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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Avaliação nutricional e
prescrição dietoterápica da
gestante
Professora Dra. Daniela Caetano Gonçalves
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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Sumário
1. Avaliação nutricional da gestante................................................3
1.1 Estado nutricional pré-gestacional e gestacional............................... 3
1.2 Avaliação dietética....................................................................... 6
1.3 Avaliação antropométrica.............................................................. 11
1.4 Exames laboratoriais.................................................................... 14
1.5 Avaliação clínica........................................................................... 20
1.6 Ganho de peso gestacional ........................................................... 21

2 Prescrição dietoterápica na gestação...........................................31


2.1 Necessidades nutricionais na gestação............................................ 31
2.2 Distribuição dos nutrientes............................................................ 31
2.3 Fracionamento da dieta................................................................ 32
2.4 Condutas específicas relacionadas aos sinais e sintomas da gestação.. 32
2.2 Alimentos contra indicados na gestação.......................................... 33

3 Alimentos funcionais na gestação................................................35


3.1 Definição.................................................................................... 35
3.2 Nutrientes e substâncias bioativas.................................................. 38
3.3 Suplementação e fitoterapia para a gestante................................... 63

Referências.....................................................................................70

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1. Avaliação nutricional da gestante

A avaliação do estado nutricional da gestante tem por objetivo acompanhar o aumento de


peso durante toda a gestação, assim como identificar e providenciar intervenções adequadas
de acordo com:

a) Identificação das gestantes de risco nutricional no início da gestação: baixo peso,


sobrepeso ou obesidade.
b) Identificação das alterações ponderais: baixo peso ou peso excessivo, de acordo com a
idade gestacional.
c) Orientação adequada para os diferentes períodos gestacionais, tanto para mãe como
para o filho, bem como orientação para o parto e na alimentação do recém-nascido.

A avaliação nutricional, quando possível é realizada em duas etapas:

a) Diagnóstico nutricional
b) Estimativa do ganho de peso

A avaliação da gestante através do peso e estatura indica seu estado nutricional atual,
permitindo uma previsão e adequação do peso durante todo o período gestacional.

1.1 Estado nutricional pré-gestacional e gestacional

A alteração ponderal durante a gestação atinge alguns compartimentos, conforme descrito


na Tabela 1.

Tabela 1 - Alteração ponderal na gestação

Ganho Acumulativo kg/trimestre


Componentes
1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre
Feto Desprezível 1,0 2,4
Placenta Desprezível 0,3 0,6
Líquido amniótico Desprezível 0,4 1,0
Subtotal ovular Desprezível 1,7 4,0
Útero 0,3 0,8 1,0
Mamas 0,1 0,3 0,5
Volume sanguíneo 0,3 1,3 1,5
Subtotal materno 0,7 2,4 3,0
Total 0,7 4,1 7,0
Fonte: Rasmussen e Yaktine (2009).

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Índice de massa corporal (IMC) e avaliação ponderal na gestação

O ganho de peso durante a gestação deve ser diferenciado de acordo com a classificação do
IMC pré-gestacional da Tabela 2 e a projeção de aumento ponderal da Tabela 3.

Tabela 2 - Classificação do estado nutricional pré-gestacional e
ganho de peso gestacional de acordo com o IMC

Estado nutricional Ganho de peso gestacional


IMC pré-gestacional (kg/m2)
pré-gestacional Recomendado (kg)
< 19,8 Baixo-peso 12.5-18.0
19,9-26,0 Eutrofia 11.5-16.0
26.1-29.0 Sobrepeso 7.0-11.5
≥ 29,1 Obesidade 5.0-9.0
Fonte: Akkerman et al. (2012).

Tabela 3 - Avaliação do estado nutricional e proposta de ganho de peso

Ganho de peso
Ganho de peso Ganho
Estado semanal médio no Ganho de
total até a de peso
nutricional 2º e 3º trimestre peso total na
14ª semana mínimo1
inicial (IMC) >14ª semana gestação (kg)
gestacional (kg/ mês)
gestacional
Baixo peso Não
2,3 0,5 12,5-18,0
(<18,5) determinado
Adequado
1,6 0,4 11,5-16,0 1,0
(18,5-24,99)
Sobrepeso Não
0,9 0,3 7-11,5
(25,0-29,99) determinado
7,0
Obesidade (>30) - 0,3 Adolescentes 0,5
7 a 9,1kg
Fonte: Rasmussen, Catalano e Yaktine (2009).
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Ganho de peso mínimo ou ganho de peso modesto proposto para mulheres atingiram
todo o peso permitido, e que ainda não chegaram ao fim da gravidez.

A classificação do estado nutricional da gestante, segundo o IMC por semana gestacional, é


feita da seguinte maneira:

a) baixo peso, quando o valor do IMC for igual ou menor que os valores apresentados na
coluna correspondente a baixo peso;
b) adequado, quando o IMC observado estiver compreendido na faixa de valores apresentada
na coluna correspondente a adequado;
c) sobrepeso, quando o IMC observado estiver compreendido na faixa de valores apresentada
na coluna correspondente a sobrepeso;
d) obesidade, quando o valor do IMC for igual ou maior que os valores apresentados na
coluna correspondente a obesidade.

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Quando possível, o IMC a ser considerado no diagnóstico inicial da gestação deve ser o IMC
pré-gestacional, que pode ser o referido ou calculado a partir da medição até a 13ª semana
gestacional. Quando não for possível, a avaliação da gestante deverá ser feita a partir dos
dados referidos na consulta pré-natal, mesmo que esta consulta ocorra após a 13ª semana
gestacional.

Qual conduta de acordo com o estado nutricional?

De acordo com o estado nutricional da gestante, avaliar as observações a seguir:

a) baixo peso: investigar história alimentar, hiperêmese gravídica, infecções, parasitoses,


anemias e doenças debilitantes;
b) adequado: orientação nutricional, visando a manutenção do peso adequado e a promoção
de hábitos alimentares saudáveis;
c) sobrepeso e obesidade: investigar obesidade pré-gestacional, edema, polidrâmnio,
macrossomia, gravidez múltipla.

A anamnese consiste em uma entrevista na qual se procura levantar a história clínica e


alimentar do indivíduo, levando em consideração fatores familiares, hábitos de vida, costumes
religiosos, culturais e regionais. Algumas das informações importantes para a anamnese estão
listadas abaixo:

• Dados de identificação
• Objetivos
• Quadro de atividades
• Dados clínicos
• Antecedentes familiares
• Fármacos em uso
• Suplementos em uso
• Hábito intestinal e urinário diário
• Uso de bebida alcoólica, refrigerantes e outros líquidos
• Ingestão de água
• Avaliação do consumo alimentar
• Avaliação corporal
• Observações relevantes

Algumas informações sociodemográficas e obstétricas da gestante são requeridas no pré-


natal e podem compor a anamnese da paciente. São elas:

◊ Idade cronológica
◊ Cor da pele/raça
◊ Grau de escolaridade
◊ Anos de atraso escolar (adolescentes)
◊ Naturalidade

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◊ Profissão
◊ Ocupação
◊ Situação marital
◊ Número de pessoas na mesma moradia
◊ Renda familiar per capita
◊ Condições de saneamento
◊ História obstétrica
◊ Não planejamento e/ou aceitação da gestação

Para gestantes, é importante que a anamnese contenha outras informações pertinentes


ao período gestacional, como semana gestacional, data da última menstruação (DUM) e data
provável do parto (DPP). Além disso, deve-se acrescentar o questionário de investigação de
picamalácia e deficiência de vitamina A (DVA), como ilustrado abaixo:

Quadro 1 - Entrevista para investigação de picamalácia

1) Tem vontade de ingerir substâncias ou combinações de alimentos estranhas durante a


gestação? Quais?
2) O que sente é vontade ou desejo de ingerir tais substâncias?
3) Quando sente vontade de ingerir a substância, realmente ingere? Qual a frequência e
quantidade?
4) Esse comportamento já ocorreu em outras gestações ou em períodos de amamentação
anteriores ou mesmo fora da gestação? Quando?
5) Você sabe o motivo desta vontade ou desejo?

Quadro 2 - Avaliação funcional para diagnóstico de DVA

Deve-se realizar entrevista padronizada, com três questões ao todo. Se a gestante


responder não à pergunta 1 e sim à pergunta 2 e 3, há deficiência de vitamina A.

1) Possui dificuldade para enxergar durante o dia?


2) Possui dificuldade para enxergar com pouca luz ou à noite?
3) Tem cegueira noturna?

1.2 Avaliação dietética

A avaliação dietética é realizada afim de se obter informações sobre o consumo alimentar


de uma pessoa. Na prática clínica, a avaliação dietética é realizada por meio de inquéritos
alimentares, ferramentas que consistem em entrevistas e questionários para detecção de
consumo alimentar em quantidades e qualidade da alimentação. Além disso, outros objetivos
da avaliação dietética consistem em realizar as seguintes avaliações:

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◊ Número de refeições
◊ Composição das refeições
◊ Grupo e quantidade de alimentos presentes
◊ Uso de refrigerantes, café e chás, bebidas alcoólicas
◊ Alimentos ricos em lipídios (pastéis, frituras)
◊ Ingestão de doces, chocolates
◊ Utilização de edulcorantes
◊ Tabus, hábitos alimentares
◊ Alergias e/ou intolerâncias
◊ Modificações alimentares

Os inquéritos alimentares oferecem algumas desvantagens como:

• falta de confiabilidade (subestima ou superestima);


• os métodos geralmente não avaliam o habitual;
• a escolha errada do método pode atrapalhar a avaliação;
• em todos os métodos existem erros de mensuração.

Além disso, pacientes podem sentir dificuldade em responder aos questionamentos relativos
à sua própria alimentação por motivos, como:

• falta de conhecimentos sobre os alimentos e as medidas normalmente utilizadas para o


consumo destes;
• inexperiência com o preparo dos alimentos;
• pouca familiaridade com os ingredientes de preparações consumidas
• desinteresse pelos aspectos da própria alimentação;
• falta de tempo e atenção ao responder o inquérito.

Podemos dividir os métodos de avaliação dietética em:

◊ Métodos retrospectivos: avaliam o consumo alimentar do passado imediato ou de longo


prazo. Tem como vantagens a fácil aplicação, pouco tempo do entrevistado é exigido (10
a 30 minutos), não há interferência (modifica) do hábito alimentar, fácil treinamento do
entrevistador e compreensão do entrevistado. Suas desvantagens são a dependência da
memória do entrevistado na qualidade da informação, dificuldades de muito indivíduos em
estimar a porção consumida e falta de caracterização da dieta habitual do indivíduo, o que
compromete o estabelecimento de uma relação de causalidade.

◊ Métodos prospectivos: registram o consumo alimentar do presente. Podemos citar


como vantagens a medição o consumo atual, melhor avaliação do consumo individual e
independência da memória do entrevistado. Entre as desvantagens apontamos a omissão
de dados dos pacientes e uma possível indução à modificação do hábito alimentar.

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Recordatório 24h (método quantitativo)

O recordatório 24h consiste em definir e quantificar todos os alimentos e bebidas ingeridas


no período anterior à entrevista (24 horas precedentes, ou o dia anterior). Desenvolvido por
Bertha Burcke (1947), Mc Henry (1939) e Kruse et al. (1940). Trata-se de uma entrevista
pessoal, aonde um indivíduo treinado questiona sobre o consumo alimentar do dia anterior,
assim como horário das refeições e local.

Horário e local Alimentos ou preparações Quantidade Marca comercial Observação


7:00hs Pão de forma
Pão de forma 7 grãos 2 fatias Wickbold
Casa sem casca

Orientações de preenchimento

No início do recordatório, o entrevistador deve perguntar ao entrevistado: Por favor, descreva-


me todos os alimentos que você comeu ontem, desde o momento que você acordou até a hora
que você foi dormir.

Não esquecer de sempre questionar sobre açúcares, balas, doces, bebidas (água e café),
bebidas alcoólicas, forma de preparo das carnes, tipos de leite (integral, tipo B) e adição de
temperos à salada.

História alimentar (método quantitativo)

A história alimentar consiste na descrição de todas as refeições e alimentos normalmente


consumidos pelo paciente em dias passados não consecutivos. Trata-se de um método de
avaliação da dieta usual, no qual são eliminadas as variações do dia-a-dia. Este instrumento
é pouco difundido, mas, com uma boa utilização na prática clínica, permite conhecer o padrão
alimentar do indivíduo e servir de base para a definição de planos de orientação dietética. Sua
aplicação é difícil porque a maioria dos pacientes não possui lembrança exata de suas refeições
de dias de semanas passadas.

Refeições Horário/local Alimentos/preparações/ quantidades


Café da manhã
Lanche
Almoço
Lanche
Jantar
Ceia

No início da história alimentar, o entrevistador deve perguntar ao entrevistado: “por favor,


descreva-me o que você normalmente come ao acordar. Qual a quantidade? Mais alguma
coisa? E depois?”

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Questionário de frequência alimentar (QFA) (Método qualitativo)

O QFA é um inquérito alimentar também desenvolvido por Bertha Burke (década de 40). Foi
criado para obtenção de informação qualitativa ou semiquantitativa sobre o padrão alimentar e
a ingestão de alimentos ou nutrientes específicos dos indivíduos.

Fonte: Retirado de <http://www.gac-usp.com.br/resources/QFA%20-%202013.pdf>. Acesso em: 18/09/2014.

O QFA apresenta como principais vantagens poder ser utilizado para avaliação da relação
entre dieta e doença, permitir avaliar o consumo habitual do indivíduo sem alterar o padrão
de consumo alimentar e é um método de baixo custo. As principais desvantagens do QFA são:
depender da memória do entrevistado, necessita de tempo (30 minutos mínimo), não permite
avaliação da adequação do consumo alimentar em quantidade, exige processos de validação,
calibração e reprodutibilidade para aplicação em diferentes populações e deve ser específico
para idade e condições fisiológicas e patológicas.

Registro alimentar (método quantitativo)

O registro alimentar é um instrumento de avaliação do consumo alimentar muito utilizado


na prática clínica. Para sua realização, o próprio indivíduo entrevistado deve registrar durante

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alguns dias (3, 5 ou 7 dias) os alimentos consumidos com as respectivas quantidades (em
gramas ou medidas caseiras). O preenchimento do registro alimentar deve ser realizado em
dias não consecutivos e deve constar pelo menos um dia do fim de semana para se aumentar
a acurácia da avaliação.

Veja o exemplo a seguir:

Quadro 3 - Exemplo de registro alimentar

Este é o formulário de registro alimentar que você preencherá durante


3 dias, sendo 1 dia de final de semana e 2 dias durante a semana

Neste formulário coloque todos alimentos e bebidas que você ingerir no decorrer
de cada dia, inclusive balas, chicletes, refrigerante e suco. Sugerimos que tenha esse
formulário sempre a mão durante todo o dia para facilitar as anotações e nenhum dado
ser perdido, pois o preenchimento correto deste registro é imprescindível para que sua
avaliação nutricional seja completa.

Dia Hora Local Ex: Quantidade (Ex: Nome do alimento e Observações


casa, escola, colher de sopa, copo, tipo de preparação Ex: se é light
trabalho, concha, unidade, prato, (Ex: Bife a milanesa, ou diet e marca
restaurante mL, grama, pacote, macarrão com molho do produto
dose, escumadeira, branco, brócoli refogado quando possível
xícara etc.) com manteiga etc.)

Fonte: elaborado pela autora.

As principais vantagens do registro alimentar são:

• o consumo é anotado pelo próprio paciente;


• não depende necessariamente da memória do consumo.

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As desvantagens encontradas neste método são:

• o consumo pode ser alterado, pois o indivíduo sabe que está sendo avaliado;
• depende mais da dedicação do entrevistado;
• muitos encontram dificuldade em estimar porções e sobras;
• indivíduos analfabetos são impossibilitados de preencher o inquérito.

Método de pesagem e análise de duplicatas

O método de pesagem e a análise de duplicatas são métodos utilizados normalmente na


pesquisa científica e são muito difíceis de realização na prática clínica. O método de pesagem
consiste em pesar todos os alimentos consumidos para estabelecer o consumo alimentar exato.
A análise de duplicatas consiste em examinar bromatologicamente todas as refeições, coletando
exatamente a mesma quantidade de tipo de alimento.

