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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE BELO HORIZONTE

XXº PROMOTOR DE JUSTIÇA

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da XXª Vara desta Comarca

REF. APFD nº xxx.000.0001-xx


AUTUADO: Anco Marco

O Ministério Público Estadual, através do Promotor de Justiça ao


final assinado, no uso de suas constitucionais atribuições, vem perante Vossa
Excelência, requerer a CONVERSÃO da prisão em flagrante ora aplicada ao
AUTUADO em Medidas Cautelares diversas desta com fulcro no art. 319 do Decreto
Lei n° 3.689/41, doravante Código de Processo Penal – CPP.

Narram os autos inclusos que, em 04 de março de 2021, por volta


das 21h30, o AUTUADO subtraiu dois pacotes de leite e uma peça de queijo do
interior do Supermercado Pague-Pouco, localizado na Rua dos Guararapes, n° 30,
Bairro Palmares, neste Município, sendo, entretanto, posteriormente capturado pela
Polícia em localidade próxima de posse da totalidade da res furtiva.

Percebe-se, pois, que a partir de uma análise formal da situação


exposta, a conduta amolda-se ao crime de furto simples, capitulado no art. 155,
caput, CP. Conclui-se, sob a ótica desta Promotoria, da presença de flagrante válido,
afastadas as hipóteses de abuso ou ilegalidade cometidos pela autoridade policial.

Contudo, ao apreciar a possibilidade de manutenção da restrição de


liberdade do AUTUADO, não se vislumbra essa recomendação. Ao contrário,
entende-se que o instituto da prisão preventiva deve ser reservado àqueles que
realmente não podem ou não devem viver em sociedade. Os objetos subtraídos
sugerem a ocorrência do que a doutrina conhece por Furto Famélico. Ademais,
apesar da conduta típica, partindo-se de uma análise alicerçada em princípios
constitucionais e considerando, sobretudo, o ponto de vista material, verifica-se a
possibilidade de aplicação do PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, que afasta a
tipicidade da conduta quando o dano trazido ao bem jurídico for nulo ou irrelevante.
Por fim, verifica-se a primariedade do AUTUADO, que embora responda por outros
crimes de furto simples, encontra-se em situação de vulnerabilidade econômica,
estando desempregado e responsável pelo sustento de dois filhos menores.

Como mencionado, a conduta do AUTUADO é formalmente típica,


porém não representou lesão concreta ao bem jurídico tutelado pela norma, já que
não se vislumbrou qualquer prejuízo de ordem patrimonial à vítima, já que os objetos
subtraídos foram integralmente restituídos.

Ante o exposto e considerando que a conduta narrada no A.P.F.D.


em anexo tornou-se, sob uma ótica material, atípica, em razão da ausência de lesão
ao bem jurídico, o Ministério Público requer a Vossa Excelência determinar
Medidas Cautelares à prisão, de modo que o AUTUADO possa responder em
liberdade sob as penas da Lei por sua conduta.

É o parecer.

Belo Horizonte, MG, 05 de março de 2021.

xxx
XX Promotor de Justiça de Belo Horizonte, titular

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