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Educação Bilíngue em contextos

de minoria linguística
Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

EDUCAÇÃO BILÍNGUE EM CONTEXTOS


DE MINORIA LINGUÍSTICA

Objetivos
Discutir outros contextos de Educação Bilíngue no Brasil e
descobrir como o professor pode atuar nesses contextos;

Refletir sobre os contextos de minoria linguísticas e como


eles se estabelecem no Brasil, pensando em suas principais
dificuldades;

Analisar como uma proposta decolonial de Educação poderia


beneficiar esse contexto bilíngue minoritário e, dentro disso,
como as práticas pedagógicas do professor poderiam ser
transformadas.

AQUECIMENTO

Analise as imagens a seguir e responda: o que você acha que


elas têm em comum? Leve em consideração o tema que será
tratado neste passo e, além disso, os espaços que os alunos estão
ocupando, suas interações sociais e os demais elementos que
compõem a imagem.

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Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

O que evidenciamos ao analisar as imagens são crianças inse-


ridas em dois contextos sociolinguísticos completamente dife-
rentes. A primeira criança está se comunicando por meio da
língua de sinais.

O segundo grupo de crianças trata-se, aparentemente, de alunos


venezuelanos. Aqui, vamos nos ater ao fato de que são crianças
que vieram estudar no Brasil, passando por um processo de
migração. Esse será, portanto, também um grupo que precisa
ser atendido pelo sistema educacional brasileiro.

A partir dessas diferentes realidades apresentadas nas imagens,


ao longo do passo 8, discutiremos essas perspectivas outras de se
pensar e fazer educação bilíngue; perspectiva essa voltada para
os grupos minoritários.

Indicação de leitura
Para se aprofundar no tema proposto, acesse
e leia o texto de Marilda Cavalcanti, que traz à
tona diversas perspectivas de Educação Bilíngue
atrelada aos contextos de minoria linguística. Vocês já fizeram
a leitura desse texto no módulo 1 com a professora Antonieta
Megale. Porém, agora eu convido vocês a olhá-lo novamente a
partir de uma perspectiva decolonial de Educação.

CAVALCANTI, Marilda C. Estudos sobre educação bilíngue e escolari-


zação em contextos de minorias linguísticas no Brasil. In DELTA [online].
1999, vol.15.
Link: https://bit.ly/3MDFd0T Acesso: 29/04/2022

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Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

CAMINHADA

Iniciaremos aqui nossa caminhada levando em consideração


que a leitura desse texto será feita durante o curso. Com isso,
gostaria de lançar um questionamento para vocês, como todas
as conceituações que aprendemos sobre Educação Bilíngue no
Brasil podem ser abarcadas dentro desses contextos minoritários
sendo, de fato, significativos? A partir desse questionamento e
dessa reflexão, nosso objetivo aqui é focalizar as realidades
minoritárias dentro da Educação Bilíngue.

Sabemos que nosso país é multilíngue tendo em vista o


percurso de construção de nossa nação. Apesar disso, muitas
pessoas acre-ditam no mito de um país monolíngue e essa
crença do senso comum serve para suprimir as minorias
linguísticas, vide trecho que foi apresentado por Cavalncanti
(1999):

[...] Esse mito é eficaz para apagar as minorias, isto é,


as nações indígenas, as comunidades imigrantes e, por
extensão, as maiorias tratadas como minorias, ou seja, as
comunidades falantes de variedades desprestigiadas do
português. Em segundo lugar, uma das razões para essa
estranheza pode ser decorrente de o bilinguismo estar este-
reotipicamente relacionado às línguas de prestígio no que se
convencionou denominar bilinguismo de elite . Em terceiro
lugar, esses contextos bilíngues de minorias são (tornados)

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Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

invisíveis, portanto naturalizados, tanto por quem deles faz


parte como pela sociedade envolvente, uma vez que as
línguas faladas são de tradição oral, portanto estigmati-
zadas (CAVALCANTI, 1999, p. 387).

É evidente que, apesar da perspectiva monolíngue ainda fazer


parte do imaginário da população brasileira, ela não é uma
verdade. Com isso, é preciso então lançar olhares para as novas
perspectivas linguísticas que compõem o nosso país, originando
assim um viés bi/multilíngue.