1.3 Avaliação antropométrica

A avaliação antropométrica para avaliar o estado nutricional pode ser feita de acordo com:

a) Estatura materna
b) Perímetro braquial
c) Altura uterina
d) Peso pré-gestacional
e) Ganho de peso na gestação

Estatura materna

A aferição da estatura materna indicada, de maneira aproximada o crescimento infantil e da


estrutura óssea pélvica da mãe, conforme Tabela 4.

Tabela 4 - Estatura antes da gestação

Estatura Riscos
<1,47 a 1,53 RCIU restrição de crescimento intrauterino
<1,40 a 1,50 Complicações no parto
<1,40 a 1,53 Riscos gestacionais
Fonte: Belizán et al. (1978).

A avaliação postural da gestante no início da gravidez, antes da 20ª semana gestacional,


permitirá determinar a estatura correta, uma vez que a alteração postural que ocorre na
gestação eleva a uma lordose fisiológica na região das vértebras lombares, influenciando assim
a alteração da estatura, conforme Figura 1.

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Figura 1 - Alteração postural na gestação. Disponível em: <http://www.drguilhermemeyer.com.br/


website/index.php/patologias/dor-lombar-durante-a-gestacao>. Acesso em 19/09/2014.

Perímetro braquial

O perímetro braquial (PB) reflete o estado nutricional prévio à gestação e o atual, porém
está medida é menos sensível que o peso corporal, levando em consideração as alterações em
curto prazo das condições de saúde e nutrição. É usado na ausência de recursos para aferir o
peso perímetro braquial:

PB < 21 - 23cm = risco de baixo peso ao nascer

Altura uterina

Reflete o tamanho global do útero:

a) Indica o crescimento fetal


b) Avalia os desvios do crescimento fetal:
PIG = pequeno para idade gestacional
GIG = grande para idade gestacional

A técnica para aferição da altura uterina (Figura 2) segue estas etapas:

1) posicione a gestante em decúbito dorsal, com o abdômen descoberto;


2) delimite a borda superior da sínfise púbica e o fundo uterino;
3) por meio da palpação, procure corrigir a comum dextroversão uterina;
4) fixe a extremidade inicial na posição zero cm da fita métrica, flexível e não extensível, na
borda superior da sínfise púbica, passando-a entre o dedo indicador e médio. A leitura
deve ser feita quando a borda cubital da mão atingir o fundo uterino;
5) anote a medida, em centímetros, na ficha e no cartão, e marque o ponto na curva da
altura uterina.

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Figura 2 - Aferição da altura uterina. Fonte: São Paulo (2010, p. 86).

A altura uterina pode informar o risco gestacional através dos pontos de corte, conforme o
Gráfico 1.

a) Percentil 10: limite inferior


b) Percentil 90: limite superior

Gráfico 1 - Curva altura uterina. Fonte: São Paulo (2010).

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Peso pré-gestacional

A avaliação do peso pré-gestacional permite determinar qual a real necessidade de ganho de


peso durante a gestação, influenciando diretamente o crescimento fetal.

O peso pré-gestacional menor que 45kg ou maior que 75g, pode levar a:

a) Baixo peso ao nascer


b) Macrossomia: acima do peso
c) Parto prematuro
d) Morbimortalidade materna e perinatal

O peso pré-gestacional pode ser obtido por várias maneiras:

a) relatado pela gestante com relação ao seu peso até 2 meses antes da gestação (informação
sujeita à memória da gestante);
b) registro médico no período de até dois meses anteriores à gestação;
c) aferição logo após a concepção (momento ideal);
d) aferição durante o primeiro trimestre.

A classificação do estado nutricional da gestante de acordo com o peso pré-gestacional é


relacionada na tabela seguinte:

Tabela 5 - IMC pré-gestacional

Referência Instituto de Medicina/EUA (1990) Organização Mundial de Saúde (1995)


Baixo peso < 19,8 < 18,5
Eutrofia 26-19,8 24,99-18,5
Sobrepeso 29-26 29,99-25,0
Obesidade > 29 > 30

1.4 Exames laboratoriais

Os exames bioquímicos são importantes instrumentos para avaliar o estado nutricional da


gestante, porém é importante considerar as alterações fisiológicas que ocorrem na gestação,
bem como a hemodiluição fisiológica. Alguns exames laboratoriais são obrigatórios no pré-
natal. São eles:

◊ Tipagem sanguínea
◊ Sorologia para sífilis
◊ Teste HIV
◊ Hematimetria
◊ Sorologia para hepatite B
◊ Toxoplasmose

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◊ Glicemia de jejum
◊ Curva glicêmica
◊ Urina tipo 1
◊ Protoparisotológico
◊ Colpocitologia oncótica
◊ Bacterioscopia da secreção vaginal

Discutiremos abaixo os exames laboratoriais relacionados ao estado e cuidado nutricional.

Hemograma

O hemograma tem objetivo de avaliar o nível de hemoglobina, que deve estar acima de 10g/
dl. Conforme a Tabela 6, a quantidade total de leucócitos que deve ficar abaixo de 15.000 e a
de plaquetas acima de 100.000. Pacientes com nível de hemoglobina abaixo de 10g/dl devem
ser tratadas, assim como níveis baixos de plaquetas requerem investigação imediata, pois
as plaquetopenias podem ter origem imunológica e podem comprometer o feto, causando
fenômenos hemorrágicos.

O limite superior de número de leucócitos é maior do que no estado não gravídico. Em vez
de 10.000 a 11.000, aumenta para 15.000. O mais importante é a análise de formas jovens de
leucócitos para se suspeitar de infecções.

Tabela 6 - Hemograma: valores de referência para gestantes

Hemograma Não gestante Gestantes


Hemácias 4.0 a 5.4 3.6 -4.4
Hemoglobina (g/dl) 11.3 a 16.3 > 11g/dl
Hematócrito (%) 36 a 48 0-12 semanas ≥ 33%
13-28 semanas ≥ 31,5%
29-40 semanas ≥ 33%
VCM (FL) 77 a 92
HCM (PG) 27 a 32
CHCM (g/dl) 30 a 35
Leucócitos totais 4.0 a 11.0 < 15.000
Neutrófilo bastonete 0 a 4 0.0 a 0.4
Neutrófilo segmentado 36 a 66 2.0 a 7.5
Eosinófilo 2 a 4 0.1 a 0.4
Basófilo 0 a 1 0.0 a 0.1
Linfócito 25 a 45 1.5 a 4.0
Monócito 2 a 10 0.2 a 1.5
Plaquetas: 140.000 400.000/mm 3

Fonte: Sacher e McPherson (2000).

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Glicose sanguínea

A glicose sanguínea na gestação pode apresentar-se alterada. Geralmente um aumento de


seus níveis acompanha o crescimento fetal. Durante a gestação, a diabetes mellitus gestacional
(DMG) pode se instalar, tendendo à normalização após o parto.

A detecção antecipada da diabetes gestacional permite melhor acompanhamento e


monitoramento da glicemia durante todo o período gestacional até o parto. Na Figura 3 é
demonstrado o modo pelo qual deve ser feito o rastreio para diabetes mellitus gestacional
de acordo com o Consenso sobre diabetes gestacional e diabetes pré-gestacional (SCHMIDT;
REICHELT, 1999):

RASTREAMENTO DO DIABETES GESTACIONAL


Glicemia de jejum (mg/dl)*
1ª consulta

< 85

2 ou mais Rastreamento
fatores de risco positivo

Não Sim
Repetir glicemia 85 - 109
Rastreamento
negativo de jejum a partir
da semana 20 TTG-75g - 2h Repetir
< 85
entre 24 e 28 glicemia de jejum
semanas prontamente
* A glicemia de jejum pode ser 85 mg/dl, dependendo
de prioridades e recursos locais (consulte o texto para <110
explicações gestacionais

Diabetes
gestacional

Figura 3 - Rastreamento do diabetes gestacional.

Tabela 7

Glicose sanguínea Resultado


Menos de 140* mg/dl Normal
140* mg/dl ou mais Anormal, necessita curva glicêmica (veja abaixo)
Gestante <120
Fonte: Sacher e McPherson (2000).
*Alguns preferem o valor 130mg/dl, que identifica 90% das mulheres com
diabetes gestacional, enquanto o valor 140mg/dl identifica 80%.
A amostra é colhida 1 hora após a ingestão de 50g de glicose.

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Curva glicêmica para diabetes gestacional

O rastreamento deve ser feito em todas as gestantes e realizado através da glicemia de


jejum alterada, associada a fatores de risco.

Os fatores de risco incluem:

a) Antecedentes familiares e pessoais


b) Maior que 25 anos de idade
c) Presença de hipertensão arterial sistêmica
d) Obesidade com IMC pré-gravídico maior que 25kg/m²
e) Antecedente de intolerância à glicose em gestação prévia
f) Antecedentes obstétricos: perdas gestacionais de repetição, polidramnio, macrossomia,
óbitos fetal ou neonatal sem causa definida, má-formação fetal, hipoglicemia e/ou
síndrome do desconforto respiratório neonatal.
g) Excessivo ganho de peso materno na gestação vigente
h) Drogas hiperglicemiantes, como corticosteroides ou diuréticos, e síndrome dos ovários
policísticos

O rastreamento positivo significa que a glicemia de jejum ≥85mg e/ou presença de fator
de risco impõe a realização de testes diagnósticos, ou seja, a realização da curva glicêmica ou
teste oral de tolerância à glicose de duas horas, com sobrecarga oral de 75g de glicose, por
ocasião da fase catabólica da gestação a partir da 24ª semana gestacional.

As gestantes que apresentam glicemia de jejum inferior a 85mg/dl e sem fatores de riscos
relacionados à diabetes mellitus não são consideradas diabéticas nem são candidatas ao
rastreamento para a doença.

Por sua vez, nos casos em que o rastreamento é necessário (glicemia de jejum igual ou
maior que 85mg/dl) é realizada a curva glicêmica ou teste oral de tolerância à glicose de duas
horas, com sobrecarga oral de 75g de glicose, a partir da 24ª semana gestacional. O teste
com sobrecarga oral de 75g de glicose deve ser realizado após um preparo. Nos três dias que
antecedem a curva glicêmica, a gestante é orientada a realizar uma dieta preparatória com
250g a 300g de carboidratos ao dia, devendo cumprir 8 a 12 horas de jejum na noite que
antecede o teste e, durante a realização do exame, permanecer em repouso e sem fumar.

Os critérios de diagnóstico serão realizados através da glicemia de jejum, após uma hora e
após duas horas da sobrecarga de glicose. Os pontos de corte para os valores glicêmicos são: 95
mg/dl, 180 mg/dl e 155 mg/dl, respectivamente para jejum, uma e duas horas da sobrecarga
de glicose. Quando dois ou mais valores são atingidos ou ultrapassados, a gestante deve ser
considerada como portadora de DMG. (FEBRASGO, 2010, s/p).

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Tabela 8 - Curva glicêmica para diabetes gestacional

Hora da colheita Nível máximo


Jejum 95mg/dl
1 hora após glicose 180mg/dl
2 horas após glicose 155mg/dl
3 horas após glicose 140mg/dl
Fonte: SBCM (2006).
Interpretação: se dois ou mais valores excederem o nível máximo, é feito o diagnóstico de diabetes gestacional.
Amostras colhidas após a ingestão de 100g de glicose.

Albumina

A albumina é responsável pelo transporte de nutrientes, hormônios, drogas e pressão


osmótica e reflete o estado nutricional.

Tabela 9 - Valores de albumina plasmática

Risco Abaixo do aceitável Aceitável


Período Deficiente (alto risco) Baixo (médio risco)
Gestantes, 1º trimestre < 3,0 3,0 - 3,9 ≥ 4,0
Gestante, 2º e 3º trimestres < 3,0 3,0 - 3,4 ≥ 3,5
Fonte: Sacher e McPherson (2000).

Transferrina sérica

A transferrina sérica pode ser chamada de: capacidade total de ligação do ferro, capacidade
não saturada de ligação do ferro, transferrina ou saturação da transferrina.

A transferrina sérica é uma ß-globulina, que tem a sua síntese no fígado. Ela transporta
ferro, sendo que uma molécula de transferrina transporta dois íons de ferro.

A solicitação do exame – capacidade total de transporte de ferro – ocorre juntamente com


a dosagem de ferro sérico, para avaliar deficiência ou excesso de ferro. Ambos os exames
são usados para calcular a saturação da transferrina, um indicador mais útil que o ferro e a
capacidade total de transporte de ferro isolados. Em pessoas saudáveis, cerca de 20% a 40%
da transferrina são usadas para transportar o ferro.

Na deficiência de ferro, a concentração sérica de transferrina é baixa e a capacidade total


de transporte do metal está aumentada, o que resulta em níveis muito baixos de saturação da
transferrina. A função hepática também influencia nas concentrações de transferrina Como é
produzida no fígado, a transferrina está baixa quando há doença hepática. Como os níveis de

18
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

transferrina também diminuem quando não há proteínas suficientes na dieta, o exame pode ser
usado para monitorar o estado nutricional.

Uma capacidade total de transporte de ferro alta em geral indicam deficiência de ferro,
porém podem estar elevadas na gestação ou com o uso de anticoncepcionais orais. Por outro
lado, valores baixos podem ocorrer em alguns tipos de anemia e desnutrição.

Ferritina sérica

A função primária da ferritina é de acumular o ferro intracelular, protegendo a célula dos


efeitos tóxicos do metal livre constituindo uma reserva de ferro rapidamente mobilizável. A
ferritina só é dosada quando está ligada ao ferro. Seu valor normal no sangue varia de 10 a
80µg/l. Um grama de ferritina pode estocar até 8mg de ferro.

Mesmo com as concentrações séricas de ferro dentro dos valores da normalidade, a ferritina
pode apresentar-se baixa, uma vez que ela prove o ferro, em situações nas quais haja carência
deste mineral, seja pela ingestão ou absorção.

A anemia por deficiência de ferro acontece de maneira gradual. A diminuição nas concentrações
sanguíneas de ferritina é um indicativo do comprometimento no metabolismo do ferro, sendo
solicitado para todas as gestantes.

Ferro

A solicitação de ferro sérico e a capacidade total de transporte de ferro é realizada em um


mesmo momento para análise do estado nutricional. Esses exames são usados em conjunto
para diagnosticar deficiência ou sobrecarga de ferro.

Em pessoas com anemia, estes exames podem determinar se a anemia deve-se à carência
de ferro ou a outra causa, como uma doença crônica, por exemplo.

Em muitas situações a deficiência de ferro não gera danos a saúde se for detectada
precocemente. Ela está atrelada ao níveis de hemoglobina: sintomas podem surgir quando
estes registram cerca de 10,0g/dl ou menos. Se o quadro ainda persistir, os sintomas são
evidentes: fadiga, tontura, fraqueza, dores de cabeça e dores nas pernas. Em crianças, a
deficiência de ferro interfere na concentração e cognição.

Colesterol

O colesterol é o principal lipídeo associado à doença vascular aterosclerótica. Também é


utilizado na produção de hormônios esteroides, ácidos biliares e na constituição das membranas
celulares.

19
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Na gestação, o colesterol pode apresentar-se elevado. É uma adaptação fisiológica: as


concentrações de colesterol materno, utilizado para a síntese placentária de esteroides,
aumentam 20-30% na segunda metade da gestação devido ao aumento da atividade lipolítica
no tecido adiposo, redução na atividade da lipase lipoproteica do tecido adiposo e aumento na
síntese hepática de VLDL causado pela elevação na concentração plasmática de estrogênio.

Acido fólico

O ácido fólico está envolvido com a prevenção de anomalias congênitas que podem ocorrer no
primeiro trimestre da gestação. Desta forma, esta vitamina é indicada para prevenção primária
da ocorrência de defeitos do fechamento do tubo neural (este origina a espinha em um período
de 18 a 26 dias do período embrionário). Estas más formações do tubo neural podem ocorrer
no início do desenvolvimento fetal. As principais delas são a anencefalia e espinha bífida.

Recomenda-se doses diárias de 0,4 a 0,8mg de ácido fólico. Deve-se iniciar, no mínimo, um
mês antes da concepção e prolongar-se até três meses ou 12 semanas de gestação.

O principal problema enfrentado atualmente é o não planejamento das gestações, impedindo


a prevenção no período pré-concepção e, na maioria das vezes, no período dos 26 dias pós-
gestação (fase em que muitas mulheres ainda não descobriram a gravidez). Quando grande
parte descobre a gestação, geralmente já é tarde para iniciar a prevenção de espinha bífida.

