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Inconstitucionalidade por omissão proposta pelo Procurador-Geral da
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República em face da mora do Congresso Nacional em tornar efetivo o art.
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155, § 1º, III, da Constituição Federal, que dispõe:
0
01/
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre:
I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou
-
direitos; (...)
to
§ 1º O imposto previsto no inciso I
vo
(...)
III - terá competência para sua instituição regulada por lei
de
complementar:
a) se o doador tiver domicilio ou residência no exterior;
ta
repercussão geral (Tema 825), em que a CORTE assentou ser inviável que
Estados e o Distrito Federal instituam ITCMD nas hipóteses referidas no art.
Vi
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suas incumbências e prerrogativas tributárias estatuídas nos arts. 24, I e § 3º,
e 155, I, da CF e no art. 34, § 3º, do ADCT ”.
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Ao final, postula (a) seja declarada a omissão inconstitucional na edição
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da lei complementar que torne efetivo o art. 155, § 1º, III, da CF; e (b) seja
01/
fixado prazo razoável para que o Congresso Nacional supra mora
legislativa.
-
to
O Senado Federal defendeu o não conhecimento da ação e, no mérito,
vo
sua improcedência, nos seguintes termos:
de
Ação direta de inconstitucionalidade por omissão.
ta
improcedência do pedido:
ná
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O Procurador-Geral da República reiterou as razões da inicial, no
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sentido do conhecimento da ação e da procedência do pedido.
0
01/
Submetida a controvérsia a julgamento virtual, o Ministro DIAS
TOFFOLI, relator do caso, julga procedente o pedido conforme a seguinte
-
ementa:
to
vo
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade por omissão.
Direito tributário. ITCMD. Mora legislativa na edição da lei
de
complementar a que se refere o art. 155, § 1º, III, da Constituição
Federal. Inconstitucionalidade. Estabelecimento de prazo para que o
ta
suprir a omissão.
1. No julgamento do RE nº 851.108/SP, Tema nº 825, a Corte fixou
mi
dispositivo constitucional”.
2. Passados mais de trinta e três anos do advento da Constituição
rtu
É o relato do essencial.
3
A respeito da controvérsia constitucional subjacente à presente Ação
Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (qual seja: competência
concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal, a qual inclui
também normas de natureza tributária, a teor do art. 24, I, da Constituição
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Federal), tenho defendido, em sede doutrinária ( Direito constitucional . 37.
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ed. 2021. São Paulo: Atlas, Capítulo 8 – Organização Político-
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Administrativa, item 2.4), que a Constituição Federal de 1988 adotou a
competência concorrente não cumulativa ou vertical, ou seja, a competência
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da União está adstrita ao estabelecimento de normas gerais, devendo os
01/
Estados e o Distrito Federal especificá-las, por meio de suas respectivas leis,
fazendo uso da competência suplementar (CF, art. 24, § 2º).
-
to
Doutrinariamente, costuma-se dividir a competência suplementar dos
vo
Estados-Membros e do Distrito Federal em duas espécies: a complementar e
a supletiva. A primeira (competência complementar) dependerá de prévia
de
existência de lei federal, a ser detalhada pelos Estados-Membros e Distrito
Federal. Por sua vez, a segunda (competência supletiva) é desencadeada em
ta
no que lhe for contrário. Nesse sentido, entre outros, destaco os seguintes
precedentes: ADI 2818, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe de 1º
ná
/8/2013; ADI 429, Rel. Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, DJe de 30/10/2014;
ADI 5077, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, DJe de 23
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regulamentação sobre “o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a
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elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes
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orçamentárias e da lei orçamentária anual” (CF, art. 165, § 9º). No
plano federal, enquanto não editadas as normas gerais, aplica-se o
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disposto no art. 35, § 2º, incisos I, II e III, do ADCT.
01/
2. O art. 35, § 2º, I, do ADCT dispõe que a lei do plano plurianual
tem vigência até “o final do primeiro exercício financeiro do mandato
presidencial subsequente”, com início no segundo ano de mandato.
