Você está na página 1de 619

Sugar Daddy

Sugar Baby
Por
Danka Maia
Sugar Daddy, sugar baby.
Maia. Danka. 1º Edição.
Rio de Janeiro. 2018.
Copyright 2018 © Danka Maia
Todos os direitos reservados
Esta Obra está registrada: 1803096077647
Preparação de Originais: Danka Maia
Revisão: Suzete Frediani Ribeiro
Capa: Dan Rebouças
Cópia e Diagramação: Danka Maia
Nenhuma parte dessa publicação poderá ser reproduzida,
seja por meio eletrônico, mecânico, fotocópia ou qualquer
tipo sem prévia autorização por escrito da autora. Esta é
uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes,
lugares e acontecimentos é mera coincidência.
Sumário
Sugar Daddy
Sugar Baby
Por
Danka Maia
Sumário
Agradecimentos
T
Pr ó logo
u
Capítulo 1
Paredes cinza
Eudora
k
Capítulo 2
Um gole de veneno
Eudora
O
Capítulo 3
Sede dela
M á ximus
p
Capítulo 4
Minha Adultinha
v
Capítulo 5
Uma ótima profissional
M á ximus
P
Capítulo 6
Intensa
Eudora
g
Capítulo 7
Alguém como ela
M á ximus
g
Capítulo 8
Sugar Baby
Eudora
i
Capítulo 9
Se você pular eu pulo
Eudora
i
Capítulo 10
Cuida de mim
M á ximus
p
Capítulo 11
Prioridades
Eudora
E
Capítulo 12
Duas faces
Eudora
x
Capítulo 13
Senhor das Vontades
M á ximus
l
Capítulo 14
Senhor Solitário
Eudora
p
Capítulo 15
Sugar Daddy
Eudora
q
Capítulo 16
Homens
M á ximus
q
Capítulo 17
Rachadura
M á ximus
x
Capítulo 18
Ardilosa Eudora
M á ximus
z
Capítulo 19
A Deusa Tara
Brad
O
Capítulo 20
Possessão
Eudora
n
Capítulo 21
Um Leão
M á ximus
d
Capítulo 22
Uma Noite Alucinante
Eudora
p
Capítulo 23
Um Alvo Ambulante
Eudora
e
Capítulo 24
Meu inferno em vida
M á ximus
t
Capítulo 25
Sem Coragem
Eudora
m
Capítulo 26
Sem Chão
M á ximus
f
Capítulo 27
Nós somos fortes
M á ximus
l
Capítulo 28
Destino Traçado
Eudora
g
Capítulo 29
A Cela
M á ximus
d
Capítulo 30
Sem chão
Eudora
b
Capítulo 31
Uma dura realidade
M á ximus
w
Capítulo 32
A reviravolta
M á ximus
q
Capítulo 33
Revés da vida
M á ximus
i
Capítulo 34
Uma mulher de fibra
M á ximus
x
Capítulo 35
Revirando o Passado
M á ximus e Eudora
Eudora
Máximus
m
Capítulo 36
Sem Medo da Verdade
M á ximus e Eudora
d
Capítulo 37
Orgulho de você
M á ximus e Eudora
Eudora
Máximus
k
Capítulo 38
Um Leão no tribunal
M á ximus e Eudora
Máximus
Eudora
Máximus
p
Capítulo 39
A verdade tarda, mas não falha
M á ximus e Eudora
Eudora
Máximus
b
Epílogo
M á ximus e Eudora
Eudora
Eudora
Dias depois.
Passado seis meses.
Máximus
Eudora
Máximus
Fim
Danka Maia
Agradecimentos
Mais um trabalho feito com o resumo de muito
carinho, muita dedicação e com a ajuda de um time único.
Agradeço a Deus por mais um trabalho concluído em meio a
tempos de tempestade. Agradeço aos amigos, Dan
Rebouças, Suzete Frediani Ribeiro, Simone Trindade, Kerli
Monjardim, Andreane dos Santos, Mari Sales sempre com
suas dicas preciosas e gotas de carinho. Deus abençoe a
todos. Por fim agradeço a vocês, Ciganas da Danka, que
sempre encontram um meio de prestigiar meu trabalho.
Deus abençoe a todos.
Danka Maia
T
Pr ó logo
Esperei que Rita saísse da sala e só quando tive
certeza de sua saída do meu apartamento voltei meu olhar
para tela do notebook ali aberto na página do tal site.
Lembrando-me de tudo que tinha em jogo e decidi ir
adiante tocando sobre a seta para minha inscrição.
Você é homem ou mulher?
Digitando minha natureza feminina que fui
retorcendo a língua por dentro da boca de um lado para o
outro.
Você é uma Sugar Baby ou Sugar Mommy?
Respirei um pouco tentando compreender o tamanho
da encrenca que eu estava me metendo, mas sou do tipo
que vai e depois pergunta para Deus no que dará. Cliquei
em cima do nome Sugar Baby.
Seu interesse é:
( ) Homens
( ) Mulheres
( ) Ambos
Com toda certeza do mundo cliquei em homens. No
meio da prostituição clássica eu já havia estado com
mulheres, mas não é o meu lance, são apenas negócios e
nada mais. Diante daquela nova fase que eu não tinha a
menor ideia de como realmente as coisas se davam eu não
quis me arriscar sem necessidade.
Que tipo de estilo de vida procura?
Quais são os seus hábitos de consumo mensais?
() Não tenho um orçamento definido
() Até 1.000 USD por mês
() Até 3.000 USD por mês
() Até 5.000 USD por mês
() Até 10.000 USD por mês
() Mais de 10.000 USD por mês
Eu estava ali por um objetivo. Eu sei o que quero e
não costumo brincar quando o lance é grana. A minha
opção evidente era mais de dez mil dólares por mês. Então
chegou a vez das trivialidades. Do fale sobre si. Sua data de
aniversário, onde mora, altura, tipo de corpo, etnia. Eu
descrevi que desejava que me chamasse de Tara Larousse,
que eu tinha vinte e quatro anos de idade, que era
americana de origem nórdica, residente na Califórnia, que o
meu tipo de corpo era curvilíneo, morena, um metro e
setenta e cinco de altura. A coisa foi ficando mais
sofisticada do que eu imaginava. Para mim prostituição é
um lance de como cada um a enxerga. Em um nível ou em
outro em algum momento da vida todo mundo já se
prostituiu. A questão é que a hipocrisia humana chama de
favores o que eu chamo de negócios e que eu não tenho
medo de usar apenas o dinheiro e o meu corpo como
moeda de troca, no entanto ali, mesmo tendo frequentado
sites de prostitutas de luxo ou acompanhantes como
preferir, eu nunca tive aquela sensação a de não me sentir
prostituída.
Quase terminado... Capriche!
Qual é o seu nível de instrução?
Ensino Secundário

Faculdade Inacabada

Bacharelato
Licenciatura

Mestrado

Doutoramento

Preenchi com bacharelato. Eu sou formada em


jornalismo. Não posso negar que não trabalho com
entretenimento, só que é do tipo que eu gosto.
Encontra-se hoje num relacionamento?

Solteiro

Divorciado

Separado
Casado mas à procura

Relação aberta

Viúvo
Confesso que parei nessa parte flexionando meus
olhos para ter certeza do que eu lia.
Que porra é essa!
Devido a minha experiência se tem uma coisa que
você não pode misturar é cama e relacionamentos. Quanto
mais disponível melhor para as negociações e embora eu
não entendesse muito ainda desse lance de Sugar Baby eu
arrisquei a fazer como sempre fiz por isso marquei que era
disponível e solteira.
Tem filhos?
() Prefiro não dizer
() Não
()Sim
Como uma pergunta tão simples pode revolver uma
pessoa por dentro. Angustiada cliquei em “Prefiro não
dizer”, mas em seguida recordei sobre a regra da
disponibilidade, voltei atrás clicando em cima do ” Não”.
Mais trivialidades foram surgindo, dessa vez trivialidades
que não tinha lidado antes. Fuma? Às vezes. Bebe? Olhei
para a garrafa quase vazia de vinho ao meu lado e como
qualquer mortal menti diante daquela necessidade
respondendo: Em ocasiões sociais. Qual a sua profissão?
Gargalhei alto batendo palmas, tomando o último gole de
vinho na taça. O que pensariam se eu respondesse: Eu sou
puta. Mas puta mesmo. Fiz umas caretas me recompondo
joguei meu cabelo para trás e então digitei o que queriam
ler, que eu trabalhava com entretenimento.
Acrescente estes toques ao seu perfil!
Apresentação:
Se quiser saber mais de mim tem que me mimar
Sugar Daddy.
Sobre Mim
Eu sou independente. Custo muito caro. Adoro viajar.
Posso falar por horas ou ser a muda se você desejar. Adoro
joguinhos, iogurte, flor só se for tulipa negra, as outras são
banais demais para mim e se tem algo que você vai
descobrir quando estiver comigo papai é que eu não sou
nada normal.
Diga ao potencial Sugar Daddies um pouco sobre
você.
O que eu estou procurando?
Inclua marcações
Mais risadas. Não deveriam perguntar isso a uma
mulher como eu. Mas já que insistem...
Estilo de vida luxuoso, investidor, relação aberta,
discrição, dominação financeira, passaporte pronto, viagens
e férias.
Descreva o que você está procurando, seria
interessante explicar que tipo de relacionamento ou acordo
está interessado.
Eu quero acordos. Eu quero mimos. Acho que será
melhor de entender se você ler com atenção todos os
detalhes escritos aqui. Quero um Sugar Daddy a fim de
comprar o que eu quero que banque meu alto padrão de
vida. Eu falo quatro idiomas, sei falar sobre qualquer
assunto, sei me vestir como uma dama ou como uma
prostituta de esquina. Ando sempre cheirosa e muito
arrumada. Só uso roupas, sapatos e adereços de grife. E eu
sei reconhecer uma marca falsa por isso nem tente me
enganar. Posso ir onde você quiser, mas prefiro os locais de
luxo é claro. Sei me passar como a sua esposa,
namoradinha perfeita e até mesmo como sua filha se
precisar. Eu posso vender a sua marca ou até mesmo a sua
pessoa. Eu sou boa nisso, logo represento um bom
investimento para os seus negócios. É claro que se você for
o tipo de Sugar Daddy que eu imagine que seja, sabe o
quanto o poder de uma mulher inteligente define uma boa
negociação não importa onde ela se dê, pode ser no
restaurante The Ivy, num dos andares da torre do Burj
Khalifa em Dubai ou numa charmosa cama onde nós três
estejamos nos divertindo bastante. Eu gosto de mimos e
você de mimar. Pense em mim. Você pode estar diante de
uma garota perfeita e o melhor é que a história não é como
a mamãe te contou. Aqui todo mundo se diverte e ninguém
tem que seguir os felizes para sempre.
Saltinhos de beijos.
Tara Larousse.
E a grande surpresa surgiu diante da minha tela em
tom de pergunta.
Seu leilão começa agora, quanto é o seu lance
mínimo senhorita Tara Larousse? Quanto você vale?
Coloquei meu dedo anelar sobre meus lábios, ainda
encontrava-me maravilhada confesso. Um leilão é sem
dúvidas algo pela qual eu não me imaginei participando,
ainda mais sendo a peça a ser arrematada. Mas como já
falei antes, eu não costumo brincar quando o assunto é
grana. Eu conheço meu potencial. Eu sei o que posso
oferecer a qualquer tipo de homem. Essa era sem dúvida a
melhor oportunidade da minha vida. Pensei em quinhentos
mil dólares. Supus que seria um valor imbatível. Que
homem paga esse valor para mimar uma garota sem
garantia de sexo? Mas sou abusada e não me fiz de rogada.
Quinhentos mil dólares. Aceito qualquer acordo.
u
Capítulo 1
Paredes cinza
Eudora
Em meus passos morosos e acorrentados pelas
algemas eu descubro que o cinza estampado nas paredes
dos corredores por onde sou conduzida se tornou lindo.
Penso em como posso transformar o negro dentro de mim
na tal cor. Percebo que não há mistura suficiente dentro do
meu ser capaz desta proeza, todas as minhas forças foram
sugadas. As duas guardas me acompanham com suas
palavras de ordem por onde devo entrar ou sair. Elas
acreditam que são duronas, mas qualquer um com um
revólver na mão é um bicho feroz, sem ele é que rebola de
lado e até muda de voz. Faço o que me mandam porque não
tenho mais vontade de ser a rebelde. Eu estou destruída.
Outra porta se abre e outra policial surge a minha espera.
Ela ordena que eu entre na sala, abra os braços até onde a
algema permite assim também como as pernas. Eu
obedeço. Eu não farei juízo a minha fama lá fora aqui dentro
da prisão. Agora ela solta as algemas tanto das mãos
quanto dos pés e manda que eu tire o macacão bege que
uso todos os dias desde que cheguei aqui. Eu conheço
aquele olhar, nunca teremos essa conversa, mas sei que ela
prefere mulheres. Abusada puxa meu top uma vez que
sutiãs são proibidos aqui. Ela usa sua autoridade para
mostrar violência, mas não pode esconder a boca cheia de
desejo ao ver meus seios descobertos de mamilos de leve
rosados. Pela primeira vez ela percebe que eu compreendo
o seu olhar e tenta se recompor na sua posição mandando
que me vista outra vez sem descer minha calcinha como é a
regra de uma revista.
— Pode seguir para a sala de visitas prisioneira
00703. — é tudo que escuto dela.
Depois do macacão e outra vez com as algemas, um
botão é apertado por outra policial onde uma nova porta se
abre. Agradeço num tom sussurrante passando por ela
deixando que meus olhos observem na sala quem foi a boa
criatura que veio fazer a ação do dia em vir me visitar. Vejo
um homem na casa dos quarenta, cabelos um tanto
grisalhos de boa aparência acenando para mim. Sei que não
o conheço. Eu sou boa com feições e nomes e apesar de ter
passado nas mãos de centenas eu sei reconhecer alguém
que esteve comigo.
— Eu não conheço esse cara. — digo a policial num
disfarçado cochicho.
— Isso não é problema meu 00703. Vai. Se vira com
a tua visita.
Ergo um pouco as minhas sobrancelhas imaginando
o que eu não faria na cara dela se estivéssemos fora daqui.
Decido focar na mão ainda erguida indo até ela. O
cavalheiro é sorridente e insiste em ser simpático diante da
minha desconfiada antipatia quase crônica.
— Como vai senhorita Tyr? — agora a mesma mão
erguida é estendida para que eu a cumprimentasse. O que
não acontece — Ah... Meu nome é Gary Hartes. Sou seu
advogado.
— Eu não contratei advogado nenhum. — mantenho-
me ainda arredia.
— Eu sei. Por isso estou aqui para me apresentar.
— Quem mandou você aqui?
— Sente-se senhorita Tyr. Temos pouco tempo e
muito para conversar.
— Olha se você é algum advogado desses que ficam
nas portas de cadeias eu não tenho grana cara...
Sua mão agora acenou para a cadeira com um sinal
insistente.
— Peço só que me ouça por cinco minutos e se ainda
preferir não ter meus serviços prometo ir embora. —
julgando uma proposta razoável assentei-me na cadeira
com uma pequena mesa de ferro entre nós — Um amigo me
contratou para defendê-la em seu caso.
— Eu não tenho amigos tão benevolentes senhor
Hartes.
— A única coisa que ele pede é que sua identidade
não seja revelada. Seu caso é grave senhorita Tyr.
— Eudora.
— Sendo assim pode me chamar de Gary. Seu caso é
delicado Eudora. Se não tiver uma boa defesa pode até
pegar prisão perpétua e sem direito a revisão do caso.
— Eu sei. Algum defensor da cadeia andou
conversando comigo.
— Eles querem acusá-la de homicídio doloso e
qualificado dado o teor do relacionamento entre você e a
vítima. — sorrio com deboche — Do que ri?
— Eu não tinha um relacionamento com ele eu tinha
um contrato. Isso não é uma relação e sim um negócio.
— Os advogados de acusação são os melhores do
país. Tive acesso às provas dele arrolados ao caso. Eles têm
o vídeo. Eles têm comprovantes do que a vítima vinha
gastando com a senhorita.
— E o senhor será meu salvador da pátria suponho.
— Posso reverter isso para homicídio culposo, e com
sorte em omissão de socorro.
— No que está tentando me convencer Gary? Eu não
tenho chances contra essa gente.
— Eu sei que não. Mas tanto eu como seu amigo
acreditamos na sua inocência.
— O senhor? E o meu amigo? — aquilo me
impacientava cada vez mais.
— Por que não lutar Eudora? Você tem aceitado tudo
que estão fazendo contra você como se merecesse. Como
se acreditasse que faça jus a isso.
— Já acabou.
— O quê? — olhando para os lados.
— Seus cinco minutos senhor Hartes. — Ele retirou
de sua pasta de marca um papel em branco empurrando em
minha direção sobre a mesa e em seguida puxou uma
caneta de dentro do seu paletó.
— Sem a sua assinatura não posso dar sequência em
sua defesa. Seu julgamento já está marcado.
Olhando para as folhas mais de modo preciso onde
eu deveria assinar concordei com Gary em meus
pensamentos. Eu acreditava mesmo que merecia tudo
aquilo. Que era o meu castigo pela pessoa que fui à vida
toda. Por todos os corações que despedacei e as vidas que
arruinei. Isso incluiu quem eu amava e as que eu destruí só
pelo capricho de poder fazer isso.
— Se não assinar não terei outra chance. Eu não
poderei entrar aqui outra vez Eudora. Os leões irão te
devorar. Você estará abandonada a própria sorte.
Ergui-me da cadeira agradecendo-o com um olhar e
dei as costas para ele. Antes de entrar pela porta onde saí
voltei o olhar para o senhor Hartes com minha resposta
mais verdadeira:
— Eu sempre estive senhor Hartes.
k
Capítulo 2
Um gole de veneno
Eudora
Perdida entre aqueles corredores frios com uma
sensação estranha eu segui o homem a minha frente.
Pensei em não terminar aquela obrigação tão árdua, mas eu
devia aquilo a Susan, mesmo conhecendo-a há tão pouco
tempo.
Calada meus pensamentos gritavam qual seria o dia
em que alguém faria o mesmo por mim. Naquela etapa eu
acreditava que tudo se tratava de uma questão de tempo. O
homem parou diante de uma porta com aspecto bizarro
perguntando-me num tom ainda mais medonho se eu
queria usar o Mentol. Em seguida abriu um pequeno pote
passando em suas narinas e disse-me que eu deveria
reconsiderar minha decisão. Não seria nada bonito ou
perfumado o que eu me depararia logo depois. Acabei
aceitando a pasta transparente e agora dentro daquela sala
tão gelada e impessoal uma atmosfera pesada dominou
meu peito fazendo-o doer.
Uma inquietação subiu-me ao ponto de ser visível ao
homem que me indagou se eu estava bem. Acenei que sim
com a cabeça e mesmo com o produto sobre as ventanas
do meu nariz o cheiro fétido consumiu meu estomago quase
me fazendo chegar as vias de fato.
— Moça se achar que não precisa fazer isso não faça.
— Mas se for Susan ela não tem família. Não tem
ninguém. Eu devo isso a ela.
— Ela será enterrada mesmo como indigente. Você
disse que não sabe o nome verdadeiro dela.
— Não, não sei mesmo — com o dorso da mão
tapando meu nariz — Mas não acho justo que alguém
termine assim senhor, poderia ser eu. — concordando
comigo sacudiu a cabeça caminhando por vários números
das placas de aço até parar na frente da de numero vinte e
um.
— Tem certeza?
— Pode abrir. — reuni forças que não tinha.
Quando a porta do pequeno refrigerador foi aberta e
o corpo puxado como um pedaço de carne entendi que
aquele mundo não serviria mais para mim. Era ela, Susan.
Uma garota loira e linda na flor de seus vinte e um anos,
sim essa foi à ironia da vida, sua idade correspondia ao seu
número da gaveta no necrotério. Seu corpo encontrava-se
em avançado estado de decomposição. Foi descoberto por
dois meninos que brincavam num lixão. Mas era ela, a
menina cheia de sonhos que brigou com o pai porque ele
não quis pagar sua faculdade de História e por isso decidiu
ser uma prostituta de rua a fim de feri-lo, no entanto um
mês depois teve que lidar com o fato dele morrer de modo
trágico em um acidente de carro vindo para a capital para
resgatá-la das ruas e do vício nas drogas. Não sei o que me
doeu mais, se foi ver a fragilidade de nossa carne diante de
tanta vaidade que temos ou a morte dos sonhos daquela
garota que conheci apenas quatro meses antes.
— É ela? A sua colega, moça?
— É. — sussurrei petrificada com a imagem que
combatia com a última que tinha dela dançando zumba em
seu ponto na Sanset Boulevard. Vendo minha consternação
o funcionário fechou a porta da geladeira.
— Ela não tem mesmo ninguém?
— Não alguém que se interesse por ela. O pai morreu
alguns meses atrás assim que ela veio para cá.
— Vou anotar que a reconheceu como uma das
prostitutas da Sanset Boulevard e que era conhecida como
Susan. Mas o prazo já prescreveu, ela está aqui há duas
semanas. Pela manhã será enterrada na cova... —
levantando uma das folhas em sua mão — Vejamos aqui...
De número 2.469.
— Eu virei. A que horas será?
— Onze e meia da manhã.
— Trarei flores para ela.
— Como é seu nome mesmo senhorita?
— Tyr. Eudora Tyr.
Ao descer das escadas do necrotério deparei-me com
a minha realidade. Na esquina conforme o combinado por
telefone uma limousine preta me aguardava, eu deveria
seguir para mais uma festa de um riquinho de merda e
servir de diversão para as suas luxurias.
O motorista da limousine dizia coisas que se
perderam no tempo e espaço. Minha mente reagiu
conduzindo-me outra vez no pensamento em Susan e o seu
fim, depois para uma menina em seus cinco anos de idade,
ruiva de olhos expressivos correndo feliz de sua mãe num
parque qualquer, ao mesmo tempo em que o carro onde eu
me encontrava esperava o sinal verde para que aquela
viagem prosseguisse. Aquela cena me embeveceu os olhos,
fez o meu coração correr pelo universo, eu ainda desejava
experimentar aquela intuição que toda mãe diz arder em
seu peito para tentar adivinhar onde meu Denguinho se
encontrava. A dor tamanha e poderosa pisou como um salto
quinze agulhado sendo cravado no meio de minha mão
aberta no chão, atravessando como um prego imenso
fazendo com que todos os dedos do meu corpo se
quebrassem tamanho a minha amargura. Aflição de uma
mãe que não pôde amar sua filha, que não sabe quem ela
chama de mãe, que lhe conta histórias para dormir, que a
viu crescer e colhe todos os seus sorrisos e que conhece o
seu cheiro.
Mais uma vez me peguei com minha mão direita no
vidro de um veículo, vendo meu nervosismo fazendo a
marca de minha mão nascer e afastando os meus dedos vi
as lágrimas chicoteando minha face outra vez. Estavam
certas eu mereço mesmo cada murro que levo da vida
desde que a dei para adoção.
Entrei pela porta principal da imponente mansão me
deparando com toda encenação que já conheço. Era só
mais uma festa. Era só mais um lugar. Essa gente não pode
me enganar e eu sei que eles sabem disso. Eu vim fazer o
meu papel outra vez. Eu vim trazer discórdia onde há paz.
Aflição no lugar do sossego. Eu vim separar o que está
unido. Sei que isso pode parecer maldade e talvez seja
mesmo, eu não me importo com o que as pessoas pensam
sobre mim, contanto que eu saiba onde quero chegar isso
me basta. Depois que faço tudo isso alguns ainda imploram
para que eu fique, mas eu não quero. O meu intuito nunca é
ficar, o meu prazer é causar, é assim que me divirto.
Olhando para todos naquele lugar escuro sentada
nessa banqueta, bebendo mais um drink qualquer nesse
ambiente fechado a comoção me rodeia, os pensamentos
correndo e minha mente se lamentando e me enraivecendo
enquanto tapo meus ouvidos emocionais. Minhas mãos
tremem minha boca seca, estou pronta para me perder,
pronta para sair dessa vida e arrebentar esse lugar. Olho
para cada rosto e vejo um vazio que reconheço, mas, para
minha infelicidade o que há dentro de mim é ainda muito
maior. As pessoas sabem fingir, algumas com maestria e
outras com sumária hipocrisia, mas todas de algum jeito
sabem enganar.
— Eudora, eu quero te apresentar um amigão de
longa data. Esse é Máxímus Spartacus.
— Ah... — sorrio para tentar me recompor — Oi. Tudo
bem? — até aquele instante eu não tinha a menor ideia do
que aquele toque entre nossas mãos e roçar de sua pele na
minha causaria em nossas vidas, para mim ele era apenas
mais um.
— Tudo bem. Prazer em conhecê-la Eudora. James
fala muito em você.
Ele era um moreno de sobrancelhas espessas,
Máxilar largo, usava barba do tipo cuidada e com uma
peculiaridade natural, uma manchinha branca em cima da
covinha do queixo. Vestia-se de modo diferenciado dos
demais homens que se encontravam ali, era refinado, ar de
responsável para alguém de sua idade, mãos torneadas e o
olhar mais intenso que eu conheci. Era obvio que gostava
de se apresentar e que arrotava arrogância assim como eu,
a diferença era que em mim ela se manifestava por defesa
e nele uma explosão de charme. Cabelos castanhos claros,
olhos viris, jeito de predador, mas ficava claro que não tinha
noção de quem eu era. Um homem que me conhece por
mais prepotente que seja jamais me dá uma olhada assim.
Eu não preciso de sedução o meu negócio é grana.

— Eu e o James nos conhecemos de longa data.