Tabela 10 - Valores bioquímicos alterados com a gestação, comparado a não gestante

Nutrientes Mulher não gestante Gestante


Proteínas totais 8,5g/ml 6,0-8,0/ml
Colesterol 120-190mg/ml 200-325/ml
Vitamina A 20-60mg/ml 20-65/ml
Ácido ascórbico 0,2-2,0mg/ml 0,2-1,5mg/ml
Acido fólico 5,0-2mg/ml 3,0-15mg/ml
Cálcio 4,6-5,5mEq/ml 4,2-5,2/ml
Transferrina 220-400mg/dl
Ferro sérico 65-170mg/dl
Fonte: Sacher e McPherson (2000).

1.5 Avaliação clínica

Os indicadores clínicos apresentam limitações quando são utilizados isoladamente. Eles são
pouco sensíveis às alterações na gestação. O ideal é utilizá-los em associação com outros
indicadores: antropometria e exames laboratoriais.

20
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Quadro 4 - Sinais clínicos de carências nutricionais

Sinais Nutrientes
Olhos
Cegueira noturna Carência de vitamina A
Palidez conjuntival Anemia ferropriva
Carência de ferro
Lábios
Queilose angular e língua inflamada (glossite) Carência de riboflavina
Glândulas
Bócio Carência de iodo
Palidez cutâneo-mucosa, fraqueza, fadiga Anemia ferropriva
ao menor esforço físico, susceptibilidade Carência de ferro
aumentada aos processos infecciosos
Gengivas esponjosas, que sangram com Carência de vitamina C
facilidade, e pequenas hemorragias cutâneas

1.6 Ganho de peso gestacional

A avaliação do ganho de peso gestacional pode ser realizada de acordo com alguns métodos,
conforme veremos a seguir.

Curva de Rosso

A curva de Rosso classifica o estado nutricional da gestante de acordo com a porcentagem


de adequação do peso dividido pela altura e a idade gestacional (ROSSO, 1985). A curva de
Rosso é baseada no aumento ponderal de 20% em relação ao peso ideal para a estatura para
assegura um crescimento adequado do feto.

O método de Rosso foi utilizado primeiramente no serviço de saúde pública de Nova Iorque,
baseado na avaliação de gestantes de baixa renda. O método foi estabelecido com base em
informações de gestantes de baixa renda atendidas, e em seguida foi validado no Chile.

As gestantes são classificadas pela curva de Rosso nas categorias baixo peso, eutrofia,
sobrepeso ou obesidade, conforme descrito na Figura 4. O método foi validado para as gestantes
brasileiras, conforme o estudo de Taddei et al. (1991).

A curva de Rosso avalia a evolução ponderal em diferentes momentos da gestação,


considerando apenas as gestantes com altura entre 140 e 175 cm, peso entre 30 e 100kg e idade
gestacional maior ou igual a 10 semanas. Este método apresenta baixa especificidade, levando
a informações nem sempre fidedignas ao estado nutricional da gestante. Pode ocorrer tanto o

21
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

déficit de peso quanto o excesso de peso, por isso é interessante utilizar concomitantemente
outros métodos.

Com os dados encontrados na curva de Rosso, avalia-se a evolução ponderal de acordo com
a curva do Instituto de Medicina dos Estados Unidos (IOM, 1990).

1) Calcular a adequação do peso atual em relação ao peso ideal /altura

%= peso atual x 10
peso ideal/altura

Figura 4 - Método Rosso: peso ÷ altura da gestante. Fonte: Rasmussen, Catalano e Yaktine (2009).

22
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

2) Marcar o ponto correspondente ao percentual encontrado eixo Y e à idade gestacional


eixo X, conforme Gráfico 2.
3) Nas consultas futuras, repete-se o mesmo procedimento.

Gráfico 2 - Rosso: curva de peso/idade gestacional. Fonte: Rasmussen, Catalano e Yaktine (2009).
A = Baixo peso B = Normal C = Sobrepeso D = Obesidade

Quadro 5 - Vantagens e desvantagens da curva de Rosso

Vantagens Desvantagens
Simplicidade no uso Não considera o estado nutricional prévio da gestante
Superestima gestante com baixo peso
Dispensa o conhecimento do Não considera a variabilidade biológica
peso pré-gestacional das estruturas ósseas
Avalia a adequação peso e altura Não é adequada para:
em qualquer idade gestacional 1. Gestantes com alturas extremas
2. Gestantes obesas (peso/altura > 135%)
3. Gestantes adolescentes
Permite monitorar o progresso de Não é validado no Brasil
ganho de peso nas demais consultas

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Considera-se altura extrema:

< 140cm: diminuir 0,5kg para cada cm a menos


> 175cm: somar 0,5kg para cada cm a mais

Gestantes adolescentes: considere déficit de peso


inicial e acrescente 1kg para crescimento.

Referência para avaliar a evolução do peso

A evolução do peso gestacional a ser utilizado durante o período gestacional é mensurada


pela curva do Instituto de Medicina dos Estados Unidos (IOM, 1990).

1) Calcular o IMC - pré-gestacional

IMC pré-gestacional = Peso pré-gestacional (kg)


Altura (m)2

2) De acordo com a classificação do IMC pré-gestacional de acordo com a Tabela 10,


seleciona-se no gráfico a evolução de peso a ser utilizado.

Tabela 10 - Classificação do aumento ponderal recomendado

IMC Ganho de peso


Classificação
Pré-gestacional recomendado1 Total Semanal2
< 19,8 Baixo peso 12,5-18 500g
19,8-26,0 Normal 11,5-16,0 400g
26,0-19,0 Sobrepeso 7,0-11,5 300g
> 29,0 Obesidade 6,8 mínimo Individual
Gravidez gemelar 16,0-20,5 750g
Fonte: IOM (1990).
1 - Mulheres com estatura < próxima ao limite inferior
2 - A partir do segundo trimestre de gestação

3) Calcule o ganho de peso (peso atual - peso pré-gestacional): marque no Gráfico 2. o


ganho do peso (eixo y) correspondente à idade gestacional (eixo x).

4) Interpretação:

a) Abaixo da curva inferior: baixo ganho de peso


b) Entre as curvas: normal ganho de peso
c) Acima da curva superior: elevado ganho

24
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Curva de Atalah

A curva de Atalah foi proposta pelo Ministério da Saúde em 2004 como o método a ser
utilizado na avaliação do peso no período gestacional (BRASIL, 2004). A curva de Atalah é
baseada no IMC correlacionado à idade gestacional (ATALAH; CASTILLO; CASTRO, 1997) – o
IMC é um indicador para a avaliação do estado nutricional em gestantes também proposto pela
Organização Mundial da Saúde (WHO, 1995). A avaliação do estado nutricional da gestante
através da evolução ponderal é frequentemente utilizada na prática clínica, seja em entidades
públicas ou privadas.

A utilização do IMC permite avaliar em quilogramas a evolução ponderal adequada e com


isso prescrever a orientação nutricional com maior precisão.
Esta curva, portanto, classifica o estado nutricional da gestante de acordo com o IMC atual
e a idade gestacional, de acordo com a Tabela 11.

IMC atual= Peso atual (kg)


Altura (m)2

Tabela 11 - IMC e idade gestacional

Semana Baixo peso Peso adequado Sobrepeso Obesidade


gestacional IMC ≤ IMC entre IMC entre IMC ≥
6 19,9 20,0 24,9 25,0 30,0 30,1

8 20,1 20,2 25,0 25,1 30,1 30,2

10 20,2 20,3 25,2 25,3 30,2 30,3

11 20,3 20,4 25,3 25,4 30,3 30,4

12 20,4 20,5 25,4 25,5 30,3 30,4

13 20,6 20,7 25,6 25,7 30,4 30,5

14 20,7 20,8 25,7 25,8 30,5 30,6

15 20,8 20,9 25,8 25,9 30,6 30,7

16 21,0 21,1 25,9 26,0 30,7 30,8

17 21,1 21,2 26,0 26,1 30,8 30,9

18 21,2 21,3 26,1 26,2 30,9 31,0

19 21,4 21,5 26,2 26,3 30,9 31,0

20 21,5 21,6 26,3 26,4 31,0 31,1

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Semana Baixo peso Peso adequado Sobrepeso Obesidade


gestacional IMC ≤ IMC entre IMC entre IMC ≥
21 21,7 21,8 26,4 26,5 31,1 31,2

22 21,8 21,9 26,6 26,7 31,2 31,3

23 22,0 22,1 26,8 26,9 31,3 31,4

24 22,2 22,3 26,9 27,0 31,5 31,6

25 22,4 22 27,0 27,1 31,6 31,7

26 22 22,7 27,2 27,3 31,7 31,8

27 22,7 22,8 27,3 27,4 31,8 31,9

28 22,9 23,0 27,5 27,6 31,9 32,0

29 23,1 23,2 27,6 27,7 32,0 32,1

30 23,3 23,4 27,8 27,9 32,1 32,2

31 23,4 23,5 27,9 28,0 32,2 32,3

32 23,6 23,7 28,0 28,1 32,3 32,4

33 23,8 23,9 28,1 28,2 32,4 32,5

34 23,9 24,0 28,3 28,4 32,5 32,6

35 24,1 24,2 28,4 28,5 32,6 32,7

36 24,2 24,3 28,5 28,6 32,7 32,8

37 24,4 24,5 28,7 28,8 32,8 32,9

38 24,5 24,6 28,8 28,9 32,9 33,0

39 24,7 24,8 28,9 29,0 33,0 33,1

40 24,9 25,0 29,1 29,2 33,1 33,2

41 25,0 25,1 29,2 29,3 33,2 33,3

42 25,0 25,1 29,2 29,3 33,2 33,3

Fonte: Atalah, Castillo e Castro (1997 apud FAGUNDES et al., 2004).

Como aferir:

1) Aferir peso e estatura; calcular a idade gestacional


2) Calcular o IMC atual
3) Plotar o valor de IMC no gráfico, considerando a idade gestacional ou verificar em qual
categoria o IMC se encontra, utilizando a Tabela 11.

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Quadro 6 - Vantagens e desvantagens da curva de Atalah

Vantagens Desvantagens

Simplicidade no uso Superestima baixo peso materno

Não requer informação sobre PPG Não foi validado no Brasil

Permite monitorar a evolução do


IMC nas visitas subsequentes

Gráfico 3 - Curva de IMC ou Atalah. Fonte: Atalah, Castillo e Castro (1997).

A cada nova consulta, deve-se inserir o novo dado no mesmo gráfico da gestante para que
se possa acompanhar a curva de evolução.

◊ Curva ou reta ascendente (/) ganho de peso adequado


◊ Reta horizontal (–) ou descendente (\) indicação de ganho de peso inadequado

27
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Gráfico 4 - Acompanhamento nutricional da gestante. Fonte: Atalah, Castillo e Castro (1997).

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Curva do Centro Latino-Americano de Perinatologia e Desenvolvimento Humano (CLAP)

A curva CLAP avalia o estado nutricional segundo o ganho de peso e a idade gestacional. Foi
adotada no Brasil no período de 2000 a 2003 (FESCINA, 1984).

Como aferir:

1) Calcula-se o peso ganho, considerando a diferença entre o peso atual e o pré-gestacional;


2) Plota-se o valor encontrado do ganho de peso no gráfico, na coluna correspondente à
idade gestacional;
3) Faz-se então, a leitura seguida de interpretação, de acordo com a localização do ponto
no Gráfico 5.

Pontos de corte

Baixo peso < p25


Eutrofia p25 e p90
Sobrepeso > p90

Gráfico 5 - CLAP. BRASIL (2000).

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Quadro 7 - Vantagens e desvantagens da curva de CLAP

Vantagens Desvantagens
Simplicidade no uso Fundamentado em relações corporais
de mulheres no período reprodutivo
Permite monitorar o progresso de ganho
que compunham tabelas de
de peso nas demais consultas
referência do século passado

Não foi validada no Brasil

Tabela 12 - Ganho de peso gestacional na gestação gemelar

Ganho de peso semanal


Ganho de peso Ganho de peso Ganho de peso 28 Ganho de peso
IMC pré-gestacional
0-20 semana 20-28 semanas semana ao parto (kg) total
< 19,8 (baixo peso) 0,567 a 0,79g O,68-0,79kg 0,56kg 22,5-27,9kg

19,8-26 (Adequado) 0,45-0,68kg 0,56-0,79kg 0,45kg 18-24,3kg

26,1-29 (sobrepeso) 0,45-0,56kg 0,45-0,68kg 0,45kg 17,1-21,2kg

> 29 (obesidade) 0,34-0,45kg 0,34-0,56kg 0,34kg 13-17,1kg

30
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

2 Prescrição dietoterápica na gestação

2.1 Necessidades nutricionais na gestação

O comportamento alimentar durante o período de gestação sofre influencias decorrente das


alterações fisiológicas pertinentes a este estado, bem como do perfil psicológico que também
se encontra alterado neste período.

Desta maneira a avaliação qualitativa e quantitativa da alimentação da gestante visa o aporte


nutricional adequado para a gestante e para o crescimento intrauterino.

Alguns fatores interferem diretamente no estado nutricional:

• Gestações prévias com intervalo curto entre elas


• Fumo
• Difícil acesso ao serviço de saúde
• Condições de saneamento e moradia
• Parasitoses intestinais, má absorção de nutrientes
• Doenças crônicas pré-gestacionais
• Doenças já existentes
• Tipo, carga horária de trabalho

Na gestação ocorre um aumento das necessidades nutricionais da futura mãe para que
o feto seja beneficiado e com isso um desenvolvimento adequado. Mesmo em situações de
desnutrição a gestante pode gerar um bebê saudável.

2.2 Distribuição dos nutrientes

A seguir, estão representadas as distribuições percentuais dos macronutrientes:

Tabela 13 - Recomendações de nutrientes dados pela distribuição energética de gestantes

Nutrientes Recomendações diárias (em relação ao VET)

Carboidratos 55 a 75%

Açúcares de adição < 10%

Proteínas 10 a 15%

Lipídios 15 a 30%

Água 3 litros/dia

Fibras > 25g/dia


Fonte: FAO (2004).

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

2.3 Fracionamento da dieta

A dieta deve ser fracionada em, no mínimo, seis refeições diárias. No primeiro trimestre
de gestação, há predominância de ânsias e enjôos, além de inapetência. O fracionamento de
refeições favorece a ingestão adequada de nutrientes, evita a saciedade precoce, a sensação
de estômago cheio e a pirose.

2.4 Condutas específicas relacionadas aos sinais e sintomas da


gestação

Náuseas, vômitos e sialorreia

São situações frequentes no primeiro trimestre e costumam aparecer em torno da 6ª semana


e se estendem até a 20ª semana. A gestante deve ser tranquilizada, uma vez que estes
sintomas não irão influenciar na nutrição do bebê.

Orientações alimentares recomendadas:

a) alimentação fracionada; seis a oito refeições/dia com intervalos máximos de 3h;


b) evitar frituras, gorduras e alimentos com cheiros fortes ou desagradáveis;
c) evitar líquidos durante as refeições, dando preferência à ingestão nos intervalos;
d) ingerir alimentos sólidos antes de levantar-se pela manhã – bolacha água e sal;
e) ingerir suco de limão pode ajudar a controlar a náusea;
f) utilizar líquidos ou alimentos gelados para evitar o vômito;
g) comer lentamente, mastigar bem os alimentos.

Pirose

Ocorre mais comumente após as refeições, devido ao refluxo do conteúdo gástrico provocado
pela pressão do útero sobre o estômago e relaxamento de esfíncter inferior do esôfago.
Orientações alimentares recomendadas:

a) alimentação fracionada; seis a oito refeições/dia com intervalos máximos de 3h;


b) evitar frituras, café, chá-preto, mate, doces, alimentos gordurosos, picantes e irritantes
da mucosa gástrica, álcool e fumo;
c) alimentar-se em ambiente tranquilo;
d) mastigar bem os alimentos durante a refeição;

Se houver necessidade de utilizar antiácidos, orienta-se para que não sejam ingeridos durante
as refeições, visto que pode prejudicar a absorção dos minerais e vitaminas.

32
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Gases ou constipação intestinal

Os gases intestinais são formados de duas maneiras:

a) pela ingestão de ar no ato da alimentação, da fala e na ingestão de líquidos;


b) pela ação de bactérias durante o processo digestivo – a fermentação, sintomas: abdômen
inchado, dolorido, endurecido, barulhos e mal-estar.