Esse viés linguístico inclusive, tange também a Educação e


perpassa não somente a realidade das elites do Brasil, como
explicitado anteriormente por Cavalcanti, contando com línguas
de prestígio como inglês e francês, por exemplo, mas também diz
respeito a perspectivas que englobam, contextos minoritários,
como foi defendido pela autora:

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Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

No Brasil, não se pode ignorar os contextos bilíngues de


minorias, uma vez que no mapa do país pode-se localizar
em uma pincelada não exaustiva: i. comunidades indígenas
em quase todo o território, principalmente, na região norte
e centro-oeste; ii. comunidades imigrantes (alemãs, italianas,
japonesas, polonesas, ucranianas, etc.) na região Sudeste e
Sul, que mantém ou não sua língua de origem; iii. comuni-
dades de brasileiros descendentes de imigrantes e de brasi-
leiros não-descendentes de imigrantes em regiões de fron-
teira, em sua grande maioria, com países hispano-falantes.
Além dessa classificação geográfica, quando se focalizam
os contextos bilíngües não se pode esquecer das comuni-
dades de surdos que, geralmente, são criadas em escolas/
instituições e que estão espalhadas pelo país. Todos esses
contextos bilíngues são de alguma forma também "bidiale-
tais", pois contemplam alguma variedade de baixo prestígio
do português ou de outra língua lado a lado com a varie-
dade de português convencionada como padrão. (CAVAL-
CANTI, 1999, p. 388)

Ao longo do passo de número 8, então, examinaremos mais espe-


cificamente para cada um desses contextos de minorias linguís-
ticas que estão ao redor do nosso país e, por meio deles, pensar
sobre como o professor que atua dentro desses contextos deve
olhar também para sua prática pedagógica.

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Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

Indicação de vídeo
Caso queira saber um pouco mais sobre os
contextos de minorias linguísticas no Brasil, sugiro
que veja o debate online “Escolas Indígenas e escolas de fron-
teiras na Educação Bilíngue”, que relata um pouco do que se
trata essas duas realidades educacionais.

Link: https://bit.ly/3rZaBPq Acesso: 28/10/2021

Quando nos deparamos com essas comunidades, encontramos


um viés bilíngue e também bidialetal, que traz consigo duas
perspectivas diferentes: uma referente à comunidade e aos
falantes que fazem o uso social dessa língua; e outra encon-
trada dentro da escola, mas que muitas vezes não possui tanto
significado para esses alunos.

GLOSSÁRIO
Bidialetal:

1 Coexistência, em um mesmo local, de dois dialetos;

2 Característica de quem fala dois dialetos de uma língua.

Fonte: https://bit.ly/39eBzvZ

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Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

Olhando para as perspectivas que foram citadas acima, o prin-


cipal questionamento que podemos fazer aqui é sobre o papel
do professor dentro desse contexto. Como o docente atuará nesse
contexto, levando em conta esse ambiente tão heterogêneo no
sentido cultural e também linguístico? A fim de contribuir com
nossa discussão, destaco aqui a perspectiva de Cavalcanti (1999):

O contexto sociolinguístico em todos os exemplos é sempre


complexo e, os cursos de magistério e de letras não formam
professores para enfrentar essas realidades. Continuam
formando pessoas para trabalhar com o falante nativo ideal
em uma comunidade de fala homogênea, sem conflitos ou
problemas de qualquer espécie. (p. 402-403).

Dessa forma, podemos notar que os professores brasileiros não


estão prontos para atuar dentro dos contextos de minorias linguís-
ticas, por se tratar de um cenário relativamente novo no Brasil.
Digo “cenário novo” quando penso no caráter de acolher essas
demandas linguísticas e culturais, trazendo-as para dentro de
sala como uma perspectiva educacional palpável e que faça
parte do processo de ensino e aprendizado da criança, trazendo
então significado à escolarização.

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Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

Sendo assim, quais saberes um professor deve mobilizar


para conseguir oferecer uma formação adequada aos alunos
dentro de um contexto minoritário de Educação Bilíngue?
Cavalcanti (1999) se ateve em alguns pontos que acreditou
serem primordiais. Em seguida, vamos discorrer um pouco
mais sobre tais pontos.

Os programas de formação de professores deveriam foca-


lizar, através da observação e da iniciação à pesquisa, a
diversidade linguística, uma vez que, como se depreende do
que foi exposto, ela é parte dos mais diversos contextos e
salas de aula no país. O cenário para várias pesquisas está
aí nas salas de aula e suas respectivas comunidades do país.
O ponto de partida vem a ser, por exemplo, os vários clichês
que se ouvem nas escolas por parte de alunos e professores
que podem até explicar esse apagamento dos cenários de
bidialetalismo/biculturalismo e também de bi/multilinguismo
(CAVALCANTI,1999, p. 405).

