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As melhores práticas
para o sono dos bebês
segundo cientistas - e
por que alguns conselhos
comuns podem estar
errados
Amanda Ruggeri
BBC Future

25 março 2022

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Cientistas estão desvendando os segredos para o sono


seguro e saudável dos bebês

Basta mencionar que você tem um bebê e quase


todo mundo irá perguntar: como ele (ou ela) está
dormindo?

Afinal, muitos pais e mães esgotados aguardam


ansiosamente o momento em que seus bebês
finalmente dormem durante a noite. Particularmente
no mundo ocidental, desenvolveu-se uma indústria
de instrutores, livros e artigos sobre o sono,
prometendo ajudar as famílias a conseguir aquilo que
muitos consideram o Santo Graal: um bebê que
durma no berço, sozinho, toda a noite e tire longas
sonecas ao longo do dia.

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funciona, de acordo com a ciência

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para salvar bebês prematuros

Existem até alguns pediatras que orientam os pais


dizendo que, sem alcançar esses objetivos, as
crianças têm menos probabilidade de conseguir o
sono de que precisam para crescer e se desenvolver.

Mas essa ideia de sono independente e sem


interrupções está longe de ser universal — e é
também muito diferente da forma como os bebês
humanos vêm dormindo ao longo da maior parte da
história da nossa espécie. Se levada longe demais, ela
pode causar alto grau de ansiedade e tensão para os
pais — e até trazer insegurança para os próprios
bebês.

"A forma como dormimos no século 21 é um tanto


estranha no sentido evolutivo, já que nós não
evoluímos para dormir como se estivéssemos mortos
por um período de oito horas sem acordar, em
silêncio e escuridão total", afirma Helen Ball,
professora de antropologia da Universidade de
Durham e diretora do Centro do Sono e da Infância
de Durham, no Reino Unido.

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"Mas as pessoas se acostumaram com isso na


sociedade ocidental", segundo ela. "E isso afeta a
forma como imaginamos o que os bebês deveriam ser
capazes de fazer e como eles devem ser tratados."

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A quantidade de sono dos bebês pode apresentar


enormes variações

Sono suficiente?

A preocupação sobre a quantidade suficiente de sono


dos bebês não é algo novo.

As primeiras orientações
"científicas" datam de
1897. Naquele ano, em
um livro sobre o sono
para a série
Contemporary Science
("Ciência
Contemporânea", em
tradução livre), publicada
em Londres, um médico
russo recomendou que Brasil Partido
os recém-nascidos João Fellet tenta
dormissem 22 horas por entender como
dia. brasileiros chegaram ao
grau atual de divisão.

Ao longo de todo o Episódios


século 20, a quantidade
de horas sugerida
diminuiu, mas o sono recomendado era
frequentemente cerca de 37 minutos mais longo que
o sono real dos bebês, o que causou preocupação
entre os pais por décadas.

Os especialistas concordam que o sono é


fundamental para os bebês e para as crianças mais
novas (e, a propósito, também para os adultos). A
falta de sono foi relacionada a fatores de risco
cardiometabólicos, aumento do risco de TDAH
(Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e
baixo desempenho cognitivo, além de prejuízos ao
controle emocional, às realizações acadêmicas e à
qualidade de vida.

Mas muitas dessas conclusões de prazo mais longo


envolvem crianças em idade escolar e não bebês. E
são também correlações, não causas.

A única forma de saber se uma certa quantidade (ou


falta) de sono "causa" uma condição específica, como
TDAH — como aparentemente indicam as pesquisas
que exibem correlações entre o transtorno e crianças
que costumam dormir menos à noite — seria realizar
um estudo randomizado controlado.

Mas esse estudo precisaria privar de sono um grupo


de crianças por vários anos — o que obviamente é
antiético. Por isso, é difícil esclarecer até onde a
associação pode ser reversa: crianças com TDAH
podem simplesmente dormir menos.

É claro que é provável que haja uma relação de mão


dupla entre o sono e o desenvolvimento. Estudos
randomizados controlados de curto prazo concluíram
que os bebês atingiram melhores resultados em
testes de memória depois de uma soneca e, em uma
descoberta que não será nenhuma surpresa para os
pais, crianças cansadas têm mais dificuldade para
lidar com situações estressantes.

