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CAPÍTULO 4 • PLANEJAMENTO E DIDÁTICA

Objetivos

Introdução
Para você perceber a definição dos objetivos de ensino como parte essencial
do processo didático escolar e reconhecer as características e a classificação
dos objetivos de ensino, é importante ler os Objetivos do Ensino Fundamental,
expostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais – Terceiro e Quarto Ciclos
do Ensino Fundamental do volume Introdução aos Parâmetros Curriculares
Nacionais, disponíveis no sítio <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/
introducao.pdf>.
Em seguida, busque os objetivos de Matemática ou Língua Portuguesa nos
PCN específicos por disciplina. Esse conteúdo é fundamental para você entender
a importância da definição prévia dos objetivos do ensino, bem como de existir
uma diretriz curricular global, na qual o professor pode fazer as proposições
necessárias conforme as necessidades de sua região.
O processo didático escolar deve ser caracterizado como uma mediação
entre objetivos, conteúdos e métodos, tendo em vista as finalidades da educação,
definidas em planos e programas maiores, como é o caso do Plano Nacional de
Educação, dos Parâmetros Curriculares e das Diretrizes. Devemos lembrar sempre
que a prática educativa é determinada pela sociedade, assim se orienta para
alcançar objetivos específicos que devem ser alcançados por grande parcela da
sociedade e para determinar a seleção de conteúdos. Neste capítulo, trabalha-
remos sobre o tema objetivos, pois não há prática educativa sem eles.

4.1 Objetivos
A elaboração de qualquer plano de ensino inicia-se com a formulação de
objetivos. Mesmo tendo isso como premissa básica, muitos educadores insistem
em selecionar os conteúdos primeiro, para depois enunciar os objetivos. Essa
prática está equivocada e pode prejudicar a aprendizagem dos alunos, pois
antes de tudo um planejamento deve “definir com precisão o que se espera
que o aluno seja capaz de fazer após a conclusão de um curso, disciplina ou
unidade de ensino” (GIL, 2005, p. 42).
O estabelecimento dos objetivos dá ao professor as diretrizes para a seleção de
conteúdos, a escolha de metodologias (estratégias) e a elaboração de instrumentos
avaliativos, por isso os objetivos devem ser expressos em termos de comportamento

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esperado dos alunos, pois vão orientar os alunos a respeito do que se espera deles
em determinada disciplina. De acordo com Gil (2006, p. 110), “definir objetivos
significa, portanto, definir a aprendizagem do aluno, bem como tudo o que poderá
ser feito para torná-la mais fácil, agradável e significativa”.
Depois de verificarmos a importância dos objetivos, analisaremos seus tipos.
Fique atento!

4.1.1 Objetivos gerais


Os objetivos gerais caracterizam-se por sua finalidade, isto é, têm um fim
em si mesmo e referem-se àquilo que o aluno terá capacidade de fazer após a
conclusão da disciplina. Libâneo (2008) aponta que eles podem ser explicitados
em três níveis de abrangência: pelo sistema escolar, pela escola e pelo professor.
É importante o professor conhecer os objetivos estabelecidos no âmbito macro
do sistema escolar oficial.

4.1.2 Objetivos específicos


Esses objetivos têm um caráter intermediário e devem ser usados para
identificar o que se espera dos alunos por unidades. Os objetivos específicos
expressam as expectativas do professor sobre o que deseja obter do aluno ao
longo do processo de ensino e aprendizagem. Eles devem explicitar um rumo
que caracteriza o trabalho escolar específico da disciplina naquele nível.
Na sequência, conversarmos sobre as características dos objetivos.

4.2 Características dos objetivos


Os objetivos elaborados pelo professor para sua disciplina, sejam gerais ou
específicos, devem ser claros e precisos para que não sejam confundidos pelos alunos
ou por qualquer outro ator envolvido no processo de ensino e aprendizagem.
O professor deve utilizar verbos de ação para expressar claramente o
comportamento esperado do aluno. Gil (2005, p. 45) aponta que os verbos
compreender, conscientizar, saber, aprender, gostar, entender ou acreditar
suscitam múltiplas interpretações, pois não fica claro o que se pretende do aluno.
Já os verbos definir, citar, identificar, apontar, comparar, sublinhar e grifar são
operacionais e possibilitam a verificação do alcance dos objetivos.
Os objetivos devem ser realistas, pois o professor deve ter clareza daquilo
que pode almejar com relação à sua matéria em determinada classe. Lembra-se
dos capítulos 1 e 2 quando falamos das precondições para a elaboração de
um plano? Então era disso que falávamos. A ênfase deve ser dada aos padrões
mínimos a serem alcançados pelo grupo de alunos (classe ou série), pois os
objetivos desenhados devem ser alcançados por todos. É importante que, ao
determinar os objetivos, o professor conheça os objetivos das demais matérias