Orientações alimentares recomendadas:

a) Alimentação rica em fibras e consumo de frutas laxativas, como mamão, ameixa e laranja
com bagaço, figos, feijões, cereais integrais e verduras (de preferência cruas).
b) O leite pode provocar a flatulência. A substituição por iogurte pode aliviar os sintomas.
c) Aumento da ingestão de água.
d) Evitar alimentos como alho, batata-doce, brócolis, cebola crua, couve, couve-flor,
rabanete e repolho.
e) No consumo de farelo de aveia ou de trigo, inicie com ½ colher de sopa por dia até
2 colheres por dia conforme tolerância da gestante. Não existem evidências de que o
consumo de fibras nessa quantidade interfira na biodisponibilidade do ferro ingerido ou
suplementado. O chá de erva-doce auxilia a prevenir e a aliviar a flatulência.
f) Evitar o uso de adoçante sorbitol, pois ele pode ser um grande causador de gases.
g) Mamão e abacaxi ajudam a melhorar a digestão.
h) Iogurtes com lactobacilos vivos podem ajudar a combater os gases formados por outras
bactérias intestinais.
i) Para reduzir a produção de gases causada pelo feijão, lentilha ou grão de bico, deixá-los
de molho por 12 horas, trocando a água pelo menos três vezes durante esse período.
j) Evitar consumo de doces (açúcar, mel, chocolates, doces em geral), pois podem provocar
fermentação.
k) Procurar não conversar enquanto se alimenta para evitar a ingestão de ar.
l) A atividade física estimula o funcionamento do intestino e ajuda a expulsar os gases.

2.2 Alimentos contra indicados na gestação

Uso de adoçantes

A recomendação de edulcorantes na gestação deve estar embasada na relação custo-


benefício do uso destes produtos, sendo que seu uso deve ser reservado para o controle de
peso e diabetes.

A sucralose, o acessulfame-k, o aspartame e a estévia não são tóxicos, carcinogênicos


ou teratogênicos em animais, mas não existem estudos controlados em humanos. Parece
improvável que seu uso possa ser prejudicial. O uso do sorbitol deve ser moderado, pois
aumenta a excreção de minerais essenciais, como o cálcio. As gestantes devem restringir o uso
de sacarina e ciclamato.

33
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Consumo de bebidas alcoólicas

O álcool, quando consumido pela gestante, atravessa a barreira placentária, expondo o feto
às mesmas concentrações de álcool que o sangue materno é submetido. Porém, o efeito no
feto é maior, devido ao metabolismo e eliminação serem mais lentos, fazendo com que o líquido
amniótico permaneça impregnado de álcool.

Consumo de cafeína

O consumo de altas doses de cafeína na gestação pode estar associado ao aumento do risco
de recém-nascido com baixo peso e de aborto. O consumo diário de cafeína seguro é 300mg. A
cafeína pode ser encontrada no café e bebidas à base de café, chá-preto, chocolate, chimarrão,
refrigerante a base de cola e em bebidas energéticas.

A dose diária segura de cafeína para a gestante sem riscos para o bebê segue estas
recomendações: 3 xícaras (200ml) de café coado, 2 xícaras pequenas (50ml) de café expresso,
2 xícaras (200ml) de café instantâneo. Vale salientar que o chocolate, seja sólido ou em pó,
também possui cafeína: dois tabletes pequenos equivalem, em média, a 1 xícara de café coado.

34
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

3 Alimentos funcionais na gestação

3.1 Definição

O conceito de alimentos funcionais surgiu inicialmente no Japão, na década de 80, mas


sua sigla em inglês FOSHU (Foods for Specified Health Use)surgiu na década de 90. Estes
alimentos eram definidos como alimentos usados como parte de uma dieta saudável, porém
demonstravam características fisiológicas benéficas e/ou redução do risco de doenças crônicas,
além de suas funções básicas na nutrição. Atualmente, não existe um consenso internacional
que defina e regularize os alimentos funcionais. Cada país tem adotado uma definição própria
e normas específicas para classificar um alimento como funcional.

No Brasil não há definição oficial para alimentos funcionais, entretanto a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), ligada ao Ministério da Saúde, é responsável pela regularização
desses alimentos. A Anvisa instituiu, em 1995, a Comissão de Assessoramento Técnico em
Alimentos Funcionais e Novos Alimentos (CTCAF). Esta comissão foi responsável pela elaboração
de resoluções sobre o tema e o estabelecimento de diretrizes para utilização da alegação de
propriedades funcionais e/ou de saúde.

A Portaria n. 398 de 30/04/99 da Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) do Ministério da


Saúde (MS) define que

Alimento funcional é todo aquele alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais
básicas, quando consumido na dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológico e/ou
efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica.

O Ministério da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),


regulamentou os Alimentos Funcionais e Novos Alimentos através das seguintes Resoluções:

◊ Resolução Anvisa/MS 16/99: procedimentos para registro de alimentos e/ou novos


ingredientes, cuja característica é de não necessitar de um Padrão de Identidade e Qualidade
(PIQ) para registar um alimento, além de permitir o resgistro de novos produtos sem
histórico de consumo no país e também novas formas de comercialização para produtos
já consumidos.
◊ Resolução Anvisa/MS 17/99: diretrizes básicas para avaliação de risco e segurança de
alimentos, baseadas em estudos e evidências. Avalia-se que o produto é seguro sob o
ponto de vista de risco à saúde ou não.
◊ Resolução Anvisa/MS 18/99: regulamento técnico que estabelece as diretrizes básicas para
análise e comprovação de propriedades funcionais e/ou de saúde, alegadas em rotulagem
de alimentos.

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Nesta última resolução, duas definições foram estabelecidas:

• Alegação de propriedade funcional é aquela relativa ao papel metabólico ou fisiológico


que o nutriente ou não-nutriente tem no crescimento, no desenvolvimento e em outras
funções normais do organismo.
• Alegação de saúde é aquela que afirma, sugere ou implica a existência de relação entre o
alimento ou ingrediente com uma doença ou condição relacionada com a saúde.

Para que a Anvisa permita a alegação de propriedades funcionais ou de saúde em determinados


alimentos, são necessários os seguintes itens:

◊ o alimento ou ingrediente que alegar propriedade funcional ou de saúde pode produzir


efeitos metabólicos/fisiológicos benéficos à saúde (além de funções nutricionais básicas);
◊ deve ser seguro para consumo sem supervisão médica;
◊ nutrientes com funções plenamente reconhecidas pela comunidade científica não têm
necessidade de demonstração de eficácia ou análise para alegação funcional na rotulagem
(item 3.3 da Resolução Anvisa n. 18);
◊ quando se tratar de uma nova propriedade funcional, há necessidade de comprovação
científica da alegação de propriedade funcional ou de saúde e da segurança de uso;
◊ não são permitidas alegações de saúde que façam referências à cura ou à prevenção de
doenças.

Um alimento para ser registrado como funcional pela Anvisa deve ter alegação de propriedade
funcional ou de saúde comprovada com base em:

◊ consumo previsto ou recomendado pelo fabricante;


◊ finalidade, condições de uso e valor nutricional;
◊ evidência(s) científica(s): composição com caracterização molecular, ensaios bioquímicos,
ensaios nutricionais/fisiológicos/toxicológicos em animais de experimentação, estudos
epidemiológicos, ensaios clínicos, evidências abrangentes da literatura científica, legislação
internacionalmente reconhecida sobre as propriedades e características do produto,
comprovação de uso tradicional e de que não possui associação de danos à saúde.

Quadro 8 - Lista dos produtos com alegação de propriedade


funcional ou de saúde aprovados pela Anvisa:

Produto/alimento/nutriente Alegação de propriedade funcional


Contém ácidos graxos monoinsaturados que auxiliam o
Azeite de oliva
na manutenção da concentração sérica de colesterol.
Creme vegetal contendo fitosteróis Auxilia na redução da concentração sérica de colesterol total.
Frutoligossacarídeos (FOS) e inulina Auxiliam na manutenção do equilíbrio da flora intestinal;
(para adição em alimentos) contribuindo para uma flora intestinal saudável.
Ajudam a regular a fluidez do sangue e a regular a
Leite com ácidos graxos
concentração sérica de triglicerídeos, além de auxiliar
ômega-3 e/ou ômega-6
na resposta anti-inflamatória e imunológica.

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Produto/alimento/nutriente Alegação de propriedade funcional


Leites fermentados à base de
Manutenção do equilíbrio da microbiota intestinal,
Lactobacillus acidophilus e/
aumentando os microrganismos benéficos e
ou bifidobacterium lactis (em
diminuindo as bactérias patogênicas.
pó, para adição em líquidos)
Ajudam na regulação da fluidez do sangue regulam
Ômega-3 e ômega-6 em cápsulas
a concentração sérica de triglicerídeos.
Psyllium (Plantago ovata) Reduz a absorção de gorduras no intestino.
Quitosana ou fibra de
Auxilia no controle de peso e na redução do colesterol sérico.
crustáceo (pó ou cápsula)

Além dos alimentos citados acima, muitos outros alimentos, nutrientes e substâncias
têm sido investigadas e possuem efeitos fisiológicos benéficos descritos na literatura, sendo
considerados internacionalmente como alimentos funcionais. No quadro abaixo encontramos
os principais alimentos e substâncias bioativas que receberam destaque científico nas últimas
décadas pelas suas propriedades funcionais:

Quadro 9 - Fontes alimentares, efeitos, principais princípios ativos e dos alimentos funcionais

Composto
Efeito Fonte alimentar
ativo
Carotenoides Atividade antioxidante e anticarcinogênica. Damasco, melancia, mamão, melão,
pêssego, abóbora, brócolis, cenoura,
espinafre, inhame, nabo, tomate.
Ácido fenólico Atividade antioxidante. Frutas cítricas, morango, uva,
agrião, berinjela, brócolis, cenoura,
pimenta, repolho, salsa, tomate.
Antocianinas Atividade antioxidante e antitumorigênica. Frutas vermelhas como amora,
framboesa, morango.
Catequinas Atividade antioxidante e redução do Cacau, morango, uva, chá-
risco de doenças cardiovasculares. verde, chá-preto e vinho tinto.
Flavonoides Atividade antioxidante, redução do risco Cereja, frutas cítricas, soja,
de câncer e doenças cardiovasculares. abóbora, berinjela, brócolis,
couve, salsa, tomate, nozes.
Isoflavonas Inibição do acúmulo de estrogênio, Soja.
reposição hormonal e redução
de células carcinogênicas.
Oligossacarídeos Diminuição do risco de câncer e da Cereais integrais, frutas,
e polissacarídeos concentração sérica de colesterol. leguminosas e verduras.
Ômega-3 e Redução do risco de câncer, hipertensão Linhaça, óleo de canola, nozes
Ômega-6 arterial e doenças cardiovasculares. e peixes de água fria.
Prebióticos e Regulação do trânsito intestinal e pressão Alcachofra, alho, aspargos, aveia,
probióticos arterial sistêmica, redução dos riscos de banana, cebola, centeio, cevada,
câncer, da concentração sérica de colesterol mel, raiz de chicória, tomate e trigo.
total e frações e dos triglicerídeos,
redução da intolerância à lactose.
Fonte: Fagundes e Costa (2003).

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3.2 Nutrientes e substâncias bioativas

As substâncias bioativas são encontradas em alimentos (podem ser nutrientes com funções
bem estabelecidas na nutrição normal ou outras substâncias sem papel definido no funcionamento
do organismo). Estas substâncias são responsáveis por contribuir beneficamente na saúde do
indivíduo, evitando o aparecimento de doenças e contribuindo de forma funcional na saúde dos
indivíduos.

Carotenoides

Os carotenoides compreendem um grupo de substâncias antioxidantes pertencentes à classe


dos terpenos. São substâncias responsáveis pela pigmentação dos alimentos, portanto conferem
coloração às plantas, como o laranja, vermelho e verde escuro. Alguns carotenoides como a
luteína, neoxantina e betacaroteno encontram-se em uma variedade de vegetais, enquanto
outros, como o licopeno e a capsantina, apesar de encontrados em abundância, são restritos a
poucos alimentos.

Os carotenoides são substâncias tetraterpênicas formadas por um grupo de mais de 600


compostos químicos, porém apenas 10% destas são precursores da vitamina A. A principal
característica dos carotenoides é sua função antioxidante a partir da neutralização dos radicais
peróxidos. Por se tratar de substâncias lipossolúveis, tem sua ação principalmente em meios
lipídicos. Desta forma, desempenham papel importante nos radicais livres que danificam as
membranas celulares.

Os carotenoides podem ser divididos em:

1) Carotenos: alfacaroteno, betacaroteno e licopeno.


2) Xantofilas: beta-criptoxantina, luteína e zeaxantina.

Fonte: <http://dc336.4shared.com/doc/J4yd2uMb/preview.html>. Acesso em: 10 jul. 2014.

Tabela 14 - Principais carotenoides encontrados na natureza e sua taxa de conversão em vitamina A

Carotenoides Atividade pro-vitamínica A (%) Carotenoides Atividade pro-vitamínica A (%)


ß-caroteno 100 ß-criptoxantina 50-60
α- caroteno 50-54 luteína inativo
γ-caroteno 42-50 licopeno inativo
Fonte: Cozzolino (2012).

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Luteína e zeaxantina

A luteína e zeaxantina fornecem proteção nos olhos contra danos oxidativos induzidos pela
luz, pois são os únicos carotenoides presentes na retina e na mácula. O consumo de 6mg/dia
destes carotenoides pode reduzir o risco de catarata. As principais fontes de zeaxantina incluem
o milho e derivados e de luteína são vegetais verdes folhosos.

Segundo alegação funcional da Anvisa (1999), “A luteína tem ação antioxidante que protege
as células contra os radicais livres. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. “A zeaxantina tem ação antioxidante que protege
as células contra os radicais livres. Seu consumo deve estar associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida saudáveis”.

Licopeno

O licopeno é um hidrocarboneto (C40H56) acíclico que apresenta uma cadeia de 13 carbonos


conectados por duplas ligações, 11 dos quais são conjugados e dispostos linearmente. Sua
principal característica é a cor avermelhada, a solubilidade em óleo e sua atividade antioxidante.
Sua atividade antioxidante é 10 vezes maior em relação ao betacaroteno e esta substância possui
a maior capacidade sequestrante do oxigênio singlete, possivelmente devido à presença das
duas ligações duplas não conjugadas, conferindo maior reatividade. Em estudos experimentais
(HEBER; LU, 2002), o licopeno apresentou maior capacidade antioxidante em relação aos outros
carotenoides. Segue abaixo a ordem de reativade dos carotenoides (da maior para a menor):

1) licopeno;
2) alfa-tocoferol;
3) alfacaroteno;
4) beta-criptoxantina;
5) zeaxantina e betacaroteno;
6) luteína.

As principais fontes de licopeno são os tomates, goiaba, mamão e pitanga, como mostra a
tabela abaixo:

Tabela 15 - Principais fontes de licopeno

Descrição Procedência Nº de lotes analisados Quantidade média


de Licopeno
Goiaba “Ogawa” SP 5 57 µg/g
Goiaba “Paluma” SP 5 66 µg/g
Mamão “Formosa” SP, RJ 17 21 µg/g
Mamão “Golden” ES 5 19 µg/g
Mamão “Solo” SP 10 21 µg/g
Mamão “Sunrise” BA 5 24 µg/g
Mamão “Tailândia” SP 10 40 µg/g

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Descrição Procedência Nº de lotes analisados Quantidade média


de Licopeno
Melancia “Crimson Sweet” SP 5 36 µg/g
Pitanga, parcialmente madura SP 5 38 µg/g
Pitanga, parcialmente madura PR 5 7,4 µg/g
Pitanga, madura SP 10 76 µg/g
Pitanga, madura PR 5 15 µg/g
Tomate “Carmen” SP 6 35 µg/g
Tomate “Santa Cruz” SP 15 34 µg/g
Fonte: Rodriguez-Amaya et al. (2008).

Tabela 16 - Quantidade de licopeno nos alimentos

Alimento Quantidade de licopeno (mg/100g peso seco)


Tomate fresco 3,1 - 7,74
Tomate processado 11,21
Extrato de tomate enlatado 31,07
Suco de tomate processado 7,83
Sopa de tomate enlatada 3,99
Catchup 16,60
Melancia 4,10
Mamão 2,0 - 5,30
Fonte: Nguyen e Schwartz (1999).

◊ Biodisponibilidade do licopeno

Como discutido anteriormente, o tomate é a principal fonte de licopeno encontrada na natureza.


