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Aulas Teóricas
14 de abril de 2021
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METODOLOGIA DO DIREITO
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BRUNA FERNANDES | A85107
compreende uma teoria da interpretação, ou melhor uma compreensão não só do Direito, mas do
mundo (interpretamos factos e situações). O jurista tem de ter uma cultura muito mais ampla do que
a simples interpretação da lei – GIUSEPPE ZACCARIA (autor italiano).
Não atender apenas ao material normativo, mas às próprias situações da vida, ciente da
complexidade da vida. Do ponto de vista hermenêutico, tentamos convencer o juiz, defender uma
tese, utilizando artifícios que o sistema coloca à disposição (por exemplo, o legislador racional de
SANTIAGO NINO.
Nessa realização do Direito atual não é suficiente trabalhar com uma conceção de subsunção da
lei que tanto tempo orientou a própria conceção de Direito.
Assim sendo, a mera subsunção é substituída pela concretização de normas, porque quando
falamos em concretização das normas implica o reconhecimento de algo mais que a mera
interpretação do texto normativo e, desta forma, não reduzimos a interpretação normativa à
interpretação textual e gramatical – renovação no plano epistemológico (retórica, argumentativa) –
chega o momento de reconhecer que a subsunção não é suficiente, os juristas têm de ir buscar o
saber a teorias tópicas que A. CASTANHEIRA NEVES tanto fala.
Sabemos que os juristas práticos/operadores do direito, no passado, acharam que era possível
resistir ao arcabouço que foi estabelecido desde o positivismo exegético até hoje, achando que era
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Do ponto de vista prático, temos muitos juristas que não se preocupam com a metódica
metodológica porque necessitam de sair da zona de conforto.
Existem teorias filosóficas das quais o direito bebe, que vão sendo colocadas de lado,
infelizmente, pelo tecnicismo lógico, mas para haver progresso, temos de atentar nisso, na base do
Direito.
Diante da clareza da letra da lei, não é necessária interpretação – in claris non fit interpretatio.
Esta foi a ideia que vigorou durante muito tempo.
Por exemplo, o jurista devia seguir o sentido literal da lei, apoiado na certeza da lei, certeza do
Direito – Lei da Boa Razão (MARQUÊS DE POMBAL). Esta lei naquela época já estava condenada
a interpretações abusivas. A ideia de certeza do Direito é muito complicada.
Numa ação judicial a única certeza é que vai haver Direito, mas em relação ao conteúdo do
Direito não temos a certeza. A. CASTANHEIRA NEVES afirma que houve uma recuperação deste
pensamento jurídico mais positivista, numa perspetiva mais analítica, no século passado,
entendendo o direito como analise da linguagem.
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Quando A. CASTANHEIRA NEVES diz que a tese é impossível ao nível linguístico ele não diz
que ao nível de sintaxe do texto é impossível, mas sim é impossível ao nível da semântica.
Relembremos que temos três níveis na linguagem: 1) sintaxe; 2) semântica; e 3) pragmática. A
semântica diz respeito à interpretação, então a nível hermenêutico é impossível do ponto de vista da
linguagem, porque para que fosse admissível a nível linguístico precisaríamos de satisfazer três
pressupostos: i) os termos que são utilizados na construção e a elaboração das fontes do Direito,
teriam de ser termos utilizados na linguagem comum; ii) os termos da linguagem comum teriam de
ter um sentido único e usual; iii) a utilização destes mesmos termos no contexto judiciário tem de
deixar intocado o contexto comum/sentido comum dos termos. Só quando satisfeitos os três
pressupostos é que poderíamos defender a teoria de que na “clareza do texto da lei, cessa a
interpretação”. A inadmissibilidade funda-se no próprio sentido normativo de todas as expressões
que aparecem no discurso jurídico. E isto sem falar que há uma oposição a esta tese de outras
teorias sofisticadas. Era necessário, para esta tese ser admissível que cada sentido de cada palavra
fosse absoluto: reflexo perfeito do objeto. Por exemplo, a palavra “manga” pode ser uma fruta tropical
ou pode ser a manga da camisola.
Os contributos de outros autores que A. CASTANHEIRA NEVES cita no seu livro e que nos
mostram uma série de coisas são, nomeadamente, como é ingénuo o naturalismo semântico, ou
seja, a ideia de que existe relação natural, unívoca, entre as palavras e a significação e, ainda, que
toda a compreensão que elaboramos com as palavras, existe no uso das palavras um determinado
contexto/uso da linguagem que fazemos.
Ora, avancemos para o nível exegético. Sendo que não podemos esquecer que o texto normativo
não é uma entidade puramente textual, tem uma missão: comunicar, manifestar um certo conteúdo
jurídico, possui um sentido. Não é um texto comum forjado numa linguagem comum, mas é um texto
técnico. A preocupação é com o sentido jurídico do texto pela simples razão de que a lei não é o
texto, não é identificável lei com texto e se o fizermos não podemos esquecer que se trata de um
texto técnico. Não podemos identificar a lei com o Direito, porque o Direito carrega um sentido.
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A. CASTANHEIRA NEVES
Esta afirmação comprova que a interpretação jurídica (metodologia adotada) está subjacente ao
conceito que se tem de Direito, à forma como o vemos, e isto está ligado à cultura de cada um. Logo,
o direito é uma parte integrante da cultura.
Desta forma, uma norma é sempre um resultado da sua interpretação. A interpretação ao propor-
se referir uma fonte (norma interpretanda) às concretas exigências de um problema jurídico, traduz-
se sempre numa concretização constitutiva: a norma obtém-se a partir do problema jurídico.
Por fim, interpretar consiste evidentemente em retirar desse texto um determinado sentido ou
conteúdo de pensamento (BAPTISTA MACHADO). Mediante a interpretação “faz-se falar” este
sentido, quer dizer, ele é enunciado com outras palavras, expressado de modo mais claro e preciso,
e tornado comunicável (KARL LARENZ).
Trata-se agora de eleger, de entre os vários sentidos inevitavelmente possíveis da norma, aquele
que, no caso concreto, melhor realiza a sua função estabilizadora (HESPANHA).
Ora, a interpretação jurídica tem por objeto descobrir, de entre os sentidos possíveis da lei, o
seu sentido prevalente ou decisivo, sendo o Artigo 9.º do Código Civil a norma fundamental a
proporcionar uma orientação legislativa para tal tarefa.
O Artigo 9.º do Código Civil reza que interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas
reconstituir a partir dos textos o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do
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sistema jurídico, as circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo
em que é aplicada (n.º 1); o enunciado linguístico da lei é o ponto de partida de toda a interpretação,
mas exerce também a função de um limite, já que não pode «ser considerado pelo intérprete o
pensamento legislativo que não tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda
que imperfeitamente expresso (n.º 2); além disso, [n]a fixação do sentido e alcance da lei, o intérprete
presumirá que o legislador consagrou as soluções mais acertadas e soube exprimir o seu
pensamento em termos adequados (n.º 3).
Nesta tarefa de interligação e valoração que acompanha a apreensão do sentido literal, intervêm
elementos lógicos, apontando a doutrina elementos de ordem sistemática, histórica e racional ou
teleológica (sobre este tema, cf. KARL LARENZ, Metodologia da Ciência do Direito, 3.ª edição,
tradução, pp. 439-489; BAPTISTA MACHADO, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, 12.ª
reimpressão, Coimbra, 2000, pp. 175-192; FRANCESCO FERRARA, Interpretação e Aplicação das
Leis, tradução de MANUEL ANDRADE, 3.ª edição, 1978, pp. 138 e seguintes).
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jurídica como uma unidade/sistema (caráter global), entende todas as fontes do direito, entre
elas também o costume (a mais abrangente, ideia mais aberta de sistema, trabalha com
fontes variadas).
Quanto ao objeto da interpretação jurídica, existe um confronto entre duas teses: tese tradicional
e tese atual.
Na tese tradicional, o objeto da interpretação jurídica é o texto normativo prescritivo das fontes
em geral, é uma perspetiva textual. Na questão de saber o que se interpreta, a resposta vai ser o
texto jurídico. O que se interpreta é as normas, o texto normativo, as compilações. Há uma base
histórica para esta tese: séc. XI, com o Corpus Iuris Civilis (texto mais antigo), pode ser o ponto de
partido deste pensamento, fontes positivadas, postas pelos poderes da época. Coloca o Direito como
expressão textual. Para A. CASTANHEIRA NEVES, há um avanço da tese tradicional, mas sempre
textual.
Na Teoria Pura do Direito de KELSEN, este fornece uma teoria da interpretação do Direito, que
na verdade é um entendimento, dado que este autor não é um hermeneuta, mas sim um civilista.
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§ Interpretação autêntica: aplicação por órgão jurídico que efetua uma certa escolha entre um
rol de possibilidades e vai fazer uma escolha – ato de vontade por parte dos tribunais;
interpretação cognoscitiva do Direito combinada com um ato de vontade, de conhecimento.
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21 de abril de 2021
§ Direito e Linguagem
Para um jurista italiano, a ciência jurídica será sempre uma grave terribilidade não ver tratado
as consequências do seu paralelismo com as linguagens.
