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Alimentação
sem mentiras
99 informações erradas
sobre o que e como comemos
1 No café da manhã
Leite longa vida (UHT) é muito menos nutritivo que leite fresco
Leite cura úlcera
Leite desnatado contém menos cálcio
Doces causam diabetes
Sucos e concentrados podem substituir as frutas in natura
O iogurte é um “santo remédio”
3 Almoço e jantar
Comer macarrão à noite engorda
A carne de porco é pesada e não deve ser consumida no verão
Peixe faz bem para a memória porque contém fósforo
Ostras são afrodisíacas
Os ovos com gema laranja e aqueles com casca branca são os mais
nutritivos
Alimentos supercongelados são mais pobres em comparação com
os frescos
A manteiga tem mais gordura que o óleo
O óleo de grãos é mais leve que o azeite de oliva e contém menos
calorias
O gelato é um alimento completo e pode substituir uma refeição
Frutas devem ser comidas longe das refeições
Pelo menos nas festas posso comer o que eu quiser!
4 Cru e cozido
É melhor comer apenas alimentos crus
A carne do cozido é pouco nutritiva, ao passo que o caldo contém
muitos nutrientes
Os ovos são pesados para a digestão
O cozimento por micro-ondas faz mal à saúde
Para obter uma fritura leve, é preciso usar pouco óleo
Frituras engordam e fazem mal ao fígado
5 Bebidas
Não se deve beber água durante as refeições
O vinho tinto fortalece o sangue
O segredo do vinho está no resveratrol
Uma “bebidinha” revigora
As bebidas alcoólicas nos esquentam
Um drinque após as refeições ajuda na digestão
Beber muita água facilita a retenção de líquidos
Beber água com limão faz bem e emagrece
Tomar cerveja ajuda mulheres que amamentam a produzir mais
leite
Energéticos e álcool são uma combinação segura
7 Dietas
A dieta dissociada emagrece porque separa os carboidratos das
proteínas
As dietas “só proteína” são as ideais para emagrecer
É possível emagrecer substituindo refeições por shakes e barrinhas
Alimentos light são bons para emagrecer
“Mas era uma refeição à base de peixe!”
Cream crackers e grissini no lugar do pão me ajudam a emagrecer
Para perder peso, é necessário eliminar totalmente as gorduras da
dieta
Tomar muito café ajuda a emagrecer
Quem dorme pouco é mais magro
Produtos sem glúten emagrecem
Para emagrecer, é preciso abolir o macarrão
O arroz tem menos calorias que o macarrão, portanto, é dietético
O jejum total desintoxica e emagrece
Pular refeições ajuda a emagrecer
Quando começo uma dieta, os primeiros quilos que perco são só
água
Estou acima do peso porque tenho ossos pesados
Preciso perder quilos demais, então nem vou tentar
Eu peso muito porque retenho muitos líquidos
Não importa se eu recuperar o peso, depois emagreço de novo
Beber álcool ou vinagre emagrece
A receita mágica para emagrecer: os comprimidos que queimam
gordura
Para emagrecer, é preciso renunciar à vida social
Óculos azuis para emagrecer
8 Comida e saúde
Faz mal comer carne e macarrão na mesma refeição
Os ovos fazem mal ao fígado
Um cálice de vinho tinto funciona como um remédio
O cálcio da água é inútil e provoca cálculos renais
O espinafre previne a anemia por ser rico em ferro
Chocolate e salame provocam acne
O mel faz passar a tosse
A vitamina C cura o resfriado
Devemos evitar os ovos porque eles contêm muito colesterol
Não há intolerância à lactose com o leite cru
A futura mamãe precisa comer por dois
O café faz aumentar a pressão arterial
9 A “fobia do branco”
Para adultos, tomar leite não é natural e faz mal
A muçarela é um queijo leve
As carnes brancas são menos nutritivas que as vermelhas
A farinha branca é tóxica
Pratos “sem molho” são mais leves
Sal iodado é o novo veneno legalizado
Para emagrecer, é preciso abolir o sal da cozinha e da mesa
10 Frutas “milagrosas”
Somente a banana contém muito potássio
Limão desinfeta os frutos do mar
O abacaxi (ou a toranja) após as refeições queima gorduras
As vitaminas estão na casca da fruta
As frutas de verão são cheias de açúcares
Castanhas e nozes são uma generosa fonte de ômega 3
As frutas frescas contêm todas as vitaminas
Agradecimentos
Sobre o autor
NOTA DA
EDIÇÃO BRASILEIRA
Por esse motivo, obras como esta de Marcello Ticca são extremamente
importantes, já que, para combater o perigo das “fórmulas milagrosas” e da
cultura da desinformação, o autor apresenta conhecimentos e informações
recentes e cienti camente comprovados, elucidados em uma linguagem de
fácil compreensão, mostrando que o segredo para a saúde e para a boa
alimentação, na verdade, reside em regras muito simples: equilíbrio e
atenção às quantidades e à qualidade da comida, sem a necessidade de
eliminar praticamente nenhum alimento da dieta.
ANTONIO NICITA
Docente da Università La Sapienza e comissário da
Autorità per le Garanzie nelle Comunicazioni (AGCOM)
INTRODUÇÃO
Mas não é só isso. Para tornar essas convicções erradas do campo alimentar
mais consistentes e incisivas – e, portanto, mais perigosas –, também
contribui fortemente uma atitude que sempre existiu, mas que há alguns
anos parece ter se agigantado: re ro-me àquilo que foi e cazmente de nido
como “neoxamanismo” (termo de autoria do professor Rosario Sorrentino)
e “anticienti cismo”, que se concretiza na tendência de ser fascinado pela
“ciência do faça você mesmo” e por teoremas cientí cos autorreferentes –
tantas vezes sustentados por estranhos círculos formados por atores,
apresentadores, DJs, jornalistas, astros do rock e in uenciadores de várias
naturezas –, ao mesmo tempo que se descon a de tudo que vem do mundo
da ciência. Uma tendência e uma atitude tão presentes na sociedade
moderna que chegam a dar vida a fenômenos importantes e coletivos de
autêntico distanciamento e raivosa rebelião contra as regras que a
comunidade cientí ca tenta difundir (e às vezes, por que não dizer, até
mesmo impor) em nome do bem comum.
Os exemplos recentes que foram parar nas primeiras páginas dos jornais (e
até nos tribunais) estão em nossa memória. Além dos episódios mais
clamorosos, porém, o que preocupa é a difusão dessa mentalidade no tecido
social. Na Itália, há algum tempo tem piorado a situação que já em 2001 o
professor Angelo Panebianco sintetizava da seguinte forma, em um editorial,
enxergando muito longe: “As elites italianas, também por causa de sua
formação predominantemente não cientí ca, têm por tradição um
relacionamento di cílimo com a ciência. A maior parte delas não entende
seus procedimentos e não está em condições de lhes dar o devido valor”.
Em vez disso, entre nós, na maioria das vezes acontece o contrário: de fato,
a nossa formação cultural, substancialmente do tipo losó co-humanística –
ou, se quisermos, do tipo lógico-literária –, e a escassa educação nos
princípios da ciência moderna fazem com que a nossa mentalidade esteja,
sempre e apenas, em busca de certezas e respostas precisas, irrefutáveis e
imutáveis no tempo; uma atitude que fatalmente leva a interpretar mal a
justa cautela que se deve usar ao apresentar certos resultados e certas
hipóteses, ao passo que se deixa fascinar por quem assume o papel de
oráculo e pretende enunciar apenas “verdades” absolutas. É exemplar, com
relação a isso, a síntese contida em um título do médico-escritor Cornaglia
Ferraris: “A medicina avança com as dúvidas, os charlatões têm apenas
certezas”.
Que que bem claro: ninguém deve se iludir pensando que discutir e tentar
desmisti car uma série de preconceitos alimentares possa resolver o
problema. Acreditar nisso seria realmente pretensioso. No entanto, talvez
não seja ousado demais esperar que possamos ao menos dar uma pequena
contribuição positiva, tanto esclarecendo alguns pontos de controvérsia
quanto registrando uma situação que está mudando continuamente.
Para justi car de uma vez por todas o nascimento de uma nova coletânea de
crenças populares, também existem tanto o inequívoco interesse que o
assunto desperta no público quanto a oportunidade de ampliar e atualizar a
lista com relação às anteriores. Nestas páginas, de fato poderão ser
encontrados muitos conhecimentos antigos, ao lado de novos “mitos” que
antes não haviam surgido ainda, alguns dos quais vêm acompanhados por
convicções, ideias e comportamentos realmente peculiares. É justo ressaltar
que muitos destes últimos foram obtidos principalmente por experiência
pessoal, ou seja, pelo confronto diário com tantas pessoas caracterizadas por
uma extraordinária variedade de bases culturais, de costumes e inclinações,
bem como de verdadeiras ideias xas, sempre muito difíceis de corrigir.
Há outra coisa que eu gostaria de ressaltar mais uma vez, como apelo nal, a
uma atitude de equilíbrio e cautela que deveria ser sempre comum a todos
aqueles que se ocupam de temas do tipo cientí co, tanto no papel de
estudiosos quanto no de divulgadores ou simples a cionados. Ou seja,
lembrar de que a ciência, por sua própria natureza, não quer e não pode dar
certezas imediatas, exatamente porque está em contínua evolução. Somente
suas veri cações ao longo do tempo podem garantir certa estabilidade de
juízo. Um exemplo relacionado à nutrição é dado pelo fato de que, por
muitas décadas, as pesquisas focaram nos efeitos dos cerca de quarenta
nutrientes conhecidos (das gorduras e proteínas às vitaminas e aos sais
minerais), enquanto hoje em dia a atenção está concentrada na miríade de
compostos bioativos presentes nos alimentos – compostos que, junto dos
nutrientes propriamente ditos, agem para a promoção da saúde. Trata-se de
um campo de estudo fascinante, sobre o qual ainda sabemos pouco, e que
nos próximos anos promete desdobramentos interessantíssimos e
potencialmente muito vantajosos para todos.
[2] Ryke Geerd Hamer, Max Gerson e Luigi Di Bella foram os criadores de métodos experimentais e
Itália. Esses tratamentos geraram polêmicas relacionadas à comprovação dos resultados e, em alguns
casos, também acerca do papel do Estado em seu custeio para os pacientes. (N. E.)
[3] Método experimental baseado em células-tronco, elaborado pela entidade Stamina Foundation
Onlus, na Itália, que esteve envolvido em polêmica semelhante ao caso Di Bella. (N. E.)
LISTA DE
ABREVIAÇÕES
De maneira geral, portanto, o leite longa vida perde muito pouco do seu
valor nutritivo em comparação com o produto fresco, e as reduzidas perdas
são amplamente compensadas pela sua maior disponibilidade e pela
possibilidade de distribuí-lo e conservá-lo convenientemente, sem a
trabalhosa obrigatoriedade da cadeia de distribuição refrigerada.
De qualquer forma, não se trataria de uma cura para a úlcera, mas apenas de
uma atenuação dos distúrbios advindos da hiperacidez, ou, na melhor das
hipóteses, de uma branda prevenção. Na verdade, essa atividade protetora da
mucosa gástrica, ligada por certo período a um elevado poder de
tamponamento que era atribuído ao leite, é desmentida por muitos e precisa
ser amplamente redimensionada.
Tomar leite é um ótimo hábito, mas é preciso ressaltar que o leite integral
(100 g do qual contêm 87 g de água, apenas 3,6 g de gordura e 4,9 g de
açúcar, além de 3,3 g de proteínas, 34 mg de colesterol e apenas 65 kcal) é
estranhamente encarado como “alimento gorduroso”. Um equívoco que
muitas vezes induz as pessoas a deixarem de consumir leite e se orientarem
– enganadas, talvez, também pelos nomes e impelidas por modismos – para
“leites” vegetais (de soja, de arroz, de amêndoas, etc.), que na verdade não
merecem ser de nidos assim, como uma sentença da Corte de Justiça da
União Europeia decretou em 2017.[5] Agora está claro que só pode ser
chamado de “leite” o produto da secreção das glândulas mamárias, e que
esses produtos vegetais, embora tenham uma boa dignidade nutricional, não
devem ser confundidos com o leite de vaca, de cabra ou de qualquer outro
mamífero.
A dieta quase sempre tem papel crucial para desencadear o diabetes tipo 2
ou facilitar seu aparecimento. De fato, a obesidade é considerada a principal
causa do seu surgimento em indivíduos que são geneticamente predispostos.
Essa forma de diabetes está ligada a um estilo de vida incorreto,
caracterizado por uma alimentação desequilibrada e/ou excessiva e pela falta
de atividade física. Também há uma forte caracterização genética, por isso
tende a ser hereditária: quem tem pais ou parentes diabéticos tem maior
probabilidade de desenvolver essa patologia. E, visto que o diabetes tipo 2
deriva muitas vezes de hábitos desequilibrados, a correção do estilo de vida
(com a normalização do peso e o combate à vida sedentária por meio da
prática constante de exercícios físicos aeróbicos) é a primeira providência
terapêutica a ser tomada. Caso isso não seja su ciente para manter a
glicemia sob controle – o que acontece com muitas pessoas, mesmo quando
o estilo de vida é perfeito –, será preciso intervir com medicamentos.
De qualquer forma, é necessário frisar que, seja qual for a forma de diabetes,
a dieta representa um dos pivôs do tratamento. A estratégia dietética a ser
adotada, recomendada por todas as associações nacionais e internacionais de
estudo do diabetes, é a de fazer refeições com carga glicêmica controlada,
bem distribuídas ao longo do dia, ricas em carboidratos complexos (amidos
e bras), moderadas no teor calórico e pobres em gorduras saturadas e
açúcares simples. Isso para manter sob controle tanto a massa corporal
quanto os níveis de gorduras, glicose e insulina no sangue.
ter uma dieta equilibrada é necessário ingerir 1.000 mg de cálcio por dia. No Brasil, a população
consome apenas metade da dose indicada: para indivíduos acima de 20 anos, a média é de 505
[5] No Brasil, existe um projeto de lei aguardando designação para proibir o uso da palavra “leite”
[6] Uma recomendação presente no Guia alimentar para a população brasileira (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2014) é a de que as versões do leite sem gordura ou com menos gordura (desnatadas ou
Quanto aos tipos de café mais populares, existe outra falsa crença relativa à
dose de cafeína presente em cada xícara: trata-se da convicção de que o
“café de padaria” (o espresso) contém muito mais cafeína do que o café
feito na cafeteira italiana (moka). Também nesse caso a realidade é
divergente e está ligada às diferenças entre os dois modos de preparo, que
não são poucas.