A maior ingestão de licopeno no mundo ocorre pela ingestão de tomates, que representa cerca
de 85% do total de licopeno ingerido. O tomate é um fruto amplamente ingerido no Brasil, ele
representa quase 50% da ingestão total de hortaliças pelos brasileiros.

Entretanto, alguns fatores podem contribuir para diferentes concentrações de licopeno


encontradas neste fruto, como tipo e variedade de tomate, práticas agrícolas, condições
ambientais de amadurecimento e grau. Um exemplo é a variedade de tomate L. Pimpinellifolum
(tomate selvagem), que contém até 40mg/100g de alimento fresco. Já o L. esculentum (tomate
comum), contém cerca de 10mg/100g. O grau de amadurecimento interfere na concentração
de licopeno, uma vez que quanto mais maduro, mais licopeno apresenta, pois este perde a
cor verde caracterizada pela concentração de clorofila e adquire aspecto mais avermelhado,
caracterizado pelo licopeno.

Como a temperatura ambiental está relacionada ao grau de amadurecimento da fruta,


tomates plantados no verão tendem a apresentar mais licopeno do que no inverno. Entretanto,
o excesso de calor e de luz solar pode inibir a produção de licopeno. Desta forma, a região

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em que o tomate é plantado também interfere na produção do licopeno. O tomate comum


brasileiro pode apresentar menor quantidade de licopeno em comparação a outros frutos, como
a goiaba, o mamão e a pitanga.

O tomate vermelho maduro contém maior quantidade de licopeno em relação aos outros
tipos, portanto, quanto mais vermelho o fruto, maior sua quantidade. Assim, os tipos de tomate
que apresentam maior quantidade de licopeno são: tomate ameixa, tomate para salada, tomate
cereja e tomate caqui. Os tipos de tomate mais amarelados apresentam mais betacaroteno
em sua composição. Isto ocorre pela quantidade da enzima beta-ciclase, responsável pela
transformação do licopeno em betacaroteno.

O licopeno, assim como os carotenoides em geral, estão presentes em maior concentração


na casca dos alimentos e sua concentração é maior em frutos originários de regiões de climas
quentes, pois sabe-se que o estresse produzido pelos raios ultravioleta aumenta sua produção.

Além do licopeno, os tomates são considerados importantes antioxidantes, pois apresentam


em sua composição a vitamina C (vitamina hidrossolúvel) e a vitamina E (vitamina lipossolúvel).
A ação antioxidante deste fruto pode variar de acordo com o seu processamento, portanto
ingerir os tomates frescos aumenta a disponibilidade de vitamina C, enquanto ingerir os
tomates processados aumenta a biodisponibilidade de vitamina E e licopeno. Como a atividade
antioxidante é maior com o aproveitamento da vitamina E e licopeno agregado em comparação
à vitamina C do fruto, a melhor ação antioxidante da ingestão de tomates se dá com o consumo
do fruto processado.

O consumo do tomate processado favorece maior absorção do licopeno, pois o aumento de


temperatura leva a um rompimento da parede vegetal das células do tomate, facilitando a extração
deste carotenoide dos cromoplastos, estruturas celulares vegetais que armazenam o licopeno.
A liberação do licopeno dos cromoplastos favorece sua absorção, visto que componentes da
parede vegetal celular não podem ser digeridos quimicamente pelo trato digestório. Além disso,
lipídios ingeridos juntamente com os tomates favorecem a absorção do licopeno, pois este é
uma substância lipossolúvel e para que haja melhor absorção deste carotenoide é interessante
que ocorra emulsificação do licopeno pelos sais biliares.

A ingestão de cerca de 5g de gordura concomitante à ingestão de tomates é suficiente para


estímulo de secreção de sais biliares e formação de micelas, auxiliando o processo de absorção.
Um estudo realizado por Gartner, Stahl e Sies (1997), mostrou que a ingestão de molho de
tomate cozido em óleo resulta em um aumento de 2 a 3 vezes na concentração sérica de
licopeno um dia após sua ingestão, de modo diferente da ingestão de suco de tomate fresco,
que não foi capaz de aumentar o licopeno sérico.

O aumento da biodisponibilidade do licopeno a partir da ingestão de lipídios também está


relacionado à modificação da forma isomérica desta substância. Cerca de 80% do licopeno
presente nos tomates encontra-se sob a forma do isômero trans (trans-licopeno), entretanto
a forma bioativa do licopeno encontrada no sangue e tecidos estão em sua maioria na forma

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do isômero cis (cis-licopeno). O trans-licopeno possui baixa absorção, porém o processamento


térmico dos tomates e seus produtos melhora a sua biodisponibilidade. Além disso, pode
ocorrer isomerização do licopeno (modificação do trans-licopeno para o cis-licopeno), quando
este é separado da matriz alimentar e incorporado nas micelas. Os cis-isômeros de licopeno
são melhor absorvidos pela sua maior solubilidade em micelas e por não se agregarem como
o trans-isômero.

A quantidade de licopeno em produtos processados também pode sofrer variações, de acordo


com a composição do alimento de origem e as condições de processamento. A concentração
de licopeno em produtos processados é geralmente maior que a concentração encontrada em
alimentos crus, pelos fatores discutidos acima.

◊ Alegação de propriedade funcional do licopeno

Segundo a literatura científica, o consumo dietético de tomate, bem como alimentos


produzidos a partir deste fruto, produz propriedades funcionais, pois está associado a uma
redução do risco de doenças cardiovasculares e redução do risco de câncer de próstata. A Anvisa
reconhece o licopeno como funcional e a alegação permitida em produtos contendo licopeno é
a seguinte: “O licopeno tem ação antioxidante que protege as células contra os radicais livres.
Seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”.

Flavonoides

São compostos fenólicos produzidos por plantas e são responsáveis pela cor e sabor delas.
Possuem funções específicas nos vegetais, tais como crescimento, desenvolvimento e na defesa
contra o ataque de patógenos e da radiação ultravioleta.

A estrutura molecular básica dos flavonoides consiste em dois anéis fenólicos A e B e um anel
C, entretanto estas estruturas podem sofrer modificações, formando subclasses deste composto.
Atualmente algumas subclasses dos flavonoides foram descritas, dentre elas, podemos destacar:
calconas, dihidrocalconas, auronas, flavonas (apigenina, luteolina, diosmetina), flavonóis
(quercetina, miracetina, kaempferol), dihidroflavonol, flavanonas (naringina, hesperidina),
flavanol, flavandiol, antocianidina, isoflavonoides (genisteína, daizdeína), bioflavonoides e
proantocianinas. A seguir vemos a estrutura molecular básica dos flavonoides:

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A modificação de sua estrutura pode se dar por meio de glicosilação, esterificação, amidação e
hidroxilação, alterando sua atividade biológica. A função básica dos flavonoides está relacionada
à sua função antioxidante (neutralizam os radicais livres formados por reações metabólicas).
Além disso, podem atuar como quelantes de metais responsáveis pela peroxidação lipídica.

Fonte: <http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/46/artigo.htm>. Acesso em: 31 jul. 2014.

Figura 5 - Principais fitoquímicos encontrados nos alimentos e suas


respectivas classificações. Fonte: adaptado de Liu (2004).

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Resveratrol

O resveratrol é um flavonoide pertencente ao grupo de estilbenos e possui efeitos antioxidantes


que são comuns aos polifenóis. Além disso, o consumo de resveratrol tem sido associado a
um menor risco de doenças cardiovasculares e câncer. O efeito positivo na redução dos riscos
de doença cardiovascular está associado à inibição da suscetibilidade do LDL à oxidação e
agregação plaquetária. As principais fontes de resveratrol são as uvas, sendo que as uvas de
casca escura possuem uma quantidade dez vezes maior em relação às uvas claras. Como a
concentração de resveratrol é maior na casca e semente deste fruto, o vinho tinto representa
a principal fonte destes flavonoides, em relação ao alimento fresco e desta forma é o principal
alimento funcional associado à redução de doenças cardiovasculares.

Tabela 17 - Concentração dos compostos fenólicos majoritários em vinhos tintos e brancos

Fenóis Vinho Tinto (mg/L) Vinho Branco (mg/L)


Catequina 191 35
Epigalocatequina 82 21
Ácido Gálico 95 7
Cianidina 3 0
Malvidina-3-glicosídeo 24 1
Rutina 9 0
Quercetina 8 0
Miricetina 9 0
Ácido Cafeico 7,1 2,8
Resveratrol 1,5 0
Teores médios de fenólicos totais* 2567 239
Fonte: adaptado de Frankel (1995).

Além das doenças cardiovasculares e câncer, alguns estudos mostram os benefícios do


resveratrol nas seguintes condições patológicas e doenças:

◊ propriedades antioxidantes;
◊ propriedades vasodilatadoras;
◊ propriedades cardioprotetoras;
◊ controle e prevenção de diabetes;
◊ proteção antiviral;
◊ efeito neuroprotetor;
◊ efeitos anti-inflamatórios.

Quercetina

A quercetina (3,5,7,3’-4’- pentahidroxiflavona) é o flavonoide mais ingerido na dieta (75%


do total de flavonoides ingeridos). Sua estrutura molecular é responsável pela sua característica
antioxidante. Seu consumo estimado pode variar entre 13 a 64mg/dia, dependendo da

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composição da dieta. As principais fontes de quercetina são frutas vermelhas como framboesa,
morango, mirtilo e amoras, cebola, maçã, chá-preto, chá-verde, erva-mate, alface roxa, couve,
brócolis, espinafre, pera, uva e vinho tinto.

Quadro 10 - Conteúdo de quercetina nos alimentos

mg/100g alimento mg/100g alimento


Fonte Fonte
(parte comestível) (parte comestível)
Cebola branca 21 Chá-preto 3,1
Cranberries 15 Chá-verde 3
Pimenta verde 14,7 Tomate-cereja 2,8
Alface roxa 12 Cereja 2,6
Couve 7,7 Erva-mate 2,6
Mirtilo 5,05 Brócolis 2,5
Maçã 4,7 Vinho tinto 2,2
Pera 4,5 Uva vermelha 1,4
Espinafre 4,1 Morango 1,1
Fonte: USDA (2007).

Os estudos científicos relataram vários efeitos benéficos da quercetina, relacionados abaixo:

◊ potente capacidade antioxidante (5Xs maior em relação à vitamina C);


◊ efeito anti-inflamatório;
◊ efeito imunomodulador;
◊ biogênese de mitocôndrias isoladas.

Catequinas

As catequinas são substâncias antioxidantes encontradas principalmente em frutas da família


do morango, uva e chá-verde, alimento que possui maior quantidade destes flavonoides. Dentre
as catequinas mais encontradas no chá-verde, destacam-se a epicatequina, epigalocatequina e
epigalocatequina – 3-galato.

As catequinas possuem, além de sua função antioxidante, outras funções benéficas relatadas
na literatura:

◊ diminuição da absorção intestinal de lipídios e glicose;


◊ aumento da sensibilidade à insulina;
◊ diminuição da lipogênese;
◊ aumento do gasto energético;
◊ efeito anti-inflamatório;
◊ efeito antitumorigênico;
◊ controle da obesidade, diabetes, esteatose hepática e câncer.

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Estudos mostram que o aumento da concentração plasmática de catequinas ocorre 1 a


2,7 horas após a ingestão de chá-verde. Estas, por sua vez, possuem vida média na corrente
sanguínea de 1,5 a 5,7 horas após sua ingestão. Desta forma, podemos verificar que as
catequinas possuem baixa biodisponibilidade e rápida eliminação urinária, o que dificulta sua
ação benéfica no organismo. Portanto, para que o chá-verde apresente efeito benéfico desejado,
estima-se que a ingestão diária está em torno de 5 a 10 copos de chá por dia, o que contradiz a
recomendação diária de chá-verde que está em torno de duas xícaras de 200ml/dia. O excesso
de chá-verde pode levar à toxicidade hepática.

Contraindicações:

◊ Nefrite
◊ Doenças psiquiátricas
◊ Dependência química
◊ Glaucoma
◊ Hipertensão
◊ 600mg/dia induz à deficiência de ferro na gestação

Antocianinas

As antocianinas são pigmentos fenólicos ligados a açúcares que conferem às flores e alguns
frutos suas cores características. A antocianidina é o polifenol livre, ou seja, não ligado à glicose,
o que confere cor avermelhada aos vegetais. Já a antocianina está ligada à glicose, conferindo
cor arroxeada aos alimentos. Suas principais fontes são as ameixas, uvas, framboesa, amora,
mirtilo, açaí e repolho roxo.

Dentre os efeitos benéficos relatados na literatura, podemos destacar:

• controle da adipogênese (aumento do número de células adiposas), levando a um controle


antiobesidade;
• aumento da adiponectina, hormônio relacionado com o aumento da sensibilidade à insulina
e geralmente diminuído no diabetes;
• efeito antioxidante.

Isoflavonas

Isoflavonas são fitoestrógenos derivados da fração proteica da soja e de seus derivados. As


principais fontes de isoflavonas são o leite de soja, tofu e proteína texturizada da soja. Dentre
as isoflavonas mais encontradas, podemos destacar a genisteína e daidzeína.

Os efeitos benéficos relatados das isoflavonas estão relacionados abaixo:

◊ efeito antitumorigênico;
◊ prevenção do câncer de mama, ovário e próstata;
◊ prevenção de doenças cardiovasculares;
◊ controle dos sintomas da menopausa.

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Ácidos graxos ômega-3

Os ácidos graxos ω-3 têm sido amplamente estudados por seus diversos efeitos biológicos.
O principal componente da família destes ácidos graxos é o ácido linolênico 18:3, encontrado
em óleos vegetais e sementes. Entretanto, sabe-se atualmente que os efeitos biológicos mais
discutidos estão relacionados a dois tipos de ω-3 encontrados em óleos extraídos de peixes: o
ácido eicosapentanoico, 20:5 (EPA), e o ácido docosahexanoico, 22:6 (DHA).

Entre as principais funções dos ácidos graxos ω-3 destacam-se a conformação das membranas
celulares, da mesma forma que os precursores de substâncias como as prostaglandinas,
tromboxanos e leucotrienos.

As fontes alimentares desses ácidos graxos são as castanhas e frutas oleaginosas (castanha-
do-pará, avelã, amendoim, pistache); alguns óleos vegetais como o óleo de canola; frutas como
o abacate e principalmente o avocado e a linhaça. Entretanto a maior fonte alimentar de ácidos
graxos do tipo ω-3 está relacionado aos peixes de águas frias (salmão, atum, truta, arenque). Estes
peixes possuem grande quantidade de ácidos graxos ω-3 em sua composição, principalmente os
dois tipos que foram primeiramente descobertos e são atualmente os mais estudados: o ácido
graxo eicosapentanoico (EPA, 20:5 n-3) e o docosahexanoico (DHA, 22:6 n-3).

Tabela 18 - Principais fontes alimentares dos AGPI ω-3:

Alimentos Gordura total AGPI total EPA DHA


Atum 4,6 1,6 0,02 0,14
Marisco 1,8 0,6 0,3 0,1
Óleo de fígado de bacalhau 99,9 30,5 10,8 8,3
Ostras 1,3 0,5 0,14 0,16
Salmão 11 3,1 0,5 0,86
Sardinha enlatada em óleo de soja 9,7 5,02 0,47 0,51
Truta 5,2 1,7 0,2 0,8
Fonte: González et al. (2003).

Funções biológicas dos AGPI ω-3

Os efeitos biológicos dos AGPI ω-3 têm sido relatados pela literatura científica há algum
tempo. As descobertas iniciais de seus efeitos biológicos apontaram sua importância no
metabolismo de eicosanoides, grupos de compostos biologicamente ativos de vinte carbonos
(C20) que incluem as prostaglandinas, tromboxanas e os leucotrienos.

Os eicosanoides são substâncias derivadas do ácido araquidônico (AA), ácido graxo da


família do ω-6 e são sintetizados a partir dos ácidos graxos poli-insaturados componentes dos
fosfolipídios das membranas celulares. Possuem função parácrina, ou seja, são produzidos em
pequenas quantidades e agem somente nas células próximas onde são sintetizados. Dentre
suas funções, destacam-se efeitos fisiológicos na função reprodutiva, na inflamação, febre, dor

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associada à lesão ou doença, formação das plaquetas e regulação da pressão arterial, secreção
de ácidos gástricos e uma variedade de outros processos fisiológicos importantes.

