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06/10/2022 16:40 Jurisprudencia

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO
Identificação

3ª TURMA - 6ª CÂMARA

AGRAVO DE PETIÇÃO (1004)

PROCESSO Nº 0011444-24.2020.5.15.0022

AGRAVANTE: CARLOS PORRECA

AGRAVADA: LOURDES DE SOUZA PULZ

ORIGEM: VARA DO TRABALHO DE MOGI MIRIM

JUIZ SENTENCIANTE: MAURÍCIO BEARZOTTI DE SOUZA

GABRHS/rq

Ementa

Relatório

Sentença que rejeitou Embargos de Terceiro, integrada por


decisão de embargos de declaração.

Agravo de Petição do Terceiro, quanto à inexistência de


fraude contra credores.

Contraminutado.

Processo não enviado à Procuradoria.

Relatados.

Fundamentação

VOTO

Conheço.

Narra o Agravante que:

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06/10/2022 16:40 Jurisprudencia

"Inicialmente, a ação de consignação em pagamento fora


proposta pelos Srs. Jose Martin Tápia e Segismunda
Minervina Martin Tápia, em face da Agravada, Sra. Lourdes
de Souza Pulz, em 14 de outubro de 1998.
Posteriormente, com o falecimento do Sr. José Martin Tápia,
no ano de 2006, fora realizado o inventário, onde sequer
fora realizado o arrolamento do imóvel aqui discutido, uma
vez que o mesmo, conforme matrícula, já havia sido doado
à Sra. Lori, no ano de 1996, sendo que nesta oportunidade,
figurou como inventariante a esposa do de cujus, a Sra.
Augusta Vienna Martin Tapia.
Anos depois, em janeiro de 2018, a Sra. Lori Martin Vienna,
fora nomeada inventariante nos autos 1000413-
20.2018.8.26.0566, referente ao inventário de sua genitora,
Sra. Augusta Vienna Martin Tápia, razão pela qual passou a
integrar o processo de consignação em pagamento nº
0191000-55.1998.5.15.0022.
Em outras palavras, a Sra. Lori Martin Vienna somente
passou a integrar a execução da ação de consignação em
pagamento proposta por seu genitor, Sr. José Martin Tápia,
após o falecimento deste e de sua genitora, Sra. Augusta
Vienna Martin Tapia, na qualidade de representante legal do
espólio e não na qualidade de devedora principal!
De modo que, com base nos fatos acima delineados e
constante dos autos destes Embargos de Terceiro e dos
autos da Execução da Consignação em Pagamento, não há
que se falar em fraude à execução, uma vez que tal
condenação não se encaixa em nenhuma das hipóteses
delineadas no artigo 792 do CPC (...)
E, pelo o que se depreende da matrícula do imóvel, anexa
aos autos, a Sra. Lori recebeu o referido bem por doação
em 23 de maio de 1996, bem antes da propositura da ação
originária, o que deixava desimpedida para alienar o seu
imóvel, o que ela fez em 02 de setembro de 2015 para os
Agravantes.
(...) a dívida deve responder até o limtie da herança, o que,
no caso concreto, não acontece, uma vez que o imóvel em
questão sequer foi objeto de herança, conforme se extrai
das sentenças que homologaram o inventário judicial e que
constam dos autos de consignação em pagamento (id.
a854fc2), bem como sequer fora objeto de arrolamento nos
autos nº 1000413-20.2018.8.26.0566."

A decisão agravada consignou:


"Trago da Ação de Consignação em Pagamento, que
origina o presente feito, n.º. 0191000-55.1998.5.15.0022, as
seguintes informações, obtidas em consulta ao sítio virtual
deste Tribunal:
(a) seu ajuizamento em 14/10/1.998;
(b) em face de valores a pagar pelo Consignante, a inclusão
na lide, em 9/9/2.008, da herdeira Lóri Martin Vienna,
proprietária do imóvel objeto da presente ação;
(c) a inclusão, em 24/11/2.011, de Lóri no Banco Nacional
dos Devedores Trabalhistas - BNDT.

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A Embargante não comprova que emitiu a Certidão


Negativa de Débitos Trabalhistas em nome da vendedora ao
tempo da compra do imóvel.
Em outras palavras, Lóri vendeu o imóvel quando já se
encontrava em débito com suas obrigações trabalhistas,
inclusive apuradas em regular processo judicial, de
natureza alimentar .
Considero, pois, caracterizada, no feito principal, a intenção
de Lóri Martin Vienna em fraudar a execução, lesar o ora
Embargado, seu credor.
Não há, portanto, falar em inibição de ameaça de constrição
do imóvel matrícula nº 11.042 do 2.º Cartório de Registro de
Imóveis de Limeira.
Rejeito."

