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ETNOMETODOLOGIA

SOCIOLOGIA - III
O que é ETNOMETODOLOGIA?
A ETNOMETODOLOGIA é um teoria que emerge na década de 1960 e buscava
um programa de pesquisa voltado para a DESCRIÇÃO ao invés da
EXPLICAÇÃO.
Um modelo teórico que propõe interpretar as bases da ordem social de um
modo diferente do proposto por Parsons ou Durkheim.

Um dos principais elaboradores da teoria da


etnometodologia foi Harold Garfinkel que foi um sociológo
e etnometodólogo, professor de sociologia na Universidade
da Califórnia em Los Angeles nos Estados Unidos.
Garfinkel afirmou que, para se entender a ordem social, deve-se entender
como os indivíduos, em suas vidas cotidianas, interpretam as situações
sociais, atuando, formando e transformando tais situações.

Portanto, ao invés de se perguntar como a sociedade é capaz de se manter


ordenada e em equilíbrio através da COERÇÃO DOS FATOS ou
ESTRUTURAS SOCIAIS sobre os indivíduos, a análise etnometodólogica
busca entender de que forma os indivíduos interpretam a vida social e
como suas interpretações influenciam suas ações nos diversos ambientes
de interação social.
Garfinkel propôs um método, uma teoria que interpretasse as
bases da ordem social, diferente do que já havia sido proposto
por Parson e Durkheim. Esses sociólogos focavam nos fatos,
funções ou nas estruturas sociais. O que o autor propõe então
é que se compreenda a ordem social, entendendo como os
indivíduos, no cotidiano, no dia a dia, nas suas atividades
comuns, como eles interpretam as situações sociais.
Qual é o método da Etnometodologia?

Garfinkel chamou de “etnométodo” o esforço interpretativo


que as pessoas fazem para compreender as situações sociais
antes de se posicionarem em relação a elas.

O etnométodo é um método de interpretação que os


indivíduos adotam para analisar os ambientes sociais dos
quais participam.
São elementos que interessam a
Etnometodologia:
O universo do SENSO COMUM é a arena privilegiada da
dinâmica da ação social (fundamentalmente, o arsenal de
procedimentos cognitivos, técnicas e métodos que municia os
atores sociais durante suas atividades ordinárias);

O PLANO DA LINGUAGEM como constituidora do mundo


social (especialmente no caráter relatável dos fatos).
Garfinkel é contrário a essa idéia de que a sociedade é impositiva, e cria a
etnometodogia, precisamente, em contraponto a alguns desses argumentos
parsonianos e/ou Durkheimianos.

Garfinkel discorda das análises “objetivizantes” do sistema social e se


recusa a reconhecer na lógica coercitiva de funcionamento dos sistemas
societários a base para a compreensão do comportamento individual e da
ordem social.

É a aplicação repetitiva e cotidiana desses etnométodos que garantem a


ordem social. Por isso, identificá-los e observar como eles são aplicados na
interação rotineira dos membros de determinada sociedade é o objetivo da
etnometodologia.
Se são os indivíduos que constroem os objetos de estudo da
sociologia, então a questão é: como é que isso ocorre? Como
é que os indivíduos, no dia a dia, constroem tais objetos, ou
seja, como é que eles constroem a sociedade? Essa é a grande
questão colocada por Garfinkel.
Garfinkel, ao propor a etnometodologia, não pretendeu invalidar ou
substituir as teorias sociológicas que lidam com esses grandes conceitos;
na verdade, o objetivo da pesquisa etnometodológica é o de mostrar que
tais conceitos, ou idéias, são produtos secundários da vida social.
É nesse sentido que os etnometodólogos dizem que as grandes estruturas
e fatos sociais são elementos de segunda ordem, pois os elementos de
primeira ordem são produzidos na VIDA COTIDIANA, nas interações
corriqueiras do DIA A DIA dos sujeitos sociais. É nesse nível da vida
social que vão se construindo, pouco a pouco, em cada micro-interação
social, os macro-fenômenos abordados pelas “grandes teorias sociais”.
Ao abandonar os grandes fenômenos sociais e se dedicar às
interações que os indivíduos estabelecem entre si no nível da vida
cotidiana, Garfinkel adotou uma postura teórico-metológica
conhecida como REDUCIONISMO SOCIOLÓGICO O autor
tirou o foco analítico das macro-estruturas e o colocou nas
MICRO-RELAÇÕES corriqueiras, que as pessoas vivem no
trabalho, na escola, no lazer e em outras esferas comuns da vida
social.
Garfinkel estabeleceu três pilares básicos da
etnometodologia:
1) o enfoque na VIDA COTIDIANA: as ações do dia a dia são a base da dinâmica social; é na vida
cotidiana que os indivíduos estabelecem as relações sociais fundamentais, retificam
comportamentos e valores ou os modificam, conforme suas interpretações do contexto social.
2) a metodologia da “REDUÇÃO SOCIOLÓGICA”: se o sentido da vida social e da ordem social é
construído nas ações cotidianas, na rotina dos indivíduos, então, é preciso reduzir o enfoque
sociológico, ou seja, é preciso deixar de dar atenção exclusiva para as grandes estruturas, como
classe, gênero, Estado, etc e é preciso dar atenção às ações mais simples e corriqueiras do dia a dia
das pessoas.
3) a relevância da LINGUAGEM na análise das interações sociais: se as interações cotidianas são
um objeto de estudo central na pesquisa sociológica, então, a linguagem praticada pelos membros
da sociedade – isto é, suas falas, gestos e feições, etc – deve se ser analisada com atenção, pois a
interação social cotidiana se dá através da linguagem! É através da linguagem que os indivíduos
externalizam o que pensam sobre a vida social.
As bases da ordem social segundo a
etnometodologia
Para reforçar a importância da linguagem na vida social, Garfinkel substituiu o
termo “indivíduo”, utilizado por outros sociólogos, pelo termo “MEMBRO”. O
primeiro termo não tem o sentido relacional implícito no segundo.

A ORDEM SOCIAL não é inevitável ou obrigatória. Ela é apenas um resultado


possível das relações entre os indivíduos, ou seja, atende a graus variados de
probabilidade, porque o entendimento mútuo e as reações adequadas são apenas
prováveis mas não são obrigatórias ou necessárias. Essa contingência ou
imprevisibilidade das interações sociais se dá em função do caráter conjectural das
interpretações feitas pelos indivíduos nas situações de interação.
Quando indivíduos estabelecem interações sociais – seja numa transação
econômica, numa deliberação política ou numa relação afetiva – eles nunca têm
certeza sobre os resultados que vão alcançar.
Ao ingressar numa rede social, cada indivíduo pode ter um objetivo prévio, mas o
resultado vai depender do andamento das interações, ou seja, da forma como cada
indivíduo envolvido vai interpretar a situação e reagir a ela.
O esforço compreensivo que fundamenta o comportamento individual exige um
constante ajuste do sujeito ao ambiente de interação e faz da ação social um
sistema aberto. Não apenas o objetivo da ação social é resultado de uma
coordenação mútua e incessante de pontos de vistas individuais, mas a própria
ORDEM SOCIAL é um resultado contingente de interpretações e comportamentos
prováveis, mas não necessários ou forçados pela estrutura social.
As idéias de Garfinkel são muito parecidas com as idéias dos
interacionistas simbólicos de George Mead e Herbert Blumer: os
indivíduos interpretam e ajudam a conformar a sociedade, não
são simplesmente moldados por ela.

Para Parsons e Durkheim, os indivíduos não afetam a direção dos


acontecimentos sociais, pois isso é definido pela estrutura ou pelo
sistema social, segundo Parsons, ou pelos fatos sociais, segundo
Durkheim
A SOCIALIZAÇÃO, para a etnometodologia, é o processo em que o
indivíduo apreende, através do uso prático da linguagem na vida
cotidiana, os parâmetros para a interpretação das situações real-
concretas vivenciadas no dia a dia da comunidade.
Para a etnometodologia, as instituições não têm caráter
normativo, mas INFORMATIVO. Elas não impõem um
comportamento, elas apenas informam as maneiras mais
adequadas e mais proveitosas para se comportar em
determinadas situações.
Garfinkel substitui as noções de sistema e de estrutura social pela
noção de processo social. Onde sociólogos viam fato social,
coerção, estrutura e sistema, Garfinkel procura revelar uma
dinâmica na qual os traços da aparente estabilidade da
organização social são continuamente (re)criados pelos
indivíduos nas situações particulares e diárias de interação.
Nesse processo, o membro da sociedade interpreta a situação a
partir do senso comum que constitui o pano de fundo cultural de
todos (o mundo vivido). A partir daí, o membro formula o seu
ponto de vista e define seu comportamento na situação.
IDEIAS CENTRAIS DA ETNOMETODOLOGIA
A etnometodologia não refuta a importância das teorias sociais
que lidam com conceitos “objetivos” ou modelos estruturantes da
realidade. Ela apenas evidencia as bases sociais dessas teorias e
ressalta a sua dependência com respeito ao mundo vivido, onde
todo sentido é produzido
As estruturas e os sistemas sociais são fortemente questionados
enquanto forças externas ou objetivas que coagem os indivíduos e
coíbem as transformações da sociedade.
IDEIAS CENTRAIS DA ETNOMETODOLOGIA

A abordagem etnometodológica enfatiza os graus de liberdade do


indivíduo e sua capacidade de mudar os rumos da sociedade,
através das interações cotidianas.
Dessa maneira, a etnometodologia reforça a necessidade de
utilização e/ou valorização do senso comum para compreender os
eventos cotidianos bem como os métodos que os indivíduos
utilizam para coletivamente construir, manter ou alterar a ordem
social.
IDEIAS CENTRAIS DA ETNOMETODOLOGIA
O rompimento com a sociologia tradicional que supõem a
existência a priori de um conjunto estável de normas e
significações que governam todo o sistema social e,
consequentemente, constituem-se em imperativos sociais
partilhados pelos atores sociais.
Para o pensamento etnometodológico a principal falha da teoria
sociológica é não ter dado a devida importância às bases do
entendimento comum, que é o foco principal de suas análises.
IDEIAS CENTRAIS DA ETNOMETODOLOGIA

Garfinkel e seus seguidores entendem que a própria interação


social já pressupõe a existência de uma ordem social.
Então, propõe a substituição da questão, como é possível a ordem
social pela questão: como determinados indivíduos em
determinadas situações fazem para demonstrar para outros
indivíduos que existe uma ordem social.
IDEIAS CENTRAIS DA ETNOMETODOLOGIA
A principal inovação da etnometodologia foi que ela elegeu como centro
de suas preocupações intelectuais, as INTERAÇÕES entre os atores
sociais, sobretudo, os processos pelos quais os indivíduos dão
significado ao mundo social, em detrimento das estruturas sociais fixas
e abrangentes e imutáveis, como pregavam alguns vertentes do
pensamento sociológico.
A ação individual ganha um aspecto dinâmico e emancipador, porque
seu sentido não é mais previamente definido pelo sistema, pela
estrutura ou pelos fatos sociais, mas forma-se na própria situação de
interação, com a contribuição de cada pessoa presente.

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