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PLANEJAMENTO FAMILIAR
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Juvenal Linhares
Universidade Federal do Ceará
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All content following this page was uploaded by Juvenal Linhares on 04 January 2022.
1. INTRODUÇÃO
O planejamento gestacional é o artifício que permite ao casal decidir acerca do número
de filhos e do intervalo interpartal desejados, de forma programada e consciente, e é um dos
muitos componentes dentro da agenda do planejamento familiar. A contracepção ou
anticoncepção corresponde ao uso de métodos e procedimentos com o objetivo de evitar que
o relacionamento sexual resulte em uma gestação e é uma das estratégias dentro do
planejamento familiar.
Devido a sua elevada prevalência dentro da atenção primária a saúde, essa temática é
de extrema relevância dentro do cuidado reprodutivo. Desse modo, é função do médico de
família e comunidade auxiliar na escolha do método mais compatível com os interesses e
necessidades daquele indivíduo ou núcleo familiar.
Os métodos contraceptivos podem ser classificados de diversas formas, assim como
exposto na TABELA 1:
Tabela 1 – Classificação dos métodos contraceptivos
Reversíveis Definitivos
Naturais Esterilização cirúrgica feminina
De barreira Esterilização cirúrgica masculina
Dispositivos intrauterinos
Hormonais
De emergência
Fonte: Adaptado de FINOTTI (2015).
CAPÍTULO X | 168
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
2. MÉTODOS NATURAIS
aaaaaa
a
Em geral, esses métodos são utilizados tendo como referencial o período fértil da
paciente, sendo importante o acompanhamento de sinais indicativos de fertilidade.
Coito interrompido
Essa estratégia consiste na retirada do pênis, de dentro da vagina, para que a
ejaculação possa ocorrer no meio externo. Para que seja adotada é necessária boa
comunicação entre os envolvidos e um bom controle do indivíduo com pênis. Apesar da sua
ampla utilização, há alta possibilidade de falha, uma vez que espermatozoides podem estar
presentes no líquido que é eliminado antes da ejaculação.
CAPÍTULO X | 169
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Temperatura basal
aaaaaa
a
Esse método utiliza como referência a elevação da temperatura provocada pela
liberação de progesterona após a ovulação. A presença do hormônio implica em um aumento
de 0,2-0,5 ºC na temperatura corporal. Desse modo, recomenda-se que a paciente verifique
sua temperatura ao acordar, todos os dias, sempre no mesmo horário e que o período de
abstenção dure do primeiro dia do ciclo menstrual, até 4 dias após a percepção do aumento
da temperatura.
Método sintotérmico
Baseado na combinação de diferentes indicadores de ovulação, esse método funciona
unindo a análise do muco cervical, o controle da temperatura basal, o método da tabelinha e
a presença de parâmetros subjetivos que possam indicar fertilidade.
3. DE BARREIRA
São assim chamados os métodos responsáveis por impedir a fecundação, evitando a
progressão dos espermatozoides para a cavidade uterina. Serão detalhados aqui os mais
utilizados no país.
Preservativos
Estão disponíveis os preservativos internos (vaginal) e externo (peniano) e sua
utilização é essencial e deve ser estimulada, independente do uso de outros métodos
associados, uma vez que possuem a função adicional de proteção contra infecções
sexualmente transmissíveis (ISTs). O preservativo externo de látex ainda é o método mais
acessível para prevenção dessas infecções, principalmente devido ao seu custo e
disponibilidade mercadológica. A correta utilização dos preservativos é essencial para uma
proteção eficiente e devem ser fornecidas as orientações sobre ela, uma vez que esses
métodos estão diretamente envolvidos na prática/hábito sexual dos envolvidos.
CAPÍTULO X | 170
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Diafragma
aaaaaa
a
Esse método contraceptivo tem o aspecto de uma cúpula côncava flexível e a sua
prescrição deve ser acompanhada de orientações cuidadosas sobre a sua colocação,
posicionamento e retirada, essenciais para evitar a falha. Ademais, é função do profissional
de saúde experiente a avaliação das medidas da paciente para determinação do tamanho
adequado do dispositivo. Para seu uso correto, o diafragma deve ser inserido no canal vaginal,
recobrindo o colo uterino, após o esvaziamento da bexiga e, idealmente, um espermicida deve
ser utilizado conjuntamente em todas as relações sexuais. Atualmente, a substância mais
utilizada com esse fim é o nonoxinol-9. Por fim, a retirada do diafragma deve ser realizada
após um período mínimo de seis a oito horas da última ejaculação vaginal.