Isso pode significar que não devemos fazer nada para


inibir o sono (como forçar deliberadamente uma
criança a ficar acordada), mas também não quer dizer
que todo bebê precise de 12 horas de sono por noite
sem interrupções e várias sonecas de duas horas por
dia.

"Da mesma forma que o tempo de sono dos adultos


apresenta diferenças, o mesmo acontece com os
bebês", segundo Alice Gregory, professora de
psicologia especializada em sono da Universidade
Goldsmiths, em Londres, e autora do livro Nodding
Off: The Science of Sleep ("Cochilando: a ciência do
sono", em tradução livre).

Ela ressalta que a Fundação Nacional do Sono dos


EUA recomenda que bebês com até três meses de
idade devem ter 14-17 horas de sono a cada período
de 24 horas, mas até 11 ou 19 horas poderão ser
adequadas. Paralelamente, as recomendações de
duração do sono da Academia Norte-Americana de
Medicina do Sono não incluem nenhuma orientação
para bebês com menos de quatro meses de idade. E
nenhuma das duas organizações faz recomendações
específicas sobre a duração do sono noturno e das
sonecas.

"Essas orientações levemente diferentes indicam que


até os principais especialistas mantêm discordâncias
sobre o sono dos bebês", afirma Gregory.

A extensão da variação também fica clara quando se


observa como os bebês realmente dormem. Um
estudo australiano demonstrou que, ao longo de um
período de 24 horas, a quantidade média de sono de
554 bebês com quatro a seis meses de idade foi de 14
horas. Mas, observando-se os dados mais de perto,
fica claro que houve uma diferença de mais de oito
horas entre o maior e o menor período de sono.

"Existem enormes diferenças na duração do sono no


98° percentil em comparação com o 2° percentil",
afirma Harriet Hiscock, pediatra do Hospital Infantil
Real de Melbourne, na Austrália, e uma das autoras
do estudo.

Manter o cronograma

E qual esquema devemos seguir: uma rotina pré-


determinada de sonecas (e refeições) ao longo de
todo o dia? Ou o cronograma noturno em que o bebê
dorme das sete horas da noite às sete da manhã,
considerado o principal padrão por incontáveis livros
e instrutores de sono dos bebês?

Nos primeiros dias, pode ser muito difícil seguir esse


tipo de cronograma regular. Isso ocorre porque as
funções fisiológicas que dizem aos adultos que as
horas noturnas são para dormir, como a excreção de
melatonina e o ritmo da temperatura corporal,
somente começam a surgir com pelo menos 8 a 11
semanas de idade em bebês saudáveis e não
prematuros.

Expor os recém-nascidos à luz durante o dia e ao


escuro à noite pode ajudar a fazer com que esses
sistemas funcionem. E, apesar do que indicam alguns
instrutores, os bebês não produzem melatonina
durante o dia — o que confundiria seus ritmos
circadianos, se fosse verdade — e não é necessário
ter sonecas completamente no escuro para fins de
produção de melatonina.

"A principal teoria de regulagem do sono propõe que


existem dois processos de controle do sono e da
vigília", segundo Alice Gregory. "O primeiro é o
processo homeostático (a ideia de que, quanto mais
tempo passarmos acordados, mais sonolentos
ficaremos) e o segundo é o processo circadiano (um
processo similar ao relógio, que faz com que
fiquemos mais sonolentos ou alertas em certos
horários do dia e da noite).

"Esses dois processos são subdesenvolvidos nos


bebês, o que faz com que o sono dos bebês seja
diferente, em comparação com os adultos", afirma
ela.

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Colocar o bebê para dormir de barriga para cima pode


reduzir o risco de síndrome da morte súbita infantil

Em um contexto global, a hora de dormir às 19 horas


pode parecer um tanto arbitrária. Em muitas culturas,
bebês e crianças vão dormir mais tarde — perto de
22h45 no Oriente Médio, 21h45 na Ásia e 22 horas na
Itália — e também acordam mais tarde.

Diversos estudos associaram dormir mais cedo a


consequências como melhor desempenho acadêmico
e menor risco de obesidade. Mas essas pesquisas
envolveram crianças em idade pré-escolar e mais
velhas, não bebês.

