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ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PROCESSO 6350/06.5TVLSB.P1.S1
DATA DO ACÓRDÃO 25-01-2011
SECÇÃO 1.ª SECÇÃO
RE
MEIO PROCESSUAL REVISTA
DECISÃO CONCEDIDA PARCIALMENTE A REVISTA
VOTAÇÃO UNANIMIDADE

RELATOR GARCIA CALEJO

DESCRITORES CONTRATO DE FRANQUIA


REGIME APLICÁVEL
CONTRATO DE AGÊNCIA
RESOLUÇÃO DO NEGÓCIO
FUNDAMENTOS

SUMÁRIO

I - O contrato de franquia é um contrato bilateral ou sinalagmático,


atípico, regendo-se pelas disposições gerais que regulam os contratos,
aplicando-se, sempre que possível e se revele adequado, por analogia, o
regime do contrato de agência (DL n.º 178/86, de 02-07), por ser o
contrato típico mais próximo.
II - A declaração resolutiva pode fazer-se mediante declaração à outra
parte, como resulta do art. 436.º, n.º 1, do CC. Trata-se de uma
declaração receptícia que se torna eficaz logo que chega ao destinatário
ou é dele conhecida (art. 224.º, n.º 1), tornando-se, então, irrevogável
(art. 230.º, n.º 1).
III - O credor, independentemente do direito à indemnização, face ao
regime geral delineado pelo Código Civil, pode resolver o contrato, em
caso de incumprimento culposo da prestação por parte do devedor.
IV - No que toca à resolução do contrato de franquia deve atender-se ao
disposto no art. 30.º do DL n.º 178/86, de 02-07, podendo o contrato ser
resolvido, nos termos da al. a) desse preceito, se a outra parte faltar ao
cumprimento das suas obrigações, se pela sua gravidade ou reiteração
não seja exigível a subsistência do vínculo contratual.
V - A resolução do contrato pode operar, também, com base na al. b) do
art. 30.º daquele diploma, i.e., se ocorrerem circunstâncias que tornem
impossível ou prejudiquem gravemente a realização do fim contratual,
em termos de não ser exigível que o contrato se mantenha até expirar o

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prazo convencionado ou imposto em caso de denúncia.


VI - Face a esta causa (cf. art. 30.º, al. b)) a resolução não depende de
qualquer incumprimento culposo por banda da outra parte. Como
contrato de cooperação, essencial não é o comportamento dos
contraentes mas o fim a que o contrato se propõe. Daí que a norma
expressamente conceda a possibilidade de resolução no caso de
ocorrerem circunstâncias que tornem impossível ou prejudiquem
gravemente a realização do fim do contrato.

DECISÃO TEXTO
INTEGRAL
Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

I- Relatório:
1-1- R...G..., Gestão e Exploração de Franquias, SA, com sede na ...,
Lisboa, intentou a presente acção com processo ordinário contra P... –
Sociedade de Mediação Imobiliária, Lda., com sede na ..., Porto e
AA, com domicílio na ...., Porto, pedindo a condenação solidária dos
RR., a pagar-lhe a quantia de € 5.188,75, sendo € 4.995,00 devidos a
título de «royalties» e de contribuições para o FNP, relativos aos meses
de Maio, Junho e Julho de 2006 e € 193,75 devidos a título de juros de
mora vencidos, a que acrescerão os juros de mora vincendos até ao
integral e efectivo pagamento, o valor correspondente aos royalties e
contribuições para o FNP, apurado nos termos do estipulado na cláusula
18 B do contrato de franquia, a quantia de € 66.000,00, acrescida de
IVA, a título de indemnização por lucros cessantes, o valor
contratualmente determinado de € 5.000,00, referente a custos e
honorários com os advogados.
Fundamenta este pedido, em síntese, dizendo que celebrou com a 1ª R.,
em 1 de Março de 2005, um contrato de franquia de mediação
imobiliária C..., mediante o qual a 1ª R. ficou com o direito de explorar
uma franquia integrada no “Sistema C...”, pagando, como contrapartida,
royalties mensais e uma contribuição mensal para o FNP, sendo que o
pagamento das quantias devidas no âmbito deste contrato, foi garantido,
em nome individual, pelo 2º R.. Ela, A., cumpriu integralmente as suas
obrigações de franquiadora, o mesmo não acontecendo com a 1ª R. que,
a partir de Julho de 2006, deixou de enviar os reportes mensais a ela,
A., e em, Agosto de 2005, utilizou indevidamente a marca C... em
publicidade, o que aconteceu, de novo, em Março de 2006, apesar de
advertida pela A. para não o fazer. Em 6 de Julho de 2006, após troca de
correspondência e reuniões, a R. informa a A. que nada lhe pagará e que
considera extinto o contrato. Após o termo do contrato, a R. manteve a
sua actividade na mediação imobiliária, sob uma outra designação, mas

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aproveitando os meios e conhecimentos adquiridos com a A. e


continuando a servir-se de meios figurativos que compõem a imagem
do sistema C... e sobre os quais a A. possui direitos exclusivos para
Portugal. A resolução operada pela R. não tem fundamento válido que a
justifique, sendo que à data em que a mesma operou, já se encontrava
em incumprimento reiterado do contrato, por falta dos reportes mensais
e pagamento de royalties e contribuições para o FNP. Face ao
comportamento da R., manifesta o seu desinteresse na manutenção da
relação contratual, não abdicando de receber as quantias a que,
contratualmente, tem direito e que vem peticionar na presente acção.
Os RR. contestaram, alegando, em suma, que foi a A. e não a 1ª R. que
incumpriu o contrato entre ambas celebrado, designadamente por não
ter conseguido implantar a “rede” no país, nem prestar assistência ou
qualquer apoio aos franquiados, de acordo com os objectivos traçados,
publicitados e garantidos ao R. e que acabaram por nunca ser
cumpridos. A A. não lhes explicitou o sentido e alcance das obrigações
que iam assumir, nem cumpriu o seu dever de informação de modo a
permitir uma vinculação negocial consciente e esclarecida, pelo que
grande parte das cláusulas do contrato estão inquinadas de nulidade. A
A. não cumpriu as suas obrigações de franquiadora, facto que a R. foi,
sistematicamente, denunciando ao longo da duração do contrato e,
perante o incumprimento definitivo e culposo das obrigações por parte
da A., procedeu à resolução do contrato, em 6 de Julho de 2006, não lhe
sendo exigível que continuasse a efectuar pagamentos sem qualquer
contrapartida, e assistindo-lhe o direito a ser indemnizada pelos
prejuízos que sofreu e que não teria sofrido se não houvesse celebrado o
contrato de franquia, devendo a A. restituir as quantias que recebeu a
título de “direito de entrada” (22.500,00 € acrescido de IVA) e de
royalties e FNP (16.500,00 € + IVA), bem como pagar-lhe a quantia de
€ 43.000,00 que a R. gastou na realização de obras para a instalação da
agência e a verba de € 1.530,00 que gastou em cursos de formação,
devendo ainda a A. pagar, nos termos do contrato, a quantia de 5.000,00
€ referente a custas e honorários com o advogado.
Com estes fundamentos, concluem pela improcedência da acção,
pedindo, em reconvenção, que a A. seja condenada a pagar à R. a
quantia de 88.530,00 €, acrescida de IVA e juros, à taxa legal, desde a
notificação até pagamento.
A A. respondeu, sustentando o já alegado na petição inicial,
impugnando a matéria da reconvenção e concluindo pela procedência
da acção e pela improcedência da reconvenção, pedindo ainda que os
RR. sejam condenados como litigantes de má fé, por terem adulterado
ostensivamente a verdade dos factos.
Os RR. responderam, pronunciando-se pela improcedência do pedido
de condenação por litigância de má fé contra eles formulado.

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O processo seguiu os seus regulares termos posteriores, tendo-se


proferido o despacho saneador, após o que se fixaram os factos assentes
e se organizou a base instrutória, se realizou-se a audiência de discussão
e julgamento, se respondeu à base instrutória e se proferiu a sentença.
Nesta julgou-se a acção improcedente e parcialmente procedente a
reconvenção, absolvendo-se os RR. do pedido, condenando-se a A. a
pagar à 1ª R., a quantia de € 45.530,00, acrescida de IVA e juros de
mora, à taxa legal, vencidos e vincendos, desde a data da notificação da
reconvenção à A. até efectivo e integral pagamento.

1-2- Não se conformando com esta decisão, dela recorreu a A. de


apelação para o Tribunal da Relação do Porto, tendo-se aí julgado
parcialmente procedente o recurso e, revogando-se a sentença recorrida,
julgou-se totalmente improcedente a reconvenção (absolvendo a A. dos
pedidos contra ela formulados) e, julgou-se a acção parcialmente
procedente, condenando-se os RR., solidariamente, a pagar à A. a
quantia de 3.330,00 € (três mil, trezentos e trinta euros), correspondente
aos royalties e contribuição para o FNP referentes aos meses de Maio e
Junho, de 2006, acrescida de juros de mora, nos termos peticionados,
desde a data do respectivo vencimento e em conformidade com a
cláusula 8.B. e 9.B. do contrato, condenando-se ainda os RR. a pagar à
A. a quantia de 250,00€ (duzentos e cinquenta euros), a título de
despesas com honorários de advogado e absolvendo-se os RR. dos
demais pedidos que contra eles haviam sido formulados.