Ora, o que este autor quer dizer é que o direito e a linguagem têm uma plataforma comum,
isto é, operamos/comunicamos dentro da mesma linguagem porque somos dotados de
linguagem. O direito não existe separado da linguagem e o problema da interpretação aprece
inscrito na linguística, sendo um problema linguístico. O Direito e a linguagem estão sempre
ligados – interpretação de uma série de questões conexas (argumentação) e problemas inscritos
que se cristalizam nesta interface entre direito e linguagem.
A. CASTANHEIRA NEVES faz uma reflexão filosófica e linguística da crítica forjada sobre
base filosófica. Com efeito, A. CASTANHEIRA NEVES coloca o problema sobre o ponto de vista
crítico, sendo que não tem uma preocupação muito restrita quando pensamos no problema
linguístico em si, não identifica o direito com discurso (como GREGORIO ROBLES – Teoria
Comunicacional do Direito, que fala do direito como texto).
O Professor RICARDO MENNA BARRETO não gosta de identificar o direito com o texto, não
só como texto, mas também como discurso – comunicação verbal. Só que o discurso jurídico não
tem autonomia, daí a importância das teorias da interpretação. Logo, precisamos de entender o
discurso jurídico como uma interação social situada (comunicação social, histórica, caráter
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político, ideológico) e a partir daí entendemos o discurso jurídico em três formas: pensar direito
enquanto discurso judicial, enquanto discurso doutrinal ou, ainda, enquanto discurso académico
(são estes os três tipos de discurso no direito). Não que não existam outras, mas estas são as
mais importantes. Podemos ainda colocar um em primeiro lugar teríamos ainda o discurso legal,
obviamente. A lei ocupa um lugar fundamental, dado que é um ponto de partida na interpretação
do Direito. Não há/não deveria haver discurso judicial sem lei, sem doutrina, sem jurisprudência,
haveria um problema de direito. Mas quando isto é detetado é porque já interpretamos e,
portanto, sem interpretação não há nada.
“O Direito da Sociedade” de NIKLAS LUHMANN, onde ele afirma que a demanda por teorias
jurídicas, que são elaboradas por juristas (professores, advogados, etc.), nasce de uma fonte
bipartida que é de um lado a prática jurídica (que demanda o acesso a teorias jurídicas
(operadores do direito) e, de outro lado, a docência. Historicamente, os argumentos utilizados no
início eram relativos ao Direito e eram provenientes do processo judicial. Havia um conflito de
interesses e nesse conflito havia uma argumentação e contra-argumentação, sendo que a partir
dali se desenhavam teorias, os esboços do direito. Eram utilizados pelos tribunais e depois eram
reutilizados pelos tribunais, nascendo assim a jurisprudência. Isto para dizer que o que vemos
na prática depois aparece na docência, porque tudo o que vemos na academia, toda a doutrina,
são trabalhos que nascem de uma exigência prática e teórica e que releva na importância da
teoria do Direito em que da exigência teórica nasce a Metodologia do Direito – como é que a
metodologia aparece no séc. XX.
A teoria jurídica que se origina da prática (praxis) não cumpre geralmente o que se pensa
quando se fala em teoria no plano das ciências. Os juristas na prática não estão preocupados
em teorias, mas sim em resolver problemas práticos. Deste modo, LUHMANN diz que o que
nasce da praxis é um produto colateral da necessidade de se tomarem decisões sólidas, que
aparecem com esse formato sólido porque envolvem algum tipo de teorização que parecem
ciência, mas não são ciência porque isto nasce na academia. Temos uma dupla perspetiva:
praxis e docência. O discurso jurídico nasce destas duas e origina dois discursos jurídicos
diferentes.
Do ponto de vista teórico é mais correto falar em matrizes do pensamento jurídico, de acordo
com LEONEL ROCHA. Este Professor criou as três matrizes do direito, que é uma ideia rica e
inovadora, que corresponde a um ponto cego teórico do Direito.
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A Introdução ao Estudo do Direito (Teoria Geral do Direito) é uma disciplina que é uma
reflexão sobre a teoria do Direito. Temos contacto com situações onde o direito conta com
diversos tipos de descrição do sistema, das várias distinções do sistema. Para descrever as
matrizes, vamos buscar à linguística, na semiótica – Círculo de Viena (KELSEN).
De acordo com LÚCIA SANTIAELA, a semiótica é o estudo da vida, visto que a vida pode
ser compreendida como uma linguagem, especialmente se considerarmos que o DNA é um
código linguístico para que haja vida, podemos dizer que a vida existe na linguagem. Assim, a
semiótica é o estudo da linguagem e, consequentemente, o estudo da vida.
Por sua vez, CHARLES S. PEIRCE afirma que a semiótica é a ciência que estuda os signos
linguísticos, a partir da sintaxe, semântica e pragmática, ou seja, falamos aqui da linguagem.
Quanto à sintaxe, do ponto de vista da linguagem, é a área que estuda a estrutura formal,
através de uma análise lógica de como as palavras se relacionam entre si, isto é, envolve a
construção do texto, do ponto de vista lógico e formal.
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trabalha com a linguagem objeto). Pensamos o sistema a partir da estrutura normativa que é
descrita pela ciência do Direito, que é para todos os efeitos Introdução ao Estudo do Direito.
KELSEN foi o elaborador da teoria onde descreve tudo o que estudamos em Introdução ao
Estudo do Direito – Teoria Pura do Direito; é o grande representante da matriz analítica,
representado pelas três matrizes.
O positivismo jurídico está inscrito na analítica, falamos de uma matriz analítica. Não é por
acaso que KELSEN aparece como positivista analista. KELSEN ficou famoso por, na doutrina da
Teoria Pura do Direito, apresentar o dualismo entre ser e dever ser. A norma está no plano do
dever ser, KANT e DAVID HUME já afirmavam isto. KELSEN encontra esta dicotomia no
passado. Para além disso, KELSEN descreve o Direito como realidade normativa, por isso
privilegia aspetos lógicos em detrimento dos factos – plano do dever ser. Na interpretação temos
de atender aos factos, mas ao descrever o sistema ele não se preocupa com a dimensão social
do conhecimento jurídico.
HERBERT HART e RONALD DWORKIN foram grandes nomes na hermenêutica, assim como
A. CASTANHEIRA NEVES.
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LUHMANN disse que o Direito era expectativa, uma vez que uma norma jurídica é uma
expectativa de que aquela norma se cumpra. Mais do que o dever ser, é melhor dizer que é uma
expectativa social normativa. O Direito é um texto que comunica (ROBLES). E estes textos nada
mais são do que expectativas sociais (LUHMANN) que são generalizadas pelo Direito em três
dimensões: 1) dimensão temporal: normativa – porque a norma está no passado, o sentido
jurídico foi estabilizado no passado e atualizamo-lo por meio da interpretação, e a norma jurídica
nasce da interpretação, dado que o que temos antes é um texto, mas o sentido só nasce depois
da interpretação; 2) dimensão social: institucionalização da norma – tem que haver um
consenso de como a norma se interpreta; 3) dimensão prática: doadora de sentido – o sentido
de facto tem que ser produzido, que daí surja o consenso – dimensão social.
Para simplificar: 1.º ano à analítica; 4.º ano à semântica; após a licenciatura à pragmática.
Sabemos que temos três matrizes, sobre as três vertentes da semiótica. A. CASTANHEIRA
NEVES faz esta pergunta e distingue se o problema da interpretação é um problema semântico
ou analítico, pergunta feita a partir da semiótica. A resposta é: hermenêutica.
A. CASTANHEIRA NEVES fez esta pergunta e não é por acaso: a interpretação jurídica visa
tão só a determinação e assimilação de um sentido, de uma significação e nessa determinação
esgota-se ou não se realiza já em si uma intenção, sendo judicativo-decisório é ela também em
si prática-normativa?
Esta pergunta feita por ele, leva a uma distinção entre 1) hermenêutica-compreensiva, ou
hermenêutica em sentido próprio ou sentido restrito; e 2) hermenêutico-analítica, que é a
interpretação analítica-linguística, fundamentalmente semântica. A interpretação do direito
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carrega uma dimensão analítica e isso já foi provado pela doutrina exegética – estava
preocupada com a analítica, com situações de interpretação limitada; o juiz não interpreta,
comunica o sentido do que está escrito, não há espaço para interpretação, para os juspositivistas.
Isto posto, A. CASTANHEIRA NEVES refere que existe uma tradição hermenêutica – a
hermenêutica teológica, estudos dos livros bíblicos, etc. – exegese analítica. Existe uma
hermenêutica estrita, mais semântica, dimensão que reflete como esses objetos podem
referenciar a algo exterior a eles.
Como é que a hermenêutica ganha uma forma diferenciada do ponto de vista jurídico? Como
é que podemos pensar o direito a partir de uma conceção hermenêutica?
Para além disso, este autor coloca uma questão importantíssima: a interpretação jurídica
pode ter os resultados controlados a partir da observância daquilo que ele chamou de cânones
hermenêuticos, que podem ser encontrados em vários lugares (por exemplo, no Direito Civil).