4. HORMONAIS
Métodos contraceptivos contendo hormônios em sua composição estão disponíveis
em diferentes associações e formas de administração. Eles podem ser encontrados com
formulações tanto a base de estrogênios e progestagênios combinados como com
progestagênios isolados.
Os principais estrogênios sintéticos utilizados são o etinilestradiol (EE), o enantato de
estradiol e o valerato de estradiol. O EE está presente na maioria dos anticoncepcionais orais
combinados, bem como nos adesivos transdérmicos e no anel vaginal hormonal, utilizados no
Brasil. Já no tocante aos progestagênios, existe grande diversidade disponível no país. As
principais derivações são a partir da 19-nortestosterona, 17-alfa-hidroxiprogesterona (17-OH-
P) e análogo da espironolactona. É de extrema relevância que sejam considerados os
mecanismos de ação dos progestagênios em questão, para que possa haver satisfação da
paciente quanto aos resultados obtidos. Alguns dos efeitos dos principais progestagênios
estão expostos na TABELA 2.
Tabela 2 – Tabela comparativa das ações dos progestagênios
Androgênica Antiandrogênica Antimineralocorticoide
Levonorgestrel + - -
3-ceto-desogestrel + - -
Gestodeno + - +
Acetato de Ciproterona - ++ -
Drospirenona - + +
Dienogeste - + -
Acetato de +/- - -
Medroxiprogesterona
CAPÍTULO X | 171
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Androgênica
aaaaaa
Antiandrogênica Antimineralocorticoide
Acetato de
Clomardinona
-
a +
CAPÍTULO X | 172
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
ACO/
aaaaaa
Condições
4
a
Injetável
mensal
4
PP
1
Injetável
trimestral
1
Implante
1
risco para TEV
Pós-parto ≥
21-42 dias, sem amamentação,
3 3 1 1 1
com fatores de risco para TEV
Tabagismo,
≥ 35 anos de idade e
3 2 1 1 1
< 15 cigarros/dia
Tabagismo,
≥ 35 anos de idade e
4 3 1 1 1
≥ 15 cigarros/dia
Múltiplos fatores de risco para
doença cardiovascular (ex:
idade avançada, tabagismo, 3/4 3/4 2 3 2
diabetes, hipertensão e
dislipidemias)
Histórico de hipertensão
(incluindo hipertensão
gestacional), em situação de 3 3 2 2 2
impossibilidade de avaliação da
pressão arterial
Hipertensão controlada 3 3 1 2 1
Hipertensão não controlada
140-159/90-99 mmHg 3 3 1 2 1
Hipertensão não controlada
≥ 160/100 mmHg 4 4 2 3 2
Hipertensão arterial associada a
doença vascular 4 4 2 3 2
Manutenção do método em
paciente com enxaqueca sem
3 3 2 2 2
aura < 35 anos
Iniciar método em paciente
com enxaqueca sem aura ≥ 35 3 3 1 2 2
anos
Manutenção do método em
paciente com enxaqueca sem 4 4 2 2 2
aura ≥ 35 anos
Enxaqueca com aura em 2 (I) 2 (I)
4 4 2 (I) 3(C)
qualquer idade 3(C) 3(C)
Diabetes mellitus (DM) +
nefropatia 3/4* 3/4* 2 3 2
/retinopatia/ neuropatia
Outras doenças vasculares ou
3/4* 3/4* 2 3 2
DM > 20 anos de duração
CAPÍTULO X | 173
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
ACO/
aaaaaa
Condições
4
a
Injetável
mensal
4
PP
2
Injetável
trimestral
2
Implante
CAPÍTULO X | 174
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
ACO/
aaaaaa
Condições
Anel vaginal/
Adesivo
transdérmico
a Injetável
mensal
PP
Injetável
trimestral
Adesivos transdérmicos
Esse dispositivo funciona a base da absorção cutânea de uma combinação de
etinilestradiol (EE) e de norelgestromina (NGMN), constituindo alternativa para os casos em
que os anticoncepcionais orais combinados se tornam inviáveis, como na vigência de
intolerância gastrointestinal. Quanto ao seu uso, a troca do adesivo deve ser realizada
semanalmente, de forma consecutiva, por 3 semanas e, após findado esse período, deve ser
realizada a retirada do 3º adesivo para aguardar o sangramento de privação. Por conta da sua
via de absorção, esse método pode apresentar redução da eficácia em mulheres que possuem
peso corporal a partir de 90 Kg, não sendo recomendado seu emprego nesse grupo.