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do mesmo ano, pois devemos pautar nossas exigências pela razoabilidade,


mantê-las niveladas com as práticas comuns em nossas escolas.
Ao especificar os objetivos, o professor se compromete antecipadamente
com o que vai realizar e acredita que o que ele ensinar vai produzir mudanças
comportamentais observáveis nos seus alunos.
Após a análise dos cuidados que temos de considerar ao elaborarmos os
objetivos, discutiremos sobre a classificação dos objetivos.

4.3 Classificação dos objetivos


Os objetivos de aprendizagem classificam-se em três domínios: cognitivo,
afetivo e psicomotor. Ainda hoje nos apoiamos na taxonomia dos objetivos cogni-
tivos educacionais determinada por Benjamin Bloom (1983), conhecida como
taxonomia de Bloom. Geralmente há uma combinação dos três níveis de objetivos
que Bloom descreve. Como você irá perceber, os níveis dos objetivos tornam-se
cada vez mais complexos de se especificar, de atingir e de se avaliar.
Geralmente formular objetivos para o conhecimento é mais fácil do que os
formular para as habilidades. Lowman (2004, p. 191) nos ensina que
Formular objetivos para habilidade requer uma mudança no
modo como o docente muitas vezes pensa seus cursos e métodos
de avaliação de estudantes, porque é mais fácil medir o que os
estudantes conhecem do que o que eles sabem fazer. Entretanto é
provável que pensar em termos comportamentais faça com que os
professores selecionem formatos apropriados para o ensino das
habilidades e para avaliar como os estudantes as dominaram.

Percebemos, portanto, que é muito importante respeitarmos os níveis de clas-


sificação dos objetivos para defini-los. Portanto vamos conhecê-los.

4.3.1 Domínio cognitivo


O domínio cognitivo é expresso por objetivos associados ao conhecimento,
às informações ou às capacidades intelectuais. Envolve seis categorias: conheci-
mento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação.
t Conhecimento – busca o que já é conhecido do aluno, o professor
deseja, nesse nível, que o aluno se lembre das informações, dos fatos,
das teorias e dos princípios, ou, os reconheça. Exemplos: citar, identi-
ficar, listar, definir, etc.
t Compreensão – reafirma o que já é conhecido, sob novos enfoques. O
aluno deve ser capaz de entender e ser capaz de explicar conceitos espe-
cíficos, utilizar sua linguagem (com suas próprias palavras) e imagens
e não apenas repetir informações como era esperado no nível anterior.
Exemplos: traduzir, exemplificar, ilustrar, etc.

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t Aplicação – utiliza abstrações que podem apresentar-se como ideias,


princípios, técnicas ou regras. O aluno deve aplicar o que aprendeu.
Exemplos: demonstrar, aplicar, inferir, usar, etc.
t Análise – é a capacidade de separação de um todo em partes, relação
de elementos ou ainda determinação da natureza do relacionamento
entre os elementos. Ao analisar o conteúdo, separando-o em partes
constitutivas, o aluno está aprendendo de forma ativa. Exemplos: discri-
minar, analisar, categorizar, distinguir, etc.
t Síntese – é a combinação de elementos para formar um todo. Ao sintetizar
um conteúdo em um todo unificado de novo, o aluno continua a aprender
de forma ativa. Exemplos: formular, resumir, compor e deduzir.
t Avaliação – é o julgamento de valor. O aluno deve ser capaz de exprimir
um julgamento da importância daquilo que conhece. Exemplos: decidir,
avaliar, criticar, julgar, etc.