-
Assim, no ano em que for editado o PPA, a Lei de Diretrizes
to
Orçamentárias deve ser compatível com o plano então vigente (CF,
vo
art. 166, § 4º).
3. No caso da Emenda Constitucional 59/2011 do Estado do Rio
de
Grande do Sul, o legislador estadual manteve a mesma sistemática
aplicada à União, embora com prazos próprios de tramitação das leis
ta
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A importância da instituição dos tributos na efetivação das políticas
orçamentárias é tanta que o art. 162 da Constituição Federal prevê ampla
publicização e transparência dos dados referentes à arrecadação dos
tributos, de forma que devem ser divulgados até o último dia do mês
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subsequente ao da arrecadação. Corrobora a importância da instituição
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/arrecadação dos tributos o art. 11 da Lei Complementar 101/2000 (Lei de
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Responsabilidade Fiscal), que prevê que a responsabilidade na gestão fiscal
somente será garantida com a efetiva previsão e arrecadação de todos os
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tributos da competência do ente federativo, impondo, ainda, graves
01/
consequências àqueles que forem inertes.
-
to
Diante da autonomia financeira dos entes federados, bem como da
importância da arrecadação tributária para se fazer frente à efetivação de
vo
políticas orçamentárias, nota-se que a inércia da União em editar normas
gerais sobre determinado tributo de competência dos Estados importa
de
grave violação ao pacto federativo, impactando, inclusive, na
implementação de políticas sociais em prol de toda a população.
ta
nu
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imposto sobre a doação de bens móveis, os Estados-membros podem
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fazer uso de sua competência legislativa plena com fulcro no art. 24, §
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3º, da Constituição. II – A jurisprudência do STF firmou orientação no
sentido de que, mesmo antes da EC 42/03 – que incluiu o § 6º, II, ao
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art. 155 da CF –, já era permitida a instituição de alíquotas de IPVA
01/
diferenciadas segundo critérios que não levem em conta a capacidade
contributiva do sujeito passivo, por não ensejar a progressividade do
tributo. É o que se observa no caso dos autos, em que as alíquotas do
-
imposto foram estabelecidas em razão do tipo e da utilização do
to
veículo. III – Agravo regimental improvido. (RE 601.247 AgR, Rel.
vo
Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe de 13/06
/2012).
de
I. Taxa Judiciária: sua legitimidade constitucional, admitindo-se
que tome por base de cálculo o valor da causa ou da condenação, o
ta
Moreira, RTJ 112/34; Rp 1.074-, 15.8.84, Falcão, RTJ 112/499; ADIn 948-
rtu
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ante a ausência de normas gerais da União, conforme o art. 24, § 3º, da CF
/1988, e o art. 34, § 3º, do ADCT, ressalvada a posterior suspensão daqueles
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pontos em que houver contrariedade com superveniente legislação de
âmbito nacional.
0
01/
Ocorre, entretanto, que, no julgamento do Recurso Extraordinário
851.108/SP, paradigma de repercussão geral (Tema 825), este SUPREMO
-
TRIBUNAL FEDERAL, por maioria e nos termos do voto reajustado do
to
Relator, o eminente Min. DIAS TOFFOLI, concluiu pela impossibilidade de
vo
os Estados-Membros e o Distrito Federal usarem da competência legislativa
plena, com fulcro no art. 24, § 3º, da Constituição Federal e no art. 34, § 3º,
de
das suas disposições transitórias, para a instituição do ITCMD nas hipóteses
previstas no art. 155, § 1º, III, alíneas a (“ doador tiver domicílio ou
ta
Complementar Federal.
