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Impactos da Psicossomática nas dermatoses

A pele é o maior órgão do corpo humano e representa 15% do peso corporal.


Qualquer pessoa apresenta, ao longo de sua vida, alguma lesão de pele. Contém
uma variedade de estruturas anexiais, incluindo cabelos, unhas, glândulas,
estruturas sensoriais que conferem funções de homeostase, proteção,
termorregulação, transmissão de sensações de tato, frio, calor, dor, pressão e
reparação imunológica. A pele faz a mediação dos nossos primeiros contatos com o
mundo externo, com as pessoas ao nosso redor e com o ambiente. É a roupa que
jamais tiramos. As primeiras relações de toque ocorrem, principalmente, pela função
materna e pelos cuidados que o bebê recebe. Dessa forma, a internalização das
relações com o outro constitui a imagem corporal (de Weber Wahrhaftig, 2019).
A pele é um órgão de comunicação e percepção visível. Ela é o maior órgão
de percepção no momento do nascimento, tornando-se o meio para o contato físico
e para a transmissão de sensações físicas e emoções. As ligações existentes com o
sistema nervoso tornam a pele altamente sensível às emoções, independente da
consciência. A pele expressa os sentimentos, mesmo quando não se está ciente
deles, e ajuda a aprender e conhecer mais sobre o ambiente. É possível identificar a
pele como um sistema nervoso externo que se mantém em conexão com o sistema
nervoso interno (SNC), uma vez que o sistema nervoso é uma parte escondida da
pele e ambos são formados pela ectoderme, que envolve todo o corpo embriônico.
O estresse psicológico é acompanhado por diversas respostas psicológicas e
fisiológicas que afetam o sistema neuroimune e mobilizam o sistema
neuroendócrino, influenciando na resposta inflamatória do corpo (ANTUNES J,
2019). Cada pessoa, ao expressar na pele seu estado interior, vive uma condição
exclusiva, dependente da sua habilidade em lidar com fatores de tensão
Os modelos da teoria freudiana de conversão histérica e a de neurose atual
podem ser considerados marcos na evolução dos conceitos do psíquico e do
somático. Freud manteve a preocupação, praticamente durante toda a sua vida, de
procurar estabelecer uma certa vinculação do psíquico ao biológico, especialmente
por meio da sua teoria das pulsões, da sua concepção econômica do aparelho
psíquico e de sua tentativa de criar uma psicologia científica tendo como base as
leis da termodinâmica e das descobertas da neurologia da sua época (Capitão &
Carvalho, 2016).
Carl Gustav Jung por sua vez , investigou os reflexos galvânicos da pele,
associados a suas experiências psicológicas. Atualmente é possível demonstrar, as
contínuas e mais sutis alterações da condutividade elétrica da pele, bem como
ampliá-las, a ponto de se poder utilizar para conhecer um pouco mais sobre as
emoções das pessoas, associadas a determinados estímulos verbais ou visuais.
Assim, pode-se pensar a pele como uma grande superfície de projeção.
O termo psicossomático compreende toda perturbação somática resultante
de um determinismo psicológico que intervém de modo constante na gênese da
doença. Introduzido por Heinroth, no início do século XIX, traduz uma concepção
dualista do homem e a influência recíproca de uma parte sobre a outra. Atualmente,
o estudo da Psicossomática tem como finalidade integrar a doença à dimensão
psicológica, propiciando um melhor entendimento do paciente e uma ação
terapêutica mais abrangente e significativa (Capitão & Carvalho, 2016).
A possibilidade da compreensão mais ampla do ser que adoece pode surgir
de um esgotamento dos tratamentos tradicionais ou de uma consciência mais
abrangente dos profissionais de saúde. Assim, a pessoa pode passar a ser vista
não só como um corpo físico, mas também constituída de outras dimensões, como
a psíquica, social, econômica e cultural, as quais estão interconectadas e podem
igualmente afetar o equilíbrio do estado de saúde e doença (da Silva & Muller,
2007).
Aponta-se aqui, como contribuição para essa compreensão, a abordagem da
medicina psicossomática. Essa abordagem atualmente possui um entendimento
abrangente do fenômeno do processo saúde e doença, considerando o ser humano
na sua integralidade, nas suas dimensões biopsicossocial. Além disso, busca
complemento para sua prática na atividade interdisciplinar dos profissionais da
saúde (da Silva & Muller, 2007).
É de conhecimento público que o stress, físico ou emocional, tem
repercussões em inúmeras dermatoses, que são também geradoras de stress. O
prurido, consequência de diversas dermatoses, sofre ampla variação de
intensidade, tendo como forte fator contribuinte o stress. Entre as doenças de pele
citadas na literatura que demonstram a influência do stress, também chamadas de
psicodermatoses, estão a dermatite atópica, a desidrose, o líquen simples crônico
ou neurodermite, a dermatite seborréica, a psoríase, a acne vulgar, a rosácea, a
alopécia areata, a hiperidrose, a urticária, o herpes simples e o vitiligo (Barroso &
Macêdo, 2016).
Como apontam da Silva & Muller (2007), a sociedade atual possui padrões
de estética e beleza os quais muitas pessoas tentam alcançá-los. No caso dos
pacientes com problemas dermatológicos, o sentimento de inadequação e o estigma
vivenciado são evidentes diante de tais exigências externas de “normalidade”
estética. As dermatoses geram inclusive, impacto importante na vida social e
emocional, e isso pode ser causado devido aos estigmas gerados pelas lesões
dermatológicas no corpo do paciente enfermo (De Souza et al. ,2020). A sensação
de discriminação quanto à aparência física acompanha o portador da dermatose
constantemente, provocando grande insatisfação consigo mesmo. O processo de
adaptação à doença de pele pode tornar-se, dessa maneira, um foco causador de
stress, assim como também pode ser consequência do enfrentamento de fatores
estressantes (Silva & Muller, 2007).
A psicossomática aparece então como um novo caminho, de
apreender a conceber o homem como completo, como um todo. Esse, é hoje,
um novo ramo que vem se desenvolvendo a partir da Psicossomática e
Psiconeuroimunologia. Trata-se de estudos que estão agregando inúmeras
contribuições para a compreensão da interação mente e corpo, aproximando
diversas áreas complementares como a Medicina e a Psicologia, por
exemplo, as quais, assim como o psíquico e o físico, não devem ser
encaradas separadamente (Barroso & Macêdo, 2016).
Azambuja RD (2017) afirma que o especialista que compreende que as
queixas emocionais do paciente fazem parte do quadro clínico e tem capacidade
para explorá-las e dar-lhes algum tipo de suporte, pode ser mais eficaz em seu
tratamento. Mas, as psicodermatoses muitas vezes apresentam aspectos
emocionais que requerem tratamento especializado. A partir disso o médico
dermatologista deve reconhecer e incentivar a necessidade de tratamento
psiquiátrico, assim como psicológico (De Souza et al. ,2020).
A partir do entendimento de que as condições dermatológicas estão
intimamente vinculadas aos aspectos psíquicos e psicológicos do paciente, torna-se
crucial adotar uma abordagem multiprofissional na Psicodermatologia. Esta
emergente disciplina engloba uma ampla gama de estudos que abarcam
dermatologia, psiquiatria e psicologia. Portanto, a abordagem terapêutica para
essas condições visa não apenas tratar as manifestações dermatológicas, mas
também lidar com as dimensões emocionais do paciente, como cita De Souza et al.
(2020).

CONCLUSÃO
A importância de um atendimento mais abrangente, interdisciplinar para os
pacientes que desenvolveram uma doença crônica, em especial as
psicodermatoses, destaca-se como essencial para a promoção de saúde dentro de
um modelo integrativo e multiprofissional. A visão global de um ser humano exige
que diferentes abordagens adaptem-se para produzir um entendimento mais
completo da dinâmica interna e externa do paciente.

REFERÊNCIAS
Azambuja, R. D. (2000). Dermatologia integrativa: a pele em novo contexto
Integrative dermatology: the skin in a new context. An Bras Dermatol, 75(4),
393-420.

Barroso, M. L., & Macêdo, M. A. (2016). Repercussões Psicossomáticas na


Epiderme Humana. Revista Multidisciplinar e de Psicologia.
https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/432/542

Capitão, C. G., & Carvalho, É. B. (2016, Dezembro). Psicossomática: duas


abordagens de um mesmo problema. PSIC - Revista de Psicologia da Vetor
Editora, 7(2), 21-29. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psic/v7n2/v7n2a04.pdf

da Silva, J. D. T., & Muller, M. C. (2007). Uma integração teórica entre


psicossomática, stress e doenças crônicas de pele. Estudos de Psicologia.
https://www.scielo.br/j/estpsi/a/LzwbKsThfyVzv3V7WyLWmvg/?format=pdf&la
ng=pt

de Souza, I. H., Gandra, M. F., Ribeiro, P. A. P., da Rocha Pereira, B. C., de Paula,
C. G., Pires, C. B., ... & de Abreu Carvalho, P. C. (2020). Psicodermatoses:
uma análise dos aspectos fisiopatológicos, sociais e dos tratamentos
multidisciplinares. Revista Eletrônica Acervo Científico, 16, e5552-e5552.
de Weber Wahrhaftig, N. E. (2019). Trauma, desamparo e memória: a escuta da
psicossomática psicanalítica na clínica dermatológica. Revista de
Psicossomática Psicanalítica.
https://www.sedes.org.br/Departamentos/Revistas/psicossomatica_psicanaliti
ca/pdfs/1_001-09_Trauma_desamparo_e_memoria_a_escuta_da_psicossom
atica_psicanalitica_na_clinica_dermatologica.pdf

psyche e soma

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