CAPÍTULO X | 175
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
aaaaaa
colocado para que seja dado início a um novo ciclo. É importante ressaltar ainda a necessidade
a
do uso combinado de métodos de barreira durante os primeiros 7 dias após a introdução do
método, a qual deve acontecer do primeiro ao quinto dia do ciclo menstrual.
No tocante aos progestagênios isolados, é importante salientar a existência de
diferentes critérios de elegibilidade para seu uso, também descritos na TABELA 3. As principais
apresentações e formulações disponíveis no país serão mencionadas a seguir:
Pílulas de progestagênios
Também chamado de minipílula, esse método é uma composição que contém baixas
concentrações de progestagênios. No Brasil as principais formulações disponíveis são a base
de acetato de noretisterona, linestrenol, levonorgestrel e desogestrel e o seu uso é feito por
via oral, de forma contínua, devendo ser realizado, no mesmo horário, diariamente, de forma
rigorosa. O fato de não conter um estrogênio o torna viável para ser utilizado em situações
nas quais o contraceptivo hormonal combinado estaria contraindicado, com destaque para
seu uso como alternativa durante a amamentação, momento no qual sua eficácia
contraceptiva é maior. É importante destacar que, após o período de lactação, esse método
torna-se menos eficaz do que grande parte dos demais métodos hormonais.
Ademais, existem algumas distinções entre a pílula que contém desogestrel e as
demais minipílulas, visto que a primeira, capaz de inibir a ovulação na maioria dos ciclos,
possui maior eficácia e permite atrasos de até 12 horas, sem prejuízo a sua ação. Dessa forma,
o produto a base de desogestrel está mais indicado para pacientes fora do período de
amamentação do que os demais anticoncepcionais orais apenas de progestagênio.
Implante subdérmico
Os implantes subdérmicos são contraceptivos a base de progestagênios e constituem
uma alternativa vantajosa para mulheres com contraindicações aos métodos hormonais
combinados. Atualmente, o modelo mais comercializado no Brasil é a base de etonogestrel,
mas estão disponíveis implantes com variadas composições. Esse método também apresenta
a vantagem de grande durabilidade, podendo o modelo de etonogestrel permanecer no
organismo por até três anos. Ele ainda é associado a rápida reversibilidade, com retorno
imediato à fertilidade após a remoção do dispositivo.
CAPÍTULO X | 176
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Trimestral injetável
aaaaaa
a
O principal contraceptivo injetável com composição exclusiva de progestagênio no
Brasil é o acetato de medroxiprogesterona de depósito (AMP-D). Sua liberação ocorre de
forma lenta e a reaplicação só precisa ser novamente realizada após 90 dias, por via
intramuscular, vantagem no que diz respeito a outros métodos contraceptivos que exigem
maior disciplina da usuária. Tem como vantagens ainda a sua boa eficácia e disponibilidade,
além da indução de amenorreia na maioria das pacientes, após os primeiros anos, recurso que
pode ser utilizado no manejo de condições como menorragia. Ademais, por ser um método
que contém apenas progestagênio, pode ser usado em pacientes com contraindicações ao
estrogênio. Suas principais desvantagens dizem respeito ao possível risco de redução da
densidade mineral óssea e alterações do metabolismo lipídico, além da queixa de ganho de
peso. Podem estar presentes ainda sangramentos irregulares, acne, redução da libido,
cefaleia, entre outras queixas. É importante ressaltar que existe uma demora, em torno de
nove meses, após a descontinuação do método, para a retomada da fertilidade, fator que
deve ser considerado no momento da escolha do contraceptivo.
5. DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS
Os dispositivos intrauterinos (DIUs) são objetos flexíveis, de dimensões variadas que,
ao serem inseridos na cavidade uterina, exercem função contraceptiva, podendo ou não
conter a presença de hormônios. Aqui serão abordados o DIU de cobre e o sistema
intrauterino liberador de levonorgestrel (SIU-LNG).