Também não está claro se a hora de dormir faz


essencialmente alguma diferença. Como a escola e
outras rotinas das crianças tendem a começar no
início da manhã, as crianças que vão cedo para a
cama tendem a dormir por mais tempo, mas as
famílias que colocam suas crianças para dormir mais
cedo podem também priorizar outros hábitos
saudáveis. E não é fácil esclarecer esses outros
fatores.

Existem também evidências limitadas de que crianças


mais jovens liberam melatonina — o "hormônio da
escuridão" que nos deixa sonolentos — antes dos
adultos à noite. Mas não tão cedo quanto muitas
pessoas pensam.

Como exemplo, um pequeno estudo em Providence,


Rhode Island, nos Estados Unidos, concluiu que,
mesmo nos EUA (onde as crianças normalmente são
colocadas para dormir mais cedo), o bebê médio não
demonstrou início da liberação de melatonina sob luz
fraca antes de 19h40.

As sonecas também podem retardar a liberação de


melatonina. E vale a pena observar que, como a
liberação desse hormônio é um processo e não uma
chave liga-desliga, não se pode dizer que 19h40 é um
horário ideal para dormir - poderá ser até mais tarde.

Para algumas famílias, o esquema de dormir das sete


às sete funciona de forma brilhante. Mas, para outras,
tentar forçá-lo causa seus próprios problemas de
sono.

"Nossos dados indicam que, se crianças jovens forem


colocadas para dormir em um horário biologicamente
abaixo do ideal, elas não estarão prontas para ir para
a cama e irão resistir (por exemplo, saindo do quarto
para tomar outro copo de água, chamar os pais,
recusar-se a ir para a cama ou fazer birra)", segundo
os pesquisadores do estudo de Rhode Island.

E, se o seu bebê por acaso não precisar de 12 horas


de sono por noite, fazer com que ele durma às 19
horas pode ter consequências indesejadas, como
"pular noites", quando um bebê acorda por um longo
período de tempo no meio da noite ou acorda
extremamente cedo.

Uma estratégia mais flexível sobre o sono pode


também facilitar a alimentação responsiva, que
consiste em responder às indicações de fome do
bebê, em vez de alimentá-lo segundo um cronograma
determinado. A alimentação responsiva é
recomendada por associações como o Serviço
Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em
inglês), a Unicef, a entidade britânica National
Childbirth Trust (NCT) e a Academia Norte-
Americana de Pediatria, tanto para crianças
alimentadas com leite materno ou com mamadeira.

Estudos indicam que a estratégia responsiva


apresenta uma série de vantagens sobre a rotina ou
cronograma restrito imposto pelos pais. Pesquisas
concluíram, por exemplo, que, quanto mais os pais
controlam a alimentação dos bebês, mais aumenta a
probabilidade de que a criança ganhe muito ou pouco
peso - embora fique a dúvida, como observam os
autores, se "a alimentação não-responsiva causa
obesidade infantil ou se os pais de crianças obesas
reagem a preocupações com a obesidade dos seus
filhos adotando estratégias de alimentação não-
responsiva.

A estratégia pode também afetar a amamentação. A


alimentação responsiva é fundamental para formar o
fluxo de leite, enquanto programar as refeições
também está relacionado à suspensão da
amamentação mais cedo. Já as mães que leem livros
que promovem rotinas rigorosas de sono e
alimentação são menos dispostas a amamentar.

"Pode ser que as mães que desejam ter rotina deixem


de amamentar ou que a rotina reduza a produção de
leite - provavelmente, ambos", segundo Amy Brown,
professora de saúde pública da Universidade de
Swansea, no Reino Unido, diretora do centro de
Lactação, Alimentação de Bebês e Investigação
Translacional e autora de dois dos estudos acima.

Observar e acompanhar as necessidades do bebê


pode também ser benéfico para a saúde mental dos
pais. Rotinas estabelecidas pelos pais estão
relacionadas a níveis mais altos de relatos de
ansiedade entre as mães.

Outro estudo, do qual Brown foi uma das autoras,


concluiu que as mães que adotavam livros sobre
bebês promovendo rotinas rigorosas eram mais
propensas a afirmar que se sentiam deprimidas,
estressadas e menos confiantes em suas atividades
maternais — embora seja necessário observar que
pais estressados poderão ser mais dispostos a buscar
esses livros sobre bebês ou estabelecer rotinas.