4.3.2 Domínio afetivo


Abarca os objetivos relacionados aos gostos, aos sentimentos, às emoções
ou às atitudes. Envolve cinco categorias: receptividade, resposta, valorização,
organização, caracterização de valor.
t Receptividade – é a disposição para tomar conhecimento ou para prestar
atenção em algo. Exemplos: escutar, atender, perceber, aceitar, etc.
t Resposta – é a reação a um determinado fato. Exemplos: responder,
acompanhar, concordar, etc.
t Valorização – é o reconhecimento de valor. Exemplos: aceitar, apreciar,
reconhecer, etc.
t Organização – o aluno organiza, determina uma inter-relação e indica
um valor dominante. Exemplos: discutir, organizar, desenvolver, pesar,
formar, etc.
t Caracterização (por valor ou valores) – é a atuação de acordo com os
valores que acredita, conforme determina sua personalidade. Exemplos:
acreditar, revisar, rejeitar, mudar, etc.

4.3.3 Domínio psicomotor


São os objetivos relacionados ao uso e à coordenação muscular e corporal.
Esses objetivos não preocupam muito os professores dos anos finais do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio, pois se referem a comportamentos concretos.
São divididos em seis categorias: movimentos reflexos, movimentos básicos
fundamentais, habilidades perceptivas, habilidades físicas, movimentos de habi-
lidade e comunicação não discursiva.

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t Movimentos reflexos – são a resposta motora aos estímulos, não se


definem objetivos, pois são apenas movimentos originados por reflexos.
t Movimentos básicos fundamentais – são padrões inerentes ao movimento
corporal. Exemplos: agarrar, saltar, alcançar, rastejar, engatinhar, etc.
t Habilidades perceptivas – são discriminações sensitivas de tato, olfato,
audição, visão, olfato e paladar. Exemplos: distinguir, coordenar, discri-
minar, etc.
t Habilidades físicas – são proposições de velocidade, esforço, flexibilidade
e persistência das habilidades. Exemplos: parar, resistir, permanecer, etc.
t Movimentos de habilidade – são ações complexas, porém executadas
com eficiência, sem demonstração de grandes esforços. Exemplos:
digitar, patinar, mergulhar, etc.
t Comunicação não discursiva – são expressões diversas sem utilização
da fala. Exemplos: expressar, dançar, interpretar, gesticular, etc.
Podemos concluir este capítulo refletindo sobre a necessidade de comparti-
lhar com os alunos os objetivos desenhados. Há mais probabilidade de serem
alcançados aqueles objetivos que são declarados aos alunos desde o início da
disciplina, pois essa apresentação lhes dá uma ideia de para onde eles serão
conduzidos e o porquê é importante se chegar lá. Ao final de uma unidade,
bimestre, semestre ou ano, é importante retomar com os alunos os objetivos
traçados, fazer uma discussão produtiva sobre os que foram alcançados e se há
algum não alcançado ou alcançado parcialmente para que eles estejam cons-
cientes de sua situação cognitiva em relação à disciplina.
A resolução das atividades lhe deu a oportunidade de verificar se alcançou
os objetivos propostos de perceber a definição dos objetivos de ensino como
parte essencial do processo didático escolar e de reconhecer as características
e a classificação dos objetivos de ensino.
A resolução das atividades lhe deu a oportunidade de verificar se alcançou
os objetivos propostos de perceber a definição dos objetivos de ensino como
parte essencial do processo didático escolar e de reconhecer as características
e a classificação dos objetivos de ensino.
A definição de conteúdos constitui um dos itens mais importantes para a
elaboração dos planos de ensino. O enfoque dos conteúdos em uma perspectiva
mais dinâmica é o tema que veremos no próximo capítulo.

Resumo
Neste capítulo, estudamos sobre os objetivos do ensino, vimos que sua
definição é o primeiro passo que o professor deve dar no planejamento de sua
matéria. Vimos a relação entre a definição dos objetivos e a elaboração dos

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instrumentos avaliativos, bem como a diferença entre objetivos gerais e especí-


ficos. Caracterizamos os objetivos, vimos a importância de serem claros, precisos,
realistas e de serem compostos por verbos de ação. Por fim, classificamos os obje-
tivos em cognitivos, afetivos e psicomotores e aprendemos sobre os níveis dentro
dessa classificação.

Atividades
1. Busque um plano de ensino de Matemática ou Língua Portuguesa em uma
escola de Ensino Fundamental referente aos anos de sexto ao nono ou um
de Ensino Médio. Verifique os objetivos listados pelo professor. Em seguida,
analise se os objetivos têm as características estudadas neste capítulo:
clareza, precisão, realista e se são determinados por verbos de ação. Após
feita essa análise, socialize com seus colegas na telessala.