— Bom vou deixá-los a sós. Juízo? Não! Não se pode
ter juízo perto de Eudora Tyr meu caro Máxímus.
Ver James desaparecendo entre as luzes daquela
festa de arromba em sua mansão na praia de Malibu me fez
reviver a sensação de que outra vez eu teria diversão
naquela noite, à questão era que eu não queria me divertir.
Negócios são negócios e o motivo que me levou até ali foi
negociar o que de melhor tenho, o meu corpo.
— O James às vezes sabe ser inconveniente não é
mesmo?
— Estou acostumada. — sussurrei percebendo que
ele não fazia ideia mesmo de quem eu era. A primeira
pergunta para mim é se estou disponível ou quanto custo.
— Engraçado eu nunca ter ouvido falar de você
Eudora.
— É estranho confesso. — vendo que o seu olhar
percorria entre os meus olhos e minha boca. A maioria dos
homens com quem lido apenas veem meus seios e minha
bunda. — Mas já ouvi falar muito de você Máximus.
Advogado. Família do ramo automobilístico, donos da
Randor.
— Sou o presidente da principal empresa da minha
família.
— As mulheres falam muito sobre você.
— Espero que bem. — a cada segundo uma redoma
de vidro ia nos fechando naquele pequeno universo
paralelo.
— Isso depende de quem escuta. Eu sou do tipo que
não julgo porque não gosto de ser julgada. — o brilho dos
seus olhos através do vidro do copo de uísque começou a
me convidar.
— Mas pelo visto você sabe bastante sobre mim e eu
nada sobre você.
— Eu me formei em jornalismo — falei mexendo
meus cabelos sem muita paciência — mas nunca exerci.
Trabalho com entretenimento.
— Que tipo de entretenimento?
— Do tipo que eu gosto.
— Interessante. — minha leitura corporal era de
enxotá-lo, mas parece que sobre Máxímus minha intenção
surtia o efeito contrário.
— Ô Máxímus chega aí, vamos fazer uma festa aqui
na piscina cara! — alguém gritou.
— Não, mais tarde talvez. Agora... — olhando-me
daquele modo que toda mulher tola deseja ser olhada — eu
tenho algo mais importante para fazer.
— Você não deveria se prender por mim Máxímus.
— Por quê? — ainda mais perto dos meus lábios.
— Tenho certeza de que eu não sou o tipo de mulher
que você procura.
— Que música! Essa música... Adoro essa música. —
a voz rouca dele fez nascer uma coisa gostosa dentro de
mim.
— Olha se você quer dançar fica a vontade porque eu
não quero.
Ainda mais intrometido me fez sentir o cheiro de
canela de seus lábios de tão perto.
— Não eu não quero. O que eu quero... — com
passos curtos, encurralando-me contra a parede, rosnando
em meu ouvido — Eu quero é curtir esse momento com
você. Mas sou do tipo cavalheiro Eudora, eu não faço nada
com uma mulher que ela não queira, mas vou provocá-la
até que isso aconteça — apertando de leve seu corpo contra
o meu — Agora me fala o que você quer. E tudo se decide
aqui.
Dar para um homem de cara nunca foi um problema
para mim, mas dar para um homem de cara que deixa as
minhas pernas bambas, minha boceta molhada só de
escutar a voz e meu corpo pegando fogo só de olhar era
algo que até então eu ainda não tinha vivido e quando eu
não conheço algo eu tenho a tendência a fugir e isso não se
dá por ser uma pessoa fraca ou medrosa e sim pelos
fantasmas que vivem no sótão dos meus pensamentos e
aprisionam minha alma infeliz.
— Desculpe Máxímus — empurrando-o de leve sem
sair daqueles olhos de lobo — Mas hoje eu não estou à
venda.
— Você é sempre assim?
— Só com quem eu não estou a fim de perder tempo.
— Uau! Brava, impetuosa e topetuda. Adoro Eudora!
— Você não é do tipo que aceita um fora com
facilidade não é senhor Spartacus? — ainda nos encarando.
Um avaliava o outro. Eu sorri nessa brincadeira.
— Embora eu admita que você fique ainda mais linda
sendo tão abusada, sugiro que você diminua tudo, menos o
seu sorriso Eudora.
— Posso saber por quê?
— Porque o seu sorriso é da porra.
— Foi bom conhecê-lo. — ameacei me desvencilhar
dele.
— Se me deixar aqui plantado não vai ter volta. —
ele segurou meu pulso e por dentro eu vibrei.
— Ah é? Está vendo essa minha expressão? —
circulando meu rosto com o meu dedo indicador — Olha
minha cara de preocupada com você.
Olhei para a sua mão sobre o meu pulso em tom de
ordem. Ele devolveu com um riso muito sacana retirando
cada dedo com cuidado. Dei as costas para ele
questionando-me porque queria abrir as pernas para outro
playboy metido a besta. Eles são todos iguais.
Na pista me soltei esquecendo aquele momento por
um instante. Adoro dançar e é uma das coisas que faço com
maestria e amor além de sexo. A dança me faz pirar, pular,
soltar, é como se eu entrasse em outra dimensão. Meus
problemas se vão. Posso estar sozinha ou acompanhada,
não faz diferença eu sou de contínuo a melhor versão de
mim.
Jogando meus cabelos de um lado para o outro no
gingado do meu corpo com o ritmo da música sinto-me
observada. Essa é uma sensação que me perturba e em
tempo algum gosto. Procuro aquele olhar calado encostado
numa das pilastras da pista de dança e dou de cara com
ele. Máximus. Ele tem um jeito possessivo de quem sabe o
que quer e não abre mão por nada. O rei quer o rei tem.
Não vou negar que eu gosto disso num homem. Parei por
um segundo, eu não queria provocá-lo com as curvas do
meu corpo como costumo fazer numa situação como essa.
Então ele abandonou a coluna abrindo seu caminho por
entre aquela pequena multidão vindo em minha direção.
Aquilo me assustou muito e não gosto nada de me notar
desse modo, tão desarmada.
— Então, dê uma olhada para mim agora. —
murmurou em meu ouvido depois abrindo os braços — Sou
um espaço vazio e na minha mente... — colando seu rosto
no meu — não resta nada para me lembrar além da
lembrança do seu rosto Eudora Tyr.
— Meu rosto é tão marcante assim?
Seus dedos foram sem pressa chegando às maçãs da
minha face como quem toca pela primeira vez um chumaço
de algodão. Um arrepio louco cruzou meu corpo obrigando-
me a fechar os olhos e meus lábios se desmontaram diante
dele sem minha ordem.
— Seu rosto é feito sexo Eudora. Quando a gente
experimenta é impossível viver sem ele.
O roçar dos seus lábios nos meus foi brotando um
ardor entre nós. Quando a sua mão se apossou da minha
cintura indo até o centro das minhas costas e a outra
entremeou em meus cabelos pela minha nuca eu tentei
fazer algo, mas tudo que consegui foi me render ao gosto
adocicado de sua língua chupando a minha. Não me lembro
da última vez que alguém me beijou assim, acho que nunca,
sou puta por profissão, ainda que sendo uma puta de luxo
eu sei reconhecer um homem que tem pegada só de olhar
para ele e jamais me esqueceria de um que me tocou
daquele jeito, não pelos seus punhados de dólares e sim por
ser tão só a minha pele, a pele de Eudora.
— Olha para mim. — cochichou obrigando-me sair
daquele transe — Eu estou muito a fim de ficar com você
essa noite.
— Você nem sabe quem sou eu Máximus. — ali
naquele vai e vem onde nos mordiscávamos.
— Não percebeu ainda? — fungando o meu pescoço
— Se isso fosse importante para mim eu já teria descoberto.
— Eu preciso ir.
Afastei-me dele dando minhas costas sem
despedidas. Escutei sua voz me chamando inúmeras vezes.
Mas eu não queria um caso e muito menos sentimento.
Negócios e amor não andam de mãos dadas, um deles com
certeza seria sacrificado. Foi o que a experiência me
ensinou.
— Eudora! — outro frisson na pele ao sentir sua mão
imensa segurar meu antebraço — Espera. Do que você tem
tanto medo?
— Eu não tenho medo de nada Máximus. Apenas
conheço meu limite.
— Por que não passa dessa fronteira? — cada vez
mais entrando na minha alma como um exímio bisbilhoteiro.
— Não vamos nos enganar. Sabemos que eu sou só a
sua presa dessa noite. Eu passo a minha vez.
— Por que se subestima tanto?
— Não me subestimo eu só me preservo. Eu não vim
aqui para isso.
— Isso o quê? — outra vez ali rente a mim fazendo-
me conhecer sua respiração quente e certo volume se
formando em sua calça.
— Isso... Esse joguinho que você faz. — respondi
perdida naquele olhar envolvente.
— Então veio para que Eudora Tyr?
— Não te interessa. — ele sorriu não se intimidando
com minha resposta farpada.
— E você gosta do que eu faço?
— Eu preciso ir. — ensaiei passos.
— Eudora... — apenas ergui meus olhos para os dele.
— Fala o que é?
— O que é o quê?
— O que te impede de ficar comigo.
— Nada me impede.
— Tem algo tão único rolando aqui entre nós. Será
que sou apenas eu quem vejo isso?
Abaixei minha cabeça pondo-me a considerar minha
decisão. Eu me conheço e sei que não queria ir, mas era
uma necessidade e necessidades são assim, cada um tem a
sua.
— Olha estamos perto do cais da mansão. Que tal
irmos para o meu iate? Vim nele com uns amigos para a
festa. É um lugar mais calmo.
Naquele momento descobri que Máximus não era
bom em ler as entrelinhas. Com o vulcão que ele despertou
dentro de mim a última coisa que eu precisava era de
sossego.
— Posso pedir uma coisa?
— Qualquer coisa Eudora. — nossos corpos se
colaram de novo.
— Me tira daqui. Antes que eu mude de ideia.
Num ímpeto lindo ele me pegou no colo como os
príncipes que cresci lendo nos belos contos de fadas,
atravessamos o jardim comigo atracada a sua cintura
devorando nossas bocas com uma fome que não pode ser
saciada numa vida inteira, depois cruzamos pelas madeiras
do píer, riamos dos solavancos de nossos corpos até que me
deixasse sobre a cama daquele iate com a mesma doçura
que uma rosa é posta sobre a mão de quem se ama.
— Aqui está bom para você. — num pequeno beijo —
Se quiser busco a lua.
— Ainda não.
— Falta a lua?
— Falta o sol... Vem me iluminar Senhor Spartacus.
Tirei seu blazer com a ajuda dele e num arranco abri
os botões de sua camisa azul clarinho. De repente ele
jogou-me com tudo sobre a cama, abrindo minhas pernas
com posse, retirou cada sandália brincando entre a
voracidade de seu desejo e a experiência de um homem
que sabe o poder que o toque tem sobre uma mulher.
Colocou meu dedão do pé sobre sua boca chupando cada
um dos meus dedos enquanto colocava o dedo do meio de
sua mão direita em minha boca levando-me a chupar com
devoção a mesma medida em que com a minha outra perna
livre passei meu pé sobre aquele volume abissal formado
debaixo de sua calça. Quanto mais eu esfregava os meus
dedos do pé mais enorme ele ficava deixando minha boca
cheia de água. Máximus me despertava sentidos calados
como mulher. Como se ele pudesse destrancar uma porta
que há muito tempo eu selei jogando a chave fora. Eu vi
fogo nos seus olhos. Parecia um demônio pronto para me
possuir. Afundou-se sobre mim apalpando cada parte da
minha bunda e coxas. Havia nele uma vontade gritante de
conhecer cada curva do meu corpo, mas por desejo e com
sentimento. Colocou meus braços acima de minha cabeça
com uma mão e com a outra agarrou meu queixo
admirando os traços da minha face e só quando quis me
beijou e eu vi que não haveria nada a fazer se não fugir
dele. Não sair correndo, mas sair do jeito que eu sei que
fere, que machuca e que espanta um homem para longe de
mim.
— Quem é o cara que anda na varanda?
— Um dos seguranças. Não se preocupe ele não vai
nos atrapalhar. — afundando mais um pouco seus lábios em
minha língua chupando-a sem parar.
— Por que não o chama aqui?
— Quer que o mande para longe na sua frente? —
olhando-me como quem contempla um quadro raro.
— Chame-o. — meu tom foi de ordem eu sabia que
ele faria o que eu mandasse.
Vi que nele nasceu certa impaciência diante do meu
tom de voz, porém chamou o tal cara. Ele era como todo
segurança, forte, alto e com aquele jeito muito sério.
— Peter eu gostaria que você...
— Ficasse. — eu me adiantei enfim fazendo Máximus
compreender a minha real intenção.
Perdi as contas de quantas vezes eu havia passado
por uma noite a três. Mas aquela foi a primeira que preferi
um Menage a trois para evitar aquela sensação de
sentimento forte que vi brotando de modo tão intenso entre
eu e Máximus. Como disse antes eu sei o que fere, o que
machuca e como espanto um homem de mim. Os olhos do
senhor Spartacus demonstraram que eu consegui atingir o
meu alvo.
— Senhor Spartacus? — o segurança parecia ainda
não acreditar.
— Que ele fique conosco. — segredei com ardor no
ouvido dele. — Esse é o meu desejo senhor Spartacus.
Outra vez pude enxergar que sei administrar meu
veneno em doses como tantas vezes mamãe me acusou.
Aquele foi apenas um gole do meu veneno na vida de
Máximus Spartacus que se fosse mais atento
compreenderia que deveria parar ali.
Saí da cama com meus passos devassos até Peter.
Sorri para ele como a puta que sou. Depois o beijei como se
fosse minha tara. Logo ele se desarmou em meus braços.
Atrevida desci até o zíper da sua calça acarinhando o
volume de seu membro. A cada toque sempre olhando para
Máximus. Então abri sua braguilha levando minhas mãos
para o seu pênis. Não era nada fora da média, mas tinha
seu potencial. Chupei a cabeça sentindo a mão de Peter
invadir minha nuca puxando de leve meus cabelos,
enquanto me pus a sugar mais e mais. Pelo canto direito do
meu olho vi Máximus se levantar da cama indo para o bar
servir-se de alguma bebida, fosse o que fosse deveria ser
forte para detê-lo, uma vez que ele encheu o copo tomando
de uma vez só limpando a boca com o dorso da mão, tudo
sem retirar seus olhos de mim. Em seguida veio até onde
estávamos e impaciente colocou seu pau para fora. Era
imenso e cheio de veias, pegou minha mão pondo para
punhetá-lo. Troquei o pênis de Peter pelo dele. Surpreendi-
me com o tamanho e como cheirava bem, assim como a
boca, tinha o odor de especiarias. Peguei no saco com
profissionalidade e acho que isso o irritou ainda mais.
— Abra essa boca que eu quero meter ele todo até o
talo.
— Não se preocupe — respirei — eu adoro fazer uma
garganta profunda.
Concentrei-me em dar prazer aos dois naquele vai e
vem, mas Máximus queria-me tão só para si. Puxou-me pelo
braço virando-me para ele e me beijou forte. Peter não se
fez de rogado e enquanto isso beijou meu pescoço abrindo o
imenso fechecler do meu vestido e foi mordiscando por
minhas costas até esfregar seu rosto em minha bunda, o
que foi o bastante para correr para sua boca atracando-me
nele. Máximus nos olhava. Eu sabia que ele não estava
nada satisfeito com a ocasião. Agarrei o pau dos dois
puxando com carinho até a cama. Máximus me chamou até
ele que agora jazia sentado na cama, fui como uma
cadelinha adestrada parando em sua frente e ele me
apreciava desejoso, começou a acariciar minha cintura por
cima do espartilho, procurou o laço do mesmo começando a
desamarrar, quando terminou acariciou meus seios
beliscando meus mamilos com força e precisão, no final
fazendo minha boceta escorrer de tesão, sem eu perceber
Peter já estava atrás de mim roçando sua ereção na minha
bunda me excitando mais ainda, enquanto seu patrão
lambia meus seios ele ia descendo beijos em minha coluna
até chegar a minha calcinha mais uma vez, dessa vez
rasgou com violência do meu corpo, fazendo isso levou a
mão a minha frente e acariciou a minha boceta espalhando
minha excitação, Máximus deixou meus seios para tirar sua
roupa, ao mesmo tempo em que Peter permanecia focado
em mim, quando Máximus voltou, foi a vez de Peter tirar as
suas, Máximus aproveitou a oportunidade e me agarrou
com força roçando seu pau em mim, Peter terminou de tirar
a roupa e sentou na cama acariciando seu pau, ele nos
observava do jeito que eu conheço. Como um lobo quer a
presa quando paga por ela seja de que forma for. Tolos são
aqueles que acham que a prostituição não acontece entre
corpo e grana. Máximus parou de me beijar e me sentou na
cama, assim Peter não perdeu tempo e mordeu meu
pescoço lambendo-o todo e acariciando meu seio direito,
Máximus se ajustou do meu outro lado devorando o meu
outro seio começando a chupá-lo com calma, eu estava
pegando fogo por dentro com o que aqueles dois homens
faziam comigo.
Peter desceu os beijos para meu seio e começou a
lambê-los do mesmo modo e suas mãos desceram para
minha boceta enfiando dois de seus dedos me fodendo com
eles, eu aproveitei e comecei a masturbar meus dois
homens, eu estava louca para chupá-los mais um pouco e
sentir suas poderosas ereções em meus lábios gulosos,
quando Máximus parou de sugar meu seio para gemer um
pouco aproveitei para empurrá-lo na cama, Peter entendeu
o que eu faria e parou um pouco, fui engatinhando até
Máximus abocanhando aquele membro gigantesco pondo-
me a chupá-lo gostoso, Peter sem perder tempo veio por
trás metendo em mim, gemi com o pau do seu chefe na
boca, depois trocaram, o poderoso Máximus Spartacus me
comia, e eu chupando o seu segurança que como um insano
soluçava. Foi o bastante para que ele enrolasse meus
longos cabelos em suas mãos forçando todo o seu sexo
dentro de mim. Fodendo minha boceta sem piedade. Só
como um homem gostoso da porra sabe fazer. Agarrado a
minha cintura com eficácia foi metendo e eu sentindo o
orgasmo perto, no entanto eu não queria gozar naquele
instante. Eu não queria dar esse gostinho a Máximus.
— Eu quero meter só com o Peter agora chefinho. —
outra vez o vi puto comigo.
Peter ousado me aproximou para cima dele,
aproveitando para esfregar seu pau na entrada da minha
boceta enfiando devagar só para me torturar, quando
terminou de meter esperou uma reação de Máximus que
ainda com seu pau tão melado pelo tesão embora a
frustração de entender que eu não quis gozar com ele,
olhou-me com sua arrogância.
— Eu quero meter no cu dela.
Arrebitou meu rabo, gemi com intensidade, porque
me senti rasgada com a sua chegada ao meu cuzinho. O
prazer de ser preenchida por dois homens não era novidade
para mim. Mas sentir a impetuosidade de Máximus
Spartacus me dilacerando em sua ira foi de um prazer
inenarrável.
— Toma sua cadela, não é isso que você gosta?
— Muito, mete mais senhor Spartacus. Mostra o que
essa espada é capaz de fazer no meu rabo!
Começaram a se movimentar em plena sincronia me
fodendo como a puta que eu era, nós três gemíamos
alucinados, Peter se inclinou em cima de mim mordendo o
lóbulo da minha orelha e Máximus desceu uma de suas
mãos que me sustentavam em cima dele esfregando meu
gominho, um frisson prazeroso desceu pela minha espinha e
senti o gozo na porta, eu queria estender mais um
pouquinho nossa brincadeira mais era tudo tão gostoso e o
prazer era duplicado que eu não consegui me conter e gozei
como nunca havia gozado. Meu corpo tremia sem controle e
minha cabeça rodava um pouco, meus homens continuaram
a me comer com frenesi e Peter logo gozou na minha
boceta urrando um pouco, logo em seguida Máximos gozou
no meu rabo, mordendo o meu ombro com tesão, eu
continuava excitada com tudo aquilo, sentia minha boceta
ainda piscar de leve de prazer, eu queria mais daquilo, mas
teria que esperar. Máximus não parecia contente embora
tivesse se satisfeito. Ficamos os três só respirando e
olhando para o teto do iate ganhando fôlego. Em seguida
Peter percebendo o comportamento de Máximus vestiu sua
roupa assumindo seu posto de segurança do iate outra vez.
Enrolei-me no lençol levantando-me da cama a fim de
causar.
— Não tem champanhe nessa merda? Eu quero
brindar Máximus!
Ele fechou a porta da embarcação ainda nu, cruzou a
minha frente com passos irritados indo até o frigobar onde
abriu sem nenhum glamour o champanhe. Apanhou uma
taça servindo-me.
— Muito obrigada senhor. — falei de modo sarcástico.
Ele voltou à cama agora vestindo sua boxer preta e
em seguida a calça de corte fino. Como ele era lindo.
Esculpido a mão cuja forma foi jogada fora pelo divino.
Jocosa, andei pelo ambiente sem dar muita importância
para seus sentimentos tão aparentes.
— Esse iate com certeza mostra sua imponência
Máximus! Um dos mais caros e luxuosos que já entrei.
Confessa que o que você come de mulheres aqui montaria
um harém num estalar de dedos.
— Por que está fazendo isso Eudora? — já com a
calça posta, mas com a braguilha aberta.
— Isso o quê?
— Por que você se comporta dessa maneira tão
ríspida como se tivesse medo do mundo?
— Não faço ideia do que está falando senhor
presidente da Randor.
— Aceitei, mas não compreendi a razão de chamar o
Peter.
— Diversão oras. Não é isso que os homens gostam?
— bebendo de vez o champanhe e colocando a taça por ali
em algum lugar.
— Não sei com que tipo de homem você anda, mas
deveria levar em conta de que os homens não são todos
iguais.
— Poupe-me dessas frivolidades baratas senhor
Spartacus. Vai dizer que não gostou?
— A impressão que eu tenho é que você o chamou
apenas para não viver algo bom para caralho que estava
rolando entre a gente.
Abaixei a cabeça sem responder nada. Odeio ser
desmascarada o que não acontece com facilidade.
— Ah, vejam só! Você tem a capacidade de ficar
muda Eudora Tyr. — caminhando com aquela sua
imponência até a mim. — Isso me deixa ainda mais excitado
sabia? Poder desvendar você.
— Acho que é hora de ir Máximus. Nossa brincadeira
acaba aqui. — saí de sua frente apanhando meu vestido
caído sobre um sofá e o vestindo em seguida.
Para minha agonia ele nada pronunciou apenas me
observava. Aquilo ia me causando irritação e desconforto ao
mesmo tempo, era como se ele estivesse gritando que o
controle da situação era seu e eu detesto não estar no
controle. Depois de calçar minhas sandálias ajeitei meus
cabelos dando-me conta de que não achava a calcinha.
— Está procurando por isso? — ele a tirou do bolso
do seu paletó sobre a cadeira pendurando em um dos seus
dedos.
— Me dá minha calcinha! — com a mão aberta.
Caminhou sem pressa até a mim, cheirou a peça
como se dela dependesse.
— Porra me dá a minha calcinha Máximus!
Sobre a palma da minha mão colocou e depois com
sua mão imensa foi fechando cada dedo de minha mão sem
tirar seus olhos argutos dos meus.
— Acho que não adianta nem pedir o número do seu
telefone ou me oferecer para levá-la para casa. — sacudi a
cabeça que não mesmo — Meu motorista está lá fora. Peça
a ele que a leve para onde quer ir.
— Não preciso eu sei me virar.
— Para não deixar rastros não é mesmo?
— Minha intuição não falha Máximus, tinha certeza
de que era um homem inteligente. Tchau.
Embolando a calcinha entre meus seios caminhei até
a porta, arrebentada por dentro. Estranhando em cada
suspiro de minha respiração por qual razão eu não queria
sair dali e estava sendo tão agressiva com ele. Minha mão
estava prestes a abrir a maçaneta quando notei aquela
respiração em minha nuca e aquela voz rouca em meu
ouvido.
— Não vai. Fica aqui comigo. Eu quero tanto você. Só
você Eudora. Só nós dois.
Notei a saliva se fazendo em minha boca, meu corpo
tremendo, meu coração acelerando e quando dei por mim
eu já me encontrava frente a frente com ele.
— Você não sabe quem eu sou Máximus.
— Não me importo com isso.
— Nem mesmo depois de perceber que eu chamei o
seu segurança para dar para ele e para você?
— Cada um faz o que pode para se defender Eudora.
Invadi seus ombros e depois seus cabelos enquanto
comia com voracidade sua boca carnuda e tão suculenta
com hálito de canela a mesma medida em que suas mãos
me ergueram para seus quadris e outro bailar entre nossos
corpos nos levaram para o outro andar do iate onde ficava
outro quarto e uma nova cama.
— Nunca mais quero você longe de mim.
— Máximus...
— Não quero. Não aceito. Fica comigo Eudora.
Como falar não a um homem que te revira pelo
avesso? Como se entregar a esse homem com um passado
como o meu? Tudo isso se repetia em ecos dentro de minha
cabeça enquanto o admirava.
— Você não tem ninguém? — eu precisava ter
certeza de que ele seria só meu.
— Um namoro.
— É sério?
— Pensei que fosse até encontrar você essa noite
Eudora Tyr.
— Não divido o que é meu com ninguém.
— Eu também não. — ele foi incisivo na resposta.
— Tenho certeza que ela é do tipo que sua família
aprova para ser a esposinha perfeita para um cara do seu
tipo.
— Não costumo me sentir arrebatado pela minha
família como me sinto por você.
— Isso é química Máximus. Passa. A gente transa
para caralho e aí passa. Eu não me importo de saciar você.
— Eudora! — agarrando-me com mais força jogando
minhas costas na parede — Nem mesmo se eu te comesse
a vida inteira me sentiria satisfeito.
— Você é sempre tão galanteador assim?
— Não. Não sou. Eu nunca experimentei isso que
está rolando entre nós.
— Isso o quê Máximus? — já me derretendo nos
olhos dele.
— Amor à primeira vista. Fica comigo. Deixa-me
cuidar de você, te proteger e te fazer feliz.
— Quem disse que eu não sou feliz?
— Não, você não é. Você é como eu, uma folha seca
perdida no vento esperando para ver para onde ele leva.
— Para onde quer me levar Máximus?
— Você já está onde quero.
— Onde?
— Em meus braços. Minha. Só minha. — nossos
lábios dessa vez se encaixaram com doçura embora fosse
outro tipo da mesma intensidade — Mas não posso te
manter presa aqui embora esse seja o meu desejo.
— O que vai fazer com a sua namoradinha?
— Termino com ela na sua frente se quiser. Mas me
diga se você fica ou vai embora.
— Preciso pensar. — saindo do transe que nos
hipnotizávamos.
— Não! — ele explodiu — Comigo não tem essa. É
tudo ou nada. É aqui e agora. É sim ou não.
— Não acha que pode estar jogando muita coisa
importante para o alto para ficar comigo?
— Não, nada é mais importante para mim agora do
que tê-la em meus braços.
— Máximus... — mordiscando seu queixo louca por
ele.
— Fala minha deusa. Eudora é um nome de uma
deusa não é?
— Deusa da guerra. Mitologia nórdica.
— Minha deusa da guerra eu quero ser o seu melhor
guerreiro.
— Máximus...
— Diga.
— Eu sei machucar como ninguém as pessoas que
amo.
— Acredito nisso, mas no amor e na guerra o risco
faz parte do fim que desejamos. Eu me arrisco por você.
Sorri desarmada. Ninguém pode ser forte o tempo
todo presa nos braços de Máximus Spartacus.
O
Capítulo 3
Sede dela
M á ximus
Quando vi nos seus olhos que ela ficaria eu me vi e
compreendi o que é se sentir completo. Desde o momento
que a observei eu soube que Eudora não poderia ser do tipo
santa. A atitude, a personalidade confiante e forte. Com o
tempo a gente aprende a ler uma mulher. Até hoje procuro
palavras que definam o que senti pela senhorita Tyr quando
nossos olhares caíram um dentro do outro, mas por mais
que me esforce eu não as encontro. Acho que esse é o
encanto do que sentimos, não tem como ser definido por
palavras. Eu sei que palavras são poderosas, mas nem
sempre elas são donas da razão porque a razão e o coração
nem podem ficar no mesmo lugar.
Dividir mulheres com outros homens, ainda que
amigos nunca foi uma das minhas fantasias sexuais
prediletas, mas eu gosto de sexo, e experimentar faz parte
do cardápio de um homem que se preza. Orgias fizeram
parte do meu currículo. Naquela noite, aceitei a proposta de
Eudora porque eu tinha plena convicção de que se não
acatasse eu a perderia de uma vez por todas e devo
confessar que foi a primeira vez que não pensei em mim em
primeiro lugar. De cara soube que era alguém cheio de
segredos, ela tinha aquele ar de mulher misteriosa. Do tipo
que não confia em um homem e talvez tenha sido isso que
me prendeu a ela num segundo olhar depois de ver seus
imensos olhos castanhos esverdeados, sua boca tão
torneada e um ar de menina perdida em algum lugar da sua
personalidade tão contundente.
Com minhas mãos passeando pelo seu corpo eu era
o rei de uma terra longínqua e inexplorada. Essa sensação
mexeu muito comigo porque era o meu pensamento mais
próximo do que possa ser amor de verdade. Eu fui
apaixonado por muitas vezes, mas a paixão tem prazo para
terminar e eu não fugi dessa tradição. O jeito indomável de
Eudora desafiava o meu ego de garanhão. De estalar os
dedos e ter a mulher que eu queria ali na palma de minha
mão. Comendo sua boca me saciando do cheiro da sua pele
eu ia tornando-me dependente dela. Eu tinha sede de ver
seu corpo em meus braços, seus lábios dentro dos meus,
nossos olhos falando coisas e nossos corpos em pura
combustão.
— O que está fazendo comigo? — ela ronronou em
meu ouvido sentindo-me chupar sua nuca com extremo
afinco. Seus suspiros me instigavam a ir mais e mais além.
— Quero revirar sua cabeça.
— Por quê?
— Porque eu sou malvado baby. Muito malvado. —
apalpando mais a fundo sua bunda tão durinha e sua pele
sedosa.
Deitei-a sobre a cama devagar e por alguns minutos
fiquei calado observando-a. Tão minha. Só minha. Desci a
calça e depois a boxer. Meu pau latejava por aquela
bocetinha rosada e lisa.
— Vai ficar me olhando é?
Eu fingi não tê-la escutado. Eu tenho as minhas
marras e manhas. Na cama sou eu quem mando e não
escondo que sou possessivo. Não me importo o quanto isso
possa custar eu tenho bons advogados. Agora vejo como eu
estava despreparado para lidar com meus sentimentos por
Eudora Tyr.
— Você não me quer? — ela tentou descer as alças
do seu vestido. Voei sobre sua mão como uma águia atenta
a sua presa.
— Não mexe nisso.
— Por que eu deveria obedecê-lo? — sua ousadia não
tinha tamanho.
Cruzei meus braços com um riso no canto dos meus
lábios. Eu gosto de admirar a beleza feminina. Mas diante
dela todos os corpos que vi foram apenas isso, corpos nada
mais.
— Não vai responder?
Colocando meus joelhos sobre a cama e os meus
braços ao lado do seu corpo dei a ela a melhor resposta que
eu tinha aquele frisson insano em tê-la para sempre comigo.
Rocei minha barba sobre o vestido na altura do umbigo e
aos poucos fui explorando seus seios cujos bicos
encontravam-se pontiagudos dada a sua excitação.
Mordisquei-os sobre o tecido, em seguida subi mais um
pouco afundando minha boca em sua nuca, pescoço e
cabelos falando de coração aberto o que eu sentia.
— Eu quero te foder muito minha deusa. Como nunca
fodi uma mulher em toda minha vida.
— E depois?
— Eu quero sugar a seiva do seu corpo como um
moribundo no deserto a procura de um bocado de água.
— E depois?
— Eu quero olhar nos seus olhos e quero que veja
que enquanto entro e saio de dentro de você eu me realizo
como homem porque você é minha mulher.
— Máximus... — impedi sua palavra com meu dedo
sobre sua boca.
— Não fala nada. Não ainda.
— O que está acontecendo entre nós? É tão doido! —
chupei seu queixinho até que um estalo fosse ouvido e
enfim fui para o ombro direito descendo a alça do vestido
com meus dentes até a metade do antebraço e depois fiz o
mesmo no ombro esquerdo sendo regado aos carinhos de
suas mãos pelos meus cabelos e minhas costas. Vez por
outra eu conseguia enxergar certo medo no seu olhar. Não
me importei, assim como ela eu também tinha o mesmo
medo. Tudo aquilo era novo demais para ambos e isso só
aumentou ainda mais nossa combustão.
— Sua pele... Seu cheiro... Sua boca... Porra
Máximus, você me deixa louca assim...
Outra vez ignorei suas palavras, minha concentração
era fazê-la minha e feliz. Minha vida inteira tinha sido
intenso para minha satisfação, agora eu desejava usar toda
essa mesma intensidade em prol dela. Meus olhos fecharam
para o mundo, só havia Eudora e nada mais.
A medida que devorava seus lábios enfiei-me entre
suas pernas com todo meu peso dominando, exigindo
aquele espaço como meu, usando as minhas mãos para
rasgarem todo o vestido como um obstáculo que deve ser
aniquilado diante de uma grande batalha.
Em seguida levei minha mão direta sobre sua face de
traços mistos, uma mistura satânica entre força e
fragilidade. Com os dois dedos centrais eu vim passando
por todo território. Eu não queria deixar que nenhum
detalhe fosse omitido em minha mente. Ela permanecia
parada quase estática. Ninguém jamais fizera isso consigo,
eu soube ler as entrelinhas do que havia ali. Notei seus
olhos marejados e a coragem de esconder esse fato de
mim.
— Tudo bem minha deusa. Você está encarnada. Nós
humanos somos assim.
— Máximus.
— Fala minha deusa.
— Não costumo pedir isso para um homem.
— Vai pedir a mim?
— Sim.
— Confia em mim?
— Não sei, mas quero me arriscar.
— Peça.
— Me ama. Ama-me Máximus!
Entendi no mesmo instante que o pedido dela era na
verdade uma ordem para mim. Até aquele momento eu
sabia muito pouco sobre Eudora, mas uma coisa eu tinha
certeza ela estava fora de si. Juntando seus seios em
minhas mãos e os apertando, os coloquei entre os dentes e
lábios sugando firme, assisti suas mãos sobre seu rosto,
meus lábios estalavam nos mamilos melados fazendo-a
choramingar e retorcer implorando para que eu parasse
quando eu sabia que tudo que ela desejava era que eu
continuasse.
— Ah... – Eudora ofegou, deixando a cabeça pender
para trás tentando segurar no espaldar da cama, mas a sua
nuca encontrava-se segura em minha mão, os seus cabelos
castanhos passeavam pelo meu braço tentando fugir
daquela cena de prazer. Chupei o mamilo quase possuído,
estiquei-o mais contra minha língua, eu a vi despudorada
estremecer nos meus braços que na verdade eram dela.
Tomada pelo ardor como eu, segurou meus bíceps
com vontade, deixando que me saciasse com seus seios
expostos, o que eu fiz sem hesitar. De um migrei com a
demência estampada na cara para o outro, a tal demência
me fez refém e eu o mordi. Minha demência temporal a
obrigou retorcer-se gritando.
Esfreguei meu pau contra sua vagina macia e nua,
para que sentisse o que fazia comigo, a excitação nos
dominava eu sei, mas eu era o seu maior escravo.
O sangue e o suor pulsavam pelo meu corpo, ambos
orquestravam a minha ereção. Eu queria mais, a trouxe de
volta, erguendo a cabeça, soltando-a. Estava extasiada, um
pouco tonta talvez. Meu lado maléfico nasceu ali. Meu riso
foi mais que agressivo ou lascivo, foi puto. Foi o despertar
do canalha em mim entregando-se a ela como eu jamais me
entreguei a mulher alguma. Eudora olhou-me fascinada. Por
um segundo o mundo parou e entendemos que o Destino
havia escrito algo para nós. Trouxe a sua testa na minha
com as mãos abertas sobre meu rosto.
— Quem é você e o que fez comigo Máximus
Spartacus?
— Eu sou apenas um homem. E sou seu. Apenas seu!
Imobilizei-a com meus braços jogando suas costas na
cama mais uma vez. Estiquei meu braço abrindo o frigobar
e apanhando uma garrafa de vinho branco, tomei um pouco
e num outro gole joguei no cálice perfeito que seu umbigo
se apresentou para mim. O líquido gelado descendo para o
seu ventre fez a pele de minha deusa arrepiar-se e o meu
ego sublimar.
Minha língua foi percorrendo o seu corpo, segui o
curso que o pequeno rio de vinho deixou em sua pele até
chegar em sua bocetinha melada e pronta para mim.
Acariciei os seus seios com delicadeza, subi passando a
língua nos bicos durinhos, depois os chupava e não
satisfeito molhei o dedo na boca dela e passava nos bicos
dos seios. Agora meus lábios foram descendo pelo seu
corpo, abri ainda mais as suas pernas com minhas mãos
presas em seus quadris fui chupando sua vulva rosada,
oscilava entre as dobrinhas da virilha, depois nos lábios e
em seu clitóris. Enfiei dois dedos dentro de sua boceta num
golpe ligeiro o seu gemido contou o quão prazeroso aquilo
se dava para a minha deusa. Seu corpo tremeluzia de tesão
enquanto eu massageava com o dedo indicador seu gomo
exposto e tão meu. Cada grito, uivo e gemido imploravam
para que eu a penetrasse, ousei um pouco mais e em minha
boca senti aquele gozo escandaloso fruto de mel do meu
empenho e da sintonia que nos cercava. Soltei-a por um
instante colocando-a de quatro para mim. Para uma mulher
ser minha de verdade eu tenho que tê-la como gosto, de
quatro e sem frescuras.
— Mete esse pau com força em mim!
— Gosta dele não é? — enfiei todo e aos poucos com
seus cabelos amarrados a minha mão ergui seu corpo mais
um pouco para cima trazendo a outra mão atravessada em
suas costas e presa por mim aumentando mais e mais.
Entrando e saindo, comendo, devorando, destroçando-a
com meu ímpeto masculino.
— Mais! Mais!
Soltei um tapa em sua bunda em tom de imponência;
— Eu mandei você pedir algo foi? Diga eu mandei?
— Não!
— Então fica calada sua cadelinha!
— Eu fico! Ah! — puxando o fôlego com todo seu ar
de tanto tesão.
— O que você é minha? Fala?
— Sua vadia!
— Não escutei, fala de novo.
— Sua vadia. Sua puta.
Então a virei para mim fazendo-a sentir meu corpo
quente sobre ela e o meu pau latejando desesperado em
ser socado mais e mais dentro dela.
— Vai fazer o que quero vai?
— Faço!
— Vai gozar para o seu homem de novo.
— Ah!
— Não prende porra! Goza Eudora! Goza agora!
— Ah! Máximus!
— Isso! Lambuza meu pau desse gozo porra!
A cada comando mais ela se dava, nossos corpos
espumavam sexo, meu pau espumava prazer de sua boceta
e segurando mais forte finquei toda velocidade e gozando
forte como um touro dentro dela.
Abraçados a puxei para cima e sentados nos
encaixamos um de frente para o outro. Acariciei seu
pescoço enquanto nossas respirações tentavam se
recuperar. Enfiei minha língua em sua boca alucinada. Eu
queria mais dela. Outra ereção se deu e agarrados como
animais no cio deixei que ela rebolasse em meu pau
duríssimo até gemer de prazer. Eudora quicava em meu
pênis de vinte e três centímetros deslizando com força em
todo ele, e o barulho de nossos corpos suados aumentava
ainda mais toda aquela insanidade e eu explodi em um gozo
descomunal dentro dela. Adormecemos até que os
primeiros raios do sol entrassem pela vidraça do iate
fazendo-me despertar pronto para preparar um café da
manhã para surpreendê-la. Se alguém algum dia me falasse
que eu faria tal galanteio a uma mulher eu gargalharia na
cara dessa pessoa, mas quando acordei com a vontade
dentro de mim eu vi o quanto aquele tão inesperado
encontro tinha mexido comigo.
— Eudora? — limpei meus olhos chamando-a depois
de notar pelo tato sua ausência ao meu lado na cama —
Eudora?
Ergui-me vestindo minha boxer procurando-a no
banheiro a frente e sem achá-la desci para o primeiro andar
da embarcação a fim de encontrá-la e sufocá-la com meus
primeiros beijos da manhã.
Mas ela não estava lá.
Ela não estava em nenhum lugar do iate. Levei
minhas mãos na cabeça tentando compreender aquilo
enquanto meu peito ardia com elevado desespero. Saindo
no píer avistei outro segurança uma vez que a troca de
turnos havia acontecido.
— Jack você viu a Eudora?
— Quem senhor? — custei a compreender que
apenas eu tinha passado a noite com ela e que Peter já
tinha ido.
— Uma moça alta, morena, cabelos castanhos
longos... Você não a viu sair daqui?
— Ah sim. Ela saiu cedinho. Pediu para entregar isso
aqui ao senhor. — tirando um papel dobrado de dentro do
bolso interno de seu paletó.
— Obrigado. — respondi já dando as costas entrando
no iate ainda mais consternado.
Máximus,
Eu queria ter tido coragem para acordar junto com
você e dizer que nada mudou e que de hoje em diante
ficaríamos juntos. Mas eu não posso fazer isso com você.
Todos nós viemos de algum lugar. Todos têm um passado e
uma história, acredite a minha não combina com a sua e
por mais que o que tenha rolado entre nós tenha sido
sublime e único não é capaz de mudar certas coisas. Você
tem uma garota que deve seguir a risca aquilo que um
homem na sua posição precisa. Sexo fora do casamento
com certeza você encontra num estalar de dedos então
você ficará bem. Você não precisa de mim. Foi bom.
Ps: Eu sei que você pode descobrir meu número,
endereço e RG se quiser, mas eu peço que não faça isso.
Não venha atrás de mim.
Você tem um lugar especial dentro do meu coração.
Eudora.
A primeira coisa que vi foi meu reflexo no imenso
espelho da sala principal do iate e a segunda foi fechar o
punho com toda a minha força e socá-lo tamanha a dor que
entranhou dentro de mim naquele segundo. A terceira coisa
foi gritar como um louco. Jack entrou assustado com a cena
e viu o dorso da minha mão sangrando e um corte profundo
com a carne exposta.
— Senhor Spartacus? O que houve?
— Saia daqui Jack!
— Mas o senhor tem um corte horrível na mão.
Precisa ir para emergência agora!
— Saia daqui porra!
Jack trabalhava para minha família desde que eu era
adolescente. Ele sabia o quanto eu era explosivo. Ele acatou
a ordem, mas ligou para Austin, minha irmã, que é médica e
uns vinte minutos depois ela adentrou porta adentro com
sua maleta com os olhos arregalados.
— Máx! Pelo amor de Deus o que foi isso? — já me
puxando pelo outro punho até a pia onde lavou meu
ferimento — Você brigou com alguém? Comprimidos de
festa outra vez?
— Não me faça perguntas tolas Austin.
— Isso deve estar doendo muito. Olha irei fazer um
curativo básico, mas temos que ir para o hospital agora.
— Enfaixa essa merda e está tudo certo Austin! —
gritei sem saber se aquela dor toda era do corte profundo
ou da partida de Eudora.
— Você acha que isso é um cortezinho? Brincadeira?
Vai precisar de cirurgia pelo visto. O que te deu cara?
Esmurrar um espelho desse tamanho!
— Eu não irei para porra de hospital nenhum. Eu
preciso ver a Antonela.
— Antonela está bem! Agora cala a boca que a
médica aqui sou eu!
— Austin eu não vou!
— Pode ser teimoso como a mula que sempre foi. Vai
e ponto! Jack!
— Sim senhorita Austin.
— Pega o meu carro. Você vai dirigindo até o
hospital. Eu preciso pressionar o machucado para que essa
mula não se esvaia de sangue pelo caminho.
— Caralho Austin, eu não quero ir.
— Cala a boca Máximus! E quando isso acabar
teremos aquela conversinha. Quero saber Tim-Tim por Tim-
Tim dessa loucura. Anda! Cadê sua calça?
— No andar de cima. Pega minha carteira e a camisa
também.
Odeio quando Austin banca a médica para cima de
mim. Mas ela é e sempre será a responsável entre nós dois.
Nossos pais nunca deram muita importância para nós.
Fomos criados pelo meu tio Brad. Depois ele se casou, mas
não teve filhos. Ele é o pai e a mãe que eu tive. Um cara
que herdou milhões de dólares assim como a minha mãe
que é a sua irmã, porém o tio Brad cultivou a vida inteira os
pés no chão. Estudou e fez a fortuna crescer ainda mais
quando fundou a Randor, uma das maiores empresas do
ramo automobilístico do mundo. Depois de um tempo ele se
separou e casou tantas vezes que eu perdi as contas, mas
nunca abriu mão de mim ou da Austin. Eu devo o homem
que sou a ele. É o meu herói o meu exemplo de vida. Tento
ser para a Antonela o que o meu tio é para mim.
Acordei meio grogue da cirurgia. Mas foi bom ver os
rostos da Austin e do meu tio quando acordei.
— Moleque você não aprendeu ainda que eu não
tenho mais idade para ficar levando susto é?
— Eu que sou nova não tenho tio Brad.
— Cala boca Austin. — resmunguei recebendo o
afago da mão dele pelo meu cabelo e o beijo da minha irmã.
— Devia agradecer sua irmã que além de ser A Irmã
também é uma excelente cirurgiã.
— Tio Brad para de falar isso. Agora mesmo que a
Austin ficará insuportável.
— Viu como ele é agradecido.
— Vocês dois não crescem mesmo, não? Nem
parecem dois adultos formados que tomam conta de suas
vidas.
Austin deu de ombros verificando o soro que eu
recebia.
— Vai ficar de molho um tempo moleque.
— Um mês com certeza. — ela confirmou — Cortou
ligamentos. Coisa séria.
— E a minha Antonela? — eu só pensava na minha
filha.
— Antonela está bem. Eu disse a ela que você fez
uma viagem, se machucou e que eu ia te levar para minha
casa. Ela adorou a ideia. Vai ficar lá em casa comigo, certo?
— Não precisa tio. Eu fico bem no meu apartamento.
— Se não ficar com o tio vai ter que ficar na minha
casa. Você não pode cuidar de si mesmo ou da Antonela
assim.
— Se bem que do jeito que a Toni é ela cuida do pai
melhor que você que é medica Austin. — comentou tio
Brad.
— Isso é verdade tio.
— Ficar na casa da Austin e aguentar aquele
molambo humano que você insiste em chamar de
namorado?
— Noivo Máx.
— Mesma merda.
— O Todd gosta muito de você. Não sei o porquê essa
implicância com o meu ursinho. — cruzando os braços.
— Pois é mesmo um ursinho, vive comendo ou
dormindo. Vagabundo!
— Máximus. Respeite as escolhas de sua irmã. Já
tivemos essa conversa uma centena de milhões de vezes.
— Nenhum homem que eu arrumo presta para você
Máx.
— Claro. Você só arruma lixo. Acho que até hoje não
se deu conta que deixamos de morarmos juntos por causa
do imbecil.
— Então Máx, você e a Antonela ficam lá em casa
comigo esse mês. Eu nunca quis que vocês deixassem a
mansão Primavera. Mas os filhos são assim, crescem e
batem asas. Acham que os velhos são repulsivos.
— Ah tio... Não fala assim. — Austin levantou-se para
abraçá-lo. — Eu te amo tanto!
— Eu sei.
— Está bem tio eu e a mini adultinha ficaremos com
o senhor mesmo cheirando a sabonete de gaveta.
— Seu moleque! — rimos todos.
O que eu não imaginava é como a vida de todos nós
mudaria durante aquele tempo em que eu ficaria com meu
tio na mansão Primavera.
p
Capítulo 4
Minha Adultinha
Meus dias são cansativos porque a boemia faz parte
de mim, mesmo tendo trinta e cinco anos de idade. Mas os
mesmos dias fadigosos ganham banhos e banhos de sol
quando ela chega com seu sorriso ousado, olhar mandão e
seus cabelos cor de mel em formato de tranças.
— Papai acorda! — jogando seu corpo em cima de
mim — Eu quero brincar com você.
— Ah... Filha... Papai já vai acordar. Pode ser daqui a
cinco minutinhos?
— Não. Acorda papai! — chacoalhando ainda mais os
meus cabelos.
Bêbado de sono viro com ela na cama. Mas quando
vejo aquele anjinho de olhos intensos e pele rosada eu sei
que sou o homem mais abençoado do mundo. Ela é digna
de todo meu apreço, preciosa por natureza e por isso lhe dei
o nome com o mesmo significado: Antonela.
— Eu tenho atividade da escola para fazer.
— Achei que a senhora Jofrey era responsável por
isso, eu a contratei para essa finalidade. Ajudá-la na tarefa
da escola.
— Não quero ela, eu quero você oras.
Antonela era uma criança de personalidade
marcante. Eu admirava aquela impetuosidade de como se
colocava nas coisas do seu mundo e do meu.
— Você beijou alguma mulher?
— Isso não é assunto para você mocinha. — tentando
levantar-me da cama.
— Eu sei que beijou. Eca! — fazendo cara de nojo —
Eu tenho alguns namoradinhos, mas beijar na boca nunca.
Blat!
— Espera aí! — ergui os braços com o meu coração
disparado — Que conversa é essa de namoradinhos? Você
tem oito anos de idade. Eu não estou gostando nem um
pouco dessa conversa Antonela.
— Ih papai, você é tão antigo parece um bossal.
— Bossal? E você com oito anos sabe o que é ser
bossal?
— Sei sim. Tapado, lerdo, tosco, rude, bronco, está
bom ou quer mais?
— Eu preciso começar rever o que você anda
aprendendo na escola senhorita.
— Contanto que não mexa nos meus livros. — dando
de ombros pulando em cima da cama sem parar.
— Esses vão para o top da minha lista. Uma criança
com oito anos saber o que é bossal e pior chamar o pai de
bossal. Eu mereço! — resmungava por fora enquanto ela
tampava os ouvidos com os dedos, mas por dentro eu era
puro orgulho de sua genialidade.
Antonela surgiu de um casamento falido onde minha
ex-mulher não queria ser mãe e sabotava todos os
tratamentos que fazíamos para ter um filho. Quando
Antonela chegou, ela não fez questão de ser mãe abrindo
mão do papel, o que julguei sensato vindo dela e desde
então passei a ser o pai e a mãe dela, apesar de todo apoio
que sempre recebi de Austin e do tio Brad.
— Vou tomar banho.
— Vou te esperar no escritório.
— Dez minutos e eu chego lá filha.
— Não demora pai. Eu tenho outros compromissos.
— Compromissos? — sorri — Está bem senhorita
Spartacus. Te amo!
— Eu também.
— Ela ama o papai dela. — disse já todo me
desmanchando.
— Não. — descendo da cama com aquela carinha
travessa — Eu também me amo papai.
— Sua pestinha! — ameacei correr atrás dela
ouvindo seus gritos se perderem pelos corredores do meu
apartamento.
Já vestido para mais um dia de trabalho entrei no
meu escritório e lá estava Antonela cercada pelos meus
livros e pelos dela. Uma bandeja de café da manhã regada a
frutas. Suco nos copos.
— Eu que preparei.
— Você é brilhante filha. — abracei-a cheirando seus
cabelos.
— O café da manhã é a refeição mais importante do
dia papai. Você precisa comer muita fruta e tomar seu suco.
Anda! Toma o suco todo. — sim, as vezes eu parecia o filho
dela — Toma tudo e não me enrola mocinho.
Em seguida ela ligava o som numa música brasileira
que nunca soube certo como ela a descobriu, mas ela
adorava a melodia e eu também.
Vem ser minha menina!
Você me alucina!
Como eu quero ter você, como eu quero ter você!
Menina linda, tão linda de se ver!
Nosso ritual matinal se iniciava assim, ela me puxava
pela mão ainda tomando o suco e eu tinha que rodá-la pelo
ambiente, dançávamos como dois malucos.
— Qual é o nome da coisa que não pode entrar em
nossa vida filha? — gingando com ela que se acabava
dançando entre muitos pulos.
— Mau humor papai!
— Então vamos lá filha! Mau humor?
— Xô papai!
— Tristeza?
— Xô papai!
— Alegria?
— Vem!
— Felicidade?
— Vem papai!
E lá íamos nós dois se curtindo com a minha relação
mais sublime. Ser pai da menina mais brilhante do Universo.
Antonela gostava de na parte final da canção que era bem
agitada que eu repetisse o verso:
— Tão linda de se ver! — enquanto a girava e quase
tonta a pegava nos meus braços e ela se agarrava ao meu
pescoço com toda energia, olhava dentro da minha alma e
derretia meu coração.
— Eu te amo papai. — esfregando seu nariz no meu
— Você é o melhor pai do mundão!
Voltando à mesa, deixei que ela devorasse metade
das frutas. Antonela era louca por frutas e como qualquer
criança também por porcarias. Depois de fazer a atividade
da escola com ela toquei no assunto do quarto.
— Filha sabe que eu te amo, mas quero conversar
com você sobre uma coisa.
— Ih... — já cruzando os braços. — Quando você
começa com esse drama você sabe que eu te amo e quero
conversar com você...
— Não faça essa cara não. Aquele assunto lá no
quarto eu não gostei.
— Sobre os namoradinhos? — virando os olhos para
mim como quem espionasse.
— Pois é você é uma criança.
— Não sou uma criança. Sou uma mini adultinha.
— Não, você é a garotinha do papai e só tem oito
anos de idade. Eu não quero saber de você falando por aí
que tem namoradinhos eu não fazia ideia de que gostava de
algum menino.
— Papai... Seu lindo — acariciando minha barba — È
um modo de falar. Você acha mesmo que eu posso ter
namorado?
— Quem são esses moleques Antonela?
— São colegas papai.
— Da onde?
— Papai eles não são da sua idade, você é velho, não
conhece.
— Eu quero saber quem são os pais deles. Quero os
nomes, endereço.
— Papai calma! — sentando-se de novo — Relaxa,
você está muito estressado.
— Antonela! — às vezes eu tinha que levantar a voz
para lembrá-la de que o controle era meu e que eu era o
adulto ali.
— Está bem. São o Richard, Jeremy e Noah.
— Por que diz que são seus namoradinhos?
— Porque eu os acho bonitos.
— Já falou isso para eles.
— Papai... Hello Terra! Você acha que eu sou maluca
de contar isso para um deles? — por dentro respirei aliviado.
— Filha, tudo tem seu tempo. Legal você achar um
menino ou outro bonito. Gostar de um, mas ainda está
muito cedo para isso. Isso não me deixa contente Antonela.
— essa era a frase de efeito que eu usava quando queria
algo dela.
— Desculpa papai. Não foi minha intenção.
— Eu quero que você me fale dos moleques, quer
dizer, meninos que você acha bonitinhos. Mas esquece da
palavra namorado, ok?
— Vou chamar de amigo? — perguntou um tanto
frustrada.
— Isso. Perfeito. Diz que são seus amiguinhos.
— Que chato.
— Agora pega suas coisas que eu preciso ir para o
trabalho e te deixar na casa do tio Brad.
Eu sei que às vezes por mais que eu me esforçasse
não conseguia desempenhar um papel materno para
Antonela e isso me desesperava. O tempo foi me mostrando
que as meninas são diferentes de nós homens, elas
necessitam dessa figura feminina. As namoradas que tive, e
agora a Liana, não permitia se aproximarem dela. Não
depois do que passei com sua mãe que sumiu no mundo
graças a Deus.
Austin, minha irmã, era muito próxima a Antonela, e
me contava os “segredos” que minha filha tinha com ela e
nessas horas eu me sentia um lixo. Antonela não me
contava, não porque não confiava em mim e sim porque
dentro dela havia uma necessidade de falar sobre certas
coisas com outra mulher, mesmo sendo uma criança tão
inteligente.
v
Capítulo 5
Uma ótima profissional
M á ximus
Deitado na cama do meu antigo quarto colei meu
olhar sobre o mar que dava o ar de sua graça em minha
janela esperando Antonela chegar da escola, ele me
lembrou de Eudora. Majestoso, forte e com ondas que
dilaceraram o meu coração. Entendo que falar assim para
um homem de trinta e cinco anos de idade possa soar
romântico demais. Eu não gosto de romantismo, pode ser a
vida e as perdas que enfrentei, mas isso me parece
fraqueza, em especial para um homem de negócios como
eu. Resumi em minha vida que romantismo era ter
Antonela. Só que depois daquela noite, meu mundo virou de
cabeça para baixo. Ainda não acredito que acordei
pensando em fazer e servir o café da manhã numa bandeja
e levá-lo para ela na cama. Ainda não acredito que tive que
fazer uma cirurgia às pressas na mão por espatifar aquele
maldito espelho que me mostrou a face de um homem que
não pôde ter a mulher que roubou sua alma. Ainda não
acredito que estou aqui pensando nela. Batidas surgiram na
porta do meu quarto, eu reconhecia aquele jeito de bater,
era Antonela.
— Papai! Papai!
— Estamos entrando! — disse Austin.
— Filha! Minha adultinha! — receber seu pequeno
corpo contra o meu fez por um segundo esquecer-me de
tudo que me acontecera — Como senti sua falta filha.
— Você se machucou feio, não? — tentando xeretar
minha mão na tipoia — Teve que fazer uma cirurgia não é?
Olhei para Austin que abriu as mãos erguendo as
sobrancelhas como que falasse que não tinha culpa de ter
uma filha esperta.
— Você tem que fazer muito repouso e obedecer a
tia Austin.
— Isso mesmo Toni, dá bronca nesse seu pai. Assim
quem sabe ele me escuta.
Não respondi nada, no entanto eu conheço minha
irmã, tentei ignorá-la o suficiente para saber que ela assim
como eu ignora esse meu comportamento.
Resmunguei algo mostrando meu mau humor em
contar detalhes a Antonela. Eu sou super protetor e tudo
que eu pudesse poupá-la eu não pensava, eu fazia.
— Antonela, deixa a tia Austin conversar com o papai
rapidinho sobre os remédios? Brinca ali no jardim de
inverno.
— Não tia Austin. Vou mexer nos livros do papai. Vou
saber o que ele lia quando era criança. — sorri vendo-a
afastar-se para minha estante.
— Essa sua rabugice não irá me afastar Máximus
Spartacus.
Virei-me para o outro lado da cama com a imagem
do rosto de Eudora perturbando meu consciente.
— Anda, fala logo.
— Você não tem uns pacientes para cortar no meio
não garota?
— Essa é a questão — sentando na beira da minha
cama depois deitando ao meu lado como costumávamos
fazer quando crianças — Eu tenho. Não tenho muito tempo.
Preciso voltar para o hospital. Você não está nada legal.
— Quinze pontos na mão e uma dor do cão você
acha que estaria legal doutora Austin? Por que contar
detalhes para Antonela? Sabe como sou com ela.
— Você esquece que sua filha é uma pequena
máquina de lógica. Não tem como esconder nada dessa
menina não.
— Sei.
— O que foi irmão? — virando-se passando a mão
pelo meu cabelo. — Foi à mamãe outra vez? Discutiram? Ela
foi te pedir dinheiro?
— Mamãe... — revirei os olhos para cima — Não a
vejo há semanas e o fato dela me pedir dinheiro nem me
importa mais.
— Mulher não foi. Você nunca ficaria assim por causa
de uma mulher. — então a olhei com a cumplicidade que
existia entre nós — Máximus! Foi uma mulher que te deixou
assim?
— Fala baixo! Não quero que adultinha escute.
— Quem é essa fabulosa? A mulher maravilha?
— Cala boca Austin. — irritando-me com ela.
— Desculpe. Só quero fazê-lo rir. Eu não gosto de te
ver triste e não me lembro de vê-lo de tal modo socando
espelhos e tendo que ser levado para uma cirurgia às
pressas por causa de uma moça.
Depois de um profundo suspiro virei-me na medida
do possível para Austin tendo cuidado com meu braço
imobilizado.
— Eu a conheci na festa do James.
— Nas orgias do James você quer dizer.
— Que seja. Fala baixo. — observando Antonela
sentada no pufe desfolhando livros.
— Ela é bonita?
— Ela é a mulher mais bela que já vi em toda minha
vida.
— Mais que a Liana?
— Muito mais.
— Loira também suponho.
— Morena. Alta. Olhos esverdeados. Cabelos
ondulados. Boca perfeita. Mas tem algo muito mais intenso
nela que me domou Austin.
— Como ela se chama?
— Eudora. Eudora Tyr.
— Nome de deusa.
— Ela é uma deusa.
— Mas o que aconteceu para você socar o espelho?
— expliquei a noite para Austin que atenta a cada pormenor
foi ilustrando sua visão até minha última palavra — Pelo
menos ela foi sincera.
— Por que está falando isso?
— Por que é obvio que ela sabe que é uma encrenca
Máx. Mas vocês homens são mesmo uns tolos. Ela não quer
se envolver com você. Qual a parte disso o poderoso
Spartacus não compreendeu?
— Mas eu sei que ela sentiu o mesmo que eu.
— Usaram camisinha pelo menos?
— Quando foi só nós dois não.
— Pelo amor de Deus, você tem 35 anos e a sua irmã
de 26 é que tem que ficar tomando conta da saúde do seu
pau?
— Quer ter cuidado com o que você fala. — olhando
para Antonela que permanecia entretida — Vá cortar seus
pacientes.
— Não fica assim. Tem coisas na vida que não são
para ser. Eu não sei quem é a tal deusa Eudora, mas já
gostei dela pelo fato de ter sido franca contigo. E quer saber
mais?
— Fala.
— Eu em seu lugar faria o que ela pediu. Eu não a
procuraria. Você pode encontrar algo que não gostará e se
machucar ainda mais.
— Está falando isso por quê? Garanto que é pelo fato
dela ter chamado o segurança para transar a três. Você é
toda conservadora Austin.
— Eu sou mesmo conservadora e não nego isso. Mas
não digo isso por esse motivo. Acho que a tal deusa tem
segredos e não quer revelá-los e isto acontece porque nesse
momento esses segredos são mais importantes dentro dela
do que o que ela possa por acaso ter sentido por você.
— A Liana está me ligando. — mostrei o celular para
Austin.
— Ela não sabe de nada. Achei melhor não avisá-la
embora devesse. Sabe que não vou com as fuças dessa
sebosa. Adoraria ver a cara dela ao saber que foi numa das
festinhas do James e teve uma cirurgia na mão como
lembrança.
— Nem vou atender. Não quero ter que lidar com ela.
Não agora.
— Se eu te conheço o prazo da Liana já deu.
— Eu vou mesmo terminar essa merda de namoro
arrumado pelo tio Brad assim que tiver com saco para lidar
com a Liana.
— Contou para ele?
— Eu disse que me envolvi numa briga e que
resultou nisso.
— Preciso ir irmãozinho. — beijando-me na testa —
Qualquer coisa me liga. Não faça esforço. Essa cirurgia foi
coisa séria.
— Pode deixar doutora.
— Antonela, princesa da titia, cuide de seu pai. Tia
Austin precisa ir. Eu te amo cabeção.
— Hei! — ela virou-se para mim antes de abrir a
porta — Obrigado. — Com uma piscadinha Austin se foi e eu
outra vez voltei a remoer aquela circunstância dentro de
mim. Antonela veio com alguns livros na mão deitando-se
ao meu lado.
— O Vovô me falou que foi um acidente. Mas eu acho
que não foi.
— Adultinha, o importante é que o papai está bem e
nós vamos passar um tempo aqui com o vovô Brad. Não é o
que você sempre quis?
— Por mim a gente moraria aqui. Não sei por que
temos que ficar naquele apartamento com essa casa
gigante cheia de coisas legais para fazer.
— Eu te amo muito sabia? — puxando-a para mim.
— Papai...
— O que foi?
— Queria te falar uma coisa...
— Fala filha. Sabe que pode falar tudo para mim. —
aquilo me preocupou.
— Eu queria muito que você arrumasse uma
namorada irada, legal, bonita e se casasse com ela.
— Ah é filha? Por quê?
— Porque acho que tanto eu como você precisamos
de alguém assim. Para cuidar da gente. Nós somos dois
pirados papai. — gargalhei ainda que com dores enchendo-a
de beijos.
— Papai promete que um dia desses vai encontrar a
melhor esposa e a melhor mãe do mundo para nós.
— Promete?
— Prometo.
— Promessa de dedo mindinho? — erguendo o seu,
aquele era um código de algo sério entre nós dois.
— Promessa de mindinho filha. — selando aquele
compromisso.
— Eu posso fazer de conta que sou uma garota
normal que gosta da cor rosa e só pensa em bonecas.
— Faria esse esforço, Adultinha?
— O que eu não faço por você papai? — sorri
babando nela.
— Nenhuma mulher no mundo pode me fazer mais
feliz do quanto o papai é por ter você em minha vida.
— Vou sair por aí, você tem que descansar. Qualquer
coisa me chama.
— Obrigado por cuidar do velhinho aqui.
— Eu te amo seu bobo.
Os minutos vagarosos desfilavam em minha mente
numa passeata com faixas e cartazes com o nome de
Eudora e o pedido que soava como ordem causando-me
coceiras: “Procure por ela!”. O Máximus de antes daquela
festa jamais tentaria se dar o trabalho de sequer pensar
nela que dirá cogitar a possibilidade de encontrá-la, mas o
Máximus que Eudora despertou compreendia que não podia
viver sem ela ou sem uma resposta capaz de me convencer.
— James.
— Fala Máximus! Cara, onde foi que você se meteu?
Procurei por você a festa toda para desenrolar umas
chinesas gostosas para gente e cadê você?
— Eu... Eu tive um probleminha para resolver no iate.
— Alguma coisa com a tua filha?
— Não. Não. Antonela está belíssima como sempre.
Foi com a minha mãe. Você sabe como ela me azucrina e
para ter ideia o resultado foi uma cirurgia na mão as
pressas.
— Porra Máx! Mas você está legal?
— Sim, agora estou eu ficarei umas semanas de
molho. O braço está imobilizado e eu estou na casa do meu
tio.
— Vou te visitar parceiro.
— James eu liguei porque preciso de um favor seu.
— Só falar.
— Você tem o telefone ou algum contato com a
Eudora Tyr? — ouvi a sonora gargalhada de James.
— Ela te fisgou não foi? Fala a verdade. A Eudora é
gostosa para caralho.
Em tempo algum em toda minha vida achei que me
importaria ou me ofenderia em ver um amigo falar de uma
garota minha daquele jeito tão pejorativo. James não podia
ver a minha cara e o insano desejo de arrebentar sua cara
na porrada.
— Eu só quero falar com ela. Saímos rápido da festa.
Não houve tempo para trocar contatos.
— Quer marcar uma hora é?
— Marcar hora? — estranhei.
— Máx, a Eudora é puta cara. Prostituta das boas.
Não sacou isso não?
Naquele instante vi que nem mesmo se eu tivesse
operado todo meu corpo doeria tanto quanto aquela
revelação. Como não percebi? De repente tudo foi se
encaixando na minha cabeça. O comportamento dela, sua
negatividade, sua relutância. Do mesmo jeito vi como fui
absorvido por ela ao ponto de não prestar atenção em
qualquer outro sinal que não fosse sua alma dentro da
minha.
— Máx?
— Oi.
— Tudo bem?
— Está sim.
— Ainda quer o número dela?
— Quero. Quero sim. — segundos se passam até que
eu receba por um aplicativo de mensagens o número de
Eudora.
— Prontinho irmão. Divirta-se.
— James...
— Oi.
— Você saiu com ela?
— Máx o que me bestializa é saber que você nunca
pegou a Eudora. Geral do nosso ciclo já esteve com ela e
isso inclui seu parceiro aqui com certeza. Cara, paga com
gosto. Nenhum rabo é tão suculento quanto daquela puta
do caralho.
— Tá bom James e você sabe onde posso encontrá-la
sem ser pelo celular? Onde ela mora ou trabalha?
— Até onde sei ela estava morando num
apartamento na Ocean Drive. Sexto andar acho, só não
lembro o número.
— Você já foi lá? — eu me roia por dentro a cada
informação dada sobre ela.
— Sim. Umas duas vezes para pegá-la para levar
para umas brincadeiras. Festinhas como as minhas
precisam dos favores da Tigresa Tyr.
— Tigresa Tyr?
— É como ela é conhecida no meio. Tigresa Tyr.
— Obrigado James.
— Olha parceiro no que precisar estou aqui. Beijos na
filhota.
— Valeu.
Desligando o celular recordei do que Austin me falara
sobre ir atrás de Eudora, que ir procurá-la poderia me trazer
revelações que machucariam ainda mais. Num ramo como o
meu todos sabem que a prostituição é como uma válvula de
escape. Uma rota de fuga usada para casamentos e
relacionamentos tediosos mantidos pela aparência do status
que temos e pelo papel que desempenhamos. E como eu,
Eudora tinha noção disso por isso falou aquelas coisas
todas. Ela conhecia o jogo.
— Senhor Spartacus. — Eunice, a governanta bateu
na porta com a bandeja com meus medicamentos — Com
licença senhor, precisa tomar seus remédios.
— Pode entrar Eunice.
Por horas o efeito deles me nocauteou e só por
àquelas horas eu não pensei em Eudora Tyr e ao despertar
notei que era um novo dia com o sol alto fazendo presença.
Levantei-me aos poucos, minha mão ainda doía muito.
Tomei meu banho com certo cuidado pelo curativo e esticar
o braço tirando-o da tipoia fez a dor aumentar ainda mais.
Mesmo com a água morna banhando meu corpo gerando
alívio sobre o machucado a angústia que me consumia era
muito mais intensa até mesmo violenta. Suspirei jogando
minha testa sobre o azulejo pensando nela e vi meu pênis
enrijecendo quase que num estalar de dedos. Nenhuma
mulher jamais tinha mexido tanto comigo assim como
nenhuma me pareceu tão inalcançável. Pensei no que eu
faria. Embora estivesse de molho por um tempo a empresa
me esperava para algumas reuniões importantes com
investidores através de vídeo conferência naquela manhã.
Enrolado na toalha branca olhei pela vidraça do meu quarto
tentando me convencer de que eu já tinha as informações
necessárias para não seguir com o que meu ímpeto gritava
dentro do meu coração de virar o mundo e encontrar
Eudora Tyr. Mas quem segura o impulso quando ele se
manifesta de modo tão exigente? Eu sei que não era o
primeiro e com certeza descobri que também não seria o
último.
— Mas o senhor vai para onde senhor Máximus?
— Eu preciso resolver um assunto pessoal Eunice. —
já arrumado apanhando as chaves do meu carro — Por
favor, diga a Antonela que fui ao médico, não quero que ela
se preocupe comigo.
— Pode deixar, eu cuido dela. Ela está na biblioteca
rodeada com milhões de livros para variar. Mas como vai
dirigir assim? Não pode. Sofreu uma cirurgia e já está
querendo sair assim?
— Não se preocupe está tudo bem. Não avise meu tio
e muito menos a minha irmã sobre minha saída confio em
você. Cuida da minha Adultinha, Eunice!
— Mas...
— Qualquer coisa eu estou no celular. Tchau!
Lá fora a movimentação dos seguranças diante da
minha figura foi uma reação inesperada.
— Bom dia senhor Máximus.
Nada respondi, eu confesso que quando irritado
costumo não ser a pessoa mais educada do mundo. A
minha irritação era não saber se a encontraria, misturada
ao ciúme insano de que ela já teria passado pelas mãos de
metade dos meus amigos.
— Senhor qual o itinerário? — outro segurança
questionou.
— Não venham atrás de mim! — gritei com o dedo
em punho já entrando no automóvel.
Sei que outras frases soaram das bocas deles com
suas faces boquiabertas, mas eu não tinha tempo ou
vontade de ouvi-las. No meio do caminho em direção a
Ocean Drive, tentei ligar para o numero que James havia me
dado. Dentro de mim suplicava para que aquela voz doce
atendesse a minha chamada, no entanto uma ligação de
minha irmã surgiu.
— Papai você saiu?
— Adultinha por que está com o telefone da sua tia
Austin?
— Elementar meu caro Máximus, ela está aqui do
meu lado e não está com a cara boa.
— Filha, papai vai ao médico. Você se comporta e
quando voltarmos eu prometo que faremos algo juntos.
— A julgar pela cara da tia Austin você não viverá
para isso papai.
— Passa o celular para ela filha. Beijocas se cuida.
— Você enlouqueceu Máx?
— Oi Austin. — Para meu desespero Eunice deu com
a língua nos dentes contando para Austin sobre minha
saída.
— Qual é a parte que você precisava fazer repouso
de mínimos três dias sem sair de casa você não entendeu?
— Assim que eu resolver o que eu tenho para
resolver eu volto para cama para virar a Bela Adormecida ok
maninha? Por favor, fica de olho na Antonela.
— Você vai atrás dela não vai? — calei-me focando
no automóvel a minha frente que ligara a seta para a direita
— Eu sabia. Você é teimoso como uma mula. Deixa essa tal
Eudora para lá. Máximus por favor, volta para casa.
— Austin eu sei que você me ama e quer meu bem,
mas agora eu preciso desligar. Cuida da minha Adultinha. Te
amo!
Eu não gostava de deixar minha irmã assim, e muito
menos a minha filha. Mas eu não deixo ninguém atravessar
o meu caminho quando quero algo. Voltei a rediscar o
número de Eudora e no quinto toque eu escutei a voz que
deu sentido ao meu dia.
— Alô. — eu tinha um mundo de coisas para serem
ditas mais o meu coração inundado calou-se diante da
certeza de que do outro lado era ela quem falava — Alô?
Alô!
Num pensamento pedi para que ela intuísse de que
fosse eu do outro lado. Era algo bobo de se pedir para o
destino, mas para minha alegria funcionou.
— Máximus? É você? — a cada golpe de ar que eu
ganhava para tentar falar algo o encanto dos seus silabares
em meu ouvido me continha — Máximus... Olha se for você
não me liga mais compreendeu? Eu não quero ouvir você.
Eu não quero ver você. Por favor, não se aproxima de mim.
— Tarde demais Eudora Tyr. — sussurrei desligando
em seguida ciente de que o meu lugar naquela manhã era
revirar a Rua Ocean Drive até encontrá-la e de cara a cara
escutar tudo que ela dissera no bilhete e agora pelo celular.
Encostei o veículo no primeiro lugar vazio que
encontrei. Ouvi um guarda falar que me multaria por não
fazer a manobra direito.
— Vai firme parceiro. — gritei com meus passos
largos até o prédio que James me dissera.
Eu nunca fui muito o tipo de homem que acredita em
coincidências, entretanto naquela manhã comecei a duvidar
disto. O porteiro do prédio de longe me avistou e com uma
simpatia descomunal veio acenando com um riso largo para
mim.
— Senhor Spartacus! O senhor por aqui? Quanto
tempo!
Joshua Adams foi o antigo porteiro do condomínio da
mansão Primavera. Uma pessoa que quando adolescente
passei muito tempo conversando e dividindo em suas
folgas, horas de pescaria. Um hobby em comum que
tínhamos.
— Joshua! Cara que bom te ver. — ele me abraçou
com cuidado dado meu braço na tipoia.
— Digo o mesmo senhor. Mas o que houve com seu
braço?
— Um pequeno acidente.
— E a Antonela?
— Vai bem obrigada.
— Aquela menina é surpreendente. A criança mais
esperta e inteligente que conheci.
— Sou suspeito, mas isso é verdade. Ela está cada
dia mais radiante e me deixando louco.
— E o que o traz aqui por essas bandas? Eu não me
recordo de vê-lo por aqui. Às vezes vejo aquele seu amigo...
— estalando os dedos mostrando que eu encontrava-me no
lugar certo.
— James. — completei.
— Isso! Eu vejo o James às vezes aqui no 608. Ele
costuma visitar a senhorita...
— Eudora Tyr.
— Isso! O senhor a conhece também?
— Sim. Eu vim para vê-la.
— Quer que eu o anuncie?
— Não Joshua — pegando pelo ombro com cuidado
caminhando para um canto da guarita — Eu preciso subir,
mas sem que ela saiba.
— Mas senhor Spartacus eu não posso permitir que
estranhos entrem sem que o morador autorize.
— Mas eu não sou um estranho nem para você e
muito menos para ela. — Depois de coçar um pouco o canto
do olho ele olhou-me outra vez — Por favor, Joshua, em
nome das nossas velhas pescarias, quebra essa para mim.
— Façamos assim. Eu não estava na portaria. O
senhor conseguiu o código de acesso com o James e entrou.
Pode ser?
— Obrigado Joshua. Prometo recompensá-lo
marcando um dia desses uma nova pescaria e dessa vez em
alto mar. — afastando-me dele feito um menino com um
riso bobo nos lábios.
— Eu cobrarei senhor.
Dentro do elevador eu tentei imaginar o que diria a
ela no instante exato que abrisse a porta do apartamento
deparando-se comigo e só de pensar nessa cena mais risos
bobos iam surgindo na minha face cansada de não ser
muita coisa para ninguém. Quando a porta se abriu no
terceiro andar e uma moça com um bebê entrou apertando
o botão para o mesmo andar imaginei a minha vida com
Eudora. Eu sei que parecia muito tolo para um homem da
minha idade. Mas eu me permiti sonhar e esquecer-se do
que havia descoberto sobre ela. Acho que isso é o que as
pessoas costumam chamar de sentimento incondicional.
Naquele momento eu não me importava se ela era a pior
das prostitutas, ou quantos mais mistérios guardasse só me
importava estar ao seu lado, cuidar e protegê-la só para ter
o deleite de ver meu coração batendo daquele modo dentro
do meu peito porque assim foi o que eu descobri o que era
estar vivo de verdade. Então a porta do sexto andar abriu,
deixei que a moça e seu filho saíssem primeiro e em
seguida comecei a procurar pelo apartamento 608. Ele
ficava no fim do imenso e estreito corredor. Lá dentro uma
música tocava. Phill Colins. Meus passos desaceleraram e
aos poucos coloquei meu ouvido na porta ouvindo os versos
daquela canção.
Como eu posso apenas te deixar ir?
Deixar você ir sem deixar rastro?
Quando eu fico aqui tomando fôlego com você
Você é a única que me conhece de verdade
Como eu posso te deixar ir embora pra longe de
mim?
Minha garganta seca me fez ver o tamanho do meu
nervosismo. Experimentei a insegurança. Aos poucos fui
fechando minha mão sã e dei três batidinhas na porta. Eu
sabia que ela poderia notar minha presença pelo olho
mágico e que poderia fazer de conta que não estava em
casa, mas para a minha surpresa a porta destrancou-se
devagar assim como seu rosto iluminado surgiu recostado
no umbral da porta semiaberta. Eu vi uma menina diante de
mim impressionada com minha atitude.
— O que está fazendo aqui? — cochichou.
— Eu vim te ver Eudora.
— Por quê?
— Não sei. Só sei que precisava fazer isso.
— O que aconteceu com seu braço? — de repente ela
estava em cima de mim sem saber como me tocar. Era
latente sua preocupação comigo.
— Isso é você na minha vida.
— Eu? — com um olhar culpado.
— É assim que eu fico sem você Eudora. Destruído.
Todo amarrado e sem ter pressa para viver.
— Isso é sério Máximus.
— Eu dei um soco no espelho do iate depois que li
seu bilhete de despedida.
— Você é doido?
— Achei que não fosse, mas agora... — sem tirar
meus olhos dos dela.
— Eu sinto muito.
— Sente muito pelo que Eudora? Pelo soco que dei
no espelho depois de seu bilhetinho ou por não querer ficar
comigo... — três dos seus dedos calaram-me.
— Eu nunca disse que não queria.
— Eu vim aqui — me apossando dela empurrando-a
para dentro do apartamento — Isso não te diz algo?
— Você não sabe quem eu sou Máximus.
— Eu disse a você que quando eu quisesse saber eu
descobriria. James me contou o suficiente para me deixar
irado.
— Quer marcar uma hora?
— Quero. Não uma hora, mas todas as horas do resto
da sua vida.
— Eu sou uma puta Máximus. — nossos lábios já se
aproximavam quase se devorando.
— E daí?
— Pensa que seu dinheiro pode me comprar?
— Se eu precisar usá-lo farei, mas na verdade eu
quero mesmo é comprar a sua alma Eudora Tyr com o que
estou sentindo arder dentro do meu peito.
— E fará o que com a minha alma? — sua mão
acariciou meu rosto com ternura.
— Juntar com a minha, porque as duas sozinhas não
fazem mais o menor sentido.
— Você tem que ir embora Máximus.
— Daqui?
— Da minha vida. Você tem que ir.
— Por que Eudora?
— Porque não há espaço para você nela.
— Do que você tem tanto medo?
— Eu não tenho medo de nada. Mas eu destruo tudo
que...
— Tudo que?
— Tudo que amo.
— Então você me ama?
— Ainda não, mas sinto que estou muito perto disto.
— Tem medo não. O amor não tem que ser perfeito.
Só precisa ser de verdade.
— Isso não é um filme meloso ou um livro romântico
do tipo clichê em que um cara rico fica com uma prostituta
Máximus. Isso é a vida real. — dando uns passos para trás
— É melhor você ir embora. Eu tenho que sair para atender
alguns clientes.
— Eu pago pelas horas deles.
— Eles são clientes fixos.
— Eu pago o triplo para que você fique aqui.
— Eu não quero o seu dinheiro. Eu não quero nada
que venha de você.
— Parece que o meu dinheiro te incomoda.
— Incomoda sim. Eu não quero nenhum dinheiro seu!
— aos poucos assumindo uma postura ríspida.
— Mas pode aceitar dos outros?
— São clientes fixos. São negócios.
— Eu também posso ser um. Diga quanto é e eu
pago o triplo.
— Você está me ofendendo Máximus! — calçando
suas sandálias altas e vermelhas.
— Por que o ato de eu pagar pode lhe ofender
Eudora?
Um olhar foi lançado sobre mim. Um olhar poderoso
que me definiu a raiz da ofensa que eu lhe causava. Aos
poucos ela veio até a mim.
— Eu não cobro ou sou paga para ficar com certas
pessoas.
— Eu devo considerar isso como um elogio?
— Deveria. — apanhando sua bolsa — Melhor ir, por
favor. — passando por mim escancarando a porta.
— Qual é a sua história Eudora?
— Saia do meu apartamento! Eu não quero chamar a
segurança do prédio.
— Garanto que são todos seus amiguinhos.
— Isso não é problema seu Máximus. Sai!
Com dificuldade retirei da minha carteira três notas
de cem dólares jogando sobre a mesinha de centro da
pequena sala. Ao passar por ela queria devorá-la mais uma
vez, mas como Eudora eu também sei machucar quando
quero.
— Isso é uma gorjeta pelo tempo que gastou aqui
comigo. Obrigado. Você é uma ótima profissional.
P
Capítulo 6
Intensa
Eudora
— Você é uma ótima profissional.
Bati a porta, com a sua partida me senti a mais puta
das mulheres. Uma coisa é você ser puta por ser paga para
isso e outra muito pior é quando alguém te faz sentir assim.
Não posso negar que a vontade de cuidar dele, de nos
jogarmos na cama e deixar que ele me devorasse até
cansar não fosse o meu maior desejo. Máximus despertou
em mim a vontade de ser a mulher de um homem e sua
atitude em ir atrás de mim mesmo sabendo toda a verdade
me causou o maior espanto de toda a minha vida. Mas
mesmo assim eu não podia assumir esse sentimento tão
genuíno e forte que nos marcou como os bois de um
matadouro. Não seria justo com ele ter alguém como eu em
sua vida. Eu sou amaldiçoada. Não sirvo para ser nada de
bom. Não pude ser uma boa mãe, não pude ser uma boa
irmã e por conseguinte não serei uma boa mulher, tudo isso
porque eu não nasci para ser uma boa pessoa.
Olhei para as notas sobre a mesa e para dar um fim
naquela história apanhei como a gorjeta que ele dissera.
Aproveitei para usar a quantia para dar um funeral mais
decente a Susan.
Depois de atender meus clientes voltava para o meu
apartamento quando recebi uma mensagem de minha mãe
pedindo para que fosse a sua casa. Achei estranho. Mamãe
não me ligava muito, aliás, nunca, depois de tudo que
aconteceu com minha irmã mal nos falávamos. Respirei
fundo sabendo que se trataria de mais uma conversa difícil.
Anunciei ao segurança minha chegada. Sim eu tinha
que ter permissão para entrar na mansão de minha família.
Sim eu venho de uma linhagem de pessoas de muitas
posses. Meu bisavô veio da Noruega para trabalhar nos
Estados Unidos e foi alguém que deu sorte ao introduzir o
consumo de salmão industrializado no país. Foi esperto o
suficiente para ter um filho só, o meu pai, e uma esposa
apesar das incontáveis amantes. Mas foi uma linhagem que
se alojou no interior da Virginia Ocidental, um lugar
conservador onde tudo precisa ser perfeito para que uma
pessoa seja feliz, ou seja, faculdade, casamento e hipoteca.
Fui criada numa fazenda até os dezesseis anos. Depois com
a morte do meu avô e o que aconteceu comigo, meus pais
envergonhados saíram de lá comprando uma bela
residência nos arredores da Califórnia.
— A senhorita pode entrar.
Agradeci o segurança estacionando o carro na frente
da suntuosa casa dos Tyrs. Uma mocinha vestida como
criada me esperava a frente da porta, por algum motivo ela
me fez lembrar de mim quando vivia com meus pais.
— Boa tarde senhorita Eudora.
— Bom tarde.
— A senhora Tyr lhe aguarda no escritório. Siga-me
por gentileza.
Entrar naquela casa em tempo algum era uma
sensação agradável ou de aconchego de quem volta ao
ninho e Freya, minha mãe fazia questão de me fazer
lembrar disso o tempo inteiro. Minha boca ficava seca e um
enjoo brotava em mim sem a menor misericórdia.
— Pode nos deixar a sós Jane. — erguendo apenas a
ponta do dedo com desdém.
— Com licença senhora Tyr.
Fazia muito tempo que não a via, mas o jeito frio e
aquele olhar distante sobre mim não mudariam nem mesmo
depois de milhões de eternidades.
— Oi Freya.
— Por que sempre acho que a próxima vez que a
verei penso que terei o benefício de uma melhora de sua
figura Eudora? — mostrando-me a poltrona acolchoada —
Sente-se.
Com passos curtos acatei o pedido dela voltando a
me ver como um coelho aturdido tentando fugir das garras
de seu predador.
— Imagino que você tenha estranhado a natureza do
meu pedido.
— Muito. Eu sei que a última coisa que deseja é me
ver. Por isso estou um tanto curiosa para saber o que quer
comigo.
O som de seus saltos sobre o piso me arremetia a
infância quando eu e Guida, minha irmã caçula e preferida
de Freya corríamos pela casa na fazenda e ela nos
procurava.
— A razão pela qual mandei que viesse — sentando-
se com sua elegância a minha frente com as suas pernas
cruzadas e seu ar aristocrata — É porque eu e seu pai
decidimos retirá-la de uma vez do nosso testamento.
Freya não tinha herança, ela foi agregada a família
do meu pai como filha da criada e acabou se casando com
meu pai por também ter nascido na Noruega. Mas depois do
que aconteceu com Guida, meu pai caiu em profundo
desgosto levando-o a um poço profundo de depressão o que
só fez piorar diante do que ocorreu em minha vida. Essa foi
à oportunidade que minha mãe encontrou para me castigar,
ela assumiu os negócios com mãos de ferro, me botou para
fora de casa depois de me obrigar a dar minha filha para
adoção. Eu nunca entendi porque ela não me amava, mas
compreendo porque ela me odeia.
— Duvido que meu pai tenha aceitado fazer isso. Ele
mal sabe o que acontece a sua volta desde que o internou
naquele lugar.
— Tudo que eu preciso é tomar a decisão por ele
Eudora.
— Sabe que ele me deixou a fazenda. É a única coisa
que peço e não pelo valor. Eu refiz a minha vida Freya.
— Claro que refez. Abrindo as pernas por dinheiro.
— Você mesma me disse que eu deveria fazer aquilo
para qual tenho talento.
— Como eu odeio um dia ter posto você nesse
mundo Eudora.
— Não mais do que eu odeio ter saído de dentro de
você.
— Você é um câncer na minha vida. Destruiu nossa
família! Destruiu seu pai! Destruiu Guida!
— Eu não destruí minha irmã. Foi uma fatalidade.
Quantas vezes terei que repetir isso? — agora de pé nos
digladiávamos mais uma vez.
— Fatalidade foi você não ter morrido no lugar da
minha filha! Meu Deus eu vivo me questionando por que
não foi você a morrer na mão daquele facínora. Por que
você não ajudou minha filha?
— Eu ajudei Freya! O que acha que uma menina de
dez anos poderia fazer contra um homem adulto? Um
estranho que surgiu do nada em meio à margem do lago e
nos atacou? Tudo que eu poderia fazer eu fiz. Eu corri para
pedir socorro.
— Vadia! Vagabunda! Se a amasse de verdade teria
dado a sua vida pela dela. — um tapa em meu rosto mais
uma vez foi dado — Eu tenho nojo de você Eudora.
Lancei meu olhar para outra direção sem esboçar
nenhuma reação às palavras de ódio dela.
— Você não presta, nunca prestou. Sempre pensando
em si mesma. Egoísta. Mesquinha e ambiciosa. Você tem
razão além de puta o que mais você prestaria nessa vida?
Um escárnio como filha, irmã e mãe.
— Não fale da minha filha. Eu não lhe dou esse
direito.
— Como ousa? Você está na minha casa e ainda
acredita que pode me dizer sobre o que ou não eu devo
falar?
— Você me obrigou a dá-la para adoção!
— E foi a melhor coisa que fiz para aquela criança
imunda. Uma mãe de 16 anos, um ser desprezível feito
você! Ela sendo fruto de um homem casado, de boa índole e
amigo de nossa família! Achou o quê? Que ele deixaria uma
esposa maravilhosa e filhos lindos para ficar com uma
ninfeta problemática como você?
— Eu nunca pedi ao Kevin que ficasse comigo eu só
queria ficar com a minha filha.
— Jamais! Eu não passaria por essa vergonha de
saber que algo de dentro de você, fruto do pecado vingasse
em minha família.
— Não fale assim da minha filha! — empurrando-a —
Você se acha muito poderosa não é Freya? Mas não é! E
como citou, eu não sou a sua filha então não pense que vou
tratá-la com o mesmo respeito que uma mãe!
— Você está deserdada Eudora e hoje é um dos dias
mais felizes da minha vida. Quero que apodreça no inferno!
— recompondo-se com ódio nos seus olhos.
— Sabe que a fazenda representa muito para mim. É
a melhor parte da minha vida, das lembranças que tenho
com a Guida e com o papai. Você nunca gostou daquele
lugar porque ele me fazia feliz.
— Pois é, agora eu sei que você pode sentir o mesmo
que me fez sentir quando deixou que aquele crápula
assassinasse minha filha ao invés de você.
— Não foi minha culpa! Não foi minha culpa.
— Quem disse que não foi? — Freya sabia me
enlouquecer — Você não falou que ele chegou na surdina e
que já estaria observando-as algum tempo? Quem me
garante que ele não queria você? Por que ele preferiria uma
menina de 8 anos ao invés da de 10? Ele só estuprou e
esganou minha Guida porque você fugiu deixando-a lá para
morrer sua piranha!
— Mentira! Ele a queria. Dava para ver nos seus
olhos através da touca.
— Um lixo como aquele não ia preferir um anjo como
a minha filha, ao contrário de uma vagabunda feito você.
Jamais!
— Por favor, Freya, não tire a fazenda de mim. Eu
não ligo para herança. Mas a fazenda não, por favor!
— Já decidi o que farei com ela.
— O que fará?
— Venderei para os Mccarthy. Tive uma boa proposta.
— Não faça isso, por favor! Eu compro de você. Basta
que me dê um tempo, eu consigo o valor que pedir.
— Uau! Estou surpresa Eudora, sua vagina vale tanto
assim? Ao ponto de comprar aquela fazenda? Saiba que me
sinto feliz em saber disso, pelo menos alguma coisa em
você tem valor.
— Como consigo não importa. Diga quanto quer e eu
lhe pagarei.
— Eu quero o dobro do que os Mccarthy me
ofereceram. — colocando um valor num pedaço de papel e
em seguida entregando-me.
Quando meus olhos viram tantos zeros depois da
cifra cheguei a ficar confusa. Eu jamais teria tanto dinheiro,
mas por Guida eu queria tentar, eu devia isso a ela e ao
meu pai.
— Quanto tempo você me dá?
— Diga você. Estou atenta para ouvir sua proposta.
— Eu preciso de no mínimo um mês. — ela
gargalhou. — Onde está a graça?
— Por que eu esperaria um mês por um dinheiro que
posso ter em no Máximo três dias de negociação com os
Mccarthy?
— Finja que pode fazer isso por ser minha mãe.
— Você quer mesmo aquela pocilga pelo visto.
— O que me diz Freya?
Ela caminhou pelo recinto como se fizesse de conta
pensar apenas pelo prazer em me torturar. Depois de um
breve suspiro sentou na cadeira da mesa do meu pai
passeou as mãos pela madeira torceu um pouco o rosto
sendo enfática.
— Três semanas e nada mais. Aceita?
— Aceito. — revirando-me por dentro nas
possibilidades que me faria conseguir tamanha quantia.
— Muito bem Eudora. Temos um acordo. Daqui a três
semanas eu lhe espero neste mesmo horário aqui em minha
casa. Suponho que agora possa sair.
Aos poucos fui me virando para ela, mas antes que
eu cruzasse a porta fui obrigada a ouvir.
— Abuse das vitaminas minha querida. Vai precisar
estar muito forte para abrir essas pernas por milhares de
vezes. Salomé deve estar revirando-se na tumba por ser
desafiada por você.
Não sei quantas ou se vi alguma pessoa no caminho
em regresso ao meu carro. Tudo o que eu queria era me
afastar o mais rápido possível daquela casa e sobretudo de
Freya.
Enquanto dirigia minha mente vagava em meu
passado mais uma vez, tentando me relembrar da primeira
vez que percebi que minha mãe não me amava. Eu já ouvi
algumas pessoas relatarem que suas mães não gostavam
delas, mas havia um porém, no meu caso não houve. Freya
me desprezou desde que nasci. Papai um observador nato
tentou a medida do possível compensar a falta de
compaixão da esposa comigo, que só fez piorar depois que
Guida nasceu. Tenho certeza de que a maioria das crianças
em meu lugar odiaria minha irmã, mas eu amava Guida. Eu
queria protegê-la de Freya. Na minha cabeça cedo ou tarde
ela também seria nociva e cruel com ela como foi comigo.
Mas ela amava Guida.
Naquela manhã em que saímos escondidas após o
café da manhã para irmos pescar no lago da fazenda que
ficava na divisa com uma floresta conhecida como Floresta
Maldita que era densa e fechada acreditávamos que seria
mais uma de nossas aventuras. Até hoje não me perdoo
porque eu não notei nada, eu não li os sinais de quem
protegia a irmã caçula permitindo que fossemos até lá.
— Olha Dora eu peguei outro peixinho.
— Ele é lindo Guida. Mas é melhor soltá-lo.
— O barco tá balançando tanto.
— Deixe de ser medrosa Guida. Eu faço isso. Pronto
agora ele vai voltar para o papai e a mamãe dele.
— Desculpe Dora.
— Pelo quê?
— Você ficou triste quando falou do papai e da
mamãe do peixinho.
— Não fiquei não Guida.
— Eu estou triste pelo que a mamãe fez com você.
— Não ligue ela só ficou brava porque eu quebrei os
ovos que era para o bolo da colheita.
— Não é dos ovos que falo. — olhando-me de um
modo tão intenso — Falo de toda vez.
— Está tudo bem Guida.
— Dora...
— Oi.
— Posso perguntar uma coisa?
— Sabe que sim.
— O que é boceta mal dada?
— Onde escutou isso? — meus olhos se arregalaram.
— Papai e a mamãe discutiam no quarto quando eu
passei no corredor indo para o banheiro. Eu queria fazer
xixi. Tava quase explodindo. Mas escutei quando papai falou
“Ela não merece isso!” e mamãe respondeu: “ Eudora não
passa de uma boceta mal dada”.
— Não deveria dar importância a isso Guida. — mas
eu fiquei transtornada ao saber daquela frase.
— Os bebês não vêm do bico da cegonha?
— Sim. Claro. — limpando a lágrima que tentava
escapar do canto dos meus olhos.
— O que é boceta?
— Perequita Guida.
— Por que ela falou da perequita assim? E o que é
dar?
— Guida... Adultos são assim. A gente não tem que
entender tudo. Eu não me importo com o que a mamãe fala.
— dando com meus ombros — Ela fala tanta coisa de mim.
— de repente senti sua pequena mão em meu rosto.
— Você finge que não se importa Dora, mas eu sei
que se importa.
— Por quê?
— Porque qual filha não quer que sua mãe fale coisas
boas dela?
— Você é uma ternura Guida Tyr e eu te amo.
— Também te amo. Você é a melhor irmã do mundo
todo. Posso contar mais um segredo? — cochichou
esquecendo que estávamos sozinhas.
— Fale.
— Você é melhor que a mamãe e eu gosto mais de
você do que dela. E um dia eu sei que será a melhor mãe do
mundo também.
Sorrimos coniventes esfregando o nariz de uma
contra o da outra. Nossa marca. Então apanhei o remo do
pequeno bote voltando para a terra. Não me lembro de
muitas coisas depois disso. Eu bloqueei a maior parte delas.
Só recordo do homem alto e forte tentando nos segurar e
que ligeira saí correndo pela campina até a casa grande
para pedir ajuda para Guida. Não me perdoo por não ter
ficado, embora eu tenha pensado nisso e tenha tentado
puxá-la das mãos sujas dele. Até hoje escuto a voz
apavorada de Guida gritando:
— Foge Dora! Foge por favor!
Ninguém se refaz de algo assim. De ver nos olhos de
seus pais, sobretudo sua mãe a palavra culpa sobre seus
ombros como uma cicatriz cravada na testa para o resto da
vida. No dia do funeral de Guida quando chegamos em casa
ela me mandou subir para o meu quarto e eu obedeci. Eu
não queria mais criar qualquer atrito com ela ou com papai.
Sentada com os joelhos contra meu peito em cima da cama
vi a porta se abrindo e meus olhos espantados com a figura
diabólica de Freya me faziam gritar por dentro para que eu
morresse antes que ela se aproximasse de mim.
— Quero lhe falar uma coisa garota. Nunca mais me
chame de mãe. Nunca mais diga que é minha filha. Eu não
sou mãe de um monstro como você. De uma criatura
covarde e desprezível que largou a minha menina para que
aquele crápula fizesse o que fez. Você está escutando?
— Sim. Estou. — sussurrei.
— Sabe que quando você nasceu eu tive a
oportunidade de afogá-la na banheira por muitas vezes. Mas
seu pai percebeu e passou a evitar que eu colocasse as
mãos em você. Se soubesse como eu me arrependo de não
ter conseguido. Você não presta Eudora. Não presta para ser
gente. Para ser filha, irmã e muito menos para ser mãe. —
caminhando até minha cômoda puxou a terceira gaveta
tirando de lá sua caixa de costura e depois de abri-la
apanhou a tesoura afiada deixando-a aberta ao meu lado da
cama — Faça um favor ao mundo. Pelo menos isso. Seria
mais digno de sua parte.
Depois daquele dia eu nunca mais dormi direito.
Minha mãe me ofereceu uma arma para que eu tirasse a
minha vida? Que esperança uma criança pode ter depois de
tudo isso da vida. Dali por diante eu fui me rebelando mais
e mais. Eu me envolvia com todo tipo de gente que não
presta. Eu era expulsa dos colégios. Eu ficava internada em
clínicas para viciados. Eu perdi minha virgindade com doze
anos no bagageiro de uma van com um cara de vinte e
quatro anos e na noite seguinte me diverti com ele e mais
dois amigos. No final da noite ou na manhã seguinte eles
me pagavam um café da manhã ou mais pinos de cocaína.
Foi assim que eu descobri que a prostituição não é dinheiro
combinado. Eu saía com caras que me pagavam bebidas,
me levavam para festas, me ofereciam todos os tipos de
drogas ilícitas. A prostituição depende do olhar de quem vê.
Há muitas pessoas que jamais pisaram num puteiro e nem
pisarão durante toda a sua vida, mas que são tão ou mais
putas do que eu. A diferença é que eu não tenho problema
em assumir isso e não uso a palavra “favores” no lugar de
negócios.
Amadurecer tão cedo me causou feridas gigantescas,
mas teve seu lado bom. Eu não permiti que o coitadismo
fizesse de mim sua vítima. Eu botei para quebrar na vida
mesmo. Eu fui vivendo alucinada cada segundo de tudo que
me era apresentado, a prova disto é que uma das tatoos
que tenho no corpo está escrito: “Vivo rápido por não ter
medo de morrer jovem”. Com o tempo eu aprendi os
códigos da vida. A noite era o meu dia e a madrugada a
minha fada madrinha. Eu adorava ser a principal causa das
brigas nas baladas onde frequentava. Homens se porrando
por minha causa ou mulheres arrancando tufos de cabelos
de seus boys porque tinham me pagado bebida e passado
seus contatos. Nessas horas eu ia para meio da pista ou
subia no balcão principal e me acabava dançando com uma
garrafa de champanhe na mão derramando sobre meu
corpo quase nu envolto do poder de sedução que eu sabia
que possuía. Eu tinha um amigo chamado Daniel, ele era
brasileiro, saíamos juntos na noite. Amigo de copo como eu
costumava chamar. Ele adorava me ver causar todo reboliço
e depois requebrar até o chão. Daniel costumava me
chamar de Minha Menina, e cantava uma música brasileira
que segundo ele me definia com perfeição.
Vem ser minha menina!
Você me alucina!
Olha que tesão, dentro do salão
É a minha menina!
Nos bailes da cidade só dá ela, meu irmão!
Quando ela mexe sua bundinha é muito sexy
Quando ela mexe sua bundinha é nota 10!
A coisa mais gostosa cara, que eu já conheci
Olha só que maravilha, meu irmão!
A princesa requebrando no salão
Põe a mão no joelhinho, meu nenê
E rebola, eu quero ver!
Todos pagam pau, todos passam mal com a minha
menina,
A bela da cidade não é fraca, não
Tem maninho me dizendo que pirou!
Tem maninho me dizendo que endoidou!
E agora passam a noites na alucinação
Olha só que maravilha meu irmão!
Se enrosca com a amiguinha pra abalar
E me chama que eu também quero brincar
Demorou, demorou, demorou
Vem ser minha menina!
Milhões de vezes Daniel me puxou de cima dos
balcões ou do centro da pista antes que algum soco ou
pontapé chegasse a mim.
— Agora que a coisa ficou boa Brazuca. — era como
eu o apelidei.
— Bora vazar Minha Menina!
— Me carrega no colo? Estou muito doida! Acho que
aquele seu amigo que tem o pinto pequeno está a fim de
me consolar de novo.
— Bora Menina, o deixa na vontade que pinto
pequeno não é a sua praia, certo?
Sinto a falta do Brazuca, era como eu o chamava, ele
morreu num acidente de carro fugindo da polícia depois de
um racha. Eu estava com ele dentro do carro e não sofri
nenhum arranhão depois do veículo capotar por três vezes.
É como falo, eu mato tudo que amo.
Até hoje me martiriza ver como a família dele me
acolheu e foram tão solícitos comigo mesmo na sua dor
quando chegaram ao hospital enquanto minha mãe me
olhou daquele jeito altivo e frio deixando claro mais uma
vez como ela me odiava.
Eu compreendo porque Freya me odeia. Ela acha que
fui responsável pela morte de Guida. Eu também acho. Mas
eu queria saber a razão que a moveu não gostar de mim
desde o momento que me concebeu. Eu cheguei ao ponto
de fazer exame de D.N.A para ter certeza de que ela e meu
pai era meus pais biológicos e para minha surpresa eu sou.
Muitas vezes questionei com papai a razão dela não gostar
de mim. Eis aí um assunto que o machucava. No começo eu
imaginava que isso se dava porque ele sabia a razão, mas
com o tempo eu notei que isso o feria justamente por ele
não poder explicar.
— Pai tem que haver uma razão. Como uma mãe não
gosta da filha? Eu sou filha de outra mulher ou alguma coisa
assim?
— Filha... Eu sinto tanto por você. Eu sei que você faz
coisas horrendas que eu não aprovo, mas eu também sei
que não tem culpa pela mãe que tem.
— Ela nunca falou nada? — lembrando-se daquela
conversa que um dia Guida escutou entre eles em sua ida
ao banheiro.
— Quando Freya descobriu que estava grávida ela
queria um menino. Ela tinha certeza de que teríamos um
menino. Ela preparou todo o enxoval e o quarto do bebê
como quem esperava um príncipe. Cansei de falar a ela que
fizesse o ultrassom, mas ela tinha toda a convicção do
mundo. Quando você nasceu e ela soube que tinha dado a
luz a menina mais bonita do berçário parece que a luz dela
morreu ao saber da notícia. Sinto muito Eudora. Essa é a
única razão que sei para que ela não fosse muito ligada a
você.
Era um final de tarde no lago da fazenda e por um
tempo sentados um ao lado do outro fiquei calada. É duro
tentar processar que a sua mãe não goste de você porque
queria que você fosse um menino. Mas por mais bizarro que
isso seja, fazia sentido, porque quando Guida chegou todos
os olhares de Freya assim como o seu dito amor foi para ela
e nada mais justo que ela me odiasse. A boceta mal dada
como ela se referiu a mim acabou tirando de certa maneira
a sua filha do mundo.
Depois da morte de Daniel eu passei um tempo mais
recluso. Parei um pouco com as baladas. Nesse tempo eu
tinha dezesseis anos e meu pai queria que eu terminasse os
estudos e por isso contratou Kevin Matheus. Um grande
amigo da família para ser o meu tutor. O Kevin estava na
casa dos quarenta anos e conhecia a minha fama assim
como eu a dele. Cansei de vê-lo com várias mulheres mais
novas pelas baladas que frequentava. No início ele fazia de
conta que não sabia sobre a minha fama, mas eu não
ignorei o que conhecia dele.
— Bem Eudora hoje vamos estudar um pouco mais
sobre a Ásia. Tem algum país da Ásia que você aprecie?
— Tailândia. — respondi na lata descruzando minhas
pernas na cadeira e depois voltando a cruzá-las só para que
ele imaginasse que eu estava sem calcinha, na verdade era
uma calcinha micro de silicone e estampa de zebra na parte
de trás. — Adoro a liberdade que as mulheres tailandesas
possuem. Como elas veem o sexo.
— Bom... Eu gosto muito do Japão e...
— Sabia que elas permitem que seus maridos
durmam com outras mulheres? Até mesmo da família. Eu
acho isso fascinante. — sussurrei vendo-o pigarrear
enfiando as mãos no bolso da calça a fim de deter algo.
— Bem... — ainda mais nervoso — Eu nunca ouvi
falar sobre isso.
— Está com calor senhor Matheus? — encarando-o
sem pudor. Eu gostava daquilo. De saber o quanto eu podia
encantar um homem com meu sexy appeal — Posso pegar
um copo de água se o senhor desejar. É isso que o senhor
deseja? — debruçando meus cotovelos sobre a mesa
fazendo uma imensa bola com a goma de mascar. Ao ouvir
a explosão da mesma sorri sacana para ele que não podia
mais esconder sua ereção por não tirar os olhos da minha
vagina lisinha e rosada.
— Gostou dela senhor Matheus?
Ele nada respondeu parecia petrificado e sem saber
o que fazer. Abri ainda mais as pernas mexendo em meu
clitóris. Então fui ao frigobar do meu quarto sem pressa com
aquele caminhar cheio de luxúria que toda ninfeta sabe
fazer. Abri a lata de refrigerante colocando dois dedos num
copo e em uma taça mais dois dedos de conhaque
escondido numa pequena garrafa de chá para que minha
mãe não soubesse caso bisbilhotasse.
— Eudora... Eu não bebo em serviço e acho melhor...
— Shn! — falei fazendo biquinho caminhando até ele
com o copo e a taça — Toma o seu refri senhor Matheus. —
virando de uma vez o conhaque em minha boca na frente
dele.
— Por que está fazendo isso Eudora? — agora o tom
da voz tornou-se aveludada.
— Fazendo o que senhor Matheus?
Sentei sobre a mesa virada para ele com as pernas
um pouco abertas. Ele tentou se recompor e eu fingi que
nem vi. Prendi os cabelos com um rabo de cavalo e coloquei
os peitos apoiados na altura de sua boca.
— Está tão quente aqui não acha?
Vi que ele olhou respirando fundo quase perdendo o
resto do controle. Tentou voltar à matéria da apostila, então
se levantou da mesa, fingindo mexer no celular. Então eu
me debrucei sobre a mesa pedindo uma explicação da
matéria. Ele colou os olhos no meu bumbum com a minha
calcinha de zebra.
— Gosta de zebra senhor Matheus?
— Acho que acabo de deixar de ser vegetariano.
— A minha bunda está comendo a zebrinha toda.
Acho que ela tem fome. O senhor sabe alguma coisa sobre
como saciar a fome da minha bundinha? — pressionando e
soltando a medida que os seus olhos iam devorando mais e
mais meu corpo.
Começou a gaguejar explicando coisas sobre a Ásia.
Falava tão rápido como um narrador de corridas de cavalos.
Eu vi que ele ficou doido, e era essa a minha intenção.
Senti-me satisfeita só com aquilo.
— O senhor não me parecia tão tímido quando nos
encontrávamos pelas madrugadas. — mordisquei a caneta
chupando devagar só para atazanar — Tinha cada mulher
bonita sentada em seu colo. O senhor tem um bom gosto só
não entendo como se casou com a senhora Matheus ela
foge dos seus padrões.
— O que você quer menina?
— O que quer me dar senhor Matheus?
— Se um homem como eu te pega...
— Acha mesmo que é o primeiro na sua idade que eu
pego?
Ele veio se aproximando de mim alisando minha
coxa.
— Que pele macia você tem... — Eu só dei um sorriso
safado. Foi a tacada final.
Voando sobre mim beijou meu pescoço até achar a
minha boca com a sua mão entrando e saindo do meio da
minha bunda. Virei-me alisando seus belos cabelos grisalhos
e um beijo puta selvagem explodiu entre nós.
— Melhor trancar a porta senhor Matheus.
Foi até a porta trancando-a e voltando para mim.
— Por que quero perguntar se é virgem se sei a
resposta?
Arrancando sua camisa entre nossos gemidos parei
por um momento depois de morder seus mamilos
segurando seu queixo.
— Eu sou sua agora. Eu posso ser o que quiser até
virgem. O senhor quer?
— Quero! Quero sim sua putinha do caralho!
Devorei um pouco mais a sua boca e com a ponta do
pé o empurrei para longe.
— Sabe senhor Matheus eu tenho um pouco de
medo. — comecei a ensaiar o meu papel.
— Do que tem medo? Fale.
— Eu ainda sou mocinha.
— Jura? Mais você se toca? — sacudi a cabeça em
negação como quem escutasse algo profano.
— Fica calma, relaxa. Você vai gostar.
— Vou?
— Vai. Não vai me dizer que não me provocou?
— Eu só queria saber se sou bonita. — abaixando até
o pé passando a mão por toda a minha perna.
— Você tem lindas pernas.
— Gosta mesmo?
— Adoro Eudora.
— O que vai me dar senhor Matheus? Eu fui uma boa
menina. Eu adoro doce.
— Que doce você mais gosta?
— Pirulito. Bem grandão.
— Eu tenho um enorme aqui. — segurando o pênis
imenso, rijo, saliente no tecido da calça. — Agora vai ter o
que queria!
Voltando a me beijar, começou a acariciar meus
peitos por baixo da blusinha, me sentou na mesa tirando
minha blusa e meu sutiã chupando o biquinho dos meus
seios rosados e brancos. Jocosa baixinho gemi.
— Delícia de peitos!
Com seu peitoral exposto nos agarramos, eu
acariciava suas costas fincando minhas unhas nelas. Eu
queria muito que a besta da mulher dele visse a minha
marca: “Eudora esteve aqui”. Desceu até meu umbigo
beijando todo meu ventre:
—Tira o short.
Deitou-me na mesa e safada fui descendo a peça
vendo-o salivar ajudando, uma hora travei as mãos de
sacanagem, brigamos por alguns segundos naquele vai e
vem, Kevin voou na minha boca e por fim a peça desceu,
irritado jogou o shortinho longe voltou para mim leão
tirando a minha calcinha de zebra com os dentes.
— Ui! Vai comer a zebra vai?
— Eu sou um bicho carnívoro. — deparando-se com a
minha vulva exclamou como num canto — Delícia de
bocetinha quero bem molhadinha para lamber o melzinho!
Caiu de boca em mim fazendo-me gemer alto. Gosto
de homem com atitude e ele tinha, ignorou minha frescura
sugando forte meu grelinho com intensa impetuosidade.
Agarrou-se nas minhas coxas me levando a insanidade,
experiente dava voltas na minha bocetinha até enfiar seu
dedo grande e grosso.
— Esse será seu teste virgenzinha. Se aguentar o
dedo aguenta a minha pica.
— Enfia mais Senhor Matheus... Enfia que eu gosto!
— Bocetinha apertada, estou doido para tirar esse
cabacinho... — ele entrara de cabeça em seu personagem.
Mexendo gostoso seu dedo me fazia contorcer então
ele lambia, metendo outra vez, meus gemidos viraram
gritos, agarrou com força meu queixo beijando-o.
— Cala a porra da boca sua putinha!
E ali olhando nos meus olhos arrancou-me um gozo
forte com a entrada de mais dois dedos.
— Que Delícia, essa bocetinha soltando melzinho!
— Ah... Hum...
— Isso goza para o seu homem! Goza!
Estremeci um pouco, e do nada o empurrei para
longe de mim rebolando como se ouvisse uma música
sacana. Eu era Eudora Tyr, eu sei ser mandada, mas
também gosto de mandar.
— Você é maravilhosa... — tocando o seu pau
melado.
— Sou? — agachando de costas para ele balançando
cada parte da minha bunda.
— Muito! Porra...
— Sabe o que eu quero agora senhor Matheus?
— Diga.
— Meu pirulitão. Vou chupá-lo todinho.
Deixei-o apoiado na mesa e aos poucos me apoderei
do seu corpo entre beijos, mordidas e toques até me
ajoelhar de vez. Gosto de começar pela cabeça. Chupo forte
e dou aquela olhadinha para ver a cara que eles fazem de
tesão. Ali sei que são meus. Depois massageei as bolas e
lambia toda a extensão até voltar de novo a cabeça. Notei
que a loucura o visitara.
— Gostosa! Chupa mais, chupa! Faz o senhor
Matheus gozar faz!
Oscilei entre leves mordidinhas e massagens pelo
membro que só fazia ficar mais e mais duro. Para minha
surpresa ele soltou um pequeno jato de gozo. Para colocar
mais lenha engoli tudo chupando todos os meus dedos das
mãos.
— De onde saiu esse tem mais?
Pegou-me pelos cabelos deitando-me sobre a mesa
chupando e masturbando ao Máximo.
— Vai me deixar tirar esse cabacinho vai?
— Vou. Come ela toda, come senhor Matheus.
Subiu na mesa com aquele cedro imenso pronto de
novo. Enfiou de uma vez só urrando em seguida.
— Nunca meti numa boceta tão apertada assim.
Beijava minha boca enquanto enfiava e tirava bem
devagar.
— Puta merda! Que xoxota é essa!
— Vai saber do que ela é capaz depois que meter
com força senhor Matheus.
Ele ergueu minhas mãos para cima de minha cabeça,
tapou a minha boca estocando tudo dentro de mim
deixando que eu ouvisse o som de suas bolas quicarem
contra mim.
— Gosta de gritar é?
— Só com um macho que valha a pena senhor
Matheus.
Ele se esgotou quicando na minha vagina o suor de
seu corpo se grudava no meu.
— Fode! Fode mais! Rasga essa boceta no meio!
— Puta! Safada!
— Sou e você gosta! Mete desgraçado! Mete!
O gozo veio forte e sobre minha barriga ele derramou
até a última gota.
Foi assim que comecei a gostar mais dos estudos e
meses depois descobri que estava grávida dele.
g
Capítulo 7
Alguém como ela
M á ximus
Parei na frente de um parque desses cheios de
crianças brincando por toda parte. Quando pequeno eu vivia
implorando para o Tio Brad nos deixar ir a um local como
aquele, quase nunca conseguia ir e nas vezes que eu ia
tinha que por ordem direta dele usar um nome falso para
não ser reconhecido. Agora segurando a grade vendo
aqueles meninos jogando sua partida de basebol sinto que a
fase que vivem se foi de mim sem muita alegria, a mesma
alegria que vejo nos seus olhos, mas hoje homem adulto de
algum modo eu sou como eles. Pensei na mesma hora na
minha Adultinha. Eu sinto muito a falta da Antonela e do seu
raciocínio precoce impecável.
Procurei um carro de cachorro quente comprando
um. Com muita mostarda e catchup. Se me visse comendo
aquilo ela me daria um sermão nutricional que leu em
algum livro, mas no fim acabaria pedindo igual para ela.
Essa é a parte mais bonita da nossa relação de pai e filha,
éramos cúmplices. Mesmo que tudo estivesse
desmoronando dentro de mim, ao perceber, e ela percebia,
seus pequenos dedos passeavam entre meus cabelos, um
beijo no rosto com a frase de que tudo ficaria bem porque
ela cuidaria de mim.
O senhor que vendia os cachorros quentes ajudou-
me a guardar a carteira no bolso visto meu braço
inutilizado. Agradeci dando-lhe uma boa gorjeta e em
seguida fiz meu ritual costumeiro. Retirei meus tênis com a
ajuda dos meus pés e de pé me coloquei a caminhar com
meu pé direto na grama. Aquele ato tão simples e esdrúxulo
para quem me olhava me trazia certa paz e me ajudava a
encontrar com uma parte de mim onde não fui uma criança
feliz. Acredito que por isso ser pai de uma criança tão
madura para sua idade fazia com que eu pudesse ser um
menino de vez em quando sem ser julgado ou retaliado por
isso.
Depois de devorar o cachorro quente, limpando
minha boca, levando o guardanapo para a cesta de lixo.
Senti um leve tranco no meio das costas.
— Foi mal senhor. — um menino cheio de sardas
esperou alguma palavra minha para apanhar a bola que me
acertara.
— Tudo bem garoto. — apanhando a bola e o
entregando — Sou Máximus Spartacus e você como se
chama?
— Prazer em conhecê-lo senhor Spartacus —
apanhando a bola e em seguida apertando a minha mão
como um cavalheiro — Meu nome é Richard Denson.
— Quem está ganhando a partida?
— O time adversário. Vai ser gozação daquela
amanhã na escola se não virarmos o placar.
— Você é batedor?
— Sou.
— Tenta segurar o taco com as mãos mais firmes e
vira o quadril com toda força que puder. Pode parecer
bobagem, mas ajuda muito.
— Eu agradeço senhor Spartacus. Seu filho deve ter
sorte. Eu não tenho um pai para me dar essas dicas iradas.
Passei a mão sobre seu cabelo remexendo um pouco
e o vi voltar mais confiante para sua base e quando notei
seu empenho para colocar meus conselhos em prática senti
orgulho de mim e ao mesmo tempo pena. Eu sempre achei
que formaria uma família cedo, antes dos vinte. Quando me
casei com a Ryana acreditei que meu sonho se tornara
realidade, ledo engano. Mais mulheres vieram e se foram da
minha vida me deixando com aquele vazio brutal de que eu
não as amava. Essa é a razão pela qual não aproximo meus
casos ou prováveis namoros de Antonela. Eu me sinto
responsável pela família que ela não teve o direito de ter e
tenho pânico de que alguma mulher que esteja ao meu lado
a machuque como a Ryana a feriu abandonando-a comigo
sem nenhum remorso.
Liana foi um namoro para satisfazer meu tio. Ela
daria mesmo uma excelente esposa para um homem na
minha posição, mas essa era a questão. Não sei se ela
poderia ser uma boa mãe para Antonela, no fundo, eu acho
que nenhuma mulher poderá ser.
Projetei um mundo perfeitinho demais e me esqueci
de que as coisas não são como desejamos. Eu sabia que se
tivesse uma mulher que seguisse o mesmo padrão eu
continuaria sem conhecer a felicidade e eu não queria isso
para mim e para minha filha.
No mesmo instante abaixei a cabeça pensando na
porra louca da Eudora. Aquele seu jeito arrogante, segura
de si e uma prostituta assumida mexeram na minha
essência como nenhuma mulher havia mexido. Eu sei que
ela tinha razão. Nossos mundos não combinavam. Não
numa combinação clássica de uma vida a dois. Como trazer
alguém como ela para conviver com a minha Adultinha?
Porra, impossível! Mas o que eu faria com o que nasceu
dentro de mim desde o instante que nossos olhares se
cruzaram. Nossas bocas se comeram e nossos corpos se
foderam como dois animais no auge dos seus cios. Não era
um lance só de pele, mas era um lance de vida, de vidas
que pareciam ter sido criadas para não se encaixarem. Pela
ducentésima vez meu celular tocou com uma ligação de
Liana. Parece que eu não podia mais evitá-la. Mesmo sem
nenhum resquício de vontade atendi a minha namorada
exemplar.
— Máximus! Meu amor onde você estava fofinho? O
dia inteiro querendo saber de você.
— Estou bem Liana.
— Não se faça de bobo fofinho, a melhor amiga da
Jaqueline viu você entrando no hospital com a sua
irmãzinha praguenta. Eu liguei para ela, mas é lógico que
ela não me contaria nem mesmo se você tivesse virado
plantinha no céu.
— Eu tive um pequeno incidente e precisei fazer uma
pequena cirurgia. Austin não contou para não te apavorar.
— Mais fofinho como você passa por isso e nem liga
depois?
— Eu não contei nem para minha filha Liana por que
contaria para você?
— Onde você está? Passei no seu apartamento você
não estava, estou na casa do seu tio e Eunice disse que
você e a Antonela saíram cedo.
— Eu queria ficar um pouco só. Austin e o resto do
povo ficam me falando de repouso e eu não sou de ficar
parado. Você me conhece Liana.
— Vem para cá. Eu quero te ver.
— Eu estou indo. Eu quero conversar algo muito
importante com você.
— Sabe que ontem mamãe e eu andamos
experimentando vestidos de noivas? Acho que está na hora
de você me inserir na vida da Antonela. Fofinho era um
vestido mais formidável do que o outro. Estou pensando em
usar uns três em nosso casamento.
— Liana... Que casamento? Estamos namorando.
— Mas fofinho, não acabou de falar que tem algo
para conversar comigo? Que coisa mais séria pode haver
entre nós mais importante que o nosso casamento? Ah,
espero que não tenha saído para comprar o anel, eu já fiz a
minha lista dos meus preferidos na Tiffany. São divinos!
Qualquer um deles me fará à mulher mais feliz do mundo.
Por favor, não deixa a sua filha escolher. Crianças não
entendem dessas coisas e você faz tudo que ela quer.
— Olha espera que eu estou chegando aí. Tchau.
Não gosto de partir o coração de ninguém apesar de
que às vezes isso é impossível de não acontecer. Mas não
era o caso de Liana, ela podia ser uma garotinha fútil e
mimada, mas não era burra. Toda vez que pressentia no
meu tom de voz a intenção de dar um término ao nosso
relacionamento ela se adiantava com algum assunto fosse
uma viagem a dois, um vale nigth para mim e por fim usava
muito o assunto casamento. A intenção dela não era ser a
minha prioridade e sim fazer com que as minhas
necessidades fossem satisfeitas sem se importar com o
custo. Por trás daquele sorriso doce e voz infantil eu podia
ver com clareza a intenção diabólica de ser a senhora
Spartacus, sem contar no detalhe de que Antonela já me
havia dado um relatório com direito a pasta e tudo sobre as
mil coisas que não gostava na Liana.
Ao entrar na mansão Spring fui recebido pela
afetuosidade de Liana que eu nunca soube julgar com
precisão se era sincera ou não. Mas o toque dela me levou
no mesmo segundo para o toque de Eudora na minha pele,
até senti aquele perfume marcante de notas agudas. Eu
estava ferrado. Ferrado ao cubo. Se ela fizesse ideia do
quanto havia me deixado de quatro por ela não teria nem
por um piscar de olhos algum receio de se jogar de corpo e
alma nos meus braços.
— Mas fofinho esse seu dodói é sério mesmo. Levou
muitos pontinhos porque o seu tio me contou tudo.
Percebi a presença de tio Brad de mão dada com
Antonela contemplando aquela cena com aquele olhar que
eu conhecia. Um homem saca quando o outro está
armando.
— Cuidado Liana. Dói um pouco. — minha filha nem
veio me abraçar e isso me arrebentou por dentro.
— Senta aqui no sofazinho comigo meu amorzinho.
Assentamo-nos no sofá ainda sob o olhar de tio Brad
e da Antonela que se mantinham calados.
— Você fez muito mal em não me contar. Achei que
teria que ligar para o papai para que ele fizesse um
comunicado na HG TV procurando pelo meu noivinho. — HG
TV era um dos principais canais televisivos ao qual a família
de Liana era proprietária.
— Não seja tão dura com ele Liana. — tio Brad se
posicionou — O Máximus só saiu para espairecer um pouco
não foi sobrinho? — acenei que sim entalado pela aquela
mania dissimulada que Liana tinha de me pressionar sobre o
fato de ser a filha do dono de um dos principais canais do
país.
— Liana... Acho que chegou a hora de termos uma
conversa muito séria sobre nosso futuro. — ignorei o olhar
reprovativo do meu tio, ele alcançara o que se daria, mas vi
os olhos da minha Adultinha brilharem de orgulho — Eu não
estou mais feliz com esse relacionamento Liana.
— O que? — de repente a mocinha doce levantou
cruzando os braços — Como assim não está feliz fofinho? Eu
faço tudo para você ficar feliz. Eu não me importo que saia
com os amigos, ou com as suas distrações por aí.
— Liana eu quero terminar. — decidi ser o mais direto
possível.
— Terminar? Fofinho... — pondo a mão em seu colo
para começar sua encenação — Eu te amo!
— Liana você sabe que não me ama. Eu sei o que
você quer e eu não quero isso para mim, pelo menos não
com você. — dessa vez fui eu quem me levantei andando
pelo recinto.
— Você não pode fazer isso comigo fofinho. Depois
de tudo que vivemos. Depois de organizar até altas horas
da madrugada a lista com os dez anéis que mais gostei na
Tiffany. Não pode! Você não tem esse direito!
— Antonela, filha, vá para o seu quarto. Daqui a
pouco papai está subindo lá para conversarmos. — ela deu
aquela piscada despontando saltitante para o quarto.
Quando você acredita que as coisas não podem
piorar é impressionante como sempre podem.
— Nossa que gritaria é essa garota? Lá de fora está
dando para escutar.
— Não se meta Austin! Isso é uma conversa entre eu
e o fofinho. Aliás, eu tenho quase certeza que foi você que
andou botando coisas na cabeça dele!
— Meu amor... — Austin largou a bolsa sobre um
canto do sofá já partindo com o dedo em punho — Se tem
alguém que está colocando algo na sua cabeça e com a sua
permissão é o Máximus e para isso meu irmão gato não
precisa da minha ajuda. Se toca sua retardada!
— Austin contenha-se. — Enfim tio Brad abriu a boca
tentando afastar minha irmã — Não se meta nos assuntos
de seu irmão.
— Ih para tio! Assunto do meu irmão é assunto meu
também.
— Chega! Para! — gritei irritado — Liana eu poderia
passar mais duas horas listando os motivos pelos quais não
quero mais ficar contigo, mas se me conhece sabe que sou
direto. Não dá mais. Acabou!
— Você não tem o direito de fazer isso comigo. Eu
sou Liana Mccanths!
— Minha filha você poderia ser até Beyoncé. Pé na
bunda é pé na bunda amore!
— Austin cala a boca! — apontando para minha irmã
— Liana, eu sinto muito. Mas esse namoro já estava
condenado há quase um ano e tudo que fizemos foi
empurrá-lo com a barriga até onde desse e foi o que
aconteceu. Deu! Já era! E se quiser falar com seu pai, o
Papa faça. Agora me dê licença. Eu preciso ver a minha
filha.
À medida que meus passos subiam as escadas pude
ouvir que outro bate-boca entre Liana e Austin se iniciou.
Mas agora ela não era mais problema meu. Bati algumas
vezes de leve na porta do quarto de Antonela entrando em
seguida e lá estava ela com mais uma de suas astúcias,
sentada em uma cadeirinha e com outra que mal cabia
minhas pernas batendo sua mãozinha para que eu
assentasse.
— Entre senhor Spartacus está na hora de mais uma
nossa sessão de terapia. — torci a boca fazendo careta. —
Não faça essa cara seu papai lindo e sente aqui. — com as
pernas cruzadas usando um dos óculos de leitura do tio
Brad.
— O que me resta não? — ajeitando-me como podia
naquela cadeira de gnomos.
— Como o senhor está hoje? Soube que teve um
pequeno problema no braço.
— Eu sobreviverei senhorita Spartacus.
— Sobre o que vamos falar? — suspirei sem saber se
ria ou me descabelava diante daquela Adultinha — Não se
feche senhor Máximus. Como vai seu namoro?
— Acabei de terminar meu namoro.
— E como se sente sobre isso? — ajeitando os
imensos óculos em sua face de princesa.
— Eu me sinto aliviado.
— Contou para sua filha? — sorriu moleca.
— Acho que ela ficará mais feliz do que eu.
— Por quê?
— Porque ela achava a minha ex-namorada uma
bossal.
— Fico feliz senhor Máximus, aprendeu uma palavra
nova foi? — não resisti puxando-a para mim e ainda que
com um braço só enchi-a de muitos beijos.
— Para papai! Sua barba faz cosquinha!
— Você é uma geniasinha linda sabia? — ela sentou-
se em meu colo passando a mão no braço na tipoia.
— Ainda está doendo muito?
— Perto de você tudo desaparece filha.
— Fez a coisa certa papai. A Liana não serve para
nós.
— Para nós? — gargalhei.
— Claro o que não serve para você não serve para
mim e vice-versa.
— O que seria da minha vida sem você Adultinha.
— Um marasmo sacal.
— Marasmo sacal? Defina isso por gentileza.
— Mesmice enfadonha, pasmaceira tediosa e....
— Chega. Já entendi.
— Eu sou chata papai?
— De onde saiu essa ideia?
— Pai não se responde uma pergunta com outra
pergunta. Comunicação consciente não é uma atitude muito
inteligente.
— Comunicação consciente?
— É o ato de responder uma pergunta com outra. Eu
li que isso demonstra a falta de argumentos seletivos e de
pouco convicção do que se sabe de fato.
— Antonela, desliga esse robô que você tem dentro
da cabeça e conversa comigo direito, pode ser? — ela
acenou que sim — Por que acha que você é chata?
— Ah pai, as meninas da minha sala me chamam de
chata. Mas eu não tenho paciência para as coisas que elas
falam.
— E sobre o que elas falam?
— Sobre a nova cor de batom, sobre o vestidinho da
moda, até sobre a moda de bolo de unicórnio! Papai isso
para mim é tedioso.
— Entendi. — levantei com ela atracada no meu
quadril sentando na cama ao lado dela — Filha, você que é
diferente e nós conversamos sobre isso. O papai brinca com
essa coisa de te chamar de Adultinha, mas na verdade,
cada um é de um jeito Antonela e todos são iguais.
— O que elas fazem comigo é bullying. A legislação
define bullying como sendo o assédio ou intimidação
representado por qualquer manifestação escrita, verbal ou
física.
— Está vendo? Quantas crianças no mundo com seus
oito anos de idade sabem definir isso como você?
— Às vezes eu acho que ser assim é chato papai. Se
eu fosse como as outras crianças talvez elas gostassem de
mim. Ninguém quer ser meu amigo.
— Filha... Tem gente que é magro, gordo, narigudo,
baixinho, alto demais, feio, bonito e também sofrem esse
tipo de comportamento ignorante por parte das pessoas.
Mas o papai quer que você jamais deixe de ser o que você
é. Essa menina inteligente, curiosa, esperta porque isso me
encanta e com certeza encantará muito mais pessoas ao
longo da sua vida. Mas se você desejar o papai vai à escola
conversar com a direção e podemos arrumar outro colégio.
O que acha?
— Não. Você me ensinou que a gente não pode fugir
dos problemas. Que problemas mal resolvidos vão com a
gente onde formos.
— Pois é.
— Eu sou uma Spartacus papai. Eu não vou fugir de
ninguém que não queira se dar o prazer de saber quem sou
e da amiga maravilhosa que posso ser. Se não me querem
que se danem. — tentei esconder meus olhos marejados de
orgulho dela.
— Isso mesmo. Você é fabulosa Adultinha. Mas se
rolar mais problemas como esse me conte, eu terei que
fazer algo a respeito.
— Pode deixar. Obrigada papai.
— Disponha minha Adultinha. Agora porque não vai
brincar um pouco com o tio Brad?
— Eu vou mesmo. Vai descansar papai se não a tia
Austin vai abrir sua outra mão só para ter o prazer de
costurar de novo. Ela está brava com você.
— Eu dou conta dela.
— Eu te dou cobertura velhinho. — gargalhamos
batendo nossas mãos abertas no ar.
Retornei ao meu quarto sentando em minha cama
um tanto esgotado. Aquele dia estava sendo uma gangorra
de emoções. Lembrei-me dos remédios que eu tinha que
tomar. Num gole só foram todos. Um tempo depois Eunice
veio saber se queria comer algo, embora eu tenha dito que
não ela trouxe um pedaço da torta de pêssegos que adoro e
um copo de leite. Agradeci seu carinho e quando ela saia
meu tio entrou no quarto.
— Pode ir Eunice — ele disse. Parecia ter pressa —
Obrigado por cuidar do meu menino.
— Com licença senhor Hawks.
Porta fechada mais alguns passos, mãos nos bolsos,
eu me voltei no tempo quando aquela mesma cena se dava
por eu ter feito algo errado na escola.
— Antonela aprontou alguma com o senhor?
— Imagine Máx, ela é à flor do meu jardim. O sol de
nossa família.
— Tio eu tive que resolver umas coisas e acabei não
fazendo a vídeo conferência com o pessoal da Randor. Mas
assim que eu me refizer eu ainda ligo para lá hoje.
— Não se preocupe com a diretoria. Eu passei por lá
hoje e resolvi o que era necessário até que você se
restabeleça.
— Obrigado.
Ele sentou-se ao meu lado. Meu tio era um homem
honesto, e muito carinhoso comigo, Antonela e com Austin.
Mas era muito solitário e eu nunca entendi com exatidão a
razão disso. Ele passou a mão no meu cabelo como se eu
tivesse oito anos de idade.
— Você precisa assumir o rumo da sua vida Máx.
Estou envelhecendo. Daqui a dois meses completo 60 anos.
Preciso de alguém para trocar as minhas fraldas.
— Para com isso tio. O senhor está inteiraço. Até
melhor do que eu. Sempre se cuidou.
— Acha mesmo que foi uma boa ideia terminar com
Liana assim de uma hora para outra?
— Não foi de uma hora para outra, tio. A coisa não
estava indo bem há tempos.
— E é claro que se não fosse a tal mulher que entrou
na sua vida como um raio você ainda levaria esse
relacionamento com Liana para frente.
— Não sei do que está falando.
— Não precisa entrar em detalhes se não quiser. Eu
só quero que se lembre de que você é o meu sucessor. De
que você tem uma garotinha brilhante para cuidar e
encaminhar na vida com bons exemplos. O eixo da nossa
família recai sobre você Máx. Sua irmã precisa de você.
Antonela, embora não pareça também. As empresas
precisam de você. Eu preciso de você pronto para isso. Eu já
trabalhei muito. Eu quero e tenho o direito de curtir a minha
vida.
— Mas o senhor sabe que eu faço o Máximo que
posso sobretudo pela minha filha.
— Eu sei. Você é um pai exemplar, aliás, você
sempre foi exemplar. Eu tenho muito orgulho de ser como
um pai para você. Em tempo algum você me decepcionou.
Responsável, estudioso, dedicado e agressivo quando o
assunto é negócio.
— O senhor é meu exemplo tio.
— Eu sei disso. Mas tem uma parte da minha vida
que eu não quero que sirva de exemplo para você. Eu quero
que você construa sua própria família. Que encontre uma
mulher que seja uma referência para Antonela, sei que ela
tem a Austin, que são próximas, mas não é a mesma coisa
de ter uma mãe. Você sabe melhor do que ninguém o
quanto a presença da sua mãe fez a diferença na sua
trajetória e na da sua irmã. Quero que seja um bom marido
do mesmo modo que é um pai dedicado. Eu te conheço
moleque, e eu sei que você também quer isso. Mas precisa
tomar as decisões assertivas.
— Liana não era uma decisão assertiva tio Brad.
— Ela daria uma boa esposa Máx. Eu sei que não
seria a amante perfeita, mas acredito que seria uma boa
mãe.
— A Adultinha não gosta dela tio e eu sou passional.
Eu preciso amar com toda a minha alma uma mulher para
dizer que sou dela. Preciso ter toda convicção do mundo
para permitir que essa mulher entre na vida da minha filha.
— Você não acha que Antonela precisa de uma mãe?
— Claro que precisa. Ela me falou que tem sofrido
bullying outra vez na escola. Nunca achei que eu viveria
para ver isso, as crianças são malvadas com ela porque ela
é inteligente demais. Onde estamos?
— E você conversou com ela?
— Expliquei que as pessoas são diferentes, ela
entendeu e ainda me deu uma aula de legislação melhor do
que o professor que tive na faculdade. — tio Brad sorriu tão
orgulhoso quanto eu.
— Ela é brilhante Máx.
— Mas eu tenho medo de não conseguir ser tudo
para ela. Tudo que ela precisa tio.
— Por isso precisa avaliar bem as mulheres com
quem se envolve. — mantive-me calado — Por que acho
que você vai se meter em confusão com a garota que
entrou em sua vida?
— Não vou. Ela nem quer. Acredita nisso?
— Ela me parece ter mais juízo que você. Bom, eu
vou ligar para a família da Liana e fazer o meu papel de tio.
Mas peço que reconsidere isso se for possível. Eu tenho
muito medo que você se machuque Máximus.
— Por que tio?
— Porque você ama demais. Não existe metade para
você Máx, é tudo ou nada. Isso me preocupa.
— Pode deixar tio eu sei me cuidar. Austin?
— Saiu batendo a porta depois que Liana arrancou o
aplique do rabo de cavalo dela. Disse que ia mandar a conta
para o pai da Liana. — sorrimos — Tchau Moleque.
— Tio...
— Sim.
— Obrigado.
— Eu tenho esse péssimo defeito Máx, sou
apaixonado por você, Antonela e Austin. — enfim deixando
o quarto.
Tio Brad era muito calado e reservado. Nós não
sabíamos com quem ele se envolvia ou se estava gostando
de alguém. Tudo que eu e Austin sabíamos é que pela
manhã ainda que todo desconjuntado de suas farras lá
estava ele para tomar café da manhã conosco e que era um
avô babão com a Antonela. Quando Austin perguntava a
razão dele não ter ficado com a “namorada” da vez sua
resposta era a mesma:
— Nenhuma mulher vale a companhia de vocês três.
Eu cresci puxando para mim a responsabilidade de
jamais decepcionar aquele homem. Ele era o meu herói. O
meu porto seguro. O meu exemplo. E de algum modo depois
da minha Adultinha a melhor parte de mim.
g
Capítulo 8
Sugar Baby
Eudora
Uma semana inteira se passou sem que eu tivesse
nenhuma notícia dele e o que me consumia por dentro não
era eu não saber sobre o paradeiro de Máximus e sim de me
importar com isso ao ponto de não dormir e me masturbar
só pensando nele.
— Já vai! — gritei depois de ouvir a campainha. Pulei
algumas almofadas espalhadas pelo chão. A desordem não
se alojara apenas dentro de mim.
— E aí cadela! — Rita já foi dando o ar de sua
entrada triunfal — Puta você não atende telefone, não
responde mensagem. Pensei que estivesse dando bicho
nessas alturas.
— Oi para você também amiga.
Eu não gosto muito de usar a palavra amigo no meu
meio. Porque ele é repleto de pessoas que trocam favores
com você e acreditam que isso seja amizade. Mas a Rita era
um pouco diferente. Ela me levou para muitos lugares
irados, e me apresentou para clientes muito sofisticados e
quando eu tive uma pneumonia foi a mão dela que se
estendeu ao lado da minha cama por dias para cuidar de
mim até que eu me restabelecesse. Ela não é mais
prostituta, mas sei que é bancada por um tal magnata. Ela
evita o assunto.
— Por que esse apartamento está desse jeito
Eudora?
— Ah Rita desculpa a bagunça. Mas eu não estou
com saco para ser doméstica nem para mim mesmo. —
tranquei a porta jogando-me no sofá.
— O que houve?
— Nada. Nada que valha a pena comentar.
— Eudora por acaso você andou se encantando com
algum cliente?
— Você acha que eu rodada desse jeito ia cair numa
regra besta como essa?
Rita tinha um radar muito cretino. Ela mexeu a
cabeça de um lado depois de outro empurrou minhas
pernas que estava sobre a mesa de centro sentando-se ali.
— Quem é?
— Quem é quem?
— Você caiu nas graças de um filha da puta não foi?
— Rita sou eu Eudora Poderosa Tyr!
— Eu te disse, eu te avisei que um dia desses, esse
rabo ia rebolar mais gostoso numa dessas picas da vida.
— Fala sério Rita! — levantei-me catando minhas
coisas sem querer abrir margem para continuar no assunto
— Eu estou precisando é de grana. Muita grana! A Freya
quer vender a fazenda e me tirou de vez do testamento. Eu
preciso comprar aquele lugar.
— De quanto precisa?
— 500 mil.
— 500 mil dólares? Mas isso é quase o triplo que
aquele fim de mundo vale.
— Ela está vendendo para mim Rita.
— Pois eu acho um desaforo você ter que comprar
algo que é por direito seu. O teu pai não sabe disso.
— Ela fala por ele na esfera jurídica. O que ela fizer
está feito. Papai vegeta naquela clínica Rita.
— E você não juntou nada nesse tempo não puta?
— Você sabe que eu vivo rápido para morrer
depressa. E vamos combinar que haja xereca preciosa para
conseguir juntar tanta grana.
— Eudora quantas vezes te alertei sobre guardar um
extra. Essa vida não é para sempre. Puta é como qualquer
produto no mercado tem prazo de validade. Você tem que
ter pés no chão e metas de entrar e sair. Eu não tenho essa
grana toda, mas posso te arrumar um pouco.
— Eu não faço ideia de onde conseguir.
— Eu tenho.
— Hã?
— Acho que está na hora de termos uma
conversinha. Sente essa bunda aí para eu explanar o lance
para você.
Deixando as almofadas e roupas caírem no chão
mais uma vez sentei-me no mesmo lugar de antes agora
desconfiada.
— Você já ouviu falar nos Sugar Daddies?
— Sugar Daddy? Que porra é essa?
— Vou te explicar cadela. Isso é coisa para gente
muito restrita. O lance é bom, mas é sigiloso. Rola uma
máfia forte por trás disso.
— Ok. E do que se trata?
— A parada é a seguinte você só pode entrar se
receber um convite. Nesse caso eu te convidaria. Você seria
uma Sugar Baby. É tudo feito através de um site na Deep
web administrado por homens bilionários. Você entra
através do convite, coloca seus dados, mas tem que colocar
tudo que você sabe fazer.
— Sexo? De novo?
— Aí que está o segredo de ser uma Sugar Baby e ter
o seu Sugar Daddy. Esses caras não querem sexo, até pode
rolar dependendo do acordo que você fizer. Mas o que eles
querem mesmo é mimar uma garotinha do papai.
— Você está falando de acompanhante de luxo?
— Não porra! A vibe é outra. Uma acompanhante de
luxo segue o cliente, viaja e faz o que ele quer. Lá o
conceito é outro. O Sugar Baby não é para ser
acompanhante, pode até ser, depende de cada contrato,
mas na maioria o Sugar Daddy é para ser o papai doce, o
papaizinho com a sua garotinha... — Rita sorriu na malícia
— se ela quer viajar ele paga, se ela quer tomar champanhe
no colo dele ele faz, não é ele quem dita às regras e sim ela,
ele está lá para mimá-la mesmo. Mas precisa ter um
excelente certo nível de intelectualidade e cultura. Não é
qualquer garota que pode ser uma sugar baby entende?
— Espere aí — levantei as mãos processando a
informação — Você está querendo me dizer que o cara paga
para me mimar? Paga para fazer o que eu quero?
— Isso.
— E qual a vantagem dele nisso?
— Esse tipo de homem tem sexo num estalar de
dedos Eudora, sabemos disso. A família em geral o vê como
um banco. A vida dele é vazia e fútil. Ele quer alguém para
cuidar, para mimar sem ter dentro desse conceito a
natureza de um relacionamento. Sacou?
— E onde é que fica o cu dessa galinha de ouro?
— Pega o notebook, vou te mandar um convite.
Corri o mais depressa pelo apartamento procurando
onde havia deixado o note e só o encontrei na pilha de
roupas no banheiro. Enquanto me mandava o tal convite
Rita ia me explicando a melhor forma de me vender.
— Precisa enviar provas das qualificações que diz ter.
— Eu tenho meus diplomas guardados.
— Perfeito.
— Você tem que se dar um lance.
— Tipo um leilão?
— Isso. Você será leiloada, o sugar Daddy que gostar
de ti e achar que você vale o que oferece paga o contrato
para tê-la como sugar Baby. Eles podem ter uma ou dez
sugar Babys, mas uma não sabe da outra porque como falei
o lance é secreto. É um clube de meninos muito ricos.
Prontinho. Mandei. Clica no link e ele te levará para a página
inicial do site. Responda as perguntas e não tenha medo de
dar seu preço. Dinheiro não é o problema puta, o que eles
apreciam é a brincadeira e o anonimato da coisa.
— É nessa que você está é?
— Eu tenho o meu sugar Daddy. — gargalhou com
certo orgulho — Ah! Lembrando. Ainda tem a sugar Mammy.
Mulheres tão poderosas quantos os homens e às vezes
casadas com os sugar Daddys. Elas leiloam rapazes com as
mesmas qualificações que nós e algumas gostam de ter
meninas. Então deixa claro no questionário qual é o teu
lance.
— Não deixa de ser mais um tipo de prostituição.
— Mas pelo menos o sexo não é uma moeda de troca
necessária. Você levantará num piscar de olhos essa grana
e terá muito mais. Bem, minha boa ação do dia já foi feita.
Agora é contigo puta. Vou nessa. Vê se dá um jeito nessa
casa e me deixa atualizada como foi. Outra coisa, não pisa
na bola, porque eu sou a tua madrinha. Se fizer merda vai
sobrar para mim e não fala disso com ninguém. — passei os
dedos em meus lábios imitando um zíper qualquer.
— E se eu quiser convidar alguém?
— Não pode. Ainda não. Pelo menos por um ano.
Eudora se liga que o segredo nesse negócio é de sumaria
importância. Pessoas já morreram por tentar delatar o
esquema. Tem muita gente poderosa no meio. Gente com
quem garotas inteligentes como nós não quer ter como
inimigo.
Esperei que Rita saísse da sala e só quando tive
certeza de sua saída do meu apartamento voltei meu olhar
para tela do notebook ali aberto na página do tal site.
Lembrando-me de tudo que tinha em jogo e decidi ir
adiante tocando sobre a seta para minha inscrição.
Você é homem ou mulher?
Digitando minha natureza feminina que fui
retorcendo a língua por dentro da boca de um lado para o
outro.
Você é uma Sugar Baby ou Sugar Mommy?
Respirei um pouco tentando compreender o tamanho
da encrenca que eu estava me metendo, mas sou do tipo
que vai e depois pergunta para Deus no que dará. Cliquei
em cima do nome Sugar Baby.
Seu interesse é:
( ) Homens
( ) Mulheres
( ) Ambos
Com toda certeza do mundo cliquei em homens. No
meio da prostituição clássica eu já havia estado com
mulheres, mas não é o meu lance, são apenas negócios e
nada mais. Diante daquela nova fase que eu não tinha a
menor ideia de como as coisas se davam eu não quis me
arriscar sem necessidade.
Que tipo de estilo de vida procura?
Quais são os seus hábitos de consumo mensais?
() Não tenho um orçamento definido
() Até 1.000 USD por mês
() Até 3.000 USD por mês
() Até 5.000 USD por mês
() Até 10.000 USD por mês
() Mais de 10.000 USD por mês
Eu estava ali por um objetivo. Eu sei o que quero e
não costumo brincar quando o lance é grana. A minha
opção evidente era mais de dez mil dólares por mês. Então
chegou a vez das trivialidades. Do fale sobre si. Sua data de
aniversário, onde mora, altura, tipo de corpo, etnia. Eu
descrevi que desejava que me chamasse de Tara Larousse,
que eu tinha vinte e quatro anos de idade, que era
americana de origem nórdica, residente na Califórnia, que o
meu tipo de corpo era curvilíneo, morena, um metro e
setenta e cinco de altura. A coisa foi ficando mais
sofisticada do que eu imaginava. Para mim prostituição é
um lance de como cada um a enxerga. Em um nível ou em
outro em algum momento da vida todo mundo já se
prostituiu. A questão é que a hipocrisia humana chama de
favores o que eu chamo de negócios e que eu não tenho
medo de usar apenas o dinheiro e o meu corpo como
moeda de troca, no entanto ali, mesmo tendo frequentado
sites de prostitutas de luxo ou acompanhantes como
preferir eu nunca tive aquela sensação a de não me sentir
prostituída.
Quase terminado... Capriche!
Qual é o seu nível de instrução?
Ensino Secundário

Faculdade Inacabada

Bacharelato
Licenciatura

Mestrado

Doutoramento
Preenchi com bacharelato. Eu sou formada em
jornalismo. Não posso negar que não trabalho com
entretenimento, só que é do tipo que eu gosto.
Encontra-se hoje num relacionamento?