Existe uma tradição no Direito Civil de colocar no texto a interpretação, normalmente versando
nos Artigos 8.º e 9.º do Código Civil. É uma preocupação do legislador com a hermenêutica.
Com efeito, quando o autor diz que no Direito Civil a partir de categorias civilísticas podemos
encontrar os cânones, o E. BETTI diz que isso pode conduzir o aplicador do direito naquele
processo interpretativo. Ora, isso não é só no Direito Civil, tem noutros campos do Direito.
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BRUNA FERNANDES | A85107
28 de abril de 2021
A. CASTANHEIRA NEVES coloca uma pergunta que leva à interpretação: a interpretação jurídica
visa a determinação e a assimilação de um sentido ou de uma significação normativa, ou realiza em
si mesma uma intenção que por ser judicativo-decisório é também constitutivo-normativo? Isto é, a
interpretação é um puro ato determinativo ou é um ato normativo? A interpretação jurídica é norma
ou é uma determinação de sentido?
Para responder a esta pergunta, segundo o A. CASTANHEIRA NEVES, em primeiro lugar, tem
de se ponderar o caso jurídico. Para isto tem de se entender o que é que a interpretação jurídica
envolve. O caso não é só o objeto decisório-judicativo, o caso jurídico é mais do que isso. O caso é
quando o intérprete se depara com um problema, com uma perspetiva problemática intencional, que
acaba por condicionar tudo. É em função desse caso (desse problema) que nos vamos interrogar e
procurar resolver o problema.
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Do ponto de vista hermenêutico, é um problema grave fazer uma distinção entre as etapas do
processo hermenêutico.
Do ponto de vista hermenêutico, há uma abertura em termos de suporte fáctico quando se fala
de regras e princípios. As regras e os princípios têm dimensões diferentes no sistema e,
consequentemente, efeitos diferentes. Contudo, elas têm uma característica em comum, quando se
observa um sistema com os seus critérios e, logo, com os seus fundamentos, todas elas conduzem
ao horizonte pragmático e problemático. Tanto as regras como os princípios conduzem para o
horizonte pragmático e problemático. É este horizonte que A. CASTANHEIRA NEVES chama de
pragmático e problemático, que se interpreta, ao qual se faz da pergunta.
Para além disso, A. CASTANHEIRA NEVES fala em normas, mas só aquelas que são aplicáveis
ao caso, o que gera outra pergunta: Como considerar que uma norma determinada é aplicável e não
outras? Qual é o critério para considerar que uma norma é aplicável e outra não? Existe um caminho
metodologicamente estabelecido que determina o que se deve seguir. O sistema coloca os critérios,
mas tem de se entender como fazer as escolhas e isto é a metodologia.
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Por sua vez, A. CASTANHEIRA NEVES afirma que não é do texto das normas jurídicas que se
trata esta questão. Segundo A. CASTANHEIRA NEVES, o problema que se tem de analisar é o da
normatividade que as normas jurídicas como critérios que são oferecem ao caso concreto. É uma
pobreza extrema pensar que a norma é texto. A norma é muito mais do que o texto, a norma integra
também a normatividade.
A expressão “significante” leva-nos para um lugar que é o conteúdo da norma composto pelo
texto. A. CASTANHEIRA NEVES questiona se é a que faz a norma ser norma. Será que na
interpretação jurídica se visa a expressão da norma? Será que o que se busca ao interpretar uma
norma, é a norma da norma? A. CASTANHEIRA NEVES questiona ainda: o que é que se visa ao
interpretar uma norma, o texto ou a norma?
Na Teoria do Direito diz-se que a norma é o que resulta de uma interpretação. Antes do processo
interpretativo não há norma. Isto significa que o que se busca ao interpretar não é o texto, mas sim
o sentido jurídico que é expresso pelo texto. É a norma enquanto norma que faz com que
interpretação jurídica se realize. Daí que A. CASTANHEIRA NEVES fale no objeto intencionalmente
normativo-jurídico.
Este pensamento distintivo entre texto e norma, leva-nos para o lugar do objeto da interpretação
jurídica.
A norma carrega o texto normativo, mas ela também expressa uma normatividade. Quando se
fala em normatividade, significa que a norma é mais do que o texto. A norma é o resultado da
interpretação do texto. Segundo A. CASTANHEIRA NEVES, no processo de aplicação da norma
busca-se atingir o objetivo da normatividade prático-jurídica, a partir do problema do caso. Todo o
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caso problemático invoca uma norma ou critérios. Tudo isto para, do ponto de vista material, se
chegar à solução judicativa ou judiciária.
No que diz respeito à distinção entre norma e caso, A. CASTANHEIRA NEVES afirma que o
positivismo hermenêutico pregou sobre um processo interpretativo centrado na norma. Porém,
quando num processo interpretativo nos centramos na norma, há um problema, porque há uma
tendência para colocar de lado o caso e se centra no texto normativo, na norma. Mas a decisão não
é obtida apenas da norma (do texto normativo). Tem de se entender a norma para além do texto,
isto significa entender a norma dentro da sua normatividade. Daqui a distinção entre o texto normativo
e a normatividade.
Contudo, isto gera uma questão por A. CASTANHEIRA NEVES: a normatividade da norma seria
a função concreta da problematicidade jurídica do caso que é colocado pela norma? Segundo A.
CASTANHEIRA NEVES, o caso convoca a norma.
1) Se o objeto problemático é, de todo o modo, o caso concreto que está a ser decidido, então
pretende-se manter a norma com esquema metódico, reconhecendo nela um sentido
normativo, que resiste num plano abstrato;
2) Se o objeto problemático não é, de todo o modo, o caso concreto que está a ser decidido,
então recusa-se a possibilidade anterior. Entende-se que é no problema do caso que a norma
é interrogada, e é nessa interrogação para o caso que a norma oferece a sua normatividade.
A primeira hipótese surge no pensamento alemão (FRIEDRICH MÜLLER). A ideia é que tratando-
se de uma norma jurídica aplicada a um caso, ela deve ser interpretada, segundo a hermenêutica
jurídica tradicional, referindo-se a um texto (há referência ao teor textual). Quando se refere ao teor
textual, está-se a trabalhar sobre um quadro de normatividade e de realização do Direito que o caso
convoca, mas com apelo textual. O teor do texto é que define o quadro de possibilidades de
interpretação. Dentro da moldura é que se interpreta (Capítulo XVIII da Teoria Pura do Direito,
KELSEN). O caminho é visto enquanto método estruturante, tendo em vista a concretização da
norma.
A segunda hipótese tem como representante PERELMAN, e é uma perspetiva que desloca a
discussão do texto, forjada sobre o problema textual da norma e joga no campo da argumentação.
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A. CASTANHEIRA NEVES fala na normativa concretização do texto. Para isso é necessário olhar
sobre o caso, porque há naquilo que se forjou como um chamado senso comum teórico jurídico, há
uma ideia de que o Direito é o texto normativo e só assim se conhece aplicar a norma ao caso
concreto.
Uma coisa é o texto outra é o caso. No positivismo, havia grande identificação com o texto.
Como é que o Direito nos engana? Enquanto o computador não for dotado da capacidade de
compreensão, a máquina não vai decidir pelo ser humano. O engano do engano: o Direito me
enganou. Quando nos descobrimos licenciados no Direito, nós descobrimo-nos com a sensibilidade
de perder. Como é que o Direito nos tira a sensibilidade? Como? Como é que a vida me vai mostrar
que me tornei uma pessoa insensível?
Para A. CASTANHEIRA NEVES (mais inclinado para a segunda hipótese), a decisão jurídica é
o resultado de uma técnica judicativa que vai procurar razões ou fundamentos para um caso
concreto, em uma concreta dimensão histórico social de diálogo. A. CASTANHEIRA NEVES não se
inclina para a primeira ideia, que é aquela que joga com a ideia de um texto e a sua concretização,
mas sim com a ideia que joga com o pensamento metodológico que transcende a interpretação
textual, mas que nem por isso se fica apenas pela casuística. A razão é que o problema concreto vai
sempre convocar a normatividade que é pressuposta. A. CASTANHEIRA NEVES diz que esta
normatividade vai aparecer mediada pela norma. Assim, não é só texto e também não é só caso.
Mas todo o caso convoca uma dimensão normativa, está disponível num quadro que é o sistema,
que pode aparecer sobre a forma de critério ou de fundamento.
Implicações
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A crítica que A. CASTANHEIRA NEVES à tese de que quando a norma é clara não precisa
de ser interpretada.
De um ponto de vista linguístico, semântico e exegético, é muito complicado pensar isto, esta
tese cai. Esta tese vem com força reforçada com o movimento das codificações, graças à Escola
da Exegese (séc. XIX), onde não cabe a interpretação e simplesmente se aplica o texto.
A. CASTANHEIRA NEVES derruba esta tese. A crítica a esta tese feita por A. CASTANHEIRA
NEVES demonstra que esta é improvável a nível semântico e textual, mas também exegético.