A partir da leitura do texto, podemos perceber que muitas das


proposições trazidas para serem parte da formação de profes-
sores dialogam com a perspectiva de Moreira e Candau (2008)
em relação à construção de uma educação intercultural.

Dessa forma, nos debruçaremos sobre algumas proposições que


Candau (2008) defende, e que podem ajudar esse professor
a trabalhar nesses contextos minoritários da língua tendo em
vista que neles, o caráter sociocultural e linguísticos estão forte-
mente atrelados:

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Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

Se a cultura escolar é, em geral, construída marcada pela


homogeneização e por um caráter monocultural, invisibi-
lizamos as diferenças, tendemos a apagá-las, são todos
alunos, são todos iguais. No entanto, a diferença é cons-
titutiva da ação educativa. Está no "chão", na base dos
processos educativos, mas necessita ser identificada, reve-
lada, valorizada. Trata-se de dilatar nossa capacidade de
assumi-la e trabalhá-la. (CANDAU, 2008, p. 25)

Nesse sentido, Candau (2008) propõe práticas pedagógicas


como:

Reconhecer nossas identidades culturais

Um primeiro aspecto a ser trabalhado, que considero de


especial relevância, diz respeito a proporcionar espaços que
favoreçam a tomada de consciência da construção da nossa
Própria identidade cultural, no plano pessoal, situando-a em
relação com os processos socioculturais do contexto em que
vivemos e da história do nosso país. (CANDAU, 2008, p. 25-26)

Conceber a prática pedagógica como um processo de nego-


ciação cultural

Um quarto aspecto que considero de especial relevância refe-


re-se ao modo de conceber a prática pedagógica. Através
da história, muitos têm sido os olhares, os pontos de vista,
as perspectivas adotadas para situar-nos diante de nossas
práticas educativas cotidianas. Proponho que assumamos
as lentes as quais permitam encará-las como processos de
negociação cultural. (CANDAU, 2008, p. 32)

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Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

Conceber a escola como espaço de crítica e produção cultural

Nesta perspectiva, a escola é concebida como um centro


cultural em que diferentes linguagens e expressões cultu-
rais estão presentes e são produzidas. Não se trata simples-
mente de introduzir na escola as novas tecnologias de infor-
mação e comunicação e sim de dialogar com os processos
de mudança cultural, presentes em toda a população, tendo
no entanto maior incidência entre os jovens e as crianças,
configurando suas identidades. (CANDAU, 2008, p. 34)

Dessa forma, entende-se que essas propostas de ações pedagó-


gicas juntamente com a formação do professor consigam atender
essas minorias linguísticas de uma maneira adequada e efetiva,
pensando no desenvolvimento global dos alunos, levando em
consideração suas próprias narrativas e experiências que são
extremamente importantes para o processo educativo. Ainda,
é preciso ressaltar que essas proposições deveriam também ser
consideradas para contextos majoritários bilíngues. Ambos os
contextos carecem de um olhar intercultural para aprofundar a
formação dos educandos.

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Educação Bilíngue em contextos de minoria linguística

CHEGADA

Chegamos ao final do e-book


entendendo a importância dos
contextos minoritários para a
formação de uma outra perspectiva
de pensar e construir a Educação
Bilíngue no Brasil.

Dessa forma, é importante entendermos que todos esses


contextos aqui descritos possuem caráter contra
hegemônico quando pensamos que eles desafiam as relações e
pensamentos impostos pelas colonialidade e ousam oferecem
uma Educação que inclua, que olhe o outro a partir da
alteridade e consiga pensar em uma proposta pedagógica que
faça sentido e que seja viável para atender principalmente
grupos subalternizados.

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Multilíngue e garanta uma formação de referência na área.

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REFERÊNCIAS
CANDAU, V. M. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In:
MOREIRA, A. F.; CANDAU, V.M. (Orgs.). In: Multiculturalismo: diferenças culturais e
práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 13-37.

CAVALCANTI, Marilda C. Estudos sobre educação bilíngue e escolarização em contextos de


minorias linguísticas no Brasil. In: DELTA [online]. 1999, vol.15. Disponível em: https://www.scielo.
br/j/delta/a/JcJDbkyVZxZPHnJXJrDyWYn/?lang=pt&format=pdf

ZAMBRANO, C. E. G. Escolarização em contexto bilíngue na fronteira Brasil/Venezuela. In


Revista do Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada da UECE, Fortaleza, v.
9, n. 2, 2019.
Professora: Marjory Santos
Designer: Mirela Martins

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