Por fim, os pesquisadores do sono afirmam que isso


não precisa ser tão complicado. Para saber o que é
ideal para cada bebê individualmente - uma rotina
rigorosa organizada em torno do sono das sete às
sete ou outra coisa - basta olhar para o bebê.

"Eu sempre digo para os pais: se o seu bebê


geralmente está feliz durante o dia, é porque ele está
bem. Se ele estiver mal-humorado ou irritado, pode
ser o seu sono", afirma Harriet Hiscock.

Dormir a noite toda

Quando um certo número de horas de sono em


horários definidos não for suficiente, muitos pais são
orientados a buscar outro objetivo: que o sono do seu
bebê seja "unificado".

Os instrutores e livros sobre o sono afirmam com


frequência que esse sono ininterrupto mais profundo
é melhor para o desenvolvimento do bebê (além de
menos problemático para os pais). Mas, mesmo se ter
12 horas de sono sem acordar fosse um objetivo
ideal, é um desafio, biologicamente falando, além de
poder colocar os bebês em risco se for bem sucedido.

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A criação de filhos responsiva apresenta uma série de


vantagens

Todos os seres humanos acordam entre os ciclos do


sono. Quando adultos, se nossas necessidades
básicas forem atendidas (ou seja, se não precisarmos
de outro cobertor nem ir ao banheiro) e estivermos
relaxados (quem nunca acordou preocupado com
uma discussão ou uma apresentação no trabalho?),
depois de despertarmos levemente, voltamos a
dormir. É por isso que a maioria de nós, pela manhã,
não se lembra de ter acordado durante a noite.

Mas os ciclos de sono dos adultos tendem a ser mais


longos, com cerca de 90 minutos. Os ciclos do bebê
podem durar a metade desse tempo. E, ao contrário
dos adultos, os bebês não conseguem atender às
suas necessidades sozinhos, acabando por acordar
completamente com mais frequência.

O exemplo mais óbvio é acordar para comer. Em


comparação com outros primatas, os seres humanos
têm cérebros relativamente grandes, mas canais de
nascimento estreitos, possivelmente para ajudar a
nos equilibrar ao andar com os dois pés. Por isso, os
bebês nascem neurologicamente muito mais
imaturos que os outros mamíferos. O volume do
cérebro de um recém-nascido é de cerca de um terço
do adulto.

Isso significa que os recém-nascidos humanos


precisam de muita energia para desenvolver-se com
rapidez após o nascimento. Eles também são
relativamente indefesos e precisam ficar sempre
próximos aos seus cuidadores.

Por isso, em vez de ter alto teor de gordura — que


saciaria o bebê e permitiria que ele ficasse sozinho
por períodos mais longos — o leite materno humano
é rico em açúcar, que é digerido rapidamente e exige
alimentação mais frequente.

Acrescente-se que os recém-nascidos possuem


estômagos minúsculos, que retêm apenas 20 ml
(cerca de quatro colheres de chá) de alimento a cada
vez. Isso esclarece por que eles precisam alimentar-se
com tanta frequência durante o dia e a noite.

"Os bebês jovens acordam. É isso que eles fazem: eles


comem e acordam", explica Wendy Hall, professora
emérita da Faculdade de Enfermagem da
Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e
pesquisadora do sono pediátrico de longa data.

"Ao longo do tempo, eles começam a desenvolver um


período de sono biológico mais longo à noite. Aos
três meses, esse período poderá ser de cinco ou seis
horas, se estiverem indo bem. E é uma dádiva", afirma
ela.

"Mas isso não significa que você não irá acordar duas
ou três vezes por noite para alimentá-los. Significa
apenas que pode haver um período um pouco mais
longo durante o qual eles estarão dormindo um
pouco mais", segundo Hall.

À medida que os bebês crescem, alimentá-los 24


horas por dia torna-se menos comum. Aos seis meses
de idade, muitos pesquisadores do sono afirmam que
bebês saudáveis com peso normal não "precisam"
alimentar-se à noite, pelo menos em termos de
nutrição. Já os especialistas em lactação costumam
discordar, indicando que, quando deixados com suas
próprias mamadeiras, os bebês ainda acordam para
alimentar-se depois dos seis meses de idade.