Já o café de cafeteira italiana, que é obtido por ltragem forçada com água
aquecida, prevê o uso de 5 g a 8 g de pó de café, namente moído e bem
torrado, para cada xícara. O tempo de contato entre a água e o café é de 1 a
2 minutos, e, portanto, a e ciência da extração de cafeína é alta – vai de
92% a 98%. O conteúdo de cada xícara varia, na Itália, entre 40 ml e 60 ml.
De qualquer forma, esses são números cujo peso deve ser avaliado caso a
caso. De fato, para a cafeína, a capacidade de tolerância (entendida como
uma menor sensibilidade aos seus efeitos psicoestimulantes, entre outros)
instaura-se em muito poucos dias, ainda que de forma diferente para cada
pessoa, e com a mesma rapidez pode desaparecer assim que a pessoa se
abstém de tomar café. É preciso notar, no entanto, que a cafeína não induz
ao que se chama “adição”, ou seja, não motiva quem a consome e dela se
bene cia a aumentar a dose. Pelo menos não na maior parte das pessoas.
É
O CAFÉ AUMENTA O COLESTEROL DO
SANGUE
Trata-se de um alerta, hoje amplamente redimensionado, que surgiu nos
anos 1980 depois que vários estudos (experimentais), conduzidos na
Noruega, na Bélgica, na Finlândia e em outros países do norte da Europa,
haviam revelado justamente uma relação positiva entre o consumo de café e
o aumento do colesterol no sangue.
que três xícaras de espresso ou de café de cafeteira por dia não têm
efeito algum sobre os níveis sanguíneos tanto do colesterol total como
do LDL (o colesterol “ruim”);
Além disso, é preciso lembrar que um café após as refeições pode ser
particularmente útil nessa faixa etária para reduzir a queda de pressão que
os mais velhos costumam sofrer nesses momentos do dia.
É Á
NADA DE CAFÉ PARA QUEM ESTÁ USANDO
ANTIDEPRESSIVOS
Trata-se de uma proibição severa demais e provavelmente sem motivo.
Sabe-se que o café interfere favoravelmente em diversos receptores, muitas
vezes propiciando uma agradável sensação de bem-estar. Além disso, muitos
autores relatam ter registrado outros efeitos positivos, como maior
capacidade de concentração, estímulo das faculdades mentais e do sistema
nervoso central e elevação do rendimento no trabalho. Dentro de certos
limites, portanto, a rma-se que o café poderia exercer também “algum efeito
antidepressivo e estimulante de maneira geral”.
Dito isso, também observamos, porém, que o mel muitas vezes é coroado
com uma aura “salutar” muito enfática acerca de seus efeitos anti-
in amatórios e antimicrobianos, que no entanto não foram comprovados,
além de a rmações exageradas sobre outras supostas vantagens nutritivas.
Na verdade, o mel contém apenas traços de vitaminas, sais minerais e ácidos
orgânicos, em quantidades tão reduzidas que sua contribuição para a
ingestão total de princípios nutritivos é praticamente insigni cante: para
exempli car, se é verdade, como às vezes se a rma, que no mel também
encontramos cálcio, é igualmente verdade que, deixando de lado o problema
da biodisponibilidade, um simples cálculo revelaria que para fornecer a
mesma quantidade de cálcio contida em uma caneca de leite seriam
necessárias cerca de trezentas colheres de mel...
(N. E.)
[8] No Brasil, as xícaras de espresso costumam conter, em média, de 30 ml a 50 ml. (N. E.)
[9] Livelli di Assunzione di Riferimento di Nutrienti ed energia per la popolazione italiana: trata-se de um
documento técnico utilizado como referência para nutricionistas na Itália. (N. E.)
3 ALMOÇO E JANTAR
Vale a pena repetir que os efeitos dos ritmos circadianos na massa corpórea
representam um tema interessante, mas sobre o qual ainda falta esclarecer
muita coisa, e o mesmo se aplica às causas que provocariam tais efeitos. Por
exemplo, é verdade que a capacidade de produzir insulina varia conforme o
momento do dia (é menor nas horas noturnas em comparação com as
diurnas), mas as in uências relativas sobre a massa corpórea e suas
variações ainda precisam ser comprovadas. Entre outras coisas, dar como
certo que haja uma di culdade relevante em produzir insulina na segunda
parte do dia levaria a deduzir que o índice glicêmico dos diferentes
alimentos se modi ca sensivelmente de acordo com a hora, e isso, pelo que
sabemos até agora, não está provado.
Por outro lado, em pleno século XXI, não faz nenhum sentido insistir em
dizer ou escrever, como alguns já zeram, que “cereais e seus derivados,
legumes e batatas devem ser comidos até as 15 horas, enquanto carnes,
peixes, ovos e laticínios devem compor a refeição noturna” (negligenciando,
entre outras coisas, o ótimo teor de proteínas das leguminosas), sem
apresentar nenhum respaldo cientí co válido para isso. E o mesmo pode ser
dito da a rmação: “frutas devem ser comidas até as 18 horas”, ou seja, com
a misteriosa concessão de três horas adicionais e ignorando o detalhe de
que, em média, as frutas contêm mais açúcares simples do que os legumes...
Nesse contexto, a advertência para não consumir carne de porco, bem como
outros produtos particularmente gordurosos, nos meses quentes do ano
tinha certa lógica. Mas tudo isso já não existe mais. O que torna “pesado”
um produto é sobretudo a quantidade total de gorduras presentes, e hoje as
novas técnicas de criação, o uso de rações modi cadas e controladas e a
escolha das raças (animais de pequeno porte) levaram a uma notável
redução da presença de gordura nas carnes de porco e, portanto, também
nos embutidos. Uma mudança que obrigou os especialistas em química dos
alimentos, há uns trinta anos, a atualizar sensivelmente os dados relativos a
esse produto que guravam nas tabelas o ciais anteriores de composição
dos alimentos mais comumente consumidos.
Algumas pessoas acreditam que a indevida fama das ostras teria nascido,
seguindo a antiga “doutrina dos signos”, com base na semelhança entre o
formato das ostras e o dos testículos humanos. Uma hipótese como tantas
outras...
Como se vê, é injusti cada a opinião crítica que muitas pessoas têm acerca
dos produtos supercongelados, talvez por estarem apaixonadas demais pelo
“natural a qualquer preço”.
Mas as vantagens do azeite extravirgem não são apenas as citadas até aqui,
pois esse óleo exibe ainda muitas virtudes nutritivas e salutares que a
manteiga não tem, ou tem de forma bem reduzida: ele é rico em vitamina E,
contém mais de cem tipos de substâncias antioxidantes e saborizantes, além
de que é facilmente digerido e capaz de melhorar a digestibilidade do prato
como um todo, pois estimula a secreção de bílis e de várias enzimas
digestivas. E não é só isso: várias pesquisas já veri caram há anos que o uso
habitual do azeite de oliva extravirgem exerce também uma série de outras
ações positivas, por exemplo, sobre a cútis, o crescimento dos ossos, o
amadurecimento do sistema nervoso central e outras mais.
Isso não signi ca de forma alguma que a manteiga deva ser demonizada ou
excluída a priori da nossa mesa e da nossa cozinha: as indicações são apenas
de utilizá-la esporadicamente e sobretudo em quantidades moderadas – as
diretrizes alimentares italianas sugerem uma porção-padrão de cerca de 10
g, ou seja, o equivalente a uma colher de café cheia.[10] Entre outras coisas,
é preciso lembrar também que a manteiga, além de ser uma boa fonte de
vitamina A, é razoavelmente fácil de digerir e bem tolerável também porque
boa parte dos seus ácidos graxos saturados é de cadeia curta, ou seja, mais
fáceis de serem atacados pelas nossas enzimas digestivas.
É uma ideia sem fundamento algum, nem lógico, nem químico. Todos os
óleos, de fato, são constituídos exclusivamente por 100% de gorduras (e não
poderia ser de outra forma) e fornecem a mesma quantidade de calorias –
vale dizer, 9 kcal por grama –, independentemente da sua origem e do seu
aspecto mais ou menos transparente ou denso (é inegável, por outro lado,
que esse último detalhe pode efetivamente induzir ao erro).
Mas certamente não é por acaso que o azeite de oliva extravirgem desfruta
de uma posição de absoluto prestígio em todo o mundo – um prestígio
plenamente justi cado por suas características e que com certeza não pode
ser maculado por lendas urbanas acerca de um suposto teor energético mais
alto que o dos outros óleos.
O valor calórico varia entre cerca de 220 kcal (por 100 g) no gelato com
leite e cerca de 160 kcal para os de frutas, levando em conta também que,
por causa da tecnologia utilizada, os industrializados contêm mais ar do que
os artesanais (de 40% a 50% contra 30%). Na verdade, um gelato de certo
tamanho e complexidade pode chegar facilmente a 400 kcal ou 500 kcal, e,
portanto, “substituir” uma refeição, mas somente do ponto de vista do teor
de energia – certamente não pode substituí-la do ponto de vista do valor
nutricional (e isso também deve ser feito apenas de maneira esporádica),
nem do ponto de vista da saciedade: uma refeição limitada apenas ao gelato
será assimilada e digerida bem rapidamente, resultando na volta da sensação
de fome em um intervalo de poucas horas.
A verdade é que frutas frescas podem ser comidas a qualquer hora do dia,
sem contraindicações. O importante é comê-las, se possível, ao menos duas
ou três vezes ao dia, tanto no desjejum – ou como um lanche entre as
refeições – quanto antes das principais refeições, ou ainda ao seu nal. A
única exceção pode dizer respeito apenas a algumas pessoas que, por
sofrerem de dispepsia gástrica, ou seja, di culdades digestivas relacionadas
ao estômago, possam efetivamente perceber que sua digestão é mais lenta
depois que consomem frutas com o estômago já cheio. Para elas, valerá
mesmo assim a norma de não abrir mão das frutas, mas, sim, de adotá-las
como lanche em outros momentos do dia.
À parte esses casos particulares, é preciso dizer claramente que, para todas
as pessoas sadias, frutas frescas representam a melhor maneira de concluir
uma refeição. Inclusive porque consumi-las nesse momento apresenta várias
vantagens: as primeiras são que o costume bem mediterrâneo de concluir o
almoço e o jantar com o sabor geralmente doce de uma fruta, em vez de
uma sobremesa, ajuda a diminuir o teor calórico e a não abusar dos doces, e
além disso facilita a manutenção de uma melhor higiene bucal, já que a
mastigação de algumas frutas contribui para remover parte dos resíduos de
alimentos da arcada dentária. Outro motivo válido é que frutas no m das
refeições ajudam sensivelmente a atingir uma sensação mais duradoura de
saciedade.
Mas há, também, outras ótimas razões que tornam aconselhável o consumo
de frutas à mesa. Por exemplo, a notável melhora que o teor de vitamina C
de muitos tipos de frutas frescas produz na absorção do ferro contido nos
alimentos que fazem parte da mesma refeição: e bem se sabe como é difícil
satisfazer as necessidades desse mineral na nossa alimentação diária e como
é comum a carência de ferro, em especial nas mulheres jovens. Finalmente,
não esqueçamos que as frutas frescas, assim como as hortaliças, contêm
quantidades relevantes de micronutrientes de ação antioxidante, como
vitamina C e carotenoides, tocoferóis e vários compostos fenólicos, cuja
presença é revelada pela cor dos produtos hortifrúti. Portanto, consumir
frutas frescas (e também hortaliças) durante a refeição apresenta outro
importante lado positivo: assegurar que tais componentes bioativos estejam
presentes no estômago, e assim desempenhem a sua ação defensiva,
exatamente no momento em que são mais úteis, ou seja, ao mesmo tempo
que chegam outros alimentos contendo materiais altamente oxidáveis, aptos
a desencadear processos oxidantes nocivos ao nosso organismo.
De fato, a dura realidade é esta: a dietoterapia, tão útil para a saúde e para o
bem-estar dessas pessoas, não pode conceder tréguas festivas, a não ser
ocasionalmente, e mesmo assim com moderação.
[10] No Brasil, o Guia alimentar para a população brasileira (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005) sugere
a ingestão de apenas uma porção de óleos ou gorduras por dia – no caso da manteiga, seria o
[11] Embora o gelato e o sorvete muitas vezes levem os mesmos ingredientes na composição (como
leite, açúcar, ovos, entre outros), existem algumas diferenças entre os dois, uma das quais é a
ter metade da gordura presente no sorvete, por isso sua consistência tende a ser mais leve. (N. E.)
Que que bem claro que as micro-ondas não são cancerígenas de forma
alguma (uma ideia infundada, mas que circulou por certo tempo) e
tampouco são ionizantes; portanto, não deixam os alimentos radioativos
(outro temor que continua vivo até hoje entre algumas pessoas). Além disso,
a abertura da porta do forno bloqueia imediatamente sua emissão: assim, é
mentira (esta lenda também se difundiu) que as micro-ondas possam
provocar lesões oculares. Elas são re etidas pelo metal (por isso os
recipientes metálicos não são adequados para uso no forno de micro-ondas),
mas atravessam o vidro, a porcelana, a cerâmica (desde que sem decorações
douradas ou metálicas) e o papel, sem aquecê-los; portanto, esses são os
principais materiais de que devem ser feitos os recipientes para fornos de
micro-ondas, além da terracota, que, no entanto, tende a se aquecer.