Segundo A. CASTANHEIRA NEVES, este conflito dá-se pelo total domínio do Direito. Não se
pode pensar a interpretação como algo exclusivo do legislador. O poder legislativo interpreta de
modo vinculante as leis que ele prescreve, mas não pode haver uma proibição, por parte da
instância legislativa, que as outras instâncias, como a instância judicial, interpretem.
Contudo, do ponto de vista histórico, isso já aconteceu (na Revolução Francesa). Há proibição
de interpretar (juiz como boca da lei). Se formos à história, isto aconteceu desde JUSTINIANO
até à Revolução Francesa. A instância legislativa pode, em certa medida, obstar o processo
hermenêutico que envolve o aplicador do direito determinar o sentido da norma, de maneira que
o intérprete não consiga adaptar o texto à realidade concreta.
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Para KELSEN, na Teoria Pura do Direito, ele entende que a interpretação autêntica é aquela
que é realizada pelos órgãos jurisdicionais. Ele também refere uma interpretação não autêntica.
No entanto, vários trabalhos doutrinários já serviram de base a decisões judiciais.
A índole jurisdicional e a índole doutrinal são diferentes, e não é por uma ser prática
(jurisdicional, pois o juiz aplica) e a outra ser mais teórica (doutrinária, porque o doutrinador está
a refletir sobre bases teóricas complexas). Segundo A. CASTANHEIRA NEVES, as duas são
práticas do ponto de vista problemático-jurídico. Do ponto de vista do problema, a índole
jurisdicional e a índole doutrinal são ambas práticas.
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Ora, BAPTISTA MACHADO refere que os problemas surgem dado que a expressão verbal pode
ter traído o legislador. O legislador tem que pensar em todos os problemas do mundo da vida, tem
que traduzir isso num texto normativo e naturalmente os problemas vão surgindo à medida em que
o texto pode carregar mais um sentido. A lei é um instrumento de prática, conformação e ordenação
da vida em sociedade; é um texto normativo que se dirige a uma generalidade de indivíduos. Por
esse motivo, a lei vale para um sem número de casos, isto é, a lei comporta uma série de situações
possíveis.
A interpretação é a operação da qual o intérprete vai fixar o sentido e o alcance normativo que o
texto deve valor – fixação do sentido (BAPTISTA MACHADO). Nestes termos, a fixação do sentido
advém do facto de existirem vários sentidos possíveis e, como tal, temos que escolher sempre um
sentido. Entre todos os sentidos possíveis do texto precisamos de escolher um sentido. Para além
disso, quais serão os critérios utilizados para a fixação desse sentido. Por seu turno, o intérprete vai
ter de extrair ou fixar um sentido que seja válido para todas as pessoas e para todos os casos em
situações idênticas.
Assim, o intérprete tem como função fixar um sentido que seja decisivo da lei e que garanta o
mínimo de uniformidade nas soluções que são estabelecidas. O trabalho do intérprete consiste,
portanto, na procura de um mínimo de critérios para a uniformização das soluções jurídicas que
serão apresentadas. A razão da procura de critérios visa resguardar as espectativas da comunidade,
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transmitir segurança e certeza e, acima de tudo, evitar a arbitrariedade, o solipsismo (evitar que o
sujeito tome a decisão com base na consciência) e o casuísmo no processo de tomada da decisão.
De entre os sentidos possíveis do texto há que eleger um, mas não um qualquer de entre os
sentidos possíveis. Sendo a lei um instrumento de prática conformação e ordenação da vida social,
dirigida a uma generalidade de pessoas e a uma série indefinida de casos, deve procurar extrair-se
dela um sentido que valha para todas as pessoas e para todos os casos. Deve, pois, fixar-se um
sentido decisivo da lei que garanta um mínimo de uniformidade de soluções. Para esse efeito julga-
se indispensável fixar um conjunto de diretivas ou critérios que devem orientar a atividade do
intérprete, por forma a evitar o casuísmo e o arbítrio de cada julgador, incompatíveis com as
necessidades da vida social, incompatíveis, designadamente, com a segurança jurídica. Esse
conjunto de diretivas ou cânones hermenêuticos constitui a chamada metodologia da interpretação
ou hermenêutica jurídica.
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§ Interpretação autêntica: realizada pelo próprio legislador. O órgão competente que cria uma
lei (por exemplo, a Assembleia da República) tem também competência para interpretar,
modificar, suspender ou revogar alguma norma (BAPTISTA MACHADO). Significa isto que,
uma vez promulgada certa lei e suscitadas dúvidas importantes acerca do seu exato sentido
ou alcance, o órgão que a editou tem competência para a interpretar através de uma nova
lei. Para se criar uma lei têm de se observar certos critérios, precisamente para atender ao
escalão (KELVIN) da hierarquia das normas (tem que se interpretar conforme esse escalão)
– processo de criação da lei. Assim sendo, a interpretação autêntica é uma manifestação da
competência legislativa, sendo que a força vinculativa se encontra no órgão que promulgou
a dita norma. As leis interpretativas são o seu produto (Artigo 13.º do Código Civil – “a lei
interpretativa integra-se na lei interpretada”), isto é, as leis que apenas se destinam a fixar o
sentido com que deve valer uma lei anterior. Uma vez que a sua promulgação não obedece
aos mesmos parâmetros que a lei normal, esta pode ser usada como pretexto de criação de
direito novo. Às leis interpretativas contrapõem-se as leis inovadoras.
Os cânones ou diretivas hermenêuticas são dirigidas ao aplicador, aquele que está a interpretar
o direito para o aplicar; não vinculam o órgão com competência legislativa: a interpretação (lei
interpretativa) fixada por tal órgão vale com a força inerente à nova manifestação de vontade do
legislador. Na interpretação doutrinal essa tem apenas a força ou poder de persuasão (não é
vinculante) que decorre da sua fidelidade aos cânones de uma metodologia jurídica correta, do seu
maior ou menor acerto na “descoberta” do direito. De acordo com BAPTISTA MACHADO, existem
regras do ponto de vista da doutrina da interpretação e da aplicação do direito que não podem ser
encontradas na doutrina, mas encontramos nas leis interpretativas.
Posto isto, o intérprete fica entre estes dois mundos: aquilo que a lei prescreve sobre a
interpretação que não é uma regra e aquilo que a doutrina coloca tradicionalmente.
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O quê que leva o legislador a esculpir no texto normativo certos “nortes” hermenêuticos?
Na teoria tradicional da interpretação jurídica debateram-se vários métodos, que apesar de terem
o mesmo ponto de partida, o texto da lei, têm diferentes objetivos – querela dos métodos (BAPTISTA
MACHADO):
De entre as várias aceções que o texto legal comporta, deve prevalecer aquela que
corresponda à vontade ou ao pensamento real do legislador, isto é, a vontade historicamente real
do legislador (HECK).
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Outro critério de distinção destas duas teses, tendo em conta o seu contexto histórico-social:
A teoria da alusão
Contra o argumento dos objetivistas de que não é possível determinar a vontade histórica do
legislador, por isso que este é em regra um órgão colegial e cada um dos seus membros pode ter
atribuído à fórmula um sentido diferente, responde-se, pelo lado dos subjetivistas, que tal
circunstância pode até facilitar a descoberta do sentido com que a lei foi querida e votada, dada a
existência de relatórios e atas onde ficam a constar os debates, os pareceres, os comentários, as
críticas, os projetos ou propostas alternativas, etc.
Em todo e qualquer caso, permaneceria válido o dever de obediência à vontade real do legislador
sempre que a sua descoberta fosse possível.
§ Subjetivismo extremo (não faz parte da interpretação jurídica): pretende descobrir a vontade
do legislador mesmo que esta se revele contra a letra da lei, isto é, a mens legislatoris é
determinante mesmo quando nos conduza para além do texto. A vontade do legislador
prevalece em detrimento do texto.
Associada a esta distinção está uma outra: a distinção entre historicismo e atualismo.
A questão agora em debate é a questão de saber se deve prevalecer a rigidez da lei (o caráter
sagrado do versículo do Código) ou o dinamismo e a fluidez da vida na sua evolução histórico-social,
ou seja, se o sentido das leis se mantém imutável (historicismo) ou, pelo contrário, deve esse mesmo
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sentido evoluir de acordo com o evoluir da vida, isto é, de acordo com as mudanças técnicas, as
necessidades e as conceções sociais (BAPTISTA MACHADO).
§ Historicismo
§ Atualismo
Subjetivismo atualista: extrai a solução que o legislador verteria no texto caso tivesse
contacto com a realidade presente;
Objetivismo atualista: retira o sentido que está objetivamente na lei, mas que é passível
de evoluir no decorrer do tempo. O sentido que da fórmula se extrai pode variar conforme
a evolução da vida e bem assim que as novas normas inseridas pelo legislador atual no
ordenamento jurídico podem introduzir neste um novo espírito capaz de se repercutir
sobre as normas anteriores, sobre o sentido que o intérprete atual deve extrair,
objetivamente, dessas fórmulas antigas.
As divergências entre as duas escolas reduzem-se a muito pouco: o intérprete, mesmo que adira
à corrente subjetivista, tem de partir do suposto que a lei emana de um legislador razoável; e, por
isso, terá de perguntar-se como um tal legislador teria pensado e querido a lei ao legislar no
condicionalismo do tempo da sua publicação, e no ambiente histórico em que foi sancionada a lei.