Mas acordar e precisar de um cuidador por outras


razões ainda é comum, especialmente ao longo de
todo o seu primeiro ano de vida, quando os bebês são
mais vulneráveis e seus sistemas nervosos são mais
imaturos.

Um estudo recente com 5.700 crianças finlandesas


concluiu que bebês de três meses acordam e
precisam acomodar-se em média 2,2 vezes por noite
— mas a faixa de variação foi de 0 a 15 vezes. Isso
persistiu ao longo de todo o primeiro ano de vida do
bebê.

Oito a cada 10 pais de bebês com três e oito meses


de idade afirmaram que seus bebês acordavam mais
de cinco noites por semana. Após 12 meses, isso
mudou dramaticamente — quase dois terços dos
bebês com 18 meses de idade e cerca de três quartos
dos bebês de dois anos já não precisavam mais
acomodar-se durante a noite. O estudo também
concluiu que a qualidade do sono era "muito
variável", especialmente até dois anos de idade.

Outros estudos apresentaram conclusões similares.


Um estudo utilizou vídeos com lapso de tempo de 80
bebês ao longo de quatro noites e concluiu que o
número de vezes em que os bebês acordavam não se
alterou ao longo do seu primeiro ano de vida.

Mas é interessante que seus cuidadores os atenderam


com menos frequência ao longo do tempo. "Os bebês
continuaram a acordar da mesma forma ao longo de
todo o primeiro ano de vida, mas não foram retirados
dos seus berços pelo mesmo tempo à medida que
cresciam", segundo os pesquisadores.

É importante observar que, embora possa ser comum


acordar durante à noite entre os bebês maiores e
mesmo entre as crianças pequenas, é conveniente
procurar avaliação médica para excluir quaisquer
motivos de saúde em crianças que costumam acordar
frequentemente, como refluxo ou língua presa.

Por que acordar não é tão ruim

Por mais frustrante que possa ser para os pais


cansados, existe outra razão pela qual os bebês
evoluíram para acordar com frequência: sua própria
proteção.

Quando se fala da síndrome da morte súbita infantil


(SMSI), um estágio potencialmente perigoso do sono
para os bebês é o sono profundo, ou "sono de ondas
lentas". Nesse estágio, os bebês podem subitamente
parar de respirar. Os bebês saudáveis irão acordar,
mas bebês com fatores de risco (possivelmente não
detectados, como anormalidades no tronco
encefálico) podem não despertar.

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À medida que as crianças crescem, seus hábitos de sono


mudam

Por isso, forçar prematuramente um bebê a ter um


sono mais longo e profundo pode aumentar o risco
de SMSI, segundo James McKenna, fundador e
diretor do Laboratório do Comportamento do Sono
da Mãe e do Bebê da Universidade de Notre Dame e
catedrático em antropologia da Universidade Santa
Clara, na Califórnia — ambas nos Estados Unidos.

O exemplo mais infame é colocar um bebê para


dormir sobre o seu estômago, ou "de barriga para
baixo". Pode parecer que isso ajuda o bebê a ter um
sono mais profundo, mas também aumenta a
probabilidade de SMSI em até três vezes. Surgiram
campanhas em todo o mundo para que os pais
coloquem os bebês para dormir de barriga para cima
e a incidência de SMSI despencou.

"Nós criamos a epidemia de SMSI", afirma McKenna.


"Quisemos promover essa ideia de unificação precoce
do sono, com sono profundo, sono sem interrupções,
acordando menos vezes. Então promovemos essa
noção de colocar os bebês de barriga para baixo para
que eles não acordassem e não despertassem tanto,
o que é um fator de risco independente para a SMSI."

Mas períodos de sono mais longos e profundos, sem


despertar, não são melhores para o desenvolvimento
dos bebês? Esta é uma percepção comum, mas não é
o que indicam as pesquisas.

A pesquisadora do sono Jodi Mindell examinou 117


bebês e crianças pequenas em intervalos regulares ao
longo de um período de 18 meses. "O que
encontramos em nossos dados, coletados nos
Estados Unidos, é que não há relação real entre o
sono e o desenvolvimento cognitivo posterior",
afirma Mindell, que é diretora do Centro do Sono do
Hospital Infantil da Filadélfia, nos EUA. Sua equipe
chegou a encontrar uma relação modesta entre
acordar mais vezes durante a noite e melhores
resultados cognitivos.

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