1-3- Irresignados com este acórdão, dele recorreram os RR. e a A., esta
subordinadamente, para este Supremo Tribunal, recursos que foram
admitidos como revistas e com efeito devolutivo.

Os recorrentes RR. alegaram, tendo das suas alegações retirado as


seguintes conclusões:
1ª- O douto acórdão recorrido, ressalvado o devido respeito, procedeu a
uma errada subsunção fáctico-jurídica e a uma errada interpretação e
aplicação da lei.
2a- Atendendo à factualidade dada como provada, ressalta à evidência
que a A. incumpriu de forma grave e reiterada as obrigações a que
contratualmente estava adstrita.
3ª- Tal incumprimento, pela sua gravidade e/ou reiteração, legitimou a
recorrente a resolver o contrato com fundamento na alínea a) do art. 30º
do Decreto-lei nº 178/86, como doutamente se decidiu em 1a instância.
4a- Tendo sido resolvido o contrato com fundamento no incumprimento
das obrigações da A, à R., ora Recorrente, assiste o direito de ser
indemnizada, pelo interesse contratual negativo, de modo a ser colocada
na situação em que estaria se não tivesse negociado e ajustado o
contrato que foi incumprido pelo devedor.

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5a- A resolução do contrato com fundamento no incumprimento por


parte da recorrida, confere-lhe o direito de ser indemnizada,
indemnização que deverá ser calculada com base nas regras gerais,
constantes dos art. 562º e segs. do C.C ..
6a- Sendo que a indemnização corresponde ao valor global dos
pagamentos efectuados pela recorrente a título de direito de entrada e
royalties, bem como, as despesas que teve de suportar para ser
ressarcida, e cujo valor global ascende a € 45.530,00, nos termos
constantes da douta decisão condenatória proferida em 1a instância.
7a- Ao contrário do decidido no douto acórdão recorrido, a tal não obsta
o disposto no art. 434° nº 2 do C.C .. Com efeito,
8ª- O douto acórdão recorrido interpretou tal preceito atendendo,
exclusivamente, ao seu elemento literal, não atendendo à "ratio" do
mesmo.
9ª- É certo que nos contratos de execução continuada ou periódica, a
resolução não abrange as prestações efectuadas. Porém,
10ª - A recorrida tendo incumprido as obrigações a que estava adstrita,
de forma grave e reiterada, terá de indemnizar a recorrente pelo
interesse contratual negativo. E,
11ª- Calculando-se a indemnização nos termos gerais (art. 562º e segs.
do C.C) não pode a recorrida deixar de ter de pagar à recorrente as
quantias que esta lhe pagou e as despesas que teve de suportar, nos
precisos termos que constam da douta decisão de 1ª instância, e que
corresponde ao prejuízo sofrido.
12a- Ao decidir de modo diverso, o douto acórdão recorrido violou,
além de outros, o disposto nos arts. 406°, 562° e ss. do C.C., art. 30°, al.
a), do D.L. 178/86 e art. 434°, nº 2, do C.C., os quais deverão ser
interpretados nos termos preditos.
13a- Deverá, por isso, ser revogado o douto acórdão recorrido,
absolvendo-se a recorrente do pagamento da quantia de € 3.580,00 em
que foi condenada, bem como, julgar parcialmente procedente a
reconvenção e condenar a reconvinda a pagar à recorrente a quantia de
€ 45.530,00, acrescida de IVA e juros de mora à taxa legal, vencidos e
vincendos, desde a data da notificação da reconvenção à A., até efectivo
e integral pagamento.

A recorrente subordinada, a A., alegou também, tendo concluído:


1ª - No que se refere à execução do contrato de franquia junto aos autos,
entendeu o douto Acórdão recorrido que "a Autora cumpriu, no
essencial, aquelas que eram as suas obrigações contratuais e que estão
definidas, no contrato, em termos genéricos. Poderá eventualmente ter
cumprido mal ou em termos deficientes, mas o certo é que a matéria de
facto não permite essa conclusão" (Pág. 72 do Acórdão).
2ª - O mesmo Acórdão recorrido concluiu que "a Ré não tem direito à
restituição das quantias que pagou a título de "direito de entrada",

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"royalties", contribuições para o FNP e cursos de formação, estando,


pelo contrário, obrigada a pagar à Autora as prestações devidas e
contratualmente fixadas, até à data da resolução, na medida em que,
repete-se, não ficou provada a existência de qualquer incumprimento
contratual relevante, por parte da Autora". (pág. 79 do Acórdão,
sublinhado nosso).
3ª- De acordo com o ponto 65 dos factos provados e alínea Z da matéria
assente, em 6 de Julho de 2006, a 1ª Ré, ora Recorrida, enviou um fax à
Autora, ora Recorrente, informando que nada pagaria a esta e que
considerava o contrato extinto.
4ª- Resulta expressamente dos pontos 67 e 68 dos factos provados que,
à data daquela resolução efectuada pela 1ª Ré, ora Recorrida,
encontravam-se em dívida os royalties e as contribuições para o FNP
referentes aos meses de Maio e Junho de 2006, no valor de € 2.120,00 e
de € 1.210,00, respectivamente (resposta ao ponto 24° da Base
Instrutória), a que acrescia o valor relativo ao mês de Julho de 2006,
num total de € 4.995,00 (resposta ao ponto 25° da Base Instrutória).
5ª - Conforme reconhecido pelo douto Acórdão recorrido, nos trechos
acima transcritos, naquela mesma data não existia qualquer
incumprimento contratual da Autora, ora Recorrente, pelo que não
detinha a 1ª Ré, ora Recorrida, qualquer direito que justificasse a
excepção de não cumprimento do contrato e das obrigações por si
livremente assumidas.
6ª- Estava, por isso, a 1ª Ré, impedida, naquela data, por inverificação
de legitimidade resolutiva, de resolver o contrato de franquia dos autos,
facto que, por si só e inevitavelmente, toma esta resolução totalmente
ilícita.
7ª- Com efeito, só o contraente fiel (o que cumpriu ou se oferece para
cumprir) tem legitimidade resolutiva, ou seja, só ele pode resolver o
contrato com base no incumprimento da contraparte, como emerge dos
arts. 801 ° n° 2 e 802° n° 1 do CC. e nunca o contraente faltoso, sendo
ilegítima ou ilegal a resolução declarada pelo próprio inadimplente (Ac.
do STJ, 21/5/98, BMJ, 477°-460).
8ª- Acresce que, ao incumprir diversas das suas obrigações de
Franquiada, nomeadamente a de pagamento mensal dos "royalties" e
das contribuições devidas para o FNP, e ao pretender resolver o contrato
celebrado quando se encontrava em situação de reiterado
incumprimento, a 1ª Ré, ora Recorrida, rompeu, definitivamente, a
relação de confiança que o contrato de franchising pressupõe como
básica e essencial.
9ª- Daí que, apesar de ilícita e ilegítima, porque formalizada em
situação de injustificado incumprimento contratual, a resolução
materializada pela 1ª Ré, ora Recorrida, tenha sido aceite pela Autora,
ora Recorrente, consentindo esta na consequente extinção dos efeitos do
contrato de franquia anteriormente celebrado, comunicando aos ora

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Recorridos que não tinha qualquer interesse na manutenção da relação


contratual, mas que não abdicaria, porém, de receber todas as quantias a
que, nos termos do contrato e da lei, teria indiscutível direito.
10ª- Foi, por isso, a perda justificada de confiança no cumprimento
futuro do contrato e a perda de interesse na continuação da relação
contratual que legitimaram a aceitação da resolução pela Autora, ora
Recorrente (v. Acórdão do STJ, datado de 29 de Abril de 2003,
disponível para consulta em www.dgsi.pt).
11ª- Todavia, em consequência da ilicitude da referida resolução, devem
ser aplicados à presente situação os procedimentos a observar durante e
após a cessação do contrato de franquia (Cláusulas 8, 9 e 18), os
direitos adicionais em caso de incumprimento contratual estabelecidos
para a hipótese da cessação antecipada promovida pelo Franquiado
(Cláusula 19), e o reembolso integral de todas as despesas com
honorários e despesas de advogado (Cláusula 20).
12ª- E, consequentemente, devem ser os Recorridos obrigados,
solidariamente, a pagar à ora Recorrente a quantia global de € 4.995,00
devidos a título de "royalties" e de contribuições para o FNP, relativos
aos meses de Maio, Junho e Julho de 2006, a que acrescerão ainda os
juros de mora vincendos até ao integral e efectivo pagamento da dívida;
o valor correspondente aos royalties e contribuições para a o FNP,
apurado, em sede de liquidação de sentença, nos termos do estipulado
na Cláusula 18 B do contrato de franquia; a quantia de € 64.500,00,
acrescida de IVA, a título de indemnização por lucros cessantes,
calculada de acordo com o estipulado na Cláusula 19 A do contrato de
franquia e o valor contratualmente determinado de € 5.000,00 referente
a custos e honorários dos Advogados, de acordo com a Cláusula 20 do
contrato de franquia.
13ª - Ao não ter assim decidido, o Acórdão recorrido violou os artigos
406°, 428° e 432° do Código Civil.