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11 de maio de 2021
A distinção entre interpretação dogmática e teleológica nem sempre é clara, porque se se pensar
numa interpretação dogmática no seio de uma dogmática hermenêutica, a distinção começa a ficar
nublada.
Se um autor diz que a hermenêutica é a dogmática, como é que fica a carga filosófica da qual
temos falado, por exemplo com A. CASTANHEIRA NEVES? Será que tudo se remete ao pensamento
dogmático? Pensar o direito do ponto de vista dogmático é reconhecer que o direito tem uma
finalidade prática, que a interpretação jurídica tem uma finalidade prática. E a finalidade da
interpretação jurídica é a de fazer com que se tenha o mínimo de controlo das consequências
possíveis da incidência das normas sobre os casos. A tentativa, do ponto de vista hermenêutico, do
ponto de vista da interpretação, é possibilitar um mínimo de controlo na aplicação das normas no
caso concreto, para que se tenha um mínimo de previsibilidade. Previsibilidade essa que já está
contida no texto da própria norma, mas que nos vai levar a uma zona cinzenta no momento da
aplicação da norma, porque não se pode partir da premissa de que a lei sendo clara não precisa de
interpretação. Esta tese já foi deitada por terra por A. CASTANHEIRA NEVES. O processo de
aplicação, do ponto de vista hermenêutico, é uma tarefa complexa.
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A doutrina tem um papel fundamental neste caso. Isto significa que está tudo previamente
estabelecido. O sentido já está posto pela norma e é necessário ativar esse sentido pela aplicação.
O processo de interpretação envolve uma ativação do sentido jurídico. Por isso é que a norma é
sempre o resultado da interpretação. Se não existir interpretação, não existe norma, existe texto. A
norma nasce, individualiza-se no processo hermenêutico de interpretação e aplicação da lei.
Essa complexidade discursiva que é colocada pelo intérprete, ele tem de reduzir a complexidade.
Reduzir a complexidade equivale a selecionar, a decidir. Sempre que se decide, reduz-se a
complexidade. A interpretação é selecionar as possibilidades de comunicação na complexidade
discursiva. Aí é que vem a ideia clássica que interpretar é fixar o sentido. Fixar o sentido é escolher
um sentido entre vários possíveis e, naturalmente, fixar por meio de uma decisão. Isto não é fácil e
pressupõe, segundo FERRAZ JR., uma contingência. Uma contingência significa que toda a
interpretação é sempre contingente, é duplamente contingente. Tem de se partir da premissa que
essa complexidade é muito mais elevada do que parece. Isto significa que sempre que se toma uma
decisão, só se toma essa decisão porque ela poderia ser diferente.
Como é que se controla o ato de interpretar? FERRAZ JR. afirma que se controla a interpretação
por meio de códigos. Os códigos são seletividades fortalecidas que todos os comunicadores têm
acesso. Assim, o código pode ser uma Convenção feita entre A e B. O código é uma forma de reduzir
a complexidade. Sempre que se tenta controlar a complexidade no processo hermenêutico
interpretativo, é necessário atender aos códigos ou convenções que as pessoas normalmente
estabelecem para que possam tomar a decisão, para que possam interpretar. Mas isto não é fácil,
porque para além destes códigos, há códigos sobre códigos. Ou seja, há convenções sobre algo
normativo. Por exemplo, há leis e há convenções sobre certos modos de aplicar essas leis. Aqui é
que está a dimensão dogmática hermenêutica.
A dogmática hermenêutica pressupõe uma complexidade reduzida por meio dos códigos que
permitem a seletividade fortalecida. Assim, os códigos são discursos que interpretamos. Geralmente
discursos sobre discursos.
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Numa simples conversa com alguém já se está a interpretar. Mas o jurista tem uma diferença: o
jurista tem mecanismos de controlo da interpretação, que é a seletividade fortalecida pelos códigos
que são discursos sobre discursos. Daí a ideia de que ao interpretar a norma o jurista elabora um
discurso normativo, uma interpretação sobre essa norma. Essa interpretação não pode destoar
daquilo que é convencionado pelo sistema, do ponto de vista dogmático.
O texto tem de ser interpretado. Existe também o princípio da inegabilidade dos pontos de
partida que mostra que ao interpretar e aplicar a lei, se pode ir de acordo com a lei e além da lei,
mas nunca se pode ir contra a lei. Isto significa que a norma é o ponto de partida inarredável de todo
o intérprete. Ao aplicar essa norma existe uma programação por trás, que coloca à disposição uma
certa metodologia de interpretação e aplicação do direito e isso pressupõe controlo. Significa que o
sistema controla o intérprete, ele não tem tanta liberdade quanta pensa ter.
PIERRE BOURDIEU fala de um poder de violência simbólica. Significa que o direito joga com
esse poder de violência simbólica a todo o momento. Ele está sempre a colocar forma de controlar
o processo de tomada de decisão. Esse controlo surge quando a doutrina prescreve os métodos de
interpretação do direito. Assim, as possibilidades que o sistema coloca já estão previamente
estabelecidas. O intérprete pensa que tem liberdade, mas o poder de violência simbólica tem a
característica e oculta essa liberdade.
Por exemplo, o professor dá quatro restaurantes de escolha para jantar. Pensamos que somos
livres para escolher, mas na verdade quem fez a escolha foi o professor no momento em que disse
que o universo de possibilidades que os alunos têm de escolha é este. Os alunos estão
condicionados pelas escolhas prévias que o professor fez.
Isto mostra que se age a partir da premissa que se é livre, mas na verdade está tudo pré-
estabelecido. Temos a impressão de que somos livres, mas a verdade é que estamos previamente
condicionados para tomar a decisão.
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Do ponto de vista hermenêutico da interpretação, a metodologia joga com uma série de tipos e
métodos de interpretação que já estão previamente estabelecidos e isso pressupõe controlo no
processo de tomada de decisão.
Isto vê-se reproduzindo desde SAVIGNY, quando ele falava na escola histórica dos métodos, ele
já falava das possibilidades de interpretação e aí surge a discussão sobre círculo hermenêutico,
sobre discussão linguística.
No processo de aplicação da lei, o intérprete tem de levar em consideração os fins que serviram
de base para a regulação. Não é fácil pensar na norma de um ponto de vista finalísticos, ou seja,
quais eram os objetivos que se buscavam com a criação daquela norma. Isto é a dimensão
teleológica da interpretação. Parte-se de uma premissa de que o legislador ao criar a norma se
orientou por determinados fins. Levou em consideração determinados fins. Mas mesmo que ele
considere todos os fins ao criar a norma, mas não teve condições de prever todas as possibilidades
de aplicação dessa norma, todas as consequências que decorrem dessa norma (SANTIAGO NINO).
Pelo facto de não ter condições de prever isso é que se utilizam os métodos teleológicos. Ou seja,
estes métodos levam-nos á possibilidade de atribuir, por meio destes métodos, um propósito, um fim
a estas normas.
FERRAZ JR. disse que quando se pensa nas normas costumeiras, não é possível encontrar o
fim dessas normas. Isto porque o longo uso de um costume leva as pessoas a desenvolverem um
sentimento de obrigatoriedade e detetar toda a rede de disciplinas que envolve esses
comportamentos que são desenvolvidos pela sociedade é muito difícil. A rede de práticas que se
instaurou é muito difícil de desvendar o porquê. FERRAZ JR. identificou algumas normas em que é
difícil encontrar o seu fim, sendo que as normas costumeiras são uma delas. Por sua vez, encontrar
a finalidade da Constituição é mais fácil. Vai-se ao trabalho preparatório que levou à criação da
Constituição que, cruzado com o contexto histórico, e tendo material escrito, facilita que se detete
uma intenção.
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Encontrando-se essas normas, encontra-se o fim. TELOS afirma que esse fim é sempre um fim
social. Nunca se pode atribuir a uma norma um fim que seja antissocial.
Muitas vezes, encontra-se o direito associado ao bem comum. O que é o bem comum? O bem
comum é um fim do direito ou um fim da vida social? É de ambos. Primeiro é da vida social e depois
é do direito. Será que o bem comum decorre de um pacto social e só depois é expressado pelo
direito?
Não se consegue desconectar o social do direito. O direito invoca o bem comum, é algo social
mas aparece no direito.
Assim, segundo TELOS, é um movimento interpretativo que vai partir das consequências
externas e sociais avaliadas nas normas que que vão retornar para o interior dos sistemas. Então, o
direito remete-se ao exterior para tomar uma decisão que aparece no interior do sistema. A
interpretação teleológica joga com esta dialética interior e exterior. O intérprete, para configurar
sentido normativo, ativa os valores e os fins sociais que o direito visa.
Ainda quando se realiza uma interpretação sistemática, o direito vai sempre visar um determinado
fim, os chamados fins sociais do direito e as exigências do bem comum. O intérprete ativa porque às
vezes a norma positiva silencia este aspeto. No silêncio da norma, o intérprete faz a norma falar o
que ela silenciou. O intérprete não precisa que a norma diga que visa o bem comum, porque ele
pode ativar esse sentido normativo que está inscrito na própria norma, a partir de um processo
hermenêutico.