De fato, basta seguir algumas poucas regras razoáveis de “boa fritura” para
concluir que esse pecado da gula, desde que preparado da forma correta,
tem o direito de estar presente à nossa mesa, ainda que não com frequência
excessiva. Se por um lado os dados epidemiológicos disponíveis hoje em dia
efetivamente prognosticam um risco maior de desenvolver patologias
cardiovasculares, diabetes e também certos tipos de tumor para quem
exagera na frequência do consumo de frituras, por outro, con rmam que
“no âmbito de uma dieta equilibrada e variada em seu conjunto, o consumo
moderado de alimentos fritos não representa um risco efetivo para a saúde,
contanto que tais alimentos sejam obtidos seguindo boas práticas de
preparação” (segundo um documento da Fondazione per lo Studio degli
Alimenti e della Nutrizione – FOSAN, de 2010).
Bem diferente é a situação que foi veri cada em muitas empresas que
fornecem frituras ao mercado (certamente não em todas!). Nesses
contextos, às vezes acontece que o óleo (em geral não é o azeite
extravirgem, por motivos óbvios de custo) não só é mantido em altas
temperaturas por várias horas (e até dias) e por mais ciclos (serviços de
restaurante), ou até em um ciclo contínuo (fritura industrial), mas também
muitas vezes é apenas “completado” com óleo novo, em vez de ser
substituído por inteiro, o que facilita a formação maciça e mais rápida dos
produtos de degradação do próprio óleo também naquele que foi
acrescentado. O resultado corre o risco de ser uma fritura de má qualidade e
com maior presença de substâncias potencialmente prejudiciais.
temperatura de -35 °C por 15 horas ou de -20 °C por pelo menos sete dias. Vale ressaltar que a
inviabilização das larvas só é feita pelas baixas e altas temperaturas ou pela salinidade quando estas
[14] No Brasil, segundo informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ainda não
há uma regulação acerca da quantidade de acrilamida presente nos alimentos. (N. E.)
5 BEBIDAS
Entre outras coisas, a água que bebemos acaba até por facilitar, de certa
forma, a secreção dos sucos gástricos. Estes últimos de fato são constituídos
em grande parte por água, que, portanto, é indispensável para a sua
formação: se eu tomar pouca água durante a refeição, as glândulas presentes
no estômago incumbidas da secreção dos sucos gástricos deverão obter a
água que falta tirando-a de outros sistemas do organismo, uma operação que
prolongará o tempo de digestão.
Á
O SEGREDO DO VINHO ESTÁ NO
RESVERATROL
As cascas de algumas variedades de uva são ricas em resveratrol, uma
substância polifenólica que vai parar mais ou menos inalterada no vinho
tinto (ou seja, aquele que é vini cado com toda a casca). Essa substância foi
descoberta em 1976 e desde então recebeu muita atenção em virtude de
seus supostos efeitos bené cos para a saúde.
ser mais ativo sicamente, tanto nas ações normais do dia a dia (andar
a pé, subir escadas, etc.) quanto empenhando-se em uma signi cativa
atividade motora ao menos três ou quatro vezes por semana.
É Á Ã
ENERGÉTICOS E ÁLCOOL SÃO UMA
COMBINAÇÃO SEGURA
Muitos pensam assim, infelizmente. Mas é uma ideia errada, muito
difundida entre os jovens, e também perigosa por vários motivos.
Para concluir, segundo os LARN, “embora não haja dados relativos a uma
toxicidade aguda por excesso de proteínas, está provado que seu consumo
excessivo não oferece nenhum benefício para o estado de saúde e bem-
estar”.
E pode causar surpresa descobrir que existem riscos também nas doses
excessivas de outros componentes alimentares, inclusive alguns realmente
“insuspeitáveis”. Tomemos como exemplo os ácidos graxos poli-insaturados
(AGPI), aqueles vistos pelo imaginário coletivo – em seus dois grandes
grupos, os ômega 6 e os ômega 3 – como “bons” por excelência,
especialmente por sua e cácia em melhorar o quadro das gorduras
circulantes no sangue (em especial colesterol e triglicérides) tanto
quantitativa quanto qualitativamente. Também para eles, os LARN, em
acordo com a Food and Agriculture Organization of the United Nations
(FAO-OMS)[22] e com a EFSA, indicam intervalos de referência para uma
dose correta, que deve ser calculada em relação ao consumo total de energia:
de 5% a 10% da energia total para os AGPI considerados conjuntamente
(sendo que, na realidade, na dieta dos italianos estamos em 4% a 5%), e,
para as duas categorias, 4% a 8% para os ômega 6 (cuja disponibilidade
depende exclusivamente da dieta) e 0,5% a 2% para os ômega 3, dos quais
pelo menos 250 mg ao dia já na forma de cadeia longa, ou seja, EPA e
DHA[23]. A disponibilidade destes últimos depende tanto da alimentação
quanto de processos de conversão, que infelizmente acontecem de maneira
muito limitada no nosso organismo. Também é importante que na
alimentação os ômega 6 e os ômega 3 tenham a razão correta entre si
(cerca de 5:1), o que atualmente não é nada respeitado (os italianos estão
perto de uma razão 10:1!), sobretudo por causa da insu ciente presença dos
ômega 3 na dieta costumeira.
Isso para frisar mais uma vez que, para qualquer substância, mesmo a mais
bené ca, existem limites de absorção, os quais não é aconselhável
ultrapassar. Portanto, evitemos nos deixar levar pelo fascínio das megadoses
e em vez disso usemos o bom senso e a moderação para obter as maiores
vantagens possíveis de tudo o que a indústria dos alimentos – e também a
farmacêutica – conseguem pôr hoje à nossa disposição.
As goji berries, das quais existem dois tipos principais, vêm do Tibete e da
China e são utilizadas na medicina chinesa como tônicos e sobretudo para
combater doenças respiratórias e estimular o sistema imunológico. São
consumidas secas, in natura ou em pó. Têm uma boa quantidade de
antocianinas (polifenóis antioxidantes), licopeno (outro poderoso
antioxidante) e muita bra, além de algumas vitaminas e sais minerais. Pois
bem, todas as hortaliças e frutas de cor vermelho-arroxeada – como as
frutas vermelhas, a cereja, o tomate, etc. – são ricas em antocianinas. O
tomate também é riquíssimo em licopeno. A bra é fornecida
abundantemente por qualquer castanha ou fruta seca, por legumes e várias
hortaliças. Quanto às goji berries, é preciso ressaltar um alerta que apareceu
muito recentemente na Revue Française d’Allergologie sobre alguns casos de
reações alérgicas bastante graves veri cados em uma dezena de pacientes
após consumirem essa fruta (alguns dos quais, porém, eram atópicos, ou
seja, predispostos a esses fenômenos). As veri cações feitas indicaram que
algumas proteínas das goji berries foram responsáveis pela reação anormal,
um detalhe con rmado por estudos realizados na Espanha. Em alguns casos,
bastou até o consumo de uma única fruta para desencadear a reação, muitas
vezes associada a outros tipos de alergia. É oportuno que esse poder
alergizante seja conhecido, até porque os derivados das goji berries entram
na composição de vários cosméticos.
Os grãos de chia, típicos das Américas Central e do Sul, e ligados até (ao
que parece) à civilização asteca, são apresentados sobretudo como
riquíssimos em cálcio e em ácidos graxos ômega 3. Ora, além do fato de que
não há nenhuma notícia sobre a biodisponibilidade desses nutrientes (aliás,
é cabível duvidar dela), é impossível esquecer que as fontes privilegiadas de
ômega 3 (e especialmente daqueles de cadeia longa, os mais difíceis de
encontrar) continuam sendo os produtos pesqueiros e, em segundo lugar, as
castanhas, enquanto o cálcio é fornecido de uma forma muito fácil de
absorver e assimilar pelo leite e pelos laticínios, pela água potável,[25] pelos
vegetais crucíferos, etc.
Já no tocante a certas “toxinas” genéricas e não muito especi cadas que nos
a igiriam por causa – dependendo das diferentes teorias – do estresse, da
poluição da vida moderna ou dos alimentos industrializados e empobrecidos
de hoje em dia, tão diferentes daqueles de uma hipotética “era de ouro” (que
na realidade a humanidade jamais conheceu), ou de mil outras causas, todas
relacionadas ao mundo moderno, felizmente existe bem pouca coisa na
verdade. As únicas “toxinas” de que se pode falar em uma pessoa sadia não
são mais do que os detritos normais que se formam durante os processos
siológicos do nosso catabolismo. Detritos cuja formação é amplamente
prevista pelo nosso corpo, o qual, de fato, está perfeitamente equipado para
contê-las e eliminá-las sozinho, de forma totalmente autônoma,
autodepurando-se dia após dia graças à ação do fígado, dos rins e do
aparato gastrointestinal, justamente os órgãos que são responsáveis por
desempenhar essas tarefas.
Mas de que forma o cérebro “queima” energia para funcionar? Ele faz isso,
em grande parte, por meio do trabalho desenvolvido pelas sinapses, ou seja,
os pontos de contato pelos quais as células nervosas se comunicam entre si
– e que são cerca de um quatrilhão. Mas o fato fundamental é que,
substancialmente, esse consumo de energia não depende do quanto a
atividade do cérebro é intensa – isto é, ele permanece praticamente
inalterado quer a pessoa esteja descansando, quer esteja re etindo ou
estudando intensamente. Já foi demonstrado que 45 minutos de trabalho
intelectual fazem consumir apenas 3 kcal a mais em comparação ao
consumo durante o repouso; ou seja, quase nada. Não existe, portanto,
nenhuma necessidade de se superalimentar nessas situações em que, entre
outras coisas, somos forçados à inatividade durante as muitas horas que
passamos debruçados sobre os livros.
Seria bom começar pela manhã com um belo desjejum, rico em alimentos
que contenham tanto açúcares simples (de liberação rápida) quanto
complexos (de liberação mais lenta), capazes de alimentar o cérebro
imediatamente e também durante as três ou quatro horas seguintes – por
exemplo, biscoitos, torradas, pão, cream crackers ou ocos de cereal, geleia
ou mel, além de leite ou iogurte. É bom que as refeições não sejam de
dimensões excessivas, inclusive a m de favorecer uma volta mais rápida aos
estudos nas horas pós-prandiais. Também é importante permitir-se fazer
pausas, com lanchinhos regeneradores (“vitaminas” de frutas, frutas in
natura, leite, sucos, etc.) e algo doce, mas não com um impacto calórico
excessivo (gelato de frutas é o ideal), também para ter uma grati cação que
torne menos árduo o retorno ao estudo.
E no dia da prova, que muitas vezes dura até seis horas e sem dúvida causa
um notável estresse psicofísico? Depois do costumeiro desjejum, preparado
segundo as indicações que já demos, é bom precaver-se para o inevitável
surgimento da fome, previsivelmente por volta da metade da manhã. Será
útil levar um ou mais lanchinhos para serem consumidos prontamente, a m
de antecipar-se à chegada da fome e prevenir a perda de concentração que
ela acarretaria. Para isso, são úteis alimentos que saciem bastante, sejam de
fácil digestão – melhor se forem sólidos – e que também apresentem uma
combinação dos dois tipos de açúcares. Alguns exemplos são barrinhas de
cereais, cream crackers, grissini e biscoitos; uma torta de geleia ou também
chocolate, capaz de estimular e de induzir um estado de espírito positivo.
Como muitas vezes as provas acontecem em períodos quentes, quando a
transpiração é mais intensa – e também graças à ansiedade –, é igualmente
importante dispor de uma reserva de água (de 150 ml a 200 ml, ou seja, um
copo médio) para facilitar a assimilação e a utilização mais rápidas.
Mas isso conta pouco, porque é óbvio que nos dias de hoje esse tipo de ação
antisséptica perdeu sua importância, à luz das modernas tecnologias de
conservação. O que não impede, porém, que os temperos ainda sejam muito
bem vistos e procurados por vários motivos compreensíveis: o aroma que
conferem aos pratos, sobretudo graças à sua riqueza em óleos voláteis; uma
inabalável con ança em suas propriedades conservantes, principalmente por
causa das substâncias antioxidantes que contêm; e também a convicção de
que possuem, alguns mais e outros menos, preciosas propriedades anti-
in amatórias, preventivas, de estímulo às defesas imunológicas e de proteção
da saúde. Todos estes últimos aspectos não são infundados, mas, como
veremos, muitas vezes tendem a ser um pouco enfatizados demais.
Por outro lado, algo mais promissor foi indicado em relação aos tumores do
estômago e do cólon, com base em estudos epidemiológicos: mais de 28 g
de alho por semana ofereceriam certa proteção, embora os mesmos autores
pedissem cautela, à luz dos problemas que surgiram na elaboração dos
dados.
Pode-se concluir que usar temperos certamente não faz mal e provavelmente
pode fazer bem; que utilizá-los é aconselhável, tanto para usar menos
gorduras e menos sal quanto para tornar os pratos mais apetitosos, bem
como por sua capacidade de exaltar os sabores e de aumentar e variar os
aromas; que os temperos podem favorecer a digestão, estimulando a
secreção dos sucos gástricos e talvez também das enzimas digestivas; e,
nalmente, que é provável que o uso de temperos exerça também outros
efeitos positivos sobre a saúde, os quais provavelmente conseguiremos
conhecer melhor nos próximos anos.
Todavia, tudo isso não signi ca que devamos cometer o erro de considerá-
los “santos remédios” ou de superestimá-los, mesmo porque a quase
totalidade deles é utilizada em quantidades realmente pouco relevantes. Por
exemplo, a ideia de que alguns temperos (como a adorada pimenta) possam
substituir os medicamentos para a hipertensão ou outras doenças
cardiovasculares é errada e perigosa. E não nos esqueçamos das
contraindicações, como as intolerâncias individuais ou a presença de uma
úlcera gástrica ou duodenal, visto que os temperos estimulam as secreções
do aparelho digestivo e exercem uma ação irritante das mucosas.
Finalmente, vale ressaltar o fato de que alguns deles (como o gengibre, a
cúrcuma, a pimenta-do-reino, a canela e também o alho) interagem com
determinados medicamentos, aumentando sua atividade (com os
quimioterápicos, um efeito que pode ser vantajoso, mas também com os
anticoagulantes orais e com medicamentos hipotensivos, como os inibidores
da enzima conversora de angiotensina, por exemplo), ou então reduzindo
sua e cácia (com alguns medicamentos antivirais, por exemplo), ou ainda
intensi cando seus efeitos colaterais. Mas mesmo essas interferências só se
veri cam com um consumo continuado e em altas doses, situações
francamente raras.
De qualquer forma, também é preciso lembrar que, como toda vez que
deglutimos também engolimos ar (cerca de 3 ml a 5 ml, até quando
engolimos apenas saliva), mastigar por muito tempo, e especialmente
chiclete, signi ca também aumentar notavelmente a quantidade de gases já
presentes siologicamente no aparato gastrointestinal – o que pode
provocar sensações incômodas e alguns distúrbios, como eructações
frequentes, atulência, distensão abdominal excessiva (até causar dor
persistente) e também algum problema de hiperacidez gástrica, decorrente
do aumento da secreção ácida que ocorre por causa da pronunciada
distensão das paredes do estômago.
A esta altura, ca mais fácil explicar por que muitas pessoas efetivamente
perdem muitos quilos seguindo as dietas que lhes são receitadas depois de
serem diagnosticadas com algumas “supostas” intolerâncias, quase sempre
com base em qualquer um desses métodos nada con áveis, quando não
misti cadores. É aí que está o X da questão: como dissemos, não existem
testes validados cienti camente para um diagnóstico exato das intolerâncias,
com exceção dos testes de intolerância à lactose (o chamado breath test ou
teste do hidrogênio expirado), à d-xilose, e para a determinação da
intolerância ao glúten (busca no sangue por três anticorpos diferentes,
biópsia intestinal, etc.). Portanto, na maior parte dos casos, não é possível
determinar uma “dieta por eliminação” focada na causa real da intolerância,
como seria desejável – o que explica (mas não justi ca!) o fato de que
muitas vezes as pessoas decidem proceder às cegas, aceitando como válido o
resultado de um dos métodos nada con áveis que já citamos. Mas o
problema é que esse resultado quase sempre incrimina e põe no banco dos
réus como a causa de intolerâncias uma variedade de produtos
exageradamente ampla: produtos que, vejam só a coincidência, são quase
sempre os mesmos, e todos muito populares, além de serem
costumeiramente consumidos em doses excessivas pelas pessoas com
sobrepeso (como leite e queijos, derivados do trigo, azeite de oliva,
alimentos fermentados, etc.).
Em decorrência disso, as dietas prescritas com base nesses diagnósticos tão
vagos são sempre muito pobres e baseadas em restrições alimentares
exageradamente rígidas. O emagrecimento resultante, portanto, não é
provocado (como o paciente pode ser induzido a crer, em boa-fé) pela
exclusão dos alimentos aos quais ele seria intolerante, mas simplesmente
pela arriscada imposição de refeições muito reduzidas, que muitas vezes se
assemelham perigosamente a um “semijejum” e que, além de serem quase
sempre restritas demais, muitíssimas vezes não são nem um pouco
balanceadas do ponto de vista nutricional.
E.)
[17] Segundo o Guia alimentar para a população brasileira (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005), a
recomendação é a de que as proteínas representem de 10% a 15% do valor energético total. (N. E.)
[18] Ainda segundo o Ministério da Saúde, os carboidratos totais devem corresponder de 55% a 75%
do valor energético total, entre os quais 45% a 65% devem ser provenientes de carboidratos
complexos e bras e menos de 10% de açúcares livres (ou simples). (N. E.)
[19] No Brasil, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Resolução RDC nº 269, de
vitaminas e minerais para os diferentes grupos populacionais. Em 2018, a Instrução Normativa nº 28,
de 26 de julho de 2018, também estabeleceu listas de constituintes e limites de uso autorizados para
[20] No Brasil, de acordo com a Anvisa, os valores recomendados para a ingestão diária de vitamina
C são de 45 mg para adultos, 55 mg para gestantes e 70 mg para lactantes. O limite máximo está em
torno de 1,9 g para adultos maiores de 18 anos e 1,7 g para gestantes e lactantes. Também há
recomendações especí cas para outros grupos populacionais, como as crianças. (N. E.)
[21] Segundo a Anvisa, a recomendação para a ingestão diária de cálcio também é de 1.000 mg para
limites máximos para proteínas e carboidratos. No entanto, o emprego dessas substâncias foi
considerado seguro com base nas quantidades recomendadas para sua e cácia ou em função do seu
[25] Na Itália, a água potável disponível para consumo tem um alto teor de calcário, o que já não
Entre outras coisas, essa crença errada corre o risco também de parecer uma
con rmação da absurda convicção – infelizmente ainda muito presente e da
qual falamos também em outra parte deste livro – de que consumir
produtos ricos em carboidratos e produtos ricos em proteínas juntos, ou na
mesma refeição, pode ser de alguma maneira prejudicial ou ao menos
desaconselhável. Uma ideia que não apenas contraria todos os critérios
aceitos pela comunidade cientí ca mundial acerca da composição que deve
ter uma dieta equilibrada e variada, e vai de encontro aos conceitos básicos
do próprio modelo alimentar mediterrâneo, mas que também é desmentida
pela pura e simples composição química de alguns dos mais importantes
alimentos que o homem tem à sua disposição há milênios.
Ó Í Ã
AS DIETAS “SÓ PROTEÍNA” SÃO AS IDEAIS
PARA EMAGRECER
Não é verdade, essas dietas estão bem longe de ser a solução “ideal”. Na
realidade, trata-se de esquemas alimentares fortemente desequilibrados, além
de bastante arriscados se adotados por muito tempo, e aos quais falta uma
verdadeira validação cientí ca. Basta pensar que há bem poucos anos a
renomada British Dietetic Association [Associação Britânica de Nutrição],
ao compilar o ranking das cinco piores dietas emagrecedoras que já
surgiram, reservou as duas primeiras posições justamente para dois
esquemas dietéticos desse tipo.
Em síntese, portanto, com uma dieta desse tipo, perde-se peso por vários
motivos: 1) come-se menos porque a cetose age sobre o sistema nervoso
central, reduzindo a sensação de fome; 2) uma considerável parte da energia
fornecida pelas proteínas alimentares é “desperdiçada” como calor, porque
elas induzem uma termogênese alimentar (assim é chamado o dispêndio
calórico que se segue à ingestão de determinado macronutriente) mais
elevada do que aquela induzida por gorduras e carboidratos; 3) as proteínas
têm um elevado poder de produzir a sensação de saciedade; 4) a monotonia
e a limitação das opções oferecidas por uma dieta tão pouco variada cansam
rapidamente quem a pratica, impelindo-o a reduzir espontaneamente as
quantidades de comida consumidas.
Sem dúvida, porém, essas dietas são também muito populares, por motivos
bem compreensíveis: são muito simples de se seguir, pois oferecem a
possibilidade de comer à vontade alimentos e pratos muito saborosos, sem
precisar calcular e medir porções e condimentos; asseguram uma
pronunciada sensação de saciedade, que também é favorecida, como
dissemos, pela elevada presença de corpos cetônicos em circulação no
sangue; e consentem quase sempre uma redução de peso inicial rápida, até
rápida demais, o que representa um forte ímpeto motivacional.
Isso não invalida que os substitutos das refeições possam ser úteis para uso
esporádico em particulares situações: por exemplo, durante uma pausa
muito breve no trabalho, quando somos obrigados a comer rapidamente no
escritório; quando não há, nos arredores, lugares onde possamos consumir
rapidamente uma refeição mais normal e não conseguimos nos organizar
para trazer de casa algo para comer, etc. A sua potencial utilidade não está
tanto na capacidade de fazer emagrecer, e sim na sua exibilidade para um
uso ocasional.
Antes de mais nada, é verdade que tais produtos conseguem uma economia
das calorias ingeridas, mas a margem não é muito ampla, e, portanto, não é
possível usá-los livremente: eles podem ser úteis somente se empregados no
lugar dos “normais” correspondentes, mas sempre em quantidades bem
calculadas, no âmbito de uma dieta bem programada e de nida em seu
conjunto.
Outra possível origem dessa crença pode estar ligada ao fato de que
controlar a quantidade de pacotinhos de cream crackers e de grissini que
consumimos à mesa parece mais fácil do que controlar a quantidade de pão.
No entanto, há também o reverso da medalha: partir da ideia de que cream
crackers e grissini são mais leves pode muitas vezes criar um álibi
psicológico que induz a comer mais deles, resultando que, no m das contas,
o teor calórico total, longe de ter sido reduzido, revela-se consideravelmente
aumentado.
Por outro lado, é verdade que muitas vezes acabamos por consumir
habitualmente mais gorduras alimentares do que deveríamos, o que torna
bem mais pesado o nosso equilíbrio energético, considerando a já lembrada
alta “densidade energética” das gorduras. E é verdade que, justamente por
causa disso, as gorduras – tanto as que são acrescentadas aos pratos no
cozimento como aquelas já presentes na própria estrutura dos alimentos –
são os primeiros componentes que devem ser limitados, até fortemente,
quando se decide diminuir o teor calórico da dieta. De maneira geral,
portanto, essa estratégia não está errada, contanto que seja usada com
comedimento, ou seja, simplesmente diminuindo o consumo de substâncias
gordurosas, e não abolindo-as por completo – o que aliás, como já dissemos,
é tecnicamente impossível.
Além disso, é preciso considerar que seria equivocado identi car o café
apenas com a conhecidíssima cafeína. Ela é um alcaloide brandamente
estimulante que pode in uenciar vários órgãos e sistemas (desde o
cardiovascular até os rins e o sistema nervoso central), mas que, nas doses
comumente consumidas com o café, exerce efeitos bastante modestos.
No conjunto, pode-se dizer que muitas coisas estão sendo descobertas sobre
a relação existente entre a privação do sono e o aumento de peso. Mesmo
que as ideias ainda não estejam de todo claras. Por exemplo, em certos
casos, poderíamos estar diante de uma inversão entre causa e efeito, se,
hipoteticamente, uma obesidade abdominal produzisse tantas apneias e
dispneias noturnas a ponto de piorar a qualidade do sono até provocar a
própria insônia.
Concluindo, pensar que uma boa qualidade habitual do sono possa dar uma
ajuda válida a controlar melhor o peso está longe de ser uma heresia. E em
todo caso, obviamente, está con rmado que dormir muito pouco ou dormir
mal decididamente faz mal à saúde...
Uma moda que se encaixa na mais ampla mania dos “alimentos sem alguma
coisa”, que tomou o lugar daquela dos alimentos enriquecidos com algum
nutriente na concorrência pelo mercado alimentar. A causa talvez esteja no
fato de que estes últimos são vistos instintivamente pelo consumidor como
mais “engordativos”, justamente porque contêm algo a mais,
independentemente da natureza e da quantidade dos nutrientes
acrescentados.
En m, muitas pessoas decidem passar para uma alimentação sem glúten por
decisão pessoal, ou porque foram induzidas a imitar as numerosas
celebridades (atrizes, atletas, etc.) que proclamam ter sido convertidas a essa
moda, ou porque acham que isso pode ajudá-las a perder peso, ou porque
acham que essa alimentação é mais saudável ou “dietética”, ou ainda porque
se autodiagnosticaram intolerantes com base em sintomas genéricos ou mal
interpretados. Também de acordo com a Associazione Italiana
Gastroenterologi Ospedalieri (AIGO),[31] “o mito que alimenta essa moda
reside na convicção de que uma dieta pobre em cereais e produtos que
contenham glúten é emagrecedora e salutar. O risco ligado a essa escolha é
o de reduzir o consumo de vitaminas do complexo B e de bras bené cas
para a saúde do intestino, e também o de compensar a falta de massas e pão
com gorduras saturadas”.
Pois bem, é preciso dizer de uma vez por todas que os produtos sem glúten
não servem para emagrecer, por toda uma série de motivos muito claros.
Antes de mais nada, eles apresentam maiores quantidades de gorduras se
comparados aos produtos correspondentes que contêm glúten, ainda que
esse aspecto esteja sendo atenuado nos últimos tempos: essas gorduras são
acrescentadas para suprir a ausência das propriedades típicas do glúten, ou
seja, para conferir à massa viscosidade, elasticidade e resistência. Uma
comparação efetuada recentemente permitiu veri car que, por exemplo, o
pão sem glúten contém, em média, o dobro de gorduras em relação ao pão
normal, e naturalmente menos proteínas. A mesma situação se dá também
com os biscoitos. Além disso, os produtos sem glúten apresentam maior
índice glicêmico (uma medida do aumento da glicemia após o consumo de
certa dose de um alimento), o qual é mais baixo para o glúten. Finalmente, a
ausência do glúten determina um esvaziamento mais rápido do estômago, o
que provoca uma menor duração da sensação de saciedade.
Não é por acaso que os celíacos que começam a consumir esses produtos,
além de recuperar peso por nalmente se livrarem dos efeitos negativos da
doença e recomeçarem a assimilar normalmente as substâncias nutritivas,
podem também tender a engordar em seguida. Tanto o gosto renovado por
certos alimentos quanto o consumo diário de produtos com uma maior
densidade calórica têm um papel nisso.
Basta dar uma olhada nas tabelas de composição dos alimentos para se dar
conta de que determinada porção de arroz fornece substancialmente as
mesmas calorias que uma porção análoga de macarrão. Além disso, os dois
produtos também são muito semelhantes do ponto de vista da capacidade de
produzir a sensação de saciedade, já que 100 g de macarrão cru se tornam,
depois de cozidos, cerca de 200 g a 220 g, enquanto 100 g de arroz cru
tornam-se aproximadamente 230 g a 240 g de produto pronto para ser
consumido.
Nas manchetes simpli cadas dos jornais e na mente dos leitores, porém, as
diferentes propostas muitas vezes terminam se sobrepondo e se confundindo
entre si, à custa de uma correta informação do público. No m das contas,
permanece fortíssima a sensação de que seguir as diretrizes recomendadas
pela OMS e pela comunidade médica mundial, com base nas linhas gerais do
modelo alimentar mediterrâneo, seja atualmente – e para todos – o método
mais lógico e compreensível, e também o mais adequado, para garantir uma
boa saúde, uma massa corpórea correta e o melhor desenvolvimento possível
da expectativa de vida característica de cada pessoa.
Isso, porém, não signi ca que os primeiros quilos perdidos sejam “só água”.
Mais simplesmente, esses primeiros quilos eliminados têm, na maioria das
vezes, um conteúdo de tecido adiposo menor em relação àquele que
caracterizará os quilos perdidos na sequência, já que junto da “gordura”
perdem-se também quantidades maiores ou menores de outros componentes
do nosso organismo, como uidos corporais, glicogênio muscular, etc. São
esses componentes os principais responsáveis pela acelerada perda de peso
inicial.
Entre outras coisas, o que dissemos até aqui ajuda a entender por que é tão
importante que quem se dedica a um programa de emagrecimento se faça
acompanhar por um médico, o qual, além de impedir que seja adotada uma
dieta restritiva demais ou excessivamente desbalanceada, também o ajudará a
interpretar corretamente as respostas da balança e a monitorar as variações
da composição corpórea, evitando assim, inclusive, momentos de desânimo
muitas vezes exagerados e substancialmente infundados.
E mais uma vantagem está ligada à oportunidade que o médico também terá
de ajudar o paciente a identi car a meta certa a ser objetivada, e a não cair
na armadilha da busca por um “peso ideal” autorreceitado e quiçá
inalcançável. Efetivamente, o peso ideal não passa de um conceito sem bases
cientí cas claras, que deve ser substituído pela identi cação de um peso
“desejável” relacionado à estatura, à constituição física, à idade e ao sexo –
algo com o que nosso médico pode nos ajudar, evitando que caiamos em
desilusões talvez sem motivo algum, ou, pior ainda, que teimemos com
programas dietéticos drásticos demais, os quais podem trazer riscos não só à
nossa saúde, mas também, em casos especí cos e infelizmente não raros, ao
nosso equilíbrio físico e psicológico.
Portanto, se uma pessoa está realmente acima do peso, os ossos têm muito
pouco a ver com isso, e o principal culpado é sempre o tecido adiposo
armazenado em excesso no corpo. No entanto, é verdade que uma ossatura
mais sólida tem a ver com a “silhueta” da pessoa, ou seja, com o seu “tipo
morfológico”, no sentido de que ossos mais pesados em geral são
acompanhados por músculos naturalmente mais volumosos e redondos.
Como o músculo tem um peso especí co mais elevado que a gordura, uma
musculatura desse tipo é notavelmente mais pesada se comparada com uma
caracterizada por músculos nos e alongados, e acarreta um aumento não
desprezível da massa corpórea basal total. Trata-se, porém, de quilos de
tecidos magros, muito ativos metabolicamente, e que são um componente
importante da chamada “massa magra”, cuja in uência no plano do bem-
estar jamais deve ser confundida com aquela atribuída aos tecidos com um
componente maior de gordura.
En m, alcançar pelo menos essa meta parcial signi ca ter levado a cabo, sem
esforço excessivo, uma exitosa intervenção preventiva. E mesmo se a
redução do peso for limitada, outros sinais indicarão que as coisas
melhoraram, sinais reconfortantes e fáceis de se perceber subjetivamente:
uma rápida melhora da insu ciência respiratória, que se traduz em uma
diminuição ou no desaparecimento do ronco, na redução das apneias e
dispneias noturnas, na melhora da qualidade do sono e em um maior bem-
estar geral.
Voltamos a repetir que toda essa melhora do quadro geral – que traz
consigo notáveis benefícios metabólicos e cardiovasculares – em um
porcentual elevado dos casos pode ser obtida sem restrições calóricas
severas ou difíceis demais de suportar, envolvendo tempo e sacrifício
razoáveis. Uma notícia encorajadora, ainda que seja verdadeira dentro de um
quadro de empenhos a serem adotados e regras a serem respeitadas.
E para citar outro exemplo bastante comum, há outra situação bem parecida
que apresenta os mesmos problemas e os mesmos lados negativos, e deriva
igualmente de avaliações equivocadas mais ou menos da mesma natureza:
trata-se dos casos frequentes de garotas adolescentes de porte atlético ou
decididamente “mediterrâneo”, cujo peso deriva sobretudo de uma estrutura
muito sólida, com boa presença de tecidos magros, as quais decidem que
querem emagrecer de qualquer maneira, sem aceitar conselhos de ninguém.
E fazem isso simplesmente para seguir “regras” sem critério da moda ou
decisões autônomas erradas (muitas vezes provocadas pela comparação com
garotas da mesma idade, mas com uma morfologia completamente
diferente), ou ainda porque receberam maus conselhos ou foram
in uenciadas pelas nada con áveis tabelas de peso × altura que aparecem em
revistas. Assim, acontece que essas meninas tão jovens começam a se
alimentar mal, pulando refeições ou fazendo jejum, e invariavelmente
empobrecendo muito a própria alimentação, combinando quase sempre tudo
isso com a adoção de uma atividade física extenuante e obsessiva.
Como se vê, estamos novamente diante de problemas criados por uma visão
errada sobre a meta a ser buscada e por uma escassa cultura especí ca.
Erros que poderiam ser evitados com facilidade simplesmente tendo o bom
senso e a humildade de pedir (e em seguida respeitar...) um simples
conselho do médico da família; um parecer que não só evitaria chegar a uma
renúncia resignada e pessimista demais (no caso de sobrepesos
aparentemente tão grandes que parecem inatacáveis) de forma precipitada,
mas também evitaria as avaliações erradas acerca do próprio peso, as quais
são capazes de levar a pessoa a adotar comportamentos alimentares tão
drásticos que prejudicam a saúde e o estado nutricional como um todo.
Mas nem é tanto a esse tipo de situação que se referem as pessoas com
sobrepeso quando se lamentam: “eu retenho muita água e isso me faz pesar
mais”. A referência é quase sempre a um inchaço, tanto do estômago e do
abdômen quanto de várias outras partes do corpo (sobretudo as coxas), que
quase nunca é atribuído espontaneamente ao aumento excessivo da
espessura da gordura subcutânea, mas em vez disso é posto na conta dessa
“retenção” genérica, culpada pelo desconforto, pelo “empachamento” e por
sensações desagradáveis de acentuado aumento das próprias dimensões.
O resultado pode até ser a perda de muito peso na balança (mas não
necessariamente de muito tecido adiposo) e em pouco tempo. Esse detalhe
da rapidez, aliás, não é de forma alguma um resultado a ser comemorado: de
fato, todos os especialistas “sérios” concordam com o critério de que um
regime emagrecedor correto, equilibrado e variado – capaz, portanto, de
melhorar de maneira duradoura os hábitos alimentares – deve ser planejado
de forma a determinar um dé cit energético diário médio de cerca de 700
kcal a 800 kcal, no máximo 1.000 kcal, em relação às necessidades reais. O
resultado esperado em termos de perda de peso oscilará, portanto, entre 0,5
kg e 1 kg por semana, de acordo tanto com o consumo energético
suplementar derivado do indispensável aumento da atividade motora quanto
com a capacidade de adaptação do metabolismo de cada indivíduo.
Sim, porque existe também esse último aspecto, muitas vezes subestimado: o
nosso organismo é, em maior ou menor medida, um poupador, que por
centenas de milhares de anos evoluiu em condições de tamanha carestia que
os “premiados” com a sobrevivência eram os que melhor se adaptavam por
longos períodos à escassez de comida, baixando o próprio metabolismo
basal (responsável por cerca de 70% do nosso consumo energético) e assim
reduzindo o próprio consumo. Pois bem, ainda hoje – ou seja, em um
período de fácil acesso a tanta comida de alta densidade calórica e
facilmente disponível –, nós, seres humanos “modernos”, possuímos essa
capacidade mais ou menos intacta, embora não a percebamos. Assim,
quando nos impomos uma dieta hipocalórica, tanto por motivos estéticos
quanto por motivos de saúde, o nosso corpo registra essa situação como
algo perigoso e reage adaptando-se, como descrevemos anteriormente,
contrariando e retardando, portanto, os efeitos da dieta.
Esse fenômeno acontece com qualquer um, mas em certas pessoas é tão
pronunciado que retarda muito, chegando até a bloquear (mesmo
rapidamente) a perda de peso, mesmo em pessoas que efetivamente acusam
relevantes excessos de gordura corporal e teriam realmente necessidade de
emagrecer mais.
Em vez disso, para todos eles – e mais ainda para os “poupadores”, que são
aqueles que correm maior risco de recuperar o peso facilmente – seria
indispensável adotar um esquema de manutenção, ou seja, um regime que
permita a preservação dos resultados obtidos, um meio-termo razoável entre
as escolhas alimentares anteriores (vale dizer, aquelas que foram
responsáveis pelo aumento de peso) e a dieta rígida que determinou o
emagrecimento. Tudo isso, obviamente, será mais fácil para quem seguiu um
regime planejado corretamente, que represente de maneira adequada o novo
modelo a ser seguido e, espera-se, seja acompanhado por um aumento da
atividade física. Para essas pessoas, será menos árduo manter um peso
satisfatório, ainda que com inevitáveis – porém modestas – oscilações. Ao
contrário, vão recair muito mais facilmente nos velhos hábitos aqueles que
emagreceram seguindo um dos métodos “anormais” e exageradamente
drásticos citados aqui, já que na prática eles não modi caram
conscientemente seu estilo de vida, nem do ponto de vista das atividades,
nem no aspecto de como se alimentar.
Isso vale para todas as variedades de vinagre, inclusive o de maçã, cujo ácido
acético (que seria o agente encarregado de “queimar rapidamente as
gorduras, transformando gorduras e glicídios em energia”, segundo a
internet) é de nido nas redes como “mais saudável do que o de outros tipos
de vinagre”, seja lá o que esse adjetivo possa indicar nesse contexto. E a
mesma falta de con rmações con áveis afeta também todas as outras
a rmações que são imprudentemente feitas, na maioria das vezes em sites
em que, não por acaso, também é proposta a venda de garrafas de vinagre –
a rmações sempre provenientes de fontes com bem pouco crédito, que
a rmam, sem nenhuma prova concreta, que beber um copo de vinagre duas
vezes ao dia conseguiria “antecipar o surgimento da sensação de saciedade”,
“acelerar o metabolismo”, “melhorar a pressão sanguínea”, “combater o
colesterol ruim”, e claro (como não poderia faltar), também “exercer um
efeito desintoxicante”.
Não é por acaso, aliás, que os conselhos de utilizar vinagre para emagrecer
estejam sempre acompanhados da recomendação de associá-lo também a um
consumo menor de comida, sobretudo de frituras e condimentos
gordurosos, e a um aumento da atividade física. É evidente que, se
acontecer, a eventual perda de peso será causada por essas boas normas de
comportamento, e certamente não pelo uso de vinagre...
Mas não é só isso: não apenas o vinagre não tem nenhum poder
emagrecedor, como beber um copo dele por dia terá inevitavelmente um
efeito irritante sobre as mucosas da boca e do esôfago, podendo induzir uma
acidez gástrica com facilidade, e muito provavelmente provocará danos ao
esmalte dos dentes. E o conselho de tomá-lo diluído com água não protege
ninguém dessas consequências desagradáveis. Resumindo, é melhor nem
tentar...
Não foi por acaso que, em 2013, a American Medical Association concedeu
à obesidade o caráter de doença, permitindo o acesso a seguros-saúde para
aqueles que precisam enfrentar os respectivos tratamentos. Na Itália, a partir
de 2019, é possível até que a incidência do sobrepeso e da obesidade seja
incluída na Legge di Bilancio (“Lei do Orçamento”) como um dos doze
indicadores que de nem o benessere equo e sostenibile (BES),[34] por ser
“uma ótima maneira de prever o risco de um amplo espectro de patologias
crônicas”.
Não, as críticas são justas e também motivadas pelo fato de que, na maioria
das vezes, eles contêm várias moléculas diferentes em associação na mesma
cápsula. O alerta dos farmacêuticos e clínicos é que juntar tantos princípios
ativos – de efeitos inclusive contrastantes – traz o risco de criar perigosas
interações medicamentosas entre as substâncias, tanto com reforços quanto
com inibições das suas ações individuais, e com o perigo de gerar “reações
adversas que podem aumentar em relação ao número de substâncias
associadas na mesma preparação”, segundo a Agenzia Italiana del Farmaco
[Agência Italiana de Medicamentos]. E o Istituto Superiore di Sanità
[Instituto Superior de Saúde] con rmou que “a combinação de vários
princípios ativos a m de emagrecer aumenta inevitavelmente os riscos de
reações adversas e torna ainda mais desfavorável a relação risco/benefício”.
Outro aspecto que não pode ser subestimado é este: muitos de nós, e
sobretudo as numerosas falanges dos “menos jovens”, já somos obrigados a
tomar vários medicamentos todo dia, por motivos válidos. Portanto, é
realmente irracional aumentar mais ainda esse número sem razões válidas,
correndo o risco de criar outros problemas e de sofrer outros efeitos
indesejáveis – tudo isso apenas para buscar uma inexistente solução
milagrosa para um problema que deve ser enfrentado seguindo práticas
muito mais racionais e bem ponderadas.