Solteiro

Divorciado

Separado
Casado mas à procura

Relação aberta

Viúvo

Confesso que parei nessa parte flexionando meus


olhos para ter certeza do que eu lia.
Que porra é essa!
Devido a minha experiência se tem uma coisa que
você não pode misturar é cama e relacionamentos. Quanto
mais disponível melhor para as negociações e embora eu
não entendesse muito ainda desse lance de Sugar Baby eu
arrisquei a fazer como sempre fiz por isso marquei que era
disponível e solteira.
Tem filhos?
() Prefiro não dizer
() Não
()Sim
Como uma pergunta tão simples pode revolver uma
pessoa por dentro. Angustiada cliquei em “Prefiro não
dizer”, mas em seguida recordei sobre a regra da
disponibilidade, voltei atrás clicando em cima do ” Não”.
Mais trivialidades foram surgindo, dessa vez trivialidades
que não tinha lidado antes. Fuma? Às vezes. Bebe? Olhei
para a garrafa quase vazia de vinho ao meu lado e como
qualquer mortal menti diante daquela necessidade
respondendo: Em ocasiões sociais. Qual a sua profissão?
Gargalhei alto batendo palmas, tomando o último gole de
vinho na taça. O que pensariam se eu respondesse: Eu sou
puta. Mas puta mesmo. Fiz umas caretas me recompondo
joguei meu cabelo para trás e então digitei o que queriam
ler, que eu trabalhava com entretenimento.
Acrescente estes toques ao seu perfil!
Apresentação:
Se quiser saber mais de mim tem que me mimar
Sugar Daddy.
Sobre Mim
Eu sou independente. Custo muito caro. Adoro viajar.
Posso falar por horas ou ser a muda se você desejar. Adoro
joguinhos, iogurte, flor só se for tulipa negra, as outras são
banais demais para mim e se tem algo que você vai
descobrir quando estiver comigo papai é que eu não sou
nada normal.
Diga ao potencial Sugar Daddies um pouco sobre
você.
O que eu estou procurando?
Inclua marcações
Mais risadas. Não deveriam perguntar isso a uma
mulher como eu. Mas já que insistem...
Estilo de vida luxuoso, investidor, relação aberta,
discrição, dominação financeira, passaporte pronto, viagens
e férias.
Descreva o que você está procurando, seria
interessante explicar que tipo de relacionamento ou acordo
está interessado.
Eu quero acordos. Eu quero mimos. Acho que será
melhor de entender se você ler com atenção todos os
detalhes escritos aqui. Quero um Sugar Daddy a fim de
comprar o que eu quero que banque meu alto padrão de
vida. Eu falo quatro idiomas, sei falar sobre qualquer
assunto, sei me vestir como uma dama ou como uma
prostituta de esquina. Ando sempre cheirosa e muito
arrumada. Só uso roupas, sapatos e adereços de grife. E eu
sei reconhecer uma marca falsa por isso nem tente me
enganar. Posso ir onde você quiser, mas prefiro os locais de
luxo é claro. Sei me passar como a sua esposa,
namoradinha perfeita e até mesmo como sua filha se
precisar. Eu posso vender a sua marca ou até mesmo a sua
pessoa. Eu sou boa nisso, logo represento um bom
investimento para os seus negócios. É claro que se você for
o tipo de Sugar Daddy que eu imagine que seja sabe o
quanto o poder de uma mulher inteligente define uma boa
negociação não importa onde ela se dê, pode ser no
restaurante The Ivy, num dos andares da torre do Burj
Khalifa em Dubai ou numa charmosa cama onde nós três
estejamos nos divertindo bastante. Eu gosto de mimos e
você de mimar. Pense em mim. Você pode estar diante de
uma garota perfeita e o melhor é que a história não é como
a mamãe te contou. Aqui todo mundo se diverte e ninguém
tem que seguir os felizes para sempre.
Saltinhos de beijos.
Tara Larousse.
E a grande surpresa surgiu diante da minha tela em
tom de pergunta.
Seu leilão começa agora, quanto é o seu lance
mínimo senhorita Tara Larousse? Quanto você vale?
Coloquei meu dedo anelar sobre meus lábios ainda
encontrava-me maravilhada confesso. Um leilão é sem
dúvidas algo pela qual eu não me imaginei participando,
ainda mais sendo a peça a ser arrematada. Mas como já
falei antes, eu não costumo brincar quando o assunto é
grana. Eu conheço meu potencial. Eu sei o que posso
oferecer a qualquer tipo de homem. Essa era sem dúvida a
melhor oportunidade da minha vida. Pensei em quinhentos
mil dólares. Supus que seria um valor imbatível. Que
homem paga esse valor para mimar uma garota sem
garantia de sexo? Mas sou abusada e não me fiz de rogada.
Quinhentos mil dólares. Aceito qualquer acordo.
Ainda duvidava do lance surreal de ser uma Sugar
Baby quando recebi uma mensagem de uma festa numa
ilha paradisíaca em Porto Rico. Eu amo Porto Rico e já tinha
ido milhares de vezes fazer negócios na ilha de Gales perto
da praia de Fajardo. Liguei para checar as informações ainda
de olho nos lances que começavam a ser dados sobre
minha pessoa.
— De quem é a festa Irvin?
— O anfitrião pede sigilo, mas soube que é
despedida de solteiro. Mega arromba! Chamou geral não se
fala de outra coisa em nosso meio. Seu nome está na lista
de agitação Tigresa Tyr.
— Paga bem? — depois que ela me falou das cifras
não vi problema algum em dar o ar de minha graça.
— Topa?
— Estou dentro.
— Amanhã esteja no endereço que vou te passar. As
meninas serão levadas num dos iates do cara. — a palavra
iate me fez lembrar-se na hora de Máximus.
— Levo o de sempre?
— Sim. Arrasa Diva! Do jeitinho que só você coloca
as recalcadas no chão.
— Valeu Irvin. A gente se vê amanhã.
Joguei o celular por ali ficando abismada com o
número de homens que iam surgindo no meu perfil.
Detalhe, caso houvesse atingido o meu valor com mais de
um candidato a sugar Daddy, eu poderia escolher qual deles
eu queria após avaliar os contratos.
Aquele mundo parecia surreal, sobretudo para mim
que acreditava já ter visto de tudo. Percebi que o leilão
poderia ser fechado em até quarenta e oito horas e que eu
poderia monitorá-lo em tempo real, então entendi que ir a
festinha e ganhar um extra não acarretaria nenhum dano
em meu novo empreendimento.
i
Capítulo 9
Se você pular eu pulo
Eudora
Minha mala de viagem para essas ocasiões era a
mais básica para a situação. Muitos preservativos, lingeries
variadas e sensuais, três ou quatro vestidos, alguns pares
de sandálias e maquiagem. Enquanto fechava a mala
deparei-me com minha caixa secreta no fundo do closet.
Fazia um tempo que eu não abria. Não se passa pelos
traumas que eu passei sem carregar suas sequelas. Eu tinha
minhas esquisitices a mais estranha era guardar em potes
de vidro um pouco de terra. Cada momento de alegria que
eu tinha eu apanhava um punhado da terra ou algum
elemento natural daquele ambiente como flores que
secavam ou até mesmo um pedacinho de pano com o pó
daquele momento e guardava dentro dos vidros. A maior
parte dos vidros vinham da minha infância. Todos os
instantes que vivi com minha irmã eu guardei em punhados
de areia dentro de cada vidro etiquetando com a data e a
ocasião que arrancou um riso meu.
Do mesmo modo passei a fazer com o que me
causava dor. Então eu também guardei a terra que sepultou
Guida. O pedaço de pano que tirei o pó do meu tênis
quando entreguei minha filha a assistente social no hospital
para a adoção. A terra no dia que minha mãe me botou para
fora de casa. A terra da clínica onde meu pai se encontra. A
terra do acidente que matou Daniel. Tudo estava lá. Muitas
vezes eu me questionei porque fazia isso, mas eu acho que
esse foi o meio que encontrei de não enlouquecer com tanta
porrada na cabeça e eternizar o que vivi. Eu tinha tanto
medo de que a vida me roubasse às memórias depois de
me arrancar todas as pessoas que amei que esse foi o jeito
de não perder contato com esses fatos. Se um dia a vida me
arrancar à memória eu ainda poderei ler as etiquetas dos
vidros e de um modo ainda fazer parte de tudo aquilo. Na
hora parei o que fazia indo até ao armário da cozinha. Um
vidro estava lá. Ele continha o resto de pó das minhas
sandálias da noite em que conheci Máximus Spartacus. Com
o vidro na mão fui até meu quarto e sobre minha mesa
apanhei uma etiqueta anotando o dia e o momento em que
eu vivera aquele sentimento. Voltei ao closet adicionando
mais uma de minhas memórias. Máximus não fazia ideia do
quanto ele passou estar presente em minha vida.
No final da tarde do outro dia lá estava eu impecável
a beira do cais. Um senhor trajado de fraque veio ao meu
encontro abrindo a porta do taxi. Aquilo não era novidade o
que não falta em festa desse tipo são excentricidades.
— Bom entardecer senhorita.
— Obrigada. — segurei sua mão para sair. Até parece
que puta vira dama fora da cama.
— Pode me acompanhar? Um criado virá apanhar
suas bagagens.
— Mas eu só trouxe isso aqui mesmo.
Ele sorriu pondo-se a caminhar a minha frente até a
maior embarcação que já tinha visto em minha vida. Eu vim
de uma família abastada eu sei o que é luxo. Não é qualquer
coisa que me impressiona e aquele navio me impactou.
De longe avistei algumas moças adentrando no navio
e como eu sendo recepcionadas com todo glamour. Eu não
tinha uma boa reputação entre as demais garotas de
programa. Para elas eu soava arrogante, pretensiosa e
antipática, e eu era mesmo. Sou agressiva nos negócios, eu
não estava ali para fazer amizades e sim para trabalhar.
Nesse ramo ou você domina ou é esquecida. Como sempre
digo: “Na prostituição se você não lutar por alguma coisa
cairá por qualquer coisa”. E eu adorava ver nos olhos
daquelas piranhas que eu era uma ameaça. Que o poder
encontrava-se sobre mim. Todas dividiriam os quartos, mas
Eudora Tyr tinha a suíte principal e o camarote.
— Por que não estou surpresa em te ver aqui
Eudora?
— Oi Tônia. Oi meninas malvadas. — disse com puro
sarcasmo.
— Achei que nessa não entraria arroz de festa
Eudora.
— Gina você é tão engraçada. É o Máximo que
consegue fazer para me irritar lindinha? Que tal aprender a
fazer um homem gozar só de olhar para sua bunda e depois
vir falar comigo pet?
— Você é uma...
— Puta? — gargalhei quicando a bunda — Sou e
vocês não? Ah esqueci, vocês não estão no mesmo nível
que o meu.
— Insuportável!
— Vá cutucar o Sinfrônio Gina! — disparei.
— Cutucar o Sinfrônio? — uma delas quis saber.
— Vai tomar no olho do cu. — gritei afiada.
— Sua galinha!
— Tônia quica gostoso assim — indo até o chão —
que a pica melada desliza que é uma beleza nessa sua xana
de merda que não cabe nem a cabeça. Por acaso cabe um
de 12 centímetros?
— Vou te pegar Eudora!
— Fala aí Tônia, a especialista em dar para
adolescente com carteirada do papai. Tudo pau pequeno!
— Eudora! — escutei uma voz agradável enfim.
— Irvin! Vem rebolar aqui comigo pet!
— Cretina! Você ainda vai comer o pão que o diabo
amassou!
— O pão não, mas se for o pau eu devoro!
— Ok! Chega, chega! Vem comigo Tigresa. — Irvin
me afastou dali indo para o outro lado do convés.
Estalando os dedos dentro de mim a música que
Daniel cantava para mim ecoava.
Vem ser minha menina!
Você me alucina!
Como eu quero ter você!
Menina linda, tão linda de se ver!
Meus cabelos atravessavam meu rosto no gingado
dos meus ombros. Eu brincava com a sensualidade e só fiz
aumentar quando notei que dois empregados da
embarcação me devoravam com seus olhos de matadores.
Irvin me conhecendo olhava para o horizonte vendo o por
do sol acontecer rindo sem parar. Quem me conhece um
pouco sabe que nessas horas eu exijo privacidade para dar
os meus espetáculos.
Subi em cima de um pequeno espaço que pertencia
ao navio deixando que a brisa fresca do mar esvoaçasse
meus cabelos levando seu perfume para os dois marujos.
Adorei ver um com a garrafa de champanhe na mão
derramando sobre a bandeja que o outro segurava sem
acertar nenhuma das taças. Abusada desci naquele ir e vir
onde às vezes eu rodava mais sexy que nunca. Cheguei
diante deles com um riso sacana e do jeito que eu gosto,
sem dar uma palavra. Eu podia ver a saliva escorrendo dos
cantos de suas bocas. Apanhei a garrafa de champanhe da
mão do mais gordinho tomando um gole e depois uma taça
do mais baixinho passando minha língua nas bordas.
Alucinação seria uma palavra adequada para o semblante
daqueles dois. Virei às costas com a garrafa na mão e no
meio do caminho girei para eles com aquela piscadela
safada e um obrigado sussurrado retornando para onde
Irvin se encontrava admirando tudo.
— Diva é diva não é Tigresa Tyr? Você não tem jeito
Eudora.
— Profissional Irvin. Sabe que não brinco em serviço.
— E aqueles dois ali foi o quê?
— Cliente em potencial amiga. Não é porque é
marujo que não pode pagar.
— Você é artefato de luxo Eudora. Custa caro.
— Sabe que uma vez fiz programa com um cara que
juntou por dois anos moedas para pagar para sair comigo?
Achei um luxo. Fiz caprichado para ele. — de vez em quando
eu olhava no celular para ver como ia o leilão. Dois nomes
encabeçavam a minha disputa: Robert Sans e o Senhor
Solidão. Algo me atraiu para o Senhor Solidão. Adoro
homem carente, minha experiência me ensinou que são os
que pagam melhor e são os menos exigentes.
— O que está olhando aí?
— Negócios Irvin. Negócios.
— Você não precisava começar a viagem já criando
caso com as garotas.
— Se eu não criar caso então não sou eu. — virando
a garrafa de champanhe de vez — Essas vagabas são todas
invejosas. Você sabe disso tanto quanto eu.
— Você não precisa responder esse tipo de
provocação Tigresa.
— É verdade. Mas eu adorooooooooooooo! —
gargalhei virando-me para o por do sol.
— Você parece feliz.
— Minha vida está para mudar Irvin. Tomar novos
rumos. Se tudo der certo como eu imagino logo parto dessa
vida e aí essas vadias podem se matar para ver se alguma
delas pode ficar no lugar que um dia foi de Eudora Poderosa
Tyr.
— Achei que tivesse se apaixonado. Você está
diferente.
Lancei meu olhar para outra direção. Preocupou-me o
fato de haver algo em mim que gerasse aquele tipo de
comentário. Máximus tinha me revirado por dentro e eu só
queria esquecê-lo embora a cada segundo meu coração
disparava só de lembrar de sua voz rouca no meu ouvido e
as suas mãos passeando pelo meu corpo.
Passava da meia noite quando aportamos na Ilha de
Gales. Para minha surpresa a festa se daria em outro navio.
Ainda maior já a nossa espera. Com obviedade eu estava
montada como deveria. Se eu fui contratada para animar a
despedida de solteiro do cara eu tenho que me aplicar
bastante para fazer um excelente negócio. Desci causando
com meu vestido dourado com decote V nas costas. Pernas
a mostra numa sandália da mesma cor do vestido. Cabelos
soltos, maquiagem marcante, eu costumo dar ênfase na
boca vermelha, quanto o olhar os meus olhos verdes fazem
seu próprio show.
Quando você está no topo da lista para animar esse
tipo de evento tem que chamar para si a responsabilidade
de entreter todos e em especial, por lógica o noivinho.
Nessa hora o profissionalismo tem que subir a cabeça. Não
importa se o cara for feio, barrigudo ou tiver mau hálito.
Você o trata como um Kalifa no meio do deserto.
A impressão dele ao se deparar com você é que você
está encantada, embevecida por aquele macho alfa, se o
cara for lindo e sarado é sua noite de sorte, é claro que tudo
fica mais simples com um homem gato. Na prática eu tenho
que ficar atenta a todos os indivíduos no recinto e de
preferência conversar um pouco com cada um. Sentir o
estilo dele. O que gosta. Faço isso com maestria, nisso
talvez esteja a razão pela qual me destaque das demais. A
partir daí eu seleciono quem fica com quem. Eu sou do
noivinho, mas não é novidade se ele quiser colocar mais
amigos na roda. Nada pode surpreender uma prostituta,
mesmo que ela se assuste. O equilíbrio emocional é um
fator cruciante. Por isso dou na cara de quem fala que é um
dinheiro fácil. Não é mesmo, é um dinheiro rápido, mas fácil
meu amor, nunca.
Outra vez usei meus sorrisos falsos, meu carisma
adquirido com o tempo trazendo todos os olhares do recinto
sobre mim. Um detalhe importante é que toda festa deste
nível existe uma pessoa que chamamos de intermediário,
mas as garotas gostam de chamar de o Patrãozinho. Ele ou
ela é a figura responsável pelo dono da festa para nos
contratar e disponibilizar tudo que for preciso para o evento.
Isso inclui acomodações para convidados, garotas de
programa, empregados em geral. Isso vai de onde se
hospeda ao que se bebe e é a essa pessoa que eu tenho
que me reportar assim como é de suas mãos que eu
receberei meu pagamento.
— Você deve ser a Eudora?
— Em pessoa. — um homem alto com traços latinos
se apresentou como Enrico Lopes. Logo soube que ele seria
o Patrãozinho naquela noite.
— Sua fama faz jus a você. É uma mulher belíssima.
— Se você diz eu acredito. Que tipo de cartas
teremos essa noite senhor Lopes?
As cartas são conhecidas para nos dar o tipo de festa
que teremos. Na maioria das vezes elas estão em três
categorias: Classic, Metal e a Calígula. Classic é um tipo de
festa onde eu devo agradar a todos, mas satisfazer apenas
o anfitrião. A Metal é aquela que o lugar já é de antemão
dividido em pequenas repartições e eu devo separar onde
cada casal ou trio ficará. O marco da carta Metal são as
drogas pesadas, e claro, o rock in roll, não costumam serem
feitas numa ilha, elas acontecem mais em espaços urbanos
como coberturas e festas Raves. A carta Calígula como o
próprio nome sugere é a mais despudorada. Ninguém é de
ninguém e o mais importante é deixar que os convidados e
o anfitrião sintam assim como liberem o cheiro da
libertinagem por todos os cantos e poros de seus corpos.
— O anfitrião optou pela carta Classic senhorita Tyr.
— mas eu saquei um riso malicioso que não combinava
naquele contexto.
— Então farei com que ele tenha a melhor noite de
sua vida. Preciso circular para fazer acontecer senhor Lopes.
— Chame-me só de Enrico.
Com uma piscada sai de seus olhos. Em meu
caminhar apanhei mais uma taça de champanhe olhando
para os rostos ali presentes. Estranhei o fato de não
reconhecer nenhum deles. Mas me apresentei com meu
charme e graciosidade a todos com toda atenção. Depois
separei qual menina ficaria com cada convidado. A Tônia
ficou com o vovozinho de sessenta e um anos. Deixei para
ela a incumbência de aguentar os efeitos de vários
comprimidos Viagras. Para Gina ficou um sarado lindo, vi
que tinha um pau enorme com certeza rasgaria no meio a
bunda dela. Ficaria sem poder sentar por pelo menos uma
semana. Ela e sua microvagina me olharam com ranço
devolvi com um olhar que dizia: “É nisso que dá mexer
comigo”.
Mas eu permanecia curiosa para saber por onde
andava o meu noivinho. Soube depois por Enrico que ele
teria uma entrada triunfal. Tem uns milionários excêntricos
que curtem isso. Já vi um entrar carregado por mulheres em
cima de uma bandeja imensa.
Vez por outra dava aquela conferida no meu leilão e
adorei saber que o Senhor Solidão havia batido o martelo no
meu valor. Enquanto um riso ia nascendo em meu rosto o
senhor Lopes apanhou o microfone parando a música e um
novo jogo de luzes foi acontecendo anunciando a entrada
do nosso anfitrião. Guardando o celular caminhei até o
centro da pista de dança onde seria o meu lugar
aguardando-o descer por aquela escada exuberante da
embarcação.
— Senhora e senhores chegou a hora em que todos
nós aguardávamos. Receba agora nosso anfitrião o senhor...
Máximus Spartacus!
Costumo não ter aquela sensação, entretanto ao
escutar o seu nome vendo a sua figura ir descendo sem
pressa em cada degrau eu me senti uma mocinha
esperando o príncipe do baile para tirá-la para dançar. Para
mim uma sensação muito babaca, mas naquele instante me
pareceu a mais sublime que tive nos últimos anos.
Numa camisa social preta aflorando sua pele e com
seus olhos azuis diabólicos eu petrifiquei olhando para ele
no meio daquela pista. O braço ainda na tipoia. A barba
cuidada e em meio a esse caos de informações um riso em
sua face nasceu desarmando a minha. Caminhou até mim
com um ar esnobe. Queria me mostrar que tinha poder. Que
eu não deveria subestimá-lo ou brincar com ele. Parado
rente aos meus olhos me apreciou por alguns segundos
enquanto os demais gritavam o seu nome.
— Como vai senhorita Tyr? — não consegui proferir
uma vogal — Parece que viu um fantasma. — um filho da
puta de tão provocante.
Abaixei meu olhar. Coisa que não faço com
facilidade, mas eu encontrava-me acuada e surpreendida.
— Podemos dançar? — oferecendo sua mão.
Aos poucos fui doando a minha e outro soco em meu
estômago foi dado. Com cuidado elevou minha mão na
altura de seus lábios curvando-se um pouco como uma
reverência e em seguida beijou-a. Apossou-se de minha
cintura levando-me para onde eu não deveria ter saído,
para os seus braços e em meu ouvido ia falando coisas
ignorando o fato de minhas pernas estarem bambas.
— Tenho certeza de que já ouviu isso pelo menos um
milhão de vezes só essa noite, mas insisto que seja dito
mais uma vez. Você está esplêndida senhorita Eudora Tyr.
— Obrigada. — enfim pude dizer algo.
— Parece que a deixei surpresa.
— Não esperava encontrá-lo aqui.
Ele nada disse até que a música lenta findasse. Em
seguida colocou minha mão por dentro de seu braço
conduzindo-me para outras rodas onde se encontravam os
demais convidados como se eu fosse uma mulher decente.
Depois me levou até o convés principal.
— Sabe toda vez que estou nesse navio e em
especial nesse local eu me lembro daquela cena do filme
Titanic. — comigo pensei como um homem como ele sabia
que o meu filme predileto existia.
Deixou-me parada ali e se recostou na grade olhando
para o oceano.
— Gosto da cena em que a mão do Jack surge para a
Rose. Como ele se empenha para salvá-la resumindo tudo
numa frase inesquecível: “Se você pular eu pulo”.
Aos poucos girou seu corpo para mim. Não sei
explicar, mas me peguei com os olhos marejados. Máximus
tinha a capacidade de me emocionar, como se pudesse
transformar-me em carne outra vez.
— Está surpresa por eu gostar de Titanic?
— Confesso que sim.
— Eu disse que quando quisesse saberia tudo sobre
você.
— Não sabia que estava prestes a se casar.
Ele riu de um modo que fez minha garganta secar,
batendo na grade com a mão livre me lançou um olhar de
menino travesso.
— Você ainda não entendeu não é Eudora?
— Acho que não. — então veio dono apossando-se de
minha nuca erguendo meu queixo para a boca dele.
— Eu fiz isso por você. Joguei seu jogo e você caiu.
— Máximus...
— Não ouse dizer que não gosta de mim e que não
dará certo — roçando aquela boca suculenta na minha —
Você já é minha.
— Eu sou uma...
— Minha! Sendo uma puta ou não.
— Máximus...
— Cala a boca tigresa. Cala... — apertando meu
queixo fazendo minha boceta piscar sem parar — Cala
porque eu quero isso...
Num golpe engoliu meus lábios, minha língua
sugando com tamanha vontade deixando-me na ponta dos
pés. Em tempo algum um homem tinha feito algo
semelhante por mim ou me beijado daquele modo. Alguém
um dia me disse que o amor nasce para todos, que cedo ou
tarde ele vem criando rebuliço pelo tempo em que não se
calou. O toque daquele homem fazia minha cabeça parar na
barriga e meus pés sapatearem em cima do meu cérebro.
— Como eu te quero Eudora!
A louca baixou em mim me atracando no pescoço
dele já abrindo o colarinho de sua camisa o empurrando
para um canto daquele convés.
— Quer mandar é? — ele virou-me assumindo o
controle — Aqui quem manda sou eu mocinha!
— Máximus! Como você é gostoso! — arfei num
segundo de pausa que ele me deu abocanhando meu
pescoço.
Ele arrancou o braço da tipoia para o meu espanto
com fome nos olhos.
— Mas e a sua mão?
— Foda-se essa porra. Eu quero é saber de você!
— De mim?
— É você quem me enlouquece Eudora... É você que
me deixa assim... — esfregando o seu volume em minha
virilha — É você que me da vontade de enfrentar o mundo
só para lutar por você!
Mas não se pode esperar muito de uma pessoa como
eu. Eu não valho o que como. Eu não merecia aquilo e por
isso o empurrei limpando minha boca com o dorso da minha
mão descabelada.
— O que foi? Eu disse algo errado?
— Não. Olha Máximus tudo isso é super bonitinho e
eu admito que nunca imaginei que um homem se prestasse
a fazer isso por mim. Mas...
— Mas o quê? — cada vez que sua voz soa rouca eu
fervo.
— Você não me...
— Conhece? Eu sei que seu filme preferido é Titanic.
Que sua flor preferida é tulipa negra. Que você odeia
comida chinesa, mas adora cozinhar quando está
entediada. — a cada coisa sobre mim revelada ele se
tornava mais fascinante.
— Não dá! Eu não quero machucar você. — já pronta
para dar as costas para ele.
— Eu sei que teve uma filha com 16 anos e que a
deu para a adoção. Sei que você não se dá com sua família
e que perdeu sua irmã num crime brutal. — a minha ira se
revelou para ele.
— Andou me espionando? — berrei.
— Se tem uma coisa que aprecio no dinheiro é que
ele pode fazer as bocas certas se abrirem.
— Você não tinha esse direito! — largando minha
mão na sua face com toda minha fúria. Ele colocou a mão
sobre o rosto, mas não se intimidou partindo para cima de
mim prendendo-me contra a parede com as mãos para
cima.
— Mas não é isso que te assusta Eudora. Não é o fato
de eu ter conhecimento de seu passado. Você teme algo
muito maior que isso. Algo dentro de você.
— Me solta!
— Fala para mim porra!
— Me larga Máximus!
— Diga que minto? — fui perdendo as forças
arrastada pela força daquele sentimento tão forte
estampado em seu rosto — Divide comigo Eudora! Não
importa o que for, divida seus fantasmas comigo.
— Você por acaso é Deus agora?
— Não... Mas sou capaz de buscá-lo se isso te ajudar
a se abrir de vez para mim.
Ele acalmou minha respiração com carinho. Disse
que ficaria tudo bem e para o meu assombro eu acreditei na
palavra de um homem pela primeira vez na minha vida.
— Vem comigo. Eu só quero cuidar de você.
— De onde eu venho ninguém gosta de cuidar de
mim.
— Isso não significa que você não mereça.
— Por que você quer uma puta Máximus?
— Eu não sei. Mas se você fosse freira ainda sim eu
lutaria com a mesma garra para ficar contigo.
— Você não pode ser tão ingênuo assim.
— Isso não é ser ingênuo Eudora. Isso é ser humano.
— Não pode ser tão sensível.
— Isso não é sensibilidade... Isso é amor.
Para o meu bem ou para meu mal eu selei o meu
destino permitindo que o senhor Spartacus partisse numa
viagem dentro de mim que nenhum ser humano jamais
recebera permissão para ir.
i
Capítulo 10
Cuida de mim
M á ximus
Seu cheiro liberava em mim sensações
desconhecidas. Como se eu tivesse nascido para ser
somente dela e de mais ninguém. Quanto mais eu a
dominava mais insano tudo aquilo se tornava. Eu quis fodê-
la ali.
Eudora era uma mulher exuberante. Havia sobre ela
um toque de fascínio que me perturbava a todo segundo.
Seu nariz em pé e sua autossegurança não me espantava,
pelo contrário, deixava-me ainda mais excitado por ela. Mas
ao mesmo tempo quase sem explicação também existia
nela uma suavidade manifesta. Era como se ela fosse
delicada como se lutasse ou visse isso como fraqueza. Sua
pele sedosa e macia me fazia um menino perdido num
parque de prazeres. A face marcante destacava-a em
qualquer multidão, ela fazia justiça ao nome que recebera,
Eudora Tyr era de fato uma deusa nórdica. Um corpo cheio
de curvas, uma boca carnuda e com cílios imensos
debochavam, aquele par de olhos verdes gritantes como
esmeraldas me guiando por um caminho que eu não
conhecia o fim, mas não me preocupava. Chupei seu
pescoço com seus cabelos entre minhas mãos, eu já nem
sentia mais os pontos latejando na mão recém-operada. Só
pensava dentro de mim na peste que ela era. Por ela ferrei
minha mão e por ela estava prestes a estourar todos os
pontos. Suas sobrancelhas altivas e tão torneadas
combinavam com aquelas madeixas pesadas. Tudo nela era
perfeito e saber que ela era minha deixava tudo ainda mais
enlouquecedor para os meus sentidos masculinos.
— Máximus... – sua voz se tornou baixa um pouco
trêmula como quem tem alguma dificuldade em respirar.
Ignorei seus pedidos ou palavras. Quando estou com
qualquer mulher sou concentrado. Quero ser o melhor
momento dela, mas com Eudora era tudo novo, percebi uma
força insana sobre minha mente e corpo gritando em minha
imaginação e ordenando ao meu pau que não importasse o
que eu fizesse eu era o brinquedinho dela.
— Abra as pernas. – Ordenei vendo que o canalha
dentro de mim jorraria como um selvagem sobre ela. De
costas para mim arrebitei seu bumbum lindo ainda com
suas mãos presas na minha mão ferida. Eu sentia sangue
escorrer, mas não a dor. Nada era mais intenso do que o
tesão de estar com Eudora.
Sou um homem cheio de vontades na cama ou tudo
se dá como eu quero ou nada feito. Sou eu quem dito as
regras. Quem escolhe os brinquedos. Quem descobre o que
a mulher deseja. No entanto pela primeira vez eu só queria
o sexo misturado com aquele sentimento que se espalhava
dentro de mim. Eu estava fodido, eu soube que estava
apaixonado por ela.
Desci sua calcinha com a outra mão já colocando
meu pênis rijo para fora. No meio da madrugada com
aquela mulher num canto de um convés eu jamais tinha me
sentido tão vivo, excitado e dono de alguém.
— Vai meter é? — ela quis saber num sussurro com
sua boca contra a porta de ferro.
— Não é isso que você quer Tigresa?
— Muito.
Arreganhei suas coxas montando sobre ela como um
leão no cio. Meti fundo sacudindo meus quadris rasgando
sua boceta melada e carente.
— Ah! — ela gemeu alto. Então dei um jeito de retirar
meu cinto da calça passando pelo seu pescoço.
— Quero você quieta. Quietinha! Só grita quando eu
deixar.
Em sua face vi nascendo o prazer com vontade
acelerada. Desandei a comê-la como um touro sem
nenhuma delicadeza. Eudora gostava disso e para o meu
deleite eu também.
— Isso! Me rasga inteira seu puto! Cachorro!
Canalha!
Aquilo fez com que eu a presenteasse com estocadas
violentas, empinei ainda mais seu bumbum, arquei suas
costas da porta permitindo que minhas mãos segurassem
seus seios enquanto nos beijávamos e então comecei a
quicar dentro dela vendo seus seios sacudirem
desordenados e seus gemidos se tornarem ainda mais altos
com lágrimas nos cantos dos olhos.
— Quer acabar comigo é?
— Quero sim. E vou!
Notei sua pele toda arrepiada e o modo como
mordiscava seus lábios contaram-me que outro gozo viria
forte.
— Essa sua bocetinha está estrangulando meu pau!
— Sou puta meu amor, eu sei fazer o que um homem
gosta!
Com posse a virei para mim comprimindo-a com meu
peito definido vendo seus seios serem pressionados pelo
meu peso com louvor. Esperta notou a minha intenção
erguendo um pouco a coluna da porta permitindo que a
penetração começasse ondulando e aos poucos nós dois
seguíamos com nossos corpos a mesma dança do sexo.
Sintonia total.
Desci a boca por sua garganta e colo. Emboquei um
mamilo bicudo na minha boca chupando como um bebê
faminto. Ela me implorava por mais eu queria meter minhas
bolas dentro daquela bocetinha maravilhosa.
— Ah seu cretino! Vai me fazer gozar de novo!
— Não goza! — apertando com o cinto seu pescoço
— Eu não disse que podia. Você só faz o que eu mando,
ouviu? — dando um tapa gostoso em seu rosto excitado. —
Ouviu?
— Ouvi sim meu senhor.
— Eu quero o seu cuzinho senhorita Tyr.
— Meu cu é como doce senhor Spartacus. Quem
prova sempre quer mais.
— Não é mais! — impus-me sobre ela apertando
mais o cinto — Seu cuzinho agora tem dono assim como
essa sua bocetinha deliciosa. Escutou?
— Sim.
— Quem é o dono desse cuzinho heim?
— O senhor Spartacus.
— E dessa bocetinha linda?
— O senhor Spartacus.
Ela arrebitou-se mais para mim e comecei a penetrar
seu ânus.
— Ah, que delícia! Vem, come sua Tigresa, vem!
Ardente e louca, se empinando e oferecendo-se para
mim, ela ia rebolando sem parar. Bati firme em sua bunda
enlouquecendo-a de vez, falando palavrões, xingando-me
sem nenhum escrúpulo, implorando por mais, ficando com a
bunda toda vermelha em virtude dos meus tapas agora tão
severos.
— Gosta de castigar não é? Então castiga! Ah!
— Toma sua cadela! Safada!
— Eu quero gozar! Por favor!
Pressionei ainda mais meu pau dentro de sua bunda
impulsionando meus quadris como um cão no cio e permiti
que ela gozasse gritando e vi seu corpo estremecer sem
controle em minhas mãos.
Sai dela que me olhou ainda sem fôlego e meio sem
direção, ajoelhou-se diante de mim caindo com seus lábios
vermelhos devorando todo meu pau com suas mãos como
uma bezerra mamando sem dó. Eu estava em êxtase e num
abrir e fechar de olhos senti o gozo quente jorrar em sua
boca escorrendo pelos dentes enquanto ela alisava sua
boceta lambendo cada gota de mim esparramada sobre
seus seios. Num ímpeto puxei-a para minha boca e por
minutos nos beijávamos como um casal apaixonado de um
filme hollywoodiano.
Depois a vesti deixando o rastro do sangue de minha
mão operada em seu vestido dourado.
— Meu Deus! Máximus... E agora? — amei ver em
seus olhos a preocupação genuína por mim.
— Não se preocupe. É só costurar de novo.
— Mas isso deve estar doendo muito. Você fez uma
cirurgia.
— Dói um pouco agora, mas perto de você tudo se
anestesia.
— Melhor cuidarmos disso. Sabe onde tem um kit de
primeiros socorros? — sorri pela ingenuidade dela.
— Há paramédicos a bordo Eudora e uma sala de
emergência. Eu não abro mão de uma em eventos como
esse.
— Verdade. Que cabeça a minha. Então vai lá cuidar
disso.
— E deixar você? — sorri — Jamais.
Comecei a ver a fisionomia de uma mocinha
encantadora nascendo diante de mim. Ela ainda era forte,
impetuosa, mas agora também era angelical.
— Virá comigo ou vai me deixar sangrando babando
de fascinação por você?
Apanhando minha camisa no chão ajeitou seus
cabelos, depois enrolou a camisa em minha mão, depois
pegou o cinto afivelando em minha cintura.
— Obrigado.
— Imagina. Onde é essa tal sala de emergência? —
oferecendo meu braço bom ela entrelaçou sua mão e
seguimos para o local.
Enquanto o médico de plantão recosturava alguns
pontos me indagando como aquilo tinha acontecido ela
sorriu abaixando a cabeça. Vi ali um traço de cumplicidade
nascendo. O primeiro entre nós.
— Prontinho senhor Spartacus. Sugiro que não faça
mais nenhuma extravagância. Foi uma cirurgia delicada
pelo que pude perceber.
— Verdade. Mas foi por uma causa mais do que justa.
— trocamos outro olhar cúmplice — Bem, obrigado doutor.
— Tenha uma boa noite.
Abracei-a colocando sua cabeça em meu ombro
sentindo mais uma vez o perfume de seus cabelos. Nossos
passos nos levariam até minha cabine, mas no trajeto
caminhando por fora do navio e um pouco longe de onde a
festa acontecia reparei que uma mensagem chegou ao seu
celular. Aquilo mexeu com Eudora.
— Ah... Me dá um minutinho. — erguendo o dedo —
Eu preciso fazer uma ligação. — observei que ela se afastou
bastante de mim sofrendo uma brusca mudança de
comportamento.
Aquilo me fez furioso. Fingia não notar Eudora um tanto
empolgada com quem quer que estivesse do outro lado da
ligação, mas aos meus olhos pareceu uma conversa
animada, mas desde o primeiro segundo que se afastou de
mim eu tinha sido nocauteado pelo ciúme. Uma das garotas
que estavam naquela lista surgiu caminhando vindo em
minha direção. Apresentação feita, eu já a conhecia e acho
até que tinha ficado com ela em alguma ocasião. Não sei se
o papo dela era interessante ou sacal, mas para mostrar a
Eudora que eu também tinha os meus atrativos deixei que a
moça falasse até seus cotovelos cansarem. Eu só fazia sorrir
sem tirar os olhos de Eudora que ainda permanecia de
costas para mim. Quando percebi que a ligação se
encerrara foi a minha vez de dar as costas para ela. Queria
saber o que os olhos dela mostraram quando nos viu
conversando, mas os passos fortes do seu salto agulhado
contou-me que a presença da moça ao meu lado a
incomodou.
— Atrapalho? — ela chegou cruzando os braços.
— Nã...
— Claro que sim Eudora se manca. — a moça se
mostrou territorialista.
— Ô Máximus o que essa vagaba está fazendo aqui?
— Eu tenho nome minha linda. Tônia.
— Calma senhoritas. — solicitei com a mão no ar.
Ficou manifesto que a guerra ali não era por minha causa
apesar de naquele instante estar dentro dela — Eudora a
Tônia estava passando e enquanto você se afastou de mim
para fazer a sua ligação tão importante a gente trocou uma
ideia. Nada demais.
— Máximus... — a piranha sussurrou — Nunca vi um
nome tão propício para um homem em toda a minha vida.
— Aqui ô puta, roda antes que eu te rode para o
fundo do mar foco total para os braços de Netuno.
— Eudora calma!
— Calma o caralho Máximus! Você não conhece essa
piranha como eu. Quer ficar de papinho com ela. Fica meu
amor. — batendo no meu ombro — Eu tenho uma festa para
cuidar lembra? Não foi para isso que você me pagou? Estou
indo entreter seus convidados. — rebolando bem gostoso
aquele bunda onde tinha me deliciado.
Tão só saiu andando como se eu nunca tivesse
cruzado o seu caminho. Pedi desculpas a tal Tônia pondo-me
em passos largos atrás dela chamando-a sem parar sem
que ela sequer virasse para mim.
Pensar em perdê-la me custou um comichão no peito.
Antes de me anunciar eu tinha reparado sem que ela
soubesse como os homens da festa a olhavam. Havia
veneração em cada olhar como se quisessem comê-la
inteirinha. Ela tinha esse lance de atrair as pessoas para si
mesmo sem intenção, mas com a mesma intenção, Eudora
era capaz de fazer estragos gigantescos.
— Eudora! Eudora! Porra estou falando com você! —
apertei mais os passos agarrando em seu braço — Não dá
as costas assim para mim. Eu não suporto que façam isso
comigo.
— Problema seu! — arrancando minha mão voltando
a caminhar.
— Então é assim? Vai deixar que uma coisa boba
como essa acabe com a nossa noite? — ela nada me
respondeu.
O ciúme era um lance que me deixava louco, soltava
um animal enjaulado dentro de mim me deixando cheio de
dúvidas. Eu odiava me sentir assim. O que mais me
incomodava era sentir na pele e no corpo que nunca tinha
sido tão forte. Mas por outro lado havia o ego masculino.
Porra eu não ia permitir que Eudora me fizesse de palhaço
depois de tudo que fiz para ficar com ela. Eu sei que ela
estava acostumada a estar no controle, mas ela devia ter
notado que eu também.
Quando dei por mim ela já tinha pego o caminho de
volta para pista. Voltei a minha cabine colocando uma nova
camisa e trouxe meu braço outra vez para a tipoia só então
regressei para a festa. Ela queria dar seu show então eu ia
fazer o joguinho dela.
A batida da musica era sensual. Ritmo caribenho
como solicitei. A infeliz já entrou rasgando na pista e para o
meu desespero os calças da festa pararam só para vê-la
naquele mastro de polidance.
— Filha da mãe. — cochichei puto nas calças.
Ali Eudora era rainha em exuberância. A bunda dela
era com certeza outra parte independente de seu corpo que
falava, andava e quicava sozinha fazendo aquele bando de
marmanjo babar.
— Tigresa! Tigresa!
Gritavam alucinados e eu com uma mão no bolso
levando a língua para um lado e para o outro dentro da
boca. Ela se agarrou ao mastro roçando sua virilha nele de
cima abaixo com mil e uma carinhas de sensualidade.
Depois fez de conta abaixar as alças do vestido. Olhava-me
como quem me ameaçasse dizendo nas entrelinhas:
— Olha só o que acontece se você me provocar.
De repente jogou os cabelos para trás, dava para ver
que ela tinha experiência com aquele movimento. A
desgraçada sorria para mim de cabeça para baixo e ainda
passava a língua pela borda dos lábios devagarzinho.
Sally uma das garotas da lista era uma velha
conhecida minha. Ela tinha atitude e de certa forma
intimidade comigo. Aproximou-se passando seus dedinhos
preciosos sobre o meu cós. Meu pau gritou na hora. Eu não
posso culpá-lo de ser acostumado com ela.
— Saudades dos velhos tempos Máx.
Sorri sem dizer nada, mas lancei no mesmo instante
o meu olhar para Eudora que ao ver onde a mão da colega
estava desfez o movimento na mesma hora mostrando um
cenho duro. Achei que tinha ganhado o round, mas ela
catou o primeiro palhaço que viu na frente para cima do
pequeno palco esfregando-se nele de cima em baixo.
Ali eu vi que a briga ia ser de cachorro grande. Tive
vontade de ir lá arrebentar a cara do filho da puta. Sally
sussurrava putaria em meu ouvido, mas não me excitou. Eu
estava focado em ver a bunda da Eudora se esfregando no
pau daquele imbecil. Nem mesmo em mil anos eu pensei
que viveria para sentir asco do toque de uma mulher no
meu corpo. Segurei o pulso dela com firmeza afastando-a
de mim.
— O que houve lindo?
— Nada. Não estou a fim Sally.
Sei que Sally nada entendeu e eu não a culpo nem
mesmo eu estava me compreendendo naquela cena. Ela
ausentou-se desaparecendo entre os demais.
— Uísque senhor? — uma garçonete perguntou-me.
Apanhei a garrafa no centro da bandeja dizendo de modo
seco e bruto.
— Pode ir.
Virei um pouco da garrafa pensando no que deveria
fazer. Por um segundo não ter me excitado com Sally me
preocupou. Estar nas mãos de uma mulher era algo novo
para mim e eu não gostei dessa sensação. Estava ali na
minha frente: Eudora era o cão. Por outro lado eu também
rejeitava aquela obsessão que ia me dominando cada vez
mais. Puta que pariu! Eu um homem livre, dono das minhas
vontades, dos meus desejos. E ela, mesmo tendo minhas
dúvidas, sendo esperta como era com certeza já tinha
notado que podia me fazer de gato e sapato. Não satisfeita
a bonitinha ensaiou abrir a camisa dele. Aquilo ferveu meu
sangue me levando ao nível mais alto de revolta e pronto
para explodir.
— Vou acabar com essa putaria vai ser agora! —
larguei a garrafa na mão de um cara ao meu lado passando
entre convidados em plena fúria.
Eu não quis saber quem era o cara, mas com certeza
era mais um dos atores que eu contratei para toda aquela
encenação de uma festa para atrair Eudora para a tal
despedida de solteiro, joguei ele longe puxando pela gola
me deparando face a face com ela.
— Divertiu-se? — eu estava muito irado.
— Gato você não faz ideia. — a debochada ainda me
veio com essa.
— Perfeito. Agora desce dessa merda!
Não gosto de ser grosseiro ou indelicado, mas eu não
gosto de mim na versão surto de ciúmes.
— Me solta Máximus!
— Não solto! Vem aqui comigo! — entrei com ela no
banheiro masculino que se encontrava vazio e tranquei a
porta principal — nós vamos conversar como adultos.
— Quem você pensa que é?
— Sou eu quem pergunto Eudora, quem você pensa
que é? A companhia estava boa não é?
— Olha ele era fodivel.
— Por que está fazendo isso Eudora?
— Quer saber por que eu estava fazendo o que você
me pagou para fazer?
— Lá vem você de novo com essa história de sou
profissional do sexo!
— Mas eu não sou? Eu estava trabalhando.
— Por que faz isso?
— Por que estava conversando com a Tônia? Eu odeio
aquela galinha!
— E por que me largou para fazer uma ligação?
De repente percebemos que tudo se tratava de que
ambos estávamos arrebatados pelo mesmo sentimento de
posse. Nossas bocas se calaram e nossos olhos
conversavam. A ira de ter sido trocado por um telefonema
de conversa tão animada me afetava como um espinho na
carne. Eu queria beijá-la e fazer amor com ela de novo, mas
o furor voltou com tudo.
— Não gosto de ser deixado sozinho.
— E eu não gosto que me provoquem.
— Eu não sabia que você e a Tônia tinham um
problema pessoal.
— Oras você não falou que enfim sabia tudo sobre
mim? Deveria saber sobre as tretas também.
— Por que ficou se engraçando com aquele otário?
— Eu não engracei, eu me esfreguei nele.
— Mas você é abusada!
— Jura? Ninguém me falou isso. — Eudora era puro
sarcasmo.
— Eu quero sair daqui Eudora.
— Abra a porta. Tem alguém te segurando? — Não
respondi. Estava tentando me acalmar. — Vamos para a
minha cabine.
— Eu não quero ir para sua cabine.
— Mas vai. – vociferei.
— Mas eu não quero!
Abri a porta esperando que ela passasse.
— Máximus esse jogo não rola comigo.
— Se não passar por esta bela porta, eu jogo você
nas costas e te levo à força Eudora. Prefere assim?
— Você não faria isso.
— Não? — eu não me recordo como, mas quando dei
por mim a bunda dela estava na minha cara e ela aos
berros.
A medida que eu ia passando pelas pessoas sei que
me achavam o abominável homem das cavernas, mas eu
não estava a fim de me preocupar com opiniões alheias.
— Seu cretino! Seu ogro! Me coloca no chão!
Máximus!
— Não duvide de mim! Jamais ouviu bem?
Quase morri subindo o lance de escadas que levava
até a cabine com ela nas costas, mas o prazer de vê-la
jogada em minha cama fez tudo valer a pena.
— Fica quieta aí e se acalma. — limpei o suor do meu
rosto com receio de que os pontos tivessem abertos outra
vez. Sangrava mas ainda estava tudo costurado.
— Você é louco! Seu louco!
— Ah você é um show de sanidade Eudora Tyr. — eu
andava de um lado para o outro me questionando como ela
tinha aquele poder sobre mim.
— Acho que posso te acalmar Máximus.
— Como?
— Quer me foder?
— Eudora você acha que tudo se resolve com sexo?
— Para os homens sim. — ela parecia convicta disso.
— Pois saiba que você está muito enganada! — ainda
agitado — Esse é o seu maior problema. Você parece não
saber se relacionar com alguém. Parece que toda relação
para você se resume a sexo para lá e dinheiro para cá.
— Vai me julgar agora?
— Eu não sou do tipo que julga e acho que minhas
atitudes já te mostraram isso. — enfim sentei-me na beira
da cama — Porra Eudora, tudo que eu fiz até agora é tentar
mostrar que eu quero um relacionamento com você.
— Eu te disse que não sirvo para você.
— O problema não é que você pensa que não serve
para mim, você acredita mesmo que não serve para
ninguém. — foi a primeira vez que consegui calá-la — Você
nunca namorou ninguém? Nunca teve um grande amor?
— Isso não é da sua conta.
— Olha como você me trata. Baixa essa guarda
mulher. Nem todo homem vê você como um pedaço de
carne não.
— Olha desculpa. Eu não quis ser grossa com você.
Mas eu sou assim Máximus. Eu não confio nas pessoas e
muito menos nos homens. E você está certo eu não conheço
a palavra relacionamento eu só conheço e sou doutora na
palavra relação. — levantando-se da cama.
— Vai para onde?
— Não sei. Mas acho que você está me odiando
agora e não há nada que eu possa fazer sobre isso. —
tocando na maçaneta.
— Eudora. — ela me lançou um olhar doce e perdido
— Fica.
— Você não me entende Máximus.
— Então me explica porque eu quero te entender.
— Eu não sei ficar por ficar. Eu não sei ficar por
gostar.
Ergui-me aproximando dela como um porto seguro.
Toquei as maçãs de seu rosto depois passei os dedos pelos
seus lábios.
— Então deixa eu te ensinar? — ela acenou que sim
se esforçando para confiar em mim — Basta uma resposta
minha deusa nórdica. Apenas uma.
— Qual?
— Você quer ou não ficar aqui?
Dava para ver uma guerra abissal sendo travada
dentro dela. Afastei-me aos poucos sem dar as costas para
aquela face que eu amava e sentei-me outra vez na beira
da minha cama com os braços abertos para ela. Ela ainda
chegou a virar o puxador para o meu desespero, mas parou
no meio do caminho, volveu seus olhos para os meus e com
passos vagarosos que na verdade pareciam ter uma
tonelada de esforço sentou-se em meu colo permitindo que
eu a aconchegasse ainda que com a mão fudida.
— Máximus... — sua voz estava embargada.
— Eu.
— Cuida... Cuida de mim.
— Eu cuido sim. Eu cuido de você Eudora Tyr.
p
Capítulo 11
Prioridades
Eudora
A noite em seus braços me conduziu ao êxtase de
uma sensação que eu não conhecia ou não me permiti ao
longo da vida. Deixei que Máximus pensasse que eu dormia
até que ele pegasse no sono e foi à vez de me virar para
seu corpo nu ao meu lado tão indefeso e meu. Aconcheguei-
me em seu peito beijando de leve seu tórax tão definido ao
mesmo tempo em que sentia seu cheiro que se tornava
pouco a pouco vício para minha existência. Gostei de seu
semblante em paz, acariciei seu rosto, seus cabelos com
lágrimas em meus olhos. Nenhum homem tinha ido tão
longe dentro de mim. Mas onde habitavam anjos também
havia demônios. Em minha mente a voz de Freya repercutia
com sonoridade:
“Você nunca será uma boa pessoa porque nunca foi
uma boa filha, uma boa irmã e uma boa mãe”.
Eu sei que não devia dar a ela o direito de controlar
minhas emoções, mas a grande questão é que eu
acreditava naquilo. Depois da morte de minha irmã eu me
perdi como pessoa no mundo, morri um pouco com ela e
fiquei sem identidade. Lembro-me de uma das muitas vezes
em que fui internada por minha mãe para tentar deter meu
espírito desatinado no mundo que uma enfermeira me
indagou por que eu era tão arredia com as pessoas. Recordo
de parar por um segundo processando sua pergunta e numa
análise muito profunda num suspiro respondi com outra
pergunta:
— Como é que a gente confia em alguém quando a
pessoa em que mais eu deveria confiar não gosta de mim?
— Fala de sua mãe não é?
— É.
— Eudora você é uma garota incrível. Venha comigo.
— pondo-me na frente de um imenso espelho na sala dos
enfermeiros — Olhe para você. Uma adolescente linda!
Quantas meninas de 15 anos não queriam ser como você.
— Acredite, nenhuma delas suportaria o peso de
estar em minha pele nem por um segundo. Eu vivo num
inferno constante.
— Olhe para a imagem que surge no espelho. Você é
forte. Uma guerreira que luta com as armas que tem contra
a tirania de uma mãe que não sabe o que é amar de
verdade um filho. Não deixe que isso a derrube. Você é
muito forte só está lutando com as armas erradas.
— Eu adoraria ter nascido pobre, feia e morando num
casebre sem ter o que comer, mas que no fim do dia tivesse
sobre minha cabeça o calor da mão da minha mãe e um
beijo verdadeiro seu.
— Acredite em mim. Um dia você encontrará alguém
que faça isso. Pobre ou rico vai encontrar alguém que te
enxerga e que te ama do jeito que você é.
— Quem pode amar o que é torto?
— Aquele que sabe que o amor está longe de ser
algo exato.
Com aquele homem ao meu lado comecei a
compreender que talvez aquela pessoa havia chegado, mas
a questão ainda era a mesma e minha: Será que estou
pronta para isso? A vida inteira eu tive que tomar as minhas
decisões, fazer as minhas escolhas. Ser forte, ser agressiva
para aprender me defender. Muitas vezes eu quis ser
diferente e viver outra vida por isso estudei jornalismo, eu
queria de verdade encontrar um novo horizonte para mim.
Se todo mundo podia trabalhar o dia inteiro e no fim da
tarde voltar para casa, cuidar da sua família e jantar ao
redor da mesa por que eu não poderia. Mas não durou
muito tempo porque eu vi que no mundo “normal” eu seria
mais uma tentando ser alguém enquanto em meu mundo
eu era Eudora Poderosa Tyr. Eu era a rainha em meu mundo.
Ninguém quer sair de sua zona de conforto. Eu me
acostumei a estar sob os holofotes, a causar brigas,
separações, a fazer jus a minha frase tarimbada: “Eu sou o
que ameaço, eu vim para causar”.
Como Máximus pôde se encantar comigo? Eu não
tenho nada além do meu corpo para oferecê-lo. Eu sou oca
por dentro. Sou mesquinha, egoísta, e nem sei se tenho
algum sentimento de piedade para com os outros porque se
eu tivesse teria morrido com a minha irmã ou fugido para
não entregar a minha filha para aquela mulher da
assistência social.
Quando me afastei de Máximus no convés foi para
retornar a mensagem do Senhor Solitário. A voz dele era
mansa, e gostei de ter me ligado. Aquilo me animou porque
eu precisava do dinheiro para a fazenda. Não sou tipo de
mulher que espera ninguém me dar nada. Sim eu dou a
minha boceta por dinheiro, mas esse é meu negócio. Cada
um com o seu escritório. Lembrei-me do que Rita me falou,
eu já devia ter guardado muito dinheiro se não gastasse
tanto em bolsas, roupas e em viagens. Tinha que pensar no
meu futuro e fazer o meu caixa dois.
— Está acordada? — ele despertou ainda mais
charmoso vendo-me admirá-lo.
— Perdi o sono. — cochichei colocando meu queixo
sobre seu peito sem tirar os meus olhos dos seus.
— Não te cansei o suficiente não? — puxando-me
para cima dele alisando os meus cabelos — O que foi
Eudora?
— Nada.
— Pode até parecer piada, mas eu já conheço um
pouquinho de você.
— Até parece. — sorri me percebendo acuada com a
revelação.
— Quando algo está errado você fica com um olhar
vago, meio perdido. Como se estivesse em outra órbita.
Levantei-me na mesma hora apavorada com a
capacidade de Máximus em me ler em detalhes.
— Você deveria ter feito psicologia ao invés de direito
Máximus. — disfarcei colocando um pouco de água num
copo bebendo sem vontade sabendo que os olhos dele
estavam sobre mim.
— Vem aqui vem. — refiz meu semblante tentando
parecer o mais normal possível volvendo para a cama onde
ele me esperava — Senta aqui no colinho do papai. — sorri
um pouco. Mas ele ficou me encarando como se visse minha
alma nua.
— O que foi?
— Eu acho o Máximo esse jeito de garota malvada,
Eudora. É sensual, envolvente, mas acho que entramos num
estágio que não é mais preciso usá-lo o tempo todo comigo.
O que acha?
— Eu sou o que sou.
— Tudo bem. O que você quer fazer hoje? O pessoal
da festa já deve ter ido embora.
— Quem eram os seus convidados?
— Atores que contratei para toda aquela encenação.
Hoje... — mordiscando meu ombro fazendo meu corpo
arrepiar-se — Sou apenas eu e você. Eu faço o que você
quiser.
Como eu poderia resistir a tanta dedicação comigo?
Beijei-o um pouco com vontade, mas tentando passar para
sua língua a amplitude que o meu coração vivia naquele
instante.
— Porto Rico é lindo. Tem belíssimos lugares para
visitarmos aqui.
— Eu vou onde você me levar. — vi um sorriso
orgulhoso nascendo eu sua boca.
— Confia no amor?
— Eu não confio no amor, mas confio em você
Máximus.
Mais uma vez nos amamos dessa vez sem pressa,
com confissões. Eu me vi um casal de novela e não senti
medo por fazer parte disso. Foi quando ele me revelou algo
inimaginável para mim.
— Tenho uma mulher na minha vida Eudora.
— O quê?
— A mulher mais importante no meu mundo.
— Pensei que tinha terminado com a sua
namoradinha. — ele riu jocoso e eu bufando.
— O seu nome é Antonela, mas eu a chamo de
Adultinha.
— Mas quem é essa Máximus?
— Minha filha. Eu tenho uma filha Eudora, ela tem
oito anos.
Estremeci por dentro, difícil imaginar que um homem
como Máximus fosse pai. Fiquei atenta esperando que ele
falasse mais sobre o assunto.
— Eu tive um casamento trágico. Minha ex era uma
planta do tipo fútil.
— Sua filha vive com ela?
— Não. Sou eu quem crio sozinho a minha filha. Sou
pai e mãe dela. Minha irmã e meu tio ajudam muito, mas
quem segura as pontas sou eu.
— E a mãe?
— É tão boa que me entregou a guarda da Antonela
e está aí pelo mundo tomando suas margueritas com o
dinheiro da pensão que pago para ela.
— Ela não se importa com a filha?
— Sabe quantas vezes ela viu Antonela desde que
nos separamos? Nenhuma.
— Que vadia! Filha da puta! — estourei — Como você
casa com uma piranha dessas?
— Todos nós cometemos nossos erros, mas quer
saber, a melhor coisa que ela fez foi sair das nossas vidas.
Ela faria muito mal a Antonela que é uma garota
sensacional. Minha filha é um gênio Eudora e linda! — o
orgulho que cuspia dele em falar da filha me fez remoer
ainda mais a minha dor — Poxa desculpa, eu não tive a
intenção de...
— Tudo bem Máximus. Não é a primeira e não será a
última vez que vejo alguém falando sobre seus filhos e
penso na minha filha.
— Vem. Vamos nos divertir.
Depois ele me levou para algumas ilhas.
Mergulhamos em recifes que pareciam de outro mundo de
tão perfeitos. No fundo do mar é calmo. Os peixes a sua
volta faz você ser um deles. Os animais em geral são assim
não te julgam. Depois fomos para a orla onde andamos de
jet-ski como tantas pessoas que ali estavam. Eu me vi
fazendo coisas que todo mundo faz num dia de lazer com
quem se ama e cada vez que olhava para o Máximus
sorrindo, brincando comigo eu pensava que ele não tinha
ideia do que me propiciava. Eu podia respirar aliviada, meu
riso era leve e desinteressado. Foi como voltar no tempo e
reviver as sensações de felicidade que eu tinha quando
brincava com Guida. Máximus me levara de novo ao meu
paraíso interno.
— Vamos andar de parapente no mar?
— Como é isso?
— Saímos na lancha e lá eles nos prendem no
parapente e nos solta como pipas. — agarrando-me por trás
pela cintura levantando minhas pernas.
— Para! Você é louco!
— Então vamos? — voltando meu rosto para o seu.
— Eu tenho medo de voar Máximus. Ainda mais
pendurada no ar como pipa presa numa cadeirinha presa
por uma corda.
— Mas eu estarei do seu lado. — passando seus
dedos em meus lábios — Eu cuidarei de você.
— Máximus eu tenho pavor de altura. E você está
com a mão ferrada.
— Sabe que nem sinto nada estando do seu lado?
— Posso confessar uma coisa senhorita Eudora?
— O quê?
— Eu também tenho. E andar de parapente no mar é
uma daquelas coisas que estão na minha lista de coisas que
quero fazer antes de morrer.
— Mentira. Duvido! — abocanhada por um beijo seu.
— Mas quero ir porque você está do meu lado e
quando você está do meu lado eu não tenho medo de nada
Eudora.
— Por acaso sou forte?
— Porque no fundo você e eu somos iguais. Usamos
a força, a agressividade e a coragem para nos defender.
— Você não parece ser assim.
— Talvez por fora nem tanto. Foram muitos anos de
terapia. Mas por dentro eu ainda sou. Precisa me ver
defendendo Adultinha ou dentro de um tribunal. Eu sou um
leão.
— Por que a chama de Adultinha?
— Antonela apresentou que era uma criança especial
desde cedo. Ela andou e falou com nove meses. Aos três ela
lia sem ter ido à escola. Fizemos muitos testes e ela
apresentou um Q.I de 170.
— 170? — arregalei meus olhos abismada.
— Ela fala três línguas. Ama ler. Faz contas
complexas. Sabe mais de leis do que eu que sou advogado
e de vez em quando quer aplicar em mim o que aprende
lendo em livros de psicologia.
— Meu Deus! Que demais! E como é a educação
dela?
— Eu fui orientado por alguns especialistas a
estimulá-la e é o que eu faço. Se ela quer brincar de
bonecas, o que é raro, eu apoio. Se ela quer jogar xadrez, lá
estou eu torcendo por ela. Eu procuro ficar atento aos livros
que ela quer ler, alguns eu permito outros não. Mas no meu
apartamento ou na casa do meu tio temos uma tenda
indígena que ela fez com lençóis na biblioteca. É o seu lugar
preferido na casa. Às vezes eu olho para ela e sinto que
estou conversando com uma adulta mais vivida do que eu
nos meus trinta e cinco anos, por isso a chamo de
Adultinha.
— Ela deve ser incrível mesmo.
— Ela é demais. — os olhos dele brilharam — Eu
tenho certeza que Antonela será grande no mundo só que
no fundo Eudora, ela é uma criança como qualquer outra de
oito anos de idade. Às vezes faz birra, é mimada e
bagunceira. Tem aquela ingenuidade que desaparece
quando crescemos. Embora seja uma delícia ser o pai dela é
um desafio muito grande também que eu tenho medo às
vezes de não conseguir.
Era mágico o modo como ele se revelava para mim
sem medo. Aquilo me motivava a fazer o mesmo, mas eu
tinha tantas amarras.
— Não é só você que possui demônios no sótão
minha deusa nórdica.
— Promete que me protegerá?
— Com um leão. Até rosno se quiser. — gargalhei
rendendo-me a vontade dele.
Meu coração ameaçou nadar para fora de meu peito
e me abandonar quando o moço fez as últimas amarras
soltando-nos no ar.
— Meu Deus! Máximus eu quero descer dessa porra!
— Aguenta tigresa! Uhu!
— Ai meu Deus! Vou fechar os olhos! — vendo a
distância nos separando da lancha.
— Não fecha! Segura forte a minha mão. Também
estou com medo lembra? Mas decidimos fazer isso juntos.
— Estou apavorada aqui!
— Não fica. Estou do seu lado. Não deixarei que nada
de mau te aconteça.
Foi quando meus olhos encontraram os dele em meio
a tanta adrenalina. Ele estava ao meu lado. Segurando forte
a minha mão e me provando de que nem todos os homens
são iguais.
— Você é uma menina incrível Eudora Tyr. Prazer em
conhecê-la!
— Você enlouqueceu Máximus? Sou eu oras.
— Estou feliz em olhar para você e poder enxergar a
verdadeira Eudora. Que garota maravilhosa você é! Estou
apaixonado por você sabia? — levando minha mão a sua
boca onde a beijou.
Até voltarmos à praia eu fiquei calada. Aquilo havia
sido muito impactante para mim e Máximus percebeu.
Sentamos na areia vendo o por do sol quando eu me vi forte
o suficiente para contar algo a ele.
— Eu tinha 10 anos quando a minha irmã foi
assassinada. Ela foi a primeira pessoa que amei com todo o
meu coração — ele girou o corpo para mim colocando
minha perna sobre sua coxa dando-me toda atenção do
mundo — Só voltei a sentir um amor maior quando
engravidei aos 16 anos do meu professor particular. Eu amei
aquela criança com todas as minhas entranhas e assim
como com Guida eu morri de novo quando tive que entregá-
la para adoção.
A mão ferida acariciou meus cabelos. Jamais tinha
falado sobre mim com uma pessoa. Era como se aquilo
fosse fazer amor de verdade com alguém. Eu estava me
despindo para ele como em tempo algum me vi fazendo.
— Minha mãe não gostava de mim porque eu não
nasci menino, acredita? — ele só me ouvia — Mas passou a
me detestar quando minha irmã foi assassinada e eu não
morri no lugar dela. Meu pai... Eu acho que ele me ama. Mas
é um homem fraco. A morte de Guida o devastou até a
última gota do seu ser. Eu já fiz tudo que você possa
imaginar Máximus. Eu já usei drogas pesadas, e quando
estou deprimida eu confesso que uso um pouco de cocaína.
Eu já dormi com centenas de homens. Sou um furacão na
cama ou numa pista de dança. Sei dar prazer a um homem,
mas quando chego em casa eu me sinto do mesmo jeito, eu
ainda sou aquela garotinha assustada que entrou pela porta
da fazenda gritando por socorro para alguém ajudar sua
irmã. Eu sou sozinha e não tenho ninguém para me falar
que ficará tudo bem.
— Eu e minha irmã fomos criados pelo meu tio,
Eudora. Minha mãe é uma alcoólatra sem senso de
responsabilidade e tudo que represento para ela é uma
caneta que lhe assina cheques quando ela ou meu pai estão
muito endividados com apostas de jogos. Eu nunca
compreendi muito a razão pela qual minha mãe abriu mão
de nós dois sem nenhuma cerimônia. Mas o amor do meu
tio por mim e pela Austin supriu qualquer questionamento
que eu pudesse ter pelas ações dos meus pais. O amor dele
me inspira a ser igual, ou melhor, para minha filha. Eu não
odeio os meus pais, mas eles são como aqueles parentes
que você só encontra nos funerais da família. A gente sabe
que existe, mas não faz questão de ver. Quando eu tinha
uns 12 anos eu fui muito rebelde. Cheguei a cumprir
medidas sócioeducativas por quebrar a escola que estudava
e dar um soco na cara do meu professor de francês.
Lembro-me de que quando cheguei em casa eu achei que ia
levar a maior bronca do meu tio e ficar de castigo o resto da
vida. Só que eu não me importava, eu pensava que
ninguém gostasse de mim. Mas eu o encontrei chorando e
quando ele me viu tentou limpar as lágrimas assumindo
uma postura firme. Ele veio até a mim, abaixou-se para me
olhar nos olhos segurou meus ombros falando: Por que você
está fazendo isso se eu estou aqui para cuidar de você com
todo meu amor Máximus? Não tente chamar atenção de
seus pais. Eles não ligam para você. Não são eles que você
atinge com suas rebeldias e sim a mim porque sou eu quem
o amo. Daquele dia em diante eu me permiti ser amado
pelo meu tio. A fazer tudo por ele. Amá-lo como um pai.
Fazê-lo sorrir. Ele me mostrou que as coisas não seriam
como eu queria porque a vida não é como nós queremos,
mas eu tinha uma chance de ser amado só dependia de
mim aceitar aquele amor.
— E você aceitou.
— Sim Eudora. Porque na vida ninguém é
autossuficiente o tempo inteiro. Todo mundo precisa de
alguém que cuide de si.
— Você tem sorte, teve seu tio e tem a sua filha. —
ele ergueu meu rosto.
— Você também pode ter sorte porque eu estou aqui.
Tudo que você fez até agora foi chamar a atenção de
pessoas que não se importam com o que você faça. Não
dão a mínima para você. — pensei se de fato eu estava
vivendo aquilo ou era um sonho — Mas eu me importo e
quero que você saiba que quando fizer isso é a mim que
você machucará porque eu, eu quero cuidar de você e amá-
la não do jeito que você quer, mas do jeito que você
merece.
— Por que você amaria uma prostituta sendo quem é
Máximus?
— Porque o coração não escolhe rótulos Eudora.
— Isso significa que se pudesse escolher não me
escolheria.
— Não. Isso significa que se eu pudesse propor outra
profissão para você eu escolheria, mas não abriria mão de
você.
— Por quê?
— Eu não me apaixonei pela prostituta. Meu coração
não me levou para os olhos de uma garota de programa na
festa do James. Ele me guiou para a mulher mais fascinante
que eu já conheci.
— E a sua namoradinha perfeita?
— Eu terminei com ela.
— E ela aceitou assim de boa?
— Isso já não é problema meu e sim dela. Existem
mais desculpas?
— Não estou inventando desculpas. — saindo do seu
colo.
— Claro que está e sabe disso. Por que se o que você
fez até hoje não me incomoda, e se eu estou livre assim
como você, qual será a próxima desculpa esfarrapada que
inventará para não ficarmos juntos?
— Máximus... — tentei jogar meu olhar para o outro
lado, mas sua mão puxou para os seus olhos absorventes.
— Eu sei que você tem medo. Eu respeito o seu
passado e compreendo seus temores. Mas se há uma
oportunidade de vivermos algo tão especial, por que se
privar disso?
— Eu posso te machucar muito sabia?
— Você corre o mesmo risco comigo, não pensou
nisso? Eudora... Relacionamento é um guia de maluco. Não
se faz ideia do que pode acontecer à única regra é querer
permanecer junto.
— Seria tão mais fácil se você me comesse até dizer
chega e me mandasse embora como todos os outros.
— Essa é a questão. Eu não sou todos os outros.
— Não te incomoda mesmo que eu seja uma puta?
Máximus, se ficar comigo, vão te apontar, vão zoar com a
sua cara.
— Ai de quem fizer isso. — sussurrou me deixando
melada — Ai de quem ousar dizer um ai da minha mulher.
— Sabe que irão.
— Não. Se me conhecer não irão. Eu já falei uma vez
e repito: o dinheiro e o poder têm o seu valor Eudora.
— Até parece. Eu pagando de namoradinha de uma
cara como você. E a sua filha? Tem que pensar nela.
— Antonela é um caso a parte. Eu não permito que
as mulheres que me envolvo se aproximem dela de cara. Eu
admito que tento protegê-la ao Máximo porque me acho
culpado pelo caco de mãe que arrumei para ela.
— Então não vou conhecê-la nunca.
— Se eu conheço bem minha filha e do que tenho
conhecido de você, quando chegar a hora vocês se darão
muito bem.
— Por que diz isso?
— Porque como você ela é forte. Ela não tem medo
de se mostrar como é. Seriam duas mulheres intensas e
guerreiras governando meu coração. Eudora...
— Oi.
— Só tem um jeito disso dar certo e por mais que
esteja muito apaixonado por você a resposta do nosso
futuro não está nas minhas mãos e sim nas suas.
— O que quer que eu faça?
— Eu quero que você diga porque eu também preciso
ouvir coisas da sua boca.
As palavras encontravam-se em ordem em minha
garganta. Levantei-me limpando o biquíni cheio de areia
deixando-o sentado ali. Caminhei alguns passos pensando
naquela encruzilhada. Eu queria aquele homem. Ele me
fazia ter a vontade de ser a sua namoradinha. De permitir
que ele acordasse ao meu lado. Mas ao mesmo tempo eu
pensava na fazenda, na minha oportunidade como Sugar
Baby e no Senhor Solitário. Sempre fui racional com os
negócios, mas pela primeira vez eu vi que não podia
caminhar sozinha, metade de mim tinha sido arrancada e
jazia sentada me olhando partir naquela praia. Então parei
observando a noite chegar, cruzando os braços fui aos
poucos volvendo meu corpo para trás. Qualquer mulher
teria corrido para os braços dele, no entanto eu travei e não
conseguia dar um passo sequer. Máximus levantou-se vindo
até a mim, não falou nada, ele me compreendia nas
entrelinhas, ofereceu sua mão e aos poucos me agarrei
nela. Ele me abraçou e assim fomos até o navio.
Enquanto ele tomava um banho eu ainda me via
pressionada em tomar alguma decisão. Apanhei algumas
coisas na cozinha ignorando o chefe a bordo de que ele
prepararia o que nós desejássemos para o jantar e preparei
uma massa com molho branco. Eu precisava relaxar e
cozinhar me proporciona isso. Quando regressei a cabine ele
me esperava enrolado numa toalha branca ainda
enxugando os cabelos.
— Que bandeja é essa?
— Eu fiz.
— Para nós?
— Não, eu fiz só para você.
— Cozinhou para mim? — fez se de assombrado, mas
eu sabia que ele conhecia meu segredo que me leva a
cozinhar.
— É... Eu... Eu queria... Mas esquece, eu nem sei se
gosta do que eu fiz. — coloquei a bandeja sobre o criado
mudo mais perto de mim.
Ele jogou a toalha que enxugava seus cabelos ao
longe, caminhou até a bandeja levantando a clochê. Fechou
os olhos sentindo o aroma do prato depois me olhou como
se fosse meu dono. Arrancou a toalha que o vestia a fim de
mostrar seu membro rijo enchendo minha boca d’água.
— Eu adorei que fez algo para mim.
— Gosta de massa?
— Amo. Posso agradecer?
— Pode.
— Aimez-vous la saucisse avec des oeufs à la mode
de la maison?
— Eu odeio francês.
— Você gosta de linguiça com ovos à moda da casa?
— gargalhei sendo invadida por suas mãos enormes
domando meu corpo — Eu te quero Eudora!
— Máximus...
— Fala...
— Eu quero...
— Quer o quê? Fala.
— Ficar com você.
— É pouco. Até quando?
— Eu não sei.
— Sou um homem de negócios. Trabalho com prazos.
— mordiscando meu pescoço.
— Uma semana.
— A oferta é muito baixa. Eu não jogo para perder
senhorita Tyr.
— Um mês?
— Não. Assim nossas negociações não irão à frente.
Enfim tomei coragem de segurar sua face com
minhas mãos.
— Até quando o senhor deseja?
— Só para sempre senhorita Tyr. Só para sempre. —
atracando-me em seu quadril.
— Eu aceito.
— Negócio fechado.
E
Capítulo 12
Duas faces
Eudora
Embora minha resposta fosse sincera naquele
momento, onde de fato eu queria estar ali com Máximus e
de preferência por toda eternidade, havia uma parte de
mim, uma grande parte do meu ser impedindo-me de
acreditar e vivenciar cada palavra, cada gesto que ele me
oferecia. Não estou acostumada a ser tratada como uma
mulher merece se não for paga por isso. Então é apavorante
para o meu eu permitir seus beijos, seus cuidados, seus
carinhos a forma como ele me amava sem que eu tivesse
total convicção de que muitas notas de dólares chegariam
em minhas mãos no final da noite ou no amanhecer do dia.
Pode parecer utópico o que digo, mas anos a fio nesse
mesmo tipo de procedimento fazem com que sua mente
processe tudo deste jeito sem que haja outra forma de que
as coisas possam acontecer. Era desconfortável para eu
entender de que o controle não estava em minha mão.
Porque o que me fazia ser forte enquanto prostituta era a
certeza de que quem estava no poder era eu e não o
cliente, o dinheiro me dava essa confiança.
Eu tive clientes que me pagaram por dias, semanas e
alguns até por um mês para ser a sua “namoradinha”
perfeita. O carro que tenho, um automóvel de luxo veio
como presente do meu bom desempenho num desses
negócios. As roupas que uso, as joias que apresento e até o
perfume que uso são agrados dados pelos cartões de
crédito desses clientes. Meu cérebro não conseguia
processar uma vida a dois num mecanismo que não usasse
justo a mecânica deste negócio. Eu não conseguia explicar
isso a Máximus porque nunca tive que explicar nada para
ninguém. Eu fazia o que queria, eu trilhava o meu caminho,
a minha direção era aquela que o vento me oferecia.
Esperei que ele adormecesse com meu coração
rasgando minha alma, gritando dentro do meu peito que eu
não passava de uma filha da puta porque faria algo que
Máximus não merecia. Mas eu não sabia ser de outro jeito.
Aquilo era eu. Procurei o lugar mais isolado mandando uma
mensagem para o Solteiro Solitário.
— Está aí honey?
— Para você sempre Tara. Achei que tivesse
desistido de mim.
— Não. Só que estou em viagem.
— Negócios? — aquilo me petrificou, olhei o mar a
minha volta pensei no que responderia — Tara?
— Não. Não são negócios.
— Quando poderemos conversar sobre nós?
— Eu preciso voltar para os Estados Unidos para que
isso aconteça.
— Entendo. Vai demorar?
— Eu creio que em dois ou no Máximo três dias eu
estou de volta.
— Maravilha. Não vejo a hora de conversarmos
frente a frente. Não desista de mim Tara Larousse. Eu sei
que você teve outro candidato e...
— Eu preferi você Solteiro Solitário. Não se preocupe
com mais nada.
— Quero ser o melhor Sugar Daddy que uma Sugar
Baby como você merece.
— Você é velho nesse ramo?
— Não. Novato. Eu conheço o esquema algum
tempo, amigos já haviam me convidado, mas eu não quis.
— E por que resolveu agora?
— Ainda não sei. Mas sinto falta de alguém para
cuidar. Acho que percebeu que eu sou um coroa.
— Sim. Eu vi a foto que me enviou. Você está ótimo
para um coroa.
— Posso ser o seu pai.
— Mas é isso que será. O meu Sugar Daddy. O meu
papaizinho.
— Você está despertando algo bom em mim Tara.
Estou me sentindo um adolescente.
— No fundo todos temos a nossa criança interna
papaizinho.
— Há coisas que precisam ser ditas em nosso
contrato.
— Como, por exemplo? — eu já me preparava para
sexo do começo ao fim, aquela conversa da Rita de que
havia homens que não estavam a fim de foda para mim era
pura balela.
— Não quero uma acompanhante de luxo Tara. Um
homem na minha posição pode ter sexo a qualquer
momento pagando ou não por ele.
— Então o que você quer papaizinho? — boquiaberta
com a revelação dele.
— Eu quero brincar o jogo. Eu quero mesmo poder
mimar e cuidar de uma mocinha linda como você e fazer
algum sentido na vida dela para que a minha vida encontre
um rumo.
— Sem sexo?
— Na minha idade algumas das muitas coisas que se
percebe é que o sexo não é a válvula mor para tudo. Eu sou
diabético há anos e fiquei impotente. Fiz muitos
tratamentos até que me cansei deles e da cara que as
mulheres que saiam comigo faziam para que eu me sentisse
um garanhão. Não é isso que quero ou procuro.
O silêncio me calou como quem ganhasse na loteria.
O que mais eu desejaria? Um homem puto de rico querendo
me bancar fazendo meus caprichos sem querer nada com a
minha preciosa boceta? Isso é o sonho de qualquer mulher.
Despedi-me dele com muitos emojis de beijinhos e um riso
largo em minha face. Não nego comecei a dançar pelo
convés como uma louca indo do sensual ao insano de
braços abertos.
Voltaria como uma gatuna para a cabine se não
desse de cara com um marujo que me devorou com os
olhos ao me ver só de calcinha perambulando por ali. Não
dei ataque de sobriedade pondo as mãos sobre os seios
descobertos e duros pelo frio. Deixei que ele olhasse até
dizer chega. Ele era novinho, não mais que vinte anos.
Meninos nessa idade adoram mamar. Era nesses momentos
que o meu lado negro surgia e assumia de certo modo o
controle da minha mente.
— Você tem fogo homem do mar? — alisando meus
seios e em especial apertando os biquinhos duros pelo frio.
— Não... — gaguejou — Mas... Mas... Se... Fogo.
Eu sou exibida. Eu gosto de flertar com os homens só
de sacanagem para testar o meu poder de sedução. Eu
tinha consciência de que Máximus poderia acordar do nada
e me procurar achando-me ali. Isso era um risco, não era
minha intenção fazer isso com ele, eu sei que era uma puta
burrice de minha parte, mas era o perigo que me excitava e
o que levou a me meter em tantas merdas ao longo da
minha vida.
— Você é bonitinho. — aproximei-me dele apreciando
aquele rostinho de bebê salivando no meu corpo.
— Os seus peitos... Que dizer... A senhorita... A
senhorita é... Linda! — a confissão pareceu um orgasmo
daqueles bem contidos.
Aos poucos fui rodeando soprando no ouvido dele o
frescor do meu hálito vendo o volume de sua calça de
pregas se formando.
— Grande não? Se for tão espertinho como acho,
você deve fazer grandes estragos com ele.
— Ahã. — num outro sussurro.
Sorri satisfeita com a maldade da madrugada.
— Deixa eu te falar uma coisa novinho. Quando você
crescer eu volto aqui e te coloco para mamar sentado no
meu colo, ok?
— Honra... Grande... Seria! — gargalhei maliciosa
com o seu embaraço.
— Promessa. Cresce e a titia vai te dar mamar.
Lindinho. — beijando seu rosto voltei em passos pérfidos de
pura patifaria para a cabine.
Entretanto quando entrei na cabine vendo Máximus
dormindo sem suspeitar de nada de quem eu era tive
vergonha de mim. Eu quis acordá-lo e vomitar todos os
meus sentimentos e necessidades para ele. Eu sei que ele
me ajudaria a comprar a fazenda, mas talvez seja isso que a
maioria das pessoas não compreenda. Uma mulher como eu
não se convence ou se acostuma a depender de um homem
da noite para o dia para ajudá-la, na verdade esse sempre
foi meu grande problema, eu não sei pedir ajuda. Deitei-me
ao seu lado e a conversa com Solteiro Solitário me dividiu.
Metade de mim se motivou com a entrada dele em minha
vida como meu Sugar Daddy enquanto a outra metade me
consumiu culpando-me. Eu me sentia a pior das pessoas
porque me via traindo os sentimentos de Máximus. Um
sentimento que eu sabia que era real. Foi assim que
testemunhei o sol aparecer.
x
Capítulo 13
Senhor das Vontades
M á ximus
Quando saí do banho e a vi sentada com as pernas
cruzadas como asas de borboleta eu me vi feliz. Havia
sossego em mim. Nada daquela agitação que eu vivia me
cobrando por ser incapaz de ser e ter alguém de verdade.
No entanto, aquele olhar perdido outra vez encontrava-se
nos olhos de Eudora. Ainda existia algo que nos separava.
Aproximei-me sentando na cama sem falar nada e por
muitos minutos observei que ela entrara num transe. Acho
que nem notou que eu estava ao seu lado. Incrível ver algo
assim e perturbador ao mesmo tempo.
— Um beijo pelos seus pensamentos. — falei
estalando os dedos depois de colocar minha boxer preta.
— Oi?
— Em que órbita vossa senhoria se encontra
senhorita Tyr?
— Nenhuma! — levantando-se como um foguete
como se quisesse fugir da minha presença.
Tinha algo sobre mim que Eudora precisava saber e
compreender que a falha sobre essa atitude colocaria em
xeque o que estava nascendo entre nós.
— Eudora senta aqui, por favor.
— Eu vou tomar banho... Posso preparar o café da
manhã e...
— Eudora senta aqui, por favor. — dessa vez bati
com a mão ao meu lado.
— Pronto. Sentada. — mas era visível que estava
desconfortável.
— Tem algumas coisas sobre mim que eu preciso que
você saiba. — vi seus olhos espantarem-se — Algumas
pessoas, algumas não, as pessoas que convivem comigo e
me conhecem falam que sou um cara muito mandão,
arrogante, mas na verdade o que eu admito é que sou um
homem cheio de vontades sim.
— E o que tem isso?
— Isso se reflete com quem me relaciono. — ela
permaneceu com seu olhar vidrado no meu rosto — Não
suporto mentiras Eudora. Prefiro que use uma faca e me
rasgue no meio sem piedade, mas não minta para mim.
Porque eu tenho muitos defeitos, mas não minto para
ninguém.
— Por que está falando isso para mim?
— Porque eu quero sinceridade entre nós até o
último fio de cabelo. Umas das coisas que apreciei em você
foi o fato de assumir ser uma prostituta sem tentar
esconder isso de mim em nenhum momento. Por isso não
me importei, porque você foi honesta comigo.
— Aonde quer chegar com essa conversa Máximus?
— Três regras Eudora Tyr — mostrando meus dedos
— Não minta para mim. Não faça amor comigo se não for o
que você quer. Não tente ser mais esperta do que eu.
— Por quê?
— Porque você pode até conseguir me enganar por
um tempo, mas eu garanto que não conseguirá o tempo
todo. Uma hora eu descobrirei a verdade e nessas horas eu
não sou nada misericordioso.
— Não confia em mim, não é?
— Pelo contrário. Por confiar, por estar me
entregando de cabeça nessa com você é que estou
deixando tudo às claras. Não sou do tipo que esquece fácil
Eudora. Não esqueci até hoje nem o que a minha mãe que
mal ou bem me colocou no mundo fez comigo, não tente
achar que terá mais privilégio do que ela.
— Tudo bem. Está dito.
— Tem alguma coisa que você ainda precisa me
contar? Se você me disser que não está pronta para falar,
que precisa de um tempo eu entendo e vou esperar seu
tempo, mas não mente para mim.
Percebi que eu a tinha posto contra parede. Acho que
Eudora não conseguia notar o quão verdadeira ela era que
não disfarçava uma verdade dentro dela.
— Você não deve esperar que eu seja clara como a
água num estalar de dedos Máximus.
— Verdade. Concordo. Então precisa de um tempo. —
ela sacudiu a cabeça que sim — Perfeito. Eu espero. Agora
quero que você saiba que eu não me importo com o que
você fez até hoje com seu corpo, mas daqui para frente
para ficar comigo tem que compreender que ele passou a
ser problema meu.
— Como assim? — indagou alvoroçada encarando-
me.
— De hoje em diante não tem mais clientes,
negócios, profissional do sexo ou a porra do nome que você
quiser dar. — ergui-me encarando-a mais ainda — Você está
comigo, não está? Vai ser do meu jeito.
— Acha que eu vou aceitar um homem mandão me
dizendo o que devo ou não fazer da minha vida?
— Não. Não foi isso o que disse e não me faça
subestimar sua inteligência. Você entendeu o que falei.
— Eu sou uma mulher independente.
— Adoro mulheres independentes. Mas prostituição
não é a única maneira de uma mulher mostrar seu valor
profissional na sociedade.
— Só me faltava essa! — andando de um lado para o
outro de braços cruzados.
— Você é formada em jornalismo. Fala quatro
idiomas. Viajada. Inteligente. Versátil. É lógico que você
pode fazer muitas coisas para continuar sendo
independente.
— Tudo isso para não ter que explicar para os seus
amigos que está com uma puta? — gritou. A cada segundo
ela se agitava mais e mais.
— Não fale assim comigo! Baixa a voz porque eu não
estou gritando com você. Eu não sou uma das suas
amiguinhas que você grita mais alto para se sentir superior.
— Quer saber? Você é mais um riquinho metido a
besta, arrogante e mandão!
— Por que estou mostrando para você que há outros
meios de você ser bem sucedida em sua vida? Eudora você
é uma mulher exuberante, mas o tempo passa para todo
mundo.
— Então é isso? — batendo uma mão contra a outra
— O senhor Spartacus quer que eu entregue currículos e
quem sabe até use terninhos!
— Você falou como quem nunca teve ninguém em
sua vida para te guiar. Eu estou aqui Eudora. Estou dizendo
olhando dentro da porra dos seus lindos olhos verdes que
você não precisa usar o seu corpo para alcançar os seus
objetivos. Muda caralho!
Por um segundo ela se calou passou a mão pelo
cabelo deixando o celular que trazia na mão ao lado do
criado mudo.
— Eu posso te ajudar. Eu posso encontrar um
emprego que precise de suas qualidades intelectuais e com
um excelente salário.
— Vai fazer caridade? Pagará do seu bolso? Você
acha mesmo senhor Spartacus que alguém em sã
consciência que puxe a minha ficha vai me dar algum
trabalho assim?
— Eu estou te dando a minha palavra que sim.
— Até parece que você sendo quem é, ainda mais
um advogado não tenha as suas tramoias na companhia da
sua família.
— Eu não tenho. A minha integridade está acima de
tudo Eudora.
— Duvido. Todo empresário é corrupto. — parou me
encarando de novo.
— Esse é seu problema.
— Qual é o meu problema?
— Você julga todos do mesmo modo que é julgada.
Você não considera que as pessoas sejam diferentes e
muito menos que elas queiram o seu bem.
— Eu quero ir embora! Manda alguém me levar para
Califórnia. Agora!
— Não mesmo. Não até chegarmos num acordo aqui.
— Eu quero ir embora agora!
— O mar está aí Tigresa, pula nele e volta a nado.
Não tenho medo de fazer valer aquilo que eu quero
