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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 2ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO

JUDICIÁRIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.

PROCESSO Nº. 000XXX-XX.XXXX.4.05.XXXX

O REQUERENTE, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por


meio do seu procurador devidamente habilitado e ao final subscrito, vem, perante Vossa
Excelência, apresentar CONTRARRAZÕES ao Agravo em Execução Penal interposto
às fls.XX/XX, em face da decisão proferida por este MM. Juízo às fls. XX/XX, o que faz
mediante os fatos e fundamentos que seguem.

Termos em que pede deferimento.

Natal/RN, DD/MM/AAAA.

NOME DO ADVOGADO
OAB XXXX

EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO

Colenda Turma;

Eminentes Julgadores;

I. DA SÍNTESE DOS AUTOS


O presente feito trata de denúncia (fls. XX/XX) formulada pelo Ministério
Público Federal em face do REQUERENTE, no afã de vê-lo condenado pela prática do
crime tipificado no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90 c/c art. 71 do Código Penal.

Em síntese, afirma-se que o acusado, juntamente a sua irmã, (Nome da


irmã), na qualidade de sócios-gerentes, administradores e proprietários da empresa
(Nome da empresa) LTDA não declararam seus rendimentos durante vários exercícios
consecutivos, tendo tal comportamento causado um prejuízo estimado de R$ XXXXX.

Despacho de fl. XX, datado de DD/MM/AAAA, recebeu a denúncia


ofertada pelo Parquet Federal, designando dia para audiência de interrogatório e para
inquirição das testemunhas arroladas por autor e réu.

Através de sentença às fls. XX/XX, publicada em DD/MM/AAAA, foi-se


julgada procedente a pretensão punitiva, fixando pena-base em 02 (dois) anos de reclusão
e 10 (dez) dias-multa, pena, por sua vez, aumentada em 1/5 (um quinto), em virtude da
caracterização de crime continuado, conforme dispõe o art. 71, caput, do Código Penal.
Por conseguinte, foi-se concretizada a pena em 02 (dois) anos, 04 (quatro) meses e 24
(vinte e quatro) dias de reclusão, além de 12 (doze) dias-multa.

Nada obstante, houve substituição da pena privativa de liberdade por duas


penas restritivas de direito.

O Ministério Público Federal foi intimado da sentença em


DD/MM/AAAA, data em que ocorreu trânsito em julgado para a acusação (fl. XX e XX).

Interposta apelação pelo sentenciado, o Tribunal Regional Federal (TRF)


da 5ª Região a ela negou provimento (fls. XX/XX)

Por sua vez, o réu foi cientificado a dar início ao cumprimento da pena em
DD/MM/AAAA, através de Termo de Audiência Monitória às fls. XX/XX.

Requerida por este Procurador (fls. XX/XX), a extinção da punibilidade


pela prescrição da pretensão executória foi reconhecida pela sentença de fls. XX/XX.

Inconformado, o Ministério Público Federal apresentou agravo em


execução penal às fls. XX/XX.

É a síntese dos fatos.

II. DO MÉRITO
Insurge-se o Ministério Público Federal contra a decisão às fls. XX/XX,
que reconheceu a prescrição penal executória e julgou extinta a punibilidade do apenado,
Sr. REQUERENTE, determinando a extinção do processo.

Em sede de razões recursais (fls. XX/XX), o Parquet federal se propôs a


comprovar que a prescrição da pretensão executória não ocorreu, afirmando, em suma,
que o termo inicial da respectiva prescrição dá-se apenas do dia em que a sentença
condenatória transita em julgado para a acusação e para a defesa, diferentemente do que
preza a lei e a jurisprudência majoritária.

Data venia, o entendimento do Ministério Público não deve prosperar,


conforme veremos nos argumentos a seguir.

Inicialmente, cumpre valorizar os ditames do artigo 112, I, do Código


Penal, consoante o princípio constitucional da legalidade.

Como se sabe, antes da Reforma da Parte Geral do Código Penal ocorrida


em 1984, havia divergências quanto ao momento a ser considerado como termo inicial do
prazo prescricional da pretensão executória, uma vez que a redação originária do
dispositivo em foco não continha referência expressa ao trânsito em julgado para a
acusação. Àquela época, doutrina e jurisprudência majoritárias posicionaram-se
favoráveis à tese de que o termo inicial da prescrição da pretensão executória teria de ser,
necessariamente, aquele em que se deu o trânsito em julgado para o Ministério Público.

Sem embargo, no intuito de consolidar esse entendimento, na Reforma da


Parte Geral do Código Penal ocorrida em 1984, foi-se conferida nova redação ao art. 112,
I, a fim de deixar claro que o termo inicial da prescrição após a sentença condenatória
irrecorrível é o dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a
acusação.