DIU de Cobre
É indicado para mulheres que procuram métodos reversíveis de longa duração, uma
vez que podem permanecer no organismo de 10 (TCu-380 A) a 5 anos (MLCu-375), de acordo
com o modelo utilizado. Esse método pode ser ainda uma alternativa na presença de
contraindicações ao uso de estrogênio ou em situações nas quais o profissional de saúde
identifica um uso inadequado do método atual e orienta a sua substituição. As principais
contraindicações relativas (categoria 3) e absolutas (categoria 4) para introdução desse
método estão dispostas na TABELA 4, segundo os critérios de elegibilidade da Organização
Mundial da Saúde (OMS, 2015):
CAPÍTULO X | 177
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
aaaaaa
Tabela 4 – Contraindicações ao uso do diu de cobre
Contraindicações relativas
De ≥ 48 horas a < 4 semanas de
pós-parto
Iniciar o uso em paciente com lúpus
eritematoso sistêmico (LES) associado a
trombocitopenia severa
a Contraindicações absolutas
Gravidez
Sepse puerperal
CAPÍTULO X | 178
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
aaaaaa
resultado que pode ser útil no manejo de determinadas condições associadas a menorragia e
algumas causas de sangramento uterino anormal.
a
Atualmente, estão disponíveis, no mercado brasileiro, dois dispositivos intrauterinos
hormonais: o DIU Mirena® e o DIU Kyleena®, cujas diferenças de maior relevância residem nas
suas dimensões e dosagens hormonais. Algumas das principais características de ambos os
dispositivos estão expostas na TABELA 5.
CAPÍTULO X | 179
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
aaaaaa
Tabela 6 – Contraindicações ao uso dos sistemas intrauterinos liberadores de levonorgestrel*
Contraindicações relativas
De ≥ 48 horas a < 4 semanas de
pós-parto
Quadro agudo de trombose venosa profunda
(TVP) ou de embolia pulmonar
a Contraindicações absolutas
Gravidez
Sepse puerperal
6. DE EMERGÊNCIA
A anticoncepção de emergência (AE) diz respeito aos métodos utilizados em caso de
relação desprotegida que poderia ocasionar uma gestação indesejada, como intercurso sexual
não planejado, percepção de falha do método em uso ou violência sexual. Diante disso, é
importante frisar que esse método não deve ser empregado de forma regular, substituindo
outros contraceptivos, uma vez que se mostra menos eficaz a longo prazo, além de
apresentar, com frequência, efeitos secundários indesejáveis.
É essencial ainda, que sejam desmistificadas ideias equivocadas como a de que a AE
seria abortiva, motivo pelo qual ainda existe receio quanto aos seu uso e prescrição. Também
CAPÍTULO X | 180
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
aaaaaa
é importante trazer esclarecimentos quanto a ausência de proteção contra ISTs oferecida pela
a
AE, o que pode tornar necessário acompanhamento adicional e a oferta de profilaxias pós-
exposição. As principais formas atuais aceitáveis de oferecer a AE são:
Método Yuzpe
Essa técnica corresponde à utilização de altas doses de contraceptivos orais
combinados. O esquema consiste na ingestão de duas doses iguais, com intervalo de 12 horas,
de 100 mcg de etinilestradiol e 500 mcg de levonorgestrel, somando em dose total de 0,2 mg
de etinilestradiol e 1 mg de levonorgestrel. A primeira dose deve tomada o mais rapidamente
possível, após a atividade sexual e, preferencialmente, até 72 horas desta.
DIU de cobre
Naquelas pacientes que apresentam desejo de iniciar o uso de um dispositivo
contraceptivo de longa duração, o DIU de cobre é considerado uma alternativa viável. Ele pode
ser inserido até 120 horas após a relação sem proteção.
7. MÉTODOS DEFINITIVOS
Indivíduos que não desejam filhos ou já possuem prole constituída podem optar por
buscar os métodos cirúrgicos definitivos. Essa opção demanda sensibilidade por parte do
profissional de saúde quanto a orientação da pessoa ou núcleo familiar que a procura, sendo
seu dever fundamental fornecer o total esclarecimento quanto a irreversibilidade dos
métodos. Também é dever da equipe multidisciplinar o fornecimento de informações quanto
a existência de outros métodos contraceptivos e a garantia do consentimento esclarecido dos
envolvidos.
CAPÍTULO X | 181
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
aaaaaa
Segundo a legislação brasileira (BRASIL, 1996), a esterilização voluntária é permitida
a
para homens e mulheres, com capacidade civil plena, com idade maior que 25 anos ou, pelo
menos, dois filhos vivos ou nos casos em que há risco comprovado à vida ou à saúde da mulher
ou do futuro concepto. Para pessoas do sexo feminino, o procedimento é vetado durante a
gestação e durante os dois meses após o parto ou aborto.
