhosamente antes de falar:
- Ei... Calma... Estou te dizendo agora. Eu só soube
alguns dias atrás.
A forma doce e suave com que ela me olhou e falou me
amansou um pouco, tenho que confessar. A vontade
incontrolável de me deixar ficar nos braços dela e
esquecer todo o resto surgiu rápida como um raio... Mas
a curiosidade falou mais alto:
- Quem foi, Allison?
- Preciso que você me prometa que vai ouvir com
atenção tudo o que eu falar.
- Para que tanto suspense? Não vai me dizer que foi o
seu amiguinho Leonardo?
Ela me olhou espantada. Como se eu tivesse dito o maior
absurdo do mundo. Chegou a rir, antes de falar:
- Não, não foi o Léo, amor. Eu te disse que eu colocava a
mão no fogo por ele. O Léo é totalmente confiável.
Além de detestar que rissem de mim, também odiava
esperar:
- Allison... Merde! Quem foi? Fala!
Perfeita como sempre, Allison respondeu imediatamente:
- A Arlete.
Eu não podia acreditar. Balancei a cabeça de um lado
para o outro, perplexa. Parecia que minha intuição com
relação às pessoas não era tão boa, afinal. Aquelas em
quem eu mais confiava eram exatamente as capazes de
me passar as piores rasteiras...
- Pam, calma. Eu sei o que você está pensando, mas...
Ela teve razões para...
- Razões? Razões, Allison? Nada justifica uma traição
dessas! Quero essa mulher na rua! Eu vou processá-la!
Quando eu acabar com ela nem como faxineira ela vai
conseguir trabalhar.
Ela colocou as mãos no meu ombro, numa massagem
suave. Tentando me relaxar:
- Sei que você está com raiva. Mas também sei que você
pode ser razoável.
Comecei a andar de um lado para o outro, como se
assim pudesse compensar o fato da minha raiva ainda
estar enjaulada. Só parei quando a ouvi falar:
- Amor, só te peço uma coisa: não decida nada sem
antes me escutar.
Allison me olhou profundamente. E apesar de tudo, a
deixei falar. Fazia parte da minha vida agora
compartilhar toda e qualquer decisão com a mulher que
eu amava. Concordei com a cabeça. Ela sorriu,
entendendo perfeitamente o significado da minha
aparente submissão. E começou a explicar:
- Arlete precisava de dinheiro para o tratamento da filha.
Retruquei:
- Bobagem! Desde quando dinheiro é problema? Por que
não pediu para mim?
Allison respondeu em cima:
- Ela pediu.
Levantei a sobrancelha, intrigada. Não me lembrava de
jamais Arlete ter feito qualquer comentário sobre a filha:
- Se tivesse pedido eu teria dado.
Com um suspiro de resignação, Allison tentou em vão
explicar:
- Ela disse que você estava ao telefone. Que nem parou
para prestar atenção.
Que diabo de desculpa infame era aquela? Totalmente
fora de propósito...
- Francamente, Allison. Só alguém muito imbecil fala
algo tão importante com alguém que está ao telefone.
Óbvio que não prestei atenção. Você prestaria?
- Bom... é... não sei...
Diante do meu olhar incisivo, ela não teve outra opção:
concordou comigo:
- É, você tem razão. Mas Pam... a Arlete, como a maioria
das pessoas, morre de medo de você.
Absurdo. Ridículo. Fora de questão. Logo eu, uma das
pessoas mais civilizadas e bem educadas da face da
terra?
- O que você está querendo dizer?
- Que você não é exatamente simpática, não é mesmo?
Simpática? Que definição tão... sem graça. Simpático é
um sinônimo menos ofensivo para se dizer feio? Não,
claro que eu não era simpática. Para que? Tinha dinheiro
e poder o bastante para me dar ao luxo de poder apenas
ser... eu mesma!
Mas evidentemente, não ia deixar que Allison ficasse a
par desses meus pensamentos, não é mesmo? Ela não ia
gostar:
- Allison, eu apenas evito intimidades com os
funcionários.
Nem assim consegui agradar. Allison começou a me...
criticar? Realmente, o amor tinha suas desvantagens...
Deixei que ela falasse:
- Amor, você os tiranizava, humilhava. A Arlete
provavelmente nem sabia como chegar em você para
poder falar... Você não é fácil, sabe?
Cheguei a sorrir, sem me abalar. Ao contrário, me deixei
levar por um pensamento muito mais do que agradável:
- Para você isso nunca foi uma dificuldade.
Sorrimos, a lembrança de Allison me agarrando no meu
banheiro absolutamente inevitável... Ela se aproximou,
com o sorriso safado que eu amava nos lábios:
- Porque eu estava enlouquecida... Dominada pela
vontade que sempre senti de te ter assim, nos meus
braços...
O beijo que trocamos foi intenso. Ia muito além dos
lábios, línguas e bocas que se misturavam. Quando
terminou, deixei escapar um suspiro, antes de falar:
- Infelizmente, amor, a atitude da Arlete é algo grave
demais. Não vou poder ignorar.
- Eu sei.
Me sentei em minha mesa, e falei pelo telefone interno:
- Arlete, quero você na minha sala agora.
A voz de Arlete soou absolutamente tensa e trêmula do
outro lado:
- Si...sim, senhora.
Allison caminhou em minha direção, e se colocou em pé
ao meu lado. Acariciou meus cabelos, e falou:
- Confio em você. Sei que não vai me decepcionar.
A porta abriu, nos deixando ver uma Arlete
absolutamente apavorada entrar.
- Sente-se, Arlete. – falei.
Ela obedeceu, afundando na cadeira na minha frente
sem conseguir me encarar. Aquela que engolia as
pessoas. Fui simples e direta:
- Já estou sabendo sobres as capas. Mas ainda assim,
estou disposta a ouvir o que você tem para me falar.
Arlete arregalou os olhos, parecendo surpresa. Depois
olhou para Allison, como se pedisse coragem. Allison
balançou a cabeça, a incentivando a falar. Arlete
começou, nitidamente insegura:
- Dona Pamela, eu... Eu precisava do dinheiro para o
tratamento da minha filha, eu... Só fiz isso por causa
dela, e... A senhora sabe, eu sempre fui honesta,
confiável...
Ela estava chorando, ou melhor, se debulhando em
lágrimas. A cortei, querendo encurtar a situação muito
mais que desagradável:
- Realmente, Arlete, você sempre foi uma funcionária
exemplar. Caso contrário jamais seria minha secretária.
Mas o que você fez é imperdoável.
Arlete começou a soluçar ainda mais alto. Não fui nem
um pouco condescendente ao falar:
- Mon dieu! Pare de chorar!
Allison me lançou um olhar de reprovação total. Fazendo
com que eu me esforçasse para tornar minha voz um
pouco mais suave:
- Deixe eu terminar de falar.
Arlete enxugou as lágrimas. Levantou os olhos
arregaladíssimos para mim, me olhando como se não
conseguisse respirar. Tive vontade de rir, mas segurei,
claro. Se eu risse, provavelmente Allison seria capaz de
me matar.
- Arlete, agradeça a Allison por eu te dar uma segunda
chance.
A mulher sorriu pateticamente. Com uma gratidão quase
canina. Deixando claro que a fidelidade dela a partir
daquele momento, seria incondicional. Allison estava
sorrindo. Eu não. Ordenei, fria. Gélida quase:
- Agora pode se retirar.
Arlete levantou, agradecendo sem parar. Se eu deixasse
a mulher seria capaz de se ajoelhar e beijar a minha
mão. Existem pessoas que realmente nasceram para a
servidão.
Antes que Arlete abrisse a porta, segui um impulso
estranho, vindo não sei de onde:
- Arlete, a sua filha está melhor?
A mulher se assustou. Respondeu com uma voz feliz,
mas fraca:
- Sim, senhora. Já está curada.
Um leve sorriso surgiu em meus lábios. Ao lembrar da
menininha do churrasco:
- Muito bom. De hoje em diante, Allison e eu vamos
custear os estudos dela. Para que a menina tenha uma
educação à altura da inteligência que tem. Na verdade,
Arlete, eu só estou te perdoando por causa dela.
Arlete quase desmaiou. Depois de uma centena de
novos: "muito obrigada!" e "Deus lhe pague!" ,
finalmente saiu da sala.
Allison ficou parada, me olhando com um sorriso de
orgulho e admiração nos lábios.
- O que você está olhando, Ali?
- Nada.
Levantei, me aproximei, envolvi o pescoço dela com
meus braços. Ia beijá-la, mas Allison me interrompeu:
- Quer dizer então, que crianças são o seu fraco?
A olhei como quem diz: "bobagem". Mas nós duas
sabíamos que a frase dela tinha um fundo de verdade.
Repliquei:
- Meu fraco é você, Allison...
Aproximei os lábios dos dela, mas Ali voltou a falar:
- Sempre quis ter filhos. Pelo menos uns quatro.
Quem arregalou os olhos dessa vez fui eu:
- Quatro?
Com o sorriso irresistível de sempre, Allison sussurrou:
- Temos dinheiro o bastante para muito mais...
Roçou os lábios levemente nos meus, antes de
continuar:
- Dois biológicos: um seu e um meu. E dois adotados...
O que você acha?
Filhos? Eu? Nunca! Jamais! Se bem que... pôr mais
beleza e classe no mundo não seria nada mal...