Nesse esteio são as considerações de Zaffaroni e Pierangeli:

“O Código Penal de 1940, ao tratar do termo inicial da pretensão


executória, no art. 110, não fez qualquer menção do trânsito em
julgado da sentença condenatória, mas a jurisprudência, diante da
imutabilidade da pena concretizada (reformatio in pejus), considerava
o trânsito em julgado o ponto de partida para o cômputo do prazo
prescricional. O Código de 1984, porém, atento à interpretação
jurisdicional, de modo expresso dispõe que a prescrição da pretensão
executória começa a correr do dia em que transita em julgado a
sentença condenatória para a acusação (art. 112, inciso I). Diante da
linguagem desenganada da lei, não mais se discute acerca da
necessidade do trânsito em julgado para ambas as partes, que chegou
a ser critério adotado por parte da jurisprudência de então.
(ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual
de Direito Penal Brasileiro. Volume 1 - Parte Geral. 9ª ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 649)”

Nesse prisma, embora se reconheça que a prescrição da pretensão


executória só possa ser declarada após o trânsito em julgado para ambas as partes, para
fins de contagem do prazo prescricional, o marco inicial é o momento em que o decreto
condenatório ficou irrecorrível para o MP.
Logo, resta indiscutível a possibilidade de reconhecimento da prescrição
da pretensão executória no caso em apreço, haja vista, como já exaustivamente
comprovado, o trânsito em julgado para a acusação ter ocorrido em (Dia) de (Mês) de
(Ano) e o início do cumprimento da pena em (Dia) de (Mês) de (Ano), tendo, portanto,
transcorrido prazo superior a 4 (quatro) anos, prazo prescricional estipulado em razão
da pena aplicada em concreto.

Nesse sentido, segue o posicionamento doutrinário de BITENCOURT e


DAMÁSIO DE JESUS:

O prazo [da prescrição da pretensão executória] começa a correr do dia em que


transitar em julgado a sentença condenatória para a acusação, mas o
pressuposto básico para essa espécie de prescrição é o trânsito em julgado para
acusação e defesa, pois, enquanto não transitar em julgado para a defesa, a
prescrição poderá ser intercorrente. Nesses termos, percebe-se, podem correr
paralelamente dois prazos prescricionais: o da intercorrente, enquanto não
transitar definitivamente em julgado; e o da executória, enquanto não for
iniciado o cumprimento da condenação, pois ambos iniciam na mesma data,
qual seja, o trânsito em julgado para a acusação. (BITENCOURT, Cezar
Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, 1. 16ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2011, p. 834)

Nos termos do art. 112 do CP, a prescrição da pretensão executória tem início:
1º) no dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a acusação;
(...)
Dessa forma, transitando a decisão em julgado para a acusação (Promotor de
Justiça, querelante e assistente da acusação), é dessa data que se conta o lapso
prescricional, ainda que não tenha sido intimado o réu. Isso, entretanto,
depende de uma condição: que a sentença também tenha transitado em julgado
para a defesa. Ocorrendo esse requisito, a contagem se faz da data do trânsito
em julgado para a acusação.
Devemos, então, distinguir:
1º) momento em que surge o título penal executório, a partir do que se pode
considerar a prescrição da pretensão executória: trânsito em julgado da
sentença condenatória para acusação e defesa;
2º) termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão executória:
data em que a sentença condenatória transita em julgado para a acusação (CP,
art. 112, I). (JESUS, Damásio E. de. Prescrição Penal. 20ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2011, p. 120⁄122)

Outrossim, na lição do Ministro Marco Aurélio Belizze, em seu brilhante


voto prolatado no HC nº 254.080, exigir-se que a regra do art. 112, inciso I, do Código
Penal, seja interpretada em conformidade com o art. 5º, inciso LVII, da Carta Magna – no
sentido de que deva prevalecer o trânsito em julgado para ambas as partes, ante a
impossibilidade de o Estado dar início à execução da pena antes da sentença condenatória
definitiva –, não se mostra razoável.

Em seu entendimento, estar-se-ia utilizando dispositivo da Constituição


Federal para respaldar "interpretação" totalmente desfavorável ao réu e contra expressa
disposição legal. Logo, prevalecendo o aludido entendimento, haveria ofensa à própria
norma constitucional, máxime ao princípio da legalidade.

Em conclusão, o Ministro aduz que somente com a devida alteração


legislativa é que seria possível modificar o termo inicial da prescrição da pretensão
executória, e não por meio de "adequação hermenêutica".

Vale ressaltar que o art. 112, inciso I, do Código Penal não é incompatível
com a norma constitucional, não sendo o caso, portanto, de sua não recepção.