Os procedimentos disponíveis para a esterilização cirúrgica são a ligadura das trompas
(laqueadura ou ligadura tubária) e a ligadura dos canais deferentes (vasectomia). Por seu
caráter mais simples e pela possibilidade de ser realizada ambulatorialmente, a vasectomia é
o procedimento de primeira escolha, nos casos em que há aceitação por parte do indivíduo
do sexo masculino.
8. MANEJO
Por conta da diversidade de métodos disponíveis, é essencial que sejam levadas em
conta as diversas variáveis envolvidas no processo de prescrição dos métodos contraceptivos.
Durante a anamnese dos pacientes, deve-se considerar os fatores e condições pré-existentes
que atuem como contraindicações a utilização de certos métodos, bem como a presença de
possíveis dificuldades ou equívocos na utilização de atuais ou futuros anticoncepcionais, com
destaque para aqueles que dependem da disciplina dos envolvidos e da sua adesão para uma
máxima eficácia. Também é relevante a compreensão de fatores psicológicos, culturais e
religiosos e aspirações reprodutivas que possam interferir no processo de escolha, além dos
objetivos que aquele indivíduo ou família buscam atingir com a adoção de determinado
método.
No tocante ao exame físico, a realização do exame ginecológico não é imperativa para
a prescrição de métodos contraceptivos, mas é importante que sejam identificadas e tratadas
possíveis alterações patológicas, antes da introdução do método, principalmente quando seu
uso envolve contato direto com a genitália. Também se recomenda a aferição da pressão
arterial quando se lança mão de métodos contendo estrogênio em sua composição,
objetivando a avaliação de distúrbios hipertensivos. A realização de exames complementares
laboratoriais e de imagem também não é mandatória para a sua iniciação em pacientes
hígidas.
CAPÍTULO X | 182
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
aaaaaa
Ressalta-se ainda, que, no momento de escolha entre os diferentes métodos, é de
a
fundamental importância que sejam considerados e discutidos com os pacientes os seus
valores de eficácia, expostos na TABELA 7. A eficácia diz respeito as taxas de falha de um
método, em um determinado período, e o índice mais frequentemente empregado para
expressá-la é o índice de Pearl, cujo cálculo se dá da seguinte forma:
9. CASO CLÍNICO
Paciente, sexo feminino, 40 anos, tabagista 20 cigarros/dia. Nega gestações anteriores
e nega desejo de constituir prole. Procura o serviço na UBS com desejo de utilizar
contraceptivo oral combinado, afirmando possuir múltiplos parceiros e relatando insegurança
com o uso isolado do preservativo. Refere enxaqueca com aura recorrente há 6 meses e nega
outras comorbidades e história de eventos tromboembólicos na família.
CAPÍTULO X | 183
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
QUESTÕES PROPOSTAS
aaaaaa
a
1. Quanto a viabilidade da utilização de um contraceptivo oral combinado nesse caso:
a. Ausência de prole constituída é contraindicação relativa.
b. Idade ≥ 35 anos e consumo de ≥ 15 cigarros por dia é contraindicação absoluta.
c. Idade ≥ 40 anos é contraindicação relativa.
d. Para a prescrição desse método é sempre necessária a realização de exames
complementares para pesquisa de trombofilias.
e. A enxaqueca com aura não contraindica o uso desse método.
2. Sobre outros métodos contraceptivos e sua viabilidade, assinale a alternativa correta:
a. A paciente não atenderia os critérios para laqueadura tubária, uma vez que possui
menos de 2 filhos.
b. A dose diária de 1,5 mg de levonorgestrel isolado seria uma alternativa viável.
c. O uso isolado de um diafragma com espermicida ofereceria a proteção almejada.
d. A paciente atenderia aos critérios para a colocação de um DIU de cobre.
e. A carga tabágica da paciente inviabiliza o uso de métodos isolados de progesterona.
3. Com relação ao caso, qual das alternativas abaixo contém contraindicação para a
manutenção de um sistema intrauterino liberador de levonorgestrel (SIU-LNG)?
a. Ausência de prole constituída.
b. Enxaqueca com aura
c. Idade acima de 40 anos
d. Tabagismo ≥ 15 cigarros dia
e. Ausência de gestação anterior
Gabarito: 1.B; 2.D; 3. B
CAPÍTULO X | 184
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
FLUXOGRAMA
aaaaaa
a
FIGURA 1 – Anticoncepção na atenção primária à saúde
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Federal, que trata do planejamento familiar, estabelece penalidades e dá outras
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CAPÍTULO X | 185
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
aaaaaa
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CAPÍTULO X | 186
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
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CAPÍTULO X | 187
CONDUTAS CLÍNICAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE