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experienciar.
Para superar essas visões, a defesa da “seriação” está longe de ser a resposta.
Devemos entender que a organização multisseriada não se restringe a uma
necessidade para um contexto de falta de recursos. Pelo contrário, ela pode e deve
ser considerada como opção pedagógica fundamentada para diversos contextos
(LITTLE, 1995) e é com essa abordagem que gostaríamos de pensar a
potencialidade dos ambientes de aprendizagem multisseriados, trazendo as
experiências para o nosso contexto educacional, que visa uma educação de
qualidade voltada para a diversidade (todos) e para a contemporaneidade.
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relação à definição. No grupo multietário, os mesmos tópicos e objetos do conhecimento
são trabalhados de acordo com diferentes níveis de complexidade e de formas distintas,
de acordo com as etapas de desenvolvimento dos estudantes.
Ambas as formas de organização propiciam o planejamento em conformidade
com o Desenho Universal de Aprendizagem (DUA) - o qual visa a educação de todos -,
por oferecerem uma estrutura que respeita os tempos humanos, além dos diferentes
modos e ritmos de aprendizagem.
Nessa perspectiva, o SESI-SP já tem experienciado diferentes formas de
organizar os currículos, tempos e espaços de aprendizagem, de modo a considerar
também os valores éticos, culturais, sociais, identitários, além dos processos cognitivos
e motores de seus alunos. Mais adiante trataremos mais especificamente de tais
experiências.
A América Latina, por sua vez, conta com um exemplo que se destaca pelo
alinhamento significativo entre concepção e prática de escola multisseriada, reunindo
estudantes de até três anos escolares da Colômbia em turmas com um único professor.
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A Escuela Nueva colombiana é um programa nacional que integra “estratégias
curriculares, capacitação docente, gestão administrativa e participação comunitária”
para a oferta da educação primária com qualidade para alunos de origens culturais
diversas na zona rural e na zona urbana periférica. Esse modelo, considerado parte do
“patrimônio pedagógico da Colômbia”, teve início na década de 1970 e segue em
atividade em mais de 20 mil estabelecimentos escolares, incorporando práticas da
pedagogia ativa em sua metodologia e reduzindo as diferenças entre escolas rurais e
urbanas nos exames nacionais.
Fonte: https://escuelanueva.org/teoria-del-cambio/
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Destacamos este último ponto, pois o receio de nucleação é um sentimento
recorrente na fala das comunidades escolares, conforme relatado pela pesquisa de
Parente. Existe uma série de iniciativas para melhoria desses contextos, como ações
formativas e incentivos, contudo, diferentemente do modelo colombiano, tais propostas
são afetadas pelas várias descontinuidades de programas. Vale lembrar que essas
escolas adquirem um sentido de extrema importância para o contexto em que estão
inseridas, servindo como meios de transformação social para a comunidade.
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• A prática docente em turmas multisseriadas
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Proporcionar momentos como esses contribui, também, para o desenvolvimento
de habilidades socioemocionais como empatia, resiliência, colaboração, entre outras.
Situações de convivência entre estudantes com faixas etárias, vivências e saberes
diferentes faz com que haja maior respeito pela diversidade e o reconhecimento de
pares que possuem as mesmas potencialidades e fragilidades, fortalecendo a relação
existente entre as práticas social e pedagógica. Segundo Veiga, a prática pedagógica
apresenta-se como
uma prática social orientada por objetivos, finalidade e conhecimentos,
inserida no contexto da prática social. A prática pedagógica é uma
dimensão da prática social que pressupõem a teoria-prática, e é
essencialmente nosso dever como educadores a busca de condições
necessárias à realização. (VEIGA, 1989, p.16 apud MEDRADO, 2012,
p. 135)
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Ao reunir alunos de diferentes turmas e anos escolares em uma mesma sala,
torna-se possível a criação de grupos de trabalho mais heterogêneos. E qual seria sua
vantagem para o desenvolvimento de uma pesquisa? Considerando diferentes pontos
de vista e acionando outros repertórios, bagagens e experiências de vida, permite-se
chegar a lugares não previstos inicialmente e compreende-se de forma mais significativa
que o conhecimento é uma construção coletiva que precisa da validação de diferentes
pares, pensando tanto na sua abrangência quanto na sua profundidade. Dessa forma,
incentiva-se ainda o delineamento de soluções mais representativas e complexas para
os problemas identificados.
Para a efetividade dessa proposta, optou-se por complementar, reformular e
evidenciar orientações do guia do Eixo Integrador Interáreas – Pesquisa em Foco, bem
como oferecer o curso Pesquisa em Foco: práticas de pesquisa científica na
Universidade Corporativa. Destacam-se nesse movimento os seguintes aspectos:
• a ênfase nas práticas da aprendizagem colaborativa para o processo de resolução
de problemas a partir do trabalho conjunto de grupos com estudantes de diferentes
níveis de aprendizagem;
• a intensificação do trabalho com as habilidades socioemocionais, explorando,
principalmente, a autorregulação, a empatia, a tomada de decisões, a comunicação
interpessoal e a gestão de conflitos;
• a diversificação e a combinação de estratégias, visando à personalização do ensino;
• o incentivo à cooperação entre todos os docentes responsáveis por esse
componente.
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A metodologia que orienta o componente curricular é a Aprendizagem Baseada
em Projetos (Project Based Learning – PBL). É mais uma proposta que visa o aprender
a aprender por meio da construção ativa da aprendizagem pelo estudante, tendo o
professor como mediador/facilitador do processo.
Para isso, são organizados pequenos grupos onde mais de um professor atua a
fim de mediar/facilitar a integração de diferentes saberes e desafia/instiga a busca por
soluções criativas e inovadoras para os problemas vivenciados, além disso, orienta e
colabora com o planejamento e proposição dos caminhos que cada grupo poderá seguir.
Nessa perspectiva, a aprendizagem acontece colaborativamente, já que cada
integrante do grupo tem sua participação ativa na construção do conhecimento, além de
colaborar com o colega, desenvolvendo novas habilidades e competências e
potencializando outras.
A proposição de projetos é feita a partir de pesquisas com os estudantes e as
escolhas finais, qual o projeto que interessa mais, é feita pelo estudante, desse modo,
a autonomia e o protagonismo é ainda mais fortalecido pela valorização das
predileções dos alunos.
Já há práticas com turmas multisseriadas muito interessantes e promissoras na
rede SESI-SP, o que reitera ainda mais a importância de ampliar essa experiência e
proporcionar vivências em que os estudantes sejam cada vez mais os responsáveis
pela sua formação e aprendizagem.
Referências