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Romantismo

no
Brasil
Professora: Naire Albuquerque
Introdução
O Romantismo no Brasil foi um movimento literário do século XIX que
consagrou grandes autores na literatura.
O marco inicial se deu com a publicação da obra “Suspiros poéticos e
saudades”, de Gonçalves de Magalhães. Iniciada nos anos de 1830, o
Romantismo no Brasil firmou-se somente na década seguinte e persistiu até
1880.

Jean Baptiste Debret- Estudo para a sagração de Dom Pedro


Características
• Presença do indígena;
• Bem x Mal;
• Individualismo burguês;
• Supervalorização do casamento/ mito do primeiro amor;
• Amor platônico;
• Rompimento com a tradição clássica;
• Nacionalismo e ufanismo;
• Culto à natureza;
• Maior liberdade formal;
• Idealização da mulher;
• Subjetivismo e egocentrismo;
• Sentimentalismo exacerbado;
• Religiosidade;
• Fuga do cotidiano.
Contexto histórico
O Romantismo no Brasil surge pouco depois da Independência, que
aconteceu em 7 de setembro de 1822. O país buscava consolidar seu poder e
a organização política, após quase 400 anos de colonização portuguesa. Esse
processo de transformações iniciou-se antes da Independência, em 1808,
com a vinda da família real portuguesa, fugindo das invasões napoleônicas
na Europa.
Ao chegar ao Brasil, Dom João, príncipe regente, declarou que houvesse a
abertura dos portos às nações amigas, o que, consequentemente, resultou na
ascensão e diversificação do comércio no país.
Sendo assim, os ideias políticos, artísticos e socias do período romântico
tinham o objetivo de criar no país uma consciência nacional.
Significativamente, o “grito” mais consciente do movimento não veio do
país, mas de brasileiros que residiam em Paris: “Tudo pelo Brasil, e para o
Brasil”, dizia a epígrafe de “Niterói”- “Revista Brasiliense” (1836).
Pouco antes, Gonçalves de Magalhaes, um dos diretores dessa revista, havia
publicado em Paris “Suspiros poéticos e saudades”, primeira coletânea de
poemas românticos.
Gonçalves Magalhães liderou o grupo fluminense de escritores que formou
a revista “Niterói”. Embora os escritores tenham sido bastante influenciados
pelas literaturas românticas da França, da Inglaterra e de Portugal, em vista da
nossa dependência cultural dos países mais desenvolvidos, houve algumas
vitórias parciais: renovaram temas literários.
Gerações
Geração Denominação Representantes Temas
1ª geração Nacionalista • Gonçalves • Idealização do
Indianista Magalhães; indígena;
• Gonçalves Dias; • Saudade da pátria;
• José de Alencar. • Natureza;
• Religiosidade;
• Amor impossível.
2ª geração Ultrarromantismo • Álvares de Azevedo; • Dúvida;
Byronismo • Cassimiro de Abreu; • Tédio;
• Fagundes Varela; • Morte;
• Junqueira Freire. • Infância;
• Medo do amor;
• Sofrimento.
3ª geração Social • Castro Alves; • Defesa das causa
Condoreirismo • Sousândrade; humanitárias;
• Denúncia da
escravidão;
• Amor erótico.
1ª GERAÇÃO
Gonçalves Magalhães (1811-1882)
O principal responsável pelas publicações de “Niterói–
Revista Brasiliense”, “Minerva” e “Guanabara”, órgãos de
imprensa que promoveram sistematicamente os ideais
românticos brasileiros, Domingos Gonçalves de
Magalhães teve como meta a implantação da nova
corrente literária no país, com o apoio do imperador D.
Pedro II.
“Suspiros poéticos e saudades”
O Dia 7 de Setembro, em Paris
Essa coletânea poética, publicada em
1836, inicia oficialmente o Romantismo Longe do belo céu da Pátria minha,
brasileiro, apresentando em seu prefácio as Que a mente me acendia,
posturas do poeta contra o artificialismo Em tempo mais feliz, em qu'eu cantava
clássico e a favor da livre expressão. Das palmeiras à sombra os pátrios feitos;
Sem mais ouvir o vago som dos bosques,
Nem o bramido fúnebre das ondas,
Que n'alma me excitavam
Altos, sublimes turbilhões de idéias;
Com que cântico novo
O Dia saudarei da Liberdade?
Gonçalves Dias (1823-1864)
Ligado ao grupo de Gonçalves Magalhães, imprimiu à sua
poesia um tom particular—uma aliança da razão ao sentimento –-
legando ao Romantismo brasileiro uma obra equilibrada, “a mais
equilibrada poesia romântica”, no julgamento de Manoel
Bandeira.
Já nos “Primeiro cantos”, de 1846, salta à vista a proposta de
“casar o coração com o entendimento, com a ideia e com a
paixão”. Já na abertura, encontra-se a célere Canção do Exílio,
talvez seu mais conhecido poema.
Obras: Primeiros Cantos; Segundos Cantos; Sextilhas de frei Antão;
Últimos Cantos; Os timbiras; Dicionário da Língua Tupi; Brasil e
Oceania e etc
Canção do exílio
Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras


Onde canta o Sabiá, Minha terra tem primores,
As aves, que aqui gorjeiam, Que tais não encontro eu cá;
Não gorjeiam como lá. Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Nosso céu tem mais estrelas, Minha terra tem palmeiras,
Nossas várzeas têm mais flores, Onde canta o Sabiá.
Nossos bosques têm mais vida,
Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores.
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Em cismar, sozinho, à noite, Que não encontro por cá;
Mais prazer encontro eu lá; Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Onde canta o Sabiá.
Joaquim Manoel de Macedo (1820-1882)
Cabe ao médico Joaquim Manuel de Macedo o mérito de ser o
iniciador oficial romance romântico brasileiro. “A Moreninha”,
publicado em 1884, consagra-o e o distingue como um escritor
moldado para agradar ao público, de fácil entendimento, fiel a seus
leitores, responsável pelo registro social de seu tempo. O autor
concentrou os tramas de seus romances em namoros impossíveis, no
corre-corre de algum jovem casal e no cenário brasileiro, fazendo
com que o leitor se sentisse “em casa”.
Obras: A Moreninha; Dois amores; O moço loiro; Rosa; A baronesa do
amor; Vicentina; As vítimas algozes; O forasteiro; etc.
A moreninha
Trecho em que o jovem Augusto declara seu amor a Carolina, conhecida como Moreninha.
• (...)
Como de costume, a tarde teve de ser empregada em passeios à borda
do mar e pelo jardim. O maior inimigo do amor é a civilidade. Augusto - E a senhora já ama também?
o sentiu, tendo de oferecer o braço à Srª D. Ana: mas esta lhe fez cair a Novo silêncio; ela pareceu não ouvir, mais suspirou. Ele falou
sopa no mel, rogando-lhe que o reservasse para sua neta. menos baixo:
(...) - Já ama também?...
Em uma das ruas do jardim duas rolinhas mariscavam: mas, ao Ela abaixou ainda mais os olhos e com voz quase estinta disse:
sentirem passos, voaram e pousando não muito longe, em um arbusto, - Não...Não sei...talvez...
começaram a beijar-se com ternura: e esta cena se passava aos olhos de - E a quem?...
Augusto e Carolina!... -Eu não perguntei a quem o senhor amava.
Igual pensamento, talvez, brilhou em ambas aquelas almas, porque os -Quer que lho diga?...
olhares da menina e do moço se encontraram ao mesmo tempo e os -Eu não pergunto.
olhos da virgem modestamente se abaixaram e em suas faces se -Posso eu fazê-lo?
acendeu um fogo, que era pejo. E o mancebo, apontando para ambos,
-Não lho impeço.
-É a senhora.
disse: D. Carolina fez-se cor-de-rosa e só depois de alguns instantes
- Eles se amam! pôde perguntar, forcejando um sorriso:
E a menina murmurou apenas: -Por quantos dias?
- São felizes. -Oh! Para sempre!... - respondeu Augusto, apertando-lhe
-Pois acredita que em amor possa haver felicidade? vivamente o braço.
-Às vezes. (...)
-Acaso, já tem a senhora amado!...
-Eu?!...e o senhor?
- Comecei a amar há poucos dias. Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha,
págs. 140 e 141. São Paulo, FTD,1991
A virgem guardou silêncio e o mancebo, depois de alguns instantes,
perguntou tremendo:
José de Alencar (1829-1877)
O maior ficcionista romântico nacional foi José Martiniano de Alencar. Sua
meta era formar uma literatura autenticamente brasileira, sem laços com
Portugal, que retratasse nossa realidade. Sua obra, em conjunto, constituiu o
panorama do Brasil, focalizando desde o mundo selvagem e a miscigenação
braço-índio até a sociedade burguesa no campo e na cidade.

Obras:
Romances históricos: As minas de prata; A Guerra dos Mascates; Alfarrábios.
Romances indianistas: O Guarani; Iracema; Ubajara.
Romances regionais: O gaúcho; O tronco do ipê; Til; O Sertanejo;
Romances urbanos: Cinco minutos; A viuvinha; Lucíola; Diva; A pata da gazela;
Sonhos d’ouro; Senhora; Encarnação.
O Guarani
capítulo X
No dia seguinte, ao raiar da manhã, Cecília abriu a portinha do jardim e aproximou-se da cerca.
— Peri! disse ela.
O índio apareceu à entrada da cabana; correu alegre, mas tímido e submisso.
Cecília sentou-se num banco de relva; e a muito custo conseguiu tomar um arzinho de severidade, que de vez em quando
quase traia-se por um sorriso teimoso que lhe queria fugir dos lábios.
Fitou um momento no índio os seus grandes olhos azuis com uma expressão de doce repreensão; depois disse-lhe em um
tom mais de queixa do que de rigor:
— Estou muito zangada com Peri!
O semblante do selvagem anuviou-se.
— Tu, senhora, zangada com Peri! Por quê?
— Porque Peri é mau e ingrato; em vez de ficar perto de sua senhora, vai caçar em risco de morrer! disse a moça ressentida.
— Ceci desejou ver uma onça viva!
— Então não posso gracejar? Basta que eu deseje uma coisa para que tu corras atrás dela como um louco?
— Quando Ceci acha bonita uma flor, Peri não vai buscar? perguntou o índio.
— Vai, sim.
— Quando Ceci ouve cantar o sofrer, Peri não o vai procurar?
— Que tem isso?
— Pois Ceci desejou ver uma onça, Peri a foi buscar.
Cecília não pôde reprimir um sorriso ouvindo esse silogismo rude, a que a linguagem singela e concisa do índio dava uma
certa poesia e originalidade. [...]
2ª GERAÇÃO
Álvares de Azevedo (1831-1852)

Foi um poeta, escritor e contista, da Segunda Geração Romântica brasileira.


Suas poesias retratam o seu mundo interior. É conhecido como "o poeta da
dúvida".
Faz parte dos poetas que deixaram em segundo plano os temas nacionalistas
e indianistas, usados na Primeira Geração Romântica, e mergulha fundo em
seu mundo interior. Foi caracterizado por diversas formas: “poeta da
adolescência”, “poeta da solidão”, “poeta da morte”.
Obras: Lira dos 20 anos; Noite na taverna; Macário; O conde Lopo; etc.
LEMBRANÇAS DE MORRER

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,


Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura


A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio


Do deserto, o poento caminheiro,
– Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
(...)
Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas…
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!
(...)
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.
(...)
Álvares de Azevedo
Cassimiro de Abreu (1839-1860)
À simplicidade da matéria poética corresponde o amaneiramento
paralelo da forma. Casimiro de Abreu desdenha o verso branco e o
soneto, prefere a estrofe regular, que melhor transmite a cadência da
inspiração “doce e meiga” e o ritmo mais cantante. Colocado entre os
poetas da segunda geração romântica, expressa, através de um estilo
espontâneo, emoções simples e ingênuas.

Obras:
• Fora da Pátria, prosa (1855); Meu Lar, poesia (1855); Minha Mãe, poesia (1855); Rosa
Murcha, poesia (1855); Saudades, poesia (1856); Suspiros, poesia (1856); Camões e o
Jau, teatro (1856); Carolina, romance (1856); Camila, memórias (1856); Meus Oito
Anos, poesia (1857); Simpatia, poesia (1857); Minha Terra, poesia (1857); Segredos,
poesia (1857); No Jardim, poesia (1857); Longe do Lar, prosa (1858); Treze Cantos,
poesia (1858); Folha Negra, poesia (1858); No Leito (1858); Primaveras, único livro
publicado, poesias, 1859.
Meus Oito Anos

Oh! que saudades que tenho Como são belos os dia


Da aurora de minha vida, Do despontar da existência!
Da minha infância querida - Respira a alma inocência
Que os anos não trazem mais! Como perfumes a flor
Que amor, que sonhos, que flores, O mar é - lago sereno,
Naquelas tardes fagueiras O céu - um manto azulado,
A sombra das bananeiras, O mundo – um sonho dourado,
Debaixo dos laranjais! A vida – um hino d’amor! (...)

Cassimiro de Abreu
3ª GERAÇÃO
Castro Alves (1847-1871)

Antônio Frederico de Castro Alves destaca-se como a voz mais importante da


terceira geração romântica, não só por ter sido consagrado o “poeta dos escravos”,
mas, principalmente, pelo tom vigoroso de sua poesia, ressonantes, indignados e
expressivos.
Inscreve-se na categoria de poeta condoreiro, cuja poesia é feita para ser
declamada, gritada em praça pública- uma poesia de denúncia dos horrores da
escravidão.

Obras: Espumas flutuantes; Gonzaga ou a Revolução de Minas; A cachoeira de Paulo


Alfonso; Os escravos.
O navio negreiro
Negras mulheres, suspendendo às tetas E ri-se a orquestra irônica, estridente...
Magras crianças, cujas bocas pretas E da ronda fantástica a serpente
Rega o sangue das mães: Faz doudas espirais ...
Outras moças, mas nuas e espantadas, Se o velho arqueja, se no chão resvala,
No turbilhão de espectros arrastadas, Ouvem-se gritos... o chicote estala.
Em ânsia e mágoa vãs! E voam mais e mais...
“Sempre que tiver medo, lembre-
se: aquele que enfrenta seus
monstros consegue ser ainda mais
forte.”

Naire Albuquerque

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