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CONTROLE
SANITÁRIO DE
ALIMENTOS
Ivonilce Venturi
Doenças veiculadas por
alimentos e seu impacto
na saúde pública
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O manuseio inadequado de alimentos é uma das principais causas de
doenças causadas por alimentos, muitas vezes associadas a surtos em
domicílios e também em locais coletivos de alimentação. Um dos motivos
para a alta incidência de surtos alimentares em todo o mundo é que o
manipulador de alimentos muitas vezes desconhece todas as normas
higiênico-sanitárias ou não se dá ao trabalho de adotar as práticas de
manipulação recomendadas.
Neste capítulo, você vai conhecer os conceitos importantes referentes
às doenças causadas por alimentos e sua relação com a saúde pública.
Além disso, vai estudar os fatores intrínsecos e extrínsecos relacionados
ao crescimento e desenvolvimento de microrganismos nos alimentos. Por
fim, vai analisar o impacto das doenças alimentares na saúde pública, bem
como sua relação com os aspectos higiênico-sanitários dos alimentos.
2 Doenças veiculadas por alimentos e seu impacto na saúde pública
(Continua)
Doenças veiculadas por alimentos e seu impacto na saúde pública 5
(Continuação)
Fatores de crescimento extrínseco, por sua vez, têm relação com o meio
ambiente em que o alimento está sendo armazenado, transportado, produzido
e distribuído. Fazem parte deste grupo a temperatura, a umidade relativa do
ar e a composição de gases do ambiente. Este último é bastante importante,
principalmente ao armazenar alimentos.
Em relação aos patógenos causadores de DVA (bactéria, fungos, parasitas
e vírus), as bactérias são as principais responsáveis, pois possuem uma faixa
de resistência a temperaturas maior que outros patógenos e são mais resis-
tentes a alterações ambientais, o que normalmente favorece seu crescimento
e multiplicação em ambientes extremos.
pouco ácidos — alimentos com pH maior que 4,5, como leites, carnes,
pescados e alguns vegetais;
ácidos — possuem pH entre 4,0 e 4,5, como algumas frutas e hortaliças;
muito ácidos — os que possuem pH menor que 4,0, como sucos de
frutas e refrigerantes.
Produto pH Microrganismos
Grupo de Aw
microrganismos mínima Microrganismos Exemplos de alimento
Alimentos frescos como frutas, legumes e certas carnes têm a capacidade de promover
o crescimento de microrganismos aeróbicos em sua superfície, devido ao seu Eh+. Já
os microrganismos anaeróbicos têm maior facilidade de crescer no interior de frutas,
vegetais e carnes, devido ao Eh–. Quando um alimento fresco passa por processamento,
promove o Eh+, o que favorece o crescimento de microrganismos aeróbicos.
Alimentos Eh (mV) pH
Os alimentos, sejam de origem vegetal ou animal (desde que não tenham sofrido
alteração pelo homem), possuem uma estrutura externa capaz de impedir a
entrada de microrganismos, funcionando como uma barreira física à entrada
de microrganismos. Como exemplo, podemos citar as cascas de frutas, nozes,
peles de animais, a casca do ovo, entre outros.
As barreiras físicas em geral possuem baixa Aw e baixo conteúdo de nu-
trientes, além de possuir compostos antimicrobianos. Todos esses fatores são
importantes para a proteção do alimento contra os microrganismos. No entanto,
mesmo com toda essa proteção, os danos físicos causados aos alimentos podem
romper sua barreira externa, deixando o conteúdo interno do alimento exposto
a contaminações (SILVA JÚNIOR, 2014; GERMANO; GERMANO, 2015).
Temperatura
Temperatura (°C)
Grupo de microrganismos
Mínima Ótima Máxima
Mesófilos 5 a 15 30 a 45 35 a 47
Psicrófilos –5 a +5 12 a 15 15 a 20
Psicrotróficos –5 a +5 25 a 30 30 a 35
Termófilos 40 a 45 55 a 75 60 a 90
Grupo de
microrganismos Necessidades
Campylobacter e Listeria
Outro fator que deve ser considerado como extrínseco é o fator humano, pois, mesmo não
sendo considerado como tal, ele é o responsável por todos os processos de manipulação
do alimento, da fazenda à mesa, representando, portanto, um veículo de contaminação
microbiana. Desse modo, para garantir a qualidade sanitária dos alimentos é importante
controlar todas as etapas do processo produtivo por meio das boas práticas de higiene.
Doenças veiculadas por alimentos e seu impacto na saúde pública 17
Processo de pré-preparo
O pré-preparo dos alimentos é um momento de manuseio em que o alimento
será descascado (quando necessário), fracionado e temperado. Esses procedi-
mentos rompem as barreiras de proteção do alimento contra os microrganismos,
aumentam a superfície de contato e, consequentemente, a exposição à presença
de oxigênio, e ainda modificam seu pH e Eh. Todas estas ocorrências favorecem
a contaminação microbiana dos alimentos. Assim, sempre que for necessário um
pré-preparo dos alimentos, é importante que permaneçam o menor tempo possível
em exposição, e que esse período ocorra em um ambiente refrigerado, garantindo
ao menos o controle de um dos fatores extrínsecos para evitar contaminações.
Processo de cocção
Neste processo, para garantir a produção de um alimento seguro, ele deve
atingir pelo menos 74°C no seu centro geométrico, ou 70°C por um período
mínimo de 2 minutos. Se a temperatura do alimento que está sendo produzido
for de 65°C, ele deve permanecer por pelo menos 15 minutos sob cocção. Parte
dos microrganismos patogênicos são eliminados quando expostos a altas
temperaturas; no entanto, caso haja endósporos no alimento, eles conseguem
sobreviver por longos períodos em cocção. Portanto, é essencial adotar todas
as medidas higiênico-sanitárias para garantir a qualidade do produto final.
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Processo de distribuição
Antes de ocorrer a etapa de distribuição, muitas vezes o alimento fica em
espera até ser colocado no buffet. Nesse caso, tal alimento não pode ficar a
temperaturas inferiores a 60°C. Para a distribuição do alimento, é recomendado
o uso de buffet quente e refrigerado: quente para as preparações quentes e o
refrigerados para saladas e sobremesas. Os alimentos quentes devem ser man-
tidos a temperaturas acima de 60°C. Para isso, é importante sempre monitorar
a temperatura do buffet antes de colocar os alimentos nele, pois se o buffet
estiver frio, o alimento baixará de temperatura rapidamente, tornando-se um
risco à saúde da coletividade.
O cumprimento de todos os processos produtivos em consonância com os
fatores intrínsecos e extrínsecos e a legislação vigente ajuda a garantir que
os alimentos mantenham-se seguros do ponto de vista higiênico-sanitário.
O profissional nutricionista está capacitado não somente para cumprir todas
as legislações sobre as boas práticas, mas também para capacitar colabo-
radores a respeito de todos os processos higiênico-sanitários que devem
acontecer durante o processo produtivo, bem como para orientar clientes
sobre os cuidados que devem ter em casa com seus alimentos, evitando
contaminações em domicílio.
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Leituras recomendadas
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