-
al
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certas regras para a definição da competência tributária das unidades
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federadas (estados e Distrito Federal), determinando basicamente
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duas regras de competência, de acordo com a natureza dos bens e
direitos: é competente a unidade federada em que está situado o bem,
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se imóvel; é competente a unidade federada onde se processar o
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inventário ou arrolamento ou onde tiver domicílio o doador,
relativamente a bens móveis, títulos e créditos. 3. A combinação do
art. 24, I, § 3º, da CF, com o art. 34, § 3º, do ADCT dá amparo
-
constitucional à legislação supletiva dos estados na edição de lei
to
complementar que discipline o ITCMD, até que sobrevenham as
vo
normas gerais da União a que se refere o art. 146, III, a, da
Constituição Federal. De igual modo, no uso da competência
de
privativa, poderão os estados e o Distrito Federal, por meio de lei
ordinária, instituir o ITCMD no âmbito local, dando ensejo à cobrança
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pendentes de conclusão até o mesmo momento, nas quais se discuta:
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(1) a qual estado o contribuinte deve efetuar o pagamento do ITCMD,
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considerando a ocorrência de bitributação; e (2) a validade da
cobrança desse imposto, não tendo sido pago anteriormente. (RE
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851.108, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe de 19/4/2021).
01/
Muito embora o Relator do referido Recurso Extraordinário, Ministro
-
DIAS TOFFOLI, tenha acolhido a proposta do Ministro ROBERTO
to
BARROSO no sentido de se formular apelo ao legislador para que
vo
discipline a matéria do art. 155, § 1º, III, da Constituição Federal, no que
foram acompanhados pelos Ministros ROSA WEBER e NUNES MARQUES,
de
o TRIBUNAL não acolheu a proposta naquela oportunidade.
ta
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Em tal situação, o Estado abstém-se de cumprir o dever de prestação
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que a Constituição lhe impôs.
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Desse no facere ou no prestare , resulta a inconstitucionalidade
por omissão, que pode ser total, quando é nenhuma a providência
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adotada, ou parcial, quando é insuficiente a medida efetivada pelo
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Poder Público.
-
parcial, da opção legislativa , verificada quando o Congresso Nacional ou a
to
Casa Legislativa respectiva exercem a sua função legiferante precípua,
vo
mediante legítima valoração discricionária das opções que se colocam ao
seu exame para a formação da norma.
de
ta
Federal, ainda não houve a edição da lei complementar referida pelo seu
mi
art. 155, § 1º, III, do que decorre, como insustentável efeito, inúmeros
prejuízos aos Estados-Membros, que se encontram impossibilitados de
exercer plenamente suas competências.
-
al
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à criação, incorporação, desmembramento e fusão de municípios.
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Existência de notório lapso temporal a demonstrar a inatividade do
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legislador em relação ao cumprimento de inequívoco dever
constitucional de legislar, decorrente do comando do art. 18, § 4o, da
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Constituição. 2. Apesar de existirem no Congresso Nacional diversos
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projetos de lei apresentados visando à regulamentação do art. 18, § 4º,
da Constituição, é possível constatar a omissão inconstitucional
quanto à efetiva deliberação e aprovação da lei complementar em
-
referência. As peculiaridades da atividade parlamentar que afetam,
to
inexoravelmente, o processo legislativo, não justificam uma conduta
vo
manifestamente negligente ou desidiosa das Casas Legislativas,
conduta esta que pode pôr em risco a própria ordem constitucional. A
de
inertia deliberandi das Casas Legislativas pode ser objeto da ação
direta de inconstitucionalidade por omissão . 3. A omissão legislativa
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inconstitucional. Violação do art. 91 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT). Edição de lei complementar. 5.
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Ação julgada procedente para declarar a mora do Congresso Nacional
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quanto à edição da Lei Complementar prevista no art. 91 do ADCT,
fixando o prazo de 12 meses para que seja sanada a omissão. Após
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esse prazo, caberá ao Tribunal de Contas da União, enquanto não for
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editada a lei complementar: a) fixar o valor do montante total a ser
transferido anualmente aos Estados-membros e ao Distrito Federal,
-
considerando os critérios dispostos no art. 91 do ADCT; b) calcular o
to
valor das quotas a que cada um deles fará jus, considerando os
vo
entendimentos entre os Estados-membros e o Distrito Federal
realizados no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária –
CONFAZ (ADO 25, Rel. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, DJe de 18
de
/08/2017).
ta
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É o voto.
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