aquilo que acredito ser o correto a ser feito. Não mudaria o
meu pensamento. Eudora tinha que mudar o rumo dela se
de fato ela almejava tanto essa mudança a partir de alguém
que se importasse com ela. Eu me importava e faria o que
fosse necessário para que ela tivesse acesso à dignidade
que merecia. Não que ser uma prostituta não seja digno,
mas a questão para mim é que eu não acredito que se um
ser humano pode mudar para melhor ele aceitará a
permanecer num estágio onde os olhos do mundo sempre a
verá como um indivíduo de segunda categoria. Eu sou um
homem experiente que já dormiu com centenas de garotas
de programa, elas têm seu valor sim porque você está
pagando por esse valor, fora dele não somente eu, mas
qualquer homem dentro ou fora da Terra sabe que uma
prostituta não passa de uma carne de quinta categoria não
importa o preço que você pague por ela.
Eu tinha medo de que a rejeitassem pelo passado
dela? Não. As pessoas se calam quando você tem muito
dinheiro e muito a oferecê-las. Cansei de ver homens tão ou
mais poderosos como eu casarem com suas garotas de
programas. Todos na roda do clube sabiam, mas o que
estava em jogo, ou seja, o que o cara tinha para
proporcionar era muito maior do qualquer comentário sobre
a mulher ao seu lado. Portanto eu tinha pleno conhecimento
do movimento no tabuleiro de xadrez que eu daria.
O que me inquietava era a resistência de Eudora. Eu
compreendo que seria um processo muito delicado para
uma mulher largada no mundo como ela foi desde criança.
A família dela a abandonou e isso é muito doloroso de se
lidar. Sei que aceitar um alguém que estivesse pronto a
mostrá-la um caminho diferente daquilo que ela vinha
fazendo com sua vida também era complicado. Mas se ela
queria isso teria que me provar. Eu não arriscaria um mundo
inteiro por ela, o tio Brad disse depois que dispensei a Liana
que eu tinha que buscar uma relação de mais
comprometimento. Porque relacionamento para mim é
antes de tudo isso, um estar comprometido com o outro. Eu
não podia querer mais aquela mudança do que ela.
Meu tio é um homem conservador. Cansou de me
ensinar que um empresário presidente de uma mega
empresa como Randor, não poderia escolher para ter ao seu
lado uma mulher que não viesse do mesmo ciclo familiar e
não seguisse a certos padrões, ou seja, estilo esposa troféu.
Assim sendo apresentar Eudora a ele poderia ser o nosso
maior embate familiar, porque eu sei que ele não a
aprovaria em tempo algum.
Fiquei notando ela tomar seu banho, arrumar sua
mala e vestir sua calça jeans e depois colocar uma blusa
amarela discreta que caíram como luva em seu corpo.
Prendeu os cabelos num coque, mais batom vermelho. Ela
ficava ainda mais sexy furiosa.
— Como é que é Máximus? Eu estou falando sério. Eu
quero sair daqui agora!
— Você sempre faz isso Eudora não é mesmo?
— Eu não estou para o seu papo de psicólogo ouviu?
— Foge toda vez que se vê acuada. — andei até ela a
rodeando enlouquecendo com o perfume do sabonete
líquido sobre sua pele fresca do banho — Você me deixa tão
excitado.
— Eu quero ir embora. Estou falando sério!
Nesse momento como um leão a peguei sem que
esperasse, jogando-a na parede prendendo seu corpo ao
meu.
— E você acha que eu estou brincando?
— Me solta!
— Acha que sou do tipo de homem que brinca?
— Não sou obrigada a ficar aqui! Não pode me
obrigar a fazer o que eu não quero!
Admirei seu rosto ponto a ponto depois fingi
mordiscar seu queixo, mas não o fiz vendo a vontade dela
ser engolida pela sua garganta. Não era só ela que podia
brincar ali. Então a soltei devagar cruzando os braços.
— Faça o que desejar senhorita Tyr. Você é livre.
Meu peito foi empurrado pelo toque quente de suas
mãos. Ela jogou a mala fora do quarto, tinhosa só como ela
sabia ser abriu sua mão para me afrontar.
— Eu quero o meu pagamento. Eu trabalhei por isso.
Não falei nada. Apenas fui até meu cofre dentro do
pequeno closet ali no quarto. Apanhei os cinco mil dólares
combinados pela festa, fingi caminhar até ela com o
dinheiro na mão, mas dei meia volta jogando as cédulas em
cima da cama. Tornei outra vez parando diante dela jogando
pesado.
— Pega o que é seu.
Deixei o quarto indo para a academia. Eu queria
provocá-la. Queria que ela me visse correr na esteira
quando passasse pela academia para entender que se ela
não estava a fim eu também não estaria.
Passaram cinco minutos. Depois mais dez e mais
vinte. Ela não tinha como sair do navio se não fosse
passando em frente da academia. Mesmo doido tentando
compreender a sua tática me mantive malhando. De
repente ouvi aqueles benditos passos de sua sandália
agulhada. Preparei-me para que ela passasse pelo vidro. Eu
tinha tomado a minha decisão. Eu não iria mais atrás de
Eudora mesmo que fosse a pior burrada da minha vida. No
entanto, a vi parar diante de mim na esteira onde eu corria,
lá estava ela com as mãos nos bolsos traseiros da calça.
— Posso ajudar? — falei sem dignificar o olhar para
ela.
— Desliga essa merda. — sorri aumentando ainda
mais a velocidade da esteira. Vi nos seus olhos a cólera.
Para minha surpresa ela bateu nos botões de comando do
aparelho desligando-o.
— Está maluca?
— Eu mandei você desligar.
— Mandou? — gargalhei ligando outra vez a esteira
— Está para existir a mulher que mande em Máximus
Spartacus queridinha.
— Desliga essa porra! — agora nossas mãos se
estapeavam ligando e desligando a máquina que não foi
programada para lidar com dois loucos.
— Quem você pensa que é filha? — segurando seu
pulso saindo enfim da esteira com o corpo suado e coração
acelerado por ela — Já não fiz o que você queria?
— Não fez não. — arrancando seu punho da minha
mão.
— Falta o que então?
— Isso!
Suas mãos se embolaram em meu pescoço
empurrando suas pernas em meu quadril, enquanto sua
boca comia a minha e nossas línguas se engalfinhavam de
tanto tesão. Mas eu sou cheio de vontades e não queria
aliviar para ela ainda.
— Solta!
Ausentando-me do domínio de suas mãos e a pondo
no chão outra vez eu notei que minha atitude bagunçou a
segurança dela. Eudora se habituou a usar o seu poder
bélico de sedução para conseguir o que desejava. Eu não
tinha certeza de que aquela reação era vontade de ficar
comigo ou apenas um truque do qual ela era senhora. Amei
vê-la passar as mãos pela nuca sem saber o que acontecia.
— Quer que eu mande o motorista te levar até o
aeroporto?
Ela ainda me observava vendo a minha
movimentação no próximo aparelho alinhando os pesos.
— Não me custa nada fazer isso Eudora.
Foi quando aquele olhar perdido surgiu me dando à
certeza de que a sua reação era verdadeira. Quando me
preparei para erguer a barra de ferro as mãos dela travaram
o movimento.
— Não deveria fazer isso.
— Por quê? — eu quis saber.
— Sua mão machucada. — tocando-a com carinho.
— E você se importa com ela?
— Não só com ela.
Abaixei a barra e ao erguer meus olhos deparei-me
com os seus encarando minha alma.
— Não precisava me tratar como uma puta.
— Não foi a minha intenção. Eu nunca te tratei como
uma.
— Então por que jogou o dinheiro daquela forma?
— Porque aquele foi o jeito que você me mostrou
como queria ser tratada. Escuta Eudora... — agarrando-a
pela cintura com posse — Eu não sei ser de outra maneira.
Se uma mulher está comigo então ela está comigo. Tem um
mundo lá fora que sim será impiedoso comigo se você
decidir ficar ao meu lado. Eu vou enfrentar inclusive pessoas
que eu amo e que não aprovarão essa relação.
— Por que está me dizendo isso?
— Para que você perceba que se há um alto preço a
ser pago em largar o seu mundo para ficar comigo, eu
também pagarei um preço exorbitante para enfrentar meu
mundo por você.
— Por que arriscar tanto?
— Porque eu te quero! — matando meu desejo de
mordiscar seu lábio inferior puxando-o de leve para mim —
Quando eu quero algo eu não busco explicações eu faço
apenas o que meu coração pede.
— Eu só peço uma coisa Máximus.
— O que desejar.
— Nunca mais me trate como uma puta. Porque eu
suporto isso de qualquer pessoa no mundo, mas quando
veio de você me despedaçou por dentro.
— Me perdoa. Só queria chacoalhar você. — beijando
sua testa com todo meu carinho — Você me perdoa?
— Perdoei no momento que vim atrás de você.
— Você queria mesmo ir não é verdade? — ela
acenou que sim — Então por que não vai?
— Não posso. Você prendeu parte de mim senhor
Spartacus. Eu não posso mais ir sem você.
Enfim eu tinha a resposta que desejava. Coloquei-a
sobre o frigobar jogando os copos no chão sem me importar
com o barulho. Um segurança surgiu e só com um aceno dei
entender que sumisse dali. Tudo que fiz foi amar aquela
mulher como se não houvesse amanhã. Transamos como
dois animais. Fomos selvagens e implacáveis, mas no fim
exauridos pelo gozo e pelo prazer tudo que eu via dentro de
mim era um sentimento que eu jamais tive por nenhuma
mulher na vida, poderia soar como cedo demais, porém eu
soube que já amava Eudora Tyr.
l
Capítulo 14
Senhor Solitário
Eudora
A volta de Porto Rico me transformou na garota
número um de Máximus Spartacus, eu não considerava usar
a palavra namorada ainda em meu dicionário nada
amoroso. Combinamos de que iríamos com calma. Ele
queria um tempo para me apresentar a sua irmã e ao seu
tio e pediu-me que nesse tempo tivéssemos o Máximo de
descrição com a mídia e com as pessoas do seu ciclo. O seu
pedido validou o meu. Claro que eu não tinha a menor
intenção de levar o Máximus para conhecer a Freya, mas
para resolver questões como desfazer da minha clientela.
Entreguei nas mãos dele a minha listinha vip, mas não
toquei no assunto do site onde agora eu era uma Sugar
Baby e que tinha um Sugar Daddy a minha espera. Disse ao
Solteiro Solitário que eu necessitava de alguns dias para nos
encontrarmos e ele aceitou, pouco a pouco ele foi me
mostrando uma maturidade que em particular eu aprecio
muito nos negócios. Não lido nada bem com qualquer tipo
de cobrança.
Em relação à Máximus, parte de mim queria mesmo
agradá-lo e fazer valer o homem maravilhoso que estava se
revelando comigo. Mas eu ainda tinha a questão da fazenda
para resolver. Então pensei que poderia usar o tempo
pedido por ele para desenrolar o meu lance como Sugar
Baby com Solteiro Solitário. Em minha cabeça eu não
estaria sacaneando o Máximus, ele tinha que colocar a vida
dele em ordem e eu a minha.
Aceitei a entrevista de emprego que ele me arrumou
como assistente de imprensa de uma multinacional de
filmes pornográficos. Achei inteligentíssima a sacada dele.
Eu trabalharia com decência num ramo que eu dominava e
tinha liberdade em contatos e fazer novas parcerias.
Máximus sem dúvidas era um homem muito perspicaz e
mostrou-me que sabia suportar meu passado sem ter que
escondê-lo. O salário era muito bom, não se compararia a
minha receita mensal com os programas, mas atuando
como Sugar Baby eu poderia fazer meu pé de meia
aumentando um pouco mais minha receita. O problema era
que Máximus me marcava no pé. Julguei compreensível, ele
ansiava ter certeza de que eu não estava de putaria com
ele.
Confesso que nos primeiros dias acordar cedo com
um despertador estridente, me arrumar e ir para o trabalho
mesmo que fosse num ramo que eu dominava não fazia
minha cabeça. Eu estava acostumada acordar lá pelas duas
ou três horas da tarde. Eu não tinha horários para nada,
fosse comer dormir ou beber. Muitas vezes meu café da
manhã era encher a cara com uma garrafa de vinho na
esperança que ela curasse a ressaca da noite anterior.
Outras vezes eu ainda acordava bêbada. Agora eu tinha
horário de café da manhã, almoço, lanche, isso era um tédio
para mim. Era como ser um peixe fora do oceano ou um
leopardo no espaço.
— Eudora o senhor Thompson pediu que você fizesse
um comunicado a imprensa sobre o caso do filme com
stripers.
— Eu até me adiantei. Está aqui em algum lugar...
Um momento por gentileza Mary. Achei!
— Bom trabalho garota.
Mas aquilo não era para mim. Valia a pena quando
eu chegava em meu apartamento e encontrava Máximus
com flores, chocolates e com o jantar pronto comprado em
algum serviço de delivery. Eu gostava de perceber que ele
sentia orgulho de mim. Que eu não o estava desapontando.
Mas eu não fazia ideia de até quando eu aguentaria
suportar uma realidade que não era minha.
— Como foi o dia de trabalho hoje Tigresa? —
recebendo o carinho dele como se eu fosse uma mocinha
recatada chegando em casa depois de mais um dia de
trabalho.
— Normal. Eu fiz retratações para a empresa hoje.
Ontem também e amanhã com certeza farei de novo.
— Ops! Que tom é esse? — deixei seus braços
debruçando-me sobre a bancada da cozinha abocanhando
umas uvas.
— Olha Máximus... Eu não sei se consigo.
— Pensei que estivesse gostando. — encostando por
trás de mim, pondo seu corpo sobre minhas costas,
beijando meu ombro — Você está a cada dia mais linda...
— Deveria estar mega Power contente se eu fosse
uma pessoa normal.
— Está falando do que? — cessando as caricias —
Alguém mexeu com você? Alguém falou algo que não
gostou?
— Não. O pessoal é legal comigo. O problema é o de
sempre Máximus. Eu! — ele se ergueu virando-me para ele.
— Sabíamos que não seria fácil não é verdade? Tive
uma conversa sincera com meu tio. Fiz como combinamos
não citei nomes ou fotos. Mas só de mencionar que você
tinha um passado ele quase arrancou minha cabeça fora.
Não será nada fácil Tigresa.
— E a sua irmã?
— Austin sabe que você foi uma prostituta. Mas ela
só quer que eu fique bem. Ela me apoia, mas desde que
você não me machuque. Ela é muito protetora embora seja
a caçula. Vamos jantar? Comidinha italiana como você
gosta. — abrindo as pequenas caixas que até tinha um
cheiro bom.
— Estou tão cansada que não sei se quero comer.
— Que isso Tigresa? Tem que comer.
— Eu vou tomar um banho e depois tomamos um
vinho na cama, pode ser? — eu não queria mesmo jantar ou
falar sobre mais nada. Eu não estava feliz.
— Pode. Vou abrir o vinho.
Já havia uma semana que eu mandara a última
mensagem para o Solteiro Solitário e não queria perder o
contato, a oportunidade e encrencar a Rita já que foi ela
quem me mandou o convite. Abri o chuveiro permanecendo
sentada no lavabo já nua. Olhei para a porta ciente de que
Máximus me aguardava do outro lado e uma mensagem de
minha mãe surgiu expondo que os dias para o pagamento
estavam acabando. Ela sabia me pressionar. Em seguida
visualizei uma nova mensagem do Solteiro, a hora havia
chegado, eu tinha que tomar uma decisão e foi o que fiz.
— Me diz onde podemos nos encontrar Papaizinho. —
foi a primeira frase da minha mensagem.
— Baltimore Street, 4305. Procure por Watson.
— Quando?
— Que tal amanhã às 10?
— Perfeito. Estarei lá.
— Estou ansioso.
— Eu também. — como brinde mandei uma self
atrevida e ele respondeu com um gif de um lobo salivando.
Entrei debaixo do chuveiro ainda questionando se eu
estaria mentindo ou não para Máximus. Mas estávamos
dentro do prazo para endireitar nossas vidas, no meu caso
meu passado. Pelo menos era nisso que eu queria acreditar.
— Quer ver um filme? — ele me aguardava com uma
taça de vinho deitado de lado sobre a minha cama ainda de
calça com o cinto desafivelado.
— Pode ser. — apanhando a taça virando-a de uma
vez ainda enrolada na toalha.
Ele colocou num filme qualquer porque a última coisa
que me interessava ali era o enredo daquela história.
— Tomou a taça de uma vez só.
— Estou cansada Máximus. — jogando a toalha longe
usei meu corpo deitando ao lado dele.
— Eu não quero ser grosseiro, mas sou sincero
Eudora. — afastando-se um pouco se assentando na cama.
— O que foi?
— Você anda esquisita. Andou usando cocaína ou
alguma dessas porcarias de novo?
— De onde tirou essa loucura Máximus. — eu não
havia procurado mais nenhum tipo de entorpecente ou
opióides porque Máximus arrancou de mim todo aquele
vazio que me empurrava para essas porcarias.
— Tigresa... Se rolar eu até entendo, mas temos que
buscar ajuda. Só não quero que você...
— Minta. Eu sei disso. Mas eu estou olhando para
você... — sentando com as pernas abertas sobre ele — Eu
não estou usando nada.
— Você está estranha. Olha se quiser poderíamos
procurar um psicólogo para você e...
— Eu não sou louca Máximus.
— Mas fazer terapia não tem nada haver com
loucura. Eu fiz anos e me ajudou muito.
— Grandão, escuta... É essa nova vida... — beijando-
o de leve — Eu não vou mentir, não estou feliz Máximus.
— Eudora...
— Mas fico contente em ver que isso te deixa alegre
e orgulhoso de mim. Isso é formidável para mim, saber que
pela primeira vez depois de Guida e da minha filha, eu
posso realizar coisas que deixa uma pessoa tão importante
para mim feliz.
— Eu não quero te pressionar. Eu fico um pouco mal
com isso.
— Não fica. — apossando-me mais ainda do meu
grandalhão — Eu me sinto gente sabendo que te deixo
orgulhoso de mim. Depois de tudo que eu passei na minha
vida eu não achei que algum dia poderia oferecer isso a
alguém. Aquilo tudo é péssimo, é chato, é horrível! — rimos
— Mas eu faço com gosto porque sei que é importante para
você e para nós.
— Eu estou orgulhoso de você. Vale muito esse
esforço que está fazendo por mim e por nós. Significa muito
Eudora.
— Meu grandão. — quase arrancando sua boca do
lugar — Quer foder sua Tigresa quer?
— Achei que não fosse perguntar nunca.
— Notei que não está usando camisinha.
— Se eu estou com a minha mulher e ela comigo por
que camisinha? — já chupando meus seios todo faminto.
— Acho que é hábito. — de fato o preservativo fazia
parte da minha vida como o batom ou meus saltos altos,
não poderia viver sem eles.
— Vem, que eu quero num lugar.
— Que lugar? Já me comeu pelo apartamento inteiro
Máximus.
— Quero algo fora daqui.
— É perigoso? — aquilo me excitou.
— Podemos ser presos. — a mesma excitação estava
nos olhos dele.
— Qual crime?
— Atentado ao pudor.
— Só se for agora! — gritei segurando ainda mais
forte pelo pescoço.
Puxando-me pela mão entramos no elevador sem
travá-lo entre os andares. Sua boca devorava a pele de
minhas coxas rasgando-a com seus dentes.
— Melhor travar o elevador Grandão.
Erguendo-se pelo meu corpo elevou sobre a minha
cabeça minhas mãos prendendo-as com a sua enquanto
com a outra segurou forte meu Máxilar introduzindo o seu
dedo longo e grosso em meus lábios.
— Chupa. Isso... Chupa todinho. Lambuza bastante
porque é assim que o seu papai gosta potranca.
Fiz vaivém sem tirar os olhos dos deles. De repente
ele tirou o dedo de meus lábios descendo com ele entre os
meus seios até chegar ao meu gominho de prazer.
— Toc-Toc!
— Quem bate? — respondi alcançando sua intenção.
— O papaizinho chegou e quer a sua garotinha
malvada.
— Aperta de novo a campainha papai.
O cretino meteu os dois dedos com jeito apertando
de leve meu clitóris fazendo meus olhos revirarem.
— Posso entrar garotinha malvada do papai? — seus
olhos pareciam chamas de fogo pronto para me incendiar.
— A casa é sua.
Sentir aqueles dois dedos massageando meu
grelinho enquanto sua boca sugava como um vampiro meu
pescoço obrigava-me retorcer toda, mas era impedida,
quanto mais eu debatia mais forte era a pegada dele que
me prendia com as mãos para cima, pernas arreganhadas
com aqueles dedos astutos fazendo muita putaria em meu
corpo.
— Máximus... Você me enlouquece!
— O papai quer mais sabia? — esfregando mais e
mais os dedos que eu podia sentir melados e do meu corpo
fazer gotas de prazer caírem.
— Fala papaizinho safado, o que você quer?
— A Eudora vai dar o que eu pedir?
— Vai. Vai dar tudo seu tesudo. Cretino!
Virou-me de supetão num golpe onde agora eu fiquei
de costas para ele. Roçava aquele pau gigante na minha
bunda. Batia com ele na minha bunda sem meter me
fazendo gemer mais e mais quase implorando por ele.
Depois desceu empinando meu rabo metendo sua cara
sacana nele passando a língua do meu ânus até a entrada
da minha vagina. Eu era um vulcão! Ele não brincava em
dar prazer. Tinha pegada. Sabia onde e como mexer cada
detalhe de mim.
— Aiiiiiiiiiiiii! — gritei forte quando ele deu aquela
sugada na minha boceta tornando a ficar roçando-se em
mim.
— Mete logo amor!
— Não estou com pressa. O papai só faz o que quer e
quando quer.
Meu corpo todo latejava de tesão e arrepios
incontroláveis. Nunca desejei tanto uma pica como a dele.
— Vai me fazer implorar é?
— Implora! — afastando-se de mim encostou-se a
outra parede do elevador com aquele pênis imenso rijo
esfregando a cabeça para mim ainda sem travar os
elevadores.
Como uma gatinha desci escorregando minhas
costas pela parede que me encontrava com meu dedo do
meio na boca vendo-o salivar arreganhando bastante
minhas pernas ficando de cócoras.
— Eu quero sua rola papai. Todinha!
— Quer? Não sei se quero dar. — veio segurando
meu rosto batendo nele com aquela pica me deixando ainda
mais sedenta.
— Isso! Bate! Bate que eu gosto!
— Quer levar uma surra de pica é?
— Só se for do papai!
— Empina esse rabo! — então fui jogada contra a
parede sentindo aquele vinte e dois centímetros de pura
sacanagem preenchendo cada micro parte da minha vagina.
— Ai papai!
— Não quer levar uma surra de rola? Então toma!
Suas estocadas violentas faziam meu corpo quicar e
sem apoio eu ficava mais vulnerável a ele que segurou
meus braços para trás castigando-me sem pudor. De
repente a porta se abriu no térreo. Ninguém entrou nos
entreolhamos em corações acelerados e com o pé esquerdo
apertou para a cobertura.
— Se me pegarem fodendo com você posso perder
minha licença como advogado sabia?
— Essa bocetinha que você tanto esfola vale tanto
assim papai?
— Vou te mostrar o quanto ela vale!
Abriu meus braços forçando com seu peso meu corpo
todo na parede e me fez mulher no mais essencial que a
palavra pode ter. Gozei a cada segundo, era uma explosão
de sensações.
— Eu vou gritar!
— Grita! Mas grita aquilo que o papaizinho quer
escutar! Grita! — metendo quase as bolas na minha vagina
que ia se arregaçando mais e mais — Quem você é? Hã?
— A garotinha malvada!
— A garotinha malvadinha de quem? Fala! —
sentindo-me grudar na parede com o suor do meu corpo.
— Do papai! Eu sou a garotinha má do papai!
Decidi dar mais brinde para ele rebolando cada vez
mais naquele pau olhando para ele.
— Rebola! Rebola mais!
— Gosta assim não é papaizinho?
— Porra! Rebola nessa porra toda!
— Olha só como a menininha má come o brinquedão
do papai todo!
— Gulosa! Porra Eudora!
Agora chegara a sua vez. Virou-me para ele abaixei-
me rápido a qualquer minuto soube que ele explodiria e eu
queria que fosse na minha face.
— Goza no rostinho da sua garotinha, papai, goza!
— Toma! Abra a boca para mamar! Papai vai te
alimentar! — então jorrou — Caralho Eudora! Porra! Eu te
amo! Eu te amo demais!
Saímos do elevador ainda mais apaixonados.Nos
braços de Máximus nada parecia prioridade além de amá-lo
sem tempo para terminar. Mas no fundo eu sabia que ainda
não poderia ser cem por cento do que me comprometi com
ele.
p
Capítulo 15
Sugar Daddy
Eudora
Naquela manhã apertei o nó de sua gravata
deixando-o impecável. Ajudei-o colocar o terno e o beijei
com todo meu tesão dando um tchauzinho safado vendo-o
desaparecer no mesmo elevador que batizamos naquela
madrugada. Minha alegação foi de que uma cólica tinha
vindo com tudo me deixando indisposta para trabalhar. Usei
o meu primeiro sick Day. Claro que fiz isso com o aval de
Máximus que ligou para o meu superior avisando que eu
não iria naquele dia. Eu gostava do modo como ele cuidava
de mim, sem dúvidas algo muito genuíno. Entretanto o
senhor Spartacus não brincava em serviço. Na minha cola
ele largou dois grandalhões que me seguiam para baixo e
para cima pensando com toda convicção de que eu não
havia notado.
Ligeira, preparei-me para o encontro com o Solteiro
Solitário. Naquele frenesi de qual vestido, sandália e
maquiagem usar, eu voltava aos velhos hábitos, mas pude
experimentar algo novo, de alguma maneira eu não era
mais a Eudora Poderosa Tyr. Sempre intitulei minha vida
como prostituta de minha segunda pele, porém naquela
ocasião pela primeira vez eu não me senti bem usando
aquela pele.
Confesso que cheguei a pensar em desistir
apanhando o celular para mandar uma mensagem para o
Solteiro Solitário cancelando tudo, entretanto por outro lado
eu pensava na fazenda, na impiedade da minha mãe que
não hesitaria por um segundo vender aquelas terras pelo
prazer de me atormentar ainda mais e por isso larguei o
celular em cima da cama terminando de me vestir.
Usei um vestido tomara que caia preto com detalhes
dourados no bustiê sobre os seios, ele era comprido, mas
tinha lascados provocantes até altura das coxas o que
deixava minhas pernas e costas ainda mais sensuais
embora fosse à peça mais recatada que possuía e daí o meu
espanto por decidir usá-lo no meu primeiro encontro. Em
outros tempos eu jamais usaria aquilo, a não ser que fosse
para um enterro, um enterro de um cliente é claro.
Sandálias altas e douradas combinando com o detalhe nos
seios, bolsa de mão preta e um pormenor clássico, um
chapéu e óculos escuros ambos de primeira classe. Eu
sempre fui puta, mas nunca abri mão de ter bom gosto para
me vestir.
O senhor Morrice, meu vizinho de porta, era doido
para me pegar, mas com setenta e nove anos era
complicado dar alguma moral para ele. Uma vez fiz a
caridade de tomar um vinho com ele em seu apartamento
só para atazanar mesmo. Queria ver do que ele era capaz, e
tudo que consegui foi me contar como um dia o seu pinto
de cinco centímetros e seu saco murcho foram
dilaceradores de bocetas na época dos dinossauros.
Naquela noite o que valeu mesmo a pena foi o vinho de
excelente qualidade que ele me serviu e a troca de favores
que ganhei a partir dali. Não existia nada que eu pedisse ao
senhor Morrice com o decote e riso certo que ele me
negasse. Naquela manhã o meu pedido foi o seu suntuoso
automóvel de luxo de vidro muito escuros emprestado. Foi
assim que consegui quebrar o esquema dos seguranças de
Máximus.
Ao chegar ao endereço constatei que era um prédio
de flats requintados. Eu já havia estado lá atendendo alguns
clientes. Apresentei-me na recepção como Tara Larousse, o
nome que adotei no site como Sugar Baby e uma chave
aguardava por mim desde que eu respondesse uma
pergunta:
— Quem é o seu Sugar Daddy?
— Solteiro Solitário. — o concierge sorriu entregando
de vez a chave com o número do flat desejando-me uma
excelente estadia.
Um frio na barriga consumiu-me enquanto
caminhava até o elevador. Acho que o sentimento por
Máximus começava a me angustiar. A cobrar seu preço
dentro de mim. Para minha sorte isso passou quando notei
um belo espécime masculino aguardando o elevador ao
meu lado devorando-me ao observar minhas curvas e de
sacanagem fiz ceninha:
— Ai meu Deus, odeio quando a minha calcinha entra
assim. — ele salivou — Ah! Eu esqueci, estou sem calcinha.
A porta do elevador se abriu e ele como um gentil
cavalheiro permitiu que eu entrasse primeiro.
— Você não mora aqui.
— Por que acha isso senhor?
— Eu jamais me esqueceria de uma mulher como
você.
Em outros tempos eu puxaria meu cartão de
apresentação e entregaria a ele com meu número de
contato, mas tudo que fiz foi ser simpática até que o meu
andar chegasse.
— Tenha um bom dia senhor.
— Ele está sendo maravilhoso senhorita. Posso lhe
dar meu cartão?
Segurei a porta do elevador volvendo para dentro
falando melosa em seu ouvido:
— Sinto muito. Eu tenho dono. Tchauzinho! —
piscando ajeitei minha bolsa debaixo do braço saindo com
classe.
Diante da porta do apartamento 1608 eu parei
ofegante. Não sei explicar a razão que me deixava nervosa.
Hoje compreendo que era o meu instinto implorando para
que eu jamais tivesse apertado àquela campainha. Aos
poucos a porta se abriu mostrando a figura de um homem
distinto, de sorriso tímido e olhar bondoso o que não era
muito comum para mim.
— Senhor Watson?
— Tara Larousse.
Abrindo de vez a porta ele pediu minha mão
beijando-a com extrema delicadeza. Aquilo me impacientou,
ele era muito cordial.
— Entre. Temos muito que conversar.
— Obrigada.
Passei por ele já com meus velhos instintos
aguçados, intuições que garotas de programa aprendem a
aprimorar com o tempo na profissão. Você precisa observar
a estrutura do lugar. Se é algo refinado, promíscuo ou sujo.
Precisa perceber se há mais de uma pessoa no local além
do combinado, e se houver quem são. Precisa correr os
olhos para descobrir uma saída de emergência caso
necessite de uma e tudo isso tem que ser na fração de
segundos enquanto você entra no ambiente dá alguns
passos e se vira para trás olhando para o cliente. Ali você
precisa ter todas as suas respostas e as suas perguntas
para serem feitas, em outras palavras você tem que ser
muito astuta.
— Sozinho pelo visto?
— Sim Tara. — ele sorriu ainda trancando a porta.
— Gosto desse flat. Ainda é do tipo que tem escadas
de emergência por fora.
— Na verdade eu mandei construí-lo desde a planta,
mas numa ideia retrô. Eu sou clássico.
— Então você é o dono do prédio.
— Sente-se. Fique a vontade, por favor. Bebe alguma
coisa?
— Não. Estou bem.
Uma puta até bebe, mas depois de ver a garrafa que
o cara abriu e vê-lo dar o primeiro gole. Você nunca sabe se
está sendo presa num golpe do tipo “Boa noite Cinderela”.
Todas agem assim? Não sei. Mas é o código se quiser ser
uma profissional.
— Se importa que eu beba?
— De modo algum Watson.
Cruzei as pernas observando abrir a garrafa de
champanhe e servir-se numa taça. Ele sentou-se ao meu
lado como quem me admirasse. Devolvi com um olhar
arrogante, não se pode bancar a intimidada nessas horas.
— Não acredito que enfim estamos nos conhecendo.
— Ora por quê? Eu disse que viria.
— Ah... — bebendo um pouco mais da bebida
repousando a taça na mesa de centro — Um homem na
minha idade com o tempo perde algumas esperanças.
— Imagine Watson. Olhe para você? Acho que só está
tentando ser charmoso comigo.
— Você é apaixonante Tara. — enfim se atreveu a
tocar meu rosto. Ele semelhava ter medo de me ferir.
— Muito obrigada.
— Você deve estar me achando um velho idiota. Mas
eu não sei como lidar com tudo isso — agitando as mãos no
ar — Esse lance de Sugar Daddy e Sugar Baby é muito novo
para mim.
— Estamos perdendo a virgindade juntos. — minha
voz o excitou. Vi isso nos olhos dele.
— Verdade — agora recostando de vez no sofá
cruzando sua perna — Há muito tempo não me sinto tão
bem com alguém.
— Quer me contar sua história Watson?
— Alguém que usa o pseudônimo de Solteiro Solitário
ainda precisa contar algo sobre sua vida? — acenei com um
dedo que não. — Como quer jogar minha Sugar Baby?
— Diga-me o que você quer e eu digo se topo fazer.
— Gosto disso. Você é direta.
— Eu não brinco com negócios.
Ele cruzou as mãos como quem pensasse por um
tempo, depois ergueu o dedo indicador no ar.
— Eu não quero um relacionamento. Eu quero
alguém com quem eu possa me preocupar. Mimar. Ter
importância para essa pessoa.
— Então você quer uma relação.
— Mas não quero sexo Tara. Eu quero me sentir útil
na vida de alguém.
— Duvido que alguém com a sua classe e educação
não seja útil na vida de alguma pessoa.
— Eu sou mais um bilionário que fez fortuna nessa
terra. Criei meus filhos. Casei algumas vezes, mas o
dinheiro também tem seu preço. Ele te impede de conhecer
algumas coisas. Um amor verdadeiro por exemplo.
— Concordo.
—Tirando meus filhos agora criados, eu olho para
minha vida e não sei se quem amei amou-me de verdade ou
apenas as cifras que carrego nos ombros.
— Então você é um papaizinho investidor.
— Se for para ser o seu papaizinho eu posso ser o
que quiser. Fale-me de você. Como uma mulher tão linda
pode não ter alguém que a ama?
— Digamos que eu não fui acostumada a colocar o
amor em primeiro lugar.
— Então se não estivéssemos aqui...
— Com toda certeza do mundo eu seria mais uma
que atravessaria seu caminho pelo seu dinheiro. Mas eu
conheci alguém.
— Ele sabe que está aqui?
— O que você acha Watson?
— Que pergunta imbecil a minha. Desculpe-me.
— Ele é a pessoa mais importante que tenho na
minha vida nesse momento. Mas eu tenho questões
inacabadas e eu preciso de um papai investidor para
resolver a causa.
— Diga quanto é e eu pago.
— Mas nós nem conversamos sobre tudo.
— Eu só quero mimar a minha garotinha.
— Mas se é para fazer caridade tem milhões de
pessoas no mundo precisando e muito.
— Eu já faço isso. Serei mais direto. — voltando seu
corpo todo para mim — Se tudo que eu tenho é dinheiro e
com ele posso comprar uma mulher para fingir para mim
mesmo que sou importante para ela é isso que estou
disposto a fazer.
— Watson... Sem sexo? Jura?
— Sem sexo, sem relacionamento. Eu só quero existir
para você para bancar todas as suas vontades. — eu só
pensava se eu tinha ganhado na loteria umas cem vezes ou
morrido e por milagre ter ido parar no céu — Eu quero
existir na sua vida Tara. De quanto precisa?
— Não vai nem me perguntar para que?
— Isso não me importa. Eu só almejo que um sorriso
alucinante nasça nesse seu rosto impecável e eu saiba que
fui o provedor dele.
Aos poucos fui me achegando a ele. Passei a mão
pela sua pele cansada pelo tempo. A carência nele pulsava
por todos os poros de seu corpo. Fiquei me questionando o
que faz uma pessoa chegar aquele fundo de poço. A miséria
faz qualquer pessoa pensar na falta de dinheiro ou ver nele
a solução para ela, mas ao conhecer Watson eu posso
contar que conheci a pessoa mais pobre do mundo.
— Na verdade o lance que eu pedi é o suficiente.
Então eu já tenho o que preciso Watson.
— Faça daquela quantia um presente meu. —
levantou-se retirando de sua camisa social de corte italiano
uma caneta e a carteira — Compre algo. Um apartamento,
um carro ou uma joia quem sabe. Voltou entregando-me um
cartão em branco e a caneta. — Anote para mim sua conta
bancária. Ainda hoje a transferência será feita.
Eu cheguei a pensar que aquilo era sonho ou algum
tipo de brincadeira. Em menos de uma hora eu tinha
ganhado uma fortuna que jamais acumulei em todos os
meus anos de profissão.
— Quais os dias em que você vai estar disponível
para mim Tara?
— Eu trabalho — entregando os números da conta —
Até às cinco da tarde.
— E tem essa pessoa que falou. Fica muito com ele?
— Ele é muito possessivo.
— Entendo. — guardando o cartão na carteira — No
lugar dele eu também seria. Que tal uma viagem?
— Para onde?
— O mundo é seu. Para onde quiser ir eu irei.
Refletindo sobre o assunto eu poderia encontrar uma
amiga que tivesse uma avó ou mãe muito mal e que
implorasse pela minha companhia. Seria uma justificativa
plausível para Máximus, eu usaria Rita que não hesitaria em
jurar de pés juntos para ele se eu solicitasse para
comprovar a minha ida com ela para a tal viagem. Então o
maior problema estaria resolvido. Mas existia um enigma
que me afligiu no segundo seguinte. Eu estaria mentindo
para Máximus.
— Watson, nesse momento uma viagem não é
possível. Mas podemos nos ver todos os dias se você quiser.
Eu dou um jeito.
— Fique tranquila Tara. Eu não quero todo o seu
tempo ou a sua exclusividade. Isso não é relacionamento
lembra? É um acordo. — sorri aliviada por dentro —
Façamos assim... Diga-me quando estiver livre e nos
encontramos aqui.
— Você poderá vir?
— Eu sou o seu Sugar Daddy. — sorriu — Eu largo
tudo para vir cuidar de você. — não sei explicar a razão,
mas mesmo sendo tão experimentada aquilo mexeu com
algo dentro de mim — Então agora bebe comigo?
— Aceito.
Watson não falava quase nada da família. Naquela
altura tudo que me contou era que tinha um casal de filhos,
que os amava muito. Ele se resumiu a isso. A forma
misteriosa como ele protegia os entes queridos exalava
como charme e proteção ao mesmo tempo. Como se os
filhos fossem duas criancinhas de colo tão dependentes
dele. Por outro lado ele também mantinha a mesma linha.
Ele não se interessava em querer soltar perguntinhas ou
indiretas sobre quem eu era, sobre o meu passado ou meu
presente. De fato encontrava-se de corpo e alma naquela
sala e tudo que importava era tornar aquele encontro no
mais agradável possível para minha pessoa. Sua voz doce,
seu jeito pacato fez com que quatro horas de conversa
voassem como se fossem quatro minutos e não minto eu
passaria o dia inteiro ouvindo e mais, sabendo que ele
gostava de me ouvir.
— Tem algo que você queira fazer agora Tara?
— Podemos dançar? — sugeri.
— Eu adoraria mademoiselle.
Para minha surpresa ele sincronizou no aparelho de
som uma das minhas canções preferidas e que agora
passaria ser o nosso hino.
Qual é o seu nome?
Quem é o seu papai?
Ele é tão rico como eu?
A melodia é sexy, exala sensualidade. Gostei do
modo como ele me tocou pela cintura. Pediu licença.
Grudou seu rosto ao meu com charme e vontade. Sem
dúvidas um homem que sabia dançar a dois. No embalo da
música Watson me dava garantias de que ele sempre seria
aquele cavalheiro e revolvia meu cérebro tentando
compreender a razão de um ser humano decidir viver
assim.
— Não é qualquer moça que sabe dançar assim hoje
em dia Tara. Confesso que estou surpreso com você.
— Meu pai me ensinou a dançar assim.
— Seu pai me parece um homem a moda antiga.
— Ele foi um grande pé de valsa.
De repente nossos olhares se encontraram numa
troca de pernas e lados.
— Parece que eu desperto algum receio em você.
— Talvez Watson.
— Será que ainda é necessário que eu diga algo para
que você se entregue e seja a garotinha do papai?
— Eis uma coisa que em tempo algum fui. A
garotinha do papai.
— Aproveite Tara. Essa pode ser sua grande e única
oportunidade.
Volvendo a nos concentrarmos na melodia. Agora ele
me girou sem que eu esperasse arrancando um riso meu.
Meu chapéu caiu no chão deixando meus cabelos caindo
pela minha face.
— Sem chapéu eu consigo entender a cada segundo
como o seu namorado é um homem sortudo.
— Mas ele não é meu papaizinho.
— Quem é o Sugar Daddy? — rodopiando mais um
pouco me fazendo regressar para seus braços.
— Você. — falei baixinho — Você é o meu papaizinho.
— Resposta perfeita. — devolvendo no mesmo tom.
Ao findar da dança eu me vi um pouco perdida. A
maior parte da minha vida eu entendi que um programa
terminava depois da foda, mas nesse novo lance, quando é
que a coisa se concluía?
— Vejo que você precisa ir.
— Não mentirei. Eu preciso mesmo. Você se importa?
— Comigo você pode tudo Tara. Não esqueça: é você
quem dá as cartas... Sempre. — afastando-se de mim com
elegância apanhando meu chapéu no chão entregou-me —
Foi um grande prazer. Eu não poderia ter feito uma escolha
melhor.
— Obrigada pela companhia Watson.
Ele abriu a porta, despedimos com seu beijo sobre a
pele da minha mão e desapareci de seus olhos quando as
portas do elevador se fecharam levando-me até a recepção
outra vez de onde conferi meu saldo e ao ver a primeira
quantia do lance do site em minha conta tratei de logo
entrar em contato com Freya. A fazenda seria minha.
— Com quantos homens andou para conseguir
levantar esse dinheiro Eudora? A fila deve ter dado voltas
no planeta Terra. — olhando o cheque que a dei em sua
mão.
— Isso não é problema seu Freya. O que importa é
que eu tenho a quantia que me pediu. Quando assinamos a
papelada?
— Se te conheço bem você deve ter achado um
desses coroas cheio da grana para te bancar e o besta deve
ter lhe dado esse dinheiro como préstimos pelos seus
honrosos serviços.
— Por que fingir se importar com aquilo que você não
dá importância Freya? — ainda parada de pé na sua frente
na sala principal da nossa antiga casa.
— Deus sabe o que faz. Se o seu pai estivesse com
suas faculdades mentais em ordem ou sua irmã viva como
eles sofreriam. Sem contar na sua filha...
— Não começa. Não começa Freya.
— Acho que Deus gosta de você menina, no fim se
pensarmos Ele te fez um grande favor. Só eu tive que viver
com esse desgosto que é você.
— Qual é a sua?
— Você não tem vergonha na cara de vir até aqui
com esse dinheiro sujo para comprar a fazenda? Oferecer
esse cheque imundo com esse dinheiro pecaminoso a sua
mãe?
— Mãe? Desde quando você se sentiu minha mãe,
Freya? Você nunca gostou de mim porque nasci menina.
Que tipo de mãe não gosta de um filho por que não nasceu
com o sexo que ela queria? E além do mais passou a me
odiar depois da morte de Guida.
— Isso não muda a natureza das coisas. Quem te
gerou fui eu e isso jamais mudará. — sentando-se no sofá —
Eu detesto ter que admitir isso, mas no fundo nós somos
muito parecidas.
— Não mesmo. — protestei — Eu jamais teria sido
para minha filha a mãe que você foi para mim!
— Acredita mesmo nisso Eudora? Nunca passou pela
sua cabeça por qual razão eu te fiz dar a criança?
— Porque você é má! Porque queria me punir tirando
a minha filha de mim como acha que eu tirei Guida de você.
— Não. A razão é que você é tão vil e cruel quanto
eu. Desde pequena foi. Vai mentir Eudora? Você tem prazer
em provocar a discórdia entre as pessoas. Não se importa
com elas. É egoísta. Mesquinha. Gosta de ser o centro das
atenções porque assim acredita que tudo está no seu
controle. Você é igual a mim. Igual à mulher que você tanto
despreza.
— Em tempo algum eu te desprezei. Não ouse fazer
esse tipo de joguinho comigo.
— Quem é o ricaço? Eu conheço? Espero que não
seja do meu ciclo social.
— Por quê? Tem medo da concorrência? Está falando
tanto num ricaço! Porque pensando melhor foi o que você
fez. Abocanhando o meu pai e todo dinheiro da família dele!
— Você acha que me afeta com isso Eudora? —
sorrindo no puro cinismo — Não mesmo. Mas voltando o
assunto sobre as nossas semelhanças nessa família só há
lugar para uma mulher com as nossas características. Eu
não pretendia sair da minha posição.
— Está tentando me falar que se sentia ameaçada
por mim?
— Eu não subestimo ninguém Eudora e seria tola se
subestimasse você. Você é perigosa, ardilosa, é uma
semente do mal. — embora eu tentasse no fundo tinha
consciência de que ela tinha certa razão. Eu me via como
ela descrevia.
— Quando é que posso mandar o meu advogado
procurar o seu?
— Amanhã. Estou ligando para ele assim que você
sair por aquela porta. — apontando a saída para mim.
— Passar bem Freya.
Seu olhar fazia com que me sentisse desprezível.
Freya tinha o poder de sugar minha energia vital só de estar
na presença dela, mas agora eu pelo menos estava em paz.
A fazenda era só minha e minhas lembranças com Guida e
papai estavam salvas de suas garras.
q
Capítulo 16
Homens
M á ximus
Eu tinha que passar em casa para ver Antonela. Falei
com ela algumas vezes durante a viagem, mas seus ciúmes
e de gênio inconfundível a fez não atender as minhas
últimas ligações. Não era nada fácil ser pai de uma
garotinha prodígio quanto ela. Levei flores, a sua preferida
era Ranúnculo. Passei na floricultura e a atendente sorriu
dizendo que minha namorada era uma mulher de sorte.
Confesso que eu tinha um pouco de receio em irritar
Antonela, mesmo sendo o seu pai. Eu tinha um medo bobo
de que ela não me perdoasse e me sentia mal de saber que
eu poderia tê-la chateado.
— Olá família! — Eunice dava ordens a outros criados
da casa e os deixou vindo até mim. Pelo seu semblante eu
compreendi que a coisa estava feia para o meu lado.
— Máximus. — erguendo as sobrancelhas
mordiscando os lábios.
— Onde é que ela está Eunice?
— Na biblioteca. Na área restrita.
— Obrigado.
Segui para biblioteca com aquele ramalhete de flores
pesado feito chumbo de tão grande. Antonela sabia que se
queria me tirar do sério tudo que precisava fazer era
desobedecer a uma ordem minha, no caso a área restrita na
biblioteca onde ficavam os livros de conteúdos adultos e
outros assuntos que eu não queria que ela tivesse acesso
até que atingisse a idade para tal coisa. A porta aberta era a
tradução de que ela desejava me irritar, porque todo mundo
em nossa família compreendia que quando ela lia a porta
permanecia trancada e bater ali já era um campo de guerra
armado com ela.
Entrando fui andando olhando para o lado onde as
estantes com os livros proibidos ficavam e escutei o barulho
da cadeira de couro se mexendo. No mínimo a encontraria
de pé no móvel tentando buscar os livros ainda mais
proibidos. Deixei o arranjo numa pequena mesa de vidro e
com as mãos nos bolso encostei meu rosto no batente da
imensa estante.
— Quer fazer o favor de descer daí senhorita
Spartacus.
— Por que eu deveria? — ainda tentando pegar um
dos livros.
— Porque eu sou o seu pai e estou mandando você
descer daí.
— Pai? Sei.
— Sabe que essa área da biblioteca está proibida
para você. Desce Antonela!
— Não estou inclinada a aquiescer o seu pedido
senhor Spartacus. — comigo pensei que só podia estar
louco. Duas mulheres com personalidades tão intensas na
vida de um homem só pode ser caso de insanidade.
— Não vou falar de novo.
Ela manteve-se ignorando minha ordem, apanhei-a
mesmo com a mão um pouco dolorida atravessando nas
minhas costas.
— Você virou um homem das cavernas é?
— É isso que acontece quando não me obedece.
— Me coloca no chão! — aos berros.
— Se não falar direito comigo posso passar o dia
inteiro com você aí. — já chegando perto do arranjo de
flores.
— Papai me coloca no chão por gentileza.
— E o que mais?
— Desculpe por falar assim com você.
— Ainda está faltando alguma coisa Antonela.
— E desculpe por entrar na área proibida.
— Isso está bom para mim. — pondo-a de novo no
chão — Agora podemos conversar com civilidade?
Cruzando os braços empinou aquele narizinho lindo
olhando para o outro lado, cheia de razão.
— Filha, eu sei que você está chateada. Eu sei que
você não gosta quando eu viajo e fico fora. Mas eu liguei
para você. O papai falou que ia demorar um pouco não foi?
— Homens! — resmungou. Segurei para não rir dela
sacudindo a perna num tique nervoso.
— Eu trouxe Ranúnculos. — mostrando o ramalhete.
— Eu vi. Mas hoje eu não estou para suborno.
Abaixando-me até a sua altura com jeito fui
amansando minha pequena onça até achar o seu olhar.
— Desculpe se isso te magoa. Sabe que eu te amo e
eu não gosto quando brigamos.
— Você saiu com uma das suas namoradinhas?
— Antonela, papai já falou que não quer que você
fale nisso. É um assunto meu.
— Eu não quero saber de você se esfregando por aí
com essas mulheres ridículas que você arruma papai. Você
acha que o fato de eu não questionar fará com que não
raciocine onde você possa estar? Homens! — bufou.
— Ok. Eu fui a uma festa e conheci uma moça... —
antes que ela completasse a frase ergui o dedo — Uma
moça diferente de todas que eu já contei para você.
— Duvido! Você só me traz carne de quinta. Tudo
tranqueira.
— Antonela! — usei um timbre mais firme me
acabando de rir por dentro.
— Desculpe.
— Filha, confia em mim. — bravinha ela ficava ainda
mais iluminada — Se quer que eu consiga alguém legal
como prometi para você o papai precisa sair. Conhecer
moças.
— Não gosto de ficar longe de você papai. — vi seu
lado meigo motivar seus olhos a encherem de lágrimas.
— Desculpa o papai. — trazendo-a para os meus
braços beijando seus cabelos — Papai também não gosta de
ficar longe de você. Eu sinto muito que isso tenha te
entristecido de verdade, de coração filha.
— Vai sair mais com ela? — encarando-me.
— Vou.
— Dormir fora também, suponho.
— Pode ser que aconteça.
— Eu sei, os adultos precisam acasalar.
— Antonela!
— Momento do silêncio constrangedor. — sussurrou
retorcendo os olhos.
— Gostou das flores?
— São lindas. Obrigada.
— Pensei em trazer chocolates, mas lembrei de que
você está de dieta.
— Claro eu sou uma menina e não uma bola. Estou
satisfeita com as flores.
— Estamos bem?
— Estamos papai.
— Ótimo. Mas vamos deixar outra coisa esclarecida
aqui, nada justifica que você entre na área proibida da
biblioteca. Se ousar fazer isso de novo eu deixarei você sem
ler por um ano e sabe que quando me irrito eu não volto
atrás nas minhas decisões.
— Não! Não papai, não! Eu prometo! — cruzando os
dois dedinhos no centro de seus lábios — Eu prometo que
nunca mais entro lá de novo.
— Perfeito. Temos um acordo? — estiquei o dedinho
mindinho e ela o apertou com o seu sacudindo a cabeça —
Agora vamos dar um passeio? Aonde você quer ir?
— O melhor lugar no mundo para mim é o seu colo
papai. — Nessas horas aquela menina me desmontava e eu
entendia que a minha vida só tinha sentido por e para ela.
Abraçou-me com toda força que seu franzino corpo podia
dá-la, depois me deu um beijo demorado no rosto.
Sentamos no chão e escutei todas as suas histórias com
todo o meu amor explodindo de emoção no meu peito.
q
Capítulo 17
Rachadura
M á ximus
Mesmo com as mãos delicadas de Austin
examinando os pontos de minha mão, eu me afogava na
sensação de que algo estava errado com Eudora. Eu me
orgulhava do avanço que ela fazia a cada dia, vezes por
outra até me surpreendia. Compreendia com tranquilidade
que toda aquela transição não só comportamental, mas de
vida era muito intensa e sendo mais empático até violento
para alguém com uma vida tão transtornada quanto à dela.
No entanto, eu tinha que ser assim se quisesse mostrá-la
um novo rumo para sua vida e tentar construir a nossa
história. Não nego que em minha mente muitos
pensamentos conturbados surgiam durante todo o dia e até
enquanto dormia em versões pesadelos. Imaginava que ela
poderia cair na tentação e continuar fazendo programas
escondidos de mim, que poderia me sacanear com outros
homens. Não é fácil manter uma mulher como Eudora na
linha. Ser general com ela às vezes era a única alternativa
que eu tinha, quando tudo que eu queria era enchê-la de
beijos e muita compreensão. Mas só de pensar que aquele
mulherão da porra flertava com outro cara eu já me roia por
dentro ao ponto de enfartar. Nem sei do que seria capaz se
eu imaginasse vê-la com outro vagabundo, nessas horas eu
tinha medo de mim. Eu não me reconhecia.
— Prontinho mano. Parece estar tudo ok.
— Já acabou? — enfim percebendo a retirada dos
pontos.
— Vi que estava com a cabeça em outro lugar, mas
não pensei que fosse tão distante. Olha não exagera. Tirei
os pontos, mas ainda tem as fisioterapias pela frente.
Antonela já sabe das fisioterapias.
— Estou ferrado.
— Ela está ficando cada vez mais lindinha e
inteligente. Outro dia queria me convencer de que eu não
sabia falar sobre células tronco. Tive que frear ela falando:
Quem é a médica aqui?
— Adultinha é fogo. Às vezes me preocupo com o
futuro dela Austin.
— Oras por quê? Toni terá um futuro estelar.
— As pessoas não compreendem uma pessoa com a
mente como a dela.
— "O pior que pode acontecer a um gênio é ser
compreendido." (Leo Longanesi)
— Os gênios são incompreendidos porque não
suportam estupidez, vulgaridade, ignorância...
— Ludwig von Mises disse: "Um gênio criativo não
pode ser treinado. Não existem escolas para criatividade.
Um gênio é alguém que desafia todas as escolas e regras,
que se desvia dos caminhos tradicionais da rotina e abre
novos caminhos através de terras inacessíveis antes. Um
gênio é sempre um professor, nunca um aluno; ele é
sempre feito por si mesmo."
— Mas somos a sua família e a entendemos.
— Isso é sofrimento de pai Máx, para com isso. Tem é
que se cuidar e cuidar dessa mão também.
— Às vezes penso que você só fez medicina para ter
como justificar suas tentativas de mandar em mim como
irmã mais nova. — rimos e ela me beijou.
— Estava pensando na tal Eudora?
— Não consigo parar de pensar nela nunca. Só
quando estou com ela.
— A conversa com o tio Brad sobre ela não foi legal.
— Vou tentar outra vez hoje no jantar. Aproveitar que
você está em casa. — cobrando meus direitos de irmão
paparicado.
— Máx... Eu não julgo ninguém. Você sabe disso.
— A começar pelo vagabundo do seu namorado.
— Não fala dele.
— Ok. Não falarei. — erguendo os pulsos de minha
camisa.
— Mas essa relação me preocupa e tem a Antonela.
— Austin, uma hora ou outra tio Brad saberá que ela
foi uma garota de programa, então que seja da minha boca
que ele escute isso. Quanto a Adultinha, você sabe que não
deixo qualquer mulher se aproximar dela. Quando eu estiver
seguro de que Eudora pode entrar na vida da Antonela
então isso acontecerá.
— Máx, o tio Brad não aceitará isso jamais. Você é a
menina dos olhos dele, assim como Antonela. Ele o projetou
para ser o substituto nos negócios da família.
— Eu não escolhi me apaixonar por uma mulher com
esse passado Austin. Aconteceu. Eu a amo e quero ficar
com ela.
— Mas você sabe que o tio te cobra uma família
certinha, ele quase enfartou quando seu casamento acabou
e aquela bandida deixou a Antonela com você sem olhar
para trás.
— Eu posso ter tudo isso com Eudora. Eu vejo um
futuro comigo, Eudora e Antonela.
— Não acha que está confiando demais nela? Estou
falando baseado no que me contou sobre a moça.
— Eu posso estar. Às vezes eu tenho certeza de que
estou. Mas se eu não der esse crédito de confiança a ela
como poderei saber Austin?
— Ela ainda está trabalhando?
— Sim. Ela tem cedido as minhas pressões e você
sabe que quando quero pressiono como ninguém.
— Eu que o diga. — erguendo as mãos para cima.
— Ela me entregou a lista dos clientes. Ela está indo
bem no trabalho. Eu ligo diversas vezes durante o dia, sem
que ela saiba, para o supervisor dela e só tenho ouvido
elogios sobre Eudora. Os seguranças que estão seguindo-a
não me relatam nada de suspeito, o que me deixa mal
colocar gente para vigiá-la. A única coisa que ela ainda
reluta é sobre procurar um psicólogo. Mas eu entendo essa
resistência e acredito que cedo ou tarde eu consigo
convencê-la de que remexer o passado dela e expor suas
feridas é um modo dela seguir em frente mais livre.
— Sabe que pode contar comigo. — abraçando-me —
Quando vai trazê-la aqui?
— Ainda não sei. Combinamos que cada um
arrumaria seu passado para construir um futuro sólido para
nós. Isso significa que ela tem suas coisas pendentes e eu o
tio Brad.
— Acho que é o carro dele chegando. Estou tensa por
você Máx!
— Não fica Austin. Deixa comigo. — beijando-a na
testa. — Antonela?
— Ela está no quarto pronta para dormir com Eunice
como você pediu.
— Excelente.
— Eu te amo meu mano lindo.
A porta foi aberta por um indivíduo que eu não
reconheci. Ele sorria como quem saísse de um dia de sol nas
praias caribenhas depois de muitas tequilas.
— Tio! — Austin correu se pendurando nele como de
costume, acho que ela pensava ainda ter cinco anos de
idade.
— Minha vida, minha princesa! — Meu tio também
acreditava que ela fosse uma criançinha mesmo pelo visto
— Como você está meu amor?
— Esperando meu fofo chegar para jantarmos juntos.
Como foi seu dia tio?
Pela primeira vez ele hesitou em dizer a frase
costumeira: “Foi mais um dia e nada mais, cadê Antonela?”.
Aquilo ficava mais estranho a cada segundo. Eu sei que soa
esquisito, mas meu tio parecia alegre. Tio Brad era doce,
gentil, amável, generoso, educado, mas se existe uma coisa
que se podia afirmar sobre sua pessoa era que ele não era
feliz.
— Máx. — veio até mim abraçado com Austin —
Como você está moleque?
— Estou bem tio.
— E a mão?
— Acabei de retirar os pontos tio e avisei que ele
precisa fazer as fisioterapias. — Austin deu o relatório.
— Mas as dores se foram?
— Melhoraram muito. — abri e fechei a mão.
— Que bom. Antonela?
— Eu pedi Eunice que a levasse para cama mais
cedo.
— Eu vou subir tomar um banho e desço para
jantarmos.
— Está tudo bem tio? — eu não resisti em segurar a
pergunta.
— Sim. Está tudo muito bem Máx. Desço logo
crianças. — subindo a escada até o seu quarto.
— Viu isso Máx? Ele está diferente.
— É. Ele está com cara de bobo. De cachorro
amarrado pelo pescoço com linguiça — como homem eu
conhecia aqueles sinais.
— Será que arrumou uma namoradinha?
— Tio Brad sempre teve suas puladas Austin. Isso
não é coisa de namoradinha.
— Será que ele se apaixonou?
— É o que está parecendo.
— Eu adoraria que ele encontrasse um amor de
verdade. Ele é tão sozinho e nós estamos seguindo nossos
caminhos.
Nada falei apenas me mantive em modo de
observação sobre as atitudes dele dali para frente. De
repente a felicidade instantânea do meu tio serviria de
trampolim para que eu colocasse o assunto Eudora com
mais paz. Durante o jantar ele contou piadas, distribuiu
sorrisos. Meu tio encontrava-se em estado de graça.
— Não vai comer mais purê de banana tio? O senhor
adora.
— Não Austin. Quero manter minha silhueta.
— Ouviu isso Máximus? Tio Brad preocupado em
manter a boa forma! Ulá lá lá!
— Deixe de bobeira menina.
— Vai contar o nome da felizarda de boa ou teremos
que arrancar do senhor?
— Austin não seja indelicada com o tio. — tentei freá-
la.
— Não posso contar nada — ele se adiantou —
Porque não tenho nada para contar.
— Sério tio? Está namorando?
— Que namorando Austin. Aliás, eu não estou nada.
— Mas conheceu uma dona. — Austin era irritante
quando cismava com um assunto.
— Eu conheci uma pessoa. Mas foi só isso. Eu
conheci.
— E ela te fez bem.
— Austin. Qual é? Pega leve. — outra vez tentei
segurar a boca da minha irmã.
— Tudo bem Máx. — tio Brad sorriu para mim —
Respondendo o seu interrogatório senhorita Spartacus, sim,
ela revigorou o meu dia.
— Bom quando encontramos alguém assim não é
tio? — era a deixa perfeita para mim.
— Na minha idade Máximus certas coisas são
permitidas, mas na sua não. Na sua é preciso fazer tudo
como manda o figurino. Ligou para Liana?
— Não.
— Por quê? — ele debruçou os braços sobre a mesa.
— Porque eu não tenho nada para falar com ela tio.
— Austin revirou os olhos para cima.
— Então pelo visto você ainda se encontra seduzido
pelo rabo de saia.
— O senhor chamaria de rabo de saia à mulher que
lhe revigorou o dia hoje? — foi o que bastou.
— Eu não lhe dou o direito de comparar a minha vida
particular com a sua Máximus!
— Gente para! — minha irmã abriu os braços como
se pudesse apartar nossos olhares — Olha só, vamos pedir a
sobremesa? Eunice! A sobremesa, por favor!
— Então com o senhor pode e eu não. É isso?
— Máximus... Eu tenho 60 anos de idade. Com 35, a
sua idade, eu estava focado em comandar a Randor e levá-
la a outro nível da cadeia automobilística. Eu tinha um
casamento que preenchia as minhas necessidades como um
homem de negócios.
— Você não era feliz tio!
— Não. Mas se com 35 anos na cara você ainda não
aprendeu que não pode ter tudo que se quer não aprenderá
jamais. Eu não era feliz, mas eu tinha um ideal, uma meta a
ser seguida. É tão complicado entender isso?
— Eu também sou compromissado com a Randor.
— Gente, por favor... Tio... Máx...
— Sim você é, mas está chegando a um nível que
necessita de uma boa esposa com um bom berço para
tornar os negócios mais sólidos para os grandes
investidores. Isso é uma regra no ramo dos negócios.
Precisa se casar, uma mulher que saiba receber, que possa
interagir com as mulheres dos outros investidores. 40% das
propostas são concretizadas pelo intermédio direto das
esposas destes senhores e eu te ensinei isso!
— A mulher que amo pode fazer isso num estalar de
dedos.
— Não me faça rir Máximus. Você me falou que ela
tinha um passado. Que passado é esse?
— Máximus, olha mano, vamos deixar isso para
depois. — vi nos olhos de Austin o medo de que eu
revelasse o passado de Eudora.
— Não! Ele falará agora! Fale Máximus!
— Tio! Calma! Olha sua pressão!
— Está esperando o que? Não consegue dizer o que
ela faz para viver? Essa mulher tão maravilhosa que
arrebatou os seus sentidos e levou com ela o seu juízo faz
mesmo alguma coisa ou é mais uma aproveitadora?
— Prostituta. — bati na mesa — Ela era prostituta. —
e o silêncio pairou sobre aquela sala de jantar.
Recordo de esbarrar meu olhar com os de Austin e
vê-la sussurrar:
— Por que você foi falar isso?
Meu tio se levantou da mesa sem pressa, mas com
aquela feição que eu conhecia. Bravo. Pronto para me
matar. Andou um pouco com a mão sobre a boca em
seguida virou-se para mim com tom de ordem.
— No escritório. Agora.
— Não Tio! Por favor! No escritório não! — Austin se
desesperou correndo até ele. Ambos sabíamos que estar no
escritório diante de uma situação delicada em tempo algum
era um bom sinal.
— Não se meta nisso Austin. — disse contundente.
— Tio... Por mim. Não! Conversa na sala. Escuta o
Máx. De repente a menina é gente boa. Tio Brad...
Eu sei que por Austin ele ponderou a decisão. Ele
fazia tudo por ela, era a menina do papai. Conhecendo-o
como eu conhecia, ele me levaria para o escritório para me
tirar da Randor. Meu tio tinha um lado implacável quando
não fazíamos aquilo que ele queria. Assim como ele era nos
negócios. Foi assim que aprendi a ser agressivo nas
negociações imitando cada passo dele.
— Eu te darei quinze dias Máximus.
— Para que? — levantei-me da mesa cruzando os
braços. Como ele eu não ia baixar a guarda.
— Se livre dela. — pondo suas mãos nos bolsos.
— E se eu não fizer isso?
— Quinze dias é tempo suficiente para se divertir
com ela.
— E se eu não fizer isso? — repeti a pergunta ainda
mais abusado.
Ele deu um passo à frente onde nos enfrentamos.
Ambos nos demolíamos por dentro. Nós nos amávamos. Eu
só queria que ele desse a Eudora o direito de ser conhecida
e depois avaliá-la como desejasse. Mas antes disso qualquer
coisa que tio Brad fizesse me soaria como injustiça por
parte dele e desrespeitoso comigo.
— Se não fizer está fora da Randor.
— Tio nem brinca! — Austin se enfiou entre nós —
Tio... Está sendo muito radical. Não é porque ela foi uma
garota de programa que não seja uma boa pessoa.
— Austin, fique fora dessa conversa. — o tom foi de
severidade o que a afastou um pouco — Não se trata mais
de um assunto de família e sim negócios. Se não quiser
acatar as minhas ordens Máximus, você é livre, mas sabe
tanto quanto eu que posso escalar uma lista de cem
homens que se matariam para estar no seu lugar no
comando da Randor e todos não hesitariam nem por um
segundo em obedecer a uma ordem minha. Comunique-me
de sua decisão. Boa noite.
x
Capítulo 18
Ardilosa Eudora
M á ximus
A discussão com tio Brad foi o suficiente para me
tirar da mansão Spring e me arrastar para o apartamento de
Eudora. Tudo que eu necessitava naquele momento era
estar nos braços dela. Sentir sua pele na minha para
apaziguar meu espírito tão perturbado. Mas antes subi para
ver minha menina, eu precisava ter a certeza de que ela
estava dormindo tranquila e segura, mas para a minha
surpresa que virou desespero lá estava ela de pijamas,
sentada em sua cama, abraçada a um travesseiro certa de
que eu entraria por aquela porta a qualquer segundo.
— Filha, ainda não dormiu? — entrei fechando a
porta.
Sentei-me ao seu lado. Antonela tinha um ritual
muito particular quando queria me falar algo importante
para ela. A escova de cabelos surgiu em sua mão debaixo
do travesseiro.
— Escova meus cabelos papai?
— Claro filha. — ela virou-se para mim e aos poucos
ia desembaraçando seus longos cabelos.
— Está bom assim?
— Está. Ninguém escova meus cabelos como você.
— Seus cabelos são lindos Adultinha.
— Papai...
— Oi.
— Você já sabe que eu ouvi o que não devia ouvir
não é? — aquilo me desesperou, mas já era esperado.
— Parece que sim. — respondi sem tirar os olhos de
seus cabelos.
— Eu sei o que é uma prostituta.
— Filha... — gelei por dentro com a escova
petrificada em minha mão.
— O tio Brad não quer que você fique com ela porque
ela é prostituta.
— Filha olha só... — num rompante ela girou o corpo
para mim com aquele olhar verdadeiro.
— Papai se ela for uma boa pessoa eu não ligo. Eu
não vou julgar uma pessoa pelo jeito dela porque não gosto
do que as pessoas fazem comigo pelo jeito que sou.
— Filha isso não é assunto para você e... — ela
segurou firme as maçãs do meu rosto.
— Papai eu só quero que saiba que tem o meu apoio.
Eu não me importo de sermos nós dois contra o mundo.
— Você é tão corajosa filha.
— Eu gosto de tomar partidos sem ter medo do que
vão pensar de mim. — abaixei o olhar movido pela
sinceridade que só uma criança tem — Eu sei que você fará
o melhor para nós dois.
Abracei-a com todo meu sentimento. Eu amava a
minha família, mas sem dúvida a opinião daquela garota
prodígio era a que mais importava. Por causa dela eu não
me sentia incompleto. Por sua causa eu me sentia
compreendido. Beijei-a no rosto, contei uma história que ela
adorava, Moby Dick, o cachalote mais enfurecido dos
oceanos, velei seu sono e então fui para o apartamento de
Eudora.
À medida que dirigia eu me sentia mais preparado
para tomar a decisão mais complexa da minha vida. A
Randor foi a minha vida desde os dezoito anos. Eu passei
por cada setor. Eu fiz tudo que meu tio mandou. Segui a
risca cada determinação sua sem vacilar, mas se eu
precisasse abrir mão da Randor por Eudora eu faria isso
sem o menor problema porque no fundo, eu melhor do que
ninguém sabia a intensidade do que nutria por ela. Não era
só cama. Não era só química. Era a vontade suprema de
cuidar com todo o meu anseio de alguém que eu amava
com todas as minhas forças. Eu não perderia por nada
aquela que poderia ser a única oportunidade em minha
vida.
— Máximus?
— Eu preciso de você.
Agarrando-a ali, empurrando suas costas contra a
porta, me apossando de sua nuca com minhas mãos
enquanto meus lábios devoravam os seus como quem
respirasse depois de minutos sufocado. O mais interessante
é que eu via a mesma necessidade nos olhos, na boca e no
corpo de Eudora. Ela queria me acolher e aquilo me
fascinava. Puxei-a para cima e com suas pernas se prendeu
em meu quadril com a minha perna chutando de qualquer
jeito a porta. Os cabelos dela se esvoaçavam em minhas
mãos deixando meu pau latejando a cada roçada em sua
virilha. Caímos no sofá ainda engalfinhados um no outro nos
comendo em todo peso que a palavra volição pode deter.
— Seu tesudo!
— Minha Tigresa!
Fomos virando no sofá até que consegui chutar a
mesa de centro para um canto e sobre o tapete alto de lã
nos amamos como dois loucos.
— Mete mais essa porra em mim!
— Você quer mais é gulosa?
— Eu quero você sempre todo em mim!
Segurei firme seus braços sobre seu ventre e
bombava em sua bocetinha com insanidade saindo por
todos os meus poros. Puta que pariu! Como eu amava
aquela boceta. Gostava como ela apertava meu pau dentro
dela aquilo me levava às vias da demência.
— Ai Grandão! Acaba com a sua Tigresa!
— Toma sua putinha! Minha putinha, só minha!
Depois posicionei seus pés em meus ombros, gosto
assim, vê-la toda aberta só para mim. Ali eu sou rei.
Mordiscava e chupava seu dedão dos pés e aquilo me
levava a meter mais forte dentro dela ao ponto de quicar e
ver seu corpo estremecer de prazer sem que ela pudesse
controlar me fazia um homem que eu não imaginaria que
fosse, domado por ela.
Agarrei seu queixo chupando sua língua e ela se
embolou em meu pescoço com aquele olhar de menina
malvada.
— Agora deixa a Tigresa cuidar de você.
Posicionou-se subindo e descendo no meu pau
melado, fazia com tanta maestria que meu pênis em atrito
com sua vagina espumava. O balanço do seu corpo
quicando em meu colo me abduzia.
— Está gostoso assim está grandão?
— Continua, continua! Caralho!
— Seu puto! Safado! Vê se gosta disso!
Então ficou só rebolando na cabeça do meu pau e só
quando eu implorava descia com tudo abocanhando-o todo
com aquela vulva maravilhosa.
— Porra! Porra! Vou gozar!
— Vai! Goza gostoso na sua Tigresa! Vai! Quero
muito hoje! Estou faminta de você!
— Puta merda!
— Goza! Enche essa boceta de você!
Joguei-a contra o tapete e alucinado gritava:
— Toma! Toma! Toma tudo!
A filha da puta esperou até meu último tranco,
beijou-me com pegada puxando meus cabelos, depois abriu
sua vagina para mim e olhando-me daquele jeito que só ela
sabia comentou:
— Olha só como você recheou gostoso o seu
bombom. Adoro leite condensado! — apanhando uma gota
do gozo que escorria da vagina lambendo pouco a pouco
com o dedo indicador.
Não me sobrou outra coisa a fazer que não fosse cair
em seus braços onde nos acalmamos um no outro.
Olhando para o teto com ela acariciando meu
umbigo parecia que aquela discussão com meu tio tinha
ficado num passado distante e sem importância.
— O que houve Grandão? — beijando minha orelha.
— Nada demais. — eu não queria ter que contá-la
sobre aquela conversa tão mal sucedida.
— Você mente mal.
— Coisas de casa.
— Algo errado com a sua filha?
— Não. Ela está bem.
— Seu tio? — sorri satisfeito por ela mostrar me
conhecer um pouco.
— Ele é meio cabeça dura.
— Não acho que ele seja cabeça dura porque não
aceita que seu filho fique com uma puta.
— Para de falar isso. Eu já disse que não gosto
quando você se deprecia assim.
— Mas onde está o erro em se falar a verdade
Grandão?
— Há maneiras de se falar Eudora. — sentando-me
enquanto ela me observava deitada — Eu dobro ele. Não se
preocupe. — de repente seu queixo surgiu em meu ombro e
suas mãos pelo meu peito em movimentos de zigue-zague.
— Fala Máximus. Ajuda a pensar melhor.
— Fazia isso com seus clientes?
— Você disse para eu não falar nada sobre isso.
— Verdade. Desculpe.
— Olha... — surgindo de súbito a minha frente — Não
culpe seu tio, pense como ele. Se tivesse um filho e ele lhe
contasse isso teria as mesmas preocupações. Eu não culpo
seu tio. Eu o compreendo de verdade.
— Eu não preciso da aprovação dele para te amar ou
para ficar com você para sempre. Você acredita que a
Antonela escutou a discussão e ficou quietinha na cama me
esperando passar lá, só para me dar apoio?
— Que fofa!
— Uma criança de oito anos de idade consegue ser
mais humana do que um adulto vivido. — sacudi a cabeça
inconformado.
— Mas ela não é qualquer criança.
— Não mesmo.
— Com o que ele te ameaçou?
— E por que acha que ele me ameaçou? — ela deu
um riso experiente de quem já tinha escutado muitas vezes
sobre conversas assim — Ele disse que me tira da
presidência da Randor.
— O quê? — vi seus olhos se assombrarem — Não
Máximus. Não brinque com isso. Você ama aquela empresa.
— Não Eudora, eu luto pela Randor, mas eu amo
você. Se tiver que ser assim paciência.
— Você enlouqueceu? Não pode abrir mão de algo
tão valioso para você e sua família. Não pode desapontar
seu tio dessa forma.
— Tigresa — segurando sua cintura — Eu sou um
advogado formado. Eu tenho experiência numa das maiores
multinacionais do meio automobilístico do mundo. Meu tio
me falou algo que é verdade, que ele pode enumerar cem
nomes de homens que se matariam para ocupar meu lugar
e acatar o que ele manda. Mas ele também sabe que do
mesmo modo posso fazer uma lista onde empresas se
digladiariam para me ter como seu presidente. Ele é um
homem de negócios, e sabe que me ter numa concorrente
seria um péssimo negócio para Randor. Ele me preparou
para ser o melhor no que faço.
— Mas e a relação de vocês Máximus. Você idolatra
seu tio.
— É... — suspirei — Eu o amo demais. Ele é o meu
pai sabe. Mas o que eu posso fazer? Eu não posso satisfazer
todos os caprichos dele. Eu só queria um pouco de respeito
dele comigo. Mesmo que não gostasse de você, mas que se
permitisse conhecê-la, ouvi-la.
— Grandão... Eu fui uma prostituta. O mundo lá fora
não nos ouve ou vê ao menos que deseje nos usar.
— Mas eu me permiti te conhecer, te escutar. Até
Adultinha se propôs a te dar uma chance.
— Porque vocês são especiais Máximus Spartacus.
Você é excepcional. Não pode impor que todos sejam como
você e sua filha. Acredite em mim, as pessoas são muito
cruéis com pessoas que têm um passado como o meu. Seu
tio é só uma ponta do iceberg que significa ficar comigo. Eu
te avisei. Você vai enfrentar isso o tempo todo. Pensa. Eu
não te recriminarei se decidir voltar atrás e...
— Cala a boca Eudora! — surtei — Não fala isso.
Nunca mais ouviu? Prometa para mim.
— Eu prometo.
— O que você fez hoje o dia inteiro aqui?
— Eu? — ela levantou indo até a cozinha bebendo
um pouco de água — Nada de mais. Vou tomar banho. Quer
vir junto? Segunda rodada quem sabe. — sorriu jocosa.
— Mais tarde a gente faz à segunda, a terceira.
Quero ficar um pouco sozinho.
— Está bem. Vou me espumar. — gracejando com
suas curvas.
Vendo-a desaparecer na quina em direção ao
banheiro comecei a prestar atenção em cada detalhe a
minha volta e nessa viagem percebi que debaixo da cama,
porque o apartamento tinha os cômodos todos abertos, uma
peça que semelhou ser jogada as pressas. Ergui-me
certificando-me que ela cantava no banho. Abaixei
apanhando o vestido preto. O perfume era fresco. Ela o
tinha usado. Mas como se ela não tinha saído de casa
naquele dia? A ira veio debruçar-se sobre o meu ombro
mirabolando coisas em minha cabeça. Apanhei o vestido
pondo-o debaixo da almofada no sofá da sala, liguei de meu
celular para um dos seguranças incumbido de vigiá-la.
— Você tem certeza de que ela não saiu do
apartamento hoje? — a conversa se dava na sacada com
meus olhos atentos a porta do banheiro.
— Não senhor Spartacus. A senhorita Tyr não saiu do
prédio hoje.
— Cheque com a recepção se alguém esteve aqui.
— Mas eu fiz isso. Só o senhor entrou e saiu do
prédio hoje.
— Cheque de novo. Não discute comigo.
— Sim senhor.
Quando ele notificou-me que apenas eu entrara e
deixara o apartamento de Eudora eu devia ter me
sossegado, mas não pude. Eu sou do tipo que quer tudo às
claras.
— Oi Grandão! — ela deixou o banheiro de roupão
rosa claro e toalha na cabeça — Estava falando com
alguém?
— Não. — respondi num tom seco sentando-me no
sofá já com a mão debaixo da almofada pronto para puxar o
vestido.
— Aconteceu alguma coisa?
— Eu que pergunto Eudora. Aconteceu alguma coisa?
— Gente eu só fui tomar banho e saí. — ela pareceu
um pouco receosa.
— Você saiu?
— Por que está me perguntando isso?
— Não responda com outra pergunta. Saiu ou não? —
ela parou me encarando pensando no que falaria — Ok
Eudora, onde você usou essa merda aqui? — puxando o
vestido debaixo da almofada.
— Você agora vai ficar xeretando minhas coisas é?
— Responde. — partindo até ela com o vestido na
mão.
— Eu usei o vestido sim.
— E por que o jogou debaixo da sua cama? Por acaso
quando viu que eu estava na porta e com ele ainda na mão
decidiu se livrar jogando no primeiro suposto esconderijo
que encontrou?
— Você está ficando paranoico! — arrancando a peça
da minha mão caminhando para a lavanderia.
— Você saiu de casa com ele. O perfume está fresco.
Não me tira do sério porra! Onde foi que esteve?
Lançando a toalha que jazia sobre a cabeça deixando
que seus cabelos longos caíssem pelo seu rosto, me
deixando maluco, ela respirou algumas vezes ainda sem
nada dizer.
— Fala Eudora!
— Ok. Eu precisei sair.
— Isso significa que a historinha de que estava
doente era MENTIRA! — chutei a banqueta do balcão que
atravessava meu caminho para longe.
— Calma Máximus!
— O que eu te falei sobre mentir para mim?
— Mas quem te disse que eu não ia contar?
— Não me faça de otário, Eudora! Eu não sou seu
brinquedo!
— Eu precisei resolver um assunto. Assunto do meu
passado. Assunto que faz parte daqueles assuntos que nós
concordamos resolvermos para seguir juntos.
— Você fez algum programa? Você deu para outro
homem, é isso?
— Não. Claro que não!
— Não mente Eudora! Não mente para mim! — eu
estava prestes a perder a cabeça porque ficava imaginando
a cena dela com outro homem.
— Máximus... — tentando me tocar em vão, eu me
desvencilhei dela — Eu não fiz programa algum. Eu não dei
para homem nenhum. Eu não faria isso com você. Eu
prometi.
— O que fez então?
— Eu tive que decidir uma questão que serviu para
resolver uma pendência com a minha mãe.
— Eudora... Eudora!
— Máximus você precisa confiar em mim.
— Mas se encontrou com outro homem.
— Sim. Mas não para trepar com ele! Eu não estou
gostando do rumo dessa conversa.
— Como saiu do prédio?
— Saindo oras. — deu de ombros.
— Meus seguranças não viram você sair do prédio. —
agora eu tinha entregado o ouro ao bandido.
— Espera aí! Que porra é essa? Você está me
vigiando? — foi a vez dela jogar a outra banqueta longe.
Passei as mãos pelo semblante me sentindo o maior
idiota da Terra em ter dado um vacilo como aquele.
— Como você decidiu me vigiar com seus capangas
sem me consultar?
— Eudora... Eu fiz isso sim. Coloquei dois dos meus
seguranças para monitorar você.
— Monitorar? — arregalando aqueles olhos verdes.
— Vigiar é uma palavra muito forte. — eu tinha que
suavizar para o meu lado.
— Cretino! Filho da Puta! — estapeando meu peito —
Como é que você ousa fazer isso?
— Olha... Eu tinha que ter alguma garantia de que
não estava mentindo para mim. Não é que não confie em
você e sim para ter certeza de que não estava nos
sabotando.
— Não quero ninguém me vigiando! — com o dedo
em punho na minha cara — Se insistir nisso melhor parar
por aqui!
— Como é que você saiu sem que eles te vissem?
— Não interessa. Não muda de assunto. Eu não sou
nenhuma criminosa para ficar sendo monitorada por
homem não.
Por minutos nos calamos cada um indo para o
extremo da sala. Eu sei que tinha dado mancada em falar
dos seguranças. Que Eudora despertava em mim um tipo de
comportamento abusivo e ao mesmo tempo obsessivo. Mas
a última coisa que eu desejava era que brigássemos. Por fim
apanhei o banco que derrubei sentando-me nele com os
cotovelos sobre a bancada, ainda em silêncio. Depois de um
tempo ela apanhou o outro banco que ela derrubara pondo
ao meu lado, sentando nele como eu.
— Se quiser posso ir embora. — queria checar o
clima entre nós.
— Se quiser posso sair da sua vida. — ela sabia jogar
pesado comigo.
Virei-me para ela puxando ainda mais sua banqueta
para perto de mim. Só de ouvir aquilo era experimentar
segundos da morte dentro de mim.
— Me perdoa?
— Agora faz voz de cachorro molhado na chuva. —
mantendo-se durona.
— Eu devia ter falado sobre os seguranças. — cada
vez mais meloso.
— Eu me encontrei com um homem sim, mas porque
ele foi uma ponte para resolver um lance com a minha mãe.
— Por que ele e não eu?
— Por que não confiar só na minha palavra ao invés
de montar sua dupla de capangas para me vigiar?
— Eu já pedi desculpas. Perdoa vai? — mordiscando o
seu pescoço vendo seus pelinhos da nuca se arrepiar.
— Não quero mais imaginar que tem alguém me
seguindo ou vigiando.
— Eu não quero mais encontros com homens para
resolver pendências com quem seja.
— Não posso prometer isso Máximus.
— Por que não?
— Porque combinamos de resolvermos nossos
passados. Eu não fiz nada fora do acordo, já você...
— Vai jogar isso na minha cara para sempre agora é?
— Não. Todo mundo erra. Erramos.
— Estou perdoado?
— Está. Mas tem uma coisa...
— O que é?
— Contenha suas emoções. Eu não sou mulher de
aguentar comportamento abusivo ou ataques de agressão.
Se meter a mão na minha cara, eu vou meter na sua
também. Meu braço é a minha lei contra agressão a
mulheres, meu amor.
— Eu jamais tocaria num fio de cabelo seu, Eudora.
Deus me livre.
— Eu sei. Mas as piores agressões não são feitas com
socos e pontapés Máximus, elas são feitas com palavras e
atitudes.
— Eu vou me controlar. Tem a minha palavra. —
enfim ela me beijou — Não vai me contar como saiu do
prédio?
— Eu peguei o carro do vizinho emprestado. —
levantando-se toda charmosa do banco e antes de entrar no
closet retornou colocando seu rosto na quina da parede —
Eu sabia que estava me vigiando, tolinho.
— Como é que é? Eudora. Eudora!
Ela me ignorou e só fez aumentar em mim a noção
que eu já tinha, que ela era perigosa, astuciosa e
encantadora.
z
Capítulo 19
A Deusa Tara
Brad
A primeira vez que estive na primavera foi ao nascer,
mas eu não me recordo, tudo que sei é que mamãe era
inverno e papai verão e sendo assim eu só pude entender o
que era primavera outra vez quando cresci. Ainda jovem
puxei para mim a necessidade de ser responsável e de ser o
exemplo da casa. Eu tinha uma irmã disfuncional com um
marido que não gostava de trabalho.
Meu sonho era dar aos meus pais, ainda vivos na
época, uma vida mais digna. Para mim aquele era um
compromisso de gratidão que tinha com eles. Ergui um
império do nada. Meus pais não puderam ver o ápice disso,
mas viram a minha garra e mais uma vez o meu impulso e
isso me satisfez. Mesmo assim eu ainda tinha dentro de
mim a necessidade de cuidar de alguém. Então nasceu o
menino mais lindo do mundo. Máximus Spartacus nasceu
leonino e me fez conhecer mais a fundo o que era estar na
primavera. Eu me apaixonei por ele no segundo que o vi. A
terceira vez que a primavera surgiu foi dois anos depois, a
garotinha loira que fez minha alma explodir de felicidade
quando a chamei de Austin. A quarta vez que a estação me
saudou foi no nascimento de Antonela, a criança mais
adorável que conheci e que tenho a honra de ser avô.
Meus casamentos foram todos bons negócios e
relacionamentos falidos. Mas eu tinha Máx e Austin, que
sem titubear minha irmã e seu marido trapaceiro me
passaram a guarda em troca de algumas propriedades que
passei para os seus nomes.
Eu não os fiz, mas são minhas crianças, meus filhos e
meu maior orgulho. Não foi uma tarefa simples ser o pai e
mãe para eles. Eu queria ter uma qualidade de vida com
minhas crianças e tinha uma multinacional nas mãos para
tocar. Eu tinha um exército de babás me acompanhando de
um lado para o outro, porque não abria mão de estar com
eles o tempo todo.
Mas o tempo veio. O tempo passou e minhas
crianças se tornaram um charmoso advogado e uma médica
cirurgiã belíssima. Tenho orgulho de tê-los encaminhado na
vida, de ter sido um bom exemplo e ter dado todo o meu
amor para cada um deles.
Máximus foi educado para ser o meu sucessor.
Acredito nele. Ele é agressivo, exigente e ao mesmo tempo
uma das pessoas mais compreensíveis que já conheci.
Quando ele para e te ouve tenha certeza de que toda a sua
atenção está focada em você. É um pai espetacular e devo
admitir que no começo achei que ele não daria conta da
tarefa de ser pai e mãe de Antonela, porém ele me
surpreendeu e conseguiu ser ainda melhor do que eu fui
para ele. Mas como ninguém é perfeito, ele é turrão como
uma mula, ele é obstinado por aquilo que quer e se
machuca demais quando é decepcionado. Isso sempre me
trouxe uma imensa apreensão em relação a ele.
Austin é minha bonequinha, ela faz tudo certo por si
só e sem questionamentos. Protege demais o irmão, às
vezes vejo nela um pouco de mim, ela tem a necessidade
de cuidar de alguém. Tive que dar duras broncas nela para
deixar de mimar o Máximus, até os dezoito anos ela ainda
preparava o banho dele e cortava as suas unhas. No fundo,
acho que por mais que tenha dado o melhor, eles se sintam
sozinhos pela ausência dos pais, que só se manifestam
quando querem dinheiro.
Cansei de tentar buscar um grande amor, entendo
que a Máxima de quem é feliz no amor não pode ser nos
negócios seja verdadeira. Cansei de estalar os dedos e ter
todo tipo de mulher para levar para a cama.
Quando a diabetes manifestou-se de modo agressivo
em mim deixando-me impotente, tudo que ganhei da minha
esposa na época foi um pedido de divórcio vindo de seus
advogados com um acordo do que ela queria dos meus
bens. Desde então eu fui me fechando mais e mais.
Acreditei que ver quatro primaveras ao longo de sessenta
anos foi o suficiente. Até aquela manhã em que vi o perfil de
Tara Larousse no site que amigos próximos já haviam me
convidado por diversas vezes.
Algo nela me atraiu. Quando abri a porta do
apartamento vendo-a a minha frente foi puro magnetismo.
Já vi milhares de mulheres, estive com quase todas pagando
de um jeito ou de outro pela sua companhia, mas vi no
instante que meus olhos caíram sobre Tara que eu seria
capaz de dar tudo que tinha por ela de um modo inusitado.
Diferente.