Em suma, conta também esse entendimento com o apoio da


jurisprudência, conforme demonstram as seguintes decisões:

HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO


PREVISTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO. 1. NÃO CABIMENTO.
MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL.
RESTRIÇÃO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. EXAME
EXCEPCIONAL QUE VISA PRIVILEGIAR A AMPLA DEFESA E O
DEVIDO PROCESSO LEGAL. 2. CRIME AMBIENTAL. PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA. NÃO OCORRÊNCIA. LAPSO DE 4 (QUATRO)
ANOS NÃO TRANSCORRIDO ENTRE OS MARCOS INTERRUPTIVOS.
3. CONDENAÇÃO DEFINITIVA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
EXECUTÓRIA. TERMO INICIAL. TRÂNSITO EM JULGADO PARA A
ACUSAÇÃO. EXPRESSA PREVISÃO LEGAL (ART. 112, INCISO I, DO
CÓDIGO PENAL). ILEGALIDADE FLAGRANTE VERIFICADA. 4.
ORDEM NÃO CONHECIDA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO DE
OFÍCIO. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, buscando a
racionalidade do ordenamento jurídico e a funcionalidade do sistema recursal,
vinha se firmando, mais recentemente, no sentido de ser imperiosa a restrição
do cabimento do remédio constitucional às hipóteses previstas na Constituição
Federal e no Código de Processo Penal. Nessa linha de evolução hermenêutica,
o Supremo Tribunal Federal passou a não mais admitir habeas corpus que
tenha por objetivo substituir o recurso ordinariamente cabível para a espécie.
Precedentes. Contudo, devem ser analisadas as questões suscitadas na inicial
no intuito de verificar a existência de constrangimento ilegal evidente a ser
sanado mediante a concessão de habeas corpus de ofício, evitando-se prejuízos
à ampla defesa e ao devido processo legal. 2. No caso, não há falar em
prescrição da pretensão punitiva, pois entre os marcos interruptivos não
transcorreu o lapso de 4 (quatro) anos exigido pelo art. 109, V, do Código
Penal. 3. Nos termos do que dispõe expressamente o art. 112, inciso I, do
Código Penal, conquanto seja necessária condenação definitiva para se
aferir a prescrição da pretensão executória, o termo inicial da contagem
do prazo desta é a data do trânsito em julgado para a acusação.
Precedentes do STJ e do STF. 4. Ordem não conhecida. Habeas corpus
concedido de ofício para determinar que o Juízo da 1ª Vara Federal de
Itajaí⁄SC, responsável pela execução da pena do paciente, realize o cálculo da
prescrição da pretensão executória utilizando-se como termo inicial o trânsito
em julgado da condenação para a acusação. (STJ. 5ª Turma. HC 254.080-
SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/10/2013)

Ementa: PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE TRÂNSITO.


SENTENÇA CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO.
CUMPRIMENTO DA PENA NÃO INICIADO E AUSÊNCIA DE NOVOS
MARCOS INTERRUPTIVOS. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
EXECUTÓRIA DA PENA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.
1. A prescrição regula-se pela pena aplicada depois de proferida a
sentença condenatória, sendo que, cuidando-se de execução da pena, o
lapso prescricional flui do dia em que transita em julgado para a
acusação, conforme previsto no artigo 112, combinado com o artigo 110
do Código Penal.
2. In casu, o agente foi condenado à pena de sete meses de detenção e,
decorridos mais de dois anos do trânsito em julgado da sentença para a
acusação e defesa, não se deu início à execução da pena nem se apontou a
existência de causa interruptiva da prescrição executória da pena. Extinção da
punibilidade em virtude da superveniente prescrição da pretensão executória
do Estado, nos termos do artigo 112, inciso I, do Código Penal.
3. Ordem de habeas corpus concedida. (STF. 1º Turma. HC 110.133, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 03/04/2012)

Outrossim, cumpre frisar que para doutrina majoritária a interpretação


extensiva de norma penal em prejuízo do réu deve ser evitada, logo, se a lei não expor
tudo aquilo que desejava, não cabe ao intérprete, nesses casos específicos, a ela atribuir
significados.
Desta feita, em atenção aos fundamentos acima dispostos, a decisão em
torno do reconhecimento da prescrição da pretensão executória é medida que se impõe.

III. DO PEDIDO
Pelo exposto, requer seja negado provimento ao Agravo em Execução
Penal interposto pelo MPF, sendo mantida a decisão que extinguiu a punibilidade do
agravado, em razão da prescrição da pretensão executória.

Termos em que aguarda e confia no deferimento.


Natal/RN, DD/MM/AAAA.

NOME DO ADVOGADO
OAB XXXX

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