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quando eu digo
Quando eu digo... phronesis
Neville Chiavaroli e Stephen Trumble
: 52: 1005–1007
Na Grécia Antiga existiam vários termos diferentes para
formas de conhecer e agir no mundo.
Comumente chamados de “virtudes intelectuais”, muitos
desses termos aparecem no inglês moderno, seja como
palavras emprestadas, como nous (inteligência ou bom senso)
e práxis (prática reflexiva crítica [conforme discutido
recentemente nesta série por Ng e Wright1 ]), ou fornecendo
raízes a partir das quais formamos palavras sobre o
conhecimento e suas atividades, como técnico/técnica (arte/
habilidade, de techne), filosofia (amor à sabedoria, de
sophia) e epistemologia (de episteme, conhecimento/
ciência ).
Vários outros termos relacionados permanecem
obscuros no inglês cotidiano, incluindo gnome (bom
senso), synesis (compreensão) e o assunto deste
artigo, phronesis – uma forma de conhecimento prático.
Embora seja pouco ouvida no inglês cotidiano, a palavra
'phronesis' é comumente encontrada em textos
relacionados à filosofia, ética e educação modernas.
Na verdade, a sua utilização nestes contextos aumentou
acentuadamente desde a década de 1980 e o termo é
agora também encontrado na arquitectura,
ciência da computação, economia, engenharia,
gestão e medicina. Este uso amplo atesta o valor percebido
do conceito, mas também sugere que pode ser necessária
cautela em relação à forma como o termo é usado e
compreendido em diferentes contextos disciplinares.
O conceito de phronesis vem principalmente dos escritos
de Aristóteles na Ética a Nicômaco, nos quais se refere
ao julgamento sábio e prático, uma forma de raciocínio que
considera todos os aspectos de uma situação particular,
incluindo suas dimensões morais ou éticas.2 O termo grego
foi renderizado
Departamento de Educação Médica, Melbourne Medical School,
Universidade de Melbourne, Melbourne, Victoria, Austrália
Educação Médica 2018: 52: 1005–1007
doi: 10.1111/medu.13611
ª 2018 John Wiley & Sons Ltd e Associação para o Estudo da Educação Médica;
EDUCAÇÃO MÉDICA 2018 52: 1005–1007
para o inglês de várias maneiras. A convenção em inglês
tem sido traduzir o termo como “sabedoria prática” (ou
variações como conhecimento prático ou julgamento) ou,
mais comumente, “prudência”.
Embora capte a noção de um julgamento cuidadoso e
sábio, a prudência talvez sofra de um tom formal e arcaico que
pode minar a sua relevância contemporânea. O
termo “atenção plena” foi recentemente sugerido como
uma alternativa para o uso moderno.3 Embora seu foco
mental, raciocínio sólido e autoconsciência realmente dêem
à prática consciente muito em comum com a
phronesis, o movimento mais amplo de atenção plena adotou
sua interpretação da palavra muito além da ideia original.
Talvez o termo “judiciousness” forneça uma tradução
alternativa útil no inglês moderno.
Phronesis, então, representa uma forma
fundamentalmente prática de raciocínio sobre a ação
humana, uma virtude intelectual que nos permite julgar
o que devemos fazer numa determinada situação. É um
conceito multifacetado, envolvendo raciocínio, ação,
contexto e adequação.
Nesta fase, esperamos que a relevância do conceito para
a educação médica e a prática clínica esteja emergindo. A
seguir, consideramos mais especificamente como o
termo tem sido aplicado em contextos educacionais e
clínicos em medicina, e sugerimos por que seu uso
continuado, e possivelmente ampliado, é benéfico.
Em contextos educacionais, o conceito de phronesis é
comumente contrastado com outros termos para
conhecimento discutidos por Aristóteles, nomeadamente
episteme e techne (e ocasionalmente sophia). Tipicamente,
Correspondência: Neville Chiavaroli, Departamento de
Educação Médica, Melbourne Medical School, Universidade de
Melbourne, Melbourne, Victoria 3010, Austrália. Tel: 00 61 3
8344 8238; E-mail: n.chiavaroli@unimelb.edu.au
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N Chiavaroli & S Trumble
a episteme é caracterizada como um conhecimento
científico, universal, invariável e independente do
contexto, enquanto a techne é vista como uma habilidade
artesanal, pragmática, variável e (geralmente) dependente
do contexto.4 Os currículos médicos são comumente
baseados nesses fundamentos gêmeos de conhecimento
científico e habilidades clínicas aplicadas. Onde, então, se
encaixa a phrónesis? Nós, juntamente com
muitos outros educadores médicos, sugerimos que a
phronesis representa a integração deste conhecimento e
competência com experiência, julgamento e compreensão
situacional apropriados. É o raciocínio clínico com
consideração explícita dos fatores morais, éticos e
baseados em valores relevantes para a
apresentação e o contexto do paciente. O conceituado
educador médico americano Edmund D Pellegrino chamou
a isto a “questão prudencial” – O que deve ser feito por
este paciente? – traçando uma distinção clara entre o
que deve e o que pode ser feito.5 O clínico geral
Roger Neighbour defende a phronesis como “saber o que
fazer quando ninguém sabe o que fazer” ou mesmo “saber
quando quebrar as regras”,6 sugerindo a a frustração
do clínico novato quando confrontado com o oxímoro da
imprudência cuidadosa do seu supervisor, ou,
mais sucintamente e reconhecendo a influência generalizada
da pirâmide de Miller na educação médica, sobrepondo
acima de “Faz” o nível de “Decide se”.