Os recorridos contra-alegaram, pronunciando-se pela improcedência


das posições assumidas pelas partes contrárias.
Corridos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir:

II- Fundamentação:
2-1- Uma vez que o âmbito objectivo dos recursos é balizado pelas
conclusões apresentadas pelo recorrente, apreciaremos apenas as
questões que ali foram enunciadas (arts. 690º nº 1 e 684º nº 3 do
C.P.Civil).
Nesta conformidade, serão as seguintes as questões a apreciar e decidir:
Quanto ao recurso dos RR.:
- Se a A. incumpriu de forma grave e reiterada as obrigações a que
contratualmente estava adstrita.
- Se a resolução do contrato com fundamento no incumprimento por

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parte da recorrida lhe confere o direito de ser indemnizada nos termos


dos arts. 562º e segs. do C.Civil.
- Se o acórdão recorrido interpretou incorrectamente o disposto no art.
434° nº 2 do C. Civil.

Quanto ao recurso subordinado da A.:


-Se foi ilegítima ou ilegal a resolução do contrato declarada pela 1ª R.. -
Se em consequência da ilicitude da resolução, devem ser aplicados os
procedimentos a observar durante e após a cessação do contrato de
franquia (Cláusulas 8, 9 e 18), os direitos adicionais em caso de
incumprimento contratual estabelecidos para a hipótese da cessação
antecipada promovida pelo Franquiado (Cláusula 19), e o reembolso
integral de todas as despesas com honorários e despesas de advogado
(Cláusula 20).

2-2- Vem fixada das instâncias a seguinte matéria de facto (após as


alterações efectuadas na Relação):
1. A A. é uma sociedade comercial que se dedica à gestão e exploração
de franquias – alínea A) da matéria assente.
2. No exercício das actividades compreendidas no seu objecto social, a
A. celebrou, em 17 de Março de 2004, com a «C...G...S..., Inc.», um
contrato através do qual adquiriu o direito exclusivo de licenciar o uso
de certas denominações comerciais, marcas comerciais e marcas de
serviço, incluindo a denominação «C...», bem como o «Sistema C...»
em todo o território de Portugal, tendo-se tornado detentora exclusiva
dos direitos sobre o sistema de franquia «C...», para todo o território
português – resposta ao ponto 1º da Base Instrutória.
3. O sistema C... era totalmente desconhecido e inexistente em Portugal,
pelo que coube à A. iniciá-lo e estabelecê-lo, sendo hoje o Sistema de
Franquia C... integrado por 43 unidades franquiadas (franquiados) e 53
escritórios (agências de mediação) em Portugal – resposta ao ponto 2º
da Base Instrutória.
4. Em 13 de Dezembro de 2004, o 2º R. submeteu à A. uma proposta de
candidatura à exploração de uma unidade franquiada C... – alínea B) da
matéria assente.
5. Na ficha de candidatura à concessão de uma franquia C..., o R.
declarou estar interessado em aderir ao sistema C... por acreditar no
projecto e nos termos em que estava a ser desenvolvido e por se tratar
de uma área com a qual estava ligado e que tinha acompanhado nos
últimos anos – respostas aos pontos 3º e 4º da Base Instrutória.
6. Apesar de subscrita em nome individual, esta proposta visava, uma
vez obtida a necessária licença de mediação imobiliária junto do
Instituto dos Mercados de Obras Públicas e Particulares e do
Imobiliário (IMOPPI), a posterior celebração de um contrato de
franquia entre a A. e a 1ª R., da qual o 2º R. é sócio e gerente – alínea

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C) da matéria assente.
7. O 2º R. assumiu o compromisso de diligenciar pela constituição da 1ª
R. e pela obtenção da Licença AMI no prazo de 20 dias – alínea D) da
matéria assente.
8. A A. forneceu ao 2º R. cópia da minuta do contrato que deveria ser
celebrado com a A., para que o R. pudesse analisar as respectivas
cláusulas durante o prazo de 20 dias – alínea E) da matéria assente.
9. A A., previamente à assinatura do contrato, facultou aos RR. cópia da
minuta do contrato para que pudessem ser analisadas as respectivas
cláusulas – resposta ao ponto 5º da Base Instrutória.
10. Em 1 de Março de 2005, a A. e a 1ª R. celebraram o «Contrato de
Franquia de Mediação Imobiliária C...», que se encontra junto a fls. 44
a 97 dos autos e que aqui se dá por reproduzido – alínea F) da matéria
assente.
11. Para o pagamento dos valores contratualmente estipulados, a
franquiada autorizou a realização de um débito bancário mensal a favor
da franquiadora, de montante idêntico ao das facturas que por esta
viessem a ser emitidas, tendo por base o rendimento bruto mensal e o
correspondente montante de «royalties» e de contribuição para o FNP,
por aquela devidos – alínea G) da matéria assente.
12. O pagamento das quantias devidas no âmbito do contrato foi
garantido, em nome individual, pelo sócio da franquiada, AA – aqui 2º
R. – que, assim, se tornou garante das obrigações assumidas pela 1ª R.
no âmbito do contrato de franquia, renunciando ao benefício da
excussão prévia – alínea H) da matéria assente.
13. Em Junho de 2005, a 1ª R. instalou a agência de mediação
imobiliária no local autorizado e passou a desenvolver a sua actividade
utilizando as marcas e o «know-how» do sistema C... – resposta ao
ponto 6º da Base Instrutória.
14. A A. definiu o «layout» e decoração (externa e interna) da loja da 1ª
R. e determinou os materiais e equipamentos que nela deveriam ser
instalados – resposta ao ponto 8º da Base Instrutória.
15. Facultou o acesso dos RR. a diversas ferramentas de gestão e a
várias funcionalidades e facilidades próprias de uma agência de
mediação imobiliária integrada no sistema de franquia C...,
nomeadamente, software I...P.../C..., sistema de gestão de imagens das
montras (hardware e software), página personalizada da empresa e dos
seus colaboradores no portal C..., software de reporte C... (Pacote de
abertura) – resposta ao ponto 9º da Base Instrutória.
16. A A. facultou aos RR. o acesso aos seus sistemas de «intranet» e de
correio electrónico e promoveu a interconexão entre os «sites» da A. e
da 1ª R, fornecendo-lhes, para esse efeito, diverso «software» e
respectiva informação técnica e apoio - resposta ao ponto 10º da Base
Instrutória.
17. A A. franqueou à R. o acesso a currículos de potenciais candidatos a

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angariadores imobiliários – resposta ao ponto 11º da Base Instrutória.


18. A A. implementou e comunicou à 1ª Ré, através de circulares,
algumas regras relativas a negócios partilhados e referências, utilização
de mediadores externos à rede, estrutura e partilha de comissões e traje
dos colaboradores – respostas aos pontos 12º e 13º da Base Instrutória.
19. Indicaram-se-lhe os fornecedores de equipamentos, materiais e
serviços que haviam sido aprovados pelo franquiador e as parcerias
externas à rede que poderiam ser aproveitadas para o desenvolvimento
da actividade – resposta ao ponto 14º da Base Instrutória.
20. Foram-lhe dados a conhecer o organigrama dos colaboradores da A.
e os respectivos contactos, funções e áreas de actuação – resposta ao
ponto 15º da Base Instrutória.
21. Foi proporcionado aos RR. o acesso a publicidade no E..., a custos
mais reduzidos, por via de um protocolo que a A. celebrou com o E...
em benefício dos franquiados pertencentes à rede – resposta ao ponto
16º da Base Instrutória.
22. A A. sempre convidou os RR. para participar em todos os eventos e
encontros que foi organizando para promover um melhor conhecimento
recíproco e estimular o espírito de grupo entre todos os franquiados –
resposta ao ponto 18º da Base Instrutória.
23. Tal como os convidou para participarem em sessões de trabalho
com o responsável máximo do sistema C... a nível europeu, sessões
essas que incidiram sobre os princípios básicos de gestão de uma
mediadora imobiliária e sobre o aproveitamento de sinergias do trabalho
em rede – resposta ao ponto 19º da Base Instrutória.
24. A A. disponibilizou à 1ª R., periódica e regularmente, durante a
execução do contrato, cursos e acções de formação nas mais diversas
áreas, leccionados por formadores com credenciais específicas, alguns
deles ministrados por professores universitários ao abrigo de protocolo
que estabeleceu com a Universidade Lusíada – alínea I) da matéria
assente.
25. A A. desenvolveu campanhas publicitárias a nível nacional,
gerando, para a 1ª R. contactos de potenciais vendedores/compradores
ou senhorios/arrendatários de imóveis – alínea J) da matéria assente.
26. A A. procedeu à elaboração de um «Business Plan», através do
qual, partindo dos dados oficiais dos censos do INE e da Câmara
Municipal do Porto, gizou os objectivos de vendas da 1ª R. ao longo do
2º semestre de 2005, designando o consultor de gestão, Eng. A...C..., a
fim de apoiar e acompanhar a 1ª R. na prossecução dos objectivos
definidos para a sua actividade de mediação imobiliária – alínea K) da
matéria assente.
27. A 1ª R. foi convidada para uma primeira reunião de análise do
«Business Plan», que teve lugar no dia 7 de Julho de 2005 – alínea L)
da matéria assente.
28. Até ao dia 2 de Junho de 2005, a 1ª R. ainda não tinha enviado os

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reportes mensais referentes ao mês de Maio – resposta ao ponto 20º da


Base Instrutória.
29. A R. elaborava e enviava os “reportes” nos mesmos termos em que
o faziam as outras agências – resposta ao ponto 55º da Base Instrutória.
30. Os “reportes”, nos termos elaborados pela R. (e demais franquiados)
foram preconizados e aceites pela A. – resposta ao ponto 56º da Base
Instrutória.
31. Mesmo sendo elaborados nos termos referidos, em caso de
necessidade, as folhas sempre foram corrigidas nos termos solicitados –
resposta ao ponto 57º da Base Instrutória.
32. A 1ª R. apenas reportou, desde 1 de Março de 2005, a realização de
quatro transacções com clientes – alínea P) da matéria assente
33. Entre os meses de Julho de 2005 e Janeiro de 2006, apesar de a 1ª
R. ter comunicado à A. a angariação de vários novos clientes, declarou
sempre não ter registado qualquer transacção realizada em
consequência da sua actividade de mediação imobiliária – alínea N) da
matéria assente.
34. Das 150 lojas previstas até ao final de 2006, a A. apenas conseguiu
abrir 53 – resposta ao ponto 29º da Base Instrutória.
35. A A. publicitou e transmitiu aos potenciais franquiados o seu
objectivo de abrir 150 lojas até ao final de 2006 e esse facto – que
acabou por não se concretizar – teve influência na decisão do R. de se
candidatar à celebração do contrato – resposta ao ponto 31º da Base
Instrutória.
36. A A. facultou à R. pouca assistência – resposta ao ponto 38º da Base
Instrutória.
37. Em Abril de 2006, o R. comunicou à A. a dificuldade ou
impossibilidade de estabelecer contacto com os seus escritórios e a
desactualização da intranet (facto que, em resposta, foi reconhecido
pela A. que igualmente prometeu ir resolver a situação); em Janeiro de
2006, o R., a propósito dos critérios de colocação de imóveis nos sites
das Agências C..., sugeria que, no regime de excepção a esses critérios,
fossem incluídas também as agências que estão “sozinhas” há tanto
tempo, de forma atirar proveito do tão falado “efeito de rede” e, por
e-mail de 03/02/2006, o R., aceitando a existência de alguma vantagem
pelo facto de estar sozinho no Porto, chamava novamente a atenção da
A. para a ausência do efeito de rede que, associada ao desconhecimento
da marca no Porto e à falta de divulgação, poderia ter um efeito
exponencial – resposta ao ponto 42º da Base Instrutória.
38. Pelo menos dois dos cursos e acções de formação a que se refere a
alínea I) da matéria de facto assente, foram cancelados por falta de
formadores – resposta ao ponto 43º da Base Instrutória.
39. A R. frequentou, a expensas suas, os cursos e o seu legal
representante (o R., AA) detinha o primeiro lugar em horas de formação
– resposta ao ponto 44º da Base Instrutória.

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40. Na intranet, o conteúdo estava desactualizado – resposta ao ponto


46º da Base Instrutória.
41. Também os organigramas, além de terem sido entregues
tardiamente, estavam desactualizados devido à permanente entrada e
saída de pessoas – resposta ao ponto 47º da Base Instrutória.
42. A maioria dos contactos fornecidos e referidos na alínea J) da
matéria de facto assente, estavam fora da área territorial de actuação da
primeira R. – resposta ao ponto 48º da Base Instrutória.
43. O «business plan», referido na alínea K) da matéria de facto,
corresponde a uma previsão do negócio e da facturação para o 2º
semestre de 2005, previsão essa que foi calculada com base em dados
estatísticos do INE Censos 2001, Câmara Municipal do Porto e IMOPPI
– resposta ao ponto 50º da Base Instrutória.
44. O consultor de gestão referido na alínea K) da matéria de facto
assente, não trouxe qualquer contributo válido, nenhum saber, para a
agência da ora R. – resposta ao ponto 54º da Base Instrutória.
45. O fracasso que se constatou, à semelhança de outras agências,
radicou na ausência de um investimento publicitário maior, que a A.
prometeu e não cumpriu, na falta de apoio, na inexistência de rede e
técnicas de venda e “marketing” realmente inovadoras – resposta ao
ponto 62º da Base Instrutória.
46. Todos esses factos foram explicitados à A. pelo R., fazendo notar a
falta de notoriedade, a falta de outras agências no Porto, a falta de
meios da A. para implementar um plano geral de acções de apoio –
resposta ao ponto 63º da Base Instrutória.
47. Além das campanhas mencionadas na alínea J), A. não efectuou,
como prometeu, outras campanhas de grande dimensão e modernidade
associadas a parcerias e patrocínios originais, para promover a
notoriedade da marca “C...” – resposta ao ponto 65º da Base Instrutória.
48. Pelo menos na Região Norte, designadamente, no Porto, a marca
não tinha notoriedade – resposta ao ponto 66º da Base Instrutória.
49. A A. não forneceu informação contínua da evolução do mercado
imobiliário – resposta ao ponto 67º da Base Instrutória.
50. Não forneceu, de modo permanente e com precisão e devidamente
actualizados, dados estatísticos do sector imobiliário – resposta ao
ponto 68º da Base Instrutória.
51. A A. não comunicou aos franquiados métodos e técnicas de
mediação imobiliária, de vendas e de promoção que fossem diferentes e
inovadoras relativamente às praticadas pelas demais agências
imobiliárias e não dispunha de pessoal qualificado para assegurar um
apoio efectivo aos franquiados, na área da gestão imobiliária – resposta
ao ponto 71º da Base Instrutória.
52. A A. não realizou e não entregou aos franquiados estudos de
“marketing” – resposta ao ponto 76º da Base Instrutória.
53. A existência da rede foi a chave do sucesso da “C...” nos países em

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que foi implantada – resposta ao ponto 80º da Base Instrutória.


54. A R. era a única franquiada no Porto – resposta ao ponto 81º da
Base Instrutória.
55. Os RR. bem sabiam, quando apresentaram a sua candidatura, que
eram os únicos franquiados na área do Porto – resposta ao ponto 88º da
Base Instrutória.
56. Sendo os únicos franquiados na área do Porto, os RR. podiam
explorar e actuar em toda essa zona, sendo eles os únicos destinatários
das eventuais referenciações que, para essa zona, fossem feitas pelos
restantes membros da rede – resposta ao ponto 89º da Base Instrutória.
57. Além do que já consta da resposta ao ponto 42º, o R.– através de
e-mails dirigidos à A., em Março, Abril, Maio de 2006 – manifestou a
sua insatisfação, relativamente à publicidade efectuada, imputando à A.
a culpa dos resultados alcançados pela R. – resposta ao ponto 82º da
Base Instrutória.
58. Em 12 de Maio de 2006, a 1ª R. foi advertida pela A. para o envio
imediato do reporte mensal, para que o pagamento de royalties pudesse
ser processado – alínea S) da matéria assente.
59. O processamento para o pagamento de “royalties” sempre foi
assegurado, independentemente do que se refere em S) da matéria de
facto assente e, se houvesse alguma correcção a efectuar, era sempre
possível fazê-la no mês seguinte – resposta ao ponto 60º da Base
Instrutória.
60. Em 2 de Junho de 2006, a 1ª R. solicitou à A. o agendamento de
uma reunião no Porto, alegando que não haviam sido abertas mais lojas
C... no Porto, as condições de apoio à sua agência não haviam sido
melhoradas, a A. não abrira uma loja nem disponibilizara «know-how»
de forma a assegurar 20 consultores e disponibilizar à 1ª R. uma equipa
durante 90 dias e a A. não dera resposta a uma eventual parceria com a
R. – alínea T) da matéria assente.
61. Em 6 de Junho de 2006, teve lugar, nas instalações da 1ª R., a
reunião solicitada, entre esta e a A., nela tendo sido discutidos e
abordados, entre outros pontos, a nova campanha de recrutamento
desenvolvida pela A. de modo a aumentar o número de colaboradores a
operar em cada agência de mediação imobiliária, aos quais seria por
esta ministrado um curso de prospecção e angariação na cidade do
Porto, bem como foram apresentadas diversas técnicas de marketing
juntamente com explicação sobre a sua forma de utilização, tendo,
ainda, a A. dado a conhecer à 1ª R. o «Plano geral de apoio à gestão –
C... P...» cuja duração abrangeria os meses de Julho a Setembro de 2006
e que seria desenvolvido dentro de uma política de cooperação entre
ambas – alínea U) da matéria assente.
62. Os serviços da A. traçaram um plano de apoio à 1ª R., com a
duração de um mês, no qual estavam previstas a elaboração de um
«plano de negócios» e diversas iniciativas de formação no âmbito da

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prospecção e angariação, da capacidade de liderança/motivação e


técnicas de condução de reuniões, assim como a avaliação de
desempenho e de questões relacionadas com o marketing da franquiada
– alínea V) da matéria assente.
63. Em 22 de Junho de 2006 a 1ª R. comunicou à A. que «o plano
apresentado não responde às preocupações prementes e prometidas
antes e após a assinatura do contrato de franquia», concluindo não
existirem condições para continuar a trabalhar com a A. – alínea X) da
matéria assente.
64. Em 3 de Julho de 2006, foi enviado pela A. à 1ª R. um 2º aviso
relativo a falta de envio de reportes e de pagamento de royalties,
requerendo o pagamento da quantia de € 1.665,00, referente a royalties
e FNP devidos e não pagos respeitantes ao mês de Maio de 2006, tendo
sido enviado 3º aviso relativo à mesma matéria, em 7 de Julho de 2006
– alínea M) da matéria assente.
65. Em 6 de Julho de 2006, a 1ª R. envia fax à A. informando que nada
pagará a esta e que considera o contrato extinto – alínea Z) da matéria
assente.
66. A partir de Julho de 2006, a 1ª R. deixou de enviar os reportes
mensais à A. – alínea O) da matéria assente.
67. À data da resolução efectuada pela franquiada, encontravam-se em
dívida os royalties e as contribuições para o FNP referentes aos meses
de Maio e Junho, de 2006, no valor de € 2.120,00 e de € 1.210,00,
respectivamente – resposta ao ponto 24º da Base Instrutória.
68. A que acresce o valor relativo ao mês de Julho de 2006, num total
de € 4.995,00 – resposta ao ponto 25º da Base Instrutória.
69. A quantia relativa à indemnização por lucros cessantes, prevista na
cláusula 19 A do contrato de franquia, cifra-se em € 64.500,00 –
resposta ao ponto 26º da Base Instrutória.
70. Os custos e honorários com advogados ascendem ao montante de €
5.000,00 – resposta ao ponto 27º da Base Instrutória.
71. A 1ª R. utilizou a marca C..., divulgando-a nas Páginas Amarelas
com os dados referentes à P... – Sociedade de Mediação Imobiliária,
Lda., bem como nas Edições nºs 9 e 12 da revista «C...e N...», sem
autorização da A. – alínea Q) da matéria assente.
72. A situação referida em Q) da matéria de facto assente foi
devidamente clarificada entre as partes e ficou esclarecida, na altura –
resposta ao ponto 58º da Base Instrutória.
73. A 1ª R. fez publicar um anúncio que não estava conforme com o
divulgado pela A. na internet, não tendo sido dada aprovação prévia ao
material produzido – alínea R) da matéria assente.
74. O anúncio referido em R) da matéria de facto assente, foi enviado
para a revista antes da nova edição – resposta ao ponto 59º da Base
Instrutória.
75. A 1ª R. desenvolve, actualmente, a actividade de mediação

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imobiliária, sob a designação - «D...» - no local correspondente à


«Localização aprovada» constante do contrato de franquia – resposta ao
ponto 21º da Base Instrutória.
76. Nessa sua nova actividade, a 1ª R. continua a utilizar os
conhecimentos e técnicas que absorveu da A. durante a vigência do
contrato que com ela celebrou – resposta ao ponto 22º da Base
Instrutória.
77. Continuando a servir-se de alguns meios figurativos que utilizava no
Sistema C... – resposta ao ponto 23º da Base Instrutória.
78. A R. realizou obras para a instalação da agência, onde gastou valor
não apurado – resposta ao ponto 83º da Base Instrutória.
79. Pagou ainda, em cursos de formação, a quantia de 1.530,00 € +
I.V.A. – resposta ao ponto 84º da Base Instrutória.
80. Gastou ou irá gastar quantia não apurada com custas e honorários
com o advogado – resposta ao ponto 85º da Base Instrutória.
81. A R. pagou à A., pelo «Direito de Entrada» a quantia de €
22.500,00, acrescida de IVA – resposta ao ponto 86º da Base Instrutória.
82. A R. pagou à A. a quantia de € 15.500,00, acrescida de IVA, relativo
a royalties e FNP – resposta ao ponto 87º da Base Instrutória.
---------------------------
2-3- Porque as questões colocadas por ambas as revistas se
entrecruzam, iremos apreciar os recursos conjuntamente.
No presente caso está em causa um contrato de franquia celebrado entre
a A. e a 1ª R.. Ambas as partes imputam à outra o incumprimento deste
contrato, retirando deste pressuposto os pedidos que formulam na acção
e na reconvenção.
Como se refere correctamente no douto acórdão recorrido, o negócio
em causa é um contrato atípico, regendo-se pelas disposições gerais que
regulam os contratos, aplicando-se, sempre que possível e se revele
adequado, o regime do contrato de agência (Dec-Lei 178/86 de 2/7) (1),
por ser o contrato típico mais próximo do contrato de franquia. Deve,
pois, o regime desse contrato ser aplicado por analogia, desde que “no
caso omisso (contrato de franquia) procedam as razões justificativas da
regulamentação do caso previsto na lei (contrato de agência)” - art. 10º
nº 2 do C.Civil - (diploma de que serão as disposições a referir sem
menção de origem).
Trata-se de um contrato bilateral ou sinalagmático, do qual resultaram
direitos e obrigações para ambas as partes contratantes.
Dos factos dados como provados advém que a R., por sua iniciativa,
entendeu resolver o contrato que celebrara com a A.. Com efeito, como
resulta do facto acima mencionado sob o nº 65, em 6 de Julho de 2006,
essa R. enviou um “fax” à A. informando-a que nada (mais) lhe pagaria
e que considerava o contrato extinto. A participação intrínseca
constante de tal “fax”, constitui uma manifestação de vontade que deve
ser interpretada como uma declaração resolutiva do contrato.

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A declaração resolutiva pode fazer-se mediante declaração à outra


parte, como resulta do art. 436º nº 1. Trata-se de declaração receptícia
que se torna eficaz logo que chega ao destinatário, ou é dele conhecida
(art. 224º nº1), tornando-se, então, irrevogável (art. 230º nº 1). Goza a
resolução de eficácia retroactiva (art. 434º nº 1), “visto que a falta de
prestação a cargo do devedor deixa a obrigação da contraparte
destituída da sua razão de ser, sem embargo da ressalva dos direitos de
terceiro e das restrições impostas pela vontade das partes ou pela
finalidade da resolução” (2) .
Nesta conformidade, tal declaração, no caso vertente, tornou-se eficaz
logo que a A. recebeu o dito “fax” e se inteirou do respectivo conteúdo.
Com isto não se nega a possibilidade de o destinatário da declaração
resolutiva, se opor a tal declaração, por entender não existir o direito à
resolução, ou esse direito de resolução ter sido mal exercido, propondo-
se discutir judicialmente essa resolução. Porém, como salienta Vaz
Serra (3) “a sentença que julgue bem exercido o direito de resolução é
simplesmente declarativa, limitando-se a declarar que o direito foi
correctamente exercido. Os efeitos de resolução contam-se, portanto,
da data da declaração de resolução, ou antes, daquela em que esta
declaração, segundo o princípio aplicável à eficácia das declarações
de vontade receptícias ou recipiendas, produz efeitos”.
No caso dos autos, os factos assentes não demonstram que a A. se opôs
à resolução efectuada, pelo que será de reputar eficaz aquela declaração
resolutiva.
Com esta declaração a R. destruiu ou extinguiu a relação contratual. É
que, como refere Antunes Varela (4) “a resolução é a destruição da
relação contratual, operada por um dos contraentes, com base num
facto posterior à celebração do contrato”.
Quer dizer, com a dita declaração resolutiva, a R. manifestou a clara da
vontade de terminar com a relação contratual, tendo-se tornado eficaz,
no sentido da destruição da relação contratual, logo que a A. recebeu o
dito “fax” e se inteirou do respectivo conteúdo.
Estabelece o art. 801º nº 2 que “tendo a obrigação por fonte um
contrato bilateral, o credor, independentemente do direito à
indemnização, pode resolver o contrato e, se já tiver realizado a sua
prestação, exigir dela por inteiro”. Como observa Galvão Telles, há
nesta disposição uma insuficiência verbal que não pode deixar de se
corrigir mediante a aplicação, não só à situação prevista no nº 1 do
dispositivo (impossibilidade da prestação por causa imputável ao
devedor), mas também à situação de o contratante deixar de cumprir
culposamente a prestação não impossibilitada. “Esta situação ou cabe
no espírito do citado preceito ou, pelo menos, é análoga à nele
contemplada. E deste modo, seja por interpretação extensiva, seja por
interpretação analógica, sempre se chega à aplicabilidade da regra do
nº 2 do artigo 801º, àquela outra hipótese” (5).

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Significa isto, para o que aqui importa, que credor, independentemente


do direito à indemnização, face ao regime geral delineado pelo Código
Civil, pode resolver o contrato, em caso de incumprimento culposo da
prestação por parte do devedor.
Portanto, dado que a R. resolveu o contrato, haverá de determinar se
existiu incumprimento culposo por banda da A., que permitisse àquela a
resolução contratual que realizou.
De sublinhar desde logo que dos termos do contrato, como se assinala
no douto acórdão recorrido, não resulta qualquer cláusula que atribua,
expressamente, à franquiada (a R.) o direito de resolver o contrato em
determinadas situações (6) .
Porém, não foi propriamente atendendo aos termos concretos do
contrato, que a R. fundamentou a resolução do contrato que efectuou,
tendo antes sustentado tal acto no incumprimento por parte da A.,
franquiadora, das obrigações gerais a que se vinculara por efeito da
realização do contrato.

A respeito da resolução do contrato de franquia pondera L. Miguel


Pestana de Vasconcelos que ela “carece, geralmente, de ser motivada, o
que significa ser necessário que os pressupostos do condicionalismo
justificativo (previsto na lei ou no próprio contrato) do nascimento
deste direito potestativo extintivo sejam devidamente explanados pela
parte que pretende por fim ao contrato na declaração de resolução” (7)
.

Como motivação para a resolução, a R. logrou provar que em 22 de


Junho de 2006 comunicou à A. que «o plano apresentado não responde
às preocupações prementes e prometidas antes e após a assinatura do
contrato de franquia», concluindo não existirem condições para
continuar a trabalhar com ela, tendo enviado em 6 de Julho de 2006 um
“fax” à A. informando que nada pagaria a esta e que considerava o
contrato extinto. Já antes, o R., através de “e-mails” dirigidos à A., em
Março, Abril, Maio de 2006, havia manifestado a sua insatisfação,
relativamente à publicidade efectuada, imputando à A. a culpa dos
resultados alcançados pela R..
Somos em crer que a motivação que a R. usou é genérica, pouco
precisa, não concretizando as razões, para além de uma exígua
publicidade por parte da A., que a levaram a assumir a radical posição
de fazer cessar o contrato.
Mas isto não quer dizer que a conduta da A., sob o ponto de vista de
cumprimento do contrato possa ser considerada imune a qualquer
crítica, como iremos ver à frente.
Como acima dissemos, sempre que possível e se revele adequado, deve
aplicar ao caso o regime do contrato de agência (Dec-Lei 178/86 de
2/7), por ser o contrato típico mais próximo do contrato de franquia.

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Estabelece este diploma, a respeito da resolução do contrato, no art. 30º


que “o contrato de agência pode ser resolvido por qualquer das partes:
a) Se a outra parte faltar ao cumprimento das suas obrigações, quando,
pela sua gravidade ou reiteração, não seja exigível a subsistência do
vínculo contratual; b) Se ocorrerem circunstâncias que tornem
impossível ou prejudiquem gravemente a realização do fim contratual,
em termos de não ser exigível que o contrato se mantenha até expirar o
prazo convencionado ou imposto em caso de denúncia”.
Em relação à aplicação ao contrato de franquia deste dispositivo, refere
L. Miguel Pestana de Vasconcelos que “não encontramos aqui
dificuldades de maior na aplicação analógica neste campo, dos
preceitos do Dec-Lei nº 178/86 ao contrato de franquia. Também aqui
estamos perante um contrato que assenta e cuja execução gera
especiais relações de colaboração e confiança entre as partes e em que
os interesses estão em jogo, com vista a estabelecer-se o quadro em que
o direito à resolução nasce e pode ser exercido, são fundamentalmente
os mesmos”.
Quer dizer, segundo este autor, a possibilidade de resolução do contrato
de agência (contrato de franquia), nas situações na disposição
mencionada, baseia-se, essencialmente, na circunstância de estar em
causa um contrato duradouro que assenta em especiais relações de
colaboração e confiança entre as partes e cuja frustração compromete e
torna inexigível a manutenção do vínculo contratual.
No douto acórdão recorrido, onde se realizou um exaustivo trabalho de
análise das obrigações assumidas no contrato pela franquiadora, a A.,
concluiu-se que dados os termos genéricos das cláusulas, dificilmente
se poderá concluir que a A. não cumpriu, de todo, algumas delas. Mas
acrescentou-se que “provavelmente, poder-se-á dizer que não cumpriu
“bem” ou que não cumpriu nos termos que eram expectáveis para os
franquiados (no caso, a Ré), com base numa interpretação dessas
cláusulas que, não estando expressa, é consentida pela seu carácter
genérico e amplo”.
Esta posição é certa, assumindo nós que os factos assentes demonstram
que a A. cumpriu deficientemente os deveres de assistência e
publicidade para com a R., sua franquiada, a que se comprometera,
como os factos acima referenciados inculcam (designadamente os
referidos sob os nºs 36, 37, 38, 40, 41, 42,44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51,
52 e 53).
Decorre do art. 762º, como princípio geral, que o devedor cumpre a
obrigação quando realiza a prestação a que está vinculado. O
cumprimento deve ter por objecto aquela mesma coisa ou aquele
mesmo facto sobre que versa a obrigação (8) . Daqui resulta que a A.
cumpriria a obrigação que lhe incumbia, se fornecesse à R. a assistência
técnica devida e procedesse à publicidade a que genericamente se
comprometera. A este propósito diz-se apropriadamente no douto

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acórdão recorrido que “afigura-se-nos óbvia a conclusão de que essa


assistência deveria corresponder a um efectivo apoio aos franquiados,
prestado por pessoas que, para o efeito, tivessem as necessárias
competências. Com efeito, a mera circunstância de a Autora dispor de
pessoal que está designado para prestar apoio não equivale ao
cumprimento daquela obrigação se esse pessoal, apesar de existir, não
presta qualquer apoio efectivo, por não ter competência para o efeito
ou por qualquer outra razão”. E mais adiante “embora isso não
configure o incumprimento de qualquer obrigação contratual que a
Autora tivesse assumido perante a Ré, a Autora não terá promovido, de
forma adequada, a marca C..., já que, perante a falta de notoriedade
dessa marca, na Região Norte, a Autora podia ter efectuado um maior
investimento em campanhas publicitárias (na medida em que as que fez
não foram suficientes), em apoio e assistência aos franquiados; por
essa razão, a agência da Ré fracassou, o que, aliado à falta de
notoriedade da marca e à inexistência de outras lojas na Região,
comprometeu gravemente a realização do fim contratual e o equilíbrio
contratual das partes, não podendo ser exigido à Ré que, nessas
circunstâncias, continuasse vinculada às suas obrigações até expirar o
prazo convencionado, pagando as contrapartidas fixadas no contrato
pelo uso de uma marca que não lhe trazia qualquer vantagem (porque
não era conhecida) e pelo uso de um sistema que, na prática, nada
tinha de novo relativamente aos usados pelas demais agências
imobiliárias e pela prestação de assistência que, pelo menos na área da
gestão imobiliária, era deficiente”.
Ao não proceder como genericamente se vinculou, a A. cumpriu
defeituosamente o contrato.
O não cumprimento da obrigação (em termos amplos) pode revestir as
modalidade de retardamento da prestação (mora) ou da não realização
definitiva desta (9) . Para além destas haverá a considerar ainda a
execução defeituosa ou imperfeita da prestação. O devedor executa
materialmente a prestação, mas não a cumpre cabalmente porque a
cumpre mal. O dano não resulta aqui da omissão ou do atraso do
cumprimento, mas antes dos vícios ou deficiências da prestação
efectuada (10)

. A prestação não se realiza da forma como se impunha.

No caso dos autos, neste contexto e face ao que já dissemos, parece não
resultarem dúvidas sobre a circunstância de existir, por parte da A., um
cumprimento defeituoso da prestação. “Aquele que executa mal é
obrigado, em princípio, a corrigir o defeito ou, se a correcção se não
torna possível, a substituir a prestação imperfeita por outra perfeita”
(11) . A lei civil fala do cumprimento defeituoso no art. 799º sem,
porém, desenvolver as especialidades que a noção comporta (12).

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Por não ter interesse para aqui, não importará distinguir o cumprimento
defeituoso da obrigação (ou falta qualitativa de cumprimento da
obrigação), da venda de coisa defeituosa, sublinhando-se, apenas que
naquele, o vendedor não realizou a prestação a que, por força do
contrato, estava adstrito e nesta a coisa objecto da transacção sofre dos
vícios ou carece das qualidades referenciadas no art. 913º, quer a coisa
entregue corresponda, ou não, à prestação a que o vendedor se
encontrava vinculado (13) . Como refere a este propósito o Prof.
Antunes Varela (14) o cumprimento defeituoso “apenas se dá quando a
prestação realizada pelo devedor não corresponde, pela falta de
qualidades ou requisitos dela, ao objecto da obrigação a que ele estava
adstrito”.

No caso dos autos, porque se trata de uma prestação efectuada pela


franqueadora a que não corresponde ao objecto contratado, estaremos
perante um cumprimento defeituoso da obrigação (15), pois, na
realidade, trata-se de uma falta qualitativa do cumprimento da
obrigação (16) .

Como se disse acima, deve aplicar-se à situação, no que toca à


resolução, o disposto no art. 30º do Dec-Lei 178/86.

Recorde-se que nos termos desta disposição, o contrato pode ser


resolvido quando a outra parte faltar ao cumprimento das suas
obrigações, se pela sua gravidade ou reiteração não seja exigível a
subsistência do vínculo contratual (al. a)).

No douto acórdão recorrido, sobre este dispositivo considerou-se não se


poder concluir, pelo menos de forma clara, que a A. tenha incumprido
qualquer obrigação a que contratualmente se havia vinculado. Por isso,
não se justificaria a resolução do contrato, nos termos da dita alínea a).

Parece-nos ser correcta essa posição, pelos motivos já aduzidos. Poder-


se-á sustentar que a A. cumpriu deficientemente as obrigações a que se
havia vinculou. Mas dificilmente se poderá defender o (radical)
incumprimento de qualquer dessas obrigações, como profusamente se
evidencia no douto acórdão recorrido.

Como refere Antunes Varela a respeito do cumprimento defeituoso da


obrigação, “se há irregularidade da prestação, mas o credor reage
fundadamente à sua recepção (recusando a sua aceitação ou
rejeitando-a pura e simplesmente), o cumprimento defeituoso não se
distingue, em regra do não cumprimento ou da mora consoante os
casos”. E mais adiante “são situações em que a irregularidade ou
deficiência da prestação a afastam de tal forma do modelo da

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prestação exigível, que o interesse do credor fica inteiramente por


preencher – e a sua equiparação à inadimplência ou à mora não
suscitará dúvidas de maior”. Acrescenta o mesmo Professor que “casos
há que o credor, por analogia com o disposto no art. 808º nº 1, poderá
exigir do devedor que corrija ou substitua a prestação defeituosa
dentro do prazo razoável que para o efeito lhe fixar, sob pena de
considerar a obrigação como definitivamente não cumprida” (17).

Poder-se-ia pensar, numa análise menos cuidada em aplicar à situação


este art. 808º nº 1, pois dados os contornos do caso e segundo os
ensinamentos do dito Professor, por analogia com o disposto na
disposição, poderia a R. exigir da A. que corrigisse a prestação
defeituosa dentro de um prazo razoável que deveria indicar, procedendo
de forma a conceder a assistência necessária e a efectuar a publicidade
apropriada, sob pena de considerar a obrigação como definitivamente
não cumprida. Porém, como correctamente se refere no acórdão deste
STJ de 9-1-2007 (acessível em www.dgsi.pt/jstj.nsf) “se aqui há justa
causa de resolução (e à frente iremos ver que existe essa causa) não há
que lançar mão da interpelação admonitória do artigo 808º do CC.
Como refere o Prof. Baptista Machado (ob. cit. RLJ - 118-280) este
preceito ajusta-se, apenas, a "negócios sobre transacções de bens", não
se ajustando directamente às relações contratuais duradouras, para as
quais o regime típico é o da resolução por justa causa. "Nas relações
obrigacionais duradouras, o que está em causa não é a perda do
interesse numa concreta prestação (pelo menos em regra) mas a
justificada perda de interesse na continuação da relação contratual”.
Ou seja, o regime de resolução do artigo 808º do CC não se ajusta às
relações contratuais duradouras (como sucede no caso vertente) onde,
em regra, está em causa a perda de interesse na continuação do contrato,
sendo ajustado aí a aplicação do regime da resolução por justa causa.

A resolução do contrato pode operar, também com base na al. b) do


referido art. 30º, isto é, se ocorrerem circunstâncias que tornem
impossível ou prejudiquem gravemente a realização do fim contratual,
em termos de não ser exigível que o contrato se mantenha até expirar o
prazo convencionado ou imposto em caso de denúncia.

Foi precisamente nesta disposição que o acórdão recorrido fundou a sua


posição de considerar legítima a resolução operada pela R..

Como se refere, em caso idêntico de contrato de franquia, no acórdão


deste STJ de 29-4-2003 (acessível em www.dgsi.pt/jstj.nsf) “Se o
exercício do direito de resolução, no regime geral (CC- 793-2, 799-1,
801-2, 802 e 808), depende do incumprimento culposo já quer pelo
acordado quer pela natureza em si do contrato de franchising quer pela

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aplicabilidade analógica das normas do contrato de agência pode


assentar em factos não culposos (cfr. Maria Helena Brito in O Contrato
de Concessão Comercial, p. 227). Enquanto contrato de cooperação,
primordial é não o comportamento dos contraentes mas o fim a que o
contrato se propõe, o qual, se se vier a tornar impossível, justifica a
resolução. Daí que seja legítimo afirmar que neste tipo de contratos
tanto o incumprimento do contrato como a impossibilidade de cumprir
o fim contratual justifica a sua resolução”.

Em comentário à disposição em análise (art. 30º al. b)), refere António


Pinto Monteiro (18) que, nos termos dessa alínea, “qualquer contraente
pode socorrer-se da resolução apesar de o contrato estar a ser
regularmente cumprido, quando se verificar alguma circunstância que
impossibilite ou faça perigar gravemente o fim do contrato. Decisivo é,
também aqui, que, por via disso, não seja exigível a subsistência do
contrato até expirar o prazo convencionado (nos contratos celebrados
por tempo determinado)… Trata-se de fundamento objectivo, baseado
em circunstâncias respeitantes ao próprio contraente que decide
resolver o contrato ou à contraparte (v.g. perda do mercado de bens ou
serviços que constituem objecto da agência, por razões alheias ao
respeito, por qualquer das partes, das respectivas obrigações). Trata-
se, em suma, de uma situação de “justa causa”, não por força de
qualquer violação dos deveres contratuais, mas por força de
circunstâncias não imputáveis a qualquer das partes que impossibilitem
ou comprometam gravemente a realização do escopo visado”.

Ou seja, face a esta causa, a resolução não depende de qualquer


incumprimento culposo por banda da outra parte. Como contrato de
cooperação, essencial não é o comportamento dos contraentes mas o
fim a que o contrato se propõe. Daí que a norma expressamente
conceda a possibilidade de resolução no caso de ocorrerem
circunstâncias que tornem impossível ou prejudiquem gravemente a
realização do fim do contrato. Portanto, nestes contratos tanto o seu
incumprimento, como a impossibilidade de cumprir o fim contratual,
justifica a sua resolução. Nesta hipótese, como diz Pinto Monteiro, está
em causa uma “justa causa” derivada da ocorrência de circunstâncias
não imputáveis a qualquer das partes, mas que impossibilitem ou
comprometam gravemente a realização do escopo visado pelo contrato.

No caso vertente, o objectivo notório da R., era exercer a actividade de


mediação imobiliária de modo satisfatório e com proventos adequados,
pretendendo e almejando tirar vantagens decorrentes do uso de uma
marca que esperava vir a alcançar notoriedade, o que não se
concretizou. Daí que a abertura da loja se tenha revelado um insucesso,
revelado pela circunstância de durante o período em que durou o

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contrato, poucas transacções se terem concretizado (veja-se factos


provados sob o nºs 32 e 33). De sublinhar que a notoriedade da marca
(19), pressuposto essencial para o sucesso nas vendas (daí a realização
do contrato de franquia), dependia, essencialmente, da actividade da A.,
que deveria promover o respectivo conhecimento da firma, investindo
em publicidade (que ficou a cargo do franquiador) e angariar mais
franqueados, o que a A. fez deficientemente. Por isso nos parece que
para além de se ter desfeito a relação de confiança (20) que levou a R. a
contratar, não nos parece ser de exigir da R. a manutenção do contrato
até terminar o prazo convencionado, sabendo-se que a realização do fim
contratual (sucesso no negócio, derivado de ter optado por usar a marca
da franqueada) resultou gravemente prejudicado. Como se refere
apropriadamente no douto acórdão recorrido “…aquilo que era natural
(e foi aceite pelas partes), à data da celebração do contrato, deixou de
o ser, passado um ano, porquanto, a inexistência de qualquer evolução
da notoriedade da marca, comprometeu o equilíbrio contratual das
partes e, determinando o fracasso da agência e a falta de perspectivas
de alteração dessa situação, tornou inexigível a manutenção do
contrato”.

Em razão do exposto, somos em crer que face àquela alínea b) do


referido art. 30º do Dec-Lei 178/86, a resolução efectuada pela R.
obedeceu a uma justa causa e daí que tenha sido fundada.

Confirma-se, pois, a posição assumida pelo douto acórdão recorrido,


considerando-se, desde já, improcedente a pretensão do recurso
subordinado da A. (21) e, consequentemente, a revista (excepto na
pequena precisão que se irá fazer à frente).

2-4- Sustentam ainda os RR. recorrentes que a resolução do contrato


com fundamento no incumprimento por parte da recorrida, confere à R.
o direito de ser indemnizada, indemnização que deverá ser calculada
com base nas regras gerais, constantes dos art. 562º e segs.,
correspondendo a essa indemnização ao valor global dos pagamentos
efectuados pela recorrente a título de direito de entrada e royalties, bem
como, as despesas que teve de suportar, cujo valor global ascende a €
45.530,00, nos termos constantes da douta decisão condenatória
proferida em 1a instância.

Desde logo diremos que a pretensão da recorrente parte de um


pressuposto que se não verificou. É de que se considerou legitima a
resolução contratual em razão do incumprimento do contrato por parte
da A., o que não sucedeu. A resolução foi considerada legítima sim,
mas face ao disposto na alínea b) do art. 30º do Dec-Lei 178/86
(reconhecimento de verificação de justa causa). O juízo de licitude da

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resolução assentou somente no facto de se entender não ser exigível à


R., face à frustração dos objectivos do contrato, em continuar
contratualmente vinculada até ao termo do prazo convencionado no
contrato. Por isso, somos em crer que não existe por parte dos RR. o
direito a uma qualquer indemnização. Os RR. fundaram o pedido dessa
indemnização no incumprimento culposo do contrato por banda da A.,
incumprimento que, como se viu, não ocorreu (22) . Repete-se a
resolução do contrato por banda da R. foi considerada legítima, não em
razão do incumprimento do contrato por parte da A., mas sim por
verificação de justa causa para cessação do vinculo contratual.