Eu não queria ser o Don Juan, eu não queria ser o
velho que tem uma acompanhante de luxo, por isso o fator
Sugar Daddy e Sugar Baby me pareceu uma proposta tão
tentadora, mas nem de longe eu imaginei que teria a minha
frente aquela menina alucinante. Tara tinha inquietude nos
olhos, como quem vivesse cada segundo com toda
intensidade. Sei que ela pode ter quantos homens desejar
só pelo modo como caminha. Ela te doma, como se
soubesse enlouquecer você, mas só dá permissão para que
o surto aconteça na hora que ela bem desejar. Ela
despertou em mim uma insana vontade de protegê-la. Fez
ressurgir aquela necessidade de cuidar de alguém como eu
fiz com meus pais, neta e meus sobrinhos. Fiquei em
êxtase, a primavera chegara mais uma vez em minha vida.
Tudo só se desfez no segundo que Máximus veio com
aquela conversa da tal prostituta pela qual se apaixonou.
Não é questão de preconceito, embora isso também seja
uma verdade disfarçada de preocupação. Eu não sou
diferente, nenhum pai quer que seu filho se case com uma
garota de programa. O nome Máximus Spartacus abre e
fecha todo tipo de porta, mas nem mesmo ele pode ser
blindado pelos holofotes de olhares preconceituosos e
conhecendo Máximus como só eu conheço sei que ele não
suportaria lidar com essa realidade por muito tempo. Sem
falar na possessão de Máximus com pessoas e coisas. Ele é
puro ciúme. Foram muitas vezes que tive que pagar
delegados para o liberarem depois de quebrar boates e
narizes dos que mexiam com a garota da vez dele. A coisa
que mais me preocupava era a certeza de que se ele de fato
amasse essa moça não teria nada que eu pudesse fazer
para detê-lo. Ele iria até o fim do universo por ela. Antonela
é outra parte dessa situação que me importo, eu não quero
na vida dela uma figura materna de uma prostituta.
Nos encontros seguintes eu me inquietava como um
jovem bobo por encontrar uma amiga querida. Era
engraçado como o cunho sexual não me atraia em Tara. Seu
jeito envolvente mexia comigo de outra forma. Adorava vê-
la dançar em cima do sofá com a música nas alturas
pedindo para que eu dançasse com ela. Tara era luz. A luz
mais forte e brilhante que cruzou o meu caminho.
— Vem Watson! Requebra assim... — agarrando
minha cintura remexendo-a de um lado para o outro.
— Eu não tenho jeito para isso Tara.
— Ah Sugar Daddy, a sua Sugar Baby quer. — como
não acatar um pedido dela.
— Isso! Olha como você tem jeito! Mexe!
Agora ficamos lado a lado e por um segundo me
permiti levar por sua alegria contagiante e mesmo com
dores pelas articulações fui me levando com um pé atrás e
outro a frente estalando os dedos.
— Que orgulho de você Watson! — pulando a minha
volta batendo palmas. — Vamos lá, a gente dá conta!
Tive a ousadia de puxá-la pela mão girando-a pela
sala do flat. Ela gritava feliz. De algum jeito nos
completávamos neste vasto mundo.
— Está curtindo, fala a verdade para sua Baby.
— Muito. Faz tempo que não me divirto tanto.
Ao findar da melodia sentamos cansados e ofegantes
no sofá. Fiquei admirando-a por um tempo. O contrato que
propus a Tara era que ela diria o que queria fazer. E ela me
surpreendia com pedidos tão simples. Dançar, cantar,
contar piadas e ficar sem piscar por um minuto. Parecia que
ela também queria aquele tempo comigo para ser uma
menina que fora dali não costumava ser. Ela nunca me
pediu uma joia ou qualquer coisa de valor financeiro. Ela
queria coisas de valores sentimentais e aquilo me
encantava nela.
— E o namorado?
— Está lindo.
— Você parece gostar dele. — ela sentou sobre as
pernas com um riso tímido — Eu gosto dele como jamais
gostei de homem algum.
— Isso é bom Tara. Eu fico feliz por você.
— Mas eu não sei se sou o que ele merece.
— Por que diz isso?
— Não sei. Só acho. Olha onde eu estou? Aqui com
você, dançando. Se ele fizer ideia de que sou uma Sugar
Baby.
— Mas nosso caso é diferente. Tudo que temos sido
um para o outro nessas semanas que nos conhecemos é
sermos bons amigos. Você me faz um bem danado.
— Gosto de você porque não me olha como um
pedaço de carne e sinto que quer mesmo me mimar.
— Você a menina do papai aqui. Não precisa de
nada?
— Eu trabalho agora.
— Eu não quero abrir mão de estar com você. Mas se
for preciso sacrificar o que temos aqui para ir a frente com
seu relacionamento, fale Tara. Você é uma moça jovem,
inteligente, belíssima e tem que ser feliz.
— Está ficando cada vez mais difícil encontrar um
meio de ver você Watson. E eu não quero ferir o meu
grandão sabe.
— Que tal uma festa de despedida?
— Imagina Watson.
— Eu adoraria fazer a festa só para nós dois. Sabe
que adorei experimentar aquele pino de cocaína que trouxe
outro dia. Eu vivi 60 anos para me atrever cheirar cocaína.
— Eu preciso parar com isso Watson. Por ele sabe.
— Eu sei minha querida. Que tal sairmos por alguns
dias em um dos meus iates?
— Eu só poderia por uma noite e com muita
enrolação. Mas eu quero fazer isso por você também. Tem
sido bom estar ao seu lado.
— Eu quero te levar para a vida Tara. Quero conhecer
o homem que ama e olhar nos olhos dele para ter certeza
de que não se trata de um cafajeste. Estamos falando da
minha Baby, certo?
— Fala sério?
— Claro. Você pode dizer que sou aquele tio distante,
todo mundo tem um.
— Eu gostaria de te apresentar para ele.
— Posso preparar o iate?
— Pode sim. — ganhando um beijo demorado nas
maçãs do meu rosto.
O
Capítulo 20
Possessão
Eudora
Watson era uma incógnita para mim. Ele era capaz
de me tirar todo o medo do mundo. Ao seu lado eu não
tinha um receio de ser quem eu era na essência. O mais
estranho era não haver um cunho sexual entre nós. Eu via
nele um protetor. Um alguém que queria mesmo cuidar de
mim, algumas vezes ele me fez lembrar-me do meu pai. Ele
podia não ter o menor jeito, ou vontade, mas para me
agradar fazia o que eu pedia. No começo eu queria dinheiro,
mas à medida que o tempo passou a nova fase que eu vivia
proposta por Máximus agregada à forma carinhosa de
Watson me fez ver que o dinheiro é mesmo uma das coisas
mais baratas do mundo, compra quase tudo. Passou valer a
pena ter aquelas gargalhadas com ele e ver que eu fazia
diferença na sua vida vazia sobre a qual ele não falava
nada. Acho que eu estava me tornando uma pessoa melhor.
— O prazo com seu tio está acabando não é
Grandão? — ele cozinhava uma massa pela quinta vez com
aquelas tatuagens gritante pelo corpo me convidando para
devorá-lo.
— Não esquenta a cabeça com isso Tigresa. — ainda
remexendo os quadris num balanço envolvente com a
melodia. Éramos movidos à música e pelo mesmo tipo.
— O que pretende fazer?
— No décimo quinto dia eu irei entrar com a
senhorita porta dentro da mansão Primavera. — servindo a
pasta de aparência horrorosa, mas com cheiro delicioso.
— Máximus... Isso não dará certo.
— Confie em mim.
— Isso vai soar para o seu tio como afronta.
— Eu quero que ele te veja. Que olhe nos seus olhos
e depois crie a ideia que quiser sobre nós. E temos o apoio
da minha Adultinha. — seu rosto se iluminava quando falava
da filha.
— Estou louca para conhecê-la. — esfreguei as mãos.
— Eu sinto que vocês vão se dar bem.
Se havia uma coisa que eu tinha aprendido sobre o
senhor Spartacus é que não adianta debater nada com ele.
Se ele quisesse pedra com fritas ele comerá pedras com
fritas.
— Você está calada hoje. Algum problema no
trabalho?
— Não... — pensei melhor — Quer dizer sim... Eu
recebi um convite de uma amiga para ir com ela numa festa
de meninas. Despedida de solteira.
— Mas você quer ir? — debruçando-se sobre a
bancada da cozinha onde eu me encontrava, acariciando
meu anel de borboleta que ele me dera.
— Eu queria e muito. Mas eu não sei se você vai
achar legal.
— Onde será?
— Nem perguntei.
— Eu não ligo que você vá numa festa de meninas.
— Sabe que despedida de solteira só rola putaria não
é?
— Sei — já fechando a cara — Eu sei sim. —
erguendo-se pegando os pratos para jantarmos — Mas se
você quiser ir de boa. Curte lá.
Aquela linguagem no mundo de Máximus era: “Estou
puto, estou puto, não vai porra!”, mas a educação dele e o
falso senso de controle o impedia de falar assim.
— Ué, não vai comer?
— Estou sem fome. — revolvendo o fettuccine no
prato.
— Máximus foi um convite e eu nem disse que ia.
— Eudora eu não posso entrar numa de ficar
obcecado cada vez que você fizer uma coisa que não seja
comigo. Eu não gosto disso e sei que isso te sufoca. —
largando de vez o prato andando pelo apartamento indo até
a sacada.
Aquilo era uma verdade, ele não conseguia lidar com
qualquer coisa que eu fizesse sem incluí-lo e pior não sabia
esconder. Máximus era do tipo que vinha fazendo cara feia
se eu fosse ao banheiro no restaurante e um homem
estivesse por perto. Ele fazia o pedido do cardápio por nós
dois tudo muito rápido, para que o garçom não tivesse
tempo para me notar. Aliás, o que eu vestia passou a ser
um problema também. Ele não me dizia: “Não quero que
vista isso.”, mas a sua fisionomia e sua leitura corporal
tornou-se um bê-á-bá para mim.
— Gostou desse vestido?
— Qualquer coisa fica bonita em você Eudora. —
mexendo na carteira.
— Se não gostou fala.
— Você não acha que ficou bom? Então ficou bom.
— Desembucha senhor Spartacus.
— Eu acho que essa mer... Que esse vestido está
curto. Você não consegue usar nada abaixo do joelho?
Nessas horas eu respirava sem saber o que fazer.
Aquilo era novo para mim. Parte de mim se negava a tirar o
vestido, afinal o corpo era meu e não dele, a outra me
falava que eu devia ponderar um pouco a sua opinião uma
vez que minhas roupas até então eram muito extravagantes
apesar de lindas. Então inventei o método do cara e coroa,
se ele ganhasse escolhia minha roupa se eu ganhasse ia
com a que estava. Mas toda vez que ele perdia sua
insatisfação e os ciúmes aumentavam mais e mais. Eu
entendi que mesmo que ele fosse tão possessivo havia o
peso do meu passado, que por mais que ele fosse
compreensível mexe e muito com o brio masculino.
De costas parei com meu rosto no umbral da vidraça
aberta com os braços cruzados observando-o ali de costas
para mim, contemplando o céu e suas estrelas. Tentando
controlar suas emoções a todo custo. Vim em passos
silenciosos entrelaçando-o a mim por trás, sentindo o
perfume de sua pele. Aqueles músculos definidos, aquela
tatuagens gritantes me alucinavam. Pela primeira vez na
vida eu sentia que tinha alguém para chamar de meu, só
meu. Embora a sensação de posse me assustasse às vezes.
— Você é tão suculento quando fica puto senhor
Spartacus. — ele nada respondeu, mas sua respiração
ofegante contou-me o quanto ainda estava irritado — O que
posso fazer para acalmar o meu papaizinho? —
mordiscando seus ombros e um pouco de sua nuca.
— Estou bem Eudora.
— Quando você me chama de Eudora embora seja
sexy fica claro que não está nada bem. — enfim virou-se
para mim. A ira estava lá nos olhos dele. Máximus era muito
manhoso e não ter o controle em suas mãos o deixava
enfurecido.
— Não quero ser chato. Preciso aprender a lidar com
isso, não é?
— Você sempre foi assim com as outras namoradas?
— Sinceridade? — pedi pondo minhas mãos em
forma de prece — Não. Quer dizer... Eu sou possessivo com
tudo. Eu não sei falar: “Apanha aquela caneta”, eu só sei
dizer: “Apanhe a MINHA caneta”. Tudo é assim. Minha filha,
meu tio, minha irmã, meu gato, meu sapato, minha
mulher... — olhando-me como um moleque confuso.
— Será que devo encarar isso com uma vantagem?
— gargalhei.
— Isso é sério Eudora. Não é para você ficar tirando
sarro de mim.
— Meu Grandão... — apertando seu Máxilar — A
gente tem que rir sim. Cara, como você sendo assim vai
logo se apaixonar por uma puta? Ops! Desculpe, por uma
mulher com um passado como o meu.
— Deve ser castigo. — sacudindo a cabeça.
— Você bravo é um homão da porra sabia. Fico doida
para dar para você. — enchendo-o de um surto de beijos.
Mas calmo não se deteve em voltar num assunto.
— Quero te perguntar uma coisa.
— Pergunte.
— Por que pediu ajuda ao tal cara e não a mim?
— Máximus... — foi a minha vez de virar os olhos
para os céus em busca de uma solução.
— Eu quero saber. É meu direito. Por que não pode
falar?
— Porque ele tinha condições para me dar essa ajuda
de uma forma que me agradava. Fica satisfeito assim?
— Não! — bufei saindo da sacada com ele falando
atrás de mim pelos cotovelos — Como assim esse infeliz
pode te ajudar de uma forma que eu não posso? Eu sou o
seu homem aqui porra!
Apanhando uma folha de alface na bancada respondi
debruçando sobre a bancada:
— Eu não disse isso. Eu disse que ele podia me
ajudar de um jeito que me agradava, em momento algum
falei que você não poderia me ajudar.
— Por que não?
— Máximus tem coisas que a gente não pede para
um namorado, ainda mais num relacionamento recém-
nascido e conturbado como o nosso.
— Você pode me pedir o que quiser Eudora.
— Grandão já foi resolvido. — ergui as mãos para o
alto como se estivesse sendo assaltada — Você está
levantando entre nós um lance que já foi, acabou.
— Então prometa que daqui para frente não importa
o que seja falará comigo.
— Prometo. — recebendo um beijo seu no pescoço
enquanto suas mãos se apossavam do meu corpo.
— Tenho sua palavra?
— Só se me chamar daquele jeito... — falei fazendo
denguinho.
— Tenho sua palavra Tigresa?
— Tem sim. Tem a minha palavra seu tesudo.
Eu amava ter meu corpo tocado, ser cobiçada e ser
amada por ele. Mas a cada dia ficava claro que tomar a
decisão de deixar de ser uma Sugar Baby, apesar de
tentador, era a coisa mais acertada a ser feita. Eu queria
viver com Máximus, sem reservas, mentiras. Eu não queria
magoá-lo por nada no mundo. Eu queria entrar na vida de
Antonela, não parava de pensar nela. De que a vida
poderia, quem sabe, me dar uma segunda oportunidade de
ser uma mãe para uma garotinha da idade da minha. Isso
tudo me impulsionava, me fazia querer ser distinta e
exemplo para alguém. Eu estava virando uma mulher de
família.
n
Capítulo 21
Um Leão
M á ximus
Era mais uma reunião na mesma mesa para vinte e
quatro pessoas na Randor. Eu me impunha como presidente
por não aceitar erros primários nos setores de propaganda
quando o telefone tocou.
— Senhorita Webster eu não fui claro ao falar para
não me interromper?
— Desculpe senhor Spartacus, mas é do colégio de
sua filha.
— Minha filha? O que houve?
— Como o seu celular está desligado ligaram para cá.
— Aconteceu alguma coisa com a Antonela?
— O diretor pediu para que o senhor compareça no...
Larguei o aparelho na sala antes que ela completasse
a frase já acenando para os demais diretores e sócios de
que a reunião estava cancelada. Esse era o papai leão.
Quando o assunto era Adultinha eu virava o mundo de
perna para o ar por sua causa. No caminho do elevador já
fui afrouxando o nó da gravata, ligando meu celular
desesperado. Só conseguia imaginar minha filha
ensanguentada, machucada, chorando e eu privado de
estar ao seu lado. O motorista da empresa veio ao meu
encontro, mas o abandonei falando no caminho assim como
as pessoas da reunião. Apanhei minha moto no
estacionamento tentando ligar para a escola, mas ninguém
atendia o que fazia minha agonia aumentar ao ponto de me
fazer subir em minha Hollister Excite e esquecer até o
capacete. Fui rasgando entre os carros pouco me
importando com o mundo ou com as multas que eu
receberia se fosse pego por dirigir em alta velocidade e sem
capacete.
Ao chegar à escola deixei à moto no primeiro lugar
vago próximo a escadaria principal correndo pela mesma
como um atleta. Quando o assunto é Antonela eu fico louco
e perco mesmo a linha da coerência.
— Cadê a minha filha? — indaguei para uma senhora
que limpava o chão, como a pobre senhora poderia saber
quem era a minha filha ou me dar algum tipo de explicação.
— Senhor Spartacus. — uma moça que eu conhecia
da diretoria veio ao meu encontro.
— Onde está minha filha? O que aconteceu com ela?
— Calma senhor Spartacus, ela está bem. Foi um
probleminha administrativo.
— Minha senhora, não me leve a mal, mas só quando
estes olhos encontrarem os da minha filha ai poderemos
discutir se ela está bem ou não. Antonela!
Eu gritava pelos corredores imensos com ela atrás de
mim tentando me dar as direções de onde Adultinha estava.
Foi quando cheguei a sala da diretora e sem ao menos olhar
para seu rosto ou de quem mais se encontrava naquele
recinto avistei a minha garotinha sentada numa cadeira
com os ombros caídos. Aquilo me deixou muito puto.
— Filha? Filha! — Agarrando-a com toda a minha
força ergui-a no alto no calor do abraço e enquanto
escutava vozes ao fundo eu a coloquei no chão me
certificando de que não tinha nada sangrando ou alguma
parte machucada — Você está bem meu amor? Hein? Fala
para o papai.
— Estou sim papai. Calma. — tentou sorrir, mas
Antonela estava muito triste.
Sentei-a na cadeira mais aliviado pela sua
integridade física, mas pronto para explodir sem saber o
que viria a seguir.
— Senhora Marty, o que houve com a minha filha?
— É o que estou tentando explicar senhor Spartacus
desde que entrou aqui. Antonela não se feriu ou se
machucou. O que tivemos aqui foi uma dinâmica não muito
satisfatória entre ela e um coleguinha de classe e sua mãe.
— Como é que é? — já franzindo a testa.
— Parece que a senhora Elis Green, mãe de Thomas
Green da mesma sala de Antonela cometeu a indelicadeza
de pedir a prova de sua filha e...
— Indelicadeza nada! — Minha Adultinha se levantou.
Ela era impetuosa quando tinha a oportunidade de se
manifestar — A senhora Green arrancou a prova da minha
mão para ver a minha nota e quis saber o porquê eu tirei
dez e Thomas não. Então ela me trouxe para cá e perguntou
na frente da senhora se eu só tirava dez porque era uma
Spartacus ou porque era uma aberração da natureza que
grava tudo que ouve.
— O quê? — vociferei — ela tocou em você? Ela... —
passando as mãos pelos cabelos — Ela ousou tocar na
minha filha senhora Marty?
— Senhor Spartacus. Vamos tentar manter a calma
e...
— Manter a calma é a puta que pariu! Ninguém
chama a minha filha de aberração da natureza e sai ilesa
disso não! Cadê essa mulher?
— Senhor Spartacus olhe o linguajar!
— Linguajar é o escambau! Cadê essa mulher? Eu
quero ver a madamezinha do caralho chamar a minha filha
de alguma coisa na minha cara! — batendo na mesa sem
parar de punhos fechados.
— Calma papai, você está virando o papai leão. —
aquele era o código que usávamos toda vez que eu me
excedia.
— Filha, hoje o papai vai virar leão, urso, a porra da
selva toda! Eu quero essa mulher na minha frente agora ou
eu chamo a polícia, faço um boletim de ocorrência, levo a
minha filha para fazer corpo de delito e ainda por cima vou
meter um baita processo nas costas dela e da senhora. O
que prefere?
— Só um momento por gentileza senhor Spartacus.
Voltei meu olhar para Adultinha que com os olhos
arregalados me observava.
— Fica calma filha está tudo sobre controle. Papai
cuidará de tudo.
— Papai você está muito nervoso.
— Ninguém mexe com você e sai impune Antonela.
Ninguém! Isso é uma afronta filha, não se pode abaixar a
cabeça para esse tipo de comportamento. Isso é inaceitável.
De repente entra à senhora Green e a diretora na
sala. Cruzei os braços por algum tempo encarando de baixo
a cima a cara da fulana.
— Senhor Spartacus essa é a senhora Green. Ela
trabalha aqui conosco.
— Eu já vi esse seu rostinho sem graça por aqui
antes. — a diretora pigarreou.
— Eu gostaria de esclarecer senhor Spartacus que eu
fui muito infeliz em minha colocação e em minha atitude.
— Não! Não! Não! — meu dedo indicador ia de um
lado para o outro — A senhora não foi, a senhora é uma
infeliz.
— Senhor Spartacus... — A diretora tentou interferir
em vão.
— A senhora fica quietinha por gentileza que eu já
chego na senhora. Escuta aqui senhora Green, quem a
senhora pensa que é para tocar na minha filha? Para
arrancar a prova da mão dela e coagi-la quanto ao seu
desempenho na prova?
— Eu só queria saber...
— Que o seu filho é burro minha senhora? Então o
leve no psiquiatra no raio que o parta, mas não toque na
minha filha! — com o dedo em punho em seu rosto — Sabe
o que a senhora merece? Que eu a processe, mas sabendo
que trabalha aqui e tem seu filho para sustentar eu não vou
tirar o pão da sua mesa porque eu sei que a senhora... —
tapa o ouvido Antonela — A senhora não deve nem ter pelo
no cu para me pagar.
— Eu agradeço a sua generosidade senhor
Spartacus.
— Não faça mais isso com criança alguma. Se eu
fizesse isso com o seu filho, segundos depois iam falar que
eu me aproveitei da minha condição social e financeira para
espezinhar alguém da classe trabalhadora. Mas estou
falando isso não é por quem sou e sim porque não se trata
assim criança alguma, nem a minha ou a sua.
— O senhor é muito compreensivo Senhor Spartacus.
— A diretora se manifestou.
— Agora minha conversa é com a senhora. O que eu
deveria fazer é sair daqui e ir direto à delegacia e prestar
queixa, e fazer o blá, blá, blá todo. Isso aqui é uma escola.
Lugar de educação. Eu educo a minha filha para que ela
saiba se portar em qualquer lugar que vá, mas não para ser
desrespeitada.
— Se o senhor desejar o colégio pode mandar à
senhora Green embora.
— Senhora Marty eu não quero mais uma
desempregada no mundo, eu quero educação e respeito
com o próximo seja ele quem for. — ela abaixou a cabeça
revolvendo as mãos — Filha vem aqui por gentileza. —
Antonela veio em passos curtos até estar ao meu lado —
Essa menina vive para o conhecimento. Ela tem um dom.
Alguns cantam, outros dançam, ela aprende com facilidade.
Se uma escola não é capaz de incentivá-la e protegê-la
traindo a minha confiança por acreditar que esta merda
pode ser um segundo lar para ela, então esse lugar não
serve para minha filha. Vem filha, vamos embora daqui.
Passar bem senhoras.
Peguei na mão de Adultinha rumo à saída. Ainda
estava muito irado e por esse motivo meus passos eram
ligeiros que obrigavam as perninhas curtas dela correrem
para me acompanhar. Quando avistei a moto lembrei-me
que estava sem capacete tanto para mim quanto para ela e
também me esqueci de que ver a motocicleta era treta
entre nós dois.
— Você veio de moto papai? — com os braços agora
cruzados.
— Adultinha segura à onda que eu vou ligar para
empresa pedir para o motorista vir nos buscar. — ligação
feita, guardei o celular no bolso e ela lá parada feito gente
grande sacolejando a perna.
— O que nós já conversamos sobre você andar de
moto e ainda mais sem capacete? Tenho certeza que você
cruzou um monte de sinais vermelhos disparado entre os
carros.
— Filha... — passei a mão no rosto encostando-me na
moto.
— Papai, você é doido! Eu não gosto que ande nessa
porcaria e muito menos sem segurança.
— Eu vim salvar a senhorita. — tentei me defender.
— Não interessa. Viesse de carro. Papai, eu estou
cansada de ficar dando sermão em você por causa dessas
coisas que fica fazendo como se tivesse a minha idade. E se
você morre? Como eu fico? Papai eu te amo.
— Oh amorzinho... — pegando-a no colo mesmo tão
brava — Papai fica doido quando imagina que algo de ruim
possa ter acontecido com você. Eu já estava pensando se
você tinha se machucado, se estava com dor.
— Nossa como você é dramático. — suspirando.
— Por isso peguei a moto. Papai faz tudo para te
proteger.
— Você falou palavrão com a senhora Marty e me
falou para nunca dizer palavrão que é feio demais.
— É foi bola fora da minha parte, mas me dá um
desconto, papai estava muito apreensivo.
— Onde eu vou estudar?
— Vamos encontrar uma escola muito legal para
você. Papai promete. — ela me beijou sem pressa no rosto.
— Amo a forma como você cuida de mim papai leão.
Eu sinto que sou especial.
— Você é e sempre será a pessoa mais importante da
minha vida Adultinha. Não importa se tiver oito ou oitenta
anos. Papai arrumará um jeito de cuidar da Adultinha dele
do jeito que ela merece.
— Papai você chamou o menino de burro.
— É, eu admito que não foi legal. Mas foi a mãe dele
quem começou.
— Tia Austin tem razão.
— No que ela tem razão?
— Você não passa de um meninão de barba, terno e
tatuagens. Só tem uma coisa...
— E o que é?
— É o meu meninão de barba, terno e tatuagens.
Gargalhamos juntos e ficamos conversando sentados
na escadaria da escola até que o veiculo da empresa
surgisse, olhares curiosos e burburinhos passavam por nós
dada a cena na sala da diretora, mas outra vez eu estava
em paz, eu tinha protegido a minha garotinha e nessas
horas eu tinha muito orgulho de mim em poder ter o
privilegio de ser o seu pai.
d
Capítulo 22
Uma Noite Alucinante
Eudora
Não posso negar que um frio soturno surgiu em
minha barriga naquela noite em que deixei o meu
apartamento após desligar o celular me despedindo de
Máximus para o que seria a tal festa de despedida de uma
suposta amiga do trabalho. Mas por outro lado eu pensava
de que aquele era um mal necessário para enterrar de vez o
último sopro de minha vida promíscua. Eu devia isso a
Watson. Ele foi um grande amigo e um nobre cavalheiro em
minha vida. Quando entrei em meu carro certifiquei-me
como de costume de que não estava sendo seguida.
Máximus vinha cumprindo com sua palavra em não colocar
mais aqueles dois patetas atrás de mim, mas era a minha
velha e boa desconfiança que me fazia por hábito não
acreditar em ninguém.
No trajeto recordei da conversa que tive com Rita
que me apoiou para o meu espanto, da minha saída do site
como sugar Baby para entrar de vez no meu
relacionamento com Máximus. A única coisa que ela não
apoiou foi o meu pequeno segredo.
— Porra puta, como você não contou para o cara o
lance dos quinhentos mil?
— Rita, sério? Como eu teria a cara de pau de chegar
para o Máximus que conheci dias antes e dizer: “Olha só eu
preciso de quinhentos mil dólares para comprar a fazenda
da louca da minha mãe que só pensa em me ferrar!” Você
acha que teria condições?
— Eu acho que devia ter falado. Se esse homem
souber disso... Vai dar uma merda daquelas para o teu lado.
Não sei se ele aguenta isso não. Do jeito que você fala como
ele é.
— Rita, eu era puta, ele tentando namorar uma puta
profissional, e eu peço isso, o que grita na cabeça dele?
INTERESSEIRA!
— É... Olhando por esse lado você até tem razão,
mas...
— Eu fiz o que precisa ser feito e mais, era um
combinado entre nós. Cada um ia ajeitar as tretas passadas
para seguirmos adiante juntos. Então em caráter oficial não
menti. Eu dei meu jeito para resolver meu problema.
— E se um dia ele descobrir?
— Como? Só se você contar.
— Sabe que sou sua parceira. Mas e a festinha do
iate?
— Eu irei a uma festa de despedida de solteira de
uma amiga nova do trabalho.
— Sei. Por isso veio buscar cocaína comigo?
— O Watson gosta Rita. Como é uma despedida
estou levando para agradá-lo.
— Amiga... Cuidado. Fico feliz de ver você
caminhando numa boa. Eu não sei se você compreende de
verdade o que o Máximus fez na sua vida. Ele te deu um
rumo Eudora. Gosta e se importa mesmo com você.
— Eu sou apaixonada por ele Rita. Ele desperta em
mim sentimentos maravilhosos. Ele me dá a sensação de
que há um futuro para mim e para ele juntos.
— Vai lá ser feliz. Eu torço muito por vocês.
Eu tinha consciência de que aquela não era a
maneira correta de resolver a questão, mas era o único
meio que eu tinha, afinal de contas eu morria de medo de
perder o senhor Spartacus. Se eu contasse a ele sobre a
necessidade da compra da fazenda como qualquer homem
no mundo ele entenderia que eu estava bancando a
calculista para cima dele. Que eu era mais uma das muitas
que com certeza cruzaram o seu caminho. Pedaços de
memórias iam recortando pelo meu sentimento por ele.
— Então você sabe ser mau?
— Eu não sei, eu sou.
— Como você é arrogante não?
— O que interessa é ser competente — jogando
minhas costas na parede apertando meu queixo como se
fosse seu, sussurrando em seguida dentro do meu ouvido —
E isso Eudora eu sei que também sou.
Nesses pensamentos eu me lembrava de Guida o
que ela me diria sobre Máximus. Ele não faria o gênero dela,
grandão, tatuado, usando ternos de corte impecável e
endinheirado. Guida com certeza seria alucinada em algum
fazendeiro local pobre ou rico. Minha irmã viveu muito
pouco, porém era possível ver o romantismo nos olhos dela,
uma poesia não escrita, um beijo calado, um sentimento
que eu adoraria ter em mim.
— Você acha que a gente vai casar quando crescer
Dora?
— Você com certeza Guida, eu jamais.
— Dora você é a mais bonita da família.
— Mas você é a que todos amam.
— Eu daria tudo para ter isso que você tem Dora.
Você é forte. É impossível ninguém te ver quando você
chega em algum lugar.
— Claro. Todo mundo pensa ou cochicha: Chegou à
praga da família.
— Eu vou casar com um homem bem bonito e que
me traga flores.
— Bonito e que traga flores? Guida não acha que
está querendo muito não?
— Boba. Vamos brincar de casinha?
— Eu vou ser o noivo.
— Novidade Dora. Você sempre quer ser o noivo.
Esses recortes de memórias arrancavam tanto
lágrima como riso do meu semblante. O que eu não daria
para ter a minha irmã e a minha filha ao meu lado agora. Eu
daria tudo, mesmo não tendo nada. Tentei afastar a
saudade. As pessoas dizem que o tempo cura, mas não é
verdade, essa dor nunca passa, nunca mesmo.
— Você teve uma linda menininha, mamãe. — em
meus braços vi a face do meu pequeno anjo — Meu amor,
meu denguinho, como você é linda minha filha.
— Parece uma boneca não é mesmo? Como será o
seu nome?
Durante minha gestação Freya me atormentou o
quanto pôde. Era eu e ela numa casa no meio do mato com
uma praia deserta de fundo.
— Não perca seu tempo olhando para esses farrapos
que comprei para essa criança Eudora. Você não ficará com
ela, certo?
— Mas é minha filha mãe.
Seus olhos maldosos aproximaram-se dos meus
passando a mão pelo meu queixo.
— Você tem 16 anos e é a maior vergonha minha e
de seu pai. Engravidou de seu professor. Um homem
casado, e muito bem casado com dois filhos. Olhe para você
Eudora, seja sincera uma vez ao menos na sua vida, que
futuro pode ter essa criança em seus braços?
— Eu quero ser para ela o que você não foi para
mim.
Ela gargalhou retornando assentar num pequeno
sofá cruzando as pernas e apanhando de volta sua xícara de
chá de jasmim.
— Eu tenho o direito de ficar com ela mamãe. Não
precisa me apoiar ou falar comigo nunca mais. Apenas me
dê algum dinheiro e eu consigo me virar por um tempo com
minha filha até poder trabalhar e...
— Ah! Como você é idiota! — falou num tom
entediado — a única maneira de me livrar de mais
problemas com você é se livrando dessa criança.
— Eu não quero dar a minha filha! Ela é minha filha!
— Pensasse nisso antes de abrir suas pernas para o
professor e não pensar que não passa de uma menina rica
que depende dos pais para tudo!
— Freya, por favor... — colocando minha mão sobre o
ventre acentuado esperando o dia — Eu lhe imploro!
— Você não presta Eudora. Não prestou como filha,
como irmã e não prestará para essa menina.
— As pessoas mudam mãe.
— Eis aí uma verdade. Mas quem disse que você é
gente? — levantando-se do sofá deixando-me sozinha
remoendo minhas dores.
Até hoje não há um dia em que eu não sofra aquela
dor excruciante quando a assistente social tirou-a de mim.
Até hoje eu me questiono por que eu não fiz nada para
impedir. Sei que minhas chances eram ínfimas, afinal de
contas o que uma menina de dezesseis anos pode fazer
contra o mundo com uma criança nos braços, sozinha, sem
o apoio da família. Durante a vida ouvi alguns relatos de
outras garotas de programas que estiveram numa situação
semelhante, mas tinham o apoio dos pais ou a oportunidade
de que se escolhessem seus filhos seriam postas para fora
de casa. Eu não tive essa opção, porque se eu tivesse tudo
teria sido diferente.
Todos os dias eu imagino o rosto dela, se parece
comigo ou com o imbecil do pai. Se ela é uma garotinha
forte, se está com uma boa família, se é amada... São
tantos “Se” que me amedronta ainda mais. Aos vinte e um
anos eu tentei descobrir o paradeiro dela. Eu tinha um
cliente que era dono de um escritório de detetives
particulares. Por quase um ano ele tentou, mas foi tudo em
vão. Eu nunca soube nada sobre o seu destino e isso me
mata todos os dias. Olho para minha vida e acho que minha
mãe tinha razão, eu não presto e não poderia mesmo dar
nada de bom para minha menininha.
Deixei o automóvel no lado oposto da entrada
principal das docas. Assim o risco de ser vista era mínimo.
Caminhei até o iate que Watson me mostrara em foto. Já
havia passado por aquele lugar, na noite que conheci
Máximus Spartacus e passar pelo iate dele também ali
atracado a marina soou em minha alma o quão vagabunda
eu poderia estar sendo com ele só pelo fato de estar
naquele lugar. Às vezes essa onda me invadia me obrigando
a crer que esse meu senso de vira-lata em tempo algum
mudaria. De longe não avistei nenhum segurança em frente
à embarcação, uma das maiores e mais luxuosas que já
tinha visto.
Fui seguindo meu instinto até chegar e subir na
embarcação. Logo percebi que o tema da festa eram
tulipas, as minhas flores preferidas. Tudo muito claro,
ornamentado. Caminhei mais um pouco em direção ao
balde de gelo com um champanhe dentro foi quando meu
olhar o viu descendo pela escada com duas taças nas mãos.
Sorri diante de sua elegância. Um senhor anfitrião.
— Watson.
— Tara.
Ele me cumprimentou com um beijo na altura da
testa. Ofereceu-me a taça retornando ao balde apanhando a
garrafa onde fez graça vendo a rolha disparar sem rumo
dentro do ambiente.
— Primeiro às damas. — enchendo com classe minha
taça.
— Obrigada Watson. Sei o quanto é detalhista, mas
confesso que essa recepção me surpreendeu.
— Eu jamais sairia de sua vida sem lhe dar uma
lembrança inesquecível Tara. Brindemos?
— Sim.
— Ao que?
— A nossa amizade. As boas lembranças e esse elo
que nasceu entre nós. Um elo tão singular.
— Verdade. Saúde! — encostando nossas taças e em
seguida bebemos um pouco — Sente-se. O iate é seu. —
brincou.
— Conheço embarcações lindas, mas esta é
faraônica.
— Que bom que gostou. Quase nunca venho aqui.
Sempre disse aos meus filhos que comprei esse iate porque
seria um bom lugar para morrer.
— Nossa Watson! — batendo na primeira coisa de
madeira que vi — Nem brinque com essas coisas.
— Sentirei falta disso Tara.
— Disso o quê?
— Desse seu jeito de se importar comigo. Não me
incomoda se for ou não sincero, o que conta é que gosto
muito.
— Eu sinto muito ter que ser assim Watson. — eu
apreciava aqueles momentos com ele.
— E o seu homem de sorte? — sentou-se abrindo os
dois botões do seu terno.
— Foi uma luta despistá-lo para chegar aqui. Não
negarei que me sinto mal em fazer isso com ele.
— Eu agradeço sua consideração comigo Tara.
— Estive pensando... Se você quiser tenho amigas
que posso convidar para entrar no site e quem sabe você
não se interessa por alguma delas. — ele sorriu tomando o
restante do champanhe.
— Não. Mas obrigado pela sua atenção. Para mim
dessa experiência tão rápida o que levarei é essa afinidade
tão particular entre nós. Eu ainda não havia experimentado
algo assim.
— Eu também não. Parece que você faz parte da
minha vida desde sempre.
— Como nos divertiremos? O que trouxe para mim?
— Eu trouxe uns pinos de cocaína. A julgar como
você ficou soltinho da última vez achei que seria uma
excelente ideia.
— Você leu os meus pensamentos. Acho que me
tornei um velho insano de vez. — rimos mais.
A partir dali dançamos muito, bebemos mais ainda, o
mágico era que ele me fazia encontrar sentido na palavra
diversão sem sexo. O olhar dele sobre mim era de carinho.
De proteção. Às vezes ele me abraçava dizendo coisas.
— Eu adoraria tê-la conhecido em outro tempo. De
outra forma.
— Como, por exemplo...
— Um tempo que eu pudesse cuidar de você como
fiz com meus filhos. No fundo, atrás desse mulherão todo o
que resta, o que eu vejo é uma menina que deveria ter tido
um bom pai.
Eu me calei deixando me levar pela música.
Comemos muito pouco até que ele me pediu para pegar a
cocaína e fazer as fileiras com os pinos sobre a mesinha de
centro com as garrafas de bebida. A cocaína me tirava das
minhas feridas abertas e tão expostas, o curioso é que a
falsa alegria e o entusiasmo que ela causava no meu corpo
também era visível no corpo de Watson, como eu, ele
também tinha seus fantasmas no sótão. Foi na puxada da
quarta carreira que tudo aconteceu. Foi tudo muito rápido.
Ao colocar suas costas no sofá olhou-me de um modo
diferente e desconhecido até então, chegou a ensaiar
alguma palavra, mas tudo que fez foi desmaiar mesmo
diante de mim.
— Watson? Watson! Não brinque assim comigo!
Watson! — comecei a chacoalhá-lo. — Merda! Caralho! Que
porra está acontecendo aqui!
Por mais que eu o revirasse ele não acordava.
Procurei o toalete apanhando uma toalha molhada para
tentar passar em sua nuca e mãos, mas foi tudo em vão. O
desespero começou a tomar conta de mim ao checar que
ele parecia não ter mais pulso.
— Não é possível! Não! Watson!
Desnorteada, levantei com as mãos abertas tentando
raciocinar a situação. Outra vez recorri a minha memória
como uma prostituta experiente. Podia ser a primeira vez
que ocorria comigo, no entanto eu cansei de ouvir relatos
semelhantes e de como em todos os casos as garotas de
programas é que foram parar atrás das grades. Eram três
delitos: cocaína na mesa, vadia no chão e vida na prisão.
Na hora pensei em Máximus. Pensei no quanto eu o
desapontaria. Ele não merecia aquilo e vi que maldita foi a
hora que aceitei estar ali. Limpei a cena usando os truques
que aprendi com meu passado. Repousei o corpo de Watson
como se estivesse dormindo. Senti-me suja por fazer aquilo,
mas eu tinha que pensar em mim e em Máximus. Perder seu
amor para mim não era uma opção. Apanhei minhas coisas
partindo do iate depois de me certificar de que as docas
estavam vazias e seguranças só na entrada principal por
onde eu não havia passado.
A cada passo eu me questionava porque não voltei
lá, porque não chamei a emergência. Nessas horas o
sangue frio me dominava e eu me via como Freya tanto me
atormentou a vida inteira, de que eu não prestava, que eu
era má, egoísta, mesquinha e não colocaria nada ou
ninguém acima dos meus interesses.
A minha decisão não era a correta, mas eu não ia
jogar fora o amor da minha vida. O terror de ter um passado
como o meu amedronta em todos os momentos, mas
nessas horas é ainda mais aterrorizante. Eu tinha certeza de
que seria presa, condenada pelo porte de drogas, pela
morte de um milionário, porém o que mais me mastigava
era imaginar o semblante de frustração de Máximus diante
do que eu tinha feito. Isso me motivou a agir daquele modo
tão vil, tão frio e tão cruel. Desapontar a única pessoa que
me levou a sério e me amou como eu era tornou-se uma
circunstância que eu não poderia suportar e por Máximus eu
deixei Watson padecer sem socorro para trás.
Recordei do meu encontro com Antonela. Do que
aquela criança tão particular despertou em mim quando
meus olhos bateram sobre ela. Foi como ter a oportunidade
de sonhar em ver em sua face o rosto da minha menina
perdida nesse vasto mundo.
— Eudora, essa é a...
— Filha dele! Você é a senhorita Eudora Tyr, a garota
do papai. — atravessando a frente de Máximus com um riso
proeminente e sua mão esticada — Muito prazer Eudora.
Sou Antonela Spartacus. Tudo bem com você?
Embora fossem umas oito horas de uma noite sem
estrelas aparentes foi como estar diante do sol ao meio dia.
— O prazer é todo meu. — segurei o quanto pude as
batidas do meu coração ao sentir o toque da sua pequena
mão.
— Papai tinha razão.
— Razão? — olhei para Máximus que nos assistia
com certo orgulho com as mãos dentro do bolso da calça
jeans.
— A senhorita é muito bonita.
Agachei-me a sua altura só para lhe dizer:
— Eu sou apenas Eudora, Antonela.
— Maravilha! Odeio essas cerimônias. — revolvendo
os ombros como quem tem repulsa roubando do meu rosto
um riso tão intenso e ingênuo como aquele olhar vibrante.
— Nossa mesa nos espera senhoritas. — voltei a
notar a presença de Máximus — Vamos jantar?
— Estou faminta e você Eudora?
— Um pouco. — sussurrei ainda embevecida pelo
encanto daquela mocinha.
Antonela segurou firme a minha mão e a do pai nos
puxando para dentro do restaurante especializado em
comida italiana. Percebi o quanto ela queria ser simpática
comigo. Lá dentro um garçom nos conduziu até a mesa
reservada, cavalheiro, Máximus puxou a cadeira primeiro
para ela, o que me fez me apaixonar ainda mais por ele, ver
um homem que não cede diante dos seus sentimentos por
uma mulher diante da sua filha.
— Não papai... — ela o puxou pelo punho — Primeiro
ela! — como se tudo aquilo fizesse parte de um plano deles.
Máximus sorriu para mim oferecendo-me o lugar e em
seguida fez o mesmo para Antonela.
— Ele é cavalheiro como pôde perceber Eudora. Ele
sempre faz isso. Como pode ver ele tem potencial para ser
um marido incrível e romântico. — aproximou-se do meu
ombro cochichando — E se ele não for eu tenho os meus
truques para que isso aconteça. Não se preocupe. —
roubando uma gargalhada minha e um sacolejar de cabeça
de Máximus.
— Adultinha não começa.
— Não começa o quê?
— A sua campanha para me desencalhar.
— Estou mesmo numa campanha para que
desencalhe. Você é homem demais para uma mulher como
eu. — ri demais outra vez.
— Você não quer ir ao toalete lavar as mãos filha? —
ela não debateu nem por um segundo, erguendo-se da
mesa pedindo licença como se fosse uma dama.
— Não quer que eu a acompanhe Antonela? —
ameacei levantar-me.
— Não, não, não! — com as mãozinhas abertas no ar.
— Eu conheço o caminho. Mas agradeço a sua gentileza.
— Ela sabe onde é? — regressei a postura em minha
cadeira.
— Esse é o restaurante preferido dela. Conhece tudo
de trás para frente amor. Olha... Desculpe-me Eudora, como
lhe disse antes esse é o jeito dela.
— Imagine Máximus, estou adorando Antonela. Ela
tem uma energia inexplicável e me fez pensar na minha...
— só então notei minha voz embargando.
— Não pense nesse assunto. Eu posso imaginar o
quanto isso te machuca.
— É um vício. Sempre que olho para uma menina que
tenha mais ou menos a idade dela... Eu... Eu penso. Parte de
mim parou no tempo sabe, no momento em que a entreguei
nos braços daquela assistente social para adoção.
— Sinto tanto por você. — levando minha mão aos
seus lábios em pura cumplicidade com minha dor.
— Mas você tem razão. Tentarei não pensar nisso
agora.
De repente ela surgiu com passos que me levaram
ao tempo em que vivi na fazenda. Aqueles passos
saltitantes que toda criança gosta de fazer sem pensar em
nada.
— Demorei? — sentando-se.
— Não.
— Desculpe-me papai eu tentei levar o Máximo de
tempo possível para abrir e fechar a torneira. Foi mal.
— Vamos pedir? — ele sugeriu apanhando os
cardápios já em cima da mesa.
Pedi o mesmo que ela, mesmo não gostando de pizza
de quatro queijos. Máximus sabia sobre esse meu gosto em
particular e sorriu com os olhos ao observar que eu também
tentava fazer o meu esforço para agradar sua princesa.
— O quê? — vi no rosto de Máximus algo
preocupante — Um minuto. Querida fique aqui com a
Eudora, papai precisa atender essa ligação logo volto.
Então ficamos nos admirando por um tempo. Eu não
me cansaria de contemplar aquele semblante tão único e
cheio de vivacidade.
— Você é mesmo bonita.
— Obrigada. — soltei num sussurro ainda
maravilhada por ela.
— Olha o papai não me falou, mas eu escutei uma
conversa acalorada dele com o tio Brad sobre seu passado.
Eu não me importo de você ter sido prostituta. Eu não julgo
ninguém porque não gosto de ser julgada. — a afinidade só
fazia crescer de minha parte por ela.
— Outra vez obrigada.
— Você tem filhos?
— Sim... Quero dizer... É complicado de explicar. —
fiquei perdida sem saber como responder aquela simples
pergunta.
— Menino ou menina?
— Menina.
— Criança ou adolescente?
— Mais ou menos a sua idade.
— Ela seria uma sortuda.
— Por que acha isso?
— Você deve ser uma mãezona. Talvez a melhor de
todas.
Num ímpeto a trouxe de sua cadeira para o meu
colo. Aquela garotinha de mente acesa não fazia ideia de
que estava me libertando de uma vida inteira sendo
violentada pelas palavras de Freya de que eu não servia
para ser mãe.
— Muito obrigada Antonela. Significa muito para eu
ouvir isso de você.
— Não chore. Vai estragar a sua maquiagem.
— Verdade. — limpei o canto dos meus olhos.
— Você tem mãe?
— Tenho, mas ela não liga muito para mim.
— Jura? — seus olhos brilharam — Temos algo em
comum. A minha mãe também não liga para mim.
— Sente a falta dela?
— Sinto a falta de ter uma mãe. Mas sei que a Laura
não pode ser o que eu preciso.
— Eu entendo você. — admiti.
— Papai não gosta de me apresentar às namoradas
dele, você deve ser muito especial. Ele acha que eu posso
me apegar a elas e se o relacionamento não der certo e isso
acabar me ferindo como ele acha que Laura me feriu ao me
abandonar com ele. Homens! — erguendo as mãos até a
altura do rosto — Sabe como eles são tolinhos não sabe?
— Sim. Sei. — ri deslumbrada com a sua
desenvoltura.
— Você gosta de mar ou montanha?
— Montanha. Adoro o mato. Cresci numa linda
fazenda usando botas, andando em cavalos e desbravando
a natureza.
— Sua filha com certeza ia adorar um lugar assim. Se
quiser pode me convidar. Eu não gosto dessa selva de pedra
onde vivemos. Isso é coisa do papai.
— Você tem irmãos?
— Eu tive. Uma irmã, mas ela faleceu muito cedo.
Acontece.
— Eu adoraria ter um irmão ou irmã. Já cansei de
pedir isso ao meu pai, mas pelo andar da carruagem
quando ele me arrumar um eu já terei idade para ser a mãe
da criança. — gargalhei invadida na leveza que Antonela
emanava.
— Ele precisa encontrar a pessoa certa. Você é o
bem mais precioso dele Antonela.
— Eu sei. Ele é o melhor pai do mundo. Mas você
sabe um homem quando tem duas mulheres em sua vida
acaba tirando o foco total só de uma e essa uma no caso
sou eu. Tem dias que o papai me sufoca Eudora.
— Ele só quer te proteger. Os pais... As mães de
verdade são assim. — acariciando seus cabelos.
— Eu adoraria que ele arrumasse uma moça bonita,
assim mais ou menos como você. Mais ou menos da sua
altura com mais ou menos a sua beleza.
— Você é muito esperta. — de repente vi seus olhos
se entristecerem.
— Eu trocaria toda minha inteligência para ser a
menina mais burra do mundo se Deus me trouxesse uma
mãe de verdade.
— Mas seu pai é maravilhoso. Acabou de mencionar
isso.
— Meu pai é ouro Eudora. Mas uma mãe de verdade
é diamante. Sempre.
p
Capítulo 23
Um Alvo Ambulante
Eudora
Entre carros e seus faróis me vi desnorteada. Eu
repetia incansável que ninguém havia me visto. Que minha
presença naquele iate não seria detectada. A adrenalina
fazia todo meu corpo estremecer sem controle. Atravessei
um farol ainda com o sinal aberto e quase batendo em outro
veículo. Dirigi até o apartamento de Rita subindo pelas
escadas. Eu não queria ser vista ali para não comprometê-la
de modo algum. Ao ver minha figura pelo olho mágico ela
abriu a porta sobressaltada.
— O que foi? — entrei como um gole d’água numa
garganta seca — Puta o que aconteceu?
— Fecha essa porta Rita! Deu merda! Deu merda na
porra toda! — ajudando-a a trancar a porta.
— Eudora, pelo amor de Deus, o que está havendo?
— Eu não sabia para onde ir! Eu não sei o que fazer!
O que pensar!
— Senta e me explica. — agarrando-me pelos punhos
jogando nossos corpos em seu sofá. — então relatei a ela
todo o ocorrido.
— Caralho! Puta que pariu! Eudora! Não acredito!
— Fudeu tudo Rita. — minhas mãos entravam e
saíam dos meus cabelos em puro frenesi — O que eu vou
fazer amiga?
— Calma! — ela pediu segurando meu rosto — Razão
acima de tudo. A porra já está feita mesmo. Agora temos
que raciocinar.
— Eu não o matei Rita! Eu não sou uma assassina!
— Calma pet, eu sei que você não é. Eu sei que não
fez isso. O cara deu um mal estar qualquer e foi. Merdas
acontecem e nós duas sabemos disso melhor do que
ninguém.
— Mas quem acreditará que a culpa não é minha?
Sabemos que a culpa sempre é da prostituta.
— Você não era uma puta. Não estava como puta lá.
O lance é outro, a parada é outra! O problema é que nesse
sistema os caras são muito, muito poderosos.
— E se o Máximus sonha com isso? Rita, eu não
quero perdê-lo! Eu só aceitei colocar um ponto final nisso
com o Watson para ficar de boa, ficar sério com o Máximus.
Não quero decepcionar o homem que eu amo!
— Calma mulher! Vamos pensar juntas. — por um
momento respirei — Tem certeza de que ninguém a viu?
— Tenho. Absoluta. Entrei por um lugar que não tinha
ninguém. Escuro, não encontrei nem seguranças pelo
caminho.
— Isso já é uma coisa boa dada à circunstância.
— Eu não queria tê-lo deixado lá daquele jeito Rita.
Watson foi tão legal comigo. Eu tinha carinho por ele. Por
que eu fui aceitar essa maldita festinha de despedida!
— Eudora como você ia adivinhar que uma merda
desse tamanho ia acontecer? Acho que nem um vidente
poderia.
— Mas eu levei a cocaína Rita. Eu poderia ter
chamado a ambulância para ele. Eu não fiz isso. Meu Deus
eu sou um monstro mesmo!
— Eudora, você fez o que qualquer puta que se preze
faria, salvou a sua vida porque sabe que a corda sempre
arrebenta para o lado mais fraco. Os nobres mortais talvez
não admitam isso, mas quem é do ramo sabe que nessa
hora preservar a própria pele é instinto de sobrevivência.
— Ai meu Deus! Agora que estava tudo indo tão
bem. Minha vida tomando rumo.
— Calma. Você pode ter perdido a batalha, mas não
perdeu a guerra.
— O que farei? — minha agonia não cabia mais em
meu peito.
— Acho que você precisa contar ao seu boy magia.
— Máximus? Rita, se eu contar isso para ele... —
gargalhei de tanto nervosismo.
— Você não tem outra opção Eudora. Conta à
verdade para ele, porque se ele ouvir da sua boca você tem
uma chance de que ele fique do seu lado. Essa merda pode
feder e se ele estiver contigo você pode ter uma
oportunidade de defesa. Ele pode protegê-la.
— Não farei isso. Não vou! Você não conhece o
Máximus — comecei a caminhar pela sala desesperada —
Se ele... Se ele sonhar que eu estive me encontrando com
outro homem, se ele souber que esse homem me deu o
dinheiro da fazenda...
— Fala a verdade, que não rolava sexo, que havia um
acordo, fala como é o mundo dos Sugar Daddys e Sugar
Babys. Puta, não esconde isso dele. Você tem que falar!
— Mas ninguém me viu.
— Eu sei. Pode ser que ninguém nunca saiba que
você esteve lá, mas também pode ser que sim. Quando
souberem quem é o cara...
— Nem eu sei o nome verdadeiro do Watson.
— Nenhuma de nós sabe Eudora. Mas sendo sincera
amiga, eu duvido muito que essa porra não se espalhe com
todo glamour que tem direito.
— Não posso contar isso para Máximus! Ele vai me
odiar. Ele não suporta mentiras Rita. Ele me apresentou
para a Antonela, ele nunca apresenta uma namorada assim
para ela.
— Você não está raciocinando. — gritou — Você não
matou ninguém. Ele usou a cocaína por que quis.
— Mas eu omiti socorro! Você acha que o Máximus
acreditará que uma mulher com o meu repertório estava só
servindo de tardes de entretenimento com o Watson?
Nunca!
— O que acha que vai doer menos nele: Saber do seu
envolvimento pelos jornais e mídia sensacionalistas ou
escutar da sua boca? — calei-me nesse momento — Ainda
tem outra coisa... O caso pode ser abafado por ser um
magnata e o site não querer que o lance dos Daddys e
Babys seja descoberto, mas ainda assim você pode estar
em perigo. Queima de arquivo, não percebe isso? Você
precisa da ajuda do Máximus. Só tem a ele para recorrer.
Enfim respirei processando tudo que Rita me dissera
naqueles últimos segundos. Se a mídia não caísse em cima
do caso eu era um alvo ambulante com uma escrita “Acerte-
me” no meio da testa. Ela tinha razão apenas Máximus
poderia me oferecer proteção o que nem ela ou eu
podíamos prever é a que preço isso se daria.
e
Capítulo 24
Meu inferno em vida
M á ximus
Eu relia alguns contratos da empresa fechados no
último semestre para me preparar para a reunião do dia
seguinte, quando ela visitou o meu quarto. Primeiro foi um
calafrio subindo em minha espinha, depois uma sensação
ruim invadindo meu peito. Algo tão forte que me petrificou
por um instante, que pareceu mais uma eternidade.
Em seguida corri para o quarto de Austin, naquela
noite Antonela dormia com ela e ao abrir a porta com certa
grosseria, acordei minha irmã que colocou a mão a frente
dos olhos dada à luz do corredor que entrou comigo. A
primeira coisa que passou pela minha cabeça foi inventar
que tinha sentido saudades dela e de Adultinha beijando-as
e em seguida deixei o quarto ainda possuído por aquela
impressão tão ruim de que minha vida mudaria para
sempre.
Apanhei meu celular ligando para Eudora, mas ela
não me atendeu. Fiquei puto na hora, mas lembrei-me da
festa que ela havia me dito, foi quando ainda vagando pelo
corredor me deparei com a porta do quarto de tio Brad. Por
alguma razão eu tive medo de bater em sua porta, meus
passos se tornaram vagarosos, minhas mãos suavam e eu
me vi como o menino que tinha medo do escuro e saía
correndo em direção àquela porta quando criança.
Toquei na maçaneta com cuidado, entrando no
quarto depois de sussurrar o seu nome algumas vezes sem
conseguir resultado algum. O ruído pesado da porta levou
meu rosto para dentro do recinto e ao ver a cama de tio
Brad intacta um terrível sentimento aumentou ainda mais,
alimentando meus pensamentos ruins.
Eu sempre carreguei um verdadeiro pânico dentro de
mim: O dia que ele se fosse desse mundo. Eu tinha
pesadelos com isso quando criança, tamanho o meu pavor.
Achei que com trinta e cinco anos eu tinha superado, mas
com aquela sensação no meu peito, aquele arrepio
percorrendo meu corpo, petrificando meus órgãos, eu vi que
ainda era real e eu não fazia ideia de como seria minha vida
sem ele. O transe era tão profundo que não sei precisar
quanto tempo levei para que eu sentisse meu celular
vibrando.
Era o número de um dos advogados da Randor. Seu
nome era Richard Wilson, um amigo íntimo de tio Brad
nomeado há muitos anos para ser o seu porta-voz quando
coisas ruins acontecessem. Foi assim que eu descobri que o
meu maior temor chegou para me derrubar. A morte veio
me visitar.
— Onde foi? — eu queria respostas.
— Máximus... Olha eu...
— Eu sei que aconteceu algo terrível com meu tio,
Richard. Nem tente vir com conversa mole. Onde você está?
— No iate dele. — seu tom de voz fez um nó se
revolver no meu estômago.
— Estou indo para aí agora!
— Máximus eu acho melhor...
— Richard em vinte minutos estou aí. — desligando
meu celular.
Corri ao quarto colocando a primeira calça que
encontrei, peguei minha carteira saindo com minha
camiseta branca de dormir. Entrei no carro e algo me cegou.
Não consigo lembrar-me de como cheguei até o cais ou no
que pensei nesse meio tempo. Quando dei por mim Richard
e alguns policiais estavam a minha frente enquanto outros
entravam e saíam do iate com suas maletas pretas.
— Senhor Spartacus sou o detetive Higgs e esse é o
detetive Casanova. — Apertei suas mãos sem tirar meus
olhos daquele iate.
— Máximus... — Richard tentou pegar pelo meu
antebraço, mas me desvencilhei dele.
— Eu quero entrar lá!
— Não. Melhor não Máximus.
— Eu vou entrar Richard! — empurrando-o — A única
coisa sensata que pode fazer é vir comigo ou não. — seu
olhar amigo me mostrou conivência e ele me seguiu.
Não me permitiram chegar até a cena onde tudo se
dera, mas ao ver o corpo do meu tio jogado naquele sofá,
inerte, sem aquela sensibilidade que ele trazia na alma,
deixando seu olhar vazio, eu também morri. Tentei me
segurar o quanto pude em nome de tudo que ele me
ensinou, mas no minuto seguinte desabei ali mesmo por
dentro sem poder acreditar no que meus olhos
contemplavam. A maior lenda viva de minha vida, Brad
Hawks, morrera.
— Máximus...
— Por que a polícia está aqui Richard?
— Um dos funcionários do cais achou estranho o iate
sem escolta e com todas as luzes acesas sem aparente
movimentação e entrou para ver o que estava acontecendo
quando viu o Brad no sofá.
— Mas isso não é um crime.
— Bem... — coçando sua cabeça — Mas é o protocolo
da marina. Se alguma morte acontece precisam chamar a
polícia.
— Ele deve ter tido um mal-súbito. — deduzi.
— Máxímus... Ainda está tudo muito nebuloso, mas
não foi algo tão simples. Na verdade ainda é um mistério.
Enfim deixei meus olhos caírem sobre a face de
Richard.
— Mistério? Como assim?
— Foi encontrada uma considerável quantidade de
cocaína sobre a mesa. Segundo os legistas que chegaram
no primeiro momento, foi o que matou o Brad.
— Cocaína? Pelo amor de Deus Richard! Estamos
falando do meu tio. Um homem correto.
— Eu sei Máximus. Eu conheço Brad desde antes que
você nascesse. Eu sei quem ele era. Mas a verdade é essa.
E tudo leva a crer que ele não estava sozinho. — no mesmo
segundo recordei daquela conversa na mesa de jantar, onde
ele deixou passar que havia conhecido alguém.
— Uma mulher estava aqui com ele.
— É quase uma certeza.
— Já sabe quem era?
— Os policiais estão procurando as últimas imagens
da chegada dele. Com certeza com os números de câmeras
desse lugar se mais alguém entrou no iate nós saberemos.
— Eu quero ver quem ela é assim que a acharem.
— Máximus...
— Ela é minha, Richard.
— Máximus nós ainda não sabemos em detalhes o
que aconteceu aqui e...
— Ela é minha, Richard! Isso é uma ordem, ouviu
bem?
— Pode deixar.
Para meu espanto uma força descomunal nasceu em
mim. Deixei o espaço com a certeza de que o lugar de
patriarca da família era meu. Esse foi o maior legado que
meu tio me deixou, a responsabilidade de manter nossa
família unida e fazer o possível para fazer com que todos
ficassem bem. Ao entrar no carro eu pensei em Eudora. Eu
precisava dela ali ao meu lado naquele momento de dor tão
abissal e cruel. Liguei de novo e outra vez minha ligação
caiu na caixa postal.
“Por favor, Tigresa liga para mim assim que ouvir
essa mensagem. Uma coisa horrível aconteceu e eu estou
precisando demais de você aqui comigo. Te amo. Beijo ”.
Para o meu espanto nem mesmo a mensagem que
enviei via aplicativo foi visualizada. Agora eu começava a
me preocupar com ela também. Naquela agonia fiquei
pensando quando e como contaria a Austin e a Antonela. Eu
me dividia na minha dor e na obrigação de protegê-las, com
a sede de caçar a tal mulher que com certeza teve total
ligação com a morte do meu tio.
Brad Hawks em tempo algum foi um homem ligado a
nada que fosse ilícito. Essa pilantra devia ser uma bela filha
da puta que revirou os seus sentidos e o dopou para tirar
algum proveito e ao ver que tudo não saíra como seu
intento, o largou como um animal na beira da estrada, como
se ele não valesse nada. Para essa fulana a minha ira seria
solta com todo ódio mascarado pela intensidade, pela gana
de destruí-la a qualquer preço. Eu arrancaria a pele dela
com as mãos com um farto riso nos lábios. Eu vingaria a
morte do meu tio.
t
Capítulo 25
Sem Coragem
Eudora
Voltei para o meu apartamento com uma única
certeza: eu sumiria do mapa por alguns dias. Eu precisava
colocar a cabeça no lugar e pensar no que fazer. Eu
precisava me refazer para encontrar um meio de contar a
Máximus o que havia acontecido. Com sorte a morte de
Watson seria abafada pela sua posição social e isso me
daria algum tempo para contar a Máximus a verdade.
Na bolsa apenas algumas peças, carteira e as chaves
da fazenda. Se havia um lugar no mundo que podia me dar
alguma sensação de segurança esse lugar era a fazenda. Eu
tinha que me conectar com aquela terra outra vez para
apaziguar meu espírito tão abalado. Por ironia um lugar que
só voltou a ser meu graças a Watson.
Na estrada vi a primeira vez que ele me ligou.
Ignorei-o, eu não tinha coragem ou vontade de dá-lo
qualquer explicação naquela ocasião. Não queria mentir
para ele e não estava pronta para lhe contar toda a verdade
como ele desejaria que fosse.
A cada quilômetro eu me via deixando para trás a
minha vida, uma vida que sonhei tanto e que ao conquistá-
la tive que abandoná-la. Outra vez pensei no que Freya me
falou a vida toda, que eu não prestava e matava tudo que
dizia amar.
Meu coração ruía por mentir para Máximus, por
decepcionar tanto a ele quanto Antonela. Aquela menina
trouxe dentro de mim a capacidade de compreender de que
ainda havia uma possibilidade de ser uma boa pessoa, uma
boa mulher e em especial uma boa mãe. As lágrimas iam
descendo pelas maçãs do meu semblante como chuva de
verão, que ao invés de refrescar vem trazendo desgraça e
dor diante da força de sua intensidade.
Fiz a minha escolha, mal sabia eu que toda a minha
vida que julguei uma desgraça durante tanto tempo na
verdade, não passou de um aperitivo que o diabo preparou
para mim. O inferno estava em festa.
m
Capítulo 26
Sem Chão
M á ximus
Decidi que não poderia esconder a verdade de Austin
por muito mais tempo. O caso logo ganharia proporções
meteóricas e eu e minha irmã tínhamos o hábito de contar a
verdade um para o outro não importasse quão dura ela
fosse. Esse era o nosso código. Por outro lado também
decidi que não sairia de perto das investigações até que
tudo fosse esclarecido e meus olhos caíssem sobre a face
da puta que a princípio estaria com tio Brad.
— Máx? Cadê você? Eu levantei te procurando pela
casa inteira e nada. Você está com a Eudora? Olha Antonela
acordou assustadíssima. Teve um daqueles pesadelos dela.
Disse que viu o tio Brad morto. Agora está com febre,
mediquei como sempre e voltou a dormir. Mas ela está bem,
não se preocupa e... — só então ela notou o meu silêncio do
outro lado da linha — Máx... Irmão o que houve? Por que
está tão calado?
Antonela tinha o que algumas pessoas chamam de
dom da premonição. Não era a primeira vez que ela
sonhava com coisas que estavam prestes a acontecer e
sempre que isso se dava ela acordava com uma febre muito
insistente e um medo em seus olhos que me assustava
porque nada, além disso, espantava tanto a minha
Adultinha.
— Irmã... Precisamos ser fortes.
— Máx você está me assustando. Fala! Não brinca
comigo assim!
— Quem me dera poder estar brincando Austin. — a
minha voz embargou lembrando-me do sorriso do meu tio e
do calor do seu beijo no meu rosto.
— O que aconteceu?
— Tio Brad. — engolindo a minha voz embargada.
— O que tem o tio Brad?
— Ele se foi irmã. — a frase que eu mais temia em
toda minha existência agora era um fato.
— O quê?
— Fica calma. Não deixa a Antonela desconfiar. Eu
quero contar para ela.
— Máx pelo amor de Deus! Como assim o tio se foi?
— Ele foi encontrado no iate. Parece que ele teve um
mal-súbito devido o uso de cocaína. Já o encontraram sem
vida Austin.
— Máx... Cocaína? Não estamos falando do nosso tio.
Isso não pode ser verdade. Eu vou para aí!
— Não. Preciso que você fique com Antonela. Austin
tudo que pode ser feito está sendo feito. Confie em mim.
Estou aqui com a polícia...
— Polícia?
— Austin... Lembra-se daquela mulher que o tio Brad
comentou por alto com a gente num dia desses no jantar?
— Claro. Ele parecia muito feliz.
— Pois é. Segundo os detetives e um funcionário da
marina pode ser que uma mulher estivesse com ele. Na
minha cabeça só vem essa desgraçada.
— Mas como saberemos?
— A polícia está averiguando imagens de quem
entrou e saiu do iate. Se essa filha da puta esteve aqui
saberemos daqui a pouco como é a cara dela.
— E por que ela não está aí?
— Porque é óbvio que ela estava aplicando um golpe
no tio Brad, caralho! E como não deu certo ela abandonou
ele aqui.
— Ela omitiu socorro?!
— Ela matou o nosso tio. Seja do jeito que for. Essa
piranha foi à causa da partida dele Austin!
— Calma Máx. A gente precisa ter calma agora.
— Não conta nada para Antonela. Eu quero falar com
ela está bem?
— Não conto. Máx...
— O quê?
— O que será de nós agora irmão?
— Não tenha medo Austin. Estou aqui. Eu continuarei
sendo o que o tio Brad foi para nós. Eu vou proteger você e
Antonela contra tudo e todos. Vai ficar tudo bem.
— Irmão... Eu te amo.
— Também te amo. Seja forte. Antonela precisa de
nossa força e era esse o desejo do nosso pai postiço. Olha,
não fala com nenhum repórter. Nada de mídia. Não atende o
celular a não ser que seja eu a ligar, ok?
— Pode deixar. Eudora está com você?
— Não. Estou tentando falar com ela, mas ela foi a
uma festa de despedida acho. Eu não sei direito. Mas
continuarei tentando falar com ela.
— Cuide-se irmão.
— Eu dou notícias em breve. Beijo.
Em meio aquele amontoado de emoções tendo que
comprimir minha tristeza, respirei um pouco aliviado e
agradecido a Deus pela irmã que tenho. Não tive um pai e
uma mãe que valessem a pena, mas tive uma irmã que
supriu toda e qualquer expectativa. Minha melhor amiga.
Minha parceira. Meu orgulho.
Eu bloqueei pensamentos sobre tio Brad para não
ruir diante dos outros. Agora eu era o homem forte da nossa
família. Eu tinha que aguentar o tranco e fazer o que era
possível para que tudo tivesse o melhor fim dentro das
atuais circunstâncias.
— Máximus. — escutei a voz de Richard ao longe me
chamando com um aceno de mão. Desesperado, fui até seu
encontro em passos largos.
— O que foi?
— Acharam! Acharam a mulher que entrou no iate.
As imagens mostram que primeiro Brad entrou e depois de
um tempo ela, e a hora que ela deixou o iate.
— A hora da morte.
— Com certeza Máx.
— Você a conhece? — eu o seguia até a entrada de
segurança do cais.
— Nunca a vi antes. Mas fica claro que ela entrou e
saiu mantendo o cuidado de não ser vista.
— Vagabunda! Piranha do caralho!
— Calma Máximus. Você precisa manter a cabeça no
lugar. Só sabemos que ela esteve com Brad, mas não o que
aconteceu lá dentro.
— Brincaram de damas Richard. Pelo amor de Deus!
Quem você quer enganar?
— Ok! Ok! Vamos ter paciência. É por aqui.
Às vezes a vida decreta cenas em seu destino dando
a entender de que ela não passa de uma maldita sádica,
pronta para rir da sua cara na ocasião mais tenebrosa da
sua existência. Nunca me julguei um cara perfeito, longe
disso, a chegada da minha filha me mudou demais. Mas
também sei que estou longe de ser uma pessoa ruim. Há
coisas que nenhum ser humano deveria ter que enfrentar.
Porque é duro, é dilacerante, é muita sacanagem. Entrei
naquela pequena sala com gosto de sangue na boca. Eu
queria ter o prazer de ver aquela mulher sem fazer ideia de
que quando isso se desse o meu maior desejo seria voltar
no tempo e jamais ter visto aquelas imagens.
— O senhor a conhece senhor Spartacus?
Tio Brad me ensinou que se há uma pergunta é
porque em algum lugar há uma resposta. Mas ao escutar a
interrogação de um dos detetives, eu confesso que não
soube o que responder. Entrei numa espécie de transe. Não
conseguia nem mesmo sentir a minha respiração. Lá estava
Eudora Tyr. A mulher que eu amava, que eu me dei, que eu
fiz de tudo para resgatar da prostituição, que eu pensei em
ter uma família, que permiti se aproximar da minha
Antonela como jamais tinha feito antes. Era ela quem tinha
entrado e saído daquele iate onde meu tio morreu sob
circunstâncias mais que comprometedoras.
— O senhor a conhece senhor Spartacus?
A pergunta se repetiu e eu me perguntava sobre o
que dizer. Eu poderia ter dito que sim, que era minha
namorada, talvez isso abafasse todo escândalo que a morte
de Brad Hawks causaria, afinal, por mais duro que fosse,
uma traição em família era um fato mais “fácil” de se lidar.
Mas por que eu faria isso? Por que eu a protegeria depois de
toda farsa que ela vinha montando para mim e para o meu
tio? Imaginar que a minha mulher estava saindo com o meu
tio e enganando tanto a ele quanto a mim, me fez ter além
de nojo um ódio mortal de Eudora. Fechei os pulsos assim
como meu semblante e comecei a apostar pesado num jogo
que ela não fazia ideia de como eu sabia jogar.
— Não. Eu não conheço essa mulher.
— Teremos que aproximar o Máximo a imagem do
seu rosto e colocar num banco de dados. Com sorte, talvez
ela seja fichada. — disse Richard.
— Algo me diz que ela é. — coloquei as mãos nos
bolsos da calça saindo dali o mais rápido que pude.
— Máximus!
— Richard faça o que for possível para encontrar
essa mulher e quando isso acontecer, eu quero cinco
minutos sozinho com ela.
— Máximus as coisas não são assim e...
— Suborne. Mexa seus pauzinhos. Vire-se! Eu quero
cinco minutos sozinho numa sala com essa puta! Mantenha-
me informado.
— Para onde você vai?
— Para casa. Preciso cuidar da minha filha e da
minha irmã e do funeral do meu tio.
— Eu posso pedir para alguém próximo para cuidar
disso Máximus.
— Não obrigado. Eu faço questão. Quero prestar essa
homenagem, dar esse último agrado a ele. Até.
As rodas do meu carro berraram o quão furioso eu
me encontrava. De repente olhei para o celular
compreendendo o silêncio repentino da sem vergonha.
Como ela pôde ser tão vil. Como alguém pode ser tão má
assim. Como pude ter me enganado tanto com Eudora.
Como?
f
Capítulo 27
Nós somos fortes
M á ximus
Quando abri a porta da mansão Spring senti o
impacto do corpo de Austin contra o meu e seu choro
tornou-se também o meu. Outra vez éramos duas crianças
sozinhas nesse mundo sem ninguém para nos amparar.
Segurei seu corpo com toda minha força beijando seus
cabelos. Eu tinha que proteger minha irmãzinha. Eu me
sentia responsável por ela. Toda vida foi assim.
— Calma Austin. Calma. — eu pedia destruído por
dentro.
— Como isso foi acontecer Máx? Nosso tio, nosso
chão! A nossa família acabou.
— Não. Não acabou. Estamos aqui Austin. Eu, você e
Antonela. Juntos. Unidos minha irmã.
— Eu quero meu tio, Máx. Eu quero o meu paizinho!
— Eu sei. Também quero. Mas temos que passar por
isso Austin. Temos que passar.
Em meio a tanta dor e lamento, abraçados ali no hall
da casa uma voz surgiu de trás de uma pilastra.
— Nós somos fortes, não é papai?
— Filha! — tentei limpar meus olhos assim como
Austin aproximando-me dela.
— Não precisa tentar inventar um mundo rosa papai.
Eu sei que às vezes tudo fica cinza.
Sei que eu deveria ser forte, corajoso, mas diante de
Antonela eu desmoronei, porque se havia alguém no mundo
que podia me ver por dentro era ela.
— Papai não fica assim. — ela me abraçou como se
pudesse me proteger de tudo aquilo — O vovô Brad está no
céu papai.
Agarrei-me ao seu corpinho singelo fazendo dele o
que era o meu porto seguro.
— Desculpa filha. Não queria que me visse assim.
— Por que papai?
— Porque o papai precisa ser guerreiro para cuidar
de você e da tia Austin daqui para frente.
Ela procurou meu rosto, limpou minhas lágrimas com
suas mãos delicadas, beijando-me como uma mãe ao filho.
— Você é o homem mais corajoso que eu conheço
papai. O guerreiro mais forte da minha tribo. Não seja mais
nada porque eu amo você assim.
— Eu te amo filha. Eu te amo demais Adultinha!
— Somos fortes pai, você me ensinou isso. Nós não
caímos com facilidade e se cairmos sete vezes nós
levantaremos oito porque somos os Spartacus. — ao ouvir
isso Austin se juntou naquele abraço e eu vi nos olhos da
minha filha a mulher brilhante que um dia ela seria.
Coloquei Antonela na cama depois de certo esforço.
Ela insistia em ficar ao meu lado para cuidar de mim
segundo seu coração gigante, mas consegui tranquilizá-la
deixando a sua cama somente depois de ter certeza de que
adormecera. Agora era hora de contar a Austin a outra
parte dessa história. Desci pelas escadas vendo-a deitada
em posição fetal no sofá, agarrada a uma camisa de tio
Brad, sob os cuidados de Eunice. Eu teria que contar para
minha irmã que a mulher que me entreguei de corpo e alma
na verdade, foi a assassina do nosso pai.
— Eunice, você poderia por gentileza nos deixar a
sós?
— Claro Máximus. Caso precisem de algo eu estarei...
— Melhor que se deite. Teremos um dia difícil
amanhã Eunice. Eu preciso que você também esteja bem. —
ela ausentou-se da sala sem mencionar nada. Como nós,
Eunice também vivia um luto arrasador.
— Antonela dormiu? — Austin resmungou.
— Sim. Depois de certo esforço. Seu namorado?
— Ele está vindo de Nova York. Deve chegar pela
manhã.
— Eu tenho algo para te contar. Algo que ainda não
tive a oportunidade.
— O que foi? — ela sentou-se segurando minhas
mãos.
— A polícia teve acesso as imagens e havia mesmo
uma mulher com o tio Brad.
— Ai meu Deus!
— Ela entrou e saiu sob circunstâncias suspeitas,
mas... —- ergui a mão na altura do meu rosto — Isso ainda
não é o inferno Austin.
— Como não? Temos que pegar essa safada e deixá-
la apodrecer na cadeia!
— Austin... — suas palavras iam me esbofeteando.
Fazendo-me sentir ainda mais culpado pelo que trouxe
sobre minha família.
— Tem que contratar todos os advogados do mundo!
Que tipo de pessoa omite socorro vendo uma pessoa
morrendo? Cretina!
— Austin...
— Eu quero matar essa desgraçada e...
— Era a Eudora!
Então houve um silêncio sepulcral. As mãos de
minha irmã vieram sobre sua boca e seus olhos
arregalaram-se. Como eu, Austin também não sabia como
reagir àquela informação. Suspirei trazendo minhas mãos
sobre meu rosto enquanto o abaixava.
— Eu... Eudora? Máx...
— Ela era a mulher que vinha fascinando o tio Brad.
— Não pode ser. Meu irmão olha só...
— Eu vi Austin! — berrei — Eu vi com os meus
próprios olhos. Essa filha da puta em momento algum
deixou de ser a puta que é! Ela estava comigo e com ele
Austin! Piranha!
— Calma, calma, calma! — ela me trouxe para dentro
dos seus braços — Eu sei que isso é aterrorizador, mas
explodir agora não vai trazer o tio Brad de volta Máximus.
Saindo dos seus braços me refiz andando de um lado
para o outro, passando a mão pelos meus cabelos.
— Eu quero a cabeça dela!
— Máx... A justiça fará...
— A justiça o caralho! Austin ela me traiu, ela me
sacaneou com o meu tio! Você acha que a justiça pode
ressarcir isso? Ela vai apodrecer na cadeia por ter matado o
tio Brad sim, mas isso não vai aplacar a minha ira sobre ela!
Eu permiti que essa vagabunda se aproximasse da minha
filha Austin!
— Máx... Não sabemos ao certo o que houve dentro
do iate.
— Isso não me importa. Eu quero a cabeça dela. Eu
quero o sangue dela! Vadia! Puta!
— Você vai acordar Antonela. — voando em meu
rosto — Calma!
— Austin... Por que ela fez isso comigo? Depois de
tudo que fiz por ela?
— Ah meu irmão... — agarramo-nos um ao outro
mais uma vez sozinhos naquela devastidão imposta pela
senhorita Eudora Tyr.
Passava das quatro da manhã, eu estava sentado na
poltrona do quarto de Adultinha vendo-a dormir. Velar o
sono da minha pequena era a única coisa que poderia me
trazer um pouco de tranquilidade. Senti meu celular vibrar e
ao tirá-lo do bolso para o meu completo espanto era ela,
Eudora, me ligando. Olhei para sua foto que coloquei em
seu número em meu celular e mal consegui encará-la.
Como advogado eu sei que toda história tem no mínimo
dois lados, mas também que como advogado eu posso
escolher inventar ou ignorar qualquer versão possível.
Minha primeira decisão estava tomada eu risquei do meu
mundo o nome daquela mulher e só a conheceria no
momento que entrasse na delegacia e tivesse aqueles cinco
minutos com ela, desligando assim meu celular.
l
Capítulo 28
Destino Traçado
Eudora
Depois de cinco chamadas consecutivas eu não
compreendia o que impedia Máximus de atender o retorno
de minhas ligações, porém eu vi dentro de mim surgir um
medo. Um sentimento ruim de que ele sairia de minha vida.
Rolei na cama ruminando essa sensação. Uma febre invadiu
meu corpo, toda vez que tenho essas sensações meu corpo
responde com uma febre louca sem muita explicação.
Levantei do meu quarto na fazenda, andando pela casa,
lembrando-se de minha irmã, até chegar à cozinha para
tomar algum analgésico caso tivesse. Não conseguia parar
de pensar na cena de ver o corpo de Watson caindo aos
poucos no sofá, ao mesmo instante via a face de Antonela e
de Máximus. O que eu tinha feito com a minha vida?
Voltando da cozinha ouvi meu celular tocar, corri
como uma flecha na esperança que Máximus enfim me
responderia, no entanto era Rita, supus que ela desejasse
saber como eu estava ou como teria sido a viagem.
— Oi.
— Amiga, deu ruim a porra toda. — um arrepio
chicoteou minha alma.
— O que houve?
— Achei que ainda não soubesse mesmo.
— Fala Rita! — esfregando a angustia que pisoteava
o meu peito.
— O Watson. O caso já chegou a mídia. Seu rosto
está nas imagens.
— Não pode ser! Eu tomei cuidado.
— Puta... Você esqueceu que com essa gente
segurança está acima de tudo? Não tinha seguranças a
pedido dele, mas haviam câmeras.
— Puta merda! — danei a andar de um lado a outro.
— O que eu vou fazer? Máximus não pode saber disso sem
antes me ouvir Rita.
— Acho que é tarde demais Eudora.
— Como assim?
— Olha... Se me contassem eu mesmo não
acreditaria. Mas o diabo de fato preparou uma para tu.
— Para de falar assim! O que está rolando?
— Watson era na verdade Brad Hawks. O tio de
Máximus.
Aos poucos a voz de Rita foi ficando distante e
quando dei por mim meus joelhos estavam no chão e o
celular jogado no tapete. Senti aquele soco na boca do meu
estômago que me nocauteou sem dó. O homem da minha
vida me odiaria até na morte.
Um tempo depois liguei a TV constatando que meu
rosto estampava todos os noticiários. Ainda não sabiam
quem eu era. Fiquei imaginando porque Máximus não me
denunciou, minha experiência fez-me ver que sua ira era o
prazer de me ver caçada como a assassina de seu tio Brad
Hawks. Eu o conhecia o bastante para saber que ele viria
com tudo para cima de mim. Talvez qualquer um em meu
lugar se protegeria, fugiria para qualquer canto da Terra. Eu
tinha grana e meios de fazer isso, mas se ainda havia
alguma chance de tentar provar a Máximus que nada
parecia ser como parecia, era eu me entregar por livre e
espontânea verdade. Rita quis me impedir. Disse que estava
assinando meu suicídio. Mas que vida poderia haver para
mim sem Máximus Spartacus ao meu lado? Por isso peguei
minhas coisas, meu carro e a estrada apresentando-me a
primeira delegacia que encontrei.
Horas depois eu fui levada ao distrito responsável
pelas investigações. Repórteres e mulheres gritavam fora da
delegacia inflamados pelo que leram, mas eu sabia o que
havia acontecido dentro daquele iate e só me interessava
contar a verdade para uma única pessoa. Depois de mais
horas e horas sendo interrogada, contei aos detetives como
conheci Brad Hawks. Como fui parar naquele iate. Falei
sobre o site e sobre nosso acordo. Deles recebi aquela
risadinha irônica quando falei que não havia sexo entre nós.
Não os culpo, eu também não acreditaria, para uma puta
como eu e com o meu passado isso era no mínimo surreal.
Em seguida fui conduzida por uma policial feminina a uma
cela pequena e isolada. Um lugar frio, inóspito, mas digno
de mim. Enfim eu estava no local certo e na hora certa.
g
Capítulo 29
A Cela
M á ximus
Por uma decisão unanime entre eu e Austin
decidimos que o funeral de tio Brad seria o mais rápido
possível. Não queríamos prolongar toda aquela dor além do
que já era em si. Eu saí do crematório com Antonela no colo.
Minha menininha foi valente, mas teve um momento que
ela se permitiu chorar até adormecer em meus braços.
— Máximus eu tenho uma novidade. — Richard veio
até a mim com o semblante um pouco aliviado.
— Qual? — Ajeitando Antonela no meu ombro.
— A mulher. Ela se entregou. Seu nome verdadeiro é
Eudora Tyr.
Minhas pernas bambearam e a contragosto meu
coração ameaçou pular do peito. Eu esperaria tudo. Eu me
preparei para tudo, exceto para aquele fato de que ela se
entregaria. Em tempo algum isso passou pela minha
cabeça. Fiquei confuso. Atordoado sem saber o que
responder a Richard. Austin ouviu e aproximou-se mais de
nós pondo sua mão em meu rosto.
— Já conseguiu meus cinco minutos com ela Richard?
— Não faça isso Máximus. — Austin pediu e Richard
endossou.
— Deixarei Antonela em casa. Chego à delegacia o
mais rápido possível. Vejo você lá Richard. Vamos Austin.
Assim que deixei Antonela em sua cama, depois de
alguns carinhos em seus cabelos, me deparei com Austin do
lado de fora parada no corredor.
— Você não fará isso Máx.
— Com licença Austin. — tentei passar, mas ela se
manteve parada — Minha irmã, por favor, deixe-me passar.
— Não faz isso Máximus. Não faz. Estou te pedindo.
Tio Brad não ia desejar que fizesse isso.
— Eu preciso ir! — soltei num desabafo — Eu preciso
— batendo no peito — Ouvir da boca dela, a puta do
caralho, a vadia, a vagabunda que ela é!
— Máx... Espera um pouco. Acabamos de enterrar
nosso tio. Estamos em frangalhos. Ainda com aquela cena
da mamãe se fazendo de sofrida no velório.
— Eu sei o que estou fazendo e até onde preciso ir.
— Você é teimoso demais.
— Não, eu sou persistente e justo. Não tolero putaria
comigo. Cuida da Adultinha. Eu pretendo não demorar.
No trajeto até a delegacia onde fiz questão de ir
dirigindo meu carro, milhões e milhões de perguntas se
embolavam com os sinais, agora visíveis, de que Eudora
nunca mudou. Em momento algum ela deixou a vida de
prostituição para trás e isso aumentava ainda mais em
doses cavalares o meu ódio por ela. De repente voltei meu
olhar para minha mão, que apesar de eu não ter feito a
fisioterapia estava curada, me fez ver o quão otário fui a
cada busca que fiz atrás dela. Sentir-se ludibriado é o pior
sentimento do mundo.
Avisei a Richard da minha chegada pelos fundos do
distrito para impedir o assédio da imprensa. Policiais me
escoltaram até o interior do lugar e de lá fui conduzido até a
sala do delegado responsável pelo caso e os dois detetives
que conheci no cais. Tive que ouvir quase dez minutos dos
mesmos me dando razões pelas quais eu não deveria fazer
aquilo, mas os ignorei. Eles não podiam prever o quanto eu
e aquela piranha fomos envolvidos. Por fim os venci com a
minha frieza e determinação. Quando quero algo é isso e
ponto. Esperei um pouco até que me levasse até uma sala
de interrogatório onde ela me aguardaria. Em seguida
Richard e um policial me levaram até a porta estreita.
— Ainda dá tempo Máximus.
— Eu agradeço sua preocupação Richard e o seu
empenho em fazer isso acontecer, mas daqui para frente é
comigo. Obrigado. Ah, por favor, cuide para que ninguém
entre aqui, por nada.
Meu coração nunca se agitou tanto pela espera da
abertura de uma porta. Quando meus pés cruzaram o
batente e meus olhos viram a sua figura de costas para
mim, num canto da sala, com as mãos algemadas para trás,
não pensei mais, eu só agi. Minha mão se encheu de
orgulho ao bater naquele rosto com toda força a ponto de
torcê-lo quase ao chão. Ela não me deu nenhum esboço de
palavra, mas o seu olhar, o seu olhar mexeu comigo.
Tomado pela raiva ergui-a pelo cabelo, jogando-a na parede,
apertando o seu pescoço vendo-a sufocar e aqueles olhos
por nada se afastavam de dentro dos meus, o que me
enfurecia ainda mais.
— VA-GA-BUN-DA!!! Sua puta! Piranha do caralho!
Está satisfeita agora em destruir a minha vida e a vida da
minha família? Fala porra! Fala sua infeliz!
Domada e com suas lágrimas descendo pela face
percebi que a sufocaria se continuasse apertando seu
pescoço daquele modo e a soltei levantando as mãos para o
alto me afastando um pouco dela.
— Não... — tossiu — Não é... O que parece.
— Não? Sério? Você estava dando para o meu tio e
para mim sua puta! Você matou o homem que me criou!
Que me amou! Como você pôde fazer isso comigo?
— Máximus... — jogando seus cabelos para trás — Eu
