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solucoes-para-problemas-urbanos/
acesso em: 13 de agosto

Projeto incentiva alunos a desenvolver soluções para


problemas urbanos

Para trabalhar protagonismo e ação social, professor coloca


alunos de nono ano para pesquisar e propor soluções para
trânsito, abandono de animais e lixo
por Lupercio Aparecido Rizzo 3 de agosto de 2016

Dei aulas de filosofia para alunos do Colégio ESI São José, de


Santo André (SP), por um bom tempo. Num determinado
momento, eu, a coordenação e a direção da escola chegamos
a um acordo para desenvolver uma atividade na qual os
alunos tivessem de fato alguma intervenção na sociedade, na
cidade e no entorno deles.
A partir daí, surgiu o projeto de protagonismo. No primeiro
semestre do ano, apresentei a eles o que é ser protagonista, o
que é intervir na sociedade. Além disso, dei aula de
metodologia de pesquisa, de pesquisa científica e de análises
quantitativas e qualitativas. Quando voltaram das férias de
julho, os alunos se dividiram em grupos e receberam a missão
de ir para a rua ou para o entorno de casa ou da escola e
encontrar alguma coisa que, de alguma maneira, não os
deixasse satisfeitos. A minha pergunta para eles foi “como
vocês podem potencializar algum tipo de mudança?”.
Eles foram para a rua, entrevistaram pessoas, pensaram em
dinâmicas de trabalho diferentes e propuseram algumas
alternativas para problemas que antes eles só viam como
“alguém tem que cuidar disso” ou talvez nem tinham reparado
na questão.
Em Mauá, que é uma cidade muito próxima de Santo André,
existe um lixão. Um grupo de alunos quis falar sobre biogás e
a possibilidade da cidade usar a biomassa para produzir
energia e gerar combustível para os ônibus. Para isso, eles
precisaram procurar um professor de química e outro de
economia. Eu passei a ser um tutor. A cada semana, eles iam
trazendo informações e nós fomos montando o trabalho.

Em todos os casos, eu orientei os estudantes a fugir de


soluções que respondessem a problemas do senso comum.
Expliquei que é preciso pesquisar para descobrir quais são os
verdadeiros problemas a serem melhorados ou resolvidos
Outro grupo escolheu falar sobre trânsito. Os alunos ficaram
na rua da escola fotografando, filmando e fazendo anotações.
Eles descobriram, por exemplo, que a escola tem um fluxo
diário de 2500 carros. A partir disso, estudaram formas de
reduzir esse grande impacto no trânsito. Já outros alunos
resolveram criar um aplicativo chamado “Animais em apuros”,
que reúne ONGs, veterinários, serviços públicos e pessoas
interessadas na busca por animais desaparecidos.
Basicamente, funcionava assim: quem visse um bichinho na
rua, poderia tirar uma foto e publicar no aplicativo, que
informava toda a rede cadastrada como se fosse um alerta no
celular. Essa mensagem ficaria piscando até que alguém fosse
socorrer o animal.
Em todos os casos, eu orientei os estudantes a fugir de
soluções que respondessem a problemas do senso comum.
Expliquei que é preciso pesquisar para descobrir quais são os
verdadeiros problemas a serem melhorados ou resolvidos. No
caso do trânsito, sugeri que levantassem informações como
quantos carros passam na escola por dia, qual é o tipo de
infração mais cometida e quantos alunos chegam em cada
carro. De repente, 10 carros levam um aluno em cada um, e
isso poderia ser substituído pelo transporte escolar. Mas, para
propor isso, é preciso analisar uma série de variáveis, como o
custo do transporte individual e do coletivo.

É preciso vivenciar os problemas para se interessar por eles.


Por exemplo, os alunos têm que sair da sala de aula e fazer
mais que um estudo de meio, voltar para
casa e escrever uma redação
Quando todos chegaram ao final do processo, nós tínhamos
cerca de 30 trabalhos. Todos os grupos produziram um banner
no formato acadêmico e fizeram a apresentação para uma
banca, composta por mim, outros dois professores, as
coordenadoras do ensino fundamental e médio e a diretora da
escola. Foi uma coisa simples, mas muito significativa. Ao
final da apresentação, foram selecionados cinco grupos.
Então, nós fizemos outra noite de apresentações, dessa vez
com a presença da comunidade, das famílias e de
representantes de ONGs. Até vereadores e secretários de
educação compareceram. Para os alunos, foi uma noite
brilhante.
Eu fiquei responsável por esse projeto porque, como professor
de filosofia e pesquisador, poderia contribuir com as duas
coisas: um olhar mais crítico, criterioso e reflexivo da
sociedade e outro para a estrutura de pesquisa e de
apresentação.
Quando a gente fala de formação cidadã, de formar o ser
humano para usar a autonomia e causar impacto na
sociedade, deve-se oferecer situações em que os estudantes
possam de fato desenvolver essa característica. Em um
livro ou análise sociológica, às vezes você deixa os
problemas da sociedade quase restritos a um laboratório de
estudos. É preciso vivenciar os problemas para se interessar
por eles. Por exemplo, os alunos têm que sair da sala de
aula e fazer mais que um estudo de meio, voltar para
casa e escrever uma redação. Nós temos que pensar em
alternativas e dar possibilidades criativas a eles.

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