2. Na explicitação dos objetivos gerais, o professor


a) elabora um plano didático-pedagógico que representa o consenso dos
professores em relação à filosofia da educação e à prática escolar.
b) concretiza, no ensino da matéria, a sua visão de educação e sociedade.
c) expressa as finalidades educativas, de acordo com os ideais e valores
dominantes da sociedade.
d) estabelece princípios e diretrizes de orientação ao trabalho dos profes-
sores na escola.

3. É correto afirmar que os objetivos específicos


a) particularizam a compreensão das relações entre escola e sociedade e,
especialmente, do papel da matéria de ensino.
b) definem, em grandes linhas, perspectivas da prática educativa na sociedade.
c) expressam propósitos amplos em relação ao papel da escola e do ensino.
d) expressam expectativas do sistema de ensino em relação à aprendi-
zagem do aluno.

4. Os objetivos são importantes na prática educativa porque


a) indicam comportamento esperado, condições de aprendizagem e crité-
rios de avaliação do aluno.
b) asseguram a superação das contradições presentes na sociedade.
c) explicitam fins e meios que orientam ações da escola e do professor
para a aprendizagem ativa.
d) implicam a aceitação das prescrições curriculares estabelecidas pelo
sistema de ensino.

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Comentário das atividades


Na atividade 1, você deve ter identificado os objetivos traçados pelo
professor e analisado se estão claros, precisos, de acordo com a realidade da
escola e dos alunos e se são determinados por verbos de ação. Com certeza,
você deve ter percebido se o professor desenhou os objetivos tendo-os como refe-
rência para sua prática cotidiana ou se ele os desenhou como um cumprimento
de uma formalidade. Essa análise lhe dará subsídio para a sua prática docente,
refletindo cotidianamente sobre a importância dos objetivos de ensino.
Na atividade 2, você acertou se indicou a opção (c) como correta, pois
a educação escolar, como sabemos, não pode ser dissociada da sociedade.
A opção (a) está errada, pois os objetivos gerais traçados pelo professor em
seu plano de ensino, mesmo estando em consenso com os demais professores
do ano ou da escola, não representam um consenso em relação à filosofia da
educação e à prática escolar. A alternativa (b) está equivocada, pois o esboço
dos objetivos gerais não garante a concretude, no ensino da matéria, da sua
visão de educação e sociedade. Por fim, a opção (d) está errada, pois os prin-
cípios e diretrizes de orientação ao trabalho dos professores na escola não é
estabelecido pelos objetivos gerais traçados pelo professor.
Na atividade 3, você deve ter optado pela alternativa (a), tendo em vista que
também fará com que cada escola e cada disciplina tenham contribuições a oferecer
para a sociedade e, em especial, para o aluno. A opção (b) está equivocada, pois,
como vimos ao longo do capítulo, as grandes linhas educativas são definidas no
espaço macro da educação. A letra (c) está equivocada porque os objetivos espe-
cíficos expressam as expectativas do professor sobre o que deseja obter do aluno
ao longo do processo de ensino e aprendizagem e não os propósitos amplos em
relação ao papel da escola e do ensino. E, por fim, a opção (d) está errada, tendo
em vista que as expectativas do sistema de ensino em relação à aprendizagem do
aluno não são contemplados na definição dos objetivos específicos.
Na atividade 4, você deve ter concluído que a letra (c) é a correta, pois os
objetivos explicam não só o que o professor espera que aconteça, mas deter-
mina o que será feito e como será feito para que os alunos realmente alcancem
o que foi traçado. As demais alternativas estão equivocadas, pois na opção (a)
não há como os objetivos indicarem as condições de aprendizagem; nem asse-
gurar a superação das contradições presentes na sociedade, opção (b), e nem
implicam a aceitação das prescrições curriculares, opção (d), estabelecidas pelo
sistema de ensino, tendo em vista que são bastante específicos.

Referências
BLOOM, B. Taxionomia de objetivos educacionais: domínio cognitivo. Porto
Alegre: Globo, 1983.

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GIL, A. C. Didática do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2006.


______. Metodologia do ensino superior. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2008.
LOWMAN, J. Dominando as técnicas de ensino. São Paulo: Atlas, 2004.

Anotações

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