Antes de mais nada, mesmo nas ocasiões mais agradáveis, é preciso evitar
entrar naquele estado de ânimo em que “tudo é permitido”, e em vez disso
conseguir participar procurando fazer algumas escolhas, tanto quantitativas
quanto qualitativas. Isso signi ca, trocando em miúdos, não se deixar
convencer demais pelas lisonjeiras propostas do cardápio do restaurante;
não se deixar arrastar pelo exemplo (e pelas exortações...) dos outros
comensais; pedir pratos (inclusive os primeiros, à base de macarrão ou
arroz) que seja possível preparar e temperar de maneira mais sóbria;
solicitar, em geral, tipos de cozimento (fervido, na chapa, ao sal, etc.) que
demandem menores quantidades de condimentos gordurosos e verduras
temperadas com vinagre ou limão em vez das fritas, ou saladas sem molho,
para serem temperadas à mesa; manter distância do cesto de pães para não
cair demais em tentação; limitar as bebidas alcoólicas à dose mínima de um
copo (se realmente não puder abrir mão); e, nalmente, concluir a refeição
com o sabor doce da fruta ou no máximo de um pequeno gelato cremoso ou
de frutas, em vez de doces entupidos de gordura, cremes e açúcar. Algo
semelhante pode ser feito também em situações mais exigentes, como um
convite para comer na casa de alguém em vez do restaurante: provar de
tudo, mas possivelmente em porções reduzidas e recusando-se
educadamente a repetir, de forma a agradar o(a) dono(a) da casa e ao
mesmo tempo não exagerar com as transgressões, ainda que previstas e
legítimas.
Essa estratégia não é tão difícil de ser executada, mesmo porque, depois dos
primeiros dias de dieta, a sensação de fome se reduz, e aliás, já à mesa pode
acontecer com frequência de se notar uma sensação precoce de saciedade,
bem antes do m da refeição. Conseguir se comportar dessa forma permite
alcançar muitos objetivos de uma vez só. Antes de mais nada, não teremos a
sensação – muito perigosa psicologicamente – de que a dieta nos exclui do
convívio com as pessoas com quem amamos estar. Depois, o progresso na
direção do resultado desejado, ou seja, o emagrecimento, será retardado de
forma modesta; ou, se houver aumento de peso, será de pouca monta e não
a ponto de criar a perda da motivação para seguir em frente. Além disso,
não faremos concessões excessivas a pratos muito saborosos e agradáveis, o
que é útil, já que provar novamente certos sabores sem dúvida tornaria mais
difícil voltar em seguida ao regime mais austero.
Daí para a ideia de comer usando óculos azuis para se sentir menos atraído
pela comida e, portanto, comer menos – um verdadeiro atalho para perder
peso – foi um pequeno passo. Assim como foi imediata a ideia comercial de
pôr à venda justamente óculos dotados de grandes lentes azuis, fabricados
para esse uso. Depois disso, as sugestões se multiplicaram, até chegarem a
aconselhar a instalação de uma lampadinha azul no refrigerador, de usar
toalhas e guardanapos azul-escuros, de pôr os alimentos em recipientes
azuis ou embrulhá-los em papel azul, e outras fantasias mais.
Mas não é só isso: há também outro aspecto que torna menos “leve” o
discurso sobre as lentes azuis, e aqui intervêm os especialistas em
oftalmologia, que nos lembram que a luz azul é um componente da luz
visível prejudicial para a retina. De fato, ela possui energia elevada, e sua
mensagem cromática é muito difícil de decifrar por parte dos cones (células
fotorreceptoras especí cas da retina, dedicadas a enxergar as cores), aos
quais impõe um esforço particularmente pesado. Teme-se que a foto-
oxidação induzida por essa cor possa contribuir para provocar a
degeneração macular relacionada à idade, uma doença ligada ao
envelhecimento que atinge a mácula (a parte central da retina) e que
representa a principal causa de perda de visão central após os 55 anos.
Não é por acaso, como advertem os especialistas, que quem sofre dessa
doença ou tem predisposição a ela deve usar lentes ou próteses endo-
oculares chamadas de blue-blocker ou blue-control, dotadas de um ltro com
pigmentos amarelos que absorve o componente cromático azul, poupando
assim a mácula dos seus efeitos negativos. Mesmo com esses cuidados, a
percepção das cores ca inalterada.
que as gorduras (ou lipídios) compreendam de 15% a 30% do valor energético total na alimentação e
[29] Ainda de acordo com o Guia alimentar para a população brasileira (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2005), os carboidratos devem representar de 55% a 75% do valor energético total obtido pela
alimentação. A versão mais recente, de 2008, usa como referência a OMS. (N. E.)
[30] Aqui o autor se refere ao pão italiano. No Brasil, o mais consumido é o pão francês, que em
média contém, a cada 100 g, 28,5% de umidade, 300 kcal, 8 g de proteínas, 3,1 g de lipídios, 58,6 g
[32] Segundo o Guia alimentar para a população brasileira (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005), do valor
energético total que deve ser composto por carboidratos na alimentação (55% a 75%), recomenda-se
que de 45% a 65% sejam provenientes de carboidratos complexos e bras. (N. E.)
[33] No Brasil, o Ministério da Saúde divulgou um levantamento segundo o qual, em 2016, cerca de
18,9% dos adultos (maiores de 18 anos) já eram considerados obesos e mais da metade da população
[34] “Bem-estar justo e sustentável”, série de indicadores sociais adotados para avaliar as informações
não são proibidas, porém, seu uso é extremamente controlado por receitas B2. (N. E.)
[36] Núcleo Antifalsi cações da Polícia Militar Italiana. (N. E.)
8 COMIDA E SAÚDE
Do mesmo modo, quase ninguém sabe que o European Code Against Cancer
recomenda, de forma clara e em seu site o cial: “Se você bebe álcool de
qualquer tipo, limite o consumo. Para prevenir o câncer, o melhor é evitar
bebidas alcoólicas”. E os próprios LARN, em sua recentíssima última revisão,
de nem como “risco” qualquer consumo de bebidas alcoólicas: baixo risco
para um consumo baixo, alto risco para um consumo alto.
Além disso, quem é saudável e não tem sobrepeso (não esqueçamos que
cada grama de álcool fornece 7 kcal!), e realmente deseja permitir-se
bebidas alcoólicas, para limitar os riscos é bom que se atenha a doses que
poderíamos justamente de nir como “consumo de baixo risco”. Essas doses,
para os homens, consistem em duas “unidades alcoólicas” ao dia,
entendendo por “unidade alcoólica” cerca de 12 g de álcool – o equivalente
a mais ou menos 125 ml de vinho ou 330 ml de cerveja, ambos de média
graduação alcoólica; ou então, menos aconselhável, uma “dose de bar” de
destilado, cerca de 40 ml. Para as mulheres, que por vários motivos são
muito mais vulneráveis aos efeitos do álcool, esse consumo de baixo risco é
xado em uma só unidade alcoólica ao dia. Parece até inútil explicar que tais
doses diárias não são, por motivos evidentes, cumulativas para uso em
apenas uma ou duas ocasiões semanais, como o m de semana.
E permanecem válidas, naturalmente, algumas recomendações: se possível,
fazer coincidir o consumo de bebidas alcoólicas com o momento das
refeições, para obter picos mais baixos de alcoolemia; evitar totalmente o
consumo de álcool na infância e na adolescência (nessas idades, a
capacidade do organismo de transformar o álcool é imperfeita), durante a
gravidez (lembremos o signi cado do termo “teratogênico”) e durante a
amamentação (o álcool chega à criança por meio do leite e pode provocar
graves danos); reduzir o consumo para idosos, nos quais a alcoolemia, para
um mesmo consumo, aumenta mais; e prestar extrema atenção às numerosas
interações que existem entre o álcool e muitos medicamentos.
Entre outras coisas, o ferro contido nos alimentos de origem animal exerce
também outro efeito útil, o de aumentar notavelmente (até cinco vezes!) a
disponibilidade do ferro contido nos alimentos vegetais, se eles forem
consumidos na mesma refeição. Por isso, segundo os LARN, em uma dieta
mista ocidental, calcula-se que a biodisponibilidade do ferro alimentar seja
de 14% a 18% no conjunto, ao passo que, nas dietas vegetarianas, varia de
5% a 12%.
Não resta dúvida de que o mel possa trazer certo alívio quando somos
atormentados pela tosse e pela dor de garganta: de fato, suas características
emolientes contribuem para atenuar a sensação de irritação da garganta que
muitas vezes desencadeia os ataques de tosse.
Embora seja bené ca, é uma ação branda, que age favoravelmente apenas
nos casos de tosse provocada por uma in amação “alta”, do tipo
faringolaríngea. Naturalmente, não é possível obter nenhum benefício para a
tosse que se origina na traqueia ou nos brônquios – nesse caso, parece até
desnecessário explicar, mas nenhum dos vários tipos de mel possui qualquer
e cácia terapêutica: essas situações, en m, devem ser enfrentadas de forma
especí ca, com intervenções medicamentosas.
Numerosos estudos foram realizados sobre esse tema, mas a validação dos
resultados relativos sempre foi um tanto complicada, até pela di culdade de
identi car o resfriado comum como uma entidade patológica bem de nida.
Em todo caso, a análise de grande parte desses estudos permitiu veri car
que, na maior parte das pessoas que recebiam regularmente 1 g de vitamina
C por dia (vale dizer, cerca de dez vezes o atual nível de referência para um
homem adulto em condições normais), não acontecia a diminuição do
número de resfriados, e sim a diminuição tanto da duração da doença
quanto da gravidade dos sintomas relacionados. En m, uma espécie de
efeito preventivo, já que ao contrário, com a doença já presente, os possíveis
benefícios pareciam mais dúbios.
Mas outros pontos precisam ser sublinhados: antes de mais nada, vale
lembrar que somente uma parte do colesterol alimentar é absorvida (entre
10% e 50%) e também que nosso organismo se autorregula, com maior ou
menor e ciência, diminuindo a síntese interna quando recebemos colesterol
exógeno demais na nossa alimentação – na prática, quanto mais colesterol
comemos, menos produzimos. Em relação a isso, viu-se que existe uma
grande variabilidade individual intra e interpessoal na resposta da
colesterolemia ao colesterol presente na dieta.
Mas falemos dos ovos. Que a gema do ovo contém muito colesterol, não
resta dúvida. No entanto, como dissemos, isso não implica de forma alguma
a necessidade de excluir esse alimento da dieta, pois o aspecto mais
importante continua sendo a composição geral da própria dieta. Entre
outras coisas, renunciar aos ovos signi caria renunciar a um elemento capaz
de produzir uma elevada sensação de saciedade e de fornecer (por baixo
custo e com um impacto calórico limitado) proteínas de elevadíssimo valor
biológico, apenas 5 g a 6 g de gordura (metade das quais são insaturadas),
quantidades razoáveis de vitamina A, de outras vitaminas (como B1, B2 e
PP) e de vários minerais, como magnésio, potássio, cálcio, zinco, ferro e até
iodo, sem contar alguns antioxidantes envolvidos na proteção da retina.
Além disso, a quantidade de colesterol contida nos ovos que são produzidos
hoje em dia foi notavelmente redimensionada: de fato, as novas técnicas de
criação (e sobretudo o uso de diferentes tipos de rações, diferentes raças de
galinhas e a idade menor das poedeiras) levaram a uma notável redução,
além das gorduras, também do colesterol contido na gema, tanto que dos
cerca de 250 mg (por gema) de antigamente passou-se aos cerca de 185 mg
atuais, 30% a menos. E é bom lembrar também que uma longa série de
estudos conduzidos nas últimas décadas mostrou que a relação entre o
consumo de ovos, a colesterolemia e os riscos cardiovasculares resulta um
tanto fraca e inconstante. O mais clamoroso desses estudos foi o de um
grupo de pesquisadores da Harvard School of Public Health, que
acompanhou cerca de 120 mil pessoas durante períodos de nove a quinze
anos, veri cando que, nos indivíduos não diabéticos, jamais se produziu um
impacto apreciável na colesterolemia e no risco de doenças cardiovasculares
ou encefalovasculares, nem com o consumo de um ovo por dia. Resultados
parecidos foram obtidos há poucos anos por pesquisadores do Karolinska
Institutet, de Estocolmo, com cerca de 70 mil pessoas acompanhadas
durante treze anos: nenhuma associação signi cativa foi encontrada entre o
consumo de ovos e o risco de infarto do miocárdio ou de AVC.
Portanto, hoje muitos pensam que, mais do que falar de “dietas com baixo
teor de colesterol”, deveríamos falar de “dietas capazes de baixar a
colesterolemia”. Colocar ênfase demais no papel do colesterol alimentar
pode ser contraproducente, pois leva a subestimar o impacto de outras
recomendações – talvez até mais importantes – sobre o tipo e a quantidade
das gorduras da dieta.
No m das contas, uma bela revanche para um alimento que durante anos
viu-se sistematicamente no banco dos réus, e de forma realmente exagerada.
Esse tipo de leite certamente pode ser atraente por parecer mais “natural” –
com todas as incógnitas incluídas nesse termo que tão frequentemente é
usado de forma abusiva. Quem o ama (na Itália existem mais de mil
máquinas automáticas de distribuição de leite cru a granel, controladas pelo
órgão de vigilância sanitária, e a venda cresceu a partir de 2004)[40] está
convencido de que o leite cru é muito mais rico em substâncias nutritivas
do que o pasteurizado, mas essa avaliação é absolutamente exagerada. Por
outro lado, alguns dados favoráveis, que surgiram em alguns estudos e
merecem con rmação, estão relacionados a possíveis efeitos protetores de
manifestações alérgicas (dermatites, rinites, asma).
Pelo mesmo motivo, o leite cru também deve ser conservado sob
refrigeração, mas, de qualquer forma, ele apresenta alguns riscos, os quais
impõem muitos cuidados a quem queira usá-lo. As normas vigentes obrigam
a uma série de controles veterinários muito minuciosos, mas os especialistas
advertem que, apesar disso, é praticamente impossível descartar a presença
de germes que podem contaminar o produto tanto no momento da ordenha
quanto nas fases seguintes. Portanto, o leite cru, mesmo aquele preparado e
conservado da melhor maneira, pode apresentar uma carga bacteriana não
desprezível, capaz de provocar até infecções alimentares graves.