Os AGPI ω-3 interferem no metabolismo de eicosanoides, aumentando ou diminuindo a


síntese de séries específicas de prostaglandinas, tromboxanas e leucotrienos. Os principais
efeitos encontrados na literatura são:

• Diminuição de PGE2 (prostaglandina pró-inflamatória)


• Diminuição TA2 (tromboxana que possui função de agregador plaquetário)
• Diminuição LB4 (quimiotaxia – recrutamento de monócitos)
• Aumento TA3 (fraco agregador plaquetário)
• Aumento de PGI3, PGL2 (substâncias vasodilatadoras)
• Aumento de LB5 (fraco agente inflamatório)

Os principais efeitos da modificação do perfil de eicosanoides são: diminuição na aderência de


plaquetas, diminuição nos níveis de triacilglicerol plasmático, melhora na fluidez da membrana
de eritrócitos e mudanças no endotélio vascular resultantes na produção de compostos anti-
inflamatórios, promovendo a diminuição de fatores trombogênicos.

Discutiremos a seguir as funções biológicas relacionadas à ingestão dos AGPI ω-3, assim
como os mecanismos de ação propostos.

Ômega-3 e metabolismo das lipoproteínas

Como já discutido em módulos anteriores, as principais lipoproteínas plasmáticas são os


quilomícrons (QM), lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), lipoproteínas de densidade
intermediária (IDL), lipoproteína de baixa densidade (LDL) e lipoproteína de alta densidade
(HDL). A VLDL é a principal lipoproteína responsável pelo transporte de triacilglicerol (TAG) no
plasma e geralmente o seu aumento plasmático indica um aumento na concentração de TAG
no sangue.

A LDL é responsável pelo transporte de colesterol e a HDL responsável pelo transporte reverso
de colesterol. As dislipidemias, responsáveis pela gênese de problemas cardiovasculares,
estão associadas ao aumento de VLDL e/ou LDL plasmáticos, assim como uma diminuição de
HDL. Os AGPI ω-3 possuem função no metabolismo destas lipoproteínas, pois interferem nas
concentrações destas lipoproteínas no sangue.

◊ Produção hepática de VLDL: no estado de jejum, a concentração elevada de triacilgliceróis


no sangue reflete a presença do excesso da quantidade de VLDL na circulação. Os estudos
mostram que óleos de peixe ricos em EPA e DHA diminuem a concentração de VLDL no
plasma, pela diminuição de VLDL. Estudos em animais e humanos mostram a diminuição
da taxa de secreção de VLDL promovida pelo fígado, além de diminuir a quantidade de
TAG presente na partícula, promovendo a liberação de uma partícula de VLDL menor.

48
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Estes efeitos ocorrem pois os óleos de peixe regulam a produção hepática de VLDL de
várias formas, das quais podemos destacar:
◊ inibição da síntese de ácidos graxos pelo fígado;
◊ aumento da oxidação de ácidos graxos hepáticos;
◊ diminuição da esterificação de triacilgliceróis e colesterol hepáticos pelo fígado;
◊ aumento da degradação da apolipoproteína B (ApoB), proteína componente da VLDL.

Pesquisas recentes demonstram que os efeitos do óleo de peixe são mediados pela ativação
de muitos receptores nucleares que interferem em nível molecular, por meio da transcrição
gênica nas células hepáticas. Dentre os receptores nucleares modulados por esta classe de AGPI,
destacamos os receptores ativados por proliferadores de peroxissomos (PPARs), receptores X
do fígado (LXRs), o fator nuclear hepático 4 (HNF4) e a proteína ligadora do elemento regulador
de esterol (SREBP). Estes receptores nucleares interferem na expressão de enzimas e outras
proteínas reguladoras do processo de montagem e secreção da VLDL. Abaixo estão descritos os
mecanismos pelos quais os óleos de peixe interferem nestes processos.

◊ Síntese de ácidos graxos: a maior enzima lipogênica do fígado é a sintetase de ácidos graxos
(FAS). O promotor responsável pela estimulação e expressão da enzima FAS é o receptor
SREBP, que por sua vez é regulado pelo LXR. Os óleos de peixe são responsáveis em
interferir na ligação do LXR com a região promotora do DNA, diminuindo a disponibilidade
do SREBP e consequentemente diminuindo a transcrição da enzima FAS.

◊ Oxidação hepática de ácidos graxos: os óleos de peixe aumentam o catabolismo de


ácidos graxos pelo estímulo de enzimas hepáticas que promovem a β-oxidação nos
peroxissomas, como a enzima acil-CoA oxidase (AOX) e na mitocôndria, como a carnitina
palmitoil transferase (CPT). O aumento da expressão da AOX se dá por meio do estímulo
do receptor nuclear PPAR-α, entretanto o aumento da expressão da CPT não ocorre pela
ativação deste receptor.

◊ Esterificação de triacilglicerol e colesterol hepáticos: os AGPI contidos nos óleos de peixe


são substratos fracos na esterificação do triacilglicerol, ou seja, normalmente não são
utilizados como estoque, assim como são substratos fracos na esterificação do colesterol.
Desta forma, estes ácidos graxos são preferencialmente incorporados aos fosfolipídios.
Alguns estudos mostram que a ingestão dos óleos de peixe causam uma queda de 25% na
produção de glicerol e uma diminuição de 15% da incorporação de diacilglicerois no pool
de TAGs que são acrescentados na VLDL, além de uma diminuição de 20% na secreção
de TAG hepático.

◊ Degradação da ApoB: a ApoB é a principal proteína constituinte da montagem da VLDL, que


ocorre em duas etapas. Na primeira etapa, uma pequena quantidade de TAG é associado
a ApoB no retículo endoplasmático rugoso do hepatócito, formando um precursor de VLDL
pequeno e mais denso. Este processo é facilitado pela proteína de transporte microssomal
de tricilglicerol (MTP). Durante a segunda etapa, a molécula precursora da VLDL se junta
com o droplet de TAG e forma uma grande molécula de VLDL madura. A proteína ARF-

49
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

1 (ADP-ribosylation fator 1) está diretamente relacionada a este processo. Os óleos de


peixe interferem na ligação da ApoB com o TAG na primeira etapa, promovendo sua
degradação no próprio retículo endoplasmático rugoso, em uma etapa denominada
proteólise presecretória pós-retículo endoplasmático.

◊ Produção intestinal de quilomícrons: após uma refeição, o aumento de TAG plasmático


reflete a quantidade de quilomícrons produzidos no intestino. Os efeitos do óleo de peixe
na produção de quilomícrons têm sido reportados em animais e humanos por meio dos
estudos de demonstram as características absortivas das gorduras enriquecidas com EPA e
DHA e os efeitos crônicos da suplementação do óleo de peixe na produção dos quilomícrons.
Estes estudos mostram que, em humanos, refeições ricas em óleo de peixe aumentam a
concentração de quilomícrons na circulação quando comparados a refeições ricas em azeite
de oliva, o que comprova que uma única refeição rica em óleo de peixe não produz efeito
na liberação de quilomícrons – portanto não foi verificado um efeito agudo. Entretanto,
o consumo crônico de óleo de peixe pode causar mudanças adaptativas, diminuindo a
secreção de quilomícrons após a refeição, assim como diminuindo a concentração de
quilomícrons remanescentes.

◊ Lipólise dos tricilgliceróis das lipoproteínas: ambas as lipoproteínas QM e VLDL são


responsáveis principalmente pelo transporte de TAG, que são hidrolizados nos tecidos
periféricos, em sua maioria por meio da ação da enzima lípase de lipoproteína (LPL). A
ingestão de óleo de peixe demonstrou aumento da hidrólise do TAG das lipoproteínas,
favorecendo a captação de ácidos graxos pelos tecidos. Existem duas possíveis explicações
para este efeito: a primeira seria que o efeito do óleo de peixe em diminuir o tamanho da
VLDL e QM favoreceria sua hidrólise e a tornaria mais eficiente. A segunda hipótese é de
que os AGPI ω-3 aumentariam a atividade das enzimas envolvidas com a hidrólise do TAG.

◊ Metabolismo da LDL: apesar de vários efeitos benéficos relatados nas doenças coronarianas,
não existem estudos que provam a eficácia da ingestão de óleos de peixe na diminuição da
maior lipoproteína aterogênica da circulação: a LDL. Ao contrário, alguns estudos sugerem
que esta gordura pode provocar um aumento da LDL na circulação. Este aumento poderia
ocorrer pela conversão da VLDL em LDL ou pela super secreção de apoB da LDL. Alguns
estudos em modelos animais mostram que os ω-3 podem diminuir o número de receptores
de LDL, porém este efeito não foi comprovado em humanos.

◊ Metabolismo da HDL: a suplementação com AGPI ω-3 tem sido associada a modificações na
HDL colesterol. Estudos recentes indicam que os óleos de peixe podem preferencialmente
aumentar as partículas pequenas e pobres em colesterol da HDL, o que poderia ser mais
eficiente na remoção do colesterol. Os óleos de peixe podem também aumentar a entrega
de colesterol da HDL para o fígado, por meio do aumento da expressão de receptores
scavenger B-1.

50
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Óleos de peixe como terapia nutricional na hiperlipidemia

Atualmente o grupo das estatinas é considerado a terapia medicamentosa mais eficiente


na diminuição do LDL colesterol, enquanto os fibratos têm sido utilizados na diminuição da
hipertrigliciridemia. Apesar de essas duas classes de medicamentos poderem ser utilizadas
em conjunto no tratamento da dislipidemia mista, a terapia conjunta pode aumentar o risco
de miopatias. Desta forma, a suplementação de ω-3 tem sido utilizada em conjunto com as
estatinas como alternativa do fibrato, na diminuição de TAG plasmático.

Figura 6 - Efeitos dos ácidos graxos ômega-3 na proteção cardiovascular. Fonte: adaptado de Kromhout (2011).

Ômega-3 e resistência à insulina

A ingestão de AGPI ω-3 em pacientes diabéticos tem sido recomendada primordialmente


para o tratamento e prevenção de doenças cardiovasculares, pois esta patologia leva um
aumento da incidência de doenças cardiovasculares de 2.4 a 5.1 vezes. Os estudos realizados
com suplementação de ω-3 em diabéticos não apontaram melhora do quadro hiperglicêmico,
alteração na secreção de insulina e outros hormônios, melhora do quadro de resistência à
insulina, entre outros. Portanto esta suplementação é indicada apenas para controle e prevenção
das DAC, principalmente em mulheres.

Ômega 3 e depressão

Alguns estudos sugerem que a suplementação de óleo de peixe pode ser utilizada no
tratamento da depressão. As evidências iniciaram quando uma revisão epidemiológica publicada

51
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

sugeriu que há uma ligação entre depressão e consumo de peixe. Os pesquisadores compararam
as taxas de depressão em nove países e a estimativa de consumo de peixe per capita. Os
resultados mostraram uma relação inversamente proporcional: países ocidentais possuem uma
proporção de depressão de 3 a 6% e uma baixa a moderada ingestão de peixe per capita
em comparação a países como o Japão, que possuem alta ingestão de peixes per capita e
apresentam índices de depressão de apenas 0,12% na população. Estes resultados sugerem
uma correlação de 84% entre a alta ingestão de peixe e a diminuição da depressão, assim
como se observou que os sintomas depressivos são mais comuns em consumidores irregulares
de peixe, quando comparados aos indivíduos que consomem peixe pelo menos 1X por semana.
Controversamente, um estudo realizado na Finlândia não demonstrou relação direta entre o
consumo de peixe e alta ingestão de ω-3, com a diminuição de sintomas depressivos.

A população conhecida como esquimós, habitantes da Groelândia, é um grupo étnico que


possui dieta extremamente rica em peixes de água fria, ricos em ômega-3. Nestas sociedades,
a depressão é basicamente ausente, apesar do clima frio e das condições ambientais. Alguns
estudos levantam a teoria de que apesar destes indivíduos viverem em um lugar escuro e frio
durante o inverno, as taxas de depressão e suicídio são extremamente baixas. Os resultados
deste estudo sugerem que há evidência clínica na correlação entre a alta ingestão de ômega-3
e os dados apresentados, pois esta população apresenta alta concentração deste ácido graxo
nas membranas das hemácias e dos tecidos neuronais.

Uma revisão feita em 1995 levantou a hipótese da relação entre a deficiência de ômega-3 e sua
importância etiológica no desenvolvimento da depressão. Dados epidemiológicos mostraram uma
tendência em relação à diminuição da ingestão de AGPI ω-3 e aumento da depressão. Além disso,
estes estudos mostram uma significância maior no aumento da razão na ingestão de ω-6/ω-3 do
que a baixa ingestão de ω-3 isoladamente, visto que estes dois ácidos graxos competem pelo sítio
de ligação da enzima responsável pelo alongamento e de saturação de ambos. A alta ingestão de
ω-6 também inibe a incorporação de AGPI ω-3 nos fosfolipídios das membranas celulares, levando
à diminuição da fluidez da membrana e impedindo a sinalização celular.

As evidências da relação entre baixa ingestão de ω-3 e depressão é dada por inúmeros
estudos que examinaram a composição da membrana dos eritrócitos, ésteres de colesterol
no sangue e fosfolipídios. Os dois maiores estudos nesta área descobriram que a depressão
está associada a uma diminuição significativa total de AGPI ω-3, aumentando a proporção
de ácidos graxos monoinsaturados e a razão ω-6/ω-3, mais especificamente a razão entre o
ácido araquidônico e o ácido eicosapentanoico em ésteres de colesterol e fosfolipídios. Outro
estudo mostrou a relação entre diminuição significativa de DHA nas membranas dos eritrócitos
e depressão.

Esta área de estudos sobre dieta e função cerebral ainda está no início de suas pesquisas
e portanto não há valores terapêuticos definidos da ingestão de ω-3 para melhora do quadro
depressivo. Portanto, a melhor estratégia seria seguir as recomendações de ingestão de ω-3
estabelecidas pela associação americana do coração (AHA), sociedade europeia de cardiologia
e outras associações internacionais de cardiologia.

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Segundo a ISSFAL, uma ingestão adequada de ácido linoleico (ω-6) está em torno de 2% do
valor calórico total, a ingestão de ácido linolênico em torno de 0,7% do valor calórico total e a
ingestão adequada de EPA e DHA deve totalizar o mínimo de 500mg por dia. A razão ideal entre
ω-6/ω-3 deve ser de aproximadamente 5:1. Entretanto, alguns estudos sugerem que uma
razão ótima entre ω-6/ω-3 deve variar de acordo com a condição patológica, assim como sua
severidade. Mais estudos clínicos devem ser realizados para que se possa designar a ingestão
diária terapêutica para pacientes com depressão.

Recomendações

Não há um consenso mundial sobre as recomendações de ômega-3. Entretanto existem


diversas recomendações derivadas de diferentes organizações internacionais:

◊ Estados Unidos: ingestão de ácido alfa-linolênico de 2,2g/dia e ácido eicosapentaenoico e


ácido docosahexaenoico, combinados, devem atingir 0,65g/dia, não ultrapassando 6,7g/dia.
◊ Canadá: consumo de ácidos graxos ômega-3 de 1,2 a 1,6g/dia, independentemente do tipo.
◊ Reino Unido: ingestão de 1% das calorias consumidas de ácido alfa-linolênico e 0,5% da
combinação de EPA e DHA.
◊ FAO/WHO: ingestão de 0,8g a 4g/dia.
◊ DRIs (Dietary Reference Intakes): 5 a 10% do valor calórico diário total deve ser de ácidos
graxos ômega-6 e 0.6-1.2% do valor calórico diário total de ácidos graxos ômega-3.

Razão ômega-6/ômega-3
Os ácidos graxos poli-insaturados ômega-6 e ômega-3 competem pelas enzimas dessaturases
e alongases no organismo e estas apresentam maior afinidade pelos AGPI n-3. Desta forma,
mais importante do que consumir a quantidade correta destes ácidos graxos individualmente,
é manter uma razão de consumo entre eles saudável. Algumas razões foram estabelecidas,
dependendo do país. Estas quantidades estão descritas abaixo:

Tabela 19 - Razão ômega-6/ômega-3

País N-6/n-3 Referência


Canadá 4:1 - 10:1 SCR
EUA 2:1 - 3:1 Simopoulos
EUA 4:1 Scheafer
França 5:1 Chardigny et al
Japão 2:1 Kris-Etherton et al
Suécia 5:1 NCM
WHO/FAO 5:1 - 10:1 WHO

Prebióticos e probióticos

Probióticos e prebióticos são substâncias presentes em alimentos que, quando consumidos


de forma regular e associados a uma dieta saudável, promovem efeitos benéficos ao

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

organismo e evitam a disbiose intestinal. Na disbiose intestinal, ocorre um desequilíbrio entre


microorganismos benéficos e patogênicos, gerando uma situação desfavorável à saúde do ser
humano. Este desequilíbrio pode levar à doenças, pois nestas condição ocorre:

◊ não absorção de vitaminas;


◊ inativação de enzimas digestivas;
◊ aumento da fermentação;
◊ desconjugação de sais biliares;
◊ produção de promotores tumorais, como as nitrosaminas;
◊ destruição da mucosa intestinal, gerando a hipermeabilidade e superativando o sistema
imunológico.