sei que você não tem motivo algum para acreditar em mim.
Mas eu posso explicar tudo isso. Foi por isso que me
entreguei.
— Você estava andando comigo e com ele sua...
— Não aconteceu nada entre nós! Eu nem sabia que
ele era o seu tio. Eu o conhecia como Watson.
Foi quando me lembrei de algo.
— O cara que te ajudou... Foi o tio Brad, não foi?
— Foi. Eu entrei no site para ser uma sugar baby. Ele
estava lá e gostou de mim.
— Vagabunda! Piranha! Trepando com os dois! Eu fui
o cara que te tirou da merda dessa vida onde vivia dando o
rabo para todo mundo! Eu passei por cima de tudo e todos,
inclusive fui contra o meu tio para ficar com você! Eu te
levei para vida da minha filha que é a coisa mais sagrada na
minha vida!
— Máximus... Eu sei! — ela tentou se aproximar de
mim, mas eu a empurrei para longe.
— Não ouse chegar perto de mim!
— Eu te amo! Por favor, me escuta...
— Ama? Você ama é dar essa boceta para cada
macho que vê! Uma cadela no cio é o que você é Eudora
Tyr!
— Eu só entrei no site porque eu precisava do
dinheiro para comprar a fazenda. Minha mãe me tirou do
testamento, eu te contei que ela fez isso.
— Contou! E eu agora começo a entender por qual
razão. Você não presta! Não vale merda alguma!
— Não fala assim... Eu ia te contar. Mas em tempo
algum eu imaginei que Watson era Brad Hawks. Máximus...
Se eu soubesse... Eu jamais teria aceitado o acordo que fiz
com ele.
— O fato de ser meu tio só piora. Ainda que fosse
qualquer outro homem você mentiu para mim! Você tirou
onda da minha cara! Você deve acreditar mesmo que sou
um trouxa. Um babaca! Mais um para sua imensa coleção
sua filha da puta!
— Eu juro pelo que é mais sagrado na minha vida... A
vida da minha filha que você sabe o que representa para
mim... Máximus eu nunca me deitei com o seu tio. Eu não
sabia que era Brad Hawks. Máximus... Eu não o traí com
ninguém! Eu fui fiel a você!
— Ahhhhhhhhhh! Que coisa linda! Tão comovente! —
gargalhei em puro sarcasmo. — Fiel? Você acha mesmo que
traição é só cama? Eu fui taxativo com você sua vadia. Não
minta para mim jamais. E qual foi à primeira coisa que a
dama fez?
— Eu sei que errei.
— Você matou o meu tio, vagabunda!
— Não... Eu não matei... Foi assim...
— Eu não quero saber nada que venha da sua boca!
Eu vou é pagar os melhores advogados do mundo para
fazer você apodrecer atrás da cadeia! Eu te odeio Eudora
Tyr!
De repente ela se calou. Um silêncio se instalou entre
nós. Eu pude vê-la desarmada. Eu compreendia que naquele
momento ela estava se mostrando quem era. Dei alguns
passos rumo à porta chegando a tocar na maçaneta quando
ela deteve minha partida.
— Não contarei nada. — então me virei para ela sem
pressa tentando compreender a que ela se referia — Eu não
direi o que houve entre nós Máximus. Eu não prejudicarei
você.
— Por acaso está me ameaçando?
— Jamais. Eu nunca faria isso. Mas como você eu
também conheço esse jogo. Eu percebi que você não falou
sobre nós na investigação. Se eu quisesse ferrar você eu
poderia contar sobre nosso... Nosso envolvimento. Seria
uma defesa e tanto. Uma conspiração do sobrinho para
matar o tio e assumir o seu lugar.
— Cala essa boca sua maldita! Imunda! — voando
outra vez com o dedo em punho para o seu rosto.
— Eu nunca falarei nada. Eu juro. — quase me deixei
levar pela aparente verdade que existia em seu olhar — Eu
não irei me defender. Eu aceitarei o que a justiça e você
fizerem comigo porque eu mereço. Porque eu sei que você
não merecia passar por nada disso. Eu sei que sou a
culpada. Só estou dizendo para que você entenda que
existe o outro lado da história. Que eu estou falando a
verdade, e se eu fosse a sacana que você imagina nesse
momento, o mundo todo saberia do nosso relacionamento e
eu te acusaria por ser o mandante de um assassinato. Tem
a minha palavra Máximus Spartacus, eu jamais direi nada
sobre nós porque eu te amo!
— Eu amarei e comemorarei cada segundo que eu
souber que você está apodrecendo atrás das grades.
Enfim segurei a maçaneta desaparecendo entre os
corredores, entrei no primeiro lugar que vi com a placa de
banheiro masculino, eu precisava de um refúgio antes de
ser traído pelos meus sentimentos.
Dentro do banheiro lavei meu rosto tentando
amenizar meus olhos avermelhados. Contra gosto e sem
nenhum controle eu derramei lágrimas por aquela vadia.
Aos poucos fui tentando me acalmar. Sentei na porra da
privada com a cabeça para baixo tentando digerir tudo
aquilo.
Eu não poderia negar que outra vez ela me
surpreendera. De fato se ela falasse do nosso envolvimento,
e com as provas que tinha, poderia me incriminar com
muita facilidade como mandante de um possível
assassinato para assumir a herança da família. Começava
ali um jogo em minha mente em me indagar por qual razão
ela não fez isso. Ela tinha poder de virar o jogo e até sair
ilesa da situação, porque o escândalo de um sobrinho criado
como filho ter premeditado com a amante a morte de seu
tio seria muito mais alarmante do que o de uma prostituta
de luxo saindo do iate de um multimilionário por omitir
socorro. Porque ela ainda pensou em me poupar e pensar
nisso, em algum tipo de clemência para com ela me irritou
ainda mais. Senti meu celular vibrando e atendi em seguida
pensando ser minha irmã.
— Oi Austin.
— Sou eu papai.
— Filha... — rápido me recompus voltando para
frente do espelho — Você está bem? Papai já voltará para
casa viu?
— Papai, cadê a Eudora? — pelo que conheço de
Antonela aquela pergunta tinha muitos outros sentidos.
— Filha, quando eu chegar em casa a gente vai
conversar melhor.
— Papai eu sei que ela está envolvida na morte do tio
Brad. Eu vi no noticiário o rosto dela.
— Adultinha, papai já cansou de te pedir para não
ver essas coisas.
— Papai responda. Isso é verdade? — Fiquei calado
tentando processar escolhendo palavras para responder a
minha menina — Tudo bem. Eu já entendi.
— Filha... É complicado. Coisas de adulto.
— Por isso andou chorando?
— Não filha, papai não estava chorando.
— Papai eu conheço a sua voz. Toda vez que você
chora ela fica mais rouca e além do mais você é um
péssimo mentiroso.
Meus lábios tremeram. Eu queria ser forte e mostrar
para minha filha que eu ia dar conta de toda aquela
tempestade que estava enfrentando.
— Papai...
— Oi filha. — segurando a voz embargando de novo.
— Você precisa de colo e só eu posso dar. Vem para
casa agora. Eu te amo.
— Também te amo.
Desligando o celular larguei tudo para trás. Um
pedido de Antonela era uma ordem para mim, do mesmo
modo ninguém me compreendia melhor do que a minha
Adultinha.
Quando desci do carro no pátio da mansão Spring ela
já me esperava sentadinha na escadaria. Limpei meus olhos
querendo a todo custo mostrar força. Ela levantou e
caminhou até a mim sem pressa. Diante de mim subiu no
meu automóvel para ficar na mesma altura que eu, abriu os
braços colocando meu rosto em seu pequeno ombro.
— Hoje eu sou a mamãe e você será o meu
garotinho. Não se preocupe, mamãe vai cuidar de você.
Foi o bastante para me agarrar a ela e permitir-me
chorar toda aquela amargura que latejava em minha alma.
Seus dedos percorriam pelos meus cabelos e o gingado do
seu corpo me embalava como a melhor mãe faz com sua
cria.
— Limpa seu coração papai. Deixa de bobeira porque
homem de verdade é aquele que chora porque não tem
medo de ser mortal.
Um tempo depois consegui olhar para sua face mais
aliviado daquela dor. Ela sorriu sem vontade.
— Eu sei o quanto você a ama papai. Eu sinto.
— Ela é passado filha.
— Papai amor é coisa que não envelhece. Pode até
dormir, mas não envelhece.
— Eudora não é a pessoa que eu imaginei. Ela é má.
Ela é uma pessoa feia Antonela.
— Acredito em você. Mas posso falar uma coisa?
— Todas as coisas do mundo. — enchendo-a de
beijos.
— Ninguém é perfeito papai. Nem a Eudora, nem eu
e nem você, mas isso não faz de uma pessoa alguém mau.
— Por que está me dizendo isso?
— Porque eu vi nos olhos dela, cada vez que ela falou
sobre você, algo que me chamou a atenção.
— E o que foi?
— Amor.
— As pessoas fingem Antonela.
— Amor de verdade tem rosto próprio papai, não dá
para fingir com ele. — então me calei levando-a no colo
para dentro de casa.
d
Capítulo 30
Sem chão
Eudora
Quando o policial retirou as algemas de minhas mãos
foi um mero detalhe, eu jamais sentiria outra vez o gosto da
liberdade. Sentei-me no chão no canto da cela a espera do
meu destino, pensando em cada traço de desgosto que vi
no rosto de Máximus. Ele não merecia, mas como eu
poderia imaginar que Watson era na verdade Brad Hawks?
O ir e vir de suas caras me esculachando obrigou-me a
voltar no tempo e ter outra vez dez anos de idade, sendo
mais precisa no dia em que minha irmã foi assassinada e
depois aos dezesseis quando entreguei minha filha para
adoção, foram noites, madrugadas das quais eu não me
esquecerei, pois nelas eu pensei ter chorado todas as
minhas lágrimas, mas outra vez me enganei, ainda faltava
uma cena no meu livro de horrores aquela em que o amor
de Máximus Spartacus se transformou em ódio por minha
pessoa enquanto dentro de mim passou existir mais
convicção de que ele era o grande amor da minha vida.
As horas seguintes foram determinantes. Os
advogados da família Spartacus pediam que eu respondesse
por omissão de socorro e homicídio doloso apresentando
como provas as imagens do iate, como intenção e
premeditação do crime, e todo o meu vasto repertório no
mundo da prostituição. Passei por uma audiência de
custódia onde fui dilacerada pelos homens engravatados do
clã Hawks.
— Em vista do histórico da senhorita Tyr, de seu
passado nebuloso, do risco de fuga e da natureza atroz da
morte do senhor Brad Hawks pedimos que a fiança seja
negada e a senhorita Tyr aguarde julgamento em cárcere na
prisão de Valley State Prison.
A juíza percebendo que eu abrira mão do direito de
um representante legal retirou seus olhos encarando-me:
— Senhorita Tyr, a senhorita tem plena consciência
de que ao abrir mão de um representante legal a sua
situação se complica muito diante desta corte?
— Sim meritíssima.
— Tem alguma coisa a dizer em sua defesa? —
abaixei a cabeça pensando em sua pergunta, embora não o
visse, eu sabia que Máximus estava ali observando tudo
aquilo — Senhorita Tyr?
— Sim eu tenho meritíssima. Eu posso me levantar?
— Levante-se, por favor. — erguendo de leve uma
das mãos.
— Meritíssima eu não sou um exemplo de uma
cidadã cumpridora das leis como consta nos autos
apresentados pelos advogados do caso. Mas eu não
represento um risco de fuga porque se esse fosse meu
intento, eu não teria me entregado por livre e espontânea
vontade para ser submetida a júri.
— Prossiga senhorita Tyr.
— Mesmo que eu seja uma velha conhecida no ramo
da prostituição, esse é o meu primeiro suposto crime. As
únicas coisas que foram apresentadas como provas são às
imagens que mostram a minha entrada no iate assim como
a minha saída, mas em momento algum me mostram
assassinando Brad Hawks. Tirando isso e o meu passado
não há uma prova contundente contra mim.
— Protesto meritíssima. — um dos advogados se
ergueu.
— Sob que alegação senhor Denson?
— As imagens feitas dentro do iate mostram que a
cocaína que foi levada para aquela embarcação saiu da
bolsa da ré e...
— O senhor Hawks tinha menos de dezoito anos,
advogado? — rebati falando por cima dele.
— Prossiga senhorita Tyr.
— Mas meritíssima... — Denson insistiu.
— Uma vez que a senhorita Eudora Tyr não tem um
advogado por abrir mão de um, eu quero ouvi-la senhor
Denson. Prossiga senhorita Tyr.
— Uma vez que não há sequer uma inusitada prova
arrolada ao caso nas últimas horas que atestem a minha
culpa no caso em questão, eu não vejo razão para que eu
seja acusada por homicídio doloso.
— Nesse caso a senhorita aceita ser indiciada por
omissão de socorro presumo.
— Sim meritíssima porque esse foi o meu grande erro
naquela cena. Eu deveria ter chamado à emergência.
Deveria ter tentado socorrer Brad Hawks de alguma
maneira.
— Por que não fez isso senhorita Tyr? — o advogado
soltou, encarando-me.
Aquela era a pergunta que eu mais esperava. A
oportunidade de provar a Máximus que estava em minhas
mãos o poder de abrir a boca e falar sobre o nosso
envolvimento.
— Medo. Pânico. Covardia. Desespero. Posso lhe dar
muitos adjetivos doutor, mas a verdade é que nenhum deles
voltarão no passado e consertarão o que eu deixei de fazer.
— A fiança será negada senhorita Tyr. — a juíza
determinou — Por hora eu lhe mandarei para a prisão de
mulheres de Valley State Prison.
— Meritíssima... — interrompi com um dos meus
dedos para cima mesmo com as algemas nas mãos.
— Fale senhorita Tyr.
— Eu apenas peço que eu passe pelas mãos de um
médico.
— A senhorita fará corpo de delito não se preocupe.
— Eu sei, mas preciso de um médico para me
examinar.
— Sente-se mal?
— Há alguns dias tenho tido sintomas que já vi antes.
Mas não pude comprovar minhas suspeitas com um exame
ou a visita a um médico dados os eventos.
— E que sintomas são esses, senhorita Tyr? — A
magistrada voltou a colocar seus olhos sem me dar muita
atenção.
— Suspeito que eu esteja grávida meritíssima. — o
silêncio sentou-se na primeira cadeira daquela sala
cruzando as pernas, acendeu um cigarro e gargalhou com
puro deboche.
Eu tinha certeza de que aquela revelação abalaria
somente a pessoa que de fato importava para mim. O
celular de um advogado tocou um segundo depois, embora
ele tenha levado um sermão da juíza não deixou de atendê-
lo, mesmo sendo ameaçado de receber uma penalidade por
pertinência na ligação. Minha intuição não me traiu,
poderiam negar o quanto quisessem, mas eu alcançava que
era Máximus do outro lado da linha. Os três advogados
cochicharam entre si um tanto aflitos.
— Muito bem senhorita Tyr designarei que passe por
uma consulta médica para comprovar sua suspeita de
gravidez. Antes que encerre essa sessão, diga-me senhorita
Tyr por que abriu mão de um defensor público?
— Porque o papel dele diante da Justiça seria
convencer a todos de que eu não fiz nada. Não pagarei pelo
que não cometi, mas estou disposta a responder pelo que
fiz meritíssima.
— A promotoria quer se pronunciar? — ela voltou-se
para os advogados.
— A promotoria persiste na acusação de homicídio
doloso e omissão de socorro meritíssima e pede que seja
desconsiderada a natureza da paternidade caso a ré esteja
grávida.
— Sob qual alegação?
— Isso não interessa ao caso nem aos envolvidos
nele.
— Acato seu pedido senhor Denson. Senhorita
Eudora Tyr até que seja julgada por um júri será mantida
sob custódia do Estado na prisão citada por ser acusada por
homicídio doloso e omissão de socorro. Que nos autos
registrem que a ré permanece na premissa de abrir mão de
um representante legal. Cessão encerrada.
Mais burburinhos pude escutar entre os advogados.
Mesmo com duas policiais me retirando dali com certa
truculência, meus olhos caçavam pelo recinto onde ele
pudesse estar porque era lá que eu queria ir. Eu queria
poder olhar dentro dos olhos de Máximus ao saber que eu
carregava um filho seu dentro de mim. Não se tratava de
um blefe, eu vinha mesmo sentindo os mesmos sintomas
que tive na minha primeira gravidez. Mas confesso que usei
da minha inteligência profissional para esperar o momento
e a hora certa de usar minha suspeita ao meu favor. Se
havia alguma chance de neutralizar o ódio de Máximus
sobre mim era contando sobre a minha suspeita de
gravidez. Alguns chamarão isso de chantagem, eu chamo
de sobrevivência. Eu não me importava em passar o resto
da vida atrás da grades pelo que fiz, mas me importava em
provar para o senhor Spartacus que embora eu tenha
mentido em muitas coisas eu jamais faria nada para
prejudicá-lo mesmo tendo poderes para isso.
Achei estranho não sair da reunião de custódia direto
para uma viatura e ser levada para a tal cadeia porque essa
foi à determinação da Magistrada. Um guarda avisou-me
que eu seria transferida na manhã seguinte bem cedo.
Amontoei-me no canto remoendo minhas angustias. Já não
havia mais o que fazer.
Eu caminhava sobre um campo verde e debaixo de
um sol escaldante quando despertei daquele sonho ouvindo
a cela se abrir e um policial me avisar:
— Sente-se Tyr, você tem visita.
Minha cabeça girava um pouco, mas consegui me
ajeitar naquela cadeira fria. Meus olhos ainda embaçavam a
minha vontade de voltar à realidade. Não processei a ideia
de quem poderia entrar ali, porém ao erguer meus olhos e o
perfume inconfundível fez seu papel.
— Máximus! — cheguei ameaçar a levantar, mas seu
semblante ríspido e passos frios me impediram.
— Não perca seu tempo tentando me impressionar.
— mãos nos bolsos da calça e cenho duro.
— Eu não acredito que veio me ver.
— Eu não vim, eu já estava aqui acompanhando cada
etapa do caso. — o que me deu a certeza da minha intuição
de presença. — Eu quero justiça lembra? Então não estou
aqui por sua causa.
— Entendo. Eu tenho pensado muito em você. Como
está Antonela?
— O seu cinismo é algo que beira o nojo com tom de
crueldade Eudora.
— Eu só perguntei por quê...
— Meu ou dele?
— Hã?
— Eu quero saber se pelo menos você faz ideia de
quem está grávida.
— Você... Você acha que eu... Eu nunca tive nada
com o Watson.
— Você é muito, muito inteligente Eudora. Eu tenho
que admitir. O bom e velho golpe da barriga seja meu ou
dele você terá um herdeiro da Randor. Jogada de mestre.
— Nós dois decidimos em não usarmos mais
preservativo lembra?
— Com certeza foi a mesma proposta que fez ao meu
tio.
— O que você quer aqui? Por que se deu o trabalho
Máximus?
— Vim jogar o seu jogo — aproximando-se de mim
com aquele olhar intimidador, me incendiando por dentro —
Seu jogo sujo. Quanto você quer Eudora?
— Quanto quero? Você veio me oferecer dinheiro?
— Vejo que está desapontada Eudora. Esperava
alguma jura de amor eterno? — encarando-me de um modo
como quem esquartejava minha alma — O idiota que
acreditou em você com certeza faria isso, mas esse homem
que está diante de você jamais.
— Eu te amo Máximus! Por favor... — implorei
segurando na gola de sua camisa — Acredite em mim! Eu
errei em não socorrer seu tio, mas eu me entreguei, não
estou negando isso, mas eu não me deitei com ele ou com
qualquer outro homem desde que estamos juntos. O filho
que eu espero é seu!
— Tomara que não seja Eudora — retirando cada
dedo meu de cima de si com uma frieza descomunal —
Porque se for meu ou do meu tio eu vou arrancá-lo de você.
Não quero que o meu sangue se contamine ainda mais com
um sangue imundo como o seu.
— Não fala assim.
— Por que não devo falar assim? Por acaso você
sofre? Você tem sentimentos?
— Essa criança é fruto de um amor verdadeiro. Você
foi a melhor coisa que me aconteceu.
— Gosto disso. Verbo usado de modo correto, no
passado, “foi”. Quanto ao amor verdadeiro ele em tempo
algum existiu. Um monstro feito você não sabe nada sobre
um sentimento como esse.
— Máximus... — eu me afogava nas lágrimas que
rolavam do meu rosto.
— Quanto você quer?
— Quer que eu tire o bebê?
— A sua sorte — com o dedo na minha cara — é que
ao contrário de você eu tenho um coração. Nada me faria
pagar por um aborto, mas é claro que se você jogou essa
bomba, e você não brinca em serviço é porque tem algo
maquinando nessa sua mente diabólica.
— Para de falar isso! Está me magoando!
— Você matou o meu tio desgraçada!
— Eu não fiz isso e eu provarei a você que estou
falando a verdade.
— Eu quero pagar pelo seu silêncio.
— Você não entendeu, não é Máximus? Se eu
quisesse ganhar com isso, se eu tivesse premeditado a
morte de Brad por estar grávida dele, eu o manteria vivo
porque ele não pensaria duas vezes em ficar comigo e
assumir essa criança mesmo não sendo dele, porque eu
nunca dei para ele. Por que eu mataria a minha galinha dos
ovos de ouro?
Ele se aproximou ainda mais do meu rosto, admirou
um pouco meus traços como se houvessem uma guerra
dentro dele e parece que um desses lados venceu.
— Porque você é um lixo Eudora Tyr. Você não passa
de um lixo humano. Diga quanto e eu pago.
— Meu valor não tem preço.
— Por que não?
— Porque não calei por dinheiro eu me calei por
amor.
Ele recuou alguns passos sem sair do meu rosto
ainda naquela arrogância de uma imponência que
amedrontava até mesmo uma mulher como eu.
— Guarda! — estalou os dedos.
Abracei meu corpo vendo-o de costas para mim
pensando em tudo que fomos um para o outro.
— Máximus... — ele apenas virou a face um pouco de
lado — Eu vou te provar que sou inocente.
— Se eu fosse você rezaria muito senhorita Tyr. —
enfim olhando-me daquele jeito desumano — Porque o
diabo chegou em sua vida e ele tem nome e sobrenome:
Máximus Spartacus.
Mais uma vez ele retirou-se da minha vida deixando
dentro de mim a certeza de que eu havia me transformado
num câncer do tipo agressivo em sua vida e que deveria ser
contido de qualquer modo.
b
Capítulo 31
Uma dura realidade
M á ximus
Deixei a delegacia atordoado, fazia tempo que não
metia o pé no acelerador daquele jeito. Passando pela beira
da praia parei o carro, saindo dele ainda com as portas
abertas. Eu precisava me refugiar em algum lugar, mas o
meu lugar preferido tornou-se o meu maior inimigo. Percebi
meu corpo quente, como se tivesse uma febre, talvez uma
febre emocional. Arranquei meus sapatos largando-os pela
areia até chegar diante das ondas imponentes. Sentei-me
diante delas no breu da madrugada como se perdesse a
consciência. Vi minha dor me consumindo por dentro
descendo do peito até o umbigo sem pressa alguma. Eu
buscava respostas pela razão que me obrigava ainda ver
dentro do meu ser aquele sentimento tão pulsante por
Eudora. Sentimento capaz de me fazer perder as maneiras,
a educação e a compostura.
Quando entrei naquela sala eu já não me
compreendia mais. Julguei-me forte, mas por dentro era um
tolo, um ridículo apaixonado por ela. Um calor subiu por
minhas pernas, uma quentura insistente do tipo que não
descansa. Ao vê-la deslizou por minhas costas, havia dois
infernos dentro de mim. O primeiro o inferno de estar diante
da mulher que matou o meu pai, o segundo, de também
estar na frente da mulher que eu mais amei em toda minha
vida. Quando meus olhos encontraram os dela, eu ainda
experimentei aquela vontade insana de agarrá-la com toda
vontade, guardá-la em meus braços e defendê-la do mundo
e vendo-me conceber isso eu tive nojo de mim mesmo. Todo
meu corpo responde quando Eudora surge diante mim.
Como eu acabaria com essa dor, coração humano
algum aguenta tanta pressão. Aqueles olhos, aquele rosto
me fazem perder a razão. Meu desejo era ajoelhar-me
diante dela e passar a borracha em tudo, implorando:
— Vem e me cure com seu jeitinho de todo este calor
que corre nas minhas veias, faz essa porra parar porque só
você tem a receita. Faz porque só você é a minha receita.
Por outro lado eu pensava na minha família. Eudora
trouxe a desgraça sobre ela e agora saber sobre sua
gravidez despertava em mim a vontade de arrebentar meu
tio morto só em pensar que ele, o homem que eu amo,
tinha estado com ela. De vez em quando eu via como isso
tudo era insano. Eu tinha que ser responsável e vingar a
morte do meu tio e ter a certeza de que a criança que ela
esperava tivesse todo apoio da nossa família, mas em uma
coisa Eudora tinha razão, se esperasse um filho meu, ele
teria sido fruto de um amor verdadeiro, porque cada vez
que toquei no corpo daquela mulher foi para amá-la até a
última gota de sentimento que jazia em mim e pensar o
quanto ela foi cretina comigo, dormindo comigo e com meu
tio, fazia meu mundo ruir outra vez. De novo eu viveria o
que vivi com Antonela, o peso de escolher a pior mulher do
universo para ser a mãe de um filho meu.
Vi os primeiros raios do sol nascer esforçando-se
para me trazer um pouco de perspectiva. Mas que
esperança pode existir em meio um abismo como o que eu
vivia. Às vezes nem mesmo a esperança tem o poder de
reverter algo tão negro e definitivo. Ergui-me, caminhando
de volta ao carro. Entrei em casa atingido pelo olhar de
Austin que com uma manta aguardava-me sentada num
canto do sofá na sala. Ela nada mencionou, apenas leu
meus olhos. Levantou-se deixando a manta, abraçando-me.
— Richard me ligou assim que você saiu da
delegacia.
— Não se preocupe Austin, ela será transferida agora
cedo para a prisão. Você tem a minha palavra que ela
pagará pelo que nos fez e...
— Ele me contou sobre a gravidez.
Tudo que eu não queria naquele instante é que mais
pessoas soubessem sobre essa informação. Existia um lado
em mim que se envergonhava de ter sido feito de capacho
nas mãos de uma mulher tão baixa. Afastei-me de minha
irmã sentando-me na poltrona mais próxima.
— Antonela?
— Sua filha está dormindo.
— Eu estava pensando em levá-la aquela terapeuta.
Sua amiga, como é o nome dela mesmo? Brim?
— Máx não ignore o fato. — às vezes a intimidade te
torna legível para alguém.
— Não quero falar sobre isso Austin.
— Como não quer falar? Quem pensa que engana?
Você só foi até lá falar com ela outra vez por conta disso.
— Austin... — coloquei minhas mãos atrás de minha
nuca, extenuado.
— Máx... Isso muda tudo.
— Muda o quê? Que ela me chifrou com o tio Brad?
— Você acha que ela pode estar grávida do tio Brad?
— Austin em que mundo você vive? Você jura que
acredita que ela e o tio Brad não tinham nada? Ele deu o
dinheiro para que ela comprasse a maldita fazenda da mãe!
Eles se encontravam nos flats dele e no iate!
— Desculpe irmão, eu não deveria ter dito nada.
— Ai Austin não quis ser grosseiro com você. Mas eu
estou perdido, eu não sei o que pensar, o que fazer. A única
coisa que quero é ter certeza de que essa criança sendo
minha ou do tio Brad seja arrancada o quanto antes das
mãos daquela vagabunda!
— Fico pensando aqui... — eu conhecia aquele jeito
de Austin.
— Pensando em que?
— Eudora poderia ter ferrado você se quisesse Máx.
Ela podia incriminá-lo para livrar a própria pele. Ela poderia
dizer que está grávida de você ou do tio Brad no
depoimento perante a juíza. Mas não fez.
— Eu fui oferecer dinheiro a ela.
— E? — apenas sacudi a cabeça negando a intenção
de Eudora — Por que ela faria isso? Por que deixaria de se
beneficiar tanto? Por que se entregaria? Abriria mão de um
advogado? Por que não acabar com a sua vida de vez?
— Porque ela é esperta minha irmã. — ergui-me
beijando sua testa pronto para subir as escadas e ir para o
meu quarto.
— Será que é só por isso?
— Você está cogitando defender essa filha da puta?
— Ela é muito corajosa Máximus. Eu não faria o que
ela fez e nem você. Nós dois fugiríamos com toda certeza.
Por que alguém sacrifica o instinto de sobrevivência desse
modo? O que pode existir de mais importante do que
preservar a própria vida?
— Ela matou o nosso tio.
— Detesto ter que dizer isso, mas não é a verdade.
Os laudos definitivos da autopsia sairão daqui uma semana.
Seja lá o que estiver escrito Máx, uma coisa é certa, se ele
usou cocaína foi porque quis. Foi uma escolha dele. Eu sei
que é duro ouvir e lidar com isso. Do que está rindo?
— Da capacidade que Eudora tem de manipular as
pessoas e as fazerem acreditar no que ela quer que
acreditem. Eu já estive no seu lugar Austin. Não se deixe
enganar. Cedo ou tarde a verdadeira face de Eudora Tyr
aparecerá e saberemos o que ela quer. Com licença, estou
exausto, preciso de um banho e tentar dormir um pouco.
— Durma bem. Eu cuido de Antonela.
— Obrigado.
Pela primeira vez consegui dormir um pouco, mas
sem deixar de ser perseguido por Eudora em meus sonhos
onde ainda éramos feitos um para o outro.
w
Capítulo 32
A reviravolta
M á ximus
— Ela não está respirando! Ela não está respirando
Austin!
Apanhei Antonela nos braços, desacordada. Eu tinha
ido ao seu quarto para vê-la e já a encontrei desmaiada.
— Calma Máximus! Apanha as chaves do carro, liga
para o hospital avisa que estamos chegando com ela!
— Meu Deus! Ela não acorda! Filha! Filha!
— Calma! Ela está desacordada, mas respira sim! Vai
ficar tudo bem!
— Austin pelos céus! Minha filha! — entrei em
completo desespero.
— Vai dar tudo certo meu irmão! Confia em mim!
Olhando na face da minha filha inerte como se
estivesse sem vida, eu tentava puxar do âmago força para
salvar a vida dela de qualquer jeito. Austin pegou a direção
do veículo depois de ajeitar Antonela nos meus braços no
banco de trás.
— Mantenha a cabecinha dela assim. Tenta falar com
ela Máx! Não desiste!
— Filha, Adultinha, fala com o papai, meu amor, fala!
Acorda meu amor!
Dez minutos em tempo algum foram tão eternos
para mim. A equipe de Austin já nos aguardava prontos
para socorrer Antonela, o que me fez entrar ainda mais em
parafusos, achando que minha irmã sendo médica
suspeitava de algum diagnostico e que não queria me falar
a respeito por hora. Ela não movimentaria sua equipe
inteira se não fosse por uma razão muito séria.
— Eu quero ir com ela Austin!
— Máximus, confia em mim?
— Não! Não! Eu não deixarei minha filha sozinha de
jeito nenhum!
— Meu irmão, precisamos examiná-la com calma.
Confia em mim, por favor!
— Austin... Minha Adultinha!
— Fique aqui na sala de espera. Assim que os
primeiros exames forem feitos você entra e conversamos.
Eu não acreditava que vivia aquele pesadelo. Como
uma criança de oito anos em sua plena saúde vai dormir e
do nada não acorda?
— Você é o melhor pai do mundo Máx. Mas agora
quem pode cuidar melhor dela sou eu e minha equipe. Ela
está nas melhores mãos que se pode encontrar.
— Tudo bem. Mas por favor, não me deixe passar
mais agonia do que já estou.
— Calma. Ficará tudo bem. — beijando-me entrou
pelos corredores por onde a maca fria levara minha
garotinha.
Quase uma hora depois Austin regressou a sala. Sua
fisionomia não era das melhores embora quisesse disfarçar.
— Como ela está?
— Estabilizada. Vem comigo. — apanhando-me pela
mão, esforçando-se para tentar encontrar um meio de me
falar o que era necessário.
Ao entrar no quarto e vê-la ali inerte cheia de
aparelhos eu entrei em completa aflição. Eu nunca imaginei
me deparar com a minha Adultinha em uma situação como
aquela.
— Por que ela não acordou?
— Ela irá. Calma. Ela está estável.
— Filha... Filha! Papai está aqui viu. — beijando sua
mãozinha. — Tia Austin está cuidando de você. Porra filha
acorda! Papai não aguenta ver você assim! — embora a
aparente frieza médica seja necessária Austin não
conseguiu usá-la diante da minha agonia e mesmo assim
retirou-me de cima de Antonela.
— Se você não se acalmar não permitirei que fique
aqui!
— O que está acontecendo? Ela é uma menina
saudável Austin!
— Vem comigo. — empurrando-me para fora do
quarto, guiando-me para uma sala.
— Fala o que ela tem e não procura palavras como
você faz com seus pacientes. Manda de uma vez só.
— Você sabe que Antonela às vezes se queixava de
fraqueza, sonolência, dores abdominais e dificuldade para
engolir.
— Sim, ela fez o tratamento com a pediatra e ficou
tudo bem.
— Máximus a medicina não é uma ciência exata.
— O que isso significa?
— Ela foi tratada, os efeitos passaram, mas na
verdade só mascarou o verdadeiro diagnóstico.
— Que é?
— Os primeiros exames pedidos pelo hematologista
diante do meu relato indicam que Antonela pode ter
Hemoglobinúria Paroxística Noturna.
— Que porra é essa? Isso é grave?
— Acalme-se. Ainda precisamos fechar o diagnóstico
com precisão e mais exames terão que ser feitos. Mas sim é
grave embora possa ser controlada.
— Meu Deus não! Isso não está acontecendo!
— Máx... — tentando serenar minha dor com suas
mãos — Você tem que ter fé. Vai ficar tudo bem.
— O que é essa doença Austin?
— A enfermidade consiste na má formação de
glóbulos vermelhos e ativação de plaquetas no sangue, por
irregularidade em um dos mecanismos de defesa normais
do nosso organismo contra infecções. A doença é crônica e
é considerada uma anemia hemolítica, que envolve a
quebra dos glóbulos vermelhos. Ela leva ao risco da
formação de coágulos sanguíneos e falha renal, entre
outros. É uma doença que se proliferava em especial à
noite, por isso ela adormeceu e não acordou.
— Mas o que causa isso Austin?
— A HPN é causada por uma mutação adquirida no
gene PIG-A de uma única célula-tronco na medula óssea.
Nas pessoas com HPN, essas células com mutação se
proliferam depressa, levando a um grande número de
glóbulos vermelhos defeituosos, que são destruídos sempre.
Esse processo libera o conteúdo tóxico dos glóbulos
vermelhos no sangue e o que pode afetar diversos órgãos e
às vezes até levar à morte.
— Por que meu Deus? Por que o mundo está
desabando em cima da minha cabeça?
— O importante é fecharmos o diagnóstico, o exame
laboratorial específico chamado citometria de fluxo ficará
pronto em breve.
— Como se trata essa merda?
— Transfusão de sangue.
— Ah não Austin!
— Eu sei. Antonela é O negativo, é raro, mas nós
vamos conseguir. Eu já pedi para sondar nos bancos de
sangue do Estado.
— Do Estado?
— Máx... Desespero não resolve nesse momento.
Através da transfusão de sangue, terapia com ferro e com
ácido fólico e administração de hormônios vamos conseguir
estabilizá-la.
— Isso vai curar minha filha?
— Essas terapias não alteram o curso natural da
doença e tem efeitos colaterais, em especial no uso a longo
prazo.
— Então o que faremos?
— Primeiro a transfusão de sangue. Depois
pensaremos na possibilidade de um transplante de medula
óssea, mas é um procedimento complexo, existe a
dificuldade de se encontrar um doador compatível e saber
se ela vai precisar desse procedimento.
— Temos que dar um jeito! Dinheiro tem seu valor,
tem que ter! Manda comprar essa merda onde for porque
eu preciso salvar a minha filha!
— As coisas não funcionam assim Máximus.
— O que quer dizer com isso?
— Primeiro temos que encontrar doadores O
negativos para Antonela e fazer uma triagem para que
dentre esse grupo exista algum doador. Assim como sangue
ela só pode receber a medula óssea do mesmo doador.
— Isso significa que eu vou cruzar os braços e
esperar que um doador caia do céu?
— Isso significa que estamos num momento muito
difícil em nossas vidas e que como o pai excepcional que
você sempre foi, precisa manter a cabeça no lugar para
ajudar a sua filha da melhor maneira possível. O sangue é
raro, é uma batalha árdua, mas eu não conheço um
guerreiro mais corajoso que você. Se Deus permitiu que isso
sobreviesse sobre nossa Antonela é porque conhece a sua
força meu irmão.
Fui cair em si com as palavras de Austin me
encarando. Ela tinha razão, eu era forte e se não fosse me
reinventaria porque pela minha Adultinha eu seria capaz de
tudo.
Três dias ao lado daquela cama sem ver os lindos
olhos da minha garotinha abertos. Três dias sem dormir ou
comer velando por cada respiração sua. As poucas vezes
que eu afastei-me foram para buscar um café e tomar um
banho nas próprias dependências do hospital, apesar da
insistência de Austin de que eu deveria descansar. Mas o
guerreiro havia despertado e o sono não era capaz de
derrubá-lo. Eu tomava outro banho quando outra vez aquele
pensamento inundou-me. A face de Eudora perto da minha.
O toque dos seus dedos na minha pele. O gosto de sua boca
aquietando-me, sim, era inconfessável, mas eu a desejava
ali ao meu lado passando por aquele momento tão penoso
comigo.
Depois de me secar trocando a roupa que chegara de
casa, passei para apanhar outro café e já seguia para o
quarto de Antonela quando escutei a voz de Richard, que
parecia um tanto aturdido.
— Estava te procurando pelo hospital todo Máximus.
— Eu fui tomar um banho e vim pegar um café.
Aceita?
— Não obrigado. Antonela?
— Ainda na mesma. Estamos procurando nos bancos
de sangue pelo país, mas onde há doadores com o mesmo
tipo sanguíneo dela não há bolsas disponíveis. Estou
pirando cara!
— Calma. Sua irmã me falou que todos estão fazendo
o possível e que Antonela está estável apesar de
desacordada.
— Mas é angustiante ver minha menininha daquele
jeito Richard. Sempre tão esperta, falante... — minha voz se
angustiou de vez.
— Tenha fé. Ela é forte e você é o melhor pai que
conheço, sem falar em sua irmã que tem verdadeira
veneração por Antonela.
— Eu sei. Alguma novidade?
— Sim. Achei melhor eu mesmo vir lhe contar. O
exame de sangue para comprovar a gravidez de Eudora foi
feito. Ela está de fato grávida. Trouxe uma cópia para você
dar uma olhada.
Apanhei o envelope sem dar muita importância. Eu
não queria gastar energia com aquele assunto mesmo
sendo algo tão importante, afinal de contas ela poderia
carregar um filho meu dentro dela. Decidi que mostraria a
Austin. Despedi-me de Richard reforçando o pedido de que
eu deveria ser avisado sobre qualquer novidade do caso
regressando para junto de Antonela.
Ao abrir a porta me deparei com Austin dando mais
instruções a enfermeira. Meu coração encheu-se de
esperança de que desta vez uma boa notícia viria de que
um banco poderia suprir a transfusão de sangue para
Antonela, no entanto o olhar de minha irmã não careceu de
nenhuma palavra.
— Eu sei que a espera é dolorosa, mas ela ficará
bem.
Sentei-me na poltrona ao lado do seu corpinho sobre
a cama hospitalar oferecendo minha alma ao inferno se
pudesse tirá-la dali e me colocar em seu lugar.
— Richard te encontrou?
— Sim.
— O que ele queria?
— Ele veio me trazer o exame de sangue que
realizaram em Eudora. Ela está mesmo grávida Austin.
— O exame está com você? — balancei a cabeça que
sim — Posso ver? — retirei do bolso da calça o envelope
entregando-a.
Enquanto ela abria e lia as folhas afastando-se de
mim, comecei a falar como eu me sentia diante de tudo
aquilo. Da falta que sentia de tio Brad conosco, do que ele
falaria para me acalmar, eu falava como um sufocado
ensandecido quando fui interrompido por um olhar
emblemático de Austin.
— Máximus...
— O quê? O quê Austin?
— Não pode ser!
— Não pode ser o que? Ela não está grávida?
— O médico solicitou o tipo de sangue da Eudora.
Máx... Ela é O negativo!
— Hã?
— Olha... — mostrando-me aquele monte de
números — os níveis indicam a quantidade hormonal por ml
de sangue. Ela está grávida e tem o mesmo tipo de sangue
de Antonela.
— Eu não sabia que vinha o fator sanguíneo num
exame de gravidez.
— É comum na ética das cadeias pedirem o tipo de
sangue do presidiário para ter no banco de dados caso haja
alguma emergência. Máx isso é um milagre!
Meu olhar pairou sobre Antonela. O destino te prega
peças intrigantes, depois de tudo, ele queria que eu
voltasse àquela cena, que ficasse diante daquela mulher e
pedisse para que ela salvasse a vida da minha filha.
— Está esperando o que homem? Corre! Liga para o
Richard e os outros advogados e dá um jeito de falar com
ela outra vez. Máx, Eudora pode salvar Antonela! Não
podemos perder mais tempo.
Beijei minha filha e minha irmã apanhando minha
carteira sobre a mesa de cabeceira, com o celular nas mãos
comecei a ligar para Deus e o mundo. Eu precisava falar
com Eudora a qualquer custo.
— Máximus, ela está num presídio, as regras são
diferentes. Eu não sei se consigo uma visita para você.
— Você não está entendendo Richard, Eudora tem o
mesmo sangue que Antonela. Ela pode salvar a vida da
minha filha!
— Eu entendi! Mas é que...
— Então dá o seu jeito nessa porra! Entra com o
recurso na corte suprema do Estado em caráter de urgência
e prova que ela pode salvar uma criança.
— Ok, Ok! Mande-me os laudos de Antonela e
faremos o que for possível.
— Eu quero o impossível Richard!
— Calma. Mas Máximus... — sua voz teve uma pausa
sombria.
— O quê?
— E se ela não quiser ajudar? Você pensou nisso?
— Preciso desligar.
Na verdade eu não precisava, mas tive medo de sua
pergunta por que eu também pensei nessa possibilidade e
ignorei o fato em minha mente. Por que Eudora me
ajudaria? Ainda mais depois de toda ira com que me voltei
contra ela. Dirigi como um louco por quase uma hora até a
prisão de Valley State Prison sem saber se conseguiríamos
obter algum êxito, sem saber se ainda naquele dia eu
poderia vê-la e o pior com o terror de não saber se Eudora
aceitaria salvar a vida da minha filha.
Horas e horas se passaram, Austin me ligava me
passando o estado de Antonela, sei que ela tentava me
tranquilizar, mas era obvio que estava preocupada com o
quadro de Adultinha. Quando vi Richard e os outros dois
advogados surgirem e na mão dele com folhas e seu sorriso
nos lábios, eu o abracei com vontade. Havíamos ganhado
aquela primeira batalha.
—- Conseguimos Máximus! Conseguimos!
— Obrigado Richard. Obrigado!
— Você tem apenas dez minutos com ela pela sala
de vidro e com a escolta de dois policiais.
— Deixa comigo.
Mais meia hora para revista, documentos e assinar
alguns papéis eu pude entrar naquela sala fria. Conduzido
por um policial. Sentei-me na primeira cabine, minhas mãos
suavam, tentava molhar a boca seca com minha saliva. A
ansiedade me consumia. Quando vi a porta de ferro se abrir
e a vi com aquele uniforme cinza, algemada e tão abatida
fui ao chão. Doeu na alma ver Eudora daquele jeito. Nem de
longe ela mostrava a mulher exuberante que eu conheci,
mas a força, a coragem ainda persistia em seus olhos. O
policial tirou suas mãos das algemas e quando vi o modo
truculento como tocou em seu ombro e a fez sentar, abaixei
a cabeça porque a minha vontade foi de quebrar a cara
dele. Meus olhos voltaram e lá estava os dela me
admirando. Apanhei o telefone e ela repetiu o gesto.
— Oi Eudora.
— Oi Máximus. — no tom mais dolorido que já
conheci.
— Eu não tenho muito tempo e o que me traz aqui é
algo muito sério.
— O que aconteceu? — eu vi que ela se importou
com a minha angústia.
— Antonela.
— Antonela? O que houve com ela?
— Ela está doente Eudora. Foi de uma hora para
outra.
— É grave? — acenei que sim e sem medo deixei que
ela me visse limpar meus olhos — Mas o que ela tem?
— Não lembro o nome certo, mas é algo no sangue.
Ela precisa de transfusão de sangue com urgência. Ela está
internada, estável, mas não acorda e não acordará até que
comece a transfusão.
— Máximus...
— Eu vim até aqui porque recebi o seu exame de
sangue constatando sua gravidez. — ela me fitava sem
entender nada — Acontece que ao ver seu exame Austin
percebeu que você tem o mesmo tipo de sangue da
Antonela.
— O meu sangue é O negativo. — Ela confirmou.
— Isso. — de repente a mão dela encostou-se ao
vidro. — Arruma um jeito de me tirar daqui. Eu vou doar o
sangue para ela. Pode contar comigo, eu ajudarei.
Aquilo me comoveu como um tapa sem mão no meio
da cara. Eu nem precisei pedir ou implorar como supus que
teria que fazer.
— Dá um jeito de fazer isso Máximus. Temos que tirar
Adultinha dessa.
— Eu... Eu não tinha certeza de que você... Aceitaria.
— Eu faria isso por qualquer criança e você sabe o
motivo. Mas sendo Antonela eu doaria todo meu sangue
porque é lindo o amor que você tem por essa menina.
— Obrigado Eudora. Eu preciso ver como faremos
isso. Tem a questão do bebê também.
— Vai Máximus. Acha um jeito. Mesmo que a doação
seja aqui. Não perca mais tempo. Vai! — batendo no vidro e
sendo repreendida pelo policial.
Atônito com a reação tão espontânea dela, eu vi que
poderia ter feito um julgamento precipitado sobre tudo e
que talvez houvesse mesmo uma segunda versão daquela
história além da que eu quis acreditar.
Levantei devagar colocando o telefone no gancho
sem tirar os olhos dela. Vi que uma parte de mim ainda a
condenava, mas a outra desejava puxá-la por cima do vidro
que nos separava e trazê-la para os meus braços para não
mais sair.
q
Capítulo 33
Revés da vida
M á ximus
A esperança regressou a minha alma ao sair da
prisão, a primeira coisa que fiz foi ligar para Austin.
Impossível conter a nossa emoção diante da atitude de
Eudora.
— Agora precisamos solicitar exames específicos
Máx. O hematologista pedirá exames que detectam se
existe algum tipo de incompatibilidade entre elas e também
preservar à segurança do bebê que ela espera. Tudo tem
que ser feito com toda cautela necessária.
— E isso demora?
— Calma. O mais improvável já temos, a doadora. Eu
não quis te assustar, mas na verdade estava ficando
aterrorizada em não encontrarmos alguém.
— Eu percebi isso. Irmã você deveria ter visto a
inquietação que eu vi nos olhos dela.
— Ela tem um bom coração Máx, apesar de tudo eu
devo admitir que a partir de agora Eudora tem meu
respeito.
— Ela poderia se negar não é?
— Ela poderia te ferrar e não fez, ela podia receber
muita grana que você se propôs a oferecer pelo silêncio
dela e não aceitou e agora ela poderia sim se negar a
ajudar Antonela. Máximus será que ela teve alguma culpa
na morte do tio?
— Nem sei o que falar.
— Não fala, você tem muito que pensar. Vou agilizar
os exames, temos que correr. A gente vai se falando, ok?
Beijos, te amo.
Andando de um lado para o outro no pátio da prisão,
aguardando a liberação para que o diretor liberasse a coleta
de amostra de sangue de Eudora para fazer os exames que
possibilitariam a transfusão para Antonela, eu tentava
processar tudo aquilo de um modo racional. Mas quais as
chances da racionalidade explicar que a minha filha que
caiu doente num leito de hospital de um dia para o outro
tivesse o mesmo tipo de sangue que a mulher que eu amei,
que destruiu a minha vida e que poderia estar esperando
um filho meu. Esse tipo de coisa a racionalidade não
explica, você só aceita e pronto ou enlouquece de vez.
Mandei que a equipe médica viesse de helicóptero para a
prisão assim que Richard e os outros advogados
conseguiram vencer outra batalha. Eu não pude entrar, mas
desejei. Eu quis muito poder entrar e mais uma vez olhar
nos olhos de Eudora Tyr, de poder dizer que eu tinha uma
gratidão eterna por ela e que parte de mim queria muito
que aquela criança fosse minha. Mas o orgulho não
permitiu, o ser humano tem seu lado rude, duro e esse meu
lado ainda a culpava por estar vivenciando todo aquele
vendaval.
Voltei com a equipe médica para o hospital e pedi a
um dos advogados que retornasse com meu carro. Eu
queria fazer parte de todo aquele processo até ver minha
Adultinha acordar, segurar meu queixo e me dar uma
bronca por não estar com as meias que ela escolheu para
mim.
A movimentação no laboratório foi intensa e rápida.
Austin acompanhou todo processo enquanto eu permaneci
no quarto ao lado de Antonela pedindo sem parar que ela
não me deixasse.
Duas e onze da madrugada é uma hora que eu
jamais me esquecerei. A doutora Austin entrou naquele
recinto com um semblante espantado embora esperançoso.
— Deu certo, irmã? — ela acenou que sim com um
sorriso — Meu Deus! Não acredito! — nos agarramos
calados por um tempo, mas eu conhecia Austin o suficiente
para compreender que ela tinha algo a mais para ser dito.
— A equipe está à disposição para voltar até o
presídio e coletar o sangue de Eudora.
— Estou ligando para o piloto agora! — meus dedos
tremiam de tanto nervoso e alívio ao mesmo tempo. Ordens
dadas, acariciei o rosto de Antonela — Viu filha? Papai não
disse que ia dar tudo certo? A tia Eudora vai doar o
sanguinho para você e...
— Mãe. — Olhei para Austin um pouco sem
compreender.
— Mamãe veio aqui? Ela resolveu aparecer?
— Eudora... — vi sua voz se esforçando para
prosseguir.
— Está falando da mamãe ou da Eudora, Austin?
— Eudora é a mãe biológica da Antonela, Máximus.
Segredos. Todos nós os possuímos. O meu maior
segredo seria contado. Antonela foi adotada com uma
semana de vida por mim e minha ex-mulher. Um segredo
que além de mim e de Ryana, somente Austin e tio Brad
sabiam. Eu decidi que não contaria para minha filha que ela
não era do meu sangue. O medo do desprezo que a vi
desenvolver pela rejeição da mãe adotiva me fez querer
protegê-la. Eu não queria que ela imaginasse que não foi
desejada pela mulher que a gerou e de que não tínhamos o
mesmo sangue. Muitas vezes tio Brad me cobrou isso, por
ele, Antonela tinha o direito de saber toda a verdade, mas
por amor eu ocultei essa informação. Até onde somos donos
da vida... Outra vez o destino, o carroceiro de Deus bateu
em minha porta revelando toda a verdade. A menina, que
tantas vezes vi Eudora debulhar-se em meus ombros por ter
sido obrigada a entregá-la para adoção era a minha
Adultinha. E como a vida é linda, deu a ela o direito de mais
uma vez dar a vida a essa criança que ela não pôde amar e
que eu escolhi para ser minha sem saber que a perfeição
que havia em Antonela era dela, de Eudora Tyr.
— Não pode ser! Impossível Austin.
— Não meu irmão. Está aqui. — com as folhas nas
mãos — O mapeamento genético das duas foi realizado
para saber se havia algum risco de incompatibilidade. Elas
são mais que compatíveis Máximus. Elas pertencem ao
mesmo tronco genético, o mesmo tronco de DNA. A
medicina afirma que com 99.99%, Eudora Tyr é a mãe
biológica de Antonela Spartacus.
— Não! Não é verdade! Você contou isso a alguém?
— voando naquelas folhas tentando entender o que minha
irmã afirmava.
— Não. Mas o hematologista estranhou e me
perguntou se foi por isso que você foi buscar a mãe da
Antonela para ser a doadora dela e quando eu mesma vi o
exame... Com esse grau de compatibilidade elas só podem
ser irmãs ou mãe e filha. No que você aposta meu irmão?
— Meu Deus... — sentei-me com as pernas bambas.
O fôlego chegou a me faltar por alguns segundos. Eu
era uma presa numa teia emaranhada repleta de emoções
intensas, violentas que deixam qualquer ser humano sem
saber como agir.
— Tem que contar a ela Máximus.
— Para Eudora?
— Sim e depois para Antonela.
— Eu não posso fazer isso Austin. Eu não estou com
cabeça para isso.
— Eu sei. Vamos fazer a transfusão de sangue. Vou
avisar a equipe que o helicóptero está a caminho.
Pela primeira vez ao contemplar o rosto da minha
filha, eu enxerguei alguém diferente. Minha mente entrou
numa velocidade insana aonde ia projetando detalhes entre
elas que eu não pude ver antes e que agora eram tão
claros. Elas não eram semelhantes na aparência, mas no
comportamento, na impetuosidade de suas personalidades
tão fortes, elas só podiam ser mãe e filha. Nesse frenesi
comecei a pensar na gravidez de Eudora, se ela estivesse
grávida de mim ou não ainda seria a mãe da minha filha. Eu
não podia permitir que ela fosse jogada na cova dos leões.
Leões que eu mesmo alimentei contra ela. Um fato
ruminava dentro de mim, meus leões, meus advogados
entraram com um pedido na suprema corte e o juiz aceitou
que Eudora fosse a júri acusada por homicídio doloso com
atenuante por crime premeditado. Se ela fosse a júri
popular como eu planejei na hora do furor, ela pegaria
prisão perpétua sem chance de revisão no caso. O tempo
estava contra ela, eu precisava salvar a vida de Antonela e
tentar reverter a situação de Eudora.
Mas o orgulho ferido te impede de agir com
clemência. Eu não queria me expor perante ela e foi por isso
que tive uma ideia para tentar dá-la a oportunidade de
colocar a mesma acusação que eu forjei, abaixo no tribunal.
i
Capítulo 34
Uma mulher de fibra
M á ximus
— Como vai senhorita Tyr? Ah... Meu nome é Gary
Hartes. Sou seu advogado.
— Eu não contratei advogado nenhum.
— Eu sei. Por isso estou aqui para me apresentar.
— Quem mandou você aqui?
— Sente-se senhorita Tyr. Temos pouco tempo e
muito para conversar.
— Olha se você é algum advogado desses que ficam
nas portas de cadeias eu não tenho grana cara...
— Peço somente que me ouça por cinco minutos e se
ainda preferir não ter meus serviços prometo ir embora. Um
amigo me contratou para defendê-la em seu caso.
— Eu não tenho amigos tão benevolentes senhor
Hartes.
— A única coisa que ele pede é que sua identidade
não seja revelada. Seu caso é grave senhorita Tyr.
— Eudora.
— Sendo assim pode me chamar de Gary. Seu caso é
delicado, Eudora. Se não tiver uma boa defesa pode até
pegar prisão perpétua e sem direito a revisão do caso.
— Eu sei. Algum defensor da cadeia andou
conversando comigo.
— Eles querem acusá-la de homicídio doloso e
qualificado dado o teor do relacionamento entre você e a
vítima. Do que ri?
— Eu não tinha um relacionamento com ele, eu tinha
um contrato. Isso não é uma relação e sim um negócio.
— Os advogados de acusação são os melhores do
país. Tive acesso às provas deles arrolados ao caso. Eles
têm o vídeo. Eles têm comprovantes do que a vítima vinha
gastando com a senhorita.
— E o senhor será meu salvador da pátria suponho.
— Posso reverter isso para homicídio culposo, e com
sorte em omissão de socorro.
— No que está tentando me convencer Gary? Eu não
tenho chances contra essa gente. Eu sei com quem estou
mexendo.
— Eu sei que não. Mas tanto eu como seu amigo
acreditamos na sua inocência.
— O senhor? E o meu amigo?
— Por que não lutar Eudora? Você tem aceitado tudo
que estão fazendo contra você como se merecesse. Como
se acreditasse que faça jus a isso.
— Já acabou.
— O quê?
— Seus cinco minutos senhor Hartes. — Ele retirou
de sua pasta de marca um papel em branco empurrando
em minha direção sobre a mesa e em seguida puxou uma
caneta de dentro do seu paletó.
— Sem a sua assinatura não posso dar sequência em
sua defesa. Seu julgamento já está marcado.
— Se não assinar não terei outra chance. Eu não
poderei entrar aqui outra vez Eudora. Os leões irão te
devorar. Você estará abandonada a própria sorte.
— Eu sempre estive senhor Hartes.
Quando terminei de ouvir a gravação de sua
conversa com Eudora vi que era o maior crápula do
Universo. Um filho da puta. A hombridade dela esmurrava
meu rosto sem dó. Eu oscilava entre querer justiça e que ela
pagasse pelo que fez naquela noite em que tio Brad morreu,
assim como me sentia um monstro porque a mulher que eu
ainda amava, para a minha felicidade ou não, estava
grávida e era mãe da pessoa mais importante da minha
vida que era Antonela.
— Eu sinto muito Máximus.
— Temos que fazer alguma coisa. — dessa vez olhei
para Richard.
— Máximus, seguimos o seu plano. Montamos a
acusação por crime doloso, premeditado e o juiz aceitou
levá-la sob julgamento a júri popular. O que poderemos
fazer? Quer mesmo que ela saia livre depois de tudo que fez
só porque doou sangue para sua filha? Isso não faz dela
uma santa Máximus. — voei sobre ele, jogando-o na parede
com Hartes e os demais tentando me segurar.
— Se não fosse ela minha filha morreria! Ela tem que
pagar pelo que fez, mas todos nessa sala sabemos que ela
não matou com intenção o tio Brad!
— Calma Máximus! — Hartes puxou-me pelo
pescoço.
— Todos nós sabemos disso, mas a ordem em criar a
tese veio de você, esqueceu? Quem orquestrou o destino de
Eudora Tyr foi você senhor Spartacus! Quem queria que ela
apodrecesse atrás das grades era você! — apontando o
dedo na minha cara — Aqui todos nós somos peões do seu
tabuleiro de xadrez! Não se esqueça disso!
— Me larga Hartes!
Caminhei até a vidraça da sala da presidência da
Randor. Eu podia estar puto, mas ele tinha razão. Quem
condenou Eudora fui eu usando o meu poder, meu dinheiro
e o ódio que me dominou por ela ter me traído.
— Podemos tentar mandar outra pessoa Máximus. —
Richard sugeriu vendo o meu desespero aparente.
— Uma mulher quem sabe? — Hartes opinou —
Temos a Hilary Madson ela é fabulosa e...
— Ela não aceitará. — fui taxativo — Eu conheço
Eudora. — então contei a todos o segredo que nos envolvia,
do nosso relacionamento até a revelação do exame de
compatibilidade para a transfusão de sangue.
— Puta merda Máximus! — Richard explodiu. — Puta
que o pariu!
— Os senhores agora podem entender a razão do
meu ódio, da minha dor e de como estou me sentindo.
— Por que não nos contou isso antes?
— Orgulho Richard.
— Nós poderíamos ter evitado o pior Máximus.
Chegamos a um ponto que não há nada a fazer na esfera
judicial.
— Eu sei, sou advogado também lembra?
— O pior é que saiu a data do julgamento no edital
essa manhã.
— Quando será Hartes? — eu bebia doses e mais
doses de desespero.
— Daqui a uma semana Máximus.
— Caralho! Porra! — chutei a mesa jogando-a para
longe — Não acredito!
— O caso é de repercussão nacional. Houve pressa
em dar uma resposta à sociedade por parte da Justiça.
— Detesto ter que lhe dizer isso Máximus, mas não
há nada mais que possamos fazer, mesmo com toda
influência e poder que a sua família possui.
Atordoado, tentando raciocinar meu celular tocou.
Quando vi o rosto de Austin meu coração apertou mais.
— O que houve com a Antonela, Austin?
— Calma. Vem. Ela acordou.
— Não acredito! — sorri aliviado.
— Vem porque ela só quer você.
Deixei os peões do meu jogo na sala ainda falando
coisas e como um raio eu dirigi minha moto até o hospital.
Tudo que eu pensava era poder ver a Iris dos olhos da
minha Adultinha outra vez e ouvir sua voz me chamando de
papai. Larguei a moto de qualquer modo, subi as escadas
correndo como um atleta e quando cheguei na porta
daquele quarto Austin me aguardava com um riso bobo.
— Pode entrar papai. Sua garotinha o espera mais
brilhante do que nunca.
— Eu te amo irmã! — não me cansei de beijá-la —
Obrigado por salvar minha Adultinha.
— Fui apenas uma ponte. — ela segurou meu queixo
— Você sabe quem salvou a Antonela.
— Eu sei. — limpando meus olhos.
— Olha tentei não contar a ela tudo, você sabe como
ela é, talvez me desse uma aula sobre o assunto. E tem
outra coisa...
— O quê?
— O hematologista analisou os últimos exames dela
nesse período em que recebeu o sangue da Eudora. Ela não
precisará do transplante da medula óssea Máx.
— Jura? — um peso saiu dos meus ombros. — Mas
ele tem certeza?
— Outros exames serão feitos de tempo em tempo,
mas a chance dela precisar de algo assim é inferior a um
por cento.
— Que boa notícia meu Deus! Obrigado!
— Máx... Posso lhe dizer uma coisa?
— Claro.
— Amor em si cura. Mas amor de mãe supera
qualquer expectativa. Eu tenho certeza de que se o doador
fosse outra pessoa Antonela ainda necessitaria de um
transplante. Isso só não ocorreu porque sua mãe foi a
doadora e não é a genética, é amor de mãe, Máximus.
— Você tem razão. Também sinto isso.
— Eudora não faz ideia de que seja mãe biológica de
Antonela, mas o amor que ela carrega dentro de si por essa
filha que ela acredita que se perdeu na vida é tão puro e
forte que foi o melhor medicamento que a filha de vocês...
— meus olhos se arregalaram porque só então eu me dei
conta de que nós tínhamos uma filha juntos — Que a filha
de vocês poderia receber e agora não é a sua irmã que está
dizendo isso, é a Doutora Austin Spartacus.
— Vou entrar irmã.
— Vai. Ela não para de perguntar sobre o meninão
dela.
A primeira vez que vi Antonela quando fui buscá-la
no abrigo eu acreditei que aquele era o momento mais
especial de toda a minha existência. Durante oito anos foi.
Mas ao abrir a porta daquele quarto e me deparar com o
sorriso dela deitada na cama foi como receber uma segunda
chance de reviver o primeiro momento e compreender de
que ele tinha sido ultrapassado por aquela imagem.
— Sentiu minha falta garotão?
Quando dei por mim minhas lágrimas molhavam
seus cabelos, meus lábios tremiam e eu não conseguia dizer
nada.
— Papai... Não chora. Eu estou bem.
— Eu... Papai teve tanto medo de perder você
Adultinha. Eu te amo tanto minha pequena!
— Deus me mandou de volta sabia?
— Sério? — sorri encantado por ouvir sua voz.
— Sim, tivemos uma reunião e concordamos que
você não vive sem mim de jeito nenhum.
— Ah filha... Não vivo mesmo! Sem você não tem
lugar para mim nessa vida Antonela! Que bom poder olhar
para você e escutar sua voz meu amor!
— Papai...
— Oi! — ela limpava meu rosto com suas mãos ainda
com o soro.
— Eu nunca deixaria você. Desculpa deixar você tão
preocupado.
— Filha você não fez por querer. Aconteceu. As
pessoas ficam doentes, mesmo sendo a Adultinha.
— Mas agora eu estou legal. A tia Austin falou que eu
vou me sentir melhor a cada dia.
— Vai sim. O papai quer que você coma tudo que
vier. Não quero esse negócio de virar o nariz como você faz.
— Mas e se for brócolis? — fazendo a cara de nojo
mais linda do mundo.
— Filha, tem que ser tudo. Papai pode fazer
aviãozinho para você, o que acha?
— Papai eu fiquei doente eu não virei um bebê de
seis meses de idade. — em muitos dias aquela foi a minha
primeira gargalhada.
— Minha Adultinha.
— Papai o que eu tive de verdade? Tia Austin disse
que eu precisei ficar aqui por uns dias, que eu precisei
tomar sangue.
— E é o que você precisa saber. A sua tia é a médica
lembra? A senhorita me mandou obedecê-la quando fiquei
com a mão machucada tem que fazer o mesmo agora.
— E a tia Eudora? — o embaraço chegou a minha
garganta — Não falou mais com ela?
— Não vamos falar sobre ela agora não.
— Eu sonhei com ela.
— Sonhou? — aquilo me arrepiou da cabeça os pés.
— Sonhei que nós duas estávamos deitadas num
campo verdinho como o que ela me disse que há na
fazenda onde ela cresceu. Que nós nos olhávamos, mas não
podíamos nos tocar. Papai eu sei que ela estava com o tio
Brad na noite que ele morreu. Mas eu a amo tanto, mesmo
assim, que até dói.
— Filha... — bancando o forte ajeitei a manta sobre a
sua cintura — Com o tempo tudo se ajeita como deve ser.
— Ela está presa?
— Antonela. — ela sabia como me encurralar tal
como a mãe.
— Papai você me ama?
— Só para sempre e você sabe disso.
— Ajuda a tia Eudora. Ela jamais machucaria o tio
Brad. Tira ela de lá papai.
— Filha eu não posso ir contra a lei.
— Faz o melhor que puder, faz por mim papai.
— Por que quer tanto ajudá-la?
— Já falei. — mexendo nos dedinhos com um ar
desolado — Eu amo a tia Eudora e não sei a razão desse
sentimento porque o amor não se explica papai. Amor se
sente e dele não se esconde mesmo que a gente queira.
Sorri para disfarçar a minha verdade. Eu tinha que
fazer alguma coisa, qualquer coisa para tentar fazer a
justiça como o meu tio também desejaria, ele não aprovaria
que uma pessoa fosse castigada por algo que não fez.
Fiquei a noite toda cuidando de Antonela. Brincamos, ela
ainda estava fraca, mas começou a reagir bem. Toda vez
que eu via um movimento seu de pronto lembrava-me de
Eudora, agora as duas eram tão nítidas para mim, sem
contar no olhar de Austin que a cada vez que entrava no
quarto me lançava certa cobrança para que a verdade
viesse à tona.
— Posso falar com você em particular?
— Vai papai, assunto de adulto, relaxa eu não vou
morrer. — Austin e eu sorrimos.
— Está bem. Vamos lá Austin.
Uma enfermeira ficou com Antonela enquanto Austin
e eu fomos até a cafeteria do hospital. Pedidos feitos
sentamos numa mesa mais afastada.
— Ela está mesmo bem não é?
— Sim. Respondendo em notas de milagre ao
tratamento. Creio que em uns dois ou três dias ela irá para
casa.
— Graças a Deus.
— O julgamento será na próxima terça, é isso?
— Sim. Foram tantas coisas que eu acabei
esquecendo-me de contar para você Austin.
— E o que pretende fazer?
— Não me faça cobranças Austin. Eu já tentei de
tudo. Agora tramita na esfera judicial eu não tenho mais o
que fazer.
— Como não tem? Ela omitiu socorro, ela não
premeditou a morte do tio Brad. Você achou que eu não
saberia? Você montou a tese para incriminá-la de homicídio
doloso e qualificado Máximus!
— Fala baixo Austin! — olhei para os lados
certificando-me que ninguém nos ouvisse — Sim. Eu fiz essa
merda do caralho, mas naquele primeiro instante em que eu
queria arrancar a pele da carne dela.
— Máx... Você não percebeu a dimensão que esse
caso tomou? É óbvio que a Justiça irá condená-la. Você tem
que fazer alguma coisa! Não é justo que Eudora pague pelo
que ela não fez!
— Mas ela estava com ele. Isso ainda não mudou
querida irmã. — ela debruçou-se sobre a mesa colocando
seu rosto rente ao meu. Aquele era o seu jeito de me
obrigar ver a merda que eu tinha criado.
— Você acredita mesmo que Eudora tinha um caso
com tio Brad? Seja sincero, sou eu aqui na sua frente.
Desviei meu olhar sobre o copo roçando meus dedos
sobre a borda. Como homem tem coisas que as mulheres
não conseguem compreender sobre nossa natureza. Há um
código entre nós. Um código territorialista. Para mim não foi
meu tio quem cruzou a linha desse território, mas sim
Eudora. Na cabeça de homem nenhum no planeta e fora
dele aceitaria a ideia de que eles não tinham nada. Eu fiz a
minha pesquisa sem que ninguém soubesse. Eu sei que
Eudora entrou no site, assim como meu tio, eu sei que há
uma possibilidade de que ela não soubesse quem ele era do
mesmo modo que ele. Mas isso não muda a porra do meu
orgulho ferido e a sensação de que tive meu território
invadido, ou melhor, vendido pelo corpo dela. Uma sirene
soava dentro de mim como a que presenciei numa viagem
ao Japão, usada para alertar o pequeno povoado de que um
furacão se aproximava. Eu tinha certo ranço e uma enorme
placa escrita “Você me traiu!” cravado sobre meu coração
em relação a ela.
— Responde senhor Máximus!
— Ela estava no iate com ele enchendo a cara e
cheirando carreiras de cocaína. O que quer que eu pense
Austin?
— Conhecendo como eu te conheço — recuando o
corpo a cadeira — Você acha que a sua dor é maior do que
a minha e a de Antonela.
— Eu não citei isso em momento algum.
— E precisa? Você acha que por ela ter te traído com
seu tio faz com que a sua dor seja maior do que a nossa.
— Eu queria me casar com ela Austin! Eu queria que
ela fosse à mãe da minha filha.
— Pois veja só caríssimo irmão, ela é a mãe da sua
filha.
— Você não acha que eles tinham um caso? — lancei
a pergunta sobre Austin na intenção de calá-la.
— Não. Não acho.
— Impossível. Está falando isso só para me
pressionar a pensar como você quer. Conheço seus truques
Austin. — cruzei as mãos na altura do queixo, irritado.
— Máx, Eudora nunca escondeu quem ela era e isso
fez com que eu a admirasse. Você acredita mesmo que o tio
Brad não sabia quem ela era? Agora não estou falando da
Eudora e sim dele. Brad Hawks era um homem discreto,
cauteloso, que agia na escolha.
— Não posso acreditar que você está supondo que o
nosso tio soubesse que Eudora era a minha mulher e
mesmo assim se envolveu com ela.
— Ele não queria esse relacionamento lembra?
— Você enlouqueceu Austin! — agora fui eu quem
estourou sendo controlado por ela.
— Para e pensa. Tio Brad não ia ser tão ingênuo em
fazer parte do site sem saber com quem estava se
envolvendo Máx.
— Ele não faria isso comigo. Ele não jogaria tão
baixo.
— Concordo. Mas a questão, o mistério continua.
Diga que minto. Você acha mesmo que ele não sabia que
Tara Larousse era na verdade Eudora Tyr?
Por um instante calei-me bebendo o resto do café,
processando o que Austin falou. Ela tinha razão. Meu tio não
era o tipo de homem que se envolveria com uma mulher
por um site, ainda que privê para pessoas poderosas, sem
investigar até o que ela comia no café da manhã. Brad
Hawks sabia quem era Eudora Tyr. A pergunta que
martelaria minha mente agora era: Por que ele fez isso?
Porque do mesmo modo como ele averiguaria toda a vida
dela jamais me magoaria tanto. Ele não seria tão crápula
comigo.
— Essa conversa não nos levará a nada Austin. O
julgamento é daqui alguns dias.
— Tem que fazer algo por ela. Que ela pague pela
omissão de socorro, mas nada, além disso. Investigue isso
Máximus. Você tem pouco tempo. Nós dois conhecíamos
como ninguém o homem que nos criou. Tio Brad sabia de
algo sobre Eudora e foi por isso que ele a escolheu. Há
alguma razão nisso.
Sempre detestei quando minha irmã tinha razão em
algo. Quando percebia alguma coisa que eu não. Dessa vez
não era diferente. Havia coesão no que Austin expôs. Como
eu não pensei nisso antes? Brad Hawks sabia quem Eudora
era. Se ele quisesse me ferir e ela também bastaria chegar
em casa de mãos dada com ela. Por que a ajudaria comprar
a fazenda? Por que manteria segredo? Tantas perguntas.
Cabia a mim agora descobrir porque ele se envolveu com
ela.
x
Capítulo 35
Revirando o Passado
M á ximus e Eudora
Eudora
Aquele era mais um dia no inferno. Tive que ser
colocada em uma cela sozinha porque outras presas não me
aceitaram. Prostitutas não são as mais queridas nas prisões.
Há sempre uma que é amiga de uma de suas inimigas e
quando você chega quer fazer justiça com as próprias mãos.
Tudo que eu tinha era uma privada, uma cama fria com um
colchonete fino e uma Bíblia que ganhei de uma das
guardas que num tom debochado jogou o livro em cima de
mim dizendo:
— Vai precisar lindinha. O demônio deve estar
preparando aquele jantar de recepção para te receber a
qualquer momento porque não poderá se esconder nessa
cela para sempre.
Eu folheava a Bíblia sem vontade. Nunca me senti
nem um pouco perto de Deus. Acho que eu fazia parte
daquele grupo de pessoas que Ele desiste de cara e grita:
“Ah você quer ser polêmica? Então desce lá, vai ser mulher,
puta, encrenqueira, perversa e mal amada!”. Foi quando
abri sem querer numa página e me senti atraída por uma
frase: “Espere no Senhor. Seja forte! Coragem! Espere no
Senhor”. Por alguma razão que eu não soube explicar
aquelas palavras me deram certo refrigério, mal sabia eu
que logo descobriria a razão. A cela se abriu sem que eu
esperasse.
— Hora da visita famosinha. Você tem alguém a sua
espera hoje.
Aquilo não me soou convidativo. Pensei que outro
advogado se apresentaria. Eu queria muito acreditar que
Máximus havia mandado o anterior, porém a julgar pelo
modo frio como me olhou da última vez que nos vimos,
achei que não passava de um devaneio dos meus
sentimentos por ele. A única opção que eu tinha era Rita.
Ninguém mais além dela moveria uma palha para me
ajudar. Outra vez percorrendo por aquele corredor cinza
sem ânimo ou viço de vida, vi a porta sendo aberta e ao
lançar meu olhar para o vidro para descobrir quem me
aguardava sentada do outro lado, senti um ar frio subir por
minha espinha. Meus pés cessaram. Por instinto, coloquei
minhas mãos algemadas sobre meu ventre, tudo em meu
pensamento se resumia ao passado, em tentar proteger
meu bebê outra vez.
— Sente-se prisioneira. — um guarda ordenou e
obedeci calada.
Ela apanhou o telefone com um sorriso sarcástico, fiz
o mesmo aguardando o que estaria prestes a acontecer.
— Como vai Eudora?
— O que veio fazer aqui Freya?
— Como o quê? Vim visitar minha primogênita num
momento delicado de sua nobre existência.
Cedo eu aprendi que para sobreviver eu teria que ser
corajosa. A palavra medo não caberia na mesma frase com
o nome Eudora. Mas Freya despertava em mim algo
soturno, em virtude do que me fez passar. Alguns
chamariam de trauma, mas eu tinha um verdadeiro pavor a
sua presença e ela alcançava se aproveitando disso.
— Parece surpresa em ver a mamãe, filha. Você se
sente tão mal quanto aparenta?
— O que você quer Freya?
Eu tinha plena convicção de que naquela altura, ela
já tinha esquadrinhado cada centímetro do caso e tudo que
envolvesse a minha maldita vida.
— Eu tenho que admitir que você é muito
persistente... — olhando para minha barriga — Ou pela
primeira vez decidiu ser um gênio com o truque mais velho
do mundo.
— Por que decidiu perder seu precioso tempo comigo
Freya?
— Porque nem que eu estivesse morta, eu perderia o
privilégio de ver você onde eu sempre achei que tinha que
estar. Atrás das grades!
— Eu não matei minha irmã.
— Eu disse que viveria para fazer justiça à morte da
minha filha. Você está onde sempre mereceu Eudora. Levou
muito tempo é verdade, mas valeu cada segundo do meu
esforço. — aquilo me pareceu suspeito.
— Como assim cada segundo do seu esforço? —
retruquei tentando extrair de seu semblante de triunfo
alguma reação suspeita.
— Foi um prazer revê-la amada filha. Apodreça na
prisão!
Batendo o telefone em minha cara apanhando sua
bolsa e saindo me deixando aos berros, esmurrando o vidro
que para sua sorte era inquebrável.
— Freya! O que você fez? O que você fez
desgraçada! Volte aqui! — foi quando senti o peso de braços
truculentos puxando-me daquele lugar e me jogando outra
vez naquela cela amaldiçoada.
Máximus
O sol batia forte na viseira do meu capacete quando
estacionei minha moto outra vez na prisão de Valley State
Prison. Apresentei minha identidade como era o costume.
Achei estranho quando um guarda me pediu para esperar
porque a prisioneira Eudora Tyr recebera a visita de outra
pessoa. Pensei comigo, quem se interessaria em visitá-la.
Meu coração disparou só de ponderar que a qualquer
momento eu poderia ver um de seus clientes saindo pela
porta, mas para o meu espanto, uma senhora elegante com
certa idade passou por mim olhando-me como se me
conhecesse. Tinha um porte nobre e ao mesmo tempo
arrogante.
— Boa tarde senhor Spartacus. — o timbre de sua
voz lembrava o de Eudora, foi assim que deduzi que aquela
era a temível Freya Tyr.
— Boa tarde.
— Sei que ainda não fomos apresentados, mas eu
sou a mãe de Eudora, Freya Tyr. — estendendo sua mão
como uma dama de ferro — Não que isso seja algo que eu
me orgulhe muito. Sinto muito por sua dor. Seu tio era um
homem admirável.
— A senhora o conhecia? — eu não gostei nem um
pouco dela, não pelo que Eudora havia me contado, mas
pelo que via em seu semblante.
— Digamos que temos amigos em comum.
— Entendo.
— Eu preciso ir. Já cumpri meu papel por aqui.
— Veio visitar sua filha? — ela recuou os poucos
passos que deu encarando-me.
— Minha filha morreu há muitos anos de um modo
brutal senhor Spartacus. Minha vinda até aqui é para
festejar uma vingança esperada com louvor.
— Vingança? — devolvi o olhar esnobe.
— É uma longa história. Passar bem senhor
Spartacus. — acompanhei sua saída até o último degrau da
entrada.
Enquanto eu aguardava ser chamado para receber a
liberação da visita a Eudora, eu vagava na palavra de Freya.
Como uma mãe pode sentir algum tipo de triunfo como a
vingança em cima de um ser que saiu de suas entranhas.
Ao entrar na sala dessa vez ela encontrava-se
sentada com a cabeça baixa, remexendo a beira do seu lado
da mesa com seus dedos, como quem escrevesse algo. Fui
invadido por aquilo que julgava ter adormecido quando
longe dela, mas ao vê-la regressava como um nômade do
deserto ao se deparar com Oasis com água fresca.
— Oi. — disse assim que ela apanhou o telefone. Era
a nossa primeira vez embora Eudora ainda não soubesse. A
primeira vez que eu olhava para mãe da minha filha.
— E Antonela? Ela melhorou? Eu tentei pedir
permissão para ligar para o hospital, mas foi negada.
Disseram que eu não era da família. — aquilo me doeu
ainda mais.
— Ela está bem. Vai receber alta nos próximos dias
Eudora.
— Obrigada por vir me dar notícias Máximus.
De repente ficamos calados nos contemplando.
Como se tudo desaparecesse e só houvesse nós dois outra
vez e eu vi como tudo aquilo que me infernizava se tornava
pequeno, quase ínfimo, diante do que meu peito, do que
meu corpo nutria por ela. Eu podia senti-lo exalar por todos
meus poros a vontade Máxima de protegê-la e tê-la nos
meus braços para quantas eternidades o mundo pudesse
me oferecer.
— Eudora...
— O que foi? Ela está bem mesmo?
— Por que não aceitou o advogado que te mandei? —
vi o susto em seus olhos.
— Foi você?
— Sim. Por que o espanto?
— Pensei que fosse a Rita.
— Isso não importa. Precisa me deixar ajudá-la.
— Eu mereço estar aqui Máximus. Toda a minha vida,
tudo de errado que fiz, todo o monstro que sou...
— Escute-me... — sussurrei louco para quebrar
aquele vidro — Você errou. Errou muito. Mas eu também
errei com você.
— Máximus do que está falando?
— Fui eu... — torcendo um pouco o lábio inferior —
Fui eu quem preparou a acusação de homicídio doloso e
qualificado contra você através dos meus advogados
Eudora. Eu estava com muita raiva. Perdi a cabeça e...
— Eu te perdoo. — quase pude sentir o tapa que ela
me deu sem usar a mão — Eu não me importo. Eu
compreendo.
— Por favor. Eu não tenho como desfazer o que fiz.
Mas posso lhe oferecer os melhores advogados do mundo e
tentar colocar essa tese abaixo. Você não pode pagar pelo
que não fez.
— Está fazendo isso por que ajudei Antonela?
— Também. Mas há outros fatores.
— Como, por exemplo?
— Olha você estava se encontrando com o tio Brad
escondido através dessa porra de site. Mas eu conheço meu
tio. Ele não se envolveria com você sem saber quem era.
Ele não era como eu Eudora.
— Aonde quer chegar Máximus?
— Eu tenho quase certeza de que tio Brad sabia
quem você era. Ele sabia que você era Eudora Tyr. Mas não
acredito que ele se sujeitaria a entrar nesse jogo entre um
Sugar Daddy e uma Sugar Baby só para machucar.
— Ele não sabia nada de mim.
— Não Eudora. Isso é o que ele queria que você
acreditasse. Há um motivo, uma razão para ele ter aceitado
você. Uma razão que eu não sei qual é, mas se você
permitir que eu te ajude, isso pode se reverter ao seu favor
no tribunal.
— Eu nunca dormi com ele Máximus. Tudo o que
quero é que você saiba e que confie em mim quanto a isso.
O filho que espero é seu. É nosso Máximus.
— Deixa-me te ajudar.
— Não tem jeito para mim. Sabe é melhor que eu
fique aqui dentro mesmo. Eu não sirvo para viver na
sociedade. Eu não tenho nada para contribuir com ela.
— Para com isso! — quase cuspindo toda verdade ali
mesmo — Eudora... Sendo meu filho ou não, esse bebê
precisa de você. Eu tenho certeza de que você será uma
mãe maravilhosa.
— Como a minha que veio aqui hoje só para zombar
da minha cara.
— Eu a encontrei saindo daqui. Trocamos algumas
palavras. Ela é muito pior do que você me contou.
— O que ela lhe disse?
— Vingança.
— É a cara da Freya. — deu de ombros.
— Mas ela falou algo que me incomodou.
— O que foi?
— Ela me deixou transparecer que conhecia o tio
Brad. Falou que tinha amigos em comum.
— Mentira. Não tinham. Eu nunca ouvi falar do seu
tio antes de conhecê-lo, assim como você até aquela noite
na festa do James. — percebi que Eudora pensou em algo.
— Eudora?
— Estranho tudo isso.
— Estranho por quê?
— Porque além de todos os absurdos que Freya me
disse hoje, ela deixou passar que estava saboreando a
vingança que lhe custou cada esforço.
— Ela falou isso? Eudora... Ela usou essas palavras?
— Sim. Essas palavras.
— Isso torna tudo ainda mais esquisito. Como ela se
esforçou para te colocar aqui?
— Não sei. Também fiquei pensando nisso.
— Por favor, aceita minha ajuda. Eu posso reverter
tudo isso Eudora. Você tem uma chance de pagar somente
pelo que fez,que foi negar socorro ao meu tio.
— Eu estava apavorada Máximus. Perdoe-me.
— Por favor...
— Não se preocupe. Eu ficarei bem. Só peço uma
coisa.
— O quê?
— Quando o bebê nascer e você ver o resultado do
DNA, e souber que eu não menti para você sobre isso, tira
ele daqui e ame-o como Antonela. Por favor, eu sei o
homem que escolhi para ser o pai do meu filho. Cuida e
ama-o por mim. — vendo suas lágrimas notei que as minhas
também rolavam sobre minha face.
— Eudora...
— Promete, estou pedindo. Promete Máximus!
— Você não pode se entregar assim.
— Prometa Máximus Spartacus!
— Eu prometo. — limpei meus olhos, derrotado por
não conseguir fazê-la mudar de ideia.
Diante da minha motocicleta coloquei as mãos nos
bolsos, depois as retirei olhando o capacete sobre o veículo,
questionando-me por qual razão não lhe contei sobre ela e
Adultinha. Alguma parte de mim não queria aquela cena.
Talvez a parte ruim ou feia que cada ser humano carrega e
tenta esconder. Eu não queria que minha filha fosse filha de
uma prostituta. Sem hipocrisias, uma coisa é amar uma
mulher que se prostitui, a outra é aceitar que ela seja a mãe
de um filho seu, no meu caso poderiam ser dos meus filhos.
m
Capítulo 36
Sem Medo da Verdade
M á ximus e Eudora
Quando entrei em casa deparando-me com Austin
descendo com outro médico a escada, meu coração palpitou
um sabor amargo de desespero. Lendo o meu olhar ela
sorriu com ternura.
— Está tudo bem Máx. Visita de checagem nada de
mais.
— Como vai senhor Spartacus?
— Como vai Doutor. E a minha pequena?
— Milagrosamente restabelecida. Amor de mãe cura
não é verdade? — Sorri sem jeito. O hematologista era o
mesmo que havia dito a minha irmã que entendeu o porquê
procurei a mãe de Antonela para lhe doar o sangue ao lhe
entregar os exames.
— Bom, vou lhe acompanhar até a porta. — Austin
seguiu com ele enquanto eu paralisado me mantive no pé
da escada olhando aqueles degraus sem saber o que fazer
com o peso desse segredo que não era meu na verdade.
Pertencia a Antonela e Eudora.
— Não vai subir? — a sombra de Austin sobre meu
ombro esquerdo denunciou o tempo que passei parado ali.
— Ah... Vou sim. Só estava dando um tempo.
— Não contou para Eudora não é mesmo?
— Eudora?
— Você acha mesmo que consegue esconder a sua
cara quando esteve com ela? Aliás, agora percebo que é a
mesma que você fica quando vê Antonela. Cara de bobo!
— Eu não pude contar mana. — Austin passou por
mim parando no segundo degrau.
— Essa verdade não te pertence meu irmão. Não é
justo com nenhuma dessas duas mulheres que eu sei que
você tanto ama. — cruzando os braços.
— Eu sei.
Enfim sentei-me ao pé da escada contemplando a
porta principal. O mesmo lugar que costumava ficar quando
queria um conselho de tio Brad diante de uma situação que
eu não sabia como resolver. Austin sentou-se um degrau
acima, pondo o queixo no meu ombro e sua mão sobre
meus cabelos.
— Seria bom se ele cruzasse a porta a qualquer
instante.
— Como ele faz falta Austin. Tenho 35 anos e me
sinto um garotinho perdido e sem rumo.
— Lembre-se do que ele nos dizia. Que um dia
quando ele se fosse e a gente nunca queria escutar aquilo.
— Verdade. — um sorriso ameaçou nascer em meus
lábios recordando aqueles momentos.
— Ele falava que não morreria em nosso coração.
Que viveria em nosso DNA. Que éramos a felicidade dele e
seu orgulho maior. Que não tivéssemos medo de nada
porque ele nos criou fortes e...
— Que se ficássemos tristes ele não teria sossego. —
completei com a voz embevecida ao lembrar-me do som da
sua voz em minha cabeça.
— Sabe o que lhe diria, não sabe? Entre nós, você é o
que melhor compreendia o tio Brad. — acenei com a cabeça
que sim. — Puxa pelo coração, ele falará com você.
— Com certeza ele diria para que contasse o mais
rápido possível a verdade para as duas.
— Então não hesite. Faça!
— Eu não sou tão bom quanto penso Austin. — então
sua mão virou meu rosto para o seu.
— Você é muito melhor do que imagina. Sempre foi.
Por que está falando uma asneira dessas?
— Porque tem uma parte de mim... Que não quer que
Eudora seja a mãe da Antonela...
— Por quê?
— Porque ela é... Pelo passado dela Austin. Uma
coisa é ela ser a minha mulher e outra é ser a mãe da
minha filha ou dos meus filhos.
Austin levantou sentando-se em meu colo quando
como éramos crianças assumindo o papel de mãe.
— Olha para mim. — agarrando-me pelo meu queixo
— precisa compreender uma coisa de uma vez por todas.
— O quê?
— Antonela está na vida de Eudora há mais tempo
que você. Elas têm um passado e uma história que as
separou, mas agora elas têm o direito de seguirem juntas.
Você é o melhor pai e o melhor homem do mundo, mas
Antonela precisa da mãe e Eudora precisa da sua filha.
— O invasor nessa história sou eu.
— Não. Você á peça que Deus usou para unir mãe e
filha outra vez. Se não fosse através de você elas jamais se
encontrariam.
— Papai...
Ao ouvir aquela voz gelei por dentro buscando com
meu olhar seu rosto no topo da escada. Uma aflição tomou
conta de mim. À medida que subia os degraus tentava sorrir
com os braços semiabertos em direção a minha Adultinha,
aflito por não saber até onde ela tinha escutado aquela
conversa.
— Filha! O que está fazendo aqui? — apanhando-a no
colo, ajeitando seu pijama com estampas de livros abertos.
— Papai.
— Oi filha. O médico falou para o papai que você está
super bem. Não é maravilhoso?