Termos comumente usados na educação médica, como
“raciocínio clínico”, “julgamento clínico” e até mesmo “prática
reflexiva”, captam parte do que a phronesis representa, mas
não captam necessariamente as nuances contextuais
ou as considerações morais, éticas e baseadas em
valores. . Uma das principais tarefas de um clínico, e
algo que é particularmente importante para os
alunos aprenderem, é compreender como aplicar o
conhecimento científico universal (episteme) com as
competências clínicas apropriadas (techne) às necessidades
específicas de um determinado paciente. em uma situação
particular. Vários escritores7–9 argumentaram que esta
capacidade é de facto a essência da medicina: apesar
da aparente certeza da ciência e da fiabilidade dos
procedimentos técnicos padronizados, a medicina
continua a ser uma prática interpretativa, na qual a incerteza
e o julgamento situacional são inerentes.
O conhecimento científico pode constituir a sua base,
mas a prática da medicina requer julgamento quanto à
adequação de um determinado diagnóstico,
investigação ou abordagem de tratamento com cada
paciente em cada situação, independentemente de
quantas vezes tal decisão possa ter sido tomada antes.
Algoritmos, diretrizes baseadas em evidências e regras
práticas são heurísticas práticas úteis (outra
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termo grego), mas não podem substituir o raciocínio
deliberado, ponderado, contextual e ético. Esta é a marca
registrada de um profissional10 e confiar largamente ou
rotineiramente em uma abordagem prescritiva ou
algorítmica para apresentações é procurar problemas. Nem
diretrizes, protocolos e procedimentos mais intrincados
e prescritivos superarão a incerteza inerente à medicina.11
É aqui que entra a phronesis. A phronesis, tanto em
termos clássicos como nas suas aplicações
mais contemporâneas, ajuda a determinar a acção
apropriada a tomar quando “o conhecimento
depende das circunstâncias”.9 As competências
profissionais ou as declarações de deveres
reconhecem, de facto, a incerteza e a situação inerentes à prática clínica. .
Estão cheios de palavras de proteção – como “apropriado”,
“adequadamente”, “provável”, “quando necessário” – que
sugerem vagamente o tipo de ação necessária, mas na
realidade deixam aos profissionais a tarefa de determinar
exatamente como agir em tais circunstâncias. Eles são
escritos dessa forma necessariamente porque nenhum
conjunto de padrões de competência pode articular
com precisão como um profissional deve exercer a profissão.
Eles podem documentar as reivindicações profissionais
de especialização, as áreas ou âmbito de prática,
os pré-requisitos educacionais necessários e os
padrões técnicos, éticos e profissionais esperados,
mas não como realmente praticar o conhecimento,
habilidade, técnica e julgamento da profissão em
situações particulares. . A forma como estas
considerações se traduzem na prática reflexiva quotidiana e
interagem com a base racional e científica do
conhecimento médico e a arte praticada das
competências clínicas não pode ser prescrita ou
ensinada através de algoritmos. O melhor que podemos
fazer como educadores é criar condições para que os alunos
compreendam a necessidade desse pensamento e
desenvolvam a sua capacidade nesta área; na verdade,
esta é uma das bases fundamentais sobre as quais
o papel das humanidades na educação médica é
frequentemente avançado.12,13 Phronesis dá-nos o
quadro teórico e a legitimidade pedagógica para incorporar tal experiência
É certo que o próprio Aristóteles expressou algumas dúvidas
sobre a capacidade dos jovens de usar a
phronesis quando escreveu: '... a prudência
preocupa-se tanto com os particulares como com os
universais, e os particulares tornam-se conhecidos pela
experiência, mas ao jovem falta experiência, uma vez
que alguns é necessário um período de tempo para produzi-
lo'.14 Mas o ponto-chave aqui é a experiência, não a
idade, e portanto nosso objetivo deveria ser preparar
nossos alunos para tomarem decisões sábias, práticas e
'frônicas', incorporando o máximo de experiência clínica possível. É possív
EDUCAÇÃO MÉDICA 2018 52: 1005–1007
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acelerar a sua aquisição de sabedoria, sob
orientação apropriada, claro.
Nada disso sugere que desenvolver ou aplicar a
phronesis seja fácil. Além do desafio individual
de permanecer reflexivo ou criterioso o suficiente
para fazê-lo (ou “manter o bom senso sobre você”,
com o significado de “inteligência”, neste sentido, não
muito distante do de phronesis), forças de todo o sistema
frequentemente atuam contra ela.10 Mas este também
é outro factor que precisa de ser pensado no exercício
do raciocínio contextual, moralmente informado e
prático.
Abraçar os objetivos da phronesis em contextos
educacionais incorpora o julgamento sábio, a
consciência contextual e o raciocínio moral
profundamente nos currículos médicos. Se o
nosso objectivo é mudar a ênfase do currículo médico
contemporâneo para uma perspectiva mais
ampla e centrada no paciente, então o conceito de
phronesis é valioso e esclarecedor. Muito mais do que
simplesmente um sinónimo de raciocínio clínico, a
phronesis oferece uma forma de valorizar as
considerações morais, éticas e clínicas específicas
de cada encontro com o paciente, ao mesmo tempo que se envolve Boudreau
REFERÊNCIAS
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EDUCAÇÃO MÉDICA 2018 52: 1005–1007
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11 Kotzee BN, Paton A, Conroy M. Rumo a um
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12 numa
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prática A. Assegura.
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13 Chiavaroli NG. Saber como sabemos: um
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14 Aristóteles. Ética a Nicômaco (Irwin T, trad., 2ª ed.).
Indianápolis, IN: Hackett Publishing 1999;1142a:10–
5.
Recebido em 2 de dezembro de 2017; comentários editoriais aos autores 12
Março de 2018, aceito para publicação em 26 de março de 2018
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