O direito é uma linguagem, ele é expresso por meio de uma linguagem normativa. Mas todo e
qualquer intérprete se vai aperceber que a norma jurídica oscila entre dois aspetos: onomasiológico
e semasiológico
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O sentido semasiológico é a própria significação normativa. Quer dizer que o direito reveste de
normatividade um dado evento da vida. O direito vai revestir de um sentido normativo um
determinado evento da vida, que é tratado pelas pessoas por meio do aspeto onomasiológico.
Semasiológico é o sentido normativo.
No entanto, o legislador para tratar os problemas da vida utilizando vocábulos que ele tira da
linguagem quotidiana, pode ter dificuldades na formulação do texto numa norma. Naturalmente,
quando se fala na linguagem quotidiana, fala-se de uma linguagem que não tem essa pretensão
técnica-normativa, no sentido de levar ao intérprete um sentido que é o próprio dever-ser, um sentido
normativo. Ora, é aqui que reside o problema. FERRAZ JR. vai tratar estes dois aspetos.
Segundo TELOS, por vezes, estes aspetos podem coincidir, e outras vezes não coincidem.
Quando não coincidem há um problema: o sentido técnico, diferente do que os juristas pensaram
durante muito tempo, não é independente do sentido do aspeto onomasiológico. A dimensão
semasiológico do texto normativo não está desprendida da dimensão onomasiológico. Portanto, o
sentido técnico pode levar a alguma dificuldade, na medida em que ele se intercala com essa
dimensão que é o sentido comum, que é o sentido onomasiológico.
Segundo FERRAZ JR., o que existe é uma tensão entre estes dois aspetos, o onomasiológico e
o semasiológico, justamente porque o legislador tira da linguagem quotidiana vocábulos que são
usados nessa linguagem e tenta traduzir essa ideia de modo normativo.
Aqui é que está o papel principal da dogmática hermenêutica. A dogmática hermenêutica vai
determinar o sentido das normas (BAPTISTA MACHADO). Mas no fim a tarefa é uma só: o
entendimento do significado do texto normativo. Tentar detetar no texto qual era a intenção do
legislador, legislando daquele sentido. Assim, é um processo interpretativo pelo qual se vai
determinar o sentido de uma norma, visando entender o significado do texto, a intenção do texto,
com o objetivo final de decidir um conflito.
A dogmática hermenêutica tem uma finalidade prática. E, repare-se, quando se diz dogmática
hermenêutica, está a colocar-se tudo dentro. Toda a dimensão metodológica do problema aparece
na dogmática hermenêutica. Os métodos de interpretação, o sentido de interpretação, aparecem
sempre escrito no que se entende por dogmática hermenêutica.
Contudo, na vida quotidiana as pessoas também interpretam. Qual é a diferença entre um jurista,
na interpretação do texto, e um historiador? Esta distinção aparece em FERRAZ JR., o historiador
olha para o passado, um passado imóvel. Se ao se olhar para o passado se consegue ressignificar
o presente, então consegue-se modificar o futuro. A velha ideia de que quem não conhece a história
repete os erros. A palavra-chave que diferencia o historiador do jurista é a ligação. O intérprete do
direito ativa o sentido, ele observa, até como historiador, o movimento da criação normativa, o
contexto, mas ele tem um propósito: não é só entender o texto. O historiador olha para o texto
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procurando uma compreensão. O jurista tem uma finalidade prática, que é determinar a força e o
alcance do sentido do texto na aplicação. O historiador descreve os factos. Os dois olham para o
passado, mas enquanto o historiador olha para o passado e descreve-o, imobilizando-o, o jurista
olha para o futuro visando uma produção da diferença. O jurista tenta, por meio da aplicação, ativar
o sentido do texto.
O justo dogmático não está preocupado com a indagação, mas sim com a aplicação, que tem o
objetivo de decidir os conflitos. Assim, a norma é uma direção que visa a decidibilidade dos conflitos.
Essa complexidade é reduzida de duas formas: no caso do historiador, é mais descritiva, porque
está mais restrita á descrição dos factos, mas também se tem de ter em conta o processo de
indagação.
Por sua vez, no elemento lógico há uma tripartição em que há três derivações:
O elemento gramatical é a letra da lei. A letra é o princípio (é por ela que começamos a
interpretação), mas também o limite (sendo que o resultado tem de ter sempre algo a ver com a letra)
e o reforço (do resultado que seja obtido).
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O sentido das palavras estabelece-se com base no uso linguístico, o qual pode ser diverso
conforme os lugares e os vários círculos profissionais. Normalmente as palavras devem entender-
se no seu sentido usual comum, salvo se da conexão do discurso ou da matéria tratada derivar um
significado especial técnico.
Pode existir, finalmente, um uso linguístico individual do próprio legislador: na verdade, pode
suceder que o legislador empregue certas fórmulas e maneiras de dizer com um valor especial,
diverso do ordinário e do jurídico. Em tal caso prevalece este significado individual.
O elemento gramatical e o elemento lógico, em regra, são aplicados de modo conjunto. Eles
devem ser sempre utilizados conjuntamente. A doutrina coloca esta ideia muito bem.
Para BAPTISTA MACHADO, o elemento gramatical tem duas funções: uma função positiva e
uma função negativa. A premissa base é que o texto normativo vai ser sempre o ponto de partida da
interpretação. Dizer isto leva ao princípio da inegabilidade dos pontos de partida (premissa básica
no processo hermenêutico-interpretativo: parte-se sempre da lei, pode-se ir além da lei, mas nunca
contra a lei).
A função negativa aparece na medida em que há a eliminação de sentidos que não tenham
rescaldo no texto da lei. Esta função leva à conclusão que o apego ao texto acaba por prevalecer. O
texto acaba por prevalecer por força deste apego, em detrimento de outros argumentos que não são
o texto e que poderiam aparecer na interpretação e na aplicação do direito. Assim, a função negativa
significa eliminar todos os sentidos possíveis e fixar-se o texto normativo.
Na função positiva, se o texto comporta só um sentido, esse vai ser o sentido da norma. Fala-
se em função positiva na medida em que se entende que a norma comporta sempre mais do que um
significado. Se se diz que uma pessoa interpreta e aplica, outra pessoa interpreta e aplica e assim
por diante, chega-se à conclusão de que a norma é sempre o resultado de uma interpretação. Assim,
o que existe antes não é norma, por mais que se chame norma. O que existe antes é texto. A norma
só aparece como resultado de interpretação, que é sempre contingente e, por isso, pode ser sempre
diferente. A função positiva do texto aparece ao dar apoio a um dos sentidos possíveis naquela
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Segundo BAPTISTA MACHADO, quando não aparecem elementos que induzam o intérprete à
escolha do sentido imediato do texto, o intérprete deve optar pelo sentido que corresponde ao
significado natural e técnico-jurídico das expressões verbais.
Mas isto é o reconhecimento da tese estabelecida de que só haveria um único sentido literal
gramatical. Contudo, a interpretação do texto normativo demonstra que há a possibilidade de se
fixarem sentidos diferentes ao texto e é essa fixação do sentido que é interpreta. Interpretar o texto
é gerar uma norma.
Para isso há três pontos, segundo BAPTISTA MACHADO. Num primeiro momento, quando se
destaca os elementos históricos, observa-se a história evolutiva de um determinado instituto. Assim,
passa-se ao estudo da perceção de como uma determinada norma é fruto de uma evolução histórica
de um determinado regime jurídico. Aqui existe uma recomendação ao intérprete: ele deve servir-se
dos precedentes normativos, de todas as normas que vigoraram no passado e que antecederam a
disciplina nobre. Isto porque, comparando a norma do passado com a norma do presente, consegue-
se entender o motivo, o que levou o surgimento de uma norma. A própria história evolutiva de um
determinado instituto dá-se por comparação. É o levantamento das condições históricas que
evidencia a evolução de um instituto jurídico. Só se consegue analisar a evolução de um instituto
jurídico por meio de uma comparação, por meio de um levantamento das condições históricas.
Neste seguimento, surge a observância das fontes da lei. BAPTISTA MACHADO, quando refere
fontes da lei, ele refere-se aos textos normativos ou até mesmo os textos doutrinários. Tudo o que
inspirou o legislador a elaborar uma determinada lei. É o estudo das obras doutrinárias e das leis
(até de outros ordenamentos) que inspiram a criação de normas em solo nacional. Por exemplo, o
Código Civil português tem influências de outros códigos.
Assim, consegue-se olhar para o passado e fazer uma comparação entre códigos e
ordenamentos e detetar as fontes da lei.
Em terceiro lugar, há os trabalhos preparatórios, que são os estudos prévios que foram realizados
para que se elaborasse um determinado texto normativo. Trabalhos preparatórios são atas das
comissões, os projetos de leis. Assim, uma terceira característica do elemento histórico é a
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observância dos trabalhos preparatórios. A observância destes trabalhos remete para a dimensão
histórica. Observam-se os trabalhos preparatórios para se verificar quais foram os passos dados pelo
legislador, porque é que ele chegou a um determinado texto final. Para chegar àquele texto houve
uma evolução. A génese da lei pode ser entendida através destes trabalhos preparatórios.
O método sistemático vai ser sempre aplicável ao estabelecer uma dimensão de unidade do
sistema, quando remetemos uma lei ao contexto no qual está inserido.
De acordo com BAPTISTA MACHADO, os lugares paralelos são as outras dimensões do sistema
que nós acedemos quando pretendemos resolver um problema e não encontramos a resposta. A
vantagem de procurar nos lugares paralelos para o intérprete consiste em dar-nos uma resposta que,
por outra via, não conseguíamos obter. Para além disso, permitem-nos saber que, para determinadas
problemáticas jurídicas, nós encontramos regulações que são em muitos aspetos idênticas. Essa
identidade que BAPTISTA MACHADO vai colocar não é ocasional, na medida em que nós partimos
da premissa (SANTIAGO NINO) que é dada pela completude do sistema. O legislador vai partir
naturalmente/vai estabelecer certas disposições que não vão colidir. Para todos os efeitos o sistema
é retratado como um todo hormónico. À medida em que conseguimos observar essa harmonia
percebemos que, do ponto de vista das disposições normativas, existem situações idênticas. Tal
demonstra uma certa harmonia, que é realizada pela atividade legislativa e o acesso a esses lugares
favorece o intérprete.
O elemento racional ou teleológico consiste na razão de ser da norma (ratio legis), no fim
visado pelo legislador ao editar a norma, nas soluções que tem em vista e que pretende realizar
(BAPTISTA MACHADO). O elemento racional ou teleológico evidencia-se através de uma série
de outras dimensões, muitas vezes exteriores ao sistema, nomeadamente as dimensões sociais,
políticas, morais, ideológicas, económicas, etc. Isto leva-nos à dimensão legislativa, isto é, occasio
legis. Assim sendo, aqui falamos de uma dimensão importante do ponto de vista hermenêutico, do
ponto de vista da interpretação.
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O intérprete tem a tarefa de compreender o quê que o legislador pensava ao pôr a norma, isto é,
descobrir qual é a racionalidade do legislador, tendo em conta todas essas circunstâncias. De acordo
com BAPTISTA MACHADO, é necessário compreender esse contexto como um ponto de apoio
necessário no processo de interpretação e aplicação da norma, para que possamos detetar qual é o
verdadeiro alcance da norma. O alcance da norma diz respeito diretamente a essa capacidade do
intérprete de situá-la num determinado contexto (social, político, económico, etc.) – dimensão
teleológica. KARL LARENZ refere que apenas no momento que supomos que há uma certa intenção
por parte do legislador, é que conseguiremos chegar à melhor interpretação, ao resultado, à solução
adequada para o caso concreto.
1) Estruturas do âmbito material: dados factuais que o legislador não consegue alterar, mas
leva-os em consideração os factos que a vida lhe apresenta e a partir daí ele vai legislar; são
o ponto de partida para legislar;
2) Princípios ético-jurídicos: são mais fáceis de encontrar, uma vez que estão geralmente
estabelecidos na lei (princípios do ponto de vista do ordenamento).
KARL LARENZ fala destes dois grupos de critérios de interpretação teleológica-objetiva, dado
que, na verdade, eles transcendem a figura do legislador, na medida em que não dependem da
consciência do legislador. São grupos importantes para a regulação normativa, para termos uma lei,
mas eles existem à parte da consciência do legislador.
Todos os critérios que KARL LARENZ colocou antes devem estar, em alguma medida, em
harmonia, em concordância, sendo que devem orientar a interpretação.
No que diz respeito aos princípios ético-jurídicos, estes realçam a interpretação conforme à
Constituição, nomeadamente no princípio da dignidade da pessoa humana, no princípio da igualdade
na ideia de Estado. Estes princípios têm uma função muito importante, designadamente a
recondução de toda a interpretação. Segundo KARL LARENZ existem várias interpretações
possíveis segundo critérios já observados, mas de todas as interpretações possíveis vai prevalecer
sempre a interpretação que for conforme a Constituição.
Contudo, se de repente o legislador tiver positivado um efeito que é mais amplo do que aquele
que está previsto na Constituição, por via da interpretação reconduzimos ao efeito amplo,
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delimitamos e dirigimos os efeitos da legislação para a Constituição. De acordo com KARL LARENZ,
a lei será interpretada restritivamente conforme a Constituição. Não se trata de uma mera
interpretação por parte do intérprete, mas antes uma redução teleológica, de modo a ser possível
desenvolver o direito conforme a Constituição. O movimento de recondução de uma norma dentro
do sistema para a Constituição significa realizar uma redução teleológica, para que essa norma se
desenvolva e seja, consequentemente, aplicada.
Assim sendo, a norma é o resultado de uma interpretação. Logo, por meio da redução teleológica
é possível reconduzir uma norma infraconstitucional em direção à base do sistema, para a
Constituição.
Com efeito, segundo KARL LARENZ, a redução teleológica traduz-se na situação de quando
uma “regra contida na lei” for concebida de modo muito amplo, segundo o seu sentido literal, ela
deve ser reconduzida e reduzida ao âmbito de aplicação que ele corresponde segundo o fim da
regulação ou a conexão de sentido da lei. Ou seja, reconduzir a norma conforme a Constituição é
restringir o sentido.
Por fim, quando nos referimos a interpretação conforme a Constituição não procuramos o sentido
e finalidade da regulação que estamos a interpretar de KARL LARENZ, mas o preceito que está em
conformidade com a Constituição, de modo a preservar ao máximo o texto que foi colocado pelo
legislador, sempre em conformidade com a funcionalidade do sistema.
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12 de maio de 2021
Segundo SANTIAGO NINO, nenhum legislador é capaz de prever todas as situações do mundo
vida. Isto é, o legislador não consegue antever todas as situações da vida social que mereçam ou
que venham a merecer tratamento normativo. Por sua vez, nas situações que envolvam a carência
de regulamentação jurídica/legislativa, o julgador deve decidir de acordo com os processos de
integração das leis.
O comando da lei só cobre o que da norma se deduz, isto é, não há espaço para inferências do
intérprete (BAPTISTA MACHADO). O intérprete pode ir buscar argumentos, realizar inferências
metodológicas que não sejam necessariamente fundadas nesses comandos normativos. Todavia,
esta liberdade não é assim tão grande.
Assim sendo, na Teoria Tradicional, existe uma fronteira entre a interpretação e a integração. Na
verdade, estes correspondem a dois momentos diferentes, sendo que a integração é uma
continuidade da interpretação. Esta distinção deve-se ao facto de o legislador não ser omnisciente
nem omnipresente, logo ele não conseguirá prever todas as relações jurídicas que possam surgir, e
de não se sentir habilitado a tecer uma legislação única, deixando alguns conceitos por definir,
doando, assim, uma maior esfera de criação de direito por parte do julgador – domínio de aplicação
praeter legem (para lá da lei).
A indagação do Direito praeter legem começa no extremo limite que vai separar a interpretação
extensiva da interpretação analógica da mesma norma (BAPTISTA MACHADO) – princípio da
inegabilidade dos pontos de partida. Isto significa que podemos ir a favor da lei, além da lei, mas
nunca contra a lei.
Em suma, a fronteira existente entre estes dois momentos é a interpretação extensiva. Tudo o
que vá para lá desta pertence ao âmbito da integração, pois supera o espírito da lei. A integração
era só adotada para a resolução das lacunas.
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Nos tempos hodiernos, a interpretação e a integração são tidas como duas fases do mesmo
processo – o da concretização do direito. De facto, estas diferentes opiniões sobre estes dois
momentos estão relacionadas com a própria conceção de lacuna e esta com a conceção de direito.
§ Interpretação extensiva: quando o intérprete chega à conclusão de que a letra do texto fica
aquém do espírito da lei, que a fórmula verbal adotada peca por defeito, pois diz menos do
que aquilo que se pretendia dizer. Alarga ou estende então o texto, dando-lhe um alcance
conforme ao pensamento legislativo, isto é, fazendo corresponder a letra da lei ao espírito da
lei. Não se tratará de uma lacuna da lei, porque os casos não diretamente abrangidos pela
letra são indubitavelmente abrangidos pelo espírito da lei (BAPTISTA MACHADO). Portanto,
quando falamos de interpretação extensiva, esta envolve um movimento de casos não
previstos no texto normativo, mas estão compreendidos no espírito da lei. Quando falamos
de interpretação extensiva, a aplicação da norma dá-se a casos que não estão previstos, não
obstante estarem compreendidos no espírito da norma;
O direito opera a partir de um código binário, sendo que por meio desse código o Direito faz uma
filtragem de toda a informação do ambiente (LUHMANN), o que significa que aquilo que entra no
sistema começa a fazer parte do sistema enquanto comunicação. O direito regula, desta forma,
certos eventos da vida, embora haja determinadas coisas que não importam para o sistema e,
consequentemente, não são reguladas (por exemplo, criminalizar o adultério). O sistema faz a
filtragem entre aquilo que são as informações internas e externas do sistema denomina-se de
autopoiese. Ao nível das operações o Direito é fechado, mas interage com o ambiente, embora
sempre a partir de uma leitura própria do sistema. Todo o sentido que o sistema jurídico produz é a
nível interno, não se deixando corromper pelo ambiente (por exemplo, beliscão). Conforme a teoria
da autopoiese, o Direito autoproduz-se.