— Occurrens in an ex subitis. — ela sussurrou.
Aquele era um código secreto que eu a ensinei
quando algo entre nós fosse de suma importância.
“Occurrens in an ex subitis” que traduzido do latim
significava “Reunião em caráter de emergência”.
Abaixei a cabeça mordiscando o lábio.
— Tudo bem com vocês? — Austin não entendeu o
teor da questão.
— Está tudo bem tia Austin. Papai me levará para
cama. Quero que ele conte uma linda história para mim.
Você contará não é papai? — apenas acenei que sim e
seguimos com a sua cabecinha em meu ombro e pelo longo
corredor nos mantivemos calados.
Deitei seu pequeno corpo na cama como de costume
fugindo dos seus olhos que me despiam do mesmo modo
como os de Eudora. Agora eu a via em Antonela nos
pequenos detalhes.
— Está quentinha?
— Sim.
— Protegida?
— Muito.
Eu me refazia por dentro quando ela segurou minha
mão, sentando na cama e com o outro braço achou a minha
face.
— Eu quero ver a Eudora, papai. — pela primeira vez
ela não usou a palavra tia.
— Filha...
Até então eu acreditava que saberia o que falar
quando chegasse aquele momento. Mas perto da mente
brilhante da minha filha eu deveria ter suposto que não
compreendia nada.
— Eu quero ver a minha mãe, papai!
Calado eu permaneci à medida que seus olhos
devoravam os meus. Ela não me questionou a razão de não
ter lhe contado ou há quanto tempo eu tinha essa
informação. Tudo que existia no seu olhar era aquela fome
que eu nunca pude suprir. Fome de mãe.
— Eu te amo papai. Eu te amo muito.
— Adultinha...
— Mas eu quero ver a minha mãe.
— Ela ainda não sabe filha.
— Eu quero falar com ela, por favor papai.
— Não vão deixar você entrar. Nem mesmo o papai
pode fazer isso. O julgamento é amanhã. Eu fui falar com
ela. Tentar ajudar. — então eu contei a pessoa que mais
confio no mundo tudo que eu havia feito contra Eudora.
— Papai me leva no julgamento.
— Não meu amor. Você está se recuperando. Filha as
coisas não são assim.
— Você tem que me levar ao julgamento. Precisa
encontrar um meio de me deixar cinco minutos com ela.
— E a sua saúde filhinha?
— Não papai, você não está entendendo. Não é a
minha saúde que está em risco e sim a minha vida e a da
minha mãe.
— Eu queria ter falado para ela antes, mas... Perdoe-
me filha.
— Essa verdade é minha e dela. Papai eu quero vê-la.
Eu posso ajudar. Você não quer ajudar também, então, nós
dois podemos.
— Filha o que você pode fazer para mudar essa
realidade?
— Confie em mim. Eu posso. Só me ajude, por favor.
Eu não sei o que seria da minha vida se eu perdesse você,
mas eu sei como foi a minha vida sem ela e eu não quero
mais sentir isso papai.
— Antonela. — sussurrei.
— Não me importa que ela tenha sido uma garota de
programa. Não me importa o porquê ela me deu. Eu vi em
seus olhos quando perguntei se tinha filhos, o mesmo
sofrimento que há no meu coração por não tê-la. Um
sentimento perdido, calado e confuso de quem não sabe o
que fazer com o que tem dentro do coração. Eu tenho uma
mãe e isso me basta papai!
Abracei minha garotinha com todo o meu amor por
ela. O tempo parou naquele enlace e me machucou ainda
mais ao escutar o soluçar do seu choro. Não importava mais
o que eu teria que fazer, eu faria. Antonela tinha razão.
Austin tinha razão. Meu papel era unir duas almas que o ser
humano e sua crueldade afastaram, protegê-las e amá-las
acima de tudo.
— Papai dará um jeito. Tem minha palavra. Você
falará com sua mamãe. Papai conseguirá viu? — procurei
seus olhos — Papai vai dar um jeito. Fica tranquila.
Depois de um tempo deitado ao seu lado em sua
cama contando aquilo que sabia sobre sua história com
Eudora consegui fazê-la adormecer com muito custo. Saí
nas pontas dos pés e antes que cruzasse a porta a
contemplei outra vez. Um riso aliviado nasceu em minha
alma. Porém ao deixar o quarto de vez deparei-me com
Austin com um semblante brioso a minha espera.
— O que foi Austin? — ela não falou, apenas jogou-se
em meus braços apertando meu pescoço, então buscou
meu olhar acariciando meu semblante.
— Eu tenho muito orgulho em ser sua irmã. Eu não
conheço ninguém que ame de modo tão intenso como você.
Mas meu irmão, como mulher, preciso dizer que vocês
homens são muito idiotas. — ela sorriu e eu ergui a
sobrancelha direita ainda sem compreender.
— Do que está falando?
— Máx se há alguém no mundo que pode fazer
Eudora permitir que você a ajude esse alguém é a Antonela.
— Mas Eudora não quis ouvir a mim, por que ouvirá
Adultinha?
— Mãe e filha. Antonela quer contar a Eudora. Não
percebeu isso?
— Ah. — respirando aliviado, enfim raciocinei. —
Claro! É isso que Antonela quer. Eu sou mesmo um idiota. —
Austin beijou-me puxando minha mão pelo corredor.
— A sua sorte é que a sua filha é um gênio.
— Será que ela pode ir Austin? Fico preocupado.
— Temos uma médica na família. — abriu as mãos na
altura do seu rosto — Ela deve servir para alguma coisa,
não é mesmo?
— Eu te amo mana. — desta vez foi a minha vez de
fazer chamegos em seus cabelos.
— Vamos montar uma equipe apenas para uma
imprevisível situação. Eu irei com Antonela, mas ela não
pode ficar muito tempo Máximus. A visita dela a Eudora tem
que ser breve. Precisamos ser cautelosos com sua saúde. É
um ambiente estressante e ela estará sensível. Mas dará
tudo certo. Será um grande dia para nossa Adultinha.
— Mãe e filha? Quais as chances de uma coincidência
assim acontecer Austin?
— Coincidências é um truque que Deus inventou
para não ter que se explicar o tempo todo. — piscando para
mim. — Vou ligar para o hospital.
— Vou tentar fazer um prodígio. Conseguir que
Antonela tenha pelo menos cinco minutos com Eudora
amanhã é uma missão quase impossível.
— Não para você senhor Spartacus.
— Não sei se vou conseguir Austin e se eu conseguir
terei que por abaixo a tese que eu criei para destruir
Eudora. — outra vez aproximou-se de mim com seu jeito
doce.
— Você tem talento garoto. Vai lá e impressione a
garota. Você é bom nisso. Lembra-se do que o tio Brad tinha
orgulho de falar para os amigos?
— Lembro. — abaixando um pouco a cabeça ouvindo
a voz dele dentro de mim.
— “Nem mesmo eu gostaria de enfrentar Máximus
dentro de um tribunal”. — então seguiu para o escritório.
Passei aquela madrugada estudando os autos dos
processos e estudando que artifício eu poderia usar para
adiar o julgamento por algumas horas. Liguei para os
advogados da Randor e através de uma liminar e muitas
trocas de favores consegui que Antonela tivesse acesso a
Eudora na antessala prestes a se iniciar o julgamento.
Seriam cinco minutos com a presença de uma assistente
social do Estado e um policial.
Cheguei antes das sete da manhã no tribunal e me
reuni com aqueles mesmos homens que recrutei para
montar a tese de acusação aceita pelo Estado em incriminar
Eudora Tyr por homicídio doloso e qualificado. O tempo todo
eu sentia a presença da mão do meu tio em meu ombro
esquerdo seguido de alguns arrepios. Ele estava ali comigo
e aquele era o seu modo de dizer que eu fazia a coisa certa.
O julgamento seria às onze horas. Eu precisaria da
assinatura de Eudora para representá-la como advogado.
Era a única maneira de tentar desfazer a merda que eu
mesmo produzi, mas para isso Antonela, a minha garotinha,
teria que entrar em ação. Austin com mais dois enfermeiros
e uma ambulância chegaram com Adultinha cerca de quinze
minutos antes. Quando a vi descer do carro de mãos dadas
com minha irmã eu não me aguentei. Aquela criança era de
uma força inexplicável. Uma força que eu em meus trinta e
cinco anos jamais teria. Vendo minha ansiedade largou a
mão de Austin correndo para me abraçar.
— Estou orgulhosa de você meu Meninão.
— Sou um cara muito sortudo, filha. Você é
simplesmente maravilhosa.
— Já posso entrar?
— Ela não sabe que você entrará. Tem cinco minutos
filha. Porque depois de você, se tivermos sorte sou eu quem
precisa entrar para que ela assine os papéis.
— Você entrará papai. Deixa comigo. Trabalho de
equipe. — batendo sua pequena mão aberta na minha.
A assistente social acenou que ela poderia segui-la.
Ver a minha filha se afastar de mim com o semblante tão
firme fez-me ser ainda mais forte.
— Ela ficará bem. Não se preocupe. — Austin colocou
sua mão em meu outro ombro. Outra vez eu tinha o apoio
dela e de tio Brad ao meu lado.
d
Capítulo 37
Orgulho de você
M á ximus e Eudora
Eudora
Com as mãos ainda algemadas, eu imaginava ali
sentada naquela poltrona de couro fria, observada por dois
policiais, o estresse pelo qual passaria naquele julgamento.
Torcia para que me sentenciassem de uma vez e que tudo
acabasse logo. Pensei em minha irmã, talvez a única pessoa
no mundo que se dignaria estar ao meu lado e ficaria lá fora
esperando a sentença. Como senti sua falta. Como eu
queria que a minha filhinha, que eu tanto amei e amo
pudesse em qualquer lugar do Universo saber que eu existia
e precisava tanto dela. Toquei meu ventre tentando ser forte
pelo bebê que viria. Eu o protegeria até o fim como fiz com
sua irmã, que só foi arrancada dos meus braços porque eu
não podia dar a ela o que uma criança merece para ser feliz.
Desta vez, saber que Máximus cumpriria a promessa de
ficar com o novo bebê me trouxe mais alento e o mesmo
desespero de outra vez ter que entregar um filho para um
estranho porque eu não era capaz de ser uma boa mãe.
A porta foi se abrindo aos poucos, cheguei a me
erguer acreditando que a hora chegara, no entanto, o que vi
foi uma pequena figura surgindo aos poucos após a entrada
de uma mulher de olhar distante. Cheguei a inclinar minha
cabeça para direita e sentar-me de novo.
— Oi. — Foi tudo que Antonela pronunciou até
chegar-se ainda mais a mim.
— O que faz aqui? — sem entender a razão daquela
inesperada visita percebi que as lágrimas começaram a
rolar dos meus olhos.
— Pedi ao papai para falar com você. — tocando meu
rosto. Abaixei meu olhar, envergonhada de estar com
aquele uniforme de presidiária e as mãos algemadas. — Ei...
— levantando minha face — Não tenha vergonha.
— Desculpe por me ver assim. Desculpe por
decepcioná-la.
— Eu vim agradecê-la.
— Eu fico tão feliz em te ver bem Antonela. Eu faria
tudo de novo quantas vezes fosse preciso.
— Eu sei Eudora. Você tem num dedo mindinho —
segurando minha mão — Mais generosidade que muitas
pessoas no corpo inteiro. Você só precisa acreditar nisso.
— Você é tão especial.
— Não temos muito tempo. — aproximando mais do
meu rosto — Como falei vim agradecê-la por ter me dado a
vida... — então ela fez uma pausa em seguida soltou um
sorriso cativante — Por ter me dado a vida duas vezes.
— Não foram duas. Eu só doei o sangue uma vez. —
outra vez sorriu agora tocando meu semblante como quem
o visse pela primeira vez.
— Quando você doou o sangue exames tiveram que
serem feitos. Para testar a nossa compatibilidade e ver se
estava tudo bem.
— Eu imaginei que isso aconteceria.
— Os resultados mostraram mais do que
esperávamos.
— Como assim Antonela? — sentindo o toque dos
seus dedos ficarem cada vez mais suaves e seu olhar mais
intenso.
— Nossa compatibilidade só pode ser explicada pela
ciência em dois casos. O primeiro é que seriamos irmãs.
Mas eu acho que isso não seria possível não é verdade? —
foi a minha vez de sorrir acenando a cabeça sem alcançar o
que estava prestes a ser revelado.
— Você se parece um pouco com a irmã que perdi
sabia? Ela era loirinha e esperta como você.
— Acredito. Talvez isso explique porque sou desse
jeito.
— Como assim?
Ela beijou minha testa, desceu até a altura dos meus
lábios.
— A outra forma de justificar a nossa compatibilidade
é se fossemos... Mãe e filha.
Foi como ver a noite de sofrimento se desfazer e
sentir os raios de sol invadir o meu coração. Abri meus
lábios tentando processar o que eu sentia e confirmar se
meus pensamentos estariam mesmo certos ou me traindo
mais uma vez. Vendo minha agonia ela segurou as maçãs
do meu rosto, esfregou a ponta do seu nariz no meu como
eu fiz com ela no primeiro instante que a senti nos meus
braços.
— Oi mamãe.
— Não... Não pode ser! — eu não podia abraçá-la,
fiquei em choque, mas Antonela entrou por dentro dos meus
braços pendurando-se ao meu pescoço. Eu pude sentir nas
batidas do seu coração no meu peito a fome dela por mim.
— Meu Deus! Não pode ser! Ai meu Deus! Minha filhinha!
Meu Denguinho! — sufocando-a com todos os beijos
abafados dentro de mim.
— Calma. Fica calma. — limpando meu rosto vendo o
tremer das minhas mãos e lábios.
— Você não tem ideia do que isso... Minha filha! A
minha menininha! — eu não queria soltá-la mais.
— Não temos muito tempo. Escute-me, por favor. —
segurando meu queixo numa firmeza admirável. — Preciso
que você saia daqui mamãe. Direi a você o que falei ao
papai ontem. Eu não posso viver sem ele. Não posso. Mas
eu sei o que foi viver sem você e sem o seu amor e eu não
quero mais ficar sem ele!
— Oh minha filha! — alisando seus cabelos. — Eu
nunca quis doar você Antonela.
— Eu sei. Papai me contou a história ontem antes de
dormir. Mas isso não importa para mim. Tudo que eu quero é
que você o deixe ajudar. Eu preciso de você. Nós
precisamos de você. Aceite ajuda dele mamãe. —
encantada em ver a sua voz me chamando de mamãe.
— Ele não pode me ajudar Antonela.
— Pode sim. Ele está lá fora esperando que eu saia
para entrar com papéis para você assinar. Você terá o
melhor advogado do mundo mamãe!
— Eu falei com o advogado que ele mandou para
conversar comigo, mas eu não...
— Ele será o seu advogado. — então me calei —
Máximus Spartacus entrará nesta corte como seu advogado.
Eu posso garantir que ninguém sabe proteger alguém
melhor do que o senhor Spartacus.
— Filha... Meu amor... — por dentro, naquele
turbilhão de emoções eu vi o quanto fui agraciada pelo
Destino em permitir que um homem como Máximus tivesse
adotado a minha mocinha.
— O que você decide mamãe?
— Peça ao seu pai que entre. — sorrimos ao mesmo
tempo e mais uma vez ela me abraçou. Afastou-se de mim
até a porta. Mas ergueu o dedo virando-se voltando para
mim.
— Esqueci-me de falar uma coisa.
— O quê?
— Não importa quem você foi em seu passado ou as
razões que te levaram a me entregar para o melhor pai do
mundo. Eu tenho orgulho de ser filha de uma mulher tão
forte e generosa como Eudora Tyr.
— Obrigada. — foi tudo que consegui pronunciar num
murmúrio.
Passou a mão mais uma vez em meu rosto
endireitando algumas mechas de cabelos dizendo:
— Eu te amo mamãe. Estarei lá fora esperando por
você.
Então caminhou até a porta onde a tal mulher a
acompanhou, notei que ela também limpava os seus olhos.
Comecei a processar tudo aquilo e uma enxurrada de risos
foi nascendo dentro de mim embolados a lágrimas.
— Obrigado Deus. Minha filha! Ah minha menininha,
o meu Denguinho voltou para mim. Obrigada!
Eu limpava meus olhos com o dorso das minhas
mãos quando a porta se abriu de novo. Cabelos penteados
para trás, usando um terno cinza escuro e com algumas
folhas nas mãos, eu vi o homem que mais amei na vida
entrando por aquela porta. Olhamo-nos sabendo que
tínhamos tanto a falar, mas tudo que fizemos foi nos agarrar
com toda intensidade um ao outro. Sentir a segurança de
seus braços envolvendo meu corpo outra vez fez o nosso
filho remexer-se dentro de mim.
— Obrigada! Obrigada por ter cuidado dela tão bem!
Ninguém poderia ser melhor do que você Máximus.
Ninguém em todo planeta!
— Calma. Quero que fique calma, está bem? —
segurando meu queixo. — Sei que estamos todos muito
emocionados. Mas não temos muito tempo. Eu preciso que
você assine esses papéis. Eu vou dar um jeito de fazer a
Juíza perguntar outra vez como você se declara. Diga que se
declara inocente quanto ao homicídio doloso e qualificado.
Apenas confirme a omissão de socorro. Entendeu?
— Sim! Sim!
— Eu vou tirá-la daqui Tigresa! Nós vamos cuidar dos
nossos filhos. — tocando na minha barriga para minha
alegria — Antonela e ele tem o direito de ter você ao lado
deles e se me der uma chance eu também.
— Eu te amo Máximus! Eu te amo demais!
— Eu também. Eu te amo para caralho mulher. —
segredou em seu ouvido.
— Eu ainda nem estou acreditando. É verdade
mesmo? Ela é a minha Denguinho?
— Sim. Austin pediu o DNA só por segurança e uma
cópia está lacrada e guardada só para você. Ela é a sua
garota.
— Nossa garotinha.
— Isso! Nossa menina. Nossa brilhante Adultinha!
Agora se acalma por causa do bebê. Entra lá e confia em
mim ok? Pode fazer isso?
— Posso.
— Assina aqui. — tirando a caneta do bolso para que
eu assinasse aquelas folhas que eu nem sabia do que se
tratavam — Perfeito. Preciso ir. — deu-me um último olhar
— Hoje o leão vai lutar pela sua tigresa e por seus filhotes.
Eu te amo Eudora Tyr.
Apanhando os papéis ele saiu e no mesmo instante
fui levada para a sala onde o julgamento se daria, certa de
que se eu fosse levada a morte, morreria com um riso mais
puro e o coração aquecido de que milagres acontecem e
que Deus nunca se esqueceu de mim, embora eu passei a
vida inteira suspeitado o contrário.
Máximus
Com os papéis assinados por Eudora em minha mão
eu compreendi que nossas vidas, a minha, a dela, de
Antonela e do nosso bebê poderia mudar. Poderia ser
diferente. Apenas dependia da minha assinatura. Talvez
alguma parte pequena de mim, aquela que todo ser
humano possui sobre o que irão pensar ou falar sobre sua
atitude tentou se manifestar em mim, mas ela era ínfima
diante do amor que eu tinha pela minha filha e em especial
por Eudora Tyr, que entre tantas coisas me ensinou que
para amar, ter boa vontade não é necessário averiguar o
passado ou a vida de alguém, basta só a intenção do
querer. De um querer sem medidas. Inundado por esse
mesmo sentimento, retirei a caneta de dentro do meu terno
assinando como seu representante legal perante a justiça.
Não seria uma batalha simples ou fácil, mas o leão que ela
despertou em mim lutaria até a morte dentro daquele
tribunal.
— Bom dia senhoras e senhores. Senhorita Tyr onde
está seu advogado?
— Aqui meritíssima! — gritei.
Entrando pelas portas com as folhas em uma das
mãos e o processo do caso debaixo do outro braço em
passos apressados. Recebi o choque daqueles pares de
olhos que gritavam coisas em seu silêncio. Os burburinhos,
o assombro, a acusação, mas pela direita no canto extremo
da sala notei os únicos olhares que me interessavam o de
Adultinha e de minha irmã Austin. Não importava o que o
mundo diria, eu sabia que estava fazendo a coisa certa.
— Máximus Spartacus se apresentando diante desse
tribunal como Representante Legal da senhorita Eudora Tyr
meritíssima juíza Nolan. — entregando-lhe as folhas
assinadas.
— Isso só pode ser uma piada! — o promotor Green
manifestou-se como eu havia previsto. — Meritíssima essa
corte não pode aceitar o senhor Spartacus como
representante da Ré.
— E por que não senhor Green? — A juíza indagou
sem lhe direcionar o olhar.
— Conflito de interesses? — satirizei.
— Como essa corte será levada a sério se o
advogado da Ré for o sobrinho da vítima? — caminhei sem
pressa até ele devorando-o com o olhar.
— Isso tudo é medo senhor Green? Até onde me
recordo você sempre perdeu para mim em cortes como
essa.
— Você não entrava na arena senhor Spartacus.
Mandava seus cachorrinhos.
Com as minhas mãos no bolso aproximei-me de seu
ouvido cochichando:
— Hoje é seu dia de sorte Green. O leão veio te
pegar. Em carne e osso.
— Senhores se aproximem. — a Juíza Nolan ordenou.
— Analisando os autos eu não vejo razão para impedir que o
Senhor Spartacus assuma o posto como advogado legítimo
da ré.
— Mas meritíssima... Esse tribunal se apresenta
diante do júri para incriminar Eudora Tyr como assassina de
Brad Hawks, tio do senhor Spartacus.
— Muito bem colocado senhor Green. Muito me
impressionou a capacidade do senhor Spartacus de assumir
a defesa da Ré. Não vejo nisso conflito de interesses. Aceito
como um profissional disposto a exercer com dignidade seu
papel na sociedade. Abram as leituras do caso o Estado
contra Eudora Tyr.
— Obrigado Meritíssima. — explodi num urro mudo
por dentro.
— Voltem aos seus lugares. As considerações finais
começarão pela promotoria como foi sorteado.
— O Estado acusa Eudora Tyr por homicídio doloso e
qualificado e omissão de socorro.
Green não poupou esforços, dissecando minha tese
de que Eudora havia planejado a morte de Brad Hawks com
antecedência com a intenção de chantagear a família contra
um possível escândalo. Assim como esmiuçou a ideia de
que a omissão de socorro não foi um impulso e sim um ato
pensado com frieza. Aquilo alimentava mais a ganância em
mim em fazer uma retratação diante do que eu mesmo
arquitetei contra Eudora. As poucas vezes que nossos
olhares se cruzavam tentava passar para ela de que eu a
protegeria a todo custo.
— A defesa pode se manifestar. — Nolan abriu sua
mão direita em minha direção.
— Muito obrigada Meritíssima. Bom dia aos colegas,
membros do júri, a todos os presentes. Começo minhas
considerações iniciais respondendo a esse júri a razão pela
qual eu, Máximus Spartacus, sendo sobrinho, criado como
filho da vítima Brad Hawks apresentou-se a essa jurisdição
como seu advogado de defesa. Eu poderia alegar muitas
coisas, mas eu decidi ser sincero. A mulher que está
sentada naquela cadeira — apontando para Eudora —
Encontra-se grávida, senhoras e senhores. Grávida de um
membro de minha família. Com certeza os senhores
presumirão pela lógica e consequências dos fatos que o pai
da criança seja meu tio Brad Hawks, mas não, o filho que
Eudora Tyr carrega em seu ventre é meu. — olhos gritantes
e bocas silenciadas foram mais uma vez lançados em minha
direção, mas no semblante de Eudora eu vi lágrimas
rolarem por ver que eu acreditava em suas palavras sobre a
minha paternidade — Pode parecer uma informação muito
pessoal, mas na realidade se estamos aqui para fazermos
justiça, que seja usado nada mais nada menos que a
verdade. Dito isso, quero também expor a esse júri que não
vim ser o herói da senhorita Tyr. Ela deve pagar pelo que
fez, mas senhores — ergui o dedo até ter a certeza de que
todos atentavam para mim — Só pelo que ela fez nada além
disso. Meu tio me ensinou que somos responsáveis por
nossas atitudes, portanto peço a meritíssima Juíza Nolan
que refaça as perguntas feitas na ação de custódia a Ré
Eudora Tyr sobre a sua culpabilidade no caso Brad Hawks.
— Protesto!
— Sobre qual alegação, promotor? — Nolan quis
compreender recostando suas costas em sua cadeira de
magistrada.
— Isso é irrelevante. Não podemos retroceder a algo
que a Ré já se declarou.
— Declarou sem a presença de um advogado! —
rebati sendo contundente — Mesmo que naquele momento
ela tenha aberto mão de um, diante desse tribunal torna-se
uma ofensa à Constituição desse país que um julgamento
desse porte, onde a sociedade espera dessa corte justiça,
um direito violado por um momento de sensibilidade
descabida de minha cliente.
— Eu acatarei. Refarei as perguntas à senhorita Tyr.
Após ler as acusações deferidas contra Eudora, a
Juíza fez outra vez as perguntas que marcariam o meu
reinado naquele tribunal.
— Senhorita Eudora Tyr entende as acusações que
estão sendo feitas contra a sua pessoa?
— Sim meritíssima.
— E como se alega sobre as acusações de homicídio
doloso e qualificado?
— Inocente meritíssima.
— E o que alega sobre a acusação de omissão de
socorro a vítima Brad Hawks?
— Culpada meritíssima.
— Que os autos registrem que em segunda instância,
depois de lidas as acusações, a Ré declara-se inocente
contra os crimes de homicídio doloso e qualificado e
culpada pela acusação de omissão de socorro. Prossiga
senhor Spartacus.
— Meritíssima, minha cliente tem o direito de ser
avaliada psicologicamente por um profissional o que não foi
realizado.
— Ela alegará insanidade? — Green alfinetou, mas eu
o ignorei.
— Peço recesso a esse tribunal para que a senhorita
Tyr seja avaliada.
— Sobre que argumentação advogado? — A Juíza se
inclinou para frente cruzando as mãos.
— Eudora Tyr tem como profissão ser uma prostituta.
E é muito conhecida no ramo. Eu quero que o júri tenha
acesso ao comportamento que uma função como essa pode
sugestionar ao longo dos anos a mente de uma moça de 24
anos de idade, porque sim senhores, essa é apenas uma
moça de 24 anos. A maioria aqui já teve essa idade, tem
filhos, parentes ou familiares. Sabemos o que é ter 24 anos,
mas ao contrário da senhorita Tyr não sabemos o que se
passa na mente dia após dia de uma jovem dessa idade no
meio da prostituição. Penso que isso deve ser considerado
para que possamos fazer o que nos predispomos: Justiça.
— O senhor está sugerindo que sua cliente pode ter
sido manipulada pelas particularidades de sua profissão?
— Não estou sugestionando, estou afirmando
meritíssima.
— Que os autos registrem que a senhorita Tyr receba
a avaliação psicológica e psiquiatra de um profissional
ordenado pelo Estado em no Máximo vinte e quatro horas.
Prossiga senhor Spartacus.
— O motivo de estarmos aqui é garantir que toda
verdade seja conhecida e acreditem ninguém mais que a
minha família deseja isso. Podemos descobrir a verdade
falando sobre o que a promotoria não quer que vocês
saibam. Não se enganem com a aparente postura inocente
da Ré ou quem sabe a sua arrogância diante dos olhares de
alguns aqui presentes. Porque senhoras e senhores nós não
estamos aqui para avaliar o que essa mulher nos semelha e
sim para julgarmos o peso do que ela de fato cometeu.
Obrigado.
— Senhor Green.
— Obrigado, meritíssima. — ergueu-se abotoando um
dos botões de seu paletó — A promotoria insiste em manter
as acusações com ou sem os laudos psiquiátricos e
psicológicos que a defesa possa apresentar. Porque para a
promotoria Eudora Tyr tinha todas as armas para um crime
perfeito e foi o que ela cometeu senhoras e senhores, um
crime perfeito e é isso que será provado nesse tribunal.
— Muito bem. Declaro um recesso de vinte e quatro
horas para que a defesa possa apresentar os laudos e
demais provas e testemunhas pertinentes ao caso. —
batendo o martelo — Essa corte está em recesso até às
onze horas de amanhã, senhoras e senhores.
Cuidadoso, fechei meu punho certo de que tinha feito
a jogada certeira, eu precisava ganhar tempo para moldurar
melhor a defesa de Eudora.
k
Capítulo 38
Um Leão no tribunal
M á ximus e Eudora
Máximus
Com o laudo psiquiátrico e psicológico em minhas
mãos, me reuni na Randor com os demais advogados para
traçar a melhor tática para usar no tribunal. Nenhum dos
senhores ali presentes parecia confiante.
— Máximus ofereça um acordo à promotoria. Por
mais que esse laudo seja importante não é o suficiente.
Brad Hawks morreu por isso.
— Não. Eu usarei tudo que estiver ao meu dispor. Eu
lutarei até o fim e ponto.
— O que pretende fazer? Um milagre? — outro
sujeito de gravata perguntou.
— Merda, a coisa só piora! Acabo de ser informado
que a promotoria arrolou Freya Tyr para depor contra a filha.
— Hartes nos comunicou. Aquilo sem dúvida era algo sobre
o qual eu não desejava ouvir.
— Está tudo acabado. A mãe depor contra a própria
filha? — outra voz surgiu.
— Eu tenho que rebater o depoimento dela.
— Podemos saber como Máximus? — aqueles
homens aceitavam a derrota como resposta definitiva.
— Hartes prepare uma petição em caráter de
urgência para a corte. Precisamos arrolar uma testemunha
também.
— Mas por uma petição em caráter de urgência?
Podemos fazer isso direto nos autos.
— A testemunha é menor de idade.
— Oi? Máximus o que está planejando?
— A filha de Eudora Tyr vai depor senhores.
— Filha? Mas ela tem uma filha?
— Tem.
— E quem é?
— Antonela Spartacus. — todos se calaram se
entreolhando, em palavras sucintas descrevi como a
descoberta se deu.
— Mas Máximus...
— Para uma testemunha menor de idade duas coisas
são necessárias: Uma petição em caráter de urgência e a
assinatura dos responsáveis pelo menor. Prepare a petição,
eu vou assinar autorizando a minha filha a depor.
— E ela está condições?
— Falarei com minha irmã. Levo uma UTI para dentro
do tribunal se preciso for. Mas a Antonela vai depor a favor
da mãe. A promotoria não declarou guerra? Será fogo
contra fogo senhores. Andem! — estalei os dedos, deixando
a Randor para ir para casa conversar com Austin e
Adultinha.
Meu único medo era não ser um irresponsável em
relação a Antonela. Mas ela era o único trunfo que eu
poderia usar para jogar o depoimento de Freya por terra. E
eu sei que a minha Adultinha daria um banho naquele
tribunal. Quando terminei de explicar a situação a Austin e
Antonela sentadas no sofá da sala principal, Austin
balançava a cabeça sem crer na minha ideia.
— Máx... Meu irmão...
— Só me diga se ela tem condições de estar lá ou
não. Eu preciso solicitar aparato médico para atendê-la se
for necessário.
— Ela está em condições. Ela pode sim.
— Mesmo assim eu pedirei.
— Por quê? — Austin colocou as mãos na cintura.
— Drama. Num caso como esse, ganha o lado que
souber fazer o melhor drama. — Antonela observava minha
movimentação pela sala sem se pronunciar.
— Mas e o laudo? Você também não usará Eudora
para depor? Isso não é o bastante?
— Preciso pôr abaixo tudo que a mãe de Eudora
disser. Sabe o peso que isso tem? A própria mãe depor
contra a filha? Eu te garanto Austin, ela não terá
misericórdia de Eudora. Isso sempre foi o que queria.
Vingança!
— Mas todos sabemos que...
— No tribunal não é o que se sabe e sim o que se
pode provar. — Antonela com seu brilhantismo se
manifestou — Não é papai?
— Isso filha. Mas o papai só pode fazer isso se você
quiser.
— Só preciso que me instrua. Diga como devo
proceder e tiraremos a mamãe de lá. — Olhei para minha
irmã que se deu por vencida abrindo as mãos no ar.
— Tudo bem, ligarei para o hospital e preparar todo
show.
Com sua saída lancei o olhar para minha garotinha,
que se jogou em meu colo, depois me fez carinhos.
— Você conseguirá papai. Se você não puder,
ninguém mais pode. Eu sei disso.
— O papai vai jogar pesado, Adultinha.
— Jogaremos. Estou louca para abrir a minha boca
naquele lugar.
Com jeito expliquei a Antonela como ela deveria
proceder. Como responder as perguntas. Eu não a poupei
por ser uma criança, porque minha filha não era uma
criança comum. Se havia um lugar em que nós dois
precisávamos de maturidade e inteligência precoce era
naquele depoimento.
— Você entendeu tudo?
— Entendi papai. Deixa comigo. Vou arrasar.
— Sua linda. Papai precisa voltar para Randor e
estudar com exaustão mais uma vez cada parte do
processo.
— Eu sei. Confio em você.
— Durma cedo. Você precisa estar bem para depor.
— Tudo bem senhor Spartacus.
Despedi-me dela indo para o fórum, agora eu
precisava conversar com mais calma com Eudora e orientá-
la em seu depoimento. Quando uma corte entra em recesso
o réu costuma ficar em uma sala ou cela ali mesmo,
esperando o julgamento prosseguir no dia seguinte.
Encontrei-a abatida em sua cela como não poderia ser
diferente.
— Máximus. — poder abraçá-la sem as algemas foi
libertador para ambos.
— Precisamos conversar sobre o julgamento. Eu
quero que você deponha. Você precisa contar ao júri tudo
como aconteceu. Eles precisam ter acesso à verdade.
— Imaginei que faria isso.
— Mas preste atenção nas perguntas da promotoria.
Na maioria serão para confundi-la ou incitar uma verdade
criada a partir de uma resposta sua. Não responda de cara,
pense na pergunta, pense no que falará e só então
responda. O ritmo deles é a pressa. Porque sob pressão o
ser humano tende a falar sem pensar e isso pode nos
colocar em maus lençóis. Entendeu?
— Sim.
— Procure manter-se calma. Chorar ou sorrir não é
uma opção interessante. Deixe que eu comande o show.
Quando eu intervier e for acatado pela Juíza ótimo, mas
quando ela não ouvir meu protesto é a hora que você
precisa de tranquilidade para responder a questão da
melhor forma possível.
— Isso não me parece nada fácil.
— Não é. Mas é possível. Você consegue. Outra coisa,
a promotoria colocou sua mãe para depor.
— Ah não! — vi o desespero em seu rosto — Freya
vai acabar comigo Máximus. Isso é o que ela sempre quis!
— Acalme-se. Eu encontrei um meio de rebater a
altura o depoimento dela.
— Como? Aquela víbora é a minha mãe Que júri
deixará de acreditar nela para acreditar em mim?
— Eu sei. Eu concordo com você. Mas há um meio de
criar confusão na mente deles.
— Que meio Máximus?
— Uma mãe depor contra a filha é foda Eudora, mas
mais foda ainda é uma filha depor a favor de sua mãe. —
aos poucos sua cabeça foi se inclinando para o lado.
— Você...
— Antonela vai depor a seu favor e como filha. O
exame de DNA vai ser colocado nos autos.
— Mas Máximus assim todos saberão que você e
eu...
— Eu quero que fique claro para o júri que eu estou
lutando pela minha família com unhas e dentes. Laços
familiares é a primeira coisa que qualquer júri leva em
consideração numa sentença.
— Mas Antonela pode fazer isso? E a saúde dela?
— Austin garantiu-me que ela tem condições de
depor e por vias das dúvidas uma ambulância com UTI
estará lá para o caso de que algum imprevisto aconteça.
— Não! Por favor, não quero que nada aconteça a
ela.
— Eudora... — segurei seu rosto — Ela está bem. Isso
faz parte do espetáculo. Ok? Confia em mim? Você me
conhece, eu jamais colocaria a nossa filha em risco. — ela
me abraçou como prova de sua confiança — Escute, se
refira a mim como senhor Spartacus, não se esqueça disso.
Apesar do que estou fazendo, existem procedimentos éticos
que tem que ser seguidos num tribunal.
— Pode deixar.
— Preciso ir. Eu te amo! — sorri beijando-a com todo
sentimento trancado no peito e enfim retornei a Randor.
Ao abrir a porta da sala presidencial da Randor
aquelas mesmas caras semelhavam mais assustadas. Um ar
pesado me atingiu em cheio no peito. Desabotoei meu
paletó e antes de sentar-me em minha cadeira perguntei o
que tinha acontecido. Hartes quebrou o assombroso
silêncio.
— Máximus, o promotor Green ligou. Ele quer marcar
um encontro com você, a promotoria, assim como a Juíza
Nolan querem oferecer um acordo para o caso.
— Não haverá acordo, mas eu aceito o encontro.
— Máximus não seja ingênuo. Você sabe pelo
profissional que é, que um acordo num caso delicado como
esse que atingiu a sociedade como um todo é sempre um
negócio para todos os lados envolvidos.
— Eu não farei acordo Hartes.
— Posso saber por quê?
— Porque eu vou destruir quem passar pela minha
frente dentro daquele tribunal. A única chance de o Green
me fazer uma proposta decente e que eu a aceite é se ele
me propuser retirar todas as acusações sobre Eudora.
— Ok. O que digo a ele? Eu avisei que ligaria assim
que você voltasse.
— Marque com ele no bar do hotel Paris. Estarei lá
em vinte minutos.
— Pode deixar.
Durante o percurso até o hotel, eu analisava todas as
hipóteses que poderiam surgir no julgamento. Era lá que
minha mente se encontrava. Eu ia traçando todas as redes
e circunstâncias pertinentes e um modo de rebater uma a
uma. Eu não fui aquele encontro para ouvir a oferta, eu
aceitei porque queria intimidá-lo.
De longe avistei Green com um copo de que parecia
conter uísque. Caminhei até ele com postura firme e um
semblante debochado, mas não menos irritado.
— Boa noite Green.
— Como vai Máximus? — apertamos nossas mãos e
eu sentei-me na banqueta ao seu lado — Bebe alguma
coisa?
— Eu não bebo quando estou trabalhando. —
primeira alfinetada.
— Imagino que você esteja muito otimista.
— Como sabiamente disse Dwight Eisenhoer: O
mundo pertence aos otimistas, os pessimistas são meros
espectadores.
— Muito bem — virando seu corpo de vez para mim
— Vamos ao que interessa. O meu trabalho é representar os
interesses do Estado e eu me esforço para isso.
— No caso em que nos enfrentamos eu não consegui
notar tal esforço. — soltando um riso de canto de boca. Eu
queria desestabilizá-lo.
— A sua garota burlou a Lei senhor Máximus e nesse
país a Justiça cumpre os seus deveres. — vociferou.
— Acalme-se Green, desse jeito terá que beber a
garrafa inteira para chegarmos até o fim desta conversa.
— Seu tio foi assassinado, senhor Spartacus, deveria
estar em meu lugar lutando por justiça e não preocupado
em salvar a pele de uma prostitutazinha grávida. — em
outra situação aquela frase teria sido o bastante para que
eu arrebentasse a cara do Green ali mesmo, mas quando
advogado dentro de um tribunal eu sei ser frio, cruel e
brutal.
— Então concorda comigo que quem deveria se
importar pelo fato de ter a prostitutazinha grávida na família
sou eu e não você promotor? Apesar de que recordando os
tempos da faculdade, eu duvido muito que você seja capaz
de ter qualquer puta em sua vida, ou como você sabe
qualquer tipo de mulher.
— Olha aqui Máximus!
— Qual é a sua proposta Green? Chega de socializar,
concorda?
— Proponho uma pena reduzida se ela confessar-se
culpada pelos três crimes. Prisão perpetua na cadeia onde
ela já se encontra com condicional depois de trinta anos de
pena cumprida. Tente convencê-la, porque se não aceitar eu
pedirei pena Máxima, quem sabe até pena de morte.
— Escute bem Green porque eu falarei apenas uma
vez. Eudora Tyr não fará acordo algum porque ela não vai
mentir. Ela não vai assumir ou omitir culpa em uma coisa
que ela não fez. Ela será julgada. Deixemos que o júri faça
justiça e que entre nós dois vença o que der o melhor
espetáculo. Eu estou pronto.
— Ótimo. Eu também. Até amanhã advogado.
— Passar bem Green. — fiquei observando-o sair dali
e só então respirei um pouco e em seguida retornei para o
meu quartel general.
O julgamento começou depois de ler os trâmites do
caso. Não olhei para Eudora em nenhum momento, era
imprescindível que cada pessoa naquele tribunal
percebesse o meu profissionalismo apesar da nossa relação.
— Promotoria e Defesa se apresentem. — convidou a
Juíza — Os laudos e testemunhas solicitadas estão incluídos
aos autos?
— Sim meritíssima. — respondi, assim como Green.
— Muito bem, que tenhamos um julgamento limpo e
justo como todos anteriores feitos nessa casa. Voltem aos
seus lugares. — assim que sentamos a Juíza Nolan reabriu o
julgamento — Registre-se que tanto a ré como o seu
advogado estão presentes e que os laudos e testemunhas
de ambos os lados estão protocolados. A promotoria pode
começar.
Green levantou-se saudando a todos com fotos de tio
Brad em suas mãos. Com certeza seu primeiro golpe seria
apelar para o homem feliz e próspero que ele foi e a sua
foto na mesa de autópsia depois de se envolver com
Eudora. Uma tática simples, porem muito eficaz. É preciso
compreender que nesse jogo o tempo inteiro trata-se de
quem sensibiliza mais os jurados.
— O caso em questão nos mostra que a vítima, Brad
Hawks, foi atraído para uma teia, arrastado como uma presa
por uma predadora inteligente, manipuladora e fria. Hoje
nesse tribunal nós provaremos que a crueldade que o
senhor Hawks foi submetido pode não ter sido em um
banho de sangue, mas uma atrocidade pode ser
diagnosticada em vários patamares senhoras e senhores. A
vida de um pai de família, de um indivíduo primordial para
nossa sociedade foi cessada graças aquela mulher. —
apontando para Eudora que permanecia de cabeça erguida
como a instruí. — A ré Eudora Tyr, era sua amante em um
site de encontros entre homens milionários e prostitutas
que se escondiam atrás de seus diplomas e “bons modos”,
mas que no fundo não passam do que são, de viúvas negras
buscando sua próxima presa.
— Protesto, meritíssima.
— Sobre que alegação senhor Spartacus? — A juíza
questionou-me.
— A promotoria não pode generalizar uma profissão,
seja ela qual for como um todo, e não pode acusar a minha
cliente sem antes apresentar provas irrefutáveis para essa
corte. Fora isso tudo é especulação.
— Eu acatarei. Promotor Green apresente as provas a
cada acusação que fizer diante deste tribunal. Não quero
que isso se torne um jogo de achismos.
— Como quiser meritíssima. Como prova número um
apresento-lhe o senhor Hawks. — mostrando uma foto do
meu tio com nossa família — Um homem feliz não é
senhoras e senhores? Um homem que trabalhou sem cessar
para chegar aonde chegou por méritos seus. Um homem
que adotou seus dois sobrinhos como filhos e dedicou-se a
eles de corpo e alma. E como podem ver um de seus
sobrinhos é o senhor Máximus Spartacus, o advogado de
defesa que se encontra sentado ao lado da ré para defendê-
la, enquanto eu estou de pé para representar o povo que
clama por sua voz de justiça. Estou aqui por alguém que
não pode estar presente. Não pode estar aqui para vê-los e
ganhar a sua simpatia. Brad Hawks não poderá sentar-se
nessa cadeira — mostrando a bancada onde as
testemunhas se sentam — e contar a sua versão da história.
Um senhor que poderia ser o seu pai, o seu avô ou quem
sabe apenas um bom vizinho. Mas senhoras e senhores,
com certeza Brad Hawks foi alguém que confiou a sua
amizade, a sua confiança, quem sabe algum sentimento e a
sua vida... — houve uma pausa, uma pausa que eu conheço
seu intuito — A pouco eu lhes mostrei o homem realizado
que Brad foi e esse é homem largado naquele iate por esta
mulher nos braços da morte. — mostrando a foto do corpo
do meu tio no necrotério o que gerou olhares assombrados,
condenatórios e ressabiados entre os membros do júri.
O silêncio chegou ao ponto de só ouvirmos os passos
de Green indo de um lado para o outro com aquela foto nas
mãos diante dos jurados.
— Eu estou aqui por Brad Hawks que morreu por
falta de socorro, e que essa falta de socorro só aconteceu
porque sua morte foi premeditada, calculada e executada
com primazia pela dama, pela lady Eudora Tyr. Como disse
antes, ele não estará aqui. Ele não poderá nos ver fazer
justiça por sua vida porque todos os seus sonhos foram
destruídos. Ele não verá seus netos crescerem, sua família
se reunir nas datas festivas. Não haverá mais nada para
Brad, senhoras e senhores, e eu espero que vocês se
lembrem disso. A promotoria fecha sua apresentação e
chama sua primeira testemunha.
— A Defesa está pronta para a declaração inicial do
caso?
Sagaz eu dei um passo a frente de Green.
— Excelência a Defesa pede que se junte sua
apresentação inicial do caso a apresentação da Promotoria.
— parecia loucura, mas na verdade fazia parte do meu
plano. — minha intenção não era tratar Eudora como uma
inocente que foi tida como culpada e sim uma pessoa que
cometeu um erro como qualquer outro ser humano pode
cometer.
A juíza Nolan abriu seus olhos como quem ouvisse
um fator surpresa, o mesmo espanto observei em Green e
em seu advogado assistente. Notei a apreensão de Eudora
ao meu lado, aproximei-me dela tocando sua mão com
reserva.
— Confie em mim. Eu sei o que estou fazendo.
— O Estado chama a testemunha a senhora Nice
Vanderbill.
A senhora em questão havia sido professora no
primário de Eudora. Não poderia esperar nada aproveitável
ao meu favor vindo dela, levando em conta o repertório de
Eudora.
— A senhora foi professora da senhora Tyr por
quantos anos?
— Professora e diretora da escola onde estudou o
primário por quatro anos.
— Conhecia bem a família e a senhorita Tyr?
— Sim.
— Como a senhora descreveria Eudora Tyr?
— Uma menina muito bonita, mas muito rebelde.
Eudora sempre teve problemas com autoridade. Não
gostava muito de estudar. Tínhamos que chamar quase
todos os dias os pais para conversarmos sobre seu
comportamento.
— Como ela se sentia na escola, senhora Vanderbill?
— Protesto. Especulação, a testemunha é pedagoga
e não psiquiatra. — intervi.
— Eu vou refazer a pergunta: Eudora era feliz na
escola?
— Acredito que sim. Dificilmente uma criança não é.
— Mantiveram contato depois que ela saiu da escola
e da cidade onde moravam?
— Não, acredito que Eudora nunca gostou muito de
minha pessoa. Na verdade ela não gostava de nada ou
ninguém que pudesse lhe soar como autoridade.
— Senhora Vanderbill, a senhora sabia que Eudora
tornou-se uma garota de programa?
— Moramos num condado. Cidade pequena. As
notícias correm e Eudora sempre teve os seus problemas.
— Que tipo de problemas? Pode ser mais especifica?
— esse era o problema de Green, ele não sabia a hora certa
de parar as perguntas, e nessas horas acabava beneficiando
o outro lado.
— Bem, ela engravidou do senhor Matheus, seu
professor de Francês aos dezesseis anos. — aquilo era
música para os meus ouvidos. Percebendo a burrada que
fizera, Green encerrou suas perguntas retornando um tanto
desnorteado a sua mesa.
— Senhor Spartacus deseja questionar a
testemunha?
— Sim meritíssima. — levantei-me andando com
passos curtos.
— Pode prosseguir. — Nolan deu-me permissão.
— Senhora Vanderbill, acaba de revelar a este júri
que minha cliente ficou grávida aos dezesseis anos de idade
de seu professor. Isso confere?
— Sim senhor.
— Um professor da escola ou particular? — eu sabia
de todos os detalhes, mas precisava que os jurados também
soubessem.
— Particular. Depois de um tempo os pais optaram
por deixar a filha estudar em casa.
— E o que aconteceu com essa criança?
— Protesto. Isso é irrelevante para o caso. — Green
interviu.
— Contesto meritíssima. Deixe-me terminar o
argumento e eu mostrarei que há um propósito relevante.
— Senhor Green deixe que o senhor Spartacus
prossiga.
— Senhora Vanderbill, sabe o que houve com a
criança que a senhorita Tyr teve?
— Ela foi dada para adoção. A mãe de Eudora
entendeu que ela não teria condições de cuidar da criança e
queriam abafar o caso que trouxe certo escândalo para as
famílias envolvidas.
— A Defesa pede que registrem nos autos que a
senhorita Tyr teve uma filha dada a adoção por vontade de
seus pais. — solicitei.
A jogada era usar aquele depoimento lá na frente
quando eu chamasse Antonela para depor. Eu queria que os
jurados fossem tocados pela história da mãe que deu sua
filha contra a vontade, obrigada pela avó da criança que se
dispôs a testemunhar contra a própria filha. Era uma
maneira de descredenciar Freya Tyr perante o tribunal.
— A Defesa libera a testemunha meritíssima.
Dali em diante a guerra começou. Green tentava
validar todas as palavras de suas testemunhas enquanto eu
as jogava por terra. Eu só usaria uma jogada muito
arriscada, usar apenas Antonela para depor e usar os laudos
psicológicos. Era um grande risco, mas se eu conseguisse
fazer do jeito certo, eu sairia com Eudora e nossa filha de
mãos dadas daquela corte.
— Então como um ex-usuário deste site de
relacionamentos o senhor afirma que a relação sexual é
uma moeda de troca para esses favores entre Sugar Babys
e Sugar Daddys? — Green arguia sua testemunha de
acusação.
— Sim. Com certeza.
— Protesto, meritíssima!
— E o que a defesa argumentará? A pureza de sua
cliente? — Green gritou.
— O site é protegido por um código. Quem entra não
pode sair. Como o senhor George pode ser um ex-usuário? A
Promotoria o colocou para depor, pois bem a Defesa exige
que o email enviado pelo seu padrinho ou madrinha, a
pessoa que convida os participantes para tornar parte do
site, seja apresentado como prova arrolada nos autos desse
processo. — Green e eu nos encarávamos naquele embate.
— Se isto não for feito meritíssima, a Defesa pede que o
depoimento deste senhor seja desqualificado ou entendido
como especulação da Promotoria para não cumprir o que
viemos fazer aqui: JUSTIÇA!
— Acha mesmo que pode salvá-la advogado? — nós
sussurrávamos enquanto digladiávamos um de cara para o
outro.
— Não sou um homem que acha Green. Isso é uma
certeza e não uma suposição.
— A promotoria tem alguma prova material de que o
senhor Mike George recebeu o tal convite para participação
do site? — Nolan averiguou. Green se calou olhando para o
assistente. Então a juíza voltou-se para a testemunha —
Senhor George o senhor possui o email de confirmação
onde foi convidado para participar do site?
— Não meritíssima. Foi há muito tempo e eu o
apaguei de minha caixa de email.
— Obrigada por sua sinceridade senhor George. Que
seja registrado nos autos deste julgamento que a Juíza
desqualifica o testemunho do senhor Mike George por falta
de prova cabal de sua participação no site, embora não
duvide de sua participação. — por dentro eu vibrei. Era mais
uma testemunha derrubada.
Hartes que usei como meu assistente na defesa,
insistia que eu deveria usar Rita, a amiga e madrinha de
Eudora no site, como testemunha, o que era uma boa ideia
no princípio. Eu sei que o depoimento dela seria de grande
valia para a Defesa, mas eu não queria dar armamento para
Green. Assim como o depoimento dela poderia reforçar a
defesa de Eudora, também poderia ser usado como um álibi
pela promotoria de que uma ideia qualificada para o
possível homicídio passou a existir quando ela soube quem
era Brad Hawks. Isso seria algo muito prejudicial para a
minha tese e por isso mantive-me atento a três coisas: o
depoimento de Freya, o laudo psicológico e o depoimento
de Antonela.
— A Defesa chama o Doutor Lucius Rice meritíssima.
— o psiquiatra destinado pelo Estado para fazer o laudo de
Eudora entrou e eu vi minha oportunidade de brilhar
naquele tribunal. — Boa tarde Doutor Rice.
— Boa tarde senhor Spartacus.
— Doutor, em sua avaliação médica que consta de
forma documentada nos autos do processo, como o senhor
avaliou a ré?
— Eu acredito que embora a senhorita Tyr apresente
um quadro emocional aparentemente equilibrado, ela tem
grandes problemas em sua estrutura familiar que podem
desestabilizar qualquer indivíduo.
— O senhor afirmou em seu laudo em nove páginas
que Eudora Tyr sofre de um transtorno comportamental.
Poderia explicar ao júri isso de modo mais claro?
— Sim. Sobre o ponto de vista psiquiátrico o ser
humano possui códigos de conduta primitiva que podem se
variar de acordo com sua cultura, sua família, mas não
podem fugir da sua essência como, por exemplo, o instinto
de sobrevivência.
— Prossiga Doutor. — meu tom era manso.
— A análise deixa de lado fatores internos como
"caráter" e "moral". Cada um de nós é capaz de fazer o que
for necessário para sobreviver. Existe um nível para cada
um. Alguns podem matar para sobreviver, outros
trabalharem catando recicláveis e outros se prostituindo.
— O senhor está tentando dizer que não existe
nenhuma doença psíquica para justificar o ato de uma
pessoa se prostituir.
— Não. Como afirmei antes, cada um de nós tem o
seu próprio código de conduta. Um limite Máximo de até
onde pode ir. Aqueles que chegam à prostituição podem ser
encarados como indivíduos que possuem níveis mais
elevados para sobreviver.
— Mas existem pessoas que não se prostituem
apenas para sobreviver.
— A afirmação é parcialmente correta senhor
Spartacus.
— Esclareça melhor Doutor Rice.
— Sobre o ponto de vista emocional sempre será
uma questão de sobrevivência. Temos a tendência em
acreditar que sobrevivência está ligada a comida, ao
alimento em si. Bem, em alguns casos sim, mas em outros
não. A sobrevivência sobre o ponto psicológico pode ser
uma questão de sobrevivência emocional.
— Como, por exemplo, a falta de um
desenvolvimento afetivo satisfatório?
— Sim. Mas é interessante ressaltar que a
permanência no ramo da prostituição pode e fatalmente
acarretará transtornos mentais a essas pessoas.
— Então uma pessoa pode entrar nessa vida por uma
questão de sobrevivência do tipo “preciso comer” ou do tipo
“preciso curar essa dor”, mas em longo prazo as
dificuldades da profissão podem florescer prováveis
transtornos mentais?
— Com certeza. Dentre eles o desvio de caráter por
exemplo. Quando um ser humano compreende que ele pode
se desfazer daquilo que mais temos pudor por ser o templo
da nossa alma, da nossa psiquê que é o nosso corpo, ele
entende que está pronto para qualquer outra coisa.
— Pode matar suponho.
— Sim, mas para se defender. Na mente dessa
pessoa, ela sempre precisa se defender porque todas as
fronteiras da sociedade foram fechadas para ela. O único
modo de continuar a viver é fazer o que for preciso para se
manter vivo e seguro.
— E a que conclusão o senhor chegou no caso da
senhorita Eudora Tyr?
— Entendo que perder a irmã caçula de forma
traumática foi o primeiro rompimento da senhorita Tyr com
a sociedade, assim como acredito que ter sido obrigada a
doar sua filha aos dezesseis anos foi o último laço que ela
ainda poderia ter para viver socialmente como todos nós.
— Quando o senhor fala socialmente, quer dizer ter
uma profissão comum, uma casa, uma família é isso?
— Sim.
— Pelo que avaliou, a senhorita Tyr poderia ter
assassinado Brad Hawks de forma fria, premeditado a sua
morte como foi declarada culpada pela Promotoria?
— Não. — ouvir os burburinhos entre os presentes foi
salivante para mim.
— Por que Doutor?
— Uma pessoa que teve perdas afetivas tão
importantes como a dela, não seria capaz de matar alguém
premeditadamente.
— E por que não?
— Não há força emocional para tal processo. É
preciso certo grau de maquiavelismo para se cometer tal
coisa e Eudora Tyr não possui isso.
— Entendo. E ela poderia matar alguém no calor do
momento?
— Sim. No impulso sim, mas não por ser uma
prostituta ou ter as perdas que teve ao longo da vida, ela
poderia fazer isso assim como qualquer um de nós aqui
presentes. Quando se mata no impulso algum instinto de
sobrevivência física ou emocional foi acionado como um
gatilho.
— E quanto à omissão de socorro?
— Eu acredito que a senhorita Tyr nesse caso usou o
instinto de sobrevivência em relação aos riscos da profissão.
A humanidade ininterruptamente culpa o mordomo, o
motorista e a prostituta. Ela não socorreu o senhor Brad
Hawks por desejar sua morte e sim para proteger a sua
vida. Se ela tivesse o socorrido nós não estaríamos aqui.
Mas ela com certeza ainda estaria sendo julgada por
tentativa de homicídio ou pelo próprio crime devido a
marginalidade como a sociedade encara a sua profissão.
— Em sua opinião como médico, a senhorita Tyr é
culpada ou inocente dos crimes alegados nesse tribunal?
— Protesto, a testemunha não é um profissional da
área criminal. — Green se fez presente.
— Acato. — Nolan definiu.
— Eu refaço a pergunta. Doutor Rice em sua opinião,
uma pessoa com as características emocionais como as da
ré poderia ser culpada de tais acusações?
— Protesto excelência, o senhor Spartacus está
tentando tirar conclusões ultrajantes da testemunha
baseadas numa rápida avaliação do Doutor Rice.
— Tecnicamente correto senhor Green. Mas não se
esqueça de que eu mesma fui quem designou uma
avaliação feita por um funcionário credenciado pelo Estado.
O Doutor Rice está apto para essa avaliação devido à
confiança do Estado em seu profissionalismo, portanto
manterei seu depoimento como parte cabal no processo.
Prossiga senhor Spartacus.
— Doutor Rice em sua opinião uma pessoa com as
características emocionais como as da ré poderia ser
culpada de tais acusações?
— Em tempo algum. Uma pessoa com as mesmas
características da senhorita Tyr não teria planejado a morte
do senhor Hawks e não pediu socorro para completar a
intenção de um suposto homicídio doloso e qualificado e
sim para se defender de nós, a sociedade.
— Muito obrigado Doutor. A Defesa terminou
meritíssima.
Se Green fosse um pouco inteligente não
questionaria o psiquiatra, para minha falta de sorte ele
decidiu ser. O momento mais esperado se chegou.
Freya Tyr entrou no tribunal às dezoito horas e cinco
minutos. Não era um ser humano, era um paredão de gelo.
Estampado em seus olhos encontrava-se a gana em destruir
e triunfar sobre Eudora. Seu andar era demorado como uma
cobra peçonhenta, seu olhar cravado em cima da figura de
Eudora. Existia uma mistura de ódio e maldade naquela
mulher que até então eu não tinha visto em nenhum ser
humano.
— Senhora Freya Tyr. — Green se revitalizou —
Imagino que seja um pesadelo para uma mãe entrar em um
tribunal para depor contra a sua filha.
— Não quando a filha é Eudora Tyr, senhor Green. —
não houve sentimento ao responder.
— Ela vai acabar comigo Máximus. — Eudora soltou
entre os dentes.
— Não se preocupe. Eu estou aqui, lembra? —
sussurrei olhando para trás.
— Máximus, a autorização foi dada. Antonela poderá
depor.
— Perfeito Hartes. Eu estava começando a me
preocupar com a demora para a deliberação.
— Senhora Tyr, o que pode falar em breves palavras
a este tribunal sobre sua filha?
Depois de uma longa pausa ela contrapôs:
— Eudora é um ser humano ruim. Calculista, fria,
incapaz de reconhecer algum beneficio que se faça por ela.
— A senhora pode dizer quando começou a notar
isso?
— Uma mãe nunca quer admitir algo assim. Mas para
mim ficou mais evidente quando a minha filha caçula foi
assassinada.
— Por que afirma isso?
— Porque ela poderia ter salvado a irmã e não fez. —
percebi as lágrimas rolarem sobre o rosto de Eudora — Um
animal cercou as duas. Eudora podia ter corrido, ela podia
ter se oferecido no lugar da irmã já que era mais velha e
tinha mais força. Ela poderia ter lutado contra ele de algum
jeito. Ela poderia ter tentado salvar a minha Guida. Mas ela
não quis.
— E por que a senhora acredita que ela não quis
salvar a irmã?
Seu olhar venenoso enfrentou o de Eudora, depois se
virou para a face de Green.
— Porque ela não amava a irmã e não amava porque
Eudora é incapaz de amar a qualquer pessoa.
— E sobre a criança que ela teve na adolescência? O
que levou a família a tomar a decisão de dar a criança para
a adoção.
— Senhor Green, perdoe-me se eu parecer grosseira.
Mas o que uma mãe destroçada por essa criatura, tendo
que cuidar do marido inválido pela dor da perda da nossa
filha e por ter a mesma convicção que eu de que Eudora
nada fez para salvá-la? A gravidez não foi culpa do senhor
Matheus, tenho certeza que ela o seduziu. Vivia envolvida
com más companhias, com drogas, e quando soube da
gravidez ela não quis a criança, eu tive medo de que ela
fizesse algo contra o bebê além de eu ter que ver ela se
rebelar dia após dia contra nós e...
— Mentirosa! Mentirosa! Eu nunca quis dar minha
filha! Eu fiz tudo que podia para salvar minha irmã! Você
colocou isso na cabeça do meu pai, ele é um homem bom e
sempre nos amou! Víbora! — o surto inesperado de Eudora
causou alvoroço no tribunal. Enquanto a Juíza batia seu
martelo pedindo ordem no tribunal, eu segurei Eudora pelos
ombros tentando chamá-la para realidade.
— Para! Olha para mim!
— Cretina! Você não presta! Nunca me amou porque
queria ter tido um filho homem!
— Eudora! — num tom forte roubando o seu olhar
por um segundo — Cale a boca!
— Ela está mentindo! Ela está mentindo Máximus!
—- Você tem que se acalmar. Eu sei que ela mente.
Mas aqui não é o que se sabe e sim o que se pode provar.
Se continuar com esse comportamento só vai piorar as
coisas para nós.
— Desculpe. — suas mãos tremiam tentando limpar
as lágrimas.
— Por favor, eu sei que é difícil, mas mantenha a
calma. Eu preciso que faça isso. Pode ser?
— Pode.
— Advogados se aproximem. — outra vez eu e Green
estávamos diante da mesa de Nolan.
— Senhor Spartacus tem certeza que pode controlar
a sua cliente?
— Foi um momento ruim meritíssima, nada mais.
— Ou talvez a dor de enfrentar a verdade vinda da
boca de sua mãe. — Green usou o sarcasmo num riso.
— Não quero mais espetáculos como esse senhor
Spartacus. Caso contrário eu mandarei a ré para a sua cela.
— Não haverá meritíssima. A Defesa pede desculpas
pelo alvoroço.
— Retomem suas posições.
— Senhora Freya, quer tomar algo? Sente-se bem?
Podemos prosseguir?
— Eu estou bem senhor Green, obrigada. A fúria de
Eudora é algo com que lidei a vida inteira.
— Sobre as acusações que sua filha está
respondendo. Quando soube do caso?
— Pelas mídias televisivas.
— Então não possuem contato.
— Não.
— Senhora Freya, em minha opinião acredito que a
senhora seja a pessoa neste tribunal que mais conhece a ré,
a senhora acredita que ela pode ter assassinado Brad
Hawks com intenção de matar ao levar a cocaína, sabendo
que ele era cardíaco, omitindo socorro de propósito?
— Eu não só acho como tenho plena convicção disto
senhor Green.
— E por que ela faria isso?
— Dinheiro. Poder. Ambição. Talvez o senhor Hawks
tenha visto a tempo o ser desprezível que ela é e quando
ela notou que ele percebeu começou a jogar de outra
maneira. Eu duvido muito que a criança que ela espera seja
do senhor Máximus Spartacus ou do senhor Hawks, na
verdade eu duvido que ela saiba quem é o pai, mas ela
tinha que se garantir de um algum modo, não é verdade?
— Que os autos registrem que a senhora Freya Tyr,
mãe da ré, acredita por motivos pessoais e de convivência,
na capacidade e natureza maléfica da mesma. A Promotoria
terminou meritíssima.
— A Defesa se pronunciará?
— Sim excelência. — levantei-me usando o mesmo
método usado por Freya. Olhar sórdido, passos vagarosos,
me alimentando das vísceras dela.
— Como vai senhora Tyr?
— Bem senhor Spartacus.
— Para começar a nossa conversa eu quero saber se
a senhora conhecia Brad Hawks?
— Apenas de vista. Temos amigos em comum, mas
nunca fomos apresentados um ao outro.
— Perfeito. Até onde estudei a linhagem da minha
cliente, ela pertence a uma família muito rica.
— Sim, a família do meu marido tinha muitas posses.
— Eudora sempre teve acesso a tudo do bom e do
melhor.
— Ininterruptamente.
— Por que ela mataria por dinheiro? Desculpe-me
senhora Tyr, mas crescida em berço de ouro, e ainda que
prostituta ela era requisitada por pessoas de alto padrão
aquisitivo. Dinheiro não me parece um atrativo muito forte
para sua filha ou estou errado?
— Talvez não. Mas como afirmei, ela não ama nada
senhor Spartacus. Tenho certeza de que ela tinha outros
planos.
— Sempre tem certeza senhora Tyr?
— Sim.
— Qual foi à última vez que se falaram?
— Não me recordo.
— Não se recorda? Logo a senhora que acaba de
descrever sob juramento a esse tribunal que tem certeza de
tudo que fala?
— Não estou entendendo sua colocação.
— Protesto. O senhor Spartacus está constrangendo
a testemunha. É argumentativo!
— Retiro. — pondo as mãos nos bolsos — Mas se não
se recorda qual foi à última vez que falou ou viu sua filha,
quem usou para avisá-la que colocaria a fazenda onde ela e
a irmã cresceram a venda? E será que foi a mesma pessoa
que a senhora usou para avisar a senhorita Tyr que a retirou
do testamento e se fosse do desejo dela poderia comprar a
fazenda, que por direito era dela, da senhora? E por acaso
foi essa mesma pessoa quem recebeu o dinheiro e lavrou a
escritura em cartório para a sua filha?
— Bem...
— Senhora Freya Tyr — voltei a minha mesa
apanhando a escritura — Ao contrário do meu colega Green
eu não costumo falar nada dentro de uma corte sem ter
provas. Segundo essa cópia da escritura da fazenda que um
dia foi de sua família, no último dia 25 de maio desse ano
foi lavrada em seu nome e assinado por sua pessoa junto ao
cartório da comarca de sua cidade natal, que a senhora em
pessoa não só recebeu o dinheiro como fez a transação de
toda a papelada dispensando a presença de qualquer
representante legal. — coloquei de propósito a escritura
para trás com meu dedo polegar sobre a assinatura para
que os jurados vissem. Uma maneira de chamar a
curiosidade dos mesmos e fazer com que comecem a ter
um pré-julgamento da testemunha. Mas eu podia sentir os
olhos se contorcendo para reconhecer o nome de Freya na
assinatura. A maioria das pessoas mentem, mas todas as
pessoas não gostam que mintam para elas. — O que tem a
nos falar sobre isso senhora Tyr? Nomeou alguém para tudo
isso?
— Não. Fui eu mesma quem foi ao cartório e fiz tudo
como manda a lei.
— Quem falou com sua filha sobre a venda?
— Eu mesma. Foi à última vez que conversamos.
— Por que não citou isso antes já que tem convicção
de tudo?
— Estou aflita. Eu me equivoquei.
— Naturalmente. — sorri com sarcasmo — Foi o que
também pensei. Obrigado senhora Tyr. A Defesa encerra
com a testemunha meritíssima.
Naquela altura pela minha experiência eu precisava
de um golpe de misericórdia. Porque não bastava inocentar
Eudora de homicídio doloso qualificado, eu queria reduzir a
pena por omissão de socorro e torná-la afiançável.
— A Defesa dispensa o testemunho da ré protocolado
nos autos, meritíssima.
— Tem certeza advogado? — A Juíza Nolan entendeu
que era um puta risco não deixar Eudora falar.
— Sim.
— Registrem nos autos.
— A Defesa chama a sua última testemunha
meritíssima. Arrolada aos autos e deliberada pela suprema
corte desse condado a poucos minutos atrás.
— Como é que é? — Green não esperava por aquilo
— Quem?
— Leia os autos, Promotor. Cumpra seu papel.
Atualize a página do processo. A Defesa chama Antonela
Spartacus para testemunhar neste tribunal. — Agora quem
brilharia naquela corte era ela, a garotinha do papai.
Com os cabelos presos num coque charmoso, vestido
e meia calça branca e sapatilhas de balé ela adentrou
acompanhada por uma enfermeira que ficaria ao seu lado
caso algo acontecesse. Levantou o vestido de modo
gracioso, enfrentando todos aqueles olhares curiosos pela
sua presença. Não resistindo passei o olhar sobre Eudora
que soluçava ao ver a filha pronta para defendê-la. Ao voltar
meus olhos sobre Antonela pisquei de leve para ela. Aquele
era o nosso código de que ambos sabíamos o que tínhamos
para fazer.
— Como vai senhorita Spartacus?
— Bem obrigada senhor Spartacus.
— Podemos começar?
— Eu preciso fazer o juramento sobre a Bíblia.
— Senhorita Spartacus — disse a Juíza — Sendo
menor de idade não precisa fazer o juramento.
— Obrigada pela consideração excelência, mas como
uma cidadã patriótica eu prefiro que o meu direito em jurar
sobre a Bíblia seja respeitado.
Outra vez os cochichos surgiram. O policial veio com
a Bíblia até Antonela que com a mão direita erguida repetiu:
— Eu, Antonela Spartacus, juro falar a verdade,
somente a verdade em Nome de Deus.
— Muito bem senhorita Spartacus...
— Meritíssima, essa criança não pode testemunhar.
Ela tem apenas oito anos de idade. — eu vi nos olhos de
Green toda a sua tese ruir depois de ler quem era Antonela
e o exame de DNA. — Isso é inconstitucional!
— Desde quando? Ela é menor de idade, e o
responsável assinou permitindo o depoimento. — rebati.
De repente sua pequena mão se ergueu seguida de
olhos sedentos.
— Pois não senhorita Spartacus? — a Juíza usou um
tom de voz materno.
— Com licença meritíssima — pondo-se de pé — Caro
promotor Green, segundo a Constituição deste país, uma
criança acima de sete anos de idade pode ser acolhida para
testemunhar desde que fale de modo coerente e sinta-se a
vontade. Se o senhor leu a documentação anexa aos autos
deste processo, com certeza viu os meus laudos psíquicos
onde fui atestada por vários especialistas com um Q.I de
170 nos primeiros anos de idade. Em segundo lugar o meu
responsável legal, no caso o senhor Spartacus que por
acaso também é o meu pai, permitiu a minha presença. Eu
compreendo a importância desse caso e posso garanti-lo
que sei o que vim fazer aqui. Obrigada. — Nolan sorriu com
descrição sem esconder o fascínio por Antonela.
— Pode sentar-se senhorita. — Nolan pediu e ela
acatou.
— Senhorita Spartacus, a senhorita reconhece aquela
moça sentada ali. — perguntei.
— Sim reconheço senhor Spartacus é a senhorita
Eudora Tyr.
— Pode nos contar como conheceu a senhorita Tyr?
— Sim, eu a conheci como a namorada do meu pai.
— Para que fique claro. Quem é o seu pai senhorita?
— O senhor, Máximus Spartacus.
— Qual o seu grau afetivo com a ré?
— Eu devo duas vidas a ela.
— Mas todos nós temos apenas uma vida senhorita.
— Eu não.
— Pode explicar aos jurados como se deu essa
dívida.
— Posso. Será um prazer. Algumas semanas atrás eu
estive entre a vida e a morte. Eu tive HPN e precisava de
transfusão de sangue urgente para não morrer, mas eu
possuo um tipo sanguíneo raro, O negativo. Como um
exame havia sido feito na senhorita Tyr para comprovar sua
gravidez, minha tia, Austin Spartacus, médica, percebeu
que ela tinha o mesmo tipo de sangue. Ela não pensou duas
vezes em fazer a doação, mesmo estando presa e sendo
acusada pela minha família de ter assassinado meu avô
Brad Hawks.
— Então essa foi à primeira vida que a senhorita
Eudora Tyr lhe deu?
— Na verdade a segunda, senhor Spartacus. No
exame de compatibilidade realizado após a coleta para
saber se todas as nossas taxas eram combinantes, foi
constatado que nós duas tínhamos total compatibilidade.
Em grau familiar.
— A senhorita sabe explicar o que isso significa?
— De acordo com a medicina Eudora Tyr e Antonela
Spartacus só poderiam ser irmãs ou mãe e filha. Eu sou a
filha que ela foi obrigada a entregar para adoção por sua
mãe. — então os murmúrios das bocas ficaram mais altos.
— Ordem no tribunal! Ordem no tribunal! — algumas
marteladas depois Nolan foi escutada.
— Como se sentiu sabendo disso? — eu espumava
orgulho dela.
— Desde então eu consigo rir de tudo e passei a
acreditar nas sete cores do arco-íris.
— Senhorita Antonela Spartacus, acredita que a
senhorita Tyr tenha tido algum envolvimento com a morte
de seu avô?
— Ela estava lá. As câmeras confirmam isso. Mas o
que eu não entendo é porque um lugar como esse, feito só
para adultos não conseguem enxergar o que eu com meus
olhos de uma mera criança de oito anos vejo.
— E o que a senhorita vê?
— Como uma pessoa pode ser tão fria e calculista.
Como uma pessoa pode ter arquitetado a morte de um
homem bom e amável como meu avô, quando essa mesma
pessoa teve a chance de se negar em forma de vingança e
não doar o sangue me deixando morrer? Isso no mínimo é
paradoxo. Sendo mais enfática, um grande manifesto de
burrice. Desculpe, sou sincera.
— A senhorita está aqui para testemunhar a favor da
namorada do seu pai ou a mulher generosa que lhe ajudou?
— Nenhuma das duas opções, apesar de que seriam
boas alegações.
— Está aqui por que senhorita?
— Eu sou uma filha que veio depor a favor de sua
mãe.
— Por que fazer isso se ela não a criou?
— Meu avô e meu pai sempre ensinaram que a
família está acima de tudo. — eu me segurava por fora, mas
por dentro eu estourava de orgulho daquela menina
corajosa e tão autêntica.
— A Defesa terminou meritíssima.
— A Promotoria?
— A Promotoria quer interrogar a testemunha.
Passando por Green cochichei em seu ombro:
— Boa sorte. Vai precisar.
Puxei minha cadeira, cruzei os braços como quem
assistiria uma deliciosa sessão de cinema, só faltava a
pipoca.
— Como vai?
— Maravilhosa, obrigada por perguntar.
— Seu nome é Antonela, não é isso? Posso lhe
chamar assim?
— Desculpe-me se pareço rude, mas meu pai me
educou que não devo falar com estranhos e isso inclui dá-
los algumas regalias como, por exemplo, me chamar de
Antonela, SENHOR GREEN.
— Ah sim. Seu pai lhe deu um bom conselho
senhorita Spartacus. Importa-se que eu faça algumas
perguntinhas?
— De modo algum. Uma sugestão — erguendo o
dedo — não precisa colocar as palavras no diminutivo para
facilitar minha compreensão ou se mostrar complacente
com o fato de eu ter oito anos de idade, sou capaz de
compreender o que fala sem nenhum tipo de privilégio
senhor Green. — abaixei a cabeça por um instante para não
rir da cena.
— Seguirei a sua sugestão senhorita Spartacus. Eu
gostaria que nos contasse por que está aqui?
— Promotor... — ela sorriu inclinando a cabeça para o
lado direito — As testemunhas de um caso em geral
testemunham ou as coisas mudaram nos últimos minutos?
— todos gargalharam e isso incluiu a Juíza Nolan.
— Tem razão senhorita Spartacus. — outra vez
Adultinha ergueu o dedo.
— Sim?
— Talvez a pergunta que o senhor queira fazer-me
seja: Senhorita Spartacus está aqui por sua vontade ou foi
imposta pelo seu pai? — erguendo com charme suas
sobrancelhas.
— É... Pode ser. — Green ficava a cada segundo mais
desconcertado com Adultinha.
— A primeira coisa que devo deixar claro é que não
estou aqui por causa do meu pai. Sei separar as coisas e
dada a gravidade do caso eu estou aqui por livre e
espontânea vontade para depor sobre o caráter da
senhorita Eudora Tyr.
— Que é a sua mãe biológica.
— Sim. O senhor está corretíssimo.
— Gostou de saber que ela era sua mãe?
— Adorei. Ninguém em sã consciência aprecia a ideia
de ser filho de chocadeira, senhor Green.
— Suponho que o seu pai tenha lhe falado sobre o
passado da senhorita Tyr.
— O senhor se refere ao fato dela ter sido uma
garota de programa?
— Isso.
— Isso não tem importância para mim. Há pessoas
cumprindo suas funções de maneira muito mais
vergonhosas, senhor Green — lançando aquele jeitinho de
olhar que eu conhecia — O senhor tem filhos?
— Sim senhorita Spartacus. Dois. — Green abriu um
largo sorriso.
— Eu imagino o sofrimento deles. — Antonela soltou
aquele tom desmotivado.
— A senhorita pensa o que sobre tudo isso?
— Eu penso que basta olhar para o passado da
senhorita Tyr, confrontando com os documentos
apresentados pela Defesa e um depoimento tão esclarecido
como o meu para entender o quão descabido são essas
acusações.
— Mas ela omitiu socorro ao seu avô. Ele poderia
estar vivo.
Eudora aproximou-se do meu ouvido:
— Não vai falar nada? Esse assunto pode ser pesado
para ela Máximus.
— Acredite Eudora, se tem alguém que corre risco de
ser esmagado por algum peso nesse instante é o Green.
Fica tranquila.
— Não acha que a sua mãe poderia ter salvado o seu
avô?
— Eu penso que naquela noite naquele iate haviam
dois adultos senhor Green, eu parto do princípio de que
adultos sabem o que fazem e isso implica nos riscos que
correm. Do mesmo modo que se pode ver que a Eudora Tyr
entrou no iate, Brad Hawks também fez o mesmo de livre e
espontânea vontade.
— Mesmo assim houve a omissão?
— O ser humano torna-se capaz de tudo para
sobreviver. Não cabe a eu julgar.
— Para uma menina tão bonita e inteligente como
você deve ser difícil aceitar a profissão de sua mãe.
— Senhor Green quase todos os dias de minha vida
eu tenho que lidar com algo que a sociedade chama de
Bullying. Sabe por quê? — ele sacudiu a cabeça — Porque
sou inteligente. As pessoas me encaram como o senhor e
mais uma meia dúzia aqui. Como se eu fosse uma
aberração da natureza.
— Não foi a minha intenção senhorita — ele tentou
se corrigir.
— Posso terminar? Obrigada. O que estou afirmando
é que eu compreendo pelo que a senhorita Tyr teve que
passar. O preconceito só muda de tópico, o conceito é o
mesmo.
— Talvez a senhorita Tyr seja condenada
independente do que você acredite, senhorita Spartacus;
— Uma probabilidade. Mas eu gostaria de fazer uma
pergunta aos jurados.
— Infelizmente a senhorita não pode fazer isso.
— Não falei com o senhor. Estou me dirigindo a Juíza
Nolan é ela quem determina se meu pedido é viável ou não,
Promotor Green. — girando um pouco sua cabeça para a
magistrada — A meritíssima me permite?
— Tem a permissão dessa corte senhorita Spartacus.
— Quantos aqui têm mãe? — algumas mãos não se
ergueram — Não mintam senhoras e senhores, nenhum de
vocês vieram de uma experiência científica ou de uma
chocadeira. — enfim todas as mãos se levantaram — Muito
melhor falar a verdade. Minha intenção com essa pergunta
tão simples é que os senhores não se esqueçam de que são
adultos. Independente da mãe que tiveram vocês tiveram.
Eu ainda não tive o prazer de conviver com a minha mãe e
esse foi o meu maior sonho todas as noites em que dormi
em minha cama, depois que o meu pai pensava que eu
tinha adormecido. Eu tenho esse direito senhores, assim
como meu irmão que está dentro dela. Eu não quero que ele
passe ou sinta os sentimentos ruins que guardei dentro de
mim. Eu entendo que uma omissão de socorro aconteceu.
Mas duvido que meu avô condenasse minha mãe por isso,
porque ele melhor do que ninguém, além do meu pai e da
minha tia, sabe o quanto eu sofri por não ter tido o direito
de estar com a minha mãe. Brad Hawks se estivesse nesse
tribunal pediria que deixassem minha família em paz e
sendo mais clara, ele imploraria para que deixassem a sua
Adultinha ter o prazer de se sentir amada e amar a sua
mãe. Esse é um lugar para se fazer justiça, deixar uma
menina de oito anos sem sua mãe e um bebê que ainda
nem nasceu sem sua mãe não me parece um modo de
ensinar a minha geração que isso seja justo. Pensem nisso.
Esse é o meu pedido. Eu posso ter um dom ou ser só
inteligente, mas quando estou nos meus pensamentos eu
posso garanti-los que sou somente uma garotinha de oito
anos desesperada para ter a sua mãe e o seu pai deitados
ao seu lado na cama para contar um conto de fadas
qualquer e colocá-la para dormir.
Até o silêncio se calou com as palavras da mocinha
do papai. Não houve quem não enxugasse os cantos dos
olhos, nem mesmo ela. Coisa rara é ver Adultinha chorar e
eu sei que quando isso acontece é porque ela está
expurgando sinceridade da alma. Green afastou-se dela
calado. Estava feito. Por mais que eu tivesse lutado como
um leão naquele tribunal, eu soube que quem livraria
Eudora de sua condenação seria Antonela e compreendi que
esse era um capricho do Destino. Um modo de mostrar que
elas jamais deveriam ter sido separadas.
Ela deixou a bancada, mas antes piscou para mim
com seus olhos avermelhados e com a mesma segurança
que entrou, saindo de mãos dadas com a enfermeira.
Feito as considerações finais da Juíza, os jurados se
reuniram para deliberar. No começo pensei que a
deliberação levaria horas, mas depois do depoimento de
Antonela, quando fui comunicado que em dez minutos o júri
havia decidido, eu soube que ela era quem tinha ganhado
aquela causa e talvez isso explicasse o porquê de ela ter
nascido com uma mente incrível. Se ela fosse como eu, ou
como os milhões de nós, pessoas “normais”, ela não teria a
capacidade de usar de modo brilhante seu intelecto naquela
circunstância.
— É agora não é Máximus?
— Sim Eudora. Chegou a hora da verdade. Fique de
pé quando os jurados entrarem e haja o que houver
mantenha-se firme. — pela primeira vez nos abraçamos ali
com toda nossa intensidade.
Olhei para trás e vi Antonela entrando para sentar-se
nas últimas cadeiras com a enfermeira e Austin.
— Todos de pé, o júri vai comunicar a sentença. — a
juíza se posicionou com a sentença em mãos. O jurado
escolhido como porta-voz posicionou-se para responder as
perguntas realizadas como manda o protocolo pela
magistrada.
— Membros do júri como declaram Eudora Tyr pela
qualificação de homicídio premeditado?
— Por um placar de unanimidade o júri declara
Eudora Tyr como inocente.
— Como declaram Eudora Tyr pelo crime de
homicídio doloso?
— Do mesmo modo, por um placar unânime o júri a
declara inocente meritíssima. — segurei a mão de Eudora
com firmeza. Nossos olhares se cruzaram tive que ser forte
para não chorar como ela.
— Como o membro do Júri declara a ré Eudora Tyr
por omissão de socorro?
— Por um placar de sete votos contra seis, o júri a
declara culpada Meritíssima. Mas o júri tem um adendo.
— Qual?
— O júri entende que o crime foi cometido, mas que
a senhorita Tyr não socorreu a vítima Brad Hawks com a
intenção de deixá-lo para morrer e sim para se proteger
dado ao seu passado e a profissão exercida.
— Obrigada. Todos sentados por gentileza. — ela
releu a declaração dos jurados retirando os óculos.
— E agora Máximus?
— Agora é que vem o que eu mais espero. Vamos
confiar.
— Todos de pé, a meritíssima juíza Nolan vai se
pronunciar quanto a sentença do caso o Estado contra
Eudora Tyr.
— Haja vista que a ré foi declarada inocente por este
júri pelos crimes de homicídio qualificado e doloso,
entretanto pelo mesmo, sentenciado como culpada pela
omissão de socorro, com o adendo compreendido pelo júri
desta casa que não em caráter de má fé e sim para
defender-se devido um repertório de infortúnios provados e
discutidos neste tribunal, eu Juíza Margaret Nolan, defiro a
Eudora Tyr pelo crime de omissão de socorro a vítima Brad
Hawks a uma sentença de oito meses de reclusão na cadeia
onde já se encontra alojada, mas sob a fiança de um milhão
e meio de dólares para cumprir a pena em liberdade,
apresentando-se a corte designada a cada mês por um
período de seis meses com relatório de sua conduta.
— YESSSSS! — berrei.
— Senhor Spartacus?
— Perdão pelo indecoro, meritíssima.
Assim que ela terminou de ler o restante das
diretrizes finais, eu olhei para Eudora que estava ali parada
e calada ao meu lado.
— Eu disse que o leão ia rugir dentro dessa corte,
não foi?
— Sim. Você falou. Obrigada! Eu te amo! —
agarrando-me.
— Mas preciso que saiba de uma coisa. — busquei o
seu olhar — Quem fez toda diferença foi ela. Adultinha.
— A nossa Adultinha.
De repente vi ecos da voz mais doce gritando meu
nome entre as pessoas que saiam do tribunal.
— Papai! Papai! — fui ao seu encontro com medo de
alguém machucá-la sem querer. Esse sou eu, preciso
proteger minha filha a qualquer custo.
— Filha!
— Papai! Ganhamos! Podemos pagar a fiança não
podemos? Se quiser eu posso vender todos os meus livros
numa venda de garagem para ajudar.
— Oh filha! — enchendo-a de beijos em meu colo. —
Como eu tenho orgulho de você Antonela.
— E eu de você, papai você arrasou. — sorrimos, com
ela limpando minhas lágrimas de felicidade.
Foi quando aqueles olhos caíram sobre os da mãe.
Pediu que eu a colocasse no chão. Abriu o pequeno portão
que separava os convidados dos advogados e réus
caminhando até Eudora, que nada disse, apenas abriu seus
braços. Antonela jogou-se em seus braços como quem
dependesse deles para viver e eu compreendi que por mais
que eu tentasse ser o pai do ano, pai não é mãe e a minha
filha precisava da sua mãe.
— Obrigada filha! Obrigada pelo que fez por mim! Eu
sempre serei grata meu amor!
— Mamãe... — segurando seu rosto — Não chora.
Não quero que meu irmão fique triste.
— Pode ser uma irmãzinha?
— Acho que não. Acho que será um menino.
— Eu te amo Antonela. Eu sempre te amei.
— Eu sei. Porque de um jeito que não posso explicar,
eu sentia que minha mãe me amava mesmo sem saber que
não era a Laura.
— Mamãe vai te amar a cada segundo.
— Eu gostei dessa ideia.
Eudora foi conduzida para sua cela. Eu teria que dar
entrada no pagamento da fiança, mas para minha surpresa
ela pediu para falar comigo outra vez.
— Tigresa?
— Oi.
— O que houve? Sente-se mal? — eu fiquei
preocupado com sua reação.
— Eu preciso que faça um favor para mim.
— Claro o que é?
— Eu sei que você quer pagar a fiança. Eu sei que
você e Antonela querem fiquemos juntos. Mas ainda há uma
pessoa nessa história que eu preciso ouvir Máximus.
— Quem?
— Sua irmã.
— Austin? — retruquei sem compreender.
— A sentença são oito meses Máximus. Brad também
era o tio dela. Acho justo da minha parte saber o que ela
deseja.
— Eudora...
— Eu quero falar com ela e se ela quiser que eu fique
esses oito meses atrás das grades, eu ficarei. É o justo
Máximus. Ele também era o pai dela.
— Tigresa...
— Por favor, traga-a aqui. Eu preciso ouvi-la. Eu
quero recomeçar o mais rápido minha vida com você,
Antonela e o nosso bebê, mas pela primeira vez na vida
quero fazer isso sem deixar nenhuma dívida para trás.
Embora eu não concordasse, tive orgulho de Eudora.
O êxtase da situação não me fez pensar naquilo. Por mais
que minha irmã me amasse e amasse minha filha, ela tinha
o direito de ser ouvida e respeitada quanto à sentença.
Beijei Eudora deixando a sala um tanto cabisbaixo, porque
eu de fato não sabia o que Austin desejaria.
— Austin, posso falar com você? — ela pediu a
enfermeira que ficasse com Antonela e fomos para um
canto perto do bebedouro.
— O que foi?
— Eudora quer falar com você.
— O que ela quer?
— Ela prefere dizer pessoalmente a você.
— Ok. Por mim tudo bem. — mas o seu semblante
não foi dos melhores, o que agitou minha alma.