Capítulo 53:

***Pamela e Allison**

4 Anos Depois...
Allison passou a viagem inteira com os olhos colados no
laptop. Sem contar que não saía do maldito telefone. É,
a mulher tinha se tornado uma workaholic!

Nem para as crianças ela deu atenção. Anne pulou no


colo dela, com o jeitinho moleque de sempre – parecia
muito mais ser filha biológica da Ali do que minha! –
apertando as teclas do laptop, fazendo Allison me olhar
em desespero, como quem pede ajuda. Levantei uma
das sobrancelhas antes de dizer:
- Anne, vienne ici...

E como ela fingisse não estar ouvindo - mexendo nos


cabelos loiros já completamente desgranhados e olhando
para cima - falei firme:
- Vite!

Só então ela obedeceu. Desceu do colo de Ali me


olhando com os olhinhos azuis de um jeito
absolutamente petulante. Pulou no meu colo e me
abraçou, dizendo:
- Je t'aime, maman...

Fazendo eu me derreter, como sempre. Essa, realmente,


não tinha jeito...

Anne era uma criança elétrica como eu. Sorri quando ela
saiu do meu colo. Quase derrubou meu notebook. Meryl
era mais comportada. Uma linda criança negra que
havíamos adotado. Para a nossa sorte, um casal hétero
desistiu da adoção. Seu jeitinho de falar era imponente,
a menina era geniosa e decidida. Ela só tinha três anos e
meio, mas era vaidosa ao extremo. Os cabelos
cacheados sempre devidamente arrumados, a roupinha
sempre limpa e escolhida por ela mesma. Os olhos
negros como a noite, exibiam um olhar que lembrava a
Pamela quando queria nos intimidar. Incrível como a
personalidade das duas era parecida. Enquanto Anne
estava pulando pelas poltronas, querendo a todo custo
nos fazer brincar com ela, Meryl olhava pela janela e
segurava nas mãos uma revista da Gente Chique que ela
adorava. Folheava as páginas como se entendesse cada
palavra escrita ali. Essa seguiria o caminho da mãe
Pamela, já Anne... Sorri ao pensar no futuro dela. Vai
querer seguir os meus passos com certeza.

Chegamos ao hotel por volta das sete da noite e eu


ainda não havia conseguido remarcar todas as reuniões
que tive que cancelar por causa da idéia louca que
Pamela teve de passar, em pleno meio do ano, sete dias
em Paris.

Realmente, já tinha me acostumado com a idéia de que


por mais que agora tivesse dinheiro, Allison ainda
continuava pensando como se não tivesse. A cara com
que me olhou quando sugeri que viajássemos... Como se
não achasse que o fato que ir a Paris é como ir do Rio a
São Paulo: nada demais.

Pamela sempre com aquela mania de desperdício de


dinheiro. Mas tenho que admitir: ela sabia usá-lo como
ninguém. A viagem para Paris só acrescentou na nossa
lua de mel prolongada. Isso mesmo! Estávamos em lua
de mel por mais de quatro anos. Nossas noites eram
sempre quentes como a primeira vez. Tentei agilizar ao
máximo a reformulação da minha agenda, pois percebi
que a mulher estava deitada na cama completamente
impaciente.

Entramos no George V sem que Allison tirasse o celular


do ouvido. Anne correndo e derrubando as coisas.
Fazendo a bagunça incrível de sempre, obrigando a babá
a ficar correndo atrás. Deixei que ela se divertisse.
Afinal, se quebrasse algo, era só pagar...

Já Meryl era outra história. Caminhou o tempo inteiro ao


meu lado, de mãos dadas comigo. Comportadíssima!
Menina exemplar, linda! Uma verdadeira princesinha...
Não negava ser minha filha.

Anne correu para perto de nós. Tentou implicar com


Meryl, mas nossa filha mais velha era parecidíssima
comigo: não se deixava abalar. Com um único olhar –
absolutamente gélido e superior – fez Anne parar. Não
tive como deixar de sorrir. Nem de me orgulhar.

Falei com o recepcionista olhando para Allison de vez em


quando. Ela me olhava rapidamente e acenava com a
cabeça, como quem diz: "como você quiser, decide você,
amor..." . Aquilo já estava me irritando. Ainda mais
quando - depois que as babás foram com as crianças
para o quarto ao lado – nem me insinuando deitada na
cama consegui atenção. Ultrajante!

Torturante! Aquela mulher linda deitada na cama. Me


olhando com aqueles penetrantes olhos azuis. Pernas
cruzadas e os cabelos caindo pelos ombros. A fisionomia
aborrecida foi fazendo florescer dentro de mim, um misto
de desejo e desespero. Desejo porque a minha calcinha
já estava completamente molhada ao olhar para aquela
figura deliciosa a minha frente e desespero por não
poder desligar o telefone na cara da Arlete ou
simplesmente jogá-lo pela janela.

Cruzei e descruzei as pernas várias vezes. Ela olhou,


mas não desligou. Resistiu bravamente, ou melhor,
ofensivamente aos meus melhores sorrisos e olhares
matadores.

Cheguei a ordenar:
- Quero você agora!
Mas ela apenas pediu um:
- Un moment, mon amour...

Sem nem afastar o telefone do ouvido. Foi quando


resolvi agir. Obviamente, não ia deixar aquilo assim. E a
tortura não parava... Pamela se zangou
profundamente... Levantou-se da cama, mexeu na sua
mala, apanhou algo que não deu pra ver o que era e
caminhou rápido em direção ao banheiro.
- Merde! - sussurrei colocando a mão no fone.

Arlete falava, falava... Meus olhos acompanharam


Pamela rebolando sensualmente até ela bater com certa
violência a porta do banheiro.

Entrei no banheiro batendo a porta com força atrás de


mim. Assim Allison não desconfiaria das minhas reais
intenções. Felizmente, minha imaginação não tinha
limites. Cair na rotina era algo simplesmente
inadmissível. Comecei a me trocar com um sorriso quase
felino.

- Marca pra quando der, Arlete! - quase gritei no


telefone. Meus olhos não desviavam da porta do
banheiro. Pamela devia estar furiosa, e do jeito que ela é
geniosa, temi que nossa noite fosse comprometida pelo
orgulho ferido da poderosa.

Mais dez minutos com os nervos à flor da pele, olhando o


relógio impaciente pela demora de Pam no banheiro.
Ouvi a porta fazer um ruído...