Figura 6 - Funções dos próbióticos e prébióticos. Fonte: Puupponen-Pimiä et al. (2001).

Probióticos

Alimentos probióticos são definidos como alimentos ou preparações alimentares que contém
em sua composição microrganismos viáveis, definidos e, em quantidades adequadas, capazes
de alterar a microbiota própria das mucosas por implantação ou colonização de um sistema do
hospedeiro, produzindo, deste modo, efeitos benéficos à sua saúde.

Para que um microrganismo seja considerado probiótico e um alimento funcional possa


receber esta nomenclatura, os leites fermentados e iogurtes devem conter, no mínimo, 107
células viáveis por grama ou ml do produto. Entretanto, a quantidade mínima exigida para ser
considerada como dose terapêutica é de 105 células viáveis por grama ou ml do produto.

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Os microorganismos em questão devem ser habitantes normais do trato digestório, capazes


de sobreviver à passagem pelo estômago e devem manter a atividade no intestino. Dentre os
efeitos benéficos relatados dos probióticos, podemos destacar:

◊ promoção do equilíbrio da microbiota intestinal;


◊ aumento da tolerância à lactose;
◊ atividade anticarcinogênica, pela produção de ácidos graxos de cadeia curta;
◊ modulação da absorção da amônia;
◊ síntese de vitaminas do complexo B;
◊ aumento da absorção do cálcio;
◊ modulação do sistema imunológico;
◊ redução da concentração sérica de colesterol.

Figura 8 - Composição da flora intestinal. Fonte: Gibson e Roberfroid (1995).

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

As principais bactérias utilizadas em alimentos funcionais com função probiótica são as


pertencentes dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium e Enterococcus faecium, bactérias
encontradas no trato digestório humano saudável. O local de preferência de colonização destas
bactérias é a porção íleo terminal (lactobacilos) e o cólon (bactérias) como um todo.

Os lactobacilos mais estudadas são L. acidophillus, L. casei, L. fermentum, L. reuteri e uma


variação do Lactobacillus casei.

Prebióticos

São componentes alimentares e/ou ingredientes alimentares não digeríveis que exercem
benefícios à saúde no sentido de estimular, seletivamente, o crescimento e/ou a atividade de
uma ou um número limitado de espécies bacterianas no cólon. Estas bactérias estimuladas
pelos prebióticos exercem funções benéficas ao indivíduo, dentre elas:

◊ promoção do equilíbrio da microbiota intestinal;


◊ aumento da tolerância à lactose;
◊ atividade anticarcinogênica, pela produção de ácidos graxos de cadeia curta;
◊ modulação da absorção da amônia;
◊ síntese de vitaminas do complexo B;
◊ aumento da absorção do cálcio;
◊ modulação do sistema imunológico;
◊ redução da concentração sérica de colesterol.

Características dos prebióticos:

• Não podem sofrer hidrólise por enzimas digestória ou absorção no intestino delgado.
• Devem alterar a microbiota colônica para uma microbiota saudável, capaz de induzir
efeitos favoráveis à saúde.

Os principais prebióticos descritos atualmente fazem parte de um grupo de carboidratos


não-digeríveis, sendo os principais: lactulose, inulina, fruto-oligossacarídeos e outros tipos de
oligossacarídeos que fornecem carboidratos não aproveitados pelo indivíduo, porém utilizados
pelas bactérias probióticas como substrato energético.

Os frutanos (inulina e a oligofrutose) são considerados ingredientes funcionais, pois sua


ingestão crônica promove melhoria à saúde do indivíduo e reduz o risco de diversas patologias.
As principais fontes de inulina e oligofrutose são a chicória e a alcachofra. A inulina e os
fruto-oligossacarídeos (FOS) são considerados fatores bifidogênicos, pois são fermentados
seletivamente por bactérias.

Os fruto-oligossacarídeos (FOS) são açúcares não convencionais e são importantes ingredientes


na indústria alimentícia, pois fornecem características físicas no alimento semelhantes ao
açúcar, como textura e função espessante nos alimentos. Além disso, possui características

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

funcionais excelentes. A estrutura do FOS consiste em moléculas de sacarose, adicionadas de


frutose por ligações β-(2-1), o que torna impossível sua digestão pelo trato digestório humano.
O FOS pode ser encontrado naturalmente em alcachofra, raiz de chicória, dália, dente de leão,
alho, cebola, banana, entre outros. Entretanto, a quantidade encontrada nesses alimentos é
pequena. Para se obter a quantidade necessária de FOS, o consumo destes alimentos deve ser
elevado ou deve-se obtê-lo a partir do consumo de alimentos enriquecidos e adicionados de
FOS, assim como suplementos alimentares.

Figura 8 - Efeito prebiótico do FOS. Fonte: Roberfroid (1996).

Tabela 19 - Quantidade de FOS em alimentos frescos

Alimento Porcentagem de FOS Alimento Porcentagem de FOS


Cebola 2,8 Banana 0,3
Tomate 1,8 Alho 0,2
Centeio 0,7
Fonte: Siqueira, Kovaltchuk e Silveira (2008).

As funções dos prebióticos estão descritas abaixo:

• Alteração do trânsito intestinal


• Redução da incidência de diarreia e obstipação intestinal
• Diminuição do risco de câncer
• Redução da concentração de colesterol total e frações
• Controle da pressão arterial sistêmica
• Aumento da biodisponibilidade dos minerais provenientes da alimentação
• Redução do risco de obesidade e diabetes mellitus tipo 2
• Redução da intolerância à lactose

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

◊ Mecanismos de ação dos prebióticos:

A fermentação dos prebióticos no intestino por bactérias intestinais benéficas, como as


bifidobactérias, produz ácidos graxos de cadeia curta – AGCC (acetato, propionato e butirato)
– responsáveis pela apoptose de células tumorais, redução de fração lipídica sérica e proteção
intestinal. Estes ácidos graxos podem ser absorvidos pelo trato intestinal, chegando intactos ao
fígado através de veia porta. No hepatócito, estes ácidos graxos podem ativar a enzima acetil-CoA
sintetase 2 citosólica, enzima chave ativadora dos processos de colesterogênese e lipogênese.
Esta é a principal forma de ação dos prebióticos em relação a seu efeito hipercolesterolêmico.

Figura 9 - Metabolismo do FOS. Fonte: elaborado pela autora.

A recomendação de FOS e inulina é de 4-5g/dia, sendo que o valor calórico estimado destes
complexos de fibras é de 1,5kcal/g.

Alegação de propriedade funcional do FOS

Segundo a literatura científica, o consumo dietético de FOS e inulina, assim como alimentos
enriquecidos com estes oligossacarídeos, produz propriedades funcionais, pois está associado
a uma redução do risco de doenças cardiovasculares e redução do risco de câncer de cólon.

A Anvisa reconhece o FOS como funcional e a alegação permitida em produtos contendo FOS
é a seguinte: “Os fruto-oligossacarídeos – FOS contribuem para o equilíbrio da flora intestinal.
Seu consumo deve estar associado a uma dieta equilibrada e hábitos de vida saudáveis”.

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Alimentos funcionais

Os alimentos funcionais apresentam não apenas um composto ativo ou nutracêutico, mas


são considerados desta forma por um conjunto de características que envolvem compostos
ativos, vitaminas, minerais e fibras que os tornam funcionais.

Aveia

A aveia é caracterizada como um cereal que possui alta qualidade nutricional, pois é fonte
de proteínas e lipídios como o ácido oléico e linoleico, vitaminas antioxidantes e fibras solúveis
como as β-glucanas.

As funções benéficas da aveia incluem:

◊ Redução significativa da concentração plasmática de colesterol total e LDL – colesterol em


humanos hipercolesterolêmicos, pela ação das β-glucanas, responsáveis pelo aumento da
síntese de ácidos biliares e redução da absorção do colesterol alimentar.
◊ Efeito protetor no desenvolvimento do câncer de cólon.
◊ Diminuição da absorção da glicose, favorecendo o controle da glicemia em diabéticos.

As β-glucanas são polissacarídeos lineares, consideradas fibras solúveis compostas por


glicose ligadas por ligação β-1,4 e β-1,3, o que as tornam não digeríveis pelas enzimas do
trato digestório. A aveia produzida no Brasil possui alta concentração de β-glucanas, sendo que
o farelo de aveia apresenta concentração significativamente maior de β-glucanas em relação
a outras formas de processamento. Atualmente, o farelo de aveia é considerado o alimento
disponível no mercado com maior teor de β-glucanas e, portanto, um dos alimentos com ação
mais potente em relação à diminuição da concentração de colesterol total sanguíneo.

Tabela 20 - Concentração média de β-glucanas em 100g de aveia

Aveia β-glucanas (%) Desvio padrão Máximo Mínimo C.V. (%)*


Descascada 5,11 a
0,79 6,63 3,90 15,46
Tostada 4,67ab
0,59 5,19 3,12 12,63
Flocos nº 1 5,57 a
0,29 6,07 5,05 5,19
Cortada 5,65 a
0,27 6,03 5,20 4,78
Flocos 5,09a 0,81 6,39 3,71 15,91
Flocos finos 5,54a 1,22 7,18 3,43 22,02
Farinha 3,74 b
0,90 4,90 2,80 24,06
Farelo 9,51 c
2,08 2,08 6,34 21,87
Fonte: De Sá e Soares (1998).

Em 1997, o Food and Drug Administration (FDA) aprovou a regulamentação que permite
que produtos de aveia integral possam trazer em seus rótulos um apelo de benefício à saúde,
relacionando seu consumo à redução do risco de doenças cardíacas. Entretanto, para que este

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

alimento tenha o efeito benéfico, deve-se ingerir cerca de 3g/dia de β-glucanas, o que seria o
equivalente a 40g de farelo de aveia ou 60g de farinha de aveia por dias.

A Anvisa considera a aveia um alimento funcional mediante a seguinte alegação: “Dietas


ricas em aveia ou farelo de aveia e pobres em gordura saturada e colesterol podem reduzir o
risco de doenças coronárias”.

Psyllium (plantago ovata)

O psyllium compreende todo alimento produzido a partir das cascas das sementes, que
são utilizadas pela indústria farmacêutica na produção de compostos à base de fibras solúveis
(aproximadamente 35%) e insolúveis (aproximadamente 65%). A composição das sementes
utilizadas é formada de altas concentrações de carboidratos (aproximadamente 75g/100g) e
elevada porcentagem de goma (aproximadamente 40g/100g), além de outros tipos de fibra
solúvel e açúcares.

Além de seu conteúdo altíssimo de fibras, o psyllium é também composto por substâncias
biologicamente ativas, tais como: compostos hidrossolúveis como o ácido clorogênico, ácido
felúrico, ácido cumárico e ácido vanílico e compostos insolúveis do psyllium que possuem atividade
imunomoduladora. A recomendação é de 1,78g/porção, com um total de 4 porções/dia.

Os efeitos benéficos do consumo de psyllium incluem:

◊ Redução do colesterol plasmático


◊ Controle da glicemia

Linhaça

A linhaça é a semente obtida a partir do linho (linum usitatissimum) e possui excelente


composição nutricional, pois é a principal fonte de ácido alfa-linolênico (57%), da classe dos
AGPI n-3, principal fonte alimentar de lignanas (seu conteúdo é 800Xs maior em relação a
outros alimentos), 28% de fibras, fitoestrógenos, linhaça como fonte de fibras. O teor de fibras
da linhaça é extremamente alto, desta forma, sua ingestão pode ser uma importante forma de
aumentar o consumo dietético de fibras.

Tabela 21- Composição nutricional da linhaça

Composto Quantidade/100g Composto Quantidade/100g


Fibra insolúvel 33,2g Ácido graxos 20g
Fibra solúvel 11,0g A-linolênico 13,2g
Betaglucanas 0,38g Linoleico 2,8g
Lecitina 0,8g Oleico 2,0g
Proteína 26g Capacidade hidrófila 8,3ml/g
Fonte: Taco (2011).

60
Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Os efeitos benéficos da linhaça estão descritos abaixo:

• Redução e prevenção de dislipidemias, relacionadas ao seu alto teor de fibras, especialmente


as lignanas
• Efeitos anti-inflamatórios, relacionados à concentração de ácido alfalinolênico
• Efeitos antioxidantes
• Ação moduladora dos efeitos da menopausa
• Efeito hipoglicêmico, auxiliando o controle da glicemia no diabetes
• Efeito laxativo, evitando constipação intestinal

Dois tipos de linhaça são conhecidos: a marrom e a dourada. A linhaça marrom é cultivada em
regiões de clima quente e úmido, como o Brasil. A linhaça dourada é originária de regiões frias,
como o norte dos Estados Unidos e o Canadá. Sabe-se que, infelizmente, no cultivo da linhaça
marrom são utilizados agrotóxicos, enquanto a dourada é cultivada de forma orgânica, desta
forma a concentração de lignanas na semente dourada é superior a encontrada na semente
marrom, além de não fornecer prejuízos à saúde.

A linhaça também apresenta algumas substâncias denominadas fatores antinutricionais: o


glicosídeo cianogênico, a linatina e ácido fítico.

As principais ações maléficas destes compostos estão descritas abaixo:

◊ Glicosídeo cianogênico: substância encontrada em plantas, libera cianeto (composto


venenoso) quando degradada por enzimas ou ácidos orgânicos. A quebra do glicosídeo
cianogênico pode levar também à produção de ciareto a partir do tiocianato, substância
que bloqueia a captação do iodo pela glândula da tireoide, podendo desenvolver o bócio.
Indivíduos com ingestão adequada de iodo não apresentam tais efeitos colaterais,
entretanto, indivíduos com disfunção na tireoide devem evitar o consumo elevado. A
literatura científica sugere que a cocção destrói a enzima que metaboliza esta substância.
◊ Linatina: atua como um antagonista da vitamina piridoxina (B6), bloqueando as suas
ações. Apesar desta função, a quantidade de linatina da linhaça aparenta ser baixa, não
interferindo no metabolismo da piridoxina.
◊ Ácido fítico: pode atrapalhar a absorção de vitaminas, principalmente do complexo B.

A linhaça é comercializada nas formas de sementes de grãos inteiros, semente de linhaça


triturada, óleo de linhaça prensado a frio e em cápsulas de óleo de linhaça prensado a frio.

Com base nas informações discutidas, a melhor forma de consumo da linhaça é sua forma
triturada, para potencializar os benefícios de n-3 e da lignana. Além disso, as suas substâncias
antinutricionais são inativadas durante o aquecimento da linhaça, antes de triturar para o
consumo. Desta forma, ela deve ser submetida à alta temperatura em calor seco ou úmido.

As recomendações variam de acordo com os estudos apresentados e os efeitos desejados. A


quantidade de duas colheres de sopa diárias (30g) parece fornecer quantidades adequadas de
ácido alfa linolênico, fibras e lignanas.

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Azeite de oliva

O azeite de oliva é o óleo obtido a partir da prensagem de azeitonas. É feito a frio ou com a
submissão de alta temperatura, o que facilita a sua extração. Este óleo obtido apresenta excelente
composição nutricional: possui alta concentração de ácido oleico (w-9, monoinsaturado), além
de ser excelente fonte de compostos fenólicos como as lignanas e fitosteróis.

O azeite de oliva pode receber diferentes classificações de acordo com sua forma de obtenção,
pois sabe-se que este interfere diretamente na qualidade e preservação de seus nutrientes e
compostos ativos. Segundo a União Europeia, estes são os quesitos de classificação do azeite
de oliva:

◊ Azeite de oliva extravirgem: acidez <0,8%, extração a frio, prensagem no máximo 24h
após colheita.
◊ Azeite de oliva virgem: acidez entre 0,8%-2%.
◊ Azeite de oliva virgem lampante: acidez superior a 2%. Destinado exclusivamente para
uso industrial na mistura com outros azeites de oliva.
◊ Azeite de oliva refinado: azeites com grau de acidez superior a 2% e submetidos ao
refino. O produto obtido tem acidez não superior a 0,3%. O azeite refinado é utilizado
exclusivamente na utilização industrial, misturados com outros azeites de oliva.
◊ Azeite de oliva: mistura de azeite refinado com azeites de oliva virgens (extra, fino ou
lampante). O grau de acidez final não pode superar a 1%.