Conduzi minha irmã até a cela permitindo que as
duas ficassem sozinhas pela primeira vez.
Eudora
Quando a porta se abriu notei que ela tinha o mesmo
olhar de Máximus. Cruzando os braços olhando-me
ressabiada.
— Oi Austin.
— Oi Eudora. Meu irmão me falou que queria
conversar comigo.
— Sim. Pode sentar-se por um instante. — apontando
para a única cadeira disponível ali.
— Do que se trata?
— Austin... Não sei se para você ficou claro que eu
nunca tive nada de cunho sexual com o seu tio.
— Eudora, eu sou muito sincera. Quando soube eu
quis beber o seu sangue. Meu tio era o meu porto seguro.
Aliás, ele era o porto seguro de nós três.
— Eu posso imaginar. Eu sei o que é perder um porto
seguro.
— Mas com o tempo eu fui notando algumas coisas.
O fato de você ter ajudado minha sobrinha sem cogitar
nada, me fez ver que você não era o monstro que eu tinha
alimentado.
— Eu agradeço. — suspirei — É muito importante
ouvir isso. Mas eu fui condenada a oito meses de reclusão.
Seu irmão queria isso. Deixar a sentença afiançável. Mas
embora ficar com ele e Antonela seja o meu maior desejo
neste momento, eu não posso passar por cima da sua
vontade. Eu não tenho esse direito.
— Por que diz isso?
— Porque Brad também era o seu tio. Eu disse a
Máximus ainda pouco e vou repetir: Se você quiser que eu
cumpra os oito meses presa, eu cumprirei. Porque acho
certo que o seu desejo deve ser respeitado. — ela abaixou a
cabeça por um tempo. O silêncio passeou entre nós.
— Olha Eudora, meu tio nos ensinou que o certo a
ser feito às vezes cobra um preço muito alto. Para mim o
certo a ser feito é que você tenha o direito de sair daqui
com a fiança paga por Máximus, que você o ame, que você
dê a Antonela todo o amor que eu me esforcei para dar,
mas agora vejo que ela precisa é de você e você dela. Se eu
queria que você ficasse presa? Não negarei, eu queria. Mas
não seria o certo a ser feito. Nunca nos vimos ou nos
falamos. Não espere que eu seja a sua melhor amiga ou a
melhor cunhada do mundo. Temos uma relação que se inicia
de modo muito conturbado, porque eu tenho por sua pessoa
sentimentos de admiração e ódio ao mesmo tempo. Para
um médico nada justifica não salvar uma vida quando se
tem essa oportunidade, em especial se alguém for da sua
família. Eu espero que você compreenda minha posição.
— Eu compreendo e respeito Austin.
— A única coisa que peço de todo meu coração é que
nunca, em tempo algum, magoe ou decepcione Máximus e
Antonela. Eles são tudo o que tenho na vida.
— Tem a minha palavra Austin.
— Melhor assim. — levantando-se — Preciso ir.
— Obrigada pela sinceridade.
— Até Eudora.
Máximus
Quando Austin contou-me sobre sua conversa franca
com Eudora eu abracei minha irmã com a convicção de que
éramos cúmplices e parceiros.
— Ela é admirável Máximus. Qualquer pessoa no
lugar dela não se importaria comigo e sim no pagamento da
fiança.
— Eu espero de coração que algum dia vocês sejam
amigas.
— Como diria tio Brad: “O tempo é o senhor da
razão”. Eu tenho certeza de que ele me pediria para fazer o
que fiz porque é isso que fará você e Antonela felizes, e se
vocês estão felizes, eu estou feliz.
— Eu te amo Austin. Eu te amo muito minha irmã.
— Vai lá. Vai soltar sua garota, eu quero tirar uma
foto de vocês, saindo juntos, de mãos dadas desse lugar.
— Obrigado.
— Colocarei no meu álbum da família com uma
citação.
— Qual?
— “A melhor maneira de viver um sonho é não
desistir dele”. — beijando-me no ombro ela se afastou
juntando-se a Antonela.
p
Capítulo 39
A verdade tarda, mas não falha
M á ximus e Eudora
Assim que a transferência do dinheiro foi realizado
para a conta do Estado e os papéis assinados por mim como
advogado e Eudora por sua soltura, tive o prazer de
reverenciá-la como uma rainha oferecendo minha mão.
— Sua carruagem a espera senhora Spartacus.
— Senhora Spartacus? — Adultinha surgiu do nada
nos agarrando.
— Aceita mamãe. Dois filhos são motivos suficientes
para se casar com um cara lindão como o papai. — Eudora a
enganchou na cintura.
— Eu digo sim.
— Papai cadê o anel?
— Ih filha... — bati nos bolsos, eu não tinha pensado
em anel.
— Homens. — descendo do colo da mãe revirou sua
inseparável bolsa a tira colo, me chamando no canto. —
Toma, dá esse aqui para ela.
—Mas... Adultinha... Esse anel é de um doce?
— Ainda assim é um anel. Dã! Quer perder a noiva é?
Papai seu “maravilindo”, você tem trinta e cinco anos de
idade, alguns fios brancos e a mamãe vinte quatro, melhor
não esperar outra oportunidade, vai que ela muda de ideia.
— Antonela você está me chamando de velho?
— Se a carapuça coube... — com um riso levado
colocou o anel dentro da minha mão, se afastando
sacolejando os dedinhos. Retornei a Eudora que enfim ria de
um jeito lindo que só ela tem — Bom, ainda é um anel. —
mostrando a joia feita de plástico.
— Eu aceito. Para mim é o anel mais precioso do
mundo.
— Aceita se casar comigo Eudora Tyr?
— Pode ser.
— Pode ser?
— Só se for para sempre senhor Spartacus?
— É para eternidade. Serve?
— Sim. Eu aceito. — então eu pude me desfazer da
armadura e sentir seus lábios tacando fogo de cima a baixo
do meu corpo, como da primeira vez naquela festa de
James.
Descíamos da escadaria de mãos dadas quando
Antonela correu em nossa direção embrenhando-se no
meio. Segurando nossas mãos.
— Parada para a foto! — Austin cumpriu sua
promessa.
Aquela foi à primeira de muitas fotos em que eu vi a
minha família poder sorrir, poder ser minha de uma vez por
todas.
Eudora
Mudei-me para a mansão Spring de imediato. Uns
dias depois, Austin decidiu voltar a morar em seu
apartamento com seu namorado. Fiquei triste, mas entendi
que ainda era tudo muito novo para ela. Saber que aquela
casa era o lar de Brad também apresentava dificuldades
para mim, por isso propus a Máximus que fossemos para a
fazenda. Eu queria mostrar a Antonela de onde vim, mostrar
as minhas memórias com Guida guardadas em caixas de
sapatos no sótão. Foi uma ideia maravilhosa porque nos
revigorou e nos ensinou a aprender, a compreender aquele
novo trio que logo se tornaria um quarteto.
— Eu quero andar de barco no lago.
— Desde quando você gosta de água Antonela? —
Máximus corria atrás dela pelo campo.
— Preciso me livrar de você Meninão.
— Vem cá que eu vou te socar de beijos!
— Para papai! Para! Mamãe me socorre aqui, essa
barba me espeta demais!
Enfiei-me entre eles e nos tornamos duas meninas
brincando de pegar um homem de um metro e oitenta e
seis de altura, forte como um touro, que podia nos pegar de
olhos fechados.
— Isso não vale! São duas contra um!
— Vamos mamãe! — conseguimos jogá-lo na grama
verde — Mamãe pega no pé dele, o ponto fraco dele é o
dedinho mindinho!
— Não! Isso é jogo sujo! — atacamos o tal dedinho —
O dedinho mindinho é sacanagem! — rolando de rir de um
lado para o outro — está doendo minha barriga suas
malucas!
Aqueles dias foram florescendo como tons de
cumplicidade. Era a manhã do terceiro dia quando achei
uma boa ideia subir ao sótão para pegar fotos minhas e de
Guida para mostrar para Antonela. Máximus também me
ajudava.
— Olha filha, olha como a mamãe era linda. Nossa!
Você se parece mesmo com tia Guida. Eudora vocês são
iguais.
— Eu falei. Olha o jeitinho dos olhos. Os cabelos.
De repente vi algo do qual não me lembrava, debaixo
de uma escrivaninha cheia de poeira uma caixa de joias
pequena guardada entre duas frestas, como se estivesse
posta para não ser encontrada. Pedi a Máximus que
arrastasse o móvel para mim enquanto sentia uma
comichão subindo em meu peito.
— Está tudo bem Tigresa?
— Está sim. — apanhando a caixa e abrindo-a — É
que eu não me lembro dessa caixa.
Dei alguns passos para longe dos dois que se
concentravam nas fotos e um mundo obscuro e
desconhecido começou a se acender para mim. Eram cartas
de Freya, era a sua caligrafia, cartas de amor. Li algumas e
percebi que se tratava de uma história de amor sem final
feliz.
— Máximus...
— Oi!
— Leia isso aqui.
— Cartas? Dos seus namoradinhos? — ele brincou.
— São da Freya.
— Tem certeza?
— Claro. É a letra dela. — ele se pôs a ler duas.
— Estranho.
— Muito. — fui revirando mais a caixa até levar um
tranco.
— O que foi tigresa? Está pálida. Senta aqui. –
puxando uma cadeira velha — O que foi Eudora?
— Mamãe você está bem?
— Estou sim filha. — mas a conivência do meu olhar
com o de Máximus contou-lhe que algo estava errado. Aos
poucos ergui minha mão direita até a altura do seu rosto.
— Espere aí! Esse é o meu tio. É o tio Brad quando
jovem.
— Por que a Freya teria uma foto do Brad escondida
numa caixa debaixo de uma escrivaninha no sótão entre
essas cartas de amor Máximus? — era manifesto que nós
dois petrificamos.
— Amor, me deixa ler essas cartas. — sentando-se
no chão ao meu lado. Um tempo depois seu semblante foi
se transformando.
— O que foi Máximus?
— Leia essa carta aqui.
Querida Freya,
Fico feliz que uma vida está sendo gerada dentro de
você. Mas não voltarei atrás. Você não cabe em minha vida,
não como uma esposa e mãe de um filho meu. Temos
regras a seguir. Você tem um marido e um nome a zelar. Eu
tenho um império e meus sobrinhos para cuidar. Quero que
saiba que pode contar comigo para qualquer coisa em
relação a criança. Mas minha decisão está tomada. Eu não
irei assumir você ou a menina que você diz esperar. Sinto
muito em desapontá-la. Sinto muito se dei a entender que
nosso sentimento fosse uma ardente paixão, sempre foi
química. Nada alem disso.
Com carinho.
Brad Hawks.
— Não pode ser... — sussurrei.
— O que foi?
— Isso explica muita coisa Eudora.
— Mas... Eu seria...
— Filha do tio Brad. Isso faz muito sentido.
— Como assim? Faz sentido o que?
— Isso explica porque a sua mãe foi o monstro que
foi com você a vida toda. Isso explica porque ela sempre
quis te destruir. Ela parecia amar o tio Brad e foi
abandonada grávida por ele.
— Mas... Será que ele sabia que eu era...
— Lembra-se do que eu te falei sobre o laudo
toxicológico do tio Brad?
— O que levou noventa dias? O Laudo que só saiu
depois do julgamento?
— Esse mesmo. Lembra que te falei que no primeiro
laudo cadavérico Austin suspeitou sobre elevados números
de algumas substâncias e por isso pediu esse segundo,
mais detalhado que só saiu dias depois do julgamento?
— Sim. Mas eu não estou entendendo.
— Sua mãe deixou claro para mim em um momento
que conhecia meu tio. Ela disse a você que a vingança dela
demorou, mas chegou. Em uma das visitas que te fiz na
prisão, eu falei para você que conhecendo tio Brad como eu
conhecia era muito provável que ele tivesse alguma ligação
com você. Ele não era de se expor assim Eudora.
— No que está pensando?
— E se ele sabia que você era a filha dele? E se sua
mãe que com certeza estava vigiando seus passos soube do
site e contou a ele? Isso explicaria a razão dele ter sido tão
generoso com você. Um modo de estar ao seu lado. Isso
explicaria a alegria que ele vinha sentindo e que eu e Austin
achávamos que era uma paixão, na verdade poderia ser um
pai resgatando o amor de sua filha. Você disse que naquela
noite que usaram cocaína, não foi a primeira vez.
— Não, não foi.
— O laudo mostra que a cocaína pode ter sido um
fator contribuinte para o enfarto dele, mas não
determinante. O que o matou foi uma grande concentração
de cianeto de potássio. Não conseguimos pensar de que
maneira esse envenenamento poderia se dar. Tinha que ser
alguém com livre acesso. Não se encontra isso em grande
quantidade com facilidade.
— Cianeto de potássio? — meus pelos se arrepiaram.
— Por que a surpresa?
— Máximus... Freya é formada em Química. — eu vi o
assombro no seu rosto.
— Filha da...
— Olha a Antonela. — segurei sua boca. — Filha...
— Oi.
— Não quer descer e pegar um pouco daquela
limonada para mamãe que você preparou no café da
manha?
— Está bem, vou comer o bolo também, ok?
— Ok. Vai lá. Máximus... Precisa ter cuidado com que
fala perto da Antonela.
— Filha da puta! Vagabunda do caralho! Foi ela
Eudora! Agora tudo faz sentido!
— Mas como ela pode ter envenenado o Brad?
— Ela tinha acesso a ele Eudora. Ela pode ter
incitado ele a entrar no site e procurar você. Para isso
encontros tiveram que ser feitos.
— Ela pode ter colocado algo na bebida dele?
— Sendo Química ela sabe como fazer isso com
discrição. Sabendo que o tio e você estavam se
encontrando, tudo que ela precisou fazer foi esperar o
momento certo. Mais ou menos dia ele morreria. Não se
pode negar que ela teve golpe de sorte. Se a cocaína não
tivesse sido usada, não teria como culpar você. Apesar de
que ela faria isso de alguma maneira. Meu amor, essa era a
retaliação dela. Se vingar dele e de você numa cajadada só.
— Mas como podemos provar isso?
— Faremos um exame de DNA.
— Mas amor, um detalhe, eu já fiz um exame de DNA
porque eu tinha dúvidas de que era filha dos dois pelo modo
como Freya me tratava e constatou que eu era filha dela e
do meu pai.
— Você acredita mesmo na veracidade de DNA com a
mãe que tem Eudora?
— Verdade. Ela pode ter burlado isso.
— Pediremos o DNA. Comprovaremos se você é filha
dele mesmo. Tomara que seja Eudora, porque com essas
cartas, com o diploma da Freya como Química, eu consigo
indiciá-la por homicídio doloso, duplamente qualificado e
falsa comunicação à justiça perante o júri. Eu vou fuder com
a vida dessa vagabunda!
— Eu não estou passando bem.
— Vamos descer. Pode ter sido a emoção dessas
descobertas. Eu nem deveria ter falado tudo assim para
você. Desculpa amor.
— Tudo bem. Vamos descer. Acho que é a poeira
daqui também.
Máximus decidiu que seria melhor para mim e
Antonela permanecermos mais um tempo na fazenda,
enquanto ele voltou a capital contando tudo a Austin e
levando as cartas como prova. De modo impecável ele
conseguiu reunir as provas iniciais para abrir o inquérito de
investigação contra a Freya. A justiça determinou quebra do
sigilo telefônico e mensagens, onde se constatou o que
Máximus supunha. Foi Freya quem contou a Brad da minha
entrada no site, e fez isso usando os serviços de um
detetive particular. Ela arquitetou cada passo. A cada
encontro, ela encontrou um meio de envenená-lo. Não
sabíamos qual a razão ou pretexto ela usou para levá-lo a
confiar nela, talvez a boa intenção do coração de Brad e
uma possível vontade de reparar o passado comigo, uma
vez que comprovado que ele era o meu pai biológico tenha
sido o suficiente para ação maquiavélica dela.
Freya foi chamada para depor. Mas não apareceu.
Máximus pediu que viaturas fossem até minha antiga casa e
ao chegar encontraram seu corpo caído sobre sua cama.
Com um tiro de pistola no peito ela acabou com a própria
vida, mas deixou um bilhete. Sei do bilhete porque Austin
me contou, Máximus não me falou sobre ele, penso que
essa foi mais uma forma de me proteger do conteúdo que
existia nele. Eu respeitei a sua decisão. Freya passou a vida
me constrangendo, me humilhando, me tratando com ódio,
eu não precisava passar o resto da vida com suas malditas
palavras em minha cabeça.
Depois de sua morte, passei a cuidar do meu pai.
Máximus e Austin me deram força para trazê-lo para a
mansão Spring, mas a situação clínica dele não permitia
isso. Ele não era o meu pai biológico, porém foi um bom pai
até tudo ter perdido o rumo e ainda podia ser um avô
presente para Antonela, que se apegou a ele alegando que
o visitaria dia sim e o outro também. A vida foi passando e
pela primeira vez eu acreditei que eu tinha a chance de ser
uma pessoa comum, com uma família comum e amores
superiores.
Máximus
Amaldiçoada Eudora,
Dizem que um legado deve ser deixado aos filhos.
Não perderia a oportunidade de deixar o meu a sua pessoa.
Cuidei de tudo para que o seu fim e o de Brad Hawks fosse
desprezível ou a altura do que vocês mereciam. Mas para
minha surpresa esse seu advogadinho maldito conseguiu
me encurralar. Mas passar a vida atrás de uma cela? Freya
Tyr? Jamais. A morte será o meu reinado ainda que eu tenha
que enfrentar o inferno, qualquer lugar é melhor do que
estar no mesmo planeta que você. Porém antes tenho
algumas coisas para lhe deixar sua puta cretina.
* Com certeza deve ter passado por sua cabeça uma
contestação sobre o exame de DNA que um dia você me
pediu para ter certeza de que era a minha filha e de seu pai.
Infelizmente o meu sangue corre em suas veias, e eu
precisava que acreditasse que o de seu pai adotivo
também. Portanto, sim, foi uma farsa. Você tem o sangue
do maldito Brad Hawks.
* Eu disse que nada que saísse do seu ventre poderia
ser bom. A prova foi àquela criança nojenta depondo em
seu julgamento. Como eu quis ter o prazer de ver as minhas
mãos torcendo seu pescoço, até que sua cor alva tornasse
azulada. Era o que ela merecia. Assim como contratei
aquele homem no lago para fazer o mesmo com você, mas
o idiota pegou a criança errada ceifando a vida da minha
Guida e permitindo que um ser execrável como você
vivesse. Esse foi o único remorso que carreguei na vida:
Saber que você viveu quando paguei e muito para que
morresse.
Foi uma grande infelicidade ter colocado você no
mundo. Muito pior é sair dele sem a satisfação em minha
alma de que não pude destruí-la como desejei. Mas de onde
estiver, não tenha dúvidas que eu farei de tudo para que
seja infeliz, para que essa criança que você espera seja
cheia de doenças ou infernize a sua vida como você
infernizou a minha. Eu te odiei a vida inteira e passarei a
eternidade ainda nutrindo esse sentimento com todas as
minhas forças.
Adeus
Freya Tyr
Quando tive acesso a essa carta de despedida de
Freya, outra decisão árdua foi cobrada de mim. Como
homem, como marido, como pai eu não poderia deixar que
Eudora grávida, e já tão castigada pelas maldades da mãe
tivesse que ler algo daquela natureza e por isso me calei
ocultando o teor dela. Ninguém além de mim e o monstro
Freya saberão o que foi dito no bilhete.
b
Epílogo
M á ximus e Eudora
Eudora
Depois do suicídio de Freya, eu vi a minha vida
clarear como nem em meus sonhos imaginei. Eu estava no
quinto mês de gravidez e passaria por uma consulta de pré-
natal para descobrir o sexo do bebê. Protelei o quanto pude,
eu não queria saber, mas Máximus não aguentava mais sua
curiosidade e por ele fui fazer a ultrassonografia. Com o
resultado em mãos, eu passaria na escola de Antonela para
buscá-la. Tornou-se para mim vital como o ar que eu
respirava levar e buscar minha princesa todos os dias,
embora Máximus às vezes não gostasse porque não queria
que eu fizesse esforço devido a gravidez. Mas era só
conversar. Impressionante como a comunicação entre nós
dois fluía de modo calmo e harmônico. Desci do carro
guiado pelo motorista, essa era a condição do senhor leão,
eu teria que ir acompanhada e concordei com ele, às vezes
eu sentia um pouco de tontura e minha pressão vinha
dando picos de aumento. Era uma gestação muito diferente
da de Antonela.
A medida que fui me aproximando me deparei com
uma pequena multidão resumida a crianças e suas mães.
Fiquei apreensiva por não ver Antonela no lugar que ela
costumava me esperar. Ao fixar mais o olhar me deparei
com uma cena no mínimo bizarra. Uma garotinha de
cabelos escorridos e escuros, no chão e em cima dela
Antonela estapeando a menina. Assustei-me, gritando seu
nome, entrei no meio do aglomerado jogando quem
estivesse à frente para os lados. Peguei-a pela cintura, com
ela fazendo força, dando socos no ar.
— Antonela! Antonela! — enfim consegui sua
atenção —Filha por que você fez uma coisa dessas?
Ajeitando seus cabelos, muito agitada, respondeu-
me:
— Porque ela disse que a mãe dela — apontando
para a mulher — falou que a minha mãe era uma vadia, que
deu o golpe do baú e que por isso eu não passava de uma
vadiazinha também!
Foi o bastante para a tigresa entrar em ação. Fiquei
cega, joguei Antonela para o lado, catando a fulana pelos
cabelo, jogando-a contra a grade.
— Ah sua filha da puta! Vou te ensinar a nunca mais
abrir essa lata de lixo que você chama de boca para falar da
minha filha! Quem é a vadia agora? Fala!
Com uma mão na garganta da piranha e com a outra
só fui amassando a cara da fulana. De longe ouvia os gritos
de Adultinha:
— Isso mamãe! Dá na cara dela! Arrebenta com ela
porque eu já cuidei da sebosa da filha! Vai mamãe! Vai!
Só dei por conta do barraco que eu tinha feito
quando vi o motorista repetindo a mesma frase para mim
na escada do colégio.
— Calma dona Eudora, calma! A senhora está
grávida. Bebe um pouco dessa água aqui que a Antonela
pegou.
— Cadê minha filha?
— Estou aqui mamãe. — surgindo por trás de mim,
abraçando-me — Bebe a água.
— Você está bem filha? — tomando um gole da água.
— Estou sim.
— Cadê a vagabunda? Eu vou terminar de socar
aquela cara dela!
— Dona Eudora procure manter a calma porque o
senhor Máximus já está a caminho. — foi nesse instante que
eu gelei, olhando para Antonela que tinha o mesmo
semblante que eu.
— Estamos ferradas mamãe. O papai está uma fera.
— Você ligou para ele?
— Não, foi à diretora, mas ele pediu para falar
comigo pelo celular do motorista. Ele está bravo.
— Puta merda! Ai desculpa filha, eu não devo falar
essas coisas perto de você. — tentando tapar seus ouvidos.
— Relaxa mamãe com o tempo você aprende a ser
mais responsável. — abracei-a, enchendo-a de beijos —
Papai vai nos matar.
— Pois é... — passei as mãos pelos cabelos — O
homem vai virar o bicho!
— A gente faz cara de paisagem.
— Como é que é?
— Eu tenho mais tempo de estrada com o senhor
Máximus Spartacus que você mamãe. Deixa-o dar à bronca.
Não fala nada. Quando ele terminar faz cara de paisagem.
— E isso dá certo, filha?
— O papai tem o que a psicologia chama de
síndrome de culpa. Na hora ele explode e feio, mas depois
se sente culpado. Então se fizermos isso ainda vamos sair
no lucro. Garanto que vamos ganhar chocolate e flores
mamãe. — gargalhei batendo as mãos uma na outra.
— Mas filha, nós erramos. Por mais que eu tenha tido
uma satisfação imensa em quebrar a cara daquela quenga,
não devia fazer isso. Eu não fui bom exemplo para você.
— Ih mamãe não liga. Já basta o Meninão se
preocupar com esse lance de ser exemplo para mim. Confia
na sua Adultinha, você não leva jeito para ser politicamente
correta.
— Ah eu te amo! — colocando-a em meu colo.
Minutos depois o carro da Randor chegou ao pátio da
escola, olhamos uma para outra, cúmplices. Muitas vezes
Antonela me fazia reviver minha relação com Guida. Éramos
companheiras a qualquer preço. Eu via a minha irmã nela o
tempo inteiro e entendia como eu era abençoada. Máximus
desceu do carro com cara de poucos amigos, mas lindo,
como não poderia ser diferente. Eu me perdia, olhando toda
apaixonada. Veio com as mãos nos bolsos e diante de nós
duas foi sucinto nas palavras.
— As duas no carro, por favor. Agora. Estou indo
conversar com a diretora.
— Mas Máx... — ainda tentei argumentar, sendo
impedida com um discreto puxão na barra do vestido por
Antonela.
— No carro. Ouviram?
Levantei, apanhando Antonela pela mão e sem dar
um pio seguimos para o automóvel. Cerca de trinta minutos
depois, ele desceu as escadas naqueles passos elegantes
que só ele sabe dar, trajando seu terno de homem sério.
Abriu a porta do carro sem falar nada. Segui a dica de
Antonela em não dizer nada até o momento propicio. Ela o
conhecia um infinito a mais que eu. Do colégio até a
mansão eram quase vinte minutos. Foram vinte minutos de
um silêncio ensurdecedor. Dava para ouvir até a respiração
de Máximus, e ela não era nem um pouco amistosa.
No entanto ao chegar em casa, ele desceu do
automóvel pedindo que eu esperasse, agindo como de
costume. Abriu a porta tanto para mim quanto para
Antonela.
— No escritório. Quero ouvir as duas.
Mesmo que emudecidas fomos para o escritório, e
quando ele entrou sendo o último, o leão rugiu.
— Vocês duas enlouqueceram? Pelo amor de Deus,
estou trabalhando e recebo uma ligação do colégio me
informando que a minha mulher GRÁVIDA e a minha FILHA
estão se engalfinhando com outra mãe e filha no pátio da
escola?
Antonela fazendo sua cara de paisagem ergueu o
dedo e quanto mais ele vociferava, mais ela permanecia
com o dedo para cima, sacudindo os pés na cadeira.
— Eu não quero mais saber desse negócio de barraco
na porta do colégio! O que você quer Antonela?
— Meu direito de resposta. — eu me segurava para
não rir.
— Direito de resposta? Você acha que tem explicação
para uma coisa dessas?
— Segundo a constituição desse país todo mundo é
inocente até que se prove o contrário papai. Um advogado
do seu porte deveria saber disso.
— Você não me provoque Antonela Spartacus!
— Agora é Antonela Tyr Spartacus papai. — ainda
com o dedinho suspenso.
Máximus andava de um lado para o outro, enquanto
eu mantinha minha cara de paisagem.
— Ok. Vamos dar o seu direito de resposta, Antonela
Tyr Spartacus. O que foi que aconteceu? — levantando-se
como uma adulta, ela se colocou de pé com as mãos para
trás. A coisa mais gostosa do mundo.
— Você me ensinou que eu tenho que lutar por aquilo
que acredito. Aquilo que entendo que não é justo.
— Prossiga. — às vezes ficava estampado no rosto
dele, que por mais puto que estivesse, o orgulho que sentia
dela, não podia ser escondido em sua alma.
— Ela chamou a minha mãe, melhor, a sua mulher
GRÁVIDA de VADIA e que tinha dado o golpe do baú. E que
por eu ser a sua FILHA também era um VADIAZINHA. O que
você faria se falassem isso da sua mãe e de você?
— Filha... — abaixando-se a altura dela — Por mais
que isso seja ultrajante e depreciativo, não é agindo com
agressividade que você conseguirá o respeito que deseja.
— Ah não! — rompi o silêncio juntando-se ao lado da
minha menina — Máx... Como uma mulher pode falar isso
para a filha e assim mesmo deixar que as duas se
pegassem? Ela viu a briga começar. Eu cheguei o povo todo
olhando e ela, a mãe, parada.
— Eudora...
— Isso não é justo. Eu errei. Eu assumo que errei em
ter rachado a cara dela na pancada. Eu sou a mãe, a adulta,
mas mexer com a minha filha meu amor, pode ser a rainha
da Inglaterra, eu vou meter a porrada sim! — vi um sorriso
orgulhoso nascendo na face de Antonela.
— Eudora, você está grávida. E se acontece alguma
queda e algo acontece com o bebê?
— Não ia acontecer nada porque eu disse que se ela
relasse a mão na minha barriga ia apanhar o dobro, não foi
filha?
— Foi sim papai. A mamãe avisou, ela nem passou
perto da barriga.
— Ai meu Deus! — passando a mão pela barba — O
que farei com vocês duas.
Percebi que era a hora de eu tomar o rumo daquela
situação.
— Filha, por que você não vai dar uma voltinha por
aí, a mamãe precisa conversar com o papai um pouquinho.
— piscando para ela.
— Tudo bem. Eu preciso rever meus conceitos sobre
física quântica.
— Física quântica? — perguntei surpresa. Eu ainda
estranhava muito o gosto e a capacidade mental da minha
garotinha.
— Desse jeito vai acabar virando o Sherlock Holmes
de saia do século vinte e um. — Máximus soltou
visivelmente chateado, mas não menos brioso de sua cria.
— Papai...
— Oi Antonela.
— Pode beijo? — ela sabia como domá-lo. Abrindo os
braços deixou que ela se jogasse no colo dele — Eu te amo
papai.
— Papai também ama você. Só não aprova esse tipo
de comportamento.
— Não farei mais... Se não mexerem com a minha
família é claro. — ele a encarou se impondo como pai —
Brincadeirinha papai. Vou indo. Tchau mamãe!
— Tchau Denguinho.
Quando sua pequena mão fechou a porta, caminhei
até Máximus que se sentou em uma das poltronas do
espaço. Passei a mão pelos seus cabelos.
— Física quântica? — retruquei.
— Para o clube de ciência que ela foi aceita.
— Mas Física quântica?
— Eudora vai por mim, aceita que dói menos.
— Desculpa pelo que eu causei. A culpa foi minha. Eu
separei a briga. Até chamei a atenção dela, mas quando
soube por que ela brigava, eu fiquei cega. — ele puxou-me
pela cintura beijando minha barriga. Depois me assentou
em seu colo.
— Tigresa, você precisa aprender como lidar com a
Antonela. A questão é que no fundo vocês são muito
parecidas. Ela encontra força em você e isso pode ser
perigoso porque hoje ela tem oito anos, daqui a pouco terá
doze e ainda tem o bebê que está vindo aí.
— Eu sei.
— Eu entendo que você quer recuperar de algum
modo o tempo que ficaram separadas. Mas não pode
esquecer de que você é a mãe dela. Tem horas que se fazer
entender com Antonela é essencial. Nós temos uma criança
superdotada. Que talvez compreenda mais da vida e das
pessoas do que nós dois juntos. Ela sabe usar a inteligência
que tem Eudora. Como pais nós temos que estar atentos a
isso para instruí-la da melhor maneira possível.
— Eu vacilei feio.
— Eu levei um tempo enquanto ela crescia, para
compreender como lidar com ela e ainda assim ela me
dobra de vez em quanto como você tem visto.
— Você tem razão. Tenho que ser mais enérgica com
ela.
— Não é enérgica a palavra correta. É compreender
que agora ela te vê como uma referência, o exemplo que
ela desejou por tanto tempo e que por lógica...
— Ela vai querer me imitar.
— Exato. Mas não estou falando isso para você ficar
chateada ou pensar que não tem sido uma boa mãe. Você
tem sido a melhor mãe do mundo. Estou orgulhoso de você.
— Jura?
— Claro. O cuidado que você tem com ela. De cuidar
da roupa que ela vai usar ao que ela vai comer. De fazer
tudo o tempo todo com ela. Até em dar na cara da mulher
embora eu seja contra, admito é uma mãe leoa cuidando da
cria. Mas nós temos que agir em equipe para cuidar dos
dois. — acariciando meu ventre.
— Eu vou melhorar. Quando eu pisar na bola faça
isso. Chama de lado e me fala, está bem?
— Trabalho de equipe tigresa. — batemos na mão um
do outro depois nos beijamos.
— Ah! Eu tenho uma informação preciosa para lhe
dar.
— Qual?
— Eu fui fazer a ultra que você tanto me azucrinou.
— Jura amor? Então o que temos aqui dentro dessa
barriga linda? — com aquele rosto iluminado e bobo.
— Hum... — fiz suspense.
— Pelo visto serei o único homem da casa.
— Não. Teremos um menino!
— Sério! — beijando-me mais e mais — Porra! Até
que enfim um pinto a mais nessa casa! — gargalhei —
Alguém para jogar futebol e vídeo game comigo! Chega de
maquiagem e pentear cabelo com aspirador de pó!
— Pentear cabelo com aspirador de pó?
— Quando Adultinha era pequena, aqueles rabos de
cavalos saiam impecáveis dada a minha destreza como
cabeleireiro Tigresa. Eu colocava os cabelos na altura do
aspirador e quando sugava ficava retinho e eu só prendia.
— Não acredito! — ri até a bochecha doer — Tadinha!
— Um homem tem que se virar para criar uma
menina. Não é fácil não.
— Achei que tivesse babá.
— Às vezes. Mas no dia a dia eu fazia questão de ser
eu e ela.
— Mas você fez tudo tão bem. Ela é uma criança
maravilhosa. Parece um sonho o que estou vivendo
Máximus.
— Você merece. Nós merecemos. Precisamos pensar
em um nome para o próximo homem dessa casa.
— Pensei que fosse dizer Brad.
— Eu sempre falei mesmo, que quando tivesse um
menino eu colocaria o nome do meu tio.
— Eu concordo, mas também acho importante
darmos a Antonela uma participação nisso.
— Como? Deixá-la escolher um nome?
— Um segundo nome. Ela é soberana há oito anos
Máx. Um bebê rouba muito a atenção da casa. Pensei que
se dermos isso a ela, vamos dar um senso de participação,
de responsabilidade de irmã mais velha, entende?
— Você está certíssima. Eu não tinha pensado nisso.
Ela tem que se sentir inclusa em toda chegada dele.
— Aí a gente vê, com o nome que ela escolher, como
soa melhor, se como primeiro ou segundo nome.
— Fechado Tigresa. Vamos contar para ela?
— Vamos.
Por vários minutos Antonela ficou ali petrificada nos
observando, com uma das sobrancelhas erguidas. Um
indício que entrara em choque. Eudora apertava minha mão
como quem suplicasse alguma dica se aquele
comportamento era do feitio de Adultinha. Apertei de volta
sua mão para que se aquietasse.
— Adultinha? — tentei fazê-la mexer algum músculo
— Filha, você entendeu o pedido?
— Queremos que você escolha um nome para o seu
irmãozinho. Não está feliz? — Eudora sorriu, mas era
perceptível sua aflição.
— Antonela quer parar com isso! — dessa vez falei
mais sério.
Ela respirou fundo, indo até o seu armário de
particularidades como costumava chamá-lo, retirou seu
violino e aí eu comecei a me preocupar. Toda vez que
Antonela apanhava o instrumento pondo a tocá-lo era sinal
que emudeceria por horas, em algumas ocasiões foram por
dias. Tocar o violino era um indício de que queria pensar e
muito.
— Por que ela está pegando o violino Máximus? —
Eudora cochichou em meu ouvido.
— Ela faz isso quando vai pensar sobre algo muito
sério. — ainda observando-a.
— Ela toca mesmo esse negócio?
Sorri de leve sacudindo a cabeça.
— Amor, você ficará surpresa com as coisas que
nossa filha é capaz de fazer.
— Meu deus essa menina é uma extraterrestre! Não
é melhor impedir?
— Ela já começou a tocar. Agora é tarde demais. Vem
comigo. — puxei Eudora pelo braço, retirando-a do quarto.
— Mas Máximus...
— Vamos Tigresa. Não há nada que possamos fazer.
— do lado de fora, segurei o rosto assustado de Eudora —
Não precisa ficar preocupada. Ela reage dessa maneira
quando quer refletir sobre algo.
— Mas será que ela ficou magoada? Será que está se
sentindo de lado por nós?
— Eudora, todas as vezes que ela pega aquele
bendito violino é porque ela precisa pensar.
— E como você sabe disso? Essa menina tem um
manual de instruções para saber como funciona? Porque eu
necessito de um para anteontem.
— Fica calma, amor. — beijando-a — Com o tempo
você aprenderá a ler nossa Adultinha. Ela levou nosso
pedido muito a sério, por isso o violino.
— Então isso significa que ela pensará no nome mais
lindo do mundo, é isso?
— Exato.
— Mas por que ela não dá um riso, abraça a gente e
diz que vai pensar como toda criança faz Máximus?
— Porque ela não é como toda criança. Nossa
garotinha é cheia de particularidades.
— A cada reação dela eu tenho pequenos mini-
infartos. — colocando a mão sobre o peito.
— Não se preocupa. Com o tempo você aprende.
Vamos resolver nossas vidas.
— Mas...
— Não bata nessa porta. Não adianta ficar
chamando-a. Deixemos a maga da sabedoria em seus
aposentos refletindo, quando ela quiser se comunicar virá
até nós.
— Mas ela precisa comer e conversar.
— Amor, Antonela é diferente. Ela necessita dessas
coisas para ser ela mesma. Eu sei que não é fácil. Como já
penei! Mas é uma delícia ser pai dela. Você consegue.
— Está bem. Vamos ver no que isso dará.
Passava das duas da manhã quando escutei
pequenas batidas na porta do nosso quarto. Ao olhar pela
sombra projetada por baixo da fresta da porta vi que o
momento de reflexão havia terminado e acordei Eudora
devagar para que não se assustasse, tinha sido um custo
fazê-la adormecer.
— Fica aqui. Abrirei a porta.
Desci da cama ajeitando minha calça de moletom,
abri a porta e como de costume lá estava ela. Mãozinhas
para trás indo e vindo no balançar de seu corpo numa
camisolinha de malha branca.
— Oi papai. Posso entrar?
— Fique a vontade senhorita Spartacus. — abrindo
mais a porta com a mão esticada, oferecendo passagem.
Ela entrou no quarto com passinhos curtos até ver a
mãe, correndo para abraçá-la.
— Desculpe te acordar mamãe.
— Não tem problema filha.
— A que temos a honra de sua visita? — Eudora
observava minha postura, como eu lidava com ela.
Ela saiu de perto da mãe se posicionando no meio do
quarto. Sentei-me na beira da cama, pronto para mais uma
de suas façanhas.
— Estive pensando sobre a proposta que me fizeram.
Devo confessar que fiquei muito lisonjeada. Não imaginei
que me dariam uma tarefa tão especial.
— Então pensou em um nome. — a voz de Eudora
soou aliviada.
— Na verdade eu já escolhi um, mamãe.
— Conte-nos. — pedi.
— Levando em conta a sonoridade do meu nome e o
seu significado, acredito que minha escolha faça muito
sentido.
— Fala logo Adultinha. — cruzei os braços bocejando.
— Eu quero que seja Antony.
— E por que Antony filha?
— Antony significa “valioso", "de valor inestimável",
"digno de apreço”. Penso que é o que ele significa para
mim. — olhei para Eudora que já se desmanchava em
lágrimas. Em nossa troca de olhares pisquei para minha
mulher, que entendeu a minha piscadela: “Essa é a nossa
Adultinha”.
— Vem cá com a mamãe vem. — ela correu subindo
em cima da cama, onde por nós dois recebeu todo carinho
do mundo até adormecer entre nós.
Eudora
Antony Brad Tyr Spartacus nasceu no quinto dia de
fevereiro, no mesmo dia que sua irmã. São aquelas coisas
que se decidem lá em cima, simplesmente dizem: Sua filha
mais velha e o mais novo nascerão no mesmo dia e ponto.
Era uma manhã chuvosa, pesando três quilos e duzentas
gramas e com cinquenta e um centímetros. Cabelos escuros
e olhos charmosos como do pai. Máximus filmou o parto.
Embora eu tenha tido uma gestação diferente a de
Antonela, o parto foi muito tranquilo, porque eu vivi a
emoção de saber que eu estava dando a luz de novo e que
meu bebê não seria arrancado de mim para ser entregue a
adoção. Ele era meu e ficaria comigo e com o pai. Isso
tornou tudo muito especial. Ao escutar seu choro eu revivi o
trauma de ter entregado Antonela, mas decidi que dessa
vez minhas lágrimas seriam de pura alegria.
— Nosso meninão Tigresa!
Máximus como eu, se debulhava em lágrimas
fazendo a câmera tremer. A enfermeira o colocou em meus
braços e naquela primeira troca de olhar entre mãe e filho,
eu me vi a mulher mais completa sobre a face da Terra.
— Caraca, que meninão lindo. Fortão! Filho seja bem
vindo a nossa família.
Eu e Máximus tínhamos experiências antagônicas. Eu
não vi Antonela crescer, e ele não vivenciou a gravidez e o
nascimento de um filho.
— Nosso leãozinho. — brinquei.
— Obrigada Tigresa. Esse é o segundo momento
marcante que você me deu.
— Eu te amo Máximus.
— Também te amo. — beijamo-nos por um segundo.
Ao ir para o quarto e ter Antony ali ao lado para a
primeira mamada, meu pensamento estava em Antonela.
Eunice a traria para me visitar. Um pouco de apreensão me
visitava. Eu não tinha ideia de como ela reagiria ao ver o
irmão. Porque vê-lo era a concretização de que agora era de
verdade.
— Cara você está com fome mesmo. — Máximus
babava em cima de Antony mamando em meu seio — Nós
teremos que entrar em negociações para dividir esse
parquinho de prazer, moleque.
— Máximus. Não fala isso para ele.
— Mas é verdade. Os dias pares serão meus e os
impares dele. — gargalhou quando seu celular vibrou e
afastou-se para atender a ligação. — Muito bem, a senhorita
Spartacus acaba de chegar. Está na recepção com Eunice.
— Traga ela primeiro amor. Depois Eunice entra.
Estou um pouco angustiada pela reação dela e louca de
saudades também.
— Sem problemas. Eunice entenderá. — mandando
uma mensagem para o celular de Eunice.
Minutos depois, uma enfermeira abriu a porta e com
um vestido de camurça azul marinho e fita branca, com sua
bolsa atravessada pelo ombro, com uma boneca em
formato de bebê envolto em uma manta branca, uma das
que eram de Antony, ela adentrou o quarto. De pronto olhei
para Máximus que sabia ler Antonela de trás para frente.
— Oi filha. Mamãe estava com saudades.
— Eu também. — sem sair do lugar com a boneca no
colo.
— Por que trouxe essa boneca Adultinha?
— Como por que papai? Eu preciso aprender como
segurar um bebê no colo. Essa boneca tem o mesmo peso
de um recém-nascido, estou nesse processo de adaptação
desde que a mamãe entrou em trabalho de parto.
— Feliz aniversário. — disse — Gostou do presente
que ganhou? — apontei para Antony que quietinho
terminara de mamar.
— Interessante.
— Não vai falar com seu irmãozinho? — eu estava
preocupada pela reação dela.
— Um minuto. — aproximou-se do pai — Papai
segura o bebê para mim?
— Segurar a boneca?
— Papai onde está o seu senso de responsabilidade?
Isso é um treinamento sério. Quer que eu coloque uma
criancinha no chão? — segurei-me para não rir, a dor me
incomodava, mas a cena dela ensinando Máximus como
segurar sua boneca era hilária.
Daquela bolsinha surrada retirou uma caixa com um
laço vermelho e em seguida entregou ao pai.
— Para você papai.
— Para mim? E o que é isso?
— Dê-me meu bebê. Assim pode abrir. — Máximus
fez como ela pediu e quando abriu a caixa dentro havia um
charuto.
— Onde conseguiu isso Adultinha?
— Dã! Interrogação errada. Deveria perguntar: Por
que me trouxe um charuto filha?
— Ok. — abaixando-se na altura dela — Por que me
trouxe um charuto filha, sendo que papai não fuma?
— Porque é uma tradição. Na verdade é o homem
mais velho da família quem deve dar o charuto para o
recém-papai. Achei que vovô Brad gostaria que eu o
representasse.
— Poxa filha... — trazendo-a para perto dele — Muito
obrigado. De verdade.
— Eu sei que não fuma. Mas pode guardar e um dia
quando o Antony tiver o seu filho ou filha, você pode dar a
ele. Assim a tradição não se quebra.
— Eu já falei que te amo hoje?
— Não.
— Eu te amo! — abraçando-a.
— Calma papai, vai sufocar o Antony dois!
— Ah sim me desculpe.
— Então esse é nome dele filha? — eu estava mais
do que emocionada.
— Sim. Esse é o Antony dois.
— Não vai falar com o Antony um? — Máximus
perguntou acariciando seus cabelos.
— Segura para mim de novo? Não seja bruto papai.
— com o dedo indicador em punho.
— Pode deixar, não tenho tanta experiência como
você, mas acho que consigo.
Enfim ela veio se abeirando a cama até chegar perto
do irmão.
— Oi Antony. Sei que não preciso me apresentar
porque li que os bebês reconhecem as vozes que os cercam
durante o período gestacional. Então você sabe que eu sou
a Antonela, sua irmã mais velha.
— Ele não é lindo, filha?
— Mamãe para toda mulher o filho é lindo. Mas na
verdade ele não é não. Tem cara de joelho e está todo
enrugado. Mas ele tem potencial para a beleza. — foi à vez
de Máximus segurar a gargalhada.
— Mas gostou dele?
— Eu o amo mamãe. — passando os dedinhos sobre
a mãozinha dele — Antony fique tranquilo, tenho ótimos
exemplos em meu currículo de como ser a melhor irmã mais
velha do mundo. O papai cuida da tia Austin até hoje, já
presenciei uns barracos... Mas isso não vem ao caso. A
mamãe também foi uma excelente irmã mais velha para a
tia Guida enquanto esteve aqui. Como pode ver o meu
conjunto de dados pessoais é interessante.
Ver a minha filha acariciando o irmão fez tudo valer a
pena. Nunca imaginei que algum dia eu poderia ser tão
feliz, mas a vida me surpreendeu. Eu era uma pessoa muito,
muito feliz.
Dias depois.
Ao voltar da maternidade Máximus pediu-me algo
que fez todo sentido do mundo.
— Tigresa, olha o que eu achei. — era a minha
malinha onde eu guardava potes de vidro com um pouco de
terra. Cada um contando os momentos que vivenciei, na
maioria dissabores sem fim.
Olhei para aquela mala abrindo-a, pela primeira vez
ela não tinha mais significado dentro de mim.
— Sabe amor, isso é como aquela expressão
“guardar poeira debaixo do tapete”. Que tal se desfazer
disso, ou pelo menos deixar as coisas boas mesmo que
tenham sido tão poucas?
— Isso é um modo de fazer ver como eu sou louca?
— sorri remexendo em cada vidro etiquetado com uma
lembrança.
— Você está em um novo ciclo. Uma nova fase de
sua vida. — então sua mão tocou na minha e nossos olhares
se encontraram.
— Confie em mim. Essa nova fase será a melhor de
todas e as boas lembranças serão todas guardadas aqui —
mostrando meu coração — e aqui — mostrando o seu.
— Como pode ter tanta certeza?
— Eu me empenharei em realizar cada uma delas.
Sem pensar fiz, porque se tem algo que o nome
Máximus representou para mim é confiança. Foi luminoso
aquele momento tão singular, nossas mãos juntas abrindo
cada pote e jogando aquela poeira pela janela da nossa
casa. Ver o vento fazer o seu papel aliviou-me, ter o carinho
da sua mão sobre meus cabelos me trouxe paz.
— Estou orgulhoso de você.
— Obrigada.
— Por esvaziar os potinhos? — ele brincou.
— Por fazer minha vida valer a pena.
— Bom escutar isso Tigresa.
— Eu te amo. — abracei-me em seu pescoço tendo
certeza de que poderia não ser fácil ou simples ser feliz,
mas dessa vez eu sabia que era possível.
Passado seis meses.
Fazia três meses que eu e Máximus tínhamos nos
casado. Não optamos por festa. Apenas o casamento no
civil e um jantar para a família. Melhor que casar-me, foi
pegar a certidão de nascimento de Antonela, que passou a
se chamar Antonela Tyr Spartacus como ela e eu tanto
queríamos. Agora era oficial, a justiça levou dois meses para
reconhecer o que eu já sabia, eu era a sua mãe.
Eu vinha do quarto de Antonela e o de Antony, havia
acabado de conversar com Rita. Depois do julgamento nos
afastamos muito, não por vontade minha, mas dela. Ela foi
uma das poucas pessoas que durante minha vida na
prostituição eu pude chamar de amiga. Porém segundo Rita,
seria melhor para mim e para minha família não ter por
perto alguém como ela. Falou sobre seu orgulho de mim e
que estaria de longe com os olhos abertos para ter certeza
de que eu não faria merda alguma. Rimos disso e em
seguida ela me contou sobre sua viagem de um ano que
faria com seu Sugar Daddy ao redor do mundo. Fiquei feliz
por ela. A vida é assim. Segue e sem obrigação de quem
gostamos por perto.
Naquele pensamento senti outra vez meu celular
vibrando sem parar. Retirei-o do bolso da minha calça jeans
e para meu espanto era uma mensagem de Máximus.
Não entre em nosso quarto agora. Razão? O Papai
não quer.
Franzindo as sobrancelhas fiquei imaginando o que
tinha dado nele. Em seguida outra mensagem.
Conferiu seu email hoje senhora Spartacus?
— Que merda deu na cabeça desse homem? —
entretanto conhecendo os seus truques, abri minha caixa de
email. Para o meu espanto entre os emails, um que eu não
acreditei que voltaria a ver. Um contato do site onde fui
Sugar Baby. Só me dei conta que não havia dado baixa em
meu perfil naquele instante. Foi impossível não ponderar
que Máximus estivesse uma fera comigo e que por isso
impediu minha entrada no quarto. Meu corpo gelou e meu
coração quase saiu pela bunda. Mas abrindo o email
deparei-me com uma surpresa ainda maior.
Como vai Tara Larousse?
Analisando seu perfil percebo que a minha pele
esquenta, quase perdi a consciência, alguma coisa
aconteceu entre o meu pescoço e umbigo tendo como
destino final um volume abissal em minha braguilha. Eu
estou aqui perdendo as maneiras, a educação e a
compostura. Não me julgue. Mas adoraria que pudéssemos
nos encontrar quem sabe num Resort maravilhoso em Porto
Rico. Sou um Sugar Daddy dedicado. Posso ser seu leão ou
seu carneirinho. Posso comprar a lua só para vê-la iluminar
seu rosto para mim. Mas deixo claro, exijo sexo. Tenho
planos de pura putaria para seu corpo que me parece tão
suculento...
— Ah filho da mãe! Tarado gostoso! — ele sabe me
deixar toda melada.
Quer me curar desse calor que sobe devagar por
minhas costas nesse momento em que escrevo tentando
convencê-la a ser a minha garotinha má? Do seu jeitinho
senhorita Larousse, do seu jeitinho vem cuidar desse Papai
aqui. Acho que você tem a receita, melhor, penso que você
seja a única receita.
Ass. Mestre Lion
Respondi de pronto. Gostei do seu joguinho.
Encostei-me a parede digitando a resposta do email.
Mestre Lion,
Acho audacioso o seu pedido e de certo modo
indecente. Sou uma mulher casada e com filhos sabia?
Segundos depois a resposta veio.
Senhorita Larousse,
Seu marido deve ser um homem de sorte, mas eu
não sou ciumento. Penso que deve decidir, uma vida normal
de papai e mamãe não combina com sua pessoa. Eu posso
ser o tempero que você carece para continuar sendo uma
senhora de respeito da alta sociedade.
Mestre Lion
— Ah cretino! Cachorro! Quer brincar com fogo é?
Vamos ver até onde você vai.
Mestre Lion,
Diga-me quando e como devo me apresentar.
Senhorita Larousse,
Tenho uma fantasia antes de nosso encontro. Quero
que não durma com seu marido. Não quero que ele roce em
seu corpo ou sinta a maciez de sua pele. Tenho um pedido,
estando em um lugar que inspira tanta sensualidade, quero
vê-la num vestido vermelho encarnado, lascado em suas
pernas, com suas costas expostas onde eu possa
contemplar as curvas de seus ombros até seu cóccix e seus
passos prontos para dançarmos um ritmo caribenho.
Também exijo um nome caribenho. Há muito tempo conheci
uma tica latina quente que se chamava Yolanda. Não, não
se preocupe seu mestre não a fez abrir as pernas. Mas
quero que se apresente para mim assim. Na hora
entenderá. Topa?
Mestre Lion,
Como uma Sugar Baby que se preze eu posso lidar
com isso.
Tara Larousse.
Senhorita Larousse,
Fico feliz e animado em saber que estamos nos
entendendo. Passarei no próximo email o nome do
professor de dança que lhe dará algumas aulas. Daqui a
três dias estaremos cara a cara no resort “Las Casitas
Village”. Mandarei meu jatinho levá-la. Siga todas as
instruções que eu lhe mandar.
Mestre Lion,
Não se preocupe. Eu farei como pede, mas o que eu
ganharei com isso?
Senhorita Larousse,
A melhor foda da sua vida, seguida da fome de um
homem que se encontra febril de tesão para te pegar de
jeito. O que acha?
Mestre Lion,
Parece-me um bom atrativo. Até lá.
Tara Larousse.
Mordi meu dedo indicador com um frenesi que não
soube explicar criado dentro de mim. Então, recebi uma
ligação do meu marido, como se não soubesse de nada.
— Tigresa?
— Fala meu leão.
— Tudo bem?
— Tudo.
— As crianças dormiram?
— Sim.
— Olha só amor, eu hoje não estou legal. Não se
preocupe, não é nada demais, mas acho que passarei a
noite no escritório. Talvez durma lá, algum problema?
— Nenhum Máximus.
— Ah, uma viagem chatérrima de negócios apareceu
sabe. Porto Rico acredita? — sorri encantada com sua cara
de pau.
— Não faço a menor questão de ir grandão. Mas acho
que irei passar uns três dias com as crianças na fazenda.
Tudo bem para você?
— Imagina Tigresa, claro que sim. Bem, vou
trabalhar, tenho tanto para fazer para essa viagem.
— Divirta-se leão.
— Algo me diz que nós teremos dias inesquecíveis.
Meu próximo passo foi encontrar-me com o professor
Fernando que me ensinou alguns passos do ritmo latino,
como rumba, salsa e afins. A ideia era ter uma noção e
abusar da sensualidade. Consegui duas babás para ficar
com as crianças por aqueles dias, e sobrevivi ao
interrogatório de Antonela que queria a todo custo arrancar
informações, porque eu e o pai nos ausentaríamos.
— Mas você vai viajar por quê?
— Porque a mamãe precisa resolver algumas coisas.
— Você tem coisas para resolver, e o seu digníssimo
marido, que por acaso também é o meu pai, também. Vocês
adultos acham mesmo que podem esconder o que fazem
das crianças com essas desculpas esfarrapadas? Só falta
tentar me convencer que o Papai Noel passou o cargo para
o Coelhinho da Páscoa!
— Filhota... — desisti de fechar a mala com as
últimas roupas, colocando-a em meu colo — Mamãe vai
contar uma coisa para você, mas tem que prometer que não
pode falar nada para o seu pai.
— Eu vendo a minha alma se quiser. — ri, tentando
reencontrar as palavras certas.
— Às vezes, os adultos, os pais, precisam de um
tempo para voltar ao tempo de namoro. Ficar juntinho, de
mãos dadas, entende?
— E não pode ser aqui?
— Pode. Mas quando é em um lugar fora do habitual
fica mais legal.
— Tradução: Filhos só atrapalham!
— Antonela!
— Mas não é verdade?
— Eu não falei isso.
— E precisa mamãe?
— Olha só, mamãe quer que você fique de boa com
as babás e a Eunice. Que ajude a cuidar do seu irmão. Nós
já conversamos do que eu espero de você em relação a ele
lembra?
— Eu só espero que vocês não saiam em dupla e
voltem aqui com mais um bebê a caminho para eu bancar a
ama seca. Rum! — cruzando os bracinhos toda emburrada.
— Filha...
— Se entrar mais um bebê pela porta principal, eu
entro na justiça e peço a minha emancipação para morar
sozinha.
— Ah se você não quer, eu posso conversar com seu
pai e cancelamos. — Antonela também tinha os seus
segredos. Ela não gostava de deixar eu ou Máximus tristes.
— Não é necessário. Eu sei que adultos acasalam.
— Menina! Como... É... Que... Você? Antonela!
— Isso é normal mamãe, embora eu ache nojento.
Blá! — revirando os olhos.
Fiz de conta que não era importante. Eu já tinha
aprendido com Máximus de que às vezes era melhor ignorar
o que ela falava para não parecer importante e aflorar ainda
mais a curiosidade que já era exacerbada nela.
— Então vai ficar de boa?
— Vou.
— Mamãe ama a Adultinha dela. Você é tão linda!
— Você acha que pareço com você?
— Fisicamente não. Mas somos parecidas no jeito de
agir. Embora você tenha muita coisa da sua tia Guida. É
impressionante!
— Eu sou impressionante! — toda pomposa.
— E exibida não é? — ela gargalhou.
— Mamãe...
— O que?
— Tem um menino no clube de ciência que gosta de
mim e eu gosto dele.
— Nossa! Como é o nome desse príncipe?
— Logan.
— Ele é bonitinho?
— Ele é lindo. Estamos em um relacionamento sério.
É bastante firme.
— Antonela, você leu essa frase em algum livro não
foi?
— Sim, achei bonita e centrada. — nessas horas se
via a criança nela.
— Eu não preciso dizer a você que seu pai não quer
nem sonhar em ouvir a história de que você goste de algum
menino.
— Ele diz que só posso ter amiguinhos. Que coisa
ridícula! Estamos no século vinte e um e o papai só falta
sair para arrumar um pretendente para mim.
— Mas me conta... — achei que era o meu momento
de ser a figura materna que ela necessitava —- Como é
esse relacionamento tão sério?
— Ah... Eu pisco para ele, ele pisca para mim. Às
vezes ele me oferece bala de café. Achei maravilhoso ele
estudar o meu perfil e saber que amo bala de café, não é
fofo, mamãe?
— Ah muito. — enfatizei a inocência dela com um
semblante compenetrado — Mas me fala, fora as
piscadinhas e as balas de café, vocês conversam? Ele pega
na sua mão?
— Você acha que eu vou dar esse mole para ele?
Jamais!
— Isso filha. Isso mesmo. Banca a durona. Baixa a
rédea fácil não. Mulheres não podem dar mole para homem
não. — de repente ela se calou passando a mão no meu
rosto — O que foi filha?
— Eu sentia tanto a falta disso mamãe. De poder me
abrir e conversar com a minha mãe. A tia Austin tentava
conversar comigo. Ela sempre foi divina sabe, mas eu não
conseguia falar tudo como falo naturalmente para você.
— Eu entendo. Eu também passei por isso com a
minha mãe.
— Papai se eu falasse a palavra garoto ele ficava
vermelho e eu pensava em ligar para a tia achando que ele
teria um enfarto.
— Vamos manter esse segredo entre nós duas? — ela
acenou que sim — Mas você tem que prometer para mamãe
que não vai passar disso. Piscadinhas e balas de café. Se ele
tentar alguma coisa, além disso, você promete contar para
a mamãe?
— Claro que sim. Somos amigas. Minha mãe é a
minha melhor amiga. — recebi um abraço cheio de
cumplicidade. Era um milagre poder estar com a minha
menina.
— Então promessa de dedo mindinho.
— Você fazia isso com a tia Guida?
— Fazia. Não pode quebrar ok filha?
— Ok mamãe. Mas um dia, quando eu crescer, a
gente vai ter que contar para o leão da casa.
— É verdade. Seu pai tem todo o direito de saber
tudo que se passa com você. Temos que cuidar muito bem
dele filha, se não fosse por ele nós nunca teríamos nos
encontrado.
— Verdade. Papai foi nosso anjo.
— Um dia, quando você crescer, eu dou um jeito de
falar com ele.
Com certeza eu contaria sobre o Logan, eu ouviria os
ataques de ciúmes de Máximus, o acalmaria, mas em
tempo algum deixaria de contar sobre cada passo da nossa
Adultinha.
— Quer ajuda para fechar a mala?
— Quero! Vem ajudar a mamãe.
Foi assim que terminamos aquela noite e pela manhã
viajei para Porto Rico com o coração apertado por deixá-los
para trás, mas ao mesmo tempo louca para mostrar ao
Mestre Lion o que a sua Yolanda poderia fazer para ele.
Máximus
Minha chegada a Porto Rico foi para preparar cada
detalhe daquela fantasia. Eu queria ver a minha Eudora
como uma latina chamada Yolanda, que na verdade era a
personagem de uma música que vi um casal dançando
certa vez em Cuba e a sintonia, assim como a cumplicidade
entre eles era tão quente e única que mantive aquele
fetiche em minha mente por todos aqueles anos. Soube
através do professor, do seu empenho. Eu não tive
nenhuma dúvida de que ela daria um show. Eudora
transpira sensualidade. A outra razão que me levou a
concretizar esse fetiche em ser o seu Sugar Daddy era
porque uma mulher como ela precisava sim que a brasa
fosse mantida acesa entre nós. Não se tratava por um dia
ela ter sido uma prostituta, e sim pela mulher em si que ela
era. Sexy, quente, gostosa e selvagem na cama. Eu queria
conquistar a minha tigresa todos os dias de nossas vidas.
Amei o vestido desenhado para ela, ficava viajando como
seria o caimento dele em seu corpo.
No resort reservei uma parte mais alta e retirada do
lugar. Um espaço ao ar livre, iluminado por tochas de fogo.
Pedi que uma mesa de frutas e frutos do mar fosse
preparada assim como um bar regado a tequila, champanhe
e vinho branco, o preferido dela. Depois do banho recebi a
mensagem de que ela já aguardava pronta para saber onde
deveria se encontrar com o Mestre Lion. Vesti meu terno
branco sem camisa por baixo, minha calça de tergal sem
sapatos e meu chapéu de panamá branco. Eu queria o
tradicional com o meu toque moderno. Eu queria ser sexy
para ela. Depois aparei minha barba usando o perfume de
hibisco que ela apreciava em minha pele. Mandei a
mensagem para o seu celular.
Senhora Larousse,
Mandarei que o mensageiro a busque em seu quarto.
Ele a trará para mim. Salivando para lhe ver.
Papai Lion
O ambiente era uma construção cheia de casas em
formato de vila, em cores variadas todas em cores claras
em tons de amarelo, azul, verde e afins. A tenda assim
como adereços era de madeira branquinha, e a nossa volta
um verde escuro e o mar jogando suas mechas contra as
pedras. Para decorar o espaço escolhi tulipas negras, suas
prediletas contrastando com vermelhas e brancas. Ela seria
a primeira a chegar. Posicionei-me atrás de um biombo. Meu
desejo era apreciar cada detalhe da sua chegada. Seus
passos. O vestido em seu corpo delineando suas curvas. O
penteado em seus cabelos, a cor do batom escolhido para
devorar minha boca. A forma como seus pés deslizavam nas
sandálias pelo chão de madeira. A cada segundo eu ficava
mais insano e desesperado em ver sua face. Então a
limusine parou em frente a tenda. O motorista desceu
abrindo a porta, oferecendo sua mão para a saída dela, eu
quis dar na cara dele pelo abuso de tocar nela antes de
mim, mas toda revolta partiu quando vi aquela mulher
exuberante descer do carro. Como eu havia previsto, Eudora
Tigresa Tyr ganhara vida outra vez.
Sem pressa adentrou a tenda olhando tudo e
admirando os detalhes preparados por mim, enquanto eu
remexia o cós de minha calça que começava a ficar
apertado, vendo como aquele vestido deixou seus seios
mais vivazes, prontos para serem abocanhados por mim,
como sua bunda se revolvia de modo sensual sem a minha
autorização no ir e vir de seus quadris. Eu não poderia mais
aguentar aquilo. Liguei a música escolhida por mim. Ela
volveu seus ombros como quem me procurasse. As notas de
uma salsa, com elementos do Chá-chá-chá soltaram seus
versos e juntos deles o meu ir e vir de um jeito malandro
com a mão sobre meu chapéu enquanto a outra sobre o
meu peito demonstrando que a desejava ali, entre a minha
mente e o meu coração.
Donde estas, donde estas, Yolanda!
Que paso, que paso, Yolanda!
Te busque, te busque, Yolanda!
Y no estas, y no estas Yolanda!
Tus ojos me miraron,
Tus labios me besaron,
Con ese fuego ardiente.
Ardiente de mujer,
La luz de tu mirada,
El fuego de tus lábios,
Flecharon a mi pecho y de ti me enamore!
Nas rápidas olhadas que lancei sobre sua face, vi sua
respiração ofegante pelo decote de seus seios. Diante dela
parei atrevido, erguendo meus olhos com um sorriso
sacana.
— Yolanda.
— Oi Papai.
Aproximei-me mais de seu corpo ensaiando tocar sua
pele, que em meu pensar estaria tão quente como a minha.
— Quer que eu te toque? — perguntei num tom rouco
em seu ouvindo, sentindo o cheiro de notas adocicadas da
minha essência preferida em sua pele, o que me deixou
beirando a demência.
— Quer me tocar Papai? — virando seu rosto com um
pouco de desprezo.
— Eu venderia minha alma por isso se necessário.
Ela se afastou um pouco de mim usando o gingado
adquirido nas aulas, contornando meu corpo. Estávamos um
pouco separados e ao mesmo tempo com as almas coladas
no eterno.
Remexendo sua cintura como quem equilibrava um
bambolê de modo suave e discreto, abusava de sua volúpia.
Mudava de intensidade fazendo círculos sem pressa e de
repente numa movimentação mais frenética. Aquela
variação ia me enfeitiçando cada vez mais. Escolhia ora
deixar os braços acima da cabeça ora na altura do peito,
todas as posturas com aquele olhar absorvente dentro de
mim. Veio de costas se esfregando no meu peito enquanto
lançou meu chapéu ao longe.
— Quer dançar Papai?
— Achei que não fosse perguntar nunca Yolanda.
Segurei em sua mão direita, cheirando sua nuca,
virando-a para mim. Travei sua cintura a minha, admirando
sua beleza como um leão contemplando sua presa. Ela
apoiou seu braço esquerdo com leveza no meu, estava leve,
relaxada, permitindo-me nos guiar numa liberdade fluida e
sensual. De forma instintiva, os movimentos de nossos
corpos iam deslizando por aquele chão. Sentíamos de
verdade a atração que um dia nos envolveu nos
consumindo sem pudores.
— Que farei com você essa noite Yolanda?
Segurando firme sua cintura jogando-a para trás.
Atrevida fez a volta devagar, permitindo que a minha outra
mão deslizasse do seu umbigo, passando pelos seios até o
pescoço onde mordisquei com vontade. Nesse instante
esfregávamos nossos quadris um contra o outro no ritmo da
melodia. Trouxe-a ao eixo outra vez com um beijo
dilacerante, borrando seu batom vermelho, fazendo sua cor
espalhar nas maçãs em meu rosto.
Safada como só ela pode e sabe ser, deixou-me ali
passando as mãos pelo seu corpo, acentuando suas curvas
e não satisfeita fez o mesmo com seus cabelos agora soltos.
Um puro deboche de mulher.
Fui andando atrás de seus passos como um
cachorrinho faminto, implorando por migalhas de sua
atenção.
— ¿Qua pasa Papi? ¿No te gusta lo que hago?
— Me gusta. Papi está adorando lo que está
haciendo. — ela sorriu sacana e eu a puxei com tudo para
minha boca abocanhei aqueles lábios e chupei aquela língua
o Máximo que pude e quando tinha misericórdia dela
deixava tomar fôlego, mas em seguida exigia mais — Vem
cá potranca, vem!
— Não sei se quero ficar com você Papai.
— Por quê não? Você é fogo que queima Yolanda, seu
corpo me vicia e talvez isso me cause problemas.
— Que tipo de problemas Papai? Fala! Convença-me
a ficar.
— Problema do tipo como me apaixonar por você.
— Isso não é um problema.
— Você é casadinha lembra?
— Eu sei me dividir com o que vale a pena
Papaizinho.
— Então eu valho?
— Ainda não posso responder.
— Por quê? — passando a língua em seu lábio
inferior.
— Preciso que mostre o potencial dentro de sua
calça.
— Mete a mão mete. — sentir seu toque no meu pau
ainda que por cima do tecido arrancou um pequeno gemido
meu.
— O que acha garotinha má do papai?
— Acho que talvez tenha potencial.
— Quer provar para ter certeza?
— Achei que não diria isso nunca.
Embolamos por aquela pista de dança, envoltos pela
penumbra e para a pista de dança, toda ela envolta em
penumbra iluminada por velas vermelhas que faziam nosso
fogo arder como animais.
— Bate nessa bunda que eu gosto Papai!
— Safada!
— Cretino! — enchi minha mão em seu bumbum
arrebitado.
Nossas pernas cantavam enroladas umas nas outras.
Nossas respirações perderam a compostura. Um baile de
pura excitação nos invadira. Era pele com pele. Sentimento
com sentimento. Coração com coração. Pélvis com pélvis.
Meus lábios descendo, ralhando com os dentes aquele
decote para morder seus mamilos. Num golpe de covardia
afastou-se de mim ainda nos passos da melodia, ao mesmo
passo que eu me tocava para ela sem tirar os olhos de cada
movimento de seu corpo. Por fim me cansei daquele
joguinho, rasgando o vestido pelas costas num golpe só. Ela
pareceu arredia, mas veio outra vez ao meu encontro
esfregando-se suas costas nas minhas. Puxei-a de frente.
Sexos que se tocaram. Tocou sua mão pelos meus cabelos,
mordiscou meu queixo.
— Adoro quando você me olha assim. Cara de
malvado.
— Papai vai te castigar muito hoje. — entrelaçou sua
perna ao meu quadril remexendo devagar seus cabelos. O
perfume deles fez meu pau latejar. Eu estremecia de prazer.
O calor de nossos corpos emanava apagando
algumas daquelas velas privilegiadas como nossas
testemunhas. Empurrei-a com o peso do meu corpo contra a
parede, prendi suas mãos acima de sua cabeça de costas
para mim abrindo a braguilha meti logo eu não queria
brincadeiras e sei que ela queria o mesmo.
— Porra Papai!
— Aguenta! Castigarei! Agora aguenta o Papai
judiando dessa bocetinha com vontade!
Beijei-a no pescoço. Funguei gostoso ouvindo seus
gemidos de prazer enquanto metia sem parar. Sua vagina
tão melada contou-me que logo gozaria.
— Quer gozar é?
— Ah! Eu vou!
— Não seja má. O Papai não deixou.
— Deixa Papaizinho!
— Não porra!
Saí de seu corpo escorregando minhas mãos para
baixo, suguei com gosto sua bunda enfiando minha língua
nela a procura daquela boceta. Depois penetrei com um,
dois dedos. Com linguadas intensas sugava aquele fluido
tão meu. Às vezes ela contraía o bumbum só para se
divertir as minhas custas. Subi louco segurando seu queixo:
— Eu mandei!
— Bate! Bate na cara da sua putinha bate Papai!
— Toma! — dei batinhas leves.
— Só isso? Eu quero mais forte. Bata com vontade.
Beijei como um louco aqueles lábios. Só então
segurei ainda mais forte levantando-a para cima, dando um
tapa quente em sua bunda e outro em sua face.
— Ai como eu te amo!
— Minha... Só minha Tigresa!
Ela ajoelhou com aquele olhar burlesco,
massageando meu pau do jeito que me enlouquecia. Ao
sentir sua boca passando com delicadeza por sua cabeça,
fechei os olhos cerrando os punhos de tanto tesão. Senti
seu sugar puxando todo líquido do prazer que ela me
causava, me ensandecia.
— Puta merda! Caralho Tigresa! — o que fez com que
ela chupasse mais e mais, indo e vindo cada vez mais em
bocadas maiores. Achei que ia gozar logo, notando isso ela
voltou a minha boca. Virou-se de costas mais uma vez.
Segurei sua cintura. Encaixou seu corpo melhor ao meu
deixando aquela bunda a minha disposição. Arguto, desci de
novo lambendo seu anus e dando algumas sapecadas com
a língua em sua vagina, ao mesmo tempo que meus dedos
brincavam com seu clitóris. Quanto mais eu a bolinava,
mais ela queria, implorando por mais e mais carícias.
— Mais... Mais... Como você me deixa doida!
— Quer que o Papai meta quer?
— Muito.
— Então implora. Anda!
— Mete esse caralho quente e grosso na sua
garotinha má, Papai! Por favor!
Sem esperar que terminasse seu pensamento entrei
com tudo. Eu queria rasgá-la ao meu. Destroçar seu corpo
em nome do fogo que no peito cantava por ela. Quicava
meus quadris contra seu corpo liberando meu lado mais
selvagem. Meu modo de amá-la. Demarcando meu
território. Se aquela mulher tinha um dono esse dono era
eu, Máximus Spartacus.
— Eu vou gozar! Ah!
— Goza, goza gostoso nessa pica, goza! — sentir seu
corpo se desmanchando no meu era algo sem palavras.
Agora a virei para mim içando-a, travou suas pernas
em meus quadris, nossos corpos se completavam. Agora fui
mais lento. Eu queria sentir cada parte de nós se amando.
Seus cotovelos envoltos em meu pescoço com o ir e vir da
penetração, nossos olhos se admirando.
— Eu te amo Tigresa. Não há lugar no mundo sem
você para mim.
— Bom saber. Pensei que apenas eu sentisse isso.
No canto daquele espaço devorei minha mulher. E eu
tinha prazer em cada vez que a via se contorcer e gemer de
prazer, de que Eudora Tyr Spartacus era a minha mulher.
Uma sensação tão poderosa que mesmo sem fodê-la como
um selvagem, eu senti o gozo vir com pressão. Como febre.
Como um vício pulsando das minhas veias direto para
dentro dela.
— Ai! Porra! — ainda resmunguei algo, mas seus
lábios engoliram os meus. O prazer é carnal, mas o amor
quando encarna é algo muito mais sublime.
Eudora
Ali nos seus braços, olhando o luar porto-riquenho, o
mundo ganhava contornos iluminados de que eu vivia
mesmo dias extraordinários. Mas não adiantava amar estar
ali, com a cabeça em Antonela e Antony.
— O que foi?
— Momento filhos? — sorri.
— Momento filhos. O que acontece? — remexendo
meus cabelos.
— Não fico bem longe deles, Máximus. Parece que a
maior parte de mim ficou em casa.
— É eu sei. Também fico meio abalado de estar longe
do nosso garotão e da nossa Adultinha.
— E por falar em Adultinha ela me ameaçou antes de
vir para cá, que se nós chegarmos em casa com outro bebê
pela porta principal, ela entrará na justiça pedindo
emancipação para morar sozinha! — Máximus rolou de rir
ali mesmo.
— Não acredito! Ela falou isso mesmo? —
gargalhando ainda mais.
— Estamos ferrados com ela Máximus. Ela não sabe
que a gente anda treinando para um terceiro baby. Fiquei
preocupada quando ela falou isso.
— Não fica Eudora. Ela tem rompantes de vez em
quando. Se eu contasse às vezes que ela ameaçava ir
embora de casa porque eu não permitia que ela lesse algum
livro ou fizesse algumas das experiências dela comigo. Uma
vez ela fugiu sabia?
— Fugiu? Ai meu Deus! — já sentindo o desespero na
garganta — Ela foi para onde?
— Ela arrumou as coisas dela, saiu do quarto e
“fugiu” para o quartinho da dispensa do apartamento que
morávamos. Disse que eu tinha que consultar os advogados
dela ou entrar com uma liminar na justiça para tirá-la de lá.
— Meu Senhor! E o que você fez?
— Disse que ia contar até três, se ela não saísse por
bem ia sair por mal. Um ano sem se aproximar da biblioteca
e nenhum centavo para livros novos.
— E o que ela falou?
— Juntou os paninhos de bunda dela e ao passar por
mim falou que eu era um excelente advogado, sabia jogar
baixo e que quando eu ficasse velho me colocaria no pior
asilo do mundo e só ia me visitar dia sim, dia não.
— Dia sim, dia não? — foi a minha vez de rir — Ela às
vezes oscila não é? A gente nota a criança que ela é nesse
tipo de comentário.
— Ela achou que seria um baita castigo me visitar
um dia sim e o outro não. Mas com a chegada do Antony,
embora ela esteja sendo um amor de irmã mais velha, eu
fico temeroso com um terceiro filho, e se for uma menina?
— A gente pode esperar amor. Não precisa ser agora.
— Mas ficará uma distância de idade muito grande
entre ela e os irmãos Tigresa. Com o Antony já tem. Ela
acabou de completar nove anos. Quando ela tiver dezesseis
para dezessete anos ele terá de oito para nove.
— Isso é verdade.
— E eu quero uma família grande. Concordamos com
isso.
— Podíamos levá-la ao psicólogo não sei. Eu não
quero que a minha filha se sinta deixada de lado.
— Tigresa, escuta o seu leão aqui, se tratando de
Antonela quem precisa do psicólogo na veia somos nós
dois! — soltando outra gargalhada — Somos nós que temos
que sentar a bunda no divã para saber como lidar com a
criatura e entender o processo para que ela não se sinta
excluída.
— Ah... Tem outra coisa sobre ela que precisamos
conversar.
— O que houve?
— Então, num papo de meninas ela me contou que
está num relacionamento sério e bastante firme.
— O quê? — num estalar de dedos sua fisionomia
transformou-se — Ah não! Esse papo de garoto de novo
não! Eu preciso ensinar o Antony a ser um cão de caça atrás
dela!
— Calma Máximus. Não precisa chamar o FBI por
conta disso.
— Não! Não! Não! Eudora ela é uma menina que
acabou de fazer nove anos. Eu não tolero essa história de
namoradinho! — aquilo de fato o enfurecia. Com jeito sentei
no colo dele, o acalmei com alguns beijinhos.
— Vamos conversar?
— Ok. Vamos.
— Eu deixei que ela se abrisse. Eu dei corda. Ela
contou que o nome do menininho era Logan. Que é do clube
de ciência e tal. Aí eu fui jogando a rede para ela. Perguntei
como era esse relacionamento sério. Sabe o que me falou?
— Não sei se estou pronto para ouvir.
— Máximus, para.
— Fala.
— Ela falou que eles piscam um para o outro de vez
em quando e que também, de vez em quando, ele dá
balinhas de café para ela.
— Moleque safado! Pilantra! Cafajeste!
— Ela se encantou com o fato dele procurar saber
que ela adora balas de café e isso para ela é
relacionamento sério.
— Foi só isso mesmo?
— Sim. Então eu falei para ela que não precisa
esconder nada de mim. Que se houver outra coisa
conversamos. Ela me falou que Austin sempre foi
maravilhosa para ela, mas que ela sentia falta disso, de
poder conversar comigo.
— Ela falou isso?
— Falou. Grandão, eu tenho que ser maleável com
ela para que ela possa se abrir. Ela sabe que você tem
pavor desse assunto, se eu reprimir também, ela vai ocultar
isso de nós dois, o que não significa que ela não fará ou
deixará de sentir. Eu sei o que sofri por conta disso e eu não
quero que a nossa filha passe pelo mesmo. Um de nós dois
tem que ser flexível com ela.
— Tigresa, o lance é que eu... Porra, eu sou homem,
entende?
— Eu sei. Eu compreendo que para o pai é
complicado. Mas façamos assim. O que ela me contar eu te
conto e vamos analisando e vendo como lidar com ela, e eu
quero o psicólogo para ontem porque Antonela, às vezes,
me deixa de cabelo em pé de tão desesperada com as
coisas que ela fala.
— A quem ela puxou Eudora?
— A mim com certeza não foi. Sempre odiei estudar.
Passei na faculdade colando sem parar.
— Ela puxou o pai dela? — pela primeira vez ele
tocou naquele assunto e eu agi da maneira mais natural
possível.
— O pai dela é você. Mas se está falando do sujeito
que fez ela em mim, ele era só um professor. Nada de
especial. Mas ela tem muito da minha irmã como já te
contei. Guida tinha essa coisa especial sobre ela. Era
iluminada. Embora eu fosse pequena e não recorde de tudo
em detalhes, recordo que ela era um prodígio na escola. Era
sedenta por querer saber.
— Adultinha puxou a tia.
— Eu considero isso um presente de Deus para mim.
— Por que amor? — vendo meus olhos emocionados.
— Porque eu não pude ver minha irmã brilhar com
sua genialidade Máximus, mas poderei ver minha filha. É
como se fosse uma segunda oportunidade. — sem querer vi
minha voz soluçando.
— Vem cá sua linda. Minha linda. Só minha!
— Obrigada. Obrigada por ter feito dela essa menina
brilhante. Deus colocou você em nossas vidas e eu terei
essa dívida eterna de gratidão com você. O cara mais
porreta do Universo é o pai da minha filha. Dos meus filhos.
— Eu te amo. Eu amo a nossa família e eu prometo
que ainda seremos mais felizes do que somos.
— Eu te amo. — abracei-o quietinha por um tempo.
Máximus
A viagem de volta foi tranquila. Uma doce lua de
mel. Mas prontos para entrar no carro, vi no rosto de Eudora
certa preocupação.
— O que aconteceu?
— Vamos logo. Eunice acabou de voltar da casa da
prima porque teve aquela gripe forte, ela falou que Antony
não para de chorar, está meio febril e Antonela não quis
falar comigo. De novo!
— Fica calma. — abri a porta para ela — Antony deve
estar com saudades da gente. Acontece. Já a senhorita
Encrenca só Deus sabe. Relaxa, deixa que dela eu cuido.
— Está bem. Mas vamos logo que meu coração já
está apertado.
Eudora nem esperou que eu estacionasse o
automóvel direito, desceu correndo subindo as escadas e
aos berros dizendo que tinha chegado, chamando as
crianças pelos nomes. Ela era novata no assunto. Eu viajei
muitas vezes quando Adultinha era bebê, e ela tinha o
mesmo quadro que Antony apresentou, dava febre, ficava
enjoadinha, é coisa de criança. Quanto aos surtos dela
nessa fase eu também era calejado. Pedi para os criados
tirarem as malas. Entrei deixando as chaves e a minha
carteira sobre o aparador no hall de entrada. Por raciocínio
fui direto para o quarto de Antonela, uma vez que Eudora
tinha ido ver Antony primeiro, já que ele tinha febre.
Quando cheguei ao quarto, a porta encontrava-se trancada
com a seguinte frase na porta: “Não perturbe. Mente
criando”. Aquilo não era surpresa para mim. Antonela
estava aprontando. Bati na porta a primeira vez:
— Filha, abre, o papai e a mamãe chegaram. Quero
meu beijo. — não houve qualquer tipo de manifestação.
Tentei a segunda vez:
— Filha! Adultinha... Abra a porta. Papai está cansado
da viagem, seu irmão está com febre. Eu estou com
saudades.
O silêncio que ela fazia dava vontade de arrancar os
cabelos do corpo inteiro. Eudora surgiu com Antony no colo,
ele já estava quietinho e como minha experiência tinha
gritado era saudade. Bastou à mãe colocar o peito na boca
dele e pronto. Acabou.
— Ela não quer abrir? — eu vi a agonia nos olhos de
Eudora ninando Antony.
— Tigresa, relaxa. Deixa comigo. Eu sei como agir.
— Por que a gente foi inventar de fazer essa viagem
Máximus? Olha a merda aí agora!
— Eudora. — pedi silêncio com o dedo. Eu sabia que
Antonela no mínimo nos ouvia ou observava. Era um dos
seus truques.
Terceira vez:
— Antonela abra a merda dessa porta. — esmurrei
com força — Cansei de suas frescuras, abra essa porta
agora! — Eudora arregalou os olhos, espantada com meus
gritos.
Como havia suspeitado lá veio a garotinha mais
tinhosa do mundo, mas ainda a minha garotinha andando
pelo corredor com uma bandeja com biscoitos e chá. Com
aquele narizinho arrebitado, olhando-nos com pouco caso.
— Posso saber o quê os dois desejam com essa
gritaria na porta do meu quarto?
— Ah eu sabia! Espiando de novo não é Antonela? —
fiz cara de bravo.
— Não sei do que está falando papai. — tirando a
chave de dentro do bolso do pijama, abrindo a porta.
— A sua mãe está preocupada e eu também. —
entramos atrás dela — Poxa, custava ter falado com a gente
nas ligações.
— Poxa filha, mamãe estava agoniada. Pensando em
um milhão de coisas. — sacolejando o Antony sem parar.
Sem pressa, ela colocou a bandeja sobre uma mesa
ao lado da sua cabana feita de lençóis, onde costumava ser
seu canto de leitura quando não estava em outra tenda na
biblioteca, virou-se para nós com os braços cruzados.
— Muito bem. Vamos começar as conversações. Por
acaso vocês dois sabiam que eu estou sem dormir há três
dias!
— Oi? — retruquei.
— Isso mesmo papai querido. Porque aquelas babás
que vocês arrumaram não sabiam nem trocar as fraldas do
meu irmão direito?
— O que? — Estranhei.
— Isso mesmo. Quem teve que trocar fui eu. Porque
elas usaram aquelas fraldas que dão alergia nele.
— Eu falei para não usarem essas. — Eudora se via
culpada, beijando nosso pequeno.
— Pois é... Aí vocês dois saem, vão acasalar que eu
sei e não adianta me falar ao contrário e eu tenho que
segurar as pontas.
— Eudora, calma, não cai nessa não. — tentei
acalmá-la.
— Está achando que eu estou mentindo senhor
Spartacus?
— Desde quando você sabe trocar fraldas Antonela?
Leu em algum desses seus livros mirabolantes por acaso?
— Não. Eu vi no You... Tu... Be! — toda irritadinha.
— Até parece que você frequenta o Youtube mocinha.
— Papai eu também tenho meus momentos de
recaídas.
Eudora deitou Antony na cama de Adultinha
constatando a alergia.
— Ela não está mentindo não, amor. Ele está todo
assadinho e eu avisei as duas idiotas para não usarem
aquelas fraldas nele. Ai filhinho! Perdoa a mamãe.
— Duvido que tenham escutado mamãe. Não saiam
das redes sociais por um segundo. — chacoalhando a
perninha, olhando para janela.
— Máximus foi Antonela quem trocou o Antony
mesmo.
— Como você sabe?
— Porque toda vez que eu peço para ela pegar
alguma fralda, ela me entrega com a estampa de trás para
frente. Do mesmo jeito que está aqui.
— Não tenho culpa. Fiz exatamente como vi no
Youtube.
— Eu vou levá-lo para o quarto.
— E as babás? — eu queria compreender aquele
cenário.
— Papai! Hello! Elas se mandaram assim que
souberam que vocês estavam voltando. Pais normais. É a
cruz que eu carrego. — levando as mãos à cabeça.
— Mas e a Eunice?
— Amor, você esqueceu que Eunice caiu de cama
assim que chegamos em Porto Rico?
— Verdade. — foi então que raciocinei — Espere aí,
se Eunice foi para casa da prima porque ficou doente, e as
babás foram embora...
— Eu cuidei do meu irmão papai! Dados, dados não
posso fazer tijolos sem barro. — servindo seu chá, sentando
de pernas cruzadas em uma daquelas cadeirinhas dela.
Eu tinha que admitir. Ela tinha sido incrível mais uma
vez. Eudora e eu nos entreolhamos silenciados por um
tempo até que ela me entregou Antony, agachando-se em
frente à Adultinha.
— Por que não nos contou? Por que não atendeu as
ligações e explicou o que estava acontecendo aqui filha? Eu
e o seu pai tínhamos voltado para casa na hora.
— Porque eu não quis. — ainda tomando o chá.
— Antonela... — resmunguei com Antony golfando na
minha camisa.
— Ah vocês precisavam desse tempo juntos. Eu não
quis atrapalhar e se eu atendesse as ligações, achei que
pudessem perceber que eu estava escondendo a verdade,
por isso não atendi.
— Oh filhota... — Eudora puxou-a para ela — O que
você fez pelo seu irmãozinho é lindo. Estou orgulhosa. Você
cuidou dele como eu cuidava da sua tia Guida, mas não faz
mais isso não. Você é muito pequena para assumir algo tão
grande e que não era sua responsabilidade.
— Sua mãe tem razão. Você foi maravilhosa. Mas se
acontecesse algo grave com você ou com seu irmão?
— Gente eu sei que vocês são velhos, mas existe
uma coisa chamada telefone, se acontecesse algo eu tinha
ligado para emergência. — com as mãos abertas.
— Por que não ligou para tia Austin?
— Papai a titia está grávida. Eu não ia causar
preocupação para ela e para o bebê não é?
— Adultinha... — foi a minha vez de ir até ela. Eudora
pegou outra vez o Antony — Eu nem sei o que falar diante
do seu gesto. Confesso que estou surpreso.
— Surpreso por que eu cuidei do meu irmão? Papai é
isso que os irmãos mais velhos fazem. Hello!
— Sim. Eu sei. Eu sempre cuidei da sua tia Austin.
Sua mãe sempre cuidou da tia Guida. Mas três dias são
muita coisa filha. Eu fico emocionado com a sua maturidade
em não querer “atrapalhar” a viagem do papai e da mamãe,
mas nós dois, a mamãe e o papai precisamos que você
entenda uma coisa.
— O quê?
— Você e seu irmão estão em primeiro lugar. Vocês
estão acima de tudo. Entendeu? Não existe viagem, não
existe clima, dinheiro, nada no mundo vem antes de vocês
dois.
— Entendi papai. Desculpa.
— Não, não tem que pedir desculpa. Mas não faça
mais isso, tudo bem?
— Tudo beleza.
— Papai vai tomar um banho e depois vem brincar
com você e Antony está legal?
— Eu estou cansada papai. Quero dormir.
— Eu posso contar uma história. — Eudora se
ofereceu.
— Pode ser com vocês dois? — pisquei que sim
porque percebi que ela carecia daquilo.
Pela primeira vez uma parte adormecida de mim
tornou-se completa, porque eu tinha a minha mulher e a
mãe da minha filha para deitar na cama ao seu lado, contar
uma história e fazê-la dormir. Era apenas mais um conto de
ninar, que para falar com franqueza, Antonela não tinha o
menor interesse. A mágica que acontecia ali era outra, em
um nível muito maior, de quando o sonho da utopia se torna
realidade. Eu e Eudora nos namorávamos pelo olhar, um
compreendia a grandeza do que significava estar ali,
naquela cama, juntos. A maior missão da minha vida havia
sido completada. Não sabia se seriamos felizes para
sempre, mas eu lutaria a cada segundo de cada dia do resto
da minha existência para que isso acontecesse em nossas
vidas.
Fim
Danka Maia

Você também pode gostar