- Adianta isso, Arlete! - disse baixinho enquanto virava


de cara para a parede para que a minha poderosa não
desconfiasse que eu ainda teria muita coisa para resolver
no telefone.

Quando voltei a virar-me na direção da cama...

Saí do banheiro andando sedutoramente em direção à


Ali. Fazendo um ruído ritmado com os saltos no chão.
Parei do lado da cama. Ela me olhava fixamente. Levei
às mãos ao cinto. Desamarrei lentamente e abri
sensualmente o sobretudo...

- Jesus! Qu'est-ce que c'est ça? (O que era aquilo?) -


fiquei de boca aberta ao ver Pamela abrindo
sedutoramente o cinto do sobretudo que ela vestia,
deixando à mostra sua calcinha preta rendada e
minúscula, que valorizava as formas perfeitas do seu
corpo. Pamela nem parecia que havia experimentado a
maternidade, continuava com as mesmas curvas. Pra
variar, ela estava: irresistível! Perdi a fala, ouvi Arlete
repetir:
- Dona Allison...Dona Allison...

Impossível conter o sorriso de satisfação que surgiu em


meus lábios. Puro prazer por obter o efeito desejado:
Allison de queixo caído, babando, paralisada. Com um
olhar de cobiça obsceno, quase insano, ao ver que por
baixo do sobretudo, eu estava apenas de calcinha e
botas de couro preto até o joelho...

Me aproximei de Allison, passando a língua nos lábios.


Ela deixou escapar um gemido. E pareceu não se
importar quando arranquei o celular das mãos dela. Só
quando o arremessei pela janela.

Cara! Ela fez isso mesmo! Arremessou o meu celular pela


janela, e eu nem dei tchau para a pobre da Arlete, mas
também, quem vai pensar em tchau tendo um
monumento desses diante dos olhos? Segurei Pamela
pela cintura e a puxei para mim... Ela ergueu uma das
sobrancelhas me deixando completamente a mercê do
seu sorriso sedutor e para a minha máxima surpresa...
Ela ergueu a mão direita balançando um... Pasmem! A
mulher tinha um chicotinho nas mãos...

O sorriso de antecipação de Allison me deixou ainda mais


empolgada. Ela quase rasgou o sobretudo quando o
arrancou do meu corpo. Me devorou com os olhos por
um breve instante, para logo depois voltar a me puxar
pela cintura, as mãos impacientes me acariciando. Nos
beijamos com loucura, do jeito ardente e exigente de
sempre. Interrompi o beijo a empurrando com força,
fazendo com que Ali caísse de costas sobre a cama.

Bati na coxa dela de leve com o chicote. Ela suspirou, e


ficou me olhando com uma explosiva mistura de desejo,
amor, tesão...

Ajoelhei na cama com Allison entre as pernas,


desabotoando a blusa dela, e perguntando:
- E então? Continua querendo falar no telefone?
A voz de Ali saiu trêmula de excitação:
- N... não...
Mordi o lábio inferior. Ela ofegou. Perguntei já com os
seios dela entre as mãos:
- Não? O que você quer então?
Ela gemeu, sorrindo, em total aprovação:
- Quero que você me coma, amor...
Minha resposta veio rouca, urgente. Com a impaciência
de quem quer a mesma coisa:
- Não precisa pedir duas vezes, amor.
Mergulhei em Allison. Com uma voracidade igual a
minha, ela me recebeu.

Era alucinante a forma que ela me tocou. Pamela estava


impossível. Me tomou inteira, me deixando lânguida de
prazer. Era uma guerra! Com Pamela até na cama se
guerreava... Eu a queria, ela me queria... A nossa
entrega gerava desespero... de nos tocarmos...
Beijarmos... Na certeza plena de compartilhar, confiar e
entender... De nos entregarmos inteira e absolutamente
de todas as formas e jeitos. Até nossos corpos tremerem
nos braços uma da outra e a loucura do prazer nos unir
no deleite do amor. Sem limites, barreiras nem medos. O
nosso destino estava traçado para sempre...

Fim

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