A boa-fé no negócio jurídico deve ser analisada no contexto


em que foi realizado.

A alienante do imóvel, sra. Lori Martin Vienna, recebeu o


bem, em doação por seus genitores, em 23/05/1996 (fl. 44 do download do
processo), e a Ação de Consignação em Pagamento foi ajuizada somente em 1998,
tendo a alienante sido incluída no polo passivo da ação, na condição de herdeira dos
consignantes, em 09/09/2008.

Em 2015, foi realizada a venda do imóvel ao terceiro Carlos


Porreca e sua esposa, através de escritura pública de compra e venda devidamente
registrada na respectiva matrícula (fl. 46 do download do processo).

Embora em 2011 tenha ocorrido a inserção do nome da


executada Lori Martin Vienna no Banco Nacional dos Devedores Trabalhistas -
BNDT, não constava, à época da transação, qualquer ônus sobre o imóvel objeto da
venda.

A Súmula 375 do STJ dispõe que:

"O reconhecimento da fraude à execução depende do


registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente."

Na análise da questão referente à caracterização da fraude


à execução envolvendo bens imóveis, que resultou na consolidação do Tema
Repetitivo 243, o STJ firmou as seguintes premissas:

f C C f
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"Para fins do art. 543-c do CPC, firma-se a seguinte


orientação:
1.1. É indispensável citação válida para configuração da
fraude de execução, ressalvada a hipótese prevista no § 3º
do art. 615-A do CPC.
1.2. O reconhecimento da fraude de execução depende do
registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé
do terceiro adquirente (Súmula n. 375/STJ).
1.3. A presunção de boa-fé é princípio geral de direito
universalmente aceito, sendo milenar parêmia: a boa-fé se
presume; a má-fé se prova.
1.4. Inexistindo registro da penhora na matrícula do imóvel,
é do credor o ônus da prova de que o terceiro adquirente
tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante
à insolvência, sob pena de torna-se letra morta o disposto
no art. 659, § 4º, do CPC.
1.5. Conforme previsto no § 3º do art. 615-A do CPC,
presume-se em fraude de execução a alienação ou
oneração de bens realizada após averbação referida no
dispositivo."

O contexto probatório não permite concluir pela ciência do


Agravante quanto à inscrição da executada no BNDT quando da alienação do bem,
especialmente em se considerando que não havia na matrícula do imóvel nenhum
gravame ou apontamento desabonador.

Não restou comprovada a má-fé dos terceiros adquirentes


no ato de aquisição do imóvel.

Nesse contexto, inviável o reconhecimento da fraude à


execução. Incidência da Súmula 375 do STJ.

Dou provimento ao apelo, para afastar a fraude contra


credores e vedar a penhora no imóvel de matrícula nº 11.042 do 2.º Cartório de
Registro de Imóveis de Limeira.

Dispositivo

DIANTE DO EXPOSTO, DECIDO CONHECER DO


AGRAVO DE PETIÇÃO E, NO MÉRITO, PROVÊ-LO, para afastar a fraude contra
credores e vedar a penhora no imóvel de matrícula nº 11.042 do 2.º Cartório de
Registro de Imóveis de Limeira, nos termos da fundamentação.

Cabeçalho do acórdão

Acórdão

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Sessão Ordinária Híbrida realizada em 13 de setembro de 2022, nos termos da Portaria Conjunta GP-CR nº
004/2022, publicada no DEJT de 26 de abril de 2022, 6ª Câmara - Terceira Turma do Tribunal Regional do
Trabalho da Décima Quinta Região. Presidiu o Julgamento o Exmo. Sr. Desembargador do Trabalho RENATO
HENRY SANT'ANNA, regimentalmente.
Tomaram parte no julgamento:
Relator Desembargador do Trabalho RENATO HENRY SANT'ANNA
Desembargador do Trabalho HÉLIO GRASSELLI
Juíza do Trabalho LUCIANA MARES NASR
Convocada a Juíza do Trabalho LUCIANA MARES NASR para compor o "quorum", nos termos do art. 52, § 6º do
Regimento Interno deste E. Tribunal.
Presente o DD. Representante do Ministério Público do Trabalho.
ACORDAM os Magistrados da 6ª Câmara - Terceira Turma do Tribunal do Trabalho da Décima Quinta Região, em
julgar o processo nos termos do voto proposto pelo Exmo. Sr. Relator.
Votação unânime.

Assinatura

RENATO HENRY SANT'ANNA


Desembargador Relator

Votos Revisores

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