A posição dos RR. recorrentes é, pois, insubsistente.

2-5- Defendem também os RR. recorrentes que o acórdão interpretou


incorrectamente o art. 434° nº 2, pois atendeu exclusivamente, ao seu
elemento literal, não atendendo à "ratio" do mesmo. É certo que nos
contratos de execução continuada ou periódica, a resolução não abrange
as prestações efectuadas. Porém, tendo a recorrida incumprido as
obrigações a que estava adstrita, de forma grave e reiterada, terá de
indemnizar a recorrente pelo interesse contratual negativo, calculando-
se a indemnização nos termos gerais (art. 562º e segs.).
Sobre a questão ponderou-se no douto acórdão recorrido que, por força
do disposto nos arts. 434º nº 1 e 433º “conjugadas com o disposto no
art. 289º, nº 1, a resolução do contrato determinará, em princípio, a
restituição de tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituição em
espécie não for possível, o valor correspondente. Tal não acontece,
porém, nos contratos de execução continuada ou periódica, já que,
relativamente a estes, dispõe o art. 434º, nº 2, do Código Civil, que a
resolução não abrange as prestações já efectuadas, excepto se entre
estas e a causa da resolução existir um vínculo que legitime a resolução
de todas elas. O contrato de franquia, em causa nos autos, é,
manifestamente, um contrato de execução continuada ou periódica, na
medida em que o seu cumprimento se prolonga ininterruptamente no
tempo e as prestações do franquiado (royalties) renovam-se, em
prestações singulares sucessivas, ao fim de períodos consecutivos, pelo
que, em conformidade com o disposto no citado art. 434º, nº 2, a sua
resolução não abrange as prestações já efectuadas”. Por isso entendeu
a não devolução das prestações já realizadas. Acrescentou-se ainda no
mesmo sentido que “embora se tenha concluído pela existência de justa
causa para a resolução do contrato, não se demonstrou que tenha
existido qualquer incumprimento contratual da Autora, pelo que não
encontramos qualquer fundamento para que a Ré seja libertada das
prestações que, em conformidade com o contrato, eram devidas até à
data da resolução. Tal como acima se mencionou, a licitude da
resolução do contrato assentou apenas na circunstância de não ser

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exigível que a Ré continuasse vinculada ao contrato até ao termo do


prazo convencionado, atendendo ao fracasso da agência, à falta de
notoriedade da marca, à inexistência de outras agências no Porto e à
inexistência de técnicas de venda e marketing realmente inovadoras”.
No recurso os recorrentes continuam, também aqui, a assentar o seu
entendimento na circunstância de a A. ter incumprido as suas
obrigações nos termos do referido art. 30 al. a), o que já se afastou.
Nenhum agravo fazem, pois, ao entendido no douto acórdão,
designadamente à circunstância de aí se referir não se ter demonstrado
qualquer incumprimento contratual por parte da A.(23) e que a licitude
da resolução do contrato residiu apenas na circunstância de não ser
exigível que a R. continuasse vinculada ao contrato até ao termo do
prazo convencionado, atendendo ao insucesso do negócio.
A posição assumida no acórdão recorrido foi certa, pelo que se nos
afigura despiciendo acrescentar mais ao aí profusamente dito.
2-6- Na sua revista, a A., para além do mais, defende que o montante
que lhe é devido pelos RR., a título de “royalties” e contribuições para o
FNP é de 4.995,00 € e não de 3.300,00 €, conforme se considerou no
acórdão recorrido.
De sublinhar que nesse aresto se considerou que a R. não tinha direito à
restituição das quantias que pagou a título de “royalties” e contribuições
para o FNP (assim como do “direito de entrada” e dos cursos de
formação), entendendo, pelo contrário, que se encontrava obrigada a
pagar à A. as prestações devidas e contratualmente fixadas, até à data da
resolução, até porque “a Ré utilizou, efectivamente, a marca e o sistema
C..., durante o período em que vigorou o contrato; usufruiu de um
conjunto de ferramentas e serviços que lhe foram disponibilizados e
prestados pela Autora e frequentou os cursos de formação”. Assim,
entendendo que à data da resolução efectuada pela R., se encontravam
em dívida os royalties e as contribuições para o FNP referentes aos
meses de Maio e Junho, de 2006, no valor de € 2.120,00 e de €
1.210,00, respectivamente, concluiu estar a R. obrigada a pagar à A.
esses valores, no montante global de 3.330,00 €.
No recurso a A. defende que se encontra ainda em dívida as “royalties”
e contribuições para o FNP relativas ao mês de Julho. Daí o valor de
4.995,00 € a que chegou.
Provou-se que a resolução do contrato foi operada em 6 de Julho de
2006, sendo que à data da resolução efectuada pela franquiada, se
encontravam em dívida os royalties e as contribuições para o FNP
referentes aos meses de Maio e Junho, de 2006, no valor de € 2.120,00
e de € 1.210,00, respectivamente, a que a acresce o valor relativo ao
mês de Julho de 2006, num total de € 4.995,00 (factos referenciados
acima sob os nºs 65 a 68).
Sabendo-se que o STJ, como tribunal de revista, não pode modificar
(em regra) a matéria de facto dada como assente, concluímos que terá

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que ser nesta quantia que os RR. deverão ser condenados.


Fora este pormenor, as revistas improcedem.

III- Decisão:
Por tudo o exposto, nega-se a revista, confirmando-se o douto acórdão
recorrido, excepto no tocante à quantia de € 3.330,00 em que a R. havia
sido condenada na Relação, declarando-se que a que a R. está obrigada
a pagar à A. o montante de € 4.995,00, correspondente aos royalties e
contribuição para o FNP referentes aos meses de Maio, Junho e Julho
de 2006.
Custas pelos recorrentes conforme o respectivo vencimento.

Supremo Tribunal de Justiça, 25 de Janeiro de 2011

Garcia Calejo (Relator)


Helder Roque
Sebastião Póvoas
______________________

(1) Neste sentido vide “O contrato de Franquia” de L. Miguel Pestana


de Vasconcelos, pág. 85.

(2) Antunes Varela in Das Obrigações em Geral, 7ª edição, II Volume,


pág. 108.

(3) In RLJ, 102º, 168

(4) In (Das Obrigações em Geral, 7ª edição, II Volume, pág. 275)

(5) In Direito das Obrigações, 7ª edição, pág. 455.

(6) Em relação à franqueadora ocorre uma enumeração exaustiva e


pormenorizada das diversas situações em que ela pode, unilateralmente,
fazer cessar o contrato.

(7) Obra citada, págs. 84 e 85

(8) Vide Galvão Telles Direito das Obrigações, 7ª edição, pág. 222.

(9) Vide mesmo autor e obra, pág. 336

(10) Vide a este respeito Almeida Costa, Noções de Direito Civil, 2ª


edição, pág. 298

(11) Vide Galvão Telles, obra citada, pág. 337

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(12) Vide a este propósito Antunes Varela In Das Obrigações em Geral,


Vol. II, 7ª edição, pág. 127

(13) Vide a este propósito Antunes Varela no parecer publicado na Col.


De Jur., Ano XII, 1987, Tomo 4, págs. 22 a 35, a pág. 30.

(14) Vide mesmo parecer, pág. 30

(15) Como refere Antunes Varela no parecer publicado na Col. De Jur.,


Ano XII, 1987, Tomo 4, págs. 22 a 35, no cumprimento defeituoso o
vendedor não realizou a prestação a que, por força do contrato, se
encontra adstrito.

(16) Os Profs. Pires de Lima e Antunes Varela, no Código Civil


Anotado (vol. II, 3ª edição, págs. 212 e 213), dão um exemplo de
cumprimento defeituoso da obrigação, excluindo expressamente a
venda de coisa defeituosa. Assim “se o cliente pedir na farmácia um
laxante de certa marca e o empregado, por lapso, lhe entregar (e o
cliente inadvertidamente receber) um produto dessa marca, mas que
seja uma loção para o cabelo, nenhum erro do comprador existirá na
formação do contrato (e nem sequer venda de coisa defeituosa …), mas
apenas cumprimento defeituoso da obrigação contraída.

(17) In Das Obrigações em Geral, Vol. II, 7ª edição, págs. 128 e 129

(18) In Contrato de Agência, 2ª edição, págs. 98 e 99

(19) Como se refere no acórdão deste STJ de 7-2-2008 (in sumários


internos deste STJ) com o contrato de franquia o beneficiário passa a
desfrutar da notoriedade da marca bem como o “saber fazer” relativo à
organização e metodologia inerentes ao negócio.

(20) Como nos parece pacífico, um contrato de franquia pressupõe que


entre as partes contratantes se estabeleça e prolongue, como elemento
basilar e essencial, uma relação de confiança

(21) Pretensão concernente em ver declarada a ilegitimidade ou


ilegalidade da resolução do contrato declarada pela 1ª R. e consequente
aplicação dos procedimentos derivados da cessação do contrato de
franquia

(22) Na própria minuta de recurso os recorrentes continuaram a insistir


que a resolução do contrato radicou no incumprimento das obrigações a

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que a A. estava adstrita, retirando daí a consequência de dever ser


indemnizada pelo interesse contratual negativo

(23) Existiu sim cumprimento defeituoso da obrigação, como acima já


se evidenciou.

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