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Outro ponto salientado por BAPTISTA MACHADO traduz-se na proibição da decisão de non
liquet (obrigação de julgar). Diante do silêncio da lei, o juiz não pode isentar-se de julgar – Artigo 8.º
do Código Civil. Assim, o juiz tem de fornecer uma resposta, tem de decidir. No entanto, pode
isentar-se de analisar uma questão se esta não pertence ao sistema, isto é, se esta extrapola o
campo jurídico do sistema. Por exemplo, não valora provas espirituais, é algo que extrapola o direito
– movimento discricionário do juiz (no direito brasileiro, um juiz apreciou uma prova que era uma
carta de um médico recebendo um espírito de um homem que faleceu, sendo que o juiz valorou a
mesma/considerou a prova para o processo; no Brasil há um religiosidade/espiritualidade muito
grande; BOLSONARO quer eleger como cabeça do Supremo Tribunal de Justiça do Brasil um pastor
profundamente evangélico).
Com efeito, no Código Civil português está previsto o princípio/regra do non liquet, embora haja
uma exceção: caso transcenda a esfera, saia do sistema e alcance o ambiente, o juiz pode recusar-
se a julgar – não vai produzir um sentido para algo que, de facto, extrapola a esfera do sistema. Não
produz decisão de facto, pois não entra no sistema.
No séc. XIX, desejava-se que o direito fosse um plano fechado e autossuficiente, que tivesse
soluções para todos os casos prático-jurídicos que adviessem. Desta forma, a lacuna era
tradicionalmente vista como uma falha, uma imperfeição contrária ao plano regulativo da lei/da ordem
jurídica.
A ideia de lacuna demonstra que o direito trabalha com uma série de ficções, sendo que a lacuna
é um dos problemas do sistema, nomeadamente a completude do sistema (BOBBIO).
A ideia de completude traduz-se no facto de que o ordenamento jurídico tem sempre uma norma
para regular todo e qualquer caso. Assim sendo, quando falta uma norma, temos uma lacuna. O
ordenamento é completo quando o juiz pode encontrar nele uma norma para regular todo o caso que
se apresenta perante o próprio (BOBBIO). Caso o juiz consiga encontrar a tal norma, dizemos que o
ordenamento jurídico é completo. Do ponto de vista interno do sistema, não haveria um caso que
não estivesse contemplado na norma. Um ordenamento é completo quando jamais se verifica o caso
de que a ele não se podem demonstrar pertencentes nem uma certa norma, nem a norma
contraditória (BOBBIO). Ou seja, a incompletude consiste no facto de que o sistema não vai
compreender nem norma que proíbe determinado comportamento, nem aquela norma que permite
esse mesmo comportamento.
Posto isto, a lacuna é sempre uma incompletude, uma falta ou falha. Tratando-se de uma lacuna
jurídica, consiste numa incompletude contrária ao plano do Direito vigente, determinada segundo
critérios eliciáveis da ordem jurídica global. Existirá uma lacuna quando a lei (dentro dos limites de
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uma interpretação ainda possível) e o direito consuetudinário não contêm uma regulamentação
exigida ou postulada pela ordem jurídica global, isto é, não contêm a resposta a uma questão jurídica.
§ Lacunas da lei: no plano das próprias normas podem verificar-se lacunas quando uma norma
legal não pode ser aplicada sem que acresça uma nova determinação que a lei não contém.
Assim, poderá sucede, por exemplo, se a lei mandar constituir um órgão por eleição, mas
não diz quem elege ou qual é o processo eleitoral ou se manda adotar certos procedimentos
deixando por regular um dos seus trâmites, etc. As lacunas da lei designam-se, de acordo
com a doutrina, de lacunas “próprias”. Por seu turno, BAPTISTA MACHADO designa as
lacunas da lei como “lacunas ao nível das normas”. Tratam-se de lacunas que aparecem em
situações muito particulares, nomeadamente quando há contradições normativas. Tais
contradições só podem verificar-se entre normas da mesma hierarquia que entrem em vigor
na mesma data. Podem ser:
Contradições lógicas;
Contradições teleológicas;
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A mais importante das categorias das lacunas da lei são as lacunas teleológicas:
lacunas de segundo nível, que determinam o objetivo visado pelo legislador, ou seja, em face
da ratio legis de uma norma ou da teleologia imanente a um complexo normativo. A analogia
serve aqui tanto para determinar a existência de uma lacuna como para o preenchimento da
mesma.
Nesta categoria de lacunas podemos ainda distinguir entre lacunas patentes e lacunas
ocultas (doutrina alemã). As lacunas patentes verificam-se sempre que a lei não contém
qualquer regra que seja aplicável a certo caso ou grupo de casos, se bem que a mesma lei,
segundo a sua própria teleologia imanente e a ser coerente consigo própria, deverá conter
tal regulamentação.
Por sua vez, as lacunas ocultas ou lacunas latentes verificam-se quando a lei contém
uma regra aplicável a certa categoria de casos, mas de modo que se observarmos o próprio
sentido e finalidade da lei, se verifica que essa categoria de casos abrange uma subcategoria
cuja particularidade ou especialidade, valorativamente relevante, não foi considerada. A
lacuna traduzir-se-ia aqui na ausência de uma disposição excecional ou de uma disposição
especial para essa subcategoria de casos.
§ Lacunas do Direito: toda a ordem jurídica assenta num transfundo de princípios ordenadores
ou decisões fundamentantes e se legitima pela referência (expressa ou implícita) a valores
jurídicos fundamentais que lhe conferem a unidade e coerência de um “sistema intrínseco”
do qual são eliciáveis critérios orientadores que tornam possível a adaptação do ordenamento
a novos problemas e situações. O Direito só dos valores culturais pode retirar a sua
legitimação. Neste terceiro nível, somos remetidos para critérios de valoração extralegais,
mas nem por isso extrajurídicos.
Nos termos do Artigo 10.º, n.º 1, do Código Civil, o julgador deverá aplicar por analogia aos
casos omissos as normas diretamente contemplem casos análogos. Só na hipótese de não encontrar
no sistema uma norma aplicável a casos análogos é que deverá proceder de acordo com o n.º 3 do
mesmo artigo.
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Dois casos dizem-se análogos quando neles se verifique um conflito de interesses paralelo,
isomorfo ou semelhante, de modo a que o critério valorativo adotado pelo legislador para compor
esse conflito de interesses num dos casos seja igual ou maioria da razão aplicável ao outro (Artigo
10.º, n.º 2, do Código Civil).
O recurso à analogia como primeiro meio de preenchimento das lacunas justifica-se por uma
razão de coerência normativa ou de justiça relativa (princípio de igualdade: casos semelhantes ou
conflitos de interesses semelhantes devem ter um tratamento semelhante), a que acresce ainda uma
razão de certeza do direito. É muito mais fácil obter a uniformidade de julgados pelo recurso à
aplicação, com as devidas adaptações, da norma aplicável a casos análogos do que remetendo o
julgador para critérios de equidade ou para os princípios gerais do Direito.
Na falta de caso análogo, diz o Artigo 10.º, n.º 3, do Código Civil, a situação é resolvida segundo
a norma que o próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do espírito do sistema. A
expressão “espírito do sistema” refere-se à capacidade que o intérprete tem de criar uma norma a
partir dos princípios gerais de direito do sistema e princípios jurídicos. Assim, o intérprete serve-se
do recurso aos princípios gerais de direito do sistema e princípios jurídicos.
Na criação da norma ad hoc não existe uma recomendação expressa do legislador. O intérprete
vai ter de verificar no caso concreto qual a norma dentro do espírito do sistema, qual é a regra que
cabe integrar naquele caso omisso. Como tal, a norma ad hoc vale para aquele caso concreto, isto
é, não tem efeito vinculante, dado que é uma criação para aquele caso concreto e não para os casos
futuros.
O que o legislador pretende é que o julgador capte o problema jurídico no seu recorte específico,
isolando-o preventivamente das particularidades do caso concreto, para que ganhe altura e ascenda
a um horizonte visual capaz de lhe permitir não só ver o problema na sua especificidade, mas
também mediante a inserção no espírito do sistema da norma elaborada ad hoc, inserir igualmente
nesse espírito a solução do caso, através de um adequado entendimento daquela norma como
resposta àquele problema e através de uma concretização da mesma norma, em função das
particularidades da situação.
§ Analogia legis/particular: aplicação de uma norma particular a uma situação não prevista
pelo legislador;
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ordenamento jurídico português e é defendido pela teoria tradicional que afirma que a
integração não deve ser assumida como fonte de direito.
Hodiernamente, as lacunas não são falhas, mas parte integrante da própria natureza do direito.
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