As propriedades funcionais dos azeites estão relacionadas apenas aos azeites de oliva
extravirgens, que possuem acidez <0,5%. O termo “acidez” empregado aos azeites não se
refere ao pH, mas sim à quantidade de ácidos graxos livres. Sabe-se que no processo de
prensagem e obtenção do azeite, parte dos triacilgliceróis do óleo são quebrados, liberando
ácidos graxos livres, o que altera sua composição e efeitos benéficos. A forma de extração
interfere na quantidade de ácidos graxos livres, como a quantidade de prensagens que a oliva
foi submetida, a presença de alta temperatura e o tempo da prensagem em relação à colheita.
Deste modo, quanto menor a acidez, menor a susceptibilidade à oxidação e melhor a qualidade.
O azeite extravirgem, além de apresentar menor acidez e ser obtido da forma que menos
promove alteração em sua composição (primeira prensagem a frio, 24h após a colheita), é o
único indicado para promover efeitos funcionais, pois tem menor acidez e maior quantidade de
compostos fenólicos, responsáveis por grande parte do efeito funcional do azeite.

As ações benéficas do azeite incluem:

◊ ação antioxidante;
◊ ação hipotensora, causado pelos compostos fenólicos;
◊ redução do perfil lipídico e do risco de doenças cardiovasculares (associadas ao ômega 9);
◊ efeito anti-inflamatório;
◊ efeito anticancerígeno;
◊ diminuição da gordura visceral.

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Compostos fenólicos no azeite de oliva extravirgem (MINE, 2009:

◊ Hidroxitirosol
◊ Tirosol
◊ Oleuropeína
◊ Ácido vanílico
◊ Ácido cafeíco
◊ Lignanas:
• (+) – 1- acetoxipinoresinol
• (+) pinoresinol
• (+) – 1- hidroxipinoresinol

Oleaginosas

As oleaginosas são vegetais que contém em sua composição grande quantidade de óleos
e gorduras monoinsaturadas e poli-insaturadas. Além disso, possuem na sua composição
proteínas, fibra dietética, vitamina E e potássio, minerais antioxidantes, fitoquímicos como o
ácido elágico, flavonoides, resveratrol, compostos fenólicos, luteolina e fitotesteróis, além de
serem ricas em calorias. Fazem parte do grupo das oleaginosas as castanhas, nozes, amêndoas,
avelãs, entre outras.

A variedade de nutrientes e substâncias bioativas nas oleaginosas sugere que sua ação está
relacionada ao conjunto de nutrientes e substância e não apenas a um fator. O principal benefício
do consumo de oleaginosas está relacionado à prevenção de doenças cardiovasculares, além de
sua ação antioxidante e anti-inflamatória.

Alegação de propriedade funcional segundo FDA: “Dietas pobres com gorduras saturadas e
colesterol que contenham 1,3g de ésteres de esterol ou 3,4g de estanol de plantas, quando
consumidos em duas refeições/dia, podem reduzir o risco de doenças cardiovasculares”.

3.3 Suplementação e fitoterapia para a gestante

Durante o período gestacional, as necessidades nutricionais da maioria dos nutrientes


está aumentada, entretanto alguns destes nutrientes têm uma necessidade muito alta e em
muitos casos difícil de se atender apenas com a alimentação. Desta forma, deve-se fazer uma
avaliação nutricional completa e sempre acompanhar seus exames para avaliar a necessidade de
suplementação. Há no mercado alguns suplementos próprios para gestantes, como o Materna,
que possui um grande número de vitaminas e minerais nas quantidades prescritas pelas DRIs.

Atualmente, os maiores problemas de carência nutricional nas gestantes estão associadas


ao ácido fólico, ferro, zinco, vitamina B6 e vitamina A. Geralmente há esta carência, pois as
necessidades são muito altas ou as fontes alimentares são escassas na alimentação. Entretanto,
é importante realizar avaliação nutricional periódica desta gestante para avaliar a necessidade
de suplementação de outros nutrientes.

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

Abaixo vamos discutir a lista de nutrientes normalmente suplementados, sua função e


quantidades:

Ácido fólico
O ácido fólico é uma vitamina responsável pelo fechamento do tubo neural do feto, impedindo
a formação da espinha bífida. Além disso, a deficiência de ácido fólico pode levar à anemia
megaloblástica. A necessidade de ácido fólico na gestação é 50% maior em relação a uma
mulher adulta. Desta forma, para evitar sua deficiência, muitos médicos que realizam o pré-
natal suplementam ácido fólico na dosagem de 1,5g durante o período gestacional. O maior
problema da suplementação de ácido fólico para fechamento de tubo neural é que este processo
ocorre em até 3 semanas de fecundação e a maioria das gestantes inicia a suplementação
após este período, quando tem conhecimento de sua gravidez. Desta forma, a suplementação
de ácido fólico deve iniciar-se no período anterior à gestação (cerca de três meses antes),
devendo ser realizada pela futura gestante e o pai da criança. Apesar desta informação, muitas
gestantes acabam fazendo suplementação de ácido fólico durante todo o período gestacional,
para evitar deficiência e uma possível anemia megaloblástica. O nutricionista não pode fazer a
suplementação de 1,5g de ácido fólico pois deve manter sua prescrição dentro do estabelecido
pela DRI, desta forma a suplementação de ácido fólico deve se manter dentro dos 600μg/dia.

Ferro
O ferro também é um nutriente cujas necessidades são 50% maiores durante o período
gestacional. A necessidade de ferro de uma mulher adulta já é muito alta quando comparada
a de um homem (18mg/mulheres e 8mg/homens). A necessidade de ferro na gestação é de
27mg/dia, o que em muitos casos se torna impossível de se atingir, principalmente para a
gestante que sofre com enjôos, náuseas e inapetência. Como discutido anteriormente, a partir
do segundo trimestre ocorre ganho de água intravascular, o que pode diminuir a concentração
de eritrócitos no sangue e causar anemia. Desta forma, o ferro é normalmente suplementado
para evitar a anemia ferropriva em gestantes. Suplementação: 27mg sulfato ferroso.

Magnésio
O magnésio é um mineral encontrado em alimentos integrais e hoje, pelo processamento
dos alimentos, encontra-se em falta na alimentação. As necessidades de ingestão de magnésio
estão aumentadas neste período, podendo acarretar ou potencializar sua carência. Além disso,
o magnésio é responsável pelo metabolismo do cálcio, permitindo sua entrada nas células
e possui estreita relação no sangue, pois quando o magnésio sérico está baixo, o cálcio é
excretado pela urina. A suplementação de magnésio para gestantes é de 400mg/dia e pode ser
feita na forma de óxido de magnésio, cloreto de magnésio, entre outras.

Vitamina A
A necessidade de vitamina A na gestação está aumentada, porém deve-se tomar cuidado ao
suplementar esta vitamina pois sua toxicidade pode causar teratogenia. Desta forma, devemos
sempre induzir a ingestão de fontes naturais, observar se a gestante não faz uso de suplementos
com vitamina A ou betacaroteno (muitas vezes presentes em complexos vitamínicos para
rejuvenescimento ou proteção solar) e controlar a suplementação caso esta seja necessária. O

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

betacaroteno possui efeito teratogênico muito menor em relação ao ácido retinóico ou retinol.
Dessa forma, é um nutriente recomendável. Para a prescrição destes nutrientes deve-se sempre
obedecer à recomendação da DRI listada acima.

Prescrição de fitoterápicos na gestação

Cuidados na gestação e pediatria

Gestantes e lactentes não devem utilizar plantas medicinais sem a orientação de um


profissional da área da saúde. Embora a ação de algumas plantas seja tradicionalmente
reconhecida e utilizadas, ainda não está cientificamente comprovada, principalmente para uso
em gestantes e lactentes.

Recomenda-se enfaticamente que antes da utilização de plantas medicinais nesse caso,


obter diagnóstico preciso da doença a ser tratada e a prescrição por um profissional da área da
saúde habilitado.

Fitoterápicos para gestantes

Para as gestantes, o mesmo critério desenvolvidos para fármacos deve ser utilizado, seguindo
a tabela de Yankowitz e Nieby (2001) para as cinco categorias de risco para medicamentos:

Quadro 12 - Categoria de risco do medicamento de acordo com sua descrição

Categoria de risco Descrição Categoria de risco Descrição


A Estudos controlados D Há evidência
não mostraram risco positiva de risco
B Não há evidência de X Contraindicados
risco em humanos na gravidez
C O risco não pode
ser afastado

◊ Boldo L.
• Risco: C
• Preparação: extrato
• Drágeas de 125mg, 2x ao dia
• Indicação: colagogo, colerético, distúrbios hepatobiliares
• Efeito adverso: diarreia

◊ Butambeno
• Risco: B
• Preparação: unguento
• Pomada 1% 1x ao dia
• Indicação: queimaduras causadas por diferentes causas (sol, água quente, metal incandescente)
• Efeito adverso: prurido local

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◊ Capsicum annum L.
• Risco: X
• Preparação: pomada
• Indicação: antinevrálgico pós-herpético
• Gravidez: potencial efeito urotônico

◊ Carduus marianus
• Risco: C
• Posologia: 70mg, 1-2 drágeas 3x/dia v.o.; 140mg, 1-3 cápsulas/dia v.o.
• Indicação: distúrbios digestivos decorrentes de hepatopatias

◊ Cáscara sagrada
• Risco: C
• Posologia: 142,5 em 5ml, dose única diária
• Indicação: constipação, laxativo
• Efeitos adversos: cólicas abdominais, dependência laxativa, desequilíbrio eletrolítico,
diarreia, enterite, má-absorção de nutrientes, náusea, vômito.
• Interação medicamentosa: suplementos de potássio, diuréticos poupadores de potássio,
antiácidos, cimetidina, famotidina, nizatidina, ranitidina.

◊ Cassia angustifolia + Tamarindus indeia + Cassia fistula + Coriandrum sativum


• Risco B
• Posologia: 1-2x/dia v.o.
• Indicações: constipação intestinal
• Contraindicações: hipersensibilidade aos componentes da fórmula, retocolite, doença
de Crohn.
• Efeitos adverso: cólica, diarreia, vômito.

◊ Cassia senna L.
• Risco: B
• Preparação: extrato seco
• Posologia: 50mg, 1-3x/dia v.o.
• Indicação: constipação intestina
• Efeitos adversos: cólicas, vômito e diarreia.
• Interação medicamentosa: antiarrítmicos, glicosídeos cardiotônicos

◊ Castanha-da-índia
• Risco: C
• Posologia: gel 2%, fina camada 2-3x/dia uso tópico; 40mg, 2-3x/dia, v.o.; 5-20mg dose
única diária e.v.
• Indicação: edema traumático, flebite, hemorroida, tromboflebite
• Contraindicação: sensibilidade aos componentes, nefropatias e hepatopatias

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◊ Chamomila recutita Rauschert


• Risco: C
• Posologia: fina camada 2x/dia, com leve fricção, uso tópico
• Indicação: gengivite, estomatite
• Interação: com plantas da família Compositae

◊ Cimicifuga racemosa
• Risco: X
• Indicação: similar ao estrogênio
• Preparação: extrato seco
• Efeitos adversos: desconforto gástrico, taquicardia, sonolência, cefaleia.
• Interação: com estrogênios
• Gravidez: parturição prematura

◊ Cynara scolymus
• Risco: C
• Posologia: 200mg, 6-8 drágeas/dia v.o.
• Indicação: distúrbios digestivos, anti-hiperlipediante
• Contraindicações: hipersensibilidade, obstrução das vias biliares, insuficiência hepática.

◊ Equinacea purpurea
• Preparação: extrato seco
• Posologia: 200mg, 2-3x/dia v.o.
• Indicação: imunoestimulação
• Contraindicação: tuberculose, leucoses, colagenoses, esclerose múltipla, protadores de HIV
• Efeito adverso: sialorreia, urticária

◊ Ginkgo biloba
• Risco: C
• Posologia: 40mg, 3-4x/dia v.o.; 80mg, 2-3x/dia, v.o.
• Indicação: isquemia cerebral e periférica, protetor das membranas celulares e da rede
de capilares, redutor das hiperagregabilidades plaquetárias e eritrocitária.
• Contraindicação: hipersensibilidade, obstrução das vias biliares, insuficiência hepática
grave.
• Efeitos adversos: distúrbios no trato gastrointestinal, cefaleia, reações cutâneas
• Interação: com antiagregante plaquetários

◊ Glycine max
• Risco: X
• Posologia: 60mg, 1-2x/dia v.o.
• Indicação: estrogênio símile, sintomas de climatério, coadjuvante no controle de
colesterolemia.
• Contraindicação: hipersensibilidade, casos prévios de câncer de mama e útero.
• Efeitos adversos: vômito, diarreia, prurido, alteração de cilco menstrual
• interação: estrogênios, levotiroxina, ferro, antibióticos.

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◊ Herdera helix
• Risco: C
• Posologia: 7,5ml (52,5mg de extrato seco), 3x/dia
• Indicação: afecções broncopulmonares, broncoespasmos
• Efeitos adversos: laxativo

◊ Hipericum perforatum
• Risco: C
• Posologia: 300mg 1-3x/dia v.o.
• Indicação: auxilia nos estados depressivos leves
• Efeitos adversos: sonolência, náusea, vômito

◊ Isoflavonas
• Risco: D
• Posologia: 40-60mg/dia v.o.
• Indicação: sintomas de menopausa
• Efeitos adversos: urticárias
• Interações medicamentosas: antagonista H2, inibidores de bomba de prótons,
anticoagulantes cumarínicos.

◊ Kava-kava
• Risco C
• Posologia: extrato 67-125mg 1-3x/dia; extrato seco 234mg 1x/dia
• Indicação: ansiedade e inquietação dos distúrbios vegetativos, psicossomáticos, estresse
psicológico
• Contraindicação: depressão endógena
• Interação: álcool, barbitúricos, agentes psicoativos
• Gravidez: embriotoxicidade em animais

◊ Plantago ovata + psyllium husk


• Risco: X
• Posologia: 56m18mg dissolvidos em 240ml de água 1-3x/dia
• Indicação: obstipação intestinal crônica habitual ou pós-cirúrgica, diarreias de origem
funcional, hemorroida, fissura anal, abscesso anal com redução da dor na evacuação
• Contraindicação: obstrução intestinal, sangramento retal, dor abdominal, suspeita de
megacólon de etiologia chagásica, fenilcetonúrios.
• Efeitos adversos: flatulência, náusea, sensação de plenitude gástrica, diarreia.
• Interação: digitálicos, loperamida, difenoxilato e opiáceos.

◊ Rosmarinus officinalis
• Risco: X
• Indicação: dispesia
• Contraindicação: portadores de crise convulsiva, gastrite, úlcera duodenal
• Efeitos adversos: irritação cutânea
• Gravidez: relatos de aborto

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◊ Salix alba
• Risco: X
• Posologia 400mg 1-4x/dia v.o.
• Indicação: processos inflamatórios, alívio das dores em geral
• Interações: salicilatos, anti-inflamatórios, anticoagulantes, trombolíticos.
• Efeitos adversos: náusea, vômito, diarreia e enterohemorragia

◊ Schinus terebintifolius raddi


• Risco: C
• Posologia: 300mg 1x/dia a noite antes de deitar, intravaginal
• Indicação: cervicites, vaginites, cervicovaginites
• Efeitos adversos: ardor, queimação de baixa intensidade

◊ Tanacetum parthenium
• Risco: X
• Posologia: 120mg 1x/dia
• Indicação: profilaxia para enxaqueca
• Interação: antiagregante, anticoagulante

◊ Vaccinium myrtillus
• Risco: C
• Posologia: 160mg 1-3x/dia
• Indicação: aterosclerose, diabete, retinopatia, acompanhada de fragilidade capilar com
alterações de da permeabilidade secundária a hipertensão
• Interação: com susbtâncias taninos, anti-hipertensivos, digitálicos.

◊ Valeriana officinalis
• Risco: C
• Posologia: 140mg 1-3x/dia v.o.
• Indicação: estados de inquietação, dificuldade de adormecer, irritabilidade
• Efeitos adversos: erupção cutânea

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Avaliação Nutricional e Prescrição Dietoterápica da Gestante

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