Os dados falam por si: poucos anos atrás, em Atlanta (nos Estados Unidos),
os renomados centros para o controle e a prevenção de doenças locais
desaconselharam o cialmente os americanos a beber leite cru não
pasteurizado, visto que, nos quinze anos anteriores, justamente esses
produtos foram a causa de 80% de todas as infecções causadas pelo
consumo de leite e derivados no país, e isso mesmo nos estados onde o
consumo do produto cru havia sido autorizado. O que comprova que a
legalização e os relativos controles muitas vezes não representam um
instrumento su ciente para impedir esse tipo de infecções.
Na Itália, muitos controles são realizados e os dados sobre os riscos de
contaminação por várias bactérias (Campylobacter, Escherichia coli, Salmonella,
Listeria e outras), por sorte, são bastante reconfortantes. Isso não impede
que o leite cru continue sendo (junto da carne e do peixe crus) um
potencial veículo de contaminação microbiana, o que deve ser levado em
conta sobretudo para evitar riscos a indivíduos vulneráveis, como crianças e
idosos.
Alguns anos atrás, a EFSA também ressaltou que, de qualquer forma, todo o
processo – desde o estábulo até o consumidor nal – envolve elevados
riscos de contaminação patogênica, ainda que executado com perfeição, e
reforçou a exigência de informar adequadamente os consumidores acerca
dos potenciais riscos e de como evitá-los, tomando cuidado com os grupos
mais vulneráveis e fervendo o leite antes do consumo. Sim, porque na Itália
existe a obrigatoriedade – não conhecida por todos – de ferver o leite cru
antes do consumo, e a indicação para respeitar essa regra de higiene
(totalmente supér ua para o leite pasteurizado) é reproduzida também nas
máquinas de distribuição.
Uma pequena observação à parte: quem escolhe o leite cru muitas vezes o
faz para ter um produto “natural” e não “dani cado” e empobrecido pelos
tratamentos tecnológicos. Pois bem, a fervura, indispensável para poder
consumir esse tipo de leite sem riscos, é muito mais prejudicial para as
vitaminas e para outros princípios nutritivos contidos no leite do que a
pasteurização e os vários processos de esterilização.
Vamos abordar o assunto por via das dúvidas, ainda que de maneira breve.
Naturalmente, não é verdade que a gestante precisa comer por dois. Essa
antiquada a rmação é claramente exagerada: sob vários aspectos, é mais do
que su ciente que a gestante se atenha a certos comportamentos que
favorecerão o êxito da gravidez e também bene ciarão o recém-nascido.
Para permanecer no campo da nutrição, repetimos que a alimentação na
gravidez não difere muito daquela dos períodos normais, embora precise ser
cuidada com particular atenção, tanto na sua quantidade quanto na
qualidade.
É Ã
O CAFÉ FAZ AUMENTAR A PRESSÃO
ARTERIAL
Essa também, como muitas outras, é uma ideia tão difundida quanto
exagerada. Vejamos o porquê.
Os efeitos exercidos pelo café sobre a pressão arterial dependem quase que
exclusivamente da quantidade de cafeína. Dado o interesse sobre o assunto e
a difusão universal da bebida “café”, o tema foi estudado atentamente tanto a
curto quanto a longo prazo, ministrando só a cafeína ou o café “inteiro” e
outras bebidas que a contêm.
[38] Ressaltamos que no Brasil a água não contém uma concentração elevada de íons de cálcio e
[39] Como foi mencionado anteriormente, pesquisas mais recentes indicam que a ingestão de um ovo
ao dia é aceitável, desde que inserida em uma alimentação equilibrada. De acordo com a Sociedade
Brasileira de Cardiologia, porém, deve-se ter cuidado na forma de preparo do ovo – ou seja, quando
[40] No Brasil, é proibida a venda de leite cru para o consumo direto da população, de acordo com o
Mas não é só isso: também foi demonstrado que as mesmas acusações feitas
à caseína poderiam ter sido lançadas contra o consumo de qualquer proteína
de origem vegetal, em particular da soja. De qualquer forma, os efeitos
sempre estariam ligados ao consumo de quantidades muito elevadas dos
produtos discutidos, e não ao uso balanceado e moderado que as
recomendações o ciais sugerem para qualquer tipo de alimento, incluindo o
leite e seus derivados.
É fato que existem pessoas que não digerem o leite, pois na idade adulta
param de produzir quantidades su cientes de lactase, a enzima digestiva
necessária para quebrar o açúcar presente no leite (a lactose) em seus dois
componentes (glicose e galactose). A ausência da lactase, e a consequente
intolerância à lactose, não é grave do ponto de vista médico, mas sem
dúvida cria vários problemas: de fato, a lactose que chega sem ser digerida
ao cólon é fermentada pela ora intestinal, produzindo hidrogênio, metano
e gás carbônico, o que provoca distúrbios intestinais, atulência, cãibras
abdominais, diarreia e outros sintomas desagradáveis. A intolerância à
lactose, entre outras coisas, também respeita uma distribuição geográ ca
característica: por exemplo, é muito comum na Ásia e nas populações
americanas nativas, e em geral é mais frequente quanto mais se desce para o
sul. Na Índia, relata-se que os intolerantes representem 37% na região norte
e sobem para 77% na Índia meridional. Ao contrário, a lactose é bem
tolerada por um altíssimo porcentual de várias populações do norte da
Europa e da América do Norte, com picos superiores a 90%.
Mas para tudo há uma explicação. O homem começou a usar o leite (e
sobretudo os seus derivados, como queijos e iogurte, que na época
certamente eram mais fáceis de conservar) como alimento somente cerca de
dez mil anos atrás, no início do Neolítico, e isso logo incorreu (sobretudo
nos grupos dedicados à atividade pastoral) em uma mutação, uma adaptação
ao uso alimentar do leite não materno, com a relativa conservação da
expressão do gene que codi ca a enzima lactase – mutação essa que lhe
conferiu a capacidade de digerir o leite mesmo depois de adulto. E não há
como negar, as leis da evolução não mentem: se nos dias de hoje a produção
da lactase continua presente em cerca de um terço da população mundial
(quase dois bilhões de pessoas...), isso signi ca que essa mutação foi
bené ca, ou seja, como se escreveu, “deu a quem a possuía e aos seus
descendentes uma vantagem evolutiva”, até tornar-se dominante e ser
transmitida de pai para lho.
Além de tudo isso, ainda se faz muita confusão entre a intolerância ao leite e
a alergia às proteínas do leite, que se manifesta sobretudo na infância. E há
quem chegue a dizer que o consumo de leite (e de laticínios) provoca
osteoporose, porque acidi ca o sangue – cujo pH na verdade é mantido
constante pelos so sticados e indispensáveis sistemas de tamponamento
presentes no nosso organismo. Portanto, é falso que o leite possa favorecer a
osteoporose, a qual consiste em uma redução da densidade dos ossos, com o
progressivo enfraquecimento da sua estrutura até chegar a uma acentuada
fragilidade. Quando muito, o que ocorre é o contrário: de fato, está provado
que um teor de leite e de laticínios reduzido na infância e na adolescência
tem relação com um risco maior de fraturas na idade adulta – lembremos
que o pico da massa óssea só pode ser alcançado nos primeiros trinta anos
de vida, e que não por acaso a osteoporose foi adequadamente de nida
como “uma doença pediátrica que se manifesta na terceira idade”.
Dessa forma, é importante insistir que entre os dois tipos de carne não
existem diferenças substanciais quanto ao teor nutricional, o qual depende
da quantidade e do tipo de proteínas, da presença de vitaminas (em
particular do complexo B) e do conteúdo de ferro e zinco. Por exemplo,
ambas as categorias de carnes contêm mais ou menos as mesmas
quantidades de proteínas (em média, cerca de 20% do peso) de idêntico e
muito elevado valor biológico, uma avaliação que tem a ver com a sua
qualidade e o seu conteúdo de aminoácidos essenciais ou indispensáveis (ou
seja, aqueles que não podem ser sintetizados no nosso organismo e que,
portanto, devem obrigatoriamente ser absorvidos com os alimentos).
E quanto a “encorpar o sangue”, o ferro é, na prática, a única substância
nutritiva importante de que as carnes vermelhas são efetivamente um pouco
mais ricas. O ferro é o componente central e fundamental da molécula de
hemoglobina, o pigmento presente nos glóbulos vermelhos que confere ao
sangue sua cor característica e cuja tarefa é transportar o oxigênio. Mas,
embora a cor da carne possa sugerir considerações equivocadas acerca disso,
repetimos que esse precioso mineral – muitas vezes em falta na alimentação
média atual, mesmo naquela dos países mais ricos – está presente em
quantidades signi cativas, e com a mesma satisfatória biodisponibilidade,
também nas carnes chamadas de brancas. De fato, todas as carnes desfrutam
de um bom conteúdo de ferro, e mais exatamente de uma forma
denominada “ferro heme”, fácil de ser absorvido e utilizado pelo nosso
organismo.
O objetivo do relatório não era dar indicações sobre o que e como comer –
nem o que excluir – que fossem válidas para as diferentes populações e para
as diferentes pessoas no âmbito de uma mesma população. De maneira mais
simples, ele havia sido planejado para emitir juízos coletivos sobre classes
inteiras de produtos, sem poder fazer muitas distinções (não existem
trabalhos cientí cos su cientes sobre produtos individuais), para fornecer
avaliações qualitativas, e não quantitativas. De fato, nesse relatório, são
postas lado a lado, inevitável e obrigatoriamente, substâncias cujo grau de
periculosidade é enormemente diferente e não comparável. Para dar um
exemplo, as carnes processadas (e todas juntas, ou seja, o toucinho e as
salsichas de cachorro-quente junto de produtos submetidos às mais rígidas
disciplinas de produção, como o presunto de Parma ou o San Daniele...)
encontram-se no grupo 1, junto da terapia de reposição hormonal na
menopausa, da bactéria Helicobacter pylori (que tantos de nós hospedamos
no estômago), das radiações ultravioleta (mas nem por isso alguém pensou
em fechar os balneários...) e do álcool; além do fumo, do benzeno, do
arsênico e até do amianto e da fumaça de óleo diesel!
Além disso, os italianos estão entre os povos que menos comem carne na
Europa, e os principais tipos de carnes processadas a que o relatório se
refere não estão presentes com tanta frequência em nossa mesa. As
recomendações da IARC, bem como da OMS e do World Cancer Research
Fund [Fundo Mundial para a Pesquisa do Câncer] para a carne vermelha
são de consumir quantidades inferiores a 400 g por semana. Pois bem,
nosso consumo real, segundo a pesquisa mais con ável, ou seja, aquela
realizada pela CREA-NUT, é de 420 g de carnes vermelhas por semana, ou
seja, cerca de 60 g por dia: mesmo com toda a cautela do mundo, por se
tratar de dados médios, é justo dizer que são valores bastante alinhados com
as recomendações internacionais, e que um eventual redimensionamento
para adequar-se totalmente ao limite seria de pouca monta, e portanto não
tão difícil de realizar.[45]
É útil acrescentar que a mesma IARC, em seu European Code Against Cancer,
primeiro lembra que “comer muita carne vermelha aumenta a probabilidade
de desenvolver tumores no cólon” e depois acrescenta: “mas ela também
fornece numerosos nutrientes; via de regra, recomenda-se não consumir
mais do que 400 g ou 500 g de carne vermelha por semana”. Os mesmos
autores do estudo da OMS apressaram-se em lembrar, também, o valor
nutritivo da carne, a rmando que “tudo depende de quanta carne se come.
Por si só, comer carne expõe a um risco baixo, mas o alerta é justi cado em
termos de saúde pública se considerarmos o grande número de pessoas no
mundo que a consomem”. E a Associazione Italiana per la Ricerca sul
Cancro diz com todas as letras que “o consumo excessivo de carnes
vermelhas aumenta o risco de desenvolver alguns tumores, mas esse
aumento é proporcional à quantidade e à frequência, de modo que comer
carne vermelha uma ou duas vezes por semana é aceitável, ao passo que as
carnes vermelhas processadas (salames, embutidos e carnes enlatadas)
deveriam ser consumidas apenas esporadicamente”.
Sobre esses aspectos já existe um consenso geral. Não é por acaso que as
novas diretrizes para uma alimentação sadia dedicadas ao povo italiano
recomendam que pelo menos metade das porções de cereais consumidos
seja do tipo integral e que eles estejam presentes diariamente em nossa
mesa. Outra sugestão: escolher preferencialmente produtos de fato integrais
(obtidos de farinhas tipo 1 ou 2) em vez de produtos obtidos de misturas
de farinha branca com farelo. Tudo isso é fácil de realizar na prática,
simplesmente substituindo algumas porções de alimentos re nados pelas
suas versões integrais, e utilizando também os cereais integrais em grãos que
se usam nas sopas, como milho, trigo emmer, aveia, cevada, etc. As
recomendações de 2017 da Agence Nationale de Sécurité Sanitaire de
L’alimentation [Agência Francesa de Segurança Sanitária dos Alimentos], e
em geral aquelas das instituições cientí cas de todo o mundo, seguem essa
mesma linha.
Por exemplo, é fato que a farinha branca tem um índice glicêmico mais alto
do que a farinha integral, porque contém quase exclusivamente amido e uma
fração proteica, mas isso não nos autoriza a a rmar automaticamente que
ela “cause diabetes” ou determine uma hiperprodução de insulina. De fato, o
índice glicêmico é uma variável complexa, que não envolve um só
ingrediente, mas, sim, o produto nal e a nossa refeição em seu conjunto –
a nal, nós não comemos farinha, muito menos a farinha sozinha! Além
disso, pode acontecer que certos tipos de pães produzidos com farinhas
integrais tenham um índice glicêmico igual ou até superior ao do pão
produzido com farinha branca. E são parecidos também os índices
glicêmicos – bastante baixos – do macarrão produzido com sêmola integral
e daquele produzido com sêmola re nada: consumir macarrão cozido al
dente é a melhor maneira de reduzir seu impacto glicêmico.
Quanto à questão dos tumores, é sabido que eles são doenças multifatoriais,
que dependem de muitos aspectos diferentes, não só nutricionais; portanto,
é inaceitável a rmar de forma simpli cada, como infelizmente foi feito, que
a farinha branca provoca câncer. Instituições de prestígio, como o Istituto
Nazionale dei Tumori [Instituto de Tumores] de Milão, o World Cancer
Research Fund [Fundo Mundial para a Pesquisa do Câncer] e o próprio
European Code Against Cancer concordam que declarações desse tipo são
despropositadas, e recomendam simplesmente manter uma dieta sadia, com
base predominantemente em cereais integrais, legumes, verduras e frutas – e
se resguardam de atribuir à farinha branca culpas que ela não tem.
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PRATOS “SEM MOLHO” SÃO MAIS LEVES
É um preconceito que custa a morrer, e ele remonta a épocas em que, como
alguém acertadamente descreveu, “a consistência cientí ca era quase
impossível e estava voltada mais à aparência ou aos perigos da higiene do
que à diversidade dos conteúdos nutricionais”.
Mas por que uma ingestão escassa demais de iodo na alimentação habitual
pode se tornar um problema de saúde? Porque o iodo é indispensável para a
tireoide, a qual, de fato, capta e concentra ativamente quase todo o pouco
iodo que vem dos alimentos e aquele presente no organismo (normalmente
de 15 mg a 20 mg), usando-o para sintetizar os seus hormônios. Estes
últimos são importantíssimos para manter o metabolismo dos tecidos em
um bom nível, bem como para o crescimento e o amadurecimento normais,
para o desenvolvimento do cérebro, etc.
Esse “sal forti cado com iodo” consegue aportar, para cada grama de sal, 30
microgramas de iodo. Pois bem, a absorção diária adequada foi xada em 70
microgramas para crianças lactentes, 100 microgramas para crianças até 10
anos, 130 microgramas para quem tem de 11 a 17 anos, 150 microgramas
para adultos e 200 para gestantes e mulheres que estão amamentando. Isso
porque o feto, o recém-nascido e as gestantes estão particularmente
expostos aos danos da carência de iodo, relativos também ao
desenvolvimento intelectual da criança, e o leite materno naturalmente já
contém mais que o dobro do iodo presente no leite de vaca.
É preciso sublinhar que o programa nacional de iodopro laxia nem sonha
em propor que se aumente o consumo de sal – não se deve nem pensar
nisso, e tampouco é necessário. De fato, o cálculo é muito fácil: mesmo
diminuindo o uso do sal até chegar àquele consumo de 5 g ao dia (em vez
dos 9 g que são a média nacional na Itália)[48] sugerido pela OMS como o
justo equilíbrio entre a satisfação do paladar e a prevenção dos riscos
ligados ao sódio, chegaremos exatamente aos almejados 150 microgramas de
iodo que são recomendados. Parece tudo muito simples; porém, na Itália, a
utilização de sal iodado está entre as mais baixas da Europa, tanto nas
residências quanto nos restaurantes e em produtos industrializados. Segundo
a OMS, para uma real e cácia é preciso objetivar um índice de 95% do sal
vendido, ao passo que o nosso consumo, mesmo tendo duplicado nos
últimos doze anos, chegou a 60% somente em 2016 (mas era de 3% no nal
do século passado!).
porém nossa ingestão média ainda é baixa, atingindo apenas metade dos 1.000 mg indicados por dia.
(N. E.)
[42] Segundo dados de 2010 fornecidos pelo IBGE, o consumo alimentar médio per capita de leite
integral no Brasil é de apenas 34,7 g por dia; o de leite desnatado, 4,7 g/dia; o de iogurtes, 9,8 g/dia;
[43] De acordo com a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, para indivíduos saudáveis que
necessitam de 2.000 kcal/dia, recomenda-se o consumo diário de três porções de lácteos para ajudar a
atingir as recomendações diárias de cálcio e proteínas. Um copo de leite (200 ml) corresponde a uma
[44] A mozzarella italiana, mesmo aquela produzida do leite de vaca, é diferente do queijo que
conhecemos no Brasil como muçarela e se assemelha à nossa muçarela de búfala. (N. E.)
[45] No Brasil, segundo pesquisa do IBGE (2010), o consumo médio de carne bovina no país
[46] No Brasil, quando falamos sobre o re namento de um alimento, queremos dizer que este passou
por transformações em sua estrutura, ou seja, foram retiradas algumas partes (principalmente película
e germe de grãos), deixando-o com um valor nutricional mais pobre, com menos bras, vitaminas e
[47] No Brasil, a iodação do sal tornou-se obrigatória desde a década de 1950, o que reduziu
signi cativamente os casos de distúrbios gerados pela de ciência desse nutriente. No entanto, ainda
persistem algumas diferenças entre estados e regiões, e a prevalência de casos de de ciência de iodo é
maior na região Norte em comparação com as demais regiões do país. (N. E.)
[48] No Brasil, 44,2% das amostras colhidas na Pesquisa Nacional para Avaliação do Impacto da Iodação
do Sal sugerem um consumo excessivo do sal no país, segundo relatório publicado em 2016. (N. E.)
10 FRUTAS “MILAGROSAS”
Ora, é verdade que a banana contém muito potássio – 350 mg para cada
100 g da parte comestível. Mas é francamente exagerada toda essa exaltação
como a fonte alimentar primária e quase única desse mineral, que aliás é
preciosíssimo: o potássio, que é o principal íon presente nos líquidos
intracelulares e é essencial para uma série de funções vitais, desempenha
importantes funções também fora da célula, estando envolvido, por exemplo,
na transmissão dos impulsos nervosos, no controle da contração muscular
(os músculos estriados voluntários são ricos nele) e também no controle da
pressão arterial.
O potássio é tão amplamente distribuído nos alimentos que ter carência dele
é muito improvável: seu verdadeiro dé cit está ligado a condições
patológicas especí cas, e se for prolongado, pode produzir graves danos
renais, arritmias cardíacas, entre outros problemas.
A água contém bem pouco potássio, e as fontes alimentares mais ricas nele
são vários tipos de frutas e verduras, e também as carnes frescas. Mas na
vasta área das frutas e hortaliças encontramos muitos produtos mais ricos
em potássio do que a banana, embora essa virtude seja desconhecida:
podemos citar o kiwi (400 mg/100 g), as castanhas europeias frescas (395
mg), as azeitonas pretas (430 mg), a groselha (370 mg), a alcachofra (380
mg), a couve-de-bruxelas (450 mg), a erva-doce (395 mg), a chicória (380
mg), as batatas (570 mg), a rúcula (470 mg), o abacate (400 mg), o
espinafre (530 mg), isso sem falar de vários tipos de castanhas e frutas
secas – 980 mg para cada 100 g de damascos secos, 680 mg no amendoim,
740 mg nas castanhas europeias secas, 1.000 mg nos gos secos, 780 mg
nas amêndoas, 470 mg nas avelãs, 970 mg no pistache, 830 mg nas ameixas
secas. E não são poucos os produtos nos quais a presença do potássio está
próxima do teor das bananas, ou seja, oscila entre os 250 mg e os 330 mg:
damascos frescos, melancia, toranja, romã, pêssego, gos frescos, abacaxi...
Para uma fruta, a banana contém pouca água e mais açúcares e amidos, com
um valor calórico de 65 kcal por 100 g da parte comestível – só um pouco
superior ao da maioria das outras frutas de consumo comum; portanto, não
merece ser evitada por quem teme engordar. Por outro lado, o seu amido é
totalmente digerível só quando ela está completamente madura, e do ponto
de vista das vitaminas e sais minerais, ela tem muito pouco a acrescentar.
Ã
LIMÃO DESINFETA OS FRUTOS DO MAR
É uma crença tão comum (e potencialmente perigosa) quanto
absolutamente falsa. Na verdade, o suco de limão não possui propriedades
antimicrobianas ou desinfetantes e não pode de maneira alguma servir para
esterilizar. O problema diz respeito essencialmente aos moluscos bivalves ou
lamelibrânquios, uma classe que engloba cerca de 13 mil espécies
predominantemente marinhas, como os mexilhões, os vôngoles, os mariscos,
as ostras, as vieiras, as lapas, etc.
Pois bem, o ácido cítrico e o ácido ascórbico presentes no suco de limão são
totalmente insu cientes para eliminar tanto o risco de infecções causadas
por vírus e/ou bactérias, eventualmente presentes nesses re nados produtos,
quanto o perigo de intoxicações advindas do seu consumo – um perigo que
deriva diretamente do fato de que esses moluscos, que se nutrem dos micro-
organismos presentes na água e não necessitam de ração, ltram
continuamente grandes volumes de água para procurar comida, o que os
leva a reter e a concentrar em seu interior relevantes quantidades tanto de
substâncias poluentes e tóxicas que podem estar presentes na água quanto
de micro-organismos potencialmente nocivos para a saúde humana, desde a
Escherichia coli até a Salmonella.
Também é bom lembrar que o cozimento não elimina o risco químico nem
o biotoxicológico (de metais pesados e toxinas). Para essas substâncias, são
necessários controles no início da cadeia produtiva, e tudo deve estar
registrado no rótulo, o qual deve indicar a origem do produto. Trata-se de
um detalhe importante: de fato, existem águas mais limpas e com padrões
biológicos mais elevados, e águas menos seguras, em cujo caso deve ser
realizado um tratamento de depuração em águas limpas (estabulação) a m
de eliminar eventuais agentes patogênicos. Por conseguinte, os especialistas
aconselham adquirir sempre produtos embalados em redes íntegras e
lacradas, com o rótulo anexo.
De resto, basta dar uma olhada nas ilustres tabelas de composição dos
alimentos[50] elaboradas pelo antigo Istituto Nazionale della Nutrizione
(hoje CREA-NUT) para descobrir que a realidade é bem diferente. Na
verdade, em numerosas variedades de frutas típicas da primavera ou do
verão, de sabor muito doce e atraente, veri camos que a presença de
açúcares simples (quase exclusivamente frutose e sacarose) é muito mais
limitada do que se pensa.
As bras presentes nas frutas são tanto do tipo insolúvel – úteis para regular
as funções intestinais – quanto do tipo solúvel (ou formador de gel),
e cazes por seu efeito de saciedade e para modular a absorção intestinal de
gorduras e açúcares. Além disso, as bras desse segundo tipo, e sobretudo as
pectinas, são capazes de ligar-se à água presente na fruta para depois liberá-
la gradualmente no interior do nosso organismo: dessa forma, conseguem
manter um bom grau de hidratação dos nossos tecidos até nos períodos em
que as elevadas temperaturas do ambiente tenderiam a nos desidratar, com
uma e cácia superior àquela que se conseguiria com a simples ingestão de
água ou de outras bebidas.
Mas as frutas, sobretudo quando consumidas nas suas respectivas estações e
no grau certo de maturação, têm também outras virtudes importantes
relacionadas às diversas cores que as caracterizam: trata-se daqueles
preciosos tocompostos que demonstraram ter tantos efeitos positivos na
defesa da nossa saúde, e cuja presença é justamente revelada pela coloração
do produto nos vegetais em geral – e, portanto, também nas hortaliças. A
lista é realmente instigante: nas frutas vermelhas (cereja, melancia, laranja
sanguínea,[52] morango, etc.) prevalecem as antocianinas, poderosos
antioxidantes, anti-in amatórios e vasoprotetores; nas frutas amarelas e
laranjas (laranja-lima, tangerina, toranja, damasco, caqui, pêssego, melão,
etc.) encontramos, além de muito betacaroteno (precursor da vitamina A),
muitos avonoides, que reduzem o risco de tumores e doenças
cardiovasculares, e também antocianinas; nas frutas verdes (como o kiwi), a
cor denuncia a presença da cloro la, associada sempre a muitos
carotenoides; nas frutas azuis e roxas (mirtilo, amora, framboesa, go,
ameixa, uva escura), as antocianinas dominam. Já as frutas com polpa
branca (maçã, pera) contêm muita quercetina, um antioxidante ativíssimo,
além de avonoides.
En m, vamos pôr tudo às claras e dar paz aos nossos corações. As castanhas
e as nozes são um ótimo alimento sob muitos pontos de vista, mas quando
se trata de assegurar as doses certas dos preciosos ácidos graxos “ômega 3
de cadeia longa”, elas não ajudam muito, e sobretudo não podem de forma
alguma ser consideradas uma alternativa válida para quem não come peixe e
outros produtos pesqueiros. A solução inteligente para essa nossa
incapacidade de formar quantidades su cientes de EPA e DHA realmente
não consiste em recorrer aos suplementos disponíveis na farmácia, mas
apenas em consumir com maior frequência os alimentos nos quais esses
derivados estão presentes já prontinhos, e em doses signi cativas. E esses
alimentos privilegiados são identi cáveis quase exclusivamente com os
peixes e outros organismos marinhos. Como medida extrema, o óleo de
algas marinhas também poderia dar uma ajuda, embora não seja tão fácil de
encontrar e de utilizar habitualmente. E os LARN ressaltam também que
nos últimos anos apareceram no mercado alimentos suplementados
(enriquecidos) com EPA e DHA (leite bovino e ovos, por exemplo), que
podem ajudar a se aproximar com maior facilidade dos níveis de consumo
recomendados.
(N. E.)
[50] No Brasil, existe a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos desenvolvida pelo Núcleo de
[52] Também conhecida como laranja moro ou laranja vermelha, variedade que apresenta a coloração
alimentar para a população brasileira não é determinada uma quantidade. (N. E.)
AGRADECIMENTOS
19-1011t CDD